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SÉRIE ELETROELETRÔNICA

ELETRÔNICA
DIGITAL
SÉRIE ELETROELETRÔNICA

ELETRÔNICA
DIGITAL
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI

Robson Braga de Andrade


Presidente

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA

Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti


Diretor de Educação e Tecnologia

Julio Sergio de Maya Pedrosa Moreira


Diretor Adjunto de Educação e Tecnologia

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI

Conselho Nacional

Robson Braga de Andrade


Presidente

SENAI – Departamento Nacional

Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti


Diretor-Geral

Julio Sergio de Maya Pedrosa Moreira


Diretor Adjunto de Educação e Tecnologia

Gustavo Leal Sales Filho


Diretor de Operações
SÉRIE ELETROELETRÔNICA

ELETRÔNICA
DIGITAL
© 2016. SENAI – Departamento Nacional

© 2016. SENAI – Departamento Regional de Santa Catarina

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Esta publicação foi elaborada pela equipe da Gerência de Educação e Tecnologia do SENAI
de Santa Catarina, com a coordenação do SENAI Departamento Nacional, para ser utilizada
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SENAI Departamento Nacional


Unidade de Educação Profissional e Tecnológica – UNIEP

SENAI Departamento Regional de Santa Catarina


Gerência de Educação e Tecnologia – GEDUT

FICHA CATALOGRÁFICA

S491e

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional


Eletrônica digital / Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Departamento Nacional, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Departamento Regional de Santa Catarina. - Brasília : SENAI/DN, 2016.
223 p. : il. ; 30 cm. - (Série eletroeletrônica)

Inclui índice e bibliografia


ISBN 9 788550 501918

1. Eletrônica digital. 2. Lógica combinacional. I. Serviço Nacional de


Aprendizagem Industrial. Departamento Regional de Santa Catarina II. Título. III.
Série.

CDU: 004.312

SENAI Sede
Serviço Nacional de Setor Bancário Norte • Quadra 1 • Bloco C • Edifício Roberto
Aprendizagem Industrial Simonsen • 70040-903 • Brasília – DF • Tel.: (0xx61) 3317-9001
Departamento Nacional Fax: (0xx61) 3317-9190 • http://www.senai.br
Lista de ilustrações
Figura 1 - Níveis lógicos 0 e 1........................................................................................................................................44
Figura 2 - Representação da porta lógica AND......................................................................................................46
Figura 3 - Porta AND com 3 entradas........................................................................................................................47
Figura 4 - Porta lógica OR...............................................................................................................................................48
Figura 5 - Porta lógica OR com 3 entradas...............................................................................................................49
Figura 6 - Porta lógica NOT............................................................................................................................................50
Figura 7 - Junção das portas lógicas AND e NOT...................................................................................................51
Figura 8 - Junção das portas OR e NOT.....................................................................................................................52
Figura 9 - Lógica XOR.......................................................................................................................................................53
Figura 10 - Montagem do circuito equivalente, referente à lógica XOR.......................................................54
Figura 11 - Porta lógica XOR..........................................................................................................................................54
Figura 12 - Junção das portas XOR e NOT................................................................................................................56
Figura 13 - Circuito eletrônico responsável pela lógica NAND.........................................................................56
Figura 14 - CI 7408............................................................................................................................................................57
Figura 15 - Chaves pull-up e pull-down...................................................................................................................58
Figura 16 - Ligação do CI 7408.....................................................................................................................................59
Figura 17 - Simulação do CI 7408................................................................................................................................60
Figura 18 - Pinagem do CI7404 (porta NOT)...........................................................................................................61
Figura 19 - Projeto de uma porta lógica NAND com circuitos 7404 e 7408................................................61
Figura 20 - Porta NAND com saída nula....................................................................................................................62
Figura 21 - Representações das principais portas lógicas..................................................................................64
Figura 22 - Representações distintiva e retangular de algumas portas lógicas.........................................65
Figura 23 - Exemplo de circuito combinacional com 3 entradas e duas saídas.........................................66
Figura 24 - Circuito de portas lógicas do exemplo 2............................................................................................70
Figura 25 - Circuito equivalente da função OR.......................................................................................................75
Figura 26 - Exemplo de construção do mapa de Karnaugh..............................................................................79
Figura 27 - Mapa de Karnaugh com duas variáveis..............................................................................................79
Figura 28 - Mapa de Karnaugh para a saída S1......................................................................................................80
Figura 29 - Mapa de Karnaugh para a saída S2......................................................................................................80
Figura 30 - Mapa de Karnaugh com 3 variáveis de entrada..............................................................................81
Figura 31 - Mapa de Karnaugh com 4 variáveis de entrada..............................................................................82
Figura 32 - Exemplo de enlace.....................................................................................................................................82
Figura 33 - Exemplo de mapa com dois enlaces...................................................................................................83
Figura 34 - Enlace em todo o mapa............................................................................................................................83
Figura 35 - Mapa de Karnaugh do exemplo 3.......................................................................................................84
Figura 36 - Tendência ao realizar o enlace...............................................................................................................84
Figura 37 - Enlace único entre células adjacentes afastadas.............................................................................85
Figura 38 - Mapa de Karnaugh para a saída S1......................................................................................................86
Figura 39 - Mapa de Karnaugh para a saída S2......................................................................................................86
Figura 40 - Circuito meio somador utilizando portas lógicas...........................................................................92
Figura 41 - Bloco do circuito meio somador...........................................................................................................93
Figura 42 - Bloco do somador completo..................................................................................................................93
Figura 43 - Circuito somador completo com portas lógicas.............................................................................95
Figura 44 - Somadores em cascata.............................................................................................................................96
Figura 45 - Circuito meio somador.......................................................................................................................... 103
Figura 46 - Circuito meio subtrator com portas lógicas................................................................................... 104
Figura 47 - Circuito subtrator completo................................................................................................................ 105
Figura 48 - Quatro subtratores completos em cascata.................................................................................... 106
Figura 49 - Fluxograma de funcionamento de um codificador.................................................................... 107
Figura 50 - Exemplo de circuito codificador com portas lógicas.................................................................. 108
Figura 51 - Funcionamento geral de um decodificador.................................................................................. 110
Figura 52 - Display de 7 segmentos......................................................................................................................... 110
Figura 53 - Pinagem dos dois tipos de displays de 7 segmentos.................................................................. 111
Figura 54 - Circuito decodificador utilizando portas lógicas......................................................................... 112
Figura 55 - Circuito decodificador CD4511........................................................................................................... 113
Figura 56 - Ligação do decodificador 4511 ao display de 7 segmentos..................................................... 113
Figura 57 - Multiplexador de dois canais............................................................................................................... 115
Figura 58 - Multiplexador implementado com portas lógicas...................................................................... 116
Figura 59 - Pinagem do CI multiplexador DM74150......................................................................................... 118
Figura 60 - Demux de dois canais............................................................................................................................ 120
Figura 61 - Demultiplexador implementado com portas lógicas................................................................ 121
Figura 62 - Demux 74154............................................................................................................................................ 122
Figura 63 - Circuito utilizando mux e demux....................................................................................................... 124
Figura 64 - Níveis de tensão de entrada e saída para a família TTL............................................................. 126
Figura 65 - Folha de dados CI 54AC10.................................................................................................................... 129
Figura 66 - Valores máximos e recomendados para o CI 54AC10................................................................ 130
Figura 67 - Atraso de propagação do CI 54AC10................................................................................................ 131
Figura 68 - Funcionamento de um circuito sequencial.................................................................................... 142
Figura 69 - FF RS com portas lógicas...................................................................................................................... 142
Figura 70 - FF RS com clock...................................................................................................................................... 144
Figura 71 - Representação do sinal de clock...................................................................................................... 145
Figura 72 - FF RS com entrada clock implementado com portas lógicas.................................................. 145
Figura 73 - Diagrama do flip-flop JK........................................................................................................................ 147
Figura 74 - Flip-flop JK com entradas auxiliares................................................................................................... 148
Figura 75 - Diagrama do FF JK................................................................................................................................... 149
Figura 76 - Adaptação do FF JK para o FF D......................................................................................................... 150
Figura 77 - Adaptação do FF JK para o FF T.......................................................................................................... 151
Figura 78 - Estrutura interna do LM555................................................................................................................. 153
Figura 79 - Onda retangular....................................................................................................................................... 154
Figura 80 - LM555 astável........................................................................................................................................... 155
Figura 81 - Simulação de um circuito astável utilizando o CI LM555.......................................................... 158
Figura 82 - Ligação do CI LM555 para atuação como multivibrador monestável.................................. 159
Figura 83 - Exemplo das formas de onda de um temporizador monestável........................................... 160
Figura 84 - Estrutura interna dos contadores...................................................................................................... 162
Figura 85 - Diagrama de estados da contagem crescente do tipo década.............................................. 163
Figura 86 - Diagrama de estados da contagem decrescente do tipo década......................................... 164
Figura 87 - Diagrama de estados da contagem crescente do tipo hexadecimal.................................... 165
Figura 88 - Diagrama de estados da contagem decrescente do tipo hexadecimal.............................. 165
Figura 89 - Diagrama de estados da contagem do tipo módulo-2.............................................................. 166
Figura 90 - Diagrama de estados da contagem do tipo módulo-8.............................................................. 166
Figura 91 - Contador módulo-7 crescente............................................................................................................ 167
Figura 92 - Formas de onda do contador módulo-7 crescente..................................................................... 168
Figura 93 - Contador assíncrono decrescente de módulo-7.......................................................................... 170
Figura 94 - Contador de década............................................................................................................................... 171
Figura 95 - Contador síncrono de N bits.............................................................................................................. 172
Figura 96 - Contagem a ser realizada pelo contador síncrono...................................................................... 173
Figura 97 - Mapas de Karnaugh para um contador de sequência 3-0-2-1................................................ 174
Figura 98 - Contador síncrono de sequência 3-0-2-1........................................................................................ 175
Figura 99 - CI 74HC93................................................................................................................................................... 176
Figura 100 - Circuito divisor de frequência........................................................................................................... 177
Figura 101 - Osciloscópio f = 16 Hz......................................................................................................................... 177
Figura 102 - Osciloscópios com frequências 8 Hz e 4 Hz................................................................................. 178
Figura 103 - Osciloscópios com frequências 2 Hz e 1 Hz................................................................................. 178
Figura 104 - Diagrama simplificado de um contador de módulo-99.......................................................... 179
Figura 105 - Contador assíncrono de módulo-FF............................................................................................... 180
Figura 106 - Registrador de deslocamento.......................................................................................................... 182
Figura 107 - Estrutura interna do CI 74HC573..................................................................................................... 189
Figura 108 - Variável analógica.................................................................................................................................. 195
Figura 109 - Grandeza digital.................................................................................................................................... 195
Figura 110 - Conversor digital-analógico.............................................................................................................. 196
Figura 111 - Conversor D/A com resistores.......................................................................................................... 197
Figura 112 - Amplificador operacional................................................................................................................... 199
Figura 113 - Conversor D/A com AmpOs.............................................................................................................. 200
Figura 114 - Conversor D/A com rede R-2R.......................................................................................................... 203
Figura 115 - Diagrama de gerador de função...................................................................................................... 207
Figura 116 - Conversor A/D........................................................................................................................................ 208
Figura 117 - Sinais digitais e analógico com 1 bit............................................................................................ 210
Figura 118 - Sinais digitais e analógico com 2 bits........................................................................................... 210
Figura 119 - Sinais digitais e analógico com 3 bits........................................................................................... 211
Figura 120 - Tempo de amostragem grande........................................................................................................ 212
Figura 121 - Tempo de amostragem pequeno.................................................................................................... 213
Figura 122 - Estrutura interna de um conversor A/D........................................................................................ 214
Figura 123 - Circuito integrado ADC080X............................................................................................................. 217
Figura 124 - Multímetro digital................................................................................................................................. 219
Figura 125 - Conversão de temperatura em sinal digital................................................................................ 220
Figura 126 - Controlador de temperatura industrial......................................................................................... 220
Figura 127 - Digitalização do som............................................................................................................................ 222

Quadro 1 - Possibilidades da função AND.................................................................................................................42


Quadro 2 - Possibilidades da função OR....................................................................................................................43
Quadro 3 - Possibilidades da função NOT.................................................................................................................44
Quadro 4 - Diferentes formas de representar os níveis lógicos 0 e 1..............................................................45
Quadro 5 - Mapa de Karnaugh com enlaces com nível lógico 0.......................................................................87
Quadro 6 - Desempenho da família lógica TTL.................................................................................................... 127

Tabela 1 - Algarismos dos sistemas decimal e hexadecimal..............................................................................25


Tabela 2 - Equivalência entre os sistemas decimal, binário e hexadecimal..................................................26
Tabela 3 - Tabela BCD8421..............................................................................................................................................36
Tabela 4 - Tabela BCD7421..............................................................................................................................................37
Tabela 5 - Tabela BCD5211..............................................................................................................................................38
Tabela 6 - Código BCD2421............................................................................................................................................39
Tabela 7 - Códigos BCD....................................................................................................................................................39
Tabela 8 - Tabela ASCII: símbolos e números............................................................................................................40
Tabela 9 - Tabela ASCII: letras maiúsculas e minúsculas.......................................................................................40
Tabela 10 - Tabela-verdade da porta AND.................................................................................................................46
Tabela 11 - Tabela-verdade da porta lógica AND com 3 entradas....................................................................47
Tabela 12 - Tabela-verdade porta lógica OR.............................................................................................................48
Tabela 13 - Porta Lógica OR com 3 entradas............................................................................................................49
Tabela 14 - Tabela-verdade da porta lógica NOT....................................................................................................50
Tabela 15 - Tabela-verdade da função lógica NAND..............................................................................................51
Tabela 16 - Tabela-verdade porta lógica NOR..........................................................................................................52
Tabela 17 - Tabela-verdade da lógica XOR................................................................................................................53
Tabela 18 - Tabela-verdade da porta lógica XNOR.................................................................................................55
Tabela 19 - Exemplos de CIs com portas lógicas.....................................................................................................57
Tabela 20 - Dinâmica pull-up e pull-down...............................................................................................................59
Tabela 21 - Tabela-verdade de um circuito combinacional................................................................................67
Tabela 22 - Expressões de cada linha para formar a saída S1.............................................................................68
Tabela 23 - Expressões de cada linha para formar S2............................................................................................68
Tabela 24 - Tabela-verdade do exemplo....................................................................................................................69
Tabela 25 - Tabela-verdade do exemplo do controle de temperatura............................................................71
Tabela 26 - Postulados......................................................................................................................................................72
Tabela 27 - Propriedades.................................................................................................................................................73
Tabela 28 - Teoremas.........................................................................................................................................................73
Tabela 29 - Exemplo da porta lógica OR....................................................................................................................73
Tabela 30 - Tabela-verdade do exemplo esteira e peça........................................................................................76
Tabela 31 - Exemplo de mapa e tabela-verdade.....................................................................................................78
Tabela 32 - Tabela-verdade com duas saídas...........................................................................................................79
Tabela 33 - Tabela BC com células não adjacentes.................................................................................................80
Tabela 34 - Tabela BC com células adjacentes.........................................................................................................81
Tabela 35 - Tabela-verdade de um circuito qualquer............................................................................................84
Tabela 36 - Tabela-verdade do exemplo 4.................................................................................................................85
Tabela 37 - Soma binária..................................................................................................................................................89
Tabela 38 - Tabela-verdade circuito meio somador...............................................................................................92
Tabela 39 - Tabela-verdade do circuito somador completo...............................................................................94
Tabela 40 - Exemplo de números binários positivos e negativos.....................................................................99
Tabela 41 - Exemplos de números representados em complemento de um............................................ 100
Tabela 42 - Tabela-verdade do circuito meio subtrator..................................................................................... 104
Tabela 43 - Tabela de um codificador de chaves independentes.................................................................. 107
Tabela 44 - Codificação dos modos de operação de um motor..................................................................... 108
Tabela 45 - Funcionamento do display de 7 segmentos................................................................................... 112
Tabela 46 - Decodificador para a representação de letras em um display................................................ 114
Tabela 47 - Tabela-verdade do mux de dois canais............................................................................................. 116
Tabela 48 - Tabela-verdade de um multiplexador de 4 canais de entrada................................................. 117
Tabela 49 - A tabela-verdade de um mux de 8 canais de entrada................................................................. 117
Tabela 50 - Informações sobre a posição de peças em um armazém.......................................................... 118
Tabela 51 - Saída do multiplexador do armazém................................................................................................ 119
Tabela 52 - Tabela-verdade de um demux de dois canais................................................................................ 120
Tabela 53 - Relação seleção vs canais de saída..................................................................................................... 121
Tabela 54 - Acionamento sequencial de bombas através do multiplexador............................................ 123
Tabela 55 - Transmissão série utilizando mux e demux.................................................................................... 125
Tabela 56 - Níveis de tensão (em volts) de entrada e saída com VCC = 5V................................................. 132
Tabela 57 - Correntes de entrada e saída para dispositivos padrão com uma tensão de VCC=5V.... 132
Tabela 58 - Tabela-verdade simplificada do FF RS............................................................................................... 143
Tabela 59 - Tabela-verdade do FF RS........................................................................................................................ 143
Tabela 60 - Tabela-verdade FF RS com clock....................................................................................................... 146
Tabela 61 - Funcionamento do flip-flop JK quando o sinal do clock está em nível alto......................... 147
Tabela 62 - Funcionamento do FF JK com entradas auxiliares....................................................................... 148
Tabela 63 - Tabela-verdade do FF D.......................................................................................................................... 151
Tabela 64 - Tabela-verdade do funcionamento do FF tipo T........................................................................... 152
Tabela 65 - Contagem módulo-7............................................................................................................................... 169
Tabela 66 - Tabela do contador assíncrono descendente de módulo-7..................................................... 170
Tabela 67 - Contador síncrono de sequência 3-0-2-1......................................................................................... 173
Tabela 68 - Funcionamento do registrador de deslocamento série-série com 3 bits............................ 183
Tabela 69 - Exemplo registrador série-série de 4 bits....................................................................................... 184
Tabela 70 - Exemplo conversor série-paralelo com 3 bits............................................................................... 185
Tabela 71 - Exemplo conversor paralelo-série...................................................................................................... 186
Tabela 72 - Exemplo registrador paralelo-paralelo............................................................................................. 188
Tabela 73 - Conversão analógica............................................................................................................................... 198
Tabela 74 - Tabela de conversão de um circuito D/A sem AOP ..................................................................... 201
Tabela 75 - Tabela de conversão de um circuito D/A sem AOP ..................................................................... 203
Tabela 76 - Conversão digital analógica de 4 bits com rede R-2R.................................................................. 205
Tabela 77 - Conversão analógico digital com 2 bits.......................................................................................... 208
Tabela 78 - Conversão analógico digital com 3 bits.......................................................................................... 209
Tabela 79 - Conversão analógico digital de 4 bits............................................................................................. 209
Tabela 80 - Exemplo de uma conversão analógico digital com 4 bits........................................................ 216
Sumário
1 Introdução........................................................................................................................................................................17

2 Lógica combinacional...................................................................................................................................................21
2.1 Sistemas de numeração, operações e códigos..................................................................................23
2.1.1 Números decimais e binários................................................................................................23
2.1.2 Números hexadecimais...........................................................................................................24
2.1.3 Conversão entre os sistemas de numeração...................................................................26
2.1.4 Códigos BCD e ASCII.................................................................................................................35
2.2 Funções lógicas.............................................................................................................................................41
2.2.1 Função AND.................................................................................................................................42
2.2.2 A função OR.................................................................................................................................43
2.2.3 A função NOT..............................................................................................................................43
2.3 Níveis lógicos.................................................................................................................................................44
2.4 Portas lógicas (AND, OR, NOT, NAND, NOR, EX-OR, EX-NOR)........................................................45
2.4.1 Porta lógica AND (E)..................................................................................................................46
2.4.2 Porta lógica OR (OU).................................................................................................................48
2.4.3 Porta lógica NOT (NÃO)...........................................................................................................49
2.4.4 Porta lógica NAND (NE)...........................................................................................................50
2.4.5 Porta lógica NOR (NOU)...........................................................................................................52
2.4.6 Porta lógica EX-OR (OU exclusivo).......................................................................................52
2.4.7 Porta lógica EX-NOR (coincidência).....................................................................................55
2.4.8 Circuitos lógicos.........................................................................................................................56
2.4.9 Simbologia (ANSI/IEEE)............................................................................................................64
2.5 Circuitos combinacionais..........................................................................................................................66
2.5.1 Simplificação de circuitos combinacionais por álgebra de Boole............................72
2.5.2 Simplificação de circuitos combinacionais por mapas de Karnaugh.....................78
2.6 Circuitos integrados de funções lógicas combinacionais..............................................................88
2.6.1 Somadores...................................................................................................................................88
2.6.2 Subtratores...................................................................................................................................98
2.6.3 Codificadores............................................................................................................................ 106
2.6.4 Decodificadores....................................................................................................................... 110
2.6.5 Multiplexadores....................................................................................................................... 115
2.6.6 Demultiplexadores................................................................................................................. 119
2.7 Famílias lógicas.......................................................................................................................................... 125
2.7.1 Tipos............................................................................................................................................. 126
2.7.2 Folha de dados......................................................................................................................... 128
2.7.3 Compatibilidade...................................................................................................................... 132

3 Lógica sequencial........................................................................................................................................................ 139


3.1 Flip-flops........................................................................................................................................................ 141
3.1.1 Caraterística de operação RS.............................................................................................. 141
3.1.2 Caraterística de operação JK............................................................................................... 147
3.1.3 Caraterística de operação D................................................................................................ 150
3.1.4 Caraterística de operação T................................................................................................. 151
3.2 Temporizador 555..................................................................................................................................... 152
3.2.1 Temporizador astável............................................................................................................ 154
3.2.2 Temporizador monoestável................................................................................................ 159
3.3 Contadores ................................................................................................................................................. 162
3.3.1 Diagrama de estados............................................................................................................. 163
3.3.2 Contador assíncrono crescente/decrescente............................................................... 167
3.3.3 Contador síncrono crescente/decrescente................................................................... 172
3.3.4 Contador como divisor de frequência............................................................................. 175
3.3.5 Contadores em cascata......................................................................................................... 179
3.4 Registradores.............................................................................................................................................. 181
3.4.1 Entrada serial/saída serial.................................................................................................... 182
3.4.2 Entrada serial/saída paralela............................................................................................... 184
3.4.3 Entrada paralela/saída serial............................................................................................... 186
3.4.4 Entrada paralela/saída paralela......................................................................................... 188

4 Interface com o mundo analógico........................................................................................................................ 193


4.1 Conversor digital-analógico.................................................................................................................. 195
4.1.1 Características.......................................................................................................................... 196
4.1.2 Aplicações.................................................................................................................................. 206
4.2 Conversor analógico-digital.................................................................................................................. 208
4.2.1 Características.......................................................................................................................... 211
4.2.2 Aplicações.................................................................................................................................. 218

Referências

Minicurrículo dos autores

Índice
Introdução

Prezado aluno! Seja bem-vindo ao livro didático de Eletrônica Digital!


A partir da leitura deste conteúdo, você entrará em contato com diferentes conhecimentos
que lhe abrirão um leque de possibilidades de aplicações e lhe mostrará a tecnologia presente
em vários dos equipamentos eletrônicos atuais.
Este livro didático tem como objetivo desenvolver fundamentos técnicos e científicos
relativos a grandezas e ao funcionamento de circuitos eletrônicos digitais, bem como
capacidades sociais, organizativas e metodológicas, de acordo com a atuação do técnico no
mundo do trabalho. Neste livro, você terá a oportunidade de desenvolver circuitos, montar
sistemas eletrônicos e realizar as suas devidas manutenções, seguindo normas técnicas,
ambientais, de qualidade, de saúde e segurança no trabalho.
Este material didático está dividido em três partes principais: circuitos combinacionais,
circuitos sequenciais e contato com o mundo analógico. Estes três tópicos principais
fundamentam a eletrônica digital, como é conhecida hoje. Embora a tecnologia que envolve
esses conhecimentos não seja tão atual, o conceito dos circuitos combinacionais e sequenciais
aparece na maioria dos equipamentos eletrônicos utilizados. Portanto, para compreender
a interface com o mundo analógico, é necessário o uso da eletrônica digital para conhecê-
-lo melhor. Conforme os capítulos forem apresentados, surgirão vários detalhes, exemplos,
fórmulas, destaques, aplicações industriais, conceitos, explicações, tabelas e ilustrações que
lhe auxiliarão a contemplar um conhecimento completo.
O conteúdo aborda uma série de exemplos que você pode repetir, simular e montar. A partir
do desenvolvimento dos assuntos abordados, você deverá se sentir preparado para estudar
os próximos temas, pois todos os conhecimentos apresentados são trazidos de maneira
sequencial, ou seja, seguem uma linha de raciocínio lógica e gradual.
ELETRÔNICA DIGITAL
18

A lógica combinacional é a base de todo este estudo e você verá que um simples elemento, conhecido
como porta lógica, é um dos principais dispositivos presentes em toda aplicação da eletrônica digital.
A palavra combinacional vem de combinar, ou seja, este tipo de lógica irá lhe mostrar um universo de
possibilidades que surgem quando são combinadas diversas informações digitais. O tipo de combinação
e a quantidade de informações combinadas são as chaves para solucionar qualquer problema lógico
presente na indústria. Serão apresentados os conhecimentos que fundamentam a lógica combinacional,
bem como exemplos práticos que lhe mostrarão como desenvolver um projeto de um circuito digital
aplicado à sua necessidade.
A lógica sequencial traz novos conceitos relacionados à eletrônica, como velocidade e sincronismo. Só
através da lógica sequencial é que hoje as informações eletrônicas podem ser armazenadas e processadas
de maneira controlada e confiável. Esta linha da eletrônica digital é base do entendimento das memórias
eletrônicas e dispositivos de armazenamento de informações. A lógica sequencial se baseia na lógica
combinacional, mas possui funções bem diferentes, como temporizadores, contadores e registradores
de informações digitais. Alguns circuitos sequenciais, unidos a alguns circuitos combinacionais auxiliares,
podem apresentar uma característica autossuficiente, ou seja, não precisam de intervenção humana para
atuar. Desta maneira, pode-se dizer que o estudo da lógica sequencial fundamenta a automação industrial,
como é conhecida hoje em dia.
A eletrônica digital é a ponte que une o mundo das ideais ao mundo virtual e ao mundo real. Hoje, boa
parte deste mundo real encontra-se na indústria onde o profissional, com conhecimento em eletrônica
digital, deve apresentar soluções rápidas para diferentes necessidades, além de conhecer o fundamento
dos principais equipamentos que realizam o controle de processos industriais, tais como controle de
temperatura, de pressão, nível de fluídos, velocidade e tempo de processo, que são aplicações industriais
que podem ser uma grande conjunção para integrar o mundo digital e analógico. Além disso, aparelhos
do dia a dia como televisores, computadores, tablets e celulares também possuem recursos provenientes
da eletrônica digital.
De agora em diante, o conhecimento estará em suas mãos.
Bons estudos!
Lógica Combinacional

Neste capítulo, serão abordados os principais conceitos que fundamentam o universo


digital, sendo a lógica combinacional o início do estudo da eletrônica digital. Portanto, inicia-
-se entendendo os números1 e suas diferentes representações, como o sistema de numeração
binário e hexadecimal. Com essa informação, será possível relembrar quais são as suas
operações matemáticas e como são realizadas as conversões de um sistema numérico para
outro.
Também serão apresentadas novas formas de representação de estados. Por exemplo, se
uma lâmpada está acesa ou apagada, isso é um estado, que pode ser chamado de verdadeiro
ou falso. O simples fato de mudar a representação é o princípio da lógica digital. Com o avançar
deste capítulo, os estados serão descritos por números binários, também conhecidos como
zeros e uns.
Mais adiante, serão detalhadas as simbologias dos principais elementos da eletrônica
digital: as portas lógicas. O estudo das portas lógicas é a espinha dorsal do avanço tecnológico
encontrado atualmente. Assim, este capítulo demonstrará o funcionamento desses
componentes da eletrônica digital, sua construção, como são encontradas atualmente suas
principais aplicações, representações matemáticas e técnicas de análise, além da simplificação
de circuitos conhecidos como combinacionais.
Neste capítulo, você encontrará exemplos que possa anotar, reproduzir, estudar, analisar,
simular, testar e tirar conclusões sobre seu funcionamento. Além disso, você entrará em contato
com situações usuais da eletrônica, aperfeiçoando sua visão prática e o raciocínio lógico.
Ao final deste capítulo, você terá subsídios para:
a) interpretar diagramas e esquemas de circuitos digitais;
b) efetuar medidas em circuitos digitais;
c) analisar diagramas e esquemas de circuitos digitais;
d) interpretar diagramas de montagem e esquemas de circuitos digitais;
e) utilizar simbologias de dispositivos digitais de acordo com as normas técnicas;

1 Símbolo que representa uma determinada quantidade.


ELETRÔNICA DIGITAL
22

f ) realizar operações e simplificações de circuitos digitais;


g) implementar circuitos combinacionais;
h) interpretar folhas de dados de componentes eletrônicos;
i) realizar conversão entre sistemas de numeração;
j) cumprir normas e procedimentos;
k) manter-se atualizado tecnicamente;
l) ter visão sistêmica;
m) ter capacidade de análise;
n) ter organização;
o) ter raciocínio lógico;
p) tomar decisões;
q) trabalhar em equipe;
r) comunicar-se de forma clara e precisa.
A primeira seção deste capítulo irá lhe mostrar os princípios dos sistemas de numeração, operações e
alguns códigos, que são temas base da eletrônica digital. Você verá que os tipos de números conhecidos e
empregados no dia a dia são totalmente diferentes do sistema de numeração utilizado por circuitos digitais.
Além disso, sem o conhecimento de sistemas de numeração, não é possível relacionar e converter estes
sistemas. Você verá, no decorrer deste capítulo, que os números digitais são muito úteis e interessantes de
se trabalhar.
Bons Estudos!
2 LÓGICA COMBINACIONAL
23

2.1 SISTEMAS DE NUMERAÇÃO, OPERAÇÕES E CÓDIGOS

Nesta seção, você estudará os diferentes sistemas de numeração que, como o próprio nome diz, é a
representação dos números. O sistema mais conhecido é o decimal, em que são utilizados os números
indo-arábicos (de 0 a 9) para representar unidades, dezenas, centenas entre outros números conhecidos.
Além do decimal, quais outros tipos de sistemas podem ser representados?
Quando se trata de circuitos e sistemas digitais, outros sistemas têm aplicações muito importantes. Na
sequência, você estudará os números decimais e binários, hexadecimais, conversão entre os sistemas de
numeração e sobre a representação em códigos BCD e ASCII.

2.1.1 NÚMEROS DECIMAIS E BINÁRIOS

A palavra decimal vem do conceito de dezena, ou seja, do valor dez. O sistema decimal é chamado desta
maneira, pois cada algarismo2 tem apenas dez possibilidades de representação. Quais seriam?
Números decimais = 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9

Exemplo 1 – Representação decimal


Caso você queira descrever o número 17, o primeiro algarismo é representado pelo número 1 enquanto
que o segundo pelo número 7. Ambos (1 e 7) estão dentro do conjunto, ou seja, fazem parte do sistema
decimal.
Desejando contar os números decimais, basta seguir a ordem numérica. Após o algarismo da unidade
superar o valor 9, este irá para 0 e um novo será adicionado com o valor 1. Observe a seguinte contagem:
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10 ...

A palavra binário vem do conceito da dualidade, ou seja, do valor dois. O sistema é assim chamado, pois
cada algarismo tem apenas 2 possibilidades de representação. Quais são estes números?
Números binários = 0 e 1
Os números binários, podem ser representados pelo número 2 no canto inferior direito. Observe:

1012

2 Elemento de um número. Vários algarismos podem formar determinado número. Por exemplo, os algarismos 1, 7 e 0 formam o
número 170 (cento e setenta), respectivamente, centena, dezena e unidade.
ELETRÔNICA DIGITAL
24

Exemplo 2 – Representação binária


Se você quiser representar o número 10102, o primeiro algarismo é representado pelo número 1, o
segundo algarismo é representado pelo número 0, o terceiro algarismo é representado pelo número 1 e o
quarto algarismo é representado pelo número 0. Ambos, 0 e 1, fazem parte do sistema binário.

O número 10 em binário não tem o mesmo valor que o número 10 em decimal. Na


FIQUE sequência deste conteúdo, você aprenderá a equivalência e a conversão entre os
ALERTA sistemas de numeração.

Em números binários, só serão vistos os algarismos zeros e um (0 e 1). O número 2, por exemplo, não
faz parte desse conjunto e, caso o encontre escrito em algum lugar, saberá que não está representando o
sistema binário.
Para realizar a contagem de números binários, deve-se estar ciente de que os algarismos sempre variam
de 1 para 0 ou de 0 para 1, como pode ser observado na sequência binária abaixo:
00, 01, 10 , 11...
Os números binários e decimais são de grande valia no estudo da eletrônica digital, uma vez que o
sistema usualmente aplicado na matemática cotidiana é o decimal. Os números binários são representados
de uma maneira mais simples e limitada. O entendimento destes dois sistemas é a ponte que conecta o
projeto e as necessidades humanas com a linguagem e aplicação das máquinas eletrônicas. Agora que
você conhece alguns sistemas de numeração, saiba que existem outros que também podem ser aplicados
no mundo digital: os números hexadecimais.

2.1.2 NÚMEROS HEXADECIMAIS

A palavra hexadecimal vem do valor 16. O sistema hexadecimal é chamado desta maneira, pois cada
algarismo do número tem 16 possibilidades de representação. Ou seja:
Números hexadecimais = 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, A, B, C, D, E e F
Os números hexadecimais podem ser representados pelo número 16 no canto inferior direito do número.
Depois do 916, existe um novo algarismo, representado pela letra A. Embora não seja muito comum, a letra
A, assim como as letras B, C, D, E e F serão tratadas como algarismos do sistema hexadecimal.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
25

Acompanhe.

Sistema Decimal 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Sistema
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F
Hexadecimal
Algarismo 1.º 2.º 3.º 4.º 5.º 6.º 7.º 8.º 9.º 10.º 11.º 12.º 13.º 14.º 15.º 16.º
Tabela 1 - Algarismos dos sistemas decimal e hexadecimal
Fonte: SENAI (2016)

Observe que A representa o 11.º algarismo do sistema hexadecimal, B é 12.º algarismo, e assim
sucessivamente.

Exemplo 1 – Representação hexadecimal


Na representação do número 97 em hexadecimal, o primeiro algarismo é representado pelo número 9 e
o segundo algarismo pelo número 7. Ambos (9 e 7) estão dentro do conjunto dos números hexadecimais.
Observe a representação a seguir:

9716

Para complementar, leia mais um exemplo.

Exemplo 2 – Sequência dos números hexadecimais


Se você quiser representar o número 8CB016, o primeiro algarismo é o número 8, o segundo o número
C, o terceiro o B e o último algarismo o número 0. A contagem dos números hexadecimais é realizada da
seguinte maneira:
0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, A, B, C, D, E, F, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17,18, 19, 1A, 1B, 1C, 1D, 1E, 1F, 20, 21, 22 ...
Pensar em números não é tarefa simples, ainda mais quando se está inserindo alguns algarismos não
muito comuns, como letras do alfabeto. A aplicação dos números hexadecimais pode ser encontrada
em circuitos que relacionam programação e circuitos eletrônicos, como a integração entre o software
(entende-se, entre outros, como o programa) e o hardware (refere-se à parte física). A aplicação de números
hexadecimais é muito importante no mundo digital, assim como os binários.
Agora que você conhece os principais sistemas de numeração e sabe que é necessário realizar uma
comparação entre todos estes sistemas, compreenda as técnicas de conversão entre os sistemas binário,
decimal e hexadecimal.
ELETRÔNICA DIGITAL
26

2.1.3 CONVERSÃO ENTRE OS SISTEMAS DE NUMERAÇÃO

Como você pode ter notado, não se pode considerar o número 11 em decimal com o mesmo valor
do número 1116. No entanto, torna-se possível imaginar que existe uma determinada equivalência entre
estes números, mesmo pertencendo a sistemas diferentes. Do mesmo modo, há uma equivalência entre o
sistema binário e o decimal, e entre o sistema binário e o hexadecimal. Observe.

DECIMAL BINÁRIO HEXADECIMAL


0 00000 0
1 00001 1
2 00010 2
3 00011 3
4 00100 4
5 00101 5
6 00110 6
7 00111 7
8 01000 8
9 01001 9
10 01010 A
11 01011 B
12 01100 C
13 01101 D
14 01110 E
15 01111 F
16 10000 10
17 10001 11
... ... ...
Tabela 2 - Equivalência entre os sistemas decimal, binário e hexadecimal
Fonte: SENAI (2016)

Observando a tabela, pode-se chegar a algumas conclusões, dentre elas, que o número 10 em decimal
equivale ao número 10102 (em binário) e ao mesmo tempo equivale ao número A16 em hexadecimal.
Se lhe for perguntado o valor em binário referente ao número D16, qual será a resposta? Basta olhar na
tabela e constatar que o valor em binário é 11012. Da mesma forma, o valor em decimal correspondente
ao número 10012 é 9. Mas, qual o valor hexadecimal correspondente ao valor 3450 em decimal? Uma das
possibilidades é alongar a tabela e contar os números hexadecimais até chegar ao número correspondente.
Mas, será que não existe um jeito mais fácil (ou um cálculo) para encontrar este valor sem precisar montar
ou consultar uma tabela?
A seguir, você conhecerá os passos para converter um número de decimal para binário, de binário para
decimal, de decimal para hexadecimal, de hexadecimal para decimal, de binário para hexadecimal e de
hexadecimal para binário.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
27

CONVERSÃO ENTRE UM NÚMERO DECIMAL PARA BINÁRIO


Para converter um número decimal para binário, deve-se dividi-lo pelo número 2 e anotar o seu resto.
Se o quociente da divisão for maior do que 2, o quociente deverá ser dividido por 2 e, novamente anotar o
seu resto. Deve-se continuar este procedimento até que o número resultante das divisões seja menor que 2.
Nesta série de divisões, quando o quociente for menor do que 1, então as divisões são interrompidas.
O número binário final será composto pelo último quociente calculado e por todos os restos das divisões
realizadas. O primeiro algarismo do número binário será o último quociente calculado. O segundo
algarismo será o último resto calculado. O terceiro algarismo, se houver, será o penúltimo resto calculado.
O último algarismo do número binário convertido será o primeiro resto calculado nesta série de
divisões. Para compreender bem esta conversão, veja o exemplo a seguir.

Exemplo 1 - Converter o número 123 para binário

123 ÷ 2 = 61, resto = 1


61 ÷ 2 = 30, resto = 1
30 ÷ 2 = 15, resto = 0
15 ÷ 2 = 7, resto = 1
7 ÷ 2 = 3, resto = 1
3 ÷ 2 = 1, resto = 1
Observe que o resto é o valor que sobra da divisão para que o quociente da divisão permaneça um
número inteiro. Por exemplo:

Ou seja, 3 X 2 (= 6) + 1 (resto = número inteiro não dividido). Ou, ao se considerar o quociente da


divisão após a vírgula de 7 ÷ 2 = 3,5 (0,5), multiplicado por 2 (divisor), obtém-se o valor de 1.

Na última divisão, o valor resultante foi igual a 1. Neste momento, não é mais necessário continuar
dividindo por 2.
Observe que o último valor encontrado na divisão 3 ÷ 2 é 1. Além deste número, todos os restos das
divisões são valores 0 ou 1. Estes valores serão usados para encontrar o número binário equivalente ao
número 123 em decimal.
O primeiro algarismo do número binário é o resultado da última divisão (3 ÷ 2), ou seja, valor 1. E o
segundo algarismo será o resto também última divisão (valor 1).
ELETRÔNICA DIGITAL
28

O terceiro algarismo será o resto da divisão 7 ÷ 2, valor 1. O quarto será o resto da divisão 15 ÷ 2, valor
1. O quinto o resto da divisão 30 ÷ 2 (valor 0). O sexto algarismo será o resto da divisão 61 ÷ 2, valor 1. O
sétimo e último algarismo será o resto da divisão de 123 ÷ 2, valor 1. Desta maneira, o número binário
correspondente ao valor 123 será 11110112. Ou seja:

Os binários podem ser representados com o auxílio de pontos para organizar melhor os números. Veja
a representação do número 123 em binário com o auxílio de pontos.

111.10112

São separados de 4 em 4 algarismos. Deve-se tomar um certo cuidado ao separá-los e sempre priorizar
os números da direita para a esquerda. Esta representação não é obrigatória, mas auxilia na visualização de
um número binário com muitos algarismos. Outra representação válida é a utilização de espaços entre os
números ao invés de pontos (ex: 111 10112). Para completar seu entendimento sobre a conversão decimal
para binário, veja mais alguns exemplos a seguir.

Exemplo 2 – Converter o número decimal 68 para binário


68 ÷ 2 = 34, resto = 0
34 ÷ 2 = 17, resto = 0
17 ÷ 2 = 8, resto =1
8 ÷ 2 = 4, resto = 0
4 ÷ 2 = 2, resto = 0
2 ÷ 2 = 1, resto = 0
Seguindo o mesmo método do exemplo 1, o valor 68 decimal será correspondente ao seguinte binário:

100.01002
2 LÓGICA COMBINACIONAL
29

Exemplo 3 – Converter o número decimal 1750 para binário


1750 ÷ 2 = 875, resto = 0
875 ÷ 2 = 437, resto = 1
437 ÷ 2 = 218, resto =1
218 ÷ 2 = 109, resto = 0
109 ÷ 2 = 54, resto = 1
54 ÷ 2 = 27, resto = 0
27 ÷ 2 = 13, resto = 1
13 ÷ 2 = 6, resto = 1
6 ÷ 2 = 3, resto = 0
3 ÷ 2 = 1, resto = 1
De acordo com o mesmo método apresentado no exemplo 1, o valor 1750 decimal será correspondente
ao seguinte valor em binário:

110.1101.01102

CONVERSÃO ENTRE UM NÚMERO BINÁRIO PARA DECIMAL


Para converter um número binário em decimal, deve-se multiplicar os algarismos do número binário
por 2 elevado à potência n (2n). Os valores de n irão variar de acordo com o algarismo a ser multiplicado.
O último algarismo de um número binário também pode ser chamado de Bit Menos Significativo (LSB, do
inglês Less Significant Bit). O LSB será multiplicado por 2 elevado a 0, o próximo algarismo será multiplicado
por 2 elevado a 1, o algarismo seguinte será multiplicado por 2 elevado a 2 e assim por diante. Após a
multiplicação dos algarismos por 2n, deve-se somar os resultados. Acompanhe o exemplo a seguir.

Exemplo 1 – Converter o número 10112 em um número decimal


Para converter 10112, organize os números da seguinte forma:
LSB

Número binário 1 0 1 1
2n 23 22 21 20
Multiplicação 1x8 0x4 1x2 1x1
Soma 8+0+2+1
Resultado 11
O número decimal correspondente a 10112 é 11.
ELETRÔNICA DIGITAL
30

Exemplo 2 – Converter o número 10101012 em decimal


Seguindo o mesmo método do exemplo anterior, tem-se que:

Número binário 1 0 1 0 1 0 1
2n 26 25 2 4
23
22 21 20
Multiplicação 1 x 64 0 x 32 1 x 16 0x8 1x4 0x2 1x1
Soma 64 + 0 + 16 + 0 + 4 + 0 + 1
Resultado 85
O número decimal correspondente a 10101012 é 85.

Exemplo 3 – Converter o número 110010012 em decimal

Número binário 1 1 0 0 1 0 0 1
2n 27 26 2 5
2 4
23
22 21 20
Multiplicação 1 x 128 1 x 64 0 x 32 0 x 16 1x8 0x4 0x2 1x1
Soma 128 + 64 + 0 + 0 + 8 + 0 + 0 + 1
Resultado 201

CONVERSÃO ENTRE UM NÚMERO DECIMAL PARA HEXADECIMAL


Para converter um número decimal em hexadecimal, deve-se utilizar uma técnica semelhante àquela
aplicada na conversão de decimal para binário. Porém, ao invés de realizar as divisões por 2, utiliza-se as
divisões pelo número 16. O resto da divisão sempre deve ser registrado até que o resultado seja menor que
16. Acompanhe o exemplo a seguir.

Exemplo 1 – Converter o número 1239 para hexadecimal


1239 ÷ 16 = 77, resto = 7
77 ÷ 16 = 4, resto = 13
Como o resultado da última divisão (4) é menor que 16, as divisões se encerram. Agora, basta utilizar o
resultado da última divisão e todos os restos para encontrar o número equivalente em hexadecimal.
O primeiro algarismo será o resultado da última divisão 77 ÷ 16, valor 4.
O segundo será o resto da última divisão 77 ÷ 16, valor 13. Mas, o valor 13 pode ser considerado como
um algarismo hexadecimal? Não, na verdade o valor 13 tem um número correspondente hexadecimal: o
número D, conforme apresentado anteriormente. Portanto, o segundo algarismo será o número D.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
31

O terceiro será o resto da divisão 1239 ÷ 16, valor 7 e o número hexadecimal correspondente ao número
1239 será:

4D716

Exemplo 2 – Converter o número decimal 7157 para hexadecimal


Seguindo o mesmo método do exemplo 1, tem-se:
7157 ÷ 16 = 447, resto = 5
447 ÷ 16 = 27, resto = 15 (F em hexadecimal)
27 ÷ 16 = 1, resto = 11 (B em hexadecimal)
O número hexadecimal correspondente ao número 7157 será:

1BF516

Exemplo 3 – Converter o número decimal 15600 para hexadecimal


Seguindo o mesmo método do exemplo 1, tem-se:
7157 ÷ 16 = 975, resto = 0
975 ÷ 16 = 60, resto = 15 (F em hexadecimal)
60 ÷ 16 = 3, resto = 12 (C em hexadecimal)
O número hexadecimal correspondente ao número 15600 será:

3CF016

CONVERSÃO ENTRE UM NÚMERO HEXADECIMAL PARA DECIMAL


Para converter um número hexadecimal em decimal, deve-se multiplicar os algarismos do número
hexadecimal por 16 elevado à potência n (16n). Os valores de n irão variar de acordo com o algarismo a ser
multiplicado. O último algarismo de um número hexadecimal também pode ser chamado de LSB. O LSB
será multiplicado por 16 elevado a 0, o próximo algarismo será multiplicado por 16 elevado a 1, o seguinte
será multiplicado por 16 elevado a 2 e assim por diante. Após a multiplicação dos algarismos (por 16n),
deve-se somar os resultados. Veja o exemplo a seguir:
ELETRÔNICA DIGITAL
32

Exemplo 1 – Converter o número 14BE16 em um número decimal


Para converter o número 14BE16, organize os números da seguinte forma:

Número hexadecimal 1 4 B E
Equivalente decimal 1 4 11 14
16n 163 16 2
161 160
Multiplicação 1 x 4096 4 x 256 16 x 11 1 x 14
Soma 4096 + 1024 + 176 + 14
Resultado 5310
O número decimal correspondente ao número 14BE16 é 5310.

Exemplo 2 – Converter o número A1B2C16 em decimal


Seguindo o mesmo princípio do exemplo 1, tem-se:

Número hexadecimal A 1 B 2 C
Equivalente decimal 10 1 11 2 12
16n 164 163 162 161 160
Multiplicação 10 x 65536 1 x 4096 11 x 256 2 x 16 12 x 1
Soma 655360 + 4096 + 2816 + 32 +12
Resultado 662316
O número decimal correspondente ao número A1B2C16 é o número 662316.

Exemplo 3 – Converter o número FEDCB16 em decimal


Observando a mesma análise do exemplo 1, tem-se:

Número hexadecimal F E D C B
Equivalente decimal 15 14 13 12 11
16n 164 16 3
16 2
161 160
Multiplicação 15 x 65536 14 x 4096 13 x 256 12 x 16 11 x 1
Soma 983040 + 57344 + 3328 + 192 + 11
Resultado 1043915
O número decimal correspondente a FEDCB16 é 1043915.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
33

CONVERSÃO ENTRE UM NÚMERO BINÁRIO PARA HEXADECIMAL


A conversão entre um número binário para decimal é bem simples. Basta separar os números binários
de 4 em 4 algarismos. Deve-se tomar um certo cuidado ao separá-los e sempre priorizar os números da
direita para a esquerda, ou seja, do menos significativo para o mais significativo. Estes 4 algarismos binários
representam um número decimal que pode variar entre 0 a 15 e que em hexadecimal varia entre 0 e F.
Portanto, para converter um número binário para hexadecimal, deve-se, primeiramente, transformar um
número binário de no máximo 4 algarismos em decimal e buscar seu equivalente em hexadecimal. A cada
conversão de 4 algarismos binários, tem-se um algarismo em hexadecimal. Veja o exemplo a seguir.

