Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Eletrônica Digital
Eletrônica Digital
ELETRÔNICA
DIGITAL
SÉRIE ELETROELETRÔNICA
ELETRÔNICA
DIGITAL
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI
Conselho Nacional
ELETRÔNICA
DIGITAL
© 2016. SENAI – Departamento Nacional
A reprodução total ou parcial desta publicação por quaisquer meios, seja eletrônico,
mecânico, fotocópia, de gravação ou outros, somente será permitida com prévia autorização,
por escrito, do SENAI.
Esta publicação foi elaborada pela equipe da Gerência de Educação e Tecnologia do SENAI
de Santa Catarina, com a coordenação do SENAI Departamento Nacional, para ser utilizada
por todos os Departamentos Regionais do SENAI nos cursos presenciais e a distância.
FICHA CATALOGRÁFICA
S491e
CDU: 004.312
SENAI Sede
Serviço Nacional de Setor Bancário Norte • Quadra 1 • Bloco C • Edifício Roberto
Aprendizagem Industrial Simonsen • 70040-903 • Brasília – DF • Tel.: (0xx61) 3317-9001
Departamento Nacional Fax: (0xx61) 3317-9190 • http://www.senai.br
Lista de ilustrações
Figura 1 - Níveis lógicos 0 e 1........................................................................................................................................44
Figura 2 - Representação da porta lógica AND......................................................................................................46
Figura 3 - Porta AND com 3 entradas........................................................................................................................47
Figura 4 - Porta lógica OR...............................................................................................................................................48
Figura 5 - Porta lógica OR com 3 entradas...............................................................................................................49
Figura 6 - Porta lógica NOT............................................................................................................................................50
Figura 7 - Junção das portas lógicas AND e NOT...................................................................................................51
Figura 8 - Junção das portas OR e NOT.....................................................................................................................52
Figura 9 - Lógica XOR.......................................................................................................................................................53
Figura 10 - Montagem do circuito equivalente, referente à lógica XOR.......................................................54
Figura 11 - Porta lógica XOR..........................................................................................................................................54
Figura 12 - Junção das portas XOR e NOT................................................................................................................56
Figura 13 - Circuito eletrônico responsável pela lógica NAND.........................................................................56
Figura 14 - CI 7408............................................................................................................................................................57
Figura 15 - Chaves pull-up e pull-down...................................................................................................................58
Figura 16 - Ligação do CI 7408.....................................................................................................................................59
Figura 17 - Simulação do CI 7408................................................................................................................................60
Figura 18 - Pinagem do CI7404 (porta NOT)...........................................................................................................61
Figura 19 - Projeto de uma porta lógica NAND com circuitos 7404 e 7408................................................61
Figura 20 - Porta NAND com saída nula....................................................................................................................62
Figura 21 - Representações das principais portas lógicas..................................................................................64
Figura 22 - Representações distintiva e retangular de algumas portas lógicas.........................................65
Figura 23 - Exemplo de circuito combinacional com 3 entradas e duas saídas.........................................66
Figura 24 - Circuito de portas lógicas do exemplo 2............................................................................................70
Figura 25 - Circuito equivalente da função OR.......................................................................................................75
Figura 26 - Exemplo de construção do mapa de Karnaugh..............................................................................79
Figura 27 - Mapa de Karnaugh com duas variáveis..............................................................................................79
Figura 28 - Mapa de Karnaugh para a saída S1......................................................................................................80
Figura 29 - Mapa de Karnaugh para a saída S2......................................................................................................80
Figura 30 - Mapa de Karnaugh com 3 variáveis de entrada..............................................................................81
Figura 31 - Mapa de Karnaugh com 4 variáveis de entrada..............................................................................82
Figura 32 - Exemplo de enlace.....................................................................................................................................82
Figura 33 - Exemplo de mapa com dois enlaces...................................................................................................83
Figura 34 - Enlace em todo o mapa............................................................................................................................83
Figura 35 - Mapa de Karnaugh do exemplo 3.......................................................................................................84
Figura 36 - Tendência ao realizar o enlace...............................................................................................................84
Figura 37 - Enlace único entre células adjacentes afastadas.............................................................................85
Figura 38 - Mapa de Karnaugh para a saída S1......................................................................................................86
Figura 39 - Mapa de Karnaugh para a saída S2......................................................................................................86
Figura 40 - Circuito meio somador utilizando portas lógicas...........................................................................92
Figura 41 - Bloco do circuito meio somador...........................................................................................................93
Figura 42 - Bloco do somador completo..................................................................................................................93
Figura 43 - Circuito somador completo com portas lógicas.............................................................................95
Figura 44 - Somadores em cascata.............................................................................................................................96
Figura 45 - Circuito meio somador.......................................................................................................................... 103
Figura 46 - Circuito meio subtrator com portas lógicas................................................................................... 104
Figura 47 - Circuito subtrator completo................................................................................................................ 105
Figura 48 - Quatro subtratores completos em cascata.................................................................................... 106
Figura 49 - Fluxograma de funcionamento de um codificador.................................................................... 107
Figura 50 - Exemplo de circuito codificador com portas lógicas.................................................................. 108
Figura 51 - Funcionamento geral de um decodificador.................................................................................. 110
Figura 52 - Display de 7 segmentos......................................................................................................................... 110
Figura 53 - Pinagem dos dois tipos de displays de 7 segmentos.................................................................. 111
Figura 54 - Circuito decodificador utilizando portas lógicas......................................................................... 112
Figura 55 - Circuito decodificador CD4511........................................................................................................... 113
Figura 56 - Ligação do decodificador 4511 ao display de 7 segmentos..................................................... 113
Figura 57 - Multiplexador de dois canais............................................................................................................... 115
Figura 58 - Multiplexador implementado com portas lógicas...................................................................... 116
Figura 59 - Pinagem do CI multiplexador DM74150......................................................................................... 118
Figura 60 - Demux de dois canais............................................................................................................................ 120
Figura 61 - Demultiplexador implementado com portas lógicas................................................................ 121
Figura 62 - Demux 74154............................................................................................................................................ 122
Figura 63 - Circuito utilizando mux e demux....................................................................................................... 124
Figura 64 - Níveis de tensão de entrada e saída para a família TTL............................................................. 126
Figura 65 - Folha de dados CI 54AC10.................................................................................................................... 129
Figura 66 - Valores máximos e recomendados para o CI 54AC10................................................................ 130
Figura 67 - Atraso de propagação do CI 54AC10................................................................................................ 131
Figura 68 - Funcionamento de um circuito sequencial.................................................................................... 142
Figura 69 - FF RS com portas lógicas...................................................................................................................... 142
Figura 70 - FF RS com clock...................................................................................................................................... 144
Figura 71 - Representação do sinal de clock...................................................................................................... 145
Figura 72 - FF RS com entrada clock implementado com portas lógicas.................................................. 145
Figura 73 - Diagrama do flip-flop JK........................................................................................................................ 147
Figura 74 - Flip-flop JK com entradas auxiliares................................................................................................... 148
Figura 75 - Diagrama do FF JK................................................................................................................................... 149
Figura 76 - Adaptação do FF JK para o FF D......................................................................................................... 150
Figura 77 - Adaptação do FF JK para o FF T.......................................................................................................... 151
Figura 78 - Estrutura interna do LM555................................................................................................................. 153
Figura 79 - Onda retangular....................................................................................................................................... 154
Figura 80 - LM555 astável........................................................................................................................................... 155
Figura 81 - Simulação de um circuito astável utilizando o CI LM555.......................................................... 158
Figura 82 - Ligação do CI LM555 para atuação como multivibrador monestável.................................. 159
Figura 83 - Exemplo das formas de onda de um temporizador monestável........................................... 160
Figura 84 - Estrutura interna dos contadores...................................................................................................... 162
Figura 85 - Diagrama de estados da contagem crescente do tipo década.............................................. 163
Figura 86 - Diagrama de estados da contagem decrescente do tipo década......................................... 164
Figura 87 - Diagrama de estados da contagem crescente do tipo hexadecimal.................................... 165
Figura 88 - Diagrama de estados da contagem decrescente do tipo hexadecimal.............................. 165
Figura 89 - Diagrama de estados da contagem do tipo módulo-2.............................................................. 166
Figura 90 - Diagrama de estados da contagem do tipo módulo-8.............................................................. 166
Figura 91 - Contador módulo-7 crescente............................................................................................................ 167
Figura 92 - Formas de onda do contador módulo-7 crescente..................................................................... 168
Figura 93 - Contador assíncrono decrescente de módulo-7.......................................................................... 170
Figura 94 - Contador de década............................................................................................................................... 171
Figura 95 - Contador síncrono de N bits.............................................................................................................. 172
Figura 96 - Contagem a ser realizada pelo contador síncrono...................................................................... 173
Figura 97 - Mapas de Karnaugh para um contador de sequência 3-0-2-1................................................ 174
Figura 98 - Contador síncrono de sequência 3-0-2-1........................................................................................ 175
Figura 99 - CI 74HC93................................................................................................................................................... 176
Figura 100 - Circuito divisor de frequência........................................................................................................... 177
Figura 101 - Osciloscópio f = 16 Hz......................................................................................................................... 177
Figura 102 - Osciloscópios com frequências 8 Hz e 4 Hz................................................................................. 178
Figura 103 - Osciloscópios com frequências 2 Hz e 1 Hz................................................................................. 178
Figura 104 - Diagrama simplificado de um contador de módulo-99.......................................................... 179
Figura 105 - Contador assíncrono de módulo-FF............................................................................................... 180
Figura 106 - Registrador de deslocamento.......................................................................................................... 182
Figura 107 - Estrutura interna do CI 74HC573..................................................................................................... 189
Figura 108 - Variável analógica.................................................................................................................................. 195
Figura 109 - Grandeza digital.................................................................................................................................... 195
Figura 110 - Conversor digital-analógico.............................................................................................................. 196
Figura 111 - Conversor D/A com resistores.......................................................................................................... 197
Figura 112 - Amplificador operacional................................................................................................................... 199
Figura 113 - Conversor D/A com AmpOs.............................................................................................................. 200
Figura 114 - Conversor D/A com rede R-2R.......................................................................................................... 203
Figura 115 - Diagrama de gerador de função...................................................................................................... 207
Figura 116 - Conversor A/D........................................................................................................................................ 208
Figura 117 - Sinais digitais e analógico com 1 bit............................................................................................ 210
Figura 118 - Sinais digitais e analógico com 2 bits........................................................................................... 210
Figura 119 - Sinais digitais e analógico com 3 bits........................................................................................... 211
Figura 120 - Tempo de amostragem grande........................................................................................................ 212
Figura 121 - Tempo de amostragem pequeno.................................................................................................... 213
Figura 122 - Estrutura interna de um conversor A/D........................................................................................ 214
Figura 123 - Circuito integrado ADC080X............................................................................................................. 217
Figura 124 - Multímetro digital................................................................................................................................. 219
Figura 125 - Conversão de temperatura em sinal digital................................................................................ 220
Figura 126 - Controlador de temperatura industrial......................................................................................... 220
Figura 127 - Digitalização do som............................................................................................................................ 222
2 Lógica combinacional...................................................................................................................................................21
2.1 Sistemas de numeração, operações e códigos..................................................................................23
2.1.1 Números decimais e binários................................................................................................23
2.1.2 Números hexadecimais...........................................................................................................24
2.1.3 Conversão entre os sistemas de numeração...................................................................26
2.1.4 Códigos BCD e ASCII.................................................................................................................35
2.2 Funções lógicas.............................................................................................................................................41
2.2.1 Função AND.................................................................................................................................42
2.2.2 A função OR.................................................................................................................................43
2.2.3 A função NOT..............................................................................................................................43
2.3 Níveis lógicos.................................................................................................................................................44
2.4 Portas lógicas (AND, OR, NOT, NAND, NOR, EX-OR, EX-NOR)........................................................45
2.4.1 Porta lógica AND (E)..................................................................................................................46
2.4.2 Porta lógica OR (OU).................................................................................................................48
2.4.3 Porta lógica NOT (NÃO)...........................................................................................................49
2.4.4 Porta lógica NAND (NE)...........................................................................................................50
2.4.5 Porta lógica NOR (NOU)...........................................................................................................52
2.4.6 Porta lógica EX-OR (OU exclusivo).......................................................................................52
2.4.7 Porta lógica EX-NOR (coincidência).....................................................................................55
2.4.8 Circuitos lógicos.........................................................................................................................56
2.4.9 Simbologia (ANSI/IEEE)............................................................................................................64
2.5 Circuitos combinacionais..........................................................................................................................66
2.5.1 Simplificação de circuitos combinacionais por álgebra de Boole............................72
2.5.2 Simplificação de circuitos combinacionais por mapas de Karnaugh.....................78
2.6 Circuitos integrados de funções lógicas combinacionais..............................................................88
2.6.1 Somadores...................................................................................................................................88
2.6.2 Subtratores...................................................................................................................................98
2.6.3 Codificadores............................................................................................................................ 106
2.6.4 Decodificadores....................................................................................................................... 110
2.6.5 Multiplexadores....................................................................................................................... 115
2.6.6 Demultiplexadores................................................................................................................. 119
2.7 Famílias lógicas.......................................................................................................................................... 125
2.7.1 Tipos............................................................................................................................................. 126
2.7.2 Folha de dados......................................................................................................................... 128
2.7.3 Compatibilidade...................................................................................................................... 132
Referências
Índice
Introdução
A lógica combinacional é a base de todo este estudo e você verá que um simples elemento, conhecido
como porta lógica, é um dos principais dispositivos presentes em toda aplicação da eletrônica digital.
A palavra combinacional vem de combinar, ou seja, este tipo de lógica irá lhe mostrar um universo de
possibilidades que surgem quando são combinadas diversas informações digitais. O tipo de combinação
e a quantidade de informações combinadas são as chaves para solucionar qualquer problema lógico
presente na indústria. Serão apresentados os conhecimentos que fundamentam a lógica combinacional,
bem como exemplos práticos que lhe mostrarão como desenvolver um projeto de um circuito digital
aplicado à sua necessidade.
A lógica sequencial traz novos conceitos relacionados à eletrônica, como velocidade e sincronismo. Só
através da lógica sequencial é que hoje as informações eletrônicas podem ser armazenadas e processadas
de maneira controlada e confiável. Esta linha da eletrônica digital é base do entendimento das memórias
eletrônicas e dispositivos de armazenamento de informações. A lógica sequencial se baseia na lógica
combinacional, mas possui funções bem diferentes, como temporizadores, contadores e registradores
de informações digitais. Alguns circuitos sequenciais, unidos a alguns circuitos combinacionais auxiliares,
podem apresentar uma característica autossuficiente, ou seja, não precisam de intervenção humana para
atuar. Desta maneira, pode-se dizer que o estudo da lógica sequencial fundamenta a automação industrial,
como é conhecida hoje em dia.
A eletrônica digital é a ponte que une o mundo das ideais ao mundo virtual e ao mundo real. Hoje, boa
parte deste mundo real encontra-se na indústria onde o profissional, com conhecimento em eletrônica
digital, deve apresentar soluções rápidas para diferentes necessidades, além de conhecer o fundamento
dos principais equipamentos que realizam o controle de processos industriais, tais como controle de
temperatura, de pressão, nível de fluídos, velocidade e tempo de processo, que são aplicações industriais
que podem ser uma grande conjunção para integrar o mundo digital e analógico. Além disso, aparelhos
do dia a dia como televisores, computadores, tablets e celulares também possuem recursos provenientes
da eletrônica digital.
De agora em diante, o conhecimento estará em suas mãos.
Bons estudos!
Lógica Combinacional
Nesta seção, você estudará os diferentes sistemas de numeração que, como o próprio nome diz, é a
representação dos números. O sistema mais conhecido é o decimal, em que são utilizados os números
indo-arábicos (de 0 a 9) para representar unidades, dezenas, centenas entre outros números conhecidos.
Além do decimal, quais outros tipos de sistemas podem ser representados?
Quando se trata de circuitos e sistemas digitais, outros sistemas têm aplicações muito importantes. Na
sequência, você estudará os números decimais e binários, hexadecimais, conversão entre os sistemas de
numeração e sobre a representação em códigos BCD e ASCII.
A palavra decimal vem do conceito de dezena, ou seja, do valor dez. O sistema decimal é chamado desta
maneira, pois cada algarismo2 tem apenas dez possibilidades de representação. Quais seriam?
Números decimais = 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9
A palavra binário vem do conceito da dualidade, ou seja, do valor dois. O sistema é assim chamado, pois
cada algarismo tem apenas 2 possibilidades de representação. Quais são estes números?
Números binários = 0 e 1
Os números binários, podem ser representados pelo número 2 no canto inferior direito. Observe:
1012
2 Elemento de um número. Vários algarismos podem formar determinado número. Por exemplo, os algarismos 1, 7 e 0 formam o
número 170 (cento e setenta), respectivamente, centena, dezena e unidade.
ELETRÔNICA DIGITAL
24
Em números binários, só serão vistos os algarismos zeros e um (0 e 1). O número 2, por exemplo, não
faz parte desse conjunto e, caso o encontre escrito em algum lugar, saberá que não está representando o
sistema binário.
Para realizar a contagem de números binários, deve-se estar ciente de que os algarismos sempre variam
de 1 para 0 ou de 0 para 1, como pode ser observado na sequência binária abaixo:
00, 01, 10 , 11...
Os números binários e decimais são de grande valia no estudo da eletrônica digital, uma vez que o
sistema usualmente aplicado na matemática cotidiana é o decimal. Os números binários são representados
de uma maneira mais simples e limitada. O entendimento destes dois sistemas é a ponte que conecta o
projeto e as necessidades humanas com a linguagem e aplicação das máquinas eletrônicas. Agora que
você conhece alguns sistemas de numeração, saiba que existem outros que também podem ser aplicados
no mundo digital: os números hexadecimais.
A palavra hexadecimal vem do valor 16. O sistema hexadecimal é chamado desta maneira, pois cada
algarismo do número tem 16 possibilidades de representação. Ou seja:
Números hexadecimais = 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, A, B, C, D, E e F
Os números hexadecimais podem ser representados pelo número 16 no canto inferior direito do número.
Depois do 916, existe um novo algarismo, representado pela letra A. Embora não seja muito comum, a letra
A, assim como as letras B, C, D, E e F serão tratadas como algarismos do sistema hexadecimal.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
25
Acompanhe.
Sistema Decimal 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Sistema
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F
Hexadecimal
Algarismo 1.º 2.º 3.º 4.º 5.º 6.º 7.º 8.º 9.º 10.º 11.º 12.º 13.º 14.º 15.º 16.º
Tabela 1 - Algarismos dos sistemas decimal e hexadecimal
Fonte: SENAI (2016)
Observe que A representa o 11.º algarismo do sistema hexadecimal, B é 12.º algarismo, e assim
sucessivamente.
9716
Como você pode ter notado, não se pode considerar o número 11 em decimal com o mesmo valor
do número 1116. No entanto, torna-se possível imaginar que existe uma determinada equivalência entre
estes números, mesmo pertencendo a sistemas diferentes. Do mesmo modo, há uma equivalência entre o
sistema binário e o decimal, e entre o sistema binário e o hexadecimal. Observe.
Observando a tabela, pode-se chegar a algumas conclusões, dentre elas, que o número 10 em decimal
equivale ao número 10102 (em binário) e ao mesmo tempo equivale ao número A16 em hexadecimal.
Se lhe for perguntado o valor em binário referente ao número D16, qual será a resposta? Basta olhar na
tabela e constatar que o valor em binário é 11012. Da mesma forma, o valor em decimal correspondente
ao número 10012 é 9. Mas, qual o valor hexadecimal correspondente ao valor 3450 em decimal? Uma das
possibilidades é alongar a tabela e contar os números hexadecimais até chegar ao número correspondente.
Mas, será que não existe um jeito mais fácil (ou um cálculo) para encontrar este valor sem precisar montar
ou consultar uma tabela?
A seguir, você conhecerá os passos para converter um número de decimal para binário, de binário para
decimal, de decimal para hexadecimal, de hexadecimal para decimal, de binário para hexadecimal e de
hexadecimal para binário.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
27
Na última divisão, o valor resultante foi igual a 1. Neste momento, não é mais necessário continuar
dividindo por 2.
Observe que o último valor encontrado na divisão 3 ÷ 2 é 1. Além deste número, todos os restos das
divisões são valores 0 ou 1. Estes valores serão usados para encontrar o número binário equivalente ao
número 123 em decimal.
O primeiro algarismo do número binário é o resultado da última divisão (3 ÷ 2), ou seja, valor 1. E o
segundo algarismo será o resto também última divisão (valor 1).
ELETRÔNICA DIGITAL
28
O terceiro algarismo será o resto da divisão 7 ÷ 2, valor 1. O quarto será o resto da divisão 15 ÷ 2, valor
1. O quinto o resto da divisão 30 ÷ 2 (valor 0). O sexto algarismo será o resto da divisão 61 ÷ 2, valor 1. O
sétimo e último algarismo será o resto da divisão de 123 ÷ 2, valor 1. Desta maneira, o número binário
correspondente ao valor 123 será 11110112. Ou seja:
Os binários podem ser representados com o auxílio de pontos para organizar melhor os números. Veja
a representação do número 123 em binário com o auxílio de pontos.
111.10112
São separados de 4 em 4 algarismos. Deve-se tomar um certo cuidado ao separá-los e sempre priorizar
os números da direita para a esquerda. Esta representação não é obrigatória, mas auxilia na visualização de
um número binário com muitos algarismos. Outra representação válida é a utilização de espaços entre os
números ao invés de pontos (ex: 111 10112). Para completar seu entendimento sobre a conversão decimal
para binário, veja mais alguns exemplos a seguir.
100.01002
2 LÓGICA COMBINACIONAL
29
110.1101.01102
Número binário 1 0 1 0 1 0 1
2n 26 25 2 4
23
22 21 20
Multiplicação 1 x 64 0 x 32 1 x 16 0x8 1x4 0x2 1x1
Soma 64 + 0 + 16 + 0 + 4 + 0 + 1
Resultado 85
O número decimal correspondente a 10101012 é 85.
Número binário 1 1 0 0 1 0 0 1
2n 27 26 2 5
2 4
23
22 21 20
Multiplicação 1 x 128 1 x 64 0 x 32 0 x 16 1x8 0x4 0x2 1x1
Soma 128 + 64 + 0 + 0 + 8 + 0 + 0 + 1
Resultado 201
O terceiro será o resto da divisão 1239 ÷ 16, valor 7 e o número hexadecimal correspondente ao número
1239 será:
4D716
1BF516
3CF016
Número hexadecimal 1 4 B E
Equivalente decimal 1 4 11 14
16n 163 16 2
161 160
Multiplicação 1 x 4096 4 x 256 16 x 11 1 x 14
Soma 4096 + 1024 + 176 + 14
Resultado 5310
O número decimal correspondente ao número 14BE16 é 5310.
Número hexadecimal A 1 B 2 C
Equivalente decimal 10 1 11 2 12
16n 164 163 162 161 160
Multiplicação 10 x 65536 1 x 4096 11 x 256 2 x 16 12 x 1
Soma 655360 + 4096 + 2816 + 32 +12
Resultado 662316
O número decimal correspondente ao número A1B2C16 é o número 662316.
Número hexadecimal F E D C B
Equivalente decimal 15 14 13 12 11
16n 164 16 3
16 2
161 160
Multiplicação 15 x 65536 14 x 4096 13 x 256 12 x 16 11 x 1
Soma 983040 + 57344 + 3328 + 192 + 11
Resultado 1043915
O número decimal correspondente a FEDCB16 é 1043915.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
33
Repare que foram inseridos dois zeros no começo do número binário para formar os quatro elementos
do número. A inserção de zeros a esquerda do número binário não influenciará no seu valor nem na con-
versão para outros sistemas de numeração.
O número 10101111012 tem como seu equivalente hexadecimal 2BD16.
ELETRÔNICA DIGITAL
34
Repare que foi inserido um zero no início do número binário para formar os quatro elementos do
número. A inserção de zeros no começo do número binário não influenciará no seu valor nem na conversão
para outros sistemas.
O número 111001111112 tem como seu equivalente hexadecimal 73F16.
Hexadecimal A B C
Decimal 10 11 12
Binário 1010 1011 1100
Hexadecimal 9 E B 5
Decimal 9 14 11 5
Binário 1001 1110 1011 0101
Diante das técnicas de conversão entre sistemas numéricos, você pode aprimorá-las no decorrer deste
livro ao aplicá-las em projetos de circuitos combinacionais e sequenciais. O estudo da conversão de
sistemas numéricos também irá auxiliá-lo a compreender os códigos BCD e ASCII, que serão apresentados
na próxima seção.
A codificação BCD e ASCII são tipos de códigos dentro de um grande conjunto. Esta codificação irá
auxiliá-lo no estudo de circuitos codificadores, decodificadores e circuitos aritméticos. Para determinados
casos, alguns códigos são mais vantajosos do que outros. Porém, o que é um código, quando se fala em
eletrônica digital?
Um código na eletrônica digital é a representação de um número ou letra através de uma sequência
de bits. Por exemplo, para representar o número decimal 9, são necessários os números 1001 em binário.
Você estudará nesta seção que existem diferentes tipos de códigos BCD utilizando 4 bits e irá conhecer
a tabela ASCII, muito utilizada em sistemas de comunicação e códigos de texto.
ELETRÔNICA DIGITAL
36
DECIMAL A B C D
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
2 0 0 1 0
3 0 0 1 1
4 0 1 0 0
5 0 1 0 1
6 0 1 1 0
7 0 1 1 1
8 1 0 0 0
9 1 0 0 1
Tabela 3 - Tabela BCD8421
Fonte: SENAI (2016)
De maneira geral, a regra BCD8421 pode ser dada através da seguinte expressão:
Valor Decimal = A x 8 + B x 4 + C x 2 + D x 1
Para representar o número decimal 7, são utilizados os números 0, 1, 1 e 1 para as variáveis A, B, C e D,
respectivamente. Adotando a regra 8421, tem-se:
0x8=0
1x4=4
1x2=2
1x1=1
Somando os resultados dos produtos, o número decimal encontrado será o número 7. Utilizando-se
a regra 8421 para os demais números da tabela você encontrará o código BCD8421 completo, sendo o
tipo de conversão mais utilizado para a representação dos números. Como poderá ser observado a seguir,
existem outros códigos BCD. Acompanhe o código BCD7421.
O código BCD7421 segue a mesmo processo de conversão do código BCD8421, a única diferença é o
valor do primeiro algarismo. O primeiro algarismo do código BCD7421 terá valor 7, diferentemente do
valor 8, dado pelo código BCD8421. A regra BCD7421 pode ser dada de acordo com a seguinte expressão:
Valor Decimal = A x 7 + B x 4 + C x 2 + D x 1
2 LÓGICA COMBINACIONAL
37
Desta forma, para representar o número decimal 7 no código BCD7421 são utilizadas as variáveis A = 1,
B = 0, C = 0 e D = 0. Desta maneira, aplicando esta regra, tem-se:
1x7=7
0x4=0
0x2=0
0x1=0
Adicionando os resultados dos produtos, o número decimal encontrado será o 7. Se você aplicar a regra
7421 para os demais números da tabela, encontrará o código BCD7421 completo. Veja a tabela do código
BCD7421.
DECIMAL A B C D
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
2 0 0 1 0
3 0 0 1 1
4 0 1 0 0
5 0 1 0 1
6 0 1 1 0
7 1 0 0 0
8 1 0 0 1
9 1 0 1 0
Tabela 4 - Tabela BCD7421
Fonte: SENAI (2016)
O código BCD5211 segue os mesmos padrões de conversão dos demais códigos BCD. Neste código, o
primeiro algarismo tem valor 5, o segundo tem valor 2, o terceiro algarismo tem valor 1, enquanto que o
menos significativo também tem o valor 1. A regra BCD5211 pode ser dada pela seguinte expressão:
Valor Decimal = A x 5 + B x 4 + C x 1 + D x 1
Para representar o número decimal 7 em BCD5211, são utilizados os valores 1, 0, 1 e 1 para as entradas
A, B, C e D, respectivamente. Utilizando a regra 5211, tem-se:
1x5=5
0x2=0
1x1=1
1x1=1
Ao somar os resultados dos produtos, tem-se o número decimal 7. Caso você aplique a regra 5211 para
os demais números da tabela, encontrará o código BCD5211 completo.
ELETRÔNICA DIGITAL
38
DECIMAL A B C D
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
2 0 0 1 1
3 0 1 0 1
4 0 1 1 1
5 1 0 0 0
6 1 0 0 1
7 1 0 1 1
8 1 1 0 1
9 1 1 1 1
Tabela 5 - Tabela BCD5211
Fonte: SENAI (2016)
O código BCD2421 segue os mesmos padrões de conversão dos demais códigos BCD. Neste caso, o
primeiro algarismo tem valor 2, o segundo valor 4, o terceiro tem valor 2, enquanto que o menos significativo
possui valor 1. A regra BCD2421 pode ser dada pela seguinte expressão:
Valor Decimal = A x 2 + B x 4 + C x 2 + D x 1
Para representar o número decimal 7 em BCD2421, são utilizadas as variáveis A = 1, B = 1, C = 0 e D =
1. A partir da regra 2421, tem-se:
1x2=2
1x4=4
0x2=0
1x1=1
Somando os resultados dos produtos, o número decimal encontrado será o número 7. Se você utilizar
a regra 2421 para os demais números da tabela, encontrará o código BCD2421 completo. Leia a tabela do
código BCD2421.
DECIMAL A B C D
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
2 0 0 1 0
3 0 0 1 1
4 0 1 0 0
5 1 0 1 1
6 1 1 0 0
7 1 1 0 1
2 LÓGICA COMBINACIONAL
39
DECIMAL A B C D
8 1 1 1 0
9 1 1 1 1
Tabela 6 - Código BCD2421
Fonte: SENAI (2016)
A tabela, a seguir, apresenta os números decimais com sua representação em todos os códigos BCD.
CÓDIGO ASCII
A sigla ASCII se refere a expressão American Standard Code for Information Interchange, que em português
significa Código Padrão Americano para o Intercâmbio de Informação.
A codificação ASCII foi criada para a comunicação de equipamentos que utilizam textos em seu banco
de informações como, por exemplo, os computadores. Este código facilita a conversão de informações
binárias para um determinado texto, uma palavra, frase etc. O código ASCII possui 7 bits, portanto são
128 combinações. Das 128 linhas da tabela ASCII, 32 são utilizadas para códigos de controle, enquanto 96
linhas são aplicadas em caracteres imprimíveis, como letras, pontos e símbolos.
Como a tabela possui 128 combinações, não será possível a impressão completa da tabela ASCII, mas
algumas das linhas referentes aos códigos de texto podem ser visualizadas a seguir.
Assim como são representados símbolos e números, a tabela ASCII também é capaz de representar
letras, diferenciando os códigos das letras maiúsculas para as letras minúsculas. Veja alguns exemplos da
tabela ASCII para letras maiúsculas e minúsculas.
A tabela ASCII pode ser consultada para análise e projeto de circuitos que realizam comunicação de
variáveis de texto, sendo amplamente utilizada em todo o mundo e que pode ser adotada em projetos
eletrônicos de pequeno porte.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
41
Agora que você conhece os códigos BCD e ASCII, ficou ciente de que os números binários não
representam somente códigos, mas cumprem um papel importante na comunicação de equipamentos.
Na próxima seção, estudará que os números binários também representam um estado de uma lógica.
O significado das palavras verdadeiro e falso atribui ao ser humano tomar decisões e avaliar diversas
situações do dia a dia. As respostas encontradas para determinadas situações da vida seguem uma
determinada lógica: chegam as informações, busca-se entendê-las e, dentro de uma lógica, expressa-se
uma resposta. Por que então não tentar analisar tudo isso de maneira matemática? Um inglês chamado
George Boole conseguiu traduzir esses dois conceitos de forma a criar uma nova linguagem matemática,
posteriormente, batizada de Álgebra de Boole (LOURENÇO et al., 2007). Como é possível pensar em
verdadeiro e falso e ao mesmo tempo em números?
Partiu-se do princípio de que uma informação verdadeira pode ser vinculada ao número 1 (um) e uma
informação falsa pode ser vinculada ao número 0 (zero). Como são apenas dois valores possíveis dentro
de um determinado contexto, pode-se chamar essa lógica de binária. Outra consideração importante da
lógica binária é que o contrário de verdadeiro é falso, ou melhor, a negação do valor 1 é considerado 0, e
vice-versa. Mas, qual é a grande vantagem em transcrever essas informações de maneira matemática?
Hoje, a lógica criada por Boole está presente em tudo o que se conhece no que diz respeito à informática,
processamento de dados e automação. A tecnologia respira zeros e uns, verdadeiro e falso e todo o tipo de
lógica derivada deste princípio. E, para compreender a lógica booleana, você aprenderá algumas funções
específicas, além de diagramas equivalentes aplicados à eletrônica.
A lógica binária foi apresentada pela primeira vez por George Boole em seu livro An
Investigation of the Laws of Thought, cujo título em português é Uma Investigação
CURIOSI das Leis do Pensamento. Tempos depois, os conceitos apresentados por Boole foram
DADES utilizados para a criação de simbologias e novos métodos de análise de circuitos
eletrônicos, contribuindo para um grande salto no estudo da eletrônica digital.
O que você estudará, a partir de agora, tem ligação com os estudos realizados por Boole. Poderá
ver as principais funções booleanas, também conhecidas como funções lógicas, que são o princípio do
processamento realizado por equipamentos eletrônicos, softwares de computador e até mesmo pelo
próprio ser humano. São elas as funções AND, OR e NOT.
ELETRÔNICA DIGITAL
42
Para entender como as lógicas booleanas funcionam, deve-se comparar informações de entrada e uma
informação de saída, sendo que as informações de entrada podem assumir os valores 0 ou 1. Portanto,
uma função expressa a lógica na qual as informações de entrada serão analisadas para a geração de uma
informação de saída.
A palavra and tem origem inglesa (significa e em português), mas uma função AND tem a seguinte
lógica: quando todas as informações forem verdadeiras, sua saída também será verdadeira. Para entender
melhor, leia o exemplo a seguir.
