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Programa de Ergonomia da Embraer

Comitê de Ergonomia
Grupo Ergo&Ação/UFSCar.

Parte II
5. Métodos e Técnicas aplicadas ao Projeto de Artefatos

5.1. Introdução

O design de engenharia é um processo de integração e síntese contido dentro do


contexto de um negócio e de um ambiente social regido por regras, normas e
valores. Ainda, todo projeto é gerenciado e condicionado por restrições de escopo
ou metas, tempo e recursos, envolvendo pessoas com diferentes representações
acerca dos problemas em questão. Durante o processo de projeto existe uma
negociação entre os envolvidos da qual resulta o consenso materializado no
dispositivo técnico.

A representação trazida à tona pela ergonomia constitui um dos elementos que irão
ser integrados e sintetizados no processo de design. Desde que outros atores
sociais participam e introduzem as suas representações, não podemos falar em
projeto ergonômico ou solução ergonômica. Assim a articulação entre ergonomia e
desgin é pontuada pelos seguintes aspectos:

a) a AET cumpre o papel de revelar as diferentes determinantes sobre o trabalho no


campo material e imaterial, articulando-as em uma base conceitual derivada dos
conhecimentos acerca do homem no trabalho;

b) o design de engenharia deve objetivar a transformação das recomendações


ergonômicas em soluções de projeto integradas com os diferentes aspectos que
determinam a situação de trabalho.

Considerando que nem a ergonomia nem o design de engenharia operam com leis
da natureza ou “verdades absolutas”, a integração entre estas duas disciplinas
passa necessariamente por uma racionalidade derivada do campo da ação. Tal
racionalidade constitui uma reinterpretação da situação de trabalho cuja síntese
deriva das colaborações individuais de trabalhadores, supervisores, gerentes,
pesquisadores e profissionais envolvidos com o projeto.

5.2. Modelo genérico

O modelo para desenvolvimento de produtos apresentado no capítulo anteiror


propõe uma estrutura genérica para o processo de projeto. O quadro 1 reflete a
metodologia geral utilizada na fase de projetação em ergonomia. É importante
considerar que o processo não é linear como apresentado bem como identificar que
nem todos os equipamentos passaram por todas as etapas apresentadas. Em
alguns casos as soluções podem encontradas em produtos existentes no mercado,
passando diretamente das características desejáveis para o teste. Em outros casos
recorre-se à empresas especializadas às quais cabe a condução do
desenvolvimento sob orientação dos membros do grupo de projeto do comitê de
ergonomia.

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Tendo-se definido o foco da ação para cada uma das situações de trabalho,
recorreu-se a duas fontes para a geração de conceitos: a revisão da bibliografia e o
levantamento das características desejáveis.

FOCO DA AÇÃO

Revisão da Literatura Características Desejáveis

Geração de Conceitos

Novos Conceitos

Testes dos Novos Conceitos

SEMINÁRIO

Especificação do Equipamento Outros estudos e desenvolvimentos

Quadro 1: Esquema geral do processo de reprojeto do dipositivo técnico.

No que se refere à pesquisa bibliográfica, devem ser levantados artigos e


publicações que tratam do trabalho em situações similares ou correlatas. Ainda,
recorreu-se a ampla bibliografia de caráter genérico acerca de ergonomia e
biomecânica. Os resultados desta pesquisa são apresentados em forma de fichas de
catalogação bibliográfica. Quanto ao levantamento das características desejáveis
para as situações de trabalho, recorreu-se aos grupos focais de trabalhadores.

Para a geração de conceitos deve-se partir da revisão bibliográfica e das


características desejáveis levantadas. Um aspecto importante nesta fase é a
realização de análises diacrônica e sincrônica do produto, referindo-se à sua
evolução sua histórica e as diferentes concepções em uso no momento atual,
respectivamente.

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O projeto de novos conceitos respalda-se sempre na utilização de técnicas de


representações tridimensionais, partindo de construções aproximadas em papelão,
madeira ou materiais metálicos a fim de testar o mais cedo possível os conceitos
propostos. Na medida que o desenvolvimento conceitual avançava, protótipos mais
elaborados devem ser construídos.

Todos os protótipos desenvolvidos devem ser colocados em teste nas situações


reais de utilização. Isto torna-se importante na medida que restrições, como de
espaço e de interferência entre atividades, não podem ser avaliadas nos
experimentos em laboratório.

Os resultados de cada desenvolvimento serão levados à avaliação nos seminários


do comitê de ergonomia, onde consolidaram-se as discussões acerca dos efeitos
positivos ou negativos dos conceitos desenvolvidos. Cabe ao comitê a
responsabilidade final sobre a aprovação ou não dos equipamentos a serem
formatados. A partir das deliberações nos seminários, resultaram as especificações
ou a necessidade de maiores aprofundamentos nos estudos.

Por fim, salienta-se que a representação sequencial destas atividades indica a


relevância temporal do processo de tomada de decisão ao longo do projeto. Apesar
deste não ocorrer de forma linear, existe um compromisso com questões que
deverão ser resolvidas a priori para que o projeto evolua dentro das limitações de
tempo e recursos. Assim, as etapas apresentadas devem ser entendidas como
sequencialmente prioritárias à tomada de decisão.

Dentro de cada uma destas etapas uma série de métodos e técnicas serão
empregadas para a condução das atividades de projeto. No decorrer deste capítulo
iremos tratar de métodos e técnicas que independem da disciplina ou do artefato.

5.3. Projeto Conceitual

O projeto conceitual representa as etapas do projeto onde ainda não esta


estabelecida uma base genérica para o produto, envolvendo desde a análise da
demanda até o estabelecimento de um conceito para o mesmo.

Nesta fase do projeto o objetivo é estabelecer um conceito para o produto que


atenda o conjunto de especificações derivadas da análise da demanda e das
restrições advindas do contexto do negócio. Trata-se de uma etapa de estruturação
de problema.

Clausing, 1995, apresenta o projeto conceitual como parte fundamental do processo


de desenvolvimento da qualidade total. A figura 1, ilustra o processo e detalha a
fase de design conceitual. O autor assume que nenhuma nova tecnologia é
desenvolvida no processo de projeto. Pelo contrário, “...é usualmente mais produtivo
estabelecer um fluxo de tecnologias genéricas que proporciona um alicerce
tecnológico para os novos produtos. Quando um conceito para um produto
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específico é desenvolvido, uma tecnologia já amadurecida é pescada (fished out) da


base tecnológica para ser integrada dentro do novo produto”, (pag. 106).

Figura 1. Desenvolvimento da Qualidade Total (Fase Conceitual)

Isto nos coloca dentro de um “campo de produtos”. A fase de design conceitual


objetiva afunilar este campo de produtos para um conceito que atenda às
especificações. O tal desenvolvimento se dá no interior de um conjunto de
especificações as quais servirão de referência para todo o processo de projeto. No
quadro 2, adaptado do capítulo 3 de Pugh (1990), apresentamos os fatores a serem
considerados nas especificações e as questões típicas associadas a cada um deles.

Quadro 2: Elementos do Product Design Specifications

Fator Questões típicas


1. Desempenho Quão rápido, quao lento, qão frequente, contínuo, descontínuo?
2. Ambiente Condições ambientais que incidirão sobre o produto em:
1. uso, manufatura, estocagem, instalação e transporte;
2. riscos, tipo de pessoas usando o equipamento e grau de abuso.
3. Espectativa de Vida Vida sob um determinado nível de desempenho e medido contra qual
critério?
4. Manutenção A manutenção regular é desejável ou possível?
O mercado no qual o produto irá ser colocado usualmente opera com
manutenção planejada?
A manutenção esta de acordo e é reconhecida como um benefício na
filosofia do custo do ciclo de vida?

5. Custo alvo do Como ele foi estabelecido e contra qual critério?


Produto Pode-se provar que o custo alvo é
alcançavel?
6. Embalagem É requerido embalagem?
Qual o efeito do volume do produto no custo de transporte, ...?
7. Transporte O produto é para o mercado interno ou será exportado?
Por qual meio de transporte?

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Como o produto será manuseado?


8. Qualidade e Massa, Lotes, Unitários; efeito na política de equipamentos; instalações de
Manufatura manufatura e investimentos requeridos na fabricação do produto.
9. Dimensão e Peso Existe alguma restrição de dimensão e peso?
É muito pesado para um simples elevador?
Será embarcado em um avião? De que tipo?
10. Estética, aparência Isto é sempre importante porque o consumidor primeiro vê o produto e
depois o coloca para funcionar.
11. Materiais São requeridos materias especiais?
Algum tipo de mateiral é proibido no mercado para o qual o produto é
pensado?
12. Vida esperada do O período de tempo esperado para a vida de mercado do produto interfere
produto na política de equipamentos e métodos de manufatura.
13. Normas e padrões O produto deverá atender às normas de que países?
14. Aspectos Todo produto em alguma fase da sua vida interage com pessoas; a
Ergonômicos extenção e a natureza desta interrelação deve ser investigada.
15. Consumidor Visões e preferências dos consumidores.
16.Competição Natureza e extensão da competição existente.
As especificações estão sendo formuladas em desencontro com os
competidores? Porque?
17. Qualidade e Níveis de qualidade e confiabilidade esperados eplo mercado e
confiabilidade necessários para assegurar o sucesso do produto. Dificuldade para
especificar em termos quantitativos, particularmente para produtos novos.
18. Vida de Prateleira Qual é a vida de prateleira usual?
Sob que condições de estocagem?
Deterioração do produto e da embalagem.
Componentes perecíveis.
19. Processos Processos especiais serão usados durante a fabricação?
Pode-se fazê-lo na compania ou a aplicação é muito específica.
20. Testes Todo produto deve ser testado, ou usar amostrragem?
Qual o tipo de equipamento de teste será usado?
Quem testemunhará os testes?
Qual é o custo razoável de teste por produto?
21. Segurança Níveis obrigatórios e desejáveis de segurança relacionados com a área de
mercado do produto.
Balanço entre segurança, acessibilidade e limitação de uso.
22. Restrições da O produto está se desviando da prática corrente da companhia.
Compania Qual o efeito disto no pessoal da companhia?
Restrições adivindas da planta de produção atual.
23. Restrições de As respostas vindas do mercado indicam a pouca aceitabilidade de
mercado componentes.
Condições relaciondas com o mercado externo.
O nivel tecnológico esta adequado ou não?
O mercado está pronto para um salto tecnológico.
24. Patentes Alguma patente é valida no campo específico do projeto?
É necessário uma busca de patentes?
25. Tempo Quanto tempo dispõe-se para fazer o projeto como um todo, em partes ou
fases?

26. Implicações O efeito do e no produto da estrutura política e social do mercado ou país


Políticas e Sociais para o qual é projetado e manufaturado?
27. Aspectos Legais Defeitos de especificação, projeto e manufatura.
28. Instalação Interface com outros produtos.

29. Descarte Qual o efeito do produto sobre o meio ambiente no momento do descarte?
30. Documentação Todo projeto deve ser documentado.

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O quadro apresentado nos posiciona dentro da complexidade que envolve o


desenvolvimento de um novo produto. Responder às questões levantadas significa
estabelecer um conjunto de indicadores que irão nortear o processo de projeto. É
importante frisar que o documento de especificação deve evoluir ao longo do projeto
incorporando as decisões tomadas encaminhando no sentido de restringir o escopo
do projeto. Guia para a preparação do PDS.

a) Lembre-se que o PDS é um documento de controle. Ele representa a


especificação que você deseja alcançar, e não aquilo já alcançado.
b) Lembre-se que ele é um documento de uso (por você e para outros dentro das
situações industriais). Ele deve ser escrito sucintamente e claro.
c) Nunca escreva um PDS na forma de ensaio. Use esquemas como o da figura 3.
Ele dever ser amigável ao usuário.
d) Desde o início tente quantificar parâmetros em cada área.
e) Desde que o PDS é único para cada projeto, você não precisa apresentá-lo
sempre da mesma forma.
f) Sempre apresente a data que o documento foi modificado e numere a edição.
g) Deixe claro as modificações no documento.

