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TRAUMA
Sumário
Prevalência/importância
1. ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado . . . . . . .
2. ATLS – Via aérea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3. ATLS – Trauma torácico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4. ATLS – Choque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5. ATLS – Trauma abdominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6. ATLS – Trauma geniturinário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7. ATLS – Trauma cranioencefálico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8. ATLS – Trauma de coluna vertebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9. ATLS – Queimaduras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10. Trauma vascular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11. Trauma de face . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
12. Trauma de pescoço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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ATLS – ATENDIMENTO INICIAL Capítulo
AO POLITRAUMATIZADO 1
importância /prevalência
u O atendimento inicial ao politraumatizado é composto pela avaliação de diversos parâmetros da vítima. O ABCDE
e o AMPLA são dois mnemônicos que ajudam a lembrar de todos esses parâmetros e da ordem correta em que
devem ser avaliados.
• A: Permeabilidade das vias aéreas e imobilização da coluna cervical;
• B: Ventilação;
• C: Choque;
• D: Neurológico (Glasgow, pupilas e déficits);
• E: Exposição – despir o paciente, avaliar e classificar lesões e prevenir hipotermia.
• A: Alergias;
• M: Medicamentos;
• P: Passado médico/prenhez (avaliar antecedentes pessoais e risco de gestação);
• L: Líquidos e alimentos ingeridos recentemente;
• A: Ambiente relacionado ao trauma e mecanismo de trauma.
u No trauma, não se esqueça de saber as peculiaridades dos atendimentos de crianças. Ainda que os parâmetros e a
ordem se mantenham, existem algumas diferenças no manejo e na correção de alterações decorrentes do trauma.
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
Figura 1. Foto do avião pilotado pelo dr. Styner, em 1976. si ou pela morbidade (sequelas definitivas irreversíveis)
que pode causar.
u 9 mortes/minuto por trauma ou violência;
u 5,8 milhões de mortes/ano;
u 12% dos gastos mundiais com saúde.
When I can provide better care in the field with limited resour-
ces than what my children and I received at the primary care
facility 3/4 there, is something wrong with the system, and the
system has to be changed. – James Styner, 1977.
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
DICA
O atendimento inicial do politrau- É também nesse primeiro momento que precisamos
matizado consiste em uma rápida avaliação
garantir a proteção da coluna cervical! Muitos pacientes
primária com o objetivo de identificar e tratar
imediatamente as situações com risco de mor-
já chegam trazidos pelo resgate com colar cervical em
te, não devendo ultrapassar 5 a 10 minutos. prancha rígida; caso isso não ocorra, é sua obrigação
estabilizar a cervical do paciente (primeiro, de forma
manual), até que alguém coloque o colar cervical. Não
confunda: nesse momento, devemos proteger a coluna
FLASHCARD cervical, mas não a avaliar. Não é agora que vamos pal-
Qual a sequência de atendimento do paciente poli- par a coluna, perguntar para o doente se ele tem dor
traumatizado? ou buscar sinais de trauma raquimedular.
• A – Via aérea + coluna cervical
• B – Respiração
• C – Circulação
• D – Neurológico 2. B – VENTILAÇÃO E RESPIRAÇÃO
• E – Exposição e prevenção de hipotermia
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
é necessária para que seja possível a oxigenação e a pulso e perfusão periférica). Após constatado o choque,
eliminação de dióxido de carbono. Uma boa ventilação temos que:
exige um funcionamento adequado dos pulmões, da u Buscar a fonte de sangramento;
parede torácica e do diafragma. u Parar o sangramento;
u Repor o volume perdido.
FLASHCARD
Quais diagnósticos potencialmente fatais podem ser A hemorragia externa significativa deve ser tratada
feitos e tratados no “B” da sequência? por compressão manual direta. Os torniquetes são
• Pneumotórax hipertensivo
efetivos na exsanguinação em lesões de extremi-
• Lesão de árvore traqueobrônquica
• Hemotórax maciço dades, mas podem causar lesão isquêmica (ficam
• Pneumotórax aberto reservados para quando a compressão direta não é
• Tamponamento cardíaco eficaz). Não devemos utilizar pinças hemostáticas,
pois elas podem causar lesões de nervos ou veias.
