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Esquema inadequado de insulinoterapia hospitalar, incluindo doses e

1) Descrever a fisiopatologia, manifestações clínicas, horários de aplicação de insulina inapropriados


diagnóstico e tratamento das complicações agudas Uso de antidiabéticos orais
(hipoglicemia, cetoacidose e estado hiperosmolar) e
crônicas (pé diabético, neuropatia, retinopatia e nefropatia)
da DM.
2) Identificar as questões éticas e recomendações de
A insulina e seus secretagogos (sulfonilureias e glinidas) e,
autocuidado envolvidos na insulinoterapia.
possivelmente, a metformina são as principais causas de
hipoglicemia, mesmo em pacientes sem história de diabetes,
pois muitas vezes são ingeridas inadvertidamente, de maneira
intencional ou não. (SILVERO, SATLER, 2015)
A hipoglicemia iatrogênica em indivíduos com diabetes
O etanol inibe a gliconeogênese e também a resposta
constitui a causa mais frequente de baixos níveis de glicemia.
hormonal do cortisol e do hormônio do crescimento, além de
(GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
poder retardar a resposta da epinefrina e do glucagon à queda
A hipoglicemia em geral é definida como qualquer na glicose, levando à hipoglicemia após a depleção dos
concentração sérica de glicose inferior a 70 mg/dℓ, com ou estoques de glicogênio, em geral após 12-72 horas. (SILVERO,
sem sintomas. (NORRIS, 2021) SATLER, 2015)

Sua ocorrência é mais comum em pessoas tratadas com


injeções de insulina, mas a hipoglicemia prolongada também
Entre os pacientes hospitalizados, os medicamentos ainda são
pode resultar de alguns agentes antidiabéticos orais (NORRIS,
a principal causa de hipoglicemia; porém, quadros graves
2021)
podem associar-se a eventos hipoglicêmicos. Fatores de risco
independentes para sua ocorrência incluem diabetes, choque
séptico, insuficiência renal, ventilação mecânica (VM) e
Episódio com comprometimento gravidade da doença. (SILVERO, SATLER, 2015)
Hipoglicemia grave neurocognitivos, , que exige outra pessoa
para a administração do tratamento  Insuficiência hepática: O fígado é o órgão responsável
Hipoglicemia
Medição da concentração de glicose ≤ 70 pelo fornecimento da maior parte da glicose para a
mg/dℓ, que coincida com os sintomas circulação por meio da glicogenólise e da gliconeogênese.
sintomática
simpatossuprarrenais ou neurológicos. O
documentada As doenças hepáticas mais comumente associadas à
episódio é tratado pelo próprio paciente
Medição da concentração de glicose ≤ 70 hipoglicemia são o carcinoma hepatocelular e a falência
mg/dℓ, porém sem sintomas concomitantes. hepática fulminante (viral ou tóxica). Pode relacionar-se à
Hipoglicemia A ausência de sintomas pode ser devida à
assintomática falta de percepção da hipoglicemia ou a uma
hipoglicemia também devido ao comprometimento na
insuficiência autonômica associada à metabolização de medicamentos.
hipoglicemia
Sintomas típicos de hipoglicemia, porém com  Insuficiência cardíaca: A patogênese da hipoglicemia
medições da concentração de glicose > 70 em pacientes com insuficiência cardíaca grave é
Pseudo-hipoglicemia mg/dℓ. Os sintomas podem ser causados
pelo reajuste do sistema contrarregulador no
desconhecida. Possibilidades incluem congestão hepática
contexto do controle glicêmico precário e hipoxemia, inanição e insuficiência de precursores
crônico gliconeogênicos.
 Insuficiência renal: A patogênese da hipoglicemia na
insuficiência renal também é pouco clara, mas
Idade avançada provavelmente envolve depuração mais lenta da insulina,
Duração do DM produção renal de glicose e gliconeogênese diminuídas.
Caquexia Fatores predisponentes incluem vômitos, restrição
Baixa ingestão nutricional
Gravidade das doenças de base proteica, inanição, hemodiálise e diminuição da depuração
Hemoglobina glicada diminuída de medicamentos.
Insuficiência renal e/ou hepática
Doença cerebrovascular  Sepse: A hipoglicemia ocorre por aumento da utilização
Infecções periférica de glicose e redução da produção hepática de
Tempo de hospitalização glicose. Tal fenômeno é resultado da menor resposta a
Grande variabilidade glicêmica
estímulos glicorregulatórios, ou seja, baixos níveis de comportamento anormal ou alterado, coma e convulsões.
insulina e altos níveis de glucagon e epinefrina, (NORRIS, 2021)
provavelmente decorrente da ação de citocinas
No início do episódio hipoglicêmico, com frequência a ativação
inflamatórias.
do sistema nervoso parassimpático causa fome. A resposta
 Inanição: Nesses pacientes com depleção total de parassimpática inicial é seguida pela ativação do sistema
gordura, a glicose se torna o único combustível oxidativo nervoso simpático, causando ansiedade, taquicardia, sudorese
e que a elevada demanda de glicose supera a capacidade e constrição dos vasos cutâneos (i. e., a pele fica fria e
de produção em virtude da limitação do aporte de pegajosa). (NORRIS, 2021)
substratos (p. ex., aminoácidos).
Os sinais e sintomas de hipoglicemia são extremamente
variáveis e nem todas as pessoas manifestam todos os
sintomas ou a maioria deles. Os sinais e sintomas são
A maioria dos adultos com deficiências de hormônio do
particularmente variáveis em crianças e idosos. Estes podem
crescimento, cortisol ou ambos não apresentam hipoglicemia.
não apresentar as respostas autônomas típicas associadas à
No entanto, a hipoglicemia pode ocorrer nos casos de
hipoglicemia, mas com frequência desenvolvem sinais de
deficiência crônica desses hormônios no período neonatal e
comprometimento da função do SNC, incluindo confusão
em crianças menores de cinco anos de idade. (SILVERO,
mental. Algumas pessoas desenvolvem inconsciência
SATLER, 2015)
hipoglicêmica, e a suspeita desse quadro deve ser levantada
quando não há relato de sintomas diante de concentrações
glicêmicas abaixo de 50 a 60 mg/dℓ (2,8 a 3,3 mmol/ℓ). Isso
Tumores mesenquimais, carcinomas hepatocelulares, ocorre normalmente em pessoas com diabetes mais
adrenocorticais, leucemias e linfomas são os tumores mais prolongada e níveis de A1c dentro da variação normal. Alguns
frequentemente associados à hipoglicemia. A produção de um medicamentos, como os bloqueadores betaadrenérgicos,
fator com ação semelhante à insulina, uma molécula de IGF-2 interferem na resposta simpática normalmente observada na
(do inglês, insulin growth factor) incompleta, é a causa da hipoglicemia (NORRIS, 2021)
hipoglicemia na maioria dos pacientes. Alguns raros casos de
produção ectópica de insulina já foram relatados. (SILVERO, As manifestações clínicas são decorrentes da ativação
SATLER, 2015) simpáticosuprarrenal, seguidas por sintomas de
neuroglicopenia (SILVERO, SATLER, 2015)