5.4. Métodos e Técnicas Independentes da Tecnologia

Na condução do projeto conceitual uma série de métodos e técnicas tem ganho


destaque na prática industrial. Tais práticas são de aplicação geral e independem da
tecnologia específica do produto.

Iremos abordar na sequência algumas das técnicas mais relevantes e amplamente


difundidas na área de desenvolvimento do produto. Os pressupostos que orientam a
aplicação destas técnicas envolvem o trabalho em equipes, a orientação para o
usuário e um processo simultâneo de projeto do produto e do seu processo de
manufatura.

5.4.1. Especificação - Quality Funtion Deployment (QFD).

O QFD é um método criada na década de 60 na Mitsubishi Heavy Industries e


aplicada na logística para construção de navios cargueiros. Em 1971 a Toyota aplica
tal abordagem utilizando-se de focus group no reprojeto de portas de automóveis. A
partir do anos 80 o método é amplamente difundido nos EUA. Atualmente o QFD é
uma das práticas recomendadas pela QS-9000 e está sendo difundida para todos os
ramos da indústria. No Brasil além das industrias do setor automobilístico ela tem
sido utilizada em outros setores. No campo da agroindústria, a Sadia é uma das
empresas que fazem uso desta abordagem.

Não existe uma definição clara para o termo QFD que é a tradução para língua
inglesa dos seis caracteres do kanji: hun shitsu (qualities, features, atributes); ki no
(function, macanization); e, ten kai (deployment, development, evolution).
O conceito do QFD é definido por Qinta & Praizler como "método específico de
ouvir o que dizem os clientes, descobrir exatamente o que eles querem e, em
seguida, utilizar um sistema lógico para determinar a melhor forma de satisfazer
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essas necessidades com os recursos existentes". Cicala adota a definição


“metodologia que facilita a ordenação e transformação de requisitos ao longo do
processo de desenvolvimento do produto". Nós adotamos a definição de que QFD é
uma técnica que pode ser aplicada no processo de desenvolvimento de produtos,
objetivando a transição entre os requisitos desejáveis pelo consumidor ou usuário e
as especificações de engenharia.

Figura 2: Quality Function Deployment

Do ponto de vista prático o QFD está situado no contexto das novas tecnologias de
gestão que estão fundamentadas nos preceitos da engenharia simultânea e na
orientação para o mercado, no trabalho em equipes multifuncionais de projeto e na
gestão por processos. A técnica em sí busca desdobrar as expectativas
dos clientes para um dado produto por meio de quatro matrizes que correspondem
ao Planejamento do Produto, que parte dos requisitos dos consumidores
caracterizados por idéias vagas e abstratas, transformando-as em requisitos
de projeto, que definem as características globais para o produto (conceito). Uma
segunda matriz, denominada de Projeto do Produto, desdobra os requisitos globais
do produto em requisitos específicos para cada um dos subsistemas definindo o
modo de obtenção dos efeitos técnicos necessários. O próximo passo é construir
uma matriz que desdobre os requisitos técnicos de cada subsistema em requisitos
para o processo produtivo. Esta matriz recebe o nome de Projeto do Processo.
Finalmente, os requisitos do processo produtivo são desdobrados em Requisitos de
Processos que visam estabelecer os métodos de controle sobre a produção, afim
de garantir que as entradas deste processo, ou seja a voz do consumidor, seja
respeitada ao longo do processo produtivo. A figura 2 mostra o desdobramento
anteriormente descrito.

Na prática é a primeira matriz do QFD, Planejamento do Produto, que tem sido


difundida com maior intensidade. Sem dúvida ela representa o coração da técnica e
remete para discussões conceituais que definem o sucesso ou o fracasso da
abordagem. Trata-se aqui de discutir a possibilidade metodológica de captar a voz
do consumidor. Isto não é uma tarefa fácil. A melhor abordagem para a questão é
desenvolvida por Kawakita, in Clausing (1995). A metodologia apresentada pelo
autor aproxima-se das metodologia soft de estruturação de problemas. A figura 3,
apresenta a matriz genérica do QFD constituída de 11 campos ou quartos.

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Como já indicado anteriormente, o coração do QFD é a obtenção dos “ques” dos


consumidores. Eles objetivam captar as expectativas dos consumidores em relação
ao produto. Tais "ques" podem ser qualidades, atributos ou requisitos, devendo-se
utilizar o termo mais apropriado ao grupo de clientes. Pode-se utilizar de
questionários ou entrevistas, sendo que os melhores resultados são obtidos quando
reúnem-se os clientes e representantes da empresa para identificação dos "ques".
Neste caso, um moderador deverá anotar os "ques" manifestos pelos clientes, sem
contudo induzi-los. O restante da equipe de QFD deverá abster-se de qualquer
avaliação dos "ques" apresentados pelos clientes neste momento. Os desejos do
cliente podem e devem ser agrupados em categorias.

Figura 3: Matriz Genérica do QFD

Requisitos esperados: são aqueles que o cliente pressupõe que o produto possui. é
a qualidade básica ou padrão que a empresa deve atingir para ser competitiva.

Requisitos explícitos: são as características específicas que o cliente diz desejar , ou


seja , vontades manifestas do cliente.

Requisitos implícitos: são características desejadas pelo cliente mas não manifestas,
seja por estarem latentes, seja por incapacidade de formulação.

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Requisitos inesperados: são aquelas características que irão surpreender o cliente,


excedendo as suas expectativas.

Este é o ponto crucial deste método. A obtenção das vozes do consumidor requer
quatro atividades genéricas, as quais são descritas em quatro passos(segundo
Burchill,1993, in Clausing 1995):

Quadro 3: Atividades genéricas e passos para captar a voz dos consumidores

Atividade Genérica Passos


Submirja no contexto e obtenha as 1. Plano
vozes 2.Interagir com consumidores.
3. Desenvolva uma imagem dos consumidores.
Clarifique 4. Examine os dados para alcançar claridade.
5. Selecione os aspectos mais significantes.
Estruture 6. Categorize as necessidades.
Caracterize 7. Caracterize as necessidades dos consumidores.

5.4.2. Análise de Kano

Na Figura 4 a abscissa ó o grau de sucesso da companhia em responder as


necessidades. A ordenada mede a satisfação do consumidor como resultado da
realização da corporação.

Duas questões devem ser formuladas para cada necessidade já identificada. A


necessidade é respondida positiva e negativamente. Por exemplo, positivo: Se a
copiadora libera uma única folha de papel, como você se sente?; ou negativo: Se a
copiadora libera mais de uma folha de papel, como você se sente?

Para ambas as versões da questão, são dadas as mesmas cinco possibilidades de


resposta:

1. E gosto disto desta maneira.


2. Isto deve ser desta maneira
3. E sou neutro.
4. I posso viver com isto desta maneira.
5. Eu não gosto disto.
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Figura 4: Diagrama de Kano

As respostas são então interpretadas usando-se o diagrama do quadro r. Por


exemplo, a resposta para a nossa questão positiva é a de número 2 (Isto deve ser
desta maneira). A resposta para a questão negativa é a de número 5, (Eu não gosto
disto). Entrando no quadro abaixo com as duas respostas (linha 2 e coluna 5)
encontraremos que tal necessidade é da categoria “Deve Ter”.

Quadro 5: Análise de Kano

Questão Negativa
1 2 3 4 5
1 Q D D D L
Questão 2 R I I I M
Positiva 3 R I I I M
4 R I I I M
5 R R R R Q

Legenda: D: Encantamento; M: Deve Ter, R: Reverso; L: Satisfação Linear; Q: Resultado


Questionável; e, I: Indiferente.

Categoria I na tabela significa que o consumidor é neutro. Sua satisfação não é


fortemente influenciada por este atributo. As categorias R e Q indicam algum
problema na coleta e tratamento dos dados.

Cada célula da tabela irá receber um determinado número de respostas.


Normalmente haverá uma caracterização dominante. As caracterizações de Kano
(em azul na tabela) são introduzidas nas linhas do quarto 1 da casa da qualidade.

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5.4.3. Aplicação de QFD em ergonomia1

No sentido de integrar os métodos participativos da ergonomia com a mesma


perspectiva em design, temos feito uso do método QFD. Neste contexto, a primeira
matriz do método é entendida como uma ferramenta de estruturação de problemas,
aproximando-se das metodologias Soft, como Soft System methodology e Mapas
Cognitivos. Tal entendimento não é unanime nem evidente. Para elucidação da
questão, indicamos a discussão apresentada por Shiba, Grahan & Walden (1993),
em torno do método de Jiro Kawakita (JKM), o qual está associado aos primórdios
do QFD.

No contexto deste trabalho, a técnica de QFD é utilizada para auxiliar na projetação


das situações de trabalho, mais precisamente na etapa de geração de alternativas e
análise de viabilidade. São realizadas reuniões nas quais participam uma equipe
externa à empresa e uma equipe interna, onde se busca reunir profissionais das
diferentes áreas e trabalhadores, envolvidas direta ou indiretamente na situação de
trabalho sob análise.

Através da utilização da Matriz QFD difunde-se entre os participantes a lista dos


problemas e soluções levantadas pela equipe em conjunto com os usuários ou
trabalhadores. Caberá à equipe de projeto, durante as reuniões de discussão da
Matriz QFD, analisar cada um dos requisitos desejáveis dos usuários e avaliar sua
viabilidade. O QFD auxilia na coordenação dessa etapa e serve como um guia para
a etapa seguinte cujo objetivo é transformar os requisitos em especificações de
engenharia, detalhamento do projeto e sua implantação.

Abaixo está descrita uma aplicação prática da técnica QFD em um projeto de


melhoria das situações de trabalho em uma empresa brasileira de grande porte, cujo
processo produtivo envolve etapas de fabricação mecanizadas entrecortadas por
atividades manuais. A figura 5 é uma representação esquematizada de uma Matriz
QFD utilizada no processo de design.

A área 1 da matriz de QFD correspondente aos “QUEs”, isto é, lista-se sucintamente


os problemas levantadas durante a Análise Ergonômica do Trabalho, acrescentando
também outros problemas previamente percebidos pela equipe de projeto. A cada
um dos “QUEs” é atribuido um grau de importância, campo 2, em relação ao
surgimento ou agravamento do problema que está sendo tratado.

A área 3 da matriz de QFD é reservada para os “COMOs”, que são as idéias ou


sugestões de solução para os problemas listados no campo 1. É durante as sessões
de focus group que estas sugestões são geradas. O próximo passo da técnica de
QFD é preencher a área 4. Isso consiste em relacionar as áreas 1 e 2, referente às
supostas causas do problema e as sugestões de como atacá-las. Assim, a equipe
deve discutir sobre todas as sugestões, analisando-as e avaliando-as quanto a sua
eficácia no combate a cada uma das causas do problema. No campo 5 da Matriz de
QFD são identificadas as soluções incompatíveis entre si.
1
BOSCOLO, Eliane, MENEGON, Nilton Luiz, CAMAROTO, João Alberto. Técnicas de Sistematização
de Soluções: Aplicações de QFD em Ergonomia. In: ABERGO99, 1999, Salvador BA. Anais do
Congresso Brasileiro de Ergonomia 1999. 1999. v.CD Rom.
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Figura 5: Exemplo de aplicação do QFD.

