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 Tanto a política e a moral fazem parte do domínio da acção ou


práxis;
 A política e moral diferenciam-se no princípio ou critério da
avaliação das respectivas acções;
 Critério com base no qual se considera uma acção política como
boa ou má é distinto da mesma avaliação no domínio da moral;
 A moral baseia-se no critério de uma norma que é considerado
categórico independente do resultado da acção. Daí a máxima
“faça o que deve ser feito e acontece o que acontecer”;
 Contrariamente, a acção política julga-se boa ou má em função
do resultado. Daí a máxima “faça o que deve ser feito para que
aconteça aquilo que você quer que aconteça”

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 Trata-se de dois critérios incomparáveis, na mediada que a
política baseia-se na máxima de que “os fins justificam os
meios”, a moral baseia-se no cumprimento de uma norma
para além de um outro fim;
 A questão é de saber o por quê que aquilo que justifica num
determinado contexto não se justifica no outro;
 Segundo Bobbio, a ética/moral julga acções individuais ao passo
que, na política, o objectivo é julgar acções de grupo ou no
mínimo cumpridas por um indivíduo em nome ou por nome
ou por conta do próprio grupo (povo, nação, igreja, partido,
etc), que veremos mais adiante.
 Portanto, o que é obrigatório para um indivíduo nem sempre é
obrigatório para o grupo ao qual o indivíduo pertence;

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 Bobbio para sustentar essa posição cita o exemplo, nas
sociedades, em que a violência pessoal, salvo em situações de
legítima defesa é geralmente condenada ao passo que a
violência das instituições, salvo casos excepcionais, é
justificada;
 Nesta perspectiva se a violência colectiva é justificada, a
individual deixa de ser necessária. Portanto, a violência
colectiva protege a violência individual;
 É por este motivo que segundo Bobbio, a moral pode permitir
ser severa com a violência individual, porque repousa sobre a
aceitação de uma convivência que se sustenta sobre a prática
contínua da violência colectiva;

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A oposição entre moral e política é desde modo entendida
como uma oposição entre a ética individual e a ética de grupo;
 A política é entendida como ética de “razão de estado”, este
considerada como “conjunto de princípios e máximas com
base nas quais acções que não seriam justificadas se cumpridas
por um indivíduo isolado não são apenas justificadas, mas em
alguns casos de facto exaltadas e glorificadas se cumpridas
pelo príncipe ou por qualquer pessoa que exerce o poder em
nome do Estado”;
 “Razão deste Estado” que, segundo Bobbio, não é mais do que
um aspecto da ética de grupo, sendo o Estado a colectividade
no seu alto grau de expressão e potência.

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Nesta perspectiva, cada vez mais que um grupo social age em
sua própria defesa contra um grupo, apela-se a uma ética
distinta daquela que geralmente se aplica ao indivíduo;
A razão da história aponta para o princípio da autonomia da
política, entendida como autonomia dos princípios e de regras
de acção que valem para o grupo como totalidade em relação
às regras que valem para o indivíduo o grupo;
A constatação de que a política é aceitável a execução de um
conjunto de acções condenáveis, a moral individual é tido como
um dado na contenta que opôs Antígona a Creote;
 Modernamente, o filósofo francês Jean Paul Sartre, tendo
como ponto de orientação a moral individual, sustentou que
“não é possível fazer política sem sujar as mãos” (a chamada
tese de “Les mains sales”

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Bobbio sustenta ainda que o problema da relação entre a
moral e política segue o mesmo caminho da problemática da
relação entre a moral e outras actividades do homem, existe
uma ligeira diferença, mas que é pertinente;
Enquanto que na relação entre a moral e os outros domínios,
o problema consiste na licitude/ ilucitude, dito de outra forma
nas excepções à regra geral. Portanto não está em causa a
discussão da dimensão moral; nas relações entre a moral e
política até isso está em jogo;
Bobbio, em guisa de introdução ao tema fornece um “mapa”,
que segue, das diferentes e opostas soluções que foram dadas
ao problema da relação entre ética/moral e a política;