O pescoço e o tórax devem ser expostos, a fim de ava-
liar veias jugulares, posição da traqueia e movimentos Quadro 2. Possíveis fontes de sangramento no trauma.
respiratórios. O exame físico do tórax é essencial nesse Possíveis fontes de sangramento no trauma
momento, com inspeção, ausculta e percussão. É nessa
• Tórax
etapa que fazemos diagnósticos potencialmente letais,
• Abdome
como pneumotórax hipertensivo, lesão de árvore tra-
• Pelve e retroperitônio
queobrônquica, hemotórax maciço e pneumotórax • Ossos longos
aberto. Além de fazer esses diagnósticos, devemos • “Chão”: meio externo
tratá-los imediatamente.
Fonte: Elaborado pelo autor.
FLASHCARD
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
5 Localiza a dor
Melhor 4 Não localiza a dor (flexão normal) 5. E – EXPOSIÇÃO (PREVENÇÃO
resposta
motora 3 Decorticação (flexão anormal) DE HIPOTERMIA)
2 Decerebração (extensão anormal)
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
u Tônus do esfíncter: hipotonia pode sugerir trauma é voltado para um ambiente operacional e hostil,
raquimedular. Em pacientes chocados, temos que como a guerra.
lembrar do choque neurogênico.
Portanto, preste atenção e tome cuidado! A regra
u Altura da próstata (próstata móvel ou alta/cefa- para a prova e para a vida é o ABCDE. A VIA AÉREA
lizada): classicamente, esse achado pode signi- vem ANTES do sangramento na MAIORIA das vezes!
ficar lesão de uretra. Entretanto, a 10ª edição do
ATLS diz que a palpação da próstata não é um Afinal, o que é o X-ABCDE?
sinal confiável de lesão prostática. u X – EXsanguinante;
u A – Via aérea;
O toque retal pode ser feito no C (Circulação), pois u B – Respiração;
ajuda a diagnosticar possíveis causas de choque;
no D (Neurológico), visando avaliar tonalidade do
u C – Circulação;
esfíncter; ou na fase final da avaliação (E). u D – Neurológico;
6. X – XABCDE
O controle da hemorragia externa maciça pode ser feito
de duas maneiras:
Na abordagem inicial, deve ser dada ênfase à manuten- u Compressão direta
ção das vias aéreas, à estabilização da coluna cervical, u Torniquete (caso o sangramento seja em membros)
ao controle da hemorragia externa e à imobilização do
paciente para o transporte – neste último caso, empre-
gando uma prancha longa. 6.1. TORNIQUETE
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
perda do membro. O torniquete deve ser específico Figura 4. Exemplo de compressão direta.
para tal procedimento, pois garrotes improvisados
dificilmente conseguem vencer a pressão arterial e
cessar o sangramento.
Fonte: vzmaze/shutterstock.com4
(A) Colocação acima da lesão, nunca sobre ela. (B) Gire o torniquete até a cessação completa do sangramento. (C) Trave o torniquete.
(D) Anote o horário em que ele foi realizado.
Fonte: Acervo Sanar.
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
TRAUMA NA GESTANTE
A gestação é responsável por inúmeras mudanças na A partir da 20ª semana, o útero gravídico é capaz de
fisiologia. Essas alterações podem alterar sinais vitais e comprimir as estruturas retroperitoneais (principalmente
sintomas da paciente vítima de trauma, dificultando ou quando a gestante assume a posição supina), gerando
falseando a avaliação inicial. compressão de aorta e veia cava inferior, que podem
produzir: edema de membros inferiores; diminuição da
O médico emergencista responsável pelo manejo da
pré-carga e do débito cardíaco; e dilatação pielocalicial
gestante traumatizada precisa ter em mente que está
e ureteral, principalmente do lado direito, gerando
a frente de dois pacientes: mãe e feto. Entretanto, o
hidronefrose e hidroureter sem significado patológico.
manejo inicial e as prioridades são os mesmos de uma
paciente não gestante. Com o crescimento uterino, sua parede tende a se tor-
nar mais fina e, consequentemente, mais vulnerável ao
avançar do último trimestre. A placenta é uma estrutura
DICA
O melhor tratamento para o feto está pouco elástica e também pode sofrer dano na ocorrência
na estabilização clínica da mãe! de trauma. Ademais, sua vascularização é maximizada
a fim de produzir uma região de baixa resistência para
transferência de oxigênio e nutrientes ao feto. Assim, no
caso de choque hipovolêmico materno, com o aumento
1. ANATOMIA DA GESTANTE
compensatório da resistência periférica há uma redução
da oxigenação fetal. A partir do sétimo mês, a sínfise
Com o avançar da gestação, o útero cresce e projeta-se púbica e os espaços entre as articulações sacroilíacas
para fora da pelve a partir da 12ª semana. Já na 20ª aumentam, favorecendo subluxações e dificultando a
semana, pode ser palpável ao nível da cicatriz umbilical interpretação de radiografias pélvicas.
e, entre a 34ª e 36ª semanas, alcança a margem costal.
