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MAGÉ/RJ
2013
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REGIANE APARECIDA DE ANDRADE SILVA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________________________
Profa. Lúcia Inês Kronemberger Andrade – Orientadora - LANTE/UFF
Universidade UNIGRANRIO
_________________________________________________________________________
Prof. Nome
Sigla da Instituição
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Prof. Nome
Sigla da Instituição
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DEDICATÓRIA
3
AGRADECIMENTOS
4
RESUMO
Esta investigação tem como objetivo apresentar um estudo sobre a formação e a atuação do tutor,
considerando os desdobramentos que surgem deste tema central. Deste modo, buscou-se,
apresentar o trabalho do tutor no ambiente virtual e como a sua formação interfere na construção
do processo de aprendizagem; analisando as interações discursivas realizadas em um sistema de
tutoria on-line; a construção da identidade profissional do tutor e a formação específica para a
atuação na área de matemática. Como metodologia do trabalho foi adotada a pesquisa
bibliográfica, integrada a perspectiva qualitativa e descritiva do tema proposto. Assim, a partir
deste estudo é possível observar que a construção da identidade profissional do tutor perpassa
uma gama de questões que estão atreladas desde a representação de si até a elaboração de
políticas especificas. Sendo ainda, então, uma identidade em construção, afetada pelas mudanças
e dinamismos próprios do tempo atual e da própria EaD. A partir da necessidade de formação
específica do tutor, é possível elencar as principais características para a formação do tutor de
matemática. Observar-se, ainda, que a interação dialógica, assim mediada pela relação professor
aluno, torna-se instrumento necessário à construção do conhecimento, que promove junto ao
grupo a colaboração e a coletividade gerando construção de significados e novas situações de
aprendizagem.
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SUMÁRIO
Nº da página
1 – Introdução 7
1.1 - Justificativa 8
1.2 - Objetivos 9
1.3 - Metodologia 10
2 – Pressupostos Teóricos 12
3 – Resultados e Discussões 19
4 – Considerações Finais 27
5 - Referências Bibliográficas 29
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1. Introdução
TFC: “A formação do tutor de matemática” por Paulo Roberto Castor Maciel; TFC: “Formação e atuação do
1
tutor: aspectos de uma identidade profissional em construção” por Regiane Aparecida de Andrade Silva; TFC:
“Ação docente na sala e tutoria: formação dialógica para a construção do conhecimento” por Rosane de
Azeredo Cunha Siqueira.
7
O terceiro capítulo propõe a apresentação dos resultados a partir da investigação
qualitativa e análise de dados bibliográficos e o quarto capítulo apresenta as
considerações finais sobre o tema investigado.
O trabalho se finda com o quinto capítulo em que são listadas as referências
bibliográficas utilizadas.
1.1 Justificativa
1.2 Objetivos
9
1.3 Metodologia
11
2. Pressupostos teóricos
A formação dos docentes no Brasil tem sido alvo de inúmeras pesquisas nas
diferentes áreas do saber. No cenário educacional, a Educação a Distância põe em
xeque a realidade da transmissão dos saberes previamente instituídos e requer um novo
perfil de professores, com habilidade e competência de domínio e uso das tecnologias da
comunicação e a informação (TICs).
Inicialmente, o modelo EaD nos remete ao conceito de transmissão de conteúdos
sem a presença física dos agentes envolvidos, no qual o processo de comunicação
dependeria, quase que exclusivamente, das trocas textuais. Porém, os avanços que
envolvem o uso da tecnologia da informação abrem novos horizontes para o trabalho
docente na Educação a Distância. Como conceitua Malcon Thight:
12
Diante destes questionamentos, pesquisadores da área resolveram estudar o
papel do tutor na Educação a Distância, desencadeando em definições, perfis e
competências que apontam para uma compreensão da prática pedagógica da tutoria em
EaD, entremeadas pelas teorias da aprendizagem. Esses trabalhos também fazem uma
ampla discussão sobre a identidade e o papel de mediador e condutor de relações
interpessoais que o tutor exerce no mundo EaD. Segundo os Referenciais de Qualidade
para Educação Superior a Distância:
14
O quadro 1 oferece um panorama da que forma que o tutor pode atuar dentro do
contexto da EaD. No entanto, essa não é uma única forma sobre as tarefas do tutor,
Barbosa e Resende (2006) apresentam o seguinte quadro sobre a atuação do tutor:
O professor que pretende atuar como tutor precisa receber uma formação que o
capacite para sua atuação, tendo em vista as necessidades que são provenientes desta
nova forma de ensinar, em que se coloca o aluno no centro do processo. Sendo assim,
sua formação deve habilitá-lo para a utilização de recursos tecnológicos e desenvolver as
competências pedagógicas necessárias para que atue com metodologias que colocam o
discente mais ativo do que no processo presencial. Além disso, “pensar a formação de
tutores significa pensá-la como um processo contínuo de formação inicial e continuada”
(VASCONCELOS, MERCADO, 2007, p.8).