 Sintomas decorrentes da ativação simpático-


Pode ser causada por um tumor de células β-pancreáticas suprarrenal: sudorese, calor, ansiedade, tremor,
(insulinoma), ou, menos frequentemente, por um distúrbio náusea, palpitação e taquicardia, fome;
funcional com hipertrofia ou hiperplasia das células β.
(SILVERO, SATLER, 2015)  Sintomas decorrentes da neuroglicopenia: fadiga,
tontura, cefaleia, alteração visual, dificuldade na fala,
torpor, dificuldade de concentração, alteração de
Ocorre pelo uso inadvertido acidental ou proposital de insulina comportamento, perda de memória, confusão
ou secretagogos de insulina como as sulfonilureias ou glinidas. mental, perda de consciência e convulsões
(SILVERO, SATLER, 2015) Os sintomas simpático-suprarrenais geralmente precedem os
neuroglicopênicos. No entanto, os pacientes podem
apresentar não percepção da hipoglicemia, que é definida pela
A hipoglicemia em geral apresenta início rápido e progressão redução do nível glicêmico a níveis em que a ativação
dos sintomas acelerada. (NORRIS, 2021) simpático-suprarrenal deveria ocorrer, porém os pacientes
Os sinais e sintomas de hipoglicemia podem ser divididos em permanecem assintomáticos até o início dos sintomas
duas categorias: (NORRIS, 2021) neuroglicopênicos. Esses episódios são comuns em pacientes
com crises repetidas de hipoglicemia. (SILVEIRO, SATLER,
1) Aqueles causados pela alteração da função cerebral; 2015)
2) Aqueles relacionados à ativação do sistema nervoso
autônomo.
A hipoglicemia é definida pela presença das características
Como o cérebro depende da glicose sérica como sua principal descritas na tríade de Whipple: (SILVEIRO, SATLER, 2015)
fonte de energia, a hipoglicemia produz comportamentos
1) Sintomas de neuroglicopenia (confusão, alteração de
relacionados à alteração da função cerebral. Podem ocorrer
comportamento ou coma);
cefaleia, dificuldades na resolução de problemas,
2) Glicemia concomitante menor do que 40 mg/dL;
3) Alívio dos sintomas após administração de glicose.  Acidose metabólica (pH < 7,3);
 Bicarbonato plasmático < 15mmol/L;
Para o diagnóstico de hipoglicemia, é necessário que os três
 Glicemia plasmática > 13,9mmol/L (> 250mg/dL);
itens da tríade estejam presentes. No entanto, pacientes com
níveis de glicemia menores do que 50 mg/dL devem ser  Cetonúria positiva ++ (cetonemia > +).
avaliados e aqueles com glicemia menor do que 60 mg/dL A CAD está normalmente associada ao diabetes tipo 1, em que
devem ser considerados suspeitos. (SILVEIRO, SATLER, 2015) há grave deficiência de insulina. Porém, também pode ocorrer
Pacientes com sintomas compatíveis com hipoglicemia, mas raramente no diabetes tipo 2 em condições de estresse
com glicemia concomitante normal, não necessitam de extremo, como infecção ou traumatismo importante, ou
avaliação adicional. (SILVEIRO, SATLER, 2015) como apresentação de uma variante do diabetes tipo 2
(diabetes propenso à cetose ou diabetes de Flatbush)
A dosagem da glicemia deve ser realizada em tubo contendo (GOLDMAN; SCHAFER, 2022).
fluoreto para evitar a degradação da glicose e níveis
falsamente baixos. (SILVEIRO, SATLER, 2015) Na prática clínica, a cetoacidose também pode ocorrer com a
não utilização ou o uso inadequado da insulina (NORRIS, 2021).
A CAD pode ocorrer no início da doença, com frequência
O MELHOR TRATAMENTO É A PREVENÇÃO antes do diagnóstico, e também como uma complicação
 Os pacientes devem ser orientados a reconhecer os durante a evolução da doença (NORRIS, 2021).
sinais hipoglicêmicos de alerta;
Tratamento insulínico
 Assim como evitar atitudes que possam predispor a Infecções
inadequado
hipoglicemia (omitir refeições, ingerir bebidas alcoólicas Abertura do quadro de Doenças críticas (IAM, AVC,
em excesso, praticar exercícios em jejum etc.); diabetes pancreatite)
Drogas que afetam o Desordens psiquiátricas do
 A insulina não deve ser aplicada em um local que será metabolismo dos carboidratos comportamento alimentar
muito trabalhado durante a atividade física; (clozapina, lítio, terbutalina)
Cocaína Cognição limitada
 Identificação com o problema de saúde, medicamentos
em uso.
1) PACIENTES CONSCIENTES REGRA DOS 15/15 Os estados infecciosos são a etiologia mais comum da CAD.
Dentre as infecções, as mais frequentes são as do trato
Ingerir 15 g de carboidrato de absorção rápida: 1 colher de sopa
respiratório superior, as pneumonias e as infecções de vias
de açúcar em um copo de água; 3 balas moles; 1 colher de
urinárias. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
sopa de mel; 1 copo de refrigerante. A glicemia capilar deve
DIABETES. 2019-2020)
ser avaliada após 15 minutos. Se não houver reversão da
hipoglicemia, repetir o processo. Além disso, na prática diária, é necessário valorizar outros
fatores importantes, como acidente vascular cerebral (AVC),
2) PACIENTES TORPOROSOS SE ACESSO VENOSO
DISPONÍVEL: ingestão excessiva de álcool, pancreatite aguda, infarto agudo
do miocárdio (IAM), traumas e uso de glicocorticoides
3 ampolas (30 ml) de glicose 50%, diluídas em 100 ml de SF (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
0,9% por via IV. Reavaliar glicemia em 5 minutos: se 2019-2020)
necessário, repetir o procedimento. Após a correção imediata,
oferecer alimentos, se possível. Dentre as drogas ilícitas, a cocaína pode ser a causa de
episódios recorrentes de CAD em jovens. (DIRETRIZES DA
3) A INDISPONIBILIDADE DE ACESSO VENOSO
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
Glucagon por via SC ou IM e instalar o acesso venoso
Os distúrbios psiquiátricos associados a irregularidades na
periférico. Se não houver glucagon, pequenas quantidades de
condução da dieta ou no uso diário de insulina também podem
mel, xarope ou glicose em gel podem ser esfregadas na
contribuir para a CAD. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
mucosa bucal do paciente. Mas o efeito hiperglicemiante é
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
mínimo.
A utilização crescente na prática psiquiátrica de compostos
denominados antipsicóticos atípicos para o tratamento do
A cetoacidose diabética pode ser definida como um evento transtorno de humor bipolar e da esquizofrenia (clozapina,
emergencial de descompensação aguda do DM com as olanzapina, risperidona e quetiapina, por exemplo) é capaz de
seguintes alterações laboratoriais (BANDEIRA; MANCINI; GRAF, aumentar o risco de distúrbios metabólicos, como ganho de
2015): peso, dislipidemia, DM, CAD e pancreatite aguda, sendo
observados riscos maiores com a clozapina e a olanzapina e Além da cetose e a acidose metabólica, outra alteração
menores com a risperidona e a quetiapina (DIRETRIZES DA metabólica associada a CAD é a hiperglicemia. A
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019- 2020) hiperglicemia leva à diurese osmótica, à desidratação e à
perda crítica de eletrólitos. O meio extracelular hipertônico
Atualmente, com o uso mais frequente de bombas de infusão
resultante da hiperglicemia ocasiona um desvio da água do
contínua subcutânea de insulina ultrarrápida, tem-se
compartimento intra para o extracelular (NORRIS, 2021).
observado aumento na incidência de CAD. Tal fato pode
ocorrer em razão da obstrução parcial ou total do cateter, Com frequência, a concentração de sódio extracelular está
provocando redução aguda de infusão de insulina baixa ou normal, apesar do aumento das perdas urinárias de
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. água causado pelo desvio do líquido intracelular para o meio
2019-2020) extracelular. Esse efeito de diluição é denominado pseudo-
hiponatremia. Além disso, os níveis séricos de potássio
Vale lembrar que a descompensação glicêmica costuma ser
podem estar normais ou elevados, apesar da depleção total
mais prolongada e mais grave em pacientes com DM 1 recém-
do potássio que resulta da poliúria prolongada e dos vômitos
diagnosticados e idosos com diabetes associado a processos
(NORRIS, 2021).
infecciosos ou com limitações no autocontrole físico ou
psíquico (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES. 2019- 2020)

Uma das principais ações da insulina é a inibição da enzima


lipase sensível a hormônio, que tem a função de degradar a
gordura. Na DM, em especial a tipo I, em que há uma ausência
maciça de insulina, essa inibição não ocorre, portanto, a lipase
não será inibida e degradará as reservas adiposas, processo
que resulta na liberação de grande quantidade de ácidos
graxos livres de cadeia longa (AGL) (KUMAR; ABBAS; ASTER,
2023).
Quando esses ácidos graxos alcançam, são esterificados a
acetil-CoA que, posteriormente, são oxidados dentro das
mitocôndrias hepáticas produzindo corpos cetônicos – ácido
acetoacético, ácido -hidroxibutírico e acetona (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2023).
O grande problema dos corpos cetônicos produzidos é que
eles são ácidos fortes e encontram-se dissociados no pH
fisiológico do sangue. Inicialmente, os íons H+ resultantes dessa
dissociação serão tamponados pelo bicarbonato. Entretanto, Normalmente, a história clínica de CAD envolve deterioração
com a manutenção do quadro, o bicarbonato vai torna-se durante várias horas a dias, com sintomas progressivos como
insuficiente para tamponar a produção de cetoácidos. Nesse poliúria, polidipsia, náuseas, vômitos e fadiga acentuada,
ponto, teremos a instalação de uma acidose metabólica com com estupor final que pode progredir até o coma (NORRIS,
ânion gap elevado (ESTRATÉGIA MED). 2021).

Para manter a eletroneutralidade do sangue, as Pode haver queixa de dor abdominal na parte superior e
difusa. O hálito tem um odor frutado característico
cargas positivas devem ser iguais às cargas negativas. O ânion
produzido pelos cetoácidos voláteis presentes (NORRIS, 2021).
gap é a diferença entre as cargas positivas medidas (Na+) e
as cargas negativas medidas (cloreto e bicarbonato). Os Os achados físicos na CAD são principalmente secundários a
cetoácidos são cargas positivas não aferidas que consomem desidratação, hiperosmolalidade e acidose, como o
bicarbonato e, por isso, o ânion gap encontra-se aumentado. ressecamento da pele e das mucosas, turgor cutâneo,
olhos encovados, diminuição da pressão venosa jugular,
A taxa de formação dos corpos cetônicos pode exceder a
taquicardia, hipotensão ortostática, depressão da função
taxa pela qual podem ser utilizados pelos tecidos periféricos,
mental e respirações rápidas e profundas (respiração de
levando à cetonemia e a cetonúria. Se a excreção urinária de
Kussmaul) (GOLDMAN; SCHAFER, 2022).
cetonas estiver comprometida por desidratação, o resultado
consiste em cetoacidose metabólica sistêmica (KUMAR;
ABAS; ASTER, 2023).
 Elevação dos níveis de creatinina;
 Níveis aumentados de triglicerídeos e colesterol.
Os critérios diagnósticos de CAD mais utilizados foram
propostos pela ADA no ano de 2009:
 Glicemia > 250 mg/dL; A CAD pede um “pacote terapêutico” baseado em 5 pilares:

 Acidose metabólica (pH arterial  7,3 e bicarbonato 1) Estabilização clínica e reposição de volume: Após as
sérico  18 mEq/L); medidas gerais de suporte de vida, a hidratação venosa
sempre será o primeiro passo no tratamento da CAD,
 Aumento da concentração corporal total de corpos independentemente dos níveis de glicemia ou acidemia. A
cetônicos. hidratação venosa inicial deve ser feita de acordo com o
O aumento da concentração corporal total de corpos grau de desidratação encontrado (sempre com salina
cetônicos pode ser documentado pela aferição da cetonemia isotônica a 0,9%):
(-hidroxibutirato  3 mmol/L) ou da cetonúria (positividade Pacientes com Solução isotônica a 0,9%
da fita reagente). choque hipovolêmico 20 a 30 mL/kg em infusão rápida
Pacientes Solução isotônica a 0,9% 15 a 20
Os critérios são bastante intuitivos, visto que estão “embutidos” hipovolêmicos sem mL/kg/h até a normalização do
no nome da doença: choque estado de hidratação
Paciente euvolêmico Solução isotônica a 0,9%

