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TRAUMA

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TRAUMA

Sumário
Prevalência/importância
1. ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado . . . . . . .
2. ATLS – Via aérea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3. ATLS – Trauma torácico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4. ATLS – Choque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5. ATLS – Trauma abdominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6. ATLS – Trauma geniturinário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7. ATLS – Trauma cranioencefálico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8. ATLS – Trauma de coluna vertebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9. ATLS – Queimaduras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10. Trauma vascular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11. Trauma de face . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
12. Trauma de pescoço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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ATLS – ATENDIMENTO INICIAL Capítulo

AO POLITRAUMATIZADO 1

importância /prevalência

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u O atendimento inicial ao politraumatizado é composto pela avaliação de diversos parâmetros da vítima. O ABCDE
e o AMPLA são dois mnemônicos que ajudam a lembrar de todos esses parâmetros e da ordem correta em que
devem ser avaliados.
• A: Permeabilidade das vias aéreas e imobilização da coluna cervical;
• B: Ventilação;
• C: Choque;
• D: Neurológico (Glasgow, pupilas e déficits);
• E: Exposição – despir o paciente, avaliar e classificar lesões e prevenir hipotermia.

• A: Alergias;
• M: Medicamentos;
• P: Passado médico/prenhez (avaliar antecedentes pessoais e risco de gestação);
• L: Líquidos e alimentos ingeridos recentemente;
• A: Ambiente relacionado ao trauma e mecanismo de trauma.

u No trauma, não se esqueça de saber as peculiaridades dos atendimentos de crianças. Ainda que os parâmetros e a
ordem se mantenham, existem algumas diferenças no manejo e na correção de alterações decorrentes do trauma.

Quando a equipe de atendimento médico finalmente chegou


BASES DA MEDICINA ao local, a inexperiência e os distúrbios na abordagem dos
profissionais impressionaram o dr. Styner, deixando clara a
inabilidade do hospital diante de um tratamento de vítimas de
O protocolo ABCDE do trauma, hoje amplamente conhecido
acidentes. A tragédia só não foi maior porque, apesar do tempo
e tido como uma das principais práticas de primeiros socorros
de espera, tanto Styner quanto seus filhos foram salvos. Mas o
a vítimas politraumatizadas, nasceu de uma tragédia, assim
episódio mudou a vida do médico para sempre: ele passou a
como muitas das descobertas médicas.
buscar alternativas para a abordagem do traumatizado. Ficou
O fato ocorreu em 1976, quando o dr. James K. Styner, um claro que algo deveria ser feito.
ortopedista de Nebraska, e sua família sofreram um grave
Com um colega de trabalho, o dr. Paul Collicott, Styner deu
acidente aéreo em seu avião particular. A queda ocorreu em
início a um programa de otimização da abordagem ao poli-
uma área rural; a violência do impacto foi tamanha que fez
traumatizado – o que mais adiante se tornaria o protocolo
com que sua esposa morresse imediatamente e três de seus
ABCDE do trauma, conhecido por nós, cujo objetivo principal
quatro filhos sofressem graves ferimentos.
é reduzir os índices de mortalidade e morbidade de vítimas
Sem ninguém por perto e em busca de socorro, Styner acenou de qualquer tipo de trauma. O American College of Surgeons
para um carro que passava em uma estrada próxima e pediu editou o protocolo e o publicou como ATLS®. Foi o início de
para que seus filhos fossem levados ao hospital o mais rápido uma mudança radical na abordagem ao politraumatizado e
possível. Infelizmente, assim que chegaram lá, o local estava que em pouco tempo passaria a ser adotada por vários países
fechado; o médico e seus filhos tiveram que esperar mais de ao redor do mundo.
dez horas para ser atendidos.

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

Figura 1. Foto do avião pilotado pelo dr. Styner, em 1976. si ou pela morbidade (sequelas definitivas irreversíveis)
que pode causar.
u 9 mortes/minuto por trauma ou violência;
u 5,8 milhões de mortes/ano;
u 12% dos gastos mundiais com saúde.

Classicamente, a distribuição das mortes no trauma


é trimodal, isto é, a mortalidade ocorre em três
diferentes picos. Quase 50% dos óbitos ocorrem
na cena, logo após o acidente. Para esses casos, o
único tratamento é a prevenção. O segundo pico de
morte ocorre nas primeiras horas após o trauma e
Fonte: Kenneth Styner/Wikimedia Commons1. é decorrente de lesões fatais, mas potencialmente
tratáveis, como pneumotórax, hemotórax, lesões
abdominais, hematomas intracranianos etc. Nós,
Figura 2. Dr. Styner e seus filhos, todos médicos, conseguimos salvar esses pacientes se
sobreviventes do acidente de avião. agirmos de forma correta e precoce. O terceiro
momento ocorre dias ou meses após o trauma, geral-
mente por sepse e disfunção de múltiplos órgãos.
Com o avanço da Medicina e o melhor atendimento
ao paciente, essa curva tem se modificado e torna-
do-se bimodal. Isso é observado especialmente em
países desenvolvidos, nos quais há um sistema de
trauma bem-organizado. O gráfico abaixo facilita
nosso entendimento:

Figura 3. Note que o segundo pico da curva


trimodal tende a desaparecer. A linha representa
a mortalidade trimodal clássica, enquanto as
barras demonstram dados de 2010 nos EUA.

Fonte: Kenneth Styner/Wikipedia2.

When I can provide better care in the field with limited resour-
ces than what my children and I received at the primary care
facility 3/4 there, is something wrong with the system, and the
system has to be changed. – James Styner, 1977.

Trauma, nos países ocidentais, é a terceira maior causa


de morte, perdendo para doenças cardiovasculares e
cânceres. Quando consideramos apenas a população
Fonte: Adaptada de Gunst et al3.
menor de 45 anos, ele passa a representar a primeira
causa de morte. Desse modo, afeta principalmente a
população economicamente ativa, trazendo consequên-
cias socioeconômicas importantes, seja pelo óbito em

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

DICA 1. A – VIA AÉREA E


A sequência de tratamento do ATLS
sempre será a mesma. Primeiro, vamos tra- COLUNA CERVICAL
tar a maior ameaça à vida – por isso, sempre,
SEMPRE aplicaremos a sequência ABCDE, nes-
sa ordem! Não há exceção. Você já deve estar Primeiro, cuidamos da via aérea, porque é ela que mata
cansado de escutar sobre o ABCDE do trauma, mais rapidamente! De nada adianta parar o sangramento
mas vamos reforçar aqui a importância desse de ossos longos ou transfundir, se meu paciente está
conteúdo. morrendo por hipóxia. Antes da ausculta pulmonar,
FAST, Glasgow ou qualquer outro procedimento, temos
que avaliar e garantir a permeabilidade da via aérea!
Quadro 1. Sequência de atendimento do ATLS.
Não interessa se há fratura exposta de todos os mem-
bros e se o paciente está chocado. O “A” vem antes do
ATLS: ABCDE do trauma “C”. Agora você deve estar pensando: “mas o ATLS não
A Airways Via aérea e coluna cervical mudou para X-ABCDE?”. A resposta é não! Falaremos
sobre isso no final do capítulo.
B Breathing Ventilação e respiração
Podemos assumir que pacientes que conseguem
C Circulation Circulação
verbalizar, isto é, conversar, têm uma via aérea pérvia!
D Disability Avaliação neurológica

Exposição do doente e prevenção FLASHCARD


E Exposure
de hipotermia
Qual a prioridade no atendimento do paciente poli-
Fonte: Elaborado pelo autor. traumatizado?
Airways (Via Aérea e Coluna Cervical).

