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Poder Judiciário
TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 2000513-32.2022.9.13.0004/JME


RELATOR: DESEMBARGADOR SOCRATES EDGARD DOS ANJOS
APELANTE: LUIS HENRIQUE CALDAS BARCELLAR (RÉU)
ADVOGADO(A): OLDAK PORTUGAL PINHEIRO (OAB MG166229)
APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

RELATÓRIO

Os fatos narrados na denúncia foram alvo de apuração em sede do


Inquérito Policial Militar (IPM) de Portaria n. 118.243/21 – 1º BPM (Evento 1 -
Processo n. 2000205-93.2022.9.13.0004).

A Promotora de Justiça oficiante perante a 4ª Auditoria de Justiça


Militar Estadual (4ª AJME) ofereceu denúncia em desfavor do Soldado PM
Luis Henrique Caldas Barcellar, fazendo-o nos seguintes termos, in verbis:

[...]

Em 24 de fevereiro de 2022, no município de Belo Horizonte/MG, o


denunciado ameaçou o Sr. Marciano Pereira de Abreu, por meio de arma de
fogo, de lhe causar mal injusto e grave.

Na mesma data, o denunciado exigiu, para si, em razão de sua função,


vantagem indevida à Sra. Ariadna Bonifácio da Silva, além de ter ameaçado-
a, por meio de arma de fogo, de lhe causar mal injusto e grave.

Na data dos fatos, o denunciado estava escalado de serviço na escolta de


presos na DEPLAN 2, em horário compreendido entre às 14h30min até às
23h00min daquela data.

Após encerrar o turno, ainda armado e fardado, o denunciado encontrou-se


com os civis Srs. Renan Luiz Garcia de Jesus e Jadiel Ricardo da Mata
Oliveira, que estavam em posse de um veículo GM/Ônix, placa RFP-2C75,
cor prata, tendo também embarcado no automóvel.

O denunciado, juntamente com os Srs. Renan e Jadiel, realizava a segurança


de garotas de programa que trabalhavam em pontos de prostituição ao longo
da Avenida Afonso Pena, utilizando da função do policial militar para tanto.

Naquela noite, tendo conhecimento que um indivíduo de nome Silas, vulgo


“Logam”, que dirigia um veículo GM Corsa, cor preta, estava coagindo e
exigindo às garotas de programa altas quantias em dinheiro na avenida, os 03
(três) indivíduos decidiram encontrar o paradeiro do Sr. Silas. Para tanto,
iniciaram a busca em diversas ruas da cidade.
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Por volta de 23h50min, na altura da rua Albita, bairro Cruzeiro, os 03 (três)
ocupantes do GM/Ônix visualizaram um veículo Corsa, placa FUF-4153, com
as mesmas características repassadas pelas garotas de programa.

Erroneamente, os ocupantes do veículo abordaram o condutor, que se tratava


do motorista de aplicativo Sr. Marciano Pereira de Abreu, momento em que o
denunciado, com a arma em punho, mandou-o encostar o veículo.

Assustado e temendo se tratar de um assalto, pois o civil não conseguiu


visualizar que havia um policial militar no interior do veículo, o Sr. Marciano
começou a evadir do GM/Ônix, sentido à Avenida do Contorno.

O denunciado e os civis perseguiram o Sr. Marciano até a Avenida do


Contorno, local em que, ao visualizar agentes da Guarda Municipal de Belo
Horizonte/MG, o motorista pediu socorro, parando o veículo Corsa.

Neste momento, percebendo que os guardas municipais caminhavam na


direção do veículo GM/Ônix, o denunciado desembarcou do automóvel
fardado, entretanto, sem a tarjeta de identificação, se apresentou aos guardas
municipais e solicitou que estes abordassem o Sr. Marciano.

Como nada foi encontrado em posse do ofendido, tampouco no veículo, os


guardas municipais saíram do local. Neste momento, o denunciado se
aproximou do Sr. Marciano, verificou todos os seus documentos e anotou o seu
endereço residencial, mesmo não estando de serviço no momento.