No campo 6 é representado, segundo a análise dos participantes, o grau de


dificuldade para implantar cada solução proposta no campo 2. Conforme está
indicado na legenda da figura, o grau de dificuldade varia de 1 a 5. Para esta análise
são consideradas questões ligadas à tecnologia e concepção de projeto, questões
financeiras, organizacionais e culturais existentes na empresa.

Nos campos 7 e 8 são indicadas a importância absoluta e relativa, respectivamente,


para cada solução do campo 2. A importância absoluta consiste na somatória da
multiplicação da pontuação dada no campo 3 pelo campo 4, para cada solução
proposta. Desta forma, quanto maior o número, mais eficaz é a solução em questão
para a resolução do problema. No campo 8 as soluções são numeradas em ordem
crescente de eficácia.

Ao final do processo de construção da matriz, o grupo de projeto possui uma


representação da situação de trabalho em estudo que pode ser caracterizada como
um mapa coletivo da questão. Os diferentes pontos de vista e conflitos foram
explicitados e negociados, de modo que o campo de soluções de projeto pode ser
estabelecido. Independente da qualidade das soluções geradas nas etapas
posteriores, a construção da matriz de QFD constitui-se num momento de reflexão
acerca dos diferentes papeis dos atores envolvidos, e de reconstrução de
representações da situação de trabalho.

5.4.4. Geração de Conceito - Matriz de Pugh

A geração de conceitos é dentro da atividade dos projetistas aquilo que representa o


saber próprio e inerente à atividade. Ser projetista significa compartilhar de uma
cultura como aponta Bucciarelli (1995). No contexto do desenvolvimento de
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produtos, destaca-se o carater coletivo do processo criativo, em equipes


interdisciplinares e multifuncionais onde interagem diferentes representações do
produto e do seu processo produtivo.

A abordagem apresentada na discussão sobre QFD possibilita à equipe de projeto


construir um consenso em torno daquilo que irá constituir a base conceitual para o
produto. No entanto a concepção propriamente dita é um processo individual.

Existem muitas técnicas que são amplamente difundidas que buscam estimular a
criatividade (brainstorming, Analogia, Inversão...). Porém os mecanismos postos em
jogo na concepção são complexos e determinados socialmente, o que nos faz
questionar sua eficácia.

A Matriz de Pugh, constitui-se num método que parte do pressuposto que dentro de
uma equipe de projeto, a melhor forma de fazer evoluir um conceito (Figura 6) é
possibilitar a confrontação do mesmo com outras concepções. Ao longo deste
processo busca-se o aprofundamento dos conhecimento acerca dos diferentes
conceitos, fazendo interagir os participantes.

Figura 6: Processo de afunilamento de conceitos.

Para Pugh (1990), as três componentes principais da fase conceitual do núcleo do


processo de projeto são:

a) a geração e expressão de conceitos pelos indivíduos, baseado no PDS.


b) estabelecimento de critérios em grupo (com base no QFD);
c) avaliar os conceitos como uma atividade em grupo (Matriz de Pugh).

O que se busca com este processo é um método que não iniba a criatividade
durante o processo de seleção de conceitos, mas estimule o aparecimento de novos
conceitos, que podem não ter aparecido de outros meios (Pugh, 1990).

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Figura 7: Matriz de Pugh

A figura 7 ilustra a técnica. Nela estão representados os conceitos para o produto e


os critérios segundo os quais os mesmos serão avaliados. Os passos para a
aplicação da técnica são:

a) os conceitos devem estar representados com um mesmo nível de detalhes (base


genérica);
c) elimine qualquer ambiguidade dos critérios;
c) estabeleça uma referência (um dos conceitos existentes);
d) julgue cada conceito/critério em relação à referência usadando a seguinte
notação;

S = Igual + = melhor - = pior

e) identifique os conceitos com maior número de aspectos positivos em relação à


referência;
f) a partir da análise dos pontos fracos dos conceitos fortes gere novos conceitos
(modifique);
g) elimine os conceitos fracos;
h) substitua o conceito referência;
i) repita os procedimentos até emergir um conceito superior.

A utilização da matriz de Pugh na fase conceitual pode envolver diferentes estágios


de refinamento. Entre os passos 8 e 9 pode-se aprofundar o detalhamento dos
conceitos desenvolvidos e refinar os critérios de seleção.

Nossas experiências com a aplicação da matriz nos indicam que o aprofundamento


nos detalhes se dá de modo concomitante com o refinamento dos critérios . Neste
sentido é importante retornar ao PDS ou na matriz do QFD sempre que surgirem
ambiguidades.

Como Resultado do projeto conceitual deveremos obter uma representação para o


produto com base numa tecnologia dominada, tecnicamente exequível. Neste
sentido, o projeto conceitual possibilita a continuidade do processo de projeto
fornecendo a base genérica sobre a qual será detalhado o produto e o seu processo
de produção.
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5.4.5. Aplicação em ergonomia: Centro de Produção Sanduíche

Este estudo de caso apresenta o desenvolvimento e seleção de conceitos para o


Centros de Produção Sanduíche de uma indústria de material de escrita. Como
diretriz geral, para a busca de soluções de referenciadas na ergonômia que eliminem
as LERs, buscou-se avaliar nos conceitos gerados os efeitos das variáveis: zona de
alcance, postura, força e ritmo. Na seqüência, passamos a considerar as soluções
geradas para cada um dos centros de produção, considerando os postos de trabalho
isoladamente e sua composição final. Neste centro de produção foram considerados
os postos de trabalho: alimentação da ranhura, prensador e batedor, os quais foram
identificados com disparadores as manifestações de LERs.

5.4.5.1. Alimentação da Ranhura

Neste posto de trabalho dois aspectos são considerados centrais: o fardo dado o
seu peso e a forma como é disponibilizado (gaiolas); e o funil determinante do ritmo,
força e alcance. Foram gerados conceitos de solução em dois campos: Alimentação
tipo Raimann e alimentação com Refil/Basculante. Para ambos os campos de
solução a chegada dos materiais no posto de trabalho deve-se dar em gaiolas com
aberturas duplas e serem depositados em mesas pantográficas, objetivando
controlar a variável zona de alcance. A figura 1 ilustra a situação desejada.

Figura 1: Gaiolas com abertura dupla e mesa pantográfica para a sua elevação.

Utilizou-se da Matriz de Pugh para a avaliação comparativa entre conceitos. No que


se refere a comparação Funil/basculante ou alimentação tipo Raimann chega-se a
conclusão que apesar de ter um custo mais elevado, a solução Raimann é vantajosa
do ponto de vista da prevenção pois contribui para a diminuição do ritmo neste
posto, visto que a movimentação é feita em fardos, eliminando assim a pega e
manuseio dos feixes. Além deste aspecto, a tecnologia é conhecida. Tal solução
apresenta como aspectos negativos o custo mais elevado do que a solução
refil/basculante, além de necessitar de um maior espaço para a sua implantação. Por
outro lado, a solução refil/basculante implicaria em mudanças na saída do processo
anterior (Zuca), bem como a tecnologia é ainda desconhecida: é difícil controlar a
queda do feixe. Assim sendo, somos pela adoção neste posto da solução Raimann.

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Além da mesa pantográfica, deve-


se adotar neste posto um
dispositivo de pega dos fardos que
possibilite uma melhor
empunhadura e evite acidentes com
a fita metálica. A figura 2 mostra tal
dispositivo. Figura 2: Dispositivo manual para pega dos fardos.

Critérios Conceitos
Tecnologia - - - - - -
Pega do feixe O O - O O O
Ritmo - + - - - -
Alteração “Zuca” - O O - - -
Peso do fardo + + O + + +
Layout O - + + + +
Trabalho em pé O + O O O O
Custo - - + + + +
Zona de alcance - + - + - +

A B C D E F G
Raimman A + refil A+ Basculante D+ Refil F+D
Pega fardo Refil
1 2 3

Quadro 1: Matriz de Pugh (+) melhor, (O)= igual e (-) pior.

5.4.5..2. Prensador

Diferente da solução anterior, a variável ritmo não pode ser atacada neste posto sem
a introdução de mudanças no sistema atual de prensagem dos sanduíches para o
processo de pega da colagem. Assim sendo, mantendo-se o sistema atual de
prensagem e manutenção mecânica da pressão por meio de grampos, a solução
para este posto passa por uma diminuição da carga de trabalho através da
introdução de um maior grau de mecanização. Duas soluções foram geradas e
diferem fundamentalmente no layout geral do centro de produção a ser adotado. A
melhor solução do ponto de vista ergonômico é de manter o arranjo alinhado,
fazendo os grampos andarem no mesmo sentido da saída da encoladeira. Esta
situação é mostrada na figura 3.

Na situação apresentada na figura 3, o prensador recebe os sanduíches através do


plano em aclive localizado a sua direita fazendo manualmente o preenchimento
(arrastando-os) para a posição de inserção dos grampos. Os grampos chegam pela
esquerda e são manualmente encaixados sobre o conjunto de sanduíches. A
prensagem é realizada por meio do cilindro hudráulico e o encosto da porca por
meio de uma parafusadeira. (Figura A). Após a prensagem os grampos são
empurrados para sobre a esteira (figura B) e basdculados para a mesa em conjuntos
de quatro por meio hidráulico (Figura C).

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Fig.3: Concepção para o posto de trabalho do prensador.

Apesar do conceito não alterar o ritmo (número de ciclos de trabalho realizados), a


carga de trabalho fica diminuída particularmente pela eliminação dos movimentos de
pega e transporte dos sanduíches e pela eliminação do transporte manual dos
grampos para a mesa. A figura 4 mostra o arranjo para este conceito.

Um outro conceito desenvolvido para este posto é o de rotacionar em 90 graus a


mesa de pega, Figura 5, o que possibilita um melhor arranjo geral do centro de
produção. Por outro lado esta situação é pior do ponto de vista ergonômico, pois
exige o transporte manual dos grampos para a mesa. Além disto, o recebimento dos
grampos vazios é frontal ao operador, provocando uma maior dificuldade no
manuseio. Isto posto, não pode-se deixar de considerar que esta situação também
contribui para a diminuição da carga de trabalho neste posto quando comparado a
situação atual, visto que são mantidos os alinhamentos da prensa com a saída da
encoladeira e a parafusadeira pneumática.

Ambas soluções são viáveis e compatíveis com as restrições impostas pelas


variáveis relacionadas a zona de alcance, postura e manuseio de cargas. A adoção
de uma ou outra deve considerar o custo e a viabilidade técnica, quer seja pela
dificuldade que pode surgir no detalhamento da mesa basculante hidráulica, ou por
imposições do layout geral do setor.

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Fig.4: Arranjo para o conceito alinhado no posto do prensador.

Figura 5: Conceito em L para o posto do prensador

Critérios Conceitos
Layout - - -
Tecnologia O O O
Custo - - -
Pega Do Feixe O O O
Elevação Do Feixe O O O
Arraste Do Feixe O O O
Elev. Grampo Cheio O O O
Peso Grampo Vazio + + +
Pega Do Grampo + + +
Parafusar O O O
Zona De Alcance + + +
Trabalho Em Pé O O O
Rítmo O O O

A B C D
Atual Hidráulica Sem Hidráulica em U

Quadro 2: Primeira Matriz de Pugh (+) melhor, (O)= igual e (-) pior.

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Critérios Variáveis
Layout +
Tecnologia +
Custo +
Pega Do Feixe O
Elevação Do Feixe O
Arraste Do Feixe O
Elev. Grampo Cheio O
Peso Grampo Vazio -
Pega Do Grampo -
Parafusar O
Zona De Alcance O
Trabalho Em Pé O
Rítmo O

B C
Hidráulica Sem Hidráulica

Quadro 3: Segunda Matriz de Pugh (+) melhor, (O)= igual e (-) pior.

