Você está na página 1de 41

ANILDO FABIO DE ARAUJO

ADVOGADO E TÉCNICO PROCESSUAL


DO MPDFT/MPU

DISTRITO FEDERAL

PECULIARIDADES

CAPINÓPOLIS
1999
1 - CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO DISTRITO
FEDERAL:

INTRODUÇÃO:

Com a Proclamação da República, o Governo Provisório, seguindo o


modelo norte-americano, transformou o Município Neutro em Distrito Federal
- Capital da União -, através da “Constituição dos Estados Unidos do Brasil,
de 1890”. Desde a Constituição Federal, de 24 de janeiro de 1967, o Distrito
Federal é consagrado como unidade da Federação, constituindo a união
indissolúvel da República Federativa do Brasil.

Com a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, o Distrito Federal


passou a ter autonomia administrativa, legislativa e financeira, embora de
forma mitigada. Em face do novo Texto Constitucional, o Distrito Federal
tornou-se um ente federativo de posição intermediária entre os Estados e os
Municípios, pois tem Poderes próprios (Executivo e Legislativo); competência
legislativa e tributária de ambos; o Chefe do Executivo é o Governador e não
mais Prefeito; o Poder Legislativo é denominado Câmara Legislativa do
Distrito Federal (nos Estados: Assembléia Legislativa; nos municípios:
Câmara Municipal); etc.

Com relação ao controle de constitucionalidade no Distrito Federal,


houve um tratamento especial na Constituição Federal de 1988, com grande
evolução, especialmente do controle concentrado. Entretanto, pode ser
observada a falta de previsão constitucional expressa quanto ao direito
distrital, no art. 102, inciso I, letra “a”, da CF/88, bem como da legitimidade
ativa do Governador e da Mesa da Câmara Legislativa do Distrito Federal, nas
disposições do art. 103, incisos IV e V, especialmente.

O Governador do Distrito Federal também tem buscado efetivar o


controle abstrato de constitucionalidade de normas distritais perante o
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (Arguição de
Inconstitucionalidade, processo nº 1998.00.2.000307-0, Rel. Des. Vaz de
Mello, referente à Lei nº 1.152/96).

COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:


O STF é o Guardião da Constituição Federal. O Tribunal tem
entendimento permissivo ou ampliativo quanto à ADIn sobre o direito distrital
(de caráter estadual, regional: competência legislativa estadual) e a
legitimidade do Governador do Distrito Federal e da Mesa da Câmara
Legislativa distrital para o exercício do controle concentrado perante a Corte
Suprema. Entretanto, quanto às normas distritais "municipais", de âmbito ou
interesse local, o STF possui entendimento restritivo, não realizando o
controle concentrado, por impossibilidade jurídica do pedido, ainda que
aprovada pelo Senado Federal, no âmbito da competência residual prevista no
art. 16 do A.D.C.T., e sancionada pelo Governador do Distrito Federal (ADIn
nº 209, Rel. Min. Sydney Sanches, referente à Lei Distrital nº 54/89,
reguladora do parcelamento e do aproveitamento do solo urbano).

O Governador do Distrito Federal tem exercido, diretamente, a sua


legitimidade ativa (ADIn nº 645-2, Rel. Min. Ilmar Galvão; ADIn nº 665-7,
Rel. Min. Octavio Gallotti). Em outra ocasião, requereu a propositura de
ADIn ao Procurador-Geral da República (ADIn nº 549-9, Rel. Min. Carlos
Velloso).

Quanto ao controle de constitucionalidade de normas do Distrito


Federal, tem se pacificado que ao Supremo Tribunal Federal compete
processar e julgar:
a) a ADIn Federal de dispositivo(s) da Lei Orgânica do Distrito Federal que
contrapõe(m)-se à Constituição da República. Várias são as ADIn’s cujo
objeto é disposição da Lei Orgânica local, em tramitação perante a Corte
Suprema, como a ADIn n. 1.020-4, Rel. Min. Ilmar Galvão, que declarou
inconstitucional os §§ 3º e 4º, do art. 103, da LODF (vedação quanto à
prisão cautelar do Governador e irresponsabilidade deste por atos estranhos
ao exercício de suas funções). Cabe ADIn Federal inclusive de dispositivo
do Ato das Disposições Transitórias da Lei Orgânica do Distrito Federal
(ADIn nº 980-0, Rel. Min. Celso de Mello);
b) a ADIn Federal de Emenda(s) à Lei Orgânica do Distrito Federal,
contrária(s) à Constituição Federal (ADIn nº 1.557-5, Rel. Min. Octavio
Gallotti, proposta pela Associação Nacional de Procuradores de Estado-
ANAPE contra a Emenda nº 09/96, da Lei Orgânica do Distrito Federal,
aprovada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal-CLDF. A medida
liminar foi deferida, estabelecendo: 1) A atuação da Procuradoria Geral da
CLDF é restrita aos casos em que a CLDF esteja em juízo em nome
próprio; 2) suspendeu o inciso V, § 1º, do art. 57, da LODF - acrescentado
pela Emenda nº 09/96; e 3) suspendeu o art. 111 - expressão “no âmbito do
Poder Executivo”. A Emenda à Lei Orgânica do Distrito Federal nº 14/97
modificou a Emenda 09/96.
c) a ADIn Federal de lei ou ato normativo do Distrito Federal, especialmente
o(a)s aprovado(s)(as) pela Câmara Legislativa do Distrito Federal ou pelo
Senado Federal (lei aprovada antes da instituição da CLDF: art. 16,
A.D.C.T.), em face da Lei Suprema Federal, quando a matéria regulada ou
regulamentada for de âmbito, caráter ou alçada estadual, ou seja, tutelando
assunto regional (competência legislativa estadual), tais como impostos
estaduais (ICMS, IPVA, ITCD). Destaco a ADIn nº 1.592-DF, Rel. Min.
Moreira Alves, Medida Cautelar, que suspendeu a eficácia da Lei Distrital
nº 1.407/97, que determina a colocação de placas de sinalização antes de
toda e qualquer barreira eletrônica implantadas nas vias do Distrito Federal,
informando a existência desta e a velocidade máxima permitida na via;
d) a ADIn de lei federal, aprovada pelo Congresso Nacional, que regule órgão
ou dispõe sobre o Distrito Federal (lato sensu): ADIn nº 517-1, Rel. Min.
Moreira Alves, referente ao art. 38, da Lei nº 8.185/91 (Lei de Organização
Judiciária do Distrito Federal e dos Territórios);
e) a Representação Interventiva Federal, proposta pelo Procurador-Geral da
República, visando a observância dos princípios constitucionais sensíveis,
com intervenção da União, desde que presente os pressupostos de
admissibilidade (arts. 34, VII , e 36, III, CF/88);
f) o Recurso Extraordinário, nas hipóteses previstas no art. 102, inciso III, da
Constituição da República. Cabe ressaltar que a decisão do Supremo
Tribunal Federal, proferida em recurso extraordinário de ação direta de
inconstitucionalidade julgada por Tribunal de Justiça, tem eficácia geral,
contra todos, erga omnes, por se tratar de controle concentrado de
constitucionalidade, ainda que a via do recurso extraordinário seja própria
do controle difuso, eficácia esta que se estende a todo o território nacional
(RE nº 187.142-RJ, Rel. Min. Ilmar Galvão. Questão de ordem suscitada
pelo Min. Moreira Alves).
g) a Reclamação para a preservação de sua competência e garantia da
autoridade de suas decisões, nos termos do art. 102, inciso I, letra "l", da
Lei Maior.

A JUSTIÇA NO DISTRITO FEDERAL:

A Lei Orgânica do Distrito Federal não dispõe sobre o Judiciário local,


que é órgão da União (art. 21, inciso XIII, da Constituição Federal). A
competência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios e dos
juízes locais é regulada por lei federal (Lei de Organização Judiciária - Lei nº
8.185, de 10 de maio de 1991), aprovada pelo Congresso Nacional, nos termos
do art. 22, inciso XVII, CF/88. Nem o Texto Federal, nem a citada lei de
organização judiciária previram ADIn Distrital ou Territorial, ou seja, não há
previsão expressa, clara, quanto ao controle abstrato, concentrado, das normas
do Distrito Federal em face da Constituição Federal, muito menos quanto à
Lei Orgânica distrital. Atualmente, apenas o Supremo Tribunal Federal pode
realizar o controle abstrato das normas do Distrito Federal, de âmbito regional,
tendo como parâmetro de controle apenas a Constituição Federal (art. 102,
inciso I, letra "a").

As funções essenciais à Justiça, no Distrito Federal, possuem certas


peculiaridades, diferindo da estrutura estadual, já que o Distrito Federal não
possui Poder Judiciário (o Tribunal de Justiça e os juízes de Direito são da
União); o Ministério Público também é da União; e a Defensoria Pública,
igualmente, é instituição da União, nos termos dos arts. 128, inciso I, letra "d",
e 134, parágrafo único, ambos da Constituição Federal. Assim, compete à
União, e não ao Distrito Federal, organizar e manter o Poder Judiciário, o
Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios
(art. 21, inciso XIII, da Lei Maior). No exercício da sua competência
legislativa, a União já publicou as leis complementares e ordinárias que
regulam estes órgãos. Quanto à Procuradoria do Distrito Federal, esta é
organizada e mantida pelo Distrito Federal, estando vinculada ao Poder
Executivo, nos termos do art. 132, da Constituição Federal (mesmo com a
Emenda Constitucional nº 19/98), que, na prática, realiza, também, as funções
da Defensoria Pública do Distrito Federal (Assistência Judiciária). Esta, apesar
de regulada pela Lei Complementar nº 80/94 (arts. 52 a 96), ainda não foi
regularmente implantada pela União.

O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE:

O STF e os Tribunais de Justiça podem efetuar o controle concentrado e


difuso da constitucionalidade das leis. O Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e Territórios e os juízes locais, bem como os demais juízes e tribunais
situados ou não no Distrito Federal, podem, através do controle difuso,
incidental, declarar (TJDFT e demais tribunais: art. 97, CF/88) ou reconhecer
(juízes e Turma Recursal) a inconstitucionalidade de norma distrital, de caráter
regional ou local, bem como de normas federais ou estaduais
Os Tribunais de Justiça dos Estados possuem competência expressa para
o controle incidental ou difuso (art. 97, CF/88), bem como para o direto,
concentrado, abstrato ou pela via da ação (art. 125, § 2º da Constituição
Federal). As Constituições Estaduais também consagram o controle de
constitucionalidade pela via da ação, inerente à competência originária, e não
como processo incidente, como previsto nos arts. 206 a 209 do Regimento
Interno do TJDFT.

