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Módulo 02

Avaliação pré-operatória da criança


e do recém-nascido
Vinícius Quintão
Objetivos de
aprendizagem
■ Discutir a preparação da criança para
o ambiente perioperatório

■ Entender a avaliação da história


clínica e exame físico direcionados
às crianças e recém-nascidos no pré-
operatório

■ Discutir questões específicas da


avaliação pré-operatória da criança

– Jejum

– Ansiedade pré-operatória

– IVAS

– Recém-nascido pré-termo

– Vacinação
Preparação psicológica
da criança
É essencial que o anestesiologista interaja
diretamente com a criança de acordo com seu
nível de desenvolvimento

Do ponto de vista fisiológico, a preparação da


criança e do adulto é similar

v Mas a preparação psicológica da criança


é muito diferente
Preparação inadequada da criança e da família
pode levar a uma indução anestésica traumática
e dificuldades para a criança e para o
anestesiologista

Ø Alterações psicológicas pós-operatórias


Ø Estresse pós-traumático
Comportamento
■ É importante esclarecer para a criança que a anestesia não é
igual ao sono natural

v Será utilizado remédios para ela dormir


v Ela não irá acordar durante a cirurgia
v Ela não irá sentir dor
v Ela só irá acordar quando a cirurgia acabar
Comportamento
Presença dos pais na indução

Controverso
• Estudos mostraram vantagens
• Estudos mostraram desvantagens

Os pais devem ser informados sobre os


equipamentos no centro cirúrgico

Indução à movimentação dos olhos, ruídos das


vias aéreas superiores, excitação e agitação

Avisar sobre os alarmes e outros sons típicos do


centro cirúrgico

Avisar que os pais deverão sair quando forem


solicitados
• Tem pessoal adequado para encaminhar os pais para área de
espera
Revisão de todos os sistemas, em
especial o sistema do órgão

História da
envolvido na cirurgia

doença
Revisão sobre história de
tabagismo passivo e do próprio
paciente (adolescentes)

atual Medicações em uso


Prescritas ou não,
especialmente vitaminas e
outros medicamentos

Alergia a medicações

História prévia de cirurgias e


hospitalizações

Última micção

Horário da última ingestão oral


História de vômitos ou
diarreia
História da Respiratório
• Tosse, asma, IVAS recente à broncoespasmo,
doença reatividade das vias aéreas
• Crupe à estreitamento subglótico

atual • Apneia com bradicardia à apneia pós-


operatória

Cardiovascular
• Sopro à defeitos dos septos (evitar bolhas de
ar nas linhas venosas)
• Cianose à shunt direito-esquerdo
• Crise de hipercianose à Tetralogia de Fallot
• Hipertensão à coarctação de aorta, doença
renal
• Febre reumática à doença valvar
• Intolerância ao exercício (brincar) à
Insuficiência cardíaca
Neurológico
História da •Convulsões à medicamentos, erros inatos

doença do metabolismo
•TCE à hipertensão intracraniana

atual •Alteração de deglutição à aspiração,


refluxo gastroesofágico
•Doença neuromuscular à anestésicos,
risco de hipertermia maligna

Gastrointestinal
•Vômitos/diarreia à equilíbrio ácido-base,
conteúdo gástrico
•Mal absorção à anemia
•Refluxo à esvaziamento gástrico reduzido,
estômago cheio
•Icterícia à metabolismo dos fármacos,
hipoglicemia
História da Genitourinário
•Frequência à infecção do trato urinário, diabetes

doença •Horário da última micção à estado de hidratação


•Frequência de infecções urinárias à avaliação da
função renal

atual Endócrino/metabólico
•Alteração de desenvolvimento à hipotireoidismo,
diabetes
•Hipoglicemia e uso de corticoide à hipoglicemia,
insuficiência suprarrenal