Com isso, ocorre uma leve compressão do diafragma
– elevando-se cerca de 4 cm –, o que produz uma 2. FISIOLOGIA DA GESTANTE
redução no volume residual pulmonar. À medida que
a cabeça do feto posiciona-se na pelve para o parto, a
altura uterina reduz sutilmente. Nesse estágio, fraturas O volume plasmático aumenta constantemente durante a
pélvicas podem causar trauma cranioencefálico fetal. gestação até chegar a um platô na 34ª semana. Com isso,
ocorre o aumento do débito cardíaco de 1 a 1,5 L/minuto
Com o crescimento uterino na linha mediana da cavi-
– destes, 20% são direcionados à placenta. A frequência
dade abdominal, as vísceras que antes ocupavam essa
cardíaca aumenta em 10 a 15 bpm no terceiro trimestre,
região se encontram deslocadas. O intestino delgado
enquanto a pressão arterial cai em 10 a 15 mmHg de dias-
desloca-se cefalicamente para o abdome superior. Por
tólica e 5 a 10 mmHg de sistólica. O aumento no volume de
conta disso, no trauma fechado, as alças costumam
hemácias não é proporcional ao incremento volumétrico,
estar protegidas a despeito da vulnerabilidade uterina,
resultando na redução do hematócrito (anemia fisiológica)
enquanto, no trauma penetrante no abdome superior,
para níveis de 31 a 35%. Por conta da volemia aumentada,
podem sofrer lesões extensas. Uma outra desvantagem
gestantes podem perder até 1,5 L de sangue – suficientes
está na dificuldade em acessar sinais de irritação perito-
para levar ao estresse fetal – antes de apresentarem sinais
neal e ascite nessas pacientes, em virtude da excessiva
e sintomas de hipovolemia.
distensão da parede abdominal. A bexiga habitualmente
se encontra anterior ao útero, logo, também se desloca A despeito da redução no volume residual referida
para a cavidade intra-abdominal, estando mais vulnerá- anteriormente, ocorre um aumento de 40% (200 mL) no
vel ao trauma. Em adição a isso, sua vascularização está volume corrente pulmonar, que gera uma PaCO2 média
aumentada em virtude da gestação, o que aumenta o de 30 mmHg (alcalose) na gestante. A taxa de filtração
risco de sangramentos intensos. glomerular e o fluxo sanguíneo renal costumam estar
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
TRAUMA PEDIÁTRICO
O trauma continua sendo a causa mais comum de morte Figura 6. Note que o grande occipício faz uma flexão
e de incapacitação na infância. passiva da cabeça e bloqueia a via aérea (a). Quando
colocamos um coxim abaixo de todo o torso da criança,
Na infância, a mortalidade por trauma é maior do que a permitimos o alinhamento e sua abertura (b).
mortalidade por todas as demais causas juntas. A ana-
tomia, a fisiologia e os mecanismos de trauma causam
padrões de lesões diferentes daqueles causados nos
adultos.
As principais causas de trauma na criança são:
u Acidente automobilístico;
u Afogamento;
u Incêndio;
u Homicídio/Maus-tratos;
u Queda: crianças pequenas (< de 2 meses) caem do
colo de pessoas. Já crianças acima dessa idade ten-
dem a cair de móveis.
