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Contraponto à liderança mundial tradicional

Mestre em Relações Internacionais e Ação no Estrangeiro, Philippe explica que, no âmbito


econômico-financeiro, o movimento trata de fomentar o comércio, os investimentos e as
trocas entre esses países.
Já na esfera política, a pretensão é trabalhar em conjunto para avaliar e propor ajustes, ou
mesmo substituição, de regras em vigor no sistema internacional que define as condições
de convivência entre as nações.

Os países que compõem a configuração original do BRICS fazem parte do chamado Sul
Global, destacado em vermelho no mapa (Imagem: Kingj123/Wikipedia)
Essas novas regras permitiriam às nações em desenvolvimento, hoje conhecidas como Sul
Global, terem mais voz nas decisões tomadas em nível mundial. “China e Rússia são
identificadas como as duas nações do grupo que mais puxam essa agenda, referida como
‘anti-ocidental’”, complementa o docente.
Os novos escolhidos
Antes da expansão, o BRICS já se destacava em termos populacionais, detendo mais de 40%
da população mundial. Em 2023, a estimativa é de que teriam ultrapassado o G7 — grupo
dos países mais ricos, todos ocidentais e tradicionalmente líderes mundiais — em produto
interno bruto (PIB) quando medido em paridade de poder de compra.
Gidon identifica linhas estratégicas na entrada dos novos países-membros. Ele cita as
questões geográficas e políticas, além da capacidade de desenvolvimento econômico e, por
último, a dimensão comercial. O docente analisa cada ponto individualmente.
• Questão geográfica
Com essa entrada, são cobertos quase todos os continentes e regiões que compõem o Sul
Global (América do Sul, África, Oriente Médio e Ásia), com exceção da América Central.
Assim, o BRICS ganha em destaque de representatividade populacional e econômica,
alavancando a legitimidade como representante dos interesses dos países ditos em
desenvolvimento e, portanto, de sua capacidade de influência.

• Questão política
A política é elemento central de afirmação do BRICS ao propor e organizar-se para oferecer
um sistema monetário internacional alternativo, tendo como pano de fundo a firme
intenção de alterar as regras de convivência entre nações, algo conhecido sob a expressão
“ordem mundial”. Neste ponto, resta ainda a dúvida em relação ao alcance da proposta:
coexistência com a ordem atual em condições a serem estabelecidas ou substituição
completa?

• Desenvolvimento econômico
Considerações quanto às capacidades combinadas na produção de energia e alimentos dos
países convidados revelam um projeto de domínio em áreas fundamentais de
desenvolvimento econômico. Essas capacidades serão usadas como ferramentas de
alavancagem econômica, mas também como meio de exercício de poder nos confrontos
crescentes com as nações ocidentais.
• Dimensão comercial e de fomento ou acesso a capital
Pontos centrais em qualquer estratégia de desenvolvimento. Os planos de multiplicar
acordos de comércio, garantir rotas, promover investimentos em estratégias de produção
industrial revelam as linhas básicas do projeto de planejamento que parece ter sido
privilegiado nessa última cúpula em agosto.

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