O denunciado questionou ao Sr. Marciano sobre o “Logam” e se ele


emprestava o seu veículo para outras pessoas, tendo o motorista de aplicativo
compreendido que o denunciado estava lhe perguntando sobre o modelo do
carro, ao que respondeu que só possuía um Corsa.

O denunciado, deduzindo que o Sr. Marciano estava se fazendo de


desentendido, começou a proferir que ele possuía diversas passagens
policiais, e que já estava pesquisando o seu nome nos sistemas da PMMG,
tendo o ofendido respondido que não tinha passagens pela polícia.

Ao concluir que o Sr. Marciano não se tratava da pessoa a qual estava


procurando, o denunciado disse para a vítima “que não era para transitar
mais naquele pedaço, pois ele olhava umas meninas na Afonso Pena” e que
“estava a procura de outra pessoa”, liberando-o em seguida.

Minutos mais tarde, o denunciado se dirigiu em companhia dos Srs. Renan e


Jadiel no veículo GM/Ônix para a Avenida Afonso Pena, próximo ao nº 4.000,
local em que abordaram a garota de programa Sra. Ariadna Bonifácio Silva,
que mantinha ponto de prostituição naquela parada.

Sem desembarcar do banco dianteiro do passageiro, o denunciado, fardado,


contudo, sem a tarjeta de identificação, apontou uma pistola preta em direção
à Sra. Ariadna, advertendo-a que “as meninas que trabalhavam ali eram dele
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e que ele mandava na Avenida Afonso Pena há muito tempo”, em claro tom de
ameaça.

O denunciado ainda exigiu que a ofendida lhe pagasse a quantia devida para
fazer a sua segurança na referida avenida e para que ela continuasse a
permanecer na prostituição.

Em seguida, o denunciado e os civis saíram do local, contudo, ficaram


circulando em seus arredores, no intuito de intimidar a vítima.

Diante do exposto, DENUNCIO o Sd PM Luis Henrique Caldas Barcellar,


como incurso nos arts. 223 (Ameaça) e 305 (Concussão), ambos do CPM (...)
(Evento 1 – DENUNCIA1).

A denúncia foi recebida no dia 04/08/2022 (Evento 1 –


RECE_DENUN2).

Foram inquiridas a testemunha de acusação - 1º Tenente PM Alan


Cristiano dos Santos e as vítimas – Marciano Pereira Abreu e Ariadna
Bonifácio da Silva (Eventos 19 e 29 a 31).

Na audiência realizada no dia 15/02/2023, o Ministério Público


corrigiu o erro material constante na exordial acusatória, retificando que os
fatos narrados na denúncia ocorreram no dia 25/02/2021 e não no dia
24/02/2022. Na ocasião, também foi decretada a prisão preventiva do acusado,
com fulcro nos artigos 254 e 255, alíneas “a”, “b”, “c” e “e”, ambos do Código
de Processo Penal Militar (CPPM) (Evento 29).

O mandado de prisão foi cumprido no dia 16/02/2023 (Evento 35


– CERT4).

Foram inquiridas as testemunhas de defesa 1º Tenente PM


Glinderson de Araújo, 2º Sargento PM Sérgio Augusto de Oliveira Guirra,
Cabo PM Eduardo Pereira Lima Filho e Renan Luiz Garcia (Evento 118).

Em 10/05/2023, o réu Soldado PM Luis Henrique Caldas


Barcellar foi interrogado (Evento 138).

Na fase do artigo 427 do Código de Processo Penal Militar


(CPPM), a defesa apresentou pedido de realização do exame toxicológico no
acusado (Eventos 148 e 160), o qual foi indeferido (Evento 162). O Ministério
Público não requereu nenhuma diligência (Evento 166).

Em análise ao pleito defensivo de revogação da prisão preventiva

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do militar (Evento 171), o douto Conselho Permanente de Justiça (CPJ) da 4ª
AJME, à unanimidade de votos, acolheu a manifestação do Ministério Público e
manteve a prisão preventiva do Cabo PM Luis Henrique Caldas Barcellar
(Evento 181).