Exemplo 1- Converter o número 10111012 em hexadecimal


Separa-se o número binário em grupos de 4 algarismos, priorizando os números menos significativos.
Os 4 últimos números são 1101, enquanto que os 4 primeiros são 0101. Repare que foi adicionado um
número 0 à esquerda do segundo grupo de algarismos. O número 0 à esquerda não fará diferença na
conversão, mas ajudará a organizar os números. Organize os números, conforme apresentado a seguir:

Número binário 0101 1101


Decimal 5 13
Hexadecimal 5 D
O número hexadecimal equivalente ao binário 10111012 é 5D16

Exemplo 2 – Converter o número 10101111012 para hexadecimal


Para converter um número binário para hexadecimal, deve-se, primeiramente, separar os algarismos
binários em grupos de 4 elementos, priorizando os 4 últimos dígitos. O grupo de quatro elementos será
equivalente a um número decimal, que, por sua vez, tem seu equivalente hexadecimal. Seguindo a mesma
técnica de conversão do exemplo anterior, tem-se:

Número binário 0010 1011 1101


Decimal 2 11 13
Hexadecimal 2 B D

Repare que foram inseridos dois zeros no começo do número binário para formar os quatro elementos
do número. A inserção de zeros a esquerda do número binário não influenciará no seu valor nem na con-
versão para outros sistemas de numeração.
O número 10101111012 tem como seu equivalente hexadecimal 2BD16.
ELETRÔNICA DIGITAL
34

Exemplo 3 – Converter o número 111001111112 para hexadecimal


Para converter um número binário para hexadecimal, deve-se, primeiramente, separar os algarismos
binários em grupos de quatro elementos priorizando os quatro últimos dígitos. O grupo de quatro
elementos será equivalente a um número decimal, que, por sua vez, tem seu equivalente hexadecimal.
Seguindo a mesma técnica de conversão do exemplo anterior, tem-se:

Número binário 0111 0011 1111


Decimal 7 3 15
Hexadecimal 7 3 F

Repare que foi inserido um zero no início do número binário para formar os quatro elementos do
número. A inserção de zeros no começo do número binário não influenciará no seu valor nem na conversão
para outros sistemas.
O número 111001111112 tem como seu equivalente hexadecimal 73F16.

CONVERSÃO ENTRE UM NÚMERO HEXADECIMAL PARA BINÁRIO


Para converter um número hexadecimal para um número binário, deve-se realizar o caminho contrário
da conversão binário para hexadecimal. Cada algarismo hexadecimal terá um valor equivalente ao sistema
decimal que, por sua vez, terá um equivalente em binário. É importante lembrar que cada algarismo
hexadecimal se converterá em quatro binários, respeitando os zeros à esquerda e à direita. Leia o exemplo
a seguir.

Exemplo 1 – Converter o número ABC16 em um número binário


O número A tem seu equivalente decimal 10, o número B tem seu equivalente decimal 11, enquanto
que o número C tem seu equivalente decimal 12. O número decimal 10 tem seu equivalente binário 1010,
o número decimal 11 tem seu equivalente binário 1011, enquanto que o número decimal 12 tem seu
equivalente binário 1100. Observe que toda a conversão foi realizada utilizando 4 algarismos binários. A
conversão será apresentada a seguir.

Hexadecimal A B C
Decimal 10 11 12
Binário 1010 1011 1100

O número ABC16 tem como seu equivalente o binário 1010101111002.


2 LÓGICA COMBINACIONAL
35

Exemplo 2 – Converter o número 9EB516 em binário


O número 9 hexadecimal tem seu equivalente decimal 9, o número E hexadecimal tem seu equivalente
decimal 14, o número B hexadecimal tem seu equivalente decimal 11, enquanto que o número 5
hexadecimal tem seu equivalente decimal 5. Utilizando o mesmo método do exemplo 1 e, respeitando a
formação do número com 4 elementos binários por algarismo hexadecimal, a conversão pode ser realizada
conforme demonstrado a seguir.

Hexadecimal 9 E B 5
Decimal 9 14 11 5
Binário 1001 1110 1011 0101

O número 9EB5H tem como seu equivalente binário 1001.1110.1011.01012.


Agora é a sua vez! Tente realizar algumas conversões entre os sistemas binário, decimal e hexadecimal.

Os usuários do sistema operacional Microsoft Windows podem utilizar um software


chamado calculadora. Esta ferramenta tem os modos padrão, científico, programador
CURIOSI e estatística. No modo programador, existe uma ferramenta que permite realizar as
DADES conversões de números para os diferentes sistemas de numeração apresentados neste
capítulo. Faça algumas conversões numéricas em um caderno e utilize a calculadora
do Windows para conferir as respostas.

Diante das técnicas de conversão entre sistemas numéricos, você pode aprimorá-las no decorrer deste
livro ao aplicá-las em projetos de circuitos combinacionais e sequenciais. O estudo da conversão de
sistemas numéricos também irá auxiliá-lo a compreender os códigos BCD e ASCII, que serão apresentados
na próxima seção.

2.1.4 CÓDIGOS BCD E ASCII

A codificação BCD e ASCII são tipos de códigos dentro de um grande conjunto. Esta codificação irá
auxiliá-lo no estudo de circuitos codificadores, decodificadores e circuitos aritméticos. Para determinados
casos, alguns códigos são mais vantajosos do que outros. Porém, o que é um código, quando se fala em
eletrônica digital?
Um código na eletrônica digital é a representação de um número ou letra através de uma sequência
de bits. Por exemplo, para representar o número decimal 9, são necessários os números 1001 em binário.
Você estudará nesta seção que existem diferentes tipos de códigos BCD utilizando 4 bits e irá conhecer
a tabela ASCII, muito utilizada em sistemas de comunicação e códigos de texto.
ELETRÔNICA DIGITAL
36

CÓDIGOS BCD 4 BITS


A sigla BCD representa a expressão Binary Coded Decimal, que em português significa Codificação
do Sistema Decimal em Binário. Existem diversos tipos de códigos BCD, dentre eles: BCD8421, BCD7421,
BCD5211 e BCD 2421.
O código BCD8421 é a tabela de conversão do sistema decimal para binário. O termo 8421 indica que
o primeiro algarismo tem valor 8, o segundo tem o valor 4, o terceiro algarismo tem o valor 2 e o menos
significativo tem o valor 1. Veja a tabela com a conversão completa.

DECIMAL A B C D
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
2 0 0 1 0
3 0 0 1 1
4 0 1 0 0
5 0 1 0 1
6 0 1 1 0
7 0 1 1 1
8 1 0 0 0
9 1 0 0 1
Tabela 3 - Tabela BCD8421
Fonte: SENAI (2016)

De maneira geral, a regra BCD8421 pode ser dada através da seguinte expressão:
Valor Decimal = A x 8 + B x 4 + C x 2 + D x 1
Para representar o número decimal 7, são utilizados os números 0, 1, 1 e 1 para as variáveis A, B, C e D,
respectivamente. Adotando a regra 8421, tem-se:
0x8=0
1x4=4
1x2=2
1x1=1
Somando os resultados dos produtos, o número decimal encontrado será o número 7. Utilizando-se
a regra 8421 para os demais números da tabela você encontrará o código BCD8421 completo, sendo o
tipo de conversão mais utilizado para a representação dos números. Como poderá ser observado a seguir,
existem outros códigos BCD. Acompanhe o código BCD7421.
O código BCD7421 segue a mesmo processo de conversão do código BCD8421, a única diferença é o
valor do primeiro algarismo. O primeiro algarismo do código BCD7421 terá valor 7, diferentemente do
valor 8, dado pelo código BCD8421. A regra BCD7421 pode ser dada de acordo com a seguinte expressão:
Valor Decimal = A x 7 + B x 4 + C x 2 + D x 1
2 LÓGICA COMBINACIONAL
37

Desta forma, para representar o número decimal 7 no código BCD7421 são utilizadas as variáveis A = 1,
B = 0, C = 0 e D = 0. Desta maneira, aplicando esta regra, tem-se:
1x7=7
0x4=0
0x2=0
0x1=0
Adicionando os resultados dos produtos, o número decimal encontrado será o 7. Se você aplicar a regra
7421 para os demais números da tabela, encontrará o código BCD7421 completo. Veja a tabela do código
BCD7421.

DECIMAL A B C D
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
2 0 0 1 0
3 0 0 1 1
4 0 1 0 0
5 0 1 0 1
6 0 1 1 0
7 1 0 0 0
8 1 0 0 1
9 1 0 1 0
Tabela 4 - Tabela BCD7421
Fonte: SENAI (2016)

O código BCD5211 segue os mesmos padrões de conversão dos demais códigos BCD. Neste código, o
primeiro algarismo tem valor 5, o segundo tem valor 2, o terceiro algarismo tem valor 1, enquanto que o
menos significativo também tem o valor 1. A regra BCD5211 pode ser dada pela seguinte expressão:
Valor Decimal = A x 5 + B x 4 + C x 1 + D x 1
Para representar o número decimal 7 em BCD5211, são utilizados os valores 1, 0, 1 e 1 para as entradas
A, B, C e D, respectivamente. Utilizando a regra 5211, tem-se:
1x5=5
0x2=0
1x1=1
1x1=1
Ao somar os resultados dos produtos, tem-se o número decimal 7. Caso você aplique a regra 5211 para
os demais números da tabela, encontrará o código BCD5211 completo.
ELETRÔNICA DIGITAL
38

Observe a tabela do código BCD5211.

DECIMAL A B C D
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
2 0 0 1 1
3 0 1 0 1
4 0 1 1 1
5 1 0 0 0
6 1 0 0 1
7 1 0 1 1
8 1 1 0 1
9 1 1 1 1
Tabela 5 - Tabela BCD5211
Fonte: SENAI (2016)

O código BCD2421 segue os mesmos padrões de conversão dos demais códigos BCD. Neste caso, o
primeiro algarismo tem valor 2, o segundo valor 4, o terceiro tem valor 2, enquanto que o menos significativo
possui valor 1. A regra BCD2421 pode ser dada pela seguinte expressão:
Valor Decimal = A x 2 + B x 4 + C x 2 + D x 1
Para representar o número decimal 7 em BCD2421, são utilizadas as variáveis A = 1, B = 1, C = 0 e D =
1. A partir da regra 2421, tem-se:
1x2=2
1x4=4
0x2=0
1x1=1
Somando os resultados dos produtos, o número decimal encontrado será o número 7. Se você utilizar
a regra 2421 para os demais números da tabela, encontrará o código BCD2421 completo. Leia a tabela do
código BCD2421.

DECIMAL A B C D
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
2 0 0 1 0
3 0 0 1 1
4 0 1 0 0
5 1 0 1 1
6 1 1 0 0
7 1 1 0 1
2 LÓGICA COMBINACIONAL
39

DECIMAL A B C D
8 1 1 1 0
9 1 1 1 1
Tabela 6 - Código BCD2421
Fonte: SENAI (2016)

A tabela, a seguir, apresenta os números decimais com sua representação em todos os códigos BCD.

DECIMAL BCD8421 BCD7421 BCD5211 BCD2421


0 0000 0000 0000 0000
1 0001 0001 0001 0001
2 0010 0010 0011 0010
3 0011 0011 0101 0011
4 0100 0100 0111 0100
5 0101 0101 1000 1011
6 0110 0110 1001 1100
7 0111 1000 1011 1101
8 1000 1001 1101 1110
9 1001 1010 1111 1111
Tabela 7 - Códigos BCD
Fonte: SENAI (2016)

CÓDIGO ASCII
A sigla ASCII se refere a expressão American Standard Code for Information Interchange, que em português
significa Código Padrão Americano para o Intercâmbio de Informação.
A codificação ASCII foi criada para a comunicação de equipamentos que utilizam textos em seu banco
de informações como, por exemplo, os computadores. Este código facilita a conversão de informações
binárias para um determinado texto, uma palavra, frase etc. O código ASCII possui 7 bits, portanto são
128 combinações. Das 128 linhas da tabela ASCII, 32 são utilizadas para códigos de controle, enquanto 96
linhas são aplicadas em caracteres imprimíveis, como letras, pontos e símbolos.
Como a tabela possui 128 combinações, não será possível a impressão completa da tabela ASCII, mas
algumas das linhas referentes aos códigos de texto podem ser visualizadas a seguir.

BINÁRIO DECIMAL REPRESENTAÇÃO


0010 0000 32 (espaço)
0010 0001 33 !
0010 0010 34 "
0010 0011 35 #
ELETRÔNICA DIGITAL
40

BINÁRIO DECIMAL REPRESENTAÇÃO


0010 0100 36 $
0010 0101 37 %
0010 0110 38 &
0011 0000 48 0
0011 0001 49 1
0011 0010 50 2
0011 0011 51 3
0011 0100 52 4
0011 0101 53 5
0011 0110 54 6
0011 0111 55 7
0011 1000 56 8
0011 1001 57 9
Tabela 8 - Tabela ASCII: símbolos e números
Fonte: SENAI (2016)

Assim como são representados símbolos e números, a tabela ASCII também é capaz de representar
letras, diferenciando os códigos das letras maiúsculas para as letras minúsculas. Veja alguns exemplos da
tabela ASCII para letras maiúsculas e minúsculas.

BINÁRIO DECIMAL REPRESENTAÇÃO


0100 0001 65 A
0100 0010 66 B
0100 0011 67 C
0100 0100 68 D
0100 0101 69 E
0100 0110 70 F
0100 0111 71 G
0110 0001 97 a
0110 0010 98 b
0110 0011 99 c
0110 0100 100 d
0110 0101 101 e
0110 0110 102 f
0110 0111 103 g
Tabela 9 - Tabela ASCII: letras maiúsculas e minúsculas
Fonte: SENAI (2016)

A tabela ASCII pode ser consultada para análise e projeto de circuitos que realizam comunicação de
variáveis de texto, sendo amplamente utilizada em todo o mundo e que pode ser adotada em projetos
eletrônicos de pequeno porte.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
41

Agora que você conhece os códigos BCD e ASCII, ficou ciente de que os números binários não
representam somente códigos, mas cumprem um papel importante na comunicação de equipamentos.
Na próxima seção, estudará que os números binários também representam um estado de uma lógica.

2.2 FUNÇÕES LÓGICAS

O significado das palavras verdadeiro e falso atribui ao ser humano tomar decisões e avaliar diversas
situações do dia a dia. As respostas encontradas para determinadas situações da vida seguem uma
determinada lógica: chegam as informações, busca-se entendê-las e, dentro de uma lógica, expressa-se
uma resposta. Por que então não tentar analisar tudo isso de maneira matemática? Um inglês chamado
George Boole conseguiu traduzir esses dois conceitos de forma a criar uma nova linguagem matemática,
posteriormente, batizada de Álgebra de Boole (LOURENÇO et al., 2007). Como é possível pensar em
verdadeiro e falso e ao mesmo tempo em números?
Partiu-se do princípio de que uma informação verdadeira pode ser vinculada ao número 1 (um) e uma
informação falsa pode ser vinculada ao número 0 (zero). Como são apenas dois valores possíveis dentro
de um determinado contexto, pode-se chamar essa lógica de binária. Outra consideração importante da
lógica binária é que o contrário de verdadeiro é falso, ou melhor, a negação do valor 1 é considerado 0, e
vice-versa. Mas, qual é a grande vantagem em transcrever essas informações de maneira matemática?
Hoje, a lógica criada por Boole está presente em tudo o que se conhece no que diz respeito à informática,
processamento de dados e automação. A tecnologia respira zeros e uns, verdadeiro e falso e todo o tipo de
lógica derivada deste princípio. E, para compreender a lógica booleana, você aprenderá algumas funções
específicas, além de diagramas equivalentes aplicados à eletrônica.

A lógica binária foi apresentada pela primeira vez por George Boole em seu livro An
Investigation of the Laws of Thought, cujo título em português é Uma Investigação
CURIOSI das Leis do Pensamento. Tempos depois, os conceitos apresentados por Boole foram
DADES utilizados para a criação de simbologias e novos métodos de análise de circuitos
eletrônicos, contribuindo para um grande salto no estudo da eletrônica digital.

O que você estudará, a partir de agora, tem ligação com os estudos realizados por Boole. Poderá
ver as principais funções booleanas, também conhecidas como funções lógicas, que são o princípio do
processamento realizado por equipamentos eletrônicos, softwares de computador e até mesmo pelo
próprio ser humano. São elas as funções AND, OR e NOT.
ELETRÔNICA DIGITAL
42

2.2.1 FUNÇÃO AND

Para entender como as lógicas booleanas funcionam, deve-se comparar informações de entrada e uma
informação de saída, sendo que as informações de entrada podem assumir os valores 0 ou 1. Portanto,
uma função expressa a lógica na qual as informações de entrada serão analisadas para a geração de uma
informação de saída.
A palavra and tem origem inglesa (significa e em português), mas uma função AND tem a seguinte
lógica: quando todas as informações forem verdadeiras, sua saída também será verdadeira. Para entender
melhor, leia o exemplo a seguir.
Imagine que, para entrar na sua casa, exista uma determinada senha para armar o alarme. Pense, também,
que o alarme ativado seja a informação verdadeira e que o alarme não ativado seja uma informação falsa.
Essa senha contém apenas dois dígitos e suponha que seja o número 98.
Caso o primeiro número digitado for 9, a informação será verdadeira. Do contrário, a informação será
falsa. Já se o segundo número digitado for 8, a informação também será verdadeira. Caso Isso não ocorra,
a informação será falsa.
Considere que, em uma tentativa, o número digitado foi o número digitado foi 38. O alarme será ativado?
A resposta é não, pois a primeira informação é falsa e apenas a segunda é verdadeira.
Com o número 94, o alarme também não será ativado. Isso acontece, porque a primeira informação é
verdadeira e a segunda é falsa. Se nenhuma informação for verdadeira, é claro que, o alarme ativado tam-
bém não será uma verdade.
A única forma de ativar o alarme é quando a primeira e a segunda informação forem verdadeiras. Assim,
pode-se analisar todas as possibilidades através do quadro, a seguir.

1º NÚMERO (ENTRADA) 2º NÚMERO (ENTRADA) ALARME ATIVO (SAÍDA)


Falso Falso Falso
Falso Verdadeiro Falso
Verdadeiro Falso Falso
Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro
Quadro 1 - Possibilidades da função AND
Fonte: SENAI (2016)

A função AND não é uma função exclusiva da eletrônica, tendo uma aplicação global em diversas áreas
do conhecimento e até mesmo no cotidiano (presente em aplicações programadas em todo o tipo de
equipamento eletrônico). Até mesmo as decisões tomadas na vida do ser humano podem ser realizadas
com base nesta função. Agora, você entrará em contato com outra função lógica muito importante em
aplicações da eletrônica digital: a função OR. No decorrer da leitura das próximas seções, fique atento ao
funcionamento das diferentes funções.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
43

2.2.2 A FUNÇÃO OR

A palavra or tem origem inglesa (ou em português). Isso acontece porque a função OR segue como
lógica que, para a informação de saída ser verdadeira, basta que qualquer uma das entradas seja verdadeira.
Para entender a função OR, acompanhe o seguinte exemplo.
Você quer atravessar um rio e na sua frente existem duas pontes: a ponte A e a ponte B. Caso consiga
atravessar o rio, o resultado da sua experiência é verdadeiro, mas se a ponte estiver quebrada, considere a
informação de entrada como falsa. Porém, se a ponte estiver em boas condições, entenda a informação de
entrada como verdadeira.
Na primeira situação, você se depara com o rio e percebe que as duas pontes estão quebradas. Portanto,
não conseguirá cruzar o rio e a travessia é falsa. Em uma segunda situação, se a ponte A estiver em boas
condições e a ponte B estiver quebrada, a travessia é verdadeira, pois pode atravessar o rio utilizando
apenas a ponte A. As demais alternativas podem ser visualizadas no quadro, a seguir.

PONTE A (ENTRADA) PONTE B (ENTRADA) TRAVESSIA (SAÍDA)


Falso Falso Falso
Falso Verdadeiro Verdadeiro
Verdadeiro Falso Verdadeiro
Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro
Quadro 2 - Possibilidades da função OR
Fonte: SENAI (2016)

As funções booleanas AND e OR são as duas principais da eletrônica digital. Existe uma terceira função
que, associada, permite realizar diversas lógicas e a construção de sistemas e circuitos mais complexos,
conhecida como NOT ou inversora. Agora está na hora de explorar esta nova função.

2.2.3 A FUNÇÃO NOT

A palavra not também tem origem inglesa (não em português). A função NOT é conhecida como
função de negação. Sua lógica é bem simples, ou seja, para qualquer informação de entrada verdadeira,
sua informação de saída será falsa. E, para qualquer informação de entrada falsa, sua saída será verdadeira.
Pode-se simplificar seu conceito considerando que, para a lógica NOT, a saída será sempre o contrário da
entrada.
ELETRÔNICA DIGITAL
44

Trata-se de uma função diferente, pois possui apenas uma informação de entrada e uma informação de
saída. Sua lógica pode ser entendida através do quadro, a seguir.

ENTRADA SAÍDA
Falso Verdadeiro
Verdadeiro Falso
Quadro 3 - Possibilidades da função NOT
Fonte: SENAI (2016)

Em termos de entrada e saída, a função NOT é a porta que apresenta o menor número de combinações
entrada: apenas duas. Isto acontece, porque a função recebe somente uma informação de entrada que
pode ser apenas verdadeira ou falsa. Outras funções podem ter mais entradas, o que ampliará, também, o
número de suas possibilidades de saída.
As funções NOT, AND e OR, combinadas de maneira correta, podem realizar qualquer outra função.
Isso quer dizer que as apresentadas nessa seção são as principais funções de onde surgem novos padrões
lógicos e derivados.
Agora que você conhece essas funções lógicas, está na hora de compreender o universo digital. Você
entrará em contato com circuitos que realizam todas essas funções. Para que esteja preparado para
ingressar neste ambiente, torna-se necessário entender como funcionam os níveis lógicos.
A seguir, serão apresentadas as primeiras aplicações da lógica binária. Você está preparado? Então siga
em frente com seus estudos!

2.3 NÍVEIS LÓGICOS

Os níveis lógicos são a representação numérica ou matemática de uma informação. Como acontece essa
representação? Caso uma informação seja verdadeira, considera-se o nível lógico 1 e, para uma informação
falsa, tem-se o nível lógico zero. O nível lógico 1 também pode ser chamado de HI, abreviação de High
(alto em português). Da mesma maneira, o nível lógico 0 pode ser chamado de LO, uma abreviação de Low
(baixo em português).
Para entender os níveis lógicos, pode-se relacionar o nível baixo como uma chave aberta em um circuito
e, da mesma maneira, compara-se o nível alto como uma chave fechada. A figura, a seguir, detalha estas
representações.
Ana Cristina de Borba (2016)

0 1

(a) (b)
Figura 1 - Níveis lógicos 0 e 1
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
45

Em circuitos digitais, o nível 0 não necessariamente significa que o circuito está desligado, mas que não
possui uma informação verdadeira.
Quais as vantagens destas representações? Os níveis lógicos permitem a realização de avaliações mais
simples, pois, ao invés de considerar a presença de determinados níveis de tensão elétrica, possibilitam a
criação de projetos, simplificação dos circuitos e técnicas de análise matemática.
No decorrer do estudo deste livro, você irá se deparar com muitos termos diferentes para representar os
níveis lógicos. Para facilitar a linguagem e padronizar alguns conceitos, leia o quadro a seguir.

0 1
Falso Verdadeiro
Baixo Alto
HI (High) LO (Low)
Desligado Ligado
Quadro 4 - Diferentes formas de representar os níveis lógicos 0 e 1
Fonte: SENAI (2016)

Boa parte dos circuitos digitais trabalham em determinados níveis de tensão elétrica em corrente
contínua. Níveis altos e baixos, bem como, informações verdadeiras e falsas são dadas de acordo com o
funcionamento lógico do sistema.
Os níveis lógicos (cujo processo deriva das funções lógicas) funcionam como a representação do sinal
de circuitos simples e são responsáveis por implementar funções lógicas.

2.4 PORTAS LÓGICAS (AND, OR, NOT, NAND, NOR, EX-OR, EX-NOR)

As portas lógicas são circuitos utilizados em aplicações voltadas à eletrônica digital, que funcionam
de maneira análoga às funções lógicas estudadas anteriormente. Como é possível que um circuito digital
tenha o comportamento de uma função lógica? É isto que você descobrirá nesta seção.
Uma porta lógica pode ser chamada do mesmo nome de sua função, ou seja, se o circuito eletrônico
realiza uma função AND, a porta lógica também se chamará AND. Aqui você verá que, além das funções
AND, OR e NOT, existem portas lógicas que realizam funções especiais, como o caso NAND, NOR, XOR e
XNOR. Portanto, você verá a simbologia de cada porta lógica, as suas funções matemáticas e algo chamado
tabela-verdade3.

3 Uma tabela que representa todas as possibilidades da saída em função das entradas é chamada de tabela-verdade.
ELETRÔNICA DIGITAL
46

2.4.1 PORTA LÓGICA AND (E)

A porta lógica AND é um circuito eletrônico capaz de realizar, como o próprio nome diz, a função AND.
Porém, no caso deste circuito, quais serão as entradas e saídas? Para obter a resposta, você poderá combinar
o conceito apresentado anteriormente, considerando que as entradas de uma porta lógica são níveis
lógicos, ou seja, zeros e uns. É importante relembrar que zero significa falso e um significa verdadeiro. O
circuito eletrônico chamado de porta lógica AND pode ter a seguinte representação:

Ana Cristina de Borba (2016)


A
S
B

Figura 2 - Representação da porta lógica AND


Fonte: SENAI (2016)

Do lado esquerdo da figura, as entradas estão simbolizadas pelas letras A e B, enquanto que a saída está
representada pela letra S. De maneira análoga à função AND, todos os possíveis resultados criados por esta
função podem ser vistos na tabela, a seguir.

A B S
0 0 0
0 1 0
1 0 0
1 1 1
Tabela 10 - Tabela-verdade da porta AND
Fonte: SENAI (2016)

No caso da porta AND, a saída só terá nível lógico 1 quando as duas entradas forem iguais a 1, ou
seja, A=1 e B=1. Em nenhuma outra combinação, a saída tem nível lógico 1, apenas quando A e B forem
verdadeiros. Se você observar a coluna S, perceberá que a lógica AND se assemelha a uma determinada
operação matemática. Mas, qual operação é esta?
Pode-se chegar à conclusão de que a operação matemática que rege a lógica AND é a multiplicação. Na
coluna S da tabela-verdade, a porta AND é o produto de A e B, ou seja:

S= A · B
2 LÓGICA COMBINACIONAL
47

A expressão apresentada pode ser chamada de função lógica. Observe.


Quando A = 0 e B = 0, S = 0 · 0 = 0
Quando A = 0 e B = 1, S = 0 · 1 = 0
Quando A = 1 e B = 0, S = 1 · 0 = 0
Quando A = 1 e B = 1, S = 1 · 1 = 1
Uma porta lógica AND pode ter apenas duas entradas? Na verdade, não. As portas lógicas podem ter
mais do que duas entradas. Veja o exemplo de uma porta AND de 3 entradas.

Ana Cristina de Borba (2016)


A
B S
C

Figura 3 - Porta AND com 3 entradas


Fonte: SENAI (2016)

As entradas desta porta lógica são representadas pelas letras A, B, C e a saída é representada pela letra
S. De maneira análoga, a função lógica desta porta pode ser dada através da seguinte expressão:

S=A·B·C

Analisando todas as possibilidades de multiplicação dos níveis lógicos das entradas A, B e C, pode-se
obter a seguinte tabela-verdade:

A B C S
0 0 0 0
0 0 1 0
0 1 0 0
0 1 1 0
1 0 0 0
1 0 1 0
1 1 0 0
1 1 1 1
Tabela 11 - Tabela-verdade da porta lógica AND com 3 entradas
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
48

Novamente, pode-se chegar à conclusão de que a saída S só terá nível lógico igual a 1 quando todas as
entradas A, B e C forem iguais a 1.

2.4.2 PORTA LÓGICA OR (OU)

A porta lógica OR é um circuito eletrônico capaz de realizar a função lógica OR. A representação da
porta OR pode ser visualizada na figura, a seguir.

Ana Cristina de Borba (2016)


A
S
B

Figura 4 - Porta lógica OR


Fonte: SENAI (2016)

Se for comparada a porta lógica com a função lógica (vista no item 2.2.2), chega-se à conclusão de que
a tabela-verdade que condiz aos níveis lógicos possíveis da porta OR pode ser representada por:

A B S
0 0 0
0 1 1
1 0 1
1 1 1
Tabela 12 - Tabela-verdade porta lógica OR
Fonte: SENAI (2016)

A tabela-verdade da porta OR mostra que a saída S possui nível lógico 1 quando qualquer uma das
entradas tem nível lógico 1. A saída S só terá nível lógico 0 no momento em que todas as entradas tiverem
nível lógico iguais a zero. Já a função lógica OR também faz referência a uma função matemática, que
funciona como uma soma de números binários, ou seja, pode ser descrita através da seguinte expressão:

S=A+B

Vale a pena recordar que a soma 1 + 1 em binário não tem como resultado o valor 2. Isso acontece,
porque no conjunto dos números binários só existem 2 possibilidades: zero ou um. Em binário, 1 + 1=1.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
49

Como visto em seções anteriores, algumas portas lógicas podem ter mais de duas entradas. Uma porta
lógica OR com 3 entradas pode ser visualizada na figura, a seguir.

Ana Cristina de Borba (2016)


A
B S
C

Figura 5 - Porta lógica OR com 3 entradas


Fonte: SENAI (2016)

Analise, a seguir, a tabela-verdade da porta OR com 3 entradas.

A B C S
0 0 0 0
0 0 1 1
0 1 0 1
0 1 1 1
1 0 0 1
1 0 1 1
1 1 0 1
1 1 1 1
Tabela 13 - Porta Lógica OR com 3 entradas
Fonte: SENAI (2016)

A partir da tabela-verdade, pode-se comprovar que para que a saída S esteja em nível lógico 1 basta que
qualquer entrada esteja em nível lógico 1.

2.4.3 PORTA LÓGICA NOT (NÃO)

A porta lógica NOT é um circuito eletrônico capaz de realizar a função lógica NOT. A porta NOT também
pode ser chamada de porta inversora, pois a saída sempre apresentará o inverso do valor lógico presente
na entrada. Esta porta lógica possui uma característica muito interessante, pois apresenta sempre apenas
uma entrada e uma saída.
ELETRÔNICA DIGITAL
50

A porta NOT pode ser representada pela figura, a seguir.

Ana Cristina de Borba (2016)


A S

Figura 6 - Porta lógica NOT


Fonte: SENAI (2016)

Como estudado em seções anteriores, pode-se montar a tabela-verdade da porta NOT. Acompanhe.

A S
0 1
1 0
Tabela 14 - Tabela-verdade da porta lógica NOT
Fonte: SENAI (2016)

Diante da tabela-verdade da porta NOT, você poderá estar fazendo a seguinte pergunta: qual expressão
matemática pode representar esta função lógica? Bom, a resposta é bem simples: nenhuma. A função
lógica da porta NOT não é representada por uma expressão matemática em específico, mas isso não quer
dizer que não exista nenhuma função lógica. A expressão que representa a função lógica NOT é a seguinte:

S=A

Quando a variável A possuir este traçado, pode ser chamada de A barrado. Este traçado indica que esta
variável sempre terá os valores invertidos. A seguir, você verá que esta porta lógica pode ser vinculada a
outras portas lógicas, produzindo diferentes funções lógicas e tabelas-verdade.

2.4.4 PORTA LÓGICA NAND (NE)

A porta lógica NAND é uma junção do circuito presente na porta AND e na porta NOT, portanto este nome
NAND. Esta conexão pode ser visualizada na figura (item a) que segue. Pode-se simplificar a simbologia da
figura anterior em uma simples porta lógica.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
51

A simbologia da porta NAND é dada em (b):

Ana Cristina de Borba (2016)


A
A
S
S
B
B

(a) (b)

Figura 7 - Junção das portas lógicas AND e NOT


Fonte: SENAI (2016)

Sempre que tiver uma bolinha na entrada ou na saída, significa que uma delas terá o seu nível lógico
invertido. Como você viu na seção anterior, a função lógica NOT é a responsável pela inversão do sinal de
entrada. Em níveis lógicos, pode-se analisar seu funcionamento através da seguinte tabela-verdade:

A B S
0 0 1
0 1 1
1 0 1
1 1 0
Tabela 15 - Tabela-verdade da função lógica NAND
Fonte: SENAI (2016)

A função lógica da porta NAND pode ser descrita pela seguinte expressão:

S= A · B

Fique atento, pois a expressão A · B não é a mesma que A · B. A porta lógica NAND é uma das mais
importantes e aplicadas na eletrônica digital. Vários circuitos que utilizam portas AND, OR, NOT, XOR etc.
podem ser redimensionados utilizando apenas portas NAND. A característica principal desta porta lógica é
sua versatilidade em termos de otimização de projetos. Assim como a porta AND invertida é chamada de
porta NAND, a porta OR também pode ser invertida. A seguir, você verá como funciona a porta NOR.
ELETRÔNICA DIGITAL
52

2.4.5 PORTA LÓGICA NOR (NOU)

A porta lógica NOR é a junção das portas lógicas OR e a NOT. As figuras, a seguir, descrevem
respectivamente a junção destas duas portas e a simbologia equivalente da porta NOR.

Ana Cristina de Borba (2016)


A A
S S
B B

(a) (b)

Figura 8 - Junção das portas OR e NOT


Fonte: SENAI (2016)

A bolinha presente no pino de saída da porta NOR indica que o resultado da lógica OR será invertida.
Desta maneira, sua função lógica pode ser descrita pela seguinte expressão:
S=A+B
Fique atento, pois a expressão A + B é diferente da expressão A + B. A tabela-verdade da função lógica
NOR pode ser visualizada da seguinte forma:

A B S
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 0
Tabela 16 - Tabela-verdade porta lógica NOR
Fonte: SENAI (2016)

A porta NOR é muito utilizada para detectar condições nulas. Quando o circuito apresenta todas as
entradas nulas, a saída do circuito será ativada. Esta porta é muito importante para detectar níveis iniciais
de processo, bem como ausência de determinada informação. Está ficando claro que existe um motivo
para produzir portas lógicas com saída invertida. Essa análise sugere que determinadas aplicações sejam
mais eficientes com o uso destas portas lógicas.

2.4.6 PORTA LÓGICA EX-OR (OU EXCLUSIVO)

Esta porta lógica possui uma dinâmica diferente de todas as portas lógicas estudadas até então. A porta
lógica XOR não foi apresentada nas funções lógicas anteriores, pois pode ser interpretada como uma lógica
derivada das funções AND, OR e NOT. A função lógica XOR tem um princípio de exclusividade em termos
das entradas, ou seja, para que a saída seja verdadeira, apenas uma das entradas deve ser verdadeira. Para
compreender bem esta lógica, será apresentada uma figura analógica.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
53

Pense em um prédio onde existam duas garagens com dois portões: o portão A e o portão B. Para
otimizar o espaço, os portões foram instalados de modo que, quando o portão A abrir, impede a passagem
do carro atrás do portão B. Do mesmo modo, quando o portão B abrir, inibe a passagem do carro atrás do
portão A. O exemplo pode ser visualizado através da seguinte figura:

Saída para a rua

Portão A
Portão B

Ana Cristina de Borba (2016)


Figura 9 - Lógica XOR
Fonte: SENAI (2016)

Conforme apresentado, percebe-se que apenas um único carro pode sair da garagem por vez. Qual a
ligação deste exemplo com o estudo de portas lógicas? A fim de compreender esta analogia, pense que
os portões A e B são as entradas do sistema e também que a rua é a saída. Quando um portão estiver
aberto, considere o nível lógico 1, e se este estiver fechado, considere o nível lógico 0. Caso algum carro
consiga sair da garagem, considere o nível lógico 1, caso contrário, a saída terá nível lógico 0. Através destas
informações, pode-se montar uma tabela-verdade.

A B S
0 0 0
0 1 1
1 0 1
1 1 0
Tabela 17 - Tabela-verdade da lógica XOR
Fonte: SENAI (2016)

A partir do exemplo e da tabela-verdade, pode-se concluir que a saída somente será verdadeira (nível
lógico 1) quando somente uma das entradas for verdadeira. A porta lógica XOR é o circuito eletrônico ou
digital que desempenha a seguinte função lógica:
S=A·B+A·B
ELETRÔNICA DIGITAL
54

Como mencionado anteriormente, a função lógica XOR é uma combinação de três outras funções
lógicas (NOT, AND e OR). Se a função lógica XOR pode ser escrita como a combinação de outras funções, a
porta lógica correspondente também pode ser estruturada como a combinação de outras portas lógicas.
Esta combinação pode ser visualizada através da seguinte figura:

A B
A·B

S=A·B+A·B

Ana Cristina de Borba (2016)


A.B

Figura 10 - Montagem do circuito equivalente, referente à lógica XOR


Fonte: SENAI (2016)

Esta mesma função lógica pode ser representada pela seguinte forma:

S = A ⊕B

O símbolo da porta lógica responsável por executar esta função pode ser visualizado na seguinte figura:
Ana Cristina de Borba (2016)

A
S
B

Figura 11 - Porta lógica XOR


Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
55

Como visto nesta seção, a porta XOR apresenta a ideia de seletividade tida como um parâmetro muito
empregado no controle de processos produtivos, como a manufatura. A seletividade de materiais, processos
e dados é um conceito muito importante e aplicado na indústria. A porta XOR traz a função lógica seletiva.
E, se a saída desta porta lógica fosse invertida?

2.4.7 PORTA LÓGICA EX-NOR (COINCIDÊNCIA)

A função lógica XNOR é descrita como a inversão da função XOR. Analisando a tabela-verdade, pode-se
ver que as possibilidades em que a função XNOR tem a saída verdadeira são as mesmas em que a função
XOR tem a saída falsa. Compare a tabela XNOR com a tabela XOR.

A B S
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 1
Tabela 18 - Tabela-verdade da porta lógica XNOR
Fonte: SENAI (2016)

A função lógica XNOR é dada pela seguinte expressão:

S=AʘB

A mesma expressão apresentada anteriormente pode ser expressa como a negação da função lógica
XOR:
_______
S = A ⊕B

Ou então:
ELETRÔNICA DIGITAL
56

A porta lógica XNOR é a junção da porta XOR e uma porta inversora. Seguindo um raciocínio lógico,
pode-se concluir que a representação de uma porta lógica XNOR é uma porta XOR com uma bolinha de
inversão na saída.

Ana Cristina de Borba (2016)


A A
S S
B B

(a) (b)

Figura 12 - Junção das portas XOR e NOT


Fonte: SENAI (2016)

Nas seções apresentadas até agora, foi possível ter uma visão geral dos circuitos que realizam as funções
lógicas e as simbologias de cada porta lógica, além disso, é preciso saber que essa simbologia representa um
circuito eletrônico funcional. As portas lógicas são circuitos muito utilizados na indústria e estão presentes
diretamente nos principais equipamentos eletrônicos encontrados no cotidiano. A lógica estudada nesta
seção será de grande valia nos próximos estudos, que irão desenvolver ideias e aplicações mais avançadas.
Além disso, você irá compreender como funcionam e como são distribuídas as portas lógicas em circuitos
digitais com aplicação prática.

2.4.8 CIRCUITOS LÓGICOS

Conhecendo as portas lógicas, suas simbologias, tabelas-verdade e funções lógicas, tem-se condições de
construir circuitos eletrônicos capazes de realizar tais operações. Na prática, as portas lógicas são circuitos
formados por resistores, transistores, fontes de tensão em corrente contínua e diodos. Veja, no exemplo, a
seguir, o circuito eletrônico da porta lógica E, utilizando a tecnologia Lógica Transistor-Transistor (Transistor-
-Transistor Logic ou TTL). A tecnologia de um circuito lógico pode ser tanto TTL quanto Semicondutor de
Metal-Óxido Complementar (Complementary Metal Oxide Semiconductor ou CMOS). Porém, esse tema será
abordado na seção Famílias Lógicas.

+Vcc
R1 R2

Rexterno
A T1
B
Ana Cristina de Borba (2016)

S
T2

R3

Figura 13 - Circuito eletrônico responsável pela lógica NAND


Fonte: IDOETA; CAPUANO (2012)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
57

Um circuito eletrônico pode ser construído para uma placa eletrônica, uma placa protoboard (matriz de
ensaio) ou também pode ser encapsulado. Quando um circuito eletrônico é encapsulado em um pequeno
espaço de materiais semicondutores à base de silício, é chamado de Circuito Integrado (CI), que, por sua
vez, é comumente denominado de microchip ou chip. Atualmente, estes CIs são produzidos em escala
comercial e industrial, favorecendo uma infinidade de possibilidades em relação ao número de portas
lógicas, entradas e saídas presentes no circuito integrado. Isso garante uma diversidade de componentes,
permitindo diferentes maneiras de realizar um projeto, além de implementar alguns circuitos eletrônicos
com apenas um circuito integrado. A seguir, são apresentados alguns exemplos de portas lógicas, seus
códigos padronizados por família lógica e sua estrutura interna:

TTL CMOS ESPECIFICAÇÕES


7400 4011 4 portas NAND de 2 entradas
7402 4001 4 portas NOR de 2 entradas
7404 4009 6 portas inversoras
7408 4081 4 portas AND de 2 entradas
7432 4071 4 portas OR de 2 entradas
7486 4030 4 portas XOR de 2 entradas
7410 4023 3 portas NAND de 3 entradas
7427 4002 2 portas NOR de 4 entradas
7430 74C30 1 porta NAND de 8 entradas
Tabela 19 - Exemplos de CIs com portas lógicas
Fonte: LOURENÇO et al. (2007)

As portas lógicas são dispostas entre os pinos. Observe, na figura, a seguir, essa ligação em um circuito
integrado.

Vcc
14 13 12 11 10 9 8
Ana Cristina de Borba (2016)

1 2 3 4 5 6 7
GND
Figura 14 - CI 7408
Fonte: Adaptado de National (1989c)
ELETRÔNICA DIGITAL
58

Para que o circuito funcione, é necessário que ele esteja ligado em uma fonte de corrente contínua.
Com o CI 7408, tem-se disponível 4 portas lógicas AND. Neste caso, é importante ressaltar que as por-
tas lógicas presentes neste circuito atuam de forma independente umas das outras. Os pinos 3, 6, 8 e 11 são
as saídas das portas AND enquanto que os pinos 1, 2, 4, 5, 9, 10, 12 e 13 são as entradas.
Em um circuito integrado, para que as entradas recebam o nível lógico 1, é necessário aplicar uma tensão
positiva nas mesmas. Dependendo da família lógica, diferentes níveis de tensão podem ser aplicados para
gerar o nível lógico 1. Conforme foi observado anteriormente (exemplos de CIs com portas lógicas), o CI
7400 pertence à família lógica TTL, o que significa observar 5V para o nível lógico 1 e 0V para o nível lógico
0.
Considerar 0V na entrada de um circuito não é o mesmo que interromper o sinal de tensão, ou seja,
deixar a entrada do circuito em aberto, não garante que o nível de entrada seja 0. Dependendo da família
lógica, o nível lógico da entrada em aberto pode mudar.
A entrada da porta de entrada pode ter seu valor oscilante, caso exista a presença de ruídos do circuito
ou do ambiente. Em alguns projetos, se você não utilizar algumas portas lógicas presentes em um circuito
integrado, o ideal é forçar o nível 0 nessas portas, interligando as entradas não utilizadas com o pino GND.
Uma das maneiras mais simples de aplicar uma tensão em uma porta digital é adotando os circuitos
chamados de pull-up (levantar) e pull-down (derrubar). No circuito pull-up, quando a chave está aberta,
o nível lógico será 0 e, estando fechada, o nível lógico será 1. O circuito pull-down funciona de forma
contrária, ou seja, a chave aberta leva o nível lógico da entrada para 1 e fechada irá forçar o sinal a 0. Ambos
os circuitos podem ser visualizados na figura, a seguir:

5V
5V

Resistor
Chave

Chave
Ana Cristina de Borba (2016)

Entrada para a porta Entrada da porta


Resistor lógica lógica

GND GND
(a) (b)

Figura 15 - Chaves pull-up e pull-down


Fonte: SENAI (2016)

Circuitos digitais como portas lógicas precisam de informações de entrada. O uso das chaves pull-up e
pull-down proporcionam que as informações e/ou dados de entradas sejam muito bem definidos, ou seja,
não sofram nenhum tipo de interferência. Caso uma entrada digital sofra interferência, poderá assumir
valores que não são desejáveis. Por exemplo, se uma informação muda de 0 para 1, quer dizer que em
um processo uma informação passou de falsa para verdadeira. Uma mudança como esta parece simples,
mas altera todo o contexto de uma aplicação, isto é, pode interferir em resultados não compatíveis com
2 LÓGICA COMBINACIONAL
59

a situação. Se uma entrada digital sofre interferência, a saída digital também será influenciada por esta
mesma informação alterada e o erro causado pela interferência pode ocasionar falhas em processos
industriais como: atuadores sendo acionados involuntariamente, máquinas sendo desligadas sem
necessidade, contagem de produção errônea, desarme ineficiente e até mesmo alarmes sendo acionados
acidentalmente.
Os circuitos constituídos pelas chaves pull-up e pull-down são de essencial importância para aplicações
eletrônicas como comando de processos industriais ou aparelhos eletrônicos residenciais. O uso destas
chaves proporciona não apenas mais confiabilidade, mas se torna necessário para o bom funcionamento
dos circuitos. A tabela, a seguir, mostra a dinâmica dos níveis lógicos das chaves pull-up e pull-down.

CIRCUITO CHAVE ABERTA CHAVE FECHADA


Pull-up 0 (0V) 1 (5V)
Pull-down 1 (5V) 0 (0V)
Tabela 20 - Dinâmica pull-up e pull-down
Fonte: SENAI (2016)

A seguir, para compreender bem estes conceitos na prática, é demonstrado um exemplo de ligação
real do circuito de uma porta lógica AND para acionar um pequeno LED (Light Emitting Diode, que significa
Diodo Emissor de Luz) conectado a uma porta de suas saídas.

Exemplo 1 – Ligação de um CI com portas AND


A figura, a seguir, demonstra a ligação de um CI com portas lógicas em uma aplicação simples.

VC

0 30 V
CC

0 5A

OFF

74HC08

ON
Paco Giordani Mora (2016)

1 2 3 4

Figura 16 - Ligação do CI 7408


Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
60

Na figura apresentada no exemplo 1, o CI está utilizando apenas os pinos 1, 2, 3, 7 e 14. O pino 7 é o pino
comum, ou seja, onde há tensão elétrica igual a zero. O pino 14 é o de alimentação, no qual está sendo
aplicado 5V. Os pinos 1 e 2 são as entradas A e B da porta lógica AND do CI 7408, enquanto que o pino 3
é a saída da porta AND. O pino 3 está conectado a um LED, que será acionado quando a saída tiver o nível
lógico alto.

Para desenhar alguns circuitos digitais apresentados neste livro, foi utilizado um
SAIBA software online chamado 123D Circuits da AutoDesk©. Neste software é possível não
MAIS só realizar as ligações entre os pinos, mas também simular o circuito lógico. O software
é gratuito e pode ser facilmente encontrado no seguinte endereço: https://circuits.io/.

As entradas digitais foram ligadas em uma chave manual, para que seja possível selecionar o nível lógico
de entrada da porta lógica. Repare que a chave está conectada em uma estrutura pull-up. Desta maneira,
quando a chave 1 for acionada, a entrada A receberá um nível lógico alto. De modo análogo, quando a
chave 2 for acionada, a entrada B receberá um nível lógico alto. A figura, a seguir, mostra o circuito em
funcionamento.

VC

5.00 V
0 30 V
CC

13.0 mA
0 5A

OFF

74HC08

ON

1 2 3 4
Paco Giordani Mora (2016)

Figura 17 - Simulação do CI 7408


Fonte: SENAI (2016)

Se você consultar a tabela-verdade da porta AND, verificará que a saída desta porta lógica só será
verdadeira quando todas as entradas também o forem. É importante notar que os circuitos integrados
podem ser conectados a outros circuitos integrados, bastando alimentá-los com a tensão elétrica correta e
realizar as ligações dos pinos de acordo com o circuito projetado. O exemplo, a seguir, mostra a criação de
uma porta NAND, utilizando o CI 7408 (porta AND) e o CI 7404 (porta NOT).
2 LÓGICA COMBINACIONAL
61

Exemplo 2 – Projeto de uma porta NAND através do CI 7408 e 7404


Antes de realizar o projeto, deve-se ter conhecimento de como é a configuração dos pinos do 7404. A
figura, a seguir, mostra os pinos de acordo com a disposição das entradas e saídas das portas presentes no
CI.

VCC A6 Y6 A5 Y5 A4 Y4
14 13 12 11 10 9 8

Ana Cristina de Borba (2016)


1 2 3 4 5 6 7
A1 Y1 A2 Y2 A3 Y3 GND
Figura 18 - Pinagem do CI7404 (porta NOT)
Fonte: FAIRCHILD (2008)

Na figura que segue, para criar uma porta NAND, basta conectar a saída da porta AND em uma das
entradas da porta NOT. Neste exemplo, observa-se que o pino 3 do CI 7408 será conectado ao pino 1 do CI
7404.