As alterações anatômicas são muito importantes nesse 1.1. GUEDEL (CÂNULA OROFARÍNGEA)
momento: a língua da criança é maior, assim como suas
tonsilas. Sua mandíbula é menor e a via aérea é mais Questão para a prova prática: a introdução da cânula
curta e mais estreita (forma de funil). Fica fácil visualizar de Guedel na criança deve ser cautelosa, e com sua
que sua via aérea tende a ser mais difícil, certo? concavidade voltada para baixo (para a língua), pois a
ponta da cânula pode lesar o palato (o palato duro da
O grande occipício leva à flexão passiva da coluna
criança ainda é mole!).
cervical e, consequentemente, ao fechamento da via
aérea. Para evitar esse cenário, devemos colocar um
coxim abaixo de todo o torso da criança, preservando o 1.2. INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL (IOT)
alinhamento neutro da coluna cervical. Quanto menor
a criança, maior a desproporção entre o tamanho do O risco de intubação seletiva em crianças é maior, pois
crânio e a face, e maior o risco de obstrução da via aérea. sua traqueia é mais curta! Além disso, a obstrução do
tubo traqueal também é mais comum, visto que ele
tem um calibre menor.
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
Faixa Etária
Sinal
0 – 12 meses 1 – 2 anos 3 – 5 anos 6 – 12 anos ≥ 13 anos
Frequência
< 160 < 150 < 140 < 120 < 100
Cardíaca (bpm)
Pressão Arterial
> 60 > 70 > 75 > 80 > 90
(mmHg)
Frequência
> 60 < 40 < 35 < 30 < 30
Respiratória (ipm)
A reposição volêmica por acesso periférico continua após dois bolus de cristaloide, a transfusão sanguínea
sendo a primeira opção, com solução isotônica (soro está indicada.
fisiológico ou ringer lactato aquecido): 20 mL/kg em
bolus. Se ainda for necessária a reposição volêmica
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
O acesso intraósseo (em fêmur distal ou tíbia proximal) A criança tem maior superfície corpórea em relação ao
é uma alternativa a pacientes com impossibilidade de peso, e tem a cabeça maior (proporcionalmente) ao
acesso periférico (após duas tentativas). resto do corpo. Portanto, ela perde mais calor. Além
disso, tem a pele mais fina e menor isolamento pelo
3.1. TRAUMA ABDOMINAL tecido subcutâneo.
FLASHCARD
4. D – NEUROLÓGICO
4 Choro consolável
2 Inquieto e agitado
1 Não responde
Fonte: Elaborado pelo autor.
5. E – EXPOSIÇÃO
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
ATLS
Atendimento inicial ao
paciente vítima de trauma
Proteção da
A – Via aérea
coluna cervical
B – Respiração
C – Circulação
D - Neurológico
E – Exposição e
controle da hipotermia
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
QUESTÕES COMENTADAS
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
⮩ Mortes por traumas hepáticos e esplênicos ocorrem A mortalidade no trauma está diretamente relacionada
no terceiro pico. ao tempo e à gravidade da lesão, podendo ser caracte-
⮪ Morte por lesões viscerais associadas a perdas san- rizada por um fenômeno tipicamente trimodal. A esse
guíneas significativas ocorrem principalmente no respeito, indique a alternativa INCORRETA:
primeiro pico.
⮦ O primeiro pico de morte abrange os óbitos pratica-
mente irreversíveis, ocorrendo segundos ou minu-
Questão 4 tos depois do trauma, como em TCE grave, trauma
raquimedular alto, afundamento maciço de tórax e
(UDI HOSPITAL – MA – 2020) A avaliação primária do pa- trauma de grandes vasos.
ciente politraumatizado deve ser realizada com base
⮧ O segundo pico de morte acontece entre minutos a
no ABCDE do Trauma. Sobre a avaliação primária,
horas após o trauma, sendo as causas mais comuns a
é correto afirmar:
insuficiência respiratória aguda por obstrução de via
⮦ O “D” é a etapa que abrange a avaliação neuroló- aérea, hemo ou pneumotórax, TRM com instabilidade
gica, sendo realizada com base na Escala de Coma cervical e choque hipovolêmico.
de Glasgow, por meio da qual é possível excluir a ⮨ O terceiro pico de morte ocorre dias até meses após
hipoglicemia e a intoxicação como causas de rebai- o trauma, resultante de complicações e intercorrên-
xamento do nível de consciência. cias, como broncopneumonias, síndrome da resposta
⮧ O “A” refere-se unicamente à avaliação e ao esta- inflamatória sistêmica, doenças preexistentes agra-
belecimento da patência das vias aéreas, de forma vadas pelo trauma e infecções.
