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SENETT, R. Prólogo. In: O artífice. 1ed. Rio de Janeiro: Record, 2009, p.

10-
26.

Richard Sennett

Sobre o autor:

Escritor em seu “outono” nesta obra, a qual reflete anos de trabalho num
domínio da caracterização social do mundo pré-moderno, moderno e pós-
moderno. Nascido em 01 de janeiro de 1943, na cidade de Chicago, teve
contato com a música através do estudo do violoncelo e de musicologia na
Julliard. Tendo relacionado-se com Claus Adam e Pierre Monteux. Sua carreira
musical terminou brevemente por conta de uma lesão na mão.

Adentrando no ramo de pesquisa, adentrou nos estudos sociais com a


caracterização de cidades. Este é o seu ramo predominante desde a formação
acadêmica em Sociologia. Porém, adentra principalmente no estudo do homem
inserido nos diferentes formatos das cidades.

Ainda desenvolve trabalhos de pesquisa como hobby utilizando-se dos temas


de música e romances envolvendo música.
Áreas: Sociologia, História, Antropologia.

Temas: cultura material, atividade humana, técnica, tecnologia, ciência, arte.

Conceitos: artífice, cultura material, atividade, técnica, Animal laborens, Homo


faber, pragmatismo, ad personam.

Autores Relacionados: Vergnaud (1999); Vigotsky (); Leontiev (); Jürgen


Streeck (2009); Heidegger (); Ortega (); Benson (1989);

Autores Citados no Texto: Hannah Arendt (1958); Henri Bergson (1932);

Data de Fichamento: 18 de novembro de 2014

Data da Resenha: 25 de novembro de 2014

SÍNTESE

O Artífice (Rio de Janeiro: Record, 2009, 364p.) apresenta-nos uma


concepção desenvolvida durante uma vida de estudos de Richard Sennett
centrando-se o estudo da cultura material. Sociólogo e pesquisador da
atividade humana, inclusive por hobby, Sennett se interessa pela feitura das
coisas e o que as criações representam sobre a sociedade.
O prólogo é essencialmente provocador, pois nos apresenta a própria
natureza humana, na qual nos entendemos. Os apontamentos sobre a
curiosidade e a obcessão diante do desafio sendo contrariados pelo medo da
catástrofe ocasionada pela tecnologia é fatídico não apenas à sociedade
humana atual. Observa-se como o mito em que se centra a discussão indica
como as sociedades da antiguidade grega já discutiam esta natureza. A Caixa
de Pandora é exemplar do funcionamento da curiosidade humana e como
causadora do temor da possível catástrofe.

Outro ponto a que somos dispostos na discussão sobre as criações e a


feitura das coisas é a bipolaridade da sociedade entre pensadores e fazedores.
Centrando-se na sua tutora Hannah Arendt, parte para um avanço das suas
ideias, procurando resolver uma questão nunca bem definida por ela.

Mão e cabeça na criação

Arendt, expressiva pelo seu livro A condição humana, sempre tentava


delinear o papel comunicativo da sociedade, o que é um elemento tão humano
quanto a curiosidade. Porém, afirmava a necessidade de existirem humanos
dispostos a fazer e outros, distintos destes (e até em certo ponto mais
evoluídos), responsáveis por pensar. A comunicação entre os dois grupos seria
ideal ao desenvolvimento da sociedade. Suas ideias circundavam a máxima:
“as pessoas que fazem coisas geralmente não sabem o que estão fazendo”
(SENNETT, 2009, p. 11).

Por este ponto, a noção sobre o papel criador das pessoas em O Artífice
denotado pela cultura material é um passo a frente desta dicotomia do mundo
humano. Em torno da criação, percebe-se como também há o pensamento. A
relação entre a “mão e a cabeça” no “fazer” é comum à todas as atividades
humanas. Nesta avaliação, tanto a feitura mecânica como o pensamento puro
são artificiais. A atividade humana é intimamente ligada à alguma criação (aqui
percebe-se a generalidade do termo criação).