VC

5.00 V
0 30 V
CC

3.01 mA
0 5A

ON

74HC08

ON
Paco Giordani Mora (2016)

1 2 3 4
74HC04

Figura 19 - Projeto de uma porta lógica NAND com circuitos 7404 e 7408
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
62

Observou-se, na figura referente à pinagem do CI7404 - porta NOT, que os dois CIs precisam ser
alimentados com tensão de 5V no pino 14 e tensão 0V no pino 7, representados pelos fios vermelho e preto
(na figura do projeto de uma porta lógica NAND com circuitos 7404 e 7408), respectivamente. O pino 2 do
CI 7404 está conectado em um LED para observar o funcionamento deste circuito. Nessa figura, pôde-se
notar que o LED está acionado mesmo com as chaves desligadas. Se você consultar a tabela-verdade da
porta NAND, descobrirá que existe apenas uma oportunidade na qual a saída tem nível lógico baixo. Isto
acontece quando as duas entradas possuem nível lógico alto e para as demais possibilidades a saída da
porta NAND terá nível lógico alto. A seguir, será apresentado o funcionamento da porta NAND quando as
duas chaves estiverem acionadas.

VC

5.00 V
0 30 V
CC

10.0 mA
0 5A

ON

74HC08

ON
Paco Giordani Mora (2016)

1 2 3 4
74HC04

Figura 20 - Porta NAND com saída nula


Fonte: SENAI (2016)

Nos exemplos 1 e 2, você conferiu como se realiza uma ligação dos CIs na prática. No exemplo 2, estudou
um projeto com a interligação de dois circuitos integrados. Este método pode ser aplicado para outros
circuitos, contemplando outras portas lógicas e outros CIs mais complexos, que serão apresentados nas
seções seguintes.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
63

CASOS E RELATOS

Teoria e Prática
Pedro estuda eletrônica digital e quer montar um circuito utilizando portas lógicas. Para isso, ele
vai até a loja de equipamentos eletrônicos com uma lista de materiais, incluindo um protoboard,
resistores, uma fonte de tensão de 5VDC, algumas chaves do tipo DIP switch, circuitos integrados
com portas lógicas AND, OR e NOT, alguns LEDs e cabos para a montagem. Diante de todos estes
equipamentos e componentes, Pedro não lembrava qual era a conexão certa do circuito, mas,
decidiu montar o circuito mesmo assim.
Os circuitos integrados ficaram danificados e o LED acabou queimando. Este tipo de acontecimento
é muito comum quando se está montando um circuito lógico digital. O uso dos circuitos integrados
sempre deve ser acompanhado pelo seu datasheet (folha de dados), no qual estão presentes todas
as ligações do CI, incluindo os pinos de alimentação. Consultando o datasheet, Pedro observou
que havia trocado os pinos VCC e GND das portas lógicas e que o LED não estava conectado a
um resistor. Encontrada a causa do problema, Pedro voltou à loja e substituiu os componentes
danificados.
Antes de montá-lo novamente, o aluno de eletrônica digital decidiu desenhar o circuito no papel,
anotando todas as conexões e, para ter certeza do que estava fazendo, utilizou um software que
simula o funcionamento de circuitos eletrônicos. Depois de tudo certo, Pedro decidiu montar
o circuito na prática. Diante deste acontecimento, aprendeu que, para realizar uma montagem,
é necessário realizar um bom projeto, conhecer os pinos de circuitos integrados e prever o
funcionamento do circuito através de simulação ou com a ajuda de uma boa e velha tabela-verdade.

Nesta seção, você também observou que as portas lógicas são simbologias que representam circuitos
eletrônicos que, por sua vez, podem ser encontrados nos chamados circuitos integrados. Aprendeu que
a simbologia representa uma série de circuitos responsáveis pelas funções lógicas e que o mundo digital
está envolvido com a eletrônica. A simbologia estudada em seções anteriores não é a única conhecida, pois
muitos projetos utilizam outra simbologia, como ANSI/IEEE.
ELETRÔNICA DIGITAL
64

2.4.9 SIMBOLOGIA (ANSI/IEEE)

As portas lógicas possuem diferentes simbologias e as apontadas até aqui são representações
tradicionais muito utilizadas para facilitar o processo de aprendizado. É importante saber que existem
algumas simbologias padronizadas pelas normas ANSI/IEEE.
A sigla ANSI se refere a American International Standarts Institute, que em português significa Instituto
Americano de Padrões, cuja finalidade se refere à padronização de trabalhos técnicos envolvendo diversas
áreas do conhecimento. A sigla IEEE significa Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos. Esse
instituto não tem fins lucrativos e abrange quase todo o tipo de conhecimento das áreas elétrica, eletrônica
e computação. A IEEE busca a padronização de trabalhos, criando normas baseadas em consenso.
Uma das atribuições de instituições como ANSI e IEEE é padronizar técnicas, conhecimentos e símbolos
através de normas e documentos oficiais. No passar dos anos, com vários estudos na área da eletrônica
digital, as portas lógicas puderam ser representadas de duas formas: distintiva e retangular. A seguir, serão
analisadas as diferenças entre as portas lógicas nas formas distintivas e retangulares.
Observando as portas lógicas principais, é possível identificar as seguintes características:
a) a porta AND possui o símbolo & que significa E;
b) a porta OR possui um símbolo >=1;
c) a porta NOT tem o símbolo 1 e uma bolinha na saída. Isto significa que a saída será sempre o inverso
da entrada.
A figura, a seguir, mostra um comparativo das principais portas lógicas, contendo a representação
distintiva e a representação retangular.

Distintiva Retangular

&

>=1
Ana Cristina de Borba (2016)

Figura 21 - Representações das principais portas lógicas


Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
65

A coluna da esquerda mostra a representação já conhecida de cada uma das portas lógicas, enquanto a
da direita apresenta a representação das portas na forma retangular. Ambas as representações são aceitas
no projeto e desenvolvimento de circuitos digitais. É importante destacar que não é muito comum utilizar
as duas representações em um único circuito. Se um projeto é criado na representação distintiva, todas
as portas lógicas, por conveniência, devem ser representadas seguindo uma única simbologia, sem que
sejam misturadas as duas representações. As principais portas lógicas são AND, OR e NOT, e as demais são
derivações das portas principais. Dentre elas, estão as portas NAND, NOR, XOR e XNOR. De maneira geral, a
representação retangular destas portas atende às seguintes características:
a) a porta NAND possui o símbolo & e uma bolinha de inversão na saída;
b) a porta NOR possui um símbolo >=1 e uma bolinha de inversão na saída;
c) a porta XOR tem presente o símbolo =1;
d) a porta XNOR tem presente o símbolo =1 e uma bolinha inversora.
A figura, a seguir, mostra um comparativo entre as representações distintiva e a retangular.

Distintiva Retangular

&

>=1

=1
Ana Cristina de Borba (2016)

=1

Figura 22 - Representações distintiva e retangular de algumas portas lógicas


Fonte: SENAI (2016)

O padrão retangular deve ser seguido no uso de projetos, publicações de artigos, apresentações em
congressos, entre outras atividades ou documentações. Mas, neste livro didático você perceberá que serão
utilizados somente a simbologia tradicional.

SAIBA Para conhecer melhor a IEEE, sua história e sua conexão com a eletrônica, acesse o site
MAIS brasileiro do instituto: http://www.ieee.org.br/.
ELETRÔNICA DIGITAL
66

Assim, a partir do estudo da teoria geral e funcionamento das portas lógicas e com os conceitos
aprendidos na seção 2.4, você será capaz de interpretar e projetar novos circuitos lógicos. Os circuitos que
serão estudados a partir de agora são compostos por todas as portas lógicas estudadas até aqui.

2.5 CIRCUITOS COMBINACIONAIS

Como visto em seções anteriores, a combinação de portas lógicas podem executar uma função lógica
chamada de função ou expressão booleana. Além disso, foi estudado que uma porta XOR equivale a uma
associação de portas lógicas AND, OR e NOT. Mas, existem outros tipos de associações de portas lógicas?
Um circuito digital pode ter uma infinidade de possibilidades, associando todos os tipos de portas
lógicas, com inúmeras entradas e também saídas. Nesta seção, você aprenderá o conceito de circuito
combinacional, como encontrar sua expressão booleana e como realizar a sua simplificação. Também
encontrará exemplos e situações para treinar a lógica envolvida em cada situação.
Segundo Lourenço et al. (2007, p. 69, grifo do autor), “O circuito combinacional é aquele que executa
uma expressão booleana através da interligação de várias portas lógicas existentes, sendo que as saídas
dependem única e exclusivamente das entradas”. Observe o exemplo a seguir.

Exemplo 1 – Estudo de um circuito combinacional

E1
E2
Ana Cristina de Borba (2016)

S1

S2
E3
Figura 23 - Exemplo de circuito combinacional com 3 entradas e duas saídas
Fonte: SENAI (2016)

O exemplo apresentado mostra um circuito combinacional com 3 entradas e duas saídas, lembrando
que não existe limite para o número de entradas e/ou saídas neste tipo de circuito.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
67

Se você testar todas as entradas do circuito combinacional descrito, encontrará a seguinte tabela-
-verdade:

LINHA E1 E2 E3 S1 S2
1 0 0 0 1 0
2 0 0 1 1 0
3 0 1 0 1 0
4 0 1 1 0 1
5 1 0 0 1 0
6 1 0 1 0 1
7 1 1 0 1 0
8 1 1 1 0 1
Tabela 21 - Tabela-verdade de um circuito combinacional
Fonte: SENAI (2016)

Diante da tabela-verdade, como é possível encontrar a expressão lógica para a saída S1 e a expressão
lógica para a saída S2? Essa pergunta será respondida com uma nova análise dos circuitos combinacionais.
A técnica se baseia em descobrir as expressões das saídas S1 e S2. Como você pode ter observado, o
circuito apresentado possui duas saídas, portanto, o circuito terá duas expressões, cada uma com a sua
lógica, ou seja, são saídas com lógicas totalmente independentes. Como mencionado nesta seção, as
saídas dependem única e exclusivamente das entradas.
No caso de conhecer a função lógica de uma saída, você deve escrevê-la como uma soma de produtos.
Observe.

S=A·B+B·C

A expressão é um exemplo da soma dos produtos A ∙ B e B ∙ C. Diante do conceito da soma de produtos,


como escrever a expressão da saída S1? Onde você encontrará essas informações? Para começar a escrever
a função lógica, identifique inicialmente em quais linhas da tabela-verdade a saída S1 tem nível lógico 1.
Conforme descrito na tabela anterior (Tabela-verdade de um circuito combinacional), as linhas em que
a saída tem nível lógico 1 são as de número 1, 2, 3, 5 e 7 e a expressão correspondente a cada linha sempre
será uma multiplicação de todas as entradas, ou seja, o produto das entradas. Mas, fique atento, em cada
linha, deve-se considerar a entrada barrada, se seu nível lógico for 0.
Na linha 1, por exemplo, todas as entradas possuem nível lógico 0. Por isso, todas a entradas serão
barradas. Na linha 2, apenas as entradas E1 e E2 serão barradas, pois E3 possui nível lógico 1. Na linha 3, as
entradas E1 e E3 serão barradas e E2 não será barrado. Na linha 5, E2 e E3 serão barrados. Na linha 7, apenas
E3 será barrado, pois seu nível lógico é 0.
ELETRÔNICA DIGITAL
68

Considerando as informações, as expressões para cada linha em que S1 tem nível lógico 1 será:

LINHA EM QUE S1 É 1 EXPRESSÃO CORRESPONDENTE


1 E1 · E2 · E3
2 E1 · E2 · E3
3 E1 · E2 · E3
5 E1 · E2 · E3
7 E1 · E2 · E3
Tabela 22 - Expressões de cada linha para formar a saída S1
Fonte: SENAI (2016)

No intuito de encontrar a expressão final da saída S1, basta somar todos estes produtos. Então, a
expressão final da saída S1 será:

Do mesmo modo que a expressão booleana de S1 foi encontrada, pode-se determinar a saída S2, que é
verdadeira para as seguintes linhas da tabela-verdade:

LINHA EM QUE S2 É 1 EXPRESSÃO CORRESPONDENTE


4 E1 · E2 · E3
6 E1 · E2 · E3
8 E1 · E2 · E3
Tabela 23 - Expressões de cada linha para formar S2
Fonte: SENAI (2016)

Somando todas as expressões das linhas 4, 6 e 8, tem-se a função lógica S2.

Observe que os circuitos combinacionais que podem ser formados por diferentes portas lógicas e
podem ter número de saídas maior que 1. Para compreender melhor este conceito, observe um exemplo
prático.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
69

Exemplo 2 – Soluções industriais com circuitos combinacionais


Uma esteira de uma empresa transporta um determinado tipo de peça e é controlada por um motor
(M). O motor tem dois tipos de funcionamento: em uma chave seletora (C), é possível acionar o modo
manual ou automático. No modo automático, o motor estará sempre ligado, porém, no modo manual, o
motor será ligado quando acionado o botão (B). Tanto em modo manual quanto em automático, a esteira
deve parar quando a peça chegar ao sensor fim de curso (S). O objetivo está em fazer a tabela-verdade do
processo, encontrar a função lógica e montar o circuito com portas lógicas.
E, para resolver o exemplo, deve-se identificar no processo quais são suas variáveis e distinguir entradas
e saídas. As variáveis de entrada sistema são a chave seletora (C), o botão (B) e o sensor (S). A variável de
saída é o motor (M).
Identificadas as variáveis, o próximo passo é saber como as entradas se comportam em relação aos níveis
lógico 0 e 1. Quando a variável C=0, significa que o modo é manual, e quando C=1, o modo selecionado
é automático. Quando B=0, o motor é desligado em modo manual, e quando B=1, o motor é ligado em
modo manual. Quando S=0, a peça ainda não chegou no sensor, e quando S=1, a peça chegou no sensor.
Diante das variáveis apresentadas basta montar a tabela-verdade do problema. E, como o sistema tem
3 variáveis possui 3 entradas, a tabela-verdade terá 8 linhas.

ENTRADAS SAÍDA
LINHA C (CHAVE) B (BOTÃO) S (SENSOR) M (MOTOR)
1 0 0 0 0
2 0 0 1 0
3 0 1 0 1
4 0 1 1 0
5 1 0 0 1
6 1 0 1 0
7 1 1 0 1
8 1 1 1 0
Tabela 24 - Tabela-verdade do exemplo
Fonte: SENAI (2016)

Analisando a coluna C, sabe-se que, das linhas 1 a 4, o motor está em modo manual e, consequentemente,
das linhas 5 a 8, está operando em modo automático. Na linha 1, o motor está em modo manual (C = 0) e
o botão desligado (B = 0). Essa condição já é suficiente para saber que o motor estará desligado (M = 0).
Note que nas linhas 1 e 2 não foi analisado o nível lógico do sensor, pois, se S = 0 ou S = 1, nessas linhas não
alteraria o nível lógico da saída M.
ELETRÔNICA DIGITAL
70

Na linha 2, o motor está operando em modo manual (C = 0) e o botão desligado (B = 0), condição
suficiente para saber que o motor será desligado (M = 0). Na linha 3, motor no modo manual (C = 0), o
botão ligado (B = 1) e a peça não chegou no sensor (S = 0). Nesta condição, o motor irá ligar, pois a peça
deve ser transportada até o sensor. Na linha 4, o motor está operando em modo manual (C = 0), o botão
ligado (B = 1) e a peça chegou até o sensor (S = 1), ou seja, como o sensor foi acionado, esta condição é
necessária para desligar o motor.
Em modo automático, o botão B não será levado em consideração, pois independente do seu valor
não será o botão que irá ligar o desligar o motor. Na linha 5, o motor está operando em modo automático
(C = 1), o botão desligado (B = 0) e a peça ainda não chegou no sensor (S = 0), ou seja, o motor será ligado
(M = 1). Como o estado do botão não faz diferença na análise do problema nas próximas linhas, você pode
verificar apenas os valores da chave seletora e do sensor. Na linha 6, a peça chegou até o sensor, ou seja,
o motor será desligado. Na linha 7 o motor será ligado, pois a peça ainda não chegou no sensor ainda, ou
seja, M = 1. Finalmente, na linha 8, o motor será desligado (M = 0), pois a peça chegou até o sensor (S = 1).
Após uma análise completa de todas as possibilidades do problema, você pode montar a função lógica
da saída M. E, para encontrá-la basta aplicar o método do exemplo anterior.

Através da função lógica, é possível encontrar o circuito com portas lógicas. Sabe-se que o circuito terá
uma porta OR com 3 entradas, algumas portas NOT e três portas AND com 2 entradas. Observe a seguinte
disposição.

C B S

M
Ana Cristina de Borba (2016)

Figura 24 - Circuito de portas lógicas do exemplo 2


Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
71

Exemplo 3 – Controle de temperatura com circuitos combinacionais


Um ambiente de trabalho deve ter sua temperatura controlada em 23ºC. E, a fim de amenizar a
temperatura, foi instalado um ventilador monitorado por 3 parâmetros: temperatura, presença e botão
manual. Para administrar a temperatura, foi instalado um sensor que detecta valores acima de 23 graus.
Assim, quando a temperatura for maior que 23ºC, o sensor indicará o nível lógico 1 e, caso contrário, terá
nível lógico 0.
No intuito de monitorar a presença das pessoas, dentro do ambiente, foi instalado um sensor de pre-
sença, que, no caso de detectar a existência de uma pessoa, irá indicar o nível lógico 1. Caso contrário, terá
nível lógico 0.
O botão manual interrompe todas as funções de presença e temperatura quando colocado em nível
0. Além disso, se o botão estiver em nível lógico 1, as funções de presença e temperatura podem atuar
normalmente.
Ressalta-se que o ventilador só funcionará quando o botão manual for habilitado, o sensor de
temperatura indicar uma temperatura maior que 23 graus Celsius e o de presença detectar alguém no
ambiente.
Na tabela, a seguir, o botão será chamado de B, o sensor de temperatura será denominado T, o de
presença será P e o ventilador chamado V. Lembrando que o estado que representa o ventilador ligado é o
nível lógico 1. Desta maneira, a tabela-verdade para este problema é demonstrada a seguir.

BOTÃO (B) TEMPERATURA (T) PRESENÇA (P) VENTILADOR (V)


0 0 0 0
0 0 1 0
0 1 0 0
0 1 1 0
1 0 0 0
1 0 1 0
1 1 0 0
1 1 1 1
Tabela 25 - Tabela-verdade do exemplo do controle de temperatura
Fonte: SENAI (2016)

É importante notar que, neste exemplo, as variáveis B, T e P são de entrada, enquanto que o ventilador
dado pela variável V é um dado de saída. De maneira geral, dependendo da lógica realizada entre as três
variáveis de entrada, a saída V terá nível lógico 0 ou 1. Aplicando o mesmo método demonstrado nos
exemplos 1 e 2, fica claro que a função lógica deste problema é dado por:

V=B·T·P
ELETRÔNICA DIGITAL
72

Desta maneira, o circuito geral de controle do ventilador pode ser expresso por uma porta AND de 3
entradas. Repare que as 4 primeiras linhas da tabela-verdade bloqueiam o uso do ventilador pois a variável
B está em nível lógico 0. Quando B tem nível lógico 1, o ventilador será bloqueado pelas variáveis T em nível
0 ou pela variável P em nível 0. De acordo com a problemática deste exemplo, a única solução possível é
quando as três variáveis de entrada (B, T e P) estão em nível lógico 1.
Com os conceitos aprendidos nesta seção, você será capaz de desenvolver circuitos digitais a partir de
problemas práticos, bem como montar a tabela-verdade e encontrar a função lógica em cada situação.
A seguir, serão apresentados alguns destes circuitos encontrados, equivalentes a circuitos menores, ou
seja, pode-se projetar um circuito com a mesma lógica utilizando menos portas lógicas. A partir de agora,
você saberá como melhorar o seu projeto. Para isso, aprenderá o conceito de simplificação de circuitos
combinacionais por Álgebra de Boole.

2.5.1 SIMPLIFICAÇÃO DE CIRCUITOS COMBINACIONAIS POR ÁLGEBRA DE BOOLE

Para realizar a simplificação de circuitos combinacionais, torna-se necessário, incialmente, ter a função
lógica deste circuito. Através da função lógica, é possível simplificar um circuito com muitas operações para
um circuito menor com menos operações por entrada.
Como realizar essa simplificação? Como encontrar uma expressão simples com base em uma complexa?
Para que haja a simplificação, você deverá conhecer alguns conceitos que são chamados de postulados
(também conhecidos como regras de Boole), propriedades e teoremas. A tabela seguinte indica quais são
esses postulados.

Se A = 0 então A = 1 Se A = 1 então A = 0
0 = 1,1 = 0 A=A
0·0=0 1·1=1
0·1=1·0=0 0 +1 = 1 + 0 = 1
0+0=0 1+1=1
A·A=A A·A=0
A+A=A A+A=1
A·0=0 A·1=A
A+0=A A+1=1
Tabela 26 - Postulados
Fonte: Lourenço et al. (2007)

Todos estes princípios são muito importantes para a simplificação de expressões booleanas. Assim
como os postulados, outro aspecto importante nas simplificações das funções lógicas são as propriedades,
que são divididas em 3 grupos: comutativa, associativa e distributiva.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
73

COMUTATIVA
A·B=B·A
A+B=B+A
ASSOCIATIVA
A · (B · C) = (A · B) · C
A + (B + C) = (A + B) + C
Tabela 27 - Propriedades
Fonte: Lourenço et al. (2007)

Os últimos elementos presentes no estudo da simplificação de expressões booleanas são quatro


teoremas, sendo dois Teoremas de De Morgan e os outros Teoremas de Absorção.

TEOREMAS DE DE MORGAN
A+B=A·B
A·B=A+B
TEOREMAS DA ABSORÇÃO
A+A·B=A
A+A·B=A+B
Tabela 28 - Teoremas
Fonte: Lourenço et al. (2007)

Com base nas expressões de equivalência (teoremas, postulados e propriedades) há possibilidade de


realizar a simplificação de diversas funções. Veja os exemplos a seguir.

Exemplo 1 – A porta lógica OR


Como você sabe, a porta lógica OR é dada pela seguinte expressão:

S=A+B
Sabe-se também que a tabela-verdade da porta lógica OR é a seguinte:

A B SAÍDA OR
0 0 0
0 1 1
1 0 1
1 1 1
Tabela 29 - Exemplo da porta lógica OR
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
74

Aplicando a regra de circuitos combinacionais na tabela-verdade anterior, ou seja, observando as possi-


bilidades em que a saída é verdadeira, pode-se montar a seguinte expressão:

Como se pode notar, as duas expressões são diferentes, porém, por incrível que pareça, são equivalentes.
Mas, como demonstrar essa igualdade? Para provar a equivalência entre as duas expressões, você utilizará
os postulados, propriedades e teoremas.
Inicialmente, observe na expressão quais são os elementos em comum. A variável A está presente nos
produtos A · B e A · B . Desta maneira, pode-se deixar o A em evidência e utilizar a propriedade distributiva.
A expressão pode ser reescrita da seguinte maneira:

Utilizando o postulado B + B = 1, pode-se apresentar a expressão conforme segue:

Através do postulado A · 1 = A, escreve-se a expressão da seguinte forma:

Utilizando a propriedade comutativa, pode-se representar da seguinte forma:

Por fim, utilizando o teorema de De Morgan A + A · B = A + B, representar a expressão final será:

S=A+B
2 LÓGICA COMBINACIONAL
75

De fato, a expressão S = A · B + A · B + A · B é equivalente a S = A + B. Demonstrando as duas funções


na forma de portas lógicas, pode-se constatar que a expressão S = A + B utiliza bem menos recursos, o
que, por sua vez, gera uma grande economia no final de um projeto, ao evitar o uso desnecessário de
outras portas lógicas. Perceba a diferença existente entre o número de portas lógicas presentes em cada
expressão. Incialmente, observe o número de portas lógicas existentes no circuito da expressão S = A · B +
A · B + A · B.

A B

Ana Cristina de Borba (2016)


Figura 25 - Circuito equivalente da função OR
Fonte: SENAI (2016)

Circuitos maiores, além de custos maiores, ainda consomem mais energia, mais espaço e recursos para
sua produção. A simplificação de circuitos através de expressões booleanas colabora na otimização de
projetos, deixando-os baratos e eficientes. No intuito de reforçar a técnica de simplificação de circuitos, leia
o exemplo 2.

Exemplo 2 – Peça na esteira


No exemplo 2 da seção 2.5, foi apresentado o funcionamento de um sistema de esteira. Neste exemplo,
através de uma análise da tabela-verdade dos circuitos combinacionais, foi possível encontrar a seguinte
expressão do problema.

Para simplificar este circuito, siga os seguintes passos:


Da expressão M = C ∙ B ∙ S + C ∙ B ∙ S + C ∙ B ∙ S e utilizando a propriedade distributiva, colocando S em
evidência, chega-se a seguinte expressão: M = S (C · B + C · B + C · B)
Da expressão M = S (C · B + C · B + C · B) e utilizando a propriedade distributiva, colocando C em evidência,
chega-se a seguinte expressão: M = S · (C · B + C · (B + B))
ELETRÔNICA DIGITAL
76

Da expressão M = S · (C · B + C · (B + B)) e utilizando o postulado A +A = 1 (veja na tabela de postulados),


chega-se à seguinte expressão: M = S · (C · B + C · 1)
Da expressão M = S · (C · B + C · 1) e utilizando o postulado A · 1 = A (veja na tabela de postulados), chega-
-se à seguinte expressão: M = S · (C · B + C)
Da expressão M = S · (C · B + C) e utilizando a propriedade associativa, chega-se a seguinte expressão:
M = S · (C+C · B )
Da expressão M = S · (C+C · B ) e utilizando o teorema da absorção A + A ∙ B = A + B, chega-se a seguinte
expressão final: M = S · (C + B )
Para provar a sua equivalência, basta encontrar sua tabela-verdade.

C B S M
0 0 0 0
0 0 1 0
0 1 0 1
0 1 1 0
1 0 0 1
1 0 1 0
1 1 0 1
1 1 1 0
Tabela 30 - Tabela-verdade do exemplo esteira e peça
Fonte: SENAI (2016)

Exemplo 3 – Simplificação de expressões booleanas


Neste exemplo, será simplificada a expressão que segue.

Acompanhe os seguintes passos:


- Teorema de De Morgan A + B = A · B .
S = (A · B) · (A · C) · (B · C) - Postulado A = A.
S= (A · A · B · B · C · C) - Propriedade associativa.
S = A · B · C - Postulado A · A = A.
Portanto, a expressão final simplificada será S = A . B . C.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
77

Exemplo 4 – Simplificação de expressões booleanas


Neste caso, será simplificada a seguinte expressão.

Acompanhe os seguintes passos:


S = A · B + (B + C) + C · A - Teorema de De Morgan A + B = A · B.
S = A · B + (B + C) + C · A - Postulado A = A.
S = A · (B + C) + (B + C) - Propriedade distributiva, colocando A em evidência.
S = (B + C) · (A + 1) - Propriedade distributiva, colocando B+C em evidência.
S = (B + C) ·1 - Postulado A + 1 = 1.
S = B + C - Postulado A · 1 = A.
Portanto, a expressão final será S = B + C. Observe que a entrada A não aparece no final da expressão.
Será que isso está certo? A resposta é sim. Isto significa que A é uma entrada que não interfere na resposta
final, ou seja, não interfere no estado da saída S.

Exemplo 5 – Simplificação de expressões booleanas


No exemplo, a seguir, estará sendo simplificada a expressão.

S = A · C + A + (B · C)

Acompanhe os seguintes passos:


S = A · C + A · B + A · C - Propriedade distributiva.
S = A · B + 1 - Postulado A + A = 1.
S = 1 - Postulado A + 1 = 1.
Esta operação torna-se muito interessante, pois, se o resultado de uma simplificação for igual a 1,
significa que, independentemente do valor das entradas A, B e C, a resposta sempre terá nível lógico igual
a 1. Para comprovar a afirmação, utilize seus conhecimentos aprendidos até aqui para montar uma tabela-
-verdade da função lógica inicial e observe o resultado de saída S.
ELETRÔNICA DIGITAL
78

Até aqui, você aprendeu diversas formas de simplificar expressões booleanas e percebeu que, com o
uso dos postulados, propriedades e teoremas, é possível simplificar e otimizar circuitos implementados
com portas lógicas. Será que essa é a única forma de otimização de circuitos? Na próxima seção, você
conhecerá uma técnica um pouco diferente, mas muito eficiente na análise de circuitos digitais.

2.5.2 SIMPLIFICAÇÃO DE CIRCUITOS COMBINACIONAIS POR MAPAS DE KARNAUGH

O Mapa de Karnaugh é uma ferramenta muito importante na análise e simplificação de circuitos


digitais. O Mapa de Karnaugh apresenta técnicas de análise das funções lógicas com base na tabela-verda-
de do circuito ou problema. Nesta seção, você aprenderá a montar o mapa com base na tabela-verdade e
simplificar as funções lógicas de maneira mais rápida e segura do que utilizando os postulados, proprieda-
des e teoremas.

CONSTRUÇÃO DO MAPA
A construção do Mapa de Karnaugh dependerá do número de entradas do circuito ou função lógica.
É importante frisar que o Mapa de Karnaugh é montado para cada saída do circuito, ou seja, um circuito
com duas saídas deve ser observado através de dois mapas; um para cada saída e analisados de maneira
individual.
O mapa é formado por um conjunto de células, proporcional à quantidade de possibilidades do circuito.
Assim, tem-se que o número de células = 2n, onde n é o número de entradas do circuito. Na construção do
mapa, é necessário conhecer bem a tabela-verdade, pois cada célula corresponde a uma condição e uma
possibilidade. Dentro de cada célula, são inseridos os valores da saída do circuito. Para entender melhor o
mapa, leia o seguinte exemplo.

Exemplo 1 – Mapa de Karnaugh com duas variáveis


Monte o Mapa de Karnaugh correspondente à tabela-verdade apresentada:

N A B S
0 0 0 0
1 0 1 1
2 1 0 1
3 1 1 1
Tabela 31 - Exemplo de mapa e tabela-verdade
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
79

O mapa terá 2² células, que correspondem às possibilidades da tabela-verdade. Cada célula deve ser
preenchida com o valor da saída S correspondente.

B
0 1
0 0 1
A
1 2 3
Figura 26 - Exemplo de construção do Mapa de Karnaugh
Fonte: SENAI (2016)

No mapa ilustrado anteriormente, os números pequenos representam as variações de A e B e os números


em negrito são as possibilidades referentes à tabela-verdade. Na célula 0, A e B possuem valor 0. Na célula
1, A possui o valor 0 enquanto que B possui o valor 1. Na célula 2, A tem o valor 1, enquanto que B apresenta
o valor 0. Por fim, na célula 3, A e B possuem o valor 1. Até aqui a construção do mapa é muito semelhante
à construção da tabela-verdade.
No lugar dos números 0, 1, 2 e 3. Deve-se inserir os valores da saída do circuito. Com base na tabela-
-verdade, o Mapa de Karnaugh ficará da seguinte forma.

B
0 1
0 0 1
A
1 1 1
Figura 27 - Mapa de Karnaugh com duas variáveis
Fonte: SENAI (2016)

No caso de um sistema ter duas saídas, deve-se criar um mapa especialmente para cada uma delas.
Observe a tabela do exemplo 2.

Exemplo 2 – Mapas de Karnaugh para um circuito com duas saídas


Construa o Mapa de Karnaugh através da tabela-verdade que segue:

A B S1 S2
0 0 1 0
0 1 1 0
1 0 0 1
1 1 0 1
Tabela 32 - Tabela-verdade com duas saídas
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
80

Como este circuito tem duas saídas, a simplificação deverá ser realizada através de dois Mapas de
Karnaugh. O mapa correspondente à saída S1 pode ser visualizada na figura, a seguir.

B
0 1
0 1 1
A
1 0 0
Figura 28 - Mapa de Karnaugh para a saída S1
Fonte: SENAI (2016)

O mapa correspondente à saída S2 pode ser visualizado a seguir. Observe nos mapas das saídas S1 e S2
suas principais diferenças.

B
0 1
0 0 0
A
1 1 1
Figura 29 - Mapa de Karnaugh para a saída S2
Fonte: SENAI (2016)

Caso o Mapa de Karnaugh tenha mais variáveis de entrada, como A, B e C, a construção do mapa será
diferente. Para compreender como construir mapas maiores, deve-se conhecer o conceito de células
adjacentes, nas quais apenas uma das variáveis se altera. Para entender melhor este conceito, leia o
exemplo a seguir.

Exemplo 3 – Células adjacentes


Imagine que um circuito combinacional possui algumas entradas, dentre elas as entradas B e C. Estas
mesmas entradas podem assumir os valores 00, 01, 10 e 11. Se você colocar estes valores no formato de
células horizontais, terá o seguinte resultado:

BC
00 01 10 11
0 1 2 3
Tabela 33 - Tabela BC com células não adjacentes
Fonte: SENAI (2016)

Da célula 0 para a célula 1, a variável B manteve seu valor 0 e a variável C mudou de 0 para 1. Caso
apenas uma variável sofra alteração de uma célula para outra, significa que as duas células são adjacentes.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
81

Tomando a mesma tabela BC, da célula 1 para a célula 2, ocorreram duas mudanças. Observe que B
alterou seu valor de 0 para 1 e a variável C mudou seu valor de 1 para 0. Como aconteceram duas variações
de uma célula para outra, as células (1 e 2) não são adjacentes. Será que há possibilidade de organizar esta
tabela de modo que todas as células sejam adjacentes? Sim, é possível. Reorganizando a tabela (tabela BC
com células não adjacentes), pode-se reescrever BC da seguinte forma.

BC
00 01 11 10
0 1 3 2
Tabela 34 - Tabela BC com células adjacentes
Fonte: SENAI (2016)

Observa-se, portanto, que todas as células são adjacentes.


Entre BC = 00 e BC = 01, apenas C mudou de valor.
Entre BC = 01 e BC = 11, apenas B mudou de valor.
Entre BC = 11 e BC = 10, apenas C mudou de valor.
Tomando conceito das células adjacentes, pode-se criar o Mapa de Karnaugh com três variáveis de en-
trada. Para montar este mapa, deve-se colocar a célula A à esquerda enquanto que as variáveis B e C são
dispostas acima do mapa. Tomando a regra inicial de construção, um circuito com 3 variáveis de entrada
terá um mapa de 2³ células, ou seja, 8 células.
Um Mapa de Karnaugh com 3 variáveis de entrada terá a seguinte elaboração.

BC
00 01 11 10
0 0 1 3 2
A
1 4 5 7 6
Figura 30 - Mapa de Karnaugh com 3 variáveis de entrada
Fonte: SENAI (2016)

Para um circuito com 4 variáveis de entrada, o Mapa de Karnaugh terá 24 células, ou seja, 16 células. Para
este mapa, deve-se utilizar o mesmo conceito de células adjacentes. A única diferença será a posição das
variáveis de entrada. As variáveis A e B estarão dispostas à esquerda, enquanto que as C e D estarão acima
do mapa.
ELETRÔNICA DIGITAL
82

Veja como fica a sua construção.

CD
00 01 11 10
00 0 1 3 2
01 4 5 7 6
AB
11 12 13 15 14
10 8 9 11 10
Figura 31 - Mapa de Karnaugh com 4 variáveis de entrada
Fonte: SENAI (2016)

Agora que você aprendeu como construir os Mapas de Karnaugh, está na hora de saber como utilizá-los
para simplificar os circuitos.

REGRAS PARA A UTILIZAÇÃO DO MAPA


Para realizar as simplificações com o Mapa de Karnaugh você deve aprender o conceito de enlace. Se-
gundo Lourenço et al. (2007, p. 103, grifo do autor), “Enlace é o agrupamento de células adjacentes, com
saídas iguais, do qual se pode extrair diretamente uma expressão booleana simplificada.”
No mapa seguinte, os enlaces criados pelas células adjacentes estão destacados.

B
0 1
0 0 0
A
1 1 1
Figura 32 - Exemplo de enlace
Fonte: SENAI (2016)

Com o Mapa de Karnaugh construído, basta realizar as simplificações, ou seja, criar enlaces entre uma
célula e outra e encontrar a expressão correspondente. O mapa apresentado acima criou um enlace com
base nos valores 1 e 1, lado a lado, entretanto, os valores 0 e 0, lado a lado, também formam um enlace.
A criação de enlaces dependerá da técnica de análise do mapa. A maioria dos exemplos apresentados a
seguir realizará os enlaces utilizando as células com valor 1. Mais adiante será apresentado um exemplo
utilizando os enlaces com valor 0.

A simplificação de circuitos combinacionais através do mapa de Karnaugh requer uma


SAIBA análise profunda dos enlaces presentes no mapa. Além dos exemplos apresentados
MAIS neste livro didático, consulte também o livro CIRCUITOS DIGITAIS, de Antônio Carlos de
Lourenço et al., Editora Érica, 2007 para estudar outras possibilidades do mapa.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
83

Em um mesmo mapa, podem acontecer mais do que um enlace. Em seguida, é apresentado um mapa
com dois enlaces.

B
0 1
0 1 0
A
1 1 1
Figura 33 - Exemplo de mapa com dois enlaces
Fonte: SENAI (2016)

Para encontrar a expressão simplificada do circuito, observe no enlace quais são as variáveis que não
mudam. A expressão final da saída será o produto das variáveis que não mudam no enlace. No caso de
haver mais de um enlace, o resultado final será a soma das expressões encontradas em cada um.

Exemplo 1 – Simplificação por Mapa de Karnaugh


Tomando o Mapa de Karnaugh com dois enlaces (Exemplo de mapa com dois enlaces) representado
anteriormente, deve-se encontrar a expressão simplificada. No mapa, tem-se dois enlaces: um entre as
células 0 e 2 e um entre as células 2 e 3. No enlace 2 - 3, a variável que não muda é A, enquanto que B altera
seu valor de 0 para 1. Portanto, no enlace 2 - 3, a resposta parcial é A. No enlace 0 - 2, a variável A muda de
0 para 1, enquanto que B mantém seu valor em 0.
Portanto, a resposta parcial deste enlace é B. O resultado final fica da seguinte maneira:

S=A+B

Exemplo 2 – Todas as variáveis mudam


Quando em um mapa todas as células têm valor 1, significa que nenhuma variável permanece a mesma.
Mesmo assim, as saídas ainda continuam iguais a 1. A tabela como um todo se torna um enlace só.

B
0 1
0 1 1
A
1 1 1
Figura 34 - Enlace em todo o mapa
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
84

A expressão da saída será dada através do valor 1, ou seja, S = 1. Faz sentido a resposta de um circuito
ser igual a 1? A resposta é sim. Isto acontece, porque, independente da mudança das variáveis A ou B, o
valor da saída permanece 1. Significa dizer que A e B não tem relevância no valor da saída, seja qual for o
valor de A ou o valor de B.

Exemplo 3 – Simplificação de circuitos com 3 variáveis utilizando um Mapa de Karnaugh


Com base na tabela-verdade, a seguir, simplifique o circuito utilizando o Mapa de Karnaugh.

A B C S
0 0 0 1
0 0 1 0
0 1 0 1
0 1 1 0
1 0 0 1
1 0 1 0
1 1 0 1
1 1 1 0
Tabela 35 - Tabela-verdade de um circuito qualquer
Fonte: SENAI (2016)

Através da tabela-verdade apresentada, pode-se montar o Mapa de Karnaugh da seguinte forma:

BC
00 01 11 10
0 1 0 0 1
A
1 1 0 0 1
Figura 35 - Mapa de Karnaugh do exemplo 3
Fonte: SENAI (2016)

A primeira tendência ao ver este mapa é criar dois enlaces: um representado pela cor verde e outro pela
cor azul.

BC
00 01 11 10
0 1 0 0 1
A
1 1 0 0 1
Figura 36 - Tendência ao realizar o enlace
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
85

Se você observar bem, as células onde BC tem os valores 00 e 10 são adjacentes. Isto acontece, porque,
mesmo as células afastadas, apenas o valor de B varia de 0 para 1 enquanto que C permanece com o valor
igual a 0. Se as células são adjacentes, pode-se realizar um enlace entre ambas. Portanto, pode-se trocar o
duplo enlace por apenas um e o enlace do mapa ficará da seguinte forma:

BC
00 01 11 10
0 1 0 0 1
A
1 1 0 0 1
Figura 37 - Enlace único entre células adjacentes afastadas
Fonte: SENAI (2016)

Para simplificar esta expressão, basta olhar quais variáveis não alteram seu valor dentro do enlace azul.
Analisando a variável A, observa-se que A varia de 0 para 1. Por isso, não participa da resposta. A variável
B varia de 0 para 1, portanto não participa da resposta. A variável C mantém o seu valor em 0, portanto a
resposta do circuito fica da seguinte forma:

S=C

Exemplo 4 - Simplificação de circuitos com 4 variáveis utilizando um Mapa de Karnaugh


De acordo com a tabela-verdade apresentada, simplifique a expressão lógica para as saídas S1 e S2.

A B C D S1 S2
0 0 0 0 1 1
0 0 0 1 0 1
0 0 1 0 0 1
0 0 1 1 0 1
0 1 0 0 0 0
0 1 0 1 1 0
0 1 1 0 0 0
0 1 1 1 1 0
1 0 0 0 0 1
1 0 0 1 0 1
1 0 1 0 0 1
1 0 1 1 0 1
1 1 0 0 0 0
1 1 0 1 1 0
1 1 1 0 0 0
1 1 1 1 1 0
Tabela 36 - Tabela-verdade do exemplo 4
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
86

Como a tabela-verdade apresenta duas saídas, são necessários, portanto, dois mapas. O mapa para a
saída S1 pode ser visualizado na sequência, no qual inicialmente são criados dois enlaces: um representado
pela cor verde e outro em azul.

CD
00 01 11 10
00 1 0 0 0
01 0 1 1 0
AB
11 0 1 1 0
10 0 0 0 0
Figura 38 - Mapa de Karnaugh para a saída S1
Fonte: SENAI (2016)

No enlace verde, criado por apenas uma célula, deve-se analisar quais são as variáveis que não alte-
ram. Como está sendo analisada apenas uma célula, todas as variáveis não mudam. Não existe varia-
ção se é analisado sempre o mesmo ponto. Portanto, para o primeiro enlace, a resposta parcial de S1 é
A · B · C · D.
Agora, observe o segundo enlace, dado pela cor azul no Mapa de Karnaugh. A variável A muda do
valor 0 para 1. Já a variável B permanece no valor 1. A variável C, por sua vez, muda de 0 para 1 enquanto
que a variável D permanece no mesmo valor 1. Portanto, a resposta parcial para S1 é BD. Somando-se as
respostas parciais, a saída S1 tem a seguinte expressão:

S1 = A · B · C · D + B · D

Ao identificar a saída S2, veja o seguinte Mapa de Karnaugh, no qual é criado apenas um enlace,
representado pela cor azul e contendo 8 células.

CD
00 01 11 10
00 1 1 1 1
01 0 0 0 0
AB
11 0 0 0 0
10 1 1 1 1
Figura 39 - Mapa de Karnaugh para a saída S2
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
87

Analisando o enlace, verifica-se que a variável A muda seu valor de 0 para 1, enquanto a variável
B permanece seu valor em 0. As variáveis C e D sofrem mudanças no decorrer das células. Portanto, a
expressão de S2 deverá ficar da seguinte forma:

S2 = B

Quanto menor for o número de enlaces criados e quanto maior for o tamanho deste enlace, menor será
a resposta. Mesmo com resultados diferentes, o circuito irá executar a mesma função. Uma das respostas
será mais simplificada que outra, ou seja, irá necessitar de menos portas lógicas para a realização da função
lógica.

Exemplo 5 – Criando enlaces com células em 0


Até aqui foram apresentados exemplos de enlaces levando em consideração o nível lógico 1. A resposta
final dos exemplos anteriores era representada na forma de soma de produtos. Quando os enlaces são
criados com o nível lógico zero, a resposta final pode ser dada em termos do produto de somas. Veja a
simplificação do circuito abaixo.

CD
00 01 11 10
00 0 1 1 1
01 1 1 0 0
AB
11 1 1 0 0
10 1 1 1 1
Quadro 5 - Mapa de Karnaugh com enlaces com nível lógico 0
Fonte: SENAI (2016)

Observe no mapa acima a criação de dois enlaces: azul e verde. Deve-se retirar a expressão de cada um
destes enlaces. A expressão final deste mapa será a multiplicação entre a expressão do enlace azul com a
expressão do enlace verde.
A expressão do enlace azul será a soma de todos as variáveis que não sofreram modificação. Em apenas
uma célula, todas as variáveis não sofrem alteração, portanto a expressão resultante do enlace azul será
A+B+C+D. Observe que não foi colocada a barra em cima das variáveis A, B, C ou D, pois neste método, as
variáveis com nível lógico 1 não recebem a barra.
Analisando o enlace verde, analise as seguintes modificações:
A: muda de 0 para 1;
B: se mantém em 1;
ELETRÔNICA DIGITAL
88

C: se mantém em 1;
D: muda de 1 para 0.
Como somente as variáveis B e C se mantém, a expressão resultante deste enlace será .Multipli-
cando as expressões dos dois enlaces, tem-se a seguinte expressão final:

Nesta seção, você aprendeu a otimizar os circuitos combinacionais por uma técnica chamada Mapa de
Karnaugh. O resultado final da função lógica da saída do circuito combinacional será dada em termos de
variáveis isoladas (OR, AND ou NOT). Através desta função simplificada, pode-se construir um circuito com
menor custo, menor número de portas lógicas e que realize a mesma função. A técnica de simplificação de
circuitos combinacionais por mapas de Karnaugh, quando utilizada de maneira correta, ou seja, quando os
enlaces são devidamente escolhidos, resulta na menor função lógica possível. Esta técnica evita a realização
de cálculos booleanos e simplificações através de postulados, propriedades e teoremas.
Até aqui, você aprendeu como projetar e simplificar diversos circuitos combinacionais. Os conceitos
foram de real importância para começar uma nova etapa no seu estudo. Agora, você conhecerá algumas
funções lógicas específicas, que podem ser integradas e combinados com diversos circuitos.

2.6 CIRCUITOS INTEGRADOS DE FUNÇÕES LÓGICAS COMBINACIONAIS

Nesta seção, você irá constatar que existem funções lógicas com capacidade de executar mais do que
as operações AND, OR, NOT etc. Além disso, descobrirá que há circuitos capazes de realizar a soma e a sub-
tração de valores binários com equivalente decimal.
Aqui, você irá aprender que as informações binárias, além de ser tratadas, deslocadas e organizadas,
podem ser realizadas pelos circuitos (codificadores, decodificadores, multiplexadores e demultiplexadores)
a ser implementados com portas lógicas. Como estas funções, são muito utilizadas e aplicadas em circuitos
digitais, existem circuitos integrados prontos que as realizam sem a necessidade de construí-las com o uso
de portas lógicas.

2.6.1 SOMADORES

Como o próprio nome aponta, o circuito somador é um circuito digital capaz de somar números
binários. Sabe-se, por exemplo, que em uma calculadora são digitados valores decimais, mas neste caso o
circuito somador irá realizar a sua função com informações em binário, logo, realizará uma soma binária.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
89

Aqui você irá entender como a calculadora realiza esta função. Antes de aprender sobre os circuitos
somadores nada melhor do que conhecer como funciona realmente a adição no sistema binário.

Um circuito somador não é uma porta OR. Um circuito somador adiciona duas
FIQUE informações binárias, ou seja, soma um número binário com mais de 1 algarismo. Já a
ALERTA função OR soma apenas bits individualmente, o que a torna incapaz de somar grandes
valores binários.

Suponha que você queira somar dois números A e B. Esta soma é regida através da seguinte tabela.

A B S CO
0 0 0 0
0 1 1 0
1 0 1 0
1 1 0 1
Tabela 37 - Soma binária
Fonte: SENAI (2016)

Neste caso, S é o valor do resultado e, para analisar a tabela de soma, considere as seguintes possibilidades:
0+0=0
0+1=1
1+0=1
1+1=0
Na soma 1 + 1, o resultado é zero, porém sobra um número reserva proveniente desta conta chamado
de carry-out. Como você sabe, 1 + 1 = 2. Veja se existe uma equivalência desta soma decimal com a soma
binária seguinte:

1
N decimal
0 1 Um
+ 0 1 Um
1 0 Dois

Para compreender melhor a soma binária, serão apresentados alguns exemplos.


