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ELISANDRA PAZINI
Goiânia
2024
ELISANDRA PAZINI
Goiânia
2024
Introdução
O propósito central deste estudo reside na minuciosa análise da influência do uso da
imagem e do gesto no ensino aprendizagem favorecendo a construção do saber. Nossa
intenção é aprofundar nossa compreensão sobre a intrincada interação entre o gesto e a
imagem na construção do saber e na formação humano. À luz das ideias de alguns
pensadores como Gallo, Blanchot, Cusicanqui, Flusser, Ramos do Ó, procuramos
demonstrar como a pedagogia da imagem e a pedagogia do gesto podem ajudar a
promovem uma formação humana mais significativa, ao mesmo tempo, questionar quais
valores desejamos transmitir às gerações vindouras.
Baudelaire e a Multidão
A multidão em Baudelaire é um tema recorrente na poesia e na prosa do poeta
francês Charles Baudelaire, que viveu no século XIX. Baudelaire é conhecido por sua
exploração da vida urbana e da experiência moderna, e a multidão desempenha um
papel importante em sua obra, especialmente em seu livro de poesia "As Flores do Mal"
(Les Fleurs du Mal).
Baudelaire retrata a multidão como um elemento fundamental da vida nas
cidades modernas, especialmente em Paris, que estava passando por uma transformação
significativa durante o século XIX devido à industrialização e ao crescimento
populacional. Ele observa a multidão como um organismo vivo e dinâmico, cheio de
contradições e complexidades. Para Baudelaire, a multidão representa tanto a sedução
quanto a alienação da vida urbana.
Em suas obras, Baudelaire descreve a multidão como uma massa anônima de
pessoas que se movem pelas ruas da cidade, muitas vezes perdidas em seus próprios
pensamentos ou preocupações. Ele retrata a solidão do indivíduo dentro da multidão,
uma solidão que pode ser intensificada pela agitação e pela falta de conexão real entre
as pessoas. Ao mesmo tempo, Baudelaire também vê a multidão como um local de
encontros inesperados, onde as almas solitárias podem se cruzar e experimentar breves
momentos de conexão humana.
A multidão em Baudelaire é muitas vezes relacionada ao tema do spleen, um
sentimento de melancolia e descontentamento que permeia sua poesia. Ele retrata a
multidão como um reflexo da condição humana, com todas as suas contradições,
desejos, vícios e virtudes. Baudelaire estava interessado em explorar o lado sombrio da
vida urbana, incluindo o crime, a decadência moral e a alienação social, e a multidão
muitas vezes serve como um cenário para essas explorações.
A grande multidão nas cidades costumava assustar e causar nojo e medo nas
pessoas que a viam pela primeira vez. Em histórias de Edgar Allan Poe, essa multidão
às vezes parecia selvagem e difícil de controlar, mesmo pelas autoridades. Mais tarde, o
artista James Ensor gostava de misturar grupos militares com suas festas carnavalescas,
mostrando como a ordem e o caos podiam coexistir. Isso pode ser visto quando estados
autoritários trabalham junto com saqueadores.
Paul Valéry observou que as pessoas que vivem nas grandes cidades podem se
sentir isoladas e agir de maneira primitiva. Isso ocorre porque o conforto da vida urbana
pode fazer as pessoas se isolarem umas das outras. Ao mesmo tempo, essa vida urbana
pode tornar as pessoas mais parecidas com máquinas, agindo de maneira mecânica.
No século passado surge uma série de inovações que tem uma coisa em comum
elas começaram a fazer coisas complexas acontecerem com um gesto simples. Isso
aconteceu em muitas áreas diferentes. Entre todos os gestos de ligar, inserir, ou apertar
botões, o clique da câmera fotográfica teve um grande impacto. Era como se a máquina
desse um choque instantâneo. Andar no meio do trânsito significava levar muitos
choques e batidas para cada pessoa. Baudelaire fala sobre uma pessoa que se mistura na
multidão como se fosse uma bateria elétrica. Depois, descreve a experiência do choque
chamando essa pessoa de um caleidoscópio consciente. A multidão desempenha um
papel crucial na poesia de Charles Baudelaire, representando tanto a complexidade da
vida urbana moderna quanto os conflitos internos e as experiências humanas. Suas obras
são um reflexo da transformação da sociedade e da condição humana no século XIX, e a
multidão é um dos elementos centrais que ele utiliza para expressar suas preocupações e
observações sobre o mundo ao seu redor.