Em conformidade com o art. 97, da CF/88, os Tribunais consagram o


controle difuso de constitucionalidade de normas, prevendo em seus
regimentos o incidente processual próprio, de competência do Tribunal Pleno
ou do órgão especial, onde é declarada a inconstitucionalidade ou reconhecida
a constitucionalidade da norma impugnada. Neste sentido: arts. 11, IX, 199 e
200, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça; e arts. 7º, VI, 169
e 170, do Regimento Interno do TRF-2ª Região1.

No controle concentrado, os Tribunais de Justiça não podem declarar a


inconstitucionalidade tendo como parâmetro de controle a Constituição
Federal. Somente o STF está autorizado constitucionalmente a efetivar o
controle concentrado usando como parâmetro a Lei Maior. O STF é o
guardião da Constituição da República. Mesmo que fosse competente para o
controle concentrado, o TJDFT deve ter como parâmetro apenas a Lei
Orgânica distrital. Caso o Tribunal de Justiça (estadual ou do Distrito Federal
e dos Territórios) realize o controle concentrado, tendo como parâmetro a
Constituição Federal, cabe aos interessados apresentarem Reclamação perante
o Supremo Tribunal Federal, na forma do art. 102, inciso I, alínea "l", da
Constituição da República.

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios pode declarar


a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público - distrital,
territorial, estadual ou federal, por exemplo -, mediante incidente de
Declaração de Inconstitucionalidade (arts. 480 a 482, do CPC),
regimentalmente denominado de Argüição de Inconstitucionalidade (arts. 206
a 209, do Regimento Interno do TJDFT), de competência do Conselho
Especial (art. 97, CF/88; arts. 8º, VI, 207 e 208, do Regimento Interno do
TJDFT2). Declarada a inconstitucionalidade pelo STF ou pelo Conselho
Especial do TJDFT, as Câmaras ou as Turmas poderão reconhecê-la em outros
1
Com redação dada pela Emenda Regimental nº 14, de 27 de agosto de 1998. Publicada no Diário da Justiça,
Seção 2, dia 11.09.98, ps. 182/196.
2
Publicado no Diário da Justiça, Seção 3, dia 08.04.97.
casos, sendo desnecessária a reiteração do incidente perante o Conselho
Especial (art. 209, do RITJDFT). Esta declaração de inconstitucionalide se faz
no âmbito do controle difuso, incidente ou concreto de constitucionalidade e
não no controle abstrato, direto ou concentrado, como tem ocorrido.

Até a concessão de liminar (ADIn nº 4/97, Rel. Des. Vasquez Cruxên;


Argüição de Inconstitucionalidade, processo nº 1998.00.2.001997-8, Relª.
Desª Nancy Andrighi3; etc.), a princípio, é imprópria, pois o incidente
processual de Argüição de Inconstitucionalidade, regulado pelos arts. 206 a
209 do Regimento Interno, não prevê tal medida. Face a impossibilidade
jurídica do pedido (declaração direta de inconstitucionalidade), o pedido
acessório (medida liminar ou cautelar) fica prejudicado.

Apesar dos equívocos iniciais, o Conselho Especial do TJDFT tem


evoluído. Recentemente, o órgão inadmitiu, por maioria, Ação Declaratória
de Constitucionalidade proposta pelo Procurador-Geral de Justiça do Distrito
Federal e Territórios (processo nº 1998.00.2.002157-2, Rel. Des. Getúlio
Moraes Oliveira. Publicado no Diário da Justiça, Seção 3, dia 14.10.98, p. 23).
Esta ação constitucional está magnificada apenas no âmbito federal (art. 102,
inciso I, letra "a", in fine, CF/88, com redação dada pela Emenda
Constitucional nº 03/93).

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, através do


Conselho Especial (órgão especial), tem admitido as ações diretas de
inconstitucionalidade propostas pelo Procurador-Geral de Justiça do
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Diversamente entendo
que tais ações contrariam os princípios supremos do Estado de Direito, da
Legalidade, da autonomia do Distrito Federal (art. 18, CF/88), do pacto
federativo e do devido processo legal, além de não preencher uma das
condições da ação, qual seja, a possibilidade jurídica do pedido. Cabe
ressaltar, ainda, que o TJDFT carece de competência constitucional e legal
expressa para o exercício do controle abstrato de constitucionalidade das leis
distritais, territóriais e federais. O exercício do controle difuso pelo Tribunal
de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios já está assegurado
constitucional (art. 97, CF/88) e infraconstitucionalmente (Lei de Organização
Judiciária do Distrito Federal e Regimento Interno do TJDFT).

A previsão do art. 8º, inciso VI, do Regimento Interno do TJDFT refere-


se apenas ao controle difuso de constitucionalidade. A norma interna corporis
3
Publicada no Diário da Justiça, Seção 3, dia 15.09.98, p. 141.
não consagra as ações relativas ao controle abstrato. A Argüição de
Inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do Poder Público, prevista no
art. 206 e seguintes do citado Regimento Interno é um incidente processual e
não ação originária ou principal, destinando-se ao controle difuso e não ao
controle concentrado, que é realizado através das ações diretas de
inconstitucionalidade (genérica ou por omissão) ou ações declaratórias de
constitucionalidade. Assim, o Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (Procurador-Geral de Justiça) e o Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios (Conselho Especial) estão equivocados. As ações
propostas desvirtuam o sistema de controle. O meio utilizado (Argüição de
Inconstitucionalidade) é impróprio ao fim a que se destina, ferindo
frontalmente os princípios da legalidade e do devido processo legal.

A Argüição de Inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder


Público, prevista nos arts. 206 usque 209 do Regimento Interno do TJDFT, é o
mesmo instituto processual previsto nos arts. 480 usque 482 do Código de
Processo Civil em vigor. Este instituto processual ("Da Declaração de
Inconstitucionalidade") é inerente ao controle difuso ou incidental. A sua
utilização como meio de controle concentrado ou direto, é imprópria e
desvirtua todo o sistema que vem sendo construído no país desde a
Proclamação da República. O desvirtuamento do incidente, apesar dos nobres
anseios que o rodeiam, está em desconformidade com a Constituição Federal e
com a legislação em vigor.

Nos termos do art. 36, inciso IV, da CF/88, cabe representação


interventiva federal, proposta, também, pelo Procurador-Geral da República
(art. 48, I, da Lei Complementar nº 75/93), perante o Superior Tribunal de
Justiça, no caso de recusa à execução de lei federal pelo Distrito Federal (art.
312, III, do RISTJ).

Os arts. 8º, I, “l”, e 146, do RITJDFT, regulam a representação para fins


de intervenção federal no Distrito Federal, destinando ao Conselho Especial
do TJDFT a competência para seu regular processo e julgamento.

Cabe relembrar a competência do TJDFT para a representação


interventiva federal (da União) em face de Município localizado em Território
Federal, de competência originária do Conselho Especial, sendo atribuição do
Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios propor esta ação,
nos termos do art. 35, IV, CF/884.
4
Ver artigo de minha autoria, publicado na Revista de Informação Legislativa do Senado Federal nº 135, Ano
DA LEGITIMIDADE ATIVA DO PROCURADOR-GERAL DO
DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS:

O Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios tem


proposto, perante o Conselho Especial do TJDFT, algumas "representações"
visando a declaração da inconstitucionalidade de leis distritais (ADIn nº 1/95,
Rel. Des. Estevam Maia; ADIn nº 2/96, Rel. Des. Estevam Maia; ADIn nº
3/97, Rel. Des. Eduardo Moraes Oliveira; ADIn nº 4/97, Rel. Des. Vasquez
Cruxên; etc.).

A legitimidade ativa do Ministério Público, leia-se Procurador-Geral de


Justiça, para promover ações de inconstitucionalidade ou representação para
fins de intervenção da União é pacífica, nos termos do art. 129, inciso IV, da
Constituição Federal. O Conselho Especial do egrégio Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios já consolidou seu posicionamento quanto à
legitimidade ativa do Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e
Territórios. Vejamos a ementa do processo nº 1998.00.2.002328-0, Rel. Des.
Nívio Gonçalves, publicada no Diário da Justiça, dia 09.12.98, p. 42:

“CONSTITUCIONAL. CONTROLE ABSTRATO DA


CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS NO DISTRITO
FEDERAL. ADMISSIBILIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DO
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL
E TERRITÓRIOS PARA PROPOSITURA DA AÇÃO. PEDIDO
LIMINAR DEFEGADO.
I - O controle de constitucionalidade representa garantia do Estado
Democrático Brasileiro, que tem por fundamento uma Constituição
escrita e rígida, à qual todos devem guardar estrita observãncia e
obediência. Nesse diapasão, somente um efetivo controle, através
dos mecanismos estabelecidos no próprio texto constitucional, seria
capaz de assegurar a supremacia da Constituição e,
conseqüentemente, a cidadania, como um dos fundamentos da
República Federativa do Brasil.
II - Se pode propor ação direta de inconstitucionalidade, na esfera
federal, dentre outros, o Procurador-Geral da República, por ser o
chefe do Ministério Público da União (art. 45, LC nº 75/93), é
paralelamente legitimado, na esfera distrital, o Procurador-Geral
de Justiça, por ser o chefe do Ministério Público do Distrito Federal
34, ps. 137/140.
e Territórios (art. 155, LC nº 75/93).
III - Liminar denegada, tendo em vista a complexidade da matéria
versada nesta ação que, no mínimo, pro cautela, exige a obtenção e
o aperfeiçoamento de um adequado conjunto probatório.”

Todavia, apenas a legitimidade ativa do Procurador-Geral de Justiça do


Ministério Público do Distrito Federal e Territórios não é suficiente para a
realização do controle de constitucionalidade das normas distritais. As demais
condições da ação devem ser preenchidas, sob pena de indeferimento da
petição inicial ou de extinção do processo, a qualquer tempo, de ofício ou
mediante requerimento, nos termos da legislação processual civil em vigor. O
art. 158, da Lei Complementar nº 75/93 estabelece que o Procurador-Geral de
Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios exercerá
suas funções perante o Plenário (Conselho Especial) do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios, propondo as ações cabíveis. Para o
desenvolvimento válido e regular do processo, nas ações diretas de
inconstitucionalidade, faz-ne necessário averiguar, também, a competência do
juízo. Inexistindo prévia e expressa competência ratione materie, deve ser
reconhecida, pelo juízo em que foi proposta a ação a sua incompetência. Esta
competência, por ser absoluta, pode ser reconhecida de ofício pelo órgão
julgador, a fim de não ensejar nulidade absoluta do processo.