ELETRÔNICA DIGITAL
90

Exemplo 1 – Some 3 + 2 em binário


Inicialmente, converta os números decimais 3 e 4 em números binários. Depois disso, aplique o conceito
de soma binária. Desta maneira, tem-se:

1
N decimal
0 1 1 Três
+ 0 1 0 Dois
1 0 1 Cinco

Exemplo 2 – Some 7 + 1 em binário


Utilizando a mesma técnica do exemplo 1, tem-se:

1 1 1
N decimal
0 1 1 1 Sete
+ 0 0 0 1 Um
1 0 0 0 Oito

Exemplo 3 – Some 10 + 4 em binário


Seguindo o mesmo processo utilizado nos exemplos anteriores, esta soma pode ser dada da seguinte
forma:

N decimal
1 0 1 0 Dez
+ 0 1 0 0 Quatro
1 1 1 0 Quatorze

Exemplo 4 – Some 15 + 2 em binário


Através da mesma técnica, o resultado deste exemplo pode ser expresso conforme segue:

1 1 1
N decimal
0 1 1 1 1 Quinze
+ 0 0 0 1 0 Dois
1 0 0 0 1 Dezessete
2 LÓGICA COMBINACIONAL
91

Observe neste caso que foi inserido mais um bit à esquerda do número 15. Mesmo o número 15
precisando de apenas 4 bits para sua representação, um bit a mais foi inserido para que o resultado 17
pudesse ser apresentado. Com base nisso, é importante conhecer a soma antes da representação dos
números binários, ou seja, deve-se ter uma ideia clara de quantos bits são necessários para a demonstração
do resultado.

Exemplo 5 – Some 15 + 2 em binário com apenas 4 bits de entrada


Como visto no exemplo 4, é necessário conhecer os possíveis resultados da soma para representar os
números com uma quantidade de bits adequada. A mesma conta realizada no exemplo 4 pode ser utilizada
com um bit de entrada a menos. Observe o cálculo a seguir.

1 1 1
N decimal
1 1 1 1 Quinze
+ 0 0 1 0 Dois
0 0 0 1 Dezessete

Observe que os dados de entrada da soma são representados por 4 bits. O número 15 e o número 2 são
representados por apenas 4 bits. Para representar o número 17, pode-se utilizar os quatro bits disponíveis
na saída mais um bit disponível para fazer a soma de vai-um (carry-out). Neste exemplo, essa consideração
pode ser utilizada se o resultado da soma não ultrapassar o valor binário 111112.
As funções de soma e subtração de números binários fazem parte de um bloco funcional chamado
Unidade Lógica Aritmética (ULA), que é um circuito digital dedicado a realizar funções aritméticas presentes
em calculadoras, computadores e microcontroladores.
Após entender como é realizada a soma binária, está na hora de aprender quais são os circuitos que
realizam a função de soma para números binários. Inicialmente, você conhecerá o circuito meio somador,
depois o circuito somador completo e, por fim, compreenderá a associação de circuitos somadores.

CIRCUITO MEIO SOMADOR


O circuito meio somador é utilizado para realizar somas simples, ou seja, adição entre duas variáveis (A
e B), em que o circuito possui duas entradas e duas saídas. As saídas do sistema são a saída S e a saída CO
(carry-out).
Ao analisar a tabela-verdade do circuito meio somador vista nesta seção, pode-se extrair a função lógica
equivalente. Utilizando a análise de circuitos combinacionais, tem-se que as saídas do sistema são dadas
por:
ELETRÔNICA DIGITAL
92

Por mais que o circuito somador tenha esse nome, ele não realiza a função OR, ou seja, não realiza a
função (+) como apresentado no estudo de portas lógicas. O circuito meio somador realiza a função XOR
para a saída S e, além disso, desempenha a função AND para a saída CO. A tabela-verdade deste circuito é:

A B S CO
0 0 0 0
0 1 1 0
1 0 1 0
1 1 0 1
Tabela 38 - Tabela-verdade circuito meio somador
Fonte: SENAI (2016)

A representação deste circuito somador é dada pelo seguinte circuito com portas lógicas:

A
S
B
Paco Giordani Mora (2016)

CO

Figura 40 - Circuito meio somador utilizando portas lógicas


Fonte: SENAI (2016)

Como este é um circuito muito utilizado em aplicações voltadas à eletrônica digital, existe um circuito
integrado dedicado a realizar esta função. Depois de entendido o funcionamento do circuito meio somador,
não é necessário representá-lo com o uso de portas lógicas. Ao invés disso, pode-se utilizar um retângulo
contendo as informações de entrada e saída do circuito. Essa representação é conhecida como diagrama
de bloco.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
93

A figura, a seguir, apresenta o diagrama de bloco do circuito meio somador.

A S
Meio
Somador

Paco Giordani Mora (2016)


B CO

Figura 41 - Bloco do circuito meio somador


Fonte: SENAI (2016)

Além do circuito meio somador, existe ainda o circuito somador completo, também conhecido como
Full Adder, que será explicado a seguir.

CIRCUITO SOMADOR COMPLETO (FULL ADDER)


O circuito somador completo tem a mesma função do meio somador. A grande diferença deste somador
é seu número de entradas. Ao invés de 2 entradas, o circuito somador apresenta 3 entradas digitais: A, B e Ci
(carry-in). A entrada carry-in é utilizada quando colocados vários circuitos somadores em cascata. A ligação
cascata é a interligação entre diversos circuitos nos quais o sinal de saída de um circuito irá alimentar o sinal
de entrada do próximo, portanto, um circuito está conectado de maneira dependente do outro. Quando
são utilizados vários somadores em um determinado circuito, o sinal carry-out do primeiro somador será
conectado no sinal carry-in do próximo somador, ou seja, este sinal deverá ser levado em consideração na
soma. Além disso, quando os somadores são conectados em cascata, o Ci do primeiro somador é aterrado.
O diagrama de blocos do circuito somador completo pode ser visualizado na figura, a seguir.

A S
Somador
Completo
Ci
Paco Giordani Mora (2016)

B CO

Figura 42 - Bloco do somador completo


Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
94

Considerando Ci como uma entrada, sua tabela-verdade terá 8 possibilidades. A tabela-verdade do Cir-
cuito Full Adder é:

A B Ci S CO
0 0 0 0 0
0 0 1 1 0
0 1 0 1 0
0 1 1 0 1
1 0 0 1 0
1 0 1 0 1
1 1 0 0 1
1 1 1 1 1
Tabela 39 - Tabela-verdade do circuito somador completo
Fonte: SENAI (2016)

Utilizando as técnicas de análise de circuitos combinacionais, verifica-se que a saída S tem a seguinte
expressão:

Esta expressão pode ser simplificada, reduzindo o circuito para apenas duas portas lógicas XOR.

Utilizando as técnicas de análise de circuitos combinacionais e realizando as simplificações necessárias,


observa-se que a saída CO tem a seguinte expressão:
2 LÓGICA COMBINACIONAL
95

Convertendo as expressões de saída deste somador, pode-se encontrar o seguinte circuitos com portas
lógicas:

A B Ci

Paco Giordani Mora (2016)


CO

Figura 43 - Circuito somador completo com portas lógicas


Fonte: SENAI (2016)

Considera-se que cada somador completo é capaz de enviar e receber um sinal auxiliar para a soma
e estes somadores podem ser interligados em cascata, possibilitando uma soma maior de bits. Leia o
exemplo a seguir.

Exemplo - Somadores em cascata


Ao realizar a soma 9 + 2, você deve ter 4 bits para representar cada número. O número nove é representado
pelo número binário 10012 enquanto que o número 2 é representado pelo número binário 00102. Como
cada número possui uma representação de 4 bits, serão necessários 4 somadores.
ELETRÔNICA DIGITAL
96

A conexão dos somadores é dada da seguinte forma:

A3
A2
A1
A0
B3
B2
B1
B0

Ci Ci Ci
3 2 1
A B Ci A B Ci A B Ci A B Ci

Somador Somador Somador Somador


Completo Completo Completo Completo

Paco Giordani Mora (2016)


CO S CO S CO S CO S

CO S3 CO S2 CO S1 CO S0
3 2 1 0

Figura 44 - Somadores em cascata


Fonte: Lourenço et al. (2007)

A partir da figura anterior, torna-se possível observar que a saída carry-out irá influenciar no resultado
do somador completo seguinte. O primeiro somador terá as variáveis de entrada A0, B0, e Ci0 e as variáveis
de saída CO0 e S0. O segundo somador terá as variáveis de entrada A1, B1, e Ci1 e as variáveis de saída CO1 e S1.
O terceiro somador terá as variáveis de entrada A2, B2, e Ci2 e as variáveis de saída CO2 e S2. O quarto somador
terá as variáveis de entrada A3, B3, e Ci3 e as variáveis de saída CO3 e S3. De maneira geral, os somadores em
cascata irão realizar a seguinte função.

CO3 CO2 CO1 CO0


A3 A2 A1 A0
+ B3 B2 B1 B0
S3 S2 S1 S0

Com base no que foi apresentado e no exemplo que está sendo discutido, a soma 9 + 2 = 11 será dada
da seguinte forma:

0 0 0 0
+ 1 0 0 1
0 0 1 0
1 0 1 1
2 LÓGICA COMBINACIONAL
97

Se fossem posicionados mais somadores em cascata, por exemplo, cinco somadores, o circuito seria
capaz de realizar somas maiores.

CO4 CO3 CO2 CO1 CO0


A4 A3 A2 A1 A0
+ B4 B3 B2 B1 B0
S4 S3 S2 S1 S0

Desta maneira, poderiam ser somados números como 21 e 17. O número 21 pode ser representado pelo
número 10101, enquanto que o número 17 é representado por 10001. Veja a soma a seguir.

1 0 0 0 1
1 0 1 0 1
+ 1 0 0 0 1
1 0 0 1 1 0

A soma entre os números 21 e 17 é 38. O número 38 é dado pelo número 100110. Observe que a soma
dos dois números gerou um acréscimo de um novo bit. Os números 17 e 21 podem ser representados por
apenas 5 bits, enquanto que o número 38 necessita de 6 bits para a sua representação. Este acréscimo de
um bit é dado pela saída CO4.
O mesmo acontece quando são somados os números 7 e 4, que, para representá-los, são necessários
apenas 3 bits. Sabe-se que o resultado de 7 + 4 é 11, mas o número 11 precisa de 4 bits para sua representação.
Neste caso, basta utilizar o bit C02 como o mais significativo.

1 0 0
1 1 1 (7)
+ 1 0 0 (4)
1 0 1 1 (11)

Observe que, nos exemplos apresentados, o último bit de carry-out foi utilizado para auxiliar na
representação do número binário. Este tipo de abordagem pode ser utilizado sempre que conhecido o
valor máximo de saída da soma.
A quantidade de bits utilizadas nos exemplos possui uma limitação quanto à representação de números.
Quanto maior for a quantidade de bits, maior será o número decimal representado nesta soma. Para uma
abordagem educacional, são mostrados somadores com 4 a 5 algarismos por número binário, porém em
aplicações técnicas, os somadores podem realizar operações acima de 64 bits.
ELETRÔNICA DIGITAL
98

O estudo dos circuitos somadores é de grande importância para sistemas computacionais. Como dito
anteriormente, os somadores são utilizados desde pequenas calculadoras até computadores de última
geração. Torna-se importante salientar que nesta seção foi abordado o circuito somador para valores
inteiros positivos maiores ou iguais a zero. Isto quer dizer que os circuitos presentes em calculadoras e
computadores possuem uma complexidade maior, visto que estes equipamentos possuem a capacidade de
processar números racionais negativos, realizar operações como funções mais complexas da trigonometria
etc. Este livro tem como intuito estudar as duas operações simples e com uma pequena quantidade de bits.
Agora que você conhece como um número binário é somado por um circuito digital, estudará alguns
conceitos relacionados aos circuitos subtratores.

2.6.2 SUBTRATORES

Os circuitos subtratores são circuitos digitais capazes de realizar uma subtração entre números binários.
Inicialmente, para entender a lógica dos circuitos subtratores, deve-se entender como funciona a subtração
binária.
Para entender a subtração, é necessário saber como são representados os números negativos. Se existe
a subtração 1 – 3, o resultado desta operação é – 2. Como será representado este sinal negativo?
Na prática, você sabe que um sinal negativo é (representado pelo símbolo “-“) comumente chamado de
sinal de menos. Um número positivo é dado pelo símbolo “+”, comumente chamado por sinal de mais. Os
números positivos também podem ser representados pelos números sozinhos, sem o uso de sinal algum.
Os circuitos somadores e subtratores são dedicados a aplicações utilizadas em microcontoladores. Como
microcontroladores não são capazes de ler símbolos, deve-se pensar um modo de representar o símbolo
positivo e o negativo na realização de uma subtração.
Salienta-se que, para a representação de um número decimal, são utilizados alguns bits. Partindo deste
mesmo raciocínio, também deve ser dedicado um único bit para a representação do sinal deste número,
podendo ser um sinal positivo ou negativo. Por exemplo, para a representação do número decimal 7, são
necessários 3 bits. Para que este número tenha um sinal, será adicionado mais um bit à esquerda deste
número binário. Veja a indicação a seguir.

X 1 1 1
Sinal Número

O número X indicado pode ter os valores 0 ou 1. Quando a variável X for igual a zero, significa que o
número é positivo. Se a variável X for igual a 1, significa que o número é negativo.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
99

Seguindo este tipo de raciocínio, veja alguns tipos de exemplos de números positivos e negativos com
apenas 3 bits.

REPRESENTAÇÃO DO NÚMERO EM
BIT DO SINAL NÚMERO DECIMAL
BINÁRIO (3 BITS)
0 0 0 1 1
1 0 1 0 -2
0 1 0 0 4
1 0 1 1 -3
0 1 1 0 6
1 1 0 1 -5
0 1 1 1 7
1 1 1 1 -7
Tabela 40 - Exemplo de números binários positivos e negativos
Fonte: SENAI (2016)

Na matemática, uma subtração pode ser interpretada como a soma de um número com um número
negativo. Considere que, para realizar a subtração entre os números positivos 5 e 3, basta transformar
o número 3 em um número negativo e realizar a soma dos números 5 e -3. Matematicamente, pode-se
provar esta afirmação com a seguinte análise:

5 - 3 = 5 + (-3)

Observe que as expressões são equivalentes, chegando ao mesmo resultado.


Mas, para poder realizar essa operação de maneira binária não é tão simples assim. Para subtrair dois
números, é necessário conhecer dois conceitos chamados complemento de um e complemento de
dois, que são utilizados para a realização da subtração binária. O complemento de um é quando todos os
algarismos de um número binário são invertidos. Leia o exemplo a seguir.

Exemplo 1 – Números em complemento de 1


Indique a representação do algarismo 3 em complemento de 1:
a) número 3 em binário: 011;
b) número 3 em binário complemento de 1: 100.
ELETRÔNICA DIGITAL
100

A tabela seguinte mostra uma série de números e sua representação no complemento de um.

NÚMERO DECIMAL NÚMERO BINÁRIO COMPLEMENTO DE UM


5 101 010
7 111 000
13 1101 0010
10 1010 0101
Tabela 41 - Exemplos de números representados em complemento de um
Fonte: SENAI (2016)

Já o complemento de dois é uma técnica posterior ao complemento de um. Depois de inverter os


números binários de zero para um e de um para zero, deve-se somar o número 1 e este será o complemento
de dois. A técnica possibilita uma nova representação de números negativos. Veja os exemplos a seguir.

Exemplo 2 – Escreva o número -4 em complemento de dois

Número binário (+) 1 0 0


Complemento de um 0 1 1

Para escrever o número em complemento de dois, some o valor 1 no número em complemento de dois.

1
0 1 1 Complemento de um
+ 1 Soma 1
1 0 0 Complemento de 2

Para fixar bem este conceito, veja um outro exemplo.


2 LÓGICA COMBINACIONAL
101

Exemplo 3 – Escreva o número 10 em complemento de dois

Número binário (+) 1 0 1 0


Complemento de um 0 1 0 1

Para escrever o número em complemento de dois, some o valor 1 no número em complemento de dois.

0 0 1
0 1 0 1 Complemento de um
+ 0 0 0 1 Soma 1
0 1 1 0 Complemento de 2

Agora que você conhece o significado do complemento de 2, será apresentada a técnica de subtração.
Para realizar a subtração de dois números, basta realizar a soma do primeiro número com a representação
do complemento de dois do segundo número. Veja o exemplo a seguir.

Exemplo 4 – Realize a subtração entre os números 7 e 4


Para realizar a subtração 7 - 4, basta somar 7 + (-4). O único detalhe desta operação é que o número -4
deve estar representado em complemento de dois. Como visto no exemplo 1, o complemento de dois do
número -4 é dado por 01002. Somando os números binários equivalentes, tem-se:

1
1 1 1 (7)
+ 1 0 0 (- 4, em complemento de dois)
0 1 1 (3)
7–4=3

Recordando que o complemento de 2 do número 4 se faz da seguinte forma:


1 0 0 (Número 4 em binário)
0 1 1 (troca os zeros e uns – complemento de 1)
1 0 0 (Soma o valor 1 ao complemento correspondente do complemento de 1 – 0 1 1)
Desta maneira, o complemento de 2 do número 1 0 0 é exatamente 1 0 0, ou seja, o número -4 pode ser
representado por 1 0 0.
ELETRÔNICA DIGITAL
102

Exemplo 5 – Calcule o resultado da expressão 15 - 10


Como visto no exemplo 2, a representação do número -10 em complemento de dois é igual a 01102. O
valor 15 é representado em binário pelo número 11112. Realizando a soma dos dois números em binários,
tem-se:

1 1 1
1 1 1 1 (15)
+ 0 1 1 0 (- 10, em complemento de dois)
0 1 0 1 (5)
15 – 10 = 5

Exemplo 6 – Calcule o resultado da expressão 17 - 10


Como visto em exemplos anteriores, a representação do número -10 em complemento de dois é igual
a 101102. O valor 17 é representado em binário pelo número 100012. Realizando a soma dos dois números
em binários, tem-se:

1
1 0 0 0 1 (17)
+ 1 0 1 1 0 (- 10, em complemento de dois)
0 0 1 1 1 (7)

Desta maneira, a soma dos valores 17 e -10 equivale à subtração 17 - 10, cujo resultado é o valor 7.
Repare nos exemplos que o último bit de vai-um foi descartado. Ainda que este bit tenha nível lógico 1, seu
estado não é considerado, mesmo para o sinal do número (positivo ou negativo). Até aqui, os exemplos
mostrados possuíram um resultado positivo. O próximo exemplo trará uma subtração entre dois números
binários em que resultado é negativo.

Exemplo 7 – Calcule o resultado da expressão 5 - 7


A representação do número -7 em complemento de dois é igual a 0012. O valor 5 é representado em
binário pelo número 1012. Realizando a soma dos dois números em binários, tem-se:

1
1 0 1 (5)
+ 0 0 1 (- 7, em complemento de dois)
1 1 0 (-2)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
103

A subtração desta expressão tem como resultado o valor -2, pois 5 – 7 = -2. Observe que o número -2
está representado pelo número 1102. O número 1102 é a representação do número -2 em complemento
de dois.

Exemplo 8 – Calcule o resultado da expressão 10 - 15


A representação do número -15 em complemento de dois é igual a 00012. O valor 10 é apresentado em
binário pelo número 11002. Realizando a soma dos dois números em binários, tem-se:

1 1 0 0 (10)
+ 0 0 0 1 (- 15, em complemento de dois)
1 1 0 1 (-5)

O resultado desta expressão tem valor -5. O número 11012 é a representação do número -5 em
complemento de dois. Diante desses exemplos, fica evidente que a técnica utilizada para gerar o
complemento de dois nos números é essencial para calcular expressões de subtração. Nos exemplos 6 e 7,
mostrou-se que a subtração pode representar números binários positivos e negativos.
O estudo das subtrações é tão importante quanto os relacionados aos somadores, pois suas aplicações
estão diretamente conectadas.

CIRCUITO MEIO SUBTRATOR (HALF SUBTRACTOR)


O circuito meio subtrator é dedicado a realizar uma subtração entre dois bits. Este circuito possui duas
entradas (os bits A e B) e também duas saídas (S e BO).
O circuito meio subtrator pode ser visualizado através da seguinte figura.

A S
Meio
Subtrator
Paco Giordani Mora (2016)

B BO

Figura 45 - Circuito meio somador


Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
104

O sinal de saída borrow-out (BO) corresponde ao sinal vem-um ou valor emprestado na subtração. Esta
saída é acionada quando o valor de B é maior que o valor de A, pois neste caso não há como subtrair 0 – 1.
Veja a tabela-verdade deste circuito.

A B S B0
0 0 0 0
0 1 1 1
1 0 1 0
1 1 0 0
Tabela 42 - Tabela-verdade do circuito meio subtrator
Fonte: SENAI (2016)

Da tabela-verdade, pôde-se obter as funções lógicas deste circuito. As funções lógicas são dadas por:

Desta maneira, pode-se encontrar o circuito lógico do meio subtrator.

A
S
B
Paco Giordani Mora (2016)

BO

Figura 46 - Circuito meio subtrator com portas lógicas


Fonte: SENAI (2016)

O circuito meio subtrator, de certa maneira, é um circuito limitado, pois efetua a subtração de bit a
bit. Quando é realizada a subtração entre mais bits, algumas informações são muito importantes para a
elaboração deste cálculo. A saída B0 deve ser utilizada como informação de entrada de um outro subtrator
quando conectado a um sistema de subtratores em cascata. O sistema em cascata permite que o número
de bits de cada número binário seja maior.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
105

O circuito meio subtrator possui apenas duas informações de entrada, portanto este não é um circuito
muito indicado em sistemas em cascata. O mais indicado para realizar a subtração de números binários
com vários bits é o circuito subtrator completo.

CIRCUITO SUBTRATOR COMPLETO (FULL SUBTRACTOR)


O circuito subtrator completo, também chamado de full subtractor, possui três entradas e duas saídas.
As saídas são dadas pelas variáveis S e BO, enquanto que as entradas são dadas pelas variáveis A, B e Bi. A
variável Bi é conhecida como borrow-in. A variável borrow-in (pode ser interpretada como emprestar na
entrada) é utilizada em subtrações com sistemas de subtratores em cascata, pois o sinal borrow-in de um
subtrator irá receber o sinal borrow-out de um outro subtrator anterior.
Este circuito pode ser representado pela seguinte figura.

A S
Subtrator
Completo
Bi
Paco Giordani Mora (2016)

B BO

Figura 47 - Circuito subtrator completo


Fonte: SENAI (2016)

O circuito subtrator completo tem suas expressões de saída dadas por:

Para realizar uma subtração de números que necessitem de mais bits, é necessário realizar um sistema
em cascata com vários subtratores completos e, se o sistema tiver 3 subtratores, significa que os números
presentes nesta operação terão 3 bits. O número de bits irá definir o máximo valor representado. Caso o
número B seja maior que A, indica que o resultado desta operação é negativo, ou seja, deve-se representar
este sinal.
ELETRÔNICA DIGITAL
106

Observe, na figura, a seguir, a representação um sistema com 4 subtratores completos em cascata.

A3
A2
A1
A0
B3
B2
B1
B0

Bi Bi Bi
3 2 1
A B Bi A B Bi A B Bi A B Bi

Subtrator Subtrator Subtrator Meio


Completo Completo Completo Completo

Paco Giordani Mora (2016)


BO S BO S BO S BO S

BO S3 BO S2 BO S1 SO S0
3 2 1 1

Figura 48 - Quatro subtratores completos em cascata


Fonte: Lourenço et al. (2007)

O subtrator em cascata mostra apenas 4 bits, ou seja, pode realizar subtração com números de 4 bits
sem considerar o sinal negativo. Usualmente, os subtratores aplicados em áreas técnicas possuem uma
quantidade de bits muito maior e isso acontece, porque a representação dos números é muito complexa. Os
números presentes em calculadoras, por exemplo, devem possuir uma quantidade de bits para armazenar
o sinal (positivo ou negativo), o módulo, a parte decimal após a vírgula etc. Normalmente, as calculadoras
simples podem realizar operações de subtração com mais de 64 bits e isto exige que os circuitos que
realizem estas operações possuam mais de 64 subtratores.
Nesta seção, você aprendeu como realizar digitalmente duas operações matemáticas muito
importantes: a soma e a subtração. Assim, em virtude de que, às vezes, as informações não surgem de
maneira padronizada, quer dizer, elas são apresentadas de maneira codificada, serão apresentados, nas
seções seguintes, os codificadores e os decodificadores.

2.6.3 CODIFICADORES

Codificadores também são circuitos digitais que podem ser implementados com portas lógicas e sua
função principal é transformar uma informação em um código correspondente.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
107

A atuação de um codificador segue o fluxograma apresentado na próxima figura.

Paco Giordani Mora (2016)


Dados de
Codificador Código binário
uma aplicação

Figura 49 - Fluxograma de funcionamento de um codificador


Fonte: Adaptado de Lourenço et al. (2007)

Os códigos BCD e tabela ASCII são exemplos de códigos utilizados em sistemas digitais. Assim, para
que uma informação seja codificada, é necessário o uso de um codificador, que recebe uma informação
qualquer dada em binário, por exemplo, um conjunto de bits. Neste caso, o codificador terá a função de
traduzir este conjunto de bits para o código binário conhecido nas tabelas-verdade. A fim de entender bem
o conceito do codificador, acompanhe o exemplo a seguir.

Exemplo 1 – Chaves independentes


Imagine que em um sistema digital existem 3 botões. Mas, se nenhum deles estiver acionado, o
codificador deve gerar o sinal 002 em binário. No entanto, no caso do botão 1 aparecer acionado, o
codificador deve gerar o sinal 012; se o botão 2 for selecionado, o codificador deve gerar o sinal 102, e
o botão 3 acionado significa que o codificador deve produzir o sinal 112. Na tabela, a seguir, observe as
possíveis entradas e saídas, e considere os botões representados pelas variáveis (B1, B2 e B3), enquanto
que o codificador gera duas saídas S1 e S2.

B1 B2 B3 S1 S2
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
0 1 0 1 0
0 0 1 1 1
Tabela 43 - Tabela de um codificador de chaves independentes
Fonte: SENAI (2016)

Um circuito digital com 3 entradas deveria possuir 8 possibilidades, no entanto, neste exemplo,
apenas um botão é acionado de cada vez e nunca é acionado mais de um botão simultaneamente. Deste
modo, a análise desta tabela é mais fácil do que a estudada anteriormente. Perceba que, para encontrar a
função lógica de cada saída deste circuito, basta observar para quais sinais S1 e S2 são verdadeiros. Logo,
considere, S1 como verdadeiro quando B2 ou B3 são acionados, e S2 é verdadeiro quando B1ou B3
são acionados. Assim, pode-se dizer que:
S1 = B2 + B3
S2 = B1 + B3
ELETRÔNICA DIGITAL
108

Uma vez encontradas as funções lógicas de S1 e S2, basta montar o circuito com portas lógicas, conforme
segue:

B1 B2 B3

S1

Paco Giordani Mora (2016)


S2
Figura 50 - Exemplo de circuito codificador com portas lógicas
Fonte: SENAI (2016)

Pelo exemplo exposto, fica claro que um circuito codificador busca estados de entrada e os transforma
no código binário padrão conhecido. Este circuito, com apenas duas portas lógicas OR, pode ser
considerado como um circuito codificador devido ao estado presente em suas saídas. Pode-se dizer que
o estado presente nas chaves foi codificado para o código binário. Para ficar mais claro o estudo sobre os
codificadores, observe este outro exemplo.

Exemplo 2 –Identificação dos modos de operação


Imagine que uma determinada empresa possua uma máquina com 4 estados possíveis. Os estados
determinam os modos de operação da máquina que dependem do que ela está fazendo. Também, imagine
que a máquina possua um motor que atue em 4 velocidades diferentes. Quem comanda a velocidade
deste motor são 3 sensores (A, B e C) que, quando possuírem nível lógico 0, resultará no motor operando
em velocidade 0 rpm.
Mas, deve-se considerar: quando A = 1, B = 0 e C = 0, significará que o motor estará operando em 500
rpm; A = 1, B = 1 e C = 0, o motor está operando em 1000 rpm; e, quando A, B e C tem o nível lógico 1,
o motor está operando em 2000 rpm. Cada velocidade do motor pode ser encarada como um modo de
operação desta máquina. Desta maneira, pode-se montar a seguinte tabela para este exemplo.

SENSORES MODOS DE OPERAÇÃO


A B C Velocidade S1 S2
0 0 0 0 rpm 0 0
1 0 0 500 rpm 0 1
1 1 0 1000 rpm 1 0
1 1 1 2000 rpm 1 1
Tabela 44 - Codificação dos modos de operação de um motor
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
109

Observe que o estado dos níveis lógicos dos sensores (A, B e C) influenciam na velocidade considerada
como um modo de operação codificado em um código binário através das saídas S1 e S2. Leia-se que, para
0 rpm, o código de saída é 002; para 500 rpm, o código de saída é 012; para 1000 rpm, o código de saída
é 102; e, para 2000 rpm, o código de saída é 112. Neste exemplo, não são descritos outros valores para as
entradas (A, B e C), pois outros possíveis resultados não teriam aplicação física na velocidade do motor. É
como se outros valores de entrada não fossem possíveis.
Para implementar este codificador, deve-se utilizar duas portas lógicas: uma porta para a saída S1 e
outra para a saída S2. Na primeira situação, tem-se:

Utilizando os teoremas, postulados e propriedades, a saída S1 pode ser simplificada da seguinte maneira:

Para a saída S2:

Ainda sobre os teoremas, postulados e propriedades, a saída S2 deve ser apresentada conforme segue:

S2 = A · (B · C + B · C)
S2 = A · (B C)

Desta maneira, a saída S1 pode ser escrita como uma lógica AND entre as entradas A e B, enquanto que
a saída S2 pode ser representada por uma lógica XNOR entre B e C junto a uma lógica AND com a entrada A.
Assim como há a etapa de codificação, existem os circuitos que realizam uma operação de decodificação
de acordo com o que você irá conhecer na sequência.
ELETRÔNICA DIGITAL
110

2.6.4 DECODIFICADORES

Os decodificadores são circuitos muito parecidos com os codificadores. A grande diferença entre ambos
é que as entradas de um codificador não são necessariamente um código binário, mas sim, uma informação
binária dentro de uma determinada aplicação, por exemplo, chaves individuais ou sinais de sensores que
atuam de forma independente de um código binário padronizado. No entanto, um circuito decodificador
possui código binário de entrada e irá convertê-lo em um código binário de saída.
A figura, a seguir, demonstra um diagrama geral dos circuitos decodificadores.

Paco Giordani Mora (2016)


Código binário Decodificador Código binário
de saída

Figura 51 - Funcionamento geral de um decodificador


Fonte: Adaptado de Lourenço et al. (2007)

Os decodificadores relacionam códigos binários padronizados. Um exemplo muito aplicado na indústria


é o uso de decodificadores para displays (significa mostradores) de sete segmentos de acordo com a figura
na sequência.
Paco Giordani Mora (2016)

Figura 52 - Display de 7 segmentos


Fonte: SENAI (2016)

Este display é constituído de sete LEDs para a representação de números de 0 a 9. Por isso, é chamado de
display de sete segmentos, sendo encontrado em diversos equipamentos, como, inversores de frequência,
controladores de temperatura, medidores de velocidade, relógios, cronômetros, aparelhos de micro-
ondas, marcadores de pontos para esportes, balanças digitais etc. Existe também um oitavo LED utilizado
para acionar um ponto ao lado do número.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
111

No intuito de acionar este display (Display de 7 segmentos), é necessário compreender sua estrutura.
Assim como os LEDs, os displays também possuem polaridade e, para isso, é necessário observar no
datasheet com componente qual a ligação correta dos pinos positivos e negativos. Essa ligação pode
mudar se o componente for do tipo catodo comum ou ânodo comum.
Como cada segmento é também um LED, é necessário que estes sejam identificados.
A figura, a seguir, mostra a disposição dos LEDs e a pinagem (ou posição) correspondente para cada tipo
de display (catodo ou ânodo comum).

Catodo Anodo
comum comum
g f Gnd a b g f Vcc a b

a a

f b f b

g g

e c e c

d d Paco Giordani Mora (2016)

e d Gnd c dp e d Vcc c dp
Figura 53 - Pinagem dos dois tipos de displays de 7 segmentos
Fonte: SENAI (2016)

Os displays do tipo catodo comum irá alimentar cada LED com sinal positivo, o sinal comum ou GND
será conectado no comum da alimentação com potencial 0. No caso do display do tipo ânodo comum, o
sinal comum é positivo (VCC) e os segmentos dos LEDs serão conectados aos terminais de potencial 0. Os
LEDs são nomeados da seguinte forma: a, b, c, d, e, f, g e dp.

É importante recordar que os LEDs são elementos que conduzem eletricidade e,


FIQUE portanto, sua corrente deve ser limitada para que o componente não queime ou seja
ALERTA danificado. Para limitar a corrente, é necessário o uso de resistores que podem ser
conectados em cada LED individualmente.

Observando a figura do display fica claro que para representar o número 0 é necessário que os LEDs (a,
b, c, d, e e f ) estejam ligados. Para formar o número 1, é necessário que apenas os LEDs b e c estejam ligados
e, para facilitar esta análise, considere que os LEDs ligados recebem o valor lógico 1 e quando desligados
recebem o valor lógico 0.
ELETRÔNICA DIGITAL
112

Seguindo esta linha de raciocínio, analise a tabela a seguir.

NÚMERO NÚMERO
a b c d e f g
DECIMAL BINÁRIO
0 0000 1 1 1 1 1 1 0
1 0001 0 1 1 0 0 0 0
2 0010 1 1 0 1 1 0 1
3 0011 1 1 1 1 0 0 1
4 0100 0 1 1 0 0 1 1
5 0101 1 0 1 1 0 1 1
6 0110 1 0 1 1 1 1 1
7 0111 1 1 1 0 0 0 0
8 1000 1 1 1 1 1 1 1
9 1001 1 1 1 1 0 1 1
Tabela 45 - Funcionamento do display de 7 segmentos
Fonte: SENAI (2016)

Torna-se importante notar que na tabela apresentada não foi utilizado o LED responsável pela
representação de um ponto.
Em circuitos digitais, o número é processado em linguagem binária, ou seja, um algarismo com 4 bits,
mas a representação do display requer 7 sinais. E, ao observar este sistema, fica claro que este circuito terá
4 entradas e 7 saídas. Por essa razão, o decodificador terá a função de transformar a informação do código
binário de entrada (números correspondentes em binário) em sinais para os LEDs correspondentes.
Realizando uma análise de simplificação de circuitos combinacionais por Mapas de Karnough, tem-se
o circuito decodificador para o display de 7 segmentos, que está representado pelo seguinte conjunto de
portas lógicas.

DCB A

e
Paco Giordani Mora (2016)

Figura 54 - Circuito decodificador utilizando portas lógicas


Fonte: Lourenço et al. (2007)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
113

Esta aplicação utilizando os decodificadores é tão comum em equipamentos industriais e dispositivos


que existem circuitos dedicados a esta aplicação. Um bom exemplo é o circuito integrado 4511, que possui
um decodificador para displays de 7 segmentos integrado. Neste caso, as portas lógicas estão presentes na
construção de seu circuito interno, o qual tem disponível os pinos de alimentação (VDD e VSS), os pinos de
saída (a a g), os pinos de entrada (A a D) e demais pinos para teste dos LEDs. A representação da pinagem
deste decodificador pode ser observada na figura, a seguir.

B 1 16 VDD
C 2 15 f
LT 3 14 g
BL 4 13 a
LE / STROBE 5 12 b

Paco Giordani Mora (2016)


D 6 11 c
A 7 10 d
VSS 8 9 e

Figura 55 - Circuito decodificador CD4511


Fonte: TEXAS INSTRUMENTS (2003)

Para que o decodificador funcione normalmente, é necessário realizar as ligações correspondentes a


cada pino no display, além de alimentar o circuito com tensões adequadas, conforme a folha de dados do
fabricante. A ligação dos pinos ao display pode ser realizada de acordo com o esquemático a seguir.

Catodo comum

a b c d e f g

Resistores

13 12 11 10 9 15 14
7
A
1 5
B
2 4511 8
C
6
D
3 4 16
0V

+ 5V

Figura 56 - Ligação do decodificador 4511 ao display de 7 segmentos


Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
114

Neste exemplo, você identificou como representar os números de 0 a 9 no decodificador, que os displays
de 7 segmentos também são capazes de representar algumas letras (A, B, C, D, E e F) e, para descrever estes
valores, deve inserir alguns dados de entrada que correspondam ao código de saída de cada letra. Para
entender melhor este conceito, veja o seguinte exemplo.

Exemplo – Decodificador para representação de letras em display de 7 segmentos


No caso de representar as letras A, B, C, D, E e F não será utilizado o mesmo código presente no código
hexadecimal, mas torna-se importante informar que os decodificadores podem traduzir um código
qualquer para outro código arbitrário. Neste caso, o código de entrada do codificador será dado através de
3 entradas digitais (X, Y e Z). O estado das entradas determinarão a letra que aparecerá no display, como
apresentado na tabela, a seguir.

X Y Z LETRA a b c d e f g
0 0 0 ‘0’ 1 1 1 1 1 1 0
0 0 1 A 1 1 1 0 1 1 1
0 1 0 B 0 0 1 1 1 1 1
0 1 1 C 1 0 0 1 1 1 0
1 0 0 D 0 1 1 1 1 0 1
1 0 1 E 1 0 0 1 1 1 1
1 1 0 F 1 0 0 0 1 1 1
1 1 1 ‘-‘ 0 0 0 0 0 0 1
Tabela 46 - Decodificador para a representação de letras em um display
Fonte: SENAI (2016)

Note, nesta tabela, que as entradas X, Y e Z decodificam o código binário em um código especial para o
display de 7 segmentos mostrar os algarismos A, B, C, D, E, e F. Repare que foram adicionados dois caracteres
especiais: o símbolo ‘0’ e o símbolo ‘-‘. Assim como exposto anteriormente, cada uma das saídas a, b, c, d, e,
f e g devem possuir um circuito combinacional antes de ser conectado no display. Partindo dessa premissa,
as expressões de cada saída podem ser dadas por:
2 LÓGICA COMBINACIONAL
115

Observe que todas estas equações ainda não foram simplificadas. Assim, utilizando qualquer técnica de
simplificação de circuitos combinacionais, você pode otimizar estas funções lógicas para os LEDs do display
de 7 segmentos.
O circuito decodificador da representação das letras não será demonstrado aqui, mas você pode tentar,
conforme já mencionado, implementar este circuito através de um software de simulação de circuitos
digitais online, como o 123d circuits da AutoDesk©. Este será um ótimo exercício para melhorar sua
experiência com o projeto de circuitos. Gostou do desafio? Então mãos à obra!
Certamente você já se deparou com um display de 7 segmentos em algum equipamento que você
tem em casa ou no trabalho, mas não fazia ideia que seu acionamento dependia de um circuito chamado
decodificador. Nesta seção, você viu que, além dos números decimais, o display de 7 segmentos também
representa algumas letras. Atualmente, existem displays especiais com mais segmentos, que são capazes
de mostrar todas as letras do alfabeto. A próxima seção irá apresentar dois novos circuitos combinacionais:
o multiplexador e o decodificador.

2.6.5 MULTIPLEXADORES

Os multiplexadores, também conhecidos como mux, são componentes amplamente utilizados em


circuitos embarcados e possuem uma importância relevante na otimização de projetos envolvendo a
eletrônica digital. Os multiplexadores são circuitos combinacionais que têm entradas e saídas digitais,
sendo que as entradas de um multiplexador podem ser conectadas à saída através de uma seleção.
O nome multiplexador vem da palavra multiplexação, que significa seleção (das entradas à saída),
realizada através de variáveis de seleção. Para compreender melhor a seleção dos multiplexadores, é
apresentado um diagrama de blocos deste circuito.

E0
Entradas Saída
MUX S
Paco Giordani Mora (2016)

E1 A

Seleção
Figura 57 - Multiplexador de dois canais
Fonte: SENAI (2016)

O multiplexador da figura apresenta apenas dois canais de entrada: E0 e E1. A variável de seleção (A)
pode assumir dois valores (0 ou 1). Quando a variável de seleção A for igual a zero, a saída S irá receber o
valor contido na entrada E0 e quando a variável A for igual a um, a saída S irá receber o valor contido na
entrada E1.
ELETRÔNICA DIGITAL
116

As possibilidades em relação ao número de entradas e saídas de multiplexador de dois canais pode ser
dada através da tabela, a seguir.

A S
0 E0
1 E1
Tabela 47 - Tabela-verdade do mux de dois canais
Fonte: SENAI (2016)

A tabela-verdade pode ser entendida de acordo com a seguinte expressão.

A expressão deve ser descrita através de portas lógicas, conforme a figura que segue.

E0

S
Ana Cristina de Borba (2016)

E1

Figura 58 - Multiplexador implementado com portas lógicas


Fonte: SENAI (2016)

É interessante notar que a seleção ocorre com o auxílio de portas lógicas do tipo AND. A variável A pode
impedir que o sinal de uma porta AND seja igual a 1. Observe que sempre existirá uma entrada seleciona-
da, ou seja, a saída S sempre irá receber o valor de algum canal de entrada. A porta lógica OR, neste circuito,
irá receber e direcionar o sinal para a saída S.

MULTIPLEXADORES COM MAIS CANAIS DE ENTRADA


A quantidade de canais nos multiplexadores pode variar de acordo com a necessidade de projeto e
existem multiplexadores de muitos canais de entrada. Como o número de canais aumenta, a variável de
seleção deve ser capaz de identificar todas as variáveis de entrada. Para um mux de 2 canais, basta apenas
uma variável de seleção. Já para multiplexadores com mais canais de entrada são necessárias variáveis
adicionais para realizar sua seleção.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
117

Assim, multiplexadores com 4 canais de entrada precisam de 2 canais de seleção, multiplexadores de 8


canais de entrada precisam de 3 canais de seleção e multiplexadores de 16 canais de entrada precisam de 4
canais de seleção. Isso acontece, porque os canais de seleção armazenam um valor binário correspondente
a um valor decimal. Veja o exemplo da tabela-verdade do multiplexador de 4 canais de entrada, em que os
canais de seleção são dados pelas variáveis A e B.

A B S
0 0 E0
0 1 E1
1 0 E2
1 1 E3
Tabela 48 - Tabela-verdade de um multiplexador de 4 canais de entrada
Fonte: SENAI (2016)

Conforme mencionado para um multiplexador de 8 canais de entrada, são necessárias 3 variáveis para
realizar a seleção. Neste exemplo, as variáveis A, B e C são responsáveis pela seleção. A tabela-verdade
deste multiplexador pode ser visualizada a seguir.

A B C S
0 0 0 E0
0 0 1 E1
0 1 0 E2
0 1 1 E3
1 0 0 E4
1 0 1 E5
1 1 0 E6
1 1 1 E7
Tabela 49 - A tabela-verdade de um mux de 8 canais de entrada
Fonte: SENAI (2016)

Os multiplexadores podem ser utilizados em circuitos digitais de aplicações como: redes industriais,
seleção de vários computadores no acionamento de uma impressora, circuitos geradores de função (formas
de onda), sequenciamento de operações pré-programadas, gerenciamento de memórias, dentre outros.
Como os multiplexadores apresentam uma série de aplicações, representam circuitos dedicados na forma
de circuitos integrados. Um circuito multiplexador muito utilizado é o circuito DM74150, que tem um total
de 24 pinos, incluindo 16 canais de entrada, 4 canais de seleção, pinos de alimentação e habilitação.
ELETRÔNICA DIGITAL
118

A pinagem deste CI pode ser encontrada na figura, a seguir.

DATA INPUTS DATA SELECT


VCC E8 E9 E10 E11 E12 E13 E14 E15 A B C
24 23 22 21 20 19 18 17 16 14 14 13

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
E7 E6 E5 E4 E3 E2 E1 E0 STROBE W D GND
OUT DATA
DATA INPUTS SELECT
Figura 59 - Pinagem do CI multiplexador DM74150
Fonte: NATIONAL (1989b)

Os multiplexadores são muito importantes para a transmissão de dados de maneira serial. Para fortalecer
estes conceitos, analise o seguinte exemplo.

Exemplo – Armazém eletrônico


Um armazém possui quatro diferentes prateleiras e todas possuem sensores que informam a presença
de um objeto, pois estão ligados aos canais de entrada de um multiplexador. Desta maneira, o sensor
da prateleira 1 está ligado na entrada E0, o sensor da prateleira 2 está ligado na entrada E1, o sensor da
prateleira 3 está ligado na entrada E2 e o sensor da prateleira 4 está ligado na entrada E3.
Suponha que o robô armazene algumas peças nestas prateleiras e em cada uma cabe apenas uma peça.
Então, o robô verifica o estado de cada prateleira pela saída S do multiplexador. E, para ter acesso ao estado
de cada prateleira, o robô utiliza os canais de seleção A e B deste multiplexador.
Caso a saída S esteja em nível lógico 1, significa que já existe uma peça naquela determinada prateleira.
Em uma situação rotineira, o robô verifica todas as condições possíveis das prateleiras antes de inserir uma
peça. Desta forma, tem-se os seguintes dados:

NÚMERO DA PRATELEIRA CANAL DE ENTRADA ESTADO STATUS


1 E0 1 Peça presente
2 E1 1 Peça presente
3 E2 1 Peça presente
4 E3 0 Peça ausente
Tabela 50 - Informações sobre a posição de peças em um armazém
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
119

De maneira geral, observa-se que a única prateleira que não possui uma peça é a posição 4 do armazém.
Neste caso, para que o robô saiba qual prateleira está disponível, ele irá consultar todos os canais de entrada
pela saída S do multiplexador. Desta maneira, o robô irá verificar os estados da saída S conforme a tabela
a seguir:

A B S
0 0 1
0 1 1
1 0 1
1 1 0
Tabela 51 - Saída do multiplexador do armazém
Fonte: SENAI (2016)

Neste exemplo, o robô irá inserir uma nova peça na prateleira 4, pois era a única posição do armazém
disponível. Sistemas como este são muito aplicados em processos de manufatura, em que o número de
entradas é muito grande em relação à capacidade de leitura de um determinado equipamento.
O exemplo mostrado, de certa forma, é simples, mas imagine um armazém com cerca 100 ou 1000
diferentes posições. Certamente o uso dos multiplexadores, nestes casos, torna o processo muito mais
eficiente e barato, visto que a comunicação é dada por apenas os canais de seleção e um único canal de
saída.
Os circuitos multiplexadores orientam um determinado número de entradas para uma única saída.
Há, também, um equipamento eletrônico chamado de demultiplexador, que faz a função inversa, ou seja,
orienta uma única entrada para diversas saídas. Acompanhe informações adicionais desse componente
eletrônico na próxima seção.

2.6.6 DEMULTIPLEXADORES

Também conhecido como demux, os demultiplexadores são circuitos combinacionais que realizam a
seleção de uma única entrada para diversas saídas. Os circuitos demultiplexadores são caracterizados por
possuir uma única entrada, canais de seleção e canais de saída. Também são circuitos que realizam uma
função semelhante aos multiplexadores, sendo que a diferença está no número de entrada e no número
de saídas.
ELETRÔNICA DIGITAL
120

O demux mais simples possui dois canais de saída, como pode ser visualizado na figura, a seguir.

S0
DEMUX

S1

Rosimeri Likes (2016)


A

Figura 60 - Demux de dois canais


Fonte: SENAI (2016)

Para o demux de dois canais de saída, a variável E é a única entrada do sistema, enquanto que os canais
S0 e S1 são as saídas. A variável A serve de parâmetro de seleção, portanto o funcionamento do demux de
dois canais pode ser visto na tabela-verdade, a seguir.

A S0 S1
0 E 0
1 0 E
Tabela 52 - Tabela-verdade de um demux de dois canais
Fonte: SENAI (2016)

Como o demux de dois canais possui duas saídas, em que cada saída terá sua função lógica
correspondente, que serão:
2 LÓGICA COMBINACIONAL
121

Desta forma, o circuito com portas lógicas proveniente do demux será dada conforme a figura a seguir.

S0

S1

Rosimeri Likes (2016)


Figura 61 - Demultiplexador implementado com portas lógicas
Fonte: SENAI (2016)

Observe que este é um circuito com duas saídas e sua seleção é implementada com o auxílio de portas
AND.

DEMULTIPLEXADORES COM MAIS DE 2 CANAIS


Além dos demux de 2 canais, existem demultiplexadores que possuem mais canais de saída, como 4, 8
e 16. Para que a entrada do circuito possa ser selecionada para cada saída, estes demultiplexadores devem
possuir um número de variáveis de seleção correspondente. O número de canais de saída em relação ao
número de variáveis de seleção é dado pela seguinte expressão:
y = 2x
onde:
y é o número de canais de saídas;
x é o número de variáveis de seleção.
Desta forma, um demux com uma única variável de seleção (x = 1) pode selecionar até dois canais de
saída (y = 2). Veja a tabela que compara o número de variáveis de seleção com os canais de saída.