Este é o ponto-chave para compreender o homem como materializador


da sua concepção. Isto o faz componente de uma cultura. Cria dentro desta
cultura; mesmo que o intuito inicial não seja o de fazer cultura. E Sennett
aprofunda-se muito bem neste caráter humano, pois percebe como a criação é
reflexo e causadora da humanidade (assim como a interação é recíproca entre
o indivíduo e a sociedade).

Esta inclinação de pensamento e ação, chamada de atividade


indissociada da mão e cabeça, parece ser promissora no que determina o
avanço tecnológico (uma visão otimista). Não há um ato passivo de
desenvolvimento, mas ações permeadas pelo pensamento e pensamentos que
provém de ações. O verdadeiro estado da vida do homem não se limita a fazer
ou a pensar: o homem possui status quo homem tanto quando se comunica
como quando cria, transformando o mundo e repassando sua criação a ele.

INTERPRETAÇÃO
No percurso do trajeto pela cultura material de Sennett podemos
visualizar relações com ideias outros autores.

Noções aproximadas sobre a relação mão-cabeça são entendidas por


outros autores. A experiência, na forma “perceptivo-gestual”, noção
demonstrada por Vergnaud (2009), fala da forma operante dos conceitos-em-
ação (da cabeça) com significado nas situações. Ou seja, percepções que
precedem e sucedem a ação.

O orgulho pelo trabalho bem feito é uma noção ligada diretamente à


criação, mas vai além da sua existência pura, pois entende os seus reflexos
sociais. Por conta da criação partir diretamente do artífice, existem aspectos
conectivos com a comunidade onde se insere. A comunidade, oficina, trata-se
de uma instituição social influente na criação. Além disso, é parte de
comunidades maiores (cidades, países, etc., chegando à sociedade humana
como um todo). O entendimento dos reflexos sociais da criação apresentam-se
pela ética, a qual é encontrada no “orgulho pelo próprio trabalho” (SENNETT,
2009, p. 328). O pragmatismo oferece uma compreensão parcial sobre onde
está esta ética: “Consiste ele em enfatizar a ligação entre os meios e os fins”
(ibid, p. 329). Ou seja, a ética não deve ser motivo de aprovação ou reprovação
depois da criação já pronta. Diferente disto, a ética é um pensar sobre a
criação e durante a criação, provinda do próprio artífice.

Há uma ligação íntima com a concepção dos estudos CTS,


exemplarmente representada pela catástrofe da criação da bomba atômica
(GODILLOS, 1996; SENNETT, 2009). O artífice de Richard Sennett,
referenciado na imagem de Hefesto, demonstra um compromisso pessoal de
dignidade. A ética é presente nesta dignidade. Hefesto é a imagem do artífice
deformado, mas que se orgulha do seu trabalho; ou seja, entende-se
defeituoso e usa seu trabalho para buscar seu orgulho como ser.

O atributo individual do artífice é seu processo interior de pensar durante


a prática. Este se desenvolve pela prática e pelo pensar sobre ela. Desta
forma, pode ser contestada a visão de Arendt sobre o Animal laborens ser cego
diante do “o que estão fazendo”.

O processo de aprendizagem dos conhecimentos da tecnologia é


descrito por Bazzos et al. (2003). Como um dos pensamentos ligados aos
estudos CTS, sobre tecnologia tratam Bunge (1967) e Mitcham (1994). Em
cinco processos descrevem o desenvolvimento do entendimento sobre a
tecnologia. E o fazer envolve-se intimamente com todas as etapas deste
processo.

Para Bunge (1969), “toda boa teoria tecnológica operativa terá ao menos
vários traços característicos das teorias da ciência” (BUNGE apud BAZZOS et
al., 2003, p. 48).
DISSERTAÇÃO

1. Prólogo

1.1. A natureza humana

O cenário discutido por O artífice é atual, porém é consciente do seu


passado. Principiando pelas raízes do próprio pensamento, o autor oferece
como leitura a sua história. E para o prólogo do livro, trata especialmente sobre
as proposições de Hannah Arendt. Portanto, perpetua parte da discussão do
livro A condição humana, adentrando-se no caráter da atividade humana.