Critérios Conceitos
Tecnologia - O -
Custo - - -
Pega Do Feixe O O
Elevação Do Feixe O O
Arraste Do Feixe O O +
Elev. Grampo Cheio + O
Peso Grampo Vazio O O
Pega Do Grampo + O
Parafusar O +
Zona De Alcance + O +
Trabalho Em Pé O O
Rítmo O O

C E F G
Sem Hidráulica Com basculante Com Com arrastador
parafusadeira

Quadro 4: Terceira Matriz de Pugh (+) melhor, (O)= igual e (-) pior.

5.4.5.3 Batedor

Assim como no posto anterior, o ritmo não se altera nas soluções propostas. Atua-se
fundamentalmente sobre a carga de trabalho. Os principais aspectos considerados
são: a) necessidade de descolar os sanduíches; e, b) dificuldade de pega dos
sanduíches para o encaixotamento.

No que se refere a dificuldade de descolamento dos sanduíches pode-se introduzir


dispositivos mecânicos que facilitem a operação. Uma primeira solução seria a
adoção de um martelete excêntrico (A). Tal conceito apresenta como aspecto
negativo a vibração que deverá ser suportada pelo batedor, a qual pode ser
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associada em alguns casos às LERs. Outra opção é a introdução de um dispositivo


de cizalhamento para o feixe de sanduiches (B). Ambas as souluções devem ser
testadas, visto que tecnicamente não se pode afirmar que qualquer uma delas
obterá o efeito desejado.

Fig.6: Dispositivos para auxiliar na descolagem dos sanduíches.

No que se refere a dificuldade de pega dos sanduíches e encaixotamento, o conceito


desenvolvido busca possibilitar o transporte por arraste, eliminando-se a pega e a
força para elevação. O efeito é obtido posicionando-se as caixas sobre uma mesa
pantográfica, sendo esta localizada a frente da mesa do batedor. A figura 7, mostra a
configuração do posto.

Assim, os sanduíches chegam no posto de trabalho do batedor por meio da mesa de


pega (A). Os grampos são retirado por tombamento rotacionados e depositados
sobre a mesa, na região de descolamento. As porcas são soltas por meio da
desparafusadeira (com bastante folga) e o grampo depositado no carrinho de retorno
(B) Após o acionamento do mecanismo de descolamento, os sanduíches são
arrastados para a região de encaixotamento e empurrados para dentro da caixa (C).
Dado que existe uma diferença entre o comprimento dos grampos e o comprimento
das caixas, seria recomendáveis a sua padronização, preferencialmente no tamanho
dos grampos (menor dimensão). Alternativamente o batedor pode acumular
sanduíches e realizar o encaixotamento em dois passos: primeiro arrastando os
sanduíches para a zona de encaixotamento e depois empurrando a quantidade
correspondente para dentro da caixa.

Figura 7: Conceito para o posto de trabalho do batedor.

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Critérios Conceitos
Pega do Feixe para Encaixotamento + +
Descolar Madeira ? +
Peso/Pega Da Caixa O +
Transp. Do Grampo (Ch/Vz) O -
Zona De Alcance (Ch/Vz) + +
Altura Da Pilha O +
Endereçar Caixas O O
Dific. P/ Desparafusar + +
Layout O +
Ritmo O -
Trab. Em Pé O O
Tecnologia O -
Custo - -

A B C
Atual Pantográfica com Refil-Grampo
desparafusadeira
Quadro 5: Matriz de Pugh (+) melhor, (O)= igual e (-) pior.

5.4.5.4. Configuração geral do Centro de Produção

Os conceitos apresentados para cada um dos postos são recompostos no Centro


de produção Sanduíche. As duas concepções geradas são apresentadas na figura
8.

Na figura 8.a é apresentada a solução em linha e na figura 8.b a solução em L.


Ambas possuem como mesma variável restritiva a dimensão que posiciona-se no
sentido longitudinal do edifício. Assim os 4,65m de largura para o centro de
produção é uma variável a ser controlada e minimizada. Como principais elementos
condicionadores estão: a) necessidade de passagem para a maquinista; b) espaço
para o quebrador entre a ranhura e a encoladeira.

Figura 8.a: Conceito em linha para o Centro de Produção Sanduíche

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Figura 8.b: Conceito em L para o centro de Produção Sanduíche

No que se refere à variável comprimento para o centro de produção, a solução em L


compacta a ocupação do edifício, possibilitando um melhor arranjo e o seu
gerenciamento para os materiais em processo. Ressalta-se que a solução b é pior
do ponto de vista ergonômico para o posto do prensador. A escolha deve considerar
este aspecto, bem como as implicações de uma ou outra concepção no layout geral
do edifício, que é determinada pela interação e balanceamento entre os centros de
produção sanduíche e lápis cru.

5.4.6. Teste do Conceito

Antes da conclusão do desenvolvimento conceitual de um artefato o conceito em


questão deve ser testado. Existem diferentes modalidades de teste a serem
conduzidos. Nas aplicações de ergonomia, destaca-se a possibilidade destes serem
realizados num primeiro momento em ambientes virtuais. Num segundo momento,
necessariamente os testes deverão ser conduzidos em mockups e protótipos reais.
Estes devem ser conduzidos em duas perspectivas distintas: a) avaliação de
variáveis objetivas, mensuráveis e quantificáveis; e, b) avaliação da percepção do
usuário acerca da adequação do dispositivo à atividade de trabalho.

5.4.6.1. Testes em ambientes virtuais

A avaliação de dispositivos técnicos em ambientes virtuais está sendo bastante


difundida em ergonomia, estando baseada em software (Ergo, Transon Jack,
Safework) com possibilidade de construção de humanos digitais.

73
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As figuras 9 e 10 mostram uma aplicação estática de um software deste tipo. No


caso, trata-se de um mockup virtual de um terminal de rastreamento de objetos
postais, a ser introduzido das unidades de triagem e de distribuição de objetos da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. A aplicação desenvolvida permite
avaliações estáticas das interações entre o manequim e o equipamento sob análise.
Neste caso, destaca-se a distância entre os olhos do operador e a tela do terminal
de vídeo, a falta de apoio para os braços, a distância entre o operador e a doca do
scaner na prateleira superior. Tais desajustes decorrem da necessidade de no
mesmo terminal serem realizadas atividades nas posturas sentadas e em pé.

Figuras 9 e 10: Aplicação de manequim digital em análises de acessibilidade e antropométrica.

Além das aplicações em análises de acessibilidade e das avaliações de caráter


antropométrico, tais software incorporam regras de ergonomia. Estas regras
envolvem o método RULA, que enfatiza os fatores de risco relacionados com
disfunções nos membros superiores e as equações da NIOSH aplicáveis
particularmente em situações de levantamento de carga.

5.4.6.2. Testes em Mockups e Protótipos

Mockups e protótipos são construções tridimensionais de artefatos em


desenvolvimento. Objetivam validar aspectos funcionais, variáveis cinesiológicas
e captar a percepção dos futuros usuários acerca do dispositivo.

5.4.6.2.a. Variáveis Funcionais: Vibrações em Patinete

No que tange às variáveis funcionais, elas estão relacionadas com o funcionamento


do artefato frente à situação de trabalho. Para ilustrar a aplicação deste tipo de teste,
apresentamos um estudo de caso em torno do Patinete motorizado.

Os problemas decorrente da introdução deste equipamento derivam do modo


operatório, das vibrações verificadas e dos aspectos de segurança. Trataremos aqui
somente da questão do modo operatório e das vibrações.
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Foto 1: Patinete.

Modo Operatório. A forma como os carteiros estão utilizando o equipamento


reproduz o modo operatório desenvolvido para a distribuição pedestre,
particularmente o ato de ler o endereço entre dois pontos de entrega. Isto é natural
na medida que tal forma de trabalhar constitui um saber fazer dos carteiros que foi
construído ao longo das suas carreiras. A reprodução desta forma de trabalhar com
o novo equipamento constitui uma fonte de riscos que deve ser minimizada. A
construção de um novo modo operatório deve ser buscada em conjunto com os
Carteiros, discutindo-se particularmente os conceitos de direção defensiva, a forma
de ordenamento e agrupamento das correspondências no ciclo interno da jornada e
a disposição das mesmas na mala e na cesta do patinete.

A ação decorrente do exposto, resultou no documento “Modo Operatório”, tratando


das questões de como dirigir e dos cuidados mínimos com o uso do equipamento.

Usabilidade do Equipamento. No tocante às características do equipamento e a


sua atuação sobre os carteiros destacamos os efeitos conjugados das posturas com
os impactos e vibrações. A busca de um controle sobre estas variáveis constitui o
objeto central da interação entre o projeto ergonomia no processo produtivo e o
projeto de motorização da distribuição.

Neste campo, foi contratado pela ECT o Laboratório de Dinâmica da EESC/São


Carlos, para uma análise detalhada das características dinâmica do veículo. Os
resultados sintetizados são apresentados na seqüência.

75
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Da análise dos resultados dos experimento, resulta como conclusão a inadequação


do equipamento para o uso em pisos de terra ou de paralelepípedo, os quais
induzem fortes vibrações na manopla e na base para os pés. No que tange ao piso
de asfalto, o equipamento apresentou problemas que são detalhado a seguir.

O gráfico 2 apresenta os resultados da aceleração vertical medida na manopla de


comando operando em piso asfáltico. Os resultados foram plotados e comparados
com a indicação da norma ISSO 2631/1997 que estabelece níveis de conforto e
tempos de exposição quanto à sinais vibratórios.

Gráfico 2: Curva de nível de vibração na manopla em piso asfáltico.

A curva indica duas freqüências críticas. A primeira situada em torno dos 10 Hz cujo
limite de exposição é de 1 hora e em torno de 60 Hz, cujo limite de exposição é de
25 minutos.

As vibrações medidas na plataforma, quando em operação no asfalto, indicam na


faixa de 10 Hz uma exposição máxima de 2,5 horas e na faixa dos 60 Hz uma
exposição máxima de 25 minutos. Tais características dinâmicas decorrem de duas
fontes distintas. Na faixa de 10 Hz, o problema advém da resposta dinâmica da
estrutura, enquanto na faixa de 60 Hz, os problemas estão diretamente relacionados
com a rotação do motor.

As ações decorrentes do verificado se deram portanto em dois níveis. Num primeiro


plano, tratou-se de redesenhar o acoplamento entre o guidom e a estrutura do
veículo. O novo sistema de amortecimento apresentou melhoras consideráveis na
vibração percebida. A solução encontrada já está incorporada aos novos veículos,
bem como os equipamentos em uso também incorporaram a inovação através da
substituição do guidom.

No que se refere às vibrações decorrentes da excitação do motor o problema


mostrou-se mais complexo, demandando ações que envolvem o balanceamento das
partes móveis do motor e o seu conjunto, bem como mudanças no chassi. O
balanceamento do motor foi providenciado e mudanças no chassi estão em curso.
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O equipamento deve retornar aos testes de laboratório assim que as avaliações de


percepção indicarem melhorias significativas.

No que pesem os problemas verificados, o equipamento foi amplamente aceito


pelos carteiros e chefias das unidades de distribuição. O fato decorre do
inegável benefício proporcionado pela eliminação do transporte de carga pelo
carteiro durante a percorrida e dos ganhos de produtividade decorrentes da
agilização da distribuição, particularmente em distritos periféricos e nas
pontas de distrito com baixa densidade do número de pontos de entrega.