Após 2 a 3 horas de hidratação inicial, devemos avaliar o sódio


corrigido do paciente para definir que solução será a mais
adequada. Se o paciente apresentar hiponatremia, devemos
manter a solução salina a 0,9%. Caso o paciente apresente
sódio normal ou elevado, devemos trocar a salina a 0,9% por
solução salina a 0,45%.
A hidratação venosa, por si só, pode reduzir a glicemia em 35
a 70 mg/dL por hora, devido aos seguintes efeitos: expansão
do espaço extracelular; aumento da glicosúria resultante da
melhoria na perfusão renal e da filtração glomerular e;
redução dos níveis de hormônios contrarreguladores.
2) Avaliação e correção da calemia: A maioria dos
pacientes com CAD terá potássio normal à admissão e
até um terço deles terá hipercalemia. Entretanto, como
explicado anteriormente, não se deixe enganar pelo que
vê na superfície. Nosso paciente tem um pool corporal
Glicose total de potássio reduzido e o tratamento da CAD pode
plasmática > 250 > 250 > 250 precipitar uma hipocalemia grave com todas as suas
(mg/dL) consequências deletérias (fraqueza da musculatura
pH arterial 7,25 a 7,30 7 a 7,24 <7 respiratória, arritmias cardíacas e parada
Bicarbonato cardiorrespiratória). Por isso, a avaliação da calemia deve
sérico 15 a 18 10 a < 15 < 10
ser realizada antes da instituição da própria insulina.
(mEq/L)
Cetonas Portanto, com base nos níveis séricos admissionais de
Positiva Positiva Positiva potássio, temos três caminhos a seguir:
urinárias
Ânion gap > 10 > 12 > 12 Potássio < 3,3 mEq/L Iniciar cloreto de potássio
Nível de
Alerta Alerta/sonolento Estupor/Coma Iniciar insulina e repor potássio
consciência Potássio 3,3 a 5,3
mEq/L concomitantemente, com o objetivo
O paciente também apresentará alterações laboratoriais de manter a calemia entre 4 e 5
Não repor potássio e avaliar a calemia
como: Potássio > 5,3 mEq/L
a cada 2 horas; Iniciar insulina
 Hipocalemia
 Hipo ou hipernatremia
3) Insulinização: A insulina deve ser iniciada logo após
 Hipofosfatemia
certificarmo-nos de que o potássio sérico se encontra
 Leucocitose (devido ao aumento do cortisol e
catecolaminas) igual ou acima de 3,3 mEq/L. A abordagem da
 Elevação dos níveis séricos de amilase e lipase; hiperglicemia na CAD deve ser feita preferencialmente
com insulina regular intravenosa em bomba de infusão
contínua (BIC). Em casos de CAD leve, ou quando a
Infecção é o principal fator precipitante da EHH, sendo
terapia intravenosa for impraticável, podemos fazer uso
infecção urinária e pneumonia os mais frequentes.
de análogos ultrarrápidas subcutâneos (aplicados a cada 1
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
a 2 horas).
2019-2020)
4) Avaliação da necessidade de bicarbonato venoso: A
A EHH também pode ser desencadeada por eventos
terapia com bicarbonato venoso no tratamento da CAD
cardiovasculares, outras patologias agudas clínicas ou cirúrgicas
permanece controversa, sobretudo na faixa etária
e/ou uso de medicamentos (glicocorticoides,
pediátrica. Entretanto, essa conduta pode ser considerada
betabloqueadores, diuréticos tiazídicos, quimioterápicos e
de maneira parcimoniosa quando houver instabilidade
antipsicóticos (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
hemodinâmica relacionada a uma destas duas situações:
DIABETES. 2019-2020)
pacientes com pH arterial < 7,0 e pacientes com
hieprcalemia potencialmente fatal. Adesão inadequada ao tratamento e abertura do quadro de
DM são fatores precipitantes importantes, porém menos
5) Abordagem dos fatores precipitantes: De nada valerá
frequentes na EHH. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA
que as etapas anteriormente citadas sejam executadas
DE DIABETES. 2019- 2020)
com primor se os possíveis fatores precipitantes não
forem neutralizados. Deve-se ter atenção à pesquisa de Pode ser observada a síndrome em idosos frágeis com
sinais e de sintomas sugestivos de infecção e doenças alterações nos mecanismos de sede e/ou pouco acesso a
agudas (síndromes isquêmicas e pancreatite, por água por restrição ao leito, com ou sem diagnóstico prévio de
exemplo). Deverá ser realizado um levantamento DM (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
completo das medicações que o paciente utiliza. Caso se 2019-2020)
trate de um paciente com diagnóstico prévio de DM,
devemos interrogar se a prescrição domiciliar vinha sendo
seguida de forma regular e adequada. O mecanismo fisiopatológico básico da EHH consiste na
redução da ação efetiva (insulinorresistência) e/ou nos níveis
séricos de insulina circulantes (insulinopenia) em associação ao
O EHH é caracterizado por hiperglicemia, hiperosmolaridade concomitante aumento nos hormônios contrarreguladores
com desidratação, ausência de cetoacidose e depressão do (glucagon, catecolaminas, cortisol e hormônio do crescimento).
nível de consciência. (NORRIS, 2021) Como consequência dessas alterações hormonais, ocorre o
aumento da gliconeogênese hepática e renal, além da
O EHH costuma ser observado em pessoas com diabetes tipo
diminuição da utilização periférica de glicose, que culminam
2 (NORRIS, 2021)
com a hiperglicemia e mudanças na osmolaridade plasmática.
A EHH caracteriza-se por hiperglicemia severa, (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
hiperosmolaridade e desidratação na ausência de cetoacidose, 2019- 2020)
enquanto a CAD se apresenta com acidose metabólica e
A hiperglicemia leva à diurese osmótica e à depleção de
aumento de corpos cetônicos. A SHH é menos frequente que
volume intravascular, podendo ocasionar desidratação,
a CAD, entretanto está associada a maior morbimortalidade
redução da taxa de filtração glomerular e alterações
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
hemodinâmicas (hipotensão e choque). (DIRETRIZES DA
2019-2020)
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
A EHH tipicamente ocorre em adultos e idosos com DM tipo
O aumento da osmolaridade plasmática e a redução do
2, entretanto pode ocorrer na população pediátrica e em
volume intravascular são responsáveis pelas alterações
pacientes com DM tipo 1 (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
neurológicas. As alterações metabólicas decorrentes das crises
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
hiperglicêmicas promovem estresse oxidativo, alterações pró-
A taxa de mortalidade reportada para eventos de EHH é de inflamatórias e pró-coagulantes. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
5 a 16% e está relacionada a fatores precipitantes como BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
infecções, cirurgias ou eventos isquêmicos, comorbidades,
A ausência de corpos cetônicos e acidose metabólica na EHH
idade avançada e severidade de desidratação. Pacientes que
pode ser explicada por níveis séricos de insulina serem
apresentam episódios de crises hiperglicêmicas têm maior
insuficientes para a metabolização da glicose, mas podem ser
risco de eventos cardiovasculares maiores, doença renal
adequados para prevenir a lipólise e subsequente cetogênese.
terminal e mortalidade em longo prazo, principalmente na
Ademais, parece haver aumento menos marcante de
população de jovens (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
hormônios contrarregulatórios e ácidos graxos livres, bem
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
como inibição da lipólise pelo estado hiperosmolar. No entanto,
em casos de choque hipovolêmico associado a hiperglicemia, Diferentemente da CAD, embora as concentrações de glicose
pode haver acidose metabólica sem a presença dos corpos estejam, em geral, mais altas, a acidose e a cetose graves
cetônicos. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE habitualmente estão ausentes na SHH. Isso é explicado
DIABETES. 2019-2020) provavelmente pela existência de alguma capacidade
secretora residual de insulina, que é suficiente para suprimir a
lipólise e evitar uma produção significativa de cetoácidos.
O estado metabólico anteriormente conhecido como estado (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
hiperosmolar hiperglicêmico não cetótico ou coma recebeu
Alguns pacientes com diabetes tipo 2 com secreção de
nova denominação de síndrome hiperglicêmica hiperosmolar
insulina endógena deprimida podem ser incapazes de suprimir
(SHH) para ressaltar dois pontos importantes: (GOLDMAN,
por completo a produção de cetona na presença de
SCHAFER, 2022)
hormônios contrarreguladores elevados produzidos pela
1) A cetose (e a acidose) podem, de fato, estar doença física. Entretanto, como os pacientes com SHH
presentes em graus variáveis na SHH apresentam concentrações mais altas de insulina na veia porta
do fígado em comparação com pacientes com CAD, a
2) Alterações da consciência mais comumente na produção de cetoácidos pelo fígado é quantitativamente
ausência de coma. menor, produzindo apenas acidose leve. (GOLDMAN,
De fato, apenas 10% dos pacientes com SHH apresentam SCHAFER, 2022)
coma franco, e uma porcentagem igual não exibe nenhum Na SHH, na ausência de distúrbios acidobásicos concomitantes,
sinal de alteração do estado mental. Os principais fatores de o pH arterial raramente cai para menos de 7,30, e os níveis
risco para a SHH incluem idade mais avançada (a maioria dos séricos de bicarbonato normalmente não diminuem para
casos é observada em pacientes com 65 anos ou mais) e valores abaixo de 18 mEq/ℓ. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
comprometimento cognitivo (i. e., capacidade prejudicada de
reconhecer a sede ou obter acesso à água). (GOLDMAN, Pode haver uma variedade de anormalidades neurológicas
SCHAFER, 2022) frequentemente reversíveis, incluindo crises de grande mal ou
focais, reflexos plantares extensores, afasia, déficits
A sintomatologia mais proeminente é neurológica. Cerca de hemissensitivos ou motores e agravamento de uma síndrome
metade dos indivíduos apresenta-se comatosa na chegada, e mental orgânica preexistente. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
os demais mostram presença de estupor. Achados
neurológicos variados podem estar presentes, incluindo
convulsões focais e quadro compatível com AVE.
Os achados laboratoriais diagnósticos para SHH são
Ocasionalmente, pode ser difícil a identificação dos achados
(GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
como causa ou efeito da SHH. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
1) Glicemia superior a 600 mg/Dl
Desidratação grave é revelada pelo exame físico, com
consequente repercussão hemodinâmica. O exame clínico 2) Osmolaridade sérica efetiva superior a 320 mOsm/L
pode evidenciar achados relacionados ao fator desencadeante
3) Ausência de cetoacidose (pH > 7,3 e bicarbonato >
da crise hiperglicêmica. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
18 mEq/L).
As manifestações mais proeminentes do EHH são fraqueza,
Alguns pacientes com SHH podem ter acidose metabólica
desidratação, poliúria, alterações neurológicas e sede
com ânion-gap aumentado, pela concomitância com acidose
excessiva. As alterações neurológicas incluem hemiparesia,
e/ou aumento do lactato por má perfusão periférica.
convulsões e coma; esses sintomas podem ser confundidos
(GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
com um acidente vascular encefálico. (NORRIS, 2021)
As características essenciais da SHH consistem em
hiperosmolaridade grave (> 320 mOsm/ℓ) e hiperglicemia (> Diante de um paciente em EHH, seu objetivo inicial deverá
600 mg/dℓ). (GOLDMAN, SCHAFER, 2022) ser: restaurar a perfusão tecidual e corrigir a desidratação. Para
isso, deve ser administrado cerca de 1 a 2L de solução
A hiperglicemia ocorre devido à incapacidade dos pacientes
fisiológica a 0,9% nas primeiras 1 ou 2 horas, o que deverá
de ingerir líquidos o suficiente para acompanhar uma diurese
restaurar pressão arterial do seu paciente. Se o paciente
osmótica vigorosa. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
continuar hipotenso, deve-se manter a infusão até a
O consequente comprometimento da função renal acaba restauração da volemia. (NORRIS, 2021)
reduzindo ainda mais a excreção de glicose pelo rim, levando
É importante ressaltar que, no momento em que a glicemia
a elevações acentuadas da glicemia, ultrapassando algumas
alcançar o valor de 300mg/dL, deve-se ser adicionado soro
vezes 1.000 mg/dℓ. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
glicosado 5% com solução a 0,45%, associado à insulina
adequada (0,05 a 0,1 unidade/kg/h em infusão contínua) a fim
de manter a glicemia em torno de 250 a 300 mg/dL até que O aumento da mortalidade pós-amputação é de 13 a 40%, no
a osmolaridade seja < 315 mOsm/kg H2O e o paciente tenha primeiro ano, e 40 a 80% após o quinto ano. (SILVEIRO,
recuperado a função neurológica. (NORRIS, 2021) SATLER, 2015)
Para que não haja a complicação de um edema cerebral, é
recomendado que a queda na osmolaridade não ultrapasse 3
mOsm/kg H2O/h. É de responsabilidade ter esse extremo
cuidado, a fim de não levar a uma sobrecarga volêmica A insensibilidade resulta do agravo às fibras nervosas finas
iatrogênica. (NORRIS, 2021) (tipos C e delta [δ]) pela exposição prolongada à hiperglicemia
associada a fatores cardiovasculares, resultando em perda da
sensibilidade à dor e temperatura. (DIRETRIZES DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
Conceitua pé diabético como “infecção, ulceração e/ou O comprometimento de fibras grossas (A alfa [α] e beta [β])
destruição de tecidos moles associadas a alterações acarreta desequilíbrio, risco de quedas devido à alteração da
neurológicas e vários graus de doença arterial periférica (DAP) propriocepção, percepção de posição pelos receptores nas
nos membros inferiores” (DIRETRIZES DA SOCIEDADE pernas e nos pés e em estágios avançados, envolvimento
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019- 2020) motor pela hipotrofia dos pequenos músculos dos pés
causando desequilíbrio entre tendões flexores e extensores,
Nessas pessoas, as lesões dos pés representam os efeitos da
e surgimento gradual das deformidades neuropáticas: dedos
neuropatia e da insuficiência vascular. Pessoas com neuropatias
em garra ou em martelo, proeminências de cabeças dos
sensoriais apresentam comprometimento da sensibilidade à
metatarsos e acentuação ou retificação do arco plantar.
dor e muitas vezes não têm consciência do constante
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
traumatismo dos pés pela ação de sapatos de tamanho
2019- 2020)
inadequado, suporte inadequado do peso, objetos rígidos ou
pedras nos sapatos e até infecções como o “pé de atleta” Traumas (pelo uso de calçados inapropriados, caminhar
(NORRIS, 2021) descalço, objetos dentro dos sapatos etc.) precipitam a UPD;
a insensibilidade associada à limitação de mobilidade articular
A combinação de comprometimento sensitivo devido à
(LMA) e deformidades resulta em alterações biomecânicas,
neuropatia periférica com redução da perfusão tecidual,
com aumento de pressão plantar (PP) principalmente em
devido à aterosclerose de grandes vasos (doença arterial
antepé nas cabeças dos metatarsos e nas regiões dorsais dos
periférica) ou à disfunção microvascular pode resultar em
pododáctilos. A PP anormal é um fator importante para UPD
ulceração, infecção e, por fim, amputação das extremidades
somente se houver insensibilidade e está relacionada à LMA,
inferiores. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
sobretudo nas articulações de tornozelo, subtalar e
Um caso típico envolve o desenvolvimento de uma ulceração metatarsofalangianas, pelo comprometimento do colágeno
(frequentemente circundada pela formação de calo) na face tipo IV e pela deposição de produtos finais de glicação
plantar do pé, frequentemente abaixo das cabeças dos avançada (AGE, advanced glycation end-products), causando
metatarsos. A ulceração pode demorar a cicatrizar, devido ao hiperqueratose e calosidades, que são lesões pré-ulcerativas.
traumatismo repetitivo provocado pela marcha e ao (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
comprometimento do fluxo sanguíneo. A hiperglicemia 2019-2020)
também pode prejudicar a cicatrização de feridas, em virtude
A mecânica alterada do pé também pode levar a fraturas
de efeitos sobre a migração e a função dos leucócitos. Na
repetidas (e habitualmente não detectadas), que destroem a
ausência da sensibilidade protetora, uma infecção pode
arquitetura normal do pé e resultam na deformidade clássica
deteriorar durante semanas e, por fim, invadir o osso, levando
do pé de Charcot. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
à osteomielite (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
A hipo ou anidrose (pele seca), resultante da disautonomia
periférica, e os calos favorecem o aumento da carga plantar,
A prevalência de úlcera nos pés é de 4 a 10% na população ocorrendo hemorragia subcutânea e ulceração pelo trauma
diabética, e o risco de desenvolvê-la ao longo da vida é maior repetitivo (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
do que 25%. (SILVEIRO, SATLER, 2015) DIABETES. 2019- 2020)
Oitenta e cinco por cento das amputações relacionadas ao
diabetes melito (DM) são precedidas por úlceras, sendo o pé
diabético a maior causa de amputação não traumática dos
membros inferiores, responsável por 40 a 60% dos casos.
(SILVEIRO, SATLER, 2015)
Sensibilidade Educação do
preservada, sem paciente, incluindo
0 DAP ou Anual
autoexame dos
deformidades nos pés e uso de
pés calçados
apropriados
O mesmo, além
Com perda de de considerar
sensibilidade ± A cada 3-6 cirurgia corretiva
1 deformidades nos meses para as
pés deformidades dos
pés
O mesmo,
Com DAP ± incluindo
perda de A cada 3-6 considerar
Estudos apontam para uma resposta orquestrada pela 2 sensibilidade meses acompanhamento
desnervação, com implicação no controle neurovascular, por cirurgião
resultando em alteração do fluxo capilar, oxigenação, filtração vascular
de fluidos e resposta inflamatória, o que torna os pacientes Os mesmos
com DM mais suscetíveis a lesões teciduais e infecções, Úlcera ou cuidados do risco 1,
A cada 1-2 além de
inclusive o desenvolvimento de neurosteoartropatia de 3 amputação
meses
prévias acompanhamento
Charcot, ou pé de Charcot (DIRETRIZES DA SOCIEDADE por cirurgião
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) vascular
Essa cadeia de resposta denota a ação da PND em microvasos
com liberação de neuropeptídios vasodilatadores: substância
P, peptídio relacionado com o gene da calcitonina (calcitonin o exame físico, é importante ficar atento para (SILVEIRO,
gene-related peptide, CGRP) e fator de necrose tumoral α SATLER, 2015)
(tumoral necrosis factor alpha, TNF-α) (DIRETRIZES DA  Coloração
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)  Temperatura
 Ressecamento
O significado fisiopatológico dos AGE emergiu das  Sudorese da pele
complicações crônicas do DM já na década de 1980, e  Mobilidade das articulações
evidências acumulam-se sobre a sua função na inflamação, na  Presença de calos, rachaduras, deformidades ósseas
aterosclerose e nos distúrbios neurais degenerativos, com (cavalgamento dos dedos, dedos em garra e em martelo,
vários mecanismos propostos: (DIRETRIZES DA SOCIEDADE joanete, artropatia de Charcot)
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019- 2020)  Atrofia muscular
 Unhas distróficas
1) Acúmulo de AGE na matriz extracelular, causando  Diminuição ou ausência de pulsos e pelos.
cruzamentos anormais e diminuição da elasticidade  Observar se o calçado usado é adequado para o paciente.
dos vasos;
2) Ligação a receptores de AGE (RAGE) em diferentes
tipos celulares;

