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CAPACITAÇÃO EM
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO:
Políticas, Teorias e Práticas Educacionais
Governador
Jorginho dos Santos Mello
Vice-Governadora
Marilisa Boehm
Secretário de Educação
Aristides Cimadon
Elaboração
Ananda Ludwig Burin
Vânia Pires Franz de Matos
Colaboração
Equipe do NAAH/S-SC
ESTADO DE SANTA CATARINA
FUNDAÇÃO CATARINENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
DIRETORIA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
GERÊNCIA DE PESQUISA E CONHECIMENTOS APLICADOS
NÚCLEO DE ATIVIDADES DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO
SUMÁRIO
Em Santa Catarinas pessoas com altas habilidades – AH/SD, assim como as pessoas
com deficiências, transtorno do espectro autista – TEA, transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade – TDAH e atraso global do desenvolvimento, definem o público-alvo
da educação especial, que, nos dias atuais, é compreendida como uma modalidade de ensino
para educandos com necessidades especiais que deve ser
transversal a todas as etapas e outras modalidades e
ofertada preferencialmente na rede regular de ensino
(BRASIL, 2013), ela visa prevenir, ensinar e reabilitar
essa população, que, resguardadas por leis, devem receber
atendimento educacional especializado visando seu pleno
desenvolvimento.
No Brasil, a luta ainda é pela qualidade do ensino em geral, o sistema regular de
ensino conta com instrumentos para auxiliar os alunos que estão abaixo da média
(recuperação, reforço, aulas particulares, entre outros), porém ainda não há atenção suficiente
em estimular os que já sabem os conteúdos e que aprendem rapidamente. Amparados
legalmente, como parcela da educação especial, estes alunos têm o direito a terem suas
habilidades trabalhadas na rede regular de ensino e é de suma importância lembrar que a falta
de atendimento especial a esses educandos pode causa desânimo, frustração e, em alguns
casos, desistência escolar.
Uma dúvida comum que surge quando citamos a palavra superdotação é por que
garantir atendimento educacional especializado aos alunos com AH/SD se eles aprendem com
muita facilidade, têm habilidade acima da média e não precisam de muitos estímulos para
iniciar e/ou finalizar uma atividade de seu interesse?
Definido como público-alvo da educação especial, os alunos com AH/SD precisam
de atendimento especializado a fim de minimizar as segregações advindas das diferenças de
1
Mestre (2019) e Graduada (2010) em Matemática pela UFSC e Especialista em Educação Especial (2014) pela
UCDB, atualmente é Professora da Oficina de Lógica e Matemática do Núcleo de atividades de Altas
habilidades/superdotação - NAAHS da Fundação Catarinense de Educção Especial - FCEE.
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Tabela 1: Número de alunos identificados com AH/SD em Santa Catarina de 2010 a 20212.
Ano Nº alunos registrados no
Censo
2010 28
2011 37
2012 43
2013 58
2014 217
2015 314
2016 488
2017 904
2018 1013
2019 1139
2020 1387
2021 1524
FONTE: Elaborado pelo autor.
Tabela 2: Comparação entre números sugeridos por pesquisadores e o número real de alunos
com AH/SD identificados em Santa Catarina no ano de 2021
Registrados
Matrículas3 3,5% 5% 15% 30%
AH/SD
1.000.869 35.030 50.043 150.130 300.260 1.524
FONTE: Elaborado pelo autor.
2
Os dados são obtidos na Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina.
3
Ensino Fundamental, Médio e EJA. Dados disponíveis em :
https://download.inep.gov.br/censo_escolar/resultados/2021/resultado_final_anexo_1_.xlsx
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deveriam estar identificados. Este dado evidencia a necessidade urgente de unir esforços no
sentido de promover meios/instrumentos que favoreçam a identificação desse público e, por
consequência, a implantação de serviços de atendimento educacional especializado.
Assim, para uma melhor compreensão do tema, apresentaremos a seguir a definição
e os conceitos que envolvem essa temática.
1.2.1. AH/SD
dotação (capacidade natural) e talento (capacidade adquirida) são mais adequados para
nomear esses sujeitos.
