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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA 5a VARA

CRIMINAL DE BRASÍLIA/DF.
Inquérito Policial nº.: 0731879-43.2022.8.07.0001
Paciente:
, brasileira, solteira, advogada, regularmente inscrita na OAB/DF, sob o nº. 50402, ,
brasileira, casada, advogada, regularmente inscrita na OAB/DF, sob o nº. 62.891, ambas
com endereço profissional na Quadra 43, lote 78, Centro Empresarial Ello, vem,
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 5º, inciso
LXVIII, da CF/88, e no artigo 648, inciso II, do CPP, impetrar a presente açã o de HABEAS
CORPUS PARA TRANCAMENTO DE INQUÉ RITO POLICIAL COM PEDIDO LIMINAR DE
SUSTAÇÃ O DA PERSECUÇÃ O PENAL, em favor do paciente , brasileiro, solteiro, vendedor,
residente e domiciliado na AOS 07, bloco C, apartamento 503, Octogonal/DF, por estar
sofrendo CONSTRANGIMENTO ILEGAL por parte do Excelentíssimo Senhor Doutor
Delegado de Polícia da 3a Delegacia de Polícia (Inquérito nº.: 224/2022) pelos motivos de
fato e de direito a seguir expostos:

1. DOS FATOS:
No dia 30 de março de 2022 foi registrado boletim de ocorrência em face do paciente, pela
pessoa de Caio, o qual alega que teria Furtado mediante fraude aparelhos celulares que
estavam em sua posse. Ocorre que um ano apó s as investigaçõ es, ainda nã o houve
conclusã o do Inquérito Policial, sendo que inclusive os prazos concedidos a autoridade
policial foram decorridos sem que houvesse conclusã o.
Ressalta-se que até agora nã o existem provas inequivocas da autoria e materialidade, tanto
que nã o houve conclusã o do Inquérito, tampouco propositura da açã o penal.

2. DOS DIREITOS:
Nada é mais constrangedor do que ter sida vida interferida pela polícia e ver seu nome
constar como "investigado" em Inquérito Policial. E para piorar essa situaçã o, quando a
persecuçã o é injusta e descabível.
Mas, apesar do constrangimento gerado em decorrência dessa situaçã o, o Superior
Tribunal de Justiça entende que o trancamento do inquérito policial bem como da açã o
penal, é possível, tendo cará ter de medida excepcional e ocorre nas hipó teses de inépcia da
denú ncia, atipicidade da conduta, causa de extinçã o da punibilidade ou ausência de indícios
mínimos de autoria ou de prova de materialidade, senã o vejamos:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. AUSÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS
HÁBEIS A DESCONSTITUIR A DECISÃO IMPUGNADA. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. CRIMES
TRIBUTÁRIOS. ALEGADA AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. INVIABILIDADE. DÚVIDAS QUANTO À ADEQUADA
TIPIFICAÇÃO DOS FATOS. FUNDADOS INDÍCIOS DA PRÁTICA DO CRIME TRIBUTÁRIO FORMAL. ART. 1º, IV, DA LEI N.
8.137/1990. NECESSIDADE DE PROSSEGUIMENTO DA INVESTIGAÇÃO. AGRAVO DESPROVIDO. I - O agravo
regimental deve trazer novos argumentos capazes de alterar o entendimento anteriormente firmado, sob pena de
ser mantida a r. decisão impugnada por seus próprios fundamentos. II - O trancamento do inquérito policial ou da
ação penal, constitui medida excepcional, justificada apenas quando comprovadas, de plano, sem necessidade de
análise aprofundada de fatos e provas, inépcia da exordial acusatória, atipicidade da conduta, causa de extinção de
punibilidade ou ausência de indícios mínimos de autoria ou de prova de materialidade. III - No caso dos autos, a
despeito do pedido de trancamento do inquérito policial por falta de justa causa, em virtude da ausência de
constituição definitiva do crédito tributário, o eg. Tribunal a quo aduziu ainda não é possível definir a exata
tipificação das condutas que são imputadas à recorrente, a fim de aferir se a hipótese é de crime formal, material
ou ambos. IV - No v. acórdão consignou-se que há indícios de que houve emissão de notas fiscais em desacordo
com a legislação, conduta que, em tese, configura o crime tributário formal previsto no inciso V do art. 1º da Lei n.
8.137/90. V - Nesse contexto, havendo dúvidas quanto à correta tipificação dos fatos, mas verificando-se fundados
indícios da prática do crime previsto no art. 1º, inciso V, da Lei n. 8.137/1990, que se trata de crime formal, é
prescindível, portanto, a constituição definitiva do crédito tributário para sua tipificação, se mostrando prematuro
o pleito de trancamento do inquérito policial. VI - A existência de recurso administrativo a fim de impugnar a
regularidade na emissão das notas fiscais, não obsta, necessariamente, o prosseguimento do inquérito policial,
haja vista a independência das instâncias. Agravo regimental desprovido. (AgRg no RECURSO EM HABEAS CORPUS
Nº 98.126 - DF 2018/, relator Ministro Felix Fischer) (g.n)