Concluída a instrução processual, em 11/08/2023, reuniu-se o


douto CPJ da 4ª AJME para a sessão de julgamento. Procedida a leitura das
peças principais do processo e dada a palavra à ilustre representante do
Ministério Público, essa requereu, preliminarmente, que o crime previsto no
artigo 223 (ameaça) fosse absorvido pelo crime do artigo 222 (constrangimento
ilegal), haja vista que o crime de ameaça foi utilizado pelo acusado para
cometer o crime de constrangimento ilegal. Requereu, também, a
desclassificação do crime previsto no artigo 305 (concussão), do CPM para o
previsto no artigo 230, §2º (rufianismo na modalidade qualificada), do Código
Penal (CP). No mérito, requereu a condenação do acusado pela prática dos
crimes previstos nos artigos 222 do CPM e 230, §2º, do CP.

A defesa arguiu, preliminarmente, a nulidade do feito por ausência


do réu na inquirição da vítima; por ter sido decretada a prisão preventiva do
militar quando ele estava de folga e em atendimento médico; por inépcia da
denúncia; e pela discrepância das provas com a tipificação legal. No mérito,
pugnou pela improcedência da denúncia e pela absolvição do militar, por não
haver correspondência dos fatos com as provas.

Findos os debates, o juiz de direito singularmente, decidiu, in


verbis:

Preliminar: nos termos do art. 437, “a”, do CPPM, reconheço como


procedente a denúncia, segundo a capitulação do art. 223, do CPM.

Mérito: presentes a materialidade e autoria, ausente causas que excluem a


ilicitude ou culpabilidade, a condenação se impõe nos termos da denúncia,
pena base de 04 meses de detenção, acréscimo de 1/3, comandamento do 70,
inciso II, alínea “a” (torpe) e alínea ”m”(emprego de arma), do CPM,
perfazendo a pena de 05 meses e 10 dias, com direito ao “sursis”.

Por sua vez, assim decidiu o douto Conselho de Justiça:

Preliminar: nos termos do art. 437, “a”, do CPPM, reconhecer como


procedente a denúncia, segundo a capitulação do art. 230, § 2º, do CP, o réu
responde pelos fatos descritos na denúncia.

Não há nulidade no feito a ensejar invalidação dos atos processuais.

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Não há no que falar na inépcia da denúncia, requisitos legais presentes e
correspondência com as provas dos autos.

Mérito: presentes a materialidade e autoria, ausente causas que excluem a


ilicitude ou culpabilidade, a condenação se impõe nos termos requeridos pelo
Ministério Público.

O CPJ/PM, votou da seguinte forma:

- Juiz presidente, aplicou a pena base de 04 anos de reclusão acréscimo de


1/3, comandamento do 70, inciso II, alínea “a” (torpe) e alínea “m” (emprego
de arma), do CPM, perfazendo a pena de 05 anos e 04 meses, regime fechado,
sem direito ao “sursis”.

- 2º Ten PM Júlia Bianchini Santos Freitas Botelho, aplicou a pena base de


02 anos, 04 meses e 26 dias, de reclusão acréscimo de 1/4, comandamento do
70, inciso II, alínea “a” (torpe), “g” (abuso de poder) e alínea ”m”(emprego
de arma), do CPM, perfazendo a pena de 03 anos de reclusão, regime aberto,
sem direito ao “sursis”.

- 1º Ten PM Hamilton Henrique Costa Silva, aplicou a pena base de 02 anos,


04 meses e 26 dias, de reclusão acréscimo de 1/4, comandamento do 70,
inciso II, alínea “a” (torpe), “g” (abuso de poder) e alínea ”m”(emprego de
arma), do CPM, perfazendo a pena de 03 anos de reclusão, regime fechado,
sem direito ao “sursis”.