5.4.6.2.b. Variáveis Cinesiológicas: Manipulador Angular

O uso de manipuladores angulares não constitui novidade na área postal. No


passado a ECT já fez uso desta formatação e no período atual formatou o MTA-01de
40 direções para formato normal. A foto 1 mostra um antigo modelo usado pela ECT.

Foto 1: Antigo manipulador da ECT.

Na atualidade, existe uma tendência para a utilização de manipuladores angulares


em empresas postais. Identificamos o uso destes na Inglaterra, França, Dinamarca e
Nova Zelândia dentre outros. As fotos 2 a 7 mostram alguns dos modelos adotados.
Além do formato angular, observa-se a incorporação de acessórios tais como:
luminárias; porta caixetas; apoio para os pés; acento giratório; e, mesa
escamoteável.

Partindo da análise cinesiológica e do levantamento dos modelos utilizados em


outras empresas postais, buscou-se a formatação de um modelo que respondesse
às questões levantadas.

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Num primeiro momento, faz-se necessário avaliar as questões relacionadas à


antropometria e às zonas de alcances decorrente. Será utilizado como referência
para esta discussão os dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Tecnologia. O
manequim utilizado é uma versão digital do ErgoKit/INT.

Fotos 2 a 7: Diferentes conceitos de manipuladores angulares usados por empresas postais.

Partiremos do pressuposto que o equipamento a ser formatado deverá possibilitar


tanto o trabalho em pé como sentado. Tal especificação decorre das diferentes
formas de organização do trabalho para carteiros e OTTs. Para carteiros, se
considerarmos que o ciclo externo da jornada, no qual está envolvido um período em
torno de 4 horas de caminhada, é recomendável que o trabalho seja realizado na
postura sentada. Em contrapartida, para OTTs o ciclo de triagem pode ocupar toda
a jornada. Neste caso é recomendável que se possa alternar a postura em pé e
sentada. Nós iremos avaliar na seqüência as implicações desta especificação.

No que tange ao alcance vertical, para posição em pé, a modelagem é apresentada


na figura 1 e 2. Para determinação da dimensão vertical do manipulador, considerou-
se um máximo de 5 linhas com altura do escaninho de 150 mm. A altura da mesa foi

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fixada2 em 750 mm. Nestas condições, a situação crítica é identificada para o


homem máximo quando necessita alcançar a linha inferior de escaninhos. Para
alcançar a superfície da mesa, o homem máximo realiza uma inclinação da coluna
em torno de 27 graus. Para a posição em pé, Grandjean (1981) recomenda no
máximo uma inclinação de 9 graus.

27°

Nível Escaninho
Nível Escaninho
1425 mm
1475 mm
13°
18°
60°

Nível da Mesa
750 mm Nível da Mesa
800 mm

Nível Zero
Nível Zero

Figura 1: Modelagem para determinação da Figura 2: Mesa ajustada para 800 mm para
zona de alcance vertical na posição em pé atender demandas de conforto do homem
máximo.

Ajustando-se a configuração para a situação de conforto recomendada, ver figura 2,


a mesa deve ser elevada para 800 mm. Nesta situação o homem mínimo passa a
realizar um ângulo de 18 graus para alcançar o centro do escaninho superior. O
ângulo de 18 graus representa uma combinação de movimentos de flexão e
elevação do membro superior. Neste caso o crítico é o ângulo de elevação, cujo
limite para movimentos voluntários é de 40 graus. Frente a tal limite, considera-se
aceitável o ângulo realizado, dado que a freqüência deste movimento é atenuada
pela distribuição dos logradouros/distritos nos escaninhos. Conclui-se portanto que a
altura da mesa fixada em 800 mm é aceitável para 90% da população masculina,
quando realiza trabalho em pé.

Na seqüência analisamos o trabalho sentado. Para tanto vamos considerar a figura


3. Mantida a altura da mesa em 800 mm, admite-se por hipótese que os usuários
irão, na triagem, buscar o posicionamento mais elevado possível a fim de minimizar
o ângulo de alcance do último escaninho. Nesta situação, os ângulos realizados pelo
homem máximo e mínimo serão de 20 graus e 25 graus respectivamente. Como
considerado anteriormente, o resultado é aceitável em relação a um máximo de 40
graus.

Em decorrência da situação, haveria um desnível nos assentos de 60 mm, resultante


da diferença entre a altura da coxa para o homem mínimo e máximo e um desnível
de 142 mm no apoio para os pés. Ainda o nível mínimo para o apoio para os pés
estaria situado a 134 mm do piso.

2
A altura de 750 mm é arbitrária e baseia-se no limite recomendado pra trabalho sentado. Na discussão que
segue buscaremos estabelecer este limite a partir das considerações antropométricas.
79
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20° 25°
645 mm

550 mm
120 mm

550 mm
180 mm

645 mm

120 mm
180 mm
657 mm
597 mm

553 mm
477 mm
Altura dos pés
Altura dos pés
Nível Zero Nível Zero 142 mm
134 mm 142 mm

Figura 3: Posição sentada na triagem. Figura 4: Posição sentada na bancada.

Na situação de uso da bancada, a idealização postural é de se manter o antebraço


com uma pequena inclinação em relação ao tronco de aproximadamente 15 graus e
o braço apoiado na mesa. Nesta situação, a cadeira deveria ser rebaixada para o
homem máximo de 597 para 477 mm, num curso de 120 mm e para o homem
mínimo de 657 mm para 553 mm, num curso de 104 mm. Para o apoio dos pés, o
nível mínimo cairia a zero para o homem máximo.

Considerando que a mesma cadeira será utilizada, a diferença de nível do acento


fica entre os extremos de 477 mm e 657 mm, resultando num curso de 180 mm.
Considerando que o mesmo apoio para os pés será utilizado, o curso total deverá
corresponder à soma do nível mínimo de 134 mm para a posição de triagem e a
regulagem demandada de 142 mm, resultando num total de 276 mm. A solução
ideal, portanto seria:

a) mesa fixa na altura de 800 mm possibilitando a triagem em pé para homem


máximo/mínimo dentro dos ângulos de conforto;

b) cadeira ajustável num curso de 180 mm possibilitando o trabalho de


triagem e na bancada dentro dos ângulos de conforto;

c) apoio para os pés, com curso de 276 mm, possibilitando o ajuste para as
posições de triagem e de bancada.

No que pese a coerência da análise anteriormente realizada, a sua implantação


esbarra na dificuldade de se encontrar, no mercado, acessórios com tais
características. O principal limitante é a cadeira cujo curso máximo encontrado3 é de
100 mm.

A estratégia adotada pelo projeto foi de introduzir regulagem de altura na


mesa, o que compensa a demanda de um maior curso na cadeira e elimina a
necessidade de regulagem vertical no apoio para os pés. A solução adotada é
uma adaptação das bases reguláveis para mesas de escritório com curso entre
640 mm e 840 mm.

No que se refere ao alcance horizontal, a modelagem é apresentada na figura 5.


Para definição da forma do manipulador foram testados diferentes arranjos por meio
3
Um distribuidor dispõe de cadeiras com curso de 230 mm entre os limites de 610 mm e 840 mm, o que não
satisfaz a demanda do projeto.
80
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de um mockup de papelão. Optou-se por um arranjo simétrico, com um corpo fixo e


duas abas laterais móveis, que atende à população de destros e canhotos. Ainda,
usaremos como referência o manipulador para formato semi embaraçoso de 40
direções, com 5 linhas4 e 8 colunas, posto que neste modelo ocorre a maior
dimensão horizontal.

1000
552

75° 60°

45°

Zona de alcance
Giro do corpo para crítica para homem mínimo.
o lado oposto da mão predominante.

Figura 5: Modelagem horizontal para o manipulador de 40 direções SE.

Considerando a figura 5, observa-se que a situação crítica para alcance horizontal


ocorre quando o operador mínimo deve alcançar o último escaninho da primeira
linha, do lado oposto ao braço predominante. Para um sujeito destro, como mostra a
figura, com as partes móveis do manipulador reguladas para 60 graus e 75 graus à
direita e esquerda respectivamente, ocorre um giro do tronco ou do assento de
45 graus.

Considerando que o número de escaninhos não pode ser diminuído por razões
operacionais, a solução para a questão destacada no parágrafo anterior é a
especificação de uma cadeira para manipulação com boas características de
giro e um apoio para os pés que auxilie o giro.

Frente à análise realizada para as variáveis horizontal e vertical, foram construídos


protótipos com as características anteriormente estabelecidas. Os protótipos foram
testados no CDD/São Carlos. Os resultados dos testes são apresentados na
seqüência.

A foto 8 apresenta o equipamento testado para triagem de distribuição, separação


por logradouro e ordenamento. Além do manipulador propriamente dito, o
equipamento envolve: cadeira, apoio para os pés, mesa escamoteável recortada,
apoio para os braços, ordenador e carrinho porta caixeta.

Inicialmente apresentaremos a análise do manipulador, considerando os impactos


nos membros superiores, tronco e pescoço. Posteriormente serão apresentadas as
análises dos demais acessórios.

4
Observe nas fotos 2 a 7 a predominância de manipuladores de 5 linhas.

81
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Foto 8: Novo manipulador de triagem para CDDs, formatos FN e SE de 35 direções.

As tabelas 1 e 2 mostram os resultados das análises cinesiológicas e biomecânicas


comparativa para os manipuladores em uso na ECT e o protótipo avaliado. Foram
comparados sujeitos depositando objetos nas alturas baixa, média e alta do
manipulador, na posição em pé para o modelo tradicional e na posição sentada para
o novo modelo.

Segmento corporal 1 Alto Médio Baixo


Pescoço Flexão de 30 graus e Flexão de 10 graus Flexão de 10 graus
rotação de 10 graus para
a esquerda
Tronco Rodado a 25 graus para Rotação de 45 graus Rotação de 60
a esquerda graus
Ombro Dir. Fletido a 90 graus, e Fletido a 45 graus, Neutro
levemente abduzido abduzido a 80 graus
Ombro Esq. Flexão de 10 graus Flexão de 15 graus Flexão de 20 graus
Cotovelo Dir. Flexão de 30 graus, Flexão de 45 graus, Flexão de 60 graus,
supinação do antebraço posição neutra do supinação do
antebraço antebraço
Cotovelo Esq. Flexão de 90 graus, Flexão de 100 graus, Flexão de 100
supinação do antebraço supinação do antebraço graus, supinação do
antebraço
Punho Dir. Desvio ulnar Desvio ulnar Desvio ulnar
Punho Esq. Extensão de 20 graus Extensão de 20 graus Extensão de 20
graus
Mãos e Dedos Dir. Pinça Pinça Pinça
Mãos e Dedos Esq. Pega Pega Pega

Tabela 1: Análise postural para o manipulador em uso na ECT.

82
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Segmento corporal 2 Alto Médio Baixo


Pescoço Flexão de 15 graus Flexão de 15 graus Flexão de 15 graus
Tronco Ereto Ereto Ereto
Ombro Dir. Flexão de 30 graus Flexão 15 graus Fletido a 15 graus
Ombro Esq. Neutro Neutro Neutro
Cotovelo Dir. Flexão de 85 graus Flexão de 75 graus Flexão de 45 graus
Cotovelo Esq. Flexão de 90 graus, com Flexão de 90 graus, com Flexão de 90 graus
apoio apoio com apoio
Punho Dir. Leve extensão Leve extensão Leve extensão
Punho Esq. Neutro Neutro Neutro
Mãos e Dedos Dir. Pinça Pinça Pinça
Mãos e Dedos Esq. Pega Pega Pega

Tabela 2: Análise postural para o protótipo em teste.

