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Curso

Teorias Sociológicas
do Crime
Gabriel Eidelwein Silveira
Rebecca Bianca de Melo Magalhães
Carlito Lins de Almeida Filho
Textos de referência
• Leitura obrigatória:

Giddens, Anthony. Crime e desvio (capítulo 8). In: ____. Sociologia.


6.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008, p. 205-243.
1. Teorias de conflito e a “nova criminologia”
1.1. A “Nova Criminologia” – Taylor, Walton e
Young, 1973
A obra marcou um afastamento
importante das antigas teorias obre o
crime e o desvio

• Com base em elementos do


pensamento marxista para
argumentar-se que o “desvio é
escolhido deliberadamente e tem
natureza política”
Policing the Crisis – Hall et al., 1978

Pesquisas do Birmingham Centre for


Contemporary Cultural Studies (BCCS)

Assaltantes retratados como negros,


contribuindo para a visão de que
imigrantes eram principais responsáveis

=> Pânico moral incentivado pelo


Estado e pela Mídia
Estrutura da Grupos contraculturais
sociedade considerados “desviantes”

Formas de desviar atenção do


Proteção do
desemprego crescente, declínio
poder das classes
salarial e outras falhas estruturais
dominantes
da sociedade

Atribuição de
responsabilidade Leis não são ‘neutras’ – sistema
a certos grupos cada vez mais opressor para
pela degradação ‘’infratores’
da sociedade
Desigualdades Lei enquanto
entre classe instrumento
dominante e utilizado pelos
trabalhadora poderosos
1.2. Outros estudos associados à “nova
criminologia”
• Ampliação do debate sobre
o crime e o desvio, de
maneira a incluir questões
sobre níveis de dano, justiça
social, poder e política

“O crime ocorre em todos os


níveis da sociedade e deve ser
compreendido no contexto
das desigualdades e
interesses contrários”
(Box, 1983)
1.2. Outros estudos associados à “nova
criminologia”
• Desequilíbrio de poder

“seus crimes são muito mais


nocivos à sociedade. Mas, por
medo das implicações de perseguir
criminosos de colarinho branco
agentes da lei concentram esforços
nos membros menos poderosos ,
como prostitutas, usuários de
drogas e ladroes insignificantes”
(Pearce, 1976)
2. Realismo de Esquerda
2.1. Nova esquerda ou realismo de esquerda
• Principais argumentos dessa agenda apontam para a importância de
se envolver mais com questões ‘reais’ do controle do crime e das
políticas sociais, em vez de debate-las de forma abstrata

• O realismo de esquerda joga luz sobre as vítimas do crime,


argumentando que apontam para um quadro mais válido sobre o
nível de criminalidade do que as estatísticas oficiais
2.1. Nova esquerda ou realismo de esquerda
Crime como um problema
particularmente sério em áreas
empobrecidas dos centros urbanos

• Realistas de esquerda apontaram


que as taxas de criminalidade e
vitimização se concentravam em
bairros marginalizados e que grupos
pobres na sociedade estavam em
situação de muito mais risco de
crime do que os outros
2.1. Nova esquerda ou realismo de esquerda
✓Subculturas desenvolvem-se nos centros urbanos degradados e
periferias

✓Derivam da marginalização política e da privação relativa de direitos

✓Processos de exclusão social – negação de cidadania plena a alguns


grupos sociais
3. Teorias do Controle
3.1 Causas da Delinquência – Hirsch, 1969
✓Laços de conformidade ligando
pessoas à sociedade:

1. vínculo
2.comprometimento
3.envolvimento
4.crença

→ Indivíduos desviantes seriam fruto


de socialização inadequada na família
ou na escola
3.2 Realismo de Direita

• Final da década de 1970

• Abordagens vigorosas de “lei e


ordem”

Escalada da criminalidade e
delinquência associadas à
“degeneração moral, declínio da
responsabilidade individual e
dependência do estado de bem estar
social, educação liberal e colapso da
família e valores tradicionais”
2.1. Nova direita
✓Os governos conservadores começaram a intensificar suas atividades
de aplicação da lei

✓Poderes de polícia ampliados e maior financiamento para o sistema


de justiça criminal

✓Sentenças prisionais cada vez mais longas, como formas mais efetivas
de prevenir a criminalidade
2.1. Nova direita
2.1. Nova direita
✓Políticas públicas estadunidenses da década de 1990 para lidar com
‘infratores habituais’

✓“se uma pessoa comete três infrações sérias separadas, a terceira


traz uma sentença de prisão obrigatória”

✓Aumento de população carcerária


2.1. Nova direita
✓Prevenção do crime
envolvendo fortalecimento
de alvos e sistemas de
vigilância para “administrar”
o risco da criminalidade

✓Aumento do policiamento
ostensivo como condição
para prevenir as infrações
Prevenção situacional do crime
✓Vigilância e fortalecimento dos alvos

✓Dificultando o crime pela intervenção direta em situações de crime


potenciais

✓“criminologia ambiental” – abordagem ecológica da Escola de


Chicago (1920-1930)
Prevenção situacional do crime
✓Abismo entre mais abastados e
mais pobres, onde emergiu uma
“mentalidade de fortaleza”, como
no Brasil

✓Exclusão de certos grupos dos


espaços
Teoria das Janelas Quebradas
✓O fortalecimento de alvos e políticas de tolerância zero baseiam-se na
teoria conhecida como “teoria das janelas quebradas”