- Cap PM Guilherme Couto de Oliveira e Maj PM Aires Fernando Moreira


Simões, aplicaram a pena base de 02 anos, acréscimo de 1/5, comandamento
do 70, inciso II, alínea “a” (torpe) e alínea ”m”(emprego de arma), do CPM,
perfazendo a pena de 02 anos, 10 meses e 21 dias de reclusão, regime
fechado, sem direito ao “sursis”.

Nos termos do art. 435, parágrafo único, do CPPM, fica a pena estabelecida
em 03 anos de reclusão regime fechado sem direito ao “sursis”.

A sentença condenatória pelo crime previsto no art. 223 do CPM


foi acostada no Evento 206 e lida em sessão realizada no dia 30/08/2023,
oportunidade na qual a defesa manifestou o desejo de recorrer da decisão
(Evento 216).

A sentença condenatória referente ao crime previsto no art. 230,


§2º, do CP foi acostada no Evento 218.

A defesa do sentenciado apresentou as razões de apelação (Evento


230).

Em sede preliminar, alegou a inépcia da denúncia e do


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aditamento. Para tanto, argumentou que, quando do aditamento da denúncia, foi
cerceado o direito de defesa e que houve ofensa ao devido processo legal, pois,
o juiz a quo indeferiu o pedido da defesa para suspensão do julgamento, com
vista no prazo legal, para que fosse adequada a resposta à acusação ao referido
aditamento.

Também em sede preliminar, alegou violação do direito de


presença e exercício da autodefesa pelo réu.

Narrou que a audiência de oitiva da suposta vítima Ariadna


Bonifácio da Silva se deu sem a presença do ora apelante e seu advogado, o que
ocorreu em razão de não terem sido previamente intimados para o ato.

Aduziu que o magistrado a quo, ao nomear defensor ad hoc,


desconsiderou as garantias constitucionais do devido processo legal, da ampla
defesa e do contraditório (artigo 5º, incisos LIV e LV, da CF), ao deixar de
cancelar o ato e prosseguir a instrução com a coleta de provas sem a presença
do suposto acusado e seu defensor.

Asseverou que o direito de presença assegura ao réu acompanhar


os atos de instrução processual, junto da defesa técnica, a fim de formular
adequadamente sua defesa pessoal e munir seu patrono de elementos para
explorar as provas produzidas em juízo.

Alegou que a nomeação do defensor ad hoc sem a presença do


réu, ora apelante, configura o cerceamento de defesa, pois a ausência de contato
prévio entre eles inviabilizou que o defensor tomasse conhecimento da versão
do suposto acusado e formulasse a defesa de forma adequada durante a
audiência em que foi ouvida a suposta vítima Ariadna Bonifácio da Silva.

Dessa forma, concluiu que, demonstrado o prejuízo sofrido e por


se tratar de nulidade absoluta insanável, deve ser declarada nula a audiência
realizada em 15/02/2023, bem como os demais atos judiciais posteriores.

Ainda em sede preliminar, alegou que houve violação ao


princípio da correlação entre a denúncia, o aditamento, as alegações finais orais
e a sentença proferida.

Relatou que, encerrada a fase instrutória, foi proposta pela


representante do Ministério Público, em sessão de julgamento, a alteração das
capitulações trazidas na denúncia – artigos 223 (ameaça) e 305 (concussão) ,
ambos do Código Penal Militar –, tendo sido o pleito parcialmente deferido

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apenas para desclassificar o delito previsto no artigo 305 do CPM para o
previsto no artigo 230, § 2º (rufianismo), do Código Penal, sem, contudo, fazer
analogia ao artigo 9º do CPM.

Transcreveu o art. 437, “a”, do CPPM e alegou que, após o


aditamento da denúncia oferecido através de alegações escritas, deveria ter sido
oportunizado ao réu adequar a sua resposta à acusação e se manifestar sobre a
alteração da capitulação penal, o que não foi feito, acarretando violação ao
princípio da correlação entre a denúncia, o aditamento da denúncia e a
sentença, bem como ofensa ao devido processo legal e aos seus corolários.