DICA
O atendimento inicial do politrau- É também nesse primeiro momento que precisamos
matizado consiste em uma rápida avaliação
garantir a proteção da coluna cervical! Muitos pacientes
primária com o objetivo de identificar e tratar
imediatamente as situações com risco de mor-
já chegam trazidos pelo resgate com colar cervical em
te, não devendo ultrapassar 5 a 10 minutos. prancha rígida; caso isso não ocorra, é sua obrigação
estabilizar a cervical do paciente (primeiro, de forma
manual), até que alguém coloque o colar cervical. Não
confunda: nesse momento, devemos proteger a coluna
FLASHCARD cervical, mas não a avaliar. Não é agora que vamos pal-
Qual a sequência de atendimento do paciente poli- par a coluna, perguntar para o doente se ele tem dor
traumatizado? ou buscar sinais de trauma raquimedular.
• A – Via aérea + coluna cervical
• B – Respiração
• C – Circulação
• D – Neurológico 2. B – VENTILAÇÃO E RESPIRAÇÃO
• E – Exposição e prevenção de hipotermia

A permeabilidade da via aérea, por si só, não garante


ventilação adequada. Uma troca adequada de gases

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

é necessária para que seja possível a oxigenação e a pulso e perfusão periférica). Após constatado o choque,
eliminação de dióxido de carbono. Uma boa ventilação temos que:
exige um funcionamento adequado dos pulmões, da u Buscar a fonte de sangramento;
parede torácica e do diafragma. u Parar o sangramento;
u Repor o volume perdido.
FLASHCARD

Quais diagnósticos potencialmente fatais podem ser A hemorragia externa significativa deve ser tratada
feitos e tratados no “B” da sequência? por compressão manual direta. Os torniquetes são
• Pneumotórax hipertensivo
efetivos na exsanguinação em lesões de extremi-
• Lesão de árvore traqueobrônquica
• Hemotórax maciço dades, mas podem causar lesão isquêmica (ficam
• Pneumotórax aberto reservados para quando a compressão direta não é
• Tamponamento cardíaco eficaz). Não devemos utilizar pinças hemostáticas,
pois elas podem causar lesões de nervos ou veias.
O pescoço e o tórax devem ser expostos, a fim de ava-
liar veias jugulares, posição da traqueia e movimentos Quadro 2. Possíveis fontes de sangramento no trauma.
respiratórios. O exame físico do tórax é essencial nesse Possíveis fontes de sangramento no trauma
momento, com inspeção, ausculta e percussão. É nessa
• Tórax
etapa que fazemos diagnósticos potencialmente letais,
• Abdome
como pneumotórax hipertensivo, lesão de árvore tra-
• Pelve e retroperitônio
queobrônquica, hemotórax maciço e pneumotórax • Ossos longos
aberto. Além de fazer esses diagnósticos, devemos • “Chão”: meio externo
tratá-los imediatamente.
Fonte: Elaborado pelo autor.

FLASHCARD

Após constatado o choque, temos que:


4. D – AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA
Buscar a fonte de sangramento, parar o sangramento e
repor o volume perdido.
A avaliação neurológica deve ser rápida e direcionada!
u Escala de Coma de Glasgow;
3. C – CIRCULAÇÃO u Pupilas: tamanho e reatividade;
u Sinais de lateralização (déficits motores, pares-
tesias ou plegias).
A hemorragia é a principal causa de morte pós-traumá-
tica evitável, por isso temos que identificar rapidamente
Quadro 3. Escala de Coma de Glasgow.
um potencial sangramento, parar a hemorragia e repor
o volume perdido. Lembre-se sempre de que o principal Escala de Coma de Glasgow
tipo de choque no trauma é o choque hemorrágico. 4 Espontânea

Abertura 3 Estímulo verbal


FLASHCARD Ocular 2 À pressão
Quais as possíveis fontes de sangramento no trauma?
Tórax, abdome, pelve e retroperitônio, ossos longos e 1 Ausente
chão (meio externo).

Nesse momento, avaliamos o estado hemodinâmico do


nosso paciente (pressão arterial, frequência cardíaca,

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

Escala de Coma de Glasgow


Por exemplo: se o paciente apresenta um Glasgow 8
(RM 3, RV 3 e AO 2) e não há reflexo fotomotor bilateral,
5 Orientado iremos subtrair 2 (8 − 2 = 6). Portanto, ECG-P = 6.
4 Confuso
Melhor
resposta 3 Palavras FLASHCARD
verbal
2 Sons Cite duas medidas obrigatórias no “E”.
Exposição completa do paciente e prevenção de hipo-
1 Ausente termia.
6 Obedece ao comando

5 Localiza a dor
Melhor 4 Não localiza a dor (flexão normal) 5. E – EXPOSIÇÃO (PREVENÇÃO
resposta
motora 3 Decorticação (flexão anormal) DE HIPOTERMIA)
2 Decerebração (extensão anormal)

1 Ausente A etapa final do ABCDE é exposição e aquecimento do


ambiente (Exposure e Environment). Devemos despir
Melhor escore possível: 15 (O4 + V5 + M6) todo o paciente e examiná-lo da cabeça aos pés, bus-
Pior escore possível: 3 cando lesões que podem ter passado despercebidas
Fonte: Elaborado pelo autor. até o momento.
Devemos rodar o paciente em monobloco, visando
DICA
buscar lesões em dorso, nádegas e períneo. Lem-
A Escala de Coma de Glasgow (ECG) bre-se: sempre temos que garantir a estabilidade
baseia-se na abertura ocular, na resposta ver-
de coluna vertebral.
bal e na resposta motora.
Após exposição completa do paciente e avaliação,
devemos prevenir a hipotermia. A temperatura do
Em 2018 foi proposta uma atualização da escala de ambiente deve ser controlada; o paciente precisa
coma de Glasgow, na qual a reatividade pupilar entra ser protegido com cobertores ou manta térmica.
no cálculo. Mas tomem cuidado, ela NÃO substituiu Lembre-se: a infusão de fluidos deve ser feita com
a escala original e a edição mais recente do ATLS (10ª soro previamente aquecido a 39 graus.
edição, 2018) não cita essa nova escala! O próprio autor Também nessa etapa podemos realizar algumas
do estudo original escreve no artigo que a nova escala partes do exame físico ainda não realizadas, além
(ECG-P: escala de coma de Glasgow pupilar) não deve de passar sondas.
substituir a escala clássica, mas sim adicionar informações
e que ambas deverias ser registradas em prontuários!
FLASHCARD
A ECG-P varia de 1 – 15, pois devemos subtrair da Contraindicação absoluta para passagem de SNG?
escala original conforme os achados da reatividade Fratura de base de crânio.
pupilar.
u Avaliação de reatividade pupilar:
Lembre-se: no caso de doentes politraumatizados, o
W (2) Ambas as pupilas não reagem ao estímu- toque retal e vaginal faz parte do exame físico.
lo de luz.
Como o toque pode nos ajudar no trauma?
W (1) Uma pupila não reage ao estímulo de luz.
u Sangramento: possibilidade de lesões de alças.
W (0) Nenhuma pupila fica sem reação ao estí-
mulo de luz.
u Espículas ósseas: fratura de ossos pélvicos.

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

u Tônus do esfíncter: hipotonia pode sugerir trauma é voltado para um ambiente operacional e hostil,
raquimedular. Em pacientes chocados, temos que como a guerra.
lembrar do choque neurogênico.
Portanto, preste atenção e tome cuidado! A regra
u Altura da próstata (próstata móvel ou alta/cefa- para a prova e para a vida é o ABCDE. A VIA AÉREA
lizada): classicamente, esse achado pode signi- vem ANTES do sangramento na MAIORIA das vezes!
ficar lesão de uretra. Entretanto, a 10ª edição do
ATLS diz que a palpação da próstata não é um Afinal, o que é o X-ABCDE?
sinal confiável de lesão prostática. u X – EXsanguinante;
u A – Via aérea;
O toque retal pode ser feito no C (Circulação), pois u B – Respiração;
ajuda a diagnosticar possíveis causas de choque;
no D (Neurológico), visando avaliar tonalidade do
u C – Circulação;
esfíncter; ou na fase final da avaliação (E). u D – Neurológico;

A passagem da sonda vesical de demora pode ter


u E – Exposição.
sido feita no C (avaliação da reposição volêmica),
O X refere-se a hemorragias exsanguinantes e MUITO
mas não é errado deixá-la para o E, ou até mesmo
severas, como sangramentos arteriais em jato ou
para a avaliação secundária.
maciços. Nesses casos EXCEPCIONAIS, a contenção
A passagem de sonda gástrica (nasogástrica ou da hemorragia externa grave deve ser realizada antes
orogástrica) também pode ser feita agora, tendo mesmo do manejo das vias aérea. Esse conceito
como objetivo esvaziar o estômago e prevenir a é válido para o atendimento pré-hospitalar e em
aspiração de conteúdo gástrico. cenários hostis.
Não se esqueça: nunca podemos passar sondas por
via nasal em pacientes com suspeita de fratura de
DICA
base de crânio: olhos de guaxinim, sinal de Battle, ATLS é ABCDE! Somente utilize o con-
rinorreia, otorreia, otorragia, rinorragia. Se fizermos ceito de XABCDE se o autor for muito claro ao
isso, podemos locar a sonda dentro do cérebro! afirmar que há um sangramento arterial ativo
e incompatível com a vida!