3) Ativação da via do fator nuclear κβ (nuclear factor-


kappa beta, NF-κβ) e modulação da expressão
gênica em células endoteliais, músculo liso e
macrófagos, assim como formação de AGE
intracelular, que compromete o oxido nítrico e os
fatores de crescimento.

Uma avaliação clínica completa dos pacientes com DM é


necessária para prevenir úlceras e amputações (SILVEIRO,
Realiza-se pressão com o monofilamento de Semmes-
SATLER, 2015)
Weinstein de 10 g em quatro regiões plantares dos pés
bilateralmente (primeiro, terceiro e quinto metatarsos e hálux
distal) determinando a presença ou não de sensibilidade
(SILVEIRO, SATLER, 2015)
Repetir as áreas duas vezes, evitando as que contêm
calosidades. Um ou mais erros torna o teste positivo para
Com o paciente em decúbito dorsal, ele deverá descriminar
neuropatia periférica. (SILVEIRO, SATLER, 2015)
se o examinador está posicionando seu dedo do pé para cima
ou para baixo sem utilizar a visão. (SILVEIRO, SATLER, 2015)

Para o diagnóstico clínico de infecção, é necessária a evidência


de perda de integridade tecidual, com uma resposta
inflamatória resultante, sugerida pela presença de dois ou mais
dos seguintes fatores: (SILVEIRO, SATLER, 2015)
1) Eritema maior do que 0,5 cm a partir do bordo da
úlcera
2) Edema local
3) Dor
4) Aumento de temperatura.