CANAIS DE
SELEÇÃO (X)
SAÍDA (Y)
1 2
2 4
3 8
4 16
5 32
Tabela 53 - Relação seleção vs canais de saída
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
122

Os demultiplexadores podem ser conectados com outros demultiplexadores a fim de criar circuitos
maiores. Desta forma, pode-se utilizar 2 demux de 4 canais para formar um único demux de 8 canais. Os
demultiplexadores são circuitos que possuem uma infinidade de aplicações na indústria e são utilizados
em canais de comunicação de dados, otimização de circuitos, memórias etc. Como este tipo de circuito tem
uma vasta aplicação, existem CIs dedicados com a estrutura de um demultiplexador. Um bom exemplo é o
circuito integrado DM74154.

INPUTS OUTPUTS
VCC A B C D G2 G1 15 14 13 12 11
24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13

1 2 3 4

Rosimeri Likes (2016)


5 6 7 8 9 10 11 12
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 GND
OUTPUTS
Figura 62 - Demux 74154
Fonte: NATIONAL (1989a)

Este circuito integrado é um demultiplexador de 16 canais de saídas, portanto terá 4 pinos para realizar a
seleção destes sinais. Existem dois pinos para alimentação do circuito (VCC e GND), além de dois pinos para
habilitar e configurar as saídas (G1 e G2). No intuito de compreender bem o conceito, o funcionamento e
aplicação de um circuito demultiplexador, leia o exemplo a seguir.

Exemplo – Controle da vazão de água em um duto industrial


Uma central de abastecimento precisa controlar a vazão de água em um duto industrial. Neste processo,
a empresa conta com quatro motobombas que, consequentemente, estão conectadas em quatro canais
de saída de um demultiplexador. Para acionar o motor, o nível lógico de saída deve ser igual a 1.
A vazão do duto deve ser controlada de acordo com o consumo de água dos clientes desta central.
Conforme o consumo de água aumenta, as bombas devem ser capazes de manter o nível de vazão de água
a fim de não deixar nenhum cliente sem água.
De maneira geral, quando o consumo de água é baixo, apenas uma motobomba é capaz de controlar a
vazão de água. Já quando o consumo de água é médio, duas são necessárias. Quando o consumo de água
é alto, são necessárias três motobombas para controlar a vazão de água. As quatro só são utilizadas quando
o nível de água é crítico.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
123

A fim de realizar o acionamento destas bombas, um sistema automático configura os canais de entrada
do demultiplexador selecionando a bomba desejada. Diante do exposto, é verificado, na central de
abastecimento, que o consumo de água em uma determinada hora do dia está no nível alto. O sistema
automático irá configurar o demultiplexador conforme a sequência apresentada na tabela.

A B E S0 S1 S2 S3
0 0 1 1 0 0 0
0 1 1 0 1 0 0
1 0 1 0 0 1 0
1 1 0 0 0 0 0
Tabela 54 - Acionamento sequencial de bombas através do multiplexador
Fonte: SENAI (2016)

Observe que o sistema utiliza os canais de entrada do demultiplexador para acionar sequencialmente
os três primeiros motores. Em sistemas como esse, é interessante que as bombas sejam acionadas uma
de cada vez. O acionamento simultâneo de motores de alta potência poderia provocar um alto nível de
corrente de partida, prejudicando a instalação elétrica.
Os canais de entrada também podem ser utilizados para equilibrar o uso e a eficiência do processo. É
interessante que exista um equilíbrio no uso destas bombas, ou seja, não é recomendável que uma bomba
trabalhe muito e outra pouco. Desta maneira, as chaves seletoras podem auxiliar na melhor distribuição
do acionamento dos motores e, ao invés de acionar o motor 1 para o consumo baixo, pode ser acionado o
motor 4, por exemplo.
Outro aspecto importante deste exemplo é que, em casos onde um dos motores precise ser substituído
ou deva sofrer uma manutenção preventiva, o motor pode ser atendido sem problemas, pois o demux
pode selecionar outro motor para atuar em seu lugar.
Uma aplicação muito utilizada em circuitos digitais é o processo de multiplexação de um dado e ao
mesmo tempo este sinal sofrer uma demultiplexação. Este tipo de abordagem será tratado a seguir e, neste
caso, deve ser utilizada a associação de mux e demux.

ASSOCIAÇÃO DE MUX E DEMUX


Ambos os circuitos, mux e demux possuem funções de seleção, seja a seleção de uma entrada para
várias saídas ou de várias entradas para uma única saída. É importante saber que estes circuitos podem
atuar em conjunto. Se um dado deve ser transmitido em uma grande distância no circuito, pode-se realizar
o processo de multiplexação e, neste caso, a informação será transmitida de maneira fragmentada por um
único condutor. Quando a informação é recebida, pode ser realizada a demultiplexação deste mesmo sinal.
ELETRÔNICA DIGITAL
124

O funcionamento deste sistema pode ser visualizado na figura, a seguir.

E0 S0
DEMUX Saídas
Entradas
MUX S E

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S1
E1
A A

Figura 63 - Circuito utilizando mux e demux


Fonte: SENAI (2016)

A partir da figura, é possível notar que a informação presente nas entradas do mux percorre um único fio
condutor que irá ser direcionado para a saída do demux correspondente. Observe que o canal de seleção
A é comum para ambos os circuitos. Isto significa que o estado presente em E0 será transmitido para S0
e, consequentemente, o estado de E1 será transmitido para a saída S1. Este circuito é muito utilizado para
a otimização de espaço e redução de custos em projetos de equipamentos eletrônicos. Quando o sinal
percorrer um grande espaço físico, um único fio condutor diminui custo com fios e materiais para produzir
circuitos eletrônicos em geral e este tipo de transmissão está configurado em série. A fim de compreender
bem este conceito da transmissão em série veja o seguinte exemplo.

Exemplo – 4 bits a caminho


Em uma linha de produção, estão dispostos quatro sensores. A informação destes sensores deve chegar
a um controlador que está a uma distância de dez metros. Para encaminhar estas informações, o engenheiro
da empresa em questão decidiu realizar uma transmissão série, pois desta maneira geraria menos custos
com materiais eletrônicos e manutenção. E, como se trata de 4 sensores, a transmissão em série precisa de
4 canais de entrada e 4 canais de saída. A informação de cada um dos sensores é selecionada através de
um multiplexador e enviada para um demultiplexador, que recebe a informação e a orienta para uma saída
correspondente.
Torna-se importante notar que os canais de seleção das entradas e saídas do mux e do demux
são compartilhados. Isso quer dizer que os pinos A e B são iguais para o processo de multiplexação e
demultiplexação. Além disso, para que a informação chegue rapidamente no controlador e em tempo
real, os pinos (A e B) são regulados de maneira sequencial pelo próprio controlador em alta velocidade.
Quanto maior for a velocidade de comutação dos pinos (A e B), menor será o atraso na transmissão das
informações.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
125

De maneira geral, este processo fará com que a informação dos sensores desta linha de produção
chegue ao controlador de maneira sequencial, ou melhor, a informação chegará uma de cada vez. A fim de
entender este processo, veja a tabela a seguir:

E0 E1 E2 E3 A B S0 S1 S2 S3
1 0 1 0 0 0 1 0 0 0
1 0 1 0 0 1 0 0 0 0
1 0 1 0 1 0 0 0 1 0
1 0 1 0 1 1 0 0 0 0
Tabela 55 - Transmissão série utilizando mux e demux
Fonte: SENAI (2016)

Conforme os canais de seleção (A e B) vão comutando os estados, o sinal dos canais de entrada é
direcionado para o canal de saída correspondente. Além disso, as informações não chegam ao mesmo
tempo aos pinos de saída, porém a velocidade em que são difundidas podem ser tão altas que, para alguns
processos a transmissão, é quase instantânea.
Nesta seção, você aprendeu sobre circuitos integrados de funções lógicas combinacionais. Todos
estes circuitos, de alguma forma, produzem algum tipo do tratamento de informações, sejam circuitos
somadores, subtratores, codificadores, decodificadores, multiplexadores ou demultiplexadores. Você pôde
aprender que muitos destes circuitos podem realizar suas operações de bit a bit, mas, se interligados em
cascata, devem aumentar sua capacidade de atuação, ou seja, podem lidar com mais informações. Dentre
todos estes conhecimentos, foi possível observar que a alta aplicação destes circuitos, na área técnica,
gerou a necessidade da criação de circuitos integrados especiais.
Tratando-se de CIs, a próxima seção será responsável por lhe mostrar a tecnologia desses componentes,
apresentando suas principais características, suas classificações e compatibilidade. Todos estes conheci-
mentos são muito importantes na hora de projetar ou montar circuitos na prática. A tecnologia dos CIs
também pode ser chamada de família lógica.

2.7 FAMÍLIAS LÓGICAS

Nesta seção, você irá entender como é classificada a tecnologia das portas lógicas, que pode ser chamada
de família lógica. Neste sentido, serão apresentadas as principais diferenças entre as duas tecnologias
envolvidas no processo de fabricação desses componentes, além de abordar o que são folhas de dados e a
compatibilidade que existe entre os diferentes circuitos integrados.
ELETRÔNICA DIGITAL
126

2.7.1 TIPOS

Em todos os circuitos digitais estão presentes pelo menos um componente: o transistor. Este
componente foi um divisor de águas na história da eletrônica, substituindo a válvula e revolucionando os
sistemas digitais com maior eficiência e menores custos e tamanhos.
Imagine que em pelo menos um espaço de memória do computador exista um transistor e essa memória
pode ser chamada de bit. Uma memória de 1GB tem no mínimo 8 bilhões de bits, ou seja, mais de 8 bilhões
de transistores. Com todo esse avanço em termos de tamanho do transistor, os processadores e dispositivos
com memória tiveram um crescimento imensurável no decorrer das décadas após sua descoberta.
Formados por transistores, os circuitos das portas lógicas mais difundidos podem pertencer a duas
famílias: a TTL e a CMOS. Outras famílias, como BiCMOS e ECL, por serem menos utilizadas, não serão
tratadas neste livro. Essa divisão em famílias se dá de acordo com seu aspecto construtivo e funcionamento.

FAMÍLIA TTL
A sigla TTL vem da língua inglesa Transistor-Transistor-Logic, que em português significa Lógica Transistor-
-Transistor. Os níveis lógicos de um circuito lógico criado com a família TTL pode variar de acordo com o
nível de tensão aplicado nos seus terminais de entrada ou saída. Para compreender este conceito, observe
o gráfico a seguir.

Tensão de entrada Tensão de saída


VIHmáx 5V VOHmáx 5V
Nível 1 Nível 1
VOHmin 2,4 V
VIHmin 2V
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VILmáx 0,8 V VOLmáx 0,5 V


Nível 0 VOLmin Nível 0 0,3 V
0V
Figura 64 - Níveis de tensão de entrada e saída para a família TTL
Fonte: Adaptado de Lourenço et al. (2007)

A partir da figura, compreende-se que os níveis de tensão proporcionais a determinados níveis lógicos
para a entrada não são os mesmos para a saída. A entrada de um circuito digital terá nível lógico 1 se a
tensão aplicada for entre 2 V e 5 V. A entrada terá nível lógico 0, se a tensão aplicada for entre 0 e 0,8 V. Mas,
os níveis de tensão de saída podem sofrer uma pequena mudança. Logo, quando o nível lógico na saída é
1, a tensão pode variar entre 2,4 V e 5V enquanto que o nível lógico 0 permite que a tensão varie entre 0,3
V e 0,5 V.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
127

Quando a entrada do circuito tem uma tensão entre 0,8 e 2 V, o circuito não consegue identificar se
o nível lógico é 0 ou 1. Portanto, para determinados projetos, deve-se estar atento ao nível de tensão
presente nas entradas, respeitando os níveis adequados.
Quando você encontrar um componente eletrônico da família TTL, verá que existem diversos códigos.
Estes códigos se referem a uma identificação que existem para algumas subdivisões destas famílias. Em geral,
a família TTL é dividida em dois principais grupos, representados pelos códigos 74 e 54. Os componentes
que possuírem o valor 74 no começo do código podem ser utilizados para condições normais, enquanto
que os componentes com códigos 54 podem ser utilizados para condições mais hostis.
Além do código inicial (74 ou 54), os componentes possuem algumas siglas responsáveis pelo
desempenho de velocidade e consumo dos componentes. A velocidade do componente é dada pelo
atraso que existe entre o sinal de entrada e o sinal de saída, sendo que este atraso pode ser medido em
segundos. O consumo de energia se dá pela quantidade de potência que o circuito pode consumir, em
que a unidade de medida é obtida em watts. O quadro, a seguir, mostra estes valores de desempenho de
acordo com cada sigla.

VERSÃO DESCRIÇÃO IDENTIFICAÇÃO ATRASO CONSUMO


Standard Padrão 54/74 10 ns 10 mW
Low Power Baixíssimo consumo 54L/74L 33 ns 1 mW
High Speed Alta velocidade 54H/74H 6 ns 22 mW
Schottky Altíssima velocidade 54S/74S 3 ns 19 mW
Altíssima velocidade e
Advanced Schottky 54AS/74AS 1,5 ns 8,5 mW
baixo consumo
Low power Schottky Baixíssimo consumo 54LS/74LS 10 ns 2 mW
Advanced low power Altíssima velocidade e
54ALS/74ALS 4 ns 1 mW
Schottky baixíssimo consumo
Quadro 6 - Desempenho da família lógica TTL
Fonte: Adaptado de Idoeta e Capuano (2012)

Agora que você conhece uma das principais características da família TTL, torna-se importante conhecer
também as características principais da família CMOS. A seguir, serão apresentadas algumas informações
sobre esta tecnologia.

FAMÍLIA CMOS
A sigla CMOS vem da língua inglesa Complementary Metal Oxide Semiconductor, que em português
significa Semicondutor de Óxido-Metal Complementar. As principais características da família CMOS são o
baixo consumo de corrente, menor propensão a ruídos e alta faixa de tensão de alimentação dos circuitos.
ELETRÔNICA DIGITAL
128

Os níveis de tensão responsáveis pelos níveis lógicos 0 e 1 podem variar de fabricante para fabricante,
do valor de tensão de alimentação dos circuitos e da temperatura ambiente. A família CMOS possui três
principais séries comerciais, sendo elas: 4000A, 4000B e 54C/74C. Assim, como a família TTL, a família CMOS
também possui alguns circuitos especiais, como a família 74HC/74HCT, que tem alto desempenho em
velocidade.
De maneira geral, a família CMOS possui uma tecnologia mais avançada, com melhores parâmetros de
desempenho. Tudo isso deve-se à sua construção, pois o transistor utilizado no seu desenvolvimento possui
uma tecnologia chamada de MOSFET (Metal–Oxide–Semiconductor Field-Effect Transistor, ou Transistor
de Efeito de Campo Metal-Óxido-Semicondutor). A utilização deste transistor possibilita a este circuito
algumas vantagens.
A saída de cada circuito integrado pode ser conectada a um número máximo de circuitos e essa
limitação se deve à quantidade de corrente de saída disponível por componente. Usualmente os circuitos
do tipo CMOS possuem uma capacidade maior (faixa de tensão) do que circuitos da família TTL. A tensão
de trabalho da família CMOS pode variar em tensões máximas próximas a 18 V e tensões mínimas próximas
a 3 V.
A tecnologia do transistor MOSFET e a menor quantidade de componentes no interior dos circuitos
CMOS possibilita a estes circuitos uma menor faixa de consumo de potência. A utilização do MOSFET ainda
garante uma outra grande vantagem, que é a alta imunidade a ruídos.
Com os conceitos principais sobre as famílias lógicas, você está pronto para estudar um dos principais
aspectos da eletrônica digital prática. Mas, quando são construídos circuitos digitais, é necessário que se
conheça a estrutura de cada componente que, por sua vez, possui diferentes características e ligações,
dependendo do fabricante ou do código padrão. E todas estas informações estão presentes na folha de
dados.

2.7.2 FOLHA DE DADOS

No intuito de descobrir se um componente eletrônico pertence a uma determinada família, deve-se


consultar a folha de dados do mesmo. A folha de dados é um documento emitido pelo fabricante que
traz informações, como construção mecânica, simbologia, diagramas de funcionamento, tecnologia de
encapsulamento, valores de temperatura, tensão elétrica e corrente elétrica (máxima e mínima permitidas),
além de informar a qual família o circuito pertence. A folha de dados também é conhecida como datasheet
do componente.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
129

O estudo de uma folha de dados pode ser aprimorado se você levar a eletrônica digital à prática. Alguns
circuitos serão mais familiares à medida que os utiliza em seus projetos, protótipos ou simulações. Porém,
depois conhecer a folha de dados de um componente, como uma porta OR, ou uma porta AND, será cada
vez mais rápido o estudo para outros elementos.
Destaca-se que a maioria das folhas de dados é escrita em língua inglesa. Portanto, mesmo que você
não domine o idioma, deve ficar atento aos seus principais termos. Diante do exposto, veja um exemplo de
uma folha de dados de uma porta NAND da família lógica TTL da empresa National Semiconductor.

National Semiconductor 1

54AC10 2
Triple 3 - Input NAND Gate
General Description Outputs source/sink 24 mA
The ‘AC10 contains three, 3 - input NAND gates. Standard Military Drawing (SMD)
- ‘AC10: 5962-87610
Features 3
For Military 54ACT10 device see
Icc reduced by 50% on 54AC only the 54ACTQ10

Logic Symbol Connection Diagrams


Pin Assignment
IEEE/IEC 4 for DIP and Flatpak
Ao
&
Bo Ao VCC
Oo
Co Bo Co
A1 A1 Oo
B1 O1 B1 A2
Scheila Andrea Sabel (2016)

C1 C1 B2
A2 O1 C2
B2 O2 GND O2
C2

Figura 65 - Folha de dados CI 54AC10


Fonte: Adaptado de National (1998)

Na figura apresentada torna-se possível identificar diversos aspectos. Em (1), observa-se o fabricante
do componente eletrônico, neste caso, National Semiconductor. Em (2), a folha de dados mostra o código
do componente, 54AC10 que corresponde a um CI contendo 3 portas lógicas NAND com 3 entradas. Esta
informação é dada pela expressão General Description (que em português significa Descrição Geral).
Em uma folha de dados, estão presentes alguns aspectos apresentados em (3) pela expressão Features
(ou características). Em (4), é possível observar a simbologia ANSI/IEEE e a pinagem do circuito de acordo
com as entradas e saídas do circuito, bem como os pinos de alimentação VCC e GND.
ELETRÔNICA DIGITAL
130

Os principais dados presentes em uma folha de dados são as Condições de Operação Recomendadas
(Recommended Operating Conditions) e as Classificações Máximas Absolutas (Absolute Maximum Ratings).
Na figura, a seguir, são mostrados alguns exemplos.

Absolute Maximum Ratings (Note 1) Junction Temperature (TJ)


If Military/Aerospace specified devices are CDIP 5 175°C
4
replease contact the National Semiconductor
Sales Distributors for availability and specifications. Recommended Operating Conditions

Supply Voltage (Vcc) -0.5 to + 7.0V Supply Voltage (Vcc)


DC Input Diode Current (llK) ‘AC 2.0V to 6.0V
VI = -0.5V -20 mA Input Voltage (VI) 0V to VCC
VI = Vcc + 0.5V +20mA Output Voltage (VO) 0V to VCC
DC Input Voltage (VI) 0.5V to VCC + 0.5V Operating Temperature (TA)
DC Output Diode Current (IOK) 54AC -55°C to +125°C
VO = -0.5V -20mA Minimum Input Edge Rate (∆V/∆t)
VO = VCC + 0.5V +20mA ’AC Devices
DC Output Voltage (VO) -0.5V to VCC + 0.5V VIN from 30% to 70% of VCC
DC Output Source VCC @ 3.3V, 4.5V, 5.5V 125mV/ns
or Sink Current (IO) ± 50 mA Note 1: Absolute maximum ratings are those values beyond
DC VCC or Ground Current

Scheila Andrea Sabel (2016)


which damage to the device may occur. The databook
per Output Pin (ICC or IGND) ± 50 mA specifications should be met, without exception, to ensure
Storage Temperature (TSTG) -65°C to + 150°C that the system design is reliable over its power supply,
temperature, and output/input loading variables.
National does not recommend operation of FACT TM circuits
outside databook specifications.
Figura 66 - Valores máximos e recomendados para o CI 54AC10
Fonte: Adaptado de National (1998)

Em (4), são apresentadas as classificações máximas absolutas e em (5) são mostrados os valores de
condição de operação recomendados. Os termos são tidos em inglês, portanto fique atento às seguintes
expressões:
a) Supply Voltage (VCC) – Tensão de alimentação do circuito, dado em Volts em corrente contínua;
b) DC Input Current (mA) – Corrente de entrada, dada em miliamperes em corrente contínua;
c) DC Output Current (mA) – Corrente de saída, dada em miliamperes em corrente contínua;
d) DC Input Voltage (VI) - Tensão de entrada, dada em volts em corrente contínua;
e) DC Output Voltage (VO) – Tensão de saída, dada em volts em corrente contínua;
f ) Temperature – Temperatura, dada em graus Celsius;
g) Operating temperature – Temperatura de operação normal, dada em graus Celsius;
h) Minimum Input Edge Rate (ΔV/Δt) – Taxa de borda de entrada mínima. Este parâmetro refere-se
à resposta em segundos que o circuito oferece de acordo com a tensão de entrada. A unidade de
medida deste parâmetro é dada em Volts por segundo.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
131

Estes critérios são de real importância quando você for criar seus primeiros projetos. A folha de dados
auxiliará a descobrir desde a família do CI em questão até os seus valores de alimentação e operação. Outro
parâmetro importante encontrado no datasheet é o atraso de propagação.

DC Characteristics for ‘AC Family Devices (Continued)


Note 3: Maximum test duration 2.0ms, one output loaded at a time.
Note4: IIN and ICC @ 3.0V are guaranteed to be less than or equal to the respective
limit @ 5.5V VCC . ICC for 54AC @ 25°C is identical to 74AC @ 25°C.

AC Eletrical Characteristics
54AC
VCC TA = -55°C
(V) to + 125°C Fig.
Symbol Parameter Units No.
(Note 5) CL = 50 pF
6 Min Max
tPLH 3.3 1.0 11.0 ns
Propagation Delay

Scheila Andrea Sabel (2016)


5.0 1.5 8.5
tPHL 3.3 1.0 10.0 ns
Propagation Delay
5.0 1.5 7.0
Note 5: Voltage Range 3.3 is 3.3V ± 0.3V
Voltage Range 5.0 is 5.0V ± 0.5V
Figura 67 - Atraso de propagação do CI 54AC10
Fonte: Adaptado de National (1998)

De maneira geral, considera-se que os valores de entrada presentes nas portas lógicas são processados
de maneira imediata, ou seja, a resposta da saída em relação à entrada é instantânea. Fisicamente, existe
um atraso na propagação do sinal. Em (6), os valores de tPLH e tPHL informam valores máximos e mínimos de
propagação de acordo com a tensão de alimentação do circuito.
Outro dado importante presente na folha de dados é sua forma construtiva externa. Esta forma
construtiva não será abordada neste LD, mas esta informação é importante, caso você precise dimensionar
tamanhos de placas de circuito impresso, para tornar mais prático seus projetos e protótipos.
Nesta seção, você descobriu como realizar a leitura de uma folha de dados (também conhecida como
datasheet). Você pôde observar que nestas folhas existem informações precisas sobre o componente. Da
mesma forma que foi apresentado um exemplo de datasheet, você pode buscar outras folhas de dados
presentes nos sites de fabricantes toda vez que utilizar um CI em seu projeto.
Até agora, as famílias lógicas foram estudadas de maneira separadas. É importante observar que os
níveis de tensão abordados para cada família lógica são diferentes. Desta maneira, deve-se tomar muito
cuidado quando utilizar CIs de famílias diferentes em um mesmo projeto. Na próxima seção, você verá que
existem CIs CMOS que são compatíveis com a família TTL.
ELETRÔNICA DIGITAL
132

2.7.3 COMPATIBILIDADE

Como visto nas seções anteriores, existem muitas diferenças entre circuitos da família TTL e CMOS. Deve-
-se tomar muito cuidado com os níveis de tensão exigidos pelas entradas e saída de cada circuito. Quando
em um projeto são utilizados apenas circuitos da família TTL, esses cuidados não são tão necessários. O
mesmo se deve quando em um projeto são utilizados apenas circuitos da família CMOS. A princípio, os
níveis de tensão e corrente são padronizados para ambos os casos. Existe uma grande dificuldade e que
exige atenção ao se utilizar circuitos lógicos de famílias diferentes em apenas um projeto.
Para analisar a compatibilidade que existe entre uma família e outra, deve-se pensar onde cada porta
lógica está inserida no projeto, ou seja, qual porta lógica está sendo acionada. Desta maneira, a análise terá
como contexto principal duas situações: um circuito TTL acionando uma carga CMOS e um circuito CMOS
acionando uma carga TTL.
Diante desta análise Tocci e Widmer (2003, p. 409) dizem que se deve “[...] verificar se o dispositivo
acionador pode satisfazer os requisitos de corrente e tensão do dispositivo de carga”. Para que esta
observação seja completa, apresenta-se uma tabela com as séries das famílias CMOS e TTL, contendo as
informações de tensões máximas e mínimas de acordo com o nível lógico.

CMOS TTL
Parâmetro 4000B 74HC 74HCT 74AC 74ACT 74AHC 74AHCT 74 74LS 74AS 74ALS
VIH (mín) 3,5 3,5 2,0 3,5 2,0 3,85 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0
VIL (máx) 1,5 1,0 0,8 1,5 0,8 1,65 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8
VOH (mín) 4,95 4,9 4,9 4,9 4,9 4,4 3,15 2,4 2,7 2,7 2,5
VOL (máx) 0,05 0,1 0,1 0,1 0,1 0,44 0,1 0,4 0,5 0,5 0,5
Tabela 56 - Níveis de tensão (em volts) de entrada e saída com VCC = 5V
Fonte: Tocci e Widmer (2003)

Os valores de corrente das famílias lógicas e suas respectivas séries também podem ser vistos através
de uma tabela semelhante. As tabelas de tensão e corrente foram consideradas com alimentação igual a 5
V, para respeitar os níveis de operação de tensão padrão da família TTL.

CMOS TTL
Parâmetro 4000B 74HC/HCT 74AC/ACT 74AHC/AHCT 74 74LS 74AS 74ALS
IIH (máx) 1 μA 1 μA 1 μA 1 μA 40 μA 20 μA 20 μA 20 μA
IIL (máx) 1 μA 1 μA 1 μA 1 μA 1,6 mA 0,4 mA 0,5 mA 100 μA
IOH (máx) 0,4 mA 4 mA 24 mA 8 mA 0,4 mA 0,4 mA 2 mA 400 mA
IOL (máx) 0,4 mA 4 mA 24 mA 8 mA 16 mA 8 mA 20 mA 8 mA
Tabela 57 - Correntes de entrada e saída para dispositivos padrão com uma tensão de VCC=5V
Fonte: Tocci e Widmer (2003)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
133

Destaca-se que circuitos da mesma família lógica são projetados para atuarem na mesma faixa de
tensão e corrente. O único detalhe na construção de circuitos de mesma família é o parâmetro fan-out (que
significa espalhar), que é a relação da corrente de saída de um circuito com base na corrente de entrada. Se
você quiser montar um circuito TTL 74 e deseja saber quantas portas lógicas podem ser acoplados em uma
única saída, deve realizar a seguinte análise:
IOL = 16 mA (máximo valor presente na saída de uma porta lógica em nível baixo)
IIL = 1,6 mA (máximo valor presente na entrada de uma porta lógica em nível baixo)
Desta maneira, o fan-out em nível baixo pode ser dado pela seguinte expressão:

O fan-out em nível baixo é 10.


Para saber quantos circuitos podem ser aplicados em nível alto, basta fazer a mesma análise com os
seguintes parâmetros:
IOH = 0,4 mA (máximo valor presente na saída de uma porta lógica em nível alto)
IIH = 40 μA (máximo valor presente na entrada de uma porta lógica em nível alto)
Desta maneira, o fan-out em nível alto pode ser dado pela seguinte expressão:

O fan-out em nível alto também será 10 para a família TTL 74. Observe que esta técnica pode ser aplicada
para circuitos de mesma família de séries diferentes ou até mesmo circuitos de famílias diferentes. Com
base neste novo conceito, observe a compatibilidade entre CMOS e TTL.
ELETRÔNICA DIGITAL
134

TTL ACIONANDO CMOS


Quando um circuito TTL está acionando um circuito CMOS, os níveis de corrente são suficientes para
processar vários circuitos desta família. Isso se deve ao fato de que os circuitos pertencentes à família CMOS
possuem uma corrente de entrada (IIN) muito baixa e deste modo, os circuitos TTL têm uma capacidade de
corrente suficiente para realizar este acionamento. Basta que o circuito respeite o parâmetro fan-out. Mas,
como exposto anteriormente, deve-se levar em consideração os valores de corrente e tensão. A tensão
utilizada em circuitos TTL não possui a mesma faixa de operação de circuitos para algumas séries da família
CMOS.
Quando a série da família CMOS tiver uma baixa tensão de entrada, é necessário adequar o nível de
tensão. Observando as tabelas de tensão e corrente dos circuitos, tome como exemplo um circuito 74LS
acionando um circuito 4000B. Além disso, ao verificar os valores de tensão de saída em nível alto e baixo
do circuito TTL, tem-se:

VOH (mín) = 2,7 V


VOL (máx) = 0,5 V

Do mesmo modo, deve-se observar os valores de tensão de entrada do circuito CMOS. Assim, tem-se:

VIH (mín) = 3,5 V


VIL (máx) = 1,5 V

Perceba que as tensões de saída do circuito TTL são menores do que as tensões de entrada do circuito
CMOS.

VOH (mín) = 2,7 V < VIH (mín) = 3,5 V

Neste caso, para que se possa utilizar ambos as famílias lógicas no mesmo circuito, a saída do circuito
TTL deve ser adequada ao valor de entrada do circuito CMOS. Esta adequação pode ser realizada utilizando
um resistor pull-up ou um circuito regulador de tensão mais avançado. A técnica de adequação do valor de
tensão não será abordada neste LD, mas torna-se importante que você saiba como identificar se o circuito
precisará da adequação de tensão. Veja agora quando um circuito CMOS aciona um circuito TTL.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
135

CMOS ACIONANDO UM TTL


Neste acionamento, deve-se analisar os níveis de tensão e corrente de uma saída de um circuito CMOS
e os níveis de tensão e corrente para as entradas TTL. Os circuitos CMOS possuem uma tensão de trabalho
muito alta e flexível. Desta maneira, o nível de tensão exigido nas entradas de um circuito TTL é facilmente
suprido pelas saídas do circuito CMOS. O problema deste acionamento está nos níveis de corrente. Como
os circuitos CMOS possuem um baixo nível no consumo de potência, fica evidente que a capacidade de
corrente fornecida em suas saídas também é baixa. Para analisar com mais exatidão este tipo de ligação,
tome como exemplo um circuito 4000B acionando um circuito 74 Standard (ou padrão). Os níveis de
corrente de saída do circuito 4000B são dados por:

IOH (máx) = IOL (máx) = 0,4 mA

Os níveis de corrente de entrada do circuito 74 são apresentados conforme:

IIH (máx) = 40 μA
IIL (máx) = 1,6 mA

Em nível alto IOH > IIH, pois 0,4 mA > 40 μA. Desta maneira, não haveria problema algum em realizar o
acionamento e este circuito em nível alto, ainda seria possível acoplar 10 circuitos em sua saída de acordo
com seu fan-out. O problema é quando este acionamento é realizado em nível baixo. Observe os níveis de
corrente e as seguintes comparações:

IOL (máx) = 0,4 mA < IIL (máx) = 1,6 mA

Deste modo, o circuito CMOS não tem corrente o suficiente para acionar nem um único circuito TTL
74. Para que este processo seja possível, é necessário que haja uma adequação do nível de corrente e
essa adequação é dada através de um circuito chamado buffer (amortecedor em português). O circuito
buffer mantém o mesmo nível de tensão de saída, mas possui uma alimentação extra, que pode suportar o
nível de tensão exigido pela porta TTL. O circuito buffer também pode ser utilizado em circuitos de mesma
família e aumentar a relação do fan-out.
Observando que existe uma incompatibilidade razoável e muito presente entre os circuitos CMOS e
TTL, os fabricantes de circuitos integrados produziram uma tecnologia CMOS que dispõe os níveis de
tensão e corrente compatíveis com a família TTL. Esta série da família CMOS tem o código 74HCT, que pode
ser utilizado como um circuito TTL normal, ou seja, não possui nenhum tipo de restrição ou adequação,
contanto que o circuito seja alimentado com tensão de operação exigida pelo fabricante e respeite o nível
máximo de fan-out.
ELETRÔNICA DIGITAL
136

Aqui se encerra o segundo capítulo deste livro. O que você aprendeu até aqui é muito importante
para compreender os principais conceitos da próxima seção. Mas, para refrescar um pouco a memória e
fortalecer alguns conceitos, você está convidado a fazer uma pequena revisão.

RECAPITULANDO

A lógica combinacional pode ser definida como a utilização de circuitos lógicos para realizar
operações e funções. Foram conhecidos diversos circuitos que realizam funções como AND, OR,
NOT, XOR e XNOR. Essas lógicas apresentadas podem ser implementadas em aplicações industriais
ou até mesmo pequenas aplicações. Para realizar algumas destas aplicações, foi apresentado
como analisar, projetar e simplificar estes circuitos digitais. Você contou com o auxílio de técnicas
clássicas de otimização de circuitos que são essenciais no desenvolvimento de circuitos lógicos.
Você estudou também que os números podem ser representados em diferentes sistemas: binário,
decimal e hexadecimal, e que os sistemas de numeração mais aplicados são os sistemas binário e
decimal. Você aprendeu que o sistema binário pode assumir diferentes conceitos, se for analisado
do ponto de vista dos níveis lógicos. O código binário, além de representar números decimais
conhecidos, é utilizado em aplicações da tecnologia da informação e sistemas na representação de
vários códigos de leitura, escrita e processamento de dados. Os códigos BCD e ASCII são aplicados
em, praticamente, todos os sistemas operacionais de computadores e equipamentos eletrônicos.
No decorrer do livro, você pôde perceber que os circuitos combinacionais assumem diferentes
aplicações, como operações matemáticas de soma e subtração. Foram apresentados os dados
binários, que podem ser codificados e decodificados para determinadas aplicações, ou seja,
podem ser traduzidos para aplicações específicas em um sistema. Um bom exemplo disso foi a
apresentação do display de 7 segmentos. Dados presentes em circuitos devem ser selecionados e
transmitidos de maneira otimizada com o auxílio de multiplexadores e demultiplexadores.
Foi estudado que todos os circuitos apresentados aqui possuem aplicações das mais variadas
e, portanto, apresentam circuitos exclusivos que desempenham suas funções principais. Estes
circuitos são chamados de integrados. Hoje existem circuitos integrados de diversos circuitos
combinacionais, desde a simples porta lógica NOT, até o mais complexo sistema multiplexado, que
são construídos acordo com famílias lógicas que determinam a tecnologia e os níveis de tensão
elétrica de todos estes componentes. Você leu também que, neste contexto, existem folhas de dados
de cada circuito em que estão inseridas as principais características de construção, funcionamento
e tecnologia. O estudo das folhas de dados é de real importância no desenvolvimento de projetos
e essencial para a otimização de circuitos digitais.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
137

O próximo capítulo irá contemplar uma abordagem mais ampla dos circuitos digitais. Você estudará
que a lógica combinacional é a essência de uma nova abordagem da eletrônica digital, conhecida
como lógica sequencial, e assim como as portas lógicas estão vigentes na maioria dos circuitos
combinacionais, também estão presentes os circuitos sequenciais. Está preparado? Então siga em
frente com seus estudos!
Lógica Sequencial

No capítulo anterior, foram desenvolvidos conceitos relacionados à combinação entre


circuitos, levando em consideração sua lógica de funcionamento. Neste caso, a lógica sequencial
exerce suma importância no desenvolvimento de circuitos digitais, pois seus conceitos
tornam muitos sistemas autossuficientes, ou seja, contribui não só em aplicações envolvendo
automação e processos industriais mais eficientes, mas também na aplicação de circuitos
presentes em eletrodomésticos e eletroportáteis. Neste capítulo, será tratada uma abordagem
ampla, levando o leitor a conhecer novos conceitos, como memória simples, sincronismo,
transmissão de dados em série e em paralelo, temporizadores, contadores e registradores.
O estudo dos circuitos sequenciais é um salto na evolução da eletrônica digital e, sem sua
aplicabilidade, não seria possível armazenar nenhum tipo de informação de maneira digital,
uma vez que toda a informação digital enviada a computadores passa antes por algum tipo de
memória.
A principal característica dos circuitos sequenciais é que suas saídas não dependem
exclusivamente de suas entradas, ao contrário dos circuitos combinacionais, estudados
anteriormente. A saída dos circuitos sequenciais depende de suas entradas e ao mesmo
tempo do estado da própria saída. Você verá que, quando um circuito realiza uma função e
que depende unicamente das entradas, é denominado de malha aberta, mas caso realize uma
função dependente de suas entradas e saídas, é chamado de malha fechada.
Neste caso, as ações realizadas pelo circuito dependem de uma memória, ou seja, o circuito
deve armazenar uma informação para dar o próximo passo. Uma desvantagem destes circuitos
sequenciais é que eles possuem um tempo mínimo para executar suas tarefas. Este tempo irá
depender de sinais externos e de um processamento interno. Para que o sinal seja mais preciso,
o circuito com lógica sequencial deve ser sincronizado.
ELETRÔNICA DIGITAL
140

A lógica sequencial é a base para sistemas mais complexos. O desenvolvimento de computadores,


smartphones, controladores industriais e todo o tipo de tecnologia digital e integrada só é possível graças
aos conceitos que serão abordados nesta unidade. Você verá neste capítulo que a lógica sequencial é
implementada na prática com o uso de portas lógicas que fazem parte da lógica combinacional. A todo
momento, os circuitos sequenciais irão depender de circuitos combinacionais, como portas lógicas,
somadores, decodificadores etc. O uso de circuitos combinacionais poderá ser utilizado para estruturar
ou mudar a forma de funcionamento de um circuito sequencial. Fica claro que o estudo do capítulo 2 é de
total importância para o entendimento e aplicação de circuitos sequenciais.
De maneira geral, este capítulo lhe mostrará o conceito, funcionamento e aplicações dos temas flip-
-flops, temporizadores, contadores e registradores. Sendo assim, diante de tais conhecimentos, você terá
subsídios para:
a) interpretar diagramas e esquemas de circuitos digitais;
b) analisar diagramas e esquemas de circuitos digitais;
c) implementar circuitos sequenciais;
d) interpretar folhas de dados de componentes eletrônicos;
e) ter senso investigativo;
f ) adquirir visão sistêmica;
g) gerar senso crítico;
h) ter capacidade de análise;
i) estabelecer prioridades;
j) ter organização.
Em princípio, será abordado um conceito fundamental no estudo da lógica sequencial, que é dado por
um circuito chamado de flip-flop. Você irá observar que este componente possui uma característica de
realimentação, muitos modos de operação e, por sua vez, muitas aplicações. Mas, fica a pergunta: onde é
inserida a lógica sequencial? Você terá a resposta ao ler as informações apresentadas neste capítulo.
Bons estudos!
3 LÓGICA SEQUENCIAL
141

3.1 FLIP-FLOPS

O primeiro circuito sequencial a ser estudado é o flip-flop, também conhecido como biestável ou
multivibrador. Segundo Lourenço et al. (2007, p. 207, grifo do autor), “O flip-flop tem como função armazenar
níveis lógicos temporariamente, ou seja, funciona como um elemento de memória”. Nesta seção, pode-se
abreviar o termo flip-flop pela sigla FF.
Uma das principais características dos flip-flops é que estes circuitos possuem dois canais de saída,
normalmente, representados pelas letras Q e Q . O canal de saída Q é o inverso da saída Q. Quando a saída
Q ter nível lógico 0, a saída Q terá nível lógico 1, e vice-versa.
Uma outra característica importante dos flip-flops é a entrada clock (relógio), que irá controlar o tempo
do circuito sequencial. Mas que tempo é esse? De maneira geral, essa entrada permite que o flip-flop
sofra uma mudança de estado, ou seja, mude de 0 para 1 ou de 1 para 0. Dependendo da característica
de operação do flip-flop e do nível lógico presente nas entradas digitais, os canais de saída mudarão
de estado somente se o clock permitir. Pode-se pensar que a entrada clock irá regular a velocidade de
processamento do flip-flop, ou seja, é ela quem define o tempo de mudança de estados. Nesta seção,
serão demonstradas, inicialmente, as características de operação sem o uso do clock. Esta abordagem será
realizada, porque é necessário aprender, primeiramente, o funcionamento do FF e depois sua operação
real no ponto de vista temporal.
Os flip-flops possuem algumas variações em relação às suas características de operação. Existem, então,
flip-flops do tipo RS, JK, D e T e estas variações são causadas pela estrutura interna de cada FF. Será visto
que, internamente, os FFs são constituídos por portas lógicas e, por isso, cada modo de operação terá
uma ligação diferente. Nas seções, a seguir, você estudará cada um destes tipos de biestáveis, sendo que
os modos de operação irão sofrer algumas mudanças de acordo com sua disposição de entradas, pinos
auxiliares, efeito do sinal de clock, aplicações etc.
Busque compreender ao máximo o funcionamento de cada modo de operação dos FFs, pois estes
serão utilizados nos demais temas e expressões apontados neste capítulo, como os temporizadores, os
contadores e registradores.
Assim, na sequência, você irá estudar o conceito básico de flip-flop e as suas variações. A seguir, serão
apresentadas, de forma mais detalhada, as características da operação tipo RS. Você está preparado? Então
siga em frente com seus estudos.

3.1.1 CARATERÍSTICA DE OPERAÇÃO RS

Como a maioria dos circuitos apresentados neste livro, os flip-flops também são constituídos por portas
lógicas, sendo que os FFs tipo RS podem ser construídos através de portas lógicas do tipo NAND e algumas
do tipo NOT. Uma característica presente em todos os FFs é a realimentação, ou seja, quando os
estados de saída atuais influenciarão no estado de saída futura.
ELETRÔNICA DIGITAL
142

A imagem, a seguir, mostra um diagrama de blocos de um circuito sequencial detalhando a etapa de


realimentação.

Entrada

Ana Cristina de Borba (2016)


Saída

Realimentação
Figura 68 - Funcionamento de um circuito sequencial
Fonte: SENAI (2016)

Esta característica retroativa é determinada por meio de elos de realimentação. A figura, a seguir, mostra
o FF do tipo RS construído por portas lógicas.

R
Q
Paco Giordani Mora (2016)

Figura 69 - FF RS com portas lógicas


Fonte: SENAI (2016)

A estrutura básica de um FF RS é dada por duas portas lógicas do tipo NAND e duas do tipo NOT. Na
figura, os elos de realimentação estão representados pelas cores verde e azul. Perceba que a saída Q (verde)
influencia no estado da saída Q (azul) e vice-versa.
Observe que este FF possui duas entradas (chamadas de R e S). A letra S vem do termo Set (definir)
enquanto que a letra R vem do termo Reset (redefinir). No entanto, repare que por enquanto não foi
demonstrada a entrada de clock. A entrada S contribui para que a saída Q tenha nível lógico 1, ou melhor,
sempre que S estiver em nível lógico 1, a saída Q também terá seu nível lógico 1. No entanto, a entrada R
contribui para zerar a saída Q e, quando R estiver em nível 1 (e S em nível 0), a saída Q terá seu nível lógico
0. Lembrando que os circuitos sequenciais são influenciados pelo efeito da realimentação, o estado da
saída Q futuro é influenciado por seu estado atual, que será chamado de Qa.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
143

Para analisar todas as possibilidades deste FF, é necessário montar sua tabela-verdade. Considerando
o efeito de realimentação, o estado da saída Qa será considerada como uma entrada. A tabela-verdade
será desenvolvida com 3 entradas: a entrada R, a entrada S e Qa. Sendo assim, a tabela-verdade do FF RS
possuirá 3 entradas e duas saídas. Diante destas informações, fica claro que a tabela-verdade deste circuito
terá 8 possibilidades, conforme pode ser visualizado a seguir.

S R Q
0 0 Qa
0 1 0
1 0 1
1 1 X
Tabela 58 - Tabela-verdade simplificada do FF RS
Fonte: SENAI (2016)

A partir do que foi estudado, é possível observar que a saída Q sempre será o sinal inverso de Q. Esta
informação pode ser verificada através da última coluna da tabela-verdade, a fim de mostrar os efeitos
produzidos pelas entradas R e S.
Repare que, quando R e S são iguais a zero, a saída Q não sofre mudança de estado, ou seja, Q permanece
igual a Qa. Quando ambas as entradas, R e S, são iguais a 1, a saída Q é indeterminada. Portanto, esta é uma
condição que não deve ser utilizada.
O destaque verde indica a condição de reset, enquanto que o destaque azul indica a condição de Set
da tabela. As células em branco são condições em que a tabela não sofre nenhum tipo de alteração. De
maneira geral, a tabela-verdade do FF RS pode ser resumida da seguinte forma.

S R Qa Q Q
0 0 0 0 1
0 0 1 1 0
0 1 0 0 1
0 1 1 0 1
1 0 0 1 0
1 0 1 1 0
1 1 0 X X
1 1 1 X X
Tabela 59 - Tabela-verdade do FF RS
Fonte: SENAI (2016)

Mesmo com 8 possibilidades, os estados de saída deste FF se repetem para determinados casos. Desta
forma, a tabela-verdade pode apresentar uma forma resumida e esta simplificação possibilita uma análise
rápida, pois fica mais claro o efeito das entradas R e S no canal de saída Q do flip-flop.
ELETRÔNICA DIGITAL
144

O sinal X na saída Q aparece na tabela, pois nesta condição, quando R = S = 1, o nível lógico na saída
é incerto, ou seja, pode variar entre 0 ou 1. Quando o sinal de saída é incerto, não faz sentido utilizar esta
condição em aplicações usuais. Desta maneira, a utilização desta condição não será abordada neste livro.
Agora que você conhece todas as possibilidades deste circuito, chegou o momento de estudar o
respectivo comportamento no decorrer do tempo estabelecido pelo sinal de clock. Você irá observar que a
estrutura com portas lógicas sofre pequenas mudanças essenciais para o uso do clock. Mais adiante, você
verá a importância deste pino para muitas aplicações. Siga em frente e conheça a influência deste sinal no
estudo dos circuitos sequenciais!

FF RS COM ENTRADA CLOCK


O FF RS com entrada clock pode ser simplificado de acordo com a seguinte simbologia.

S Q

CLK
Ana Cristina de Borba (2016)

R Q
Figura 70 - FF RS com clock
Fonte: SENAI (2016)

A simbologia CLK representa o sinal de clock, mas até aqui não foi demonstrado seu funcionamento,
somente se abordou a sua importância na implementação de circuitos sequenciais. Mas, o que é este sinal?
Trata-se de um sinal de entrada ou de saída? Para começar a sanar estas dúvidas, é essencial estudar sua
aplicação.
O sinal de clock é padronizado como uma série de pulsos que se alternam em nível alto e nível baixo.
Em outras palavras, trata-se de uma onda quadrada que possui algumas características importantes, como
frequência fixa, simetria ao longo do tempo e valores binários. No primeiro caso, a frequência de um sinal
determina que o mesmo se repete várias vezes por segundo. Já a simetria ao longo do tempo significa que
no intervalo de uma onda completa, metade do tempo fica em nível 0 e a outra metade em nível 1. E o
valor binário define que esta onda possui apenas duas possíveis amplitudes que podem ser representadas
por 0 ou 1.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
145

A figura, a seguir, mostra a representação do sinal de clock padrão.

1 1 1 1

Paco Giordani Mora (2016)


0 0 0 0
Figura 71 - Representação do sinal de clock
Fonte: SENAI (2016)

Quando os pulsos de clock variam de 0 para 1, a atividade é chamada de borda de subida. Este conceito
é importante, pois é durante a borda de subida que muitos FFs realizam a mudança dos estados de saída.
Mas, o sentido oposto, quando os pulsos de clock variam de 1 para 0, é chamado de borda de descida.
Quando os circuitos recebem o sinal de clock, o tempo é um fator determinante no seu funcionamento.
Desta forma, nos circuitos sequenciais, existe um novo conceito chamado de sincronismo. Os circuitos
combinacionais não apresentavam este conceito, ou seja, os estados mudavam de maneira instantânea
e de forma não-sequencial. Com o conceito de sincronismo, os circuitos funcionam com um pequeno
atraso, mas que é essencial para garantir que os equipamentos atuem de maneira sequencial, programada
e segura. Se um tempo de atraso é um parâmetro destes circuitos, significa que agora o circuito funciona
em uma velocidade preestabelecida, ou seja, de uma maneira controlada ou sincronizada.
O FF RS com clock de entrada também é constituído por portas lógicas e pode ser representado
conforme a figura a seguir.