6. X – XABCDE
O controle da hemorragia externa maciça pode ser feito
de duas maneiras:
Na abordagem inicial, deve ser dada ênfase à manuten- u Compressão direta
ção das vias aéreas, à estabilização da coluna cervical, u Torniquete (caso o sangramento seja em membros)
ao controle da hemorragia externa e à imobilização do
paciente para o transporte – neste último caso, empre-
gando uma prancha longa. 6.1. TORNIQUETE

A edição mais recente do PHTLS (2018, 9ª edição)


É uma ferramenta extremamente útil para sangramentos
introduziu um novo conceito, o X-ABCDE. A 10ª edi-
importantes de membros, mas deve ficar reservado a
ção do ATLS (2018) somente menciona o X-ABCDE
casos excecionais e muito graves. Não há um tempo
em um dos capítulos apêndices, quando se refere
máximo para a utilização do dispositivo, mas sabe-se
ao ATLS-OE (U.S. Military’s Advanced Trauma Life
que, quanto maior o tempo de uso, maior o risco de
Support for the Operational Environment). O ATLS-OE

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

perda do membro. O torniquete deve ser específico Figura 4. Exemplo de compressão direta.
para tal procedimento, pois garrotes improvisados
dificilmente conseguem vencer a pressão arterial e
cessar o sangramento.

Fonte: vzmaze/shutterstock.com4

Figura 5. Utilização correta do torniquete.

(A) Colocação acima da lesão, nunca sobre ela. (B) Gire o torniquete até a cessação completa do sangramento. (C) Trave o torniquete.
(D) Anote o horário em que ele foi realizado.
Fonte: Acervo Sanar.

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

A radiografia cervical em perfil tem perdido muito


7. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA espaço, em razão da maior disponibilidade de tomo-
grafias nos hospitais; contudo o RX cervical ainda pode
A avaliação secundária sempre deve ser realizada. Con- ser muito útil – guarde essa informação!
siste em um exame minucioso, da cabeça aos pés. Tenha em mente que nenhum exame ou procedi-
Assim como na exposição, aqui podemos realizar os mento diagnóstico pode atrasar a reanimação do
toques retais ou vaginais e passar as sondas (vesicais paciente! Exames e procedimentos devem ser rea-
ou gástricas). lizados na sala de trauma, com aparelhos portáteis.

7.1. HISTÓRIA AMPLA FLASHCARD

Quais radiografias podem ser feitas no atendimen-


Para finalizar, guarde a regra da história Ampla! Esse to inicial?
mnemônico pode ser bastante útil no dia a dia, para RX de tórax no leito (anteroposterior – AP) e Rx de pel-
ve no leito.
obter a história do paciente vítima de trauma.

Quadro 4. História AMPLA.


DIA A DIA MÉDICO
História Ampla

A Alergia XABCDE versus ABCDE. Em grandes centros de trauma, o


M Medicamentos atendimento do paciente politraumatizado é feito em equipe;
de forma ideal, cada médico é responsável por uma das letras
P Passado médico/prenhez do ABCDE – assim, o atendimento acaba sendo simultâneo, e
Líquidos e alimentos ingeridos recen- não sequencial, como na teoria. Se você estiver em um hospital
L menor e for o único médico do plantão, a sequência ABCDE
temente
deverá sempre ser respeitada – mas, claro, com bom senso!
Ambiente relacionado ao trauma/meca-
A Exemplo: Chegou pela porta da emergência um adulto gri-
nismo de trauma
tando de dor e pedindo socorro, pois cortou a mão com uma
Fonte: Elaborado pelo autor. serra elétrica; o sangue está jorrando no teto, direto da artéria
radial. Fica óbvio que a prioridade, nesse paciente, é comprimir
o ferimento que tem sangramento arterial ativo (até porque
7.2. RADIOGRAFIAS
ele está gritando e, portanto, sua via aérea está pérvia). Se esse
mesmo paciente chegasse desacordado, poderíamos perder
Precisamos solicitar duas radiografias básicas para todo 5 segundos colocando uma compressa sobre o sangramento
paciente vítima de trauma: e pedir para que a enfermeira ou o auxiliar de enfermagem
mantivessem a compressão local, enquanto avaliamos a via
u RX de tórax no leito (anteroposterior – AP); aérea e a ventilação.
u RX de pelve no leito.

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

TRAUMA NA GESTANTE

A gestação é responsável por inúmeras mudanças na A partir da 20ª semana, o útero gravídico é capaz de
fisiologia. Essas alterações podem alterar sinais vitais e comprimir as estruturas retroperitoneais (principalmente
sintomas da paciente vítima de trauma, dificultando ou quando a gestante assume a posição supina), gerando
falseando a avaliação inicial. compressão de aorta e veia cava inferior, que podem
produzir: edema de membros inferiores; diminuição da
O médico emergencista responsável pelo manejo da
pré-carga e do débito cardíaco; e dilatação pielocalicial
gestante traumatizada precisa ter em mente que está
e ureteral, principalmente do lado direito, gerando
a frente de dois pacientes: mãe e feto. Entretanto, o
hidronefrose e hidroureter sem significado patológico.
manejo inicial e as prioridades são os mesmos de uma
paciente não gestante. Com o crescimento uterino, sua parede tende a se tor-
nar mais fina e, consequentemente, mais vulnerável ao
avançar do último trimestre. A placenta é uma estrutura
DICA
O melhor tratamento para o feto está pouco elástica e também pode sofrer dano na ocorrência
na estabilização clínica da mãe! de trauma. Ademais, sua vascularização é maximizada
a fim de produzir uma região de baixa resistência para
transferência de oxigênio e nutrientes ao feto. Assim, no
caso de choque hipovolêmico materno, com o aumento
1. ANATOMIA DA GESTANTE
compensatório da resistência periférica há uma redução
da oxigenação fetal. A partir do sétimo mês, a sínfise
Com o avançar da gestação, o útero cresce e projeta-se púbica e os espaços entre as articulações sacroilíacas
para fora da pelve a partir da 12ª semana. Já na 20ª aumentam, favorecendo subluxações e dificultando a
semana, pode ser palpável ao nível da cicatriz umbilical interpretação de radiografias pélvicas.
e, entre a 34ª e 36ª semanas, alcança a margem costal.
Com isso, ocorre uma leve compressão do diafragma
– elevando-se cerca de 4 cm –, o que produz uma 2. FISIOLOGIA DA GESTANTE
redução no volume residual pulmonar. À medida que
a cabeça do feto posiciona-se na pelve para o parto, a
altura uterina reduz sutilmente. Nesse estágio, fraturas O volume plasmático aumenta constantemente durante a
pélvicas podem causar trauma cranioencefálico fetal. gestação até chegar a um platô na 34ª semana. Com isso,
ocorre o aumento do débito cardíaco de 1 a 1,5 L/minuto
Com o crescimento uterino na linha mediana da cavi-
– destes, 20% são direcionados à placenta. A frequência
dade abdominal, as vísceras que antes ocupavam essa
cardíaca aumenta em 10 a 15 bpm no terceiro trimestre,
região se encontram deslocadas. O intestino delgado
enquanto a pressão arterial cai em 10 a 15 mmHg de dias-
desloca-se cefalicamente para o abdome superior. Por
tólica e 5 a 10 mmHg de sistólica. O aumento no volume de
conta disso, no trauma fechado, as alças costumam
hemácias não é proporcional ao incremento volumétrico,
estar protegidas a despeito da vulnerabilidade uterina,
resultando na redução do hematócrito (anemia fisiológica)
enquanto, no trauma penetrante no abdome superior,
para níveis de 31 a 35%. Por conta da volemia aumentada,
podem sofrer lesões extensas. Uma outra desvantagem
gestantes podem perder até 1,5 L de sangue – suficientes
está na dificuldade em acessar sinais de irritação perito-
para levar ao estresse fetal – antes de apresentarem sinais
neal e ascite nessas pacientes, em virtude da excessiva
e sintomas de hipovolemia.
distensão da parede abdominal. A bexiga habitualmente
se encontra anterior ao útero, logo, também se desloca A despeito da redução no volume residual referida
para a cavidade intra-abdominal, estando mais vulnerá- anteriormente, ocorre um aumento de 40% (200 mL) no
vel ao trauma. Em adição a isso, sua vascularização está volume corrente pulmonar, que gera uma PaCO2 média
aumentada em virtude da gestação, o que aumenta o de 30 mmHg (alcalose) na gestante. A taxa de filtração
risco de sangramentos intensos. glomerular e o fluxo sanguíneo renal costumam estar

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

aumentados e, por consequência, a creatinina sérica e de ativação parcial de tromboplastina encurtados. As


ureia nitrogenada caem. A alcalose respiratória leva a plaquetas também podem estar diminuídas. Por fim, o
um aumento da excreção renal de bicarbonato e, assim, eixo do eletrocardiograma pode estar deslocado em 15
tem-se valores menores de bicarbonato sérico (19-20 graus para a esquerda e apresentar ondas T achatadas ou
mEq/L). A contagem de leucócitos aumenta, não sendo invertidas nas derivações III, aVF e precordiais, sem que
incomum valores de 12 mil ou até 25 mil durante o parto. signifique alteração patológica. Além disso, batimentos
O fibrinogênio e demais fatores de coagulação se ele- ectópicos são mais frequentes durante a gravidez.
vam, produzindo um tempo de protrombina e tempo