A sensação de surpresa que uma pessoa sente ao se misturar na multidão é
semelhante à sensação que um trabalhador tem ao lidar com uma máquina. Isso não
significa que Baudelaire entendia como funcionava o trabalho industrial. Ele não tinha
esse entendimento. Ele estava fascinado por um processo em que a máquina despertava
uma reação automática no trabalhador, algo que ele podia observar mais de perto em
alguém que não estava ocupado, como em um jogo de azar.
No poema "O Jogo," Baudelaire aborda o tema do jogo de azar de acordo com
sua visão moderna. Ele compara o jogador com o gladiador, considerando ambos como
figuras históricas. Se olharmos para o jogo de azar não apenas do ponto de vista técnico,
mas também psicológico, a ideia de Baudelaire se torna ainda mais importante.
O jogador está motivado principalmente pelo desejo de ganhar dinheiro, o que é
evidente. No entanto, esse desejo não é exatamente um desejo genuíno. Pode estar
impregnado de ganância e uma determinação obscura. Em qualquer caso, o jogador não
consegue dar à sua experiência o devido valor. O desejo, por outro lado, faz parte da
nossa experiência. O que desejamos quando somos jovens, geralmente conseguimos
quando ficamos mais velhos. No entanto, o que realmente nos enriquece ao longo do
tempo é a experiência que vivemos e que nos molda. Portanto, o desejo realizado é o
ponto alto da nossa experiência de vida. Nas histórias das pessoas, quando algo está
longe no espaço, às vezes parece que também está longe no tempo. É por isso que a
estrela cadente, aquela luz que passa rapidamente pelo céu, se tornou um símbolo de
desejos que se realizam. A bolinha de marfim movendo-se para a próxima casa
numerada, a próxima carta sendo colocada sobre as outras, é o oposto completo da
estrela cadente.
Jouvert fala sobre o tempo, mas não é o tempo comum que conhecemos. Ele está
mais ligado à eternidade e não destrói as coisas, apenas as melhora. Ao contrário do
tempo comum que passa rápido e não nos deixa terminar o que começamos.
Proust escreve que alguns dias são especiais e cheios de significado. Esses dias
especiais são como momentos em que o tempo torna as coisas melhores, como Joubert
descreve. São dias que se destacam e têm um valor especial. Baudelaire os chamou de
"correspondências", relacionados à ideia de beleza moderna (Benjamin, 1989, p. 131)
Baudelaire expressa algo muito forte, mas de forma muito sutil, o que o torna
claramente único. Ele fala sobre como as experiências que ele já compartilhou
desapareceram lentamente. O cheiro é como um refúgio secreto para memórias que
surgem sem controle, e raramente está ligado a uma imagem visual. Entre todos os
sentidos, apenas o cheiro pode evocar a mesma lembrança. Mais do que qualquer outra
coisa, o poder de confortar reside em reconhecer um perfume, porque isso ajuda a
esquecer o passar do tempo. Um cheiro pode nos fazer voltar anos atrás em um instante.
Não há consolo para aqueles que não podem mais viver novas experiências. (Benjamin,
1989, p. 135)
Se olharmos para os pensamentos de Baudelaire e Bergson, podemos ver
algumas diferenças importantes. Baudelaire ainda mantém algum contato com a
verdadeira experiência histórica em suas palavras e ideias, especialmente em relação à
vida e à morte.
Por outro lado, Bergson se afasta bastante da história em sua concepção da
"duração". Ele meio que "apaga" a morte de sua visão do tempo. Isso faz com que sua
ideia de "duração" fique isolada da história, tanto da história que já aconteceu quanto da
que poderia acontecer.