DIVERGÊNCIAS:

Quanto ao controle abstrato das normas distritais, todavia, existe um


corrente de juristas que entendem que basta uma Emenda à Lei Orgânica do
Distrito Federal para que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos
Territórios realize, regularmente, o controle abstrato das normas distritais em
face da Lei Orgânica distrital, mediante ações diretas de inconstitucionalidade.
Humildemente compreendo que somente o legislador federal (constituinte ou
ordinário) pode dispor sobre o assunto, pois o Poder Judiciário do Distrito
Federal é organizado, mantido e regulado pela União e não pelo Distrito
Federal. O Distrito Federal não pode legislar sobre a matéria (Direito
Processual), que é da competência privativa da União, nos termos do art. 22,
inciso I, da Constituição Federal. A Câmara Legislativa do Distrito Federal
não pode dispor sobre órgãos judiciários que não lhe pertencem, muito menos
sobre o controle direto de constitucionalidade das normas distritais perante o
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. O Legislativo distrital
não pode dispor sobre órgãos que não estão subordinados ao Distrito Federal.
Este, como os municípios, só possui Poder Executivo e Legislativo, e não
pode estabelecer normas sobre a competência do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios e seus juízes e atividades. Ao Poder
Legislativo distrital carece competência legislativa para dispor sobre a
jurisdição e as atribuições dos órgãos judiciários situados no Distrito Federal.

Contudo, a Câmara Legislativa do Distrito Federal pode prever, como já


fez (art. 60, inciso XIX, da Lei Orgânica distrital), a suspensão, no todo ou em
parte, da execução de lei ou ato normativo distrital declarado ilegal ou
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios, nas suas respectivas áreas de competência,
em decisões transitadas em julgado. Esta suspensão é instrumento do controle
difuso. A suspensão pelo Parlamento estende a todos (com eficácia geral, erga
omnes) os efeitos da decisão judicial proferida no caso concreto.

Assim, o controle direto (abstrato ou concentrado) de


constitucionalidade de leis e atos normativos do Distrito Federal, em face da
Lei Orgânica Distrital é objeto de grande divergência e confusão entre os
juristas brasileiros, especialmente entre os que lidam com o Direito do Distrito
Federal. Atualmente a Lei Orgânica não é parâmetro para o controle abstrato
nem perante o STF, visto que este é o Guardião da Constituição Federal (art.
102, CF/88).

O legislador federal poderia consagrar o controle abstrato das normas


distritais e territoriais, consagrando expressamente ações judiciais de
competência originária do TJDFT (Conselho Especial). Neste caso, as normas
distritais devem ter como parâmetro de controle a Lei Orgânica Distrital 5;
como legitimados ativos, o Governador do Distrito Federal, o Procurador-
Geral do Distrito Federal, o Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios, a Mesa da Câmara Legislativa, o Diretório Distrital dos
Partidos Políticos, os sindicatos, associações e entidades locais, a Seccional da
OAB, os Deputados Distritais e até os cidadãos.

5
Na ADIn nº 980-0, Rel. Min. Celso de Mello, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a Lei Orgânica do
Distrito Federal constitui instrumento normativo primário destinado a regular, de modo subordinante – e com
inegável primazia sobre o ordenamento positivo distrital – a vida jurídico-administrativa e político-
institucional dessa entidade integrante da Federação brasileira. Com base no escólio de Manoel Gonçalves
Ferreira Filho, a Corte Suprema enfatizou que a Lei Orgânica equivale, em força, autoridade e eficácia
jurídicas, a um verdadeiro estatuto constitucional, essencialmente equiparável às Constituições promulgadas
pelos Estados-membros (RTJ 156/781).
Atualmente, já está em tramitação no Congresso Nacional um Projeto
de Lei, de nº 2.960/97, de iniciativa do Poder Executivo, que dispõe sobre o
assunto. A Comissão de Constituição e Justiça e de Redação da Câmara dos
Deputados já aprovou o Projeto de Lei. Esta proposta legislativa acrescenta ao
art. 8º, da Lei nº 8.185, de 14 de maio de 1991 (Lei de Organização Judiciária
do Distrito Federal e dos Territórios) o controle abstrato de normas do Distrito
Federal, de competência originária do Conselho Especial do TJDFT. Na
Exposição de Motivo nº 189, de 7 de abril de 1997 6, o Ministro de Estado da
Justiça esclarece:

“Finalmente, o anteprojeto propõe que se altere a Lei de


Organização Judiciária do Distrito Federal para admitir, expressamente,
o controle abstrato de normas e o controle abstrato da omissão no
âmbito do Distrito Federal. Trata-se de providência que vem colmatar
de normas, uma vez que o texto constitucional não cuidou diretamente
do tema. A solução proposta parece inteiramente compatível com o
ordenamento constitucional brasileiro, que não só reconhece o controle
abstrato de normas como instrumento regular de controle de
constitucionalidade, no âmbito federal e estadual, como também atribui
à União a competência para legislar sobre a organização judiciária do
Distrito Federal (cf., a propósito, a Lei 8.185, de 14.05.1991).”

Vejamos o texto da proposição legislativa:

“Art. 30. Acrescentam-se ao art. 8º da Lei nº 8.185, de 14 de maio


de 1991, as seguintes disposições:
‘Art. 8º .........................................................................................
I - .................................................................................................
n) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
do Distrito Federal em face da sua Lei Orgânica;
.....................................................................................................
§ 3º São partes legítimas apra propor a ação direta de
inconstitucionaldade:
a) o Governador do Distrito Federal;
b) a Mesa da Câmara Legislativa;
c) o Procurador-Geral de Justiça;
d) a Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Distrito Federal;
e) as entidades sindicais ou de classe, de atuação no Distrito
6
Publicada na Revista Arquivos do Ministério da Justiça, Ano 49, nº 187, jan./jun. 1996, p. 230.
Federal, demonstrando que a pretensão por elas deduzidas guarda
relação de pertinência direta com os seus objetivos institucionais;
f) os partidos políticos com representação na Câmara Legislativa.
§ 4º Aplicam-se ao processo e julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios as seguintes disposições:
a) o Procurador-Geral de Justiça será sempre ouvido nas ações
diretas de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade;
b) declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para
tornar efetiva norma da Lei Orgânica do Distrito Federal, a decisão será
comunicada ao Poder competente para adoção das providências
necessárias, e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em
trinta dias;
c) somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou de
seu órgão especial, poderá o Tribunal de Justiça declarar a
inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do Distrito Federal ou
de suspender a sua vigência em decisão de medida cautelar.
§ 5º Aplicam-se, no que couber, ao processo de julgamento da
ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Distrito
Federal em face da sua Lei Orgânica as normas sobre o processo e o
julgamento da ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo
Tribunal Federal.’”

Merece aplauso o legislador federal, pela iniciativa de regular o assunto,


especialmente pelo fato de prever o caráter dúplice do controle de
constitucionalidade, o controle da inconstitucionalidade por omissão, por
consagrar a Lei Orgânica distrital como parâmetro de controle e por não
restringir o controle apenas às normas distritais de âmbito estadual. O
legislador federal poderia ter consagrado outros avanços, tais como a
preferência de julgamento destas ações, bem como a legitimidade dos
cidadãos.

A divergência jurídica (inclusive no Conselho Especial do TJDFT) se


estende ao controle direto, abstrato de constitucionalidade de leis ou atos
normativos distritais, de caráter estadual (regional) ou municipal (local), em
face da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Constituição Federal. Alguns
juristas e desembargadores entendem que o Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios é incompetente para realizar o controle concentrado,
frente a inexistência de previsão expressa de controle abstrato (interpretação
restritiva, a qual me filio), pois tal procedimento fere a autonomia do Distrito
Federal e os princípios constitucionais do devido processo legal, da legalidade,
do pacto federativo, visto que o TJDFT é um órgão judiciário da União,
situado no Distrito Federal, sendo inconstitucional e ilegal o processamento e
julgamento de ADIn's, sem previsão jurídica.

A outra corrente entende que o TJDFT é competente, tanto para o


controle concentrado, independentemente de previsão legal expressa, quanto
para o controle difuso, sob pena de não existir o controle direto de
constitucionalidade, tendo como parâmetro a Lei Orgânica Distrital. Trata-se
de uma interpretação extensiva do art. 125, § 2.°, CR/88. Para estes juristas, a
previsão constitucional (destinada aos Tribunais de Justiça dos Estados) se
estendem ao TJDFT.

Conforme salientado anteriormente, entendo que o controle


concentrado, abstrato, em tese, de normas distritais em face da Lei Orgânica
do Distrito Federal e perante o TJDFT, atualmente, é juridicamente
impossível, por falta de disposição constitucional e infraconstitucional, bem
como pelo fato de que o meio utilizado (Argüição de Inconstitucionalidade)
faz parte do controle difuso ou incidente., ferindo o princípio do devido
processo legal, ou seja, trata-se de "ação imprópria".

CONCLUSÃO:

O controle difuso das normas do Distrito Federal pode ser realizado


regularmente pelos juízes e tribunais judiciários situados ou não na Capital
Federal. Somente o Supremo Tribunal Federal e os Tribunais de Justiça dos
Estados têm competência para o controle concentrado, por expressa previsão
constitucional. O legislador federal já está regulando o controle abstrato de
normas distritais em face da Lei Orgânica do Distrito Federal, destinando a
competência ao Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios.

Assim, é preciso parar, analisar, refletir e corrigir os equívocos que


estão sendo realizados pelo Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios, via Procuradoria-Geral de Justiça, e pelo Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios, via Conselho Especial, que já estão
realizando o controle abstrato de normas do Distrito Federal em face da Lei
Orgânica distrital, sem previsão legal expressa, sob pena de desvirtuamento do
direito positivo e do sistema de controle de constitucionalidade de normas
vigentes.

2 - COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL:

O art. 32 da Lei Básica Federal dispõe sobre o Distrito Federal,


atribuindo-lhe as competências legislativas reservadas aos Estados e aos
Municípios (§ 1º) e consagrando a sua "autonomia legislativa". Estas
competências são realizadas pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (após
a sua instalação e promulgação da Lei Orgânica distrital). Anteriormente, era
realizada pelo Senado Federal (art. 16, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias).

No exercício de suas atribuições, a Câmara Legislativa do Distrito


Federal edita normas de âmbito estadual (ICMS, IPVA, etc.) e de interesse
local ou âmbito municipal (transporte coletivo urbano, IPTU, etc.).