Imagine que, para entrar na sua casa, exista uma determinada senha para armar o alarme. Pense, também,
que o alarme ativado seja a informação verdadeira e que o alarme não ativado seja uma informação falsa.
Essa senha contém apenas dois dígitos e suponha que seja o número 98.
Caso o primeiro número digitado for 9, a informação será verdadeira. Do contrário, a informação será
falsa. Já se o segundo número digitado for 8, a informação também será verdadeira. Caso Isso não ocorra,
a informação será falsa.
Considere que, em uma tentativa, o número digitado foi o número digitado foi 38. O alarme será ativado?
A resposta é não, pois a primeira informação é falsa e apenas a segunda é verdadeira.
Com o número 94, o alarme também não será ativado. Isso acontece, porque a primeira informação é
verdadeira e a segunda é falsa. Se nenhuma informação for verdadeira, é claro que, o alarme ativado tam-
bém não será uma verdade.
A única forma de ativar o alarme é quando a primeira e a segunda informação forem verdadeiras. Assim,
pode-se analisar todas as possibilidades através do quadro, a seguir.
A função AND não é uma função exclusiva da eletrônica, tendo uma aplicação global em diversas áreas
do conhecimento e até mesmo no cotidiano (presente em aplicações programadas em todo o tipo de
equipamento eletrônico). Até mesmo as decisões tomadas na vida do ser humano podem ser realizadas
com base nesta função. Agora, você entrará em contato com outra função lógica muito importante em
aplicações da eletrônica digital: a função OR. No decorrer da leitura das próximas seções, fique atento ao
funcionamento das diferentes funções.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
43
2.2.2 A FUNÇÃO OR
A palavra or tem origem inglesa (ou em português). Isso acontece porque a função OR segue como
lógica que, para a informação de saída ser verdadeira, basta que qualquer uma das entradas seja verdadeira.
Para entender a função OR, acompanhe o seguinte exemplo.
Você quer atravessar um rio e na sua frente existem duas pontes: a ponte A e a ponte B. Caso consiga
atravessar o rio, o resultado da sua experiência é verdadeiro, mas se a ponte estiver quebrada, considere a
informação de entrada como falsa. Porém, se a ponte estiver em boas condições, entenda a informação de
entrada como verdadeira.
Na primeira situação, você se depara com o rio e percebe que as duas pontes estão quebradas. Portanto,
não conseguirá cruzar o rio e a travessia é falsa. Em uma segunda situação, se a ponte A estiver em boas
condições e a ponte B estiver quebrada, a travessia é verdadeira, pois pode atravessar o rio utilizando
apenas a ponte A. As demais alternativas podem ser visualizadas no quadro, a seguir.
As funções booleanas AND e OR são as duas principais da eletrônica digital. Existe uma terceira função
que, associada, permite realizar diversas lógicas e a construção de sistemas e circuitos mais complexos,
conhecida como NOT ou inversora. Agora está na hora de explorar esta nova função.
A palavra not também tem origem inglesa (não em português). A função NOT é conhecida como
função de negação. Sua lógica é bem simples, ou seja, para qualquer informação de entrada verdadeira,
sua informação de saída será falsa. E, para qualquer informação de entrada falsa, sua saída será verdadeira.
Pode-se simplificar seu conceito considerando que, para a lógica NOT, a saída será sempre o contrário da
entrada.
ELETRÔNICA DIGITAL
44
Trata-se de uma função diferente, pois possui apenas uma informação de entrada e uma informação de
saída. Sua lógica pode ser entendida através do quadro, a seguir.
ENTRADA SAÍDA
Falso Verdadeiro
Verdadeiro Falso
Quadro 3 - Possibilidades da função NOT
Fonte: SENAI (2016)
Em termos de entrada e saída, a função NOT é a porta que apresenta o menor número de combinações
entrada: apenas duas. Isto acontece, porque a função recebe somente uma informação de entrada que
pode ser apenas verdadeira ou falsa. Outras funções podem ter mais entradas, o que ampliará, também, o
número de suas possibilidades de saída.
As funções NOT, AND e OR, combinadas de maneira correta, podem realizar qualquer outra função.
Isso quer dizer que as apresentadas nessa seção são as principais funções de onde surgem novos padrões
lógicos e derivados.
Agora que você conhece essas funções lógicas, está na hora de compreender o universo digital. Você
entrará em contato com circuitos que realizam todas essas funções. Para que esteja preparado para
ingressar neste ambiente, torna-se necessário entender como funcionam os níveis lógicos.
A seguir, serão apresentadas as primeiras aplicações da lógica binária. Você está preparado? Então siga
em frente com seus estudos!
Os níveis lógicos são a representação numérica ou matemática de uma informação. Como acontece essa
representação? Caso uma informação seja verdadeira, considera-se o nível lógico 1 e, para uma informação
falsa, tem-se o nível lógico zero. O nível lógico 1 também pode ser chamado de HI, abreviação de High
(alto em português). Da mesma maneira, o nível lógico 0 pode ser chamado de LO, uma abreviação de Low
(baixo em português).
Para entender os níveis lógicos, pode-se relacionar o nível baixo como uma chave aberta em um circuito
e, da mesma maneira, compara-se o nível alto como uma chave fechada. A figura, a seguir, detalha estas
representações.
Ana Cristina de Borba (2016)
0 1
(a) (b)
Figura 1 - Níveis lógicos 0 e 1
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
45
Em circuitos digitais, o nível 0 não necessariamente significa que o circuito está desligado, mas que não
possui uma informação verdadeira.
Quais as vantagens destas representações? Os níveis lógicos permitem a realização de avaliações mais
simples, pois, ao invés de considerar a presença de determinados níveis de tensão elétrica, possibilitam a
criação de projetos, simplificação dos circuitos e técnicas de análise matemática.
No decorrer do estudo deste livro, você irá se deparar com muitos termos diferentes para representar os
níveis lógicos. Para facilitar a linguagem e padronizar alguns conceitos, leia o quadro a seguir.
0 1
Falso Verdadeiro
Baixo Alto
HI (High) LO (Low)
Desligado Ligado
Quadro 4 - Diferentes formas de representar os níveis lógicos 0 e 1
Fonte: SENAI (2016)
Boa parte dos circuitos digitais trabalham em determinados níveis de tensão elétrica em corrente
contínua. Níveis altos e baixos, bem como, informações verdadeiras e falsas são dadas de acordo com o
funcionamento lógico do sistema.
Os níveis lógicos (cujo processo deriva das funções lógicas) funcionam como a representação do sinal
de circuitos simples e são responsáveis por implementar funções lógicas.
2.4 PORTAS LÓGICAS (AND, OR, NOT, NAND, NOR, EX-OR, EX-NOR)
As portas lógicas são circuitos utilizados em aplicações voltadas à eletrônica digital, que funcionam
de maneira análoga às funções lógicas estudadas anteriormente. Como é possível que um circuito digital
tenha o comportamento de uma função lógica? É isto que você descobrirá nesta seção.
Uma porta lógica pode ser chamada do mesmo nome de sua função, ou seja, se o circuito eletrônico
realiza uma função AND, a porta lógica também se chamará AND. Aqui você verá que, além das funções
AND, OR e NOT, existem portas lógicas que realizam funções especiais, como o caso NAND, NOR, XOR e
XNOR. Portanto, você verá a simbologia de cada porta lógica, as suas funções matemáticas e algo chamado
tabela-verdade3.
3 Uma tabela que representa todas as possibilidades da saída em função das entradas é chamada de tabela-verdade.
ELETRÔNICA DIGITAL
46
A porta lógica AND é um circuito eletrônico capaz de realizar, como o próprio nome diz, a função AND.
Porém, no caso deste circuito, quais serão as entradas e saídas? Para obter a resposta, você poderá combinar
o conceito apresentado anteriormente, considerando que as entradas de uma porta lógica são níveis
lógicos, ou seja, zeros e uns. É importante relembrar que zero significa falso e um significa verdadeiro. O
circuito eletrônico chamado de porta lógica AND pode ter a seguinte representação:
Do lado esquerdo da figura, as entradas estão simbolizadas pelas letras A e B, enquanto que a saída está
representada pela letra S. De maneira análoga à função AND, todos os possíveis resultados criados por esta
função podem ser vistos na tabela, a seguir.
A B S
0 0 0
0 1 0
1 0 0
1 1 1
Tabela 10 - Tabela-verdade da porta AND
Fonte: SENAI (2016)
No caso da porta AND, a saída só terá nível lógico 1 quando as duas entradas forem iguais a 1, ou
seja, A=1 e B=1. Em nenhuma outra combinação, a saída tem nível lógico 1, apenas quando A e B forem
verdadeiros. Se você observar a coluna S, perceberá que a lógica AND se assemelha a uma determinada
operação matemática. Mas, qual operação é esta?
Pode-se chegar à conclusão de que a operação matemática que rege a lógica AND é a multiplicação. Na
coluna S da tabela-verdade, a porta AND é o produto de A e B, ou seja:
S= A · B
2 LÓGICA COMBINACIONAL
47
As entradas desta porta lógica são representadas pelas letras A, B, C e a saída é representada pela letra
S. De maneira análoga, a função lógica desta porta pode ser dada através da seguinte expressão:
S=A·B·C
Analisando todas as possibilidades de multiplicação dos níveis lógicos das entradas A, B e C, pode-se
obter a seguinte tabela-verdade:
A B C S
0 0 0 0
0 0 1 0
0 1 0 0
0 1 1 0
1 0 0 0
1 0 1 0
1 1 0 0
1 1 1 1
Tabela 11 - Tabela-verdade da porta lógica AND com 3 entradas
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
48
Novamente, pode-se chegar à conclusão de que a saída S só terá nível lógico igual a 1 quando todas as
entradas A, B e C forem iguais a 1.
A porta lógica OR é um circuito eletrônico capaz de realizar a função lógica OR. A representação da
porta OR pode ser visualizada na figura, a seguir.
Se for comparada a porta lógica com a função lógica (vista no item 2.2.2), chega-se à conclusão de que
a tabela-verdade que condiz aos níveis lógicos possíveis da porta OR pode ser representada por:
A B S
0 0 0
0 1 1
1 0 1
1 1 1
Tabela 12 - Tabela-verdade porta lógica OR
Fonte: SENAI (2016)
A tabela-verdade da porta OR mostra que a saída S possui nível lógico 1 quando qualquer uma das
entradas tem nível lógico 1. A saída S só terá nível lógico 0 no momento em que todas as entradas tiverem
nível lógico iguais a zero. Já a função lógica OR também faz referência a uma função matemática, que
funciona como uma soma de números binários, ou seja, pode ser descrita através da seguinte expressão:
S=A+B
Vale a pena recordar que a soma 1 + 1 em binário não tem como resultado o valor 2. Isso acontece,
porque no conjunto dos números binários só existem 2 possibilidades: zero ou um. Em binário, 1 + 1=1.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
49
Como visto em seções anteriores, algumas portas lógicas podem ter mais de duas entradas. Uma porta
lógica OR com 3 entradas pode ser visualizada na figura, a seguir.
A B C S
0 0 0 0
0 0 1 1
0 1 0 1
0 1 1 1
1 0 0 1
1 0 1 1
1 1 0 1
1 1 1 1
Tabela 13 - Porta Lógica OR com 3 entradas
Fonte: SENAI (2016)
A partir da tabela-verdade, pode-se comprovar que para que a saída S esteja em nível lógico 1 basta que
qualquer entrada esteja em nível lógico 1.
A porta lógica NOT é um circuito eletrônico capaz de realizar a função lógica NOT. A porta NOT também
pode ser chamada de porta inversora, pois a saída sempre apresentará o inverso do valor lógico presente
na entrada. Esta porta lógica possui uma característica muito interessante, pois apresenta sempre apenas
uma entrada e uma saída.
ELETRÔNICA DIGITAL
50
Como estudado em seções anteriores, pode-se montar a tabela-verdade da porta NOT. Acompanhe.
A S
0 1
1 0
Tabela 14 - Tabela-verdade da porta lógica NOT
Fonte: SENAI (2016)
Diante da tabela-verdade da porta NOT, você poderá estar fazendo a seguinte pergunta: qual expressão
matemática pode representar esta função lógica? Bom, a resposta é bem simples: nenhuma. A função
lógica da porta NOT não é representada por uma expressão matemática em específico, mas isso não quer
dizer que não exista nenhuma função lógica. A expressão que representa a função lógica NOT é a seguinte:
S=A
Quando a variável A possuir este traçado, pode ser chamada de A barrado. Este traçado indica que esta
variável sempre terá os valores invertidos. A seguir, você verá que esta porta lógica pode ser vinculada a
outras portas lógicas, produzindo diferentes funções lógicas e tabelas-verdade.
A porta lógica NAND é uma junção do circuito presente na porta AND e na porta NOT, portanto este nome
NAND. Esta conexão pode ser visualizada na figura (item a) que segue. Pode-se simplificar a simbologia da
figura anterior em uma simples porta lógica.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
51
(a) (b)
Sempre que tiver uma bolinha na entrada ou na saída, significa que uma delas terá o seu nível lógico
invertido. Como você viu na seção anterior, a função lógica NOT é a responsável pela inversão do sinal de
entrada. Em níveis lógicos, pode-se analisar seu funcionamento através da seguinte tabela-verdade:
A B S
0 0 1
0 1 1
1 0 1
1 1 0
Tabela 15 - Tabela-verdade da função lógica NAND
Fonte: SENAI (2016)
A função lógica da porta NAND pode ser descrita pela seguinte expressão:
S= A · B
Fique atento, pois a expressão A · B não é a mesma que A · B. A porta lógica NAND é uma das mais
importantes e aplicadas na eletrônica digital. Vários circuitos que utilizam portas AND, OR, NOT, XOR etc.
podem ser redimensionados utilizando apenas portas NAND. A característica principal desta porta lógica é
sua versatilidade em termos de otimização de projetos. Assim como a porta AND invertida é chamada de
porta NAND, a porta OR também pode ser invertida. A seguir, você verá como funciona a porta NOR.
ELETRÔNICA DIGITAL
52
A porta lógica NOR é a junção das portas lógicas OR e a NOT. As figuras, a seguir, descrevem
respectivamente a junção destas duas portas e a simbologia equivalente da porta NOR.
(a) (b)
A bolinha presente no pino de saída da porta NOR indica que o resultado da lógica OR será invertida.
Desta maneira, sua função lógica pode ser descrita pela seguinte expressão:
S=A+B
Fique atento, pois a expressão A + B é diferente da expressão A + B. A tabela-verdade da função lógica
NOR pode ser visualizada da seguinte forma:
A B S
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 0
Tabela 16 - Tabela-verdade porta lógica NOR
Fonte: SENAI (2016)
A porta NOR é muito utilizada para detectar condições nulas. Quando o circuito apresenta todas as
entradas nulas, a saída do circuito será ativada. Esta porta é muito importante para detectar níveis iniciais
de processo, bem como ausência de determinada informação. Está ficando claro que existe um motivo
para produzir portas lógicas com saída invertida. Essa análise sugere que determinadas aplicações sejam
mais eficientes com o uso destas portas lógicas.
Esta porta lógica possui uma dinâmica diferente de todas as portas lógicas estudadas até então. A porta
lógica XOR não foi apresentada nas funções lógicas anteriores, pois pode ser interpretada como uma lógica
derivada das funções AND, OR e NOT. A função lógica XOR tem um princípio de exclusividade em termos
das entradas, ou seja, para que a saída seja verdadeira, apenas uma das entradas deve ser verdadeira. Para
compreender bem esta lógica, será apresentada uma figura analógica.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
53
Pense em um prédio onde existam duas garagens com dois portões: o portão A e o portão B. Para
otimizar o espaço, os portões foram instalados de modo que, quando o portão A abrir, impede a passagem
do carro atrás do portão B. Do mesmo modo, quando o portão B abrir, inibe a passagem do carro atrás do
portão A. O exemplo pode ser visualizado através da seguinte figura:
Portão A
Portão B
Conforme apresentado, percebe-se que apenas um único carro pode sair da garagem por vez. Qual a
ligação deste exemplo com o estudo de portas lógicas? A fim de compreender esta analogia, pense que
os portões A e B são as entradas do sistema e também que a rua é a saída. Quando um portão estiver
aberto, considere o nível lógico 1, e se este estiver fechado, considere o nível lógico 0. Caso algum carro
consiga sair da garagem, considere o nível lógico 1, caso contrário, a saída terá nível lógico 0. Através destas
informações, pode-se montar uma tabela-verdade.
A B S
0 0 0
0 1 1
1 0 1
1 1 0
Tabela 17 - Tabela-verdade da lógica XOR
Fonte: SENAI (2016)
A partir do exemplo e da tabela-verdade, pode-se concluir que a saída somente será verdadeira (nível
lógico 1) quando somente uma das entradas for verdadeira. A porta lógica XOR é o circuito eletrônico ou
digital que desempenha a seguinte função lógica:
S=A·B+A·B
ELETRÔNICA DIGITAL
54
Como mencionado anteriormente, a função lógica XOR é uma combinação de três outras funções
lógicas (NOT, AND e OR). Se a função lógica XOR pode ser escrita como a combinação de outras funções, a
porta lógica correspondente também pode ser estruturada como a combinação de outras portas lógicas.
Esta combinação pode ser visualizada através da seguinte figura:
A B
A·B
S=A·B+A·B
Esta mesma função lógica pode ser representada pela seguinte forma:
S = A ⊕B
O símbolo da porta lógica responsável por executar esta função pode ser visualizado na seguinte figura:
Ana Cristina de Borba (2016)
A
S
B
Como visto nesta seção, a porta XOR apresenta a ideia de seletividade tida como um parâmetro muito
empregado no controle de processos produtivos, como a manufatura. A seletividade de materiais, processos
e dados é um conceito muito importante e aplicado na indústria. A porta XOR traz a função lógica seletiva.
E, se a saída desta porta lógica fosse invertida?
A função lógica XNOR é descrita como a inversão da função XOR. Analisando a tabela-verdade, pode-se
ver que as possibilidades em que a função XNOR tem a saída verdadeira são as mesmas em que a função
XOR tem a saída falsa. Compare a tabela XNOR com a tabela XOR.
A B S
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 1
Tabela 18 - Tabela-verdade da porta lógica XNOR
Fonte: SENAI (2016)
S=AʘB
A mesma expressão apresentada anteriormente pode ser expressa como a negação da função lógica
XOR:
_______
S = A ⊕B
Ou então:
ELETRÔNICA DIGITAL
56
A porta lógica XNOR é a junção da porta XOR e uma porta inversora. Seguindo um raciocínio lógico,
pode-se concluir que a representação de uma porta lógica XNOR é uma porta XOR com uma bolinha de
inversão na saída.
(a) (b)
Nas seções apresentadas até agora, foi possível ter uma visão geral dos circuitos que realizam as funções
lógicas e as simbologias de cada porta lógica, além disso, é preciso saber que essa simbologia representa um
circuito eletrônico funcional. As portas lógicas são circuitos muito utilizados na indústria e estão presentes
diretamente nos principais equipamentos eletrônicos encontrados no cotidiano. A lógica estudada nesta
seção será de grande valia nos próximos estudos, que irão desenvolver ideias e aplicações mais avançadas.
Além disso, você irá compreender como funcionam e como são distribuídas as portas lógicas em circuitos
digitais com aplicação prática.
Conhecendo as portas lógicas, suas simbologias, tabelas-verdade e funções lógicas, tem-se condições de
construir circuitos eletrônicos capazes de realizar tais operações. Na prática, as portas lógicas são circuitos
formados por resistores, transistores, fontes de tensão em corrente contínua e diodos. Veja, no exemplo, a
seguir, o circuito eletrônico da porta lógica E, utilizando a tecnologia Lógica Transistor-Transistor (Transistor-
-Transistor Logic ou TTL). A tecnologia de um circuito lógico pode ser tanto TTL quanto Semicondutor de
Metal-Óxido Complementar (Complementary Metal Oxide Semiconductor ou CMOS). Porém, esse tema será
abordado na seção Famílias Lógicas.
+Vcc
R1 R2
Rexterno
A T1
B
Ana Cristina de Borba (2016)
S
T2
R3
Um circuito eletrônico pode ser construído para uma placa eletrônica, uma placa protoboard (matriz de
ensaio) ou também pode ser encapsulado. Quando um circuito eletrônico é encapsulado em um pequeno
espaço de materiais semicondutores à base de silício, é chamado de Circuito Integrado (CI), que, por sua
vez, é comumente denominado de microchip ou chip. Atualmente, estes CIs são produzidos em escala
comercial e industrial, favorecendo uma infinidade de possibilidades em relação ao número de portas
lógicas, entradas e saídas presentes no circuito integrado. Isso garante uma diversidade de componentes,
permitindo diferentes maneiras de realizar um projeto, além de implementar alguns circuitos eletrônicos
com apenas um circuito integrado. A seguir, são apresentados alguns exemplos de portas lógicas, seus
códigos padronizados por família lógica e sua estrutura interna:
As portas lógicas são dispostas entre os pinos. Observe, na figura, a seguir, essa ligação em um circuito
integrado.
Vcc
14 13 12 11 10 9 8
Ana Cristina de Borba (2016)
1 2 3 4 5 6 7
GND
Figura 14 - CI 7408
Fonte: Adaptado de National (1989c)
ELETRÔNICA DIGITAL
58
Para que o circuito funcione, é necessário que ele esteja ligado em uma fonte de corrente contínua.
Com o CI 7408, tem-se disponível 4 portas lógicas AND. Neste caso, é importante ressaltar que as por-
tas lógicas presentes neste circuito atuam de forma independente umas das outras. Os pinos 3, 6, 8 e 11 são
as saídas das portas AND enquanto que os pinos 1, 2, 4, 5, 9, 10, 12 e 13 são as entradas.
Em um circuito integrado, para que as entradas recebam o nível lógico 1, é necessário aplicar uma tensão
positiva nas mesmas. Dependendo da família lógica, diferentes níveis de tensão podem ser aplicados para
gerar o nível lógico 1. Conforme foi observado anteriormente (exemplos de CIs com portas lógicas), o CI
7400 pertence à família lógica TTL, o que significa observar 5V para o nível lógico 1 e 0V para o nível lógico
0.
Considerar 0V na entrada de um circuito não é o mesmo que interromper o sinal de tensão, ou seja,
deixar a entrada do circuito em aberto, não garante que o nível de entrada seja 0. Dependendo da família
lógica, o nível lógico da entrada em aberto pode mudar.
A entrada da porta de entrada pode ter seu valor oscilante, caso exista a presença de ruídos do circuito
ou do ambiente. Em alguns projetos, se você não utilizar algumas portas lógicas presentes em um circuito
integrado, o ideal é forçar o nível 0 nessas portas, interligando as entradas não utilizadas com o pino GND.
Uma das maneiras mais simples de aplicar uma tensão em uma porta digital é adotando os circuitos
chamados de pull-up (levantar) e pull-down (derrubar). No circuito pull-up, quando a chave está aberta,
o nível lógico será 0 e, estando fechada, o nível lógico será 1. O circuito pull-down funciona de forma
contrária, ou seja, a chave aberta leva o nível lógico da entrada para 1 e fechada irá forçar o sinal a 0. Ambos
os circuitos podem ser visualizados na figura, a seguir:
5V
5V
Resistor
Chave
Chave
Ana Cristina de Borba (2016)
GND GND
(a) (b)
Circuitos digitais como portas lógicas precisam de informações de entrada. O uso das chaves pull-up e
pull-down proporcionam que as informações e/ou dados de entradas sejam muito bem definidos, ou seja,
não sofram nenhum tipo de interferência. Caso uma entrada digital sofra interferência, poderá assumir
valores que não são desejáveis. Por exemplo, se uma informação muda de 0 para 1, quer dizer que em
um processo uma informação passou de falsa para verdadeira. Uma mudança como esta parece simples,
mas altera todo o contexto de uma aplicação, isto é, pode interferir em resultados não compatíveis com
2 LÓGICA COMBINACIONAL
59
a situação. Se uma entrada digital sofre interferência, a saída digital também será influenciada por esta
mesma informação alterada e o erro causado pela interferência pode ocasionar falhas em processos
industriais como: atuadores sendo acionados involuntariamente, máquinas sendo desligadas sem
necessidade, contagem de produção errônea, desarme ineficiente e até mesmo alarmes sendo acionados
acidentalmente.
Os circuitos constituídos pelas chaves pull-up e pull-down são de essencial importância para aplicações
eletrônicas como comando de processos industriais ou aparelhos eletrônicos residenciais. O uso destas
chaves proporciona não apenas mais confiabilidade, mas se torna necessário para o bom funcionamento
dos circuitos. A tabela, a seguir, mostra a dinâmica dos níveis lógicos das chaves pull-up e pull-down.
A seguir, para compreender bem estes conceitos na prática, é demonstrado um exemplo de ligação
real do circuito de uma porta lógica AND para acionar um pequeno LED (Light Emitting Diode, que significa
Diodo Emissor de Luz) conectado a uma porta de suas saídas.
VC
0 30 V
CC
0 5A
OFF
74HC08
ON
Paco Giordani Mora (2016)
1 2 3 4
Na figura apresentada no exemplo 1, o CI está utilizando apenas os pinos 1, 2, 3, 7 e 14. O pino 7 é o pino
comum, ou seja, onde há tensão elétrica igual a zero. O pino 14 é o de alimentação, no qual está sendo
aplicado 5V. Os pinos 1 e 2 são as entradas A e B da porta lógica AND do CI 7408, enquanto que o pino 3
é a saída da porta AND. O pino 3 está conectado a um LED, que será acionado quando a saída tiver o nível
lógico alto.
Para desenhar alguns circuitos digitais apresentados neste livro, foi utilizado um
SAIBA software online chamado 123D Circuits da AutoDesk©. Neste software é possível não
MAIS só realizar as ligações entre os pinos, mas também simular o circuito lógico. O software
é gratuito e pode ser facilmente encontrado no seguinte endereço: https://circuits.io/.
As entradas digitais foram ligadas em uma chave manual, para que seja possível selecionar o nível lógico
de entrada da porta lógica. Repare que a chave está conectada em uma estrutura pull-up. Desta maneira,
quando a chave 1 for acionada, a entrada A receberá um nível lógico alto. De modo análogo, quando a
chave 2 for acionada, a entrada B receberá um nível lógico alto. A figura, a seguir, mostra o circuito em
funcionamento.
VC
5.00 V
0 30 V
CC
13.0 mA
0 5A
OFF
74HC08
ON
1 2 3 4
Paco Giordani Mora (2016)
Se você consultar a tabela-verdade da porta AND, verificará que a saída desta porta lógica só será
verdadeira quando todas as entradas também o forem. É importante notar que os circuitos integrados
podem ser conectados a outros circuitos integrados, bastando alimentá-los com a tensão elétrica correta e
realizar as ligações dos pinos de acordo com o circuito projetado. O exemplo, a seguir, mostra a criação de
uma porta NAND, utilizando o CI 7408 (porta AND) e o CI 7404 (porta NOT).
2 LÓGICA COMBINACIONAL
61
VCC A6 Y6 A5 Y5 A4 Y4
14 13 12 11 10 9 8
Na figura que segue, para criar uma porta NAND, basta conectar a saída da porta AND em uma das
entradas da porta NOT. Neste exemplo, observa-se que o pino 3 do CI 7408 será conectado ao pino 1 do CI
7404.
VC
5.00 V
0 30 V
CC
3.01 mA
0 5A
ON
74HC08
ON
Paco Giordani Mora (2016)
1 2 3 4
74HC04
Figura 19 - Projeto de uma porta lógica NAND com circuitos 7404 e 7408
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
62
Observou-se, na figura referente à pinagem do CI7404 - porta NOT, que os dois CIs precisam ser
alimentados com tensão de 5V no pino 14 e tensão 0V no pino 7, representados pelos fios vermelho e preto
(na figura do projeto de uma porta lógica NAND com circuitos 7404 e 7408), respectivamente. O pino 2 do
CI 7404 está conectado em um LED para observar o funcionamento deste circuito. Nessa figura, pôde-se
notar que o LED está acionado mesmo com as chaves desligadas. Se você consultar a tabela-verdade da
porta NAND, descobrirá que existe apenas uma oportunidade na qual a saída tem nível lógico baixo. Isto
acontece quando as duas entradas possuem nível lógico alto e para as demais possibilidades a saída da
porta NAND terá nível lógico alto. A seguir, será apresentado o funcionamento da porta NAND quando as
duas chaves estiverem acionadas.
VC
5.00 V
0 30 V
CC
10.0 mA
0 5A
ON
74HC08
ON
Paco Giordani Mora (2016)
1 2 3 4
74HC04
Nos exemplos 1 e 2, você conferiu como se realiza uma ligação dos CIs na prática. No exemplo 2, estudou
um projeto com a interligação de dois circuitos integrados. Este método pode ser aplicado para outros
circuitos, contemplando outras portas lógicas e outros CIs mais complexos, que serão apresentados nas
seções seguintes.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
63
CASOS E RELATOS
Teoria e Prática
Pedro estuda eletrônica digital e quer montar um circuito utilizando portas lógicas. Para isso, ele
vai até a loja de equipamentos eletrônicos com uma lista de materiais, incluindo um protoboard,
resistores, uma fonte de tensão de 5VDC, algumas chaves do tipo DIP switch, circuitos integrados
com portas lógicas AND, OR e NOT, alguns LEDs e cabos para a montagem. Diante de todos estes
equipamentos e componentes, Pedro não lembrava qual era a conexão certa do circuito, mas,
decidiu montar o circuito mesmo assim.
Os circuitos integrados ficaram danificados e o LED acabou queimando. Este tipo de acontecimento
é muito comum quando se está montando um circuito lógico digital. O uso dos circuitos integrados
sempre deve ser acompanhado pelo seu datasheet (folha de dados), no qual estão presentes todas
as ligações do CI, incluindo os pinos de alimentação. Consultando o datasheet, Pedro observou
que havia trocado os pinos VCC e GND das portas lógicas e que o LED não estava conectado a
um resistor. Encontrada a causa do problema, Pedro voltou à loja e substituiu os componentes
danificados.
Antes de montá-lo novamente, o aluno de eletrônica digital decidiu desenhar o circuito no papel,
anotando todas as conexões e, para ter certeza do que estava fazendo, utilizou um software que
simula o funcionamento de circuitos eletrônicos. Depois de tudo certo, Pedro decidiu montar
o circuito na prática. Diante deste acontecimento, aprendeu que, para realizar uma montagem,
é necessário realizar um bom projeto, conhecer os pinos de circuitos integrados e prever o
funcionamento do circuito através de simulação ou com a ajuda de uma boa e velha tabela-verdade.
Nesta seção, você também observou que as portas lógicas são simbologias que representam circuitos
eletrônicos que, por sua vez, podem ser encontrados nos chamados circuitos integrados. Aprendeu que
a simbologia representa uma série de circuitos responsáveis pelas funções lógicas e que o mundo digital
está envolvido com a eletrônica. A simbologia estudada em seções anteriores não é a única conhecida, pois
muitos projetos utilizam outra simbologia, como ANSI/IEEE.
ELETRÔNICA DIGITAL
64
As portas lógicas possuem diferentes simbologias e as apontadas até aqui são representações
tradicionais muito utilizadas para facilitar o processo de aprendizado. É importante saber que existem
algumas simbologias padronizadas pelas normas ANSI/IEEE.
A sigla ANSI se refere a American International Standarts Institute, que em português significa Instituto
Americano de Padrões, cuja finalidade se refere à padronização de trabalhos técnicos envolvendo diversas
áreas do conhecimento. A sigla IEEE significa Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos. Esse
instituto não tem fins lucrativos e abrange quase todo o tipo de conhecimento das áreas elétrica, eletrônica
e computação. A IEEE busca a padronização de trabalhos, criando normas baseadas em consenso.
Uma das atribuições de instituições como ANSI e IEEE é padronizar técnicas, conhecimentos e símbolos
através de normas e documentos oficiais. No passar dos anos, com vários estudos na área da eletrônica
digital, as portas lógicas puderam ser representadas de duas formas: distintiva e retangular. A seguir, serão
analisadas as diferenças entre as portas lógicas nas formas distintivas e retangulares.
Observando as portas lógicas principais, é possível identificar as seguintes características:
a) a porta AND possui o símbolo & que significa E;
b) a porta OR possui um símbolo >=1;
c) a porta NOT tem o símbolo 1 e uma bolinha na saída. Isto significa que a saída será sempre o inverso
da entrada.
A figura, a seguir, mostra um comparativo das principais portas lógicas, contendo a representação
distintiva e a representação retangular.
Distintiva Retangular
&
>=1
Ana Cristina de Borba (2016)
A coluna da esquerda mostra a representação já conhecida de cada uma das portas lógicas, enquanto a
da direita apresenta a representação das portas na forma retangular. Ambas as representações são aceitas
no projeto e desenvolvimento de circuitos digitais. É importante destacar que não é muito comum utilizar
as duas representações em um único circuito. Se um projeto é criado na representação distintiva, todas
as portas lógicas, por conveniência, devem ser representadas seguindo uma única simbologia, sem que
sejam misturadas as duas representações. As principais portas lógicas são AND, OR e NOT, e as demais são
derivações das portas principais. Dentre elas, estão as portas NAND, NOR, XOR e XNOR. De maneira geral, a
representação retangular destas portas atende às seguintes características:
a) a porta NAND possui o símbolo & e uma bolinha de inversão na saída;
b) a porta NOR possui um símbolo >=1 e uma bolinha de inversão na saída;
c) a porta XOR tem presente o símbolo =1;
d) a porta XNOR tem presente o símbolo =1 e uma bolinha inversora.
A figura, a seguir, mostra um comparativo entre as representações distintiva e a retangular.
Distintiva Retangular
&
>=1
=1
Ana Cristina de Borba (2016)
=1
O padrão retangular deve ser seguido no uso de projetos, publicações de artigos, apresentações em
congressos, entre outras atividades ou documentações. Mas, neste livro didático você perceberá que serão
utilizados somente a simbologia tradicional.
SAIBA Para conhecer melhor a IEEE, sua história e sua conexão com a eletrônica, acesse o site
MAIS brasileiro do instituto: http://www.ieee.org.br/.