1.2.3. Precoce
1.2.4. Prodígio
maneira excepcional algo já existente (exemplo: um menino de 4 anos que toca piano com
excelência tal qual seu professor) para alguém que cria seu próprio estilo. Por exemplo,
Mozart4 (1756-1791) que conseguiu ser um mestre criativo e Leonardo da Vinci5 (1453-1519)
que contribuiu significativamente em diversas áreas do conhecimento.
1.2.5. Gênio
O termo “gênio” deve ser reservado para descrever apenas os indivíduos que
deixaram um legado à humanidade, que revolucionaram uma área do conhecimento pelas suas
contribuições originais e de grande valor. Os gênios são os grandes realizadores da
humanidade, cujo conhecimento e capacidades nos parecem sem limite, incrivelmente
excepcionais e únicas. Apresentam precocidade em uma área específica e grande facilidade
em memorizar fatos, nomes e acontecimentos. São raras as pessoas que atingem patamares
excepcionais (VIRGOLIN, 2007). É importante salientar que todo gênio é superdotado, mas
nem todo superdotado é gênio. Podemos trazer como exemplo Leonardo da Vinci, Einstein8
4
Wolfgang Amadeus Mozart foi um compositor e influente do período clássico, autor de mais de 600 obras -
música sinfônica, concertante, coral, de câmara, ópera e piano – mostrou uma habilidade prodigiosa desde sua
infância quando aos cinco anos de idade já compunha e apresentava competências nos instrumentos de teclado e
no violino.
5
Leonardo di Ser Piero da Vinci foi um cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor,
arquiteto, botânico, poeta e músico. É considerado um dos maiores pintores de todos os tempos e como
possivelmente a pessoa dotada de talentos mais diversos a ter vivido.
6
Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Wolfgang-amadeus-mozart_1.jpg
7
Fonte: https://www.natgeo.pt/historia/2017/11/o-que-faz-de-leonardo-da-vinci-um-genio
8
Albert Einstein foi um físico teórico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos pilares
da física moderna ao lado da mecânica quântica.
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Einstein12 Gandhi13
Freud14 Hawking15
1.2.6. Inteligência
Apesar do interesse pela temática da inteligência existir a tanto tempo, esta continua
sendo tema gerador de polêmica, tanto em sua definição quanto em sua mensuração, pois
9
Mohandas Karamchand Gandhi foi um advogado, nacionalista e especialista em ética política indiano, que
empregou resistência não violenta para liderar a campanha bem-sucedida para a independência da Índia do Reino
Unido.
10
Sigmund Schlomo Freud oi um médico neurologista e psiquiatra criador da psicanálise.
11
Stephen William Hawking foi um físico teórico e cosmólogo britânico reconhecido internacionalmente por sua
contribuição à ciência, sendo um dos mais renomados cientistas do século.
12
Fonte:
http://2syt8l41furv2dqan6123ah0-wpengine.netdna-ssl.com/wp-content/uploads/2017/11/Albert_Einstein_Head.j
pg
13
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mahatma_Gandhi#/media/Ficheiro:Mahatma-Gandhi,_studio,_1931.jpg
14
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sigmund_Freud#/media/Ficheiro:Sigmund_Freud_LIFE.jpg
15
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Stephen_Hawking#/media/Ficheiro:Stephen_Hawking.StarChild.jpg
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possui diversos significados em diferentes contextos e culturas e ainda não existe um único
conceito que seja consensual entre os estudiosos da área. Alguns pesquisadores a definem
como a capacidade para resolver problemas ou a capacidade para adaptar-se a diferentes
situações e contextos. Criador da Teoria das Inteligências Múltiplas, Gardner (1994), traz um
dos conceitos mais bem aceitos pela sociedade descrevendo a inteligência como “a
capacidade do indivíduo de solucionar problemas ou desenvolver produtos em função de seu
ambiente e de sua cultura” (BURIN, 2019 p.57). Há ainda pesquisadores que consideram
aspectos emocionais como fundamentais na pessoa considerada inteligente.