A competência legislativa do Distrito Federal é delimitada pela


Constituição Federal de 1988, estando excluída desta competência a
capacidade legislativa para dispor sobre o Poder Judiciário, o Ministério
Público e a Defensoria Pública (art. 21, XIII, da Constituição da República).

A capacidade de auto-organização do Distrito Federal não envolve o


Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Polícia Civil e
a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar. Para o Supremo Tribunal
Federal (RE nº 198.799), compete à União legislar sobre a polícia civil do
Distrito Federal, em face dos arts. 21, inciso XIV, e 24, inciso XVI, da
Constituição Federal de 1988).

Os desembargadores do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos


Territórios, o Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios são
nomeados pelo Presidente da República e não pelo Governador do Distrito
Federal. Nos Estados, os desembargadores do Tribunal de Justiça estadual e o
Procurador-Geral de Justiça são nomeados pelo Governador, face a autonomia
política, administrativa e jurídica dos Estados-membros.

De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, apenas


as normas de âmbito estadual são objeto do controle abstrato de
constitucionalidade perante a Corte Suprema e tendo como parâmetro de
controle a Constituição Federal. As normas de âmbito municipal (onde
prepondera o interesse local) não são controladas nem pelo STF, em face da
Constituição Federal ou da Lei Orgânica do Distrito Federal, nem pelo
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Primeiro, porque não
há previsão constitucional deste controle. Segundo, a realização deste controle
inviabilizaria o trabalho do STF, pois são mais de 5.000 (cinco mil) os
municípios brasileiros. Ademais, o art. 102, inciso I, letra "a", da Constituição
Federal, restringe o controle abstrato, consagrando apenas as normas federais
e estaduais.

Conforme esclarecido anteriormente, o Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios ainda não tem competência expressa para efetuar o
controle abstrato de constitucionalidade. Nem a Constituição Federal, nem a
Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal e Territórios, e nem o
Regimento Interno do r. Tribunal prevêem tal competência.

Apenas o controle difuso, concreto ou pela via da ação, pode ser


realizado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, tendo
como parâmetro de controle a Constituição Federal, declarando a
inconstitucionalidade das normas distritais editadas pelo Senado Federal ou
pela recém criada Câmara Legislativa do Distrito Federal.

3 - DA SUCESSÃO DO GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL:

Quanto a sucessão do Governador do Distrito Federal, nos termos do


art. 93, da Lei Orgânica, obedece a seguinte ordem: I - Vice-Governador; e II -
Presidente da Câmara Legislativa e o seu substituto legal.

Em caso de impedimento ou vacância destes, não poderá o Presidente


do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios assumir o cargo.
Isto decorre, não só da falta de previsão legal, mas, principalmente, em face da
autonomia administrativa do Distrito Federal. A posse do Desembargador
Presidente do TJDFT ensejaria em desrespeito a esta autonomia, pois o Poder
Judiciário do Distrito Federal é organizado e mantido pela União (art. 21,
inciso XIII, da Lei Suprema). Por isso, o Distrito Federal tem linha de
sucessão do cargo de Governador diferente dos Estados, pois nestes o Poder
Judiciário é mantido pelo ente federativo e não pela União, não configurando
afronta às suas autonomias política e administrativa.

Nos Estados, a sucessão do Governador abrange o Presidente do


Tribunal de Justiça em observância aos artigos 25, 80; e 11, do ADCT, todos
da Constituição Federal de 1988.

4 - INTERVENÇÃO DA UNIÃO NO DISTRITO FEDERAL E EM


MUNICÍPIOS LOCALIZADOS EM TERRITÓRIO FEDERAL:

Apesar de consagrar o princípio da não-intervenção, a


Constituição Federal de 1988 (arts. 34 usque 36) regula os casos e as formas
em que, excepcionalmente, faz-se necessária a intervenção federal: a) nos
Estados; b) no Distrito Federal; e c) nos Municípios localizados em
Território Federal. O Texto Supremo regula, também, a intervenção dos
Estados nos seus Municípios.

A Constituição Federal não prevê intervenção da União nos


Territórios. O art. 34, caput, do Texto Supremo, consagra apenas a
intervenção federal nos Estados e no Distrito Federal. Com relação aos
Territórios, a Lei Maior prevê, apenas, a intervenção da União nos
Municípios localizados em Territórios (art. 35, caput). Atualmente não existe
nenhum Território, mas a Constituição Federal consagrou normas relativas aos
mesmos, bem como aos respectivos Municípios (art. 33).

Com a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, esta


introduziu várias modificações no sistema de intervenção, destacando-se as
seguintes: previsão de intervenção federal no Distrito Federal (art. 34), bem
como de intervenção da União nos Municípios localizados em Território
Federal (art. 35).

No Brasil, somente os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


possuem autonomia e compõem a Federação (art. 1º, CF), estando sob a tutela
administrativa desta. A intervenção é a antítese da autonomia. Como os
Territórios não possuem autonomia, não há necessidade de intervenção. Os
Territórios integram a União (art. 18, § 1º, CF), sendo despiciendo falar em
Intervenção Federal nos Territórios.

Os Municípios, apesar de dotados de certa autonomia, estão


também sujeitos à intervenção dos Estados ou da União, nos casos e nas
formas previstas na Lei Fundamental da República Federativa do Brasil (arts.
35 e 36).
O Regimento Interno do TJDFT, todavia, só dispõe sobre a
“Intervenção Federal no Distrito Federal ou nos Territórios” (sic), nos arts. 8º,
inciso I, letra l; 51, inciso XXX, e Parte I, Título V, Capítulo III, Seção I,
Subseção X (título anterior ao art. 146), não consagrando nenhuma disposição
sobre a representação interventiva da União em Município localizado em
Território Federal. Nos termos do Regimento Interno do TJDFT, compete ao
Conselho Especial processar e julgar, originariamente a intervenção federal.

Com base no Texto Constitucional Federal e na legislação federal


correspondente, pode-se afirmar que compete ao Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios, através do Conselho Especial, processar
e julgar a representação interventiva em face de Município localizado em
Território Federal.

Assim, faz-se necessário adequar o Regimento Interno do TJDFT,


retificando o art. 8º, inciso I, letra l; o art. 51, inciso XXX, bem como o título
da Parte I, Título V, Capítulo III, Seção I, Subseção X (art. 146), consagrando:
“Intervenção Federal no Distrito Federal ou nos Municípios localizados em
Territórios”.

5 - DA COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR CRIMES


PRATICADOS POR MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO
DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS:

O art. 8º, inciso I, letra b, do Regimento Interno do TJDFT,


dispõe que compete ao Conselho Especial processar e julgar, originariamente,
nos crimes comuns e de responsabilidade, os Membros do Ministério Público
do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT), ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral. A referida disposição regimental é de duvidosa
constitucionalidade.

Nos termos do art. 108, inciso I, letra a, segunda parte, da


Constituição da República, compete aos Tribunais Regionais Federais
processar e julgar, originariamente, nos crimes comuns e de responsabilidade,
os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral.

De acordo com o art. 128, inciso I, letra d, da Constituição da


República, o Ministério Público da União compreende, dentre outros, o
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. No mesmo sentido: art.
24, inciso IV, da Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993.

Consoantemente, a Lei Complementar nº 75/93, em seu art. 18,


inciso II, letra c, estabelece, como prerrogativas dos membros do Ministério
Público da União, que oficiem perante juízos de primeira instância, ser
processado e julgado, nos crimes comuns e de responsabilidade, pelos
Tribunais Regionais Federais, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

A Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal e dos


Territórios (Lei 8.185/91, art. 8º, inciso I, letra b, especialmente) não dispõe
sobre tal competência.

Assim, o ordenamento constitucional e infraconstitucional destina


aos Tribunais Regionais Federais a competência para processar e julgar os
membros do Ministério Público da União, incluindo-se aqui, os membros do
MPDFT, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada, apenas, a
competência da Justiça Eleitoral.

O TJDFT, com base no art. 96, inciso III, da Constituição Federal,


julgou ser competente para ação penal contra membro do MPDFT, tendo
alguns desembargadores se posicionados favoráveis ao teor da regra do art.
108, inciso I, letra a, do Texto Supremo (Ação Penal nº 013/89, Rel. Des.
Luiz Claudio Abreu). O TJDFT reafirmou sua competência: “Compete ao
egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, nos termos da Lei
Organização Judiciária, da Constituição Federal e do Regimento Interno, o
julgamento dos atos praticados por membro do Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios.” (Embargos de Declaração no Habeas Corpus,
processo nº 1998.00.2.0014403, Acórdão nº 111.568, Rel. Des. Lécio
Resende).

Este entendimento é compartilhado pelo ex-Procurador-Geral da


República, ARISTIDES JUNQUEIRA (in "Revista da Fundação Escola
Superior do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios", Ano 1,
nº 1, Brasília, jul./set. de 1993, p. 22), verbis:

"É de se observar que três são os foros por prerrogativa de


função dos membros do Ministério Público da União. Se se tratar do
Procurador-Geral da República, a competência será do Supremo
Tribunal; se for membro do Ministério Público da União oficie perante
tribunais, competente será o Superior Tribunal de Justiça; e os demais
serão processados e julgados pelo Tribunal Regional Federal da região
em que estiverem lotados.
Como o Ministério Público do Distrito Federal está
compreendido no Ministério Público da União (art. 128, I, d), poder-se-
ia concluir que seus membros, se autores de infração penal, seriam
processados e julgados pelo Superior Tribunal de Justiça ou Tribunal
Regional Federal, e não pelo Tribunal de Justiça.
Mas, a norma especial, contida no artigo 96, III, arreda tal
conclusão, porque dispõe que compete privativamente ao Tribunal de
Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios,
bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de
responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
Portanto, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal compete
julgar os membros do Ministério Público do Distrito Federal."