ELETRÔNICA DIGITAL
66
Assim, a partir do estudo da teoria geral e funcionamento das portas lógicas e com os conceitos
aprendidos na seção 2.4, você será capaz de interpretar e projetar novos circuitos lógicos. Os circuitos que
serão estudados a partir de agora são compostos por todas as portas lógicas estudadas até aqui.
Como visto em seções anteriores, a combinação de portas lógicas podem executar uma função lógica
chamada de função ou expressão booleana. Além disso, foi estudado que uma porta XOR equivale a uma
associação de portas lógicas AND, OR e NOT. Mas, existem outros tipos de associações de portas lógicas?
Um circuito digital pode ter uma infinidade de possibilidades, associando todos os tipos de portas
lógicas, com inúmeras entradas e também saídas. Nesta seção, você aprenderá o conceito de circuito
combinacional, como encontrar sua expressão booleana e como realizar a sua simplificação. Também
encontrará exemplos e situações para treinar a lógica envolvida em cada situação.
Segundo Lourenço et al. (2007, p. 69, grifo do autor), “O circuito combinacional é aquele que executa
uma expressão booleana através da interligação de várias portas lógicas existentes, sendo que as saídas
dependem única e exclusivamente das entradas”. Observe o exemplo a seguir.
E1
E2
Ana Cristina de Borba (2016)
S1
S2
E3
Figura 23 - Exemplo de circuito combinacional com 3 entradas e duas saídas
Fonte: SENAI (2016)
O exemplo apresentado mostra um circuito combinacional com 3 entradas e duas saídas, lembrando
que não existe limite para o número de entradas e/ou saídas neste tipo de circuito.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
67
Se você testar todas as entradas do circuito combinacional descrito, encontrará a seguinte tabela-
-verdade:
LINHA E1 E2 E3 S1 S2
1 0 0 0 1 0
2 0 0 1 1 0
3 0 1 0 1 0
4 0 1 1 0 1
5 1 0 0 1 0
6 1 0 1 0 1
7 1 1 0 1 0
8 1 1 1 0 1
Tabela 21 - Tabela-verdade de um circuito combinacional
Fonte: SENAI (2016)
Diante da tabela-verdade, como é possível encontrar a expressão lógica para a saída S1 e a expressão
lógica para a saída S2? Essa pergunta será respondida com uma nova análise dos circuitos combinacionais.
A técnica se baseia em descobrir as expressões das saídas S1 e S2. Como você pode ter observado, o
circuito apresentado possui duas saídas, portanto, o circuito terá duas expressões, cada uma com a sua
lógica, ou seja, são saídas com lógicas totalmente independentes. Como mencionado nesta seção, as
saídas dependem única e exclusivamente das entradas.
No caso de conhecer a função lógica de uma saída, você deve escrevê-la como uma soma de produtos.
Observe.
S=A·B+B·C
Considerando as informações, as expressões para cada linha em que S1 tem nível lógico 1 será:
No intuito de encontrar a expressão final da saída S1, basta somar todos estes produtos. Então, a
expressão final da saída S1 será:
Do mesmo modo que a expressão booleana de S1 foi encontrada, pode-se determinar a saída S2, que é
verdadeira para as seguintes linhas da tabela-verdade:
Observe que os circuitos combinacionais que podem ser formados por diferentes portas lógicas e
podem ter número de saídas maior que 1. Para compreender melhor este conceito, observe um exemplo
prático.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
69
ENTRADAS SAÍDA
LINHA C (CHAVE) B (BOTÃO) S (SENSOR) M (MOTOR)
1 0 0 0 0
2 0 0 1 0
3 0 1 0 1
4 0 1 1 0
5 1 0 0 1
6 1 0 1 0
7 1 1 0 1
8 1 1 1 0
Tabela 24 - Tabela-verdade do exemplo
Fonte: SENAI (2016)
Analisando a coluna C, sabe-se que, das linhas 1 a 4, o motor está em modo manual e, consequentemente,
das linhas 5 a 8, está operando em modo automático. Na linha 1, o motor está em modo manual (C = 0) e
o botão desligado (B = 0). Essa condição já é suficiente para saber que o motor estará desligado (M = 0).
Note que nas linhas 1 e 2 não foi analisado o nível lógico do sensor, pois, se S = 0 ou S = 1, nessas linhas não
alteraria o nível lógico da saída M.
ELETRÔNICA DIGITAL
70
Na linha 2, o motor está operando em modo manual (C = 0) e o botão desligado (B = 0), condição
suficiente para saber que o motor será desligado (M = 0). Na linha 3, motor no modo manual (C = 0), o
botão ligado (B = 1) e a peça não chegou no sensor (S = 0). Nesta condição, o motor irá ligar, pois a peça
deve ser transportada até o sensor. Na linha 4, o motor está operando em modo manual (C = 0), o botão
ligado (B = 1) e a peça chegou até o sensor (S = 1), ou seja, como o sensor foi acionado, esta condição é
necessária para desligar o motor.
Em modo automático, o botão B não será levado em consideração, pois independente do seu valor
não será o botão que irá ligar o desligar o motor. Na linha 5, o motor está operando em modo automático
(C = 1), o botão desligado (B = 0) e a peça ainda não chegou no sensor (S = 0), ou seja, o motor será ligado
(M = 1). Como o estado do botão não faz diferença na análise do problema nas próximas linhas, você pode
verificar apenas os valores da chave seletora e do sensor. Na linha 6, a peça chegou até o sensor, ou seja,
o motor será desligado. Na linha 7 o motor será ligado, pois a peça ainda não chegou no sensor ainda, ou
seja, M = 1. Finalmente, na linha 8, o motor será desligado (M = 0), pois a peça chegou até o sensor (S = 1).
Após uma análise completa de todas as possibilidades do problema, você pode montar a função lógica
da saída M. E, para encontrá-la basta aplicar o método do exemplo anterior.
Através da função lógica, é possível encontrar o circuito com portas lógicas. Sabe-se que o circuito terá
uma porta OR com 3 entradas, algumas portas NOT e três portas AND com 2 entradas. Observe a seguinte
disposição.
C B S
M
Ana Cristina de Borba (2016)
É importante notar que, neste exemplo, as variáveis B, T e P são de entrada, enquanto que o ventilador
dado pela variável V é um dado de saída. De maneira geral, dependendo da lógica realizada entre as três
variáveis de entrada, a saída V terá nível lógico 0 ou 1. Aplicando o mesmo método demonstrado nos
exemplos 1 e 2, fica claro que a função lógica deste problema é dado por:
V=B·T·P
ELETRÔNICA DIGITAL
72
Desta maneira, o circuito geral de controle do ventilador pode ser expresso por uma porta AND de 3
entradas. Repare que as 4 primeiras linhas da tabela-verdade bloqueiam o uso do ventilador pois a variável
B está em nível lógico 0. Quando B tem nível lógico 1, o ventilador será bloqueado pelas variáveis T em nível
0 ou pela variável P em nível 0. De acordo com a problemática deste exemplo, a única solução possível é
quando as três variáveis de entrada (B, T e P) estão em nível lógico 1.
Com os conceitos aprendidos nesta seção, você será capaz de desenvolver circuitos digitais a partir de
problemas práticos, bem como montar a tabela-verdade e encontrar a função lógica em cada situação.
A seguir, serão apresentados alguns destes circuitos encontrados, equivalentes a circuitos menores, ou
seja, pode-se projetar um circuito com a mesma lógica utilizando menos portas lógicas. A partir de agora,
você saberá como melhorar o seu projeto. Para isso, aprenderá o conceito de simplificação de circuitos
combinacionais por Álgebra de Boole.
Para realizar a simplificação de circuitos combinacionais, torna-se necessário, incialmente, ter a função
lógica deste circuito. Através da função lógica, é possível simplificar um circuito com muitas operações para
um circuito menor com menos operações por entrada.
Como realizar essa simplificação? Como encontrar uma expressão simples com base em uma complexa?
Para que haja a simplificação, você deverá conhecer alguns conceitos que são chamados de postulados
(também conhecidos como regras de Boole), propriedades e teoremas. A tabela seguinte indica quais são
esses postulados.
Se A = 0 então A = 1 Se A = 1 então A = 0
0 = 1,1 = 0 A=A
0·0=0 1·1=1
0·1=1·0=0 0 +1 = 1 + 0 = 1
0+0=0 1+1=1
A·A=A A·A=0
A+A=A A+A=1
A·0=0 A·1=A
A+0=A A+1=1
Tabela 26 - Postulados
Fonte: Lourenço et al. (2007)
Todos estes princípios são muito importantes para a simplificação de expressões booleanas. Assim
como os postulados, outro aspecto importante nas simplificações das funções lógicas são as propriedades,
que são divididas em 3 grupos: comutativa, associativa e distributiva.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
73
COMUTATIVA
A·B=B·A
A+B=B+A
ASSOCIATIVA
A · (B · C) = (A · B) · C
A + (B + C) = (A + B) + C
Tabela 27 - Propriedades
Fonte: Lourenço et al. (2007)
TEOREMAS DE DE MORGAN
A+B=A·B
A·B=A+B
TEOREMAS DA ABSORÇÃO
A+A·B=A
A+A·B=A+B
Tabela 28 - Teoremas
Fonte: Lourenço et al. (2007)
S=A+B
Sabe-se também que a tabela-verdade da porta lógica OR é a seguinte:
A B SAÍDA OR
0 0 0
0 1 1
1 0 1
1 1 1
Tabela 29 - Exemplo da porta lógica OR
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
74
Como se pode notar, as duas expressões são diferentes, porém, por incrível que pareça, são equivalentes.
Mas, como demonstrar essa igualdade? Para provar a equivalência entre as duas expressões, você utilizará
os postulados, propriedades e teoremas.
Inicialmente, observe na expressão quais são os elementos em comum. A variável A está presente nos
produtos A · B e A · B . Desta maneira, pode-se deixar o A em evidência e utilizar a propriedade distributiva.
A expressão pode ser reescrita da seguinte maneira:
S=A+B
2 LÓGICA COMBINACIONAL
75
A B
Circuitos maiores, além de custos maiores, ainda consomem mais energia, mais espaço e recursos para
sua produção. A simplificação de circuitos através de expressões booleanas colabora na otimização de
projetos, deixando-os baratos e eficientes. No intuito de reforçar a técnica de simplificação de circuitos, leia
o exemplo 2.
C B S M
0 0 0 0
0 0 1 0
0 1 0 1
0 1 1 0
1 0 0 1
1 0 1 0
1 1 0 1
1 1 1 0
Tabela 30 - Tabela-verdade do exemplo esteira e peça
Fonte: SENAI (2016)
S = A · C + A + (B · C)
Até aqui, você aprendeu diversas formas de simplificar expressões booleanas e percebeu que, com o
uso dos postulados, propriedades e teoremas, é possível simplificar e otimizar circuitos implementados
com portas lógicas. Será que essa é a única forma de otimização de circuitos? Na próxima seção, você
conhecerá uma técnica um pouco diferente, mas muito eficiente na análise de circuitos digitais.
CONSTRUÇÃO DO MAPA
A construção do Mapa de Karnaugh dependerá do número de entradas do circuito ou função lógica.
É importante frisar que o Mapa de Karnaugh é montado para cada saída do circuito, ou seja, um circuito
com duas saídas deve ser observado através de dois mapas; um para cada saída e analisados de maneira
individual.
O mapa é formado por um conjunto de células, proporcional à quantidade de possibilidades do circuito.
Assim, tem-se que o número de células = 2n, onde n é o número de entradas do circuito. Na construção do
mapa, é necessário conhecer bem a tabela-verdade, pois cada célula corresponde a uma condição e uma
possibilidade. Dentro de cada célula, são inseridos os valores da saída do circuito. Para entender melhor o
mapa, leia o seguinte exemplo.
N A B S
0 0 0 0
1 0 1 1
2 1 0 1
3 1 1 1
Tabela 31 - Exemplo de mapa e tabela-verdade
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
79
O mapa terá 2² células, que correspondem às possibilidades da tabela-verdade. Cada célula deve ser
preenchida com o valor da saída S correspondente.
B
0 1
0 0 1
A
1 2 3
Figura 26 - Exemplo de construção do Mapa de Karnaugh
Fonte: SENAI (2016)
B
0 1
0 0 1
A
1 1 1
Figura 27 - Mapa de Karnaugh com duas variáveis
Fonte: SENAI (2016)
No caso de um sistema ter duas saídas, deve-se criar um mapa especialmente para cada uma delas.
Observe a tabela do exemplo 2.
A B S1 S2
0 0 1 0
0 1 1 0
1 0 0 1
1 1 0 1
Tabela 32 - Tabela-verdade com duas saídas
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
80
Como este circuito tem duas saídas, a simplificação deverá ser realizada através de dois Mapas de
Karnaugh. O mapa correspondente à saída S1 pode ser visualizada na figura, a seguir.
B
0 1
0 1 1
A
1 0 0
Figura 28 - Mapa de Karnaugh para a saída S1
Fonte: SENAI (2016)
O mapa correspondente à saída S2 pode ser visualizado a seguir. Observe nos mapas das saídas S1 e S2
suas principais diferenças.
B
0 1
0 0 0
A
1 1 1
Figura 29 - Mapa de Karnaugh para a saída S2
Fonte: SENAI (2016)
Caso o Mapa de Karnaugh tenha mais variáveis de entrada, como A, B e C, a construção do mapa será
diferente. Para compreender como construir mapas maiores, deve-se conhecer o conceito de células
adjacentes, nas quais apenas uma das variáveis se altera. Para entender melhor este conceito, leia o
exemplo a seguir.
BC
00 01 10 11
0 1 2 3
Tabela 33 - Tabela BC com células não adjacentes
Fonte: SENAI (2016)
Da célula 0 para a célula 1, a variável B manteve seu valor 0 e a variável C mudou de 0 para 1. Caso
apenas uma variável sofra alteração de uma célula para outra, significa que as duas células são adjacentes.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
81
Tomando a mesma tabela BC, da célula 1 para a célula 2, ocorreram duas mudanças. Observe que B
alterou seu valor de 0 para 1 e a variável C mudou seu valor de 1 para 0. Como aconteceram duas variações
de uma célula para outra, as células (1 e 2) não são adjacentes. Será que há possibilidade de organizar esta
tabela de modo que todas as células sejam adjacentes? Sim, é possível. Reorganizando a tabela (tabela BC
com células não adjacentes), pode-se reescrever BC da seguinte forma.
BC
00 01 11 10
0 1 3 2
Tabela 34 - Tabela BC com células adjacentes
Fonte: SENAI (2016)
BC
00 01 11 10
0 0 1 3 2
A
1 4 5 7 6
Figura 30 - Mapa de Karnaugh com 3 variáveis de entrada
Fonte: SENAI (2016)
Para um circuito com 4 variáveis de entrada, o Mapa de Karnaugh terá 24 células, ou seja, 16 células. Para
este mapa, deve-se utilizar o mesmo conceito de células adjacentes. A única diferença será a posição das
variáveis de entrada. As variáveis A e B estarão dispostas à esquerda, enquanto que as C e D estarão acima
do mapa.
ELETRÔNICA DIGITAL
82
CD
00 01 11 10
00 0 1 3 2
01 4 5 7 6
AB
11 12 13 15 14
10 8 9 11 10
Figura 31 - Mapa de Karnaugh com 4 variáveis de entrada
Fonte: SENAI (2016)
Agora que você aprendeu como construir os Mapas de Karnaugh, está na hora de saber como utilizá-los
para simplificar os circuitos.
B
0 1
0 0 0
A
1 1 1
Figura 32 - Exemplo de enlace
Fonte: SENAI (2016)
Com o Mapa de Karnaugh construído, basta realizar as simplificações, ou seja, criar enlaces entre uma
célula e outra e encontrar a expressão correspondente. O mapa apresentado acima criou um enlace com
base nos valores 1 e 1, lado a lado, entretanto, os valores 0 e 0, lado a lado, também formam um enlace.
A criação de enlaces dependerá da técnica de análise do mapa. A maioria dos exemplos apresentados a
seguir realizará os enlaces utilizando as células com valor 1. Mais adiante será apresentado um exemplo
utilizando os enlaces com valor 0.
Em um mesmo mapa, podem acontecer mais do que um enlace. Em seguida, é apresentado um mapa
com dois enlaces.
B
0 1
0 1 0
A
1 1 1
Figura 33 - Exemplo de mapa com dois enlaces
Fonte: SENAI (2016)
Para encontrar a expressão simplificada do circuito, observe no enlace quais são as variáveis que não
mudam. A expressão final da saída será o produto das variáveis que não mudam no enlace. No caso de
haver mais de um enlace, o resultado final será a soma das expressões encontradas em cada um.
S=A+B
B
0 1
0 1 1
A
1 1 1
Figura 34 - Enlace em todo o mapa
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
84
A expressão da saída será dada através do valor 1, ou seja, S = 1. Faz sentido a resposta de um circuito
ser igual a 1? A resposta é sim. Isto acontece, porque, independente da mudança das variáveis A ou B, o
valor da saída permanece 1. Significa dizer que A e B não tem relevância no valor da saída, seja qual for o
valor de A ou o valor de B.
A B C S
0 0 0 1
0 0 1 0
0 1 0 1
0 1 1 0
1 0 0 1
1 0 1 0
1 1 0 1
1 1 1 0
Tabela 35 - Tabela-verdade de um circuito qualquer
Fonte: SENAI (2016)
BC
00 01 11 10
0 1 0 0 1
A
1 1 0 0 1
Figura 35 - Mapa de Karnaugh do exemplo 3
Fonte: SENAI (2016)
A primeira tendência ao ver este mapa é criar dois enlaces: um representado pela cor verde e outro pela
cor azul.
BC
00 01 11 10
0 1 0 0 1
A
1 1 0 0 1
Figura 36 - Tendência ao realizar o enlace
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
85
Se você observar bem, as células onde BC tem os valores 00 e 10 são adjacentes. Isto acontece, porque,
mesmo as células afastadas, apenas o valor de B varia de 0 para 1 enquanto que C permanece com o valor
igual a 0. Se as células são adjacentes, pode-se realizar um enlace entre ambas. Portanto, pode-se trocar o
duplo enlace por apenas um e o enlace do mapa ficará da seguinte forma:
BC
00 01 11 10
0 1 0 0 1
A
1 1 0 0 1
Figura 37 - Enlace único entre células adjacentes afastadas
Fonte: SENAI (2016)
Para simplificar esta expressão, basta olhar quais variáveis não alteram seu valor dentro do enlace azul.
Analisando a variável A, observa-se que A varia de 0 para 1. Por isso, não participa da resposta. A variável
B varia de 0 para 1, portanto não participa da resposta. A variável C mantém o seu valor em 0, portanto a
resposta do circuito fica da seguinte forma:
S=C
A B C D S1 S2
0 0 0 0 1 1
0 0 0 1 0 1
0 0 1 0 0 1
0 0 1 1 0 1
0 1 0 0 0 0
0 1 0 1 1 0
0 1 1 0 0 0
0 1 1 1 1 0
1 0 0 0 0 1
1 0 0 1 0 1
1 0 1 0 0 1
1 0 1 1 0 1
1 1 0 0 0 0
1 1 0 1 1 0
1 1 1 0 0 0
1 1 1 1 1 0
Tabela 36 - Tabela-verdade do exemplo 4
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
86
Como a tabela-verdade apresenta duas saídas, são necessários, portanto, dois mapas. O mapa para a
saída S1 pode ser visualizado na sequência, no qual inicialmente são criados dois enlaces: um representado
pela cor verde e outro em azul.
CD
00 01 11 10
00 1 0 0 0
01 0 1 1 0
AB
11 0 1 1 0
10 0 0 0 0
Figura 38 - Mapa de Karnaugh para a saída S1
Fonte: SENAI (2016)
No enlace verde, criado por apenas uma célula, deve-se analisar quais são as variáveis que não alte-
ram. Como está sendo analisada apenas uma célula, todas as variáveis não mudam. Não existe varia-
ção se é analisado sempre o mesmo ponto. Portanto, para o primeiro enlace, a resposta parcial de S1 é
A · B · C · D.
Agora, observe o segundo enlace, dado pela cor azul no Mapa de Karnaugh. A variável A muda do
valor 0 para 1. Já a variável B permanece no valor 1. A variável C, por sua vez, muda de 0 para 1 enquanto
que a variável D permanece no mesmo valor 1. Portanto, a resposta parcial para S1 é BD. Somando-se as
respostas parciais, a saída S1 tem a seguinte expressão:
S1 = A · B · C · D + B · D
Ao identificar a saída S2, veja o seguinte Mapa de Karnaugh, no qual é criado apenas um enlace,
representado pela cor azul e contendo 8 células.
CD
00 01 11 10
00 1 1 1 1
01 0 0 0 0
AB
11 0 0 0 0
10 1 1 1 1
Figura 39 - Mapa de Karnaugh para a saída S2
Fonte: SENAI (2016)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
87
Analisando o enlace, verifica-se que a variável A muda seu valor de 0 para 1, enquanto a variável
B permanece seu valor em 0. As variáveis C e D sofrem mudanças no decorrer das células. Portanto, a
expressão de S2 deverá ficar da seguinte forma:
S2 = B
Quanto menor for o número de enlaces criados e quanto maior for o tamanho deste enlace, menor será
a resposta. Mesmo com resultados diferentes, o circuito irá executar a mesma função. Uma das respostas
será mais simplificada que outra, ou seja, irá necessitar de menos portas lógicas para a realização da função
lógica.
CD
00 01 11 10
00 0 1 1 1
01 1 1 0 0
AB
11 1 1 0 0
10 1 1 1 1
Quadro 5 - Mapa de Karnaugh com enlaces com nível lógico 0
Fonte: SENAI (2016)
Observe no mapa acima a criação de dois enlaces: azul e verde. Deve-se retirar a expressão de cada um
destes enlaces. A expressão final deste mapa será a multiplicação entre a expressão do enlace azul com a
expressão do enlace verde.
A expressão do enlace azul será a soma de todos as variáveis que não sofreram modificação. Em apenas
uma célula, todas as variáveis não sofrem alteração, portanto a expressão resultante do enlace azul será
A+B+C+D. Observe que não foi colocada a barra em cima das variáveis A, B, C ou D, pois neste método, as
variáveis com nível lógico 1 não recebem a barra.
Analisando o enlace verde, analise as seguintes modificações:
A: muda de 0 para 1;
B: se mantém em 1;
ELETRÔNICA DIGITAL
88
C: se mantém em 1;
D: muda de 1 para 0.
Como somente as variáveis B e C se mantém, a expressão resultante deste enlace será .Multipli-
cando as expressões dos dois enlaces, tem-se a seguinte expressão final:
Nesta seção, você aprendeu a otimizar os circuitos combinacionais por uma técnica chamada Mapa de
Karnaugh. O resultado final da função lógica da saída do circuito combinacional será dada em termos de
variáveis isoladas (OR, AND ou NOT). Através desta função simplificada, pode-se construir um circuito com
menor custo, menor número de portas lógicas e que realize a mesma função. A técnica de simplificação de
circuitos combinacionais por mapas de Karnaugh, quando utilizada de maneira correta, ou seja, quando os
enlaces são devidamente escolhidos, resulta na menor função lógica possível. Esta técnica evita a realização
de cálculos booleanos e simplificações através de postulados, propriedades e teoremas.
Até aqui, você aprendeu como projetar e simplificar diversos circuitos combinacionais. Os conceitos
foram de real importância para começar uma nova etapa no seu estudo. Agora, você conhecerá algumas
funções lógicas específicas, que podem ser integradas e combinados com diversos circuitos.
Nesta seção, você irá constatar que existem funções lógicas com capacidade de executar mais do que
as operações AND, OR, NOT etc. Além disso, descobrirá que há circuitos capazes de realizar a soma e a sub-
tração de valores binários com equivalente decimal.
Aqui, você irá aprender que as informações binárias, além de ser tratadas, deslocadas e organizadas,
podem ser realizadas pelos circuitos (codificadores, decodificadores, multiplexadores e demultiplexadores)
a ser implementados com portas lógicas. Como estas funções, são muito utilizadas e aplicadas em circuitos
digitais, existem circuitos integrados prontos que as realizam sem a necessidade de construí-las com o uso
de portas lógicas.
2.6.1 SOMADORES
Como o próprio nome aponta, o circuito somador é um circuito digital capaz de somar números
binários. Sabe-se, por exemplo, que em uma calculadora são digitados valores decimais, mas neste caso o
circuito somador irá realizar a sua função com informações em binário, logo, realizará uma soma binária.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
89
Aqui você irá entender como a calculadora realiza esta função. Antes de aprender sobre os circuitos
somadores nada melhor do que conhecer como funciona realmente a adição no sistema binário.
Um circuito somador não é uma porta OR. Um circuito somador adiciona duas
FIQUE informações binárias, ou seja, soma um número binário com mais de 1 algarismo. Já a
ALERTA função OR soma apenas bits individualmente, o que a torna incapaz de somar grandes
valores binários.
Suponha que você queira somar dois números A e B. Esta soma é regida através da seguinte tabela.
A B S CO
0 0 0 0
0 1 1 0
1 0 1 0
1 1 0 1
Tabela 37 - Soma binária
Fonte: SENAI (2016)
Neste caso, S é o valor do resultado e, para analisar a tabela de soma, considere as seguintes possibilidades:
0+0=0
0+1=1
1+0=1
1+1=0
Na soma 1 + 1, o resultado é zero, porém sobra um número reserva proveniente desta conta chamado
de carry-out. Como você sabe, 1 + 1 = 2. Veja se existe uma equivalência desta soma decimal com a soma
binária seguinte:
1
N decimal
0 1 Um
+ 0 1 Um
1 0 Dois
1
N decimal
0 1 1 Três
+ 0 1 0 Dois
1 0 1 Cinco
1 1 1
N decimal
0 1 1 1 Sete
+ 0 0 0 1 Um
1 0 0 0 Oito
N decimal
1 0 1 0 Dez
+ 0 1 0 0 Quatro
1 1 1 0 Quatorze
1 1 1
N decimal
0 1 1 1 1 Quinze
+ 0 0 0 1 0 Dois
1 0 0 0 1 Dezessete
2 LÓGICA COMBINACIONAL
91
Observe neste caso que foi inserido mais um bit à esquerda do número 15. Mesmo o número 15
precisando de apenas 4 bits para sua representação, um bit a mais foi inserido para que o resultado 17
pudesse ser apresentado. Com base nisso, é importante conhecer a soma antes da representação dos
números binários, ou seja, deve-se ter uma ideia clara de quantos bits são necessários para a demonstração
do resultado.
1 1 1
N decimal
1 1 1 1 Quinze
+ 0 0 1 0 Dois
0 0 0 1 Dezessete
Observe que os dados de entrada da soma são representados por 4 bits. O número 15 e o número 2 são
representados por apenas 4 bits. Para representar o número 17, pode-se utilizar os quatro bits disponíveis
na saída mais um bit disponível para fazer a soma de vai-um (carry-out). Neste exemplo, essa consideração
pode ser utilizada se o resultado da soma não ultrapassar o valor binário 111112.
As funções de soma e subtração de números binários fazem parte de um bloco funcional chamado
Unidade Lógica Aritmética (ULA), que é um circuito digital dedicado a realizar funções aritméticas presentes
em calculadoras, computadores e microcontroladores.
Após entender como é realizada a soma binária, está na hora de aprender quais são os circuitos que
realizam a função de soma para números binários. Inicialmente, você conhecerá o circuito meio somador,
depois o circuito somador completo e, por fim, compreenderá a associação de circuitos somadores.
Por mais que o circuito somador tenha esse nome, ele não realiza a função OR, ou seja, não realiza a
função (+) como apresentado no estudo de portas lógicas. O circuito meio somador realiza a função XOR
para a saída S e, além disso, desempenha a função AND para a saída CO. A tabela-verdade deste circuito é:
A B S CO
0 0 0 0
0 1 1 0
1 0 1 0
1 1 0 1
Tabela 38 - Tabela-verdade circuito meio somador
Fonte: SENAI (2016)
A representação deste circuito somador é dada pelo seguinte circuito com portas lógicas:
A
S
B
Paco Giordani Mora (2016)
CO
Como este é um circuito muito utilizado em aplicações voltadas à eletrônica digital, existe um circuito
integrado dedicado a realizar esta função. Depois de entendido o funcionamento do circuito meio somador,
não é necessário representá-lo com o uso de portas lógicas. Ao invés disso, pode-se utilizar um retângulo
contendo as informações de entrada e saída do circuito. Essa representação é conhecida como diagrama
de bloco.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
93
A S
Meio
Somador
Além do circuito meio somador, existe ainda o circuito somador completo, também conhecido como
Full Adder, que será explicado a seguir.
A S
Somador
Completo
Ci
Paco Giordani Mora (2016)
B CO
Considerando Ci como uma entrada, sua tabela-verdade terá 8 possibilidades. A tabela-verdade do Cir-
cuito Full Adder é:
A B Ci S CO
0 0 0 0 0
0 0 1 1 0
0 1 0 1 0
0 1 1 0 1
1 0 0 1 0
1 0 1 0 1
1 1 0 0 1
1 1 1 1 1
Tabela 39 - Tabela-verdade do circuito somador completo
Fonte: SENAI (2016)
Utilizando as técnicas de análise de circuitos combinacionais, verifica-se que a saída S tem a seguinte
expressão:
Esta expressão pode ser simplificada, reduzindo o circuito para apenas duas portas lógicas XOR.
Convertendo as expressões de saída deste somador, pode-se encontrar o seguinte circuitos com portas
lógicas:
A B Ci
Considera-se que cada somador completo é capaz de enviar e receber um sinal auxiliar para a soma
e estes somadores podem ser interligados em cascata, possibilitando uma soma maior de bits. Leia o
exemplo a seguir.
A3
A2
A1
A0
B3
B2
B1
B0
Ci Ci Ci
3 2 1
A B Ci A B Ci A B Ci A B Ci
CO S3 CO S2 CO S1 CO S0
3 2 1 0
A partir da figura anterior, torna-se possível observar que a saída carry-out irá influenciar no resultado
do somador completo seguinte. O primeiro somador terá as variáveis de entrada A0, B0, e Ci0 e as variáveis
de saída CO0 e S0. O segundo somador terá as variáveis de entrada A1, B1, e Ci1 e as variáveis de saída CO1 e S1.
O terceiro somador terá as variáveis de entrada A2, B2, e Ci2 e as variáveis de saída CO2 e S2. O quarto somador
terá as variáveis de entrada A3, B3, e Ci3 e as variáveis de saída CO3 e S3. De maneira geral, os somadores em
cascata irão realizar a seguinte função.
Com base no que foi apresentado e no exemplo que está sendo discutido, a soma 9 + 2 = 11 será dada
da seguinte forma:
0 0 0 0
+ 1 0 0 1
0 0 1 0
1 0 1 1
2 LÓGICA COMBINACIONAL
97
Se fossem posicionados mais somadores em cascata, por exemplo, cinco somadores, o circuito seria
capaz de realizar somas maiores.
Desta maneira, poderiam ser somados números como 21 e 17. O número 21 pode ser representado pelo
número 10101, enquanto que o número 17 é representado por 10001. Veja a soma a seguir.
1 0 0 0 1
1 0 1 0 1
+ 1 0 0 0 1
1 0 0 1 1 0
A soma entre os números 21 e 17 é 38. O número 38 é dado pelo número 100110. Observe que a soma
dos dois números gerou um acréscimo de um novo bit. Os números 17 e 21 podem ser representados por
apenas 5 bits, enquanto que o número 38 necessita de 6 bits para a sua representação. Este acréscimo de
um bit é dado pela saída CO4.
O mesmo acontece quando são somados os números 7 e 4, que, para representá-los, são necessários
apenas 3 bits. Sabe-se que o resultado de 7 + 4 é 11, mas o número 11 precisa de 4 bits para sua representação.
Neste caso, basta utilizar o bit C02 como o mais significativo.
1 0 0
1 1 1 (7)
+ 1 0 0 (4)
1 0 1 1 (11)
Observe que, nos exemplos apresentados, o último bit de carry-out foi utilizado para auxiliar na
representação do número binário. Este tipo de abordagem pode ser utilizado sempre que conhecido o
valor máximo de saída da soma.
A quantidade de bits utilizadas nos exemplos possui uma limitação quanto à representação de números.
Quanto maior for a quantidade de bits, maior será o número decimal representado nesta soma. Para uma
abordagem educacional, são mostrados somadores com 4 a 5 algarismos por número binário, porém em
aplicações técnicas, os somadores podem realizar operações acima de 64 bits.
ELETRÔNICA DIGITAL
98
O estudo dos circuitos somadores é de grande importância para sistemas computacionais. Como dito
anteriormente, os somadores são utilizados desde pequenas calculadoras até computadores de última
geração. Torna-se importante salientar que nesta seção foi abordado o circuito somador para valores
inteiros positivos maiores ou iguais a zero. Isto quer dizer que os circuitos presentes em calculadoras e
computadores possuem uma complexidade maior, visto que estes equipamentos possuem a capacidade de
processar números racionais negativos, realizar operações como funções mais complexas da trigonometria
etc. Este livro tem como intuito estudar as duas operações simples e com uma pequena quantidade de bits.
Agora que você conhece como um número binário é somado por um circuito digital, estudará alguns
conceitos relacionados aos circuitos subtratores.
2.6.2 SUBTRATORES
Os circuitos subtratores são circuitos digitais capazes de realizar uma subtração entre números binários.
Inicialmente, para entender a lógica dos circuitos subtratores, deve-se entender como funciona a subtração
binária.
Para entender a subtração, é necessário saber como são representados os números negativos. Se existe
a subtração 1 – 3, o resultado desta operação é – 2. Como será representado este sinal negativo?
Na prática, você sabe que um sinal negativo é (representado pelo símbolo “-“) comumente chamado de
sinal de menos. Um número positivo é dado pelo símbolo “+”, comumente chamado por sinal de mais. Os
números positivos também podem ser representados pelos números sozinhos, sem o uso de sinal algum.
Os circuitos somadores e subtratores são dedicados a aplicações utilizadas em microcontoladores. Como
microcontroladores não são capazes de ler símbolos, deve-se pensar um modo de representar o símbolo
positivo e o negativo na realização de uma subtração.