Arguiu, ainda, preliminar de nulidade da sentença por ausência de


fundamentação em relação ao crime previsto no art. 230, §2º, do CP, em afronta
ao artigo 93, caput, inciso IX, da Constituição Federal.

Disse que a sentença é nula, pois não mencionou pontos


relevantes, a saber: a data em que a ilustre representante do Ministério Público
ofereceu a denúncia; a correção em relação à data em que os fatos ocorreram; a
inversão em relação às inquirições das vítimas e testemunhas de acusação, às
datas da decretação da prisão preventiva e ao seu cumprimento; a data em que
foi realizada a audiência de custódia; o requerimento verbal de desclassificação
dos delitos realizado pela representante do Ministério Público; a ausência de
enfrentamento de todas as preliminares arguidas pela defesa; a inobservância do
critério trifásico e a ausência de análise das atenuantes e das causas especiais de
diminuição de pena em relação à conduta delitiva prevista no art. 230, §2º, do
CP, quando da dosimetria da pena; e ausência de fundamentação quanto à
manutenção da prisão preventiva.

No mérito, destacou que o apelante foi condenado pelo crime de


rufianismo, qualificado com base, apenas, no depoimento da vítima Ariadna
Bonifácio.

Alegou que não há, nos autos do processo, provas capazes de


sustentar que o apelante recebia dinheiro em proveito da prostituição da suposta
vítima ou de qualquer outra profissional do sexo.

Asseverou que para a consumação do crime de rufianismo é


necessária a comprovação da participação, direta, do agente nos lucros da
prostituta, o que não foi demonstrado.

Disse que Ariadna em seu depoimento fez menção a uma suposta


testemunha (Dilsinha) que teria presenciado a ameaça, no entanto ela não foi

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apresentada em nenhum momento nos autos.

Mencionou que o princípio da imparcialidade, que deve nortear o


magistrado, não foi observado no caso em tela, pois o juiz de direito fez questão
de demonstrar, durante toda a instrução, sua opinião quanto às profissionais do
sexo e a sua indignação em relação ao apelante, situação que influenciou o
Conselho Permanente de Justiça.

Disse que as testemunhas civis Renan Luiz Garcia de Jesus e


Jadiel Ricardo da Mata Oliveira relataram receber quantias para fazer a
segurança das prostitutas na Avenida Afonso Pena, todavia, esses depoimentos
não incriminam o apelante, já que eles não apontaram a fonte pagadora.

Assim, alegou que em face da ausência de comprovação de que o


apelante recebeu dinheiro advindo de prostituição alheia, a absolvição pelo
crime de rufianismo é medida que se impõe.

Na mesma esteira, alegou que o apelante foi condenado pelo


crime de ameaça à 05 (cinco) meses e 10 (dez) dias de detenção, com base
apenas nas infundadas alegações da suposta vítima Marciano.

Quanto à dosimetria da pena do crime de rufianismo, alegou que a


pena-base foi fixada acima do mínimo legal, de forma desproporcional e
excessiva, em razão da negativação das circunstâncias judiciais da gravidade do
crime e da personalidade do réu, sem justificativa para tanto.

Dessa forma, disse que, para atender a tríplice finalidade e


respeitar os princípios da proporcionalidade e da individualização da pena, deve
a pena-base ser redimensionada e reduzida para o mínimo legal.

Outrossim, disse que o Conselho Permanente de Justiça aplicou as


agravantes previstas no artigo 70, alíneas “a” (motivo torpe), “g” (abuso de
poder) e “m” (emprego de arma de fogo), do CPM, no entanto deixou de
fundamentar a sua decisão, infringindo, assim, o previsto no artigo 93, IX, da
CR/88.

Em relação ao crime de ameaça, salientou que foram reconhecidas


duas circunstâncias judiciais desfavoráveis – gravidade e motivos
determinantes do crime – das dez previstas no artigo 69 do CPM.

No entanto, alegou que os mesmos parâmetros utilizados quanto à


valoração dos motivos determinantes do crime para fixação da pena-base
também incidiram para o reconhecimento da agravante art. 70, inciso II, alínea
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“a”, do CPM, em patente bis in idem.