Explorando o seu contexto histórico mais a fundo, o autor busca as


origens dos próprios pensamentos desta sua mestre, fato justificado por conta
de ter sido motivadora de muitas das suas inquietações. Vislumbrou, ainda
cedo, pelo que conta, certa dúvida sobre o que discutiam. Arendt, na opinião de
Sennett, sempre apresentava certa irresolução sobre a atividade de criação
praticada pelo homem. Por causa disto chegava a dizer pouco sobre a cultura
do homem na sua forma material.

Diante dos aspectos históricos da época em que viveu a sua tutora, as


criações representam um período marcado por fatalidades decorrentes do
descontrole sobre elas. Reflexo do aficcionamento da descoberta, surgem-nos
casos exemplares de criações sem precedentes das consequências.

A bomba atômica, as câmaras de gás, e toda a tecnologia da guerra


fizeram milhões de vítimas. A única limitação para seus criadores e
mantenedores eram os limites que logo iriam superar. Obstinados por superar
obstáculos à sua frente, seus esforços recaiam em simplesmente criar algo.
Personificando estes fatos cita-se Robert Oppenheimer, diretor do projeto de
criação da bomba atômica, e Adolf Eichmann, organizador dos campos de
extermínio.

Arendt avançou com uma visão política sobre as novas formas de matar
criadas por estes personagens. Em suma, fala deles como criadores sem
capacidade de compreender o que criavam. Sob as suas concepções falaria: é
eminente a falta do pensamento, que de outra forma imporia limites à
curiosidade e ao trabalho obsessivo. Os criadores não têm consciência dos
perigos da criação.

A conclusão diante destas observações evidencia a maneira como a


sociedade ficou alheia de decidir sobre algo que a afetava. Refletir sobre isto
motiva-nos resolver sobre a existência evidente de uma diferença entre duas
classes de seres humanos. Falamos de criadores, os quais se entregam à
finalidade da tarefa. A decisão que envolve o pensamento sobre a ação caberia
a outro grupo de pessoas, responsáveis por pensar.

Avaliando-se pelas opiniões de Arendt, a sociedade se desenvolveria


continuamente pela discussão entre os grupos de pensadores e fazedores. Os
últimos seriam controlados por aqueles que dominariam o conhecimento. A
estes grupos são atribuidos os termos Homo faber e Animal laborens, como
homens responsáveis por pensar e humanos trabalhadores, respectivamente.

Em primeira consideração, a colocação menospreza a possibilidade de


pensar daqueles homens e mulheres trabalhadores. A falha de tal divisão
social-política é evidente por desconsiderar o pensamento envolvido no
trabalho. A conclusão de tal noção sobre as atividades de criação nos leva a
considerar que os humanos trabalham movidos por mera configuração,
movendo-os a repetir processos de trabalho de modo infindável e sem reflexão.

No mínimo pode nos parecer uma forma muito artificial de trabalho,


estirpada de qualquer intuito criativo e motivador. E assim, não é abuso dizer
que esta forma de trabalho desconsidera a própria natureza humana.

Esta visão se referencia e corresponde aos ideais de escritos do


Renascimento e também por Henri Bergson, à psicologia, de acordo com
Sennett. No entanto, a associação é descuidada por igualar os ideais da tutora
aos dos nomes citados.

Para cada período histórico citado, entre Renascimento, Henri Bergson e


Hannah Arendt houve um pensamento social-político para o trabalho como
atividade manual e baseada naquilo que é produzido. Nesta visão o homem
nos parece comparado prontamente com uma máquina. Porém, julgar que
estes pensadores avaliavam a sociedade humana apenas por estes dois
aspectos é um equívoco. A avaliação deve ser mais aprodundada.

Voltando a atenção aos trabalhos da tutora Arendt, há claro indício de


que são resultado de um momento histórico pontual. As suas reflexões
refletem-se nos “fazedores sem limites do pensamento”. A herança deste
pensamento, porém pode ser entendida por outro viés: há necessidade do
pensamento permear as ações humanas. Eis o ponto de partida para entender
a criação.

Especialmente através de Bergson, sua obra avança extensivamente


pela caracterização da intuição, da criatividade e da relatividade do tempo e do
espaço. O caráter perceptivo, ou seja, o contato com o ambiente é abordado
por ele como a essência da capacidade de pensar. Se não uma interpretação
forçada, utilizando-se do escrito no prefácio de Sennett, nota-se como ambos
os escritores se aproximam da caracterização da atividade humana, tanto em
fazer como em pensar. Apenas distinguem em suas épocas.