S
Q
Ana Cristina de Borba (2016)

Clock

Q
R

Figura 72 - FF RS com entrada clock implementado com portas lógicas


Fonte: Idoeta e Capuano (2012)

Além do circuito FF RS já conhecido, foram adicionadas mais duas portas NAND e as portas NOT foram
excluídas. A conexão dos sinais de entrada também foi mudada. É importante notar que o pulso de clock
tem uma influência muito grande neste circuito, visto que sua conexão de entrada exerce influência sobre
as condições de Set e Reset.
ELETRÔNICA DIGITAL
146

A função principal do clock é habilitar o funcionamento do FF RS, ou seja, quando o nível lógico do
clock é igual a 0, os blocos de saída permanecem iguais, independentemente do valor das entradas R e S.
Quando o nível lógico do clock é igual a 1, então o FF RS funciona normalmente de acordo com a variação
das entradas R, S e o estado de saída Qa. Desta forma, a tabela-verdade do FF RS, considerando o sinal de
clock, pode ser representada da seguinte forma.

S R CLK Q
0 0 0 Qa
0 0 1 Qa
0 1 0 Qa
0 1 1 0
1 0 0 Qa
1 0 1 1
1 1 0 Qa
1 1 1 X
Tabela 60 - Tabela-verdade FF RS com clock
Fonte: SENAI (2016)

Através da tabela-verdade, é possível observar a influência do pulso de clock. Repare que, para este
FF em questão, a saída Q só mudará de estado quando o flip-flop receber uma borda de subida do sinal
de clock. Analisando a tabela de maneira mais completa, observe que na primeira linha, mesmo com as
entradas R e S iguais a zero, a saída Q tem um valor qualquer. Quando o FF atende a primeira borda de
subida, o estado da saída Q está de acordo com o funcionamento normal do FF RS, ou seja, Q é igual a Qa.
Na terceira e quarta linha, a entradas R e S adotam os valores 0 e 1. Mesmo o flip-flop recebendo a função
Reset, o estado de Q só mudará para zero quando uma nova borda de subida for detectada. Na quinta e
na sexta linha, as entradas R e S recebem os valores 1 e 0, respectivamente, e mesmo o flip-flop adquirindo
a função de Set, o estado de Q só mudará para o nível lógico 1 quando uma nova borda de subida for
detectada.
As linhas 7 e 8 da tabela (tabela-verdade FF RS com clock) representam condições não utilizadas. Observe
que, enquanto o FF RS não assume uma borda de subida, o pino de saída Q mantém o estado atual Qa.
Agora você conhece um dos tipos de flip-flop presentes no universo dos circuitos sequenciais, pode
utilizar os principais conceitos aprendidos nesta seção para estudar o funcionamento de outros tipos de
FFs. A seguir, será demonstrado o desempenho de mais uma variação do flip-flop: o tipo JK. Salienta-se que
os conceitos, como uso do clock e realimentação dos sinais, devem estar bem compreendidos para estudar
as próximas seções. Por isso, releia o conteúdo conforme achar necessário e, então, siga em frente!
3 LÓGICA SEQUENCIAL
147

3.1.2 CARATERÍSTICA DE OPERAÇÃO JK

O flip-flop JK tem os mesmos princípios do FF RS. Na verdade, o FF JK é uma derivação do FF RS. De


maneira geral, o funcionamento do FF JK segue o diagrama apresentado.

J J S=J. Q S Q Q
Q

Ana Cristina de Borba (2016)


Clock
Q
R=Q.K Q
K R Q
K

Figura 73 - Diagrama do flip-flop JK


Fonte: Idoeta e Capuano (2012)

Neste diagrama, é possível observar que, além do circuito original do FF RS, foram adicionados alguns
canais de realimentação através de duas portas ANDs.
O flip-flop JK tem o funcionamento semelhante ao RS, e suas entradas são uma condição de realimentação
entre as saídas Q e Q. O FF JK também possui um sinal de clock que habilita seu funcionamento. Quando o
clock tem nível lógico igual a 0, a saída Q é igual a Qa. Ainda que o clock tenha nível lógico igual a 1, a saída
irá depender das entradas J e K. De maneira geral, pode-se escrever esta correlação de acordo com a tabela
a seguir.

J K Q
0 0 Qa
0 1 0
1 0 1
1 1 Qa
Tabela 61 - Funcionamento do flip-flop JK quando o sinal do clock está em nível alto
Fonte: SENAI (2016)

Quando as entradas J e K são nulas, a saída Q se mantém a mesma. No caso de J ser nulo e K igual a 1,
a saída Q é igual a 0. Mas, quando J tem nível lógico 1 e K é nulo, a saída Q é igual a 1. E, se J e K possuírem
nível lógico igual a 1, a saída Q será o inverso de Qa, ou seja, Q é igual a Qa. A grande diferença entre o FF JK
e o FF RS é dada através da última condição de entrada. Quando as entradas R e S possuem nível lógico 1,
o estado de saída é incerto. No caso do FF JK, quando as entradas J e S possuem nível lógico 1, o estado de
saída é bem definido. Quando J = K = 1, o estado de Q será o estado inverso de Qa, ou seja, Qa.
ELETRÔNICA DIGITAL
148

Como este FF possui estados bem definidos e uma grande faixa de aplicações, algumas melhorias foram
impostas. Estas melhorias são dadas através de entradas auxiliares, conforme será visto na sequência.

FLIP-FLOP JK COM ENTRADAS AUXILIARES


Além das entradas J e K, a maioria dos flip-flops possuem duas entradas auxiliares que não estão
vinculadas ao seu funcionamento, mas sim à sua configuração. As entradas auxiliares são chamadas de
Preset (PR) e Clear (CLR) e são chamadas de assíncronas por não dependerem do clock. O diagrama mostra
a configuração desta variável.

(PR)
J Preset
Q
Q
Clock

Ana Cristina de Borba (2016)


Q Q
K (CLR)
Clear
Figura 74 - Flip-flop JK com entradas auxiliares
Fonte: Idoeta e Capuano (2012)

Na figura, observa-se algumas diferenças entre o FF JK normal e o FF JK com entradas auxiliares. As


portas lógicas NAND responsáveis pela realimentação dos sinais de saída agora possuem mais um pino de
entrada, ou seja, possuem três entradas. Em uma destas portas lógicas está conectado o sinal de PR e, em
outra, está conectado o sinal de CLR.
Além dos níveis lógicos das entradas J e K, as entradas PR e CLR podem assumir os valores 0 ou 1,
conforme a tabela a seguir.

ENTRADAS SAÍDAS
PR CLR CLK J K Q Q
1 1 X X X X X
0 1 X X X 0 1
1 0 X X X 1 0
0 0 1 0 0 Qa Qa
0 0 1 0 1 0 1
0 0 1 1 0 1 0
0 0 1 1 1 Qa Qa
Tabela 62 - Funcionamento do FF JK com entradas auxiliares
Fonte: Adaptado de Texas Instruments, 1988
3 LÓGICA SEQUENCIAL
149

Observa-se que as entradas auxiliares atuam de maneira independente do sinal de clock. Para que este
flip-flop funcione de maneira normal, ou seja, atue de maneira dependente das entradas J, K e CLK, os pinos
PR e CLR devem estar conectados a um nível lógico 0.
A partir da tabela anterior, conclui-se que o sinal de Clear tem a função de zerar a saída Q, enquanto o
sinal de Preset tem a atribuição de impor o nível lógico 1 na saída Q. De maneira geral, os flip-flops JK podem
ser representados conforme a seguinte figura.

PR
J Q

CLK

Paco Giordani Mora (2016)


K CLR
Q

Figura 75 - Diagrama do FF JK
Fonte: Adaptado de Idoeta e Capuano (2012)

Conforme apresentado, a figura mostra a representação básica do FF JK e este diagrama de bloco é


uma das formas mais simples de se demonstrar um circuito sequencial, pois, como sua estrutura interna é
composta por muitas ligações, torna prático o uso de diagramas para sua representação.
De maneira geral, as entradas auxiliares não são consideradas nas tabelas-verdade destes circuitos. As
entradas auxiliares são utilizadas para forçar determinadas condições de trabalho, como zerar o nível lógico
de saída antes de iniciar sua aplicação.
Neste diagrama de blocos, é possível observar que existe uma bolinha nas entradas Preset e Clear, cujo
significado quer dizer que a entrada é barrada. E, para que ela seja acionada, deve-se impor o nível lógico
0, ao invés do nível lógico 1. Então, você pode concluir que, para zerar o FF, deve-se impor o nível 0 na
entrada CLR quando ela aparecer barrada, ou seja, o botão de Clear aparecer da seguinte forma: CLR. O
mesmo acontece para o botão de Preset. Assim, estes pinos são representados por bolinhas no diagrama
de blocos. Mais adiante, você verá que o pino CLR é muito utilizado nos circuitos contadores, pois auxiliam
na função de zerar a contagem.
Em muitos casos, você irá observar que aparecerá uma bolinha no pino CLK também, ou então, verá o
clock representado desta maneira: CLK. Isso quer dizer que o clock será sensível à borda de descida ao invés
da borda de subida.
ELETRÔNICA DIGITAL
150

O estudo apresentado aqui sobre o JK descreve basicamente seu funcionamento.


Não foram apresentados detalhes sobre sua constituição física ou variações mais
FIQUE relevantes sobre o ciclo de clock. Em determinados casos, para garantir o sincronismo
e a atuação segura dos estados de saída, os FFs são construídos através de uma
ALERTA configuração chamada mestre-escravo. Outro ponto importante é que alguns FFs têm
o clock sensível à borda de descida e não à borda de subida, como mostrado nesta
seção.

Até aqui, você já aprendeu vários conceitos importantes sobre os flip-flops como uso do clock e entradas
auxiliares. Além disso, você notou que algumas características de operação do FF JK são diferentes do FF
RS. Como pôde constatar, o FF do tipo JK possui diversos modos de operação e entradas auxiliares e, de
certa forma, é um dos circuitos sequenciais mais versáteis encontrados na eletrônica. Como este FF tem
muitas funções, nem sempre todas serão utilizadas para determinadas aplicações, quer dizer, que podem
existir variações do FF JK que realizem menos funções, tornando-se circuitos práticos. Os FF tipo D e T (a
serem apresentados na sequência) são circuitos que derivam do FF JK. Para contribuir um pouco mais com
o seu estudo, que tal conhecer o flip-flop do tipo D? Está preparado? Então siga em frente!

3.1.3 CARATERÍSTICA DE OPERAÇÃO D

O flip-flop do tipo D é uma derivação do FF JK e essa derivação nada mais é do que uma simplificação
no que diz respeito à sua aplicação. Para determinadas aplicações, a saída Q não necessita de funções
especiais, ou seja, para funções simples, pode ser implementado um FF simples.
A saída Q, em alguns casos, precisa receber o valor 0 ou 1 e, para realizar esta função (com o FF JK), o
chaveamento das entradas deve acontecer da seguinte maneira:
J = 0 e K = 1 para Q = 0
J = 1 e K = 0 para Q = 1
A proposta do FF tipo D é simplificar o número de entradas, visto que a saída nestes casos será sempre
0 ou 1. E, como J é sempre a negação de K, e vice-versa, é inserido uma porta inversora de J para K. Neste
caso, a entrada J será nomeada de D e a entrada K não estará mais disponível. A figura, a seguir, mostra a
adaptação realizada no FF JK para se obter o FF D.

PR PR
J Q D Q
Paco Giordani Mora (2016)

CK
CK
K CLR
Q CLR
Q

Figura 76 - Adaptação do FF JK para o FF D


Fonte: Idoeta e Capuano (2012)
3 LÓGICA SEQUENCIAL
151

Perceba que as entradas PR e CLR permanecem as mesmas do FF JK, enquanto que apenas o número
de entradas foi reduzido. Observe também que este flip-flop realizará as mudanças de estados na borda de
descida.
De maneira simples e muito objetiva, a tabela-verdade do funcionamento do FF D fica da seguinte
forma.

D Q Q
0 0 1
1 1 0
Tabela 63 - Tabela-verdade do FF D
Fonte: SENAI (2016)

Você pôde notar que, se uma aplicação é simples, consequentemente serão proporcionados circuitos
mais simples. Agora está na hora de conhecer um outro flip-flop, que também deriva do FF JK: do tipo T.

3.1.4 CARATERÍSTICA DE OPERAÇÃO T

Conforme mencionado, o flip-flop T é uma derivação do JK. Para alguns casos, o flip-flop JK só irá atuar
quando as entradas J e K forem iguais, ou seja, atuam de acordo com as seguintes possibilidades:
J = 0 e K = 0, então Q = Qa
J = 1 e K =1, então Q = Qa
Como para estas aplicações J e K sempre serão iguais, as duas entradas J e K podem ser interligadas,
formando apenas uma única entrada conhecida como T. A simplificação do flip-flop T é dada através do
diagrama que segue.

PR
T J Q

CLK
Paco Giordani Mora (2016)

K CLR
Q

Figura 77 - Adaptação do FF JK para o FF T


Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
152

Repare que o diagrama apresentado não mostra um bloco equivalente do flip-flop T. Segundo Idoeta
e Capuano (2012), os flip-flops tipo T não são encontrados em circuitos integrados comerciais. Eles são
implementados através de FFs JK, que possuem configuração mestre-escravo. De maneira geral, a tabela-
-verdade simplificada do funcionamento do flip-flop T pode ser visualizada a seguir.

T Q Q
0 Qa Qa
1 Qa Qa
Tabela 64 - Tabela-verdade do funcionamento do FF tipo T
Fonte: SENAI (2016)

É importante salientar que esta tabela é verdadeira quando a entrada CLK recebe uma borda de descida.
Caso contrário, não é possível mudar os valores dos blocos de saída dos FFs.
Finalizando a seção sobre os flip-flops, você aprendeu conceitos importantíssimos sobre circuitos lógicos
sequenciais. A partir dos flip-flops e algumas portas lógicas, podem ser realizadas diversas aplicações, como
a implementação dos contadores e registradores. As próximas seções irão tratar dos circuitos sequenciais
com funcionamento mais avançado: temporizador, o contador e o registrador, que são circuitos capazes de
realizar funções avançadas. As seções, a seguir, abordarão cada um destes circuitos de maneira detalhada, a
começar por um circuito muito importante e muito presente no mundo da eletrônica, o temporizador 555.

3.2 TEMPORIZADOR 555

O temporizador 555 tem uma aplicação muito ampla na eletrônica, seja ela analógica ou digital. A
função principal do 555 é geração de ondas retangulares em seu pino de saída. Também, é um circuito
que contém alguns elementos da eletrônica analógica, como resistores e capacitores, além de um circuito
integrado conhecido como LM555, que possui em sua estrutura interna alguns blocos importantes, como
um conjunto de comparadores, alguns transistores, mas principalmente um flip-flop.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
153

Na figura a seguir, é possível observar a estrutura principal do LM555.

1 8
GND +VCC

2 7
Disparo Comparador R Descarga

FLIP
FLOP R

3 Estágio Comparador 6
Saída R Limiar
de saída

Paco Giordani Mora (2016)


4 VREF(INT) 5
Reset Controle de
tensão

Figura 78 - Estrutura interna do LM555


Fonte: Adaptado de Texas Instruments (2015b)

Este CI possui oito pinos, dos quais dois são utilizados para a alimentação (VCC e GND), cinco para
controle do sinal (2, 4, 5, 6 e 7) e um pino de saída (3). Alguns elementos da eletrônica analógica, como
transistores e resistores, não serão detalhados neste livro, mas é importante salientar que os circuitos
internos do LM555 não podem ser alterados. Dependendo do circuito que é conectado em seus pinos de
controle, o LM555 pode atuar como dois diferentes tipos de temporizador: o astável e o monoestável.
Você deve estar se perguntando: o que é uma onda retangular e por que este circuito é chamado
de temporizador? Você verá que uma onda retangular associada ao pino de clock de um flip-flop
determina a velocidade de operação de um determinado circuito. Estes circuitos também podem ser
chamados como circuitos geradores de clock.
Antes de entrar no estudo dos modos de operação do 555, é importante que você conheça alguns con-
ceitos básicos da onda retangular, como amplitude, frequência, período e ciclo de atividade.
ELETRÔNICA DIGITAL
154

Uma onda retangular genérica, por exemplo, pode ser visualizada na figura, a seguir.

(V)

Va

Paco Giordani Mora (2016)


(S)
t1 t2

Figura 79 - Onda retangular


Fonte: SENAI (2016)

A onda retangular é um determinado nível de tensão elétrica que oscila no decorrer do tempo,
possuindo apenas dois valores: uma amplitude de tensão máxima e uma amplitude mínima. A figura da
onda retangular a ser estudada tem as seguintes características:
a) Va: valor de tensão máxima da onda, que é sua unidade de medida (dada em Volts).
b) t1: tempo em que a onda permanece com tensão máxima. Sua unidade de medida é apresentada
em segundos.
c) t2: tempo em que a onda permanece com tensão mínima e sua unidade de medida é dada em
segundos.
d) T: conhecido como período (tempo necessário para a onda realizar seu ciclo completo). Sua unidade
de medida também é representada em segundos.
e) f: conhecido como frequência (quantidade de vezes em que a onda retangular se repete em 1
segundo). Sua unidade de medida é conhecida como Hz.
f) Ciclo de atividade: proporção do tempo de t1 ou t2 em relação a T.
Na próxima seção, você estudará como funciona o temporizador astável, os circuitos conectados no
LM555 e como projetar a onda de saída deste circuito. Também serão mostrados alguns exemplos e
fórmulas para uma melhor compreensão do tema.

3.2.1 TEMPORIZADOR ASTÁVEL

Segundo Malvino e Leach (1987, p. 390), um temporizador astável é “[...] um circuito de comutação com
dois níveis de saída distintos. Em outras palavras, o circuito oscila e a saída é uma forma de onda retangular
periódica. Como nenhum estado de saída é estável, diz-se que esse circuito é astável”. Este circuito também
é muito conhecido como multivibrador astável.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
155

Na seção anterior, foi mencionado que o LM555 possui alguns pinos de controle. Nesse caso, os pinos de
controle irão definir a frequência e o ciclo de atividade do temporizador, sendo que estes dois parâmetros
podem ser ajustados por dois resistores e um único capacitor. Lembrando que a mudança dos valores de
resistência (ohms) e capacitância (Faraday) irão determinar o comportamento da onda. A figura, a seguir,
mostra os resistores (RA e RB) e o capacitor (C) conectados no circuito 555.

+VCC

RA

4 8
2 7
RB
LM555 6

Saída
3 5 C

Paco Giordani Mora (2016)


1

0,01µF

Figura 80 - LM555 astável


Fonte: Adaptado de Texas Instruments (2015b)

Observe que no pino 5 do LM555 tem conectado um capacitor com um valor de capacitância muito
baixo, de 0,01 μF, e tem a função de evitar ruídos. De maneira geral, os valores dos tempos (t1, t2, T) e a
frequência podem ser calculados conforme as fórmulas a seguir:

t1 = 0,693 · (RA + RB) · C


t2 = 0,693 · RB · C

O período T é a somatória dos tempos t1 e t2. Desta forma, T pode ser dado através da seguinte expressão:

T = t1 + t2
T = 0,693 · (RA + 2RB) · C
ELETRÔNICA DIGITAL
156

De maneira geral, existe uma relação inversamente proporcional entre a frequência e o período:

Deste modo, pode-se representar a frequência pela seguinte expressão:

O ciclo de atividade do temporizador astável é:

Para que você compreenda bem a aplicação destas fórmulas, acompanhe, a seguir, um exemplo.

Exemplo – Projeto de um temporizador astável


Tem-se uma resistência RB = 20 kΩ, um capacitor C = 2 μF e se quer obter o valor de RA. Além disso, sabe-
-se que a frequência deve ser igual a f = 17,56 Hz.
Para resolver este problema, é preciso, inicialmente, encontrar o período correspondente a esta
frequência. Além do período, precisa ser localizado o valor de t2 através do resistor RB e do capacitor C.
Com T e t2, pode ser encontrado o valor de t1 e com o valor de t1, basta determinar o valor da resistência
RA. Os passos descritos devem ser realizados através das seguintes expressões matemáticas.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
157

Uma vez determinado o período, deve ser encontrado o valor de t2.

Através da relação entre T, t1 e t2, deve ser obtido o valor de t1.

Com o valor de t1, é possível então calcular o valor de RA a partir da seguinte expressão:

Desta maneira, o resistor encontrado possui o valor de 1 kΩ. Outro aspecto interessante que pode ser
explorado neste exemplo é o ciclo de atividade desta onda, que pode ser calculado da seguinte maneira:

O temporizador astável possui um ciclo de atividade quase simétrica, próximo dos 50%. Sendo assim, em
51% do tempo, a onda possui o nível máximo e em 49% possui nível 0 V. Observe que o ciclo, a frequência
e o período da onda sofrem influência apenas dos resistores e capacitor do circuito. A amplitude do sinal
resultante é dada apenas pela alimentação do circuito integrado.
ELETRÔNICA DIGITAL
158

A figura, a seguir, mostra o temporizador astável em simulação com os valores calculados neste exemplo.

VC

5.00 V
0 30 V
CC

3.97 mA
0 5A

20.0 V
ON

555
100 ms

Paco Giordani Mora (2016)


Figura 81 - Simulação de um circuito astável utilizando o CI LM555
Fonte: SENAI (2016)

Na simulação do circuito, é possível observar a forma de onda gerada na saída do LM555. Observe
que o ciclo de atividade se aproxima dos 49%. Perceba também que a mesma tensão de alimentação do
circuito se torna a tensão máxima (Va) da onda retangular. A simulação deste circuito foi realizada através
do simulador online 123D Circuits da AutoDesk©, mencionado anteriormente.

Além do LM555, existem outros circuitos responsáveis pela geração de ondas


SAIBA triangulares, como o Circuito Inversor Schmitt-Trigger e o Oscilador a Cristal. Uma
MAIS abordagem mais completa sobre este assunto é tratada no livro Sistemas Digitais:
princípios e aplicações, de Tocci e Widmer (2003).

Agora que você aprendeu um dos modos de operação do temporizador 555 e já está familiarizado com
a geração da onda retangular, poderá ver, na próxima seção, que a forma de onda pode sofrer algumas pe-
quenas mudanças se o circuito periférico ao LM555 também for utilizado de maneira diferente. O próximo
modo de operação deste circuito é o temporizador monoestável.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
159

3.2.2 TEMPORIZADOR MONOESTÁVEL

O circuito temporizador monestável, ou multivibrador monestável, atua de maneira um pouco


diferente do astável. Segundo Boylestad e Nashelsky (2013, p. 611), “Períodos de tempo para este circuito
podem variar de microssegundos a vários segundos, o que torna o CI útil para uma vasta gama de
aplicações”. Para que este circuito se comporte de maneira distinta, é necessário que suas ligações externas
ao circuito LM555 também sejam diferentes. Neste temporizador, não é conectado o resistor RB, ou seja, a
ligação entre os pinos 6 e 7 do LM555 permanece em curto. A ligação deste CI pode ser observada através
da figura, a seguir.

+5V T0 +15V
+VCC
Reset

RA

Disparo 4 8 Descarga
2 7

Limiar
LM555 6
Controle
de tensão

Paco Giordani Mora (2016)


Saída
3 5
C
1

0,01µF

Figura 82 - Ligação do CI LM555 para atuação como multivibrador monestável


Fonte: Adaptado de Texas Instruments (2015b)

Este circuito também pode ser chamado de one shot, expressão em inglês que significa um disparo. Por
isso, depois do disparo, a saída do LM555 fica em nível alto durante um determinado tempo. Neste caso,
o funcionamento deste multivibrador depende de um único disparo que, ao ser acionado, leva a saída no
pino 3 para nível alto em um tempo t1. Depois deste tempo, a saída retorna para seu nível lógico 0, até que
um novo disparo seja realizado. O tempo t1 pode ser expresso através da seguinte expressão.
t1 = 1,1 · RA · C
Observe que este circuito deve receber um pulso de entrada. Assim, quando isso ocorrer, o capacitor
começa a ser carregado. A tendência é que o capacitor seja carregado até obter tensão VCC, mas durante
o processo de carga, quando a tensão presente no capacitor é igual a ⅔ da tensão VCC, o mesmo é
descarregado, fazendo com que o nível de tensão no pino de saída também seja igual a 0.
ELETRÔNICA DIGITAL
160

A figura, a seguir, mostra um exemplo das formas de onda das tensões presentes no disparo, na saída e
no capacitor.

Paco Giordani Mora (2016)


Vcc = 5 V Traço verde: entrada 5 V/DIV
Tempo = 0,1 ms/DIV Traço vermelho: saída 5 V/DIV
RA = 9,1 kΩ Traço azul: tensão do capacitor
C = 0,01uF 2 V/DIV
Figura 83 - Exemplo das formas de onda de um temporizador monestável
Fonte: TEXAS INSTRUMENTS (2015b)

Observe, através das formas de onda, que o capacitor começa a carregar a partir do disparo e o processo
de carga do capacitor é interrompido após o tempo t1. Assim, t1 é o tempo em que o capacitor está sendo
carregado e, neste intervalo de tempo, a tensão na saída recebe o nível lógico 1 ou o sinal de tensão VCC.
É importante notar que o sinal de tensão na saída recebe o mesmo valor de tensão da alimentação. Outro
aspecto importante é que o sinal de entrada do disparo também possua o mesmo nível de tensão, mas
com sinal negativo. Isso quer dizer que a tensão de disparo será sempre – VCC. Para compreender bem este
conceito, veja alguns exemplos a seguir.

Exemplo 1 – Cálculo de resistor para um multivibrador monoestável


Encontre o valor do resistor RA para um multivibrador monoestável de tempo igual a 0,1 segundos,
sabendo que o capacitor é igual a 10 μF. O valor de RA pode ser encontrado utilizando as expressões
matemáticas a seguir.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
161

Exemplo 2 – Cálculo de capacitor para um multivibrador monoestável


Encontre o valor de C para um multivibrador monoestável de tempo igual a 0,01 segundos, sabendo
que o resistor RA é igual a 1 kΩ. O valor de C pode ser encontrado utilizando as expressões matemáticas a
seguir.

Exemplo 3 – Cálculo de tempo para um multivibrador monoestável


Encontre o valor de t1 para um multivibrador monoestável de resistência 5 K e uma capacitância de
100 μF. O valor do tempo em que a saída fica em nível alto pode ser encontrada através das expressões
matemáticas a seguir.

Observe que, para os valores de capacitor e resistor dados neste exemplo, o tempo em que o
multivibrador fica em nível alto é de apenas 0,55 segundos. Tempos pequenos podem ser utilizados para
pequenos sinais de alerta, como luzes ou sinais sonoros.

Os temporizadores monestáveis podem ser aplicados em sistemas em que o seu


funcionamento ocorre esporadicamente, como o acionamento da sirene utilizada em
CURIOSI escolas ou empresas. Este circuito habilita o funcionamento da sirene durante um
DADES curto espaço de tempo. A sirene só será habilitada novamente quando for acionado o
próximo disparo do monoestável.
ELETRÔNICA DIGITAL
162

Nesta seção, você viu diferentes exemplos e aplicações dos temporizadores, também conhecidos como
multivibradores. Aprendeu uma das várias aplicações dos flip-flops e estudou as diferentes formas de onda
conforme cada variável. Ainda teve a oportunidade de conhecer que a função principal destes circuitos
é a geração de ondas retangulares, que, posteriormente, podem ser utilizadas como sinal de clock para
registradores e contadores. Por isso, na próxima seção, será apresentado um circuito novo, conhecido
como contador, responsável por atuar através da união das funções de vários flip-flops e pulsos de clock.

3.3 CONTADORES

Contadores são estruturas integradas de circuitos combinacionais com os flip-flops. Sua principal
função é realizar a contagem numérica em uma determinada ordem crescente ou decrescente. Não
necessariamente os contadores precisam realizar a contagem de maneira gradual, ou seja, alguns números
podem ser desconsiderados nessa contagem, pois possuem uma aplicação muito ampla em equipamentos
eletrônicos, como a contagem de horas, cronômetros, contadores de sequências operacionais,
endereçamento de memórias, entre outros.
Os contadores podem pertencer a diversas categorias e são classificadores de acordo com seu tipo
de controle, contagem e tipo de código. No que diz respeito ao tipo de controle, os contadores podem
ser síncronos ou assíncronos. Em relação ao tipo de contagem, são classificados como crescentes ou
decrescentes. O tipo de código normalmente utilizado em circuitos dedicados de contadores são binário,
década ou hexadecimal. Por exemplo, um contador pode ser síncrono, decrescente e realizar a contagem
em binário ou, da mesma forma, um outro contador pode ser assíncrono crescente e realizar a contagem
do tipo década.
Por isso, para iniciar o estudo dos contadores, é indispensável conhecer a estrutura interna destes circui-
tos. Como mencionado anteriormente, os contadores combinam circuitos combinacionais com flip-flops e
essa união pode ser observada conforme a figura a seguir.

Níveis Lógicos que determinam Clock


os Estados Internos Futuros

Circuito
FLIP-FLOPS
Combinacional
Paco Giordani Mora (2016)

Figura 84 - Estrutura interna dos contadores


Fonte: Lourenço et al. (2007)
3 LÓGICA SEQUENCIAL
163

Observe que os circuitos contadores são formados por flip-flops. O pulso de clock presente nesta
estrutura irá determinar a velocidade da contagem. Desta maneira, quanto maior for a frequência deste
pulso, mais rápido serão as operações realizadas pelo contador.
A sequência de operação dos contadores pode ser visualizada de acordo com uma técnica chamada
diagrama de estados que apresenta todos os valores possíveis que o contador pode realizar de maneira
sequencial, ou seja, é um diagrama que mostra o conjunto dos possíveis números de contagem de maneira
organizada.
Além dos diagramas de estado, nesta seção, você irá estudar os contadores síncronos (crescente e
decrescente), contadores assíncronos (crescente e decrescente), aplicação dos contadores como divisores
de frequência e os contadores em cascata. Agora que você obteve uma visão geral dos contadores, está na
hora de realizar, a seguir, um estudo aprofundado sobre cada conceito.

3.3.1 DIAGRAMA DE ESTADOS

O diagrama de estados é um desenho que mostra a sequência de todos os possíveis números da


contagem de maneira sequencial. Os números são dispostos dentro de pequenos círculos que representam
um número de contagem. Neste caso, cada círculo, ou cada número, pode ser chamado de estado.
Portanto, os diagramas de estado estudados nesta seção representam a contagem do tipo década, binário
e hexadecimal. Na sequência, serão mostrados alguns exemplos.

DIAGRAMA DE ESTADOS PARA CONTAGEM DO TIPO DÉCADA


Perceba que cada estado mudará conforme a alteração no pulso de clock. Mas, suponha que você
gostaria de representar a sequência de contagem de 0 a 9, que é uma sequência crescente do tipo década.
Logo, esta contagem pode ser representada através da figura, a seguir.

1 2 3 4

0 5
Paco Giordani Mora (2016)

9 8 7 6
Figura 85 - Diagrama de estados da contagem crescente do tipo década
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
164

Observe que o diagrama representa todos os possíveis números de contagem, bem como a sequência
de contagem. A seta presente no diagrama indica a ordem de contagem. Por isso, se o contador estiver no
estado 1, por exemplo, após o pulso de clock do contador, o estado atual mudará para o estado 2. Quando
o contador estiver no estado 9, após o pulso de clock, irá mudar para o estado 0 e, consequentemente, a
contagem inicia novamente.
Perceba que o contador de década realiza a contagem de 0 a 9 e isto significa que o máximo valor do
contador é o estado 9. O diagrama de estados pode mudar de acordo com a sequência de contagem e com
os valores nele inseridos. A figura, a seguir, mostra o contador de década do tipo decrescente.

1 2 3 4

0 5

9 8 7 6 Paco Giordani Mora (2016)

Figura 86 - Diagrama de estados da contagem decrescente do tipo década


Fonte: SENAI (2016)

Observe que, da contagem crescente para a contagem decrescente, o diagrama de estados muda
apenas o sentido das setas de orientação. Desta maneira, quando a contagem estiver no estado 4, após o
pulso de clock, o estado irá mudar para o estado 3. Da mesma forma, quando a contagem estiver no estado
0 e quando o contador receber o pulso de clock, o estado mudará para o estado 9. Veja que, neste caso, o
estado 0 é o último valor da contagem, ou seja, a contagem iniciará de novo no estado 9.

DIAGRAMA DE ESTADOS PARA CONTAGEM DO TIPO HEXADECIMAL


O diagrama de estados para uma contagem do tipo hexadecimal é muito semelhante ao tipo década.
A única diferença é a quantidade de números inseridos no diagrama, sendo possível obter 16 valores
na contagem. Este diagrama irá mostrar valores de 0 a F, correspondentes aos números hexadecimais
estudados nas primeiras seções deste livro didático.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
165

O diagrama de estados, que realiza a contagem hexadecimal crescente, pode ser visualizado na figura,
a seguir.

1 2 3 4 5 6 7

Paco Giordani Mora (2016)


0 8

F E D C B A 9

Figura 87 - Diagrama de estados da contagem crescente do tipo hexadecimal


Fonte: SENAI (2016)

Observe que a contagem hexadecimal relaciona a representação dos números hexadecimais de 0 a F.


Para um contador crescente, se a contagem estiver no estado 9, após o pulso de clock, o estado atual irá
mudar para o estado A. Se a contagem estiver no estado F, após o pulso de clock, o estado atual mudará
para o estado 0, ou seja, a contagem será iniciada novamente em 0.
Na figura, a seguir, pode-se observar que, para representar o diagrama de estados de uma contagem do
tipo hexadecimal decrescente, basta mudar o sentido das setas.

1 2 3 4 5 6 7
Paco Giordani Mora (2016)

0 8

F E D C B A 9

Figura 88 - Diagrama de estados da contagem decrescente do tipo hexadecimal


Fonte: SENAI (2016)

Em um contador decrescente, os estados variam de F a 0, ou seja, F é o início da contagem, enquanto


que 0 é o último valor presente na sequência. Desta maneira, quando o estado atual for o estado 0 e o
contador receber um pulso de clock, o estado atual mudará para o estado F.
Além das contagens do tipo década e hexadecimal, também existe a contagem do tipo módulo-2,
tida como uma das mais simples de se implementar, pois é necessário apenas um flip-flop e um circuito
combinacional muito simples.
ELETRÔNICA DIGITAL
166

DIAGRAMA DE ESTADOS PARA CONTAGEM DO TIPO MÓDULO-2


O diagrama de estados que representa uma contagem do tipo módulo-2 possui apenas dois estados
(0 ou 1). Neste caso, fica difícil de saber se a contagem está sendo realizada no sentido crescente ou no
sentido decrescente. Isso quer dizer que, para a contagem módulo-2, existe apenas uma representação no
diagrama de estados. É possível afirmar também que a contagem módulo-2 realiza a inversão do estado
anterior, pois, se o estado atual é 0, após o pulso de clock, o estado atual mudará para o estado 1. De
maneira análoga, quando o estado atual é 1, e o contador recebe o pulso de clock, o estado atual mudará
para o estado 0. A figura, a seguir, mostra o diagrama correspondente.

Paco Giordani Mora (2016)


0 1
Figura 89 - Diagrama de estados da contagem do tipo módulo-2
Fonte: SENAI (2016)

Imagine que o contador realize uma contagem um pouco diferente do habitual, por exemplo, que o
circuito conte até 8. Obviamente, o circuito deste contador será um pouco diferente do circuito que conte
até 9. Este circuito se chamará contador de módulo-8. Os nomes dos contadores são dados pelo último
valor possível de contagem. Desta maneira, esses contadores são chamados de contadores módulo-N.
Veja, na sequência, o exemplo deste diagrama.

DIAGRAMAS DE ESTADOS DO TIPO MÓDULO-N


Após estudar os três principais diagramas utilizados em contadores, é importante ressaltar que, para
algumas aplicações, a contagem não obedece a sequência até o final. Isso quer dizer que a contagem pode
ser definida para diferentes valores. Por exemplo, um contador que realiza a contagem de 0 a 8. A figura, a
seguir, apresenta o diagrama de estados contador módulo-8.

1 2 3

0
Paco Giordani Mora (2016)

8 7 6

Figura 90 - Diagrama de estados da contagem do tipo módulo-8


Fonte: SENAI (2016)
3 LÓGICA SEQUENCIAL
167

Para o contador crescente de módulo-8, a contagem se inicia em 0 e termina no estado 8. Nesta


contagem, se o estado atual tem o valor 8, e o contador recebe um pulso de clock, o estado atual irá mudar
para o estado 0.
Diante do exposto, você tem a capacidade de interpretar o diagrama de estados para qualquer tipo de
contagem, seja ela decimal, hexadecimal, módulo-2 ou módulo-N. O diagrama de estados proporciona
uma visão geral do funcionamento dos contadores. Através de um diagrama de estados, você pode estudar
ou propor um contador correspondente. Observe que o diagrama de estados não diz respeito ao tipo de
controle do contador, ou seja, se o contador é do tipo síncrono ou assíncrono.
Agora que você conhece o conceito principal dos contadores, está na hora de estudar sobre a estrutura
dos tipos de contadores. A maior diferença que existe entre um contador e outro é o tipo de controle. Este
aspecto irá determinar qual o tipo de flip-flop presente no contador, além de influenciar na velocidade da
contagem. Para a próxima seção, é necessário que você tenha compreendido bem o funcionamento dos
flip-flops e a atuação do pulso de clock.

3.3.2 CONTADOR ASSÍNCRONO CRESCENTE/DECRESCENTE

Segundo Garcia e Martini (2008, p. 99), os contadores assíncronos “São estruturas lógicas que realizam
transições de forma não sincronizada. São constituídas de associações de flip-flops”. Mas, o que são
transições de forma não sincronizada?
O termo sincronismo se refere à atuação conjunta dos flip-flops. Neste tipo de contador, os flip-flops não
atuam de maneira conjunta, ou seja, não recebem o mesmo sinal de clock. Neste tipo de contador, a saída
de cada flip-flop estará conectada no pino de clock do próximo flip-flop. Você deve estar se perguntando:
quem e como se define o valor da contagem dos contadores?
Os contadores assíncronos podem realizar contagens crescentes e decrescentes, dependendo do
número de flip-flops e ao circuito combiacional presentes na sua estrutura. Os contadores assíncronos
normalmente são implementados com os FF JK, ou melhor, FF do tipo T. Suponha que você queira realizar
um contador que conte até 7. Neste caso, você precisa de apenas 3 bits para representar o número 7. Cada
bit será equivalente a um FF, ou seja, para 3 bits, são necessários 3 FFs. Veja um exemplo do contador de
módulo-7 através da figura, a seguir.

1 Q0 1 Q1 1 Q2

J Q J Q J Q
CLK
Paco Giordani Mora (2016)

K CLR Q K CLR Q K CLR Q


CLR

Figura 91 - Contador módulo-7 crescente


Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
168

O contador módulo-7 é formado por 3 bits, ou seja, por 3 FFs. Os flip-flops utilizados para a implementação
deste contador foram os FF JK operando como um FF do tipo T. Observe, na figura, que a saída Q0 está
conectada no clock do próximo FF, enquanto que a saída Q1 está conectada no clock do último FF. Este é
motivo no qual este contador é chamado de assíncrono, pois o sinal de clock é diferente para cada FF ao
longo do tempo.
Para entender o funcionamento do contador módulo-7 (assíncrono) crescente, considere que o valor
inicial presente nas saídas dos FF seja 0. Após o primeiro pulso de clock, considerando a alteração de estado
através da borda de descida, o estado de Q0, muda de 0 para 1, enquanto que os demais FFs permanecem
inalterados. Quando a 2.ª borda de descida é detectada pelo primeiro FF, o estado de Q0 muda de 1 para 0
e, quando isto ocorre, o segundo FF detecta uma borda de descida, ou seja, o estado de Q1 muda de 0 para
1. É importante notar que o estado de Q2 só irá mudar quando Q1 trocar de 1 para 0, ou melhor, gerar uma
borda de descida. Desta forma, pode-se descrever o funcionamento deste contador através da seguinte
figura.

CLK
0 0 0 0 0 0 0 0

Q0
0 1 0 1 0 1 0 1 0

Q1
Paco Giordani Mora (2016)

0 1 0 1 0

Q2
0 1 0

Figura 92 - Formas de onda do contador módulo-7 crescente


Fonte: SENAI (2016)

Observe, nas formas de onda do contador módulo-7, que a cada borda de descida do clock o estado da
saída Q0 se altera, variando de 0 para 1 ou de 1 para 0. Veja também que apenas quando Q0 troca do estado
1 para 0 (borda de descida) Q1 muda de estado. Observe também que apenas quando Q1 muda de estado 1
para 0 (borda de descida) Q2 modifica de estado. Desta maneira, pode-se entender que Q0 é o sinal de clock
do FF 1, bem como Q1 é o sinal de clock do FF 2.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
169

De forma geral, a cada pulso de clock, os bits Q2, Q1 e Q0 formam um número binário diferente. A tabela,
a seguir, mostra o número de bordas de descida de acordo com os números binários correspondentes.

CLK
Q2 Q1 Q0 (LSB) NÚMERO DECIMAL
(BORDA DESCIDA)
- 0 0 0 0
1ª 0 0 1 1
2ª 0 1 0 2
3ª 0 1 1 3
4ª 1 0 0 4
5ª 1 0 1 5
6ª 1 1 0 6
7ª 1 1 1 7
8ª 0 0 0 0
Tabela 65 - Contagem módulo-7
Fonte: SENAI (2016)

Observe, na tabela da contagem de módulo-7, que o conjunto dos 3 FF formam os bits necessários para
a representação dos números de 0 a 7 de forma decimal. Ressalta-se que a saída Q0 representa o bit menos
significativo, ou seja, o bit que muda de estado mais rapidamente em relação ao clock. Observe que, tanto
na tabela, quanto nas formas de onda apresentadas, o contador muda o estado de suas saídas conforme
a borda de descida do sinal de clock. Outro ponto importante para se observar, nos gráficos e na tabela, é
que após o estado 7, o próximo estado será o estado 0, ou seja, a contagem reinicia.
Como os valores da contagem mudam de bit a bit, este contador pode ser chamado de contador de
pulsos, que pode realizar qualquer contagem de acordo com a quantidade de FFs disponíveis.
Nas formas de onda do contador, é interessante observar que os estados de saída Q0, Q1 e Q2 possuem
uma forma de onda muito semelhante à de onda do sinal de clock, mas com uma pequena diferença, isto
é, a frequência do sinal de cada saída é menor em relação à frequência do sinal de clock. Observe, portanto,
que a frequência da saída Q0 é a metade do sinal de clock e, para chegar à essa conclusão, veja que, em 1
ciclo da forma de onda de Q0, cabem 2 ciclos da forma de onda do clock. Do mesmo modo, em apenas 1
ciclo da saída Q1, cabem 4 ciclos da forma de onda do clock. E de maneira análoga, em apenas 1 ciclo da
saída (Q2) cabem 8 ciclos da forma de onda do clock. Isso significa que a frequência da saída Q0 é a metade
do sinal do clock, ou seja, este circuito pode ser considerado um circuito divisor de frequência. Porém,
esta aplicação será detalhada em seções posteriores.
O contador de pulsos apresentado realiza uma contagem crescente. Mas, como realizar a contagem
decrescente? O que deve ser levado em consideração para que o circuito conte de maneira contrária?
Continue a leitura.
ELETRÔNICA DIGITAL
170

CONTADOR ASSÍNCRONO DECRESCENTE


O contador assíncrono decrescente é uma variação simples do circuito apresentado anteriormente.
Enquanto o contador realizava a contagem de 0 a 7, agora, deve realizar a contagem de 7 a 0. Desejando
compreender a lógica do circuito, pode-se começar com o funcionamento de cada bit na contagem
regressiva. A tabela, a seguir, mostra os valores possíveis de acordo com o contador assíncrono decrescente.

NÚMERO DECIMAL Q2 Q1 Q0
7 1 1 1
6 1 1 0
5 1 0 1
4 1 0 0
3 0 1 1
2 0 1 0
1 0 0 1
0 0 0 0
7 1 1 1
Tabela 66 - Tabela do contador assíncrono descendente de módulo-7
Fonte: SENAI (2016)

Observe que os bits do contador decrescente mudam na sequência inversa do contador de ordem
crescente. Basicamente, a ordem de mudança de bits de um contador binário decrescente é equivalente
a uma tabela-verdade invertida. Diante desta afirmação, é lógico pensar que as saídas Q2, Q1 e Q0
apresentam o comportamento inverso das saída Q2, Q1 e Q0. Desta forma, perceba que o circuito contador
assíncrono decrescente é uma variação simples do circuito crescente, basta utilizar os canais de saída Q
ao invés dos canais de saída Q. O circuito contador assíncrono decrescente de módulo-7 é apresentado
através da seguinte figura.

1 Q0 1 Q1 1 Q2
Paco Giordani Mora (2016)

J Q J Q J Q
CLK

K CLR Q K CLR Q K CLR Q


CLR

Figura 93 - Contador assíncrono decrescente de módulo-7


Fonte: SENAI (2016)

Observe, no contador decrescente, que a estrutura dos flip-flops são as mesmas e a única diferença é
que são utilizados os blocos de saída de Q ao invés dos blocos de saída Q. A seguir, será apresentado um
circuito contador de década utilizando 4 flip-flops. Você verá que, além da estrutura básica do contador,
ainda é necessário um circuito combinacional auxiliar para a realização da contagem de módulo-9.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
171

CIRCUITO CONTADOR DE DÉCADA


Um circuito muito aplicado em equipamentos eletrônicos é o circuito contador de década. Este circuito
contador realiza a contagem de 0 a 9, ou seja, conta o conjunto de todos os algarismos decimais. Para
representar o número máximo (o número 9) desta contagem, são necessários 4 bits, ou seja, 4 FFs JK.
Caso o contador seja construído apenas com 4 flip-flops, a contagem será realizada de 0 a 15 ou de 0 a
F (contador hexadecimal). Um problema pertinente a este exemplo é que o circuito contador de década
deve reiniciar a contagem após o estado 9. E, para que este circuito reinicie neste estado, o estado 0 deve
ser forçado em cada flip-flop através do comando CLR.
Assim, para forçar o estado 0 nos FFs, deve-se, incialmente, identificar o estado 10, pois neste estado
não pertence à contagem. Desta maneira, quando o circuito detectar este estado, um circuito combinacio-
nal auxiliar deverá acionar o pino CLR de todos os FFs. E o sinal 1010b (equivalente ao decimal 10) deve ser
percebido de diversas formas, utilizando portas AND, NOT, OR etc. Neste exemplo, será utilizada uma porta
lógica NAND e o circuito contador de década pode ser representado conforme a figura a seguir.

1 Q0 1 Q1 1 Q2 1 Q3

SET SET SET SET


J Q J Q J Q J Q
CLK

K CLR Q K CLR Q K CLR Q K CLR Q

Paco Giordani Mora (2016)

Figura 94 - Contador de década


Fonte: SENAI (2016)

Verifique que no diagrama do contador de década, a detecção da informação 1010b é feita através da
porta NAND, onde seu sinal de saída deve ser nível 0. Observe que, para detectar o primeiro bit, foi utilizada
a saída Q3 e que, para o segundo bit, foi utilizada a saída Q2, pois este bit tem estado 0. Já para identificar
o terceiro bit, foi indicada a saída Q1 e para localizar o quarto bit (menos significativo) foi utilizada a saída
Q0. Como estudado em seções anteriores, a função lógica da saída NAND pode ser dada da seguinte forma:
ELETRÔNICA DIGITAL
172

Considerando os valores

Desta maneira, quando o sinal 1010b estiver presente nos FFs, o circuito composto pela porta NAND irá
reiniciar a contagem através do pino CLR dos FFs JK. Veja que, se o circuito contador de década não tivesse
o circuito combinacional auxiliar, a contagem seguiria até o número 1111b (ou decimal 15).
Agora que você compreendeu como funciona o contador assíncrono, suas variações e algumas
aplicações, está na hora de estudar outro tipo de contador: o contador síncrono. Muitos conceitos
aprendidos nesta seção vão ajudar você a compreender o funcionamento e analisar as diferenças entre um
contador e outro desta natureza.

3.3.3 CONTADOR SÍNCRONO CRESCENTE/DECRESCENTE

Segundo Garcia e Martini (2008, p. 99), os contadores síncronos “São estruturas lógicas que realizam
transições de forma sincronizada, vinculadas a um sinal de relógio (clock) externo.” Os contadores síncronos
podem ser implementados com os FFs JK, sendo que uma característica interessante dos contadores
síncronos é que podem formar sequências aleatórias de contagem. A figura, a seguir, mostra um contador
síncrono de N bits.