✓Broken Windows. The police and neighborhood safety . Kelling and


James Q. Wilson, 1982

✓“qualquer sinal de desordem social em uma comunidade, mesmo o


surgimento d euma janela quebrada, incentivará mais crimes” –
pequenos atos de desvio podem levar a um espiral de crime e
degradação social.
Teoria das Janelas Quebradas

✓Baseada num experiment de Philip Zimbardo: carros foram


abandonados sem a placa e com o capô aberto em ambientes sociais
distintos: Palo Alto na Califórnia e Bronx, Nova York

✓Em ambos os locais, assim que os transeuntes, independentemente


de classe ou raça, sentiram que carros estavam abandonados e que
“ninguém se importava” os carros sofreram atos de vandalismo
4. Conclusões teóricas
4. Conclusões teóricas
✓Mesmo que um crime seja apenas um tipo de comportamento
desviante, ele cobre uma variedade tão grande de atividades que
é muito improvável que uma teoria única pudesse explicar toda a
conduta criminosa
4. Conclusões teóricas

✓As teorias apresentadas são relevantes por dois motivos:

1. Enfatizam corretamente as continuidades entre o


comportamento criminoso e o ‘normal’ – contextos variam
amplamente e estão ligados a questões de poder e
desigualdade na sociedade

2. Todos concordam que o contexto social é importante em


atividades criminosas
4. Conclusões teóricas

✓A maneira como o crime é compreendido afeta diretamente as


políticas desenvolvidas para combate-lo

✓Se os crimes são vistos como produto da pobreza ou desordem


social, políticas podem ser direcionadas para redução de
desigualdades

✓Se a criminalidade, por outro lado, é vista como uma escolha livre
e oportunista dos indivíduos, tentativas de combate-la devem se
concentrar mais em mudar o ambiente
5. Padrões de Criminalidade
5.1. Criminalidade e estatísticas criminais

✓Limitação estatística mais básica: viés de notificação

✓Algumas formas de violência são mais ‘ocultas’ do que outras

✓Ex.: Roubo de carros x violência doméstica


5.1. Criminalidade e estatísticas criminais

❖ Observando a figura 21.2, por que razão seria possível explicar


por que certos tipos de crimes quase sempre são informados e
outros não? Que fatores influenciaram a decisão das pessoas de
comunicar ou não um crime? Como lida com tal fragilidade nas
pesquisas?
5.1. Gênero, Sexualidade e Crime

✓Será que afinal alguns indivíduos ou grupos são mais prováveis de


cometer crimes ou de se tornarem vítimas?

✓A probabilidade de se tornar vítima de um crime está


estreitamente ligada à área onde vive. Áreas em que há mais
privação material geralmente têm taxas mais elevadas de
criminalidade

✓proporções maiores de grupos de minorias étnicas tendem a


viver nessas regiões
5.1. Gênero, Sexualidade e Crime
✓Um estudo da década de 1950
sugeriu que certos crimes cometivos
por mulheres tenderiam a não ser
informados e que “o papel
predominantemente doméstico das
mulheres possibilita a oportunidade
de cometerem crimes em casa
utilizando meios insidiosos”

✓“mulheres infratoras seriam tratadas


de forma mais leniente”
5.1. Gênero, Sexualidade e Crime
✓Teorias feministas apontam que as
“visões sociais da feminilidade”
afetam as experiências das mulheres
no sistema de justiça criminal”

✓Frances Heidensohn (1995)


arfumenta que as mulheres são
tratadas com mais rigidez quando
desviam de normas femininas –
“duplamente desviantes”
5.2. Crimes contra as Mulheres

✓Estima-se que 25% das mulheres no mundo desenvolvido tenham sido


vítimas de violência em algum ponto da vida, mas todas enfrentam a
ameaça desses crimes de forma direta ou indireta

✓“ a mulher pode sentir que é ela que está sendo julgada,


particularmente se seu histórico sexual for analisado em público, como
costuma ocorrer nesses casos”
5.2. Crimes contra as Mulheres
✓O estupro está claramente
relacionado com a associação entre
masculinidade e poder, dominação e
força. Resulta de vínculos entre
sexualidade e sentimentos de poder
e superioridade

✓O ato em si é menos significativo do


que o aviltamento da mulher

✓Susan Brown-miller (1975)


5.3. Crimes contra população LGBT

✓Sugere-se uma lógica de ‘senso comum’ semelhante ao aplicado no


caso de atos violentos contra a população LGBTQIA+, revelando uma
tendência à incidência elevada de crimes violentos e de assédio

✓Estigmatizados e marginalizados pelas sociedades, tidos como


‘merecedores’ de crimes, em vez de vítimas.
Considerações finais
Considerações Finais

✓Será que o ‘desvio nocivo’ é o preço que a sociedade paga quando


oferece considerável liberdade de ação para as pessoas buscarem
caminhos contrários às normas seguidas pela maioria?
Considerações Finais
“É provável que somente se alcance um bom resultado quando as
liberdades individuais forem acompanhadas pela justiça social – em uma
ordem social onde as desigualdades não sejam evidentemente grandes e
onde todos tenham a chance de viver uma vida plena e satisfatória”

Se liberdade não for equilibrada com igualdade, se muitas pessoas


tiverem vidas destituídas de autorrealização, é provável que o
comportamento desviante seja canalizado para fins socialmente
destrutivos.
Obrigada!

rebeccabrasileiro@unipampa.edu.br

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