Há em ambos uma parcela de pensamento homérico, aprender


experimentando o mundo, apesar de Bergson adentrar por questões mais
aprofundadas do próprio pensamento, e Sennett pelo que a sociedade humana
cria diante dos conhecimentos adquiridos.

Quanto ao caráter que acessa a capacidade de adquirir conhecimentos,


estes pensamentos atuais. Exemplarmente, confluem com Gerard Vergnaud
(correlacionado ainda com as ideias de Piaget e Lev Vigostky) diante da
reflexão sobre esta experimentação define a capacidade de pensar sobre algo
(Vergnaud, 2009).

Pode-se ainda entender a atividade humana mais a fundo diante de


aspectos descritos por Paulo Freire. Dois conceitos parecem associar-se com
Sennett. Quando se fala de dialogicidade do educador, procura-se entender
uma forma de acessar o mundo do aprendiz para que aprenda. E a
problematização, posterior à superação da visão acrítica e ingênua do mundo,
o aprendiz chega à possibilidade de utilizar o que aprendeu para resolver
problemas gerais, científicos e de seu cotidiano. Portanto, em outras palavras:
ter experimentado, refletir, pensar e experimentar de outra forma. Tudo isto
envolve o “fazer”.

Apresentados tais pontos de confluência, cabe reforçar que O Artífice


em seu prefácio analisa a própria natureza humana. Ainda mais, demonstra por
casos exemplares os resultados da curiosidade e da criação, mas também do
medo diante dos seus descontroles.

Sennett utiliza da metáfora mítica da Caixa de Pandora e ainda aponta


para o papel que o ser humano pode desempenhar diante da curiosidade, algo
que beira a inocência. Não apenas o exemplo de Pandora, como também do
mito de Adão e Eva, e outros exemplos mais próximo ao nosso mundo atual
nos demonstram a justificativa para o temor diante da curiosidade humana.

Tememos a tecnologia quando suas descobertas nos parecem


obscuras, chegando ao ponto deste medo nos paralisar. Parados não criamos,
não desenvolvemos, nem questionamos. A evolução do pensamento parece
acompanhar o mesmo engajamento em criar. E sem as criações o pensamento
também não progride. Portanto, ainda que aparente nocivas, a noção de algo
ser nocivo provém da reflexão sobre a criação.

A história contada exemplifica muito bem a natureza humana no que


trata sobre a curiosidade. Também é representativa da forma humana de lidar
com o desafio, considerando hesitações ou obstinações quando somos
expostos à curiosidade. Mais uma vez, um caráter confluente com conceitos
desenvolvidos por Vegnaud. Em suma, todas estas características diante da
atividade humana envolvem objetivos. O ato de cumprir com êxito a atividade é
a demostração da capacidade de cumpri-los; e ainda mais, superar os
momentos de hesitação diante de problemas e ainda poder inferir sobre os
resultados. Tudo para no final “fazer” algo. É de tal forma que as receitas de
bolo, métodos científicos, construções permeadas dos mais diversos
problemas de engenharia, todos, envolve alguma criação.

Bergson, como já retratado, defendeu a ideia de que para adquirir


conhecimentos e também de desenvolvê-los pelo pensamento depende-se da
experimentação. E a esta atribuia como significante no desenvolvimento
mecânico do homem, do fazer algo. Desde a obra Criative Evolution até ter
escrito Philosophy of Life, Bergson foi um filósofo engajado no estudo da
evolução humana. Chegou às conclusões que são válidas inclusive ao que se
observa no artífice de Sennett; sobre a natureza da vida humana, o seu ciclo e
os objetivos e objetos das criações.

Qualquer escrito de ambos oferece indício de negação ao finalismo de


uma criação; nada que é criado termina quando fica pronto, se pensado sobre
o aspecto da sociedade humana. O mesmo é visto em Arendt, quando fala de
que nem mesmo pelo diálogo entre o pensar e o fazer consegue-se a solução
definitiva; aliás, ela nunca existirá. Tanto o intelectualismo, permeado pela
razão pura, como a criação obcessiva, existente pelo trabalho puro, são falhos
diante da evolução. E por esta causa são insuficientes para compreender a
natureza humana.