O conceito de "ação" de Bergson, que é basicamente como as pessoas agem de
acordo com o senso comum, também desempenha um papel importante em sua visão.
Ele faz com que a "duração", na qual a morte foi excluída, pareça mais como um
desenho bonito e eterno, mas que não pode guardar as tradições ou a história.
(Benjamin, 1989, p. 137)
A experiência da aura é baseada na ideia de que coisas inanimadas ou partes da
natureza têm uma espécie de reação semelhante à maneira como as pessoas se
relacionam na sociedade. Quando alguém é visto, ou pensa que está sendo visto, ele
reage olhando de volta. Então, perceber a aura de algo significa imaginar que essa coisa
tem o poder de "olhar de volta". Isso também é confirmado por descobertas relacionadas
à memória involuntária, que não podem ser repetidas, pois escapam da nossa lembrança.
Isso tudo nos ajuda a entender que a aura é como um "fenômeno único de
distância" que não pode ser replicado. Essa ideia nos ajuda a perceber que a aura tem
um caráter cultural significativo. Quanto mais Baudelaire percebia isso, mais ele estava
confiante em mostrar em sua poesia que a aura estava desaparecendo. Ele fez isso de
uma forma meio secreta, e você pode encontrar isso em quase todas as partes de seu
livro "As Flores do Mal", onde ele fala sobre o olhar saindo do olho humano.
(Benjamin, 1989, p. 141)
Simmel menciona algo que pode ser cansativo, embora menos óbvio. Ele diz que
as pessoas que veem sem ouvir são muitas vezes mais inquietas do que aquelas que
ouvem sem ver. Isso é típico das grandes cidades. Nas cidades grandes, as relações entre
as pessoas são caracterizadas pelo fato de que a visão é mais importante do que a
audição. Isso acontece principalmente devido aos meios de transporte públicos. Antes
do século XIX, quando os ônibus, trens e bondes foram inventados, as pessoas não eram
forçadas a olhar umas para as outras por longos períodos de tempo sem falar umas com
as outras. (Benjamin, 1989, p. 142)
Baudelaire descreve uma experiência importante em sua vida: ser empurrado
pela multidão nas ruas. Para ele, isso se tornou um critério fundamental que moldou sua
vida. Ele percebeu que a ideia de uma multidão com vontades próprias, uma alma
coletiva que o fascinava, era uma ilusão. Ele viu um futuro em que até mesmo as
pessoas marginalizadas e rejeitadas imporiam regras rígidas e condenariam o
comportamento libertino, priorizando o dinheiro.
Traído por essas ideias que ele considerava aliados, Baudelaire virou-se contra a
multidão com uma raiva impotente, como alguém que luta contra o mau tempo. Isso faz
parte da experiência que ele queria destacar como a verdadeira experiência moderna.
Ele estava disposto a pagar um preço alto por essa sensação moderna: a perda da aura
nas experiências chocantes. Mesmo que tenha sido difícil para ele, essa ideia se tornou a
essência de sua poesia durante o Segundo Império, uma época em que ele se sentia
isolado, como uma estrela solitária no céu sem atmosfera.
As histórias muitas vezes têm, mesmo que de maneira escondida, uma lição
moral, um conselho ou uma orientação para a vida, mas não são chatas ou moralistas.
Elas não tentam mudar a vida das pessoas de fora, mas sim continuam uma corrente de
histórias comuns e vivas. As histórias sempre têm algo de especial, mágico e ilógico.
Na narração há a “marca do narrador, coo a mão do oleiro na argila do
vaso. [...] Seus vestígios estão presentes de muitas maneiras nas coisas
narradas, seja na qualidade de quem as viveu, seja na qualidade de
quem as relata” (Benjamin, 1994d, p. 205). Nesse processo, “o
narrador colhe o que narra na experiência própria ou relatada pelos
outros e transforma isso outra vez em experiência dos que ouvem sua
história” (Benjamin, 1994d, p. 60)
Na narração, não forçamos as emoções ou pensamentos dos personagens sobre
você. Deixamos você pensar por si mesmo, sentir as coisas do seu jeito e até contar a
história de uma maneira que faça sentido para você.