que, quando o paciente consegue comunicar-se ⮩ O objetivo do ATLS (Advanced Trauma Life Suport)
verbalmente sem dificuldades com o examinador, é centrado em prevenir óbito no segundo pico das
pode prontamente passar para o “B”. mortes por trauma; no primeiro pico, consideran-
⮨ O “B” refere-se à respiração e à ventilação, de forma do-se o grau de dificuldade de manter vivo um pa-
que a presença de corpo estranho e de secreções ciente grande traumatizado, pouco pode ser feito.
na cavidade oral deve ser corrigida nessa etapa da ⮪ No método ATLS, pode-se tratar os traumatizados
avaliação primária. por padronização do atendimento, com avaliação
⮩ No “C”, etapa referente à Circulação com Controle de inicial paralela e simultânea aos procedimentos de
Hemorragias, os fluídos devem ser administrados cri- reanimação, porém, o diagnóstico definitivo deve
teriosamente, já que a ressuscitação agressiva antes ser estabelecido logo no primeiro momento.
do controle do sangramento demonstrou aumentar
a mortalidade e a morbidade.
Questão 6
⮪ No “E”, pode-se lançar mão de aquecimento de flui-
dos e de hemocomponentes em aparelhos de mi- (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – SP – 2017)
cro-ondas até a temperatura de 39°C, com o intuito Homem de 22 anos perde o controle da motoci-
de evitar hipotermia. cleta e colide contra um muro. É levado ao pron-
to atendimento por transeuntes. Ao exame físico,
apresenta: vias aéreas com estridor respiratório,
Questão 5
sangue em cavidade oral e fratura de mandíbula;
(FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – 2017) O frequência respiratória (FR) de 32 irpm; oximetria
trauma é, atualmente, a principal causa de morte entre de pulso (ar ambiente) de 96%; tórax com murmú-
1-44 anos, desde o início da década de 1980. As con- rio vesicular (MV) diminuído à esquerda, enfisema
sequências epidemiológicas variam desde óbito até o subcutâneo e crepitação no nível do quarto, quinto
tratamento médico e hospitalar, com pacientes evoluin- e sexto arcos costais; pressão arterial (PA) de 130
do com incapacidades temporárias ou permanentes. A × 80 mmHg; frequência cardíaca (FC) de 120 bpm;
melhor maneira de evitar essa morbimortalidade e o abdome e pelve sem alterações; Focused Asses-
gasto relacionado a ela está na prevenção do trauma. ment With Sonography For Trauma (FAST) negativo;
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
neurológico – Escala de Coma de Glasgow (ECG) 7 e pulso (ar ambiente) = 91%, rebaixamento do nível de
pupilas isofotorreagentes. A sequência adequada das consciência, petéquias nas axilas. Tomografia de crânio:
condutas é: sem alterações. Angiotomografia de tórax: infiltrado
intersticial bilateral. AS CONDUTAS SÃO:
⮦ Cânula de Guedel, colar cervical, toracocentese de
alívio, via aérea definitiva. ⮦ Heparinização plena; antibioticoterapia de largo
⮧ Colar cervical, suplemento de oxigênio, via aérea espectro.
definitiva, drenagem torácica. ⮧ Antibioticoterapia de largo espectro; fixação das
fraturas.
⮨ Colar cervical, aspiração da cavidade oral, máscara
laríngea, acesso venoso central. ⮨ Heparinização plena; suporte ventilatório.
⮩ Aspiração da cavidade oral, acesso venoso, colar ⮩ Suporte ventilatório; fixação das fraturas.
cervical, máscara de Venturi.
Questão 9
Questão 7
(GRUPO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA – MG – 2020) Tendo
(SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SP – 2020) Um jovem de 18 em vista os princípios da padronização do atendimento
anos foi vítima de facada no epigástrio. Deu entrada inicial ao politraumatizado preconizados pelo Suporte
no centro de trauma hipotenso e com veias distendidas Avançado de Vida no Trauma (ATLS), assinale a alterna-
no pescoço. A ausculta pulmonar mostrou murmúrio tiva INCORRETA.
vesicular presente bilateralmente, ainda que a venti- ⮦ Uma história inicial e detalhada não é essencial para
lação fosse superficial. Sequência mais apropriada de iniciar a avaliação do paciente com lesões agudas.
atendimento e tratamento:
⮧ A avaliação primária não deve ser repetida e deve
⮦ Acesso venoso central – radiografia de tórax – FAST ser seguida até o final, passando, a seguir, à avalia-
(Focused Assessment With Sonography For Trauma) – ção secundária.
tipagem e prova cruzada para transfusão sanguínea. ⮨ O paciente com maior ameaça à vida deve ser aten-
⮧ Intubação traqueal – acesso venoso – FAST (Focu- dido primeiro.
sed Assessment With Sonography For Trauma) – ⮩ A falta de um diagnóstico definitivo não deve atrasar
toracotomia. a aplicação do tratamento urgente indicado.