Das diversas teorias existentes, não resta dúvida afirmar que a inteligência é algo
dinâmico, não fixo, não está pronta, mas surge em resposta a determinados estímulos. Ela é
uma virtualidade que pode ser construída, modificada e aumentada a qualquer momento
(MACHADO, 1984) e também pode ser ativada por meio de estímulos adequados.
1.3.Dupla Condição
TEA AH/SD
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em pessoas com TDAH que também podem ser apresentados por alunos com AH/SD, devido
principalmente a fatores como frustração, atividades pouco desafiadoras, currículo escolar
insuficiente e procedimentos inadequados de ensino-aprendizagem. Assim impulsividade e
hiperatividade podem ser características de ambos os quadros, mas se diferenciam
principalmente em relação à frequência e intensidade, assim como as ocasiões em que
acontecem (ALVES; NAKAMO, 2015). A Tabela 5 mostra a diferença entre alguns
comportamentos dos sujeitos com AH/SD e TDAH.
1.4.AH/SD
Intelectual
Excelente capacidade de memória, rapidez, flexibilidade, fluência e independência de pensamento,
capacidade elevada para fazer associações, análises e sínteses, curiosidade intelectual, alta
capacidade de resolver problemas, possuem poder excepcional de observação e julgamento crítico,
excelente raciocínio lógico e abstrato, persistência em atingir seus objetivos, entre outros.
Acadêmica
Habilidade para avaliar, sintetizar e organizar o conhecimento, rapidez de aprendizagem, boa
memória, gosto e motivação pelas disciplinas acadêmicas de seu interesse, capacidade de atenção,
concentração e produção acadêmica, desempenho excepcional na escola e em testes de
conhecimento, alta habilidade para as tarefas acadêmicas. capacidade de raciocínio abstrato e de
estabelecer conexões mentais, entre outros.
Liderança
Líderes sociais ou acadêmicos de um grupo, capacidade de liderança, sensibilidade interpessoal,
atitude cooperativa, sociabilidade expressiva, alto poder de persuasão e de influência no grupo,
habilidade de trato com pessoas e grupos, facilidade para estabelecer relações sociais, capacidade
para resolver situações sociais complexas, sensibilidade aos sentimentos das pessoas, entre outros.
Psicomotricidade
Habilidade e interesse pelas atividades psicomotoras, desempenho superior em esportes e
atividades físicas envolvendo o corpo humano, agilidade de movimentos, força, resistência,
controle e coordenação motora, alta performance atlética, habilidades motoras refinadas, precisão
de movimentos, entre outros.
Artes
Habilidade em expressar sentimentos e pensamentos através da arte (plásticas, musicais,
dramáticas, literárias, cênicas), alto grau de criatividade, originalidade, imaginação, capacidade
para resolver problemas de forma diferente e inovadora, sensibilidade (podendo reagir de modo
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A Teoria de Renzulli será melhor apresentada nos capítulos seguintes.
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É importante destacar que Renzulli (2005) faz uma distinção entre ser superdotado
(conceito absoluto) e em poder desenvolver comportamentos de superdotação (um conceito
relativo que podem ser desenvolvidos em algumas pessoas, em certo tempo e sob certas
circunstâncias, variando em graus de comportamentos de superdotação).
Para o autor o comportamento de superdotação
“consiste em ação resultante da interação de três grupos de traços que
possuem relação com as áreas gerais e específicas do desempenho humano –
Habilidade acima da média, Envolvimento ou Comprometimento com a
Tarefa e Criatividade. O autor salienta que não existe uma ordem de
importância entre estes traços, que eles não necessitam estar presentes ao
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raciocínio verbal e/ou numérico, memória, habilidade para lidar com abstrações (capacidade
de associação, análise e síntese), flexibilidade de pensamento (habilidade para transferir
aprendizagens de uma situação para outra), repertório de conhecimentos (possui grande
bagagem de informações sobre um tópico específico e/ou uma variedade de tópicos),
relações espaciais, entre outros. Essas habilidades frequentemente são medidas por testes de
inteligência e aptidão (BURIN, 2019);
2) Habilidade Específica: “capacidade de adquirir conhecimento, habilidade ou
capacidade de atuar em uma ou mais atividades de um tipo especializado e dentro de uma
faixa restrita” (p. 14, tradução nossa). Exemplos de habilidade específica: matemática,
biologia, artes visuais, artes cênicas, fotografia, composição musical, etc. (BURIN, 2019).