Hematológico
•Anemia à possibilidade de transfusão
•Sangramento excessivo à coagulopatia,
trombocitopenia
•Anemia falciforme à hidratação, possibilidade de
transfusão
História da Alergias
doença • Medicações

atual • Látex

Dentes
• Profilaxia de endocardite
• Aspiração de dentes soltos
• Falha dentária à laringoscopia difícil
Recém-nascidos
Avaliação das vias aéreas
Avaliação das vias
aéreas
v Um dos problemas mais comum
das vias aéreas em criança é a
laringomalácia
Ø Resolve com o crescimento da
criança

v Sequência de Pierre Robin


o Micrognatia, desconforto
respiratório nas primeiras 24
horas de vida e ptose de língua
Ø Intubação pode ser fácil em
crianças acima de dois anos
Avaliação das vias
aéreas

v Treacher Collins e
mucopolissacaridose

Ø Intubação e ventilação por máscara


facial fica mais difícil com o
crescimento da criança

v Crouzon, Apert e Down

Ø Difícil de ventilar, mas fácil de


intubar
Crouzon
Pierre Robin

Mucopolissacaridose

Síndrome de
Apert Treacher Collins
orphananesthesia.eu
Medidas
importantes:
crescimento
v Peso, altura e circunferência
cefálica

v Peso ao nascimento dobra


com 6 meses e triplica com 1
ano
o 1 ano à 10 kg
o Entre 18 meses e 8 anos à
idade (anos) X 2 + 9
Crescimento
v Definições importantes

v RN pré-termo à nascimento antes das 37 semanas


o Pré-termo baixo peso ao nascimento à < 2.500 g

o Pré-termo muito baixo peso ao nascimento à < 1.500 g

o Pré-termo extremo baixo peso ao nascimento à < 1.000 g

o Micropremies à < 750 g ( ? )

v RN termo à nascimento entre 37 e 42 semanas

v RN pós-termo à nascimento acima de 42 semanas


Primeiro ano de vida: 10 cm
Segundo ano de vida: 2,5 cm
9 meses: 50% do tamanho adulto
2 anos: 75% do tamanho adulto

Fontanela anterior: fecha 9 e 18 meses


Fontanela posterior: fecha 2 e 4 meses
Sistema cardiovascular

Controle da frequência cardíaca à SNA parassimpático


Sistema cardiovascular
PAS (5º percentil)
70 + 2X idade (anos) à 1 a 10 anos
60 – 70 à < 1 ano
50 – 60 à RN
História pregressa
v Revisão de todos os sistemas
v Hospitalizações prévias
v Síndromes e alterações congênitas
v Medicações em uso
v Alergias

v RN pré-termo ou termo
v Pré-termo
o Admissão em UTI neonatal
o Duração de intubação traqueal
o História de apneia ou bradicardia
o História de hemorragia intraventricular
o Alterações congênitas
Anestesia e
vacinação
v Efeito imunomodulatório da
anestesia e cirurgia podem
afetar a eficácia e seguranças
das vacinas
v Resposta inflamatória da
vacina pode alterar o
perioperatório
v Febre, dor e irritabilidade
não confundir com
complicações perioperatórias
v Vacinas inativada (DTP)
eventos adversos até 2 dias
v Vacinas atenuadas (MMR)
eventos adversos até 7 a 21
dias
Exames laboratoriais

v Exames laboratoriais devem ser solicitados de acordo com a história clínica, doença atual e
procedimento cirúrgico
v Hemoglobina e exame de urina de rotina não são indicadas na maioria dos procedimentos
v Hemoglobina pré-operatória deve ser solicitada para procedimentos com potencial perda
sanguínea, hemoglobinopatias, recém-nascidos pré-termos e em menores de 6 meses
v Coagulograma pode ser solicitado em cirurgias de grande porte
v Raio-X de tórax não é indicado de rotina
o Oximetria de pulso (valores acima de 95%) indicam normalidade
Teste de gravidez – adolescentes

v Solicitar teste de rotina à questões éticas e legais

v Risco de exposição
o Efeitos teratogênicos
o Exposição à radiação
o Aumento do risco de aborto espontâneo
o Cérebros em desenvolvimento

v Se a história clínica e exame físico não são claros, é recomendado solicitar


testes para gravidez
Ansiedade pré-operatória / modified Yale Preoperative Anxiety Scale