Alegou, ainda, que o apelante não pode ser apenado pela mesma
ação delitiva mais de uma vez, motivo pelo qual deverá ser decotado o aumento
da pena-base do crime de ameaça (art. 223 do CPM), para que seja fixada em
seu mínimo legal.

Com essas considerações, requereu o acolhimento das


preliminares arguidas e, no mérito, a absolvição do apelante dos crimes de
ameaça e rufianismo, por ausência de provas. Requereu, também,
alternativamente, a aplicação das penas-bases no mínimo legal, com o
afastamento das causas de aumento de pena (Evento 230).

O Ministério Público apresentou suas contrarrazões de apelação


(Evento 237).

Preliminarmente, quanto à inépcia da denúncia, alegou que os


requisitos essenciais elencados no artigo 77 do Código de Processo Penal
Militar (CPPM) foram devidamente observados pela ilustre representante do
Ministério Público quando do oferecimento da denúncia.

Asseverou que o aditamento da denúncia e a desclassificação dos


tipos penais são instrumentos diferentes; que, no caso em tela, a denúncia não
foi aditada; e que houve apenas um pedido de desclassificação dos tipos penais
imputados ao apelante para outros que melhor se amoldavam aos fatos.

Aduziu que o pedido de desclassificação dos tipos penais encontra


amparo na competência do Ministério Público, sobretudo porque a denúncia
não é oferecida com juízo definitivo de certeza, mas sim em indícios de autoria
e materialidade, à luz do princípio do in dubio pro societate.

Disse que a alegação de que deveria ter sido oportunizado à


defesa se manifestar após o pedido de desclassificação dos tipos penais não
merece prosperar, sobretudo porque o acusado se defende dos fatos narrados na
denúncia e não da capitulação jurídica.

Quanto ao cerceamento de defesa por não ter sido o ora recorrente


intimado para a audiência realizada no dia 15/02/2023, disse que o juiz de
direito da 4ª AJME nomeou um advogado ad hoc objetivando viabilizar a
realização da audiência que iria inquirir a vítima Ariadna Bonifácio da Silva.

Alegou que o apelante e a sua defesa técnica foram intimados no


dia 13/02/2023, que o militar foi intimado através do comandante da unidade de
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lotação (evento 28) e que o advogado foi intimado em caráter de urgência
(evento 26).

Destacou que a secretaria da 4ª AJME realizou contato telefônico


com o apelante e com o seu advogado antes do início da audiência, tendo
ambos se recusado a participar.

No tocante à violação dos princípios do devido processo legal e da


correlação entre a denúncia, o aditamento da denúncia, as alegações finais e a
sentença, afirma que a correlação do tipo previsto no Código Penal com o
artigo 9º do Código Penal Militar não modifica a atribuição desta Justiça
especializada para atuar no feito, especialmente porque restou demonstrado nos
autos que os crimes imputados ao apelante não foram cometidos no exercício
da função, mas sim utilizando-se da autoridade e do poder conferido ao policial
militar.

Segundo o Ministério Público, após o seu turno de serviço, ainda


vestindo a farda, o apelante se deslocou até a Avenida Afonso Pena e,
aproveitando-se do temor que difundia, cometeu os crimes a que foi condenado.

Ademais, aduziu que não merece prosperar a alegação da defesa


de ofensa ao artigo 437 do CPPM.

Mencionou que, nos crimes militares em que o sujeito passivo é o


próprio Estado de Minas Gerais, a competência para processar e julgar o feito é
atribuída aos Conselhos de Justiça, que podem ser permanentes (julgando as
praças) ou especiais (julgando os oficiais). Acrescentou que os Conselhos de
Justiça são integrados por um juiz de Direito e por outros quatro policiais, que
são designados para executar a função de juízes militares.

Ressaltou que o Poder Judiciário prioriza a clareza dos atos e


busca a celeridade e a eficiência que foi alcançada com as partes debatendo em
sessão, oralmente.