O examinador deve percutir o diapasão de 128 Hz na própria Em casos de infecção leve, os principais microrganismos
mão e encostar o seu cabo na parte óssea da falange distal envolvidos são Staphylococcus aureus e Streptococcus β-
do hálux do paciente. (SILVEIRO, SATLER, 2015) hemolítico. Entretanto, infecções profundas ou com
isquemia/áreas de necrose são geralmente associadas à
Uma resposta anormal pode ser definida quando o paciente etiologia polimicrobiana, tornando-se necessário ampliar a
informa não sentir a vibração, mas esta é percebida pelo antibioticoterapia para cobertura de anaeróbios (Bacterioides
examinador, ou quando a percepção de intensidade de sp., Peptoestreptococos, Peptococos e Clostrídeo sp.) e gram-
vibração nos pés é reduzida em relação à das outras negativos (Escherichia coli e Proteus sp.). Cultura de swab não
proeminências ósseas do paciente (maléolo, mento, cotovelo). é útil para guiar o tratamento. (SILVEIRO, SATLER, 2015)
(SILVEIRO, SATLER, 2015)
O biotensiômetro é um instrumento que avalia de forma
O tratamento geralmente envolve o uso de antibióticos e/ou
quantitativa a percepção vibratória. Valores > 25 são
uso de pomadas antimicrobianas no local afetado, alterações
sugestivos de neuropatia. (SILVEIRO, SATLER, 2015)
na dieta ou no uso de medicamentos para controlar a diabetes,
a realização de curativo diário da ferida e, dependendo do
acometimento do indivíduo, a internação é essencial. Nos
casos mais graves, pode ser necessário fazer cirurgia para
retirar a região afetada da pele e favorecer a cicatrização. No
entanto, quando a ferida não é detectada numa fase inicial ou
quando o paciente não cumpre o tratamento adequadamente,
a região afetada pode ser muito grande, podendo ser
necessário amputar o pé ou parte dele. (NORRIS, 2021)

Utiliza-se um palito próprio para o teste, realizando-se leve A neuropatia diabética (ND) é definida como dano neurológico
pressão na extremidade ungueal distal do hálux. A em pacientes com diabetes melito (DM) após exclusão de
insensibilidade torna o teste positivo. (SILVEIRO, SATLER, 2015) outras causas. (SILVEIRO, SATLER, 2015)
Caracterizam-se pela presença de sintomas e/ou sinais de
Pode-se utilizar o cabo do diapasão para avaliar a percepção disfunção dos nervos do sistema nervoso periférico somático
ao frio ou tubos refrigerados e aquecidos. (SILVEIRO, SATLER, e/ou do autonômico em indivíduos com DM. (DIRETRIZES DA
2015) SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
As NDs são consideradas presentes somente após a exclusão
Com o paciente sentado, percute-se o tendão de Aquiles. O de outras causas, tais como as polineuropatias (PNPs)
teste é positivo quando há ausência do reflexo de flexão resultantes de doenças metabólicas, sistêmicas, infecciosas,
plantar do pé. (SILVEIRO, SATLER, 2015) inflamatórias e nutricionais, a intoxicação por agentes
industriais, drogas e metais, além das neuropatias hereditárias o crescimento e a sobrevida dos neurônios. (SILVEIRO,
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. SATLER, 2015)
2019-2020)
Nos pacientes com DM2, o impacto do controle glicêmico
O acometimento do sistema nervoso periférico pode ser focal intensivo isolado para prevenção da ND é menor e mais
ou difuso, sensório e/ou motor e também autonômico. O controverso, com proteção de 5 a 7% nos estudos mais
sistema nervoso central (SNC) também pode estar envolvido; recentes. Provavelmente, o menor impacto do controle
assim, a ND pode ter diversas apresentações clínicas. glicêmico no DM2 deva-se ao maior tempo de exposição à
Entretanto, até 80% dos casos manifestam-se como hiperglicemia antes do diagnóstico e à importante associação
polineuropatia sensório-motora distal simétrica (SILVEIRO, de outros fatores de risco metabólicos, especialmente a
SATLER, 2015) dislipidemia. (SILVEIRO, SATLER, 2015)
A polineuropatia diabética está associada a um importante A dislipidemia, por meio da produção de ácidos graxos livres
comprometimento da qualidade de vida do paciente, seja pelo e da modificação da lipoproteína de baixa densidade (LDL, do
quadro de dor crônica, pelo prejuízo na qualidade do sono ou inglês low density lipoprotein), pode promover ativação de
pelos riscos de amputação de extremidades. (SILVEIRO, cascatas inflamatórias e liberação de citocinas capazes de
SATLER, 2015) promover dano e morte das células do sistema nervoso. Além
disso, a idade, a variabilidade glicêmica e outros fatores, como
À medida que progridem, as NDs tornam-se fatores de risco
hipertensão arterial sistêmica (HAS), obesidade e tabagismo,
para ulcerações nos pés, amputações e desequilíbrio ao andar,
provavelmente também estão associados à ND (SILVEIRO,
determinando, ainda, manifestações clínicas relacionadas com
SATLER, 2015)
distúrbios cardiovasculares, da sudorese e dos sistemas
geniturinário e gastrintestinal. Assim, podem afetar a qualidade
de vida pelas dores neuropáticas frequentemente associadas,
Todos os pacientes com DM2 devem ser avaliados para a
além da possibilidade de morte súbita por arritmias cardíacas.
presença de ND e NA no momento do diagnóstico do DM.
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
Pacientes com DM1 devem ser avaliados após cinco anos de
2019-2020)
diagnóstico da doença. As reavaliações devem ser anuais (ou
Em fases iniciais, as anormalidades nos nervos periféricos são mais frequentes, se necessário). (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
detectadas somente após testes especiais (nessa fase, as NDs BRASILEIRA DE DIABETES. 2019- 2020)
são consideradas subclínicas) (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
A PNP difusa simétrica é a forma mais comum de ND. Tem
início insidioso, podendo comprometer apenas fibras finas,
Ela representa a complicação crônica mais prevalente, apenas fibras grossas ou ser mista (mais frequentemente).
afetando 30 a 50% dos pacientes com DM. (SILVEIRO, (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
SATLER, 2015) 2019-2020)
Em torno de 15% dos pacientes com ND desenvolvem úlceras Inicialmente, costuma haver acometimento da sensibilidade
nos pés, configurando a principal causa de amputação não dolorosa, tátil e térmica, refletindo o acometimento
traumática de membros inferiores. (SILVEIRO, SATLER, 2015) preferencial das fibras nervosas finas, desmielinizadas (fibras C)
ou mielinizadas (Ad). Posteriormente, ocorre a perda da
sensibilidade vibratória e da propriocepção (posicional),
A hiperglicemia é o principal fator envolvido na patogênese da refletindo o acometimento das fibras nervosas mielinizadas
ND; entretanto, outros fatores também contribuem. (SILVEIRO, grossas (fibras Ab). Entretanto, pode haver uma combinação
SATLER, 2015) de fibras acometidas com manifestação clínica variada. A força
muscular será afetada apenas tardiamente. (SILVEIRO,
A hiperglicemia crônica pode levar a dano celular de diversas SATLER, 2015)
maneiras, seja pelo aumento da produção de radicais livres ou
pela formação de produtos de glicação avançada, ativando A maioria dos pacientes com PNP somática crônica apresenta-
cascatas inflamatórias que culminam com dano e morte celular. se assintomática, mas cerca de 10% dos pacientes podem ter
(SILVEIRO, SATLER, 2015) sintomas sensitivos incapacitantes, requerendo tratamento
específico (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
No DM tipo 1 (DM1), há deficiência de insulina; no DM tipo 2 DIABETES. 2019- 2020)
(DM2), resistência à insulina e/ou deficiência de insulina. O
estado de insulinopenia relativa contribui para a patogênese da Embora não apresentem dor em resposta a estímulos
ND porque a insulina tem efeitos neurotróficos que influenciam nociceptivos, muito frequentemente os pacientes com ND
sentem dores neuropáticas, como parestesias ou
hiperestesias. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES. 2019-2020) Tonturas por hipotensão postural, hipotensão
Cardiovascular pós-prandial, taquicardia em repouso, intolerância
Essas dores são descritas como superficiais e semelhantes a ao exercício, isquemia miocárdica ou infarto sem
dor, complicações nos pés e morte súbita
uma queimadura, ou como ósseas, profundas e de Alterações na textura da pele, edema,
Autonômica
rasgamento. As dores costumam ser mais intensas à noite, periférica
proeminência venosa, formação de calo, perda
levando à insônia. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA das unhas e anormalidades na sudorese dos pés
Disfagia, dor retroesternal, pirose, gastroparesia,
DE DIABETES. 2019-2020) Gastrointestinal
constipação, diarreia e incontinência fecal.
Disfunção vesical, ejaculação retrógrada,
Todas as fibras nervosas estão expostas aos fatores que Geniturinária
disfunção erétil e dispareunia.
podem trazer danos, em especial à glicotoxicidade. Quanto Sudomotora Anidrose distal e sudorese gustatória
mais longo for o trajeto das fibras desde a raiz nervosa até a Resposta pupilar
Visão muito diminuída em ambientes escuros.
anormal
extremidade, mais precoce será o acometimento. Por isso, os
Resposta
membros inferiores costumam ser afetados mais Menor secreção de glucagon e secreção
neuroendócrina à
retardada de adrenalina
precocemente do que os superiores, em um padrão clássico hipoglicemia
de distribuição em “botas e luvas” (SILVEIRO, SATLER, 2015)
As câimbras musculares, que têm início distalmente e podem
É uma forma menos frequente de ND. Em geral, acomete os
irradiar de modo lento pelas pernas, são de caráter similar ao
idosos. Apresenta-se com manifestações sensório-motoras na
das que ocorrem em outros distúrbios de perda de inervação
distribuição de um nervo craniano ou periférico. (SILVEIRO,
muscular e hidreletrolíticos. Inicialmente, a perda de inervação
SATLER, 2015)
pode estar confinada a fibras nervosas finas, pouco
mielinizadas; se a dor trouxe o paciente ao médico, as perdas O processo é frequentemente autolimitado, com resolução do
sensorial e motora aferidas por métodos convencionais quadro entre 6 e 8 semanas. Quando dois ou mais sítios
podem não ser marcantes. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE nervosos são acometidos, recebe a denominação de
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) multifocal. (SILVEIRO, SATLER, 2015)
Sintomas dolorosos, na ausência de déficit neurológico Podem acometer nervos cranianos ou somáticos, como os
marcado, parecem paradoxais; a dor, contudo, pode significar nervos ulnar, mediano, femoral e lateral cutâneo da coxa. Entre
regeneração nervosa, começando, talvez, antes da os nervos craniais, pode ocorrer comprometimento dos pares
degeneração significativa. Em alguns pacientes com ND, a dor cranianos III, VI e VII. O par IV é raramente envolvido
é leve ou não ocorre, aparecendo a PNP como déficit (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
neurológico detectado ao exame físico ou como complicação 2019-2020)
resultante de alterações neurológicas assintomáticas.
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. A mononeuropatia focal mais frequente é a do nervo mediano,
2019- 2020) levando a uma síndrome do túnel do carpo de rápida
instalação.
O exame clínico geralmente revela déficit sensitivo com
distribuição originando-se nas regiões plantares dos pés e
direcionando-se para as pernas (distribuição em meias). Por Inclui as neuropatias com acometimento de raiz ou plexo
vezes, os sinais de disfunção motora estão presentes, com nervoso. A dor é intensa, podendo associar-se a paresias e
fraqueza dos músculos menores e reflexos ausentes no plegias. Podem ser uni ou bilaterais. São mais comuns em
tornozelo (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE idosos, acompanhadas de anorexia e perda de peso (SILVEIRO,
DIABETES. 2019-2020) SATLER, 2015)
As radiculoneuropatias podem acarretar dor similar à que
A neuropatia autonômica do diabetes (NAD) é, também, muito ocorre em lesões por herpes-zóster na região torácica
comum. Em geral, os sintomas aparecem insidiosamente. Em (radiculopatia torácica) ou, ainda, comprometer um plexo
fases iniciais, costumam passar despercebidos, pois não são radicular, como o lombossacral, ou a inervação proximal
insistentemente questionados. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE motora dos membros inferiores (amiotrofia proximal motora).
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) . (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
2019-2020)
Os sistemas simpático e parassimpático de diferentes regiões
do organismo podem mostrar evidências de déficit, de modo
isolado ou em conjunto (DIRETRIZES DA SOCIEDADE O sistema nervoso autonômico (SNA) é composto por fibras
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) finas mielinizadas e não mielinizadas. A NA costuma
desenvolver-se após alguns anos de DM; entretanto, pode (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
ocorrer precocemente. (SILVEIRO, SATLER, 2015) 2019-2020)
A NA pode ser a única forma de ND afetando o paciente, o É importante lembrar que a diminuição da sensibilidade ao frio
qual, muitas vezes, apresenta manifestações clínicas sutis é mais precoce do que a diminuição da sensibilidade ao calor.
(SILVEIRO, SATLER, 2015) (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
2019- 2020)