A impetraçã o do writ é perfeitamente cabível, pois as consequências advindas de uma


persecuçã o penal claramente evidenciam ameaça a liberdade do investigado. O crime em
que o paciente está sendo investigado é o crime de furto mediante fraude.
Em 2019, ao julgar Recurso em Habeas Corpus nº. 106.041 - TO (2018/), o Senhor Ministro
Rogério Schietti Cruz, concluiu pelo arquivamento das investigaçõ es em virtude da demora
para sua conclusã o. Na oportunidade, impô s critérios para se determinar o arquivamento
de um inquérito policial ainda nã o atingido por causa extintiva de punibilidade ou por
outra razã o usualmente aceita - atipicidade evidente da conduta e a completa falta de justa
causa - para interromper o exercício do ius puniendi estatal.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, acertadamente, está pacificando o tema,
no sentido de que é possível o trancamento do inquérito policial em virtude do excesso de
prazo. Para tanto, se faz necessá rio analisar o caso concreto para verificar a existência de
situaçã o particular que permita concluir pela presença de um constrangimento ilegal na
demora para a conclusã o do procedimento policial, senã o vejamos:
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. INCABÍVEL. EXCESSO DE
PRAZO. COMPLEXIDADE DO FEITO. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. O
trancamento do inquérito policial por meio do habeas corpus é medida excepcional, somente passível de adoção
quando houver inequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da
punibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade. 2. É uníssona a
jurisprudência desta Corte no sentido de que o constrangimento ilegal por excesso de prazo só pode ser
reconhecido quando seja a demora injustificável, impondo-se adoção de critérios de razoabilidade no exame da
ocorrência de constrangimento ilegal. 3. Em face da complexidade do feito, não se verifica ilegalidade, pois
apontado que o esquema criminoso é amplo e bem-estruturado, com indícios do protagonismo das pacientes, e
envolvimento de diversos agentes, mais de uma centena de vítimas e um estruturado esquema de fraudes. 4.
Agravo regimental no recurso em habeas corpus improvido. ( AgRg no RHC n. 118.556/MT, Rel. Ministro Nefi
Cordeiro, 6a T., julgado em 5/3/2020, DJe 9/3/2020) (g.n)
EXCESSO DE PRAZO. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. TRANCAMENTO DA
INVESTIGAÇÃO. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO IMPROVIDO. 1. A investigação criminal gera danos à pessoa, suportáveis
pelo interesse da apuração da justa causa, mas não passíveis de eternização. 2. Tendo sido iniciadas investigações
em 2012, e encontrando-se o inquérito policial, injustificadamente, sem conclusão desde 2017, porque não
realizadas diligências requeridas pela acusação, e tendo o feito ficado paralisado para manifestação acerca da
prorrogação do prazo para conclusão das diligências desde 06/04/2018, não revela ilegalidade a decisão do
Tribunal local de reconhecer o excesso de prazo da investigação em junho/2018, já que constatada clara mora e
indevido dano estatal, a justificar a concessão de habeas corpus para determinar seu trancamento. Incidência da
Súmula 83/STJ. 3. Agravo regimental improvido. ( AgRg no AREsp n. 1.453.748/PR, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, 6a
T., julgado em 10/3/2020, DJe 16/3/2020) HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO DE RELATOR QUE
INDEFERIU LIMINAR NA ORIGEM. SUPERVENIÊNCIA DE JULGAMENTO DO MÉRITO NA CORTE REGIONAL. ACÓRDÃO