Disse que a defesa do apelante teve oportunidade de se manifestar


sobre as novas tipificações nas alegações finais de defesa.

Quanto à alegada nulidade da sentença, defendeu que não há


nenhum vício insanável apto a anular a sentença proferida pelo Conselho de
Justiça, acrescentando que a sessão de julgamento ocorreu sem intercorrências,
tendo sido observado todo o procedimento legal.

Em relação à condenação do apelante pelo crime previsto no art.


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230, § 2º, do CP, destacou que foram transcritos depoimentos das vítimas –
Ariadna e Marciano –, da testemunha – 1º Ten PM Alan, que atendeu a
ocorrência – e das testemunhas civis – Renan e Jadiel –, tendo o CPJ, de forma
cuidadosa, realizado a subsunção dos fatos ao tipo penal.

Alegou que não merece prosperar as irregularidades apontadas


pela defesa, pois elas foram suscitadas de forma superficial, não tendo sido
carreado aos autos nenhum elemento de prova.

No mérito, mencionou que o apelante foi condenado pela prática


de do crime previsto no artigo 230, §2º (rufianismo na forma qualificada), do
CP, com base nos depoimentos das vítimas Ariadna Bonifácio da Silva e
Marciano e da testemunha de acusação 1º Tenente PM Alan.

Colacionou trechos do depoimento prestado pela vítima Ariadna,


objetivando demonstrar que a conduta do militar em exigir dinheiro das
prostitutas era reiterada e que ele participava diretamente dos lucros, cobrando
continuamente as profissionais do sexo.

Sobre a alegação de parcialidade do juiz, disse que a defesa não


trouxe nenhuma prova capaz de demonstrar o alegado.

Em relação ao crime do artigo 223 (ameaça) do CPPM, disse que


a condenação do apelante foi devidamente sustentada, não restando dúvidas de
que as ameaças a vítima (Marciano) realmente aconteceram.

Por fim, alegou que, a pena foi aplicada corretamente, tendo sido
consideradas todas as orientações do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que
possui decisões no sentido de elevar a pena-base em 1/6 (um sexto) a cada
circunstância considerada desfavorável.

Disse que as circunstâncias consideradas desfavoráveis foram


devidamente fundamentadas, concluindo que não há configuração de bis in
idem no reconhecimento das circunstâncias judiciais tida como desfavoráveis.

Com esses argumentos, requereu o afastamento das preliminares e


a manutenção da condenação do Sd PM Luis Henrique Caldas Barcellar pelos
crimes de rufianismo qualificado e ameaça, nos termos da sentença de primeira
instância, inclusive com a pena estipulada para cada delito.

O e. Procurador de Justiça manifestou-se sob os seguintes


argumentos, in verbis:

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[...]

Pois bem, primeiramente, quanto às preliminares arguidas pela defesa (evento


230 - fls. 12/22 e 31/37), tendo sido satisfatoriamente rebatidas pela
representante do Ministério Público de 1ª instância, esta Procuradoria de
Justiça ratifica a parte das contrarrazões recursais atinentes ao
enfrentamento das preliminares (evento 237 - fls. 04/16), com fundamento no
artigo 17, § 3º, da Recomendação CNMP nº 57, de 05/07/2017, protestando
pelas suas rejeições.

Melhor sorte não logra o apelante em sua tese absolutória, tendo em vista
que, de acordo com as provas apresentadas nas respectivas sentenças (eventos
206 e 218) e nas contrarrazões (evento 237 - fls. 16/26), ficou inquestionável
que, no contexto da sua atuação como segurança de prostitutas na região da
Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, o réu perseguiu e ameaçou o
ofendido Marciano Pereira de Abreu por imaginar que ele seria a pessoa
apontada como responsável por coagir e intimidar as garotas de programa,
vindo, em seguida, a exigir da vítima Ariadna Bonifácio da Silva o pagamento
de quantias em dinheiro para que ela pudesse trabalhar no ponto de
prostituição por ele monitorado, auferindo, assim, ganhos em proveito da
prostituição alheia.