Quadro 5. Alterações fisiológicas da gestação e suas consequências


Alterações fisiológicas da gestação Consequências
Cardiovasculares:
u Aumento da volemia; u Anemia fisiológica (hemodiluição: menor hematócrito);
u Elevação da frequência cardíaca (15-20 bpm); u Dificuldade no diagnóstico de choque hipovolêmico;
u Redução da pressão arterial (2º semestre); u Redução do retorno venoso em decúbito dorsal (↓
u Redução da resistência vascular periférica; pré-carga).
u Aumento do volume uterino e da compressão da cava.
Pulmonares:
u Alcalose respiratória;
u Elevação da cúpula diafragmática (4 cm);
u Menor tolerância a tempo de apneia/hipoxemia.
u Redução da capacidade residual funcional.
Renais:
u Hemodiluição (redução de creatinina e do ácido úrico
u Aumento da TFG;
plasmático).
u Aumento do volume plasmático.
De coagulação:
u Aumento dos fatores de coagulação (I, VII, X e XII);
u Risco de tromboembolismo aumentado
u Aumento do fibrinogênio;
u Aumento do fator de Von Willebrand.
Gastrointestinais:
u Aumento da gastrina; u Maior risco de broncoaspiração (aumento da secre-
u Redução da atividade do esfíncter esofagiano; ção gástrica).
u Redução da motilidade gastrointestinal.
Fonte: Elaborado pelo autor.

3. CONDUTA para a esquerda enquanto a paciente não estiver sobre


a prancha.

A regra do ABCDE continua exatamente a mesma na


gestante! DICA
Gestantes no 2º e 3º trimestres devem
Existe uma única peculiaridade que precisa ser lembrada! ser posicionadas em decúbito lateral esquerdo
Gestantes no 2º e 3º trimestres são suscetíveis, quando a fim de descomprimir a cava.
na posição supina, a uma profunda hipotensão, devido
à compressão aorto-cava provocada pelo útero. Por esse
motivo, precisamos posicionar a paciente imobilizada
sobre prancha longa inclinada para a esquerda, ou alter-
nativamente o útero pode ser deslocado manualmente

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

TRAUMA PEDIÁTRICO

O trauma continua sendo a causa mais comum de morte Figura 6. Note que o grande occipício faz uma flexão
e de incapacitação na infância. passiva da cabeça e bloqueia a via aérea (a). Quando
colocamos um coxim abaixo de todo o torso da criança,
Na infância, a mortalidade por trauma é maior do que a permitimos o alinhamento e sua abertura (b).
mortalidade por todas as demais causas juntas. A ana-
tomia, a fisiologia e os mecanismos de trauma causam
padrões de lesões diferentes daqueles causados nos
adultos.
As principais causas de trauma na criança são:
u Acidente automobilístico;
u Afogamento;
u Incêndio;
u Homicídio/Maus-tratos;
u Queda: crianças pequenas (< de 2 meses) caem do
colo de pessoas. Já crianças acima dessa idade ten-
dem a cair de móveis.

A prioridade de atendimento continua sendo a mesma


aplicada ao adulto: sequência ABCDE, sem exceções.
Vamos lá.

1. A – VIA AÉREA Fonte: Harless et al5.

As alterações anatômicas são muito importantes nesse 1.1. GUEDEL (CÂNULA OROFARÍNGEA)
momento: a língua da criança é maior, assim como suas
tonsilas. Sua mandíbula é menor e a via aérea é mais Questão para a prova prática: a introdução da cânula
curta e mais estreita (forma de funil). Fica fácil visualizar de Guedel na criança deve ser cautelosa, e com sua
que sua via aérea tende a ser mais difícil, certo? concavidade voltada para baixo (para a língua), pois a
ponta da cânula pode lesar o palato (o palato duro da
O grande occipício leva à flexão passiva da coluna
criança ainda é mole!).
cervical e, consequentemente, ao fechamento da via
aérea. Para evitar esse cenário, devemos colocar um
coxim abaixo de todo o torso da criança, preservando o 1.2. INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL (IOT)
alinhamento neutro da coluna cervical. Quanto menor
a criança, maior a desproporção entre o tamanho do O risco de intubação seletiva em crianças é maior, pois
crânio e a face, e maior o risco de obstrução da via aérea. sua traqueia é mais curta! Além disso, a obstrução do
tubo traqueal também é mais comum, visto que ele
tem um calibre menor.

37
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

A manutenção da via aérea e da ventilação é primordial


FLASHCARD
na criança, pois a hipóxia é a principal causa de parada
Quais são as indicações de IOT em crianças?
cardíaca evitável.
Parada cardiocirculatória; falha de manutenção de via aé-
rea pérvia com outros métodos; choque hemorrágico, com Além disso, a criança apresenta algumas alterações
necessidade de intervenção cirúrgica; coma; TCE grave.
anatômicas importantes. A parede torácica da criança
é mais mole: os ossos, por ainda não serem comple-
1.3. VIA AÉREA CIRÚRGICA tamente calcificados, são mais flexíveis, e fraturas são
mais raras. Isso tem dois impactos clínicos importantes:
A cricotireoidostomia cirúrgica é contraindicada em u Fraturas de costelas indicam força significativa.
lactentes e crianças (< 12 anos), visto que a cartilagem u Crianças podem apresentar contusões pulmonares
cricoide é o principal pilar da laringe nessa idade. Em graves, mesmo na ausência de fratura de costelas.
tais casos, devemos realizar cricotireoidostomia por
punção, ou traqueostomia.
Essa é uma das poucas indicações de traqueostomia 3. C – CIRCULAÇÃO
no trauma.
Cuidado! Crianças demoram para apresentar taquicardia
e hipotensão (são sinais tardios de choque hipovolêmico).
2. B – VENTILAÇÃO Elas conseguem aguentar, sem grandes repercussões,
sangramentos e insultos graves, por apresentarem uma
resposta compensatória vigorosa. Isso pode ser perigoso,
FLASHCARD porque elas não “avisam” ao médico que vão piorar:
Quando é contraindicada a cricotireoidostomia cirúr- a piora é abrupta. Veja na Tabela 1 os valores normais
gica em crianças? dos sinais vitais, pois eles diferem bastante dos adultos.
Em lactentes e crianças (< 12 anos), visto que a cartilagem
cricoide é o principal pilar da laringe nessa idade.

Tabela 1. Sinais vitais normais de acordo com a idade.

Faixa Etária
Sinal
0 – 12 meses 1 – 2 anos 3 – 5 anos 6 – 12 anos ≥ 13 anos

Frequência
< 160 < 150 < 140 < 120 < 100
Cardíaca (bpm)

Pressão Arterial
> 60 > 70 > 75 > 80 > 90
(mmHg)

Frequência
> 60 < 40 < 35 < 30 < 30
Respiratória (ipm)

Débito Urinário 2 mL/kg 1,5 mL/kg 1 mL/kg 1 mL/kg 0,5 mL/Kg


Fonte: Elaborada pelo autor.

A reposição volêmica por acesso periférico continua após dois bolus de cristaloide, a transfusão sanguínea
sendo a primeira opção, com solução isotônica (soro está indicada.
fisiológico ou ringer lactato aquecido): 20 mL/kg em
bolus. Se ainda for necessária a reposição volêmica

38
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

O acesso intraósseo (em fêmur distal ou tíbia proximal) A criança tem maior superfície corpórea em relação ao
é uma alternativa a pacientes com impossibilidade de peso, e tem a cabeça maior (proporcionalmente) ao
acesso periférico (após duas tentativas). resto do corpo. Portanto, ela perde mais calor. Além
disso, tem a pele mais fina e menor isolamento pelo
3.1. TRAUMA ABDOMINAL tecido subcutâneo.

Na infância, ferimentos contusos são mais comuns


do que lesões penetrantes. A parede muscular é mais
mole e mais fina; o fígado e o baço são mais baixos e
não tão protegidos pelo arcabouço costal. Portanto,
não espere fratura de costelas baixas para suspeitar de
lesões desses órgãos.

FLASHCARD

Os ferimentos contusos são mais comuns do que le-


sões penetrantes na infância?
Correto.

4. D – NEUROLÓGICO

A Escala de Coma de Glasgow também pode ser utili-


zada para crianças. Entretanto, para menores de 4 anos,
precisamos modificar os critérios da resposta verbal.