Os resultados apontam para vantagens nos diferentes segmentos corporais


para o trabalho realizado na postura sentada, quando comparado à posição
em pé, conforme abaixo:

a) diminuição da variação dos movimentos de flexo-extensão do pescoço;

b) diminuição dos movimentos de rotação e flexão para o tronco, que pode ser
devido à cadeira giratória e a melhor possibilidade de alcance;

c) diminuição dos movimentos de flexão, abdução e adução do ombro direito,


devido à cadeira giratória e menor altura e alcance do escaninho;

d) diminuição do desvio ulnar do punho direito em função da aproximação do


escaninho;

e) diminuição da sobrecarga em membros inferiores; e,

f) diminuição da sobrecarga na coluna lombar.

Tais resultados decorrem fundamentalmente da mudança postural e da


adequação das dimensões do manipulador às características antropométricas
da população. A análise a seguir apresenta uma avaliação do conjunto
manipulador/acessórios.

Considerando o conjunto, o trabalho é realizado na postura sentada, apoiando os


pés num suporte sob a mesa. Os objetos são retirados da caixeta à sua direita,
figura 9. O operador segura objetos com a mão esquerda e realiza a triagem com a
outra, figura 10. Nesta situação, mantém o antebraço no apoio para cotovelo,
figura11. Para alcance dos escaninhos laterais, gira a cadeira com facilidade, em
função do apoio para os pés. No momento da triagem de distribuição e separação
por logradouros, o trabalhador mantém a mesa afastada (p/ dentro).

Durante a atividade de ordenamento, ele puxa a mesa e mantém os antebraços


apoiados na mesma, nas laterais. Utiliza o ordenador para realizar a tarefa, figura
12.

83
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Figura 9: Pega de objetos na caixeta. Figura10: Triagem em escaninho alto.

Figura 11: Apoios de pés e antebraço. Figura 12: Ordenamento no novo posto de
trabalho.

84
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As posturas de ombro, tronco e pescoço, antes consideradas excessivas, foram


atenuadas no novo posto de trabalho. Mesmo realizando triagem em escaninhos
mais altos, o trabalhador raramente ultrapassa 90 graus de flexão de ombro, devido
à diminuição do alcance vertical do manipulador. O alcance horizontal também foi
diminuído com o manipulador angular e, com a cadeira giratória, o trabalhador pode
evitar amplas abduções de ombro.

5.4.6.2.b.Percepção dos Usuários: Espátulas para Laminação

Os testes de percepção dos usuários objetivam validar os dispositivos frente aos


futuros usuários. É importante salientar que nem sempre as avaliações técnicas e de
percepção apresentam resultados congruentes. Em muitos casos elas divergem. Isto
pode ser explicado se considerarmos que a lógica que prevalece na avaliação do
usuário está associada à lógica da atividade, enquanto que para os especialistas
prevaleceria a lógica do artefato ou outra derivada dos conhecimentos teóricos de
cada especialidade.

85
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Para a avaliação da percepção dos usuários normalmente são usadas escalas


subjetivas de percepção, associadas com indicadores analógicos. O Formulário
abaixo, em uso para a avaliação das novas espátulas de laminação constituem um
bom exemplo deste tipo de instrumento.

5.4.6.3. Considerações finais sobre desenvolvimento conceitual de artefatos

Ao final do processo de desenvolvimento conceitual de um artefato deve-se poder


realiza-lo do ponto de vista técnico, bem como, reunir evidências significativas de
que o mesmo é adequado à atividade à que se destina.

Do ponto de vista teórico, ao longo do processo de desenvolvimento do conceito


realiza-se a passagem de um problema não estruturado de projeto para um

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problema estruturado. Transcorrido este percurso, o projeto pode assumir


características sistêmicas de resolução de problemas. O artefato pode ser
decomposto em subsistemas e otimizado segundo critérios econômicos e
tecnológicos.

5.5. Projeto Detalhado

As questões anteriormente apresentadas são suficientes para caracterizar o


processo de projeto conceitual dentro do campo dos problemas não estruturados. As
abordagens adotadas buscaram estabelecer um consenso negociado entre os
participantes da equipe de projeto.

Superada a fase conceitual para o processo de projeto deve-se ter restringido o


escopo do projeto a uma base conceitual genérica capaz de dar suporte ao processo
de detalhamento do produto e do seu processo produtivo.

Trata-se agora de um problema completamente estruturado. Para tratar deste tipo de


problema, frequentemente os metodos de projeto recorrem às abordagens fundadas
na teoria de sistemas, decompondo o produto em subconjuntos e componentes. Tal
abordagem é perfeitamente possível a partir do momento que se tem uma
especificação detalhada para o conceito do produto.

Figura 13: Matriz Morfológia

87
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A representação sistêmica para os produtos é fundamentada por Pahl& Beitz (1995)


e deles derivam vários métodos sistêmicos de projeto, como a Matriz Morfológia
apresentada por Back (1980) e a Análise Paramétrica proposta por Vagner (1997).
De um modo geral, técnicas como Análise/Engenharia do Valor, FMEA,
Planejamento de Experimentos e Confiabilidade, partem destes mesmos
pressupostos.

Para exemplificar a abordagem sitêmica no processo de projeto apresentamos na


figura 13 uma matriz morfológica, desenvolvida por Possamai & Back (1980). Nela
um conceito de trilhadeira multicereal é subdividido em conjuntos os quais irão
desempenhar funções abstratas. A paritr desta representação, busca-se estabelecer
princípios de solução que realizem a função. As combinações possíveis são
avaliadas segundo os critérios estabelecidos nas especificações.

Figura 14: Layout para tilhadeira multicereal

Figura 15: Representação de conjunto

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O resultado deste processo é representado inicialmente por um layout (Figura 14)


para o produto o qual deverá ser posteriormente detalhado em termos de
componentes (Figuras 15) e dos seus respectivos processos produtivos.

6. Estudo de Caso - Bolsa do Carteiro

Para encerrar o estudo do projeto do produto iremos apresentar na seqüência um


estudo de caso em torno do projeto conceitual de uma bolsa para carteiros.

As principais referências para o desenvolvimento dos protótipos derivam:

a) de um estudo biomecânico desenvolvido por Page (...) da Universidade de


Michigan-EUA, em torno de cinco protótipos;
b) Das discussões acerca dois limites de carga derivadas dos estudos de Depui
(...) da Universidade de Montreal-CA;
c) Do protótipo desenvolvido na DR/MG, baseado no modelo tradicional da bolsa
do carteiro;
d) Do modelo usado pelo Royal Mail da Inglaterra, que explora a disposição
transversal para os objetos;
e) Dos protótipos anteriormente desenvolvido nesta pesquisa e testados
com os carteiros do CDD/SC.

Das referências acima, deriva o protótipo que apresentaremos no texto a seguir.


Objetiva-se estabelecer o referencial para os fabricantes do produto desenvolverem
os seus próprios modelos. Neste sentido, as especificações aqui apresentadas
fundamentam-se nas características biomecânicas e funcionais da bolsa, sem
maiores considerações acerca do processo de fabricação.

6.1. Referencial Conceitual

6.1.1. Modo operatório

Buscar um referencial conceitual para o projeto da bolsa para carteiro visa em um


primeiro plano discutir as diretrizes que orientaram o deisgn deste artefato tendo
como foco da questão a atividade dos carteiros. Isto significa focar o estudo sobre os
modos operatórios utilizados na entrega pedestre a partir dos quais deverão ser
definidas as características do dispositivo.

Dado as características organizacionais do trabalho5 existem tantos modos


operatórios quanto são os carteiros. No entanto, algumas características comuns
podem ser observadas:

5
A percorrida é preparada no interior da unidade a partir do ordenamento das correspondências simples e
registradas. A forma de ordenamento e o agrupamento das correspondências seguem padrões mais ou menos
determinados, dando espaço porém para a expressão das características individuais dos carteiros que elaboram
estratégias peculiares em razão das características particulares do distrito. O trabalho externo, distantes das
condicionantes orgaizacionais presentes na jornada interna, favorece a proliferação destas estratégias.
89
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1. os carteiros transportam a carga posicionando-a de tal modo que permita a


movimentação do braço na direção paralela ao corpo;
2. os carteiros frequentemente depositam a bolsa no piso, nas ocasiões que a
atividade demande um maior tempo para a sua conclusão;
3. os carteiros giram a bolsa da posição de transporte para uma posição mais
frontal quando necessitam acessar o seu interior;
4. os carteiros enquanto percorrem a distância entre dois pontos de entrega,
mantém uma das mão ocupadas com o bloco de cartas daquele logradouro e na
outra, segura a carta correspondente à próxima entrega;
5. os carteiros lêem enquanto percorrem o trecho entre dois pontos de entrega.

As características observadas e generalizada para os modos operatórios observados


nos carteiros do CDD/SC são generalizáveis para outras unidades no país e são
corroboradas em estudos sobre a mesma atividade em outros países. Tais
determinantes, impõem limites para qualquer solução no campo do design.

6.1.2. Forma de transporte da bolsa

Os estudos biomecânicos indicam duas possibilidades consideradas favoráveis para


o transporte de correspondências: i) a bolsa tipo mochila, transportada na parte
frontal do corpo; e, ii) a bolsa bilateral tipo coldre.

Para ambas as soluções existem restrições advindas do modo operatório. A bolsa


frontal impede parcialmente a visão do piso e dificulta o acesso e a visibilidade do
seu interior. Também, deixa de funcionar como instrumento de defesa nos ataques
caninos. A bolsa bilateral tem como característica dificultar a passagem por locais
estreitos, além de dificultar o acoplamento/desacoplamento ao corpo, dificultando o
desvencilhamento do artefato pelo carteiro.

Ainda derivam dos estudos bimecânicos as indicações acerca da posição de uso da


bolsa lateral, na posição paralela ou cruzada, e a adoção ou não dos cintos que
redistribuem parte da carga para a pelvis.

No que tange ao cinto, Page (...) estabeleceu que para a bolsa lateral a redução da
compressão na L3 é de 9%, chegando a 88% para a bolsa tipo coldre. Há de se
considerar que a proporção do esforço transmitido para a pelvis e a redução do
esforço na coluna depende sobremaneira da pressão exercida pelo cinto.
Considerando que o carteiro irá desenvolver a melhor forma de adaptação ao cinto e
que isto irá variar de carteiro paras carteiro, consideramos suficiente para indicar a
utilização deste dispositivo a evidência de que há de fato uma redução e de que a
pelvis é uma estrutura musulo-esquelética mais adapatada do que a região do dorso
para o suporte de carga.(Dupois)

Quanto às posições para o uso da alça, Page analiza os efeitos para uma carga de
35 lbs (16 kg), concluíndo pela posição paralela em detrimento da posição cruzada.
No entanto os dados do autor, se analizados para cargas em torno das 20 lbs
apontam para melhores resultados na posição cruzada.

90
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Tal dualidade de comportamentos dos esforços na coluna nos levou a optar por um
design que possibilite o uso cruzado ou paralelo. Ainda indicamos que frente a carga
média praticada pelos carteiros, que não desvia em muito dos 10 kg, indicamos o
uso cruzado como o mais adequado.

No que pese a importância das discussões da forma da bolsa e da sua sustentação


pelo carteiro, a discussão em torno deste dispositivo é profundamente determinada
pela estabelecimento do limite de peso seguro para a atividade. Nós iremos discutir
esta questão na sequência.

6.1.3. Limite de Carga

O estabelecimento de limites seguros para as diferentes atividades é sempre uma


pergunta árdua a ser respondida pelos ergonomistas. Antes de considerarmos as
questões específicas dos carteiros, vamos dar uma olhada no que nos indicam os
índices de carregamento ou manuseio de carga mais gerais.