A perda da experiência, que some sem deixar rastros, está diretamente ligada ao
jeito como o sistema econômico capitalista funciona. Em vez de produzir apenas coisas
materiais, ele também influencia como fazemos coisas, como percebemos o tempo,
nossos sentimentos, lembranças e a maneira como contamos histórias. No início, ele
exigia que as pessoas trabalhassem muito rápido, sem tempo para pensar em outras
coisas além do presente, tornando difícil viver experiências mais ricas e significativas.
"Quando buscamos uma compreensão imediata das coisas, corremos o risco de
enfraquecer nossa memória para informações que não são imediatamente úteis. Isso nos
leva a depender da nossa capacidade de lembrar informações acumuladas enquanto
estamos constantemente alertas para as várias possibilidades de mudanças.
Hoje em dia, ainda seguimos a estratégia de tentar controlar o que acontece ao
nosso redor. O tempo que importa é aquele que pode ser medido por um relógio, sendo
uma medida objetiva e desprovida de subjetividade. O tempo é valioso, é dinheiro,
então não podemos aceitar perder tempo necessário para experiência.
A perda de experiências acontece quando as lembranças desaparecem
rapidamente, tornando difícil lembrar de coisas. Isso ocorre porque vivemos em um
mundo onde tudo acontece muito rápido e isso afeta nossa memória. Também sentimos
a pressão de nos ajustarmos ao que está acontecendo ao nosso redor, o que nos faz ficar
mais conscientes e alertas.
Isso nos leva a nos afastar das outras pessoas e a nos tornarmos mais focados em
nós mesmos, como se estivéssemos competindo o tempo todo. Esse comportamento
pode nos fazer sentir tristes e desanimados, pois não conseguimos encontrar um
propósito na vida ou uma sensação de continuidade. Por isso, muitas vezes procuramos
conforto em nossa própria bolha ou em relacionamentos virtuais nas redes sociais.
(Chaves, 2020, p. 106).
Resistência
O autor acredita que a história se torna interessante quando encontramos
contradições e desafios, não quando tudo é perfeito. Ele não acredita que devemos
tentar voltar ao jeito como as coisas eram no passado ou sonhar com um futuro
impossível de alcançar. Em vez disso, ele pensa que devemos parar o avanço constante
do progresso, porque a revolução não se baseia na ideia de que o progresso econômico
inevitável é bom. Pelo contrário, a revolução acontece quando interrompemos a
evolução histórica que pode levar a desastres.
A resistência não está em competir com as novas tecnologias, mas sim em
questionar a lógica por trás delas. É interromper o padrão normal das coisas, mostrar a
realidade de forma diferente, quebrar as regras das histórias tradicionais, separar a
técnica do conteúdo e revelar o lado negativo da produção de coisas culturais. Isso tudo
é feito para despertar uma maneira diferente de pensar, tirando as pessoas da sua zona
de conforto e do foco apenas no presente.
Benjamin enfatiza o quão importante é repensar a educação. Ele quer que questionemos
o conhecimento que não nos faz pensar sobre os valores que queremos passar para as
próximas gerações. Ele também quer resgatar a ideia de que a educação deve ser uma
força de mudança, lembrando-nos do papel importante que a classe burguesa
desempenhou na história.
Conclusão
Podemos afirmar, com convicção, que existe uma conexão profundamente significativa
entre experiência, memória e narração, uma vez que esses elementos estão
inextricavelmente entrelaçados e mutuamente influenciam-se. A experiência funciona
como a fundação que nos capacita a criar memórias e a compartilhar narrativas, pois o
que recordamos não é um conceito abstrato, mas sim eventos e vivências que moldaram
nossas vidas e interações com outras pessoas. Simultaneamente, quando alguém narra
uma história, essa narrativa pode se transformar em uma experiência significativa para
quem a ouve. Portanto, esses três elementos permanecem inextricavelmente ligados de
maneira profunda e essencial, destacando a importância dessa interação para a
compreensão da complexidade da condição humana.
Referências