Salienta-se que, para a representação de um número decimal, são utilizados alguns bits. Partindo deste
mesmo raciocínio, também deve ser dedicado um único bit para a representação do sinal deste número,
podendo ser um sinal positivo ou negativo. Por exemplo, para a representação do número decimal 7, são
necessários 3 bits. Para que este número tenha um sinal, será adicionado mais um bit à esquerda deste
número binário. Veja a indicação a seguir.
X 1 1 1
Sinal Número
O número X indicado pode ter os valores 0 ou 1. Quando a variável X for igual a zero, significa que o
número é positivo. Se a variável X for igual a 1, significa que o número é negativo.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
99
Seguindo este tipo de raciocínio, veja alguns tipos de exemplos de números positivos e negativos com
apenas 3 bits.
REPRESENTAÇÃO DO NÚMERO EM
BIT DO SINAL NÚMERO DECIMAL
BINÁRIO (3 BITS)
0 0 0 1 1
1 0 1 0 -2
0 1 0 0 4
1 0 1 1 -3
0 1 1 0 6
1 1 0 1 -5
0 1 1 1 7
1 1 1 1 -7
Tabela 40 - Exemplo de números binários positivos e negativos
Fonte: SENAI (2016)
Na matemática, uma subtração pode ser interpretada como a soma de um número com um número
negativo. Considere que, para realizar a subtração entre os números positivos 5 e 3, basta transformar
o número 3 em um número negativo e realizar a soma dos números 5 e -3. Matematicamente, pode-se
provar esta afirmação com a seguinte análise:
5 - 3 = 5 + (-3)
A tabela seguinte mostra uma série de números e sua representação no complemento de um.
Para escrever o número em complemento de dois, some o valor 1 no número em complemento de dois.
1
0 1 1 Complemento de um
+ 1 Soma 1
1 0 0 Complemento de 2
Para escrever o número em complemento de dois, some o valor 1 no número em complemento de dois.
0 0 1
0 1 0 1 Complemento de um
+ 0 0 0 1 Soma 1
0 1 1 0 Complemento de 2
Agora que você conhece o significado do complemento de 2, será apresentada a técnica de subtração.
Para realizar a subtração de dois números, basta realizar a soma do primeiro número com a representação
do complemento de dois do segundo número. Veja o exemplo a seguir.
1
1 1 1 (7)
+ 1 0 0 (- 4, em complemento de dois)
0 1 1 (3)
7–4=3
1 1 1
1 1 1 1 (15)
+ 0 1 1 0 (- 10, em complemento de dois)
0 1 0 1 (5)
15 – 10 = 5
1
1 0 0 0 1 (17)
+ 1 0 1 1 0 (- 10, em complemento de dois)
0 0 1 1 1 (7)
Desta maneira, a soma dos valores 17 e -10 equivale à subtração 17 - 10, cujo resultado é o valor 7.
Repare nos exemplos que o último bit de vai-um foi descartado. Ainda que este bit tenha nível lógico 1, seu
estado não é considerado, mesmo para o sinal do número (positivo ou negativo). Até aqui, os exemplos
mostrados possuíram um resultado positivo. O próximo exemplo trará uma subtração entre dois números
binários em que resultado é negativo.
1
1 0 1 (5)
+ 0 0 1 (- 7, em complemento de dois)
1 1 0 (-2)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
103
A subtração desta expressão tem como resultado o valor -2, pois 5 – 7 = -2. Observe que o número -2
está representado pelo número 1102. O número 1102 é a representação do número -2 em complemento
de dois.
1 1 0 0 (10)
+ 0 0 0 1 (- 15, em complemento de dois)
1 1 0 1 (-5)
O resultado desta expressão tem valor -5. O número 11012 é a representação do número -5 em
complemento de dois. Diante desses exemplos, fica evidente que a técnica utilizada para gerar o
complemento de dois nos números é essencial para calcular expressões de subtração. Nos exemplos 6 e 7,
mostrou-se que a subtração pode representar números binários positivos e negativos.
O estudo das subtrações é tão importante quanto os relacionados aos somadores, pois suas aplicações
estão diretamente conectadas.
A S
Meio
Subtrator
Paco Giordani Mora (2016)
B BO
O sinal de saída borrow-out (BO) corresponde ao sinal vem-um ou valor emprestado na subtração. Esta
saída é acionada quando o valor de B é maior que o valor de A, pois neste caso não há como subtrair 0 – 1.
Veja a tabela-verdade deste circuito.
A B S B0
0 0 0 0
0 1 1 1
1 0 1 0
1 1 0 0
Tabela 42 - Tabela-verdade do circuito meio subtrator
Fonte: SENAI (2016)
Da tabela-verdade, pôde-se obter as funções lógicas deste circuito. As funções lógicas são dadas por:
A
S
B
Paco Giordani Mora (2016)
BO
O circuito meio subtrator, de certa maneira, é um circuito limitado, pois efetua a subtração de bit a
bit. Quando é realizada a subtração entre mais bits, algumas informações são muito importantes para a
elaboração deste cálculo. A saída B0 deve ser utilizada como informação de entrada de um outro subtrator
quando conectado a um sistema de subtratores em cascata. O sistema em cascata permite que o número
de bits de cada número binário seja maior.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
105
O circuito meio subtrator possui apenas duas informações de entrada, portanto este não é um circuito
muito indicado em sistemas em cascata. O mais indicado para realizar a subtração de números binários
com vários bits é o circuito subtrator completo.
A S
Subtrator
Completo
Bi
Paco Giordani Mora (2016)
B BO
Para realizar uma subtração de números que necessitem de mais bits, é necessário realizar um sistema
em cascata com vários subtratores completos e, se o sistema tiver 3 subtratores, significa que os números
presentes nesta operação terão 3 bits. O número de bits irá definir o máximo valor representado. Caso o
número B seja maior que A, indica que o resultado desta operação é negativo, ou seja, deve-se representar
este sinal.
ELETRÔNICA DIGITAL
106
A3
A2
A1
A0
B3
B2
B1
B0
Bi Bi Bi
3 2 1
A B Bi A B Bi A B Bi A B Bi
BO S3 BO S2 BO S1 SO S0
3 2 1 1
O subtrator em cascata mostra apenas 4 bits, ou seja, pode realizar subtração com números de 4 bits
sem considerar o sinal negativo. Usualmente, os subtratores aplicados em áreas técnicas possuem uma
quantidade de bits muito maior e isso acontece, porque a representação dos números é muito complexa. Os
números presentes em calculadoras, por exemplo, devem possuir uma quantidade de bits para armazenar
o sinal (positivo ou negativo), o módulo, a parte decimal após a vírgula etc. Normalmente, as calculadoras
simples podem realizar operações de subtração com mais de 64 bits e isto exige que os circuitos que
realizem estas operações possuam mais de 64 subtratores.
Nesta seção, você aprendeu como realizar digitalmente duas operações matemáticas muito
importantes: a soma e a subtração. Assim, em virtude de que, às vezes, as informações não surgem de
maneira padronizada, quer dizer, elas são apresentadas de maneira codificada, serão apresentados, nas
seções seguintes, os codificadores e os decodificadores.
2.6.3 CODIFICADORES
Codificadores também são circuitos digitais que podem ser implementados com portas lógicas e sua
função principal é transformar uma informação em um código correspondente.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
107
Os códigos BCD e tabela ASCII são exemplos de códigos utilizados em sistemas digitais. Assim, para
que uma informação seja codificada, é necessário o uso de um codificador, que recebe uma informação
qualquer dada em binário, por exemplo, um conjunto de bits. Neste caso, o codificador terá a função de
traduzir este conjunto de bits para o código binário conhecido nas tabelas-verdade. A fim de entender bem
o conceito do codificador, acompanhe o exemplo a seguir.
B1 B2 B3 S1 S2
0 0 0 0 0
1 0 0 0 1
0 1 0 1 0
0 0 1 1 1
Tabela 43 - Tabela de um codificador de chaves independentes
Fonte: SENAI (2016)
Um circuito digital com 3 entradas deveria possuir 8 possibilidades, no entanto, neste exemplo,
apenas um botão é acionado de cada vez e nunca é acionado mais de um botão simultaneamente. Deste
modo, a análise desta tabela é mais fácil do que a estudada anteriormente. Perceba que, para encontrar a
função lógica de cada saída deste circuito, basta observar para quais sinais S1 e S2 são verdadeiros. Logo,
considere, S1 como verdadeiro quando B2 ou B3 são acionados, e S2 é verdadeiro quando B1ou B3
são acionados. Assim, pode-se dizer que:
S1 = B2 + B3
S2 = B1 + B3
ELETRÔNICA DIGITAL
108
Uma vez encontradas as funções lógicas de S1 e S2, basta montar o circuito com portas lógicas, conforme
segue:
B1 B2 B3
S1
Pelo exemplo exposto, fica claro que um circuito codificador busca estados de entrada e os transforma
no código binário padrão conhecido. Este circuito, com apenas duas portas lógicas OR, pode ser
considerado como um circuito codificador devido ao estado presente em suas saídas. Pode-se dizer que
o estado presente nas chaves foi codificado para o código binário. Para ficar mais claro o estudo sobre os
codificadores, observe este outro exemplo.
Observe que o estado dos níveis lógicos dos sensores (A, B e C) influenciam na velocidade considerada
como um modo de operação codificado em um código binário através das saídas S1 e S2. Leia-se que, para
0 rpm, o código de saída é 002; para 500 rpm, o código de saída é 012; para 1000 rpm, o código de saída
é 102; e, para 2000 rpm, o código de saída é 112. Neste exemplo, não são descritos outros valores para as
entradas (A, B e C), pois outros possíveis resultados não teriam aplicação física na velocidade do motor. É
como se outros valores de entrada não fossem possíveis.
Para implementar este codificador, deve-se utilizar duas portas lógicas: uma porta para a saída S1 e
outra para a saída S2. Na primeira situação, tem-se:
Utilizando os teoremas, postulados e propriedades, a saída S1 pode ser simplificada da seguinte maneira:
Ainda sobre os teoremas, postulados e propriedades, a saída S2 deve ser apresentada conforme segue:
S2 = A · (B · C + B · C)
S2 = A · (B C)
Desta maneira, a saída S1 pode ser escrita como uma lógica AND entre as entradas A e B, enquanto que
a saída S2 pode ser representada por uma lógica XNOR entre B e C junto a uma lógica AND com a entrada A.
Assim como há a etapa de codificação, existem os circuitos que realizam uma operação de decodificação
de acordo com o que você irá conhecer na sequência.
ELETRÔNICA DIGITAL
110
2.6.4 DECODIFICADORES
Os decodificadores são circuitos muito parecidos com os codificadores. A grande diferença entre ambos
é que as entradas de um codificador não são necessariamente um código binário, mas sim, uma informação
binária dentro de uma determinada aplicação, por exemplo, chaves individuais ou sinais de sensores que
atuam de forma independente de um código binário padronizado. No entanto, um circuito decodificador
possui código binário de entrada e irá convertê-lo em um código binário de saída.
A figura, a seguir, demonstra um diagrama geral dos circuitos decodificadores.
Este display é constituído de sete LEDs para a representação de números de 0 a 9. Por isso, é chamado de
display de sete segmentos, sendo encontrado em diversos equipamentos, como, inversores de frequência,
controladores de temperatura, medidores de velocidade, relógios, cronômetros, aparelhos de micro-
ondas, marcadores de pontos para esportes, balanças digitais etc. Existe também um oitavo LED utilizado
para acionar um ponto ao lado do número.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
111
No intuito de acionar este display (Display de 7 segmentos), é necessário compreender sua estrutura.
Assim como os LEDs, os displays também possuem polaridade e, para isso, é necessário observar no
datasheet com componente qual a ligação correta dos pinos positivos e negativos. Essa ligação pode
mudar se o componente for do tipo catodo comum ou ânodo comum.
Como cada segmento é também um LED, é necessário que estes sejam identificados.
A figura, a seguir, mostra a disposição dos LEDs e a pinagem (ou posição) correspondente para cada tipo
de display (catodo ou ânodo comum).
Catodo Anodo
comum comum
g f Gnd a b g f Vcc a b
a a
f b f b
g g
e c e c
e d Gnd c dp e d Vcc c dp
Figura 53 - Pinagem dos dois tipos de displays de 7 segmentos
Fonte: SENAI (2016)
Os displays do tipo catodo comum irá alimentar cada LED com sinal positivo, o sinal comum ou GND
será conectado no comum da alimentação com potencial 0. No caso do display do tipo ânodo comum, o
sinal comum é positivo (VCC) e os segmentos dos LEDs serão conectados aos terminais de potencial 0. Os
LEDs são nomeados da seguinte forma: a, b, c, d, e, f, g e dp.
Observando a figura do display fica claro que para representar o número 0 é necessário que os LEDs (a,
b, c, d, e e f ) estejam ligados. Para formar o número 1, é necessário que apenas os LEDs b e c estejam ligados
e, para facilitar esta análise, considere que os LEDs ligados recebem o valor lógico 1 e quando desligados
recebem o valor lógico 0.
ELETRÔNICA DIGITAL
112
NÚMERO NÚMERO
a b c d e f g
DECIMAL BINÁRIO
0 0000 1 1 1 1 1 1 0
1 0001 0 1 1 0 0 0 0
2 0010 1 1 0 1 1 0 1
3 0011 1 1 1 1 0 0 1
4 0100 0 1 1 0 0 1 1
5 0101 1 0 1 1 0 1 1
6 0110 1 0 1 1 1 1 1
7 0111 1 1 1 0 0 0 0
8 1000 1 1 1 1 1 1 1
9 1001 1 1 1 1 0 1 1
Tabela 45 - Funcionamento do display de 7 segmentos
Fonte: SENAI (2016)
Torna-se importante notar que na tabela apresentada não foi utilizado o LED responsável pela
representação de um ponto.
Em circuitos digitais, o número é processado em linguagem binária, ou seja, um algarismo com 4 bits,
mas a representação do display requer 7 sinais. E, ao observar este sistema, fica claro que este circuito terá
4 entradas e 7 saídas. Por essa razão, o decodificador terá a função de transformar a informação do código
binário de entrada (números correspondentes em binário) em sinais para os LEDs correspondentes.
Realizando uma análise de simplificação de circuitos combinacionais por Mapas de Karnough, tem-se
o circuito decodificador para o display de 7 segmentos, que está representado pelo seguinte conjunto de
portas lógicas.
DCB A
e
Paco Giordani Mora (2016)
B 1 16 VDD
C 2 15 f
LT 3 14 g
BL 4 13 a
LE / STROBE 5 12 b
Catodo comum
a b c d e f g
Resistores
13 12 11 10 9 15 14
7
A
1 5
B
2 4511 8
C
6
D
3 4 16
0V
+ 5V
Neste exemplo, você identificou como representar os números de 0 a 9 no decodificador, que os displays
de 7 segmentos também são capazes de representar algumas letras (A, B, C, D, E e F) e, para descrever estes
valores, deve inserir alguns dados de entrada que correspondam ao código de saída de cada letra. Para
entender melhor este conceito, veja o seguinte exemplo.
X Y Z LETRA a b c d e f g
0 0 0 ‘0’ 1 1 1 1 1 1 0
0 0 1 A 1 1 1 0 1 1 1
0 1 0 B 0 0 1 1 1 1 1
0 1 1 C 1 0 0 1 1 1 0
1 0 0 D 0 1 1 1 1 0 1
1 0 1 E 1 0 0 1 1 1 1
1 1 0 F 1 0 0 0 1 1 1
1 1 1 ‘-‘ 0 0 0 0 0 0 1
Tabela 46 - Decodificador para a representação de letras em um display
Fonte: SENAI (2016)
Note, nesta tabela, que as entradas X, Y e Z decodificam o código binário em um código especial para o
display de 7 segmentos mostrar os algarismos A, B, C, D, E, e F. Repare que foram adicionados dois caracteres
especiais: o símbolo ‘0’ e o símbolo ‘-‘. Assim como exposto anteriormente, cada uma das saídas a, b, c, d, e,
f e g devem possuir um circuito combinacional antes de ser conectado no display. Partindo dessa premissa,
as expressões de cada saída podem ser dadas por:
2 LÓGICA COMBINACIONAL
115
Observe que todas estas equações ainda não foram simplificadas. Assim, utilizando qualquer técnica de
simplificação de circuitos combinacionais, você pode otimizar estas funções lógicas para os LEDs do display
de 7 segmentos.
O circuito decodificador da representação das letras não será demonstrado aqui, mas você pode tentar,
conforme já mencionado, implementar este circuito através de um software de simulação de circuitos
digitais online, como o 123d circuits da AutoDesk©. Este será um ótimo exercício para melhorar sua
experiência com o projeto de circuitos. Gostou do desafio? Então mãos à obra!
Certamente você já se deparou com um display de 7 segmentos em algum equipamento que você
tem em casa ou no trabalho, mas não fazia ideia que seu acionamento dependia de um circuito chamado
decodificador. Nesta seção, você viu que, além dos números decimais, o display de 7 segmentos também
representa algumas letras. Atualmente, existem displays especiais com mais segmentos, que são capazes
de mostrar todas as letras do alfabeto. A próxima seção irá apresentar dois novos circuitos combinacionais:
o multiplexador e o decodificador.
2.6.5 MULTIPLEXADORES
E0
Entradas Saída
MUX S
Paco Giordani Mora (2016)
E1 A
Seleção
Figura 57 - Multiplexador de dois canais
Fonte: SENAI (2016)
O multiplexador da figura apresenta apenas dois canais de entrada: E0 e E1. A variável de seleção (A)
pode assumir dois valores (0 ou 1). Quando a variável de seleção A for igual a zero, a saída S irá receber o
valor contido na entrada E0 e quando a variável A for igual a um, a saída S irá receber o valor contido na
entrada E1.
ELETRÔNICA DIGITAL
116
As possibilidades em relação ao número de entradas e saídas de multiplexador de dois canais pode ser
dada através da tabela, a seguir.
A S
0 E0
1 E1
Tabela 47 - Tabela-verdade do mux de dois canais
Fonte: SENAI (2016)
A expressão deve ser descrita através de portas lógicas, conforme a figura que segue.
E0
S
Ana Cristina de Borba (2016)
E1
É interessante notar que a seleção ocorre com o auxílio de portas lógicas do tipo AND. A variável A pode
impedir que o sinal de uma porta AND seja igual a 1. Observe que sempre existirá uma entrada seleciona-
da, ou seja, a saída S sempre irá receber o valor de algum canal de entrada. A porta lógica OR, neste circuito,
irá receber e direcionar o sinal para a saída S.
A B S
0 0 E0
0 1 E1
1 0 E2
1 1 E3
Tabela 48 - Tabela-verdade de um multiplexador de 4 canais de entrada
Fonte: SENAI (2016)
Conforme mencionado para um multiplexador de 8 canais de entrada, são necessárias 3 variáveis para
realizar a seleção. Neste exemplo, as variáveis A, B e C são responsáveis pela seleção. A tabela-verdade
deste multiplexador pode ser visualizada a seguir.
A B C S
0 0 0 E0
0 0 1 E1
0 1 0 E2
0 1 1 E3
1 0 0 E4
1 0 1 E5
1 1 0 E6
1 1 1 E7
Tabela 49 - A tabela-verdade de um mux de 8 canais de entrada
Fonte: SENAI (2016)
Os multiplexadores podem ser utilizados em circuitos digitais de aplicações como: redes industriais,
seleção de vários computadores no acionamento de uma impressora, circuitos geradores de função (formas
de onda), sequenciamento de operações pré-programadas, gerenciamento de memórias, dentre outros.
Como os multiplexadores apresentam uma série de aplicações, representam circuitos dedicados na forma
de circuitos integrados. Um circuito multiplexador muito utilizado é o circuito DM74150, que tem um total
de 24 pinos, incluindo 16 canais de entrada, 4 canais de seleção, pinos de alimentação e habilitação.
ELETRÔNICA DIGITAL
118
Os multiplexadores são muito importantes para a transmissão de dados de maneira serial. Para fortalecer
estes conceitos, analise o seguinte exemplo.
De maneira geral, observa-se que a única prateleira que não possui uma peça é a posição 4 do armazém.
Neste caso, para que o robô saiba qual prateleira está disponível, ele irá consultar todos os canais de entrada
pela saída S do multiplexador. Desta maneira, o robô irá verificar os estados da saída S conforme a tabela
a seguir:
A B S
0 0 1
0 1 1
1 0 1
1 1 0
Tabela 51 - Saída do multiplexador do armazém
Fonte: SENAI (2016)
Neste exemplo, o robô irá inserir uma nova peça na prateleira 4, pois era a única posição do armazém
disponível. Sistemas como este são muito aplicados em processos de manufatura, em que o número de
entradas é muito grande em relação à capacidade de leitura de um determinado equipamento.
O exemplo mostrado, de certa forma, é simples, mas imagine um armazém com cerca 100 ou 1000
diferentes posições. Certamente o uso dos multiplexadores, nestes casos, torna o processo muito mais
eficiente e barato, visto que a comunicação é dada por apenas os canais de seleção e um único canal de
saída.
Os circuitos multiplexadores orientam um determinado número de entradas para uma única saída.
Há, também, um equipamento eletrônico chamado de demultiplexador, que faz a função inversa, ou seja,
orienta uma única entrada para diversas saídas. Acompanhe informações adicionais desse componente
eletrônico na próxima seção.
2.6.6 DEMULTIPLEXADORES
Também conhecido como demux, os demultiplexadores são circuitos combinacionais que realizam a
seleção de uma única entrada para diversas saídas. Os circuitos demultiplexadores são caracterizados por
possuir uma única entrada, canais de seleção e canais de saída. Também são circuitos que realizam uma
função semelhante aos multiplexadores, sendo que a diferença está no número de entrada e no número
de saídas.
ELETRÔNICA DIGITAL
120
O demux mais simples possui dois canais de saída, como pode ser visualizado na figura, a seguir.
S0
DEMUX
S1
Para o demux de dois canais de saída, a variável E é a única entrada do sistema, enquanto que os canais
S0 e S1 são as saídas. A variável A serve de parâmetro de seleção, portanto o funcionamento do demux de
dois canais pode ser visto na tabela-verdade, a seguir.
A S0 S1
0 E 0
1 0 E
Tabela 52 - Tabela-verdade de um demux de dois canais
Fonte: SENAI (2016)
Como o demux de dois canais possui duas saídas, em que cada saída terá sua função lógica
correspondente, que serão:
2 LÓGICA COMBINACIONAL
121
Desta forma, o circuito com portas lógicas proveniente do demux será dada conforme a figura a seguir.
S0
S1
Observe que este é um circuito com duas saídas e sua seleção é implementada com o auxílio de portas
AND.
CANAIS DE
SELEÇÃO (X)
SAÍDA (Y)
1 2
2 4
3 8
4 16
5 32
Tabela 53 - Relação seleção vs canais de saída
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
122
Os demultiplexadores podem ser conectados com outros demultiplexadores a fim de criar circuitos
maiores. Desta forma, pode-se utilizar 2 demux de 4 canais para formar um único demux de 8 canais. Os
demultiplexadores são circuitos que possuem uma infinidade de aplicações na indústria e são utilizados
em canais de comunicação de dados, otimização de circuitos, memórias etc. Como este tipo de circuito tem
uma vasta aplicação, existem CIs dedicados com a estrutura de um demultiplexador. Um bom exemplo é o
circuito integrado DM74154.
INPUTS OUTPUTS
VCC A B C D G2 G1 15 14 13 12 11
24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13
1 2 3 4
Este circuito integrado é um demultiplexador de 16 canais de saídas, portanto terá 4 pinos para realizar a
seleção destes sinais. Existem dois pinos para alimentação do circuito (VCC e GND), além de dois pinos para
habilitar e configurar as saídas (G1 e G2). No intuito de compreender bem o conceito, o funcionamento e
aplicação de um circuito demultiplexador, leia o exemplo a seguir.
A fim de realizar o acionamento destas bombas, um sistema automático configura os canais de entrada
do demultiplexador selecionando a bomba desejada. Diante do exposto, é verificado, na central de
abastecimento, que o consumo de água em uma determinada hora do dia está no nível alto. O sistema
automático irá configurar o demultiplexador conforme a sequência apresentada na tabela.
A B E S0 S1 S2 S3
0 0 1 1 0 0 0
0 1 1 0 1 0 0
1 0 1 0 0 1 0
1 1 0 0 0 0 0
Tabela 54 - Acionamento sequencial de bombas através do multiplexador
Fonte: SENAI (2016)
Observe que o sistema utiliza os canais de entrada do demultiplexador para acionar sequencialmente
os três primeiros motores. Em sistemas como esse, é interessante que as bombas sejam acionadas uma
de cada vez. O acionamento simultâneo de motores de alta potência poderia provocar um alto nível de
corrente de partida, prejudicando a instalação elétrica.
Os canais de entrada também podem ser utilizados para equilibrar o uso e a eficiência do processo. É
interessante que exista um equilíbrio no uso destas bombas, ou seja, não é recomendável que uma bomba
trabalhe muito e outra pouco. Desta maneira, as chaves seletoras podem auxiliar na melhor distribuição
do acionamento dos motores e, ao invés de acionar o motor 1 para o consumo baixo, pode ser acionado o
motor 4, por exemplo.
Outro aspecto importante deste exemplo é que, em casos onde um dos motores precise ser substituído
ou deva sofrer uma manutenção preventiva, o motor pode ser atendido sem problemas, pois o demux
pode selecionar outro motor para atuar em seu lugar.
Uma aplicação muito utilizada em circuitos digitais é o processo de multiplexação de um dado e ao
mesmo tempo este sinal sofrer uma demultiplexação. Este tipo de abordagem será tratado a seguir e, neste
caso, deve ser utilizada a associação de mux e demux.
E0 S0
DEMUX Saídas
Entradas
MUX S E
A partir da figura, é possível notar que a informação presente nas entradas do mux percorre um único fio
condutor que irá ser direcionado para a saída do demux correspondente. Observe que o canal de seleção
A é comum para ambos os circuitos. Isto significa que o estado presente em E0 será transmitido para S0
e, consequentemente, o estado de E1 será transmitido para a saída S1. Este circuito é muito utilizado para
a otimização de espaço e redução de custos em projetos de equipamentos eletrônicos. Quando o sinal
percorrer um grande espaço físico, um único fio condutor diminui custo com fios e materiais para produzir
circuitos eletrônicos em geral e este tipo de transmissão está configurado em série. A fim de compreender
bem este conceito da transmissão em série veja o seguinte exemplo.
De maneira geral, este processo fará com que a informação dos sensores desta linha de produção
chegue ao controlador de maneira sequencial, ou melhor, a informação chegará uma de cada vez. A fim de
entender este processo, veja a tabela a seguir:
E0 E1 E2 E3 A B S0 S1 S2 S3
1 0 1 0 0 0 1 0 0 0
1 0 1 0 0 1 0 0 0 0
1 0 1 0 1 0 0 0 1 0
1 0 1 0 1 1 0 0 0 0
Tabela 55 - Transmissão série utilizando mux e demux
Fonte: SENAI (2016)
Conforme os canais de seleção (A e B) vão comutando os estados, o sinal dos canais de entrada é
direcionado para o canal de saída correspondente. Além disso, as informações não chegam ao mesmo
tempo aos pinos de saída, porém a velocidade em que são difundidas podem ser tão altas que, para alguns
processos a transmissão, é quase instantânea.
Nesta seção, você aprendeu sobre circuitos integrados de funções lógicas combinacionais. Todos
estes circuitos, de alguma forma, produzem algum tipo do tratamento de informações, sejam circuitos
somadores, subtratores, codificadores, decodificadores, multiplexadores ou demultiplexadores. Você pôde
aprender que muitos destes circuitos podem realizar suas operações de bit a bit, mas, se interligados em
cascata, devem aumentar sua capacidade de atuação, ou seja, podem lidar com mais informações. Dentre
todos estes conhecimentos, foi possível observar que a alta aplicação destes circuitos, na área técnica,
gerou a necessidade da criação de circuitos integrados especiais.
Tratando-se de CIs, a próxima seção será responsável por lhe mostrar a tecnologia desses componentes,
apresentando suas principais características, suas classificações e compatibilidade. Todos estes conheci-
mentos são muito importantes na hora de projetar ou montar circuitos na prática. A tecnologia dos CIs
também pode ser chamada de família lógica.
Nesta seção, você irá entender como é classificada a tecnologia das portas lógicas, que pode ser chamada
de família lógica. Neste sentido, serão apresentadas as principais diferenças entre as duas tecnologias
envolvidas no processo de fabricação desses componentes, além de abordar o que são folhas de dados e a
compatibilidade que existe entre os diferentes circuitos integrados.
ELETRÔNICA DIGITAL
126
2.7.1 TIPOS
Em todos os circuitos digitais estão presentes pelo menos um componente: o transistor. Este
componente foi um divisor de águas na história da eletrônica, substituindo a válvula e revolucionando os
sistemas digitais com maior eficiência e menores custos e tamanhos.
Imagine que em pelo menos um espaço de memória do computador exista um transistor e essa memória
pode ser chamada de bit. Uma memória de 1GB tem no mínimo 8 bilhões de bits, ou seja, mais de 8 bilhões
de transistores. Com todo esse avanço em termos de tamanho do transistor, os processadores e dispositivos
com memória tiveram um crescimento imensurável no decorrer das décadas após sua descoberta.
Formados por transistores, os circuitos das portas lógicas mais difundidos podem pertencer a duas
famílias: a TTL e a CMOS. Outras famílias, como BiCMOS e ECL, por serem menos utilizadas, não serão
tratadas neste livro. Essa divisão em famílias se dá de acordo com seu aspecto construtivo e funcionamento.
FAMÍLIA TTL
A sigla TTL vem da língua inglesa Transistor-Transistor-Logic, que em português significa Lógica Transistor-
-Transistor. Os níveis lógicos de um circuito lógico criado com a família TTL pode variar de acordo com o
nível de tensão aplicado nos seus terminais de entrada ou saída. Para compreender este conceito, observe
o gráfico a seguir.
A partir da figura, compreende-se que os níveis de tensão proporcionais a determinados níveis lógicos
para a entrada não são os mesmos para a saída. A entrada de um circuito digital terá nível lógico 1 se a
tensão aplicada for entre 2 V e 5 V. A entrada terá nível lógico 0, se a tensão aplicada for entre 0 e 0,8 V. Mas,
os níveis de tensão de saída podem sofrer uma pequena mudança. Logo, quando o nível lógico na saída é
1, a tensão pode variar entre 2,4 V e 5V enquanto que o nível lógico 0 permite que a tensão varie entre 0,3
V e 0,5 V.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
127
Quando a entrada do circuito tem uma tensão entre 0,8 e 2 V, o circuito não consegue identificar se
o nível lógico é 0 ou 1. Portanto, para determinados projetos, deve-se estar atento ao nível de tensão
presente nas entradas, respeitando os níveis adequados.
Quando você encontrar um componente eletrônico da família TTL, verá que existem diversos códigos.
Estes códigos se referem a uma identificação que existem para algumas subdivisões destas famílias. Em geral,
a família TTL é dividida em dois principais grupos, representados pelos códigos 74 e 54. Os componentes
que possuírem o valor 74 no começo do código podem ser utilizados para condições normais, enquanto
que os componentes com códigos 54 podem ser utilizados para condições mais hostis.
Além do código inicial (74 ou 54), os componentes possuem algumas siglas responsáveis pelo
desempenho de velocidade e consumo dos componentes. A velocidade do componente é dada pelo
atraso que existe entre o sinal de entrada e o sinal de saída, sendo que este atraso pode ser medido em
segundos. O consumo de energia se dá pela quantidade de potência que o circuito pode consumir, em
que a unidade de medida é obtida em watts. O quadro, a seguir, mostra estes valores de desempenho de
acordo com cada sigla.
Agora que você conhece uma das principais características da família TTL, torna-se importante conhecer
também as características principais da família CMOS. A seguir, serão apresentadas algumas informações
sobre esta tecnologia.
FAMÍLIA CMOS
A sigla CMOS vem da língua inglesa Complementary Metal Oxide Semiconductor, que em português
significa Semicondutor de Óxido-Metal Complementar. As principais características da família CMOS são o
baixo consumo de corrente, menor propensão a ruídos e alta faixa de tensão de alimentação dos circuitos.
ELETRÔNICA DIGITAL
128
Os níveis de tensão responsáveis pelos níveis lógicos 0 e 1 podem variar de fabricante para fabricante,
do valor de tensão de alimentação dos circuitos e da temperatura ambiente. A família CMOS possui três
principais séries comerciais, sendo elas: 4000A, 4000B e 54C/74C. Assim, como a família TTL, a família CMOS
também possui alguns circuitos especiais, como a família 74HC/74HCT, que tem alto desempenho em
velocidade.
De maneira geral, a família CMOS possui uma tecnologia mais avançada, com melhores parâmetros de
desempenho. Tudo isso deve-se à sua construção, pois o transistor utilizado no seu desenvolvimento possui
uma tecnologia chamada de MOSFET (Metal–Oxide–Semiconductor Field-Effect Transistor, ou Transistor
de Efeito de Campo Metal-Óxido-Semicondutor). A utilização deste transistor possibilita a este circuito
algumas vantagens.
A saída de cada circuito integrado pode ser conectada a um número máximo de circuitos e essa
limitação se deve à quantidade de corrente de saída disponível por componente. Usualmente os circuitos
do tipo CMOS possuem uma capacidade maior (faixa de tensão) do que circuitos da família TTL. A tensão
de trabalho da família CMOS pode variar em tensões máximas próximas a 18 V e tensões mínimas próximas
a 3 V.
A tecnologia do transistor MOSFET e a menor quantidade de componentes no interior dos circuitos
CMOS possibilita a estes circuitos uma menor faixa de consumo de potência. A utilização do MOSFET ainda
garante uma outra grande vantagem, que é a alta imunidade a ruídos.
Com os conceitos principais sobre as famílias lógicas, você está pronto para estudar um dos principais
aspectos da eletrônica digital prática. Mas, quando são construídos circuitos digitais, é necessário que se
conheça a estrutura de cada componente que, por sua vez, possui diferentes características e ligações,
dependendo do fabricante ou do código padrão. E todas estas informações estão presentes na folha de
dados.
O estudo de uma folha de dados pode ser aprimorado se você levar a eletrônica digital à prática. Alguns
circuitos serão mais familiares à medida que os utiliza em seus projetos, protótipos ou simulações. Porém,
depois conhecer a folha de dados de um componente, como uma porta OR, ou uma porta AND, será cada
vez mais rápido o estudo para outros elementos.