Divide cada domínio pela


quantidade de itens, soma-se,
divide por 5 e multiplica por
100

≥ 30 à ansiedade
Medicação pré-
anestésica
v Midazolam VO 0,25 a 0,75
mg/kg

v Cetamina VO 3 a 6 mg/kg
v Cetamina intranasal 3 mg/kg

v Cetamina IM 2 a 10 mg/kg

v Clonidina VO 4 mcg/kg
v Dexmedetomidina bucal 2 a 4
mcg/kg
v Dexmedetomidina intranasal
2 a 4 mcg/kg
Jejum pré-operatório
v Leigh à 1948 1 hora de jejum para líquidos sem resíduos

v Mendelson à morte materna por aspiração do conteúdo


gástrico

v Jejum aumentou para 8 horas à líquidos e sólidos

v 1990 à evidência que jejum para líquidos sem resíduos de


2 horas não aumentava o risco

v 2018 à diminuição do tempo de jejum para líquidos sem


resíduos para 1 hora

v 2022 à novo Consenso Europeu


Jejum pré-operatório
v Evento raro em pacientes saudáveis
submetidos a procedimentos eletivos
o 1:4.000
v Crianças: também considerado evento
raro
o 9,3:10.000 (APRICOT)
o 2 – 2,2:10.000 (Paediatr Anaesth
2013;23:702e11)
o 2:10.000 (Anesthesiology
1999;90:66e71)
o 10x: emergência
Jejum pré-operatório
Jejum pré-operatório
v 3 mL/kg de líquidos sem resíduos
v 55 mL para crianças 1-5 anos
v 140 mL para crianças 6-12 anos
v 250 mL para crianças acima 12 anos
v Contraindicações devem ser discutidas entre o anestesista e a equipe
cirúrgica:
o Refluxo gastroesofágico, insuficiência renal, paralisia cerebral, enteropatias,
alterações esofágicas, acalasia, diabetes mellitus e contraindicações cirúrgicas
Jejum pré-operatório
Jejum pré-operatório
Maior risco para:
Infecção
Asma Otite Cáries de vias
brônquica média Atopia dentárias aéreas
inferiores

Fumante
passivo Ativamente questionar aos
pais sobre fumantes que
moram com a criança ou
convivem muito perto
Manejo
perioperatório Cancelar cirurgia devido
à IVAS deve ser excessão

TRIAGEM

• Exame físico
• História clínica
• Não há necessidade de
exames complementares

Adrian Regli, Karin Becke, and Britta S. von Ungern-


Sternberg. Curr Opin Anesthesiol 2017, 30:362–367

Karin Becke. Curr Opin Anesthesiol 2012, 25:333–339


Manejo Manejo perioperatório
perioperatório adequado

Identificar fatores de
risco para eventos
adversos

Experiência do
anestesiologista

Adrian Regli, Karin Becke, and Britta S. von Ungern-


Sternberg. Curr Opin Anesthesiol 2017, 30:362–367

Karin Becke. Curr Opin Anesthesiol 2012, 25:333–339


Manejo
perioperatório
Medicação pré-anestésica

• Não é recomendado
benzodiazepínicos
• Clonidina ou dexmedetomidina

Considerar lidocaína IV para


prevenção do laringoespasmo
• Evitar lidocaína tópica nas cordas
vocais
• Aumenta incidência de dessaturação e
não previne laringoespasmo

Adrian Regli, Karin Becke, and Britta S. von Ungern-


Sternberg. Curr Opin Anesthesiol 2017, 30:362–367

Karin Becke. Curr Opin Anesthesiol 2012, 25:333–339


Manejo
perioperatório Salbutamol 20 a 30
minutos antes da
Broncodilatadores indução
2,5 mg < 20 kg e 5
mg > 20 kg 4 a 8 puffs

Broncoespasmo
11% vs. 6% (p =
Coorte prospectiva 0,03)
de 600 crianças Tosse grave 12% vs.
6% (p = 0,03)

Adrian Regli, Karin Becke, and Britta S. von Ungern-


Sternberg. Curr Opin Anesthesiol 2017, 30:362–367

Karin Becke. Curr Opin Anesthesiol 2012, 25:333–339


Infecção de vias aéreas superiores – IVAS

Adrian Regli et al. Curr Opin Anesthesiol 2017, 30:362–367


Karin Becke. Curr Opin Anesthesiol 2012, 25:333–339
Pré-medicação com salbutamol
Considerações A criança tem de ser
considerada diferente e ter a
avaliação pré-anestésica
finais direcionada

É importante reconhecer os
fatores de risco para as
principais complicações e
adotar medidas de prevenção

A abordagem psicológica da
criança é etapa fundamental
da avaliação pré-anestésica
Obrigado!

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