As habilidades geral e específica podem ser subdivididas em áreas melhores definidas
como, por exemplo, dentro da matemática um aluno pode apresentar interesse específico por
geometria plana, equações algébricas, análise combinatória, etc. Em geral as áreas devem ser
avaliadas através do olhar atento e observador de profissionais de cada uma dessas áreas
específicas. A Figura 3 representa a diferença entre habilidade geral e habilidade específica
(BURIN, 2019).
Figura 3 - Conceito de Superdotação para Renzulli: áreas gerais e específicas
(BURIN, 2019, p.82). Para Renzulli (2005) o comprometimento com a Tarefa “representa a
energia feita sobre um determinado problema (tarefa) ou área específica de desempenho” (p.
18, tradução nossa).
Trata-se da resistência em permanecer na mesma atividade, de requerer pouca
orientação dos professores, dedicar-se por um longo período de tempo a um tema de
relevância para a pessoa. É quando alguém se sente autodeterminado e competente a
solucionar um determinado problema impulsionando-a a insistir em um resultado final
(RENZULLI, 2005).
Criatividade
Envolve aspectos como pensamento divergente, originalidade e estratégias
construtivas, planejamento, fluência, flexibilidade e originalidade na execução de atividades
concretas e/ou imaginativas, senso de humor aguçado, espírito de aventura, consciência
humana e propósito social. Estão presentes em pessoas que apresentam muita curiosidade,
sensibilidade e coragem de correr riscos, e produções inovadoras e ricas em detalhes
(RENZULLI, 2005).
Neste capítulo você aprendeu alguns conceitos básicos referente a temática das
AH/SD. As teorias, características e modelos educacionais que permeiam nossa prática do
trabalho com esses alunos serão abordados em capítulos posteriores.
Espero que estejam gostando do curso até o momento.
Bons estudos!
1.5. Referências
ALVES, Rauni Jandé Roama; NAKANO, Tatiana de Cássia. A dupla-excepcionalidade: relações entre
altas habilidades/superdotação com a síndrome de Asperger, transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade e transtornos de aprendizagem. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 32, n. 99, p. 346-360,
2015 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000300008&lng=pt&nr
m=iso>. acessos em 04 ago. 2020.
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2008.
BURIN, Ananda Ludwig. Alunos Matematicamente Habilidosos: uma proposta de atividades para
potencializar sua identificação. 2019. 232 f. Tese (Mestrado) - Departamento de Matemática,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019. Disponível em:
https://sca.profmat-sbm.org.br/sca_v2/get_tcc3.php?id=170660341. Acesso em: 04 ago. 2020.
FREITAS, S. N.; PÉREZ, S. Altas Habilidades/Superdotação: atendimento especializado. 2ª. ed. rev. e
amp. – Marília: ABPEE, 2012.
GARDENER, H. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. S~ao Paulo: Editora
Artmed, 1994
GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
GUENTHER, Z. C. Crianças dotadas e talentosas... não as deixem esperar mais. Rio de Janeiro: LTC,
2012.
MACHADO, L. Q.I não é inteligência: A destruição de um mito. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1984.
NEIHART M. Identifying and providing services to twice exceptional children. In: Pfeiffer SI, ed.
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REIS, S. M.; RENZULLI, J. S. The secondary level enrichment triad model: Excellence
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creative productivity. Conceptions of giftedness, p. 53–92, 1986.
Virgolim, A. M. R. A criança superdotada em nosso meio: aceitando suas diferenças e estimulando seu
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WINNER, Ellen. Crianças superdotadas: mitos e realidades. Porto Alegre: Artmed, 1998. 289 p.