O exame clínico é suficiente para definir a presença de PNP


na maioria das vezes. Em pacientes com dor de origem Avalia o comprometimento de fibras grossas e finas. Os
neuropática, decorrente de ND, quando o exame clínico não resultados correlacionam-se com a velocidade de condução
for positivo, será necessário realizar exames subsidiários para nervosa motora e sensitiva e, também, com os limiares de
determinar se a dor de etiologia não definida é ou não percepção térmica e dolorosa (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
resultado da presença de ND. As NDs não podem ser BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
diagnosticadas com base em um único sintoma, sinal ou teste.
São necessárias, no mínimo, duas anormalidades, entre Densidade das fibras nervosas intraepidérmicas Método
sintomas, sinais e, por exemplo, alteração de condução padronizado para quantificar a ND de pequenas fibras. Os
nervosa, bem como testes quantitativos de sensibilidade ou diagnósticos são realizados com uma sonda perfuradora de 3
testes autonômicos quantitativos específicos, juntos, para que mm de diâmetro, aplicada em local previamente padronizado,
se possa estabelecer o diagnóstico de ND (DIRETRIZES DA que costuma ser a 10 cm acima do maléolo lateral dos pés.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
2019-2020)
A sonda cutânea usada na biópsia deve ser imediatamente
fixada em paraformaldeído e transportada para o laboratório,
A eletroneuromiografia é um teste que tem importante papel no qual se realiza a reação imuno-histoquímica para fibras
na detecção, na caracterização e na avaliação da progressão nervosas intraepidérmicas. Geralmente, a reação utiliza um
das diferentes formas de ND. Em estudos de condução anticorpo primário contra o produto de gene da proteína
nervosa, os nervos sensitivos ou motores são estimulados, marcadora axonal 9.5 (protein gene product, PGP 9.5).9 Na
com o subsequente registro do potencial de ação sensitivo ou prática clínica raramente é necessário. (DIRETRIZES DA
motor. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019- 2020)
DIABETES. 2019-2020)
O estudo neurofisiológico avalia adequadamente fibras grossas Método rápido, não invasivo e preciso que permite a análise
(mielinizadas). Dos vários parâmetros úteis para definir a quantitativa do plexo do nervo sub-basal da córnea. Pacientes
presença de ND, geralmente se utilizam a latência, a velocidade com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) ou DM2 frequentemente
de condução e a amplitude. O envolvimento de fibras finas e apresentam redução acentuada da densidade dos nervos sub-
não mielinizadas, tal como ocorre nas PNPs caracterizadas por -basais em comparação com córneas saudáveis. (DIRETRIZES
dor, não é claramente evidenciado por esse método. DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
2019-2020)
Recomenda-se que pacientes com diabetes propensos a
desenvolver neuropatia autonômica cardiovascular (NAC)
sejam submetidos a testes de estresse cardíaco antes de
iniciar um programa de exercícios físicos. Se o teste for
Esse teste verifica o comprometimento de fibras finas. O
positivo para NAC, os pacientes devem ser aconselhados, ao
Thermal Sensitivity Tester (Sensortek Inc., Clifton, Nova
promover incrementos de carga, a acreditar no nível de
Jersey, Estados Unidos da América) avalia, no paciente, a
exercício percebido e não na frequência cardíaca (FC). Com
capacidade de distinguir temperaturas com base em uma
esse cuidado, podem-se evitar intensidades de exercício que
escala de graus centígrados. Os resultados correlacionam-se
determinem risco cardiovascular. (DIRETRIZES DA
com a variabilidade da frequência cardíaca (VFC). (DIRETRIZES
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019- 2020)
DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
Um teste mais rudimentar é utilizado na prática: solicita-se ao
paciente que informe se a temperatura é fria ou morna, tendo A FC de repouso entre 100 e 130 batimentos por minuto é
como padrão de frio o cabo do martelo de exame neurológico uma manifestação de fase tardia da doença e reflete aumento
(de metal) e como padrão de morno a parte de borracha. relativo do tônus simpático associado a comprometimento
vagal. É um sinal não específico de NAC, pois pode estar 40% dos pacientes diabéticos (SILVEIRO, SATLER, 2015)
presente em várias outras condições, tais como anemia, Retinopatia diabética (RD) é uma das principais causas de perda
disfunção tireoidiana e doença cardiovascular subjacente visual irreversível no mundo, considerada a maior causa de
(incluindo insuficiência cardíaca, obesidade e baixo cegueira na população entre 16 e 64 anos. (DIRETRIZES DA
condicionamento físico para a prática de exercícios). SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
Quanto maior o tempo de evolução do diabetes mellitus (DM),
2019- 2020)
maior o risco de RD, sendo encontrada em mais de 90% dos
Uma FC fixa não responsiva a exercícios moderados, estresse pacientes com DM tipo 1 e em 60% daqueles com DM tipo 2,
ou sono indica quase completa denervação autonômica após 20 anos de doença sistêmica. (DIRETRIZES DA
cardíaca e sugere NAC grave. Alta FC de repouso é fator de SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
risco independente para mortalidade por todas as causas e
A gravidade da retinopatia aumenta com controle glicêmico
para mortalidade cardiovascular em várias coortes
inadequado e de acordo com o tempo de doença
prospectivas (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
DIABETES. 2019- 2020)
2019-2020)

Em indivíduos sem diabetes, predomina o tônus vagal, com


É a principal causa de novos casos de cegueira entre adultos
diminuição do tônus parassimpático à noite, em associação
de 20 a 74 anos. (SILVEIRO, SATLER, 2015)
com pressão arterial (PA) noturna reduzida. Em pacientes com
NAC por diabetes, esse padrão está alterado, resultando em Devido ao excessivo número de casos de DM tipo 2, este
predominância da atividade do tônus simpático durante o sono grupo é responsável por uma proporção substancial de
com subsequente hipertensão noturna, também conhecida pacientes com baixa capacidade de visão decorrente da RD,
como non-dipping and reverse dipping. Esses achados estão embora o DM tipo 1 esteja associado com complicações
relacionados com alta frequência de hipertrofia ventricular oculares mais frequentes e mais graves. (SILVEIRO, SATLER,
esquerda e eventos cardiovasculares sérios, fatais e não fatais, 2015)
em pacientes com diabetes com NAC (DIRETRIZES DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) Em pacientes com DM tipo 1, a RD é geralmente encontrada
após 3 a 5 anos de doença e raramente surge antes da
puberdade. Em contrapartida, no DM tipo 2, a RD pode estar
presente em até 37% no momento do diagnóstico. A
Consiste em redução da PA sistólica, de pelo menos 20
presença de RD em qualquer grau está associada ao aumento
mmHg, ou da PA diastólica, de pelo menos 10 mmHg, em 1 a
de risco de mortalidade por todas as causas, sendo a principal,
3 minutos após se assumir posição ortostática. No diabetes, a
a cardiovascular (SILVEIRO, SATLER, 2015)
hipotensão ortostática (HO) ocorre, frequentemente, como
consequência de denervação simpática vasomotora eferente, Edema macular diabético (EMD) é a principal alteração
reduzindo a vasoconstrição do leito vascular esplâncnico e responsável por perda irreversível de acuidade visual, tendo
periférico (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE prevalência de 7%. Catarata, glaucoma e outras patologias
DIABETES. 2019-2020) oculares também são frequentes e precoces em indivíduos
com diabetes (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES. 2019-2020)
Os antidepressivos tricíclicos, em particular a amitriptilina,
imipramina, clomipramina e desipramina, são os medicamentos
mais estudados e eficazes no tratamento da neuropatia Os tecidos tanto vasculares quanto neurais na retina são
diabética, embora não exista uma evidente diferença de efeito afetados pela hiperglicemia crônica. As alterações precoces
entre ele (NORRIS, 2021) incluem (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
Os anticonvulsivantes representam uma importante opção de  Perda das células de sustentação da retina (pericitos)
tratamento na dor relacionada à neuropatia diabética (NORRIS,
2021)  Espessamento da membrana basal

