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Cassio Jose Fornazari Alencar

Ricardo De Nardi Fonoff


C
Marcia Turolla Wanderley
Ana Estela Haddad
A
P
Í
T
U
L
O

09

Freio Labial
Superior
Frenectomia
a
ANUÁRIO
ODONTOPEDIATRIA CLÍNICA
do possível, não só para orientar o quência do freio é muito maior na infância e a incidência cai até em 10
paciente e seus responsáveis, bem vezes na adolescência.
como para principiar o tratamento
procurando dar ao paciente uma Entretanto, muitos autores2,3,4,24,28 Vono et al., 1973; Higley, 1969; Thomas,
estética agradável e o bem-estar Gregory, 1981 Koorak et al. 200720 também demonstraram que existe uma
social. Para este diagnóstico deve- alta relação entre freio teto- labial persistente e diastema, e que este pro-
-se fazer uma tomada radiográfica move um grande desconforto estético no paciente. Então, tendo conhe-
embriogênese da face se inicia durante a 4a sucção, dentes supranumerários da região anterior da maxila, para cimento de que a remoção do freio teto-labial persistente antes da erup-
semana de vida intrauterina (VIU). O lábio su- irrompidos ou ainda intraósseos, observar a presença de corpos es- ção dos laterais permanentes pode favorecer o fechamento do diastema
perior se forma pela fusão dos processos maxi- hereditariedade e freio labial hi- tranhos, falta de coalescência da através das forças eruptivas desses, fica mais consistente a hipótese de
lares e nasais mediais, por volta da 7a semana pertrófico. rafe mediana e “fase do patinho realizar a cirurgia em um momento mais precoce.
de VIU, e a partir do tecido remanescente de cé-
feio” (divergência das coroas e
lulas centrais da lâmina vestibular tem origem Segundo Taylor27, o diastema Valladares Neto et al.28 realizaram um estudo na literatura sobre a
convergência das raízes dos incisi-
o freio labial superior. O freio está presente a mediano no arco superior mostra- relação entre diastema e freio. No que se refere ao melhor momento de
vos superiores permanentes).
partir do 3o mês de VIU e consiste de uma prega -se presente em 97% das crianças intervir no freio teto-labial persistente, a ressecção cirúrgica isolada e
conectando o tubérculo do lábio superior à pa- durante a irrupção dos incisivos precoce do freio tem sido indicada no afã de estimular o fechamento
São características do freio teto-
pila palatina, sendo então denominado freio te- centrais superiores permanentes. espontâneo do diastema.
-labial persistente12:
to-labial. É constituído por duas camadas mais Com a irrupção dos incisivos late-
externas de epitélio pavimentoso estratificado rais superiores permanentes, esta ▪▪ inserção baixa junto à margem Na realidade, parece existir certo favorecimento ao fechamento caso
e uma camada mais interna de tecido conjun- porcentagem diminui para 46% a gengival ou na papila palatina; a cirurgia seja realizada enquanto os dentes permanentes ainda este-
tivo frouxo, contendo também fibras elásticas. 48% e, após a irrupção dos cani- jam irrompendo. No entanto, não haveria diferença estatisticamente
As fibras musculares, se presentes, derivam do nos superiores permanentes, a ▪ ▪ isquemia da papila palatina significativa se o procedimento cirúrgico fosse ou não adotado. Mas
músculo orbicular do lábio. prevalência cai para 7%. O estudo quando o freio é tracionado; não foi realizado nenhum estudo longitudinal com número significativo
longitudinal de Sanin, Sekiguchi e de amostras para se chegar a esta conclusão. Realmente faz-se ne-
No recém-nascido o freio labial superior se es- Savara25 correlacionou o tamanho ▪▪ diastema mediano interincisivos.