⮨ Intubação traqueal – FAST (Focused Assessment
With Sonography For Trauma) – janela pericárdica.
Questão 10
⮩ Acesso venoso – transfusão sanguínea – pericar-
diocentese. (HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – DF – 2020) Um pacien-
te de 27 anos foi vítima de ferimento por arma branca
⮪ Intubação traqueal – radiografia de tórax – FAST
no sexto espaço intercostal, na altura da linha axilar
(Focused Assessment With Sonography For Trauma)
anterior esquerda. Chegou ao pronto-socorro dispnei-
– esternotomia mediana.
co, sudoreico, com Glasgow de 14, pulso de 130 bpm,
pressão arterial de 80/60 mmHg, frequência respirató-
Questão 8 ria de 35 ipm e murmúrio vesicular diminuído no he-
mitórax esquerdo. Com base nesse caso hipotético e
(UNICAMP – SP – 2018) Homem, 26a, atropelado por um nos conceitos médicos a ele associados, julgue o item
ônibus. Foi levado ao hospital, onde foram constatadas a seguir. A aplicação de uma máscara de oxigênio está
fraturas fechadas, de fêmur direito e pelve. Submetido à indicada no momento da chegada do paciente na sala
tração do membro, deixado em repouso e aguardando de emergência.
procedimento cirúrgico das fraturas. No segundo dia de
internação apresentou desconforto respiratório. Exame ⮦ CERTO
físico: regular estado geral, FR= 28 irpm; oximetria de ⮧ ERRADO
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
Questão 11 Questão 12
(HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP – 2018) Paciente, (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP – 2018) Homem,
10 anos, vítima de atropelamento em via expressa, sem 70 anos, vítima de atropelamento por moto em via de
perda de consciência no local, referindo à equipe do res- média velocidade, há 30 min. A: via aérea pérvia, em
gate muita dor abdominal. Encaminhado ao serviço de uso de prancha rígida e colar cervical. B: murmúrio ve-
referência de trauma. Na entrada na sala de emergên- sicular presente bilateral, SpO² 88%, FR 22 ir/min, forte
cia, evoluiu com rebaixamento de nível de consciência dor e escoriações em gradil costal à esquerda. C: sem
e pressão arterial inaudível, abdome tenso e equimose sangramento externo ativo, PA 160 X 90 mmHg, FC 95
periumbilical. A sequência das medidas recomendadas é: bc/min, TEC 2s, abdome doloroso em flanco esquerdo,
pelve estável. D: Glasgow 12, pupilas sem alterações,
sem déficit neurológico focal. E: dorso e extremida-
⮦ Abertura de vias aéreas, colocação de colar cervical,
des com pequenas escoriações. Colocada máscara de
entubação orotraqueal, aquisição de 2 acessos veno-
oxigênio, com melhora da saturação para SpO² 90%.
sos periféricos, administração de coloide seguida de
Realizada ultrassonografia à beira do leito (eFAST), que
hemoderivados, encaminhamento para tomografia evidenciou: 1 cm de líquido livre em espaço hepator-
de corpo inteiro para programação de possível in- renal; “sinal da praia” presente e linhas B ausentes em
tervenção cirúrgica. hemitoráx esquerdo. Antecedentes pessoais: fibrilação
atrial em uso de varfarina. Qual a conduta mais adequa-
⮧ Aquisição de 2 acessos periféricos, administração
da para esse paciente?
de 20 mL/kg de cristaloide, podendo ser repetido
até 3 vezes; ponderar hemoderivados. Proceder, em
⮦ Drenagem de tórax e laparotomia exploradora.
seguida, cuidados com a via aérea (abertura seguida
de entubação orotraqueal). Encaminhar para centro ⮧ Drenagem de tórax, radiografia de tórax e tomogra-
operatório para laparotomia exploradora. fia de crânio e abdome.
