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luta contra a corrupção, de combate contra si numa perspectiva cultural que é a da classe
mesmo. A solidariedade entre burgueses, ou dominante: fazer a criança compreender a
entre proletários, toma-se fraternidade humana necessidade da disciplina (pedagogia tradicional)
universal; a liberação em relação à opressão, ou da solidariedade humana (pedagogia nova).
liberdade absoluta de um ego tão inefável
quanto profundo; o trabalho humano, Quer a greve seja explicitada pela ação de
criatividade fundamental das pessoas. De lideres subversivos, como na maioria dos
maneira geral, a luta contra as formas sociais de manuais e leitura, quer ilustre a solidariedade
opressão e injustiça é transmudada em luta dos pobres, acaba sempre por servir de pretexto
contra a corrupção da natureza humana. para uma lição de moral, reacionária ou
Desembaraçar-se da ideologia não é rejeitar todo progressista.
modelo educativo, é sair da ética para devolver
seu sentido sócio-político aos modelos. Fazer a escola sair da ideologia será repensá-
la na perspectiva da luta de classes, fazer dela
A pedagogia ideológica não é rejeitar todo um meio de mediação entre a criança e um
modelo educativo, é sair da ética para devolver mundo social adulto em que reina a dominação
seu sentido sócio-político aos modelos. de classe, mas em que também se desenvolvem
lutas de classe.
A pedagogia ideológica é uma pedagogia da
essência humana ameaçada pela corrupção. E Não se trata apenas de modificar os
preciso ela orar uma pedagogia não-ideológica, conteúdos transmitidos pela escola; não é
concebida como uma pedagogia da luta de somente por seus conteúdos mas também por
homens concretos contra formas sociais sua organização e por seu modo de relação com
determinadas de opressão. Os modelos a sociedade que a escola é ideológica. Vimos que
transmitidos à criança, ou melhor, elaborados esses três elementos estão ligados: isolada da
pela criança, com a ajuda indispensável do sociedade, a escola organiza-se, reinterpretando
adulto, não devem mais visar à pureza de uma em termos institucionais a cultura ideológica
natureza humana, fato inexistente, mas à que, alem disso, transmite.
liberação concreta do homem confrontado com o
mal-social gerado pela dominação de classe. A Mas não bastará repensar a escola. Será
escolarização é alienação quando o sentido social preciso também elaborar uma concepção de
dos modelos propostos à criança é camuflado por cultura e da criança que rompa com a da
trás de uma significação ética. Nessas condições, pedagogia ideológica.
os modelos, quer os da pedagogia tradicional,
quer os da pedagogia nova, abrem caminho para São essas grandes linhas de uma pedagogia
uma ascese pessoal e não para uma luta social. não-ideológica.
A mediação cultural entre a criança e o mundo
adulto, toma a forma ideológica da clausura O homem é um ser coletivo, mesmo sendo
escolar: sob pretexto de organizar um mundo na sozinho, pois como coloca GROSSI, o homem é
medida da criança, a escola isola a juventude mais de um, pensa “com seus botões”, fala
das realidades sociais e cria um meio que está, consigo mesmo, interage com ele mesmo. Possui
de fato, em continuidade com as normas da um ânsia de participação que remonta a própria
classe dominante. A mediação é liberação; a história, movido pela necessidade e pelo desejo
clausura é alienação. de ser parte integrante de um grupo.
Hoje, a participação, reconhecidamente, é
Quando a escola deixa de ser meio de direito de todos, a fim de tomadas de decisões
mediação para tornar-se meio fechado, toma-se que envolvam o aspecto coletivo-reflexivo,
imediatamente ideológica. Ela nunca o é porém nem sempre é voluntária e democrática,
totalmente, pois o funcionamento ideológico da estando à mercê de pressões, ideologias,
escola não é absolutamente sem falha. imposições e concessões.
A criança é um ser social, que não se deixa A educação também nasceu da necessidade
reduzir sem resistência a uma pessoa ética. humana de continuidade à vida social das
Acontece-lhe, as vezes, e mesmo bastante comunidades e grupos, efetivando a participação
freqüentemente na nova escola, a qual lhe deixa de novos elementos à vida comunitária. Como
grandes possibilidades de expressão, utilizar a educação comunitária, o processo de
escola como meio de mediação, isto é, nela aprendizagem era vital e significativo, girando
exprimir o que para ela socialmente é importante em tomo das necessidades fundamentais,
e nela coloca-se questões concementes à inerentes à sobrevivência e à prática social
realidade social. Nesse sentido, as idéias concreta.
proletárias aparecem ocasionalmente na escola.