A atuação do tutor em cursos de Licenciatura em Matemática tem como quesito
necessário para concorrer a vaga, ter formação em curso na área de exatas como:
Matemática, Física, Estatística ou Engenharia. As primeiras seleções para o curso de
Matemática oferecido pelo Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
(CEDERJ) – “evidenciou a grande dificuldade em encontrar candidatos com o perfil
adequado para atuar em conteúdos do terceiro grau” (LIMA, 2002, p.2). Ainda, segundo a
autora não basta apenas fornecer cursos de capacitação, pois:
é extremamente necessário que todos os envolvidos com o projeto
tenham a exata noção do contexto em que atuam. Conhecer as causas
das dificuldades que os alunos e os tutores encontram no decorrer da
implementação dos cursos é fundamental para a correção de problemas
relacionados, por exemplo, ao material didático, à infraestrutura de
comunicação, ao suporte tecnológico (LIMA,2002, p.3).
15
Dessa forma, o tutor além de ter o conhecimento específico que recebeu nos
cursos de graduação deve saber trabalhar com as tecnologias que o curso utiliza, além
de compreender “as relações existentes entre a escola e o cotidiano, entre a formação
profissional, o educador e sua prática de sala de aula, dependendo diretamente dos
aspectos curriculares” (VASCONCELOS e MERCADO, 2007, p.11)
Neste sentido, percebe-se que cada área, como exatas, humanas e saúde, requer
procedimentos diferenciados na formação, tendo em vista suas especificidades. Assim, o
processo de formação de tutores na área de Matemática também necessita prever a
capacitação e a atualização na área. De acordo com Vasconcelos e Mercado, trabalhar a
construção de conhecimentos matemáticos nos alunos requer e habilidades específicas
do professor e do tutor, principalmente no que se refere à competência pedagógica de
mediar esse processo. Segundo os autores
17
A própria figura do tutor passou por transformações até a concepção que se tenta
delimitar nos dias atuais. Inicialmente, em uma perspectiva mais tradicional de EaD, o
tutor não tinha a tarefa de ensinar, mas apenas de apoiar e orientar o educando, sendo o
material didático autossuficiente e a aprendizagem caracteristicamente autodidata. Essa
concepção de tutor estava ligada a ideia de ensino como transmissão de conteúdo
(Castro Filho; Souza, 2009). Nesse sentido, a palavra tutor, tem amparo na sua própria
definição no dicionário da língua portuguesa, que o define “como aquele que, tutela,
ampara e protege” (FERRREIRA, 2001, p.553), sendo apenas responsável por constatar
se o aluno está aprendendo ou não.
Mais recentemente, Alves, Cavalcante Filho e Sales (2012 apud Aretio, 2001)
argumentam sobre a falta de consenso entre os autores e instituições para designar o
profissional que atua na EaD, uma vez que a atuação deste profissional está relacionada
aos diferentes modelos de EaD que estão sendo implantados, embora o termo mais
usado seja o tutor.
Superando a visão tradicional de EaD e tomando alguns autores de referência
como Alves, Cavalcante Filho e Sales (2012); Castro Filho e Souza ( 2009) e Cabanas e
Vilarinho (2007), observa-se que o ser tutor no contexto da EaD atual extrapola a ideia
precípua daquele que apenas tutela a aprendizagem. O tutor enquanto docente precisa
construir e possuir saberes que garantam a qualidade e a competência de sua prática, ou
seja,
18
3. Resultados e Discussões
20
apontadas como fatores que limitam a construção da identidade do tutor (SILVA, 2008,
p.112).
A dualidade também é outro aspecto que foi constatado nos tutores, que não
parecem saber exatamente o seu lugar, como se o sentimento de estar não
correspondesse ao lugar – espaço - designado. Essa dualidade é enfatizada pelo
compartilhamento das diferentes etapas do ensino. Nessa perspectiva parece não estar
clara a função do tutor e a função do professor. A dualidade se mostra assim como
exclusão e inclusão. Para Cercato (2006 apud SILVA 2008, p. 113) este
compartilhamento pode gerar “confluências ou divergências, gerando assim pontos de
conflitos e tensão”.