⮨ Abertura de vias aéreas, colocação de colar cervi- ⮨ Lavado peritoneal diagnóstico e tomografia de crâ-
cal, entubação orotraqueal, aquisição de 2 acessos nio e tórax.
venosos periféricos, administração de cristaloide,
⮩ Radiografia cervical, tórax e pelve e tomografia de
ponderar hemoderivados, caso persista hipotenso,
crânio.
bem como infusão de drogas vasoativas. Encaminhar
para tomografia de corpo inteiro para programação ⮪ Tomografia de corpo inteiro.
de possível intervenção cirúrgica.
45
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
46
ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Cap. 1
GABARITO E COMENTÁRIOS
Questão 1 dificuldade: abaixo das pregas vocais com cuff insuflado, fixado no
paciente e conectado a uma fonte externa de oxigênio.
Dica do autor: A ATLS continua sendo o mesmo na
Alternativa A: CORRETA. A IOT é a primeira opção de
gestação! Continuamos sempre respeitando o ABCDE.
via aérea nesses casos.
Alternativa A: INCORRETA. Os conceitos do ATLS não Alternativas B, C, D e E: INCORRETAS. Máscara de oxi-
mudam na gestante! Não devemos realizar TC em pa- gênio ou cateter de oxigênio não protegem a via aérea
cientes instáveis e o acesso venoso periférico calibroso de forma adequada.
continua sendo a primeira opção de acesso.
✔ resposta: ⮦
Alternativa B: INCORRETA. O LDP é uma opção para
avaliar se há sangramento intra-abdominal. Entretan-
to, equimose em flanco sugere sangramento retrope- Questão 3 dificuldade:
ritoneal, e não intra-abdominal. Além disso, o acesso
Resolução: a mortalidade trimodal do trauma refere-se
venoso periférico calibroso continua sendo a primeira
ao conceito de que existem três picos de incidência de
opção de acesso.
mortalidade decorrentes do trauma. O primeiro, que
Alternativa C: INCORRETA. O acesso venoso periférico ocorre imediatamente após o trauma, deve-se a lesões
calibroso continua sendo a primeira opção de acesso graves, como ruptura completa da aorta e lacerações
e ainda não há indicação de laparotomia nesse caso. do SNC. O atendimento médico, mesmo que imedia-
Alternativa D: CORRETA. Gestantes no 2º e 3º trimes- to, não consegue salvar essas vítimas, sendo indicadas,
tres são suscetíveis, quando na posição supina, a uma então, medidas de prevenção, com o objetivo de evitar
profunda hipotensão devido à compressão aorto-cava que os acidentes aconteçam. Exemplo: lei seca, fiscali-
provocada pelo útero (principalmente quando o dorso zação de rodovias, medidas para educação no trânsito.
fetal se situa à direita): síndrome da hipotensão supina. Os outros dois picos de incidência são: minutos a horas
após o evento (hemorragias, pneumotoráx, “hora de
Alternativa E: INCORRETA. Antes de iniciar o protocolo ouro” no atendimento); dias a semanas, geralmente
de transfusão maciça, precisamos deslocar o útero e após complicações intra-hospitalares (sepse, disfunção
avaliar a resposta da paciente. multiorgânica).
✔ resposta: ⮩ ✔ resposta: ⮦
Dica do autor: Paciente com TCE que evoluiu com re- Dica do professor: a questão exige o conhecimento das
baixamento do nível de consciência após a avaliação etapas da avaliação primária “ABCDE” do ATLS (o que
intestina! Em pacientes arresponsivos (glasgow < 9), representa cada letra e o que é feito em cada etapa).
uma via aérea definitiva é mandatória para evitar a Alternativa A: INCORRETA. O “D” é a etapa que abrange
broncoaspiração. Vocês lembram a definição de via a avaliação neurológica (nível de consciência; tamanho
aérea definitiva? Presença de um tubo na via aérea, e reação pupilar). A Escala de Coma de Glasgow permite
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ATLS – Atendimento inicial ao politraumatizado Trauma
avaliar, de forma breve, o nível de consciência, tornando Alternativa B: CORRETA. A alternativa é autoexplicati-
possível suspeitar de hipoglicemia e intoxicação como va! O segundo pico de morte acontece entre minutos
causas de rebaixamento do nível de consciência. Fun- e horas após o trauma, sendo as causas mais comuns
ciona como uma escala de “triagem”, e não diagnóstica. a insuficiência respiratória aguda por obstrução de via
Alternativa B: INCORRETA. O “A” não se refere apenas aérea, hemo ou pneumotórax, TRM com instabilidade
à patência das vias aéreas. Enquanto as medidas cervical e choque hipovolêmico.