Destaca-se que a maioria das folhas de dados é escrita em língua inglesa. Portanto, mesmo que você
não domine o idioma, deve ficar atento aos seus principais termos. Diante do exposto, veja um exemplo de
uma folha de dados de uma porta NAND da família lógica TTL da empresa National Semiconductor.
National Semiconductor 1
54AC10 2
Triple 3 - Input NAND Gate
General Description Outputs source/sink 24 mA
The ‘AC10 contains three, 3 - input NAND gates. Standard Military Drawing (SMD)
- ‘AC10: 5962-87610
Features 3
For Military 54ACT10 device see
Icc reduced by 50% on 54AC only the 54ACTQ10
C1 C1 B2
A2 O1 C2
B2 O2 GND O2
C2
Na figura apresentada torna-se possível identificar diversos aspectos. Em (1), observa-se o fabricante
do componente eletrônico, neste caso, National Semiconductor. Em (2), a folha de dados mostra o código
do componente, 54AC10 que corresponde a um CI contendo 3 portas lógicas NAND com 3 entradas. Esta
informação é dada pela expressão General Description (que em português significa Descrição Geral).
Em uma folha de dados, estão presentes alguns aspectos apresentados em (3) pela expressão Features
(ou características). Em (4), é possível observar a simbologia ANSI/IEEE e a pinagem do circuito de acordo
com as entradas e saídas do circuito, bem como os pinos de alimentação VCC e GND.
ELETRÔNICA DIGITAL
130
Os principais dados presentes em uma folha de dados são as Condições de Operação Recomendadas
(Recommended Operating Conditions) e as Classificações Máximas Absolutas (Absolute Maximum Ratings).
Na figura, a seguir, são mostrados alguns exemplos.
Em (4), são apresentadas as classificações máximas absolutas e em (5) são mostrados os valores de
condição de operação recomendados. Os termos são tidos em inglês, portanto fique atento às seguintes
expressões:
a) Supply Voltage (VCC) – Tensão de alimentação do circuito, dado em Volts em corrente contínua;
b) DC Input Current (mA) – Corrente de entrada, dada em miliamperes em corrente contínua;
c) DC Output Current (mA) – Corrente de saída, dada em miliamperes em corrente contínua;
d) DC Input Voltage (VI) - Tensão de entrada, dada em volts em corrente contínua;
e) DC Output Voltage (VO) – Tensão de saída, dada em volts em corrente contínua;
f ) Temperature – Temperatura, dada em graus Celsius;
g) Operating temperature – Temperatura de operação normal, dada em graus Celsius;
h) Minimum Input Edge Rate (ΔV/Δt) – Taxa de borda de entrada mínima. Este parâmetro refere-se
à resposta em segundos que o circuito oferece de acordo com a tensão de entrada. A unidade de
medida deste parâmetro é dada em Volts por segundo.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
131
Estes critérios são de real importância quando você for criar seus primeiros projetos. A folha de dados
auxiliará a descobrir desde a família do CI em questão até os seus valores de alimentação e operação. Outro
parâmetro importante encontrado no datasheet é o atraso de propagação.
AC Eletrical Characteristics
54AC
VCC TA = -55°C
(V) to + 125°C Fig.
Symbol Parameter Units No.
(Note 5) CL = 50 pF
6 Min Max
tPLH 3.3 1.0 11.0 ns
Propagation Delay
De maneira geral, considera-se que os valores de entrada presentes nas portas lógicas são processados
de maneira imediata, ou seja, a resposta da saída em relação à entrada é instantânea. Fisicamente, existe
um atraso na propagação do sinal. Em (6), os valores de tPLH e tPHL informam valores máximos e mínimos de
propagação de acordo com a tensão de alimentação do circuito.
Outro dado importante presente na folha de dados é sua forma construtiva externa. Esta forma
construtiva não será abordada neste LD, mas esta informação é importante, caso você precise dimensionar
tamanhos de placas de circuito impresso, para tornar mais prático seus projetos e protótipos.
Nesta seção, você descobriu como realizar a leitura de uma folha de dados (também conhecida como
datasheet). Você pôde observar que nestas folhas existem informações precisas sobre o componente. Da
mesma forma que foi apresentado um exemplo de datasheet, você pode buscar outras folhas de dados
presentes nos sites de fabricantes toda vez que utilizar um CI em seu projeto.
Até agora, as famílias lógicas foram estudadas de maneira separadas. É importante observar que os
níveis de tensão abordados para cada família lógica são diferentes. Desta maneira, deve-se tomar muito
cuidado quando utilizar CIs de famílias diferentes em um mesmo projeto. Na próxima seção, você verá que
existem CIs CMOS que são compatíveis com a família TTL.
ELETRÔNICA DIGITAL
132
2.7.3 COMPATIBILIDADE
Como visto nas seções anteriores, existem muitas diferenças entre circuitos da família TTL e CMOS. Deve-
-se tomar muito cuidado com os níveis de tensão exigidos pelas entradas e saída de cada circuito. Quando
em um projeto são utilizados apenas circuitos da família TTL, esses cuidados não são tão necessários. O
mesmo se deve quando em um projeto são utilizados apenas circuitos da família CMOS. A princípio, os
níveis de tensão e corrente são padronizados para ambos os casos. Existe uma grande dificuldade e que
exige atenção ao se utilizar circuitos lógicos de famílias diferentes em apenas um projeto.
Para analisar a compatibilidade que existe entre uma família e outra, deve-se pensar onde cada porta
lógica está inserida no projeto, ou seja, qual porta lógica está sendo acionada. Desta maneira, a análise terá
como contexto principal duas situações: um circuito TTL acionando uma carga CMOS e um circuito CMOS
acionando uma carga TTL.
Diante desta análise Tocci e Widmer (2003, p. 409) dizem que se deve “[...] verificar se o dispositivo
acionador pode satisfazer os requisitos de corrente e tensão do dispositivo de carga”. Para que esta
observação seja completa, apresenta-se uma tabela com as séries das famílias CMOS e TTL, contendo as
informações de tensões máximas e mínimas de acordo com o nível lógico.
CMOS TTL
Parâmetro 4000B 74HC 74HCT 74AC 74ACT 74AHC 74AHCT 74 74LS 74AS 74ALS
VIH (mín) 3,5 3,5 2,0 3,5 2,0 3,85 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0
VIL (máx) 1,5 1,0 0,8 1,5 0,8 1,65 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8
VOH (mín) 4,95 4,9 4,9 4,9 4,9 4,4 3,15 2,4 2,7 2,7 2,5
VOL (máx) 0,05 0,1 0,1 0,1 0,1 0,44 0,1 0,4 0,5 0,5 0,5
Tabela 56 - Níveis de tensão (em volts) de entrada e saída com VCC = 5V
Fonte: Tocci e Widmer (2003)
Os valores de corrente das famílias lógicas e suas respectivas séries também podem ser vistos através
de uma tabela semelhante. As tabelas de tensão e corrente foram consideradas com alimentação igual a 5
V, para respeitar os níveis de operação de tensão padrão da família TTL.
CMOS TTL
Parâmetro 4000B 74HC/HCT 74AC/ACT 74AHC/AHCT 74 74LS 74AS 74ALS
IIH (máx) 1 μA 1 μA 1 μA 1 μA 40 μA 20 μA 20 μA 20 μA
IIL (máx) 1 μA 1 μA 1 μA 1 μA 1,6 mA 0,4 mA 0,5 mA 100 μA
IOH (máx) 0,4 mA 4 mA 24 mA 8 mA 0,4 mA 0,4 mA 2 mA 400 mA
IOL (máx) 0,4 mA 4 mA 24 mA 8 mA 16 mA 8 mA 20 mA 8 mA
Tabela 57 - Correntes de entrada e saída para dispositivos padrão com uma tensão de VCC=5V
Fonte: Tocci e Widmer (2003)
2 LÓGICA COMBINACIONAL
133
Destaca-se que circuitos da mesma família lógica são projetados para atuarem na mesma faixa de
tensão e corrente. O único detalhe na construção de circuitos de mesma família é o parâmetro fan-out (que
significa espalhar), que é a relação da corrente de saída de um circuito com base na corrente de entrada. Se
você quiser montar um circuito TTL 74 e deseja saber quantas portas lógicas podem ser acoplados em uma
única saída, deve realizar a seguinte análise:
IOL = 16 mA (máximo valor presente na saída de uma porta lógica em nível baixo)
IIL = 1,6 mA (máximo valor presente na entrada de uma porta lógica em nível baixo)
Desta maneira, o fan-out em nível baixo pode ser dado pela seguinte expressão:
O fan-out em nível alto também será 10 para a família TTL 74. Observe que esta técnica pode ser aplicada
para circuitos de mesma família de séries diferentes ou até mesmo circuitos de famílias diferentes. Com
base neste novo conceito, observe a compatibilidade entre CMOS e TTL.
ELETRÔNICA DIGITAL
134
Do mesmo modo, deve-se observar os valores de tensão de entrada do circuito CMOS. Assim, tem-se:
Perceba que as tensões de saída do circuito TTL são menores do que as tensões de entrada do circuito
CMOS.
Neste caso, para que se possa utilizar ambos as famílias lógicas no mesmo circuito, a saída do circuito
TTL deve ser adequada ao valor de entrada do circuito CMOS. Esta adequação pode ser realizada utilizando
um resistor pull-up ou um circuito regulador de tensão mais avançado. A técnica de adequação do valor de
tensão não será abordada neste LD, mas torna-se importante que você saiba como identificar se o circuito
precisará da adequação de tensão. Veja agora quando um circuito CMOS aciona um circuito TTL.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
135
IIH (máx) = 40 μA
IIL (máx) = 1,6 mA
Em nível alto IOH > IIH, pois 0,4 mA > 40 μA. Desta maneira, não haveria problema algum em realizar o
acionamento e este circuito em nível alto, ainda seria possível acoplar 10 circuitos em sua saída de acordo
com seu fan-out. O problema é quando este acionamento é realizado em nível baixo. Observe os níveis de
corrente e as seguintes comparações:
Deste modo, o circuito CMOS não tem corrente o suficiente para acionar nem um único circuito TTL
74. Para que este processo seja possível, é necessário que haja uma adequação do nível de corrente e
essa adequação é dada através de um circuito chamado buffer (amortecedor em português). O circuito
buffer mantém o mesmo nível de tensão de saída, mas possui uma alimentação extra, que pode suportar o
nível de tensão exigido pela porta TTL. O circuito buffer também pode ser utilizado em circuitos de mesma
família e aumentar a relação do fan-out.
Observando que existe uma incompatibilidade razoável e muito presente entre os circuitos CMOS e
TTL, os fabricantes de circuitos integrados produziram uma tecnologia CMOS que dispõe os níveis de
tensão e corrente compatíveis com a família TTL. Esta série da família CMOS tem o código 74HCT, que pode
ser utilizado como um circuito TTL normal, ou seja, não possui nenhum tipo de restrição ou adequação,
contanto que o circuito seja alimentado com tensão de operação exigida pelo fabricante e respeite o nível
máximo de fan-out.
ELETRÔNICA DIGITAL
136
Aqui se encerra o segundo capítulo deste livro. O que você aprendeu até aqui é muito importante
para compreender os principais conceitos da próxima seção. Mas, para refrescar um pouco a memória e
fortalecer alguns conceitos, você está convidado a fazer uma pequena revisão.
RECAPITULANDO
A lógica combinacional pode ser definida como a utilização de circuitos lógicos para realizar
operações e funções. Foram conhecidos diversos circuitos que realizam funções como AND, OR,
NOT, XOR e XNOR. Essas lógicas apresentadas podem ser implementadas em aplicações industriais
ou até mesmo pequenas aplicações. Para realizar algumas destas aplicações, foi apresentado
como analisar, projetar e simplificar estes circuitos digitais. Você contou com o auxílio de técnicas
clássicas de otimização de circuitos que são essenciais no desenvolvimento de circuitos lógicos.
Você estudou também que os números podem ser representados em diferentes sistemas: binário,
decimal e hexadecimal, e que os sistemas de numeração mais aplicados são os sistemas binário e
decimal. Você aprendeu que o sistema binário pode assumir diferentes conceitos, se for analisado
do ponto de vista dos níveis lógicos. O código binário, além de representar números decimais
conhecidos, é utilizado em aplicações da tecnologia da informação e sistemas na representação de
vários códigos de leitura, escrita e processamento de dados. Os códigos BCD e ASCII são aplicados
em, praticamente, todos os sistemas operacionais de computadores e equipamentos eletrônicos.
No decorrer do livro, você pôde perceber que os circuitos combinacionais assumem diferentes
aplicações, como operações matemáticas de soma e subtração. Foram apresentados os dados
binários, que podem ser codificados e decodificados para determinadas aplicações, ou seja,
podem ser traduzidos para aplicações específicas em um sistema. Um bom exemplo disso foi a
apresentação do display de 7 segmentos. Dados presentes em circuitos devem ser selecionados e
transmitidos de maneira otimizada com o auxílio de multiplexadores e demultiplexadores.
Foi estudado que todos os circuitos apresentados aqui possuem aplicações das mais variadas
e, portanto, apresentam circuitos exclusivos que desempenham suas funções principais. Estes
circuitos são chamados de integrados. Hoje existem circuitos integrados de diversos circuitos
combinacionais, desde a simples porta lógica NOT, até o mais complexo sistema multiplexado, que
são construídos acordo com famílias lógicas que determinam a tecnologia e os níveis de tensão
elétrica de todos estes componentes. Você leu também que, neste contexto, existem folhas de dados
de cada circuito em que estão inseridas as principais características de construção, funcionamento
e tecnologia. O estudo das folhas de dados é de real importância no desenvolvimento de projetos
e essencial para a otimização de circuitos digitais.
2 LÓGICA COMBINACIONAL
137
O próximo capítulo irá contemplar uma abordagem mais ampla dos circuitos digitais. Você estudará
que a lógica combinacional é a essência de uma nova abordagem da eletrônica digital, conhecida
como lógica sequencial, e assim como as portas lógicas estão vigentes na maioria dos circuitos
combinacionais, também estão presentes os circuitos sequenciais. Está preparado? Então siga em
frente com seus estudos!
Lógica Sequencial
3.1 FLIP-FLOPS
O primeiro circuito sequencial a ser estudado é o flip-flop, também conhecido como biestável ou
multivibrador. Segundo Lourenço et al. (2007, p. 207, grifo do autor), “O flip-flop tem como função armazenar
níveis lógicos temporariamente, ou seja, funciona como um elemento de memória”. Nesta seção, pode-se
abreviar o termo flip-flop pela sigla FF.
Uma das principais características dos flip-flops é que estes circuitos possuem dois canais de saída,
normalmente, representados pelas letras Q e Q . O canal de saída Q é o inverso da saída Q. Quando a saída
Q ter nível lógico 0, a saída Q terá nível lógico 1, e vice-versa.
Uma outra característica importante dos flip-flops é a entrada clock (relógio), que irá controlar o tempo
do circuito sequencial. Mas que tempo é esse? De maneira geral, essa entrada permite que o flip-flop
sofra uma mudança de estado, ou seja, mude de 0 para 1 ou de 1 para 0. Dependendo da característica
de operação do flip-flop e do nível lógico presente nas entradas digitais, os canais de saída mudarão
de estado somente se o clock permitir. Pode-se pensar que a entrada clock irá regular a velocidade de
processamento do flip-flop, ou seja, é ela quem define o tempo de mudança de estados. Nesta seção,
serão demonstradas, inicialmente, as características de operação sem o uso do clock. Esta abordagem será
realizada, porque é necessário aprender, primeiramente, o funcionamento do FF e depois sua operação
real no ponto de vista temporal.
Os flip-flops possuem algumas variações em relação às suas características de operação. Existem, então,
flip-flops do tipo RS, JK, D e T e estas variações são causadas pela estrutura interna de cada FF. Será visto
que, internamente, os FFs são constituídos por portas lógicas e, por isso, cada modo de operação terá
uma ligação diferente. Nas seções, a seguir, você estudará cada um destes tipos de biestáveis, sendo que
os modos de operação irão sofrer algumas mudanças de acordo com sua disposição de entradas, pinos
auxiliares, efeito do sinal de clock, aplicações etc.
Busque compreender ao máximo o funcionamento de cada modo de operação dos FFs, pois estes
serão utilizados nos demais temas e expressões apontados neste capítulo, como os temporizadores, os
contadores e registradores.
Assim, na sequência, você irá estudar o conceito básico de flip-flop e as suas variações. A seguir, serão
apresentadas, de forma mais detalhada, as características da operação tipo RS. Você está preparado? Então
siga em frente com seus estudos.
Como a maioria dos circuitos apresentados neste livro, os flip-flops também são constituídos por portas
lógicas, sendo que os FFs tipo RS podem ser construídos através de portas lógicas do tipo NAND e algumas
do tipo NOT. Uma característica presente em todos os FFs é a realimentação, ou seja, quando os
estados de saída atuais influenciarão no estado de saída futura.
ELETRÔNICA DIGITAL
142
Entrada
Realimentação
Figura 68 - Funcionamento de um circuito sequencial
Fonte: SENAI (2016)
Esta característica retroativa é determinada por meio de elos de realimentação. A figura, a seguir, mostra
o FF do tipo RS construído por portas lógicas.
R
Q
Paco Giordani Mora (2016)
A estrutura básica de um FF RS é dada por duas portas lógicas do tipo NAND e duas do tipo NOT. Na
figura, os elos de realimentação estão representados pelas cores verde e azul. Perceba que a saída Q (verde)
influencia no estado da saída Q (azul) e vice-versa.
Observe que este FF possui duas entradas (chamadas de R e S). A letra S vem do termo Set (definir)
enquanto que a letra R vem do termo Reset (redefinir). No entanto, repare que por enquanto não foi
demonstrada a entrada de clock. A entrada S contribui para que a saída Q tenha nível lógico 1, ou melhor,
sempre que S estiver em nível lógico 1, a saída Q também terá seu nível lógico 1. No entanto, a entrada R
contribui para zerar a saída Q e, quando R estiver em nível 1 (e S em nível 0), a saída Q terá seu nível lógico
0. Lembrando que os circuitos sequenciais são influenciados pelo efeito da realimentação, o estado da
saída Q futuro é influenciado por seu estado atual, que será chamado de Qa.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
143
Para analisar todas as possibilidades deste FF, é necessário montar sua tabela-verdade. Considerando
o efeito de realimentação, o estado da saída Qa será considerada como uma entrada. A tabela-verdade
será desenvolvida com 3 entradas: a entrada R, a entrada S e Qa. Sendo assim, a tabela-verdade do FF RS
possuirá 3 entradas e duas saídas. Diante destas informações, fica claro que a tabela-verdade deste circuito
terá 8 possibilidades, conforme pode ser visualizado a seguir.
S R Q
0 0 Qa
0 1 0
1 0 1
1 1 X
Tabela 58 - Tabela-verdade simplificada do FF RS
Fonte: SENAI (2016)
A partir do que foi estudado, é possível observar que a saída Q sempre será o sinal inverso de Q. Esta
informação pode ser verificada através da última coluna da tabela-verdade, a fim de mostrar os efeitos
produzidos pelas entradas R e S.
Repare que, quando R e S são iguais a zero, a saída Q não sofre mudança de estado, ou seja, Q permanece
igual a Qa. Quando ambas as entradas, R e S, são iguais a 1, a saída Q é indeterminada. Portanto, esta é uma
condição que não deve ser utilizada.
O destaque verde indica a condição de reset, enquanto que o destaque azul indica a condição de Set
da tabela. As células em branco são condições em que a tabela não sofre nenhum tipo de alteração. De
maneira geral, a tabela-verdade do FF RS pode ser resumida da seguinte forma.
S R Qa Q Q
0 0 0 0 1
0 0 1 1 0
0 1 0 0 1
0 1 1 0 1
1 0 0 1 0
1 0 1 1 0
1 1 0 X X
1 1 1 X X
Tabela 59 - Tabela-verdade do FF RS
Fonte: SENAI (2016)
Mesmo com 8 possibilidades, os estados de saída deste FF se repetem para determinados casos. Desta
forma, a tabela-verdade pode apresentar uma forma resumida e esta simplificação possibilita uma análise
rápida, pois fica mais claro o efeito das entradas R e S no canal de saída Q do flip-flop.
ELETRÔNICA DIGITAL
144
O sinal X na saída Q aparece na tabela, pois nesta condição, quando R = S = 1, o nível lógico na saída
é incerto, ou seja, pode variar entre 0 ou 1. Quando o sinal de saída é incerto, não faz sentido utilizar esta
condição em aplicações usuais. Desta maneira, a utilização desta condição não será abordada neste livro.
Agora que você conhece todas as possibilidades deste circuito, chegou o momento de estudar o
respectivo comportamento no decorrer do tempo estabelecido pelo sinal de clock. Você irá observar que a
estrutura com portas lógicas sofre pequenas mudanças essenciais para o uso do clock. Mais adiante, você
verá a importância deste pino para muitas aplicações. Siga em frente e conheça a influência deste sinal no
estudo dos circuitos sequenciais!
S Q
CLK
Ana Cristina de Borba (2016)
R Q
Figura 70 - FF RS com clock
Fonte: SENAI (2016)
A simbologia CLK representa o sinal de clock, mas até aqui não foi demonstrado seu funcionamento,
somente se abordou a sua importância na implementação de circuitos sequenciais. Mas, o que é este sinal?
Trata-se de um sinal de entrada ou de saída? Para começar a sanar estas dúvidas, é essencial estudar sua
aplicação.
O sinal de clock é padronizado como uma série de pulsos que se alternam em nível alto e nível baixo.
Em outras palavras, trata-se de uma onda quadrada que possui algumas características importantes, como
frequência fixa, simetria ao longo do tempo e valores binários. No primeiro caso, a frequência de um sinal
determina que o mesmo se repete várias vezes por segundo. Já a simetria ao longo do tempo significa que
no intervalo de uma onda completa, metade do tempo fica em nível 0 e a outra metade em nível 1. E o
valor binário define que esta onda possui apenas duas possíveis amplitudes que podem ser representadas
por 0 ou 1.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
145
1 1 1 1
Quando os pulsos de clock variam de 0 para 1, a atividade é chamada de borda de subida. Este conceito
é importante, pois é durante a borda de subida que muitos FFs realizam a mudança dos estados de saída.
Mas, o sentido oposto, quando os pulsos de clock variam de 1 para 0, é chamado de borda de descida.
Quando os circuitos recebem o sinal de clock, o tempo é um fator determinante no seu funcionamento.
Desta forma, nos circuitos sequenciais, existe um novo conceito chamado de sincronismo. Os circuitos
combinacionais não apresentavam este conceito, ou seja, os estados mudavam de maneira instantânea
e de forma não-sequencial. Com o conceito de sincronismo, os circuitos funcionam com um pequeno
atraso, mas que é essencial para garantir que os equipamentos atuem de maneira sequencial, programada
e segura. Se um tempo de atraso é um parâmetro destes circuitos, significa que agora o circuito funciona
em uma velocidade preestabelecida, ou seja, de uma maneira controlada ou sincronizada.
O FF RS com clock de entrada também é constituído por portas lógicas e pode ser representado
conforme a figura a seguir.
S
Q
Ana Cristina de Borba (2016)
Clock
Q
R
Além do circuito FF RS já conhecido, foram adicionadas mais duas portas NAND e as portas NOT foram
excluídas. A conexão dos sinais de entrada também foi mudada. É importante notar que o pulso de clock
tem uma influência muito grande neste circuito, visto que sua conexão de entrada exerce influência sobre
as condições de Set e Reset.
ELETRÔNICA DIGITAL
146
A função principal do clock é habilitar o funcionamento do FF RS, ou seja, quando o nível lógico do
clock é igual a 0, os blocos de saída permanecem iguais, independentemente do valor das entradas R e S.
Quando o nível lógico do clock é igual a 1, então o FF RS funciona normalmente de acordo com a variação
das entradas R, S e o estado de saída Qa. Desta forma, a tabela-verdade do FF RS, considerando o sinal de
clock, pode ser representada da seguinte forma.
S R CLK Q
0 0 0 Qa
0 0 1 Qa
0 1 0 Qa
0 1 1 0
1 0 0 Qa
1 0 1 1
1 1 0 Qa
1 1 1 X
Tabela 60 - Tabela-verdade FF RS com clock
Fonte: SENAI (2016)
Através da tabela-verdade, é possível observar a influência do pulso de clock. Repare que, para este
FF em questão, a saída Q só mudará de estado quando o flip-flop receber uma borda de subida do sinal
de clock. Analisando a tabela de maneira mais completa, observe que na primeira linha, mesmo com as
entradas R e S iguais a zero, a saída Q tem um valor qualquer. Quando o FF atende a primeira borda de
subida, o estado da saída Q está de acordo com o funcionamento normal do FF RS, ou seja, Q é igual a Qa.
Na terceira e quarta linha, a entradas R e S adotam os valores 0 e 1. Mesmo o flip-flop recebendo a função
Reset, o estado de Q só mudará para zero quando uma nova borda de subida for detectada. Na quinta e
na sexta linha, as entradas R e S recebem os valores 1 e 0, respectivamente, e mesmo o flip-flop adquirindo
a função de Set, o estado de Q só mudará para o nível lógico 1 quando uma nova borda de subida for
detectada.
As linhas 7 e 8 da tabela (tabela-verdade FF RS com clock) representam condições não utilizadas. Observe
que, enquanto o FF RS não assume uma borda de subida, o pino de saída Q mantém o estado atual Qa.
Agora você conhece um dos tipos de flip-flop presentes no universo dos circuitos sequenciais, pode
utilizar os principais conceitos aprendidos nesta seção para estudar o funcionamento de outros tipos de
FFs. A seguir, será demonstrado o desempenho de mais uma variação do flip-flop: o tipo JK. Salienta-se que
os conceitos, como uso do clock e realimentação dos sinais, devem estar bem compreendidos para estudar
as próximas seções. Por isso, releia o conteúdo conforme achar necessário e, então, siga em frente!
3 LÓGICA SEQUENCIAL
147
J J S=J. Q S Q Q
Q
Neste diagrama, é possível observar que, além do circuito original do FF RS, foram adicionados alguns
canais de realimentação através de duas portas ANDs.
O flip-flop JK tem o funcionamento semelhante ao RS, e suas entradas são uma condição de realimentação
entre as saídas Q e Q. O FF JK também possui um sinal de clock que habilita seu funcionamento. Quando o
clock tem nível lógico igual a 0, a saída Q é igual a Qa. Ainda que o clock tenha nível lógico igual a 1, a saída
irá depender das entradas J e K. De maneira geral, pode-se escrever esta correlação de acordo com a tabela
a seguir.
J K Q
0 0 Qa
0 1 0
1 0 1
1 1 Qa
Tabela 61 - Funcionamento do flip-flop JK quando o sinal do clock está em nível alto
Fonte: SENAI (2016)
Quando as entradas J e K são nulas, a saída Q se mantém a mesma. No caso de J ser nulo e K igual a 1,
a saída Q é igual a 0. Mas, quando J tem nível lógico 1 e K é nulo, a saída Q é igual a 1. E, se J e K possuírem
nível lógico igual a 1, a saída Q será o inverso de Qa, ou seja, Q é igual a Qa. A grande diferença entre o FF JK
e o FF RS é dada através da última condição de entrada. Quando as entradas R e S possuem nível lógico 1,
o estado de saída é incerto. No caso do FF JK, quando as entradas J e S possuem nível lógico 1, o estado de
saída é bem definido. Quando J = K = 1, o estado de Q será o estado inverso de Qa, ou seja, Qa.
ELETRÔNICA DIGITAL
148
Como este FF possui estados bem definidos e uma grande faixa de aplicações, algumas melhorias foram
impostas. Estas melhorias são dadas através de entradas auxiliares, conforme será visto na sequência.
(PR)
J Preset
Q
Q
Clock
ENTRADAS SAÍDAS
PR CLR CLK J K Q Q
1 1 X X X X X
0 1 X X X 0 1
1 0 X X X 1 0
0 0 1 0 0 Qa Qa
0 0 1 0 1 0 1
0 0 1 1 0 1 0
0 0 1 1 1 Qa Qa
Tabela 62 - Funcionamento do FF JK com entradas auxiliares
Fonte: Adaptado de Texas Instruments, 1988
3 LÓGICA SEQUENCIAL
149
Observa-se que as entradas auxiliares atuam de maneira independente do sinal de clock. Para que este
flip-flop funcione de maneira normal, ou seja, atue de maneira dependente das entradas J, K e CLK, os pinos
PR e CLR devem estar conectados a um nível lógico 0.
A partir da tabela anterior, conclui-se que o sinal de Clear tem a função de zerar a saída Q, enquanto o
sinal de Preset tem a atribuição de impor o nível lógico 1 na saída Q. De maneira geral, os flip-flops JK podem
ser representados conforme a seguinte figura.
PR
J Q
CLK
Figura 75 - Diagrama do FF JK
Fonte: Adaptado de Idoeta e Capuano (2012)
Até aqui, você já aprendeu vários conceitos importantes sobre os flip-flops como uso do clock e entradas
auxiliares. Além disso, você notou que algumas características de operação do FF JK são diferentes do FF
RS. Como pôde constatar, o FF do tipo JK possui diversos modos de operação e entradas auxiliares e, de
certa forma, é um dos circuitos sequenciais mais versáteis encontrados na eletrônica. Como este FF tem
muitas funções, nem sempre todas serão utilizadas para determinadas aplicações, quer dizer, que podem
existir variações do FF JK que realizem menos funções, tornando-se circuitos práticos. Os FF tipo D e T (a
serem apresentados na sequência) são circuitos que derivam do FF JK. Para contribuir um pouco mais com
o seu estudo, que tal conhecer o flip-flop do tipo D? Está preparado? Então siga em frente!
O flip-flop do tipo D é uma derivação do FF JK e essa derivação nada mais é do que uma simplificação
no que diz respeito à sua aplicação. Para determinadas aplicações, a saída Q não necessita de funções
especiais, ou seja, para funções simples, pode ser implementado um FF simples.
A saída Q, em alguns casos, precisa receber o valor 0 ou 1 e, para realizar esta função (com o FF JK), o
chaveamento das entradas deve acontecer da seguinte maneira:
J = 0 e K = 1 para Q = 0
J = 1 e K = 0 para Q = 1
A proposta do FF tipo D é simplificar o número de entradas, visto que a saída nestes casos será sempre
0 ou 1. E, como J é sempre a negação de K, e vice-versa, é inserido uma porta inversora de J para K. Neste
caso, a entrada J será nomeada de D e a entrada K não estará mais disponível. A figura, a seguir, mostra a
adaptação realizada no FF JK para se obter o FF D.
PR PR
J Q D Q
Paco Giordani Mora (2016)
CK
CK
K CLR
Q CLR
Q
Perceba que as entradas PR e CLR permanecem as mesmas do FF JK, enquanto que apenas o número
de entradas foi reduzido. Observe também que este flip-flop realizará as mudanças de estados na borda de
descida.
De maneira simples e muito objetiva, a tabela-verdade do funcionamento do FF D fica da seguinte
forma.
D Q Q
0 0 1
1 1 0
Tabela 63 - Tabela-verdade do FF D
Fonte: SENAI (2016)
Você pôde notar que, se uma aplicação é simples, consequentemente serão proporcionados circuitos
mais simples. Agora está na hora de conhecer um outro flip-flop, que também deriva do FF JK: do tipo T.
Conforme mencionado, o flip-flop T é uma derivação do JK. Para alguns casos, o flip-flop JK só irá atuar
quando as entradas J e K forem iguais, ou seja, atuam de acordo com as seguintes possibilidades:
J = 0 e K = 0, então Q = Qa
J = 1 e K =1, então Q = Qa
Como para estas aplicações J e K sempre serão iguais, as duas entradas J e K podem ser interligadas,
formando apenas uma única entrada conhecida como T. A simplificação do flip-flop T é dada através do
diagrama que segue.
PR
T J Q
CLK
Paco Giordani Mora (2016)
K CLR
Q
Repare que o diagrama apresentado não mostra um bloco equivalente do flip-flop T. Segundo Idoeta
e Capuano (2012), os flip-flops tipo T não são encontrados em circuitos integrados comerciais. Eles são
implementados através de FFs JK, que possuem configuração mestre-escravo. De maneira geral, a tabela-
-verdade simplificada do funcionamento do flip-flop T pode ser visualizada a seguir.
T Q Q
0 Qa Qa
1 Qa Qa
Tabela 64 - Tabela-verdade do funcionamento do FF tipo T
Fonte: SENAI (2016)
É importante salientar que esta tabela é verdadeira quando a entrada CLK recebe uma borda de descida.
Caso contrário, não é possível mudar os valores dos blocos de saída dos FFs.
Finalizando a seção sobre os flip-flops, você aprendeu conceitos importantíssimos sobre circuitos lógicos
sequenciais. A partir dos flip-flops e algumas portas lógicas, podem ser realizadas diversas aplicações, como
a implementação dos contadores e registradores. As próximas seções irão tratar dos circuitos sequenciais
com funcionamento mais avançado: temporizador, o contador e o registrador, que são circuitos capazes de
realizar funções avançadas. As seções, a seguir, abordarão cada um destes circuitos de maneira detalhada, a
começar por um circuito muito importante e muito presente no mundo da eletrônica, o temporizador 555.
O temporizador 555 tem uma aplicação muito ampla na eletrônica, seja ela analógica ou digital. A
função principal do 555 é geração de ondas retangulares em seu pino de saída. Também, é um circuito
que contém alguns elementos da eletrônica analógica, como resistores e capacitores, além de um circuito
integrado conhecido como LM555, que possui em sua estrutura interna alguns blocos importantes, como
um conjunto de comparadores, alguns transistores, mas principalmente um flip-flop.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
153
1 8
GND +VCC
2 7
Disparo Comparador R Descarga
FLIP
FLOP R
3 Estágio Comparador 6
Saída R Limiar
de saída
Este CI possui oito pinos, dos quais dois são utilizados para a alimentação (VCC e GND), cinco para
controle do sinal (2, 4, 5, 6 e 7) e um pino de saída (3). Alguns elementos da eletrônica analógica, como
transistores e resistores, não serão detalhados neste livro, mas é importante salientar que os circuitos
internos do LM555 não podem ser alterados. Dependendo do circuito que é conectado em seus pinos de
controle, o LM555 pode atuar como dois diferentes tipos de temporizador: o astável e o monoestável.