Todavia, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (Queixa-


crime n. 95.01.04557-9/DF, Rel. Juiz Carlos Fernando Mathias, Plenário. Por
maioria. Decisão: 20/04/95. Publicada no Diário da Justiça, Seção 2, dia
08.06.95, p. 35.722), já firmou entendimento no sentido de que é o juízo
competente para julgamento dos membros do Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios nos crimes comuns e de responsabilidade, verbis:

"EMENTA: Constitucional. Penal. Competência para


julgamento dos membros do Ministério Público do Distrito Federal
e dos Territórios nos crimes comuns e de responsabilidade.
Imunidade judiciária. Crimes contra a honra no exercício da
advocacia. Tipificação de delito.
I - A interpretação sistemática dos arts. 108, I, a, e 128, I, d, da
Lei Fundamental e mais o disposto no art. 18, II, c, da Lei
Orgânica do Ministério Público da União (Lei Complementar
75/93) e no art. 2º, parágrafo único, da Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público (Lei 8.625/93), conduz à competência do
Tribunal Regional Federal da 1ª Região, para julgar, nos crimes
comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral, os membros do Ministério Público do Distrito Federal e
dos Territórios que oficiem perante juízes de primeira instância,
sem embargo da letra fria do art. 96, III, da Constituição.
..................................................................................................................”
O entendimento do ex-Procurador-Geral da República, apesar de
salutar, merece ser analisado. Compreendo que o art. 96, III, da Constituição
da República não é norma especial e sim genérica e aplica-se aos Estados. Já o
art. 108, inciso I, letra a, é específico, aplicável ao Ministério Público da
União, inclusive ao Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios,
sendo o Tribunal Regional Federal da respectiva região em que estiverem
lotados, a Corte competente para processar e julgar os membros do Ministério
Público do Distrito Federal e dos Territórios.

O Superior Tribunal de Justiça ainda não analisou esta


competência, embora demonstre ser favorável à Justiça distrital, que é federal,
especializada e sediada no Distrito Federal 7. Para o Colendo Tribunal Superior,
a competência penal se estende aos crimes eleitorais e aos crimes dolosos
contra a vida, visto que a competência em razão da pessoa (foro privilegiado)
suplanta a competência em razão da matéria. Neste sentido: HC nº 3.316-PB,
Rel. Luiz Vicente Cernicchiaro8, verbis:

“HC – CONSTITUCIONAL – TRIBUNAL DO JÚRI –


PROMOTOR PÚBLICO – COMPETÊNCIA – A
Constituição da República reeditou a instituição do Tribunal
do Júri, atribuindo-lhe competência para processar e julgar
os crimes dolosos contra a vida (art. 5º, XXXIX). A Carta
Política, igualmente, estabeleceu ser da competência do
Tribunal de Justiça, processar e julgar os membros do
Ministério Público, nos crimes comuns e eleitoral (art. 96,
III). Interpretação sistemática da Constituição (norma
especial derroga norma geral) autoriza concluir, porque o
homicídio é crime comum, ser da competência do Tribunal de
Justiça processar e julgar Promotor Público acusado desse
delito.”

Mas o Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição


Federal, é quem poderá fixar esta competência, caso o legislador federal não
se adiante em explicitá-la.
7
Ver: CC nº 12.282-DF, Rel. Min. Antônio Torreão Braz; CC nº 14.396-DF, Rel. Min. César Asfor Rocha; e
HC nº 4.442-DF, Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini.
8
STJ, Sexta Turma, em 18.04.95. Publicado no Diário da Justiça, Seção 1, dia 10.03.97, p. 5.996.
O meu posicionamento anterior era no sentido de que era
necessário adequar o Regimento Interno do TJDFT ao Texto Constitucional e
à Lei Complementar nº 75/93, suprimindo, do art. 8º, inciso, I, letra b, a
competência do Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios para processar e julgar, originariamente, os membros do
Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios.

Contudo, atualmente entendo e defendo que a competência para


processar e julgar os membros do Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios (leia-se: Promotores de Justiça) é do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, por questões funcionais, pois seria incômodo exigir
que o Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios se
deslocasse aos Tribunais Regionais Federais, da respectiva região onde
ocorreu o crime (lato sensu, abrangendo também as contravenções, bem como
os delitos tentados), para o oferecimento da denúncia, transação penal,
suspensão condicional do processo, etc. Além dos gastos financeiros e óbices
à célere prestação jurisdicional, não é razoável destinar esta competência aos
Tribunais Regionais Federais, visto que o Procurador-Geral de Justiça exerce
suas atividades institucionais no Distrito Federal, onde tem o seu domicílio.
Ademais, a maioria das ações penais são públicas, cabendo ao Chefe do
Parquet do Distrito Federal e Territórios a iniciativa da persecução penal em
juízo, oferendo a denúncia, propondo a suspensão condicional da pena, etc.

Ademais, a Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal e


dos Territórios anterior (Lei nº 6.750, de 10 de dezembro de 1979), destinava
ao Tribunal de Justiça a competência para processar e julgar, originariamente,
nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça
Militar, da Justiça Eleitoral e do Tribunal do Júri, os membros do Ministério
Público do Distrito Federal e dos Territórios (art. 9º, inciso I, letra "a").
Portanto, historicamente, a competência é do Tribunal de Justiça local.

Em face do exposto, torna-se necessário emendar a Constituição


Federal de 1988, consagrando expressamente, no art. 96, inciso III, a
competência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios para
processar e julgar os Promotores de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

6 - REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA CONTRA MUNICÍPIO


LOCALIZADO EM TERRITÓRIO FEDERAL9

INTRODUÇÃO:

Apesar de consagrar o princípio da não-intervenção, a


Constituição Federal de 1988 (arts. 34 usque 36) regula os casos e as formas
em que, excepcionalmente, faz-se necessária a intervenção federal: a) nos
Estados; b) no Distrito Federal; e c) nos Municípios localizados em Território
Federal. O Texto Supremo regula, também, a intervenção dos Estados nos seus
Municípios. Atualmente não existe nenhum Território, mas a Constituição
Federal consagrou normas relativas aos mesmos, bem como aos respectivos
Municípios (art. 33). Neste estudo, apenas a representação interventiva, em
face de Município localizado em Território Federal, será objeto de análise.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA:

A Constituição Imperial de 1.824 não dispôs sobre a intervenção.


As Constituições Republicanas de 1.891 (art. 6º), de 1.934 (art. 12) e de 1.937
(art. 9º), regularam apenas a intervenção federal nos Estados e não dispuseram
sobre a intervenção nos Municípios. Já os Textos Constitucionais de 1.946
(arts. 7º e 23), de 1.967 (art. 10 e 16, § 3º) e a Emenda Constitucional nº 01, de
1.969 (art. 10 e 15, § 3º), consagraram a intervenção federal nos Estados e
destes em seus Municípios, respectivamente, ignorando, entretanto, a
possibilidade de intervenção nos Municípios dos Territórios Federais
existentes.

A representação interventiva, em desfavor de Município, foi


magnificada através da Emenda Constitucional nº 01, de 1969 (art. 15, § 3º,
“d”), contemplando-a quando:

“o Tribunal de Justiça do Estado der provimento a representação


formulada pelo chefe do Ministério Público local para assegurar a
observância dos princípios indicados na Constituição estadual, bem
como para prover à execução de lei ou ordem ou decisão judiciária,
limitando-se o decreto do Governador a suspender o ato impugnado, se
essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade”.

9
Estudo publicado na Revista de Informação Legislativa do Senado Federal, nº 135, Brasília-DF, 1997.
Com a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, esta
introduziu várias modificações no sistema de intervenção, destacando-se as
seguintes: previsão de intervenção federal no Distrito Federal (art. 34), bem
como de intervenção da União nos Municípios localizados em Território
Federal (art. 35).

O art. 35, inciso IV, da Lei Básica Federal, dispõe sobre a


representação interventiva em face de Município, nos casos em que “o
Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a
execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.”

CONSIDERAÇÕES:

Os Municípios, apesar de dotados de certa autonomia, estão


também sujeitos à intervenção dos Estados ou da União, nos casos e nas
formas previstas na Lei Fundamental da República Federativa do Brasil (arts.
35 e 36).

O art. 129, inciso IV, dispõe sobre as funções institucionais do


Ministério Público, destacando a de promover a representação para fins de
intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos na Constituição.

O processo da representação interventiva federal contra


Município situado em Território Federal não foi claramente magnificado pelo
legislador constituinte, dificultando a compreensão do tema pelo operador do
Direito Constitucional. Por tratar-se de tema novo, faz-se necessário analisá-lo
com prudência.

Numa interpretação precipitada, pode o operador do direito


compreender que a competência para processar e julgar esta Representação
Interventiva da União é do Supremo Tribunal Federal, tendo como legitimado
ativo o Procurador-Geral da República.

Após minucioso estudo, compreendo que a competência é do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios e que o legitimado
ativo é o Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Em
defesa deste posicionamento pode-se ressaltar que:
1) Nem os Municípios, nem os Territórios possuem Poder Judiciário e
Ministério Público próprios. De acordo com a Constituição da República atual
(CR), compete à União organizar e manter o Poder Judiciário e o Ministério
Público do Distrito Federal e dos Territórios (art. 21, inciso XIII).
Consoantemente, o art. 92, inciso VII, consagra o Tribunal e Juízes do Distrito
Federal e Territórios entre os órgãos do Poder Judiciário, bem como o
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, como integrante do
Ministério Público da União (art. 128, inciso I, “d”);

2) O Texto Constitucional vigente, quando trata da intervenção federal e


estadual em Município, refere-se ao Tribunal de Justiça e não ao Supremo
Tribunal Federal. Nestes termos, o art. 35, inciso IV, do Diploma Federal
estatui que:

“Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem à


União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
....................................................................................................................
“IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para
assegurar a observância de princípios indicados na Constituição
Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão
judicial.”

A competência do Tribunal de Justiça foi expressamente


consagrada na Emenda Constitucional nº 01, de 1969 (art. 15, § 3º, “d”) e na
Constituição Federal atual, preterindo-se as demais Cortes de Justiça da União
ou dos Estados;

3) A Lei nº 8.185, de 10 de maio de 1991, que dispõe sobre a organização


judiciária do Distrito Federal e dos Territórios, estabelece que compete ao
Tribunal de Justiça “exercer as demais atribuições que lhe são conferidas pela
Constituição ou por lei” (art. 8º, inciso XXI). Assim, a competência do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), para
processar e julgar a representação interventiva da União em Município
localizado em Território Federal, não foi afastada pela lei de organização
judiciária local.

O Regimento Interno do TJDFT, todavia, só dispõe sobre a


“Intervenção Federal no Distrito Federal ou nos Territórios” (sic), nos arts. 8º,
inciso I, letra “l”, e 146, não consagrando nenhuma disposição sobre a
representação interventiva da União em Município localizado em Território
Federal. Nos termos do Regimento Interno do TJDFT, compete ao Conselho
Especial processar e julgar, originariamente a intervenção federal. Numa
interpretação extensiva, compreendo que a competência para a presente
representação é do referido Conselho Especial.

4) O Texto Constitucional anterior (Emenda Constitucional nº 01, de 1969)


estabelecia que a representação seria formulada pelo chefe do Ministério
Público local, ou seja, a atribuição já era destinada ao Procurador-Geral de
Justiça, chefe do Parquet local.