CARREADO AOS AUTOS. ANÁLISE DO ALEGADO CONSTRANGIMENTO. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. HIPÓTESE NÃO
COMPROVADA DE PLANO. NECESSIDADE DE AMPLO REEXAME DA MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INVIABILIDADE
NA VIA ELEITA. EXCESSO DE PRAZO PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. DEMORA NÃO JUSTIFICADA.
ILEGALIDADE MANIFESTA. [...] 4 . Os prazos indicados para a consecução da instrução criminal servem apenas
como parâmetro geral, pois variam conforme as peculiaridades de cada processo, razão pela qual a jurisprudência
uníssona os tem mitigado, à luz do princípio da razoabilidade. 5. Hipótese em que o inquérito policial, iniciado em
14/12/2015, embora envolva investigação extremamente complexa, encontra-se encerrado desde 9/4/2018. Os
autos foram encaminhados ao Ministério Público Federal há cerca de um ano e, desde então, sem nenhuma
justificativa apresentada neste feito, aguardam inertes análise para oferecimento da denúncia. 6. Caracterizada a
ineficiência estatal, impõe-se o trancamento do inquérito policial por excesso de prazo. 7. Ordem concedida para
trancar o referido inquérito policial em relação ao paciente. ( HC n. 480.079/SP, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,
6a T., julgado em 11/4/2019, DJe 21/5/2019)
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. PECULATO.
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. TRANCAMENTO DO INQUÉRITO. CARÊNCIA DE JUSTA CAUSA NÃO EVIDENCIADA.
MOROSIDADE NO DESFECHO DAS INVESTIGAÇÕES. PRAZO PARA ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO FIXADO. WRIT
NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 2. Nos termos do entendimento consolidado desta Corte, o
trancamento de inquérito por meio do habeas corpus é medida excepcional, que somente deve ser adotada
quando houver inequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da
punibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito, o que não se infere
não hipótese dos autos. [...] 8. Conquanto a Constituição Federal consagre a garantia da duração razoável do
processo, o excesso de prazo na conclusão do inquérito policial somente poderá ser reconhecido caso venha a ser
demonstrado que as investigações se prolongam de forma desarrazoada, sem que a complexidade dos fatos sob
apuração justifique tal morosidade. Por outro lado, ainda que não tenha sido decretada a sua custódia preventiva
ou a qualquer outra medida cautelar, inegável reconhecer que o prosseguimento do inquérito por prazo indefinido
traz inegável constrangimento ao investigado, máxime se ele houver sido formalmente indiciado. [...] 1 1.
Conforme o reconhecido em recente julgado desta Quinta Turma, "afigura-se prudente fixar prazo para conclusão
do inquérito policial, com o objetivo de evitar o perecimento de toda a investigação já realizada, pois o prazo
transcorrido até aqui indica a iminência de que seja ultrapassada a fronteira da razoabilidade, que poderia
caracterizar, de forma superveniente, constrangimento ilegal. Assim, impõe- se a limitação do prazo para o
encerramento das diligências em curso, que devem ser concluídas no prazo máximo de 30 (trinta) dias" ( AgRg no
HC 491.639/MA, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 30/05/2019, DJe 04/06/2019). 12. Writ
não conhecido. Ordem concedida, de ofício, tão somente para fixar o prazo improrrogável de 30 dias para o
desfecho do inquérito policial, a contar a publicação do acórdão. ( HC n. 444.293/DF, Rel. Ministro Ribeiro Dantas,
5a T., julgado em 3/12/2019, DJe 13/12/2019)