Você deve estar se perguntando: o que é uma onda retangular e por que este circuito é chamado
de temporizador? Você verá que uma onda retangular associada ao pino de clock de um flip-flop
determina a velocidade de operação de um determinado circuito. Estes circuitos também podem ser
chamados como circuitos geradores de clock.
Antes de entrar no estudo dos modos de operação do 555, é importante que você conheça alguns con-
ceitos básicos da onda retangular, como amplitude, frequência, período e ciclo de atividade.
ELETRÔNICA DIGITAL
154
Uma onda retangular genérica, por exemplo, pode ser visualizada na figura, a seguir.
(V)
Va
A onda retangular é um determinado nível de tensão elétrica que oscila no decorrer do tempo,
possuindo apenas dois valores: uma amplitude de tensão máxima e uma amplitude mínima. A figura da
onda retangular a ser estudada tem as seguintes características:
a) Va: valor de tensão máxima da onda, que é sua unidade de medida (dada em Volts).
b) t1: tempo em que a onda permanece com tensão máxima. Sua unidade de medida é apresentada
em segundos.
c) t2: tempo em que a onda permanece com tensão mínima e sua unidade de medida é dada em
segundos.
d) T: conhecido como período (tempo necessário para a onda realizar seu ciclo completo). Sua unidade
de medida também é representada em segundos.
e) f: conhecido como frequência (quantidade de vezes em que a onda retangular se repete em 1
segundo). Sua unidade de medida é conhecida como Hz.
f) Ciclo de atividade: proporção do tempo de t1 ou t2 em relação a T.
Na próxima seção, você estudará como funciona o temporizador astável, os circuitos conectados no
LM555 e como projetar a onda de saída deste circuito. Também serão mostrados alguns exemplos e
fórmulas para uma melhor compreensão do tema.
Segundo Malvino e Leach (1987, p. 390), um temporizador astável é “[...] um circuito de comutação com
dois níveis de saída distintos. Em outras palavras, o circuito oscila e a saída é uma forma de onda retangular
periódica. Como nenhum estado de saída é estável, diz-se que esse circuito é astável”. Este circuito também
é muito conhecido como multivibrador astável.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
155
Na seção anterior, foi mencionado que o LM555 possui alguns pinos de controle. Nesse caso, os pinos de
controle irão definir a frequência e o ciclo de atividade do temporizador, sendo que estes dois parâmetros
podem ser ajustados por dois resistores e um único capacitor. Lembrando que a mudança dos valores de
resistência (ohms) e capacitância (Faraday) irão determinar o comportamento da onda. A figura, a seguir,
mostra os resistores (RA e RB) e o capacitor (C) conectados no circuito 555.
+VCC
RA
4 8
2 7
RB
LM555 6
Saída
3 5 C
0,01µF
Observe que no pino 5 do LM555 tem conectado um capacitor com um valor de capacitância muito
baixo, de 0,01 μF, e tem a função de evitar ruídos. De maneira geral, os valores dos tempos (t1, t2, T) e a
frequência podem ser calculados conforme as fórmulas a seguir:
O período T é a somatória dos tempos t1 e t2. Desta forma, T pode ser dado através da seguinte expressão:
T = t1 + t2
T = 0,693 · (RA + 2RB) · C
ELETRÔNICA DIGITAL
156
De maneira geral, existe uma relação inversamente proporcional entre a frequência e o período:
Para que você compreenda bem a aplicação destas fórmulas, acompanhe, a seguir, um exemplo.
Com o valor de t1, é possível então calcular o valor de RA a partir da seguinte expressão:
Desta maneira, o resistor encontrado possui o valor de 1 kΩ. Outro aspecto interessante que pode ser
explorado neste exemplo é o ciclo de atividade desta onda, que pode ser calculado da seguinte maneira:
O temporizador astável possui um ciclo de atividade quase simétrica, próximo dos 50%. Sendo assim, em
51% do tempo, a onda possui o nível máximo e em 49% possui nível 0 V. Observe que o ciclo, a frequência
e o período da onda sofrem influência apenas dos resistores e capacitor do circuito. A amplitude do sinal
resultante é dada apenas pela alimentação do circuito integrado.
ELETRÔNICA DIGITAL
158
A figura, a seguir, mostra o temporizador astável em simulação com os valores calculados neste exemplo.
VC
5.00 V
0 30 V
CC
3.97 mA
0 5A
20.0 V
ON
555
100 ms
Na simulação do circuito, é possível observar a forma de onda gerada na saída do LM555. Observe
que o ciclo de atividade se aproxima dos 49%. Perceba também que a mesma tensão de alimentação do
circuito se torna a tensão máxima (Va) da onda retangular. A simulação deste circuito foi realizada através
do simulador online 123D Circuits da AutoDesk©, mencionado anteriormente.
Agora que você aprendeu um dos modos de operação do temporizador 555 e já está familiarizado com
a geração da onda retangular, poderá ver, na próxima seção, que a forma de onda pode sofrer algumas pe-
quenas mudanças se o circuito periférico ao LM555 também for utilizado de maneira diferente. O próximo
modo de operação deste circuito é o temporizador monoestável.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
159
+5V T0 +15V
+VCC
Reset
RA
Disparo 4 8 Descarga
2 7
Limiar
LM555 6
Controle
de tensão
0,01µF
Este circuito também pode ser chamado de one shot, expressão em inglês que significa um disparo. Por
isso, depois do disparo, a saída do LM555 fica em nível alto durante um determinado tempo. Neste caso,
o funcionamento deste multivibrador depende de um único disparo que, ao ser acionado, leva a saída no
pino 3 para nível alto em um tempo t1. Depois deste tempo, a saída retorna para seu nível lógico 0, até que
um novo disparo seja realizado. O tempo t1 pode ser expresso através da seguinte expressão.
t1 = 1,1 · RA · C
Observe que este circuito deve receber um pulso de entrada. Assim, quando isso ocorrer, o capacitor
começa a ser carregado. A tendência é que o capacitor seja carregado até obter tensão VCC, mas durante
o processo de carga, quando a tensão presente no capacitor é igual a ⅔ da tensão VCC, o mesmo é
descarregado, fazendo com que o nível de tensão no pino de saída também seja igual a 0.
ELETRÔNICA DIGITAL
160
A figura, a seguir, mostra um exemplo das formas de onda das tensões presentes no disparo, na saída e
no capacitor.
Observe, através das formas de onda, que o capacitor começa a carregar a partir do disparo e o processo
de carga do capacitor é interrompido após o tempo t1. Assim, t1 é o tempo em que o capacitor está sendo
carregado e, neste intervalo de tempo, a tensão na saída recebe o nível lógico 1 ou o sinal de tensão VCC.
É importante notar que o sinal de tensão na saída recebe o mesmo valor de tensão da alimentação. Outro
aspecto importante é que o sinal de entrada do disparo também possua o mesmo nível de tensão, mas
com sinal negativo. Isso quer dizer que a tensão de disparo será sempre – VCC. Para compreender bem este
conceito, veja alguns exemplos a seguir.
Observe que, para os valores de capacitor e resistor dados neste exemplo, o tempo em que o
multivibrador fica em nível alto é de apenas 0,55 segundos. Tempos pequenos podem ser utilizados para
pequenos sinais de alerta, como luzes ou sinais sonoros.
Nesta seção, você viu diferentes exemplos e aplicações dos temporizadores, também conhecidos como
multivibradores. Aprendeu uma das várias aplicações dos flip-flops e estudou as diferentes formas de onda
conforme cada variável. Ainda teve a oportunidade de conhecer que a função principal destes circuitos
é a geração de ondas retangulares, que, posteriormente, podem ser utilizadas como sinal de clock para
registradores e contadores. Por isso, na próxima seção, será apresentado um circuito novo, conhecido
como contador, responsável por atuar através da união das funções de vários flip-flops e pulsos de clock.
3.3 CONTADORES
Contadores são estruturas integradas de circuitos combinacionais com os flip-flops. Sua principal
função é realizar a contagem numérica em uma determinada ordem crescente ou decrescente. Não
necessariamente os contadores precisam realizar a contagem de maneira gradual, ou seja, alguns números
podem ser desconsiderados nessa contagem, pois possuem uma aplicação muito ampla em equipamentos
eletrônicos, como a contagem de horas, cronômetros, contadores de sequências operacionais,
endereçamento de memórias, entre outros.
Os contadores podem pertencer a diversas categorias e são classificadores de acordo com seu tipo
de controle, contagem e tipo de código. No que diz respeito ao tipo de controle, os contadores podem
ser síncronos ou assíncronos. Em relação ao tipo de contagem, são classificados como crescentes ou
decrescentes. O tipo de código normalmente utilizado em circuitos dedicados de contadores são binário,
década ou hexadecimal. Por exemplo, um contador pode ser síncrono, decrescente e realizar a contagem
em binário ou, da mesma forma, um outro contador pode ser assíncrono crescente e realizar a contagem
do tipo década.
Por isso, para iniciar o estudo dos contadores, é indispensável conhecer a estrutura interna destes circui-
tos. Como mencionado anteriormente, os contadores combinam circuitos combinacionais com flip-flops e
essa união pode ser observada conforme a figura a seguir.
Circuito
FLIP-FLOPS
Combinacional
Paco Giordani Mora (2016)
Observe que os circuitos contadores são formados por flip-flops. O pulso de clock presente nesta
estrutura irá determinar a velocidade da contagem. Desta maneira, quanto maior for a frequência deste
pulso, mais rápido serão as operações realizadas pelo contador.
A sequência de operação dos contadores pode ser visualizada de acordo com uma técnica chamada
diagrama de estados que apresenta todos os valores possíveis que o contador pode realizar de maneira
sequencial, ou seja, é um diagrama que mostra o conjunto dos possíveis números de contagem de maneira
organizada.
Além dos diagramas de estado, nesta seção, você irá estudar os contadores síncronos (crescente e
decrescente), contadores assíncronos (crescente e decrescente), aplicação dos contadores como divisores
de frequência e os contadores em cascata. Agora que você obteve uma visão geral dos contadores, está na
hora de realizar, a seguir, um estudo aprofundado sobre cada conceito.
1 2 3 4
0 5
Paco Giordani Mora (2016)
9 8 7 6
Figura 85 - Diagrama de estados da contagem crescente do tipo década
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
164
Observe que o diagrama representa todos os possíveis números de contagem, bem como a sequência
de contagem. A seta presente no diagrama indica a ordem de contagem. Por isso, se o contador estiver no
estado 1, por exemplo, após o pulso de clock do contador, o estado atual mudará para o estado 2. Quando
o contador estiver no estado 9, após o pulso de clock, irá mudar para o estado 0 e, consequentemente, a
contagem inicia novamente.
Perceba que o contador de década realiza a contagem de 0 a 9 e isto significa que o máximo valor do
contador é o estado 9. O diagrama de estados pode mudar de acordo com a sequência de contagem e com
os valores nele inseridos. A figura, a seguir, mostra o contador de década do tipo decrescente.
1 2 3 4
0 5
Observe que, da contagem crescente para a contagem decrescente, o diagrama de estados muda
apenas o sentido das setas de orientação. Desta maneira, quando a contagem estiver no estado 4, após o
pulso de clock, o estado irá mudar para o estado 3. Da mesma forma, quando a contagem estiver no estado
0 e quando o contador receber o pulso de clock, o estado mudará para o estado 9. Veja que, neste caso, o
estado 0 é o último valor da contagem, ou seja, a contagem iniciará de novo no estado 9.
O diagrama de estados, que realiza a contagem hexadecimal crescente, pode ser visualizado na figura,
a seguir.
1 2 3 4 5 6 7
F E D C B A 9
1 2 3 4 5 6 7
Paco Giordani Mora (2016)
0 8
F E D C B A 9
Imagine que o contador realize uma contagem um pouco diferente do habitual, por exemplo, que o
circuito conte até 8. Obviamente, o circuito deste contador será um pouco diferente do circuito que conte
até 9. Este circuito se chamará contador de módulo-8. Os nomes dos contadores são dados pelo último
valor possível de contagem. Desta maneira, esses contadores são chamados de contadores módulo-N.
Veja, na sequência, o exemplo deste diagrama.
1 2 3
0
Paco Giordani Mora (2016)
8 7 6
Segundo Garcia e Martini (2008, p. 99), os contadores assíncronos “São estruturas lógicas que realizam
transições de forma não sincronizada. São constituídas de associações de flip-flops”. Mas, o que são
transições de forma não sincronizada?
O termo sincronismo se refere à atuação conjunta dos flip-flops. Neste tipo de contador, os flip-flops não
atuam de maneira conjunta, ou seja, não recebem o mesmo sinal de clock. Neste tipo de contador, a saída
de cada flip-flop estará conectada no pino de clock do próximo flip-flop. Você deve estar se perguntando:
quem e como se define o valor da contagem dos contadores?
Os contadores assíncronos podem realizar contagens crescentes e decrescentes, dependendo do
número de flip-flops e ao circuito combiacional presentes na sua estrutura. Os contadores assíncronos
normalmente são implementados com os FF JK, ou melhor, FF do tipo T. Suponha que você queira realizar
um contador que conte até 7. Neste caso, você precisa de apenas 3 bits para representar o número 7. Cada
bit será equivalente a um FF, ou seja, para 3 bits, são necessários 3 FFs. Veja um exemplo do contador de
módulo-7 através da figura, a seguir.
1 Q0 1 Q1 1 Q2
J Q J Q J Q
CLK
Paco Giordani Mora (2016)
O contador módulo-7 é formado por 3 bits, ou seja, por 3 FFs. Os flip-flops utilizados para a implementação
deste contador foram os FF JK operando como um FF do tipo T. Observe, na figura, que a saída Q0 está
conectada no clock do próximo FF, enquanto que a saída Q1 está conectada no clock do último FF. Este é
motivo no qual este contador é chamado de assíncrono, pois o sinal de clock é diferente para cada FF ao
longo do tempo.
Para entender o funcionamento do contador módulo-7 (assíncrono) crescente, considere que o valor
inicial presente nas saídas dos FF seja 0. Após o primeiro pulso de clock, considerando a alteração de estado
através da borda de descida, o estado de Q0, muda de 0 para 1, enquanto que os demais FFs permanecem
inalterados. Quando a 2.ª borda de descida é detectada pelo primeiro FF, o estado de Q0 muda de 1 para 0
e, quando isto ocorre, o segundo FF detecta uma borda de descida, ou seja, o estado de Q1 muda de 0 para
1. É importante notar que o estado de Q2 só irá mudar quando Q1 trocar de 1 para 0, ou melhor, gerar uma
borda de descida. Desta forma, pode-se descrever o funcionamento deste contador através da seguinte
figura.
CLK
0 0 0 0 0 0 0 0
Q0
0 1 0 1 0 1 0 1 0
Q1
Paco Giordani Mora (2016)
0 1 0 1 0
Q2
0 1 0
Observe, nas formas de onda do contador módulo-7, que a cada borda de descida do clock o estado da
saída Q0 se altera, variando de 0 para 1 ou de 1 para 0. Veja também que apenas quando Q0 troca do estado
1 para 0 (borda de descida) Q1 muda de estado. Observe também que apenas quando Q1 muda de estado 1
para 0 (borda de descida) Q2 modifica de estado. Desta maneira, pode-se entender que Q0 é o sinal de clock
do FF 1, bem como Q1 é o sinal de clock do FF 2.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
169
De forma geral, a cada pulso de clock, os bits Q2, Q1 e Q0 formam um número binário diferente. A tabela,
a seguir, mostra o número de bordas de descida de acordo com os números binários correspondentes.
CLK
Q2 Q1 Q0 (LSB) NÚMERO DECIMAL
(BORDA DESCIDA)
- 0 0 0 0
1ª 0 0 1 1
2ª 0 1 0 2
3ª 0 1 1 3
4ª 1 0 0 4
5ª 1 0 1 5
6ª 1 1 0 6
7ª 1 1 1 7
8ª 0 0 0 0
Tabela 65 - Contagem módulo-7
Fonte: SENAI (2016)
Observe, na tabela da contagem de módulo-7, que o conjunto dos 3 FF formam os bits necessários para
a representação dos números de 0 a 7 de forma decimal. Ressalta-se que a saída Q0 representa o bit menos
significativo, ou seja, o bit que muda de estado mais rapidamente em relação ao clock. Observe que, tanto
na tabela, quanto nas formas de onda apresentadas, o contador muda o estado de suas saídas conforme
a borda de descida do sinal de clock. Outro ponto importante para se observar, nos gráficos e na tabela, é
que após o estado 7, o próximo estado será o estado 0, ou seja, a contagem reinicia.
Como os valores da contagem mudam de bit a bit, este contador pode ser chamado de contador de
pulsos, que pode realizar qualquer contagem de acordo com a quantidade de FFs disponíveis.
Nas formas de onda do contador, é interessante observar que os estados de saída Q0, Q1 e Q2 possuem
uma forma de onda muito semelhante à de onda do sinal de clock, mas com uma pequena diferença, isto
é, a frequência do sinal de cada saída é menor em relação à frequência do sinal de clock. Observe, portanto,
que a frequência da saída Q0 é a metade do sinal de clock e, para chegar à essa conclusão, veja que, em 1
ciclo da forma de onda de Q0, cabem 2 ciclos da forma de onda do clock. Do mesmo modo, em apenas 1
ciclo da saída Q1, cabem 4 ciclos da forma de onda do clock. E de maneira análoga, em apenas 1 ciclo da
saída (Q2) cabem 8 ciclos da forma de onda do clock. Isso significa que a frequência da saída Q0 é a metade
do sinal do clock, ou seja, este circuito pode ser considerado um circuito divisor de frequência. Porém,
esta aplicação será detalhada em seções posteriores.
O contador de pulsos apresentado realiza uma contagem crescente. Mas, como realizar a contagem
decrescente? O que deve ser levado em consideração para que o circuito conte de maneira contrária?
Continue a leitura.
ELETRÔNICA DIGITAL
170
NÚMERO DECIMAL Q2 Q1 Q0
7 1 1 1
6 1 1 0
5 1 0 1
4 1 0 0
3 0 1 1
2 0 1 0
1 0 0 1
0 0 0 0
7 1 1 1
Tabela 66 - Tabela do contador assíncrono descendente de módulo-7
Fonte: SENAI (2016)
Observe que os bits do contador decrescente mudam na sequência inversa do contador de ordem
crescente. Basicamente, a ordem de mudança de bits de um contador binário decrescente é equivalente
a uma tabela-verdade invertida. Diante desta afirmação, é lógico pensar que as saídas Q2, Q1 e Q0
apresentam o comportamento inverso das saída Q2, Q1 e Q0. Desta forma, perceba que o circuito contador
assíncrono decrescente é uma variação simples do circuito crescente, basta utilizar os canais de saída Q
ao invés dos canais de saída Q. O circuito contador assíncrono decrescente de módulo-7 é apresentado
através da seguinte figura.
1 Q0 1 Q1 1 Q2
Paco Giordani Mora (2016)
J Q J Q J Q
CLK
Observe, no contador decrescente, que a estrutura dos flip-flops são as mesmas e a única diferença é
que são utilizados os blocos de saída de Q ao invés dos blocos de saída Q. A seguir, será apresentado um
circuito contador de década utilizando 4 flip-flops. Você verá que, além da estrutura básica do contador,
ainda é necessário um circuito combinacional auxiliar para a realização da contagem de módulo-9.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
171
1 Q0 1 Q1 1 Q2 1 Q3
Verifique que no diagrama do contador de década, a detecção da informação 1010b é feita através da
porta NAND, onde seu sinal de saída deve ser nível 0. Observe que, para detectar o primeiro bit, foi utilizada
a saída Q3 e que, para o segundo bit, foi utilizada a saída Q2, pois este bit tem estado 0. Já para identificar
o terceiro bit, foi indicada a saída Q1 e para localizar o quarto bit (menos significativo) foi utilizada a saída
Q0. Como estudado em seções anteriores, a função lógica da saída NAND pode ser dada da seguinte forma:
ELETRÔNICA DIGITAL
172
Considerando os valores
Desta maneira, quando o sinal 1010b estiver presente nos FFs, o circuito composto pela porta NAND irá
reiniciar a contagem através do pino CLR dos FFs JK. Veja que, se o circuito contador de década não tivesse
o circuito combinacional auxiliar, a contagem seguiria até o número 1111b (ou decimal 15).
Agora que você compreendeu como funciona o contador assíncrono, suas variações e algumas
aplicações, está na hora de estudar outro tipo de contador: o contador síncrono. Muitos conceitos
aprendidos nesta seção vão ajudar você a compreender o funcionamento e analisar as diferenças entre um
contador e outro desta natureza.
Segundo Garcia e Martini (2008, p. 99), os contadores síncronos “São estruturas lógicas que realizam
transições de forma sincronizada, vinculadas a um sinal de relógio (clock) externo.” Os contadores síncronos
podem ser implementados com os FFs JK, sendo que uma característica interessante dos contadores
síncronos é que podem formar sequências aleatórias de contagem. A figura, a seguir, mostra um contador
síncrono de N bits.
QN QN-1 Q1 Q0
KN QN KN-1 QN-1 K1 Q1 K0 Q0
CK
Paco Giordani Mora (2016)
Circuito
Combinacional
Repare na figura do contador síncrono que todos os FFs JK têm o mesmo sinal de clock e observe
também que os pinos J e K estão conectados em um circuito combinacional. Isto acontece, porque,
para a sequência desejada, o circuito combinacional irá modificar as entradas J e K a fim de impor uma
determinada informação nas saídas dos FFs.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
173
Porém, do que resulta ou como será o circuito combinacional? O circuito combinacional irá depender
do número de bits e da sequência de contagem. Neste caso, lembre-se do funcionamento do FF JK de
acordo com sua tabela-verdade. Observe que não existe um circuito fixo para projetar um contador síncro-
no. Mas, para que este conhecimento seja bem compreendido, a seguir, será exposto um exemplo de um
contador de 2 bits que realiza a seguinte sequência 3, 0, 2 e 1.
3 0
1 2
Neste exemplo, serão utilizados apenas 2 flip-flops (correspondem a 2 bits) e, com essa quantidade de
bits, é possível representar os números 0, 1, 2 e 3. Observe que os pinos J e K dos flip-flops são, na verdade,
saídas do circuito combinacional. Desta maneira, para descobrir o circuito combinacional, pode-se utilizar
a técnica de análise aprendida no capítulo 2. Assim, o funcionamento do circuito pode ser representado a
partir da seguinte tabela:
CLOCK SEQUÊNCIA Q1 Q0 J1 K1 J0 K0
1º 3 1 1 X 1 X 1
2º 0 0 0 1 X 0 X
3º 2 1 0 X 1 1 X
4º 1 0 1 1 X X 0
5º 3 1 1 X 1 X 1
Tabela 67 - Contador síncrono de sequência 3-0-2-1
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
174
Os valores de J1 e K1 foram definidos de acordo com a saída Q1, enquanto que os valores de J0 e K0 são
determinados com a saída Q0. Estes valores foram tomados com base na tabela-verdade do FF JK presente
na seção anterior. Observe que no momento em que o valor de Q altera de 0 para 1, J = 1 e K = X. Enquanto
Q muda de 1 para 0, J = X e K = 1. Quando Q mantém o valor 0, J = 0 e K = X. Quando Q mantém o valor 1,
J = X e K = 0.
Para descobrir o circuito combinacional presente nas entradas do contador, deve-se considerar J1, J0,
K1 e K0 como saídas do sistema. Desta forma, conforme apontado na figura, é possível montar quatro
Mapas de Karnaugh correspondentes a este circuito combinacional.
J1: K1:
Q0 Q0
0 1 0 1
0 1 1 0 X X
Q Q1
1 X X 1 1 1
(a) (b)
J0: K0:
Q0 Q0
Observe, nestes mapas, que as variáveis de entrada do circuito combinacional são as saídas do flip-flop,
ou seja, as entradas do circuito são Q1 e Q0, enquanto que as saídas representadas nestes mapas são J1, J0,
K1 e K0. Analisando o enlace em (a), pode-se concluir que a saída J1 é dada por:
J1 = 1
Da mesma forma, analisando o enlace em (b), pode-se concluir que a saída K1 é dada por:
K1 = 1
Observando o enlace em (c), pode-se concluir que a saída J0 deve ser apresentada por:
J0 = Q0 + Q1
Analisando o último Mapa de Karnaugh em (d), conclui-se que a saída K0 pode ser mostrada através da
seguinte expressão.
K0 = Q0 + Q1
3 LÓGICA SEQUENCIAL
175
1 Q0
Q1
CLK J Q J Q
Observe que as entradas (J1 e K1) estão em nível lógico 1. O circuito combinacional deste contador
síncrono é composto por duas portas OR. Observe que na sequência (3-0-2-1) a saída Q1 está sempre
mudando, portanto, pode-se simplificar (J1 e K1) para 1. As portas OR têm a função de detectar em qual
estado J0 e K0 devem mudar para influenciar a mudança de Q0. Observe que este circuito combinacional
altera apenas o estado de Q0, pois Q1 já tem sua mudança de forma sequencial de 1 para 0 e de 0 para 1.
Estas ligações fazem o circuito atuar nesta sequência específica e, se fosse desejada uma outra
sequência, certamente, as ligações (Q, J e K) seriam diferentes. Quanto mais bits o contador possuir, maior
será o circuito combinacional.
Agora que você estudou os dois tipos de contador, chegou o momento de compreender algumas
aplicações e conexões específicas de contadores. As próximas seções mostrarão a aplicação de contadores
como divisor de frequência e algumas conexões para aumentar o módulo de contagem de cada contador.
Você verá ao longo destas seções que os contadores possuem uma importância fundamental no estudo
dos circuitos sequenciais.
Nesta seção, será dada uma maior atenção ao contador como divisor de frequência. Lembre-se de
que o contador divisor de frequência, já apresentado em uma seção anterior, é formado por contadores
assíncronos e, dependendo do número de FFs JK dispostos em cascata, maior será a divisão da frequência
original do pulso de clock. Portanto, nesta seção serão apresentados um exemplo e uma simulação do
circuito divisor de frequência.
ELETRÔNICA DIGITAL
176
Existem diversos tipos de onda, sejam senoidal, triangulares, rampa, quadradas etc. O
FIQUE contador, como divisor de frequência, é aplicado apenas para ondas quadradas com
ALERTA nível de tensão positiva.
No intuito de realizar a simulação, será utilizado um circuito integrado 74HC93 que possui 4 bits. Portanto,
pode realizar quatro diferentes divisões de frequência. A pinagem do CI 74HC93 pode ser visualizada na
figura, a seguir:
Figura 99 - CI 74HC93
Fonte: Adaptado de PHILIPS (1990)
O CI 74HC93 possui tecnologia TTL e tem 14 pinos, mas os pinos 4, 6, 7 e 13 não são utilizados. Logo,
os pinos 5 e 10 são utilizados para a alimentação do circuito, enquanto os pinos 12, 9, 8 e 11 representam,
respectivamente, as saídas Q0, Q1, Q2 e Q3. Este circuito apresenta duas opções de clock: CP0 e CP1. Neste
caso, pulsos de clock controlam diferentes FFs no interior do contador.
Desta maneira, deve-se conectar a saída Q0 ao CP1 para que todos os pulsos de clock estejam conec-
tados de maneira assíncrona. O sinal de clock deve ser conectado ao pino CP0 , sendo que a mudança de
estado deste contador é sensível à borda de descida do sinal de clock. Importante destacar que os pinos
2 e 3 também são CLR. A figura, a seguir, mostra como o CI pode ser conectado em uma aplicação prática.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
177
O circuito integrado 74HC93 também pode ser considerado um contador assíncrono hexadecimal, pois
com seus 4 bits é possível realizar a contagem de 00002 a 11112, em decimal (0 a 15), ou em hexadecimal
(0 a F).
VC
5.00 V 16.0 Hz
0 30 V 1 Hz 1 MHz
CC
17.7 µA 5.00 V
0 5A 0 10 V
ON
2.50 V
-5 V +5 V
ON
Este circuito é composto por um gerador de função de onda quadrada positiva de frequência 16 Hz e
amplitude 5VDC. Esta onda quadrada é utilizada como sinal de clock. Observe que os pinos 2 e 3 (pinos de
reset) estão conectados no pino de GND. Desse modo, as funções de reset estão desabilitadas. O sinal de
clock está sendo representado pela cor amarela.
A fim de observar as formas de onda deste circuito, será utilizado um equipamento chamado
osciloscópio, equipamento que possibilita a visualização da forma de onda de diferentes tipos de sinais
em várias frequências. Inicialmente, um osciloscópio será conectado no gerador de função para observar
a forma de onda e a frequência do sinal de clock. Depois, será conectado um osciloscópio em cada saída Q
do contador, para que se possa constatar a divisão da frequência. A figura, a seguir, mostra o sinal do clock
visualizada em um osciloscópio.
20.0 V
Ana Cristina de Borba (2016)
1.00 s
Torna-se possível comprovar que a frequência do sinal é de 16 Hz, pois em 1 segundo cabem 16 ciclos
da onda quadrada. Veja, a seguir, a figura do osciloscópio mostrando as ondas geradas nas saídas Q0 e Q1.
20.0 V
20.0 V
O osciloscópio à esquerda mostra a forma de onda lida na saída Q0, enquanto que o da direita mostra a
forma de onda lida na saída Q1. No primeiro caso, estão presentes 8 ciclos de onda quadrada em 1 segundo,
o que significa que a frequência lida na saída Q0 possui 8 Hz, ou seja, a frequência original sofreu uma divisão
por 2. No osciloscópio à direta estão presentes 4 ciclos de onda quadrada, quer dizer que a frequência lida
na saída Q1 possui 4 Hz, ou seja, a frequência original sofreu uma divisão por 4. A figura, a seguir, mostra as
formas de onda para as saída Q2 e Q3.
20.0 V
20.0 V
Ana Cristina de Borba (2016)
1.00 s 1.00 s
Neste caso, é demonstrado que estão presentes 2 ciclos da onda quadrada em apenas 1 segundo. Isto
significa que a frequência lida na saída Q2 é igual a 2 Hz, ou seja, a frequência original sofreu uma divisão
de 8. No segundo caso, à direita, existe apenas 1 ciclo da onda quadrada em 1 segundo, o que revela que a
frequência lida na saída Q3 tem frequência de 1 Hz, ou seja, a original sofreu uma divisão de 16.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
179
Considerando f a frequência original do pulso de clock e fq0, fq1, fq2 e fq3 as frequências lidas nas saídas
Q0, Q1, Q2 e Q3, pode-se chegar às seguintes conclusões:
Nesta seção, você estudou os circuitos contadores divisores de frequência. Além disso, conheceu um
circuito integrado contador assíncrono. Na próxima seção, você conhecerá outros circuitos integrados e
verá como é possível conectá-los em cascata.
Os contadores podem ser associados em cascata para aumentar o valor da contagem. Um exemplo
muito prático de contadores em cascata é o circuito que conta até 99. Este circuito é formado por dois
contadores de década. Imagine, por exemplo, o circuito módulo-99 implementado através de dois CIs
74HC93. A figura, a seguir, mostra um diagrama simplificado da associação de dois contadores, sendo um
responsável pela contagem das unidades e o outro contador responsável pela contagem das dezenas.
Q0 Q0
Q1 Q1
clk clk
Ana Cristina de Borba (2016)
Q2 Q2
CLR Q3 CLR Q3
O diagrama simplificado do contador de módulo-99 mostra que as saídas (Q0 a Q3) do primeiro contador
representam as unidades, enquanto que as saídas (Q0 a Q3) do segundo indicam as dezenas. Repare que
o primeiro contador possui uma porta AND de 4 canais responsável por zerar o primeiro contador e dar
o pulso de clock para o contador de dezena. Observe que foi necessário o uso de uma porta NOT para
adequar o pulso de clock à sensibilidade da borda de descida do contador de dezena.
Considere que o circuito apresentado aqui poderia ser adaptado para implementar um contador de
minutos. Isso ocorre para que o contador de dezenas conte no máximo até 5 e, após o estado 59, a contagem
possa ser reiniciada. Um contador de minutos nada mais é do que um contador assíncrono de módulo-59.
Neste caso, a diferença principal entre um contador módulo-N para outro é seu circuito combinacional
auxiliar. Uma vez implementado um contador de minutos, ou seja, um contador módulo-59, pode-se
realizar a associação de dois contadores (módulo-59). Dessa maneira, será criado não só um contador de
minutos, mas também um de horas.
Os circuitos contadores de minutos e horas não serão apresentados nesta seção, mas você pode utilizar
os conceitos aprendidos neste livro para projetar este circuito utilizando os CIs contadores e portas lógicas
auxiliares. Para realizar este circuito, utilize a mesma técnica de projeto do circuito combinacional auxiliar,
lembrando que o contador de dezenas deve ser reiniciado após o número 5, e o contador de unidade deve
ser reiniciado após o número 9.
Do mesmo modo que existe o circuito contador de década, pode-se implementar também o circuito
contador hexadecimal (contagem vai de 0 até FF). Quando um contador precisa do mesmo número de
bits para representar uma determinada contagem, mas o módulo-N é diferente. Neste caso, a única coisa
que irá mudar neste contador assíncrono será o seu circuito combinacional auxiliar. Isto significa que a
diferença entre o contador módulo-99 e contador módulo-FF serão as portas lógicas auxiliares. A figura, a
seguir, mostra o circuito módulo-FF.
Módulo-F Módulo-F
Q0 Q0
Q1 Q1
clk clk
Ana Cristina de Borba (2016)
Q2 Q2
CLR Q3 CLR Q3
CLR
Figura 105 - Contador assíncrono de módulo-FF
Fonte: SENAI (2016)
3 LÓGICA SEQUENCIAL
181
Observe que a estrutura dos CIs contadores são iguais à estrutura do contador módulo-99. Algumas
diferenças são perceptíveis. No contador módulo-FF, não é necessário forçar o CLR em determinado
número e isso acontece, porque já reinicia a contagem após o estado 11112 (F16) de cada contador.