Outro tratamento seguro que parece ser eficaz é a  Alterações do fluxo sanguíneo da retina.
acupuntura (NORRIS, 2021) O dano aos capilares da retina provoca vazamento de
proteínas, eritrócitos e lipídios, levando ao edema da retina.
(GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
A retinopatia diabética (RD) é uma complicação microvascular
específica do diabetes melito (DM) que se desenvolve em
A hipóxia crônica da retina (devido à oclusão capilar) promove
a neovascularização; esses novos vasos são anormais e
propensos à ruptura. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
A hemorragia, a inflamação e a cicatrização da retina podem
levar, em última análise, ao descolamento da retina por tração
e perda permanente da visão (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)

A doença passa por um período assintomático no qual se


deve proceder ao diagnóstico e ao tratamento com o objetivo
de evitar alterações irreversíveis. (SILVEIRO, SATLER, 2015)
A presença de edema macular é a principal causa de redução
Os principais sintomas são visão embaçada, perda de visão e
de acuidade visual e parece ser independente do estágio da
distorção das imagens, entretanto os pacientes podem ser
RD, podendo estar presente sem qualquer outro sinal de
assintomáticos (SILVEIRO, SATLER, 2015)
retinopatia ou ausente em doença avançada O edema macular
As alterações iniciais são microaneurismas e micro- é diagnosticado pela angiografia fluoresceínica e é indicado
hemorragias (SILVEIRO, SATLER, 2015) naqueles pacientes que já apresentam algum grau de RD, ou
se queixam de perda de visão incompatível com a avaliação
O comprometimento capilar leva à alteração da da refração. A tomografia de coerência óptica (OCT, do inglês
permeabilidade vascular, à má perfusão tecidual, ao edema e optical coherence tomography) está progressivamente
à isquemia retiniana. Em resposta a essas alterações, a retina substituindo a angiografia fluoresceínica para a detecção de
hipóxica e isquêmica passa a produzir fatores de estímulo à edema macular, tendo em vista ser um teste mais rápido, não
angiogênese na tentativa de revascularização tecidual, o que invasivo e mais detalhado, especialmente das áreas centrais da
se traduz em anormalidades microvasculares intrarretinianas retina, além de poder ser utilizado para monitorar resposta ao
(IRMA, do inglês intra retinal microvascular abnormalities), tratamento (SILVEIRO, SATLER, 2015)
“ensalsichamento” venoso e neovascularização da retina e do
disco óptico. Devido à fragilidade dos neovasos formados, pode
haver sangramento a partir da retina para a cavidade vítrea, o
que altera a estrutura vítreo-retiniana acarretando
opacificação, fibrose e, posteriormente, tração do vítreo sobre
a retina (SILVEIRO, SATLER, 2015)

Outros achados oftalmológicos que indicam


progressão/gravidade da doença, mas que não interferem na
classificação da RD são: exsudatos duros (depósitos lipídicos
situados nos bordos do edema retiniano e exsudatos
algodonosos (isquemia das células da camada de fibras
nervosas). (SILVEIRO, SATLER, 2015)
Leve Somente microaneurismas Microaneurismas (2A) Fotocoagulação a Panfotocoagulação RD proliferativa
Lesões além de laser Fotocoagulação Edema macular
microaneurismas, mas sem Aplicação intravítrea de
Moderada critérios para retinopatia Exsudatos duros (2B) Corticoides triancinolona acetonida Edema macular
diabética não proliferativa (podem aumentar o
grave risco de glaucoma)
ou a fluocinolona
Um ou mais dos critérios - Hemorragia em acetonida
abaixo, na ausência de sinais de chama de vela (2C); Aplicação intravítrea de
retinopatia diabética Medicamentos bevacizumabe,
Edema macular
progressiva: - Exsudatos anti-VEGF ranibizumabe e
- Mais de 20 hemorragias algodonosos (2D); aflibercepte
intrarretinianas em cada um Hemorragia
Grave dos 4 quadrantes; - Veias em rosário/
Vitrectomia cirúrgica vítrea ou
- Ensalsichamento venoso em anormalidades
descolamento
dois quadrantes; vasculares
- Anormalidades vasculares intrarretinianas (IRMA) de retina
intrarretinianas em pelo menos (2E)
um quadrante.
Um ou mais dos critérios: - Neovasos (2F);
- Presença de neovasos; O termo “nefropatia diabética” deve ser, portanto, reservado
Proliferativa - Hemorragia vítrea e/ou pré- - Descolamento do
somente para pacientes com proteinúria detectável
retiniana. vítreo/hemorragia
vítrea maciça (2G) persistente, em geral associada a uma elevação da pressão
arterial (PA). (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES. 2019- 2020)
São recomendados exames periódicos e rastreamento de A doença renal do diabetes (DRD) é uma complicação
doenças oculares por médico oftalmologista, já que diagnóstico microvascular crônica que está associada a um importante
e tratamento precoces proporcionam melhores resultados aumento de mortalidade, principalmente relacionada à doença
visuais, menor custo econômico e social, além de melhor cardiovascular (DCV). (SILVEIRO, SATLER, 2015)
prognóstico em longo prazo. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) Classicamente, a DRD era caracterizada em dois estágios, com
base nos valores crescentes de albumina urinária:
Em pacientes com diabetes tipo 2, a avaliação oftalmológica microalbuminúria e macroalbuminúria. Atualmente, devido ao
deve ser realizada imediatamente após o diagnóstico. Já risco conferido pelos níveis aumentados da albuminúria, define-
naqueles com diabetes tipo I, recomenda-se começar as se a DRD pela presença de aumento da albumina urinária –
avaliações após 3 a 5 anos do início do diabetes ou depois do amostra de urina apresentando ≥ 14 mg/L de albumina ou ≥
início da puberdade. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE 30 mg de albumina/g de creatinina (Cr). Mesmo dentro da
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) faixa de normalidade, tem sido demonstrado que existe um
continuum de risco renal e cardiovascular associado a valores
Gestantes com diabetes devem realizar exame oftalmológico
crescentes de albuminúria. (SILVEIRO, SATLER, 2015)
desde o início da gravidez Exame oftalmológico completo
deve ser realizado em todos os pacientes com diabetes por Apesar da medida da albumina urinária ser o marco para o
médico oftalmologista especializado, para verificação da diagnóstico da DRD, uma proporção significativa dos pacientes
melhor acuidade visual corrigida e realização de mapeamento (~30%) apresenta redução da taxa de filtração glomerular
de retina sob midríase medicamentosa por oftalmoscopia (TFG) na presença de valores normais de albuminúria. Dessa
binocular indireta, biomicroscopia em lâmpada de fenda e forma, é recomendada também a realização da estimativa da
tonometria (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE TFG por meio de fórmulas específicas como parâmetro
DIABETES. 2019-2020) complementar (SILVEIRO, SATLER, 2015)
A indicação de exames é determinada por médico
oftalmologista, de acordo com a gravidade das alterações
retinianas presentes e o tratamento de cada paciente. Os mais A nefropatia diabética continua sendo a causa isolada mais
comumente utilizados são: (DIRETRIZES DA SOCIEDADE comum de insuficiência renal terminal, responsável por até
BRASILEIRA DE DIABETES. 2019- 2020) 50% dos casos nas sociedades ocidentais. (GOLDMAN,
SCHAFER, 2022)
 Retinografia simples
 Angiofluoresceinografia da retina Além disso, apesar dos avanços no manejo da glicose e da
 Tomografia de coerência óptica da retina hipertensão arterial, a prevalência da doença renal crônica em
 Ultrassonografia pacientes com diabetes melito diminuiu pouco ou não teve
nenhuma redução nessas últimas décadas. (GOLDMAN, normal ou mantêm quantidades pequenas, porém estáveis, de
SCHAFER, 2022) albuminúria. Todavia, a albuminúria persistente e crescente
constitui um marcador de alto risco de progressão para a
Embora a taxa de complicações crônicas relacionadas com o
nefropatia clínica. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
diabetes mellitus (DM) venha diminuindo nas últimas duas
décadas, tendo ocorrido redução aproximada de 30% na DRD As alterações patológicas que são típicas da nefropatia
em suas fases mais avançadas, ainda é muito elevado o diabética consistem em aumento da espessura da membrana
número de pacientes afetados, pois a incidência de DM basal glomerular e acúmulo aumentado de matriz extracelular,
continua a aumentar. Por esse motivo, a DRD permanece levando à expansão mesangial e à lesão nodular clássica
sendo a principal causa de DRC em pacientes que ingressam Kimmelstiel-Wilson. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022)
em programas de diálise,8 inclusive no Brasil (DIRETRIZES DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
De modo global, 20 a 30% dos pacientes com diabetes tipo 1
e tipo 2 desenvolvem evidências de nefropatia, embora
menor número de pacientes com diabetes tipo 2 evolua para
a doença renal terminal (DRT). Isso pode ser devido à
mortalidade concorrente por DCV, com menos pacientes
sobrevivendo à DRT. Entretanto, em virtude de sua frequência
muito maior na população, a maioria dos pacientes com
diabetes que procuram tratamento para DRT (diálise ou
transplante) apresenta diabetes tipo 2 (GOLDMAN, SCHAFER,
2022)