QN QN-1 Q1 Q0

JN QN JN-1 QN-1 ... J1 Q1 J0 Q0

KN QN KN-1 QN-1 K1 Q1 K0 Q0
CK
Paco Giordani Mora (2016)

Circuito
Combinacional

Figura 95 - Contador síncrono de N bits


Fonte: Idoeta e Capuano (2012)

Repare na figura do contador síncrono que todos os FFs JK têm o mesmo sinal de clock e observe
também que os pinos J e K estão conectados em um circuito combinacional. Isto acontece, porque,
para a sequência desejada, o circuito combinacional irá modificar as entradas J e K a fim de impor uma
determinada informação nas saídas dos FFs.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
173

Porém, do que resulta ou como será o circuito combinacional? O circuito combinacional irá depender
do número de bits e da sequência de contagem. Neste caso, lembre-se do funcionamento do FF JK de
acordo com sua tabela-verdade. Observe que não existe um circuito fixo para projetar um contador síncro-
no. Mas, para que este conhecimento seja bem compreendido, a seguir, será exposto um exemplo de um
contador de 2 bits que realiza a seguinte sequência 3, 0, 2 e 1.

Exemplo – Projeto de um contador de uma sequência qualquer


Projete um contador síncrono de 2 bits que realize a sequência 3, 0, 2 e 1. Neste contador, você deverá
descobrir quais são os elementos e ligações presentes no circuito combinacional. A sequência pode ser
visualizada na figura, a seguir.

3 0

Ana Cristina de Borba (2016)

1 2

Figura 96 - Contagem a ser realizada pelo contador síncrono


Fonte: SENAI (2016)

Neste exemplo, serão utilizados apenas 2 flip-flops (correspondem a 2 bits) e, com essa quantidade de
bits, é possível representar os números 0, 1, 2 e 3. Observe que os pinos J e K dos flip-flops são, na verdade,
saídas do circuito combinacional. Desta maneira, para descobrir o circuito combinacional, pode-se utilizar
a técnica de análise aprendida no capítulo 2. Assim, o funcionamento do circuito pode ser representado a
partir da seguinte tabela:

CLOCK SEQUÊNCIA Q1 Q0 J1 K1 J0 K0
1º 3 1 1 X 1 X 1
2º 0 0 0 1 X 0 X
3º 2 1 0 X 1 1 X
4º 1 0 1 1 X X 0
5º 3 1 1 X 1 X 1
Tabela 67 - Contador síncrono de sequência 3-0-2-1
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
174

Os valores de J1 e K1 foram definidos de acordo com a saída Q1, enquanto que os valores de J0 e K0 são
determinados com a saída Q0. Estes valores foram tomados com base na tabela-verdade do FF JK presente
na seção anterior. Observe que no momento em que o valor de Q altera de 0 para 1, J = 1 e K = X. Enquanto
Q muda de 1 para 0, J = X e K = 1. Quando Q mantém o valor 0, J = 0 e K = X. Quando Q mantém o valor 1,
J = X e K = 0.
Para descobrir o circuito combinacional presente nas entradas do contador, deve-se considerar J1, J0,
K1 e K0 como saídas do sistema. Desta forma, conforme apontado na figura, é possível montar quatro
Mapas de Karnaugh correspondentes a este circuito combinacional.

J1: K1:
Q0 Q0
0 1 0 1
0 1 1 0 X X
Q Q1
1 X X 1 1 1
(a) (b)
J0: K0:
Q0 Q0

Ana Cristina de Borba (2016)


0 1 0 1
0 0 X 0 X 0
Q1 Q1
1 1 X 1 1 1
(c) (d)
Figura 97 - Mapas de Karnaugh para um contador de sequência 3-0-2-1
Fonte: SENAI (2016)

Observe, nestes mapas, que as variáveis de entrada do circuito combinacional são as saídas do flip-flop,
ou seja, as entradas do circuito são Q1 e Q0, enquanto que as saídas representadas nestes mapas são J1, J0,
K1 e K0. Analisando o enlace em (a), pode-se concluir que a saída J1 é dada por:
J1 = 1
Da mesma forma, analisando o enlace em (b), pode-se concluir que a saída K1 é dada por:
K1 = 1
Observando o enlace em (c), pode-se concluir que a saída J0 deve ser apresentada por:
J0 = Q0 + Q1
Analisando o último Mapa de Karnaugh em (d), conclui-se que a saída K0 pode ser mostrada através da
seguinte expressão.
K0 = Q0 + Q1
3 LÓGICA SEQUENCIAL
175

A figura, a seguir, mostra o contador síncrono para a sequência 3-0-2-1.

1 Q0

Q1
CLK J Q J Q

Ana Cristina de Borba (2016)


K Q K Q

Figura 98 - Contador síncrono de sequência 3-0-2-1


Fonte: SENAI (2016)

Observe que as entradas (J1 e K1) estão em nível lógico 1. O circuito combinacional deste contador
síncrono é composto por duas portas OR. Observe que na sequência (3-0-2-1) a saída Q1 está sempre
mudando, portanto, pode-se simplificar (J1 e K1) para 1. As portas OR têm a função de detectar em qual
estado J0 e K0 devem mudar para influenciar a mudança de Q0. Observe que este circuito combinacional
altera apenas o estado de Q0, pois Q1 já tem sua mudança de forma sequencial de 1 para 0 e de 0 para 1.
Estas ligações fazem o circuito atuar nesta sequência específica e, se fosse desejada uma outra
sequência, certamente, as ligações (Q, J e K) seriam diferentes. Quanto mais bits o contador possuir, maior
será o circuito combinacional.
Agora que você estudou os dois tipos de contador, chegou o momento de compreender algumas
aplicações e conexões específicas de contadores. As próximas seções mostrarão a aplicação de contadores
como divisor de frequência e algumas conexões para aumentar o módulo de contagem de cada contador.
Você verá ao longo destas seções que os contadores possuem uma importância fundamental no estudo
dos circuitos sequenciais.

3.3.4 CONTADOR COMO DIVISOR DE FREQUÊNCIA

Nesta seção, será dada uma maior atenção ao contador como divisor de frequência. Lembre-se de
que o contador divisor de frequência, já apresentado em uma seção anterior, é formado por contadores
assíncronos e, dependendo do número de FFs JK dispostos em cascata, maior será a divisão da frequência
original do pulso de clock. Portanto, nesta seção serão apresentados um exemplo e uma simulação do
circuito divisor de frequência.
ELETRÔNICA DIGITAL
176

Existem diversos tipos de onda, sejam senoidal, triangulares, rampa, quadradas etc. O
FIQUE contador, como divisor de frequência, é aplicado apenas para ondas quadradas com
ALERTA nível de tensão positiva.

No intuito de realizar a simulação, será utilizado um circuito integrado 74HC93 que possui 4 bits. Portanto,
pode realizar quatro diferentes divisões de frequência. A pinagem do CI 74HC93 pode ser visualizada na
figura, a seguir:

Clock CP1 1 14 CP0 Clock

Entrada auxiliar CLR MR1 2 13 n.c. Não utilizado

Entrada auxiliar CLR MR2 3 12 Q0 Saída Q0

Não utilizado n.c. 4 11 Q3 Saída Q3

Alimentação do Circuito vcc 5 10 GND Alimentação do Circuito

Ana Cristina de Borba (2016)


Não utilizado n.c. 6 9 Q1 Saída Q1

Não utilizado n.c. 7 8 Q2 Saída Q2

Figura 99 - CI 74HC93
Fonte: Adaptado de PHILIPS (1990)

O CI 74HC93 possui tecnologia TTL e tem 14 pinos, mas os pinos 4, 6, 7 e 13 não são utilizados. Logo,
os pinos 5 e 10 são utilizados para a alimentação do circuito, enquanto os pinos 12, 9, 8 e 11 representam,
respectivamente, as saídas Q0, Q1, Q2 e Q3. Este circuito apresenta duas opções de clock: CP0 e CP1. Neste
caso, pulsos de clock controlam diferentes FFs no interior do contador.
Desta maneira, deve-se conectar a saída Q0 ao CP1 para que todos os pulsos de clock estejam conec-
tados de maneira assíncrona. O sinal de clock deve ser conectado ao pino CP0 , sendo que a mudança de
estado deste contador é sensível à borda de descida do sinal de clock. Importante destacar que os pinos
2 e 3 também são CLR. A figura, a seguir, mostra como o CI pode ser conectado em uma aplicação prática.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
177

O circuito integrado 74HC93 também pode ser considerado um contador assíncrono hexadecimal, pois
com seus 4 bits é possível realizar a contagem de 00002 a 11112, em decimal (0 a 15), ou em hexadecimal
(0 a F).

VC

5.00 V 16.0 Hz
0 30 V 1 Hz 1 MHz

CC

17.7 µA 5.00 V
0 5A 0 10 V

ON
2.50 V
-5 V +5 V

ON

Sabrina Farias (2016)


74HC03

Figura 100 - Circuito divisor de frequência


Fonte: SENAI (2016)

Este circuito é composto por um gerador de função de onda quadrada positiva de frequência 16 Hz e
amplitude 5VDC. Esta onda quadrada é utilizada como sinal de clock. Observe que os pinos 2 e 3 (pinos de
reset) estão conectados no pino de GND. Desse modo, as funções de reset estão desabilitadas. O sinal de
clock está sendo representado pela cor amarela.
A fim de observar as formas de onda deste circuito, será utilizado um equipamento chamado
osciloscópio, equipamento que possibilita a visualização da forma de onda de diferentes tipos de sinais
em várias frequências. Inicialmente, um osciloscópio será conectado no gerador de função para observar
a forma de onda e a frequência do sinal de clock. Depois, será conectado um osciloscópio em cada saída Q
do contador, para que se possa constatar a divisão da frequência. A figura, a seguir, mostra o sinal do clock
visualizada em um osciloscópio.
20.0 V
Ana Cristina de Borba (2016)

1.00 s

Figura 101 - Osciloscópio f = 16 Hz


Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
178

Torna-se possível comprovar que a frequência do sinal é de 16 Hz, pois em 1 segundo cabem 16 ciclos
da onda quadrada. Veja, a seguir, a figura do osciloscópio mostrando as ondas geradas nas saídas Q0 e Q1.

20.0 V
20.0 V

Ana Cristina de Borba (2016)


1.00 s 1.00 s

Figura 102 - Osciloscópios com frequências 8 Hz e 4 Hz


Fonte: SENAI (2016)

O osciloscópio à esquerda mostra a forma de onda lida na saída Q0, enquanto que o da direita mostra a
forma de onda lida na saída Q1. No primeiro caso, estão presentes 8 ciclos de onda quadrada em 1 segundo,
o que significa que a frequência lida na saída Q0 possui 8 Hz, ou seja, a frequência original sofreu uma divisão
por 2. No osciloscópio à direta estão presentes 4 ciclos de onda quadrada, quer dizer que a frequência lida
na saída Q1 possui 4 Hz, ou seja, a frequência original sofreu uma divisão por 4. A figura, a seguir, mostra as
formas de onda para as saída Q2 e Q3.
20.0 V

20.0 V
Ana Cristina de Borba (2016)

1.00 s 1.00 s

Figura 103 - Osciloscópios com frequências 2 Hz e 1 Hz


Fonte: SENAI (2016)

Neste caso, é demonstrado que estão presentes 2 ciclos da onda quadrada em apenas 1 segundo. Isto
significa que a frequência lida na saída Q2 é igual a 2 Hz, ou seja, a frequência original sofreu uma divisão
de 8. No segundo caso, à direita, existe apenas 1 ciclo da onda quadrada em 1 segundo, o que revela que a
frequência lida na saída Q3 tem frequência de 1 Hz, ou seja, a original sofreu uma divisão de 16.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
179

Considerando f a frequência original do pulso de clock e fq0, fq1, fq2 e fq3 as frequências lidas nas saídas
Q0, Q1, Q2 e Q3, pode-se chegar às seguintes conclusões:

Nesta seção, você estudou os circuitos contadores divisores de frequência. Além disso, conheceu um
circuito integrado contador assíncrono. Na próxima seção, você conhecerá outros circuitos integrados e
verá como é possível conectá-los em cascata.

3.3.5 CONTADORES EM CASCATA

Os contadores podem ser associados em cascata para aumentar o valor da contagem. Um exemplo
muito prático de contadores em cascata é o circuito que conta até 99. Este circuito é formado por dois
contadores de década. Imagine, por exemplo, o circuito módulo-99 implementado através de dois CIs
74HC93. A figura, a seguir, mostra um diagrama simplificado da associação de dois contadores, sendo um
responsável pela contagem das unidades e o outro contador responsável pela contagem das dezenas.

Contador de unidade Contador de dezena

Q0 Q0

Q1 Q1
clk clk
Ana Cristina de Borba (2016)

Q2 Q2

CLR Q3 CLR Q3

Figura 104 - Diagrama simplificado de um contador de módulo-99


Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
180

O diagrama simplificado do contador de módulo-99 mostra que as saídas (Q0 a Q3) do primeiro contador
representam as unidades, enquanto que as saídas (Q0 a Q3) do segundo indicam as dezenas. Repare que
o primeiro contador possui uma porta AND de 4 canais responsável por zerar o primeiro contador e dar
o pulso de clock para o contador de dezena. Observe que foi necessário o uso de uma porta NOT para
adequar o pulso de clock à sensibilidade da borda de descida do contador de dezena.
Considere que o circuito apresentado aqui poderia ser adaptado para implementar um contador de
minutos. Isso ocorre para que o contador de dezenas conte no máximo até 5 e, após o estado 59, a contagem
possa ser reiniciada. Um contador de minutos nada mais é do que um contador assíncrono de módulo-59.
Neste caso, a diferença principal entre um contador módulo-N para outro é seu circuito combinacional
auxiliar. Uma vez implementado um contador de minutos, ou seja, um contador módulo-59, pode-se
realizar a associação de dois contadores (módulo-59). Dessa maneira, será criado não só um contador de
minutos, mas também um de horas.
Os circuitos contadores de minutos e horas não serão apresentados nesta seção, mas você pode utilizar
os conceitos aprendidos neste livro para projetar este circuito utilizando os CIs contadores e portas lógicas
auxiliares. Para realizar este circuito, utilize a mesma técnica de projeto do circuito combinacional auxiliar,
lembrando que o contador de dezenas deve ser reiniciado após o número 5, e o contador de unidade deve
ser reiniciado após o número 9.
Do mesmo modo que existe o circuito contador de década, pode-se implementar também o circuito
contador hexadecimal (contagem vai de 0 até FF). Quando um contador precisa do mesmo número de
bits para representar uma determinada contagem, mas o módulo-N é diferente. Neste caso, a única coisa
que irá mudar neste contador assíncrono será o seu circuito combinacional auxiliar. Isto significa que a
diferença entre o contador módulo-99 e contador módulo-FF serão as portas lógicas auxiliares. A figura, a
seguir, mostra o circuito módulo-FF.

Módulo-F Módulo-F
Q0 Q0

Q1 Q1
clk clk
Ana Cristina de Borba (2016)

Q2 Q2

CLR Q3 CLR Q3
CLR
Figura 105 - Contador assíncrono de módulo-FF
Fonte: SENAI (2016)
3 LÓGICA SEQUENCIAL
181

Observe que a estrutura dos CIs contadores são iguais à estrutura do contador módulo-99. Algumas
diferenças são perceptíveis. No contador módulo-FF, não é necessário forçar o CLR em determinado
número e isso acontece, porque já reinicia a contagem após o estado 11112 (F16) de cada contador.
Quando qualquer um dos contadores estiver no estado F16 e receber um pulso de clock, a contagem será
reiniciada. Uma outra diferença importante neste circuito, são as portas lógicas auxiliares, pois, no contador
módulo-FF, o circuito combinacional auxiliar é dado apenas por uma porta lógica OR. Neste caso, o valor
que é necessário ser detectado é o valor 00002, ou seja, quando reinicia a contagem do primeiro contador.
A porta OR tem a seguinte função lógica:
S = Q0 + Q1 + Q2 + Q3
Somente no estado 0, a soma de todas as saídas será 0 também, ou seja, S = 0. Porém, para todos os
outros estados a saída S será igual a 1. O sinal 0 produzido pelas saídas Q do primeiro contador pode
ser utilizada como uma borda de descida para o próximo contador, ou seja, quando reiniciar a contagem
do primeiro contador, o segundo passará a ter um sinal de clock. Este circuito não é muito adotado em
aplicações industriais, como máquinas ou controle de processos, mas o circuito contador de módulo-FF é
muito empregado no endereçamento de memórias e sistemas em rede.
Nesta seção, você estudou os contadores e suas principais aplicações, os tipos de contadores, pinagens,
estruturas sequenciais e a associação de contadores. Agora que você possui um conhecimento amplo
sobre este tipo de circuito sequencial, conheça um novo tipo de circuito: o circuito sequencial, chamado
de registrador.

3.4 REGISTRADORES

Os circuitos registrados têm uma aplicação muito ampla em sistemas de comunicação e endereçamento
de memórias. Os circuitos sequenciais estudados aqui são chamados de registradores de deslocamento,
expressão que vem do inglês shift-register. Segundo Malvino e Leach (1987, p. 418), “Um registrador é
simplesmente um grupo de flip-flops que pode ser usado para armazenar um número binário. Deverá
haver um flip-flop para cada bit do número binário”. A estrutura dos registradores é formada normalmente
por FFs do tipo D.
A disposição dos circuitos biestáveis, juntamente com a associação a circuitos combinacionais, irá definir
o modo de operação de cada tipo de registrador. Os tipos principais dos registradores de deslocamento
são:
a) registrador série-série;
b) registrador paralelo-paralelo;
c) registrador série-paralelo;
d) registrador paralelo-série.
O termo série ou paralelo está associado com o tipo de entrada e com o tipo da saída. Se a entrada
possui uma conexão série e a saída possui uma conexão paralela, por exemplo, este será um registrador
série-paralelo.
ELETRÔNICA DIGITAL
182

Nesta seção, serão abordados o funcionamento de cada um dos tipos de registradores, bem como
alguns exemplos com circuitos integrados. Torna-se importante ressaltar que assim como os contadores,
os registradores também possuem uma estrutura formada por FFs, principalmente o FF do tipo D.
Já o registrador de deslocamento é uma estrutura universal que possui 4 modos de operação. O circuito
shift-register pode ser visualizado na figura, a seguir.

IC IB IA
IL

S SET SET SET


D Q D Q D Q

CLR Q CLR Q CLR Q

Ana Cristina de Borba (2016)


CLK

CLR

QC QB QA

Figura 106 - Registrador de deslocamento


Fonte: SENAI (2016)

Todos os exemplos, a seguir, serão mostrados com o registrador de três bits, porém existem registradores
com capacidade de bits muito maior, por exemplo, 4, 8, 16, 32 bits etc. As entradas IA, IB e IC são denominadas
entradas paralelas. O pino IL habilita o uso das entradas paralelas. O pino S é chamado de entrada serial.
CLK é o pulso de clock. CLR é um pino que zera todos os FFs. As saídas QA, QB e QC em conjunto formam
as saídas paralelas. Já a saída QA sozinha é a saída serial. De maneira geral, este circuito sequencial tem
característica síncrona, pois todos os flip-flops possuem o mesmo sinal de clock.
O modo de operação do registrador de deslocamento dependerá do uso das suas entradas/saídas e
série/paralela de acordo com os pinos auxiliares. O primeiro tipo de registrador a ser estudado tem como
característica principal a entrada serial e a saída também serial.

3.4.1 ENTRADA SERIAL/SAÍDA SERIAL

O registrador com entrada e saída serial registra uma determinada informação bit a bit, ou seja, a cada
pulso de clock, um bit é deslocado para a saída de maneira sincronizada. Para realizar um registro da
informação de maneira serial, serão utilizadas as entrada S e a saída QA. Neste caso, o registrador conta
com 3 bits, ou seja, a informação a ser registrada deve possuir 3 bits também.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
183

Neste modo de operação, a entrada IL deve estar em nível lógico 0 e isso irá desabilitar as entradas
paralelas, que, deste modo, não irão interferir no estado das saídas. O nível lógico do pino CLR deverá ser o
nível 1 durante todos os pulsos de clock até a informação de S conseguir ser registrada em QA. Quando não
for mais necessário o registro, o pino CLR pode ser colocado em nível lógico 0, apagando as informações
presentes em cada flip-flop.
Como a saída é serial, as informações irão correr de bit a bit, ou seja, de flip-flop para flip-flop, até que
a informação chegue no último FF que contém a saída QA. Desta maneira, durante os pulsos de clock, a
informação de S vai para QC, a informação anterior de QC vai para QB e a informação anterior de QB vai
para QA. Repare que a expressão informação anterior se refere à informação anterior àquele pulso de
clock.
Para armazenar uma informação de 3 bits, 1102 (6 em decimal), por exemplo, em um registrador série-
-série e para que toda a informação chegue até a saída serial QA, são necessários 5 pulsos de clock. Um
aspecto importante é que a informação em série deve ser registrada de modo que os bits menos significa-
tivos (LSB) vão primeiro, deixando por último o Bit Mais Significativo (MSB). Deste modo, a informação 1102
será enviada da seguinte forma:

IL CLR CLOCK S QC QB QA
0 1 - X X X X
0 0 - X 0 0 0
0 1 - 0 0 0 0
0 1 1º 1 0 0 0
0 1 2º 1 1 0 0
0 1 3º X 1 1 0
0 1 4º X X 1 1
0 1 5º X X X 1
Tabela 68 - Funcionamento do registrador de deslocamento série-série com 3 bits
Fonte: SENAI (2016)

Na tabela do funcionamento do registrador de deslocamento série-série, observe que o nível lógico do


pino IL é sempre 0. Nesta tabela, foi proposto que a entrada S e as saídas Q tivessem um valor qualquer.
Quando CLR é colocado em nível 0, as saídas Q recebem o nível lógico 0. Quando CLR é colocado novamente
em 1, o registrador está pronto para atuar. Observe que até então os valores de CLR e IL são independentes
do sincronismo do clock.
Os números destacados são os valores da entrada S. Observe que, após o 1.º pulso de clock, o valor
anterior da entrada S (0) é deslocado para a saída QC. No 2.º pulso de clock, o valor anterior da entrada S
(1) é deslocado para saída QC, enquanto que QB recebe o valor antigo de QC (0). No 3.º pulso de clock, o
valor antigo da entrada S (1) é deslocado para QC, o antigo valor de QC (1) é deslocado para QB e o antigo
valor de QB (1) é deslocado para QA. No terceiro pulso de clock, é possível observar que o sinal 1102 está
presente respectivamente nas saídas QC, QB e QA. Veja que, no terceiro pulso de clock, a entrada S pode
assumir qualquer valor, pois este só será deslocado para QC no próximo pulso de clock.
ELETRÔNICA DIGITAL
184

Veja outro exemplo do registrador série-série e perceba que o número a ser registrado será o valor
10102. Observe que este registrador possui 4 bits, ou seja, é necessário que seja colocado mais um flip-flop
em cascata. O princípio de funcionamento será o mesmo do registrador de 3 bits, mas a única diferença será
que este circuito irá demorar mais um pulso de clock até que o registrador complete sua função. Analise a
tabela, a seguir, com o funcionamento do registrador de 4 bits.

IL CLR CLOCK S QD QC QB QA
0 1 - X X X X X
0 0 - X 0 0 0 0
0 1 - 0 0 0 0 0
0 1 1º 1 0 0 0 0
0 1 2º 0 1 0 0 0
0 1 3º 1 0 1 0 0
0 1 4º X 1 0 1 0
0 1 5º X X 1 0 1
0 1 6º X X X 1 0
0 1 7º X X X X 1
Tabela 69 - Exemplo registrador série-série de 4 bits
Fonte: SENAI (2016)

Observe que, ao final do último pulso de clock, o valor 10102 está presente nas saídas QD, QC, QB e QA,
respectivamente. Nos dois exemplos apresentados, é importante notar que a entrada S deve mudar antes
do próximo pulso de clock, ou melhor, a velocidade em que a informação muda na entrada S deve estar
ajustada com a velocidade dos pulsos de clock.
Outro aspecto importante deste tipo de registro é que não são utilizadas as saídas de maneira
paralela, mas sim, de maneira serial. Por mais que a informação esteja disponível nas saídas Q, a leitura
das saídas é feita bit a bit, ou seja, apenas a saída QA é utilizada para a leitura da informação.
Agora que você já estudou os registradores série-série, será apresentado o próximo modo de operação
do shift-register. Na próxima seção, será demonstrado o modo de funcionamento do registrador com o
uso da entrada serial e das saídas paralelas. O funcionamento da entrada série de ambos os registradores
permanece igual, mas você irá perceber que há uma pequena diferença no funcionamento deste novo
registrador em relação à saída paralela.

3.4.2 ENTRADA SERIAL/SAÍDA PARALELA

O registrador série-paralelo tem o mesmo funcionamento do registrador série-série. A única diferença


está no modo como a saída é transmitida. Anteriormente, apenas a saída QA era utilizada para leitura do
sinal de saída. Agora, a leitura da saída pode ser realizada de maneira paralela.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
185

Para o exemplo do registrador de três bits, após três pulsos de clock, a informação está presente nas
saídas QC, QB e QA, ou seja, o conjunto destes bits pode ser transmitido a outro circuito de maneira paralela
sem a necessidade de a saída ser lida bit a bit. No caso do registrador de quatro bits, após quatro pulsos de
clock, a informação presente nas saídas QD, QC, QB e QA pode ser transmitida também de maneira paralela.
Exemplo – Registros série/paralelo
Imagine que você precisa enviar três pacotes de informações para um equipamento acoplado ao
conversor série-paralelo de três bits. Cada pacote de informação contém um número binário diferente. Os
números presentes nos três respectivos pacotes são 0012, 1112 e 0102. O funcionamento desta transmissão
de dados pode ser visualizado pela tabela que segue.

IL CLR CLOCK S QC QB QA
0 1 - X X X X
0 0 - X 0 0 0
0 1 - 1 0 0 0
0 1 1º 0 1 0 0
0 1 2º 0 0 1 0
0 1 3º X 0 0 1
Enviar 0012
0 0 - X 0 0 0
0 1 - 1 0 0 0
0 1 4º 1 1 0 0
0 1 5º 1 1 1 0
0 1 6º X 1 1 1
Enviar 1112
0 0 - X 0 0 0
0 1 - 0 0 0 0
0 1 7º 1 0 0 0
0 1 8º 0 1 0 0
0 1 9º X 0 1 0
Enviar 0102
Tabela 70 - Exemplo conversor série-paralelo com 3 bits
Fonte: SENAI (2016)

Observe que o conversor série-paralelo envia as informações a cada 3 pulsos de clock. Isso é necessário,
pois levam cerca de 3 pulsos para toda a informação binária chegar às saídas QC, QB e QA. Você pode notar
que cada vez que uma informação era enviada, o pino CLR zerava as saídas Q, mas, neste procedimento,
não é necessário e pode ser utilizado para evitar que o equipamento conectado ao registrador não receba
algum tipo de informação indesejada.
Agora que você compreendeu os registradores com entrada em série, descubra os que utilizam as
entradas paralelas do registrador deslocamento, que possuem diferentes pinos em relação à entrada série.
Portanto, existem algumas pequenas diferenças quanto ao seu funcionamento e sua aplicação.
ELETRÔNICA DIGITAL
186

3.4.3 ENTRADA PARALELA/SAÍDA SERIAL

O registrador com entrada paralela e saída serial pode ser chamado de conversor paralelo-série. Este
conversor não opera mais a entrada S, como visto nas seções anteriores, porém irá utilizar as entradas
paralelas IA, IB, IC etc. Para habilitar as entradas paralelas, é necessário que o pino IL seja colocado em
nível lógico 1. Desse modo, os flip-flops irão conter as entradas paralelas ao invés de deslocar a informação
através da entrada serial. Como este registrador possui uma saída serial, a saída será transmitida apenas
pela saída QA. É importante notar que a partir do momento em que as entradas forem habilitadas pelo
pino IL, as saídas QC, QB e QA receberão o nível lógico das entradas IC, IB e IA, respectivamente. Para
compreender melhor o funcionamento do conversor paralelo-série, observe o seguinte exemplo.

Exemplo – Registro paralelo/série


Neste caso, será utilizado um registrador paralelo-série para transmitir o número binário de 3 bits 1002.
Assim, observe a tabela, a seguir, que mostra o funcionamento deste conversor.

IL CLR CLOCK IC IB IA QC QB QA
0 1 - X X X X X X
0 0 - X X X 0 0 0
0 1 - 0 1 1 0 0 0
1 1 - 0 1 1 0 1 1
0 1 1º X X X X 0 1
0 1 2º X X X X X 0
Tabela 71 - Exemplo conversor paralelo-série
Fonte: SENAI (2016)

Inicialmente, o registrador possui qualquer valor, representado por X, mas quando CLR tem nível lógico
0, todas as saídas são zeradas. Observe que, mesmo após CLR voltar ao nível 1, os estados das saídas não
sofreram nenhuma mudança. Isso acontece, porque o nível lógico de IL ainda permanece em zero.
Quando IL tem nível lógico 1, os estados de IC, IB e IA são copiados, respectivamente, para as saídas
QC, QB e QA. Perceba que a saída QA já possui um valor de entrada independentemente de qualquer
sinal de clock. E, quando o 1.º pulso ocorre, o valor da saída QC é deslocado para QB e o valor da saída QB
é deslocado para o valor da saída QA. No 2.º pulso de clock, a saída QB é deslocada para a saída QA. Desta
maneira, com apenas 2 pulsos de clock, todas as informações presentes na entrada passaram pela saída QA.
Este conversor precisa de menos pulsos de clock para realizar a transmissão série, pois as informações de
entradas já estão registradas nas saídas Q, só precisam ser deslocadas até QA.
Uma vez que a informação de entrada é copiada para as saídas e realizado o primeiro pulso de clock,
as entradas podem assumir qualquer valor. Isso acontece, porque antes da primeira borda de descida do
clock, o sinal IL deve voltar ao nível lógico 0. Se IL não voltar para o nível lógico 0, significa que o sinal de
entrada será constantemente copiado para as saídas.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
187

De maneira geral, o conversor paralelo-série sofre as seguintes etapas:


a) zera as saídas;
b) desabilita o pino de CLR;
c) copia o estado das entradas para as saídas;
d) desabilita o pino IL;
e) desloca os valores de QC anterior para QB e QB anterior para QA;
f ) desloca o valor de QB anterior para QA.
Estas etapas de funcionamento são muito importantes para que o registro paralelo-série funcione de
maneira sincronizada e confiável. Se qualquer uma destas etapas não for cumprida, o resultado final na
saída QA pode ser um sinal indesejável. Em sistemas de comunicação mais complexos, a perda de um único
bit pode ser o suficiente para gerar um erro de comunicação.

CASOS E RELATOS

Não habilitou, não registrou


A aluna Bia se propôs a realizar um projeto de um registrador paralelo-série de 4 bits. O projeto foi
simulado, utilizando um software de circuitos eletrônicos. Ela selecionou os flip-flops do tipo D e
realizou as ligações necessárias. Para testar o circuito, a aluna utilizou chaves do tipo DIP swtich em
todas as entradas do registrador, utilizando a conexão do tipo pull-up.
Durante a simulação, Bia notou que a informação de saída não sofria nenhuma mudança, ou seja,
a informação não estava sendo transmitida. Ela verificou as conexões e conferiu novamente o
datasheet dos FFs. A princípio, o circuito estava correto. Por que será que o registrador não estava
funcionando? A aluna preferiu revisar o procedimento de funcionamento do circuito e, buscando
a tabela de funcionamento, percebeu que pulou uma parte do procedimento de teste.
Durante a simulação, a aluna analisou que o pino que habilita as portas analógicas (IL) não mudava.
Depois de inserir a informação, o pino IL deve ter nível lógico 0. Daí, sim, a informação pode começar
a ser transmitida de maneira serial. Encontrando a causa do problema, o procedimento de teste foi
realizado de maneira certeira. A partir deste acontecimento, Bia aprendeu que, além de realizar as
conexões necessárias, é preciso conhecer o funcionamento dos circuitos.
ELETRÔNICA DIGITAL
188

Agora que você estudou esse um tipo de registrador, conheça um modo de operação do registrador de
deslocamento, com entradas e saídas paralelas. Este modo de operação é mais simples e muito aplicado
em sistemas que necessitem de informações rápidas e sincronizadas.

3.4.4 ENTRADA PARALELA/SAÍDA PARALELA

O registrador paralelo-paralelo tem um dos funcionamentos mais simples do registrador de deslocamento


que, por sua vez, não necessita do pino de clock. Como a informação lida na saída acontece de maneira
paralela, não é necessário deslocar os bits para transmitir a informação. A entrada paralela será copiada
para a saída paralela no mesmo instante em que o pino IL for habilitado. Este sistema é muito comum
quando existe a necessidade de transmissão de grandes blocos de informações em alta velocidade. E, para
compreender bem o funcionamento deste registrador, observe no exemplo a tabela apresentada.

IL CLR CLOCK IC IB IA QC QB QA
0 1 - X X X X X X
0 0 - X X X 0 0 0
0 1 - 0 1 1 0 0 0
1 1 - 0 0 1 0 0 1
0 1 - X X X 0 0 1
0 1 - 0 1 0 0 0 1
1 1 - 0 1 0 0 1 0
0 1 - X X X 0 1 0
0 1 - 0 1 1 0 1 0
1 1 - 0 1 1 0 1 1
0 1 - X X X 0 1 1
0 0 - X X X 0 0 0
Tabela 72 - Exemplo registrador paralelo-paralelo
Fonte: SENAI (2016)

Ao analisar os dados enviados 001b, 010b e 011b e utilizando um registrador paralelo-paralelo percebe-
-se, inicialmente, que as entradas e saídas podem ter qualquer valor quando o pino CLR tem nível lógico
igual a 0 e, da mesma forma, as saídas QC, QB e QA recebem o nível lógico 0. Mesmo se as entradas sofrerem
uma mudança de estado, as saídas só mudarão de valor quando a entrada IL é acionada.
Uma vez a entrada acionada, o valor das entradas IC, IB e IA são copiados para as saídas QC, QB e QA.
Para inserir um outro valor, é necessário que o pino IL mude para zero novamente. Com o novo valor de
entrada disponível, quando o pino IL retornar ao nível lógico 1, o novo valor presente em IC, IB e IA será
copiado para QC, QB e QA, substituindo a informação anterior.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
189

Neste exemplo, não foi utilizado o pulso de clock, mas mesmo assim o pino IL faz papel de controle de
sincronismo para este registrador. O pino de controle é indispensável para garantir que o registrador
tenha valores exatos em tempos pré-determinados. Neste caso, este circuito também é chamado de latch,
que em português pode ser traduzido como cadeado.
Uma outra forma de representar o latch é realizando a associação de flip-flops do tipo D, conforme o
datasheet do circuito integrado 74HC573 a ser apresentado na próxima figura. Este CI possui 8 flip-flops
D, ou seja, pode realizar a transmissão de até 8 bits em paralelo. Veja a figura que mostra a sua estrutura
interna.

D0 D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7

D Q D Q D Q D Q D Q D Q D Q D Q
LATCH LATCH LATCH LATCH LATCH LATCH LATCH LATCH
1 2 3 4 5 6 7 8
LE LE LE LE LE LE LE LE

Ana Cristina de Borba (2016)


LE

OE

Q0 Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7

Figura 107 - Estrutura interna do CI 74HC573


Fonte: NXP, 2016

Neste circuito, o pino LE (latch enable) é responsável por realizar o controle dos dados que são copiados
para as saídas Q. Este controle é normalmente chamado de enable, que em português significa habilitar.
O pino LE está conectado ao pino de clock deste circuito através de uma porta inversora, isto é usado para
que o enable seja habilitado no nível lógico 1. Observe que existem pequenas diferenças entre a estrutura
do latch 74HC573 e o circuito geral do registrador de deslocamento. O circuito latch foi otimizado para
não possuir as entradas seriais, visto que este circuito trabalha apenas de modo paralelo. Outra diferença
importante é que o controle do latch não está conectado a uma porta lógica que habilita as entradas
paralelas. Deste modo, o controle é feito pelo pino LE conectado de maneira indireta ao clock de todos
os FFs desta estrutura. Este CI ainda conta com um pino especial conhecido como OE (Ouput Enable), que
habilita as saídas digitais deste dispositivo. A atuação do pino OE ocorre de maneira independente ao pino
de clock.
Nesta seção, foi possível compreender que apenas um circuito possui quatro modos de operação.
Utilizando seus pinos de entrada, é possível modificar o funcionamento do registrador de deslocamento.
Algo importante aprendido nesta seção é que quanto mais específica for a aplicação de um circuito, este
pode ser adaptado para realizar determinada função.
ELETRÔNICA DIGITAL
190

Este é o caso do latch em comparação com o registrador de deslocamento. Foi possível identificar nesta
seção que os FFs possuem uma aplicação muito ampla no mundo da eletrônica digital, visto que estes
são parte fundamental na estrutura dos registradores. Um aspecto muito importante foi compreender
conceitos novos como o sincronismo e a análise dos circuitos do ponto de vista dos pulsos de clock. Além
dos conceitos aprendidos nesta seção, você aprendeu neste capítulo de lógica sequencial muitos outros
conhecimentos e exemplos. Assim, antes de iniciar um novo capítulo, recapitule o que foi aprendido.

RECAPITULANDO

Neste capítulo, você aprendeu o que significa a lógica sequencial e sua principal característica no
funcionamento dos seus circuitos: a realimentação. Você observou que este conceito é o parâmetro
para o funcionamento das memórias, que podem ser utilizadas desde uma simples calculadora até
o mais avançado computador. Durante a apresentação dos circuitos sequenciais, você estudou os
flip-flops, que são circuitos essenciais para diversas aplicações, como temporizadores, contadores,
geradores de onda, registradores, etc. De maneira geral, os circuitos sequenciais colaboraram
não apenas com a eletrônica digital, mas apresentam diversas aplicações dentro da eletrônica
analógica.
Como os circuitos sequenciais são amplamente aplicados na eletrônica e possuem grande
importância no que diz respeito ao armazenamento e processamento de dados, você observou
que, no estudo dos flip-flops, há diversos modos de operação, como os tipos RS, JK, D e T, e
percebeu que o flip-flop possui diversos pinos auxiliares que ampliam suas aplicações e modos de
funcionamento. Também conheceu um pouco da sua estrutura interna e também sua dependência
do sinal de clock.
Com o conhecimento dos FFs, foi possível estudar os temporizadores 555 em que a estrutura interna
do circuito integrado LM555 foi abordada, apresentando os modos astáveis e monoestáveis. Foi
possível observar, também, suas formas de ondas de saída, que são retangulares e com inúmeras
aplicações incluindo a geração de pulsos de clock.
O estudo dos contadores é de grande importância para a eletrônica digital, pois eles possuem uma
faixa de aplicação muito ampla e estão presentes na maioria dos circuitos digitais. Os contadores
têm dois grandes diferentes modos: o modo síncrono e o assíncrono. Neste estudo, foi possível
observar que um contador pode realizar uma contagem em uma sequência qualquer que pode
ser representada através de um mapa de estados. Foi visto que algumas aplicações dos contadores
requerem uma associação de contadores, podendo produzir um contador de módulo-N.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
191

Os registradores são de grande importância para a eletrônica, pois são fundamentais para a
transmissão de dados e a comunicação presente em memórias de computador. Você observou que
o registrador de deslocamento tem diversos modos de operação em relação às entradas e saídas de
dados, sendo elas séries ou paralelas. Além disso, uma das grandes contribuições realizadas pelos
registradores são os conceitos de sincronismo e fidelidade dos dados durante uma transmissão.
De maneira geral, os circuitos sequenciais, quando combinados, podem agir de forma
independente, ou seja, funcionam de forma automática. Isto mostra que foi através destes circuitos
que muitas tarefas puderam ganhar velocidade e autonomia. Percebe-se, portanto, que boa parte
das funções geradas pelos circuitos sequenciais, hoje, podem ser implementadas com o uso de
microcontroladores. Porém, isso não impede que os circuitos sequenciais estejam presentes na
eletrônica atual, visto que a estrutura interna dos microcontroladores e microprocessadores é
composta por diversos circuitos sequenciais.
Neste capítulo, você também pôde estudar sobre os principais aspectos relacionados à eletrônica
digital e o próximo capítulo lhe mostrará como a eletrônica pode interagir com o mundo real. Você
verá que muitos conceitos aprendidos neste capítulo serão tratados na estrutura interna de muitos
outros circuitos, chamados de conversores.
Interface com o Mundo Analógico

Hoje em dia, dificilmente você irá encontrar alguém que não tenha contato com algum
equipamento eletrônico, seja o simples radio à pilha, televisores ou até supercomputadores
e meios de comunicação avançados. O contato que as pessoas têm com o uso destes
equipamentos é uma forma de se conectar com o mundo analógico. Como assim?
O mundo analógico é o conjunto de diversas grandezas físicas que podem variar de
acordo com o tempo, como a velocidade, a pressão, a temperatura, corrente elétrica, tensão,
resistência, dentre outras. Como é possível um equipamento eletrônico medir a temperatura
de um ambiente? Como se dimensiona a pressão em um duto através um circuito digital? Quais
informações a eletrônica leva em consideração para que se possa interpretar as grandezas
físicas a sua volta?
Neste capítulo, você saberá como os equipamentos eletrônicos auxiliam na interpretação
e no processamento de informações ao redor do mundo. Imagine que os circuitos digitais
tenham uma língua na qual possam se comunicar e interagir com outros sistemas. Do mesmo
modo, o cenário analógico tem a sua própria expressão. Naturalmente o idioma do mundo
digital e do analógico são diferentes, portanto não é possível a sua comunicação de forma
direta, sem determinados dispositivos de interfaceamento. Para que haja comunicação, são
necessários equipamentos conversores que funcionam como interpretes, possibilitando a
comunicação entre os dois universos: o digital e o analógico.
Neste capítulo, você irá estudar o elemento interprete chamado conversor e que existem
dois principais tipos: o conversor analógico digital e o digital analógico. Com o estudo dos
conversores, você irá conhecer o funcionamento dos circuitos, características e aplicações.
Assim, a partir da leitura deste capítulo, você terá subsídios para:
a) interpretar diagramas e esquemas de circuitos digitais;
b) efetuar medidas em circuitos digitais;
c) analisar diagramas e esquemas de circuitos digitais;
d) interpretar diagramas de montagem e esquemas de circuitos digitais;
e) utilizar os equipamentos de medição em circuitos digitais;
f ) implementar circuitos combinacionais;
ELETRÔNICA DIGITAL
194

g) implementar circuitos sequenciais;


h) interpretar folhas de dados de componentes eletrônicos;
i) cumprir normas e procedimentos;
j) manter-se atualizado tecnicamente;
k) ter senso investigativo;
l) ter visão sistêmica;
m) estabelecer prioridades;
n) ter raciocínio lógico;
o) ter consciência prevencionista em relação à saúde, segurança no trabalho e meio ambiente;
p) ter proatividade;
q) tomar decisões;
r) ter responsabilidade.
Agora que você já está ciente dos itens que serão abordados, acompanhe a próxima seção e compreenda
do que trata um conversor digital analógico. A base deste estudo lhe dará condições de interpretar e
solucionar questões práticas do dia a dia da eletrônica.
Bons Estudos!
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
195

4.1 CONVERSOR DIGITAL-ANALÓGICO

Antes de iniciar o estudo sobre o conversor, você conhecerá de maneira detalhada o que é uma grandeza
analógica e o que é uma grandeza digital.
Todas as grandezas físicas variam de forma analógica, isto é, para atingir um valor desejado de uma
grandeza qualquer, é necessário que ele passe por todos os valores intermediários de maneira contínua.
Por exemplo, a temperatura é uma grandeza analógica, pois é possível medir valores intermediários
entre um determinado valor e outro. Perceba que, entre 21 e 22 graus Celsius, existe a temperatura de
21,1°, 21,01° ou 21,001°C, ou seja, há infinitos valores intermediários de temperatura. Isto é uma variação
contínua e, portanto, caracteriza uma grandeza analógica. A figura, a seguir, mostra a alteração de uma
variável analógica em relação ao tempo.

Grandeza
Física

Sabrina Farias (2016)

Tempo
Figura 108 - Variável analógica
Fonte: SENAI (2016)

Um sinal digital, por sua vez, não possui valores infinitos intermediários, mas sim valores fixos e limitados,
por exemplo, o controle do volume de uma TV ou valores fixos de temperatura de um ar condicionado. Veja
a representação na figura, a seguir.

Grandeza
Sabrina Farias (2016)

Tempo
Figura 109 - Grandeza digital
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
196

Para que os sinais de tensão elétrica sejam devidamente convertidos em digitais ou analógicos, é
necessário o uso de conversores. Os conversores que realizam a transformação de um sinal digital para o
analógico também são conhecidos como conversores D/A. O objetivo principal deste conversor é tratar
uma informação presente em um circuito digital e disponibilizá-la para um equipamento ou circuito,
realizando algum tipo de controle de processo ou interagindo com outros sistemas analógicos.
Os conversores D/A funcionam quando um dado digital presente em entradas digitais de um sistema é
convertido para um valor equivalente analógico. Para entender bem o conceito do conversor D/A, observe
a figura a seguir.

A Us
Conversor D/A +

Sabrina Farias (2016)


B
-

Figura 110 - Conversor digital-analógico


Fonte: SENAI (2016)

Um conversor D/A com duas entradas digitais (A e B) terá uma saída com sinal analógico (Us). Os sinais de
entrada têm valor fixo de tensão, enquanto que os valores de saída podem variar de acordo com a presença
de tensão na entrada. Nesta seção, serão apresentados alguns exemplos, características e aplicações do
conversor D/A.

O estudo de conversores D/A e A/D também pode ser encontrado em livros de


SAIBA eletrônica analógica. Eles apresentam conhecimentos que unem o universo analógico
MAIS ao digital. Por isso, recomenda-se o livro de Antônio Pertence Jr. Eletrônica Analógica:
amplificadores operacionais e filtros ativos, 7. ed., 2012, no qual se aborda uma visão
geral dos conversores.

Nesta seção inicial, você conheceu o conceito de um conversor analógico digital genérico, ou seja, foi
possível entender seu funcionamento através de um diagrama de blocos. Diante deste entendimento,
prossiga seus estudos e compreenda as principais características dos circuitos responsáveis por esta
conversão.

4.1.1 CARACTERÍSTICAS

Uma das características principais de uma conversão do mundo digital para o mundo analógico é a
precisão, que, neste caso, está associada ao número de bits de um conversor D/A. Os bits em conversores
D/A são as entradas digitais e, quanto maior o número de entradas digitais, maior será a precisão deste
conversor.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
197

Um sinal de tensão elétrica pode ser representado digitalmente e, para isso, será necessário um número
mínimo de bits. Os bits irão armazenar as informações digitais correspondentes ao sinal analógico. Portanto,
suponha que você tenha um único bit para armazenar um sinal de 10 V e quando o bit for igual a zero, a
tensão analógica será menor ou igual a 5 V. Quando o bit for igual a 1, a tensão analógica será menor
ou igual a 10 V. Com 2 bits, tem-se duas possíveis tensões. Mas, quando este número de bits começa a
aumentar, quantas tensões analógicas podem ser representadas? Qual deverá ser a relação entre os bits e o
número de níveis de tensão analógica? De maneira geral, pode-se adotar a seguinte expressão:

p = 2n
onde:
n: número de entradas do circuito D/A (bits);
p: número de divisões em que um valor analógico é representado.
De maneira geral, 4 bits é uma quantidade razoável de entradas digitais que possibilitam um número de
16 divisões para representar um número analógico de saída. Partindo dessa premissa, serão mostradas, na
próxima seção, algumas formas para a construção dos circuitos D/A.

TIPOS DE CONVERSORES D/A


A composição básica de um conversor digital analógico conta com a associação de resistores. Observe
a figura de um conversor D/A de quatro entradas digitais.

A B C D (LSB)

1K 2K 4K 8K

+
Sabrina Farias (2016)

Ro Us

Figura 111 - Conversor D/A com resistores


Fonte: SENAI (2016)

Sabe-se que uma entrada digital tem quatro possíveis valores de tensão: valor mínimo e valor máximo.
No caso de um conversor D/A ter 4 entradas, a saída Us terá 24 valores possíveis, ou seja, poderá assumir 16
valores de tensão entre os valores mínimo e máximo de entrada.
Na figura, o conversor apresentado tem os valores dos resistores calculados de acordo com o nível de
tensão desejada na saída Us. Repare que os resistores presentes nas entradas (A, B, C e D) são múltiplos de
ELETRÔNICA DIGITAL
198

um valor de resistência R. Essa estratégia é utilizada para que cada entrada digital tenha uma contribuição
diferente no valor de saída Us. Por exemplo, quando apenas a entrada A estiver em nível alto, a saída Us
deve ser maior do que quando apenas a entrada B estiver em nível alto, sendo este o efeito de maior
contribuição analógica.
Perceba, também, que o valor Ro não é múltiplo de R. O valor de Ro irá contribuir com o valor da saída
Us como um divisor de tensão. Modificando o valor de Ro, é possível ajustar o valor máximo de Us. Trata-se
de uma estratégia utilizada para que o nível da tensão de saída seja adequado à necessidade da aplicação.
Para compreender melhor este conversor, acompanhe um exemplo com valores comerciais de resistores
e níveis de tensão usuais no cenário industrial.