Estes conflitos são representados pelos tutores em dois sentimentos: primeiro a
ambivalência da função e depois a ideia da hierarquização. Alguns tutores percebem a
noção de hierarquia vindo de alguns professores, como se o tutor ocupasse posição
inferior ou fosse uma figura menor que a do professor ( SILVA, 2008, p.113). Este é um
aspecto interessante a ser comparado com a pesquisa de Cabanas e Vilarinho (2007) em
que os tutores em sua maioria se declararam como professores e até acentuam o
exercício da docência como um pré-requisito importante para a tutoria. Contrapondo as
duas pesquisas observa-se que na teoria o ser tutor pode até se configurar como
docente, mas o exercício da função tem de certo modo, o colocado abaixo da figura do
professor. Ainda que de alguma maneira, ou até em outro espaço, o tutor a distância
exerça a docência na perspectiva clássica do termo.
A frustração com a baixa remuneração em comparação com um professor da área
emergiu nos entrevistados. Os sujeitos consideraram a importância da figura do tutor e a
necessidade de formação, mas observam que são muito menos valorizados do que um
professor. A remuneração inferior e a falta de vínculo com a instituição demonstraram ser
aspectos que desmotivam exercício da tutoria (SILVA, 2008, p.117).
Quando questionados sobre o que é ser tutor, a pesquisa revelou um “eu múltiplo”
dos tutores (SILVA, 2008, p.118), ressaltando a figura do tutor com múltiplas
responsabilidades. Nesse sentido, do que é ser tutor, algumas metáforas descritas pelos
entrevistados merecem destaque. O tutor foi comparado ao marisco, que vive entre o mar
e rocha, entre o especialista e o aluno. “Ele tem que saber nadar, tem que se virar ali,
para não ser engolido nem pelo mar e nem arrebentado na rocha” (SILVA, 2008, p.119).
Essa descrição destaca a posição por vezes frágil e delicada em que o tutor se encontra,
ainda revela a necessidade do tutor ser flexível tendo que saber lidar tanto com o aluno
como com o professor.
Outra metáfora foi apresentada por uma das entrevistadas, sendo o tutor
retratado por ela como um super-herói, fazendo menção aos personagens do desenho
animado “Os incríveis”. Neste caso merece a transcrição completa da fala da tutora:
Até uns dias atrás, nós nos comparávamos com aquele desenho
animado que passou recentemente no cinema: “Os incríveis”!
Para ser tutor, nós teríamos que ser um super-herói. Nós teríamos
que ter “flexibilidade” como a mulher-elástica; a “rapidez” como o
menino que corre bastante; ter a “força” como o pai da família e de
vez em quando ficarmos invisíveis como a menina. São papéis
que nós devemos assumir no dia a dia.(SILVA, 2008, p. 119).
21
Outras comparações foram estabelecidas como o camaleão, no que diz respeito a
ter flexibilidade; a rede em que o tutor atua como colaborador e educador; a ponte entre o
a afetividade e o comprometimento; a EaD como uma grande família e a tutora como
mãe, que mantém o grupo unido e supre as necessidades.
Ainda na categoria da busca de si mesmos, os entrevistados revelaram
características e perspectivas de um modelo ideal do ser tutor. Silva (2008) acentua que
o “ter que” se coloca frente ao “ser”, em que “ter que ser” representa então este ideal a
ser buscado. Para os entrevistados aspectos como disponibilidade, perseverança –
porque não é fácil ser tutor – constante busca pela atualização, saber lidar com a
improvisação e por fim o ideal é o tutor que promove a aprendizagem e que sabe lidar
com a equipe de trabalho.( SILVA, 2008, p.121-122).
Na segunda categoria de sua pesquisa sobre a função social docente do tutor os
entrevistados demonstram que se vêem como professores, ainda que não oficialmente.
Um dos entrevistados apresenta a ideia do “professor-tutor” (SILVA, 2008, p.127), como
uma forma de resolver o entrave sobre ser o tutor professor ou não. Semelhante a
pesquisa de Cabanas e Vilarinho (2007), na pesquisa de Silva (2008) os entrevistados
evocaram suas experiências em docência como fio condutor para chegarem até a tutoria.
Os sujeitos da pesquisa demonstraram não só a percepção de si como docentes, mas
ainda aglutinam a esta percepção a função social da docência.
