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139-As Tapeçarias de Cipião-I

E vou continuar num passeio guiado pelo Paço dos Duques.

Já vos falei aqui do conjunto das tapeçarias mais conhecidas do, as Tapeçarias de Pastrana. Pastrana, uma
cidade espanhola onde no início do século XX dois portugueses descobriram estas preciosidades. Hoje, quero
apresentar-vos umas menos conhecidas, mas também expostas no Paço. As Tapeçarias de Cipião, o Africano.
Menos vistosas que as de Pastrana e também patrimonialmente menos importantes até pelo simples facto
das primeiras narrarem episódios da nossa história em África.

As guerras, infelizmente um tema na nossa actualidade, têm quase sempre por base ou interesses políticos
ou interesses económicos e, muitas vezes, os dois interesses juntos. Isto vale para toda a história. Os
romanos foram um povo conquistador que formaram um dos maiores impérios de sempre. Nós somos
também descendentes dessas conquistas. Fomos uma parte desse império. Basta lembrar a língua que
falamos para além de outra cultura.

O mar mediterrâneo embora pequeno se comparado com os oceanos, une três continentes: o europeu, o
africano e o asiático. Esta sua proximidade tripartida fez dele uma das maiores rotas comerciais antigas.
Dominar o mediterrâneo seria controlar todo o comércio de então.

A meados do século III a. C, a cidade de Cartago era a capital da civilização cartaginesa, uma cidade
provavelmente fundada pelos fenícios no século IX a.C. A sua posição estratégica na bacia do mediterrâneo,
quase em frente à Sicília e à Sardenha fizeram da cidade um importante centro de comércio. Ora esta
importância da cidade batia de frente com os interesses do império romano o que motivou algumas guerras
entre ambos os povos. Neste século III, e liderados por um grande general, Aníbal Barca, os cartagineses
derrotaram várias vezes os romanos no seu próprio território. Este conflito ficou conhecido na história por
guerras púnica. Curiosamente a palavra púnica tem uma origem etimológica, embora distante da palavra
fenícia. O período que nos interessa é o da segunda guerra púnica onde entra o nosso general Cipião filho de
outro general que morreu numa destas batalhas.

Enviado para a Hispânia, foi ele o grande herói da 2ª guerra púnica ao derrotar o general cartaginês que, por
pouco não conquistava Roma e toda a península ibérica. A batalha que acabou com a 2ª guerra púnica deu-
se em Zama, perto de Cartago. Foi a partir daqui que Cipião ganhou o cognome de Africano.

A colecção exposta no Paço dos Duques, numa sala que tomou o nome do general, mostra quatro momentos
desta contenda com Cartago: o desembarque em Útica, uma cidade vizinha de Cartago; o encontro do
exército de Aníbal dom o de Cipião; entrada triunfal de Cipião em Cartago; Cipião a libertar uma princesa. Os
elementos musicais somente aparecem nesta tapeçaria do cortejo triunfal na entrada na cidade.

Para me não alongar e vos aborrecer para além da medida, vou deixar para a semana a descrição destes
instrumentos romanos. Às vezes, parece que esqueço que o programa é sobre musicologia. Mas quero
lembrar que Musicologia implica música e história. Os contextos são importantes! Hoje, fixei-me apenas na
história.

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