Uma das fontes amplamente utilizada é a NIOSH. Nela estabelece-se o limite de 23


Kg para a população masculina, em situações de manuseio pouco frequente. Este
índice foi utilizado como ponto de partida por Couto (...), corrigindo-o por um fator de
0.6 (Instituto de Milão), para estabelecer como indicativo o limite de 13 Kg em
substituição ao limite de 15 kg hoje praticado.

Dupois é menos incisivo na sua indicação. Respondendo a uma consulta da União


dos Trabalhadores Postais do Canadá, o autor faz uma revisão da literatura que
discute tais limites e aponta algumas considerações importantes. Dentre elas, a que
consideramos de maior relevância é o estudo epdemiológico apresentado por (....)
que estabelece um risco 3 vezes superior de ocorrência de hernia de disco, para
uma população que executa mais de 25 ciclos de carga entre 25 e 35 lbs, em
comparação com uma população que executa ciclos abaixo desta faixa.

O mesmo limite de 25 lbs é apontado como carga máxima para a marcha de


soldados em estudo realizado por (....) para o exército americano. Depuis, ainda
opina que considera o limite de 20 lbs como a melhor recomendação para a
adequação a toda população de trabalhadores canadenses, considerando as
distinções de idade, sexo e de biotipos.

Para o caso específico dos carteiros, um estudo epdemiológico fica prejudicado pela
variabilidade de cargas e distância percorrida a que são submetidos, além da
precariedade dos dados disponíveis.

6.1.4. Curva Carga x Percorrida

As principais dificuldades de, a partir dos estudos biomecânicos e epidemiológicos,


estabelecer limites confiáveis para os carteiros decorre:

1. da atividade dos carteiros não se restringe à percorrida, o que implica reconhecer


os efeitos do ciclo interno da jornada na epdemiologia;

91
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2. do carregamento contínuo de uma carga variável, com picos de carga, na saída e


nos pontos de DAs, e a atenuação desta carga na sequência;
3. da inexistência de atividades com as mesmas características, ou seja, que
incorram em percorrida e transporte de carga diária.

Isto posto, vamos a partir dos limites encontrados na literatura realizar as nossas
próprias considerações e propor como referência uma curva a ser observada no
dimensionamento da bolsa e no estabelecimento do número de DAs.

Inicialmente não podemos corroborar a indicação de Couto(...) que indica a adoção


generalizada de 13 kg, em primeiro lugar pelo autor ter como ponto de partida o
limites NIOSH para cargas de pouca frequência o que definitivamente não é o caso
dos carteiros. O transporte nesta atividade é contínuo.

Nós consideramos que o limite de 25 lbs (11,25 kg) é um referencial importante para
o estabelecimento da carga máxima, particularmente pelos resultados
epdemiológicos apontados por (....). Ainda, consideramos que o limite de peso deve
ser acompanhado de um indicador de percorrida. Associaremos a este limite máximo
de carga o percurso mínimo de 5 Km, que caracteriza os distritos de menor
percorrida e maior carga.

Definido um primeiro ponto da reta, vamos partir da percorrida máxima de 15 km,


preconizado pela ECT para a entrega pedestre. Considerando a hipótese de
equidade entre as variáveis carga e distância, utilizada em considerações de
consumo energético, para tal percorrida devemos adotar o limite inferior de 3,75 kg.
Isto resultaria na realização de um mesmo trabalho no valor de 56250 Kgm, no
sentido da física (Força * Distância).

A curva mostrada no gráfico 1, originária das considerações anteriores resulta da


seguinte equação:
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Carga Máxima [kg] = -0,75 [kg/km] x Distância da Percorrida [km] + 15 [kg],


onde:

Carga Máxima [kg], é a máxima carga admitida para o distrito;

-0,75 [kg/km], é a inclinação da reta;


Distância da Percorrida [km], é o percurso a ser percorrido no distrito; e,
15 [kg], é a constante da equação.

Devemos considerar que o estabelecimento de limites tem implicações diretas sobre


a forma de organização do trabalho nas unidades, particularmente impactando o
número de DAs e o horário de saída das viaturas para a sua distribuição. Aqui reside
uma discussão das mais importantes. Na forma atual de dimensionamento,
considera-se para para dimensionamento dos DAs a carga média transportada pelo
carteiro. Para situações de sobrecarga decorrente do aumento do tráfego, preconiza-
se o uso dos DAs exporádicos.

Na prática, ou seja na operação dos CDDs existe grande variabilidade da carga e


nos interessa particularmente os casos de pico. As curvas adotas anteriormente só
fazem sentido no contexto do dimensionamento de recursos para estas unidades se
considerada a carga máxima no dimensionamento do número de DAs. Caso
contrário os limites estabelecidos não serão cumpridos.

Considerando portanto que existirão condições objetivas para o cumprimento


dos limites, ou seja, a curva estabelecida será utililizada para o
dimensionamento do número de DAs em cada distrito, podemos a partir das
considerações anteriores estabelecer o volume máximo de carga a ser
comportado na bolsa.

6.2. Desenvolvimento do Conceito

6.2.1. Histórico

Para o desenvolvimento de um novo conceito para a Bolsa do Carteiro, foram


construídos 05 protótipos reunidos em dois grupos.

Grupo I: Protótipo derivado do conceito tradicional utilizado para a bolsa do carteiro,


possuindo como característica distintiva uma menor espessura, a qual foi reduzida
de 230mm para 150 mm;

Grupo II: Quatro protótipos derivados do modelo utilizado pelo Royal Mail,
caracterizado pelo formato alongado da bolsa, possibilitando o transporte da carga
mais próxima ao corpo. Explorou-se nestes protótipos dois formatos de divisórias
internas, transversal e longitudinal, constituindo-se dois sub grupos. Para cada sub
grupo foram construídos dois protótipos sendo um com o mesmo volume do modelo
base e outro com 80% do mesmo.

93
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Os protótipos foram testados durante 15 dias por um grupo de 5 carteiros, os quais


utilizaram durante três dias cada um dos modelos. Ao final de cada ciclo de
utilização de cada um dos modelos, os carteiros preenchiam o Formulário de
Avaliação da Bolsa do Carteiro, anexo 1. No encerramento dos testes foi realizada
uma reunião de avaliação com os participantes onde suas impressões foram
coletadas. Os resultados do experimento são apresentados no documento
Resultados do ensaio com Bolsas para Carteiros, anexo 2.

Destacam-se como resultados dos testes:

1. a completa aprovação do cinto introduzido com o objetivo de aliviar os esforços


sobre a coluna, o qual obteve nota final6 de 8,1;
2. a preferência manifesta pelo modelo derivado da bolsa tradicional, o qual
recebeu nota 7,3;
3. as inúmeras sugestões acerca das características funcionais da bolsa (ver
sugestões no anexo 2).

Finalizada a primeira etapa de testes, um novo protótipo foi confeccionado, tendo-se


incorporado ao mesmo a sugestões apresentadas pelos carteiros. As especificações
para o conceito resultante são apresentadas a seguir.

6.2.2. Testes dos Conceitos

6.2.2.1. Teste Funcional do Conceito

O protótipo7 incorporando as características anteriormente apresentadas foi


confeccionado e testado no CDD/São Carlos. Os testes foram executados com
dois carteiros que utilizaram o mesmo protótipo cinco dias cada um.

O instrumento utilizado para a avaliação foi o mesmo apresentado no anexo 1.


Na avaliação enfatizou-se os aspectos operacionais da bolsa, buscando-se
avaliar a sua adequação à atividade dos carteiros. Foram analisadas as
variáveis: cinto, divisões internas, bolsos externos, volume e tampa, as quais
obtiveram a aprovação dos carteiros8.

No que pese a aprovação do protótipo duas criticas foram apresentadas.

1. Os materiais utilizados para o cinto e para o engate não corresponderam às


características necessárias para a atividade. Dois problemas foram
constatados: a) quando o carteiro por qualquer motivo necessitava
agachar, para por uma carta sob a porta por exemplo, o engate se soltava;
6
Utilizou-se uma escala de 0 a 10 onde o valor intermediário, nota 5, foi estabelecido como referência
e correspondia ao modelo tradicional.
7
Protótipo desenvolvido pelo grupo Ergo&Ação/Grupo ECT, em parceria com a empresa Ganghone &
Cia Ltda. Rua General Osório 401, Centro. São Carlos SP. Fone: 16 9111 2826 (Carlos Henrique). A
empres anão é especializada no ramo.
8
Considerando que o protótipo testado deriva do modelo anteriormente desenvolvido e sobre o qual
foram incorporadas as melhorias sugeridas pelos carteiros, não se utilizou nesta avaliação a mesma
escala de percepção anteriormente empregada. Neste momento nos interessou saber se os carteiros
aprovavam ou não o mesmo modelo.
94
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b) durante a operação o cinto afrouxava em decorrência do escorregamento


do mesmo na presilha do engate, em decorrência direta das características
do material utilizado.

2. Na operação, quando os carteiros necessitavam recolher o saco de DA o volume


da bolsa se tornava pequeno.

Quanto ao primeiro problema apresentado, consideramos de fácil solução na medida


que o protótipo foi confeccionado utilizando-se de materiais poucos nobres dada a
preocupação fundamental com as características funcionais da bolsa.

No que se refere ao segundo ponto, trata-se de um problema organizacional. O saco


de DA não necessariamente deve ser recolhido pelo carteiro. Ele pode permanecer
no depositário e ser recolhido no dia seguinte pela equipe motorizada. Tal prática já
é adotada pelo CDD/Estreito de Florianópolis com sucesso. Os impactos desta
prática são mínimos dado o baixo custo do saco de DA e a presença diária da
motorizada nos depositários.

6.2.2.2. Teste Global do Conceito

Estando concluído o processo de desenvolvimento funcional da bolsa do carteiro,


iniciou-se uma nova etapa relativa à transferência do conhecimento acumulado para
empresas capacitadas e detentoras da tecnologia de confecção de bolsas.

Até o momento foram contatadas duas empresas as quais denominaremos A e B. A


empresa A apresentou o seu protótipo em meados de janeiro e a empresa B está
preparando o seu modelo, prevendo a entrega para a segunda semana de fevereiro
de 2000. Nos ateremos à avaliação do modelo A.

Conceito A

Dois protótipos foram submetido a teste durante um período de 7 dias. O resultado


dos testes é apresentado no anexo 3 (Avaliação do Modelo A). Apresentamos na
sequência nosso parecer com base nos resultados.

Do ponto de vista operacional a bolsa está aprovada pelos carteiros o que confirma
os resultados dos testes com os modelos anteriores. Persiste porém o problema dos
sacos de DA, cuja solução já foi apontada anteriormente. Quanto aos aspectos
negativos do protótipo testado, iremos apresenta-los a seguir.

No geral a bolsa ficou desajeitada ou tecnicamente falando, desestruturada (ver foto


5 e 6). Em nossa avaliação tal característica decorre da forma construtiva e do tecido
utilizado, principalmente. Comparando visualmente e pelo tato o tecido utilizado,
conclui-se que não se aproxima daquele utilizado pelo modelo do royal mail, como
esperado. Ainda em relação ao tecido, a solução encontrada para a
impermeabilização deixou a bolsa pesada (1,310 kg contra 1,100 kg do protótipo
desenvolvido anteriormente).

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No que se refere ao bolso interno, deve-se seguir a risca a especificação de 200 mm


de profundidade. O modelo A apresenta profundidade de 170 mm. Quanto ao bolso
externo lateral, a tampa como construída, dificulta o acesso (ver foto 6).

As queixas relativas ao cinto são de duas naturezas. A espuma utilizada na


almofada, tanto do cinto como da alça, são muito duras, devendo ser buscado uma
espuma de poliuretano de menor densidade. Novamente cabe aqui utilizar como
referência o material da bolsa inglesa.