Quadro 6. Escala Verbal Pediátrica (V-Score).

Escala verbal pediátrica (V-Score)

Palavras apropriadas ou riso social. Fixa o


5
olhar e segue com os olhos

4 Choro consolável

3 Irritação, choro persistente e gemente

2 Inquieto e agitado

1 Não responde
Fonte: Elaborado pelo autor.

5. E – EXPOSIÇÃO

Assim como no adulto, a hipotermia é preocupante na


infância, pois afeta a atividade cardíaca e a coagulação.

39
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

Mapa mental. ATLS – atendimento inicial ao politraumatizado.

ATLS

Atendimento inicial ao
paciente vítima de trauma

Proteção da
A – Via aérea
coluna cervical

B – Respiração

C – Circulação

D - Neurológico

E – Exposição e
controle da hipotermia

40
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

REFERÊNCIAS

1. Imagem utilizada sob licença da Wikimedia Commons, dispo-


nível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Sty-
ner_Plane_after_the_crash.jpg. Acesso em: 31 maio 2022.
2. Imagem utilizada sob licença da Wikipedia, disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/James_K._Styner#/media/
File:James_K_Styner.jpg. Acesso em: 31 maio 2022.
3. Gunst M, Ghaemmaghami V, Gruszecki A, Urban J, Frankel
H, Shafi S. Changing epidemiology of trauma deaths leads
to a bimodal distribution. Proc (Baylor Univ Med Cent).
2010; 23(4): p. 349-354.
4. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, dis-
ponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-
-photo/surgeon-hands-bloodstained-gloves-presses-s-
tump-658908205. Acesso em: 31 maio 2022.
5. Harless J, Ramaiah R, Bhananker SM. Pediatric airway
management. Int J Crit Ill Inj Sci. 2014; 4(Issue 1): p. 65-70.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support – ATLS.


10. ed. Chicago: American College of Surgeons; 2018.

41
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1 e expansibilidade pulmonar preservadas, tinha uma fre-


quência cardíaca de 72 bpm e pulso radial amplo e cheio,
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE RIBEIRÃO PRETO - 2022) estava corado e com perfusão periférica normal. Como
Mulher de 29 anos, gestante de 37 semanas, vítima de havia um ferimento cortocontuso no couro cabeludo,
agressão do companheiro, dá entrada na admissão do foi feito um curativo compressivo e solicitado o mate-
Pronto-Socorro apresentando sangramento vaginal e rial para sutura. Enquanto era aguardado o material, a
os seguintes sinais vitais: FC = 122 bpm; PA = 90 x 60 enfermagem acionou a equipe médica para reavaliar o
mmHg, Sat. O2: 92% em ar ambiente. Demais sistemas paciente, pois ele estava arresponsivo. Com base nesse
sem lesões. Abdome com hematomas em flanco e hi- caso hipotético, assinale a alternativa que apresenta a
pocôndrio esquerdos. A conduta a ser adotada, nesse melhor conduta nesse momento.
caso, em relação ao aspecto hemodinâmico, deverá ser:
⮦ intubação orotraqueal e tomografia computadori-
⮦ Dois acessos intraósseos, tomografia helicoidal mul- zada de crânio.
tislice de corpo inteiro, expansão volêmica com
⮧ máscara de oxigênio, cânula orofaríngea e tomo-
hemoderivados e soluções cristaloides aquecidas
grafia computadorizada de crânio.
a 39ºC.
⮨ máscara de oxigênio, anteriorização da mandíbula
⮧ indicar o lavado peritoneal diagnóstico para confir-
e tomografia computadorizada de crânio.
mação de hemorragia intrabdominal, solicitar tipa-
gem sanguínea e um acesso venoso central para ⮩ cateter de oxigênio, cânula orofaríngea e tomografia
reposição volêmica. computadorizada de crânio.
⮪ cateter de oxigênio, anteriorização da mandíbula e
⮨ acesso venoso central guiado por US POCUS para
tomografia computadorizada de crânio.
reposição volêmica, solicitar tipagem sanguínea e
hemograma, rX de tórax e bacia, na sala do trauma,
e indicar laparotomia imediata. Questão 3
⮩ deslocar útero para a esquerda, dois acessos veno-
(HOSPITAL SÃO JOSÉ DO AVAÍ – 2017) De acordo com a dis-
sos periféricos, expansão volêmica, rX da pelve, na
tribuição trimodal das mortes por trauma, é CORRETO
sala do trauma, e E-FAST + US obstétrico.
afirmar que:
⮪ indicar protocolo de transfusão maciça imediata e
administrar imunoglobulina para aloimunização RH. ⮦ Só a prevenção é capaz de reduzir significativamente
a mortalidade no primeiro pico, já que poucas vítimas
podem ser salvas, devido à gravidade das lesões.
Questão 2
⮧ Dentre as causas de morte no segundo pico, en-
(SUS - SP - 2022) Um homem de trinta anos de idade foi contra-se a apneia por traumas cranianos ou raqui-
levado ao pronto-socorro após ser agredido, com uma medulares.
paulada na cabeça. Ele falava e respirava sem ruído. Foi ⮨ O primeiro pico é chamado de “hora de ouro” do
colocado o colar cervical, estava eupneico, com ausculta atendimento pós-trauma.

42
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

⮩ Mortes por traumas hepáticos e esplênicos ocorrem A mortalidade no trauma está diretamente relacionada
no terceiro pico. ao tempo e à gravidade da lesão, podendo ser caracte-
⮪ Morte por lesões viscerais associadas a perdas san- rizada por um fenômeno tipicamente trimodal. A esse
guíneas significativas ocorrem principalmente no respeito, indique a alternativa INCORRETA:
primeiro pico.
⮦ O primeiro pico de morte abrange os óbitos pratica-
mente irreversíveis, ocorrendo segundos ou minu-
Questão 4 tos depois do trauma, como em TCE grave, trauma
raquimedular alto, afundamento maciço de tórax e
(UDI HOSPITAL – MA – 2020) A avaliação primária do pa- trauma de grandes vasos.
ciente politraumatizado deve ser realizada com base
⮧ O segundo pico de morte acontece entre minutos a
no ABCDE do Trauma. Sobre a avaliação primária,
horas após o trauma, sendo as causas mais comuns a
é correto afirmar:
insuficiência respiratória aguda por obstrução de via
⮦ O “D” é a etapa que abrange a avaliação neuroló- aérea, hemo ou pneumotórax, TRM com instabilidade
gica, sendo realizada com base na Escala de Coma cervical e choque hipovolêmico.
de Glasgow, por meio da qual é possível excluir a ⮨ O terceiro pico de morte ocorre dias até meses após
hipoglicemia e a intoxicação como causas de rebai- o trauma, resultante de complicações e intercorrên-
xamento do nível de consciência. cias, como broncopneumonias, síndrome da resposta
⮧ O “A” refere-se unicamente à avaliação e ao esta- inflamatória sistêmica, doenças preexistentes agra-
belecimento da patência das vias aéreas, de forma vadas pelo trauma e infecções.
que, quando o paciente consegue comunicar-se ⮩ O objetivo do ATLS (Advanced Trauma Life Suport)
verbalmente sem dificuldades com o examinador, é centrado em prevenir óbito no segundo pico das
pode prontamente passar para o “B”. mortes por trauma; no primeiro pico, consideran-
⮨ O “B” refere-se à respiração e à ventilação, de forma do-se o grau de dificuldade de manter vivo um pa-
que a presença de corpo estranho e de secreções ciente grande traumatizado, pouco pode ser feito.
na cavidade oral deve ser corrigida nessa etapa da ⮪ No método ATLS, pode-se tratar os traumatizados
avaliação primária. por padronização do atendimento, com avaliação
⮩ No “C”, etapa referente à Circulação com Controle de inicial paralela e simultânea aos procedimentos de
Hemorragias, os fluídos devem ser administrados cri- reanimação, porém, o diagnóstico definitivo deve
teriosamente, já que a ressuscitação agressiva antes ser estabelecido logo no primeiro momento.
do controle do sangramento demonstrou aumentar
a mortalidade e a morbidade.
Questão 6
⮪ No “E”, pode-se lançar mão de aquecimento de flui-
dos e de hemocomponentes em aparelhos de mi- (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP – 2017)
cro-ondas até a temperatura de 39°C, com o intuito Homem de 22 anos perde o controle da motoci-
de evitar hipotermia. cleta e colide contra um muro. É levado ao pron-
to atendimento por transeuntes. Ao exame físico,
apresenta: vias aéreas com estridor respiratório,
Questão 5
sangue em cavidade oral e fratura de mandíbula;
(FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – 2017) O frequência respiratória (FR) de 32 irpm; oximetria
trauma é, atualmente, a principal causa de morte entre de pulso (ar ambiente) de 96%; tórax com murmú-
1-44 anos, desde o início da década de 1980. As con- rio vesicular (MV) diminuído à esquerda, enfisema
sequências epidemiológicas variam desde óbito até o subcutâneo e crepitação no nível do quarto, quinto
tratamento médico e hospitalar, com pacientes evoluin- e sexto arcos costais; pressão arterial (PA) de 130
do com incapacidades temporárias ou permanentes. A × 80 mmHg; frequência cardíaca (FC) de 120 bpm;
melhor maneira de evitar essa morbimortalidade e o abdome e pelve sem alterações; Focused Asses-
gasto relacionado a ela está na prevenção do trauma. ment With Sonography For Trauma (FAST) negativo;