A nefropatia diabética desenvolve-se durante muitos anos a


décadas, com um período “silencioso” prolongado antes da
detecção clínica, seguido de progressão mais rápida para a O rastreamento da DRD deve ser iniciado logo ao diagnóstico
doença renal manifesta (GOLDMAN, SCHAFER, 2022) de DM nos pacientes com DM2 e após 5 anos do início nos
casos de DM1. No entanto, pacientes com DM1 que se
Na visão clássica, a característica fundamental da nefropatia encontrem na puberdade ou com DM persistentemente
diabética consiste no desenvolvimento de proteinúria, que descompensado têm de ser rastreados independentemente
pode decorrer de alterações da permeabilidade da membrana dessas indicações. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA
basal glomerular e aumentos da pressão intraglomerular. A DE DIABETES. 2019-2020)
primeira evidência clínica de nefropatia incipiente consiste no
desenvolvimento de albuminúria, que, do ponto de vista O rastreamento precisa ser anual e basear-se na medida da
quantitativo, é menor no início (microalbuminúria, razão albuminúria e na estimativa da TFG. (DIRETRIZES DA
albumina-creatinina urinária de 30 a 300 mg/g) e que, em SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
seguida, progride para a proteinúria franca, algumas vezes na O rastreamento deve ser iniciado, preferencialmente, pela
faixa nefrótica (> 2 g/dia). (GOLDMAN, SCHAFER, 2022) medida de albumina em amostra isolada de urina (primeira da
Durante a fase de microalbuminúria, a TFG é preservada, manhã ou casual) devido à acurácia diagnóstica e à facilidade
porém começa a declinar paralelamente com o aumento da desse tipo de coleta. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
proteinúria, levando à DRT 5 a 15 anos após a primeira BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
detecção de excreção anormal de albumina. Entretanto, Pode-se medir o índice albumina-creatinina ou apenas a
evidências recentes sugerem que a doença renal crônica no concentração de albumina. A vantagem da concentração de
diabetes é mais heterogênea do que se acreditava albumina é o menor custo, sem perda de acurácia diagnóstica
anteriormente, e alguns pacientes progridem para estágios quando comparada com o índice. Além disso, foi demonstrado,
avançados da doença renal crônica na ausência de albuminúria em estudo de coorte com 6 anos de seguimento, que a
(GOLDMAN, SCHAFER, 2022) concentração de albumina em amostra casual é preditiva de
A doença renal diabética sem albuminúria parece ter mais eventos cardiovasculares, DRD e mortalidade em geral.
tendência a ocorrer em pacientes mais idosos com diabetes (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
tipo 2 e pode refletir, em parte, a contribuição de múltiplos 2019-2020)
fatores de risco renais, incluindo hipertensão arterial, obesidade Todo teste de albuminúria anormal deve ser confirmado em
e dislipidemia. Além disso, a microalbuminúria não progride de duas de três amostras coletadas em um intervalo de 3 a 6
maneira inevitável, e alguns pacientes regridem para a faixa
meses, devido à variabilidade diária da EUA. (DIRETRIZES DA A equação de Cockcroft-Gault, [(140 – idade) × peso/(72 ×
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) creatinina) × 0,85 (se mulher)], apesar de amplamente utilizada
para estimar a TFG, é pouco acurada. Na prática clínica atual,
Fatores como exercício durante o período de coleta de urina,
a TFG deve ser estimada por meio de equações que
febre, insuficiência cardíaca, hiperglicemia grave e hipertensão
empreguem a creatinina sérica e sejam ajustadas para idade,
arterial não controlada podem elevar os valores de EUA.
gênero e etnia. Precisa ser empregado, preferencialmente, um
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
método de medida de creatinina sérica calibrado (DIRETRIZES
2019-2020)
DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
Embora seja sugerido que infecção urinária possa interferir
Os laboratórios deverão calcular a TFG estimada com a
nos valores de EUA, recentemente foi constatado que a
equação CKD-EPI ou MDRD e reportá-la no laudo sempre que
existência de bacteriúria não interfere de maneira apreciável
for solicitada dosagem de creatinina sérica. (DIRETRIZES DA
nas medidas de albuminúria, não sendo necessária, como
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
rotina, a realização de urocultura concomitante à EUA
(DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES.
2019-2020) 1 TFG normal ou elevada  90
2 TFG levemente reduzida 60 a 89
Conforme já mencionado, a ADA recomenda o uso dos 3A Moderada redução da TFG 45 a 59
termos “albuminúria normal” e “albuminúria elevada” para 3B Redução marcada da TFG 30 a 44
valores acima do normal (englobando as categorias de micro 4 Redução grave da TFG 15 a 29
5 Insuficiência renal < 15
e macroalbuminúria anteriormente denominadas). Já a KDIGO,
que representa as diretrizes de nefrologia, sugere o uso de A cistatina C sérica é, assim como a creatinina sérica, um
três faixas: albuminúria normal (< 30 mg/g = mg de albumina/g marcador endógeno da TFG. Alguns estudos têm
de creatinina), albuminúria elevada (30 a 300 mg/g) e demonstrado que, em pacientes com DM, a cistatina seria um
albuminúria muito elevada (> 300 mg/g), as quais fariam a melhor preditor de doença renal avançada e de mortalidade
correspondência com as faixas de micro e macroalbuminúria, quando comparada à creatinina sérica. Segundo as últimas
respectivamente, mas reforçando o abandono do uso desses diretrizes de nefrologia, a cistatina C deve ser solicitada quando
termos (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE a TFG estimada com a equação CKD-EPI estiver entre 45 e
DIABETES. 2019-2020) 60 mL/min, especialmente se não houver outras evidências
de doença renal, para dirimir dúvidas quanto aos achados com
Concentração de albumina  14 mg/L a TFG baseada em equações da creatinina. (DIRETRIZES DA
Índice albumina-creatinina  30 mg/g SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
Amostra de urina de 24 horas  30 mg/24h
Além da EUA elevada como expressão de lesão glomerular
Na impossibilidade de realizar-se a medida da EUA, o cálculo na DRD, outros marcadores glomerulares têm sido avaliados,
de proteínas totais pode ser também utilizado. Os pontos de como a excreção urinária de transferrina, ceruloplasmina,
corte adotados – proteinúria em amostra ≥ 430 mg/L ou em adiponectina, laminina e proteínas podocitárias. No entanto,
urina de 24 horas > 500 mg – correspondem a valores muito nenhum desses marcadores mostrou-se superior à
elevados de EUA (macroalbuminúria). (DIRETRIZES DA albuminúria até o momento (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) BRASILEIRA DE DIABETES. 2019- 2020)

Também a verificação de proteínas no exame qualitativo de Além disso, os túbulos e o interstício renal também parecem
urina sugere EUA elevada, pois, em geral, sua ocorrência apresentar uma função na patogênese da DRD. O
refere-se a um valor de proteínas totais na urina > 500 mg/24 acometimento tubular poderia, inclusive, preceder o
h. (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. envolvimento glomerular, pois várias proteínas e enzimas
2019-2020) tubulares são detectáveis antes da elevação da EUA e da
queda da TFG: lipocalina associada à gelatinase neutrofílica
A estimativa da TFG com equações deve ser realizada (neutrophil gelatinase-associated lipocalin, NGAL), N-
rotineiramente com a medida da albuminúria. (DIRETRIZES DA acetilglucosamina (N-acetyl glucosaminidase, NAG), molécula 1
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020) de lesão renal (kidney injury molecule 1, KIM-1), α1- e β2-
A concentração sérica de creatinina não pode ser usada como microglobulinas, proteína ligante de ácido graxo (fatty acid
índice isolado de avaliação de função renal, já que sofre binding protein, L-FABP) e proteína ligante de retinol 4 (retinol
influência de vários fatores extrarrenais, como variação da binding protein 4, RBP4) (DIRETRIZES DA SOCIEDADE
massa muscular e de alguns medicamentos. (DIRETRIZES DA BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 2019-2020)
BANDEIRA, Francisco; MANCINI, Marcio; GRAF,
Hans. Endocrinologia e Diabetes. MedBook Editora, 2015.
O tratamento da nefropatia diabética no DM2 foi revolucionada
pelo advento dos agentes inibidores do cotransportador 2 de GOLDMAN, Lee; SCHAFER, Andrew I. Goldman-Cecil
sódioglicose (SGLT 2), que reduzem os níveis de glicose sem Medicina. Grupo GEN, 2022.
provocar hipoglicemia. (NORRIS, 2021)
NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Grupo GEN, 2021.
Os medicamentos que interferem no sistema renina-
angiotensina, sejam IECA ou BRA, são os agentes preferidos, KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins &
com os antagonistas dos canais de cálcio como terapia de Cotram Patologia: Bases Patológicas das Doenças. Grupo GEN,
segunda linha – Tratamento da hipertensão (NORRIS, 2021) 2023.
DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,
2019- 2020

A insulina é um medicamento que necessita de vigilância,


avaliado e classificado como potencialmente perigoso, por
apresentar riscos inerentes a falhas na sua utilização. Como
milhões de pessoas aplicam insulina uma ou mais vezes por
dia, surge o desafio de gerenciamento no tratamento
insulínico. Dessa forma, o profissional de saúde deve educar e
treinar o usuário para o manejo da insulinoterapia
considerando as características únicas de cada indivíduo
(MENDONÇA et al., 2021).
A educação em diabetes deve ser conduzida na atenção
primária à saúde, nas unidades básicas e no ambiente
hospitalar (MENDONÇA et al., 2021).
Diversos estudos mostraram obstáculos ao tratamento
correto na insulinoterapia e, consequentemente, a um
controle metabólico adequado, particularmente por erros e
imprecisões no que diz respeito à técnica de manuseio,
administração, armazenamento, local de injeção, rodízio dos
locais de injeção e descarte dos materiais (MENDONÇA et al.,
2021).
Isso se explica pelo envolvimento complexo de múltiplos
fatoreschave para o uso apropriado de insulina, englobando os
procedimentos em si, as características do indivíduo (estado
psicológico, comorbidades, habilidades cognitivas e físicas,
disciplina, interesse e disponibilidade para aprendizado e
aplicação prática), o regime de insulina (tipo de insulina, dose
e número de aplicações diárias) e os determinantes sociais de
saúde, como o grau de estresse financeiro e o fornecimento
de recursos pelo sistema de saúde e pela comunidade
(MENDONÇA et al., 2021).
No Brasil, a adesão à técnica correta ainda é insuficiente por
fatores como: seringas com agulhas maiores; menos uso de
canetas; reutilização de agulhas; não rotacionar o local de
aplicação; ocorrência de lipo-hipertrofia; erro na técnica da
prega (MENDONÇA et al., 2021).

SILVEIRO, Sandra P.; SATLER, Fabíola. Rotinas em


endocrinologia.: Grupo A, 2015.

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