Quando qualquer um dos contadores estiver no estado F16 e receber um pulso de clock, a contagem será
reiniciada. Uma outra diferença importante neste circuito, são as portas lógicas auxiliares, pois, no contador
módulo-FF, o circuito combinacional auxiliar é dado apenas por uma porta lógica OR. Neste caso, o valor
que é necessário ser detectado é o valor 00002, ou seja, quando reinicia a contagem do primeiro contador.
A porta OR tem a seguinte função lógica:
S = Q0 + Q1 + Q2 + Q3
Somente no estado 0, a soma de todas as saídas será 0 também, ou seja, S = 0. Porém, para todos os
outros estados a saída S será igual a 1. O sinal 0 produzido pelas saídas Q do primeiro contador pode
ser utilizada como uma borda de descida para o próximo contador, ou seja, quando reiniciar a contagem
do primeiro contador, o segundo passará a ter um sinal de clock. Este circuito não é muito adotado em
aplicações industriais, como máquinas ou controle de processos, mas o circuito contador de módulo-FF é
muito empregado no endereçamento de memórias e sistemas em rede.
Nesta seção, você estudou os contadores e suas principais aplicações, os tipos de contadores, pinagens,
estruturas sequenciais e a associação de contadores. Agora que você possui um conhecimento amplo
sobre este tipo de circuito sequencial, conheça um novo tipo de circuito: o circuito sequencial, chamado
de registrador.
3.4 REGISTRADORES
Os circuitos registrados têm uma aplicação muito ampla em sistemas de comunicação e endereçamento
de memórias. Os circuitos sequenciais estudados aqui são chamados de registradores de deslocamento,
expressão que vem do inglês shift-register. Segundo Malvino e Leach (1987, p. 418), “Um registrador é
simplesmente um grupo de flip-flops que pode ser usado para armazenar um número binário. Deverá
haver um flip-flop para cada bit do número binário”. A estrutura dos registradores é formada normalmente
por FFs do tipo D.
A disposição dos circuitos biestáveis, juntamente com a associação a circuitos combinacionais, irá definir
o modo de operação de cada tipo de registrador. Os tipos principais dos registradores de deslocamento
são:
a) registrador série-série;
b) registrador paralelo-paralelo;
c) registrador série-paralelo;
d) registrador paralelo-série.
O termo série ou paralelo está associado com o tipo de entrada e com o tipo da saída. Se a entrada
possui uma conexão série e a saída possui uma conexão paralela, por exemplo, este será um registrador
série-paralelo.
ELETRÔNICA DIGITAL
182
Nesta seção, serão abordados o funcionamento de cada um dos tipos de registradores, bem como
alguns exemplos com circuitos integrados. Torna-se importante ressaltar que assim como os contadores,
os registradores também possuem uma estrutura formada por FFs, principalmente o FF do tipo D.
Já o registrador de deslocamento é uma estrutura universal que possui 4 modos de operação. O circuito
shift-register pode ser visualizado na figura, a seguir.
IC IB IA
IL
CLR
QC QB QA
Todos os exemplos, a seguir, serão mostrados com o registrador de três bits, porém existem registradores
com capacidade de bits muito maior, por exemplo, 4, 8, 16, 32 bits etc. As entradas IA, IB e IC são denominadas
entradas paralelas. O pino IL habilita o uso das entradas paralelas. O pino S é chamado de entrada serial.
CLK é o pulso de clock. CLR é um pino que zera todos os FFs. As saídas QA, QB e QC em conjunto formam
as saídas paralelas. Já a saída QA sozinha é a saída serial. De maneira geral, este circuito sequencial tem
característica síncrona, pois todos os flip-flops possuem o mesmo sinal de clock.
O modo de operação do registrador de deslocamento dependerá do uso das suas entradas/saídas e
série/paralela de acordo com os pinos auxiliares. O primeiro tipo de registrador a ser estudado tem como
característica principal a entrada serial e a saída também serial.
O registrador com entrada e saída serial registra uma determinada informação bit a bit, ou seja, a cada
pulso de clock, um bit é deslocado para a saída de maneira sincronizada. Para realizar um registro da
informação de maneira serial, serão utilizadas as entrada S e a saída QA. Neste caso, o registrador conta
com 3 bits, ou seja, a informação a ser registrada deve possuir 3 bits também.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
183
Neste modo de operação, a entrada IL deve estar em nível lógico 0 e isso irá desabilitar as entradas
paralelas, que, deste modo, não irão interferir no estado das saídas. O nível lógico do pino CLR deverá ser o
nível 1 durante todos os pulsos de clock até a informação de S conseguir ser registrada em QA. Quando não
for mais necessário o registro, o pino CLR pode ser colocado em nível lógico 0, apagando as informações
presentes em cada flip-flop.
Como a saída é serial, as informações irão correr de bit a bit, ou seja, de flip-flop para flip-flop, até que
a informação chegue no último FF que contém a saída QA. Desta maneira, durante os pulsos de clock, a
informação de S vai para QC, a informação anterior de QC vai para QB e a informação anterior de QB vai
para QA. Repare que a expressão informação anterior se refere à informação anterior àquele pulso de
clock.
Para armazenar uma informação de 3 bits, 1102 (6 em decimal), por exemplo, em um registrador série-
-série e para que toda a informação chegue até a saída serial QA, são necessários 5 pulsos de clock. Um
aspecto importante é que a informação em série deve ser registrada de modo que os bits menos significa-
tivos (LSB) vão primeiro, deixando por último o Bit Mais Significativo (MSB). Deste modo, a informação 1102
será enviada da seguinte forma:
IL CLR CLOCK S QC QB QA
0 1 - X X X X
0 0 - X 0 0 0
0 1 - 0 0 0 0
0 1 1º 1 0 0 0
0 1 2º 1 1 0 0
0 1 3º X 1 1 0
0 1 4º X X 1 1
0 1 5º X X X 1
Tabela 68 - Funcionamento do registrador de deslocamento série-série com 3 bits
Fonte: SENAI (2016)
Veja outro exemplo do registrador série-série e perceba que o número a ser registrado será o valor
10102. Observe que este registrador possui 4 bits, ou seja, é necessário que seja colocado mais um flip-flop
em cascata. O princípio de funcionamento será o mesmo do registrador de 3 bits, mas a única diferença será
que este circuito irá demorar mais um pulso de clock até que o registrador complete sua função. Analise a
tabela, a seguir, com o funcionamento do registrador de 4 bits.
IL CLR CLOCK S QD QC QB QA
0 1 - X X X X X
0 0 - X 0 0 0 0
0 1 - 0 0 0 0 0
0 1 1º 1 0 0 0 0
0 1 2º 0 1 0 0 0
0 1 3º 1 0 1 0 0
0 1 4º X 1 0 1 0
0 1 5º X X 1 0 1
0 1 6º X X X 1 0
0 1 7º X X X X 1
Tabela 69 - Exemplo registrador série-série de 4 bits
Fonte: SENAI (2016)
Observe que, ao final do último pulso de clock, o valor 10102 está presente nas saídas QD, QC, QB e QA,
respectivamente. Nos dois exemplos apresentados, é importante notar que a entrada S deve mudar antes
do próximo pulso de clock, ou melhor, a velocidade em que a informação muda na entrada S deve estar
ajustada com a velocidade dos pulsos de clock.
Outro aspecto importante deste tipo de registro é que não são utilizadas as saídas de maneira
paralela, mas sim, de maneira serial. Por mais que a informação esteja disponível nas saídas Q, a leitura
das saídas é feita bit a bit, ou seja, apenas a saída QA é utilizada para a leitura da informação.
Agora que você já estudou os registradores série-série, será apresentado o próximo modo de operação
do shift-register. Na próxima seção, será demonstrado o modo de funcionamento do registrador com o
uso da entrada serial e das saídas paralelas. O funcionamento da entrada série de ambos os registradores
permanece igual, mas você irá perceber que há uma pequena diferença no funcionamento deste novo
registrador em relação à saída paralela.
Para o exemplo do registrador de três bits, após três pulsos de clock, a informação está presente nas
saídas QC, QB e QA, ou seja, o conjunto destes bits pode ser transmitido a outro circuito de maneira paralela
sem a necessidade de a saída ser lida bit a bit. No caso do registrador de quatro bits, após quatro pulsos de
clock, a informação presente nas saídas QD, QC, QB e QA pode ser transmitida também de maneira paralela.
Exemplo – Registros série/paralelo
Imagine que você precisa enviar três pacotes de informações para um equipamento acoplado ao
conversor série-paralelo de três bits. Cada pacote de informação contém um número binário diferente. Os
números presentes nos três respectivos pacotes são 0012, 1112 e 0102. O funcionamento desta transmissão
de dados pode ser visualizado pela tabela que segue.
IL CLR CLOCK S QC QB QA
0 1 - X X X X
0 0 - X 0 0 0
0 1 - 1 0 0 0
0 1 1º 0 1 0 0
0 1 2º 0 0 1 0
0 1 3º X 0 0 1
Enviar 0012
0 0 - X 0 0 0
0 1 - 1 0 0 0
0 1 4º 1 1 0 0
0 1 5º 1 1 1 0
0 1 6º X 1 1 1
Enviar 1112
0 0 - X 0 0 0
0 1 - 0 0 0 0
0 1 7º 1 0 0 0
0 1 8º 0 1 0 0
0 1 9º X 0 1 0
Enviar 0102
Tabela 70 - Exemplo conversor série-paralelo com 3 bits
Fonte: SENAI (2016)
Observe que o conversor série-paralelo envia as informações a cada 3 pulsos de clock. Isso é necessário,
pois levam cerca de 3 pulsos para toda a informação binária chegar às saídas QC, QB e QA. Você pode notar
que cada vez que uma informação era enviada, o pino CLR zerava as saídas Q, mas, neste procedimento,
não é necessário e pode ser utilizado para evitar que o equipamento conectado ao registrador não receba
algum tipo de informação indesejada.
Agora que você compreendeu os registradores com entrada em série, descubra os que utilizam as
entradas paralelas do registrador deslocamento, que possuem diferentes pinos em relação à entrada série.
Portanto, existem algumas pequenas diferenças quanto ao seu funcionamento e sua aplicação.
ELETRÔNICA DIGITAL
186
O registrador com entrada paralela e saída serial pode ser chamado de conversor paralelo-série. Este
conversor não opera mais a entrada S, como visto nas seções anteriores, porém irá utilizar as entradas
paralelas IA, IB, IC etc. Para habilitar as entradas paralelas, é necessário que o pino IL seja colocado em
nível lógico 1. Desse modo, os flip-flops irão conter as entradas paralelas ao invés de deslocar a informação
através da entrada serial. Como este registrador possui uma saída serial, a saída será transmitida apenas
pela saída QA. É importante notar que a partir do momento em que as entradas forem habilitadas pelo
pino IL, as saídas QC, QB e QA receberão o nível lógico das entradas IC, IB e IA, respectivamente. Para
compreender melhor o funcionamento do conversor paralelo-série, observe o seguinte exemplo.
IL CLR CLOCK IC IB IA QC QB QA
0 1 - X X X X X X
0 0 - X X X 0 0 0
0 1 - 0 1 1 0 0 0
1 1 - 0 1 1 0 1 1
0 1 1º X X X X 0 1
0 1 2º X X X X X 0
Tabela 71 - Exemplo conversor paralelo-série
Fonte: SENAI (2016)
Inicialmente, o registrador possui qualquer valor, representado por X, mas quando CLR tem nível lógico
0, todas as saídas são zeradas. Observe que, mesmo após CLR voltar ao nível 1, os estados das saídas não
sofreram nenhuma mudança. Isso acontece, porque o nível lógico de IL ainda permanece em zero.
Quando IL tem nível lógico 1, os estados de IC, IB e IA são copiados, respectivamente, para as saídas
QC, QB e QA. Perceba que a saída QA já possui um valor de entrada independentemente de qualquer
sinal de clock. E, quando o 1.º pulso ocorre, o valor da saída QC é deslocado para QB e o valor da saída QB
é deslocado para o valor da saída QA. No 2.º pulso de clock, a saída QB é deslocada para a saída QA. Desta
maneira, com apenas 2 pulsos de clock, todas as informações presentes na entrada passaram pela saída QA.
Este conversor precisa de menos pulsos de clock para realizar a transmissão série, pois as informações de
entradas já estão registradas nas saídas Q, só precisam ser deslocadas até QA.
Uma vez que a informação de entrada é copiada para as saídas e realizado o primeiro pulso de clock,
as entradas podem assumir qualquer valor. Isso acontece, porque antes da primeira borda de descida do
clock, o sinal IL deve voltar ao nível lógico 0. Se IL não voltar para o nível lógico 0, significa que o sinal de
entrada será constantemente copiado para as saídas.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
187
CASOS E RELATOS
Agora que você estudou esse um tipo de registrador, conheça um modo de operação do registrador de
deslocamento, com entradas e saídas paralelas. Este modo de operação é mais simples e muito aplicado
em sistemas que necessitem de informações rápidas e sincronizadas.
IL CLR CLOCK IC IB IA QC QB QA
0 1 - X X X X X X
0 0 - X X X 0 0 0
0 1 - 0 1 1 0 0 0
1 1 - 0 0 1 0 0 1
0 1 - X X X 0 0 1
0 1 - 0 1 0 0 0 1
1 1 - 0 1 0 0 1 0
0 1 - X X X 0 1 0
0 1 - 0 1 1 0 1 0
1 1 - 0 1 1 0 1 1
0 1 - X X X 0 1 1
0 0 - X X X 0 0 0
Tabela 72 - Exemplo registrador paralelo-paralelo
Fonte: SENAI (2016)
Ao analisar os dados enviados 001b, 010b e 011b e utilizando um registrador paralelo-paralelo percebe-
-se, inicialmente, que as entradas e saídas podem ter qualquer valor quando o pino CLR tem nível lógico
igual a 0 e, da mesma forma, as saídas QC, QB e QA recebem o nível lógico 0. Mesmo se as entradas sofrerem
uma mudança de estado, as saídas só mudarão de valor quando a entrada IL é acionada.
Uma vez a entrada acionada, o valor das entradas IC, IB e IA são copiados para as saídas QC, QB e QA.
Para inserir um outro valor, é necessário que o pino IL mude para zero novamente. Com o novo valor de
entrada disponível, quando o pino IL retornar ao nível lógico 1, o novo valor presente em IC, IB e IA será
copiado para QC, QB e QA, substituindo a informação anterior.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
189
Neste exemplo, não foi utilizado o pulso de clock, mas mesmo assim o pino IL faz papel de controle de
sincronismo para este registrador. O pino de controle é indispensável para garantir que o registrador
tenha valores exatos em tempos pré-determinados. Neste caso, este circuito também é chamado de latch,
que em português pode ser traduzido como cadeado.
Uma outra forma de representar o latch é realizando a associação de flip-flops do tipo D, conforme o
datasheet do circuito integrado 74HC573 a ser apresentado na próxima figura. Este CI possui 8 flip-flops
D, ou seja, pode realizar a transmissão de até 8 bits em paralelo. Veja a figura que mostra a sua estrutura
interna.
D0 D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7
D Q D Q D Q D Q D Q D Q D Q D Q
LATCH LATCH LATCH LATCH LATCH LATCH LATCH LATCH
1 2 3 4 5 6 7 8
LE LE LE LE LE LE LE LE
OE
Q0 Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7
Neste circuito, o pino LE (latch enable) é responsável por realizar o controle dos dados que são copiados
para as saídas Q. Este controle é normalmente chamado de enable, que em português significa habilitar.
O pino LE está conectado ao pino de clock deste circuito através de uma porta inversora, isto é usado para
que o enable seja habilitado no nível lógico 1. Observe que existem pequenas diferenças entre a estrutura
do latch 74HC573 e o circuito geral do registrador de deslocamento. O circuito latch foi otimizado para
não possuir as entradas seriais, visto que este circuito trabalha apenas de modo paralelo. Outra diferença
importante é que o controle do latch não está conectado a uma porta lógica que habilita as entradas
paralelas. Deste modo, o controle é feito pelo pino LE conectado de maneira indireta ao clock de todos
os FFs desta estrutura. Este CI ainda conta com um pino especial conhecido como OE (Ouput Enable), que
habilita as saídas digitais deste dispositivo. A atuação do pino OE ocorre de maneira independente ao pino
de clock.
Nesta seção, foi possível compreender que apenas um circuito possui quatro modos de operação.
Utilizando seus pinos de entrada, é possível modificar o funcionamento do registrador de deslocamento.
Algo importante aprendido nesta seção é que quanto mais específica for a aplicação de um circuito, este
pode ser adaptado para realizar determinada função.
ELETRÔNICA DIGITAL
190
Este é o caso do latch em comparação com o registrador de deslocamento. Foi possível identificar nesta
seção que os FFs possuem uma aplicação muito ampla no mundo da eletrônica digital, visto que estes
são parte fundamental na estrutura dos registradores. Um aspecto muito importante foi compreender
conceitos novos como o sincronismo e a análise dos circuitos do ponto de vista dos pulsos de clock. Além
dos conceitos aprendidos nesta seção, você aprendeu neste capítulo de lógica sequencial muitos outros
conhecimentos e exemplos. Assim, antes de iniciar um novo capítulo, recapitule o que foi aprendido.
RECAPITULANDO
Neste capítulo, você aprendeu o que significa a lógica sequencial e sua principal característica no
funcionamento dos seus circuitos: a realimentação. Você observou que este conceito é o parâmetro
para o funcionamento das memórias, que podem ser utilizadas desde uma simples calculadora até
o mais avançado computador. Durante a apresentação dos circuitos sequenciais, você estudou os
flip-flops, que são circuitos essenciais para diversas aplicações, como temporizadores, contadores,
geradores de onda, registradores, etc. De maneira geral, os circuitos sequenciais colaboraram
não apenas com a eletrônica digital, mas apresentam diversas aplicações dentro da eletrônica
analógica.
Como os circuitos sequenciais são amplamente aplicados na eletrônica e possuem grande
importância no que diz respeito ao armazenamento e processamento de dados, você observou
que, no estudo dos flip-flops, há diversos modos de operação, como os tipos RS, JK, D e T, e
percebeu que o flip-flop possui diversos pinos auxiliares que ampliam suas aplicações e modos de
funcionamento. Também conheceu um pouco da sua estrutura interna e também sua dependência
do sinal de clock.
Com o conhecimento dos FFs, foi possível estudar os temporizadores 555 em que a estrutura interna
do circuito integrado LM555 foi abordada, apresentando os modos astáveis e monoestáveis. Foi
possível observar, também, suas formas de ondas de saída, que são retangulares e com inúmeras
aplicações incluindo a geração de pulsos de clock.
O estudo dos contadores é de grande importância para a eletrônica digital, pois eles possuem uma
faixa de aplicação muito ampla e estão presentes na maioria dos circuitos digitais. Os contadores
têm dois grandes diferentes modos: o modo síncrono e o assíncrono. Neste estudo, foi possível
observar que um contador pode realizar uma contagem em uma sequência qualquer que pode
ser representada através de um mapa de estados. Foi visto que algumas aplicações dos contadores
requerem uma associação de contadores, podendo produzir um contador de módulo-N.
3 LÓGICA SEQUENCIAL
191
Os registradores são de grande importância para a eletrônica, pois são fundamentais para a
transmissão de dados e a comunicação presente em memórias de computador. Você observou que
o registrador de deslocamento tem diversos modos de operação em relação às entradas e saídas de
dados, sendo elas séries ou paralelas. Além disso, uma das grandes contribuições realizadas pelos
registradores são os conceitos de sincronismo e fidelidade dos dados durante uma transmissão.
De maneira geral, os circuitos sequenciais, quando combinados, podem agir de forma
independente, ou seja, funcionam de forma automática. Isto mostra que foi através destes circuitos
que muitas tarefas puderam ganhar velocidade e autonomia. Percebe-se, portanto, que boa parte
das funções geradas pelos circuitos sequenciais, hoje, podem ser implementadas com o uso de
microcontroladores. Porém, isso não impede que os circuitos sequenciais estejam presentes na
eletrônica atual, visto que a estrutura interna dos microcontroladores e microprocessadores é
composta por diversos circuitos sequenciais.
Neste capítulo, você também pôde estudar sobre os principais aspectos relacionados à eletrônica
digital e o próximo capítulo lhe mostrará como a eletrônica pode interagir com o mundo real. Você
verá que muitos conceitos aprendidos neste capítulo serão tratados na estrutura interna de muitos
outros circuitos, chamados de conversores.
Interface com o Mundo Analógico
Hoje em dia, dificilmente você irá encontrar alguém que não tenha contato com algum
equipamento eletrônico, seja o simples radio à pilha, televisores ou até supercomputadores
e meios de comunicação avançados. O contato que as pessoas têm com o uso destes
equipamentos é uma forma de se conectar com o mundo analógico. Como assim?
O mundo analógico é o conjunto de diversas grandezas físicas que podem variar de
acordo com o tempo, como a velocidade, a pressão, a temperatura, corrente elétrica, tensão,
resistência, dentre outras. Como é possível um equipamento eletrônico medir a temperatura
de um ambiente? Como se dimensiona a pressão em um duto através um circuito digital? Quais
informações a eletrônica leva em consideração para que se possa interpretar as grandezas
físicas a sua volta?
Neste capítulo, você saberá como os equipamentos eletrônicos auxiliam na interpretação
e no processamento de informações ao redor do mundo. Imagine que os circuitos digitais
tenham uma língua na qual possam se comunicar e interagir com outros sistemas. Do mesmo
modo, o cenário analógico tem a sua própria expressão. Naturalmente o idioma do mundo
digital e do analógico são diferentes, portanto não é possível a sua comunicação de forma
direta, sem determinados dispositivos de interfaceamento. Para que haja comunicação, são
necessários equipamentos conversores que funcionam como interpretes, possibilitando a
comunicação entre os dois universos: o digital e o analógico.
Neste capítulo, você irá estudar o elemento interprete chamado conversor e que existem
dois principais tipos: o conversor analógico digital e o digital analógico. Com o estudo dos
conversores, você irá conhecer o funcionamento dos circuitos, características e aplicações.
Assim, a partir da leitura deste capítulo, você terá subsídios para:
a) interpretar diagramas e esquemas de circuitos digitais;
b) efetuar medidas em circuitos digitais;
c) analisar diagramas e esquemas de circuitos digitais;
d) interpretar diagramas de montagem e esquemas de circuitos digitais;
e) utilizar os equipamentos de medição em circuitos digitais;
f ) implementar circuitos combinacionais;
ELETRÔNICA DIGITAL
194
Antes de iniciar o estudo sobre o conversor, você conhecerá de maneira detalhada o que é uma grandeza
analógica e o que é uma grandeza digital.
Todas as grandezas físicas variam de forma analógica, isto é, para atingir um valor desejado de uma
grandeza qualquer, é necessário que ele passe por todos os valores intermediários de maneira contínua.
Por exemplo, a temperatura é uma grandeza analógica, pois é possível medir valores intermediários
entre um determinado valor e outro. Perceba que, entre 21 e 22 graus Celsius, existe a temperatura de
21,1°, 21,01° ou 21,001°C, ou seja, há infinitos valores intermediários de temperatura. Isto é uma variação
contínua e, portanto, caracteriza uma grandeza analógica. A figura, a seguir, mostra a alteração de uma
variável analógica em relação ao tempo.
Grandeza
Física
Tempo
Figura 108 - Variável analógica
Fonte: SENAI (2016)
Um sinal digital, por sua vez, não possui valores infinitos intermediários, mas sim valores fixos e limitados,
por exemplo, o controle do volume de uma TV ou valores fixos de temperatura de um ar condicionado. Veja
a representação na figura, a seguir.
Grandeza
Sabrina Farias (2016)
Tempo
Figura 109 - Grandeza digital
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
196
Para que os sinais de tensão elétrica sejam devidamente convertidos em digitais ou analógicos, é
necessário o uso de conversores. Os conversores que realizam a transformação de um sinal digital para o
analógico também são conhecidos como conversores D/A. O objetivo principal deste conversor é tratar
uma informação presente em um circuito digital e disponibilizá-la para um equipamento ou circuito,
realizando algum tipo de controle de processo ou interagindo com outros sistemas analógicos.
Os conversores D/A funcionam quando um dado digital presente em entradas digitais de um sistema é
convertido para um valor equivalente analógico. Para entender bem o conceito do conversor D/A, observe
a figura a seguir.
A Us
Conversor D/A +
Um conversor D/A com duas entradas digitais (A e B) terá uma saída com sinal analógico (Us). Os sinais de
entrada têm valor fixo de tensão, enquanto que os valores de saída podem variar de acordo com a presença
de tensão na entrada. Nesta seção, serão apresentados alguns exemplos, características e aplicações do
conversor D/A.
Nesta seção inicial, você conheceu o conceito de um conversor analógico digital genérico, ou seja, foi
possível entender seu funcionamento através de um diagrama de blocos. Diante deste entendimento,
prossiga seus estudos e compreenda as principais características dos circuitos responsáveis por esta
conversão.
4.1.1 CARACTERÍSTICAS
Uma das características principais de uma conversão do mundo digital para o mundo analógico é a
precisão, que, neste caso, está associada ao número de bits de um conversor D/A. Os bits em conversores
D/A são as entradas digitais e, quanto maior o número de entradas digitais, maior será a precisão deste
conversor.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
197
Um sinal de tensão elétrica pode ser representado digitalmente e, para isso, será necessário um número
mínimo de bits. Os bits irão armazenar as informações digitais correspondentes ao sinal analógico. Portanto,
suponha que você tenha um único bit para armazenar um sinal de 10 V e quando o bit for igual a zero, a
tensão analógica será menor ou igual a 5 V. Quando o bit for igual a 1, a tensão analógica será menor
ou igual a 10 V. Com 2 bits, tem-se duas possíveis tensões. Mas, quando este número de bits começa a
aumentar, quantas tensões analógicas podem ser representadas? Qual deverá ser a relação entre os bits e o
número de níveis de tensão analógica? De maneira geral, pode-se adotar a seguinte expressão:
p = 2n
onde:
n: número de entradas do circuito D/A (bits);
p: número de divisões em que um valor analógico é representado.
De maneira geral, 4 bits é uma quantidade razoável de entradas digitais que possibilitam um número de
16 divisões para representar um número analógico de saída. Partindo dessa premissa, serão mostradas, na
próxima seção, algumas formas para a construção dos circuitos D/A.
A B C D (LSB)
1K 2K 4K 8K
+
Sabrina Farias (2016)
Ro Us
Sabe-se que uma entrada digital tem quatro possíveis valores de tensão: valor mínimo e valor máximo.
No caso de um conversor D/A ter 4 entradas, a saída Us terá 24 valores possíveis, ou seja, poderá assumir 16
valores de tensão entre os valores mínimo e máximo de entrada.
Na figura, o conversor apresentado tem os valores dos resistores calculados de acordo com o nível de
tensão desejada na saída Us. Repare que os resistores presentes nas entradas (A, B, C e D) são múltiplos de
ELETRÔNICA DIGITAL
198
um valor de resistência R. Essa estratégia é utilizada para que cada entrada digital tenha uma contribuição
diferente no valor de saída Us. Por exemplo, quando apenas a entrada A estiver em nível alto, a saída Us
deve ser maior do que quando apenas a entrada B estiver em nível alto, sendo este o efeito de maior
contribuição analógica.
Perceba, também, que o valor Ro não é múltiplo de R. O valor de Ro irá contribuir com o valor da saída
Us como um divisor de tensão. Modificando o valor de Ro, é possível ajustar o valor máximo de Us. Trata-se
de uma estratégia utilizada para que o nível da tensão de saída seja adequado à necessidade da aplicação.
Para compreender melhor este conversor, acompanhe um exemplo com valores comerciais de resistores
e níveis de tensão usuais no cenário industrial.
A B C D US (V)
0V 0V 0V 0V 0
0V 0V 0V 24 V 1,09
0V 0V 24 V 0V 2,08
0V 0V 24 V 24 V 2,99
0V 24 V 0V 0V 3,83
0V 24 V 0V 24 V 4,61
0V 24 V 24 V 0V 5,32
0V 24 V 24 V 24 V 5,99
24 V 0V 0V 0V 6,61
24 V 0V 0V 24 V 7,19
24 V 0V 24 V 0V 7,73
24 V 0V 24 V 24 V 8,24
24 V 24 V 0V 0V 8,71
24 V 24 V 0V 24 V 9,16
24 V 24 V 24 V 0V 9,59
24 V 24 V 24 V 24 V 9,99
Tabela 73 - Conversão analógica
Fonte: SENAI (2016)
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
199
Perceba que as possibilidades proporcionadas pelas entradas (A, B, C e D) formam uma espécie de
tabela-verdade. Conforme a contribuição das entradas aumenta, o valor de Us também cresce. É importante
salientar que os valores apresentados na tabela são característicos do exemplo citado, pois se os valores de
R e Ro (bem como o valor de tensão nas chaves de entrada) fossem diferentes, consequentemente o valor
de Us também o seria.
Em aplicações industriais, os níveis de tensão de um conversor são bem diferentes dos apresentados
no exemplo anterior. Isso quer dizer que, além de utilizar o conversor D/A, o nível de tensão deve ser
adequado para aplicações da indústria. As tensões analógicas presentes normalmente são padronizadas
em intervalos de 0 a 10 VDC. Para ajustar o nível de tensão elétrica do conversor para a aplicação, pode ser
utilizado um componente eletrônico chamado Amplificador Operacional (AmpOp).
{
Vin(-) -
Sabrina Farias (2016)
V0 (terminal de saída)
Entradas
Vin(+) +
-VCC (terminal de alimentação)
Figura 112 - Amplificador operacional
Fonte: SENAI (2016)
Nesta imagem, é possível observar que os amplificadores operacionais possuem cinco principais
pinos: duas entradas, dois pontos de alimentação e uma saída. Os pinos de entrada são conhecidos como
entrada inversora e não inversora (Vin(-) e Vin(+)), respectivamente. Os pinos de alimentação (+VCC e –VCC)
são responsáveis pela alimentação do circuito. O pino Vo é a tensão resultante na saída deste amplificador
operacional.
ELETRÔNICA DIGITAL
200
O amplificador operacional tem em princípio cinco conexões e existem diversas formas de realizá-las,
pois este dispositivo efetua uma infinidade de tarefas, como comparação de sinais, amplificação, filtro,
regulação de tensão, circuitos de controle, buffer etc. O objetivo do uso do AmpOp com o conversor D/A é
expandir o sinal analógico para uma tensão aplicável a ambientes industriais. Um modo de implementar
um conversor D/A com amplificadores operacionais é dado de acordo com a imagem a seguir.
A B C D (LSB)
RF
R 2R 4R 8R RX
- RX
1 -
+
Na figura apresentada, foram utilizados dois AmpOs. O primeiro amplificador é conhecido como inversor
somador. Este circuito irá amplificar a tensão Us de acordo com a contribuição de cada entrada A, B, C ou D.
Por outro lado, à medida que este circuito amplifica o sinal, este também irá inverter seu valor, ou seja, irá
tornar o sinal amplificado negativo. A expressão que melhor representa a amplificação deste sinal é dada
por:
Repare que o sinal de V1 está negativo, pois o padrão de sinais analógicos em processos industriais é de
tensão positiva. Para isso, pode ser utilizado o segundo AmpOp (Amplificador Inversor), que inverte o sinal
de entrada, conforme a seguinte expressão:
Como a fração dos resistores Rx pode ser simplificada pelo valor 1, o sinal de tensão de saída Vo será:
Vo = - V1
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
201
Realizando algumas manipulações algébricas, fica fácil de se entender que, na verdade, a saída Vo pode
ser dada através da seguinte expressão:
É importante lembrar de que os valores permitidos para A, B, C ou D são dados apenas por 0 ou 1.
Observe que a relação entre os resistores Rf e R irão controlar o ganho deste amplificador, ou seja, a relação
entre estes dois resistores indicará o fator multiplicativo entre Vo e Us. Para compreender bem este conceito,
analise o próximo exemplo.
A B C D US (V)
0 0 0 0 0
0 0 0 1 0,067
0 0 1 0 0,133
0 0 1 1 0,200
0 1 0 0 0,266
0 1 0 1 0,333
0 1 1 0 0,400
0 1 1 1 0,466
1 0 0 0 0,533
1 0 0 1 0,600
1 0 1 0 0,666
1 0 1 1 0,733
1 1 0 0 0,800
1 1 0 1 0,866
1 1 1 0 0,933
1 1 1 1 1,0
Tabela 74 - Tabela de conversão de um circuito D/A sem AOP
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
202
Aplicando este método para todas as condições da tabela apresentada, pode-se encontrar todos os
possíveis valores de Vo. Desta maneira, a tabela ganha mais uma coluna, conforme demonstrado a seguir.
A B C D US (V) VO (V)
0 0 0 0 0 0,00
0 0 0 1 0,067 0,04
0 0 1 0 0,133 0,17
0 0 1 1 0,200 0,38
0 1 0 0 0,266 0,67
0 1 0 1 0,333 1,04
0 1 1 0 0,400 1,50
0 1 1 1 0,466 2,04
1 0 0 0 0,533 2,67
1 0 0 1 0,600 3,38
1 0 1 0 0,666 4,16
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
203
A B C D US (V) VO (V)
1 0 1 1 0,733 5,04
1 1 0 0 0,800 6,00
1 1 0 1 0,866 7,04
1 1 1 0 0,933 8,16
1 1 1 1 1,0 9,38
Tabela 75 - Tabela de conversão de um circuito D/A sem AOP
Fonte: SENAI (2016)
Observe que agora os níveis de tensão do conversor estão adequados para aplicações industriais, ou
seja, pertencem a uma faixa próxima de 0 a 10 VDC. Perceba também que a tensão obtida na saída Vo não se
comporta de maneira proporcional a Us. E, uma outra forma de se implementar um conversor D/A é utilizar
uma rede de resistores conhecida como R-2R.
R R R
+
2R 2R 2R 2R 2R 2R Us
Sabrina Farias (2016)
-
D (LSB) C B A
Figura 114 - Conversor D/A com rede R-2R
Fonte: SENAI (2016)
Observe que a rede R-2R organiza os resistores de maneira diferente do primeiro conversor D/A visto
nesta seção. Neste arranjo, a entrada A é o MSB, enquanto que D é o LSB. Observe que a tensão Us está
presente no resistor 2R à direita. A tensão Us irá depender dos seguintes aspectos:
a) valor da resistência R;
b) valor da tensão de A, B, C e D.