43
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

neurológico – Escala de Coma de Glasgow (ECG) 7 e pulso (ar ambiente) = 91%, rebaixamento do nível de
pupilas isofotorreagentes. A sequência adequada das consciência, petéquias nas axilas. Tomografia de crânio:
condutas é: sem alterações. Angiotomografia de tórax: infiltrado
intersticial bilateral. AS CONDUTAS SÃO:
⮦ Cânula de Guedel, colar cervical, toracocentese de
alívio, via aérea definitiva. ⮦ Heparinização plena; antibioticoterapia de largo
⮧ Colar cervical, suplemento de oxigênio, via aérea espectro.
definitiva, drenagem torácica. ⮧ Antibioticoterapia de largo espectro; fixação das
fraturas.
⮨ Colar cervical, aspiração da cavidade oral, máscara
laríngea, acesso venoso central. ⮨ Heparinização plena; suporte ventilatório.
⮩ Aspiração da cavidade oral, acesso venoso, colar ⮩ Suporte ventilatório; fixação das fraturas.
cervical, máscara de Venturi.
Questão 9
Questão 7
(GRUPO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA – MG – 2020) Tendo
(SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SP – 2020) Um jovem de 18 em vista os princípios da padronização do atendimento
anos foi vítima de facada no epigástrio. Deu entrada inicial ao politraumatizado preconizados pelo Suporte
no centro de trauma hipotenso e com veias distendidas Avançado de Vida no Trauma (ATLS), assinale a alterna-
no pescoço. A ausculta pulmonar mostrou murmúrio tiva INCORRETA.
vesicular presente bilateralmente, ainda que a venti- ⮦ Uma história inicial e detalhada não é essencial para
lação fosse superficial. Sequência mais apropriada de iniciar a avaliação do paciente com lesões agudas.
atendimento e tratamento:
⮧ A avaliação primária não deve ser repetida e deve
⮦ Acesso venoso central – radiografia de tórax – FAST ser seguida até o final, passando, a seguir, à avalia-
(Focused Assessment With Sonography For Trauma) – ção secundária.
tipagem e prova cruzada para transfusão sanguínea. ⮨ O paciente com maior ameaça à vida deve ser aten-
⮧ Intubação traqueal – acesso venoso – FAST (Focu- dido primeiro.
sed Assessment With Sonography For Trauma) – ⮩ A falta de um diagnóstico definitivo não deve atrasar
toracotomia. a aplicação do tratamento urgente indicado.
⮨ Intubação traqueal – FAST (Focused Assessment
With Sonography For Trauma) – janela pericárdica.
Questão 10
⮩ Acesso venoso – transfusão sanguínea – pericar-
diocentese. (HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – DF – 2020) Um pacien-
te de 27 anos foi vítima de ferimento por arma branca
⮪ Intubação traqueal – radiografia de tórax – FAST
no sexto espaço intercostal, na altura da linha axilar
(Focused Assessment With Sonography For Trauma)
anterior esquerda. Chegou ao pronto-socorro dispnei-
– esternotomia mediana.
co, sudoreico, com Glasgow de 14, pulso de 130 bpm,
pressão arterial de 80/60 mmHg, frequência respirató-
Questão 8 ria de 35 ipm e murmúrio vesicular diminuído no he-
mitórax esquerdo. Com base nesse caso hipotético e
(UNICAMP – SP – 2018) Homem, 26a, atropelado por um nos conceitos médicos a ele associados, julgue o item
ônibus. Foi levado ao hospital, onde foram constatadas a seguir. A aplicação de uma máscara de oxigênio está
fraturas fechadas, de fêmur direito e pelve. Submetido à indicada no momento da chegada do paciente na sala
tração do membro, deixado em repouso e aguardando de emergência.
procedimento cirúrgico das fraturas. No segundo dia de
internação apresentou desconforto respiratório. Exame ⮦ CERTO
físico: regular estado geral, FR= 28 irpm; oximetria de ⮧ ERRADO

44
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

Questão 11 Questão 12

(HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP – 2018) Paciente, (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP – 2018) Homem,
10 anos, vítima de atropelamento em via expressa, sem 70 anos, vítima de atropelamento por moto em via de
perda de consciência no local, referindo à equipe do res- média velocidade, há 30 min. A: via aérea pérvia, em
gate muita dor abdominal. Encaminhado ao serviço de uso de prancha rígida e colar cervical. B: murmúrio ve-
referência de trauma. Na entrada na sala de emergên- sicular presente bilateral, SpO² 88%, FR 22 ir/min, forte
cia, evoluiu com rebaixamento de nível de consciência dor e escoriações em gradil costal à esquerda. C: sem
e pressão arterial inaudível, abdome tenso e equimose sangramento externo ativo, PA 160 X 90 mmHg, FC 95
periumbilical. A sequência das medidas recomendadas é: bc/min, TEC 2s, abdome doloroso em flanco esquerdo,
pelve estável. D: Glasgow 12, pupilas sem alterações,
sem déficit neurológico focal. E: dorso e extremida-
⮦ Abertura de vias aéreas, colocação de colar cervical,
des com pequenas escoriações. Colocada máscara de
entubação orotraqueal, aquisição de 2 acessos veno-
oxigênio, com melhora da saturação para SpO² 90%.
sos periféricos, administração de coloide seguida de
Realizada ultrassonografia à beira do leito (eFAST), que
hemoderivados, encaminhamento para tomografia evidenciou: 1 cm de líquido livre em espaço hepator-
de corpo inteiro para programação de possível in- renal; “sinal da praia” presente e linhas B ausentes em
tervenção cirúrgica. hemitoráx esquerdo. Antecedentes pessoais: fibrilação
atrial em uso de varfarina. Qual a conduta mais adequa-
⮧ Aquisição de 2 acessos periféricos, administração
da para esse paciente?
de 20 mL/kg de cristaloide, podendo ser repetido
até 3 vezes; ponderar hemoderivados. Proceder, em
⮦ Drenagem de tórax e laparotomia exploradora.
seguida, cuidados com a via aérea (abertura seguida
de entubação orotraqueal). Encaminhar para centro ⮧ Drenagem de tórax, radiografia de tórax e tomogra-
operatório para laparotomia exploradora. fia de crânio e abdome.

⮨ Abertura de vias aéreas, colocação de colar cervi- ⮨ Lavado peritoneal diagnóstico e tomografia de crâ-
cal, entubação orotraqueal, aquisição de 2 acessos nio e tórax.
venosos periféricos, administração de cristaloide,
⮩ Radiografia cervical, tórax e pelve e tomografia de
ponderar hemoderivados, caso persista hipotenso,
crânio.
bem como infusão de drogas vasoativas. Encaminhar
para tomografia de corpo inteiro para programação ⮪ Tomografia de corpo inteiro.
de possível intervenção cirúrgica.

⮩ Abertura de vias aéreas, colocação de colar cervi-


Questão 13
cal, entubação orotraqueal, aquisição de 2 acessos
venosos periféricos, administração de cristaloide, (HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS – SP – 2021) Um paciente de 40
ponderar hemoderivados, caso persista hipotenso, anos, vítima de queda de paraquedas, é transferido
bem como infusão de drogas vasoativas. Encaminhar para o centro de trauma, devido a trauma raquimedular.
para centro operatório para laparotomia exploradora. Estável, tem nível sensitivo em T10. O esfíncter anal é
hipotônico. Na palpação da coluna vertebral tem muita
⮪ Aquisição de 2 acessos periféricos, administração
dor e um hematoma no nível torácico baixo. A prancha
de 20 mL/kg de cristaloide, podendo ser repetido
rígida usada para o transporte deve ser:
até 3 vezes, ponderar hemoderivados. Proceder,
em seguida, cuidados com a via aérea (abertura se-
⮦ Retirada apenas após resultado da tomografia.
guida de entubação orotraqueal). Encaminhar para
tomografia de corpo inteiro para programação de ⮧ Retirada apenas após a volta do reflexo bulbo-ca-
possível intervenção cirúrgica. vernoso

45
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

⮨ Prontamente retirada, mantendo-se o paciente imo-


bilizado e movimentando-se o mínimo possível,
sempre em monobloco.
⮩ Mantida até esclarecimento do diagnóstico por res-
sonância nuclear magnética.
⮪ Mantida até a avaliação e liberação pela neuroci-
rurgia.