Em suma, Sennett, Bergson e Arendt tem suas visões pautadas na


evolução humana. Apesar de abordagens diferentes, o desenvolvimento de
suas concepções, contextualizados à atualidade resultam num mesmo rumo de
desenvolvimento: a criação e o pensamento evoluem em conjunto.

Acabam por confirmar a natureza humana, e tomam por base os


princípios de que todo homem possui curiosidade e medo. As emoções
trabalham como variáveis dependentes do ambiente, o que gerará momentos
de hesitação, ação e reflexão. Estes últimos são mensuráveis pelo que a
criação faz surgir em material.

O resultado material seria ponto de apoio ao estudo da própria


sociedade humana. Reflexo das atividades, surge o que podemos chamar de
cultura. Esta cultura é consequência dos conhecimentos aplicados em
diferentes épocas, existente, portanto, na criação. A cultura material é objeto de
estudo representativo sobre a própria sociedade.

1.2. Sobre materialismo

Como princípio de um projeto, o prólogo introduz-nos a três livros. Por


meio dele Sennett nos quer apresentar os diversos aspectos da cultura
material. Claramente isto nos levará à análise da própria natureza humana,
criadora, como referido no prólogo.

O primeiro livro fala sobre o fazer bem as coisas. O segundo livro é


especialmente destinado a apontar as atividades fanáticas de transformação da
sociedade, exemplarmente a partir da fé e do fanatismo. O terceiro fala sobre
as transformações das sociedades marcadas pelo seu ambiente de vivência.

Deve-se atentar como o estudo das cidades foi aprofundado por Sennett
durante toda a sua vida, inclusive por motivações pessoais. Marco do trabalho
de uma vida, o autor aborda princípios geradores e mantenedores da
sociedade no material que gera. Observando as características do indivíduo em
sua relação com a cultura, consegue-se estabelecer a correspondência de um
pensamento em comum de todos os indivíduos de uma sociedade, ou seja, o
agrupamento de suas individualidades geradoras do ambiente de vivência. Isto
é claro pelo que representa a cultura material tanto sobre o indivíduo como
sobre a sociedade, a exemplo das cidades. Este é um ponto de partida do que
nos descreve em O Artífice, mas também nos outros dois livros.

Sobre o último livro, uma breve discussão. Vê-se a ideia de


tranformação da sociedade pela transformação do ambiente. No exemplo das
cidades, vê-se os reflexos disto nas representação materiais: prédios, ruas,
lojas, vestimentas das pessoas, autmóveis, etc.. E esta cultura material será
será representativa dos seus habitantes durante certa época. Ao passo do
tempo, muitas de suas criações tornam-se obsoletas diante de novas
atividades. Apesar disso, não há exatamente a destruição de tudo o que é
antigo para dar lugar às novas materializações da cultura. Normalmente, neste
caso exemplar e cotidiano, a cultura material do passado toma novas
concepções diante dos seus novos habitantes. As transformações ocorrem
inclusive nos indivíduos e de forma biunívoca. Ou seja, a atividade de criação
discutida no primeiro livro será causa e consequência de acontecimentos da
própria sociedade; o ambiente do terceiro será influente e influenciado pelo
indivíduo. Logo ao início, quando se fala do primeiro livro, aponta-se nesta
opinião de influência mútua. Ainda que a sociedade não ofereça campo
motivador e capacitador, como seria o caso de explicitamente ocorrer pela
educação, as pessoas fazem algo. Cabe investigar então como acertar os
intuitos educadores para que o indivíduo aprenda a fazer melhor diante da sua
concepção, curiosidade e motivação, e ainda mais, transforme ou forme o seu
ambiente, assim como tenha ciência de como ele o transforma. A postura
aparenta ter que deixar de ser ingênua e alheia entre o indivíduo e a
sociedade.

Tratando sobre o materialismo da cultura, temos certa escolha assertiva


do termo, mas que pode nos levar a interpretações ambíguas que não
representariam exatamente o significado utilizado em O Artífice. Evocando a
filosofia apropriada para se analisar Sennett, parece-nos muito que Bergson
aproxima-se do conceito de materialismo.