Assim sendo, as considerações tecidas pelo sentenciante (evento 206 e 218),


aliadas à detalhada análise do conjunto probatório com a descrição da
dinâmica dos fatos nas contrarrazões (evento 237 - fls. 16/26), são mais do
que suficientes para comprovar o que se encontra narrado na peça exordial
acusatória e formar com segurança a convicção no sentido condenatório, não
havendo que se falar em ausência de prova.

Agora, no que refere ao pleito de fixação das penas-base nos mínimos legais
(evento 230 - fls. 37/40 e 42/43), de início, ressalta-se que, no momento da
fixação da pena, ao julgador é conferida pela lei uma margem de
discricionariedade juridicamente vinculada, tanto em relação à variação
quantitativa de sanção indicada pelo tipo penal correspondente, quanto à
motivação da fixação de determinada quantidade. A maior comprovação disto
é o fato de os tipos penais, não só os dispostos no Código Penal como também
os trazidos por leis especiais, não determinarem certa e indiscutível
quantidade de pena a ser aplicada, fixando apenas limites entre o mínimo e o
máximo, variando a pena final de acordo com as circunstâncias do delito e
características do acusado e vítima.

Segundo fundamentações expostas na sentença recorrida, analisadas todas as


circunstâncias judiciais previstas no artigo 69 do Código Penal Militar e
consideradas duas delas desfavoráveis ao réu em relação a cada uma das
imputações, as penas-base foram fixadas em quatro (04) meses para o crime
de ameaça (evento 206) e em dois (02) anos, quatro (04) meses e vinte e seis
(26) dias para o delito de rufianismo (evento 218), ou seja, um pouco acima
dos mínimos legais, que são, respectivamente, de um (01) mês (art. 223 do
CPM) e um (01) ano (art. 230 do CP).

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[...]

Desta forma, totalmente justificável se mostram as elevações de penas-base,


uma vez que o réu coleciona circunstâncias judiciais desfavoráveis, o que, de
fato, não poderia ter sido ignorado no momento da fixação das sanções.

Por fim, no que tange ao pedido de afastamento das agravantes reconhecidas


para cada uma das condenações (evento 230 - fls. 40/42 e 43/44), também não
deve ser acolhido, já que, de fato, os crimes de ameaça e rufianismo foram
cometidos por motivo torpe (art. 70, II, “a”, CPM), em virtude o envolvimento
do acusado no âmbito da exploração sexual, e mediante uso de arma de fogo
(art. 70, II, “m”, CPM), a qual foi empregada em ambas as ocasiões, em
desfavor das duas vítimas, tendo o crime do artigo 230 do CP sido, ainda,
praticado com abuso de poder, já que o réu se aproveitou da sua condição de
policial militar para tirar proveito da prostituição alheia.

[...]

Diante do exposto, não há como se posicionar de acordo com o que foi


pleiteado pelo apelante, motivo pelo qual esta Procuradoria de Justiça opina
pelos conhecimento do recurso interposto pela defesa, rejeição das
preliminares arguidas e seu total desprovimento, mantendo-se integralmente
as decisões de 1ª instância (eventos 206 e 218) que condenaram o Cb PM
LUIS HENRIQUE CALDAS BARCELLAR nas sanções dos artigos 223, caput,
combinado com o artigo 70, inciso II, alíneas “a” e “m”, ambos do Código
Penal Militar, e 230, § 2º, do Código Penal, combinado com o artigo 70,
inciso II, alíneas “a”, “g” e “m”, do Código Penal Militar.

É o relatório.

Ao eminente desembargador revisor.

Desembargador Sócrates Edgard dos Anjos

Relator

Documento eletrônico assinado por SOCRATES EDGARD DOS ANJOS, na forma do artigo 1º,
inciso III, da Lei 11.419. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico https://eproc.tjmmg.jus.br/eproc2g
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Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): SOCRATES EDGARD DOS ANJOS
Data e Hora: 24/11/2023, às 12:39:19

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