46
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

GABARITO E COMENTÁRIOS

Questão 1 dificuldade:   abaixo das pregas vocais com cuff insuflado, fixado no
paciente e conectado a uma fonte externa de oxigênio.
Dica do autor: A ATLS continua sendo o mesmo na
Alternativa A: CORRETA. A IOT é a primeira opção de
gestação! Continuamos sempre respeitando o ABCDE.
via aérea nesses casos.
Alternativa A: INCORRETA. Os conceitos do ATLS não Alternativas B, C, D e E: INCORRETAS. Máscara de oxi-
mudam na gestante! Não devemos realizar TC em pa- gênio ou cateter de oxigênio não protegem a via aérea
cientes instáveis e o acesso venoso periférico calibroso de forma adequada.
continua sendo a primeira opção de acesso.
✔ resposta: ⮦
Alternativa B: INCORRETA. O LDP é uma opção para
avaliar se há sangramento intra-abdominal. Entretan-
to, equimose em flanco sugere sangramento retrope- Questão 3 dificuldade: 
ritoneal, e não intra-abdominal. Além disso, o acesso
Resolução: a mortalidade trimodal do trauma refere-se
venoso periférico calibroso continua sendo a primeira
ao conceito de que existem três picos de incidência de
opção de acesso.
mortalidade decorrentes do trauma. O primeiro, que
Alternativa C: INCORRETA. O acesso venoso periférico ocorre imediatamente após o trauma, deve-se a lesões
calibroso continua sendo a primeira opção de acesso graves, como ruptura completa da aorta e lacerações
e ainda não há indicação de laparotomia nesse caso. do SNC. O atendimento médico, mesmo que imedia-
Alternativa D: CORRETA. Gestantes no 2º e 3º trimes- to, não consegue salvar essas vítimas, sendo indicadas,
tres são suscetíveis, quando na posição supina, a uma então, medidas de prevenção, com o objetivo de evitar
profunda hipotensão devido à compressão aorto-cava que os acidentes aconteçam. Exemplo: lei seca, fiscali-
provocada pelo útero (principalmente quando o dorso zação de rodovias, medidas para educação no trânsito.
fetal se situa à direita): síndrome da hipotensão supina. Os outros dois picos de incidência são: minutos a horas
após o evento (hemorragias, pneumotoráx, “hora de
Alternativa E: INCORRETA. Antes de iniciar o protocolo ouro” no atendimento); dias a semanas, geralmente
de transfusão maciça, precisamos deslocar o útero e após complicações intra-hospitalares (sepse, disfunção
avaliar a resposta da paciente. multiorgânica).
✔ resposta: ⮩ ✔ resposta: ⮦

Questão 2 dificuldade:  Questão 4 dificuldade: 

Dica do autor: Paciente com TCE que evoluiu com re- Dica do professor: a questão exige o conhecimento das
baixamento do nível de consciência após a avaliação etapas da avaliação primária “ABCDE” do ATLS (o que
intestina! Em pacientes arresponsivos (glasgow < 9), representa cada letra e o que é feito em cada etapa).
uma via aérea definitiva é mandatória para evitar a Alternativa A: INCORRETA. O “D” é a etapa que abrange
broncoaspiração. Vocês lembram a definição de via a avaliação neurológica (nível de consciência; tamanho
aérea definitiva? Presença de um tubo na via aérea, e reação pupilar). A Escala de Coma de Glasgow permite

47
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

avaliar, de forma breve, o nível de consciência, tornando Alternativa B: CORRETA. A alternativa é autoexplicati-
possível suspeitar de hipoglicemia e intoxicação como va! O segundo pico de morte acontece entre minutos
causas de rebaixamento do nível de consciência. Fun- e horas após o trauma, sendo as causas mais comuns
ciona como uma escala de “triagem”, e não diagnóstica. a insuficiência respiratória aguda por obstrução de via
Alternativa B: INCORRETA. O “A” não se refere apenas aérea, hemo ou pneumotórax, TRM com instabilidade
à patência das vias aéreas. Enquanto as medidas cervical e choque hipovolêmico.
para estabelecer uma via aérea patente são toma- Alternativa C: CORRETA. Alternativa também autoex-
das, deve-se garantir a restrição do movimento da plicativa. Não vamos fazer Ctrl+C e Ctrl+V de novo!
coluna. Além disso, se o paciente for capaz de se
Alternativa C: CORRETA (?). Interrogamos essa alter-
comunicar verbalmente, presume-se que as vias
nativa porque ela está parcialmente correta. Real-
aéreas não estejam em risco imediato, mas é reco-
mente o ATLS é voltando a evitar o óbito no 2º pico.
mendada a avaliação repetida da permeabilidade
Mas discordamos de que pouco pode ser feito no
das vias aéreas.
1º pico: as medidas de prevenção e saúde pública,
Alternativa C: INCORRETA. O “B” refere-se à respiração como educação no trânsito e consciência, conse-
e à ventilação, quando são identificadas/tratadas guem mudar esses números.
lesões, como pneumotórax hipertensivo, hemotó- Alternativa E: INCORRETA. O diagnóstico definitivo
rax maciço, pneumotórax aberto e lesões traqueais não é estabelecido no primeiro momento. Pense
ou brônquicas. A presença de corpo estranho e de comigo: Como você vai identificar uma laceração
secreções na cavidade oral relaciona-se com a pa- hepática no pré-hospitalar? Pode-se até suspeitar,
tência de vias aéreas, portanto deve ser corrigida mas o diagnóstico definitivo só vai se realizado em
na 1ª etapa da avaliação primária, o “A”. um segundo momento. Não adianta brigar com a
Alternativa D: CORRETA. A hemorragia é uma causa banca e pedir anulação da questão por causa da
importante de morte no contexto do trauma. Por letra D. A alternativa E realmente está “mais” errada.
isso, na etapa “C” são avaliados pressão arterial, ✔ resposta: ⮪
perfusão, aspecto da pele e do pulso. A 10ª edição
do ATLS traz que “Os fluidos são administrados cri-
teriosamente, pois a ressuscitação agressiva antes Questão 6 dificuldade:  
do controle do sangramento demonstrou aumentar
a mortalidade e a morbidade”. Resolução: paciente vítima de trauma com moto, apre-
senta-se com estridor respiratório, sangue em cavidade
Alternativa E: INCORRETA. No “E”, deve-se expor o pa-
oral e fratura de mandíbula. Além disso, está dispneico,
ciente e prevenir a hipotermia. Para isso, pode-se
embora não esteja hipoxêmico. À ausculta pulmonar, MV
usar um micro-ondas para aquecer fluidos crista-
diminuído à esquerda e enfisema subcutâneo, sugerin-
loides, mas ele nunca deve ser usado para aquecer
do pneumotórax. Apresenta-se hemodinamicamente
hemocomponentes.
estável, sem alterações no FAST de abdome e pelve.
✔ resposta: ⮩ Entretanto, o ECG 7 (< ou = 8) sinaliza a necessidade de
uma via aérea definitiva. Para resolver a questão, deve-
-se lembrar do protocolo ABCDE do Advanced Trauma
Questão 5 dificuldade:  Life Support (ATLS). De imediato, as alternativas A e D
seriam eliminadas, pois a primeira conduta é inserir o
Alternativa A: CORRETA. O 1º pico decorre logo no mo- COLAR CERVICAL para a estabilização da coluna, além
mento do trauma e é secundário a lesões incompatíveis da suplementação de oxigênio (“A”, de airway). Esse
com a vida. O atendimento médico, mesmo que imedia- paciente certamente precisará de uma VIA AÉREA DE-
to, não consegue salvar essas vítimas, sendo indicadas, FINITIVA, que, nesse caso, deve ser cirúrgica. Por fim, o
então, medidas de prevenção, com o objetivo de evitar seu possível pneumotórax precisará ser drenado, em
que os acidentes aconteçam. Exemplo: lei seca, fiscali- selo d’água. A máscara laríngea é um excelente dispo-
zação de rodovias, medidas para educação no trânsito. sitivo de via aérea avançada, mas não é uma via aérea