A seguir trechos em que os renomados
A escola é organizada para servir à ideologia autores por nós pesquisados tratam do assunto
dominante, mas a luta de classes, não deixa de em tela:
ter ecos escolares. Entretanto, as questões
sociais da criança são quase sempre recuperadas
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NUNES (1992), salienta que a escola pública, A desqualificação do trabalho escolar vem
fugindo de 5 sua função social, tem se tomado transvestida pela correlata perspectiva
numa “máquina de expulsar crianças”, um pedagógica da tecnologia educacional, ou por
poderoso veículo de exclusão social. teorias educacionais não-criticas, postas como
modernas e inovadoras; é uma desqualificação
SEVERINO (1986:97), imprime à Educação a orgânica necessária à manutenção da divisão
característica de gestação de uma nova social do trabalho, e à manutenção da sociedade
consciência social, que parta da consciência de classes, visto que atinge a escola freqüentada
natural para a consciência reflexiva, de uma pela classe trabalhadora (FRIGOTTO,
consciência dogmática para uma consciência 1989:164).
crítica; e, assim, que a educação possa Não se nega a organização e a racionalização
mediatizar, através de um discurso critico, a do trabalho escolar, e que avanços tecnológicos
consciência que se impõe com discurso contra- não possam ser apropriados para a educação. O
ideológico que mascara a realidade e a sua que se ressalta é que a forma da organização
dogmaticidade. escolar e o uso das próprias técnicas já vêm
Portanto, mesmo que a educação no Brasil, articulados a determinações e a interesses de
hoje, se mostre como um instrumento de classe - eletrização do processo escolar “como
reprodução das relações sociais, econômicas mecanismo de reprodução das relações econômi-
políticas e culturais, através de uma reprodução co-sociais que perpetuam a desigualdade
ideológica de dominante, não podemos afastar (FRIGOTTO, 1989:171).
dela o seu potencial transformador, por ser o A escola possui, também, a responsabilidade
palco das contradições da sociedade, onde és de de profissionalizar, mas a maneira como a
ações dialéticas é possível superar a função profissionalização vem sendo trabalhada, acaba
discriminatória que exerce. No interior da escola por não profissionalizar, diante de toda a
pode surgir um processo de resistência a essa elaboração e o avanço do mundo do trabalho. A
dominação; fica claro, porém, que ela não é a sua idéia deformada do processo produtivo,
alavanca de transformação social, mas é um desvia a escola de sua “função precipua:
mecanismo que pode desenvolver um discurso fornecimento de uma estrutura básica de pensa-
contra-ideológico, como mostra SEVERINO mento e uma qualificação politécnica no sentido
(1986:97), partindo de um esforço crítico de da tradição marxista”, e mantém a divisão social
uma consciência reflexiva, e que, historicizando entre trabalho manual e o intelectual, teoria e
as relações sociais de produção, as leve a uma prática, organização e execução.
transformação, como aponta FRIGOTTO (1989).
O fracasso da escola possui uma
LITIERI (In FRIGOTTO, 1989), analisa que determinação histórica, que condiciona a escola
o capitalismo de hoje, de fato, não recusa o a esse fracasso (FRIGOTTO, 1989:173).
direito à escola, “o que ele recusa é mudar a
função social da escola”. Cabe à escola o resgate da dimensão do
trabalho como principio educativo, preparando o
Assim, a improdutividade dentro da escola, indivíduo para o trabalho mediante uma
dentro do processo capitalista é uma mediação formação critica que impeça a alienação sobre as
necessária e produtiva à manutenção das relações de produção da sociedade capitalista.
relações capitalistas de produção (FRIGOTTO, Essa formação profissional exige um projeto que
E, a educação vai aparecer como mediadora dos vise a unilateralidade e que trabalhe com as
interesses dominadores. contradições que a história oferece.
Através da análise de Frigotto, percebemos
que, historicamente, a escola vem cumprindo Nada mais claro do que a afirmação a seguir,
funções de caráter geral, ou seja: sobre a produtividade da escola:
“A sua produtividade para a manutenção das
desenvolvimento de um saber que não é relações sociais de produção se materializa,
especifico; a formação de profissionais de alto então, na sua improdutividade, isto é na sua
nível; uma escolaridade elementar e o abstratividade e em seu caráter anacrônico”.
desenvolvimento de traços sócio-culturais FRIGOTTO, 1989.-173
políticos e ideológicos, para funcionalidade das
empresas produtivas e instauração de uma A dimensão política da ação pedagógica na
mentalidade consumista; linha dos interesses da classe trabalhadora se
prolongamento desqualificado da concretiza na medida que viabiliza um escola que
escolaridade que vai constituir-se num se organiza para o acesso efetivo do saber que
mecanismo de gestão do próprio Estado lhe é negado e expropriado pela classe
intervencionista, que busca viabilizar a dominante. Viabilizar os interesses da classe
manutenção e o desenvolvimento das relações trabalhadora tem ponto de partida e ponto de
sociais de produção capitalistas (FRIGOTTO, chegada e é político. Mas, não lhe basta, é
1989:162). necessário a dimensão técnica. A mediação da
competência técnica e dos instrumentos
materiais é que será capaz de oferecer um saber
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