5) A Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993, que dispõe sobre a


organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União
(LOMPU), preceitua que “incumbe ao Procurador-Geral da República exercer
as funções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal” (art. 46,
caput). Consoantemente, estatui, no parágrafo único do referido artigo, que “o
Procurador-Geral da República proporá perante o Supremo Tribunal Federal
(...) a representação para intervenção federal nos Estados e no Distrito Federal,
nas hipóteses do artigo 34, VII, da Constituição Federal”. O art. 48, inciso I,
da LOMPU, dispõe, ainda, que “incumbe ao Procurador-Geral da República
propor perante o Superior Tribunal de Justiça a representação para intervenção
federal nos Estados e no Distrito Federal, no caso de recusa à execução de lei
federal”.

Nos termos da legislação citada, não se inclue entre as atribuições


do Procurador-Geral da República a iniciativa da representação interventiva
em face de Município situado em Território Federal, nem compete aos
Tribunais federais superiores (STF ou STJ) o processamento e julgamento
desta ação;

6) A citada Lei Complementar dispõe, também, sobre o Ministério Público do


Distrito Federal e Territórios, estabelecendo que este “exercerá as suas funções
nas causas de competência do Tribunal de Justiça e dos Juízes do Distrito
Federal e Territórios” (art. 149, LOMPU). Entretanto esta lei não consagra,
nem especifica entre as atribuições do Procurador-Geral de Justiça, a
legitimidade ativa para a propositura da representação interventiva referente a
Município situado em Território Federal. Tal atribuição, entretanto,
fundamenta-se, ainda, no art. 159, inciso XXIII, que dispõe competir ao Chefe
do Ministério Público “exercer outras atribuições previstas em lei”;
7) O Supremo Tribunal Federal não julga, originariamente, questões
municipais, tais como Ações Diretas de Inconstitucionalidade referente à Lei
Municipal em desconformidade com o ordenamento constitucional federal ou
estadual; e a intervenção estadual em Municípios. Em matéria de intervenção,
a competência do STF se restringe a intervenção federal nos Estados e no
Distrito Federal (art. 36, inciso III, CR) e nãos nos Municípios daqueles ou
nos situados em Território Federal. Somente em casos excepcionais ou na via
recursal, assegurando o princípio do duplo grau de jurisdição, é que o Tribunal
Ápice decide sobre questões municipais. O Regimento Interno da Corte
Suprema (arts. 350 usque 354) dispõe, apenas, sobre a intervenção federal no
Estados.

8) Os motivos, para a propositura da representação interventiva da União em


Município situado em Território Federal, são diferentes e mais restritos do que
os previstos para a intervenção federal nos Estados e no Distrito Federal.
Mesmo assim, devem ser observados, pelo Tribunal de Justiça e pelo
Procurador-Geral de Justiça, os casos, a forma e os princípios elencados na
Constituição Federal, visto que o Território Federal não possue Constituição
ou Lei Orgânica Territorial, devendo respeitar e cumprir a Constituição
Federal.

Esta posição também é compartilhada por José Afonso da Silva 10


que, em comentários ao art. 35, inciso IV, esclarece:

“(..) Acrescente-se apenas que a representação ao Tribunal de Justiça,


como peça inicial da ação interventiva no Município, cabe ao
Procurador-Geral da Justiça que funcione junto ao Tribunal de Justiça
competente para conhecer da representação, seja na intervenção
promovida por Estado, seja promovida pela União em Municípios de
Território Federal”.

Celso Ribeiro Bastos11 anota o entendimento do constitucionalista


paulista José Afonso da Silva, não apresentando nenhuma discordância.
Outros juristas, como Pinto Ferreira12, Wolgran Junqueira Ferreira13 e José
10
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 9ª ed., São Paulo, Malheiros,
1994, p. 428.
11
BASTOS, Celso Ribeiro & MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil, Vol. 3, Tomo
II, São Paulo, Saraiva, 1993, p. 360.
12
FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira, São Paulo, Saraiva.
13
FERREIRA, Wolgran Junqueira. Comentários à Constituição de 1988, Campinas, Julex.
Cretella Júnior14, não aprofundam, nem se posicionam quanto ao assunto.

O art. 36, § 3.°, do Texto Federal, esclarece que nos casos do art.
35, IV, fica dispensada a apreciação da intervenção pelo Congresso Nacional
ou pela Assembléia Legislativa, aqui abrangida a Câmara Territorial do
Território Federal, e o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato
impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.

CONCLUSÃO:

Assim, as normas constitucionais e infraconstitucionais tratam,


com maior profundidade, apenas da intervenção federal nos Estados e no
Distrito Federal, sendo sintéticas ou omissas quanto à intervenção federal nos
Municípios de Território Federal, cabendo ao intérprete evidenciar a vontade
da Constituição. Mas, com base no Texto Constitucional Federal e na
legislação federal correspondente, pode-se afirmar que:

A) Compete ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,


através do Conselho Especial, processar e julgar a representação
interventiva em face de Município localizado em Território Federal;

B) Incumbe ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios,


através do Procurador-Geral de Justiça, propor a representação
interventiva.

Por fim, faz-se necessário regular o assunto, consagrando


expressamente de quem é a competência para processar e julgar esta
representação interventiva, bem como a legitimidade ativa para a propositura,
a fim de evitar-se futuras celeumas jurídicas.

"(...) no sistema constitucional brasileiro, não há possibilidade da União


intervir em quaisquer Municípios, ressalvados, unicamente, os Municípios
'localizados em Território Federal...' (CF, art. 35, caput).
Desse modo, os Municípios situados no âmbito territorial dos Estados-
membros não se expõem à possibilidade constitucional de sofrerem
14
CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição Brasileira de 1988, Rio de Janeiro, Forense
Universitária.
intervenção decretada pela União Federal, eis que, relativamente aos entes
municipais, a única pessoa política ativamente legitimada a neles intervir é o
Estado-membro, consoante adverte o autorizado magistério doutrinário
(ALEXANDRE DE MORAES. "Direito Constitucional", p. 280, item n. 3.3,
4ª ed., 1998, Atlas; MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO,
"Comentários à Constituição Brasileira de 1988", vol. 1/236, 1990, Saraiva;
CELSO RIBEIRO BASTOS e IVES GANDRA MARTINS, "Comentários à
Constituição do Brasil", vol. 3, tomo II/353, 1993, Saraiva; PINTO
FERREIRA, "Comentários à Constituição Brasileira", vol. 2/352, 1990,
Saraiva; JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, "Comentários à Constituição
Brasileira de 1988", vol. IV/2091, item n. 184, 1991, Forense Universitária;
JOSÉ AFONSO DA SILVA, "Curso de Direito Constitucional Positivo", p.
483 e 488, 15ª ed., 1998, Malheiros, v.g.)" [grifos no original].
(STF, Intervenção Federal nº 591-9, Rel. Min. Celso de Mello - Presidente.
Publicada no Diário da Justiça, Seção 1, dia 16.09.98, ps. 42/43).

7 – MANDADO DE SEGURANÇA, HABEAS DATA E HABEAS


CORPUS CONTRA O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO
DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS:

Aparentemente, o aplicador do direito pode compreender que


compete à Justiça Federal processar e julgar os mandados de segurança
(individuais e coletivos), os habeas data e os habeas corpus impetrados contra
o Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios, fundamentando
seu entendimento no art. 109, incisos VII e VIII, da Constituição Federal de
1988.

A legislação vigente, contudo, destina ao Conselho Especial, do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, a competência para
processar e julgar, originariamente, os mandados de seguranças, os habeas
data e os habeas corpus em que a autoridade impetrada é o Procurador-Geral
de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (art. 8º,
inciso I, letras “c” e “d”, da Lei nº 8.185/91 – Lei de Organização Judiciária
do Distrito Federal e dos Territoórios - e do Regimento Interno do TJDFT).

O Superior Tribunal de Justiça já analisou esta matéria, no


julgamento da Ação Rescisória nº 338-DF, Rel. Min. Antônio de Pádua
Ribeiro15, verbis:
15
STJ, Primeira Seção, em 12.06.96. Publicada no Diário da Justiça, Seção 1, dia 12.05.97, p. 18.743.
“CONSTITUCIONAL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO
RESCISÓRIA. COMPETÊNCIA.
I – Em princípio, compete ao TJ/DF processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato do
Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal.
II – O TJ/DF é competente para a ação rescisória de seus
acórdãos, mesmo em sendo autora a União Federal.
III – Ação conhecida com remessa dos autos ao Tribunal
competente.”

8 - MANDADO DE SEGURANÇA E HABEAS DATA CONTRA


MEMBRO E SERVIDOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO
FEDERAL:

Os membros e servidores do Ministério Público do Distrito


Federal e Territórios são agentes públicos federais, remunerados pelo Tesouro
Nacional. Aos primeiros aplica-se o Regime Jurídico Único (Lei nº 8.112/90).
A Lei Complementar nº 75/94, trata também dos membros do Ministério
Público do Distrito Federal e dos Territórios (arts. 149 a 181).

Numa análise constitucional pura, o aplicador do direito destinará


à Justiça Federal a competência para processar e julgar os mandados de
segurança (individuais ou coletivos) e os habeas data impetrados contra
membros e servidores do Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios. Tal entendimento tem fundamento no art. 109, inciso VIII, da
Constituição Federal de 1988.

Todavia, o Superior Tribunal de Justiça, tem se posicionado no


sentido de que a Justiça do Distrito Federal é um ramo do Judiciário Federal,
competindo ao juiz de direito, à primeira instância da Justiça distrital, o
julgamento de mandado de segurança impetrado contra ato de Promotor de
Justiça do Distrito Federal. Neste sentido: Conflitos de Competência nº
12.282-DF, Rel. Min. Torreão Braz16; e 14.396-DF, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha17, respectivamente:

“MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO DE


16
STJ, Segunda Seção, em 29.03.95. Publicado no Diário da Justiça, Seção 1, dia 08.05.95, p. 12.281.
17
STJ, Segunda Seção, em 24.04.96. Publicado no Diário da Justiça, Seção 1, dia 24.06.96, p. 22.699.
PROMOTOR DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL.
COMPETÊNCIA.
A Justiça do Distrito Federal é um ramo do Judiciário
Federal, assim como o Ministério Público do Distrito Federal
é um ramo do Ministério Público da União (CF, arts. 21, XIII
e 128, I, ‘d’).
Compete ao juiz de primeiro grau da Justiça do Distrito
Federal julgar mandado de segurança contra ato de Promotor
de Justiça do Distrito Federal.”

“CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA


FEDERAL E DO DISTRITO FEDERAL. MANDADO DE
SEGURANÇA CONTRA ATO PRATICADO POR
PROMOTOR DE JUSTIÇA DA CURADORIA DE DEFESA
DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA COMUM DO DISTRITO FEDERAL.
PRECEDENTES.
I – Nos termos do decidido no CC n. 12,282-DF, relatado pelo
eminente Ministro Torreão Braz, em sendo a Justiça do
Distrito Federal um ramo do Judiciário Federal, bem como
sendo o Ministério Público do Distrito Federal um ramo do
Ministério Público da União (arts. 21, XIII e 128, I, ‘d”, da
Constituição), compete ao juiz de primeiro grau da Justiça do
Distrito Federal o julgamento de mandado de segurança
requerido contra ato de Promotor de Justiça do Distrito
Federal.
II – Competência do Juízo de Direito suscitado.”

A Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal e dos


Territórios (Lei nº 8.185/91) e o Regimento Interno do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios não dispõem sobre o assunto. Portanto, o
mandado de segurança (individual ou coletivo) e o habeas data são da
competência residual das varas de primeira instância.

Compreendo que as Varas Cíveis, das respectivas Circunscrições


Judiciárias do Distrito Federal, são competentes para processar e julgar os
mandados de segurança e os habeas data propostos contra membro e servidor
do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios. As demais Varas,
especialmente as Varas de Fazenda Pública, são incompetentes para tais ações,
visto que a Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal e dos Territórios
(art. 27, inciso I, letra “c”, da Lei nº 8.185/91) consagra apenas a competência
restrita para processar e julgar “os mandados de segurança contra atos de
autoridade do Governo do Distrito Federal e de sua administração
descentralizada. Inexistindo competência expressa das varas especializadas
(Fazenda Pública, Família, etc.) tais feitos devem ser distribuídos às Varas
Cíveis, em virtude da competência residual, prevista no art. 26, da Lei nº
8.185/91.

O posicionamento, de que compete às Varas de Fazenda Pública


processar e julgar todos os mandados de segurança de competência da Justiça
distrital de primeira instância, é equivocado, pois o art. 27, inciso I, letra “c”,
da Lei nº 8.185/91, consagra a competência especializada destas Varas apenas
paras os mandados de segurança impetrados contra atos de autoridade do
Governo do Distrito Federal e de sua administração descentralizada,
incluindo-se aí, os atos praticados por seus agentes delegados (concessionários
e permissionários)18.

As Varas Cíveis também julgam mandados de segurança,


especialmente os impetrados contra autoridades desvinculadas da
administração distrital, tais como Diretores de Escolas Superiores situadas no
Distrito Federal (CEUB, UDF, UPIS, etc.), agentes de sociedades de economia
mista, concessionários e permissionários federais (funcionários do Banco do
Brasil S.A, TELEBRÁS, TELEBRASÍLIA, etc.), quanto aos atos que não
compreendam a delegação do poder público federal.

Para que as Varas de Fazenda Pública do Distrito Federal julguem


todos os mandados de segurança de competência da Justiça distrital de
primeira instância é necessário que o legislador federal altere a Lei de
Organização Judiciária do Distrito Federal e Territórios, consagrando no art.
27, inciso I, letra “a”, apenas a expressão: “c) os mandados de segurança”.

Sobre o tema mandado de segurança (e habeas corpus), convém


ressaltar que o Superior Tribunal de Justiça tem pacificado a sua
jurisprudência no sentido de que os Promotores de Justiça, nesta qualidade,
18
Este também é o entendimento do Juiz de Direito do Distrito Federal, Arnoldo Camanhos de Assis (in “A
competência das varas de Fazenda Pública para mandados de segurança”, Direito & Justiça, Correio
Braziliense, dia 15 de março de 1999, página 7.; “(...) a tranqüila possibilidade de impetração de mandados de
segurança tanto nas varas de Fazenda Pública, quanto nas varas Cíveis locais, tudo a depender da autoridade
que tenha praticado o ato lesivo, ao direito líquido e certo do postulante.”
carecem de capacidade postulatória junto aos tribunais e, conseqüentemente,
para impetrá-los perante os tribunais superiores. Havendo delegação de
poderes do Procurador-Geral de Justiça, os Promotores de Justiça poderão
impetrar mandados de segurança perante o respectivo Tribunal de Justiça, bem
como os Procuradores de Justiça, perante os Tribunais Superiores (STJ e TSE,
especialmente). O Promotor de Justiça não tem legitimidade para recorrer de
decisão proferida por Tribunal de Justiça. A respeito: Recurso Ordinário em
Mandado de Segurança nº 1.456-SP e 1.722-SP, Rel. Min. Jesus Costa Lima.
Sobre o assunto, vejamos o ROMS nº 5.322-RS19, relatado por este ministro:

“PROCESSUAL. MANDADO DE SEGURANÇA.


RECURSO. LEGITIMIDADE.
I – A Constituição (art. 103, par. 1.), dispõe que tem
competência privativa para oficiar perante o Supremo
Tribunal Federal, exclusiva e unicamente, o Procurador-
Geral da República, seja como ‘custos legis’ seja como parte.
Perante este Superior Tribunal de Justiça atuam o
Procurador-Geral ou os Subprocuradores-Gerais, com
proibição de outro representante do Ministério Público.
Assim, cabe ao Procurador-Geral de Justiça exercer as suas
atribuições junto aos Tribunais de Justiça, podendo delegá-las
aos Procuradores de Justiça. Os Promotores de Justiça
carecem modo, para requererem mandado de segurança
perante órgão superior de jurisdição.
II – Promotor de Justiça não tem legitimidade para recorrer
de decisão proferida por Tribunal de Justiça.
III – Precedentes.”

9 - AÇÃO POPULAR E MANDADO DE INJUNÇÃO CONTRA


MEMBRO OU SERVIDOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO
DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS:

O membro ou servidor do Ministério Público do Distrito Federal


e dos Territórios pode integrar o pólo passivo de ação popular, na qualidade de
réu ou beneficiário do ato impugnado (arts. 6º ou 7º, inciso III, da Lei nº
4.717/65 – Lei da Ação Popular), respectivamente.

O mesmo posicionamento exposto sobre o mandado de segurança


19
STJ, Quinta Turma, em 30.08.95. Publicado no Diário da Justiça, Seção 1, dia 25.09.95, p. 31.120.
se aplica às ações populares, havendo ou não interesse da União. A ação
popular deve ser proposta/julgada perante a Vara Cível da Circunscrição
Judiciária distrital, e não perante o juízo fazendário distrital ou as Varas Cíveis
da Justiça Federal.

O mesmo entendimento também se aplica ao mandado de


injunção (individual ou coletivo) proposto contra membro(s) ou servidor(es)
do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios, ou seja, compete
às Varas Cíveis da Circunscrição Judiciária distrital processar e julgar esta
ação constitucional.

10 – HABEAS CORPUS CONTRA PROMOTOR DE JUSTIÇA DO


DISTRITO FEDERAL:

O habeas corpus impetrado contra ato de Promotor de Justiça é da


competência originária dos Tribunais de Justiça. A jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça tem posicionado neste sentido, com base no artigo 96,
inciso III, da Constituição Federal de 198820. Algumas Constituições estaduais
consagram esta competência originária dos Tribunais de Justiça. Vejamos:

Quanto aos Promotores de Justiça do Distrito Federal, nem a


legislação, nem o Regimento Interno do TJDFT dispõe sobre a questão.
Contudo o Superior Tribunal de Justiça já firmou seu posicionamento,
destinando ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios a
competência para processar e julgar o writ constitucional. Contudo, o TJDFT
tem afirmado ser competente: “Compete ao egrégio Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios, nos termos da Lei Organização Judiciária,
da Constituição Federal e do Regimento Interno, o julgamento dos atos
praticados por membro do Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios.” (Embargos de Declaração no Habeas Corpus, processo nº
1998.00.2.0014403, Acórdão nº 111.568, Rel. Des. Lécio Resende).

No Habeas Corpus nº 4.442-DF, Rel. Min. Cid Flaquer


Scartezzini , a Colenda Corte decidiu não conhecer do writ e determinar a
21

remessa dos autos ao egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos


20
Ver: RHC nº 3.990-SP, Rel. Min. Edson Vidigal; Resp nº 67.757-PR, Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini;
REsp nº 79.112-SP, Rel. Min. Felix Fischer;
21
STJ, Quinta Turma, em 07.05.96. Publicado no Diário da Justiça, Seção 1, dia 03.06.96, p. 19.264.
Territórios, verbis:

“PROCESSUAL PENAL- INQUÉRITO POLICIAL


INSTAURADO MEDIANTE REQUISIÇÃO DE
PROMOTOR DE JUSTIÇA – COMPETÊNCIA.
Compete ao Tribunal de Justiça local, apreciar e julgar
habeas-corpus impetrado contra ato de Promotor de Justiça
estadual, consistente em instaurar inquérito policial para
apurar prática de crime comum.”

Assim, compete ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos


Territórios apreciar e julgar os habeas corpus impetrados contra ato de
Promotor de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

11 – FILIAÇÃO PARTIDÁRIA DE MEMBRO DO MINISTÉRIO


PÚBLICO:

A Constituição Federal de 1988 restabeleceu o Estado


Democrático de Direito e consagrou como fundamentos a cidadania (art. 1º,
caput e inciso II). O princípio da soberania popular norteia as relacões
políticas do país, pois todo o poder emana do povo que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente. Por sua vez, o art. 14, § 3º, inciso V, do
Texto Constitucional, condiciona a elegibilidade à prévia filiação partidária.

A Lei Fundamental, em seu art. 128, § 5º, inciso II, letra “e”,
estabelece que os membros do Ministério Público, incluídos os do Ministério
Público do Distrito Federal e dos Territórios, é vedado exercer atividade
político-partidária, salvo exceções previstas na lei.

