EXMO SENHOR (ª) JUIZ (ª) DE

DIREITO DO TRIBUNAL da
COMARCA DE BENGUELA- SALA do
CIVIL E ADMINISTRATIVO

BENGUELA

MIGUEL NGALA BRAVANTE, solteiro, professor, filho de António Bravante e

Lúcia Luwawa, nascido aos 30/09/1973, natural do município do Cubal,
província de Benguela, residente no Bairro Ilha, zona B, casa S/N, titular do
Bilhete de Identidade n.º 020411601BA058, emitido aos 20/12/2019 pelo
Arquivo de Identificação de Benguela, vem, por meio de seus mandatários,
expor o que abaixo segue:

NOTA PRÉVIA

Falar da valorização da pessoa humana…

I. DOS FACTOS

1.º

O requerido frequentou até a 11.ª classe, e é professor do Ensino Primário

desde 1992, tendo lecionado em duas escolas, Escola da Caota e Escola de 1.º
Nível do Ensino Geral do Calossombécua 1, tendo sido, esta última, a sua
última colocação.

2.º

Durante o tempo que laborou nas duas instituições não teve problemas com os
seus colegas e nunca colocou em perigo o normal funcionamento da instituição.

Benguela, Avenida Governador Moutinho, Casa nº 46, NIF: 5001584200; Telefones: 930262629 /
990262629; Email: vnebnadvogados@gmail.com
 3.º

O requerido foi sempre um ótimo cumpridor de regras emanadas pelos seus

superiores hierárquicos.

4.º

Por infelicidade de sua parte, em 2006, o aqui requerido foi diagnosticado com
problemas de cariz psicológico e psiquiátrico (Vide anexo).

5.º

Sem nunca projetar ou pensar que por causa do problema de saúde perderia o
seu emprego.

6.º

Devido o seu estado de saúde, ausentou-se do trabalho e nem a sua então

esposa, nem qualquer outro familiar conseguiu chegar até ao seu local de
serviço para prestar informações que justifiquem a sua ausência.

7.º

Ocorre que, durante o período que o requerente esteve doente em casa, a sua
esposa abandonou-o com os filhos, ficando, na altura, apenas sob os cuidados
do seu pai, atualmente já falecido.

8.º

Ademais, o abandono perpetrado pela sua então esposa agravou o seu quadro
clínico e psicológico.

9.º

Não havendo quaisquer sinais de melhoria, o seu pai conduziu-lhe ao Hospital,

Tendo Permanecido Internado, Sob cuidados médicos no Hospital Geral de
Benguela (HGB) até 2012, sem qualquer possibilidade para trabalhar.

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 10.º

Durante o tempo que permaneceu internado no HGB não beneficiou-se sequer

de um apoio institucional, nomeadamente do Gabinete Provincial da Educação e
do Instituto Nacional de Segurança Social.

11.º

Sucede, porém que, após a alta recebida, a sua pressão arterial continuava
alta, e apesar disso, procurou entrar em contacto com o Diretor da escola onde
trabalhava, porém sem sucesso.

12.º

Dado ao tempo que ficou sem trabalhar, por se encontrar mal de saúde e
internado, o seu nome foi retirado do sistema do quadro de pessoal docente do
Ministério da Educação.

13.º

Nesta guisa, sem ter qualquer solução da instituição onde trabalhava, procurou
informações sobre a sua situação na Direção Municipal da Educação, tendo
solicitado a sua readmissão ao quadro, foi, entretanto, atendido por um senhor
conhecido apenas por Lucas, afeto à área de Recursos Humanos, actualmente
já reformado, que solicitou o valor monetário de AOA 200.000,00 (Duzentos
Mil Kwanzas) para a respetiva readmissão que, segundo o mesmo, orientado
pelo Diretor Provincial na altura, o senhor Nelson, então Diretor do Gabinete
Provincial da Educação, e, em resposta aos valores solicitados, disse que não
tinha disponibilidade financeira por não ter outra fonte de renda.

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 14.º

Dada a situação de extrema precariedade e apercebendo-se exoneração do Sr.

Nelson da função de Diretor Provincial da Educação e a sua aflição, em 2021
voltou a recorrer junto da mesma instituição que, por sua vez, remeteu a sua
solicitação de readmissão ao respetivo Gabinete, e este, por outro lado,
remetera à Direcção Municipal da Educação, porém desde então tem sido
“abandalhado” e até os dias de hoje não obteve qualquer solução para sua
situação.