Lado outro, quando estamos diante de crimes gravíssimos e complexos, cuja apuraçã o
demora por sua pró pria natureza ou há esquema criminoso amplo e bem-estruturado,
envolvimento de diversos agentes, diversas vítimas, nã o se verifica a ilegalidade em virtude
do excesso de prazo, baseando-se em critérios de razoabilidade.
RECURSO EM HABEAS CORPUS. SEQUESTRO E HOMICÍDIO QUALIFICADO. EXCESSO DE PRAZO PARA A CONCLUSÃO
DO PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO. NÃO OCORRÊNCIA. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. É entendimento
consolidado nos tribunais que os prazos indicados na legislação processual penal para a conclusão dos atos
processuais não são peremptórios, de modo que eventual demora no julgamento do recurso de apelação deve ser
aferida levando-se em conta as peculiaridades do caso concreto. 2. Embora se identifique o decurso de mais de
oito anos desde a instauração do inquérito policial, os crimes apurados são gravíssimos e complexos, cuja apuração
demora, é bem verdade, mas não a ponto de impor a cessação da atividade investigatória do Estado, sobretudo
porque não houve restrição à liberdade do recorrente e o prazo prescricional está longe de ser alcançado. 3.
Recurso não provido ( RHC n. 74.078/MG, Rel p/acórdão Ministro Rogerio Schietti, 6a T, DJe 18/2/2019,
destaquei).
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. INCABÍVEL. EXCESSO DE
PRAZO. COMPLEXIDADE DO FEITO. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. O
trancamento do inquérito policial por meio do habeas corpus é medida excepcional, somente passível de adoção
quando houver inequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da
punibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade. 2. É uníssona a
jurisprudência desta Corte no sentido de que o constrangimento ilegal por excesso de prazo só pode ser
reconhecido quando seja a demora injustificável, impondo-se adoção de critérios de razoabilidade no exame da
ocorrência de constrangimento ilegal. 3. Em face da complexidade do feito, não se verifica ilegalidade, pois
apontado que o esquema criminoso é amplo e bem-estruturado, com indícios do protagonismo das pacientes, e
envolvimento de diversos agentes, mais de uma centena de vítimas e um estruturado esquema de fraudes. 4.
Agravo regimental no recurso em habeas corpus improvido. ( AgRg no RHC n. 118.556/MT, Rel. Ministro Nefi
Cordeiro, 6a T., julgado em 5/3/2020, DJe 9/3/2020)
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM HABEAS CORPUS.
RECURSO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO JULGADO PREJUDICADO. PLEITO DE TRANCAMENTO DO INQUÉRITO
POLICIAL. INVIABILIDADE. PERDA DO OBJETO. INQUÉRITO FINALIZADO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
PREJUDICADO. RECURSO DESPROVIDO. I - E assente nesta Corte Superior de Justiça que o agravo regimental deve
trazer argumentos capazes de alterar o entendimento anteriormente firmado, sob pena de ser mantida a r.
decisão impugnada por seus próprios fundamentos. II - Quanto ao apontado descumprimento de ordem anterior
desta Corte de Justiça para conclusão das investigações, é cediço que o tempo para a conclusão do inquérito
policial ou da instrução criminal não tem as características de fatalidade e de improrrogabilidade, fazendo-se
necessário raciocinar com o juízo de razoabilidade a fim de caracterizar o excesso, não se ponderando a mera
soma aritmética de tempo para os atos de investigação ou processuais. III - In casu, trata-se de feito complexo
envolvendo agente público (ex-prefeito municipal) que, anteriormente, detinha foro por prerrogativa de função
junto ao eg. Tribunal de origem, e, que apurava dois crimes graves, homicídio consumado e homicídio tentado,
com suposta motivação política, já tendo sido ouvidas 26 (vinte e seis) testemunhas além de terem sido realizados
diversos exames periciais, o que implica em delonga na conclusão do inquérito. IV - Concluído o inquérito policial e
indiciado o agravante, mesmo que após o prazo fixado para conclusão do procedimento, resta prejudicado o
exame dos embargos de declaração pela perda do objeto. Agravo regimental desprovido. ( AgRg nos EDcl no HC n.
518.278/MA, Rel. Ministro Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do TJ/PE), 5a T., julgado em
17/12/2019, DJe 19/12/2019).