Assim como no conversor D/A, estudado anteriormente, cada uma das entradas digitais contribui com a
tensão de saída Us. Para ilustrar esta contribuição, será considerado VCC como o nível lógico 1 das entradas
digitais. Como a entrada A tem mais significância no valor de Us, é apresentada pela seguinte expressão:
ELETRÔNICA DIGITAL
204
A contribuição da entrada C para saída Us pode ser apontada pela seguinte expressão:
Por fim, a contribuição da entrada D para a saída Us pode ser dada pela expressão:
Desta maneira, pode-se escrever a expressão geral da tensão Us através da seguinte maneira:
Exemplo
Examinando o circuito conversor analógico-digital com rede R-2R de 4 bits, deve-se encontrar todos os
valores possíveis de Us em forma de tabela. Considerando VCC = 10 V e R = 1 K. Ao aplicar as expressões
matemáticas descritas, obtém-se a seguinte tabela.
A B C D US (V)
0 0 0 0 0.00
0 0 0 1 0.42
0 0 1 0 0.83
0 0 1 1 1.25
0 1 0 0 1.67
0 1 0 1 2.08
0 1 1 0 2.50
0 1 1 1 2.92
1 0 0 0 3.33
1 0 0 1 3.75
1 0 1 0 4.17
1 0 1 1 4.58
1 1 0 0 5.00
1 1 0 1 5.42
1 1 1 0 5.83
1 1 1 1 6.25
Tabela 76 - Conversão digital analógica de 4 bits com rede R-2R
Fonte: SENAI (2016)
Observe neste exemplo que a entrada D possui menor contribuição para com a saída Us. Quando
apenas D é igual a 1, a saída é representada por Us = 0,42 V. A entrada C, por sua vez, em nível alto, produz
uma contribuição de 0,83 V para a saída Us. No momento em que apenas a entrada B está em nível alto,
produz uma contribuição de 1,67 V para a saída Us. Por fim, quando apenas a entrada mais significativa está
em nível alto, sua contribuição para a saída Us é de 3,33 V. Cada vez em que todas as entradas estão em
nível lógico 0, o sinal de tensão na saída é 0 V. E, quando todas as entradas estão em nível lógico 1, a saída
Us terá tensão igual a 6,25 V.
ELETRÔNICA DIGITAL
206
Caso você não tivesse a disponibilidade desta tabela, como encontraria o valor de Us para as informações
de entrada A = 1, B = 0, C = 0 e D =1? Neste caso, basta inserir os valores de VCC e os níveis lógicos das
entradas na seguinte expressão:
Observe que o valor de R não está presente na expressão geral de Us. Isso significa que esta expressão é
sempre válida, desde que o arranjo R-2R seja mantido com os resistores na mesma proporção.
Nesta seção, você compreendeu o que é um conversor D/A, como adequar os níveis de tensão para
aplicações industriais e ainda aprendeu sobre o AmpOp. Porém, você deve estar se perguntando: para que
serve o conversor D/A? Na próxima seção, você irá conhecer suas aplicações.
4.1.2 APLICAÇÕES
Os conversores D/A possuem diversas finalidades, dentre elas, circuitos geradores de função e de
reprodução de áudio, conforme descrito a seguir.
GERADORES DE FUNÇÃO
Os circuitos geradores de função proporcionam a criação de formas de onda, como ondas quadradas,
senoidais, triangulares etc. O conversor D/A deve ser controlado por um outro circuito com a função
de gerar uma forma de onda digitalmente, ou seja, o conversor D/A tem apenas o papel de traduzir a
informação digital do circuito controlador para uma informação analógica.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
207
Como visto na seção anterior, a qualidade do sinal analógico produzido dependerá do número de
entrada digitais do conversor. Quanto maior o número de entradas do conversor D/A, maior será a precisão
do sinal analógico. A figura, a seguir, apresenta um esquema de como funcionam os circuitos geradores de
onda.
Gerador D/A
Sinal analógico
O diagrama apresentado descreve apenas uma ideia geral de qual o principal objetivo do conversor
digital analógico. É claro que nas várias etapas de funcionamento do circuito gerador de função existem
detalhes relacionados à eletrônica analógica, que não serão detalhados neste livro. A seguir, será
apresentada uma outra aplicação do conversor D/A.
REPRODUÇÃO DE ÁUDIO
As informações digitalizadas são armazenadas em memórias e podem ser acessadas de maneira
arbitrária. Em computadores, mp3 players, tablets e smartphones os arquivos de áudio são armazenados
em memórias e o som reproduzido pelo equipamento deve chegar às caixas amplificadoras (ou fones de
ouvido) no formato de um sinal analógico. Se a informação digital é reproduzida na forma de som, ela
sofreu uma conversão digital-analógica.
Como o próprio nome diz, o conversor digital-analógico transforma um sinal digital em analógico. Exis-
te um componente eletrônico que faz a função inversa, isto é, converte um sinal analógico em um sinal
digital, conhecido como o conversor analógico-digital. Agora, que você conhece como é a estrutura de um
conversor D/A, está na hora de compreender o funcionamento e a estrutura de um conversor A/D.
ELETRÔNICA DIGITAL
208
O conversor analógico-digital é um dispositivo eletrônico que pode interpretar sinais elétricos, como a
tensão e a corrente, ao mesmo tempo que traduz este sinal para o formato digital. Basicamente, a função
do conversor é dada pela figura.
A
Conversor A/D
Ue B
O circuito conversor A/D tem como entrada um valor analógico (Ue) e como saída bits digitais (A e B).
Como os circuitos eletrônicos trabalham com grandezas elétricas, a entrada analógica será um valor de
tensão elétrica. E as saídas digitais serão valores fixos de tensão, que podem representar bits de estado 0
ou 1.
Suponha que a variável analógica Ue pode ter diferentes valores entre 0 e 5 V, ou seja, o valor mínimo é
0 V e o valor máximo é de 5 V. A variável Ue pode assumir infinitos valores neste intervalo de tensão, como:
Ue = {0,4; 1; 2,3; 3,33; 4,53; 4,99;...}
Isso acontece, porque Ue é uma variável analógica, ou seja, uma variável real. O papel real do conversor
analógico digital é representar um número analógico em um equivalente binário. Desta forma, para um
conversor analógico digital com dois bits, a conversão atende a seguinte tabela:
Ue (V) A B
0,00 0 0
1,67 0 1
3,33 1 0
5,00 1 1
Tabela 77 - Conversão analógico digital com 2 bits
Fonte: SENAI (2016)
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
209
De acordo com os valores de Ue, é possível observar que uma conversão analógica digital com apenas
dois bits não possui muita precisão. Lembre-se de que a variável de tensão possui apenas 4 representações
no mundo digital e que o sinal digital 00b apenas muda para o sinal 01b quando a tensão se torna maior que
1,67 V. Desta maneira, quanto maior for a quantidade de bits disponível em um conversor A/D, melhor será
a representação do sinal em binário. Veja uma conversão com 3 e 4 bits.
Ue (V) A B C
0 0 0 0
0,71 0 0 1
1,43 0 1 0
2,14 0 1 1
2,86 1 0 0
3,57 1 0 1
4,29 1 1 0
5,00 1 1 1
Tabela 78 - Conversão analógico digital com 3 bits
Fonte: SENAI (2016)
Observe que, para uma conversão de 3 bits, os valores intermediários da percepção de tensão
aumentaram. Isso acontece, porque aumentaram as representações de um número analógico no sistema
digital e, se antes haviam apenas 4 intervalos de representação analógica, agora existem 8 representações.
Significa que a qualidade da conversão analógico digital dobrou e, para uma conversão analógico digital
de 4 bits, a precisão é ainda melhor. Veja a tabela a seguir.
Ue (V) A B C D
0 0 0 0 0
0,31 0 0 0 1
0,63 0 0 1 0
0,94 0 0 1 1
1,25 0 1 0 0
1,56 0 1 0 1
1,88 0 1 1 0
2,19 0 1 1 1
2,50 1 0 0 0
2,81 1 0 0 1
3,13 1 0 1 0
3,44 1 0 1 1
3,75 1 1 0 0
4,06 1 1 0 1
4,38 1 1 1 0
5,00 1 1 1 1
Tabela 79 - Conversão analógico digital de 4 bits
Fonte: SENAI (2016)
ELETRÔNICA DIGITAL
210
Digital
Analógico
O sinal digital é representado pela curva vermelha, enquanto que o sinal analógico é demonstrado pela
curva preta. Observe, nessa figura, que o conversor analógico digital possui apenas 1 bit. Isso significa que
o sinal digital correspondente à curva analógica terá apenas duas representações, 0 ou 1. Certamente a
diferença que existe entre o sinal real e o sinal digital é muito discrepante, ou seja, um conversor analógico
digital de apenas 1 bit não possui um número mínimo de intervalos apropriados para representar uma
curva analógica. Veja a conversão analógica para um conversor de 2 bits.
Digital
Analógico
Sabrina Farias (2016)
Tempo
Figura 118 - Sinais digitais e analógico com 2 bits
Fonte: SENAI (2016)
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
211
Observe na conversão de 2 bits que os intervalos representados pela curva começam a caracterizar a
onda de maneira mais precisa. Um sinal analógico, agora, já possui 4 intervalos para a representação de seu
número no mundo digital.
Digital
Analógico
Para a conversão considerando 3 bits, a aproximação do sinal analógico no mundo digital fica cada vez
mais caracterizada, possuindo, desta vez, 8 intervalos de representação. Desta maneira, é possível observar
nas imagens que, quanto maior o número de bits de saída possuir o conversor A/D, mais parecido será o
sinal digital com o sinal analógico. A representação será confiável e a perda de informação será cada vez
menor.
Até aqui foi apresentada uma visão geral de como acontece a conversão analógica para a digital. Nos
modelos gráficos e a partir das informações dadas nas tabelas de conversão analógica, foram trabalhados
exemplos com números fixos de tensão e números de bits. Agora que você compreende o conceito básico
da conversão A/D, conheça suas características principais. A próxima seção irá apresentar três principais
características destes conversores.
4.2.1 CARACTERÍSTICAS
Os conversores analógico-digitais têm vários aspectos, ou seja, possuem diversos modos de construção.
As principais características de um conversor A/D são:
a) precisão;
b) tempo de amostragem;
c) construção de circuitos conversores A/D.
A seguir, serão expostas de maneira detalhada estas três características.
ELETRÔNICA DIGITAL
212
PRECISÃO
A precisão dos conversores A/D está relacionada ao número de saídas digitais. Como visto em exemplos
anteriores, a capacidade do circuito digital em representar uma variável está condicionada ao número de
níveis digitais que o conversor A/D oferece. Quanto maior for o número de saídas, maior a precisão do sinal.
Quanto maior o número de saídas digitais, mais o sinal de saída se aproximará do sinal de entrada.
TEMPO DE AMOSTRAGEM
O tempo de amostragem, fator diretamente ligado à resolução digital do sinal amostrado, é o intervalo
de tempo em que os sinais analógicos são capturados e processados no conversor analógico. Este intervalo
de tempo pode ser instantâneo para alguns circuitos, mas para circuitos em que o sinal digital precisa de um
tratamento especial, este intervalo de tempo é cada vez maior. Quanto maior for o tempo de amostragem,
maior perda de sinal ocorrerá na conversão do sinal. Observe a figura a seguir.
Tempo de amostragem
Figura 120 - Tempo de amostragem grande
Fonte: SENAI (2016)
Nesta figura, a variável analógica está representada pela cor preta, o sinal digital pela cor vermelha e os
instantes de tempo em que acontece a conversão é demonstrado pela cor verde. Quanto maior o tempo de
amostragem, maior será o espaço entre uma captura e outra do sinal analógico. Se este espaço for muito
grande, a representação do sinal terá um efeito de distorção, ou seja, não irá conseguir representar o sinal
de uma maneira aplicável. Quando um sinal analógico não consegue ser caracterizado por causa do alto
tempo de amostragem, significa que também sofre uma distorção.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
213
Digital Analógico
Observe que, na figura, com o tempo de amostragem menor, a onda triangular foi relativamente
bem representada, possibilitando demonstrar as variações de subida e descida. Quando o período de
amostragem for menor, o conversor tem a capacidade de representar a variável analógica com exatidão,
diminuindo a distorção e aumentando a confiabilidade e precisão do sinal. Caso o tempo de amostragem
seja menor, significa dizer que o conversor terá mais amostras de sinal em um período de tempo. Quanto
maior o número de amostras, mais informações o conversor terá para representar o sinal analógico no
formato digital.
De maneira geral, deve-se conhecer o sinal analógico antes de impor um tempo de amostragem. Muitos
sinais analógicos experimentam variações em uma frequência fixa, ou seja, sofrem variações de subida e
descida de maneira repetida e sincronizada. Diante destas informações, o conversor A/D deve estar apto
a realizar estas conversões. Isso quer dizer que existe um tempo de amostragem mínimo para caracterizar
ondas oscilantes em frequência fixa. E, para encontrar o tempo de amostragem, existe o Teorema de
Nyquist4. Partindo deste teorema, o tempo de amostragem pode ser definido pela seguinte expressão:
onde:
Ta: tempo de amostragem mínimo;
fs: frequência fixa do sinal a ser convertido.
4 O Teorema de Nyquist relaciona a frequência de um sinal com a frequência de amostragem do mesmo sinal, sendo que a mesma
deve ser o dobro da frequência do sinal, condição suficiente para uma conversão analógica bem-feita.
ELETRÔNICA DIGITAL
214
Atualmente, existem diversas formas de se implementar um circuito conversor A/D. Este circuito é tão
utilizado que hoje existem circuitos encapsulados em circuitos integrados, que são dedicados a realizar
determinada função. Mais adiante, serão apresentadas algumas destas aplicações, além de um circuito
integrado de um conversor analógico digital. Para entender como estes circuitos funcionam, é necessário
conhecer algumas das principais formas de construção dos conversores A/D.
Saída
Digital
D Q A (MSB)
CLR
Entrada B
CLK Contador D Q
Analógica
Hexadecimal
UR +
- A’ B’ C’ D’ C
D Q
UE Conversor
D/A
Sabrina Farias (2016)
D
D Q
Este conversor transforma o sinal de tensão Ue em um sinal digital distribuído nos bits (A, B, C e D), em que
a tensão de entrada passa por um comparador implementado com um circuito amplificador operacional.
Observe que o sinal de saída está disposto em um conjunto de 4 flip-flops do tipo D, necessários para
que o sinal convertido esteja acessível de maneira sincronizada nas saídas (A, B, C e D). Outros circuitos
importantes neste conversor são o contador de hexadecimal e o conversor D/A. Note que dentro da
estrutura interna de um conversor A/D existe um conversor D/A.
Para entender o funcionamento desta estrutura, é importante que você conheça a função de cada
componente. O amplificador operacional possui um sinal de saída Us, que funciona da seguinte maneira:
a) se Ue > UR, então Us = 1;
b) se Ue < UR, então Us = 0.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
215
O sinal Us igual ao nível lógico 1 irá habilitar o sinal de clock do contador de hexadecimal. Este contador
iniciará sua contagem e enviará o sinal para um conversor D/A. O sinal analógico gerado pelo conversor
(UR) será novamente comparado ao sinal Ue através do amplificador operacional. Enquanto Ue < UR, a
contagem continua. Quando a contagem ultrapassar um determinado valor, Ue terá uma tensão menor
que UR, ou seja, Ue > UR. Desta maneira, Us = 0. Quando Us passar do nível lógico 1 para o nível lógico 0,
os pinos de clock dos FFs receberão uma borda de descida e o sinal presente nas entradas D serão levados
para as saídas A, B, C e D, respectivamente.
Observe que, quando Us recebeu o nível lógico 0, o sinal de clock do contador de década ficou
desabilitado. Desta maneira, para que uma nova conversão seja feita, é preciso que o pino CLR receba um
sinal 0 e novamente seja colocado em nível lógico 1. Para simplificar o entendimento sobre o processo de
conversão analógica, observe o seguinte algoritmo:
a) o contador de década inicia a contagem;
b) o sinal recebido do contador vai para o conversor D/A, que converte o valor equivalente binário do
valor hexadecimal de 0 a F em um sinal de tensão UR;
c) o sinal UR é enviado ao amplificador operacional que compara Ue e UR;
d) enquanto Ue > UR a contagem continua;
e) quando Ue < UR, o valor da contagem fica disponível nas saídas A, B, C e D;
f ) para uma nova conversão, CLR é colocado em nível 0 e novamente em nível 1.
Para compreender bem este algoritmo e o processo de conversão analógico digital, leia o exemplo.
Observe que os valores inicias não importam. Apenas quando o pino CLR é zerado, a contagem tem seu
valor inicial igual a 0. Veja que o pino de clock CLK só é habilitado quando CLR volta para o nível lógico 1 e
que o valor de Ue, neste caso, permanece fixo para facilitar esta análise. Conforme os pulsos de clock são
gerados, a contagem é iniciada. Nesta tabela, foi inserida uma coluna com o valor da contagem decimal
para melhor entendimento do processo, pois a cada valor de contagem um sinal UR é gerado na saída do
conversor D/A. Este sinal é comparado a todo instante pelo amplificador operacional.
Até o 10.º pulso de clock, o valor de Ue > UR. No 11.º pulso de clock, Ue < UR. Desse modo, o sinal Us gera
uma borda de descida nos flip-flops, que copiam o valor da contagem para as saídas A, B, C e D.
Observe que, depois da conversão realizada, os pulsos de clock são desabilitados e, para reiniciar a
contagem, torna-se necessário colocar o pino CLR para nível 0 novamente. Considere que, mesmo zerando
o valor da contagem, o valor das saídas A, B C e D permanecem os mesmos.
No exemplo 1, o valor de conversão para a entrada Ue = 3,5 V é de ABCD = 10112. Observe, neste exemplo,
que o valor 10112 corresponde ao valor 3,67 V, não ao valor 3,5 V. Isso quer dizer que existe um pequeno
erro na representação do sinal analógico. Como dito anteriormente, quanto maior for o número de bits
presentes nos conversores, melhor serão suas representações, sejam elas analógicas ou digitais. Diante do
que foi exposto e dos dados apresentados no exemplo 1, veja os seguintes exemplos.
Já na letra b, o valor de ABCD é igual a 10012, pois o valor de tensão 2,99 V foi capaz de gerar um pulso de
clock até chegar ao estado de conversão 3,00 V que, por sua vez, não é um valor arredondado, mas obtido
de acordo com a tabela do exemplo 1, considerando a comparação entre Ue e UR.
Até aqui, os conversores A/D apresentados podem realizar apenas conversões de sinal
positivos de tensão de entrada. Isso quer dizer que sempre Ue > 0. Comercialmente,
FIQUE existem conversores analógico-digitais capazes de realizar a conversão de valores
ALERTA negativos de tensão, mas sua estrutura interna e seu funcionamento são um pouco
diferentes do que é abordado neste livro.
A demonstração destes exemplos teve como objetivo mostrar a estrutura interna e o funcionamento
das principais características do conversor A/D. Como os circuitos conversores A/D são muito utilizados na
prática, há muitos conversores em circuitos integrados. Portanto, é importante que algum CI conversor A/D
seja discutido neste capítulo.
VREF/2 9 12 DB6
D GND 10 11 DB7 (MSB)
Existem diversos pinos neste circuito integrado e, para compreender a lógica de funcionamento do
conversor, observe o lado esquerdo do circuito. No pino 6, é inserido o sinal de tensão positiva, ou seja, neste
pino será colocado o sinal analógico que deve ser convertido. Os pinos 7, 8 e 10 podem ser interligados no
comum do sinal, quer dizer, no nível de tensão zero do circuito. Os pinos 11 ao 18 são as saídas do sistema
ou pinos de saída digitais. O pino 20 é o sinal de referência, ou seja, o valor de alimentação do circuito. Os
pinos 3 e 5 são acionados por um pulso que habilita a entrada de informação. Este sinal irá definir o período
de amostragem. Quanto mais rápida for a frequência de oscilação deste pulso, maior será habilitada a
leitura destas informações.
Neste circuito, existem 8 pinos de saídas digitais e isto significa que existem 28 possibilidades de sinais
na saída e a representação do sinal analógico pode ser convertida em 256 níveis diferentes.
Diante do exposto, fica clara a função de um conversor analógico digital. Como são vários os possíveis
usos deste dispositivo, a próxima seção irá citar algumas destas aplicações. Siga em frente com seus estudos!
4.2.2 APLICAÇÕES
São vários os equipamentos que possuem conversores analógicos digitais. Qualquer equipamento
eletrônico que realize uma leitura de uma grandeza física deve estar constituído de um conversor analógico
digital. Alguns exemplos são:
a) voltímetro digital;
b) leitor de temperatura;
c) digitalização de sons.
Estas são apenas algumas das várias aplicações dos conversores analógicos digitais. O estudo de
conversores e suas aplicações é muito amplo quando se refere à qualidade do sinal em termos de
confiabilidade e aplicação. Portanto, o interesse deste livro é mostrar quais os principais tipos e aplicações
dos circuitos A/D de maneira geral. Na sequência, os exemplos citados serão apresentados de forma mais
específica.
VOLTÍMETRO DIGITAL
O voltímetro digital é um equipamento simples que converte o valor analógico real da tensão elétrica e
o transforma em um sinal digital que pode ser visualizado na tela de um display.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
219
A figura, a seguir, mostra um multímetro digital, que é um equipamento capaz de medir grandezas,
como tensão, corrente, resistência, entre outras unidades elétricas. Quando o multímetro está lendo um
sinal de tensão, o equipamento converte o sinal analógico em digital, que será processado e mostrará a
informação da tensão em um display. Observe que, independente da grandeza medida, o resultado da
conversão sempre será um conjunto de informações digitais.
Thinkstock ([20--?])
Figura 124 - Multímetro digital
O multímetro digital é um dos principais equipamentos de medição utilizados pelo técnico da área
eletrônica. Com este dispositivo, é possível realizar uma série de medições e testes para uma análise
funcional do circuito medido. Antes do voltímetro ou multímetro digital, grandezas como tensão e corrente
eram monitoradas de maneira puramente analógica. Ao invés de displays, a informação era mostrada com
o auxílio de uma escala graduada e alguns ponteiros. Os voltímetros e amperímetros analógicos ainda são
utilizados na indústria dispostos em grandes painéis de máquinas. O multímetro digital possibilitou um
grande avanço no que diz respeito ao seu tamanho menor, mais funções e diferentes escalas. A seguir, você
verá uma aplicação semelhante ao voltímetro digital.
LEITOR DE TEMPERATURA
Os leitores de temperatura são amplamente e também podem ser chamados de termômetros. O
termômetro é um equipamento que permite medir grandezas de temperatura em graus Celsius ou
Fahrenheit. Existem diversos tipos de termômetros, desde equipamentos de medição de temperatura
digital a analógicos, infravermelhos etc. O termômetro digital, por exemplo, possui um conversor analógico-
digital integrado que possibilita a conversão de grandeza térmica para um valor visível em um display
digital.
ELETRÔNICA DIGITAL
220
Nota-se que o conversor analógico-digital sempre irá converter uma grandeza elétrica para o sinal
digital. Significa que antes da temperatura ser convertida para o sinal digital, ela deve ser transformada em
uma grandeza elétrica correspondente, conforme demonstrado na figura.
A/D A
Ue B
Thinkstock ([20--?])
Calor Sensor de Tensão Conversor A/D Circuito
Temperatura Elétrica Digital
Para que termômetro digital consiga realizar a leitura de temperatura, seu circuito eletrônico deve ser
formado de sensores, conversores e circuitos decodificadores para tratar o sinal elétrico e fazer com que as
conversões sejam precisas. Neste livro didático, você irá ter contato com alguns destes elementos e terá a
capacidade de desenvolver circuitos semelhantes ao exemplo citado.
Como esta aplicação é amplamente utilizada em ambientes industriais, existem soluções dedicadas à
leitura de temperaturas, ou seja, há equipamentos desenvolvidos exclusivamente para esta aplicação. É
importante notar que o princípio de conversão é o mesmo. Em algumas aplicações, estes equipamentos
podem ler a temperatura e ao mesmo tempo tomar uma decisão com base nesta mesma informação,
como é o caso dos controladores de temperatura. Estes equipamentos podem, após ler uma determinada
temperatura, acionar contatos auxiliares que habilitam ou desabilitam processos industriais acoplados
neste equipamento. A figura, a seguir, mostra um exemplo de controlador de temperatura.
TEMPERATURA
ºC
S1
Sabrina Farias (2016)
F
PGM
Assim como as tensões e correntes elétricas, a temperatura também é uma grandeza que pode ser
convertida para o mundo digital. Quando levado este conhecimento à prática, algumas vezes surgem
algumas pequenas dificuldades em relação à habilidade e ao domínio do circuito conversor. Para conhecer
algumas propriedades dos sistemas de conversão em circuitos, leia o Casos e Relatos, na sequência, e
aprofunde seus conhecimentos práticos referentes a circuitos.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
221
CASOS E RELATOS
Ouvir música no computador ou no mp3 player é algo muito comum nos dias atuais. Mas, você sabe
como este som é reproduzido? Como a música foi parar ali dentro? A música em formato digital está
muito presente no cotidiano, mas o funcionamento do dispositivo responsável por sua reprodução é algo
pouco explorado pelos amantes da música. Assim, a seguir, você irá identificar a relação da música com a
eletrônica.
DIGITALIZAÇÃO DE SONS
Na digitalização do som, o microfone funciona como um sensor que transforma as ondas sonoras em um
determinado nível de tensão analógico, o qual pode ser tratado em diversos circuitos eletrônicos, inclusive
em um conversor analógico-digital. Quando o som se torna digital, este pode ser gravado, editado, tratado
e reproduzido mais facilmente.
ELETRÔNICA DIGITAL
222
A figura, a seguir, mostra o processo de conversão analógica em um sinal digital correspondente a uma
onda sonora ou música.
A/D
Thinkstock ([20--?])
Tensão Conversor Som
Som Microfone Elétrica A/D digital
Figura 127 - Digitalização do som
Hoje o som digital é algo muito comum e está cada vez mais presente em CDs, aparelhos MP3 e vídeos
disponíveis na internet. Assim, é possível realizar uma gravação a qualquer momento, utilizando um
aparelho celular ou smartphone. O diferencial acontece graças a um processo que permite converter o sinal
analógico em digital. Esta aplicação parece simples, mas foi um grande marco na era da telecomunicação.
Agora que você conheceu como a eletrônica analógica se comunica com o mundo virtual, faça pequena
revisão de tudo o que foi estudado neste último capítulo.
RECAPITULANDO
Neste capítulo, você estudou que a variável analógica é qualquer grandeza física que se comporta
de maneira contínua no decorrer do tempo. Também observou que as variáveis analógicas
podem ser lidas, armazenadas e até controladas por circuitos digitais. Paralelamente, foi abordado
que a informação analógica é muito diferente da informação digital e, por isso, são necessários
conversores, como os circuitos A/D e D/A, que possuem inúmeras aplicações. Assim, a interface
com o mundo analógico pode atuar como leitura de informações ou como a interação através de
ações de comando.
4 INTERFACE COM O MUNDO ANALÓGICO
223
Você aprendeu ainda novos conceitos, como tempo de amostragem e precisão analógica. Além
disso, viu que, quanto maior o número de bits os conversores tiverem disponíveis para armazenar
a informação analógica, mais fiel será a informação digital em relação à real. Também foi possível
entender que os conversores sempre trabalham com a unidade de medida de tensão elétrica (em
volts).
Você estudou, na sequência, uma série de equações que mostram a relação de tensão elétrica
com informações binárias e que, determinados níveis de tensão, não são possíveis de se alcançar,
devido à limitação de bits, o que ocasiona em uma distorção da informação.
Além disso, os conversores não atuam sozinhos e alguns precisam de circuitos auxiliares de
comando, registradores, amplificadores operacionais, entre outros circuitos periféricos para
melhorar a qualidade do sinal ao se adaptar à referida aplicação.
Finalizando, neste capítulo, foi apresentada uma série de aplicações, tanto para circuitos conversores
A/D quanto conversores D/A. Dentre as aplicações estudadas estão o multímetro digital, o leitor de
temperatura, a digitalização e reprodução de sons e os geradores de função.
REFERÊNCIAS
AUTODESK. Electronics from beginner to pro. Disponível em: <https://circuits.io/>. Acesso em: 20
jul. 2016.
BOYLESTAD, Robert L.; NASHELSKY, Louis. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.
FAIRCHILD. MM74HC04 HEX INVERTER. Sunnyvale, Califórnia, EUA, 2008. Disponível em: <http://
zip.net/bctqL7>. Acesso em: 10 jul. 2016.
GARCIA, Paulo A., MARTINI, José Sidnei C. Eletrônica digital: Teoria e laboratório. 2. ed. São Paulo:
Érica, 2008.
IDOETA, Ivan V.; CAPUANO, Francisco G. Elementos de eletrônica digital. 41. ed. São Paulo: Érica,
2012.
LOURENÇO, Antônio Carlos de et al. Circuitos Digitais. 9. ed. São Paulo: Érica, 2007.
MALVINO, Albert P.; LEACH, Donald P. Eletrônica digital princípios e aplicações: lógica sequencial.
São Paulo: McGraw-Hill, 1987.
NATIONAL. 54AC10 Triple 3-Input NAND Gate. Santa Clara, Califórnia, EUA, 1998. Disponível em:
<http://zip.net/bxtrCV>. Acesso em: 7 abr. 2016.
______. Demux 74154. Santa Clara, Califórnia, EUA, 1989a. Disponível em: <http://zip.net/bstqTm>.
Acesso em: 04 jun. 2016.
______. DM74150 Multiplexers. Santa Clara, Califórnia, EUA, 1989b. Disponível em: <http://zip.
net/bwtp9r>. Acesso em: 09 jun. 2016.
______. Quad 2-Input and gates. Santa Clara, Califórnia, EUA, 1989c. Disponível em: <http://zip.
net/bvtq34>. Acesso em: 15 ago. 2016.
NXP. 74HC573 Octal D-type transparent latch. Eindhoven, Netherlands, 2016. Disponível em:
<http://zip.net/bjtqC8>. Acesso em: 22 jul. 2016.
PHILIPS. 74HC/HCT93 4-bit binary ripple conter. Amsterdam, Netherlands, 1990. Disponível em:
<http://zip.net/bgtqyH>. Acesso em: 13 jul. 2016.
TEXAS INSTRUMENTS. ADC080X 8-bit A/D converter. Dallas, Texas, EUA, 2015a. Disponível em:
<http://zip.net/bjtqC9>. Acesso em: 19 jul. 2016.
______. LM555 Timer. Dallas, Texas, EUA, 2015b. Disponível em: <http://zip.net/bctqMc>. Acesso
em: 11 jun. 2016.
______. CD4511 decoder. Dallas, Texas, EUA, 2003. Disponível em: <http://zip.net/bmtqDK>.
Acesso em: 8 maio 2016.
______. Dual J-K Flip-flops with preset and clear. Dallas, Texas, EUA, 1988. Disponível em: <http://
zip.net/bvtq37>. Acesso em: 09 maio 2016.
TOCCI, Ronald J; WIDMER, Neal S. Sistemas digitais: princípios e aplicações. 8. ed. São Paulo:
Prentice Hall, 2003.
MINICURRÍCULO DOS AUTORES
Rhavi Gonçalves de Borba
Tem graduação como bacharel em engenharia elétrica pela Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC). Já atuou como analista de projetos elétricos na empresa WEG Equipamentos
Elétricos S/A na área de desenvolvimento de motores especiais. Atua como docente, lecionando
unidades curriculares voltadas às áreas de eletrotécnica e mecatrônica para cursos técnicos e
aprendizagem industrial no SENAI/SC. Atua com a orientação de trabalhos de conclusão de curso e
relatórios finais do ensino técnico. Atualmente, está cursando o mestrado profissional em engenharia
elétrica pela UDESC com interesse nas áreas de robótica, eletrônica, automação e controle.
ÍNDICE
A
Analógico 17, 18, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 200, 205, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 214,
215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222
B
Binários 21, 23, 24, 25, 28, 33, 34, 35, 41, 48, 88, 89, 90, 91, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 105, 110,
136, 144, 169
Borda de subida 145, 146, 149, 150
C
Circuito combinacional 66, 67, 80, 88, 114, 165, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 180, 181
Circuito integrado 57, 58, 92, 113, 122, 128, 152, 157, 176, 177, 179, 189, 190, 214, 217, 218
Código ASCII 39
Códigos BCD 35, 36, 39
Combinacional 18, 21, 66, 67, 80, 88, 114, 136, 137, 140, 165, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 180,
181
F
Famílias lógicas 125, 128, 131, 132, 134, 136
Funções lógicas 41, 44, 45, 50, 52, 54, 56, 63, 72, 78, 88, 104, 108, 115, 125
H
Hexadecimal 21, 24, 25, 26, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 114, 136, 162, 163, 164, 165, 167, 171, 177, 180,
214, 215
L
Latch 189, 190, 225
Lógica sequencial 18, 137, 139, 140, 190, 225
LSB 29, 31, 169, 203
M
Mapa de Karnaugh 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 88, 174
O
O diagrama de estados 163, 164, 165, 166, 167
P
Portas lógicas 21, 45, 47, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 56, 57, 58, 59, 62, 63, 64, 65, 66, 68, 69, 70, 72, 75,
78, 87, 88, 92, 94, 95, 104, 106, 108, 109, 112, 113, 116, 121, 125, 129, 131, 133, 137, 140,
141, 142, 144, 145, 148, 152, 180, 181, 221
T
Tabela-verdade 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 55, 60, 62, 63, 67, 68, 69, 71, 72, 73, 75, 76, 78, 79,
84, 85, 86, 92, 94, 104, 116, 117, 120, 143, 146, 151, 152, 170, 173, 174, 199
Transistores 56, 126, 152, 153
SENAI - DEPARTAMENTO NACIONAL
UNIDADE DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA – UNIEP
Selma Kovalski
Coordenação do Desenvolvimento dos Livros Didáticos
i-Comunicação
Projeto Gráfico