Pode aparentar que o materialismo seja apropriado a descrever ideais


capitalistas. O materialismo de Marx, como até mesmo aponta Sennett. No
entanto, aqui dá significado à importância da criação material como
materialização da atividade humana. O artífice coloca a sua cultura no que faz.
No outro aspecto, o capitalismo representa a transformação do material em
valor. Se por este ponto de vista, a cultura material seria na verdade
materialização do capital.

A diferença entre ambos é significativa pondo-se lado a lado o


materialismo cultural e o capital. A criação cultural é passível de ser acolocada
em termos de discussão independente do valor capital. E as considerações
sobre o capital, ou seja, sobre o valor atribuído à cultura, por enquanto, nos
foge à discussão.

Sobre a cultura mateiral, então, por causa do significado apropriado


pelos dois escritores em seus escritos nos dizem que o material é
representativo da atividade do pensamento humano. Os humanos fazem,
portanto transformam a matéria e criam de acordo com a sua concepção.
Assim são desde as atividades primordiais e diretamente ligadas à
sobrevivência, então cozinham, plantam, criam seus animais, constroem suas
casas, etc.; e da mesma forma criam materiais durante atividades
aparentemente não ligadas diretamente à sobrevivência, mas ainda parte da
natureza criativa e curiosa dos humanos. Tudo isto podemos tratar como
cultura material.

Em alguns pontos de vista das ciências sociais ver-se-á ignorada a


concepção mais geral de criação como cultura. Para tais autores que se
apropriam destas ideias, restringe-se atividades classificadas como cultura
humana para que correspondam àquelas que não apresentam finalidade em si.
Nesta visão, configura-se cultura como aquilo que é criado para que exista
como tal, consciente deste objetivo. Porém, esta própria definição é vaga;
parece até nos afastar da visão global e externalizada do objeto de cultura
quando exposto ao mundo. Parece datar da mesma época que ideias sobre
arte expostas no século XVIII. Os potes cerâmicos indígenas datados de
milênios longe da atualidade nos pareceriam tão aculturados como a arte
serigrafada, dadaísta, etc.. O século XX nos parece resolver tal questão,
apesar de que a discussão se prolonga muito além destas poucas palavras.

Sob O Artífice observamos uma opinião mais branda e conciliadora (e


também mais atual) entre ambos os aspectos da cultura material: os materiais
são representativos da sua feitura, ação e pensamento materializados. Assim,
somos levados a considerar qualquer criação humana como uma
representação de sua cultura.

Por estas noções, os materiais nos apresentam as formas de criar


ocorridas em diferentes momentos históricos e de cada grupo social humano.
Alcançamos inclusive as origens das próprias atividades de criação atuais.
Arte, ciência ou teknè (a técnica), todas possuem finalidades baseadas no
sucesso em certa atividade de criação. Eis então o objetivo do primeiro livro.

1.2.a. Desmoralização social do trabalho do artífice

%Perspectivas de desenvolvimento pessoal pela sociedade: partindo da


valorização dos fazedores como fazedores da própria cultura material,
chegando a supravalorização do pensamento como unidade e a
desmoralização do trabalho como atividade não mais do que maquinal.

%O lucro pessoal é determinado pelo lucro capital?


%O lucro pessoal é determinado pelo lucro da sociedade?

%Para que existirem notas escolares ou dinheiro?

%Para que trabalhar por um bem maior (grupo social) se o resultado


atrasa a evolução do indivíduo?

1.2.b. Capacitação na habilidade contra praticidade

1.2.c. A finalidade correta

1.3. O positivismo e seu empirismo

%De onde parte o questionamento do homem;

%Superação da visão ingênua;

%A superação da visão ingênua como melhor percepção não significa


capacitação analítica.

%Capacidade de solução de problemas;

1.4. Sobre problemas

1.4.a. Solução de problemas de engenharia

1.4.b. Solução de problemas “ad hoc “

1.4.c. Solução de problemas de valor

1.4.d. Solução de problemas científicos e suas origens


1.5. Pragmatismo

%A visão ambígua, imparcial e equilibrada dos fatos: a linguagem


humana.

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