cessário mais estudos longitudinais sobre quando intervir, todavia em
tende até à papila palatina. À medida que ocorre do diastema (em milímetros) com nossos relatos e pela experiência clinica verificamos um favorecimento
o desenvolvimento do processo alveolar e a erup- a probabilidade de fechamento O tratamento é sugerido quando
do fechamento do diastema e da erupção dos incisivos laterais em uma
ção dental, há uma tendência à atrofia fisiológi- espontâneo destes e demonstrou o freio exerce uma força traumática
posição mais favorável.
ca e ao afastamento apical da inserção do freio. que para diastemas de até 1,85mm na gengiva papilar ou inserida cau-
Assim, a inserção normal após a erupção dental a possibilidade de auto-correção sando isquemia junto à papila de-
Almeida et al.2 acreditam que se o paciente apresentar uma inserção bai-
será da porção interna do lábio superior até a al- é de 50%; esta probabilidade de vido ao tracionamento do mesmo. xa do freio, com a erupção dos laterais e dos caninos superiores, ocorrerá o
guns milímetros acima da margem gengival. fechamento fisiológico diminui Então, frente à necessidade de in- fechamento espontâneo do diastema interincisivos centrais e a atrofia por
quanto maior for o diastema. tervenção, indica-se a frenectomia, pressionamento desse freio. No entanto, sabemos ser muito difícil as forças
O freio teto-labial na dentição decídua é podendo usar a técnica de exérese eruptivas conseguirem promover um pressionamento em um freio teto-la-
considerado uma normalidade, mas muitas O freio teto-labial persistente é ou do reposicionamento12. bial hipertrófico a tal ponto de fechar um diastema.
vezes pode ser uma preocupação, principal- considerado como uma anomalia
mente quando está associado a um diaste- de desenvolvimento da oclusão A oportunidade cirúrgica é bas- Frente a essa análise consideramos a intervenção na dentadura mista,
ma. Na realidade, o diastema mediano cons- já que, fisiologicamente, deveria tante controversa na literatura. primeiro período transitório quando não existe espaço suficiente entre
titui um aspecto de normalidade durante a ocorrer uma migração para apical Alguns autores indicam a frenec- os incisivos centrais permanentes e os caninos decíduos para a irrupção
infância e, com o desenvolvimento da oclu- da inserção diante do processo tomia ora depois da erupção dos dos incisivos laterais permanentes. E havendo espaço para os laterais a
são, há um fechamento fisiológico signifi- de erupção dos incisivos superio- caninos permanentes2,3,4,24,28; Koo- intervenção deve ser feita até antes da erupção dos caninos permanen-
cativo. A sua persistência depende da etio- res permanentes. Dessa forma, o rak et al., 200720, ora depois da den- tes (segundo período transitório da dentição mista). Dessa forma, hoje
logia, que é multifatorial, e geralmente está freio é persistente quando passa tição permanente completada19,23,26 acredita-se que não existe a frenectomia precoce mas, frente ao diag-
relacionada a: discrepância dente-osso posi- da dentição decídua para a denti- (Herremans, 1971; Compostella, nóstico de freio teto- labial persistente, a melhor opção é a frenectomia
tiva, microdontia, agenesias dos incisivos la- ção mista. O diagnóstico diferen- 1980; Castro, Duarte5, uma vez através da técnica de reposicionamento antes da erupção dos incisivos
terais superiores, hábitos, principalmente de cial deve ser realizado o mais ce- que, na maioria dos casos, a fre- laterais para auxiliar no fechamento do diastema.

