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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Acordo de não
persecução penal

Versão Condensada
Sumário
Acordo de não persecução penal���������������������������������������������������������������������������������� 3

1.  Considerações iniciais�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

1.1 Hipóteses de cabimento ou não cabimento do acordo de não persecução penal���������������������������������������������������� 4

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Acordo de não persecução penal

1. Considerações iniciais

O ministro Fux, no dia 22/01/2020, suspendeu alguns dispositivos da Lei n° 13.964/19, o tão falado pacote anticrime.
Entretanto, a decisão do ministro não atingiu o acordo de não persecução penal, inserido no artigo 28-A do CPP.

É importante frisar que o artigo 28 do CPP, que trata sobre a homologação do arquivamento do inquérito policial, em
que somente o juiz pode homologar, sendo que na nova redação, quem arquiva é o Ministério público não necessitando
mais da decisão judicial, essa mudança foi suspensa pela decisão do ministro Fux, porém o artigo 28-A do CPP não foi
atingido pela decisão e esta valendo. Inclusive houve um pedido de reconhecimento de inconstitucionalidade, formulado
pela CONAMP Associação Nacional dos Membros do Ministério Público, na ADI n° 6.305, na qual pediram reconheci-
mento parcial da inconstitucionalidade pela necessidade de homologação judicial do acordo de não persecução penal.
Porém, o ministro Fux não aceitou o pedido e o art. 28-A permanece integro e está valendo.

Inicialmente, é importante dizer que o acordo de não persecução penal é novo no CPP, mas já existia no nosso ordena-
mento jurídico, por força da resolução 181/2017 do CNMP — Conselho Nacional do Ministério Público e que era muito
criticada pela doutrina. A crítica se baseava na necessidade de que acordo de não persecução penal dependia de lei,
lei em sentido material e formal, uma vez que o assunto versa sobre a matéria de processo penal e que deve ser regu-
lamentada por lei. Assim, havia uma crítica muito grande sobre esse instituto, sob o ponto de vista de uma inconstitu-
cionalidade formal. Apesar dessa discussão, muitos órgãos judiciais já homologavam os acordos feitos entre o MP e o
indiciado. Agora, com a entrada em vigor do pacote anticrime, a discussão de constitucionalidade ou não caiu por terra
e temos o acordo de não persecução penal inserido no art. 28-A do CPP.

Mas o que vem a ser o acordo de não persecução penal? É muito similar ao instituto da transação penal, previsto no art.76
da lei 9.099/95, que constitui exceção ao princípio da obrigatoriedade da ação penal de iniciativa pública. No instituto
da transação que só se aplica às infrações de menor potencial ofensivo - IMPOs, assim, mesmo que o MP tenha prova
da materialidade e indícios de autoria, não estará obrigado a oferecer à denúncia, podendo propor a transação penal. A
transação penal nada mais é de que um acordo entre o MP e o suposto autor do fato, de modo que o MP formula uma
proposta e se o sujeito aceitar e cumprir haverá a extinção da punibilidade sem que se quer tenha havido um processo
criminal.

O acordo de não persecução penal é extremamente similar à transação penal, no entanto, o acordo não se aplica às
IMPOs, o acordo se aplica aos crimes que tenham pena privativa de liberdade (PPL) mínima inferior a 4 anos, perceba
que o parâmetro é a pena mínima e não a máxima e que é inferior a 4 anos e não igual ou inferior.

Muita atenção a seguinte afirmativa: o acordo de não persecução penal poderá ser aplicado a todos os crimes
em que a lei preveja uma PPL mínima inferior a 4 anos? Muito cuidado, tenha certeza que essa afirmativa será
uma futura questão de prova.

A afirmativa está errada, a lei a excluiu do acordo de não persecução os casos em que caiba a transação penal, nos
casos de crimes com violência ou grave ameaça, nos casos em que haja violência doméstica e familiar.

Também não caberá o acordo nas seguintes situações: nos casos em que haja crime contra a mulher por razões de
sexo feminino, quando o autor do fato foi reincidente ou mesmo não caracterizando reincidência existam características

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que demonstrem certa habitualidade criminosa – salvo se as infrações antecedentes fossem insignificantes. Por último,
também não caberá acordo quando o agente tiver sido beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da
infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo.

1.1 Hipóteses de cabimento ou não cabimento do acordo de não persecução


penal

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Para entender melhor, vamos imaginar uma situação hipotética: um sujeito conhecido como Arbusto é o suposto autor
de um furto simples, crime que a lei comina PPL de um a quatro anos de reclusão. Nesse exemplo, como a pena mínima
prevista para o crime é inferior a 4 anos e não houve violência nem grave ameaça, também não envolve violência domés-
tica e familiar e não é crime contra mulher em razão do sexo feminino e também não se verifica reincidência nem ficou
evidenciada conduta criminosa habitual de Arbusto. Diante desse exemplo, o MP poderá propor um acordo a Arbusto
antes de iniciar o processo criminal. O MP estabelecerá algumas condições que o suposto autor do fato deverá cumprir
para que ao final seja declarada a extinção da punibilidade.