Ambas as pesquisas apontaram para a complexidade inerente a construção da
identidade do tutor. Abluídos pelas mais diferentes experiências os sujeitos por motivos
diferentes acabam sendo inseridos na experiência de ser tutor, isto dificulta uma clara
percepção do ser tutor. As mudanças rápidas, típicas do nosso tempo e da educação a
distância, também atravessam a percepção do sujeito que tenta se situar em contextos
mutáveis e instáveis. Observa-se que a insegurança resultante da inexperiência e falta de
formação, acabam diminuindo o ser ante sua própria percepção. Isto se revela no silêncio
dos entrevistados na pesquisa de Cabanas e Vilarinho (2007), ou na busca por exemplos
concretos e o uso das metáforas como na pesquisa de Silva (2008).
A insegurança para se definir evidencia a imagem pouco nítida que o tutor tem de
si. Os conflitos oriundos do ser ou não professor e dai as relações hierárquicas e
desvalorização profissional, sentida através da baixa remuneração, provocam confusão e
frustração no tutor que sente dificuldade em definir seu papel e quando faz parece não se
sentir confortável, como se estivesse avançando para um espaço que não é seu.
Contudo, pode-se também perceber que mesmo com pouca ou nenhuma
formação os entrevistados da pesquisa de Cabanas e Vilarinho (2007), percebem a
importância/necessidade da formação, assim como o modelo ideal de tutor que é descrito
na pesquisa de Silva (2008). Assim, ainda que o “ser” na prática, não represente o que de
fato precisa ser, existe uma noção clara do ideal do “ser” ocupando o imaginário dos
entrevistados.
22
Galindo (2004), destacando o alterreconhecimento como parte integrante do processo
identitário. Como já mencionado neste trabalho, no polo do alterreconhecimento estão
presentes os discursos sociais produzidos, o desenvolvimento recente da prática da
tutoria e as políticas públicas para a educação a distância.
Deste modo, a reflexão terá início considerando os Referenciais de Qualidade
para a Educação Superior a Distância (BRASIL, 2007), destacando pontos pertinentes
quanto ao exercício da tutoria.
Inicialmente, cabe destacar que este documento admite a variedade de modelos
de educação a distância, até mais, reconhece a possibilidade de se organizar tal
modalidade de maneiras distintas. Contudo, alguns pontos devem estar presentes em
qualquer que seja o modelo. Entre esses requisitos fundamentais está a constituição de
uma equipe multidisciplinar:
24
favorecer-lhes a aprendizagem; domínio do conteúdo; mediação pedagógica dos
conteúdos” (ALVES; CAVALCANTE FILHO; SALES, 2012, p.10), além do domínio
técnico-pedagógico dos recursos utilizados.
Estas competências, como se observa nos pressupostos teóricos deste trabalho,
ultrapassam a perspectiva do tutor como mero facilitador ou motivador, ou como aquele
que apenas tutela a aprendizagem. Os autores da pesquisa defendem que a tutoria em
cursos a distância requer características que estão além do domínio dos conteúdos e dos
meios técnicos, mas que são necessários “aportes pedagógicos específicos da função
docente” (ALVES; CAVALCANTE FILHO; SALES, 2012, p.10).
Na pesquisa desenvolvida por Lima e Oliveira (2013), assim como Alves;
Cavalcante Filho e Sales (2012), concluem que o tutor do curso a distância tem exercido
a docência nos cursos analisados. Essa afirmação surgiu após as autoras analisarem os
editais de seleção de tutores de 32 instituições de ensino superior parceiras da
Universidade Aberta do Brasil (UAB), 12 projetos pedagógicos e entrevistas online
aplicadas à 50 tutores e 28 outros profissionais envolvidos no ensino a distância. Partindo
então da atuação do tutor como docente Lima e Oliveira (2013), passam a analisar as
condições de trabalho em que o tutor exerce sua função. Entre estes aspectos, a
pesquisa focou a remuneração, vínculo institucional/profissional, carga horária, número
de alunos/tutor, participação na elaboração da disciplina, autonomia, aspectos positivos
da tutoria.
As pesquisadoras destacam que os profissionais envolvidos com os cursos
oferecidos em parceria com a UAB são remunerados por meio de bolsas do Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), garantidas em valores definidos na
resolução CD/FDNE n. 26/2009. Sendo que a vigência da bolsa está ligada com a
duração do curso e não pode ultrapassar quatro anos. Assim, os tutores enquadrados
neste perfil como bolsistas não possuem vínculo empregatício com a instituição, logo
não têm nenhum direito trabalhista garantido.