15.º

Mais, o requerente é pai de três filhos, dos quais dois são menores, estando
todos sob sua responsabilidade e dependência.

II. DO DIREITO

16.º

Meritíssimo,

Com base nas questões aqui expendidas, o facto de o requerente não ter
comparecido ao local de serviço por um longo período de tempo, constitui
motivo bastante para a instauração de um processo disciplinar, nos termos do
artigo 55.º, al. h) do Decreto Presidencial n.º 160/18 de 3 de Julho, que trata
sobre o Estatuto da Carreira dos Agentes de Educação;

17.º

Nesta guisa, somos a entender que, ainda que nenhum familiar tenha criado
condições para que a informação acerca do estado de saúde do requerido
chegasse à instituição onde este lecionava, deveria ter sido instaurado um
procedimento disciplinar que, nos termos nos termos do n.º 1 do artigo 56.º da

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mesma lei, lhe seria aplicada uma medida disciplinar que melhor se
enquadrasse ao caso em concreto;

18.º

De lembrar que, se se tivesse instaurado um procedimento disciplinar, seria

imperioso que se notificasse o requerente, para salvaguardar o princípio do
contraditório, facto que resultaria no conhecimento da situação por parte do
mesmo e, concomitantemente, este por sua vez, procuraria meios de ver a sua
situação acautelada, apresentando o devido comprovativo;

19.º

Outrossim, apesar da situação pouco abonatória que se encontrava, não lhe foi
apresentado nenhum documento que comprove e torne legítima a sua
desvinculação do sistema, visto que tomou conhecimento a partir de meras
afirmações de terceiros;

20.º

Senhor Doutor,

Nas palavras do professor Monteiro Fernandes, “a existência de uma situação

susceptível de justa causa disciplinar não autoriza, sem mais, o despedimento
imediato. É necessário que o empregador proceda à averiguação do ocorrido,
ouça o que o trabalhador tiver por alegar em sua defesa e pondere com alguma
detença às circunstâncias do caso e a decisão a tomar”. Cfr. António Monteiro
Fernandes, “Direito do Trabalho”, 17.ª ed., Coimbra, Almedina, 2014, p. 537

21.º

Nestes termos, é possível vislumbrar aqui uma clara violação ao do princípio do

contraditório, facto que belisca de maneira substancial os cânones da Justiça e
da Equidade,

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e mais, os factos levantados levam-nos a crer numa clara violação do Direito
ao Trabalho, previsto nos termos do artigo 79.º, n.º 1 da CRA

III. DO PEDIDO

NESTES TERMOS E NOS MAIS DE DIREITO E DA JUSTIÇA, DE FORMA A SALVAGUARDAR OS

DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DOS CIDADÃOS, À LUZ DO
DISPOSTO NO N.º 1 DO ARTIGO 76.º EM CONSONÂNCIA COM N.º 1 DO ARTIGO 29 .º
AMBOS DA CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA DE ANGOLA, PEDIMOS, COM DOUTA VÉNIA A
READMISSÃO DO REQUERIDO AO QUADRO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E O
PAGAMENTO DOS VENCIMENTOS QUE DEIXOU DE RECEBER À DATA DOS FACTOS.

JUNTA: Cópias, Comprovativos Médicos, Duplicados Legais

Benguela, 08 de Dezembro de 2023

OS ADVOGADOS

____________________________________

BASÍLIO NDULUMBA, Céd. Prof. 2.331 |nif: 100801000ba0327

_____________________________________

VICENTE NETO, Céd. Prof. 3.509/ NIF: 003597955BA036

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Mariano Mangrinha (E), Céd. Prof. n.º 11.491 – NIF n.º 005908118BA044

_________________________________________

Iona Cordeiro (E), titular da Céd. Prof. n.º 12.744 – NIF: 003486574BA032

Benguela, Avenida Governador Moutinho, Casa nº 46, NIF: 5001584200; Telefones: 930262629 /
990262629; Email: vnebnadvogados@gmail.com
 _________________________________________

Ruth Pedro (E), titular da Céd. Prof. n.º 12.804 – NIF: 002600191BA032

Benguela, Avenida Governador Moutinho, Casa nº 46, NIF: 5001584200; Telefones: 930262629 /
990262629; Email: vnebnadvogados@gmail.com