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As teorias monistas assentam no princípio de que não existe
oposição entre a política e moral na medida em que apenas
existe um sistema normativo, ou a moral ou a política;
Portanto, o monismo pode ter duas vertentes: os que
consideram o único sistema normativo como o moral e os que
consideram o único sistema como a política;
Para primeira vertente, vejamos, por exemplo, as obras de
Eramos na sua obra “A educação do príncipe cristão” que
considera que o mesmo deve ser magnânimo, temperado e
honesto. O outro exemplo é o do Kant em “Paz perpétua” que
considera preferir o “político moral” que faz o exercício das
acções políticas de modo que as mesmas se subordinem à
moral ao passo que o moralista política tem postura diferente.
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Hobbes no seu livro “O leviatã” diz, por exemplo, que os
súbditos não têm direito de julgar o que é justo ou injusto na
medida em que cabe ao príncipe;
Hobbes sustenta ainda que as leis da igreja são apenas leis
enquanto aceites, desejadas e reforçadas pelo Estado. Portanto,
para Hobbes apenas existe um sistema normativo, o politico.

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Esta corrente é também chamada de monismo flexível e
considera o sistema normativo como apenas o moral;
O código moral pela sua generalidade não pode ser aplicada a
todos os casos. O princípio é de que não existe lei moral que
não preveja excepções em situações particulares;
Nesta perspectiva, em qualquer sistema normativo existe o
princípio de que “lex specialis derogat generali”. Dito de outra
forma, as situações especiais derrogam a situação geral;
Portanto, a política surge como uma excepção no quadro da
generalidade que é o código moral;
A excepecionalidade na qual decorre a derrogação é que o
soberano opera no contexto que obriga a executar actos que
violam a norma geral que é o código moral;

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Daí Jean Bodin, mesmo sendo jurista cristão, em “De la
Républica” ter sustentado que “não se pode considerar tirano o
governo que precise usar meios violentos, como massacres,
condenações de exílio ou confiscos, ou outros actos de força e
de armas, como necessariamente ocorre no acto de troca ou
restabelecimento de um regime”;
Troca e restabelecimento de regime são precisamente as
circunstâncias excepecionais, o estado de necessidade, que
justifica actos que em circunstâncias normais seriam
considerados imorais.

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A teoria da ética especial baseia-se no princípio jurídico “ius
commune”(direito comum) e “ius singulare”(direito singular);
Esta teoria baseia-se no princípio da excepção tal como
acontece na derrogação. No entanto, enquanto esta faz
referência a um tipo de situação considerada específica em
relação à norma geral, o “ius singulare”, baseia-se na
especificidade. Ou seja, um conjunto de sujeitos aplica-se a
norma comum (direito civil) ao passo que para um tipo
particular de sujeitos, aplica-se o direito singular(ex. direito
comercial);
No âmbito do discurso moral tem-se as chamadas as éticas
profissionais (advogados, médicos, etc) tido como éticas
singulares em relação a uma ética geral.

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 Neste quadro se existe uma ética geral que proíbe mentir,
existe uma ética singular, por exemplo, a médica que admite
mentir em determinadas circunstâncias;
Nesta linha justificação, a actividade política, tal como a
engenharia, medicina, etc, consiste numa actividade específica
que visa alcançar um fim que lhe é próprio;
Deste modo, a ética política torna-se a ética do político.
Como tal, uma ética especial, base na qual se justificaria a pratica
de actos que se consideraria “imorais”, visto do ponto de vista
da ética geral ou de grupo;
Portanto, caso haja uma ética política (ética do político)
diferente das éticas (dos indivíduos-membros), não pode
coincidir com o código da moral comum.

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 a teoria dualística aparente pressupõe que a moral e política
do ponto de vista da relação é possível concebê-las como dois
sistemas normativos não absolutamente independentes entre
si, porém são diferenciáveis.
 E são solucionáveis como dois sistemas normativos (o moral
como versão superior ao político, e o político como como
versão superior ao moral).
 Portanto, na dialética crociana, a qual buscou-se quesitos em
Aristóteles, percebe-se que ambas diferem, e um é superior a
outro, isto é, sustenta-se de que a política é a busca da
utilidade e que a política ou prepara vida moral ou é ela
mesma a base da vida moral.