Exemplo – Conversor digital-analógico de 4 bits


Este exemplo de conversor digital analógico considera os valores de resistência iguais a R = 1 KΩ e
Ro = 380 Ω. Perceba que os valores de R e Ro são bem diferentes, ou seja, R é muito maior que Ro. A tensão
aplicada em cada entrada digital será considerada 24 V (tensão usualmente utilizada na indústria para
determinados controladores digitais).
A entrada D é o bit menos significativo, ou seja, sua contribuição frente à saída Us é menor que aquela
do que a entrada C proporciona. Mas, como saber os valores de Us de acordo com cada entrada digital? E se
as entradas forem acionadas de maneira simultânea? Como saber qual será o valor analógico de tensão Us?
Utilizando um software de simulação de circuitos analógicos ou utilizando técnicas de análise eletrônica,
é possível encontrar os seguintes resultados:

A B C D US (V)
0V 0V 0V 0V 0
0V 0V 0V 24 V 1,09
0V 0V 24 V 0V 2,08
0V 0V 24 V 24 V 2,99
0V 24 V 0V 0V 3,83
0V 24 V 0V 24 V 4,61
0V 24 V 24 V 0V 5,32
0V 24 V 24 V 24 V 5,99
24 V 0V 0V 0V 6,61
24 V 0V 0V 24 V 7,19
24 V 0V 24 V 0V 7,73
24 V 0V 24 V 24 V 8,24
24 V 24 V 0V 0V 8,71
24 V 24 V 0V 24 V 9,16
24 V 24 V 24 V 0V 9,59
24 V 24 V 24 V 24 V 9,99
Tabela 73 - Conversão analógica
Fonte: SENAI (2016)
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
199

Perceba que as possibilidades proporcionadas pelas entradas (A, B, C e D) formam uma espécie de
tabela-verdade. Conforme a contribuição das entradas aumenta, o valor de Us também cresce. É importante
salientar que os valores apresentados na tabela são característicos do exemplo citado, pois se os valores de
R e Ro (bem como o valor de tensão nas chaves de entrada) fossem diferentes, consequentemente o valor
de Us também o seria.

Em um conversor D/A, se as entradas digitais são originadas de circuitos lógicos, como


FIQUE um contador ou um registrador, o projeto do conversor deve ser realizado de acordo
ALERTA com o nível de tensão exigido pela família lógica do circuito: TTL ou CMOS.

Em aplicações industriais, os níveis de tensão de um conversor são bem diferentes dos apresentados
no exemplo anterior. Isso quer dizer que, além de utilizar o conversor D/A, o nível de tensão deve ser
adequado para aplicações da indústria. As tensões analógicas presentes normalmente são padronizadas
em intervalos de 0 a 10 VDC. Para ajustar o nível de tensão elétrica do conversor para a aplicação, pode ser
utilizado um componente eletrônico chamado Amplificador Operacional (AmpOp).

CONVERSORES D/A COM AMPLIFICADORES OPERACIONAIS


Os amplificadores operacionais, também conhecidos como AmpOp, possuem diversas aplicações, mas
no contexto tem a função de, como o próprio nome diz, amplificar a tensão de entrada para a tensão de
saída. A simbologia do amplificador operacional atuando é apresentada pela figura, a seguir.

+VCC (terminal de alimentação)

{
Vin(-) -
Sabrina Farias (2016)

V0 (terminal de saída)
Entradas
Vin(+) +
-VCC (terminal de alimentação)
Figura 112 - Amplificador operacional
Fonte: SENAI (2016)

Nesta imagem, é possível observar que os amplificadores operacionais possuem cinco principais
pinos: duas entradas, dois pontos de alimentação e uma saída. Os pinos de entrada são conhecidos como
entrada inversora e não inversora (Vin(-) e Vin(+)), respectivamente. Os pinos de alimentação (+VCC e –VCC)
são responsáveis pela alimentação do circuito. O pino Vo é a tensão resultante na saída deste amplificador
operacional.
ELETRÔNICA DIGITAL
200

O amplificador operacional tem em princípio cinco conexões e existem diversas formas de realizá-las,
pois este dispositivo efetua uma infinidade de tarefas, como comparação de sinais, amplificação, filtro,
regulação de tensão, circuitos de controle, buffer etc. O objetivo do uso do AmpOp com o conversor D/A é
expandir o sinal analógico para uma tensão aplicável a ambientes industriais. Um modo de implementar
um conversor D/A com amplificadores operacionais é dado de acordo com a imagem a seguir.

A B C D (LSB)
RF
R 2R 4R 8R RX

- RX
1 -
+

Sabrina Farias (2016)


Us
+ V1 2
VO
+
- -

Figura 113 - Conversor D/A com AmpOs


Fonte: SENAI (2016)

Na figura apresentada, foram utilizados dois AmpOs. O primeiro amplificador é conhecido como inversor
somador. Este circuito irá amplificar a tensão Us de acordo com a contribuição de cada entrada A, B, C ou D.
Por outro lado, à medida que este circuito amplifica o sinal, este também irá inverter seu valor, ou seja, irá
tornar o sinal amplificado negativo. A expressão que melhor representa a amplificação deste sinal é dada
por:

Repare que o sinal de V1 está negativo, pois o padrão de sinais analógicos em processos industriais é de
tensão positiva. Para isso, pode ser utilizado o segundo AmpOp (Amplificador Inversor), que inverte o sinal
de entrada, conforme a seguinte expressão:

Como a fração dos resistores Rx pode ser simplificada pelo valor 1, o sinal de tensão de saída Vo será:

Vo = - V1
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
201

Realizando algumas manipulações algébricas, fica fácil de se entender que, na verdade, a saída Vo pode
ser dada através da seguinte expressão:

É importante lembrar de que os valores permitidos para A, B, C ou D são dados apenas por 0 ou 1.
Observe que a relação entre os resistores Rf e R irão controlar o ganho deste amplificador, ou seja, a relação
entre estes dois resistores indicará o fator multiplicativo entre Vo e Us. Para compreender bem este conceito,
analise o próximo exemplo.

Exemplo – Conversor D/A com AOP


De acordo com a tabela apresentada, encontre os valores de Vo para um circuito conversor D/A, sabendo
que os resistores têm os seguintes valores:
R = 1 KΩ
Rf = 5 KΩ
Rx = 1 KΩ

A B C D US (V)
0 0 0 0 0
0 0 0 1 0,067
0 0 1 0 0,133
0 0 1 1 0,200
0 1 0 0 0,266
0 1 0 1 0,333
0 1 1 0 0,400
0 1 1 1 0,466
1 0 0 0 0,533
1 0 0 1 0,600
1 0 1 0 0,666
1 0 1 1 0,733
1 1 0 0 0,800
1 1 0 1 0,866
1 1 1 0 0,933
1 1 1 1 1,0
Tabela 74 - Tabela de conversão de um circuito D/A sem AOP
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
202

São dadas três situações arbitrárias da tabela:


a) A = 0 , B = 1, C = 1 e D =0 , Us = 0,4;
b) A = 1, B = 0, C = 0 e D = 1, Us = 0,6;
c) A = 1, B = 1, C = 1 e D = 1, Us= 1,0.
Aplicando a fórmula para a condição situação a), tem-se:

Para a situação b), tem-se:

Para a situação c), tem-se:

Aplicando este método para todas as condições da tabela apresentada, pode-se encontrar todos os
possíveis valores de Vo. Desta maneira, a tabela ganha mais uma coluna, conforme demonstrado a seguir.

A B C D US (V) VO (V)
0 0 0 0 0 0,00
0 0 0 1 0,067 0,04
0 0 1 0 0,133 0,17
0 0 1 1 0,200 0,38
0 1 0 0 0,266 0,67
0 1 0 1 0,333 1,04
0 1 1 0 0,400 1,50
0 1 1 1 0,466 2,04
1 0 0 0 0,533 2,67
1 0 0 1 0,600 3,38
1 0 1 0 0,666 4,16
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
203

A B C D US (V) VO (V)
1 0 1 1 0,733 5,04
1 1 0 0 0,800 6,00
1 1 0 1 0,866 7,04
1 1 1 0 0,933 8,16
1 1 1 1 1,0 9,38
Tabela 75 - Tabela de conversão de um circuito D/A sem AOP
Fonte: SENAI (2016)

Observe que agora os níveis de tensão do conversor estão adequados para aplicações industriais, ou
seja, pertencem a uma faixa próxima de 0 a 10 VDC. Perceba também que a tensão obtida na saída Vo não se
comporta de maneira proporcional a Us. E, uma outra forma de se implementar um conversor D/A é utilizar
uma rede de resistores conhecida como R-2R.

CONVERSOR D/A COM O USO DA REDE R-2R


O conversor D/A é conhecido desta maneira devido o arranjo de resistores que formam sua estrutura
interna. Visualize, na figura, a seguir, um conversor R-2R.

R R R
+

2R 2R 2R 2R 2R 2R Us
Sabrina Farias (2016)

-
D (LSB) C B A
Figura 114 - Conversor D/A com rede R-2R
Fonte: SENAI (2016)

Observe que a rede R-2R organiza os resistores de maneira diferente do primeiro conversor D/A visto
nesta seção. Neste arranjo, a entrada A é o MSB, enquanto que D é o LSB. Observe que a tensão Us está
presente no resistor 2R à direita. A tensão Us irá depender dos seguintes aspectos:
a) valor da resistência R;
b) valor da tensão de A, B, C e D.
Assim como no conversor D/A, estudado anteriormente, cada uma das entradas digitais contribui com a
tensão de saída Us. Para ilustrar esta contribuição, será considerado VCC como o nível lógico 1 das entradas
digitais. Como a entrada A tem mais significância no valor de Us, é apresentada pela seguinte expressão:
ELETRÔNICA DIGITAL
204

A contribuição da entrada B para a saída Us pode ser apresentada da seguinte forma:

A contribuição da entrada C para saída Us pode ser apontada pela seguinte expressão:

Por fim, a contribuição da entrada D para a saída Us pode ser dada pela expressão:

Desta maneira, pode-se escrever a expressão geral da tensão Us através da seguinte maneira:

Na expressão geral, os valores: A, B, C e D podem assumir apenas os valores 0 ou 1. Para compreender


melhor o funcionamento do conversor D/A com rede R-2R, acompanhe um exemplo com valores de
resistência e tensão.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
205

Exemplo
Examinando o circuito conversor analógico-digital com rede R-2R de 4 bits, deve-se encontrar todos os
valores possíveis de Us em forma de tabela. Considerando VCC = 10 V e R = 1 K. Ao aplicar as expressões
matemáticas descritas, obtém-se a seguinte tabela.

A B C D US (V)
0 0 0 0 0.00
0 0 0 1 0.42
0 0 1 0 0.83
0 0 1 1 1.25
0 1 0 0 1.67
0 1 0 1 2.08
0 1 1 0 2.50
0 1 1 1 2.92
1 0 0 0 3.33
1 0 0 1 3.75
1 0 1 0 4.17
1 0 1 1 4.58
1 1 0 0 5.00
1 1 0 1 5.42
1 1 1 0 5.83
1 1 1 1 6.25
Tabela 76 - Conversão digital analógica de 4 bits com rede R-2R
Fonte: SENAI (2016)

Observe neste exemplo que a entrada D possui menor contribuição para com a saída Us. Quando
apenas D é igual a 1, a saída é representada por Us = 0,42 V. A entrada C, por sua vez, em nível alto, produz
uma contribuição de 0,83 V para a saída Us. No momento em que apenas a entrada B está em nível alto,
produz uma contribuição de 1,67 V para a saída Us. Por fim, quando apenas a entrada mais significativa está
em nível alto, sua contribuição para a saída Us é de 3,33 V. Cada vez em que todas as entradas estão em
nível lógico 0, o sinal de tensão na saída é 0 V. E, quando todas as entradas estão em nível lógico 1, a saída
Us terá tensão igual a 6,25 V.
ELETRÔNICA DIGITAL
206

Caso você não tivesse a disponibilidade desta tabela, como encontraria o valor de Us para as informações
de entrada A = 1, B = 0, C = 0 e D =1? Neste caso, basta inserir os valores de VCC e os níveis lógicos das
entradas na seguinte expressão:

Desta forma, tem-se:

Observe que o valor de R não está presente na expressão geral de Us. Isso significa que esta expressão é
sempre válida, desde que o arranjo R-2R seja mantido com os resistores na mesma proporção.
Nesta seção, você compreendeu o que é um conversor D/A, como adequar os níveis de tensão para
aplicações industriais e ainda aprendeu sobre o AmpOp. Porém, você deve estar se perguntando: para que
serve o conversor D/A? Na próxima seção, você irá conhecer suas aplicações.

4.1.2 APLICAÇÕES

Os conversores D/A possuem diversas finalidades, dentre elas, circuitos geradores de função e de
reprodução de áudio, conforme descrito a seguir.

GERADORES DE FUNÇÃO
Os circuitos geradores de função proporcionam a criação de formas de onda, como ondas quadradas,
senoidais, triangulares etc. O conversor D/A deve ser controlado por um outro circuito com a função
de gerar uma forma de onda digitalmente, ou seja, o conversor D/A tem apenas o papel de traduzir a
informação digital do circuito controlador para uma informação analógica.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
207

Como visto na seção anterior, a qualidade do sinal analógico produzido dependerá do número de
entrada digitais do conversor. Quanto maior o número de entradas do conversor D/A, maior será a precisão
do sinal analógico. A figura, a seguir, apresenta um esquema de como funcionam os circuitos geradores de
onda.

Gerador D/A

Sabrina Farias (2016)


de função

Sinal analógico

Figura 115 - Diagrama de gerador de função


Fonte: SENAI (2016)

O diagrama apresentado descreve apenas uma ideia geral de qual o principal objetivo do conversor
digital analógico. É claro que nas várias etapas de funcionamento do circuito gerador de função existem
detalhes relacionados à eletrônica analógica, que não serão detalhados neste livro. A seguir, será
apresentada uma outra aplicação do conversor D/A.

REPRODUÇÃO DE ÁUDIO
As informações digitalizadas são armazenadas em memórias e podem ser acessadas de maneira
arbitrária. Em computadores, mp3 players, tablets e smartphones os arquivos de áudio são armazenados
em memórias e o som reproduzido pelo equipamento deve chegar às caixas amplificadoras (ou fones de
ouvido) no formato de um sinal analógico. Se a informação digital é reproduzida na forma de som, ela
sofreu uma conversão digital-analógica.

Os videogames antigos não possuíam muitos bits para armazenar a informação do


som. Quando existem poucos bits para caracterizar esta informação, a música sofre
CURIOSI um efeito chamado de distorção, também conhecido como ruído de quantização.
DADES Com o avanço da tecnologia, o número de bits presentes em um arquivo mp3 de
uma música gravada no computador é suficientemente grande para que o ruído de
quantização não seja perceptível.

Como o próprio nome diz, o conversor digital-analógico transforma um sinal digital em analógico. Exis-
te um componente eletrônico que faz a função inversa, isto é, converte um sinal analógico em um sinal
digital, conhecido como o conversor analógico-digital. Agora, que você conhece como é a estrutura de um
conversor D/A, está na hora de compreender o funcionamento e a estrutura de um conversor A/D.
ELETRÔNICA DIGITAL
208

4.2 CONVERSOR ANALÓGICO-DIGITAL

O conversor analógico-digital é um dispositivo eletrônico que pode interpretar sinais elétricos, como a
tensão e a corrente, ao mesmo tempo que traduz este sinal para o formato digital. Basicamente, a função
do conversor é dada pela figura.

A
Conversor A/D
Ue B

Sabrina Farias (2016)


Figura 116 - Conversor A/D
Fonte: SENAI (2016)

O circuito conversor A/D tem como entrada um valor analógico (Ue) e como saída bits digitais (A e B).
Como os circuitos eletrônicos trabalham com grandezas elétricas, a entrada analógica será um valor de
tensão elétrica. E as saídas digitais serão valores fixos de tensão, que podem representar bits de estado 0
ou 1.
Suponha que a variável analógica Ue pode ter diferentes valores entre 0 e 5 V, ou seja, o valor mínimo é
0 V e o valor máximo é de 5 V. A variável Ue pode assumir infinitos valores neste intervalo de tensão, como:
Ue = {0,4; 1; 2,3; 3,33; 4,53; 4,99;...}
Isso acontece, porque Ue é uma variável analógica, ou seja, uma variável real. O papel real do conversor
analógico digital é representar um número analógico em um equivalente binário. Desta forma, para um
conversor analógico digital com dois bits, a conversão atende a seguinte tabela:

Ue (V) A B
0,00 0 0
1,67 0 1
3,33 1 0
5,00 1 1
Tabela 77 - Conversão analógico digital com 2 bits
Fonte: SENAI (2016)
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
209

De acordo com os valores de Ue, é possível observar que uma conversão analógica digital com apenas
dois bits não possui muita precisão. Lembre-se de que a variável de tensão possui apenas 4 representações
no mundo digital e que o sinal digital 00b apenas muda para o sinal 01b quando a tensão se torna maior que
1,67 V. Desta maneira, quanto maior for a quantidade de bits disponível em um conversor A/D, melhor será
a representação do sinal em binário. Veja uma conversão com 3 e 4 bits.

Ue (V) A B C
0 0 0 0
0,71 0 0 1
1,43 0 1 0
2,14 0 1 1
2,86 1 0 0
3,57 1 0 1
4,29 1 1 0
5,00 1 1 1
Tabela 78 - Conversão analógico digital com 3 bits
Fonte: SENAI (2016)

Observe que, para uma conversão de 3 bits, os valores intermediários da percepção de tensão
aumentaram. Isso acontece, porque aumentaram as representações de um número analógico no sistema
digital e, se antes haviam apenas 4 intervalos de representação analógica, agora existem 8 representações.
Significa que a qualidade da conversão analógico digital dobrou e, para uma conversão analógico digital
de 4 bits, a precisão é ainda melhor. Veja a tabela a seguir.

Ue (V) A B C D
0 0 0 0 0
0,31 0 0 0 1
0,63 0 0 1 0
0,94 0 0 1 1
1,25 0 1 0 0
1,56 0 1 0 1
1,88 0 1 1 0
2,19 0 1 1 1
2,50 1 0 0 0
2,81 1 0 0 1
3,13 1 0 1 0
3,44 1 0 1 1
3,75 1 1 0 0
4,06 1 1 0 1
4,38 1 1 1 0
5,00 1 1 1 1
Tabela 79 - Conversão analógico digital de 4 bits
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
210

Observe que com 4 bits a representação do intervalo de 0 a 5 V possui 16 possibilidades. Usualmente, os


conversores analógicos digitais simples possuem em torno de 8 bits. Isso significa que, em um intervalor de
tensão máxima e mínima, podem existir cerca de 256 intervalos. Como dito anteriormente, quanto maior
a quantidade de bits ou intervalos, melhor será a representação do número em binário. Para entender esta
conversão analógica de maneira visual, a figura, a seguir, mostra os conversores analógico-digitais com 1,
2, e 3 bits de saída, comparados com a forma de onda analógica.

Digital

Analógico

Sabrina Farias (2016)


Tempo
Figura 117 - Sinais digitais e analógico com 1 bit
Fonte: SENAI (2016)

O sinal digital é representado pela curva vermelha, enquanto que o sinal analógico é demonstrado pela
curva preta. Observe, nessa figura, que o conversor analógico digital possui apenas 1 bit. Isso significa que
o sinal digital correspondente à curva analógica terá apenas duas representações, 0 ou 1. Certamente a
diferença que existe entre o sinal real e o sinal digital é muito discrepante, ou seja, um conversor analógico
digital de apenas 1 bit não possui um número mínimo de intervalos apropriados para representar uma
curva analógica. Veja a conversão analógica para um conversor de 2 bits.

Digital

Analógico
Sabrina Farias (2016)

Tempo
Figura 118 - Sinais digitais e analógico com 2 bits
Fonte: SENAI (2016)
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
211

Observe na conversão de 2 bits que os intervalos representados pela curva começam a caracterizar a
onda de maneira mais precisa. Um sinal analógico, agora, já possui 4 intervalos para a representação de seu
número no mundo digital.

Digital

Analógico

Sabrina Farias (2016)


Tempo
Figura 119 - Sinais digitais e analógico com 3 bits
Fonte: SENAI (2016)

Para a conversão considerando 3 bits, a aproximação do sinal analógico no mundo digital fica cada vez
mais caracterizada, possuindo, desta vez, 8 intervalos de representação. Desta maneira, é possível observar
nas imagens que, quanto maior o número de bits de saída possuir o conversor A/D, mais parecido será o
sinal digital com o sinal analógico. A representação será confiável e a perda de informação será cada vez
menor.
Até aqui foi apresentada uma visão geral de como acontece a conversão analógica para a digital. Nos
modelos gráficos e a partir das informações dadas nas tabelas de conversão analógica, foram trabalhados
exemplos com números fixos de tensão e números de bits. Agora que você compreende o conceito básico
da conversão A/D, conheça suas características principais. A próxima seção irá apresentar três principais
características destes conversores.

4.2.1 CARACTERÍSTICAS

Os conversores analógico-digitais têm vários aspectos, ou seja, possuem diversos modos de construção.
As principais características de um conversor A/D são:
a) precisão;
b) tempo de amostragem;
c) construção de circuitos conversores A/D.
A seguir, serão expostas de maneira detalhada estas três características.
ELETRÔNICA DIGITAL
212

PRECISÃO
A precisão dos conversores A/D está relacionada ao número de saídas digitais. Como visto em exemplos
anteriores, a capacidade do circuito digital em representar uma variável está condicionada ao número de
níveis digitais que o conversor A/D oferece. Quanto maior for o número de saídas, maior a precisão do sinal.
Quanto maior o número de saídas digitais, mais o sinal de saída se aproximará do sinal de entrada.

TEMPO DE AMOSTRAGEM
O tempo de amostragem, fator diretamente ligado à resolução digital do sinal amostrado, é o intervalo
de tempo em que os sinais analógicos são capturados e processados no conversor analógico. Este intervalo
de tempo pode ser instantâneo para alguns circuitos, mas para circuitos em que o sinal digital precisa de um
tratamento especial, este intervalo de tempo é cada vez maior. Quanto maior for o tempo de amostragem,
maior perda de sinal ocorrerá na conversão do sinal. Observe a figura a seguir.

Digital Analógica Sabrina Farias (2016)

Tempo de amostragem
Figura 120 - Tempo de amostragem grande
Fonte: SENAI (2016)

Nesta figura, a variável analógica está representada pela cor preta, o sinal digital pela cor vermelha e os
instantes de tempo em que acontece a conversão é demonstrado pela cor verde. Quanto maior o tempo de
amostragem, maior será o espaço entre uma captura e outra do sinal analógico. Se este espaço for muito
grande, a representação do sinal terá um efeito de distorção, ou seja, não irá conseguir representar o sinal
de uma maneira aplicável. Quando um sinal analógico não consegue ser caracterizado por causa do alto
tempo de amostragem, significa que também sofre uma distorção.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
213

Observe agora uma figura em que o tempo de amostragem é bem pequeno.

Digital Analógico

Sabrina Farias (2016)


Amostragem
Figura 121 - Tempo de amostragem pequeno
Fonte: SENAI (2016)

Observe que, na figura, com o tempo de amostragem menor, a onda triangular foi relativamente
bem representada, possibilitando demonstrar as variações de subida e descida. Quando o período de
amostragem for menor, o conversor tem a capacidade de representar a variável analógica com exatidão,
diminuindo a distorção e aumentando a confiabilidade e precisão do sinal. Caso o tempo de amostragem
seja menor, significa dizer que o conversor terá mais amostras de sinal em um período de tempo. Quanto
maior o número de amostras, mais informações o conversor terá para representar o sinal analógico no
formato digital.
De maneira geral, deve-se conhecer o sinal analógico antes de impor um tempo de amostragem. Muitos
sinais analógicos experimentam variações em uma frequência fixa, ou seja, sofrem variações de subida e
descida de maneira repetida e sincronizada. Diante destas informações, o conversor A/D deve estar apto
a realizar estas conversões. Isso quer dizer que existe um tempo de amostragem mínimo para caracterizar
ondas oscilantes em frequência fixa. E, para encontrar o tempo de amostragem, existe o Teorema de
Nyquist4. Partindo deste teorema, o tempo de amostragem pode ser definido pela seguinte expressão:

onde:
Ta: tempo de amostragem mínimo;
fs: frequência fixa do sinal a ser convertido.

4 O Teorema de Nyquist relaciona a frequência de um sinal com a frequência de amostragem do mesmo sinal, sendo que a mesma
deve ser o dobro da frequência do sinal, condição suficiente para uma conversão analógica bem-feita.
ELETRÔNICA DIGITAL
214

Atualmente, existem diversas formas de se implementar um circuito conversor A/D. Este circuito é tão
utilizado que hoje existem circuitos encapsulados em circuitos integrados, que são dedicados a realizar
determinada função. Mais adiante, serão apresentadas algumas destas aplicações, além de um circuito
integrado de um conversor analógico digital. Para entender como estes circuitos funcionam, é necessário
conhecer algumas das principais formas de construção dos conversores A/D.

TIPOS DE CONVERSORES A/D


No interior dos conversores A/D, existem estruturas que realizam adequação de níveis de tensão,
amplificadores operacionais, contadores, registradores, entre outros elementos de circuitos eletrônicos. A
figura, a seguir, mostra como é constituído um conversor A/D.

Saída
Digital
D Q A (MSB)
CLR

Entrada B
CLK Contador D Q
Analógica
Hexadecimal

UR +
- A’ B’ C’ D’ C
D Q
UE Conversor
D/A
Sabrina Farias (2016)

D
D Q

Figura 122 - Estrutura interna de um conversor A/D


Fonte: Adaptado de Idoeta; Capuano, 2012

Este conversor transforma o sinal de tensão Ue em um sinal digital distribuído nos bits (A, B, C e D), em que
a tensão de entrada passa por um comparador implementado com um circuito amplificador operacional.
Observe que o sinal de saída está disposto em um conjunto de 4 flip-flops do tipo D, necessários para
que o sinal convertido esteja acessível de maneira sincronizada nas saídas (A, B, C e D). Outros circuitos
importantes neste conversor são o contador de hexadecimal e o conversor D/A. Note que dentro da
estrutura interna de um conversor A/D existe um conversor D/A.
Para entender o funcionamento desta estrutura, é importante que você conheça a função de cada
componente. O amplificador operacional possui um sinal de saída Us, que funciona da seguinte maneira:
a) se Ue > UR, então Us = 1;
b) se Ue < UR, então Us = 0.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
215

O sinal Us igual ao nível lógico 1 irá habilitar o sinal de clock do contador de hexadecimal. Este contador
iniciará sua contagem e enviará o sinal para um conversor D/A. O sinal analógico gerado pelo conversor
(UR) será novamente comparado ao sinal Ue através do amplificador operacional. Enquanto Ue < UR, a
contagem continua. Quando a contagem ultrapassar um determinado valor, Ue terá uma tensão menor
que UR, ou seja, Ue > UR. Desta maneira, Us = 0. Quando Us passar do nível lógico 1 para o nível lógico 0,
os pinos de clock dos FFs receberão uma borda de descida e o sinal presente nas entradas D serão levados
para as saídas A, B, C e D, respectivamente.
Observe que, quando Us recebeu o nível lógico 0, o sinal de clock do contador de década ficou
desabilitado. Desta maneira, para que uma nova conversão seja feita, é preciso que o pino CLR receba um
sinal 0 e novamente seja colocado em nível lógico 1. Para simplificar o entendimento sobre o processo de
conversão analógica, observe o seguinte algoritmo:
a) o contador de década inicia a contagem;
b) o sinal recebido do contador vai para o conversor D/A, que converte o valor equivalente binário do
valor hexadecimal de 0 a F em um sinal de tensão UR;
c) o sinal UR é enviado ao amplificador operacional que compara Ue e UR;
d) enquanto Ue > UR a contagem continua;
e) quando Ue < UR, o valor da contagem fica disponível nas saídas A, B, C e D;
f ) para uma nova conversão, CLR é colocado em nível 0 e novamente em nível 1.
Para compreender bem este algoritmo e o processo de conversão analógico digital, leia o exemplo.

Exemplo 1 – Funcionamento de um conversor A/D convencional


Considerando o valor de alimentação do conversor D/A igual a 5 V e que o sinal de tensão Ue possua
uma variação de 0 a 5 V, analise os dados de conversão observando os valores da contagem.

CLR CLK US UE CONTAGEM C. DECIMAL UR ABCD


1 X X X X X X X
0 - 1 3,5 0000 0 0 X
1 - 1 3,5 0000 0 0 X
1 1º 1 3,5 0001 1 0,33 X
1 2º 1 3,5 0010 2 0,66 X
1 3º 1 3,5 0011 3 1,00 X
1 4º 1 3,5 0100 4 1,33 X
1 5º 1 3,5 0101 5 1,67 X
1 6º 1 3,5 0110 6 2,00 X
1 7º 1 3,5 0111 7 2,33 X
1 8º 1 3,5 1000 8 2,67 X
1 9º 1 3,5 1001 9 3,00 X
1 10º 1 3,5 1010 10 3,33 X
ELETRÔNICA DIGITAL
216

CLR CLK US UE CONTAGEM C. DECIMAL UR ABCD


1 11º 0 3,5 1011 11 3,67 1011
1 - 0 3,5 1011 11 3,67 1011
0 - 1 3,5 0000 0 0 1011
Tabela 80 - Exemplo de uma conversão analógico digital com 4 bits
Fonte: SENAI (2016)

Observe que os valores inicias não importam. Apenas quando o pino CLR é zerado, a contagem tem seu
valor inicial igual a 0. Veja que o pino de clock CLK só é habilitado quando CLR volta para o nível lógico 1 e
que o valor de Ue, neste caso, permanece fixo para facilitar esta análise. Conforme os pulsos de clock são
gerados, a contagem é iniciada. Nesta tabela, foi inserida uma coluna com o valor da contagem decimal
para melhor entendimento do processo, pois a cada valor de contagem um sinal UR é gerado na saída do
conversor D/A. Este sinal é comparado a todo instante pelo amplificador operacional.
Até o 10.º pulso de clock, o valor de Ue > UR. No 11.º pulso de clock, Ue < UR. Desse modo, o sinal Us gera
uma borda de descida nos flip-flops, que copiam o valor da contagem para as saídas A, B, C e D.
Observe que, depois da conversão realizada, os pulsos de clock são desabilitados e, para reiniciar a
contagem, torna-se necessário colocar o pino CLR para nível 0 novamente. Considere que, mesmo zerando
o valor da contagem, o valor das saídas A, B C e D permanecem os mesmos.
No exemplo 1, o valor de conversão para a entrada Ue = 3,5 V é de ABCD = 10112. Observe, neste exemplo,
que o valor 10112 corresponde ao valor 3,67 V, não ao valor 3,5 V. Isso quer dizer que existe um pequeno
erro na representação do sinal analógico. Como dito anteriormente, quanto maior for o número de bits
presentes nos conversores, melhor serão suas representações, sejam elas analógicas ou digitais. Diante do
que foi exposto e dos dados apresentados no exemplo 1, veja os seguintes exemplos.

Exemplo 2 – Representação digital de valores analógicos


Com base no que foi estudado, fica simples entender que muitos valores de entrada não terão seu valor
analógico real representado. Você pode determinar qual a saída ABCD para as seguintes informações de
tensão de entrada Ue:
a) Ue = 0,2 V
b) Ue = 2,99 V
Na primeira opção (letra a), o valor de ABCD é igual a 00012, e isso acontece, porque o valor de tensão
foi o suficiente para gerar um pulso de clock no contador.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
217

Já na letra b, o valor de ABCD é igual a 10012, pois o valor de tensão 2,99 V foi capaz de gerar um pulso de
clock até chegar ao estado de conversão 3,00 V que, por sua vez, não é um valor arredondado, mas obtido
de acordo com a tabela do exemplo 1, considerando a comparação entre Ue e UR.

Até aqui, os conversores A/D apresentados podem realizar apenas conversões de sinal
positivos de tensão de entrada. Isso quer dizer que sempre Ue > 0. Comercialmente,
FIQUE existem conversores analógico-digitais capazes de realizar a conversão de valores
ALERTA negativos de tensão, mas sua estrutura interna e seu funcionamento são um pouco
diferentes do que é abordado neste livro.

A demonstração destes exemplos teve como objetivo mostrar a estrutura interna e o funcionamento
das principais características do conversor A/D. Como os circuitos conversores A/D são muito utilizados na
prática, há muitos conversores em circuitos integrados. Portanto, é importante que algum CI conversor A/D
seja discutido neste capítulo.

CIRCUITO INTEGRADO DE UM CONVERSOR A/D


Normalmente, os conversores A/D são circuitos embutidos em placas de controladores, como CLPs,
microcontroladores, além de placas dedicadas a aplicações de controle de processos. Além disso, os
conversores podem ser encontrados em circuitos integrados, mais conhecidos como chips. Um exemplo
de conversor A/D é o circuito integrado ADC080X, que pode ser visualizado através da figura, a seguir.

CS 1 20 VCC (OR VREF)


RD 2 19 CLK R
WR 3 18 DBO (LSB)
CLK IN 4 17 DB1
INTR 5 16 DB2
VIN(+) 6 15 DB3
VIN(-) 7 14 DB4
A GND 8 13 DB5
Sabrina Farias (2016)

VREF/2 9 12 DB6
D GND 10 11 DB7 (MSB)

Figura 123 - Circuito integrado ADC080X


Fonte: TEXAS INSTRUMENTS (2015a)
ELETRÔNICA DIGITAL
218

Existem diversos pinos neste circuito integrado e, para compreender a lógica de funcionamento do
conversor, observe o lado esquerdo do circuito. No pino 6, é inserido o sinal de tensão positiva, ou seja, neste
pino será colocado o sinal analógico que deve ser convertido. Os pinos 7, 8 e 10 podem ser interligados no
comum do sinal, quer dizer, no nível de tensão zero do circuito. Os pinos 11 ao 18 são as saídas do sistema
ou pinos de saída digitais. O pino 20 é o sinal de referência, ou seja, o valor de alimentação do circuito. Os
pinos 3 e 5 são acionados por um pulso que habilita a entrada de informação. Este sinal irá definir o período
de amostragem. Quanto mais rápida for a frequência de oscilação deste pulso, maior será habilitada a
leitura destas informações.
Neste circuito, existem 8 pinos de saídas digitais e isto significa que existem 28 possibilidades de sinais
na saída e a representação do sinal analógico pode ser convertida em 256 níveis diferentes.
Diante do exposto, fica clara a função de um conversor analógico digital. Como são vários os possíveis
usos deste dispositivo, a próxima seção irá citar algumas destas aplicações. Siga em frente com seus estudos!

4.2.2 APLICAÇÕES

São vários os equipamentos que possuem conversores analógicos digitais. Qualquer equipamento
eletrônico que realize uma leitura de uma grandeza física deve estar constituído de um conversor analógico
digital. Alguns exemplos são:
a) voltímetro digital;
b) leitor de temperatura;
c) digitalização de sons.
Estas são apenas algumas das várias aplicações dos conversores analógicos digitais. O estudo de
conversores e suas aplicações é muito amplo quando se refere à qualidade do sinal em termos de
confiabilidade e aplicação. Portanto, o interesse deste livro é mostrar quais os principais tipos e aplicações
dos circuitos A/D de maneira geral. Na sequência, os exemplos citados serão apresentados de forma mais
específica.

VOLTÍMETRO DIGITAL
O voltímetro digital é um equipamento simples que converte o valor analógico real da tensão elétrica e
o transforma em um sinal digital que pode ser visualizado na tela de um display.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
219

A figura, a seguir, mostra um multímetro digital, que é um equipamento capaz de medir grandezas,
como tensão, corrente, resistência, entre outras unidades elétricas. Quando o multímetro está lendo um
sinal de tensão, o equipamento converte o sinal analógico em digital, que será processado e mostrará a
informação da tensão em um display. Observe que, independente da grandeza medida, o resultado da
conversão sempre será um conjunto de informações digitais.

Thinkstock ([20--?])
Figura 124 - Multímetro digital

O multímetro digital é um dos principais equipamentos de medição utilizados pelo técnico da área
eletrônica. Com este dispositivo, é possível realizar uma série de medições e testes para uma análise
funcional do circuito medido. Antes do voltímetro ou multímetro digital, grandezas como tensão e corrente
eram monitoradas de maneira puramente analógica. Ao invés de displays, a informação era mostrada com
o auxílio de uma escala graduada e alguns ponteiros. Os voltímetros e amperímetros analógicos ainda são
utilizados na indústria dispostos em grandes painéis de máquinas. O multímetro digital possibilitou um
grande avanço no que diz respeito ao seu tamanho menor, mais funções e diferentes escalas. A seguir, você
verá uma aplicação semelhante ao voltímetro digital.

LEITOR DE TEMPERATURA
Os leitores de temperatura são amplamente e também podem ser chamados de termômetros. O
termômetro é um equipamento que permite medir grandezas de temperatura em graus Celsius ou
Fahrenheit. Existem diversos tipos de termômetros, desde equipamentos de medição de temperatura
digital a analógicos, infravermelhos etc. O termômetro digital, por exemplo, possui um conversor analógico-
digital integrado que possibilita a conversão de grandeza térmica para um valor visível em um display
digital.
ELETRÔNICA DIGITAL
220

Nota-se que o conversor analógico-digital sempre irá converter uma grandeza elétrica para o sinal
digital. Significa que antes da temperatura ser convertida para o sinal digital, ela deve ser transformada em
uma grandeza elétrica correspondente, conforme demonstrado na figura.

A/D A
Ue B

Thinkstock ([20--?])
Calor Sensor de Tensão Conversor A/D Circuito
Temperatura Elétrica Digital

Figura 125 - Conversão de temperatura em sinal digital

Para que termômetro digital consiga realizar a leitura de temperatura, seu circuito eletrônico deve ser
formado de sensores, conversores e circuitos decodificadores para tratar o sinal elétrico e fazer com que as
conversões sejam precisas. Neste livro didático, você irá ter contato com alguns destes elementos e terá a
capacidade de desenvolver circuitos semelhantes ao exemplo citado.
Como esta aplicação é amplamente utilizada em ambientes industriais, existem soluções dedicadas à
leitura de temperaturas, ou seja, há equipamentos desenvolvidos exclusivamente para esta aplicação. É
importante notar que o princípio de conversão é o mesmo. Em algumas aplicações, estes equipamentos
podem ler a temperatura e ao mesmo tempo tomar uma decisão com base nesta mesma informação,
como é o caso dos controladores de temperatura. Estes equipamentos podem, após ler uma determinada
temperatura, acionar contatos auxiliares que habilitam ou desabilitam processos industriais acoplados
neste equipamento. A figura, a seguir, mostra um exemplo de controlador de temperatura.

TEMPERATURA
ºC
S1
Sabrina Farias (2016)

F
PGM

Figura 126 - Controlador de temperatura industrial


Fonte: SENAI (2016)

Assim como as tensões e correntes elétricas, a temperatura também é uma grandeza que pode ser
convertida para o mundo digital. Quando levado este conhecimento à prática, algumas vezes surgem
algumas pequenas dificuldades em relação à habilidade e ao domínio do circuito conversor. Para conhecer
algumas propriedades dos sistemas de conversão em circuitos, leia o Casos e Relatos, na sequência, e
aprofunde seus conhecimentos práticos referentes a circuitos.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
221

CASOS E RELATOS

Uma conversão requer ordem


Rafael é um aluno do SENAI e pretende fazer uma experiência com os conversores analógico-
-digitais. Para isso, ele conta com um CI de um conversor A/D de 4 bits, um temporizador para
gerar o sinal de clock e um potenciômetro para variar o sinal de tensão na entrada do conversor.
No intuito de analisar o sinal de saída, o aluno conectou os pinos de saída a quatro LEDs. Ao fazer
alguns testes, Rafael notou que o sinal de saída digital não estava de acordo com aquilo que
esperava, pois a saída digital estava com um valor muito acima do que constava no projeto.
Ao variar a resistência do potenciômetro, o aluno percebeu que os bits gerados na saída não
acompanhavam uma lógica crescente, mas seguiam um comportamento aleatório. O aluno
começou a revisar os pinos de alimentação dos CIs, mediu a tensão de alimentação dos circuitos,
verificou os pinos de entrada e saída. De repente, percebeu que algo estava errado, pois, ao verificar
os pinos de saída do conversor A/D, identificou que os LEDs não estavam conectados de forma
sequencial nas saídas A, B, C e D e sim nas estradas C, D, A e B. Ao constatar o erro, o aluno foi capaz
de testar o circuito de maneira correta.
Com tudo funcionando, conectou os pinos de saída em um decodificador com portas lógicas e um
display de 7 segmentos que ele mesmo já havia criado. Desta maneira, quando a tensão na entrada
variava de 0 a 5 volts, Rafael conseguiu observar no display os números de 0 a 9.

Ouvir música no computador ou no mp3 player é algo muito comum nos dias atuais. Mas, você sabe
como este som é reproduzido? Como a música foi parar ali dentro? A música em formato digital está
muito presente no cotidiano, mas o funcionamento do dispositivo responsável por sua reprodução é algo
pouco explorado pelos amantes da música. Assim, a seguir, você irá identificar a relação da música com a
eletrônica.

DIGITALIZAÇÃO DE SONS
Na digitalização do som, o microfone funciona como um sensor que transforma as ondas sonoras em um
determinado nível de tensão analógico, o qual pode ser tratado em diversos circuitos eletrônicos, inclusive
em um conversor analógico-digital. Quando o som se torna digital, este pode ser gravado, editado, tratado
e reproduzido mais facilmente.
ELETRÔNICA DIGITAL
222

Antigamente, os discos de vinil eram gravados apenas de maneira analógica, pois


não havia conversão digital do som e consequentemente a música gravada era um
CURIOSI conjunto de ranhuras equivalentes ao sinal analógico sonoro. A agulha do toca-
discos funcionava como sensor que traduzia a informação gravada em um sinal de
DADES tensão elétrica analógica. O sinal era equalizado e amplificado, analogicamente, sem
precisar ser tratado de maneira digital, já que não existia a presença de um conversor
analógico-digital.

A figura, a seguir, mostra o processo de conversão analógica em um sinal digital correspondente a uma
onda sonora ou música.

A/D

Thinkstock ([20--?])
Tensão Conversor Som
Som Microfone Elétrica A/D digital
Figura 127 - Digitalização do som

Hoje o som digital é algo muito comum e está cada vez mais presente em CDs, aparelhos MP3 e vídeos
disponíveis na internet. Assim, é possível realizar uma gravação a qualquer momento, utilizando um
aparelho celular ou smartphone. O diferencial acontece graças a um processo que permite converter o sinal
analógico em digital. Esta aplicação parece simples, mas foi um grande marco na era da telecomunicação.
Agora que você conheceu como a eletrônica analógica se comunica com o mundo virtual, faça pequena
revisão de tudo o que foi estudado neste último capítulo.

RECAPITULANDO

Neste capítulo, você estudou que a variável analógica é qualquer grandeza física que se comporta
de maneira contínua no decorrer do tempo. Também observou que as variáveis analógicas
podem ser lidas, armazenadas e até controladas por circuitos digitais. Paralelamente, foi abordado
que a informação analógica é muito diferente da informação digital e, por isso, são necessários
conversores, como os circuitos A/D e D/A, que possuem inúmeras aplicações. Assim, a interface
com o mundo analógico pode atuar como leitura de informações ou como a interação através de
ações de comando.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
223

Você aprendeu ainda novos conceitos, como tempo de amostragem e precisão analógica. Além
disso, viu que, quanto maior o número de bits os conversores tiverem disponíveis para armazenar
a informação analógica, mais fiel será a informação digital em relação à real. Também foi possível
entender que os conversores sempre trabalham com a unidade de medida de tensão elétrica (em
volts).
Você estudou, na sequência, uma série de equações que mostram a relação de tensão elétrica
com informações binárias e que, determinados níveis de tensão, não são possíveis de se alcançar,
devido à limitação de bits, o que ocasiona em uma distorção da informação.
Além disso, os conversores não atuam sozinhos e alguns precisam de circuitos auxiliares de
comando, registradores, amplificadores operacionais, entre outros circuitos periféricos para
melhorar a qualidade do sinal ao se adaptar à referida aplicação.
Finalizando, neste capítulo, foi apresentada uma série de aplicações, tanto para circuitos conversores
A/D quanto conversores D/A. Dentre as aplicações estudadas estão o multímetro digital, o leitor de
temperatura, a digitalização e reprodução de sons e os geradores de função.
REFERÊNCIAS

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jul. 2016.
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GARCIA, Paulo A., MARTINI, José Sidnei C. Eletrônica digital: Teoria e laboratório. 2. ed. São Paulo:
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IDOETA, Ivan V.; CAPUANO, Francisco G. Elementos de eletrônica digital. 41. ed. São Paulo: Érica,
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LOURENÇO, Antônio Carlos de et al. Circuitos Digitais. 9. ed. São Paulo: Érica, 2007.
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TOCCI, Ronald J; WIDMER, Neal S. Sistemas digitais: princípios e aplicações. 8. ed. São Paulo:
Prentice Hall, 2003.
MINICURRÍCULO DOS AUTORES
Rhavi Gonçalves de Borba

Tem graduação como bacharel em engenharia elétrica pela Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC). Já atuou como analista de projetos elétricos na empresa WEG Equipamentos
Elétricos S/A na área de desenvolvimento de motores especiais. Atua como docente, lecionando
unidades curriculares voltadas às áreas de eletrotécnica e mecatrônica para cursos técnicos e
aprendizagem industrial no SENAI/SC. Atua com a orientação de trabalhos de conclusão de curso e
relatórios finais do ensino técnico. Atualmente, está cursando o mestrado profissional em engenharia
elétrica pela UDESC com interesse nas áreas de robótica, eletrônica, automação e controle.
ÍNDICE

A
Analógico 17, 18, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 200, 205, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 214,
215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222

B
Binários 21, 23, 24, 25, 28, 33, 34, 35, 41, 48, 88, 89, 90, 91, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 105, 110,
136, 144, 169
Borda de subida 145, 146, 149, 150

C
Circuito combinacional 66, 67, 80, 88, 114, 165, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 180, 181
Circuito integrado 57, 58, 92, 113, 122, 128, 152, 157, 176, 177, 179, 189, 190, 214, 217, 218
Código ASCII 39
Códigos BCD 35, 36, 39
Combinacional 18, 21, 66, 67, 80, 88, 114, 136, 137, 140, 165, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 180,
181

F
Famílias lógicas 125, 128, 131, 132, 134, 136
Funções lógicas 41, 44, 45, 50, 52, 54, 56, 63, 72, 78, 88, 104, 108, 115, 125

H
Hexadecimal 21, 24, 25, 26, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 114, 136, 162, 163, 164, 165, 167, 171, 177, 180,
214, 215

L
Latch 189, 190, 225
Lógica sequencial 18, 137, 139, 140, 190, 225
LSB 29, 31, 169, 203

M
Mapa de Karnaugh 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 88, 174

O
O diagrama de estados 163, 164, 165, 166, 167
P
Portas lógicas 21, 45, 47, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 56, 57, 58, 59, 62, 63, 64, 65, 66, 68, 69, 70, 72, 75,
78, 87, 88, 92, 94, 95, 104, 106, 108, 109, 112, 113, 116, 121, 125, 129, 131, 133, 137, 140,
141, 142, 144, 145, 148, 152, 180, 181, 221

T
Tabela-verdade 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 55, 60, 62, 63, 67, 68, 69, 71, 72, 73, 75, 76, 78, 79,
84, 85, 86, 92, 94, 104, 116, 117, 120, 143, 146, 151, 152, 170, 173, 174, 199
Transistores 56, 126, 152, 153
SENAI - DEPARTAMENTO NACIONAL
UNIDADE DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA – UNIEP

Felipe Esteves Morgado


Gerente Executivo

Luiz Eduardo Leão


Gerente de Tecnologias Educacionais

Fabíola de Luca Coimbra Bomtempo


Coordenação Geral do Desenvolvimento dos Livros Didáticos

Catarina Gama Catão


Apoio Técnico

SENAI – DEPARTAMENTO REGIONAL DE SANTA CATARINA

Mauricio Cappra Pauletti


Diretor Técnico

Selma Kovalski
Coordenação do Desenvolvimento dos Livros Didáticos

Rhavi Gonçalves de Borba


Elaboração

Daniel de Medeiros Passarela


Revisão Técnica

Morgana Machado Tezza


Coordenação do Projeto

Kelly Custodio da Costa


Design Educacional

Airton Julio Reiter


Revisão Ortográfica e Gramatical

Ana Cristina de Borba


Paco Giordani Mora
Patricia Marcilio
Rosimeri Likes
Fotografias, ilustras e Tratamento de Imagens

João Carlos Evaristo Guedes Nunes


Joel Nunes
Rhavi Gonçalves de Borba
Rosano Daniel Nunes
Sergio Andolfo
Comitê Técnico de Avaliação
Ellen Cristina Ferreira
Patricia Marcilio
Diagramação

Airton Julio Reiter


Normalização

Patricia Correa Ciciliano


CRB – 14.1230
Ficha Catalográfica

i-Comunicação
Projeto Gráfico

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