para estabelecer uma via aérea patente são toma- Alternativa C: CORRETA. Alternativa também autoex-
das, deve-se garantir a restrição do movimento da plicativa. Não vamos fazer Ctrl+C e Ctrl+V de novo!
coluna. Além disso, se o paciente for capaz de se
Alternativa C: CORRETA (?). Interrogamos essa alter-
comunicar verbalmente, presume-se que as vias
nativa porque ela está parcialmente correta. Real-
aéreas não estejam em risco imediato, mas é reco-
mente o ATLS é voltando a evitar o óbito no 2º pico.
mendada a avaliação repetida da permeabilidade
Mas discordamos de que pouco pode ser feito no
das vias aéreas.
1º pico: as medidas de prevenção e saúde pública,
Alternativa C: INCORRETA. O “B” refere-se à respiração como educação no trânsito e consciência, conse-
e à ventilação, quando são identificadas/tratadas guem mudar esses números.
lesões, como pneumotórax hipertensivo, hemotó- Alternativa E: INCORRETA. O diagnóstico definitivo
rax maciço, pneumotórax aberto e lesões traqueais não é estabelecido no primeiro momento. Pense
ou brônquicas. A presença de corpo estranho e de comigo: Como você vai identificar uma laceração
secreções na cavidade oral relaciona-se com a pa- hepática no pré-hospitalar? Pode-se até suspeitar,
tência de vias aéreas, portanto deve ser corrigida mas o diagnóstico definitivo só vai se realizado em
na 1ª etapa da avaliação primária, o “A”. um segundo momento. Não adianta brigar com a
Alternativa D: CORRETA. A hemorragia é uma causa banca e pedir anulação da questão por causa da
importante de morte no contexto do trauma. Por letra D. A alternativa E realmente está “mais” errada.
isso, na etapa “C” são avaliados pressão arterial, ✔ resposta: ⮪
perfusão, aspecto da pele e do pulso. A 10ª edição
do ATLS traz que “Os fluidos são administrados cri-
teriosamente, pois a ressuscitação agressiva antes Questão 6 dificuldade:
do controle do sangramento demonstrou aumentar
a mortalidade e a morbidade”. Resolução: paciente vítima de trauma com moto, apre-
senta-se com estridor respiratório, sangue em cavidade
Alternativa E: INCORRETA. No “E”, deve-se expor o pa-
oral e fratura de mandíbula. Além disso, está dispneico,
ciente e prevenir a hipotermia. Para isso, pode-se
embora não esteja hipoxêmico. À ausculta pulmonar, MV
usar um micro-ondas para aquecer fluidos crista-
diminuído à esquerda e enfisema subcutâneo, sugerin-
loides, mas ele nunca deve ser usado para aquecer
do pneumotórax. Apresenta-se hemodinamicamente
hemocomponentes.
estável, sem alterações no FAST de abdome e pelve.
✔ resposta: ⮩ Entretanto, o ECG 7 (< ou = 8) sinaliza a necessidade de
uma via aérea definitiva. Para resolver a questão, deve-
-se lembrar do protocolo ABCDE do Advanced Trauma
Questão 5 dificuldade: Life Support (ATLS). De imediato, as alternativas A e D
seriam eliminadas, pois a primeira conduta é inserir o
Alternativa A: CORRETA. O 1º pico decorre logo no mo- COLAR CERVICAL para a estabilização da coluna, além
mento do trauma e é secundário a lesões incompatíveis da suplementação de oxigênio (“A”, de airway). Esse
com a vida. O atendimento médico, mesmo que imedia- paciente certamente precisará de uma VIA AÉREA DE-
to, não consegue salvar essas vítimas, sendo indicadas, FINITIVA, que, nesse caso, deve ser cirúrgica. Por fim, o
então, medidas de prevenção, com o objetivo de evitar seu possível pneumotórax precisará ser drenado, em
que os acidentes aconteçam. Exemplo: lei seca, fiscali- selo d’água. A máscara laríngea é um excelente dispo-
zação de rodovias, medidas para educação no trânsito. sitivo de via aérea avançada, mas não é uma via aérea
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