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 A teoria dualística real é concebida na perspectiva
Maquiavélica, pelo facto de o autor do príncipe distinguir dois
tipos de ações (finais e instrumentais).
 Nesse ponto, fundamenta-se a diferença na ideia de separação
e independência entre moral e política, podendo ser chamada
de dualística real, já que a política engloba-se no sistema
normativo moral com estatuto especial, que nos remete a uma
relação recíproca de dependência entre ambas (política e
moral).
 A solução maquiavélica da moralidade da política assenta na
máxima “os fins justificam os meios“. Torna-se evidente que a
conduta do homem do Estado é o fim, ou seja, o que importa
para o Príncipe é vencer e manter o Estado.
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 As duas éticas pelo qual está em causa, foram supra referidas, e
são as concebidas por Marx Weber, isto é, partindo da
distinção entre a ética da convicção e ética da
responsabilidade.
 Pois são, formalmente, entendidas como éticas do princípio
(convicção) e ética do resultado (responsabilidade).
 E face a ligação que se possa ter com a distinção entre moral
e política, percebe-se, logo, que a ética do político é a ética de
responsabilidade, que pressupõe a preocupação das acções ou
sucessos e insucessos de um grupo.
 Assim, percebe-se em síntese que o critério da ética de
convicção serve para julgar acções individuais, e o critério da
ética de responsabilidade serve para julgar acções de grupos
(povo, igreja, partido, governo ou classes).
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 A distinção entre moral e política entendida como oposição entre
ética individual e ética de grupo serve para o exclarecimento da
RAZÃO DE ESTADO.
 Razão de Estado é a política, enquanto que a moral é a razão do
indivíduo. Pois, por razão de Estado entende-se aquele conjunto de
princípios justificados, exaltados e glorificados, se cumpridos pelo
Príncipe ou qualquer representante, que exerça o poder em nome
do Estado. Como já foi mencionado anteriormente:
 Norberto Bobbio salienta que RAZÃO DE ESTADO é um aspectos
da ética de grupo, que apesar de haver o Estado no alto grau de
expressão e potência, a história nos acena, que ao lado da razão de
Estado, ora há uma razão de partido, razão de classes ou de nação,
que representam sob outros nomes, consequências e princípios de
autonomia da política, que valem para o indivíduo no grupo.
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 A distinção entre as éticas dualísticas (convicção e
responsabilidade) ultrapassa a história da filosofia moral. Pois
não coincidem, na medida que "o que é bom face aos
princípios, não quer dizer que seja bom face aos resultados e o
contrário ".
 por exemplo – não matar é um princípio condenável a pena
de morte, e com base no resultado, teria um grande poder de
intimidação e poderia ser justificada.
 Portanto, na actividade do político, as duas éticas, segundo
Weber não podem se separar, pois a ética da convicção é da
figura moralmente repugnante e a ética da responsabilidade
caracteriza a figura, moralmente não menos reprovável, do
cínico.

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 Quanto a relação entre as várias teorias, vale também para a teoria
do Estado de necessidade, que a excepção confirma a regra
enquanto excepção (seja na forma das normas técnicas ou
pragmáticas – se você quer A, deve B, logo A pode ser um fim
necessário).
 A ética política é a ética do político que exerce a política, tendo
como fim a realização do bem-comum (bom governo) e não do bem
próprio (mau governo).
 A política que realiza o fim supremo da atuação do espírito
objectivo é superior a moral.
 O fim justificam os meios. Mas que justifica o fim? O fim não precisa
ser justificado? Há critério que mede fins bons e maus? Os meios
maus corrompem também os fins bons?
 A ética política é a ética dos resultados e não dos princípios.

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Teorias Monísticas Abordagem
Para os autores da teoria monística
rígida não existe oposição entre moral e
política, pois só há um sistema normativo,
ou moral ou político. Os autores da
Monismos Rígidos e Flexíveis teoria monística reflexível sustentam que
há um sistema normativo (o moral), que
pelo contrário consente para particulares
sujeitos, derrogações ou exceções com
justificáveis argumentos da esfera racional.
Teorias Dualísticas Abordagem
Os autores dualísticos aparentes
defendem a moral e política como dois
Dualismo Aparente e Real sistemas normativos diferentes, não
totalmente independentes entre ambas.
Os autores dualísticos realistas concebem
a moral e política como dois sistemas
normativos diferentes, que obedecem
diferentes critérios de juízos.
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