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

definitiva! É um bom instrumento de resgate quando Questão 8 dificuldade:  


a intubação não é possível ou quando a ventilação sob
máscara for insatisfatória (alternativa C incorreta). Tema que vem caindo cada vez mais nas provas. Cabe
ao aluno detectar um quadro que faz diagnóstico dife-
✔ resposta: ⮧
rencial com TEP, diante de uma fratura de osso longo.
Paciente com CONFUSÃO MENTAL + HIPOXEMIA + RASH
Questão 7 dificuldade:  PETEQUIAL constitui a tríade da EMBOLIA GORDURO-
SA. TEP geralmente ocorre APÓS O TERCEIRO DIA DE
Dica do professor: questão fácil cobrando a abordagem INTERNAÇÃO, enquanto a embolia gordurosa aparece
inicial do paciente politraumatizado. Lembre-se: a avalia- nas PRIMEIRAS 12-72h, por obstrução da microvascu-
ção e manejo sempre devem seguir a ordem do ABCDE. latura por micropartículas de gordura, e consequente
vasculite inflamatória. Qual a conduta diante da embolia
Alternativa A: INCORRETA. O acesso venoso é um pro-
gordurosa? SUPORTE (oxigênio + expansão volêmica),
cedimento para controle hemodinâmico/cardiovascu-
já que anticoagulação e trombolíticos não exercem
lar (C), e não é o primeiro passo. Não é preconizada a
qualquer efeito benéfico. Como preveni-la? Tratamento
obtenção de acesso venoso central de rotina nos pa-
ortopédico precoce!
cientes politraumatizados, sendo a reposição volêmica
feita por acesso venoso periférico calibroso. ✔ resposta: ⮩
Alternativa B: CORRETA. A – Vias aéreas: paciente ins-
tável, apesar de descrição pobre da avaliação de vias
Questão 9 dificuldade: 
aéreas, é candidato à IOT. B – Respiração: sem alterações
específicas. C – Cardiovascular: paciente hipotenso, pre-
Dica do professor: segundo o ATLS, o tratamento de um
cisa de reposição volêmica (acesso venoso) e busca de
paciente vítima de trauma requer avaliação rápida das
foco de sangramento, sendo o FAST um ótimo exame
lesões e instituição de medidas terapêuticas de supor-
diagnóstico.
te de vida. Para otimizar esse tempo, é desejável uma
Alternativa C: INCORRETA. A realização de janela peri- abordagem sistematizada, que possa ser facilmente
cárdica após um FAST é redundante, visto que o FAST revista e aplicada. Ela inclui: preparação, triagem, ava-
já permite visualização do saco pericárdico em busca liação primária (ABCDE), reanimação, necessidade de
de tamponamento cardíaco. Lembre-se: a janela é um transferência do doente, avaliação secundária, reava-
procedimento diagnóstico, não terapêutico. liação e monitorização contínuas, além de tratamento
Alternativa D: INCORRETA. A transfusão sanguínea é definitivo. Essa avaliação primária deve ser repetida
recomendada precocemente, mas, em geral, a repo- com frequência para identificar qualquer alteração do
sição volêmica sempre é iniciada com cristaloides. O estado clínico do doente que indique necessidade de
último ATLS coloca a pericardiocentese em segundo intervenção adicional.
plano, reservando-a como procedimento temporário a Alternativa A: CORRETA. A história detalhada ou a avalia-
pacientes com suspeita de tamponamento cardíaco e ção secundária só devem ser iniciadas após a avaliação
iminência de PCR, até a possibilidade de toracocentese. primária e quando todas as medidas de estabilização
Alternativa E: INCORRETA. O diagnóstico de tampona- tiverem sido tomadas.
mento cardíaco, nossa principal suspeita, é feito pela Alternativa B: INCORRETA. Como citado anteriormen-
clínica associada ao FAST ou à janela pericárdica, com te, a avaliação primária e a sua repetição frequente
pouco papel da radiografia de tórax. Apesar de a es- são fundamentais para o melhor manejo do paciente
ternotomia mediana ser trazida pelo ATLS como uma vítima de trauma.
opção terapêutica, sabemos que é um procedimento
Alternativa C: CORRETA. Em acidentes com múltiplas
mais demorado e de difícil execução quando compara-
vítimas (porém, não em casos nos quais há vítimas em
do à toracotomia, sendo pouco utilizado em pacientes
massa, excedendo a capacidade hospitalar e da equipe),
politraumatizados instáveis.
aqueles com risco de vida iminente e os doentes com
✔ resposta: ⮧ traumas multissistêmicos devem ser atendidos primeiro.

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma

Alternativa D: CORRETA. A busca pelo diagnóstico não Questão 12 dificuldade:  


deve retardar os cuidados iniciais, a fim de estabilizar
Resolução: A questão nos traz um paciente vítima de
o quadro.
politrauma com lesões em todo o corpo. Vamos avaliar
✔ resposta: ⮧ o quadro clínico e estabelecer as condutas:
1) TCE moderado (Glasgow = 12). Conduta: TC de
crânio.
Questão 10 dificuldade: 
2) Trauma torácico com fratura de costelas e contu-
são pulmonar (dor em gradil costal e SpO2 = 88%).
Dica do professor: conforme o ATLS, uma rápida avalia- Conduta: TC de tórax.
ção do ABCDE no doente traumatizado deverá ser rea-
3) Trauma de abdome contuso (FAST com líquido
lizada. A – Via aérea com proteção da coluna cervical;
livre no espaço hepatorrenal). Conduta: TC de ab-
B – Ventilação e respiração; C – Circulação com controle
dome e pelve.
da hemorragia; D Disfunção, estado neurológico; E – Ex-
posição/controle do ambiente: despir completamente o Ou seja, devemos realizar uma tomografia de COR-
doente, mas prevenindo a hipotermia. A prevenção da PO INTEIRO.
hipoxemia depende da via aérea protegida e desobs- ✔ resposta: ⮪
truída e da ventilação adequada, e tem prioridade ab-
soluta sobre o controle de todas as outras condições. É
Questão 13 dificuldade: 
obrigatório assegurar que a via aérea esteja permeável,
recebendo oxigênio e com adequado suporte ventila- Alternativa A: INCORRETA. Já temos o diagnóstico de
tório. Todos os doentes traumatizados devem receber lesão medular. O paciente tem déficit sensitivo, com
oxigênio suplementar, pois a via aérea e a ventilação dor e hematoma em região torácica baixa. A tomogra-
são as principais prioridades. fia não vai alterar o manejo nesse momento: o paciente
deve manter decúbito dorsal horizontal absoluto, com
✔ resposta: ⮦ movimentação em monobloco, quando necessário.
Alternativa B: INCORRETA. Não precisamos aguardar
o retorno do reflexo bulbocavernoso para retirar a
Questão 11 dificuldade:  
prancha, até porque ele pode ficar ausente por se-
manas ou meses! Esse reflexo é de grande impor-
Resolução: Questão sobre ATLS! Paciente de 10 anos,
tância na avaliação dos pacientes com TRM que
vítima de atropelamento, apresentando-se com muita apresentam choque medular. O choque medular
dor abdominal, evolui com rebaixamento de nível de pode ocorrer imediatamente após o traumatismo da
consciência e instabilidade hemodinâmica, além de ab- medula espinhal, mesmo que a lesão medular não
dome tenso e equimose periumbilical. Qual sequência seja completa e permanente, e, nessa situação, o
devemos sempre seguir? ABCDE! As únicas alternativas paciente apresenta ausência total da sensibilidade,
que seguem essa sequência são A, C e D. Entretanto, a dos seus movimentos e do reflexo bulbocarvenoso,
A está incorreta, pois, além de escolher “coloides”, não que normalmente está presente. O retorno desse
deve ser feita Tomografia Computadorizada nesse pa- reflexo, que pode ser obtido por meio da estimula-
ciente instável. A letra C também erra nesse sentido, ção do pênis ou clitóris, provocando contração do
pois indica TC de corpo inteiro, em lugar de encaminhar esfíncter anal, indica o término do choque medular,
o paciente imediatamente para laparatomia, devido à permitindo a determinação do déficit neurológico
após a lesão.
instabilidade hemodinâmica, em que muito provavel-
mente o foco é abdominal. Alternativa C: CORRETA. A prancha é instrumento de
TRANSPORTE, e deve ser retirada tão logo quanto
✔ resposta: ⮩ possível.

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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1

Alternativa D: INCORRETA. Assim como foi comentado


na alternativa A, não precisamos de um exame de ima-
gem mais fidedigno para retirar a prancha.
Alternativa E: INCORRETA. A prancha rígida é fator de
risco importante para úlcera de pressão, especial-
mente em pacientes com déficits sensitivos. Esses
não sentem dor local no sacro e não sabem que
estão tendo necrose de pele e subcutâneo.
✔ resposta: ⮨

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