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ANUÁRIO Podem ser relacionadas como nho feio”) do diastema interincisal
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consequências da presença do freio patológico. A etiologia do diastema
teto-labial persistente9,19,26,28 : interincisal patológico pode ser de-
a) facilidade de acúmulo de biofilme; terminada por outros fatores além
do freio hipertrófico. Isto inclui a
b) dificuldade de adequada higiene presença de dentes supranumerá-
bucal; rios, odontomas, falta de coalescên-
c) contribuição para o agravamento cia da rafe mediana, falta de dentes,
de bolsas periodontais; neoplasias, desarmonia osteoden- A B C

d) interferência na adequada evolu- tária, hábitos de sucção, cistos, mi- 01 A-C  Após anestesia tópica (A), Anestesia infiltrativa na região bilateral ao freio (B), complementação com intrapapilar e ao redor da papila palatina (C).

ção do processo reparativo tecidual crognatia, problemas endócrinos ou


pós-raspagem e/ou procedimentos osteíte deformativa de Paget.
periodontais invasivos;
A técnica de CHELOTTI (1992)6 ou
e) restrição dos movimentos labiais; do reposicionamento é a que nós
f) interferência no posicionamento utilizamos já que proporciona o me-
dental, estabilidade de prótese, na lhor resultado estético e permite a
mímica facial, na fonação e na esté- manutenção da morfologia e função
tica do paciente. da estrutura anatômica, eliminando
apenas a porção com inserção inde- A B C
Através de uma revisão da litera- sejável. Nesta técnica, após a técnica
02 A-C  Incisão - 1ª com tesoura reta (A) e 2ª junto ao rebordo com lâmina de bisturi 15C (B). Remoção das fibras com cureta pequena (C).
tura, tentou-se tornar claras as indi- anestésica (Figura 01), não se faz o
cações cirúrgicas para o freio labial pinçamento, que muitas vezes pro-
superior. Foram descritas as técni- voca uma cicatriz pelo maceramento
cas: clássicas de Archer ou de du- da mucosa mais delicada da porção
plo pinçamento (técnica da Archer interna do lábio. Para demarcar a in-
modificada) e técnica de incisão em cisão, o lábio é apenas tracionado de
cunha, bem como a técnica de fre- forma a tencionar o freio. A incisão
nectomia. A resolução cirúrgica dos é feita com a tesoura cirúrgica rente
casos também pode ser facilitada na ao rebordo, até o limite entre a gen-
medida em que se observam os crité- giva inserida e a mucosa alveolar. A
rios de necessidade e oportunidade, inserção do freio na mucosa gengival
além do domínio da técnica cirúrgica é removida em fragmento triangular
apropriada para cada caso15. (com lâmina de bisturi número 15 ou
A B
15C) até atingir o periósteo, onde se
Contijo (2005)14 realizou um estu- deve fazer a desinserção das fibras 03 A,B  Vista após remoção da inserção baixa e fibras internas (A). Sutura em mucosa e proteção da ferida com cimento cirúrgico (B).

do sobre as vantagens do laser que de tecido conjuntivo até o limite da


incluem: menos tempo operatório, inserção palatina e na região do re-
promover a coagulação sanguí- bordo remanescente com a cureta
nea, requerer menor quantidade de cirúrgica (compatível com o acesso).
anestesia, frequentemente dispen- A completa desinserção das fibras
sar o uso de suturas e resultar em do rebordo é importante para evitar
um período pós-cirúrgico com me- a recidiva do diastema após o trata-
nos dor e inchaço quando compa- mento ortodôntico (Figura 02). Finali-
rado com técnicas cirúrgicas con- za-se com a sutura da mucosa labial
vencionais. O freio hipertrófico pode e colocação de cimento cirúrgico na
ser acompanhado pela presença de ferida cruenta, na região da mucosa
um diastema interincisal mediano. gengival (Figura 03). Devido ao pro-
A B
É necessário diferenciar o diastema cesso de reparação, a nova inserção
04 A,B  Pós Operatório após 7 dias (A). E após 30 dias mostrando o fechamento do diastema após frenectomia pela técnica de Chelotti, onde o freio foi reposicionado
interincisal fisiológico (“fase pati- aparecerá após 21 dias (Figura 04). apicalmente, resultando em nova inserção (B).

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ANUÁRIO CASO CLÍNICO 1 Referências Bibliográficas
ODONTOPEDIATRIA CLÍNICA
Frenectomia após erupção dos incisivos centrais permanentes e falta de
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LEGENDA

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