O valor descrito da bolsa para os tutores é de R$ 600,00 (BRASIL, 2009), o que
pode ser considerado um valor muito distante do que seria o ideal para o exercício da
docência, ainda que no ambiente virtual. Para Lima e Oliveira (2013, p.9 ), tanto o valor
baixo da remuneração como a falta de regulamentação contribuem para a precarização
da função. Ainda quanto às condições de trabalho as pesquisadoras detectaram que 66%
dos entrevistados (LIMA; OLIVEIRA, 2013 p.10) atuam em mais de três disciplinas, se
estes estiverem cumprindo a carga horária de 20 horas semanais, isto se configuraria
como uma sobrecarga de trabalho.
A falta de autonomia e de participação na elaboração da disciplina foram dois
fatores mencionados pelos tutores que acabam por provocar distanciamento entre o tutor
e o docente.(LIMA; OLIVEIRA , 2013, p.11). Nesse sentido, volta-se para a questão
abordada no tópico anterior, sobre a sensação ora de inclusão, ora de exclusão na qual o
tutor se vê inserido. E novamente, a divisão entre quem decide e quem executa se
configura como um entrave na formação da identidade profissional do tutor, que passa a
ser representado apenas como mero executor.
Refletindo sobre a tutoria enquanto exercício da docência e os dados
apresentados as pesquisadoras concluem que,
Voltando à pesquisa realizada por Silva (2008) o autor considera que os próprios
alunos vêem o tutor como professor, citando a estranheza dos mesmos em lidar com
alguém que por eles é considerado como professor, mas não é de direito. O autor
registra: “Muitas dúvidas que eu tinha era o tutor que resolvia, ele mandava uma resposta
para nós. Muitas vezes foi o tutor que foi nosso professor. O tutor acaba assumindo o
papel do professor na prática” (SILVA, 2008 p.116). A fala da aluna explicita que diante
dos discentes o “ser tutor” implica em “ser professor”. Como já citado na EaD as várias
etapas da aprendizagem são compartilhadas cabendo ao professor e ao tutor momentos
diferentes, contudo na perspectiva do aluno esta divisão – que talvez fique evidente
apenas para a instituição – não diminui a figura do tutor e não o coloca em outro papel
senão na docência.
Na perspectiva de Jobert (2003 apud LIMA; OLIVEIRA, 2013, p.7) a
profissionalização é composta por dois processos que estão ligados: o desenvolvimento
da competência e a luta pelo reconhecimento social da profissão. Observa-se, desse
modo, que o caminho para uma identidade profissional do tutor é longo e delineado por
implicações que envolvem desde a formação e competência mínima para atuação na
área até políticas públicas que regulamentem e garantam o exercício digno da função.
Mesmo que o tutor se perceba e atue como docente, ainda que os próprios alunos assim
o reconheça, ainda será necessário construir um caminho de discurso social e
reconhecimento. Assim evidencia-se que a identidade profissional do tutor ainda está
construção, tanto nas suas representações de si, como no coletivo e social. A identidade
profissional do tutor ainda é “ser em construção.
26
4. Considerações Finais
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A figura do “professor-tutor” foi apresentada por uma tutora entrevistada, na
tentativa de propor uma solução para o entrave entre ser professor e ser tutor. Esta
parece ser uma boa suposição, que de certa forma, abarca no termo a ideia da docência
- presente na tutoria - e da especificidade da atuação em contexto próprio. Logo,
entende-se o termo como o professor que atua em cursos a distância lidando diretamente
com o discente, responsável pela mediação pedagógica. A proposta é interessante e
representaria um avanço para a valorização do trabalho do tutor e contribuiria para a
definição de sua identidade profissional. Mas, esta é uma proposta que carece de mais
estudos para se avaliar sua viabilidade e seus impactos nos cursos já existentes.
Com tantos atravessamentos, como instabilidade, indefinição e insegurança este
estudo conclui que a construção da identidade profissional do tutor é ainda um desafio
que depende de vários fatores, entre estes, e sendo principal, o de políticas claras que
regulamentem o exercício da tutoria. Esta é uma função que vem ganhando espaço e
importância nos modelos da EaD, ainda que organizada de forma diferente, todos se
valem do trabalho do tutor, o que demonstra a necessidade de se pensar não somente
em identidade profissional, mas na passagem de função para profissão.
Ser tutor é ainda “ser em construção”, tanto pela própria EaD que ainda fervilha
em vários contextos e possibilidades, como na própria percepção que o tutor tem si
mesmo. Ainda não há definição, mas este estudo serve para indicar pistas de caminhos
que podem ser trilhados e mais, ainda, para indicar que os cursos a distância tendem a
crescer e se consolidar cada vez mais, o que impõe a necessidade de refletir sobre os
sujeitos envolvidos neste processo.
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5. Referências Bibliográficas
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