A legislação infraconstitucional (arts. 80 e 237, inciso V, da Lei


Complementar nº 75/93; e art. 44, inciso V, da Lei nº 8.265/93) dispõe sobre o
assunto. Para os membros do Ministério Público da União, incluindo-se os
membros do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios, é vedado
exercer atividade político-partidária, ressalvada a filiação e o direito de
afastar-se para exercer cargo eletivo ou a ele concorrer (art. 237). A filiação a
partido político impede o exercício de funções eleitorais por membro do
Ministério Público, até 2 (dois) anos do seu cancelamento (art. 80).
Estes dispositivos foram objeto de Ação Direta de
Inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal. Na Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 1.371-822, proposta pelo Procurador-Geral da
República e relatada pelo Ministro Néri da Silveira, o Supremo Tribunal
Federal posicionou-se no seguinte sentido:

“Decisão: O Tribunal, por votação majoritária, julgou


parcialmente procedente a ação direta, para, sem redução de
texto, (a) dar, ao art. 237, inciso V da Lei Complementar federal
nº 75, de 20/5/93, intepretação conforme à Constituição, no
sentido de que a filiação partidária de membro do Ministério
Público da União somente pode efetivar-se nas hipóteses de
afastamento de suas funções institucionais, mediante licença, nos
termos da lei, e (b) dar, ao art. 80 da Lei Complementar federal nº
75/93, interpetração conforme à Constituição, para fixar como
única exegese constitucionalmente possível aquela que apenas
admite a filiação partidária, se o membro do Ministério Público
estiver afastado de suas funções institucionais, devendo cancelar
sua filiação partidária antes de reassumir suas funções, quaisquer
que sejam, não podendo, ainda, desempenhar funções pertinentes
ao Ministério Público Eleitoral senão depois de dois anos após o
cancelamento dessa mesma filiação político-partidária, vencido o
Ministro Octávio Gallotti, que julgava totalmente improcedente a
referida ação direta.”

Convém destacar, ainda, que o mesmo posicionamento foi


mantido na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.377-7 23, proposta
também pelo Procurador-Geral da República e relatada pelo Ministro Nelson
Jobim:

“Decisão: O Tribunal, por votação majoritária,


julgou parcialmente procedente a ação direta, para, sem redução
de texto, conferir, ao inciso V do art. 44 da Lei nº 8.625, de
12/02/93 (Lei Orgânica do Ministério Público), intepretação
conforme à Constituição, definindo como única exegese
constitucionalmente possível aquela que apenas admite a filiação
partidária de representante do Ministério Público dos Estados-
22
Decisão de mérito publicada no Diário da Justiça, Seção 1-e, dia 15.06.98, p. 2.
23
Decisão de mérito publicada no Diário da Justiça, Seção 1-e, dia 15.06.98, p. 2.
membros, se realizada nas hipóteses de afastamento, do integrante
do Parquet, de suas funções institucionais, mediante licença, nos
termos da lei, vencido o Ministro Octávio Gallotti, que julgava
totalmente improcedente a referida ação direta.”

O membro do Ministério Público poder ter sua inelegibilidade


declarada se não afastar das suas funções institucionais até 6 (seis) meses
anteriores ao pleito, conforme previsto no art. 1º, inciso II, letra “j”, da Lei
Complementar nº 64/90 (Lei de Inelegibilidades). O prazo de
desincompatibilização deve ser observado, prolongando-se por todo o período
eleitoral.

Realizada a eleição e apurados os votos, o membro do Ministério


Público da União (incluído os do Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios) deve retomar o exercício de suas funções institucionais, sob pena
de caracterização de abandono do cargo. A Lei Complementar nº 75/93 não
dispõe sobre o assunto. Todavia, o art. 287 desta lei prevê a aplicação
subsidiária das disposições gerais referentes aos servidores públicos,
respeitadas, quando for o caso, as normas especiais contidas nesta Lei
Complementar. Faz-se necessário, então, a análise do Regime Jurídico Único-
RJU (Lei nº 8.112/90), que trata da licença para atividade política (art. 86).

O art. 86, §§ 1º e 2º, do RJU estabelecia o prazo de 15 (quinze


dias) para o retorno às atividades funcionais. Com a publicação da Lei 9.527,
de 10.12.97, este prazo foi reduzido, devendo o servidor retornar ao trabalho
até o décimo dia seguinte ao da eleição, assegurados os vencimentos do
cargo efetivo. A nova redação do § 2º, do art. 86, da Lei nº 8.112/90, está em
consonância com o art. 1º, inciso II, letra “l”, da Lei Complementar nº 64/90
(Lei de Inelegibilidades), que assegura aos servidores públicos, estatutários ou
não, dos órgãos ou entidades da administração direta ou indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos Territórios, inclusive das
fundações mantidas pelo poder público, afastados para concorrerem ao pleito,
o direito à percepção dos seus vencimentos integrais. Neste sentido é o
posicionamento do Tribunal Superior Eleitoral, expresso na Resolução nº
18.019 – Consulta nº 12.49924, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, verbis:

“Inelegibilidade de servidores públicos em exercício (Lei


24
Publicada no Diário da Justiça, Seção I, de 09 de abril de 1992 e na Revista Jurisprudência do Tribunal
Superior Eleitoral, Volume 4, Número 1, jan./mar. 1993, ps. 334/335.
Complementar n. 64/90, art. 1.°, II, g): incidência nos pleitos
municipais e regime de desincompatibilização. Regime de
exclusão: rerratificação das Resoluções ns. 17.964 e 17.966, de
26.3.92.
“I, a - Aplica-se às eleiçoes municipais a inelegibilidade da
alínea l, art. 1.°, II, da Lei Complementar n.° 64/90, desde que
vinculado o servidor candidato a repartição, fundação pública ou
empresa que opere no território do Município.
“I, b - Para excluir a inelegilidade de que cuida o item I,
a, supra, deve o candidato às próximas eleições municipais
afastar-se do exercício do cargo, emprego ou função até 2 de
julho de 1992.
“I, c - O servidor afastado para o fim do item I, b, supra,
tem direito à remuneração integral por todo o tempo de
afastamento exigido.
“I, d - A administração poderá subordinar a
continuidade do afastamento remunerado à prova, no termo
do prazo respectivo, do pedido de registro da candidatura;
definitivamente indeferido o registro, cessa o direito ao
afastamento.
“I, e - Não se aplica aos titulares de cargos em comissão de
livre exoneração o direito ao afastamento remunerado de seu
exercício, nos termos do art. 1.°, II, l, da Lei Complementar n.°
64/90.
“II - Quando o afastamento do exercício do cargo, emprego
ou função não for necessário à elegibilidade, porque não incidente
a regra mencionada, a ‘licença para atividades políticas’ do
servidor candidato rege-se pela Lei n.° 8.112/90.
“III, a - Aplica-se às eleições municipais a inelegibilidade
da alínea g, art. 1.°, II, da Lei Complementar n.° 64/90, aos
titulares de cargos de direção, administração ou representação das
entidades ali referidas, desde que a sua base territorial
compreenda o Município considerado.
“III, b - Para excluir a inelegibilidade de que cuida o item
III, a, supra, não é necessária a cessação definitiva da investidura,
bastando que o titular, candidato às próximas eleições municipais,
se afaste do exercício dele até 2 de junho de 1992.”

Assim, o membro do Ministério Público do Distrito Federal e dos


Territórios pode concorrer a cargo eletivo, observando os dispositivos
constitucionais e infraconstitucionais, bem como a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.

12 – COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA:

Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar a ação


penal relativa a crime comum e de responsabilidade praticado por membro do
Ministério Público da União que oficie perante Tribunal. Assim, o Procurador-
Geral de Justiça e os Procuradores de Justiça do Distrito Federal e Territórios,
isolados ou em concurso de agentes25, respondem pelos seus crimes
(abrangidos os crimes comuns, contravenções e crimes de responsabilidade)
perante o Colendo Superior Tribunal de Justiça (art. 105, inciso I, letra “a”, da
Constituição Federal).

13 – SERVIDORES MILITARES DO DISTRITO FEDERAL:

A Constituição Federal de 1988, dispõe, em diversos artigos,


sobre a Polícia Militar do Distrito Federal. O art. 21, inciso XIV, destina à
União a competência para organizar e manter a polícia militar do Distrito
Federal. O art. 32, § 4º, estatui que a lei federal disporá sobre a utilização, pelo
Governo do Distrito Federal, da polícia militar. Nos termos do art. 144, § 6º, a
polícia militar subordina-se ao Governador do Distrito Federal.

Cabe ressaltar, entretanto, que o art. 42, caput, do Texto


Constitucional, consagra como servidores militares do Distrito Federal os
integrantes de sua polícia militar e de seu corpo de bombeiro militar, verbis:

“Art. 42. São servidores militares federais os integrantes


das Forças Armadas e servidores militares dos Estados,
Territórios e Distrito Federal os integrantes de suas polícias
militares e de seus corpos de bombeiros militares.”

25
Ação Penal nº 125-DF, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros. Esta ação (queixa-crime) foi proposta contra
dois Procuradores de Justiça e dois Promotores de Justiça do Distrito Federal e Territórios. O Ministério
Público Federal recomendou o prosseguimento do feito. Todavia, o Ministro Relator negou seguimento à
queixa-crime, por considerar atípica a conduta dos querelados. Decisão publicada no Diário da Justiça, dia
12.11.98, ps. 74/75.
Mesmo com a Emenda Constitucional nº 18, de 06 de fevereiro
de 1999, os integrantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militares
continuam a ser servidores do Distrito Federal:

“Art. 42 – Os membros das Polícias Militares e Corpos


de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.”

Nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição Federal de 1988, as


pessoas jurídicas de direito público, incluído o Distrito Federal, responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. Ou seja,
o Distrito Federal é civilmente responsável pelos danos que seus agentes
públicos (autoridades e servidores públicos, civis e militares), causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra os responsáveis, nos casos de
dolo ou culpa.

Assim, de acordo com a Lei Fundamental da República, os


integrantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito
Federal são servidores militares do Distrito Federal, e este responde
civilmente pelos danos causados por seus agentes, sendo desnecessária a
citação ou intervenção da União no feito, como liticonsorte necessário ou
facultativo passivo.

A jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos


Territórios já se posicionou neste sentido:

“Mandado de segurança impetrado por entidade associativa em


favor de seus associados (Oficiais, Subtenentes e Sargentos da
PMDF) de que se conhece, em face de disposição constitucional,
presentes os respectivos pressupostos. Apesar de mantida e
organizada pela União, a PMDF integra o complexo
administrativo local, aplicando-se-lhe, de conseqüência, a
legislação distrital. Direito adquirido à percepção de diferenças
estipendiárias, vigente à epoca legislação que as concedia.
Segurança concedida.”

(Mandado de Segurança nº 4.074/95, Cons. Especial, em


26.09.95. Rel. Des. Romeu Barbosa Jobim, dec. unân.).

- LEI DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL E


DOS TERRITÓRIOS:

- REGIMENTO INTERNO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO


DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS:

Você também pode gostar