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OBRIGAÇÃO DE FAZER

Consoante leciona Fábio Ulhoa,


“O objeto da prestação das obrigações de fazer não é uma coisa, mas
um comportamento do sujeito passivo. Neste tipo de vínculo
obrigacional – que é quase sempre negocial, já que as obrigações não
negociais (responsabilidade civil, prestação de alimentos, obrigações
tributárias etc.) são normalmente pecuniárias –, o interesse do
sujeito ativo é o de contratar com o passivo a adoção, por este, de
uma determinada conduta.”[1]
A obrigação de fazer pode ser dividida em duas espécies:

• Fungível: a prestação do serviço pode ser realizada por


qualquer pessoa.
• Infungível (personalíssima): a prestação do serviço deve ser
realizada somente pelo devedor.
“Em razão da ênfase depositada no comportamento do devedor, as
obrigações de fazer classificam-se em fungíveis ou infungíveis. As
primeiras são aquelas cuja ação objeto de prestação pode ser
praticada por qualquer pessoa com idênticas habilidades das do
devedor. Em outros termos, nelas, a conduta do sujeito passivo pode
ser substituída, sem prejuízo nenhum para a realização das
finalidades da obrigação, pela de outra pessoa. A obrigação de um
contador proceder à escrituração de uma empresa é de fazer fungível.
Se o profissional contratado para realizar a escrita não cumpre sua
obrigação, qualquer outro contador pode fazê-lo.
Infungíveis, por sua vez, são as obrigações de fazer que apenas o
devedor está em condições de prestar. Neste caso, o vínculo
obrigacional tem natureza intuitu personae, porque estabelecido
exclusivamente em razão dos atributos individuais e especiais
ostentados pelo sujeito passivo. O famoso cantor lírico contratado
para representar determinado papel numa ópera não pode ser
substituído por outro qualquer se a propaganda do espetáculo, por
exemplo, deu grande destaque à sua presença no palco. O renomado
pintor contratado para executar uma tela não é substituível por
outro, ainda que igualmente afamado e habilidoso. Quando o
paciente que necessita de uma cirurgia contrata conhecidíssimo
médico para entregar-se às suas mãos, assume este profissional uma
obrigação de fazer infungível; não poderá substituir-se por um
colega.”[2]
“Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o
devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele
exeqüível.”
Mora e a classificação das obrigações quanto ao objeto imediato:
“as obrigações de fazer somente comportam a noção mora de forma
excepcional, visto que as partes deverão transigir para uma possível
execução a posterior. Regra, conforme artigo acima, é que a não
execução de uma obrigação de fazer é a imputação imediata do
inadimplemento. Deve-se, contudo, atentar que a mora, ou atraso, é
a de aplicação limitada nas obrigações de fazer, pois é necessário
que se verifique se há ou não meio de que se cumpra a destempo a
parte que lhe toca.” [3]
Tipos de mora: de acordo com Cristiano Chaves, a mora comporta
diferentes tipos, conforme a impossibilidade de sua consecução.

• Mora de natureza inicial (ex radice): “determinará, sendo


absoluta, a nulidade da obrigação (art. 166, II CC).” [4]

• Mora de natureza funcional (superveniente): “desencadeará


os efeitos do art. 248 CC.” [5]
“Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do
devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por
perdas e danos.”
Busca pelo status quo ante:
“A regra geral estabelecida pelo Código é aqui percebida, a
impossibilidade de cumprimento sem culpa, resolve a obrigação,
devendo ser as partes restituídas ao estado anterior. Qualquer valor
antecipado deve ser devolvido, de forma a que estejam as partes
como antes do acordo. Em havendo culpa do devedor, este arcará
com a devolução de eventual quantia antecipada e ainda custeará os
prejuízos que foram impostos ao credor.” [6]
“Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao
credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou
mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor,
independentemente de autorização judicial, executar ou mandar
executar o fato, sendo depois ressarcido.”
Purgação e obrigação de fazer:
“a noção de mora aplica-se de forma restrita às obrigações de fazer.
Comportam a purga as que puderem ser executadas por terceiros ou
as personalíssimas que se cumprirem (e ainda puderem ser
cumpridas) mediante execução específica. Na execução específica,
forçada mediante imposição de multa, se o devedor cumpre sua
obrigação, haverá o adimplemento moroso da mesma (com os efeitos
do atraso, responsabilizando o devedor pelas perdas e danos). Em
não havendo o cumprimento, sendo a ele aplicada multa por atraso
imposta pelo juízo, ter-se-á não mora, mas inadimplemento absoluto
convertido em equivalente e perdas e danos (acrescidos da multa
imposta).” [7]

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