O presente caso se enquadra perfeitamente na excepcionalidade da possibilidade do


trancamento do inquérito policial em virtude do excesso de prazo. O fato envolve suposto
prá tica de crime de furto mediante fraude, sem complexidade para investigaçã o, estando a
3a Delegacia de Polícia habituada a lidar com tais delitos, exceto com a presente
investigaçã o, que está se perpetuando no tempo sem motivo algum, por simples inércia do
delegado de polícia e em virtude da AUSÊ NCIA DE PROVAS da efetiva participaçã o do
paciente.
Nessa perspectiva, "a excessiva demora na soluçã o da lide penal representa sofrimento ao
acusado e descrédito da justiça perante a sociedade. Por maior que seja a complexidade do
caso, deve haver um prazo para seu encerramento. É uma questã o de razoabilidade."
(THUMS,
G. Sistemas processuais penais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 31).
Talvez o grande problema da jurisdiçã o penal atualmente seja o tempo para o
cumprimento de todos os atos necessá rios para, desde a notícia da prá tica de um crime,
investigar, processar e definitivamente condenar quem tenha sido identificado como seu
autor. E se, de um lado, nã o se toleram julgamentos sumá rios, em que nã o se permita ao
acusado defender-se, a contento, da acusaçã o, nã o se aceitam, por outro lado, investigaçõ es
e processos eternizados no tempo, que venham a potencializar as cerimô nias degradantes
de que fala a doutrina (entre as quais a de e Manuel COSTA ANDRADE. Criminologia - O
Homem Delinqü ente e a Sociedade Criminó gena. Coimbra, Coimbra Editora, 1997, passim).
No voto-vista do Recurso em Habeas Corpus nº 106.041 - TO (2018/), o Min. Rogerio
Schietti Cruz afirma que, "apesar dos prazos indicados no artigo 10 do CPP nã o possuírem
cará ter peremptó rios e podem ser, indefinidamente, prorrogados (caso investigado esteja
solto), estes devem seguir critérios de razoabilidade para justificar fatores que possam
exigir um tempo maior da investigaçã o." De acordo com o entendimento do STJ, devem ser
analisados:
· A complexidade da investigaçã o (nú mero de possíveis autores, extensã o da trama
criminosa, cará ter interestadual ou até transnacional das ilicitudes, envolvimento de
pessoas com prerrogativa de foro e que, portanto, possam gerar deslocamento de
competência ou submissã o do inquérito à deliberaçã o de autoridade judiciá ria diversa da
competente para coinvestigador);
O paciente está sendo investigado/indiciado por suposta prá tica de crime de furto
mediante fraude desde março de 2022, e até o presente momento nã o houve o
oferecimento da denú ncia. As investigaçõ es estã o se prolongando até os dias atuais e os
autos estã o parados com o Delegado de Polícia desde 15 de dezembro de 2022. O crime nã o
demanda complexidade, pois a competente Delegacia de Polícia Civil está habituada a
investigar delitos da mesma natureza. Excepcionalmente, nesse caso, apesar de inú meras
diligências, o objetivo do inquérito policial (apresentar os indícios suficientes de autoria e
prova da materialidade, formando a justa causa para o Ministério Pú blico oferecer a
denú ncia) nã o foi atingido.
O paciente colaborou e está colaborando até hoje para o processamento do procedimento
administrativo, comparecendo para formalizaçã o dos atos que fora requisitado. Inclusive,
se apresentou na Delegacia para prestar esclarecimentos sobre os fatos por diversas vezes.
Assim, as investigaçõ es se encontram paralisadas, sem nenhum ato concreto que denote o
empenho para o esclarecimento dos fatos, apó s sucessivas prorrogaçõ es do prazo (art. 10
do CPP).
Por fim, é forçoso concluir que a persecuçã o do Inquérito Policial se encontra paralisada,
tendo em vista que está há mais de 6 meses em carga com Delegado de Polícia, outro
indício que demonstra sua paralisaçã o é as inú meras remessas ao Ministério Pú blico e o
descumprimento reiterado de prazos determinados pelo Promotor de Justiça. Há de se
ressaltar que nã o há previsã o para os autos retornarem ao Ministério Pú blico.
3. DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA CONCESSÃO DO PEDIDO DE
LIMINAR PARA SUSTAR O ANDAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
O presente writ, como medida extrema de proteçã o da liberdade do indivíduo, admite a
concessã o do pedido liminarmente, desde que presentes o periculum in mora (a
probabilidade do dano irrepará vel) e o fumus boni iuris (elementos de impetraçã o que
indiquem a existência de ilegalidade no constrangimento).
No caso, a probabilidade do dano irrepará vel já nã o é mais uma probabilidade, mas um
fato, já que o inquérito policial já foi instaurado e continua em curso há 1 ano, existindo a
real possibilidade de que direitos e garantias fundamentos do paciente sejam violados, seja
por eventual oferecimento denuncia e consequente persecuçã o penal com sentença penal
condenató ria.
Por fim, a ilegalidade no constrangimento salta aos olhos em razã o do evidente excesso de
prazo para conclusã o do Inquérito Policial e em virtude da ineficiência estatal. O Ilmo.
Delegado de Polícia nã o conseguiu atingir levantar elementos suficientes para formar a
opinio delicti do Ministério Pú blico.
Portanto, deve o andamento do referido inquérito Policial ser sustado até que seja julgado
o mérito do presente writ.

4. DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja concedida liminarmente a ordem de habeas corpus para sustar
o andamento do Inquérito Policial nº 224/2022, representado pelo nú mero judicializado -
43.2022.8.07.0001, que tramita em desfavor do paciente , até que se julgue o mérito do
presente writ.
Por fim, quando do julgamento de mérito, requer que seja concedida a ordem de habeas
corpus para o trancamento do Inquérito Policial anteriormente mencionado, em razã o do
excesso de prazo, ausência de justa causa e ausência da formaçã o da opinio delict do
ministério pú blico estadual.
Termos em que,
Pede deferimento.
Brasília/DF, 27 de março de 2023.

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