No que se refere ao acoplamento cinto/corpo da bolsa, deve-se restringir a distância


fixa no corpo da bolsa em 200 mm. Com isto espera-se os seguintes efeitos
positivos: a) menor contato da bolsa com o corpo do carteiro e portanto um menor
aquecimento, ou melhor, uma maior facilidade para a transpiração; b) uma menor
curvatura da bolsa quando em uso; e, c) uma aproximação do engate fêmea ao
corpo da bolsa o que facilita a operação de engate/desengate, bem como evita o
contato nas costas do carteiro.

6.3. Considerações finais

O desenvolvimento da nova Bolça do Carteiro encontra-se numa fase bastante


avançada porém o trabalho que ainda resta deve ser meticulosamente realizado. O
protótipo apresentado pela empresa A não representou avanços significativos em
relação ao modelo anteriormente testado.

No que pese tal crítica, são características positivas do modelo: o tipo de material
utilizado para o cinto/alça e para os componentes de fixação e engate, os quais nos
parecem adequados. O protótipo deve ser retornado à empresa juntamente com as
considerações anteriormente apresentadas a fim de possibilitar ao parceiro o
aprimoramento do seu modelo.

6.4.Conceito para Bolsa do Carteiro

O conceito mostrado na figura 1, explora o formato da bolsa tradicionalmente


adotada pelo correio. Como principal característica deste modelo, salientamos o
empilhamento dos objetos na direção perpendicular ao corpo.

Em relação ao modelo tradicional, o protótipo mantém no corpo principal as


características de largura (330 mm) e profundidade (380 mm). A espessura foi
reduzida em 60 mm, passando de 230 mm para 170 mm. Em contrapartida, anexo
ao corpo principal, o protótipo incorporou um bolso auxiliar nas dimensões: largura
330 mm, profundidade 340 mm e espessura de 30 mm.

Portanto, em relação a espessura total, o novo modelo é 30 mm mais estreito,


implicando numa redução de volume global da ordem de 13% e uma redução no
corpo principal da ordem de 26%.

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Figura 1: Conceito para bolsa do carteiro

Os aspectos inovadores em relação ao modelo tradicional são:

1. a incorporação do bolso externo ao corpo principal cuja função é disponibilizar ao


carteiro um espaço auxiliar para a operação de distribuição;
2. a incorporação de dois bolsos laterais cujo objetivo é o transporte de objetos
pessoais e equipamentos auxiliares de proteção, como a capa de chuva, óculos e
a carteira;
3. a incorporação de um novo sistema para as almofadas nos pontos de contato
com o corpo do carteiro;
4. a incorporação de um cinto que objetiva transferir uma parte do peso da bolsa
dos ombros do carteiro para a pelvis.

Além destas, a bolsa incorpora alguns detalhes construtivos que são de fundamental
importância para a sua adequação à atividade dos carteiros, as quais trataremos na
sequência.

6.4.1. Alça

A figura 2 mostra o desenho da alça, a qual constitui um elemento independente do


corpo da bolsa. Tal característica tem dois aspectos relevantes do ponto de vista da
ergonomia: o primeiro deles é o de possibilitar a reposição da alça em caso de
danos acidentais ou provocados pelo desgaste; e o segundo, a possibilidade de
variações contínuas de comprimento, possibilitando uma melhor adaptação ao
usuário. Neste protótipo estamos partindo da dimensão máxima de 1150 mm para o
comprimento total da alça.

Um detalhe construtivo a ser observado é o posicionamento da alça sobre a


almofada de proteção, cujo efeito e o de evitar o contato da alça com o corpo, sendo

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a carga transferida para o ombro pela almofada. Para a largura da almofada


estamos adotando o padrão da bolsa inglesa de aproximadamente 75 mm.

Figura 2: Conjunto alça para bolsa do carteiro

Outra característica construtiva importante é o acoplamento da alça ao corpo da


bolsa. A figura 3 mostra este detalhe. O engate giratório deve possibilitar o giro da
alça em relação à bolsa.

Figura 3: Detalhe do acoplamento alça/corpo da bolsa.

6.4.2. Cinto

O cinto configura-se na maior característica distintiva para o modelo em relação ao


tradicional. Ele objetiva transmitir uma parcela do peso da bolsa para a pelvis do
carteiro. No que pese o consenso de que tal seguimento corpóreo é mais apto para
suportar cargas, reside aí uma dificuldade operacional: os careiros desenvolvem
modos operatórios que envolvem o giro da bolsa ao redor do corpo bem como a
deposição da mesma no piso em paradas mais longas. Além destas, a bolsa
funciona como instrumento de defesa nos ataques caninos. Portanto, o cinto deve
ser compatível com tais modos operatórios.

De tais considerações derivam características construtivas importantes para o cinto.


Uma primeira delas é a necessidade de um engate rápido que possibilite o
acoplamento/desaclopamento sempre que necessário. Ainda, tal engate dever ser
de fácil operação visto que, uma das mãos do carteiro fica constantemente ocupada
com o bloco de cartas.

O cinto possui as mesmas características construtivas adotadas para a alça. Como


característica distintiva, ressalta-se os engates rápidos nas duas extremidades. Tal

98
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simetria deriva da necessidade de se possibilitar que o carteiro utilize a bolsa nas


laterais direita ou esquerda, dependendo do modo operatório utilizado.

Figura 4: conjunto cinto para bolsa do carteiro.

6.4.3. Corpo

O corpo principal da bolsa é constituído por uma câmara principal retangular nas
dimensões 330 x 380 x 170 na qual estão solidários os seguintes complementos:
tampa, câmara secundário ou bolso operacional, bolso interno, bolsos externos,
porta canetas, acoplamento da alça e acoplamento do cinto. A figura 5 mostra tais
complementos e o corpo principal.

Os elementos constitutivos do corpo principal foram definidos em função dos modos


operatórios observados e das respostas dos questionários aplicados durante os
testes da primeira geração de protótipos.

Uma primeira característica a ser observada é o número de compartimentos. Para


determinar o número destes e suas dimensões há de se considerar: o formato e o
volume dos objetos transportados, como premissa básica; as rotinas operacionais
que implicam em diferentes classes de objetos a serem entregues/retornados; os
equipamentos de proteção que devem acompanhar a percorrida; e as demandas
pessoais do carteiro.

Figura 5: Corpo da bolsa do carteiro

A figura 6 mostra uma vista em corte do corpo da bolsa. Da direita para a esquerda,
o primeiro plano mostra a almofada que se interpõe entre o compartimento de carga

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e o corpo do carteiro. Tal elemento desempenha duas funções: distribuir a força de


contacto entre o corpo e a bolsa; e dar rigidez estrutural para a bolsa.

Figura 6: Vista em corte do corpo da bolsa.

Na parede oposta do compartimento, em seu lado externo posiciona-se o bolso


interno, destacado na figura 6 em vermelho, composto de compartimentos: bolso
LOEC e bolso AR9.

Num terceiro plano à esquerda mostra-se a parede externa do compartimento


auxiliar. Tal compartimento será utilizado para o depósito das anotações e/ou
objetos registrados ou outras aplicações dependendo do modo operatório do
carteiro.

A tampa deve seguir os mesmos padrões da utilizada no modelo atual. Deve-se


salientar que a parte mole do velcro deve estar fixada no corpo da bolsa, enquanto a
dura fixa-se na tampa. Isto objetivas evitar o atrito das partes do corpo com o lado
mais agressivo do velcro.

A figura 7 mostra uma vista lateral da bolsa sem a tampa e sem o bolso externo.
Destaca-se o posicionamento do velcro e do reforço estrutural que deve percorrer
todo o perímetro longitudinal da bolsa a fim de conferir maior rigidez.

Figura 7: vista do corpo sem a tampa e o bolso lateral.

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Os bolsos internos podem Ter diferentes usos.
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A figura 8 explora uma vista posterior da bolsa mostrando o detalhe do acoplamento


do cinto. Observe a simetria do conjunto que visa possibilitar o uso da bolsa do lado
esquerdo ou direito.

A fixação do sinto à bolsa objetivo tornar o conjunto cinto/corpo um elemento único,


o que implica numa maior facilidade de rotação do mesmo durante a operação.

Figura 8: acoplamento para o cinto no corpo da bolsa.

A figura 9 mostra uma vista frontal em corte. Ela explora o bolso interno e o bolso
lateral com o fechamento constituído de aba e velcro.

Figura 9: corte frontal da bolsa.

A figura 10 mostra uma vista frontal da bolsa destacando o fecho, o posicionamento


do porta canetas e da logomarca.

Figura 10: Vista frontal do corpo da bolsa.

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6.4.4. Anexo 1
Formulário de Avaliação

Nome: _______________________________________Distrito: __________________

Idade:____________ Sexo: ___________Tempo de serviço como carteiro:__________

CDD: ________________________________________Estado: ___________________

______________________________________________________________________
Cinto

Assinale ao lado o modelo de bolsa que você usou hoje. Bolsa Tradicional
Protótipo 1
Protótipo 2
Protótipo 3
Protótipo 4

Indique ao lado o modo que você utiliza para carregar


A bolsa

(Se você utiliza mais de uma posição, indique todas


elas e estime o tempo de utilização de cada uma)

Quais os aspectos positivos do cinto?

Quais os aspectos negativos do cinto?

Você considera o cinto um dispositivo adequado ao seu trabalho e acha que ele deve ser
incorporado às bolsas?

Quais melhorias que deverão ser realizadas no cinto?

Dê uma nota para o cinto 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

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Formato
Quais os aspectos positivos do novo formato?

Quais os aspectos negativos do novo formato?

O novo formato atrapalha no caminhar?

O novo formato é melhor ou pior que o formato atual?

Quais as melhorias que deverão ser realizadas?

Dê uma nota para o formato 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tamanho
Você considera esse tamanho adequado para o seu distrito?

Ele comporta o volume da carga máxima que você deverá carregar (11 Kg)?

Quais as melhorias que deverão ser realizadas?

Dê uma nota para o tamanho 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

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Divisões internas
Você considera adequado este formato para as divisões internas da bolsa?

Quais as melhorias que deverão ser realizadas?

Dê uma nota para as divisões 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tampa
Você considera esse tipo de tampa melhor ou pior que o tradicional?

Quais as melhorias que deverão ser realizadas?

Dê uma nota para a tampa 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Bolsa Global
Qual é a tua opinião sobre este modelo?

Dê uma nota para este modelo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

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6.4.5. Anexo 2

Síntese da Avaliação da Bolsa do Carteiro (Modelo A)

Variável Considerações
Volume Não ficou bom quando pego os sacos de DA.
Transportou entre 7 a 8 kg.
Transportou entre 9 e 10 kg.
Bolso Interno Ficou raso.
Bolso Operacional Bom para carregar registrado.
Ótimo para Registrado.
Bolso Carteiro Não gostei da tampa do bolso externo
Carregou óculos e documentos. Mudar Tampa.
Porta canetas Ótimo
Ótimo para canetas.
Peso A bolsa é muito pesada.
É pesada.
Bolsa é pesada.
Alça Borracha é muito dura.
Cinto É quente na cintura.
Bolsa esquenta.
O engate fêmea deve ficar mais próximo da bolsa.
Impermeabilização É boa na chuva.
Nota 10
Estrutura A bolsa ficou mole e desajeitada
Geral Tem que melhorar muito em relação à atual.
Nota global 3
Nota operacional 10
No jeito de trabalhar nota 10.
No jeito que foi feita nota 7.

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7. Bibliografia

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Pahl G.; Beitz, W.; Engineering Design, A systematic Approach, Springer, Copyright
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