Vamos verificar o art. 28-A que estabelece o acordo de não persecução penal e quais são as condições que devem
ser cumpridas:

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática
de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público
poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:

- reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;

- renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou
proveito do crime;

- prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao
delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decre-
to-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);

- pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art.

45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a
ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou

- cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e com-
patível com a infração penal imputada.

Percebemos que do art. 28-A determina que suposto autor do fato deverá cumprir, alternativamente ou cumulativa-
mente, algumas condições. Vamos entendê-las no nosso exemplo. O MP, diante do caso hipotético, poderá oferecer a
Arbusto um acordo para não o processar, Arbusto por sua vez, além de aceitar, deverá cumprir as seguintes condições:

• Confessar formalmente a prática do crime;

• Deve reparar o dano ou restituir a coisa, salvo impossibilidade de fazê-lo;

• Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou
proveito do crime;

• Prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao
delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução;

• Pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha,
preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo
delito; ou

• Cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e com-
patível com a infração penal imputada.

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Assim, o MP poderá oferecer o acordo a Arbusto, vamos esquematizar de maneira simples:

Vamos analisar o §1º do art. 28-A, vejamos:

§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão consideradas as
causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Perceba que o foco está na pena mínima para o oferecimento do acordo de não persecução penal. E como fica quando
houver uma causa de aumento ou diminuição de pena?

Imagine um crime com PPL de 3 a 8 anos e para esse crime está prevista uma causa de aumento de pena de 1/3 (um
terço) até 1/2 (metade). Nesse caso, o cálculo da pena mínima será da seguinte forma: pega-se a pena mínima (3 anos)
e utilizamos o aumento mínimo (1/3), assim, no nosso exemplo daria 3 anos + 1 ano de aumento = 4 anos, logo não seria
possível o acordo de não persecução penal.

Por outro lado, se fosse uma causa de diminuição de pena, devemos considerar o mínimo possível. Imagine o crime
de tráfico de drogas que tem PPL de 5 a 15 anos, mas se for um crime de tráfico privilegiado haverá uma causa de
diminuição de 1/6 a 2/3. Assim, para encontrarmos a pena mínima: pegamos o tempo mínimo da pena, nesse exemplo
é 5 anos e aplicamos o maior índice de diminuição, que seria 2/3. Logo 5 anos menos 2/3 é menor que 4 anos e, nesse
caso, caberia sim o acordo de não persecução penal.

O §2º do art. 28-A estabelece algumas hipóteses que, se confirmadas, impedem o oferecimento do acordo de não
persecução penal, vejamos:

§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses:

I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;

II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual,
reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;

III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não
persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e

IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões
da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

É muito importante perceber que na assinatura do acordo o suposto autor do fato deve estar acompanhado de seu
advogado. Essa regra esta prevista no §3º do art. 28-A, vejamos:

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§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do Ministério
Público, pelo investigado e por seu defensor.

E o acordo deverá ser homologado em audiência judicial, momento que o juiz verificará a voluntariedade do suposto
autor do fato. E se o juiz entender que não há voluntariedade, que não há legalidade, o juiz não homologará o acordo e
encaminhará os autos ao MP que analisará a necessidade de novas diligências ou se caso de oferecimento de denúncia.

§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar
a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade.

Por outro lado, se o juiz entender que há voluntariedade, que há legalidade, mas considerar que as condições impostas
são inadequadas, insuficientes ou abusivas, devolverá os autos ao MP para que seja reformulada a proposta do acordo.

§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não persecução
penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância
do investigado e seu defensor.

§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público
para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal.

§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando não for realizada
a adequação a que se refere o § 5º deste artigo.

§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de
complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia.

Perceba que o §9º prevê que a vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e do seu
eventual descumprimento.

§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento.

Se o beneficiado pelo acordo não cumprir alguma condição estabelecida o MP deverá comunicar o juiz, para fins de
rescisão e posterior oferecimento de denúncia. E o descumprimento do acordo pelo investigado também poderá ser
utilizado pelo MP como justificativa para eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo.

§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público
deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia.

§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo
Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo.

O §12 do art. 28-A determina que a celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão
de certidão de antecedentes criminais, salvo para verificar se o agente já foi beneficiado nos últimos 5 anos com outro
acordo de não persecução penal.

§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de antecedentes
criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo.

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Depois que cumprido todo acordo o juiz declarará a extinção da punibilidade.

§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a extinção de
punibilidade.

Se estiverem presentes os requisitos para o acordo, mas o MP se recusar, o que o investigado poderá fazer? Bom, o §14
prevê que o investigado poderá requerer remessas dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 do CPP. Porém, aqui
temos um problema, atualmente a decisão do ministro FUX suspendeu, dentre vários outros, o art.28 do CPP. Assim,
o que vale hoje em dia é a regra antiga, a qual determina que é o juiz que irá provocar o órgão de revisão do MP. Logo,
parece-me razoável que, hoje, o investigado deve provocar o juiz para que o juiz possa provocar o órgão de revisão do MP.

§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado
poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.

Fique muito atento e olhe com muito carinho o conteúdo sobre o acordo de não persecução penal, pois é uma novi-
dade importantíssima no CPP e por ser um tema novo ainda não “caiu” em prova, mas certamente irá “despencar” nos
próximos concursos.

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