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JUSTIÇA DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

JUÍZO DE DIREITO DA VARA ÚNICA DE FRANCISCO SÁ - MG


Fórum Desembargador Onofre Mendes Júnior
Rua Olímpio Dias, 536, Centro – 39.580-000 - Fone: 3233-1740
GABINETE DO JUIZ DE DIREITO LAURO VINÍCIUS NOBRE DE ABRANTE
Processo nº

SENTENÇA

1. RELATÓRIO

Trata-se de ação de Alimentos ajuizada por GABRIEL FILIPE


PORTO DA SILVA BATISTA, menor, devidamente representado em desfavor de
MICHEL FILIPE PEREIRA DO PORTO BATISTA, partes qualificadas nos autos.

Aduziu que é filho do réu e que este não contribui para o seu
sustento, embora possa fazê-lo, uma vez que exerce o ofício de lanterneiro e
pintor automotivo.

Ao final, requereu a fixação de alimentos no importe de 40% dos


rendimentos líquidos do requerido.

Os alimentos provisórios foram fixados em 20% dos rendimentos


líquidos do réu ( ID: 5632578145).

Regularmente citado, o requerido não interpôs contestação no


prazo legal. (ID: 7106733018).

A parte autora pugnou pelo julgamento antecipado do feito na


peça de ID: 9056568014.

Expedido ofício ao CAGED, a resposta veio aos autos no ID:


9566746241.

Com vista dos autos, o MINISTÉRIO PÚBLICO, em parecer final,


manifestou-se pela parcial procedência do pedido e pela fixação dos alimentos
definitivos no importe de 40% do salário mínimo vigente á época do
pagamento.

Vieram-me os autos conclusos para sentença.

É o relatório, no essencial.

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2. FUNDAMENTAÇÃO

Não havendo questões preliminares suscitadas, nem outras que


devam ser reconhecidas de ofício e presentes os pressupostos processuais, as
condições da ação e não havendo nulidades a sanar, passo à análise do
mérito.

Orientado pelo princípio do livre convencimento motivado, inserto


no art. 371, do Código de Processo Civil, passo a apreciar os elementos de
prova trazidos a estes autos.

Pois bem.

Cediço que deve ser observado quando da fixação dos alimentos


definitivos a existência do binômio: possibilidade econômica do alimentante e
necessidade do alimentado. Dispõe o art. 1694 do Código Civil:

Art. 1694 - Podem os parentes, os


cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para
atender ás necessidades de sua educação.

§1º. Os alimentos devem ser fixados na


proporção das necessidades do reclamante e dos
recursos da pessoa obrigada.

Embora citado pessoalmente, o requerido não contestou a ação,


sendo-lhe decretada a revelia, nos termos do art. 7º c/c o art. 13, ambos da Lei
nº 5.478/68, que assim dispõem:

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Art. 7º O não comparecimento do autor
determina o arquivamento do pedido, e a ausência
do réu importa em revelia, além de confissão quanto
à matéria de fato.

Art. 13 O disposto nesta lei aplica-se


igualmente, no que couber, às ações ordinárias de
desquite, nulidade e anulação de casamento, à
revisão de sentenças proferidas em pedidos de
alimentos e respectivas execuções.

De fato, o requerido não ofereceu resistência à ação, o que


implicaria na presunção de veracidade dos fatos como efeito decorrente da
revelia, em observância ao artigo 344 do CPC. Entretanto, também é certo que
a presunção de veracidade é relativa e, portanto, de natureza juris tantum,
admitindo prova em contrário.

Assim, não obstante a presunção de veracidade que decorre dos


efeitos da revelia, certo é que, tal fato, por si só, não implica na fixação dos
alimentos no valor pretendido na inicial, haja vista que seus efeitos recaem tão
somente sobre o fato constitutivo do dever de prestá-los, devendo o julgador
aquilatar o binômio necessidade X possibilidade para o arbitramento dos
alimentos.

Á propósito, confira-se:

AÇÃO DE ALIMENTOS - REVELIA DO


ALIMENTANTE - FIXAÇÃO - TRINÔMIO DA
NECESSIDADE, CAPACIDADE E
PROPORCIONALIDADE - RAZOABILIDADE DO
QUANTUM ARBITRADO - SENTENÇA MANTIDA. A
revelia, por si só, não leva à fixação da pensão
pedida na inicial, pois admite-se apenas seus
efeitos quanto ao fato constitutivo da obrigação

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de prestá-los, cabendo ao julgador a aferição do
trinômio justificador da fixação dos alimentos
(necessidade, capacidade e proporcionalidade),
mormente por competir aos pais a assistência,
sustento, guarda, criação e educação dos filhos
menores - necessidade presumida - corolário
sócio-jurídico do poder familiar.” (grifei) (Processo
nº 1.0382.09.097887-7/001(1), Eminente Relator
Nepomuceno Silva, publicado em 30/03/2010).
(Grifei)

Sobre os requisitos para fixação da verba alimentar, ensina Caio


Mário da Silva PEREIRA1 que:

Necessidade. São devidos alimentos


quando o parente que os pretende não tem bens
suficientes, nem pode prover, pelo trabalho, à
própria mantença. Não importa a causa da
incapacidade, seja ela devida à menoridade, ao
fortuito, ao desperdício, aos maus negócios, à
prodigalidade. (...) Possibilidade. Os alimentos
devem ser prestados por aquele que os forneça sem
desfalque do necessário ao próprio sustento. O
alimentante os prestará sem desfalque do
necessário ao próprio sustento. Não encontra
amparo legal que a prestação de alimentos vá
reduzi-lo a condições precárias, ou lhe imponha
sacrifício de sua própria subsistência, quando aquele
que se porá em risco da sacrificá-la se vier a dá-los.
Se o alimentante não os puder fornecer na razão de
seu próprio sustento, prestá-los-á dentro daqueles
1
PEREIRA, Caio Mário da Silva, in Instituições de Direito Civil, vol. V, Direito de Família, Ed. Forense,
pág. 497-499.

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limites, cumprindo ao alimentado reclamar de outro
parente a complementação. Proporcionalidade. Os
alimentos hão de ter, na devida conta, as condições
pessoais e sociais do alimentante e do alimentado.
Vale dizer: serão fixados na proporção das
necessidades do reclamante e dos recursos da
pessoa obrigada. Não tem cabida exigi-los além do
que o credor precisa, pelo fato de ser o devedor
dotado de altas posses; nem pode ser este
compelido a prestá-los com sacrifício próprio ou da
sua família, pelo fato de o reclamante os estimar
muito alto, ou revelar necessidades maiores (§ do
art. 1.964). Reciprocidade. Além de condicional e
variável, porque dependente dos pressupostos
vistos, a obrigação alimentar, entre parentes, é
recíproca, no sentido de que, na mesma relação
jurídico-falimentar, o parente que em princípio seja
devedor poderá reclamá-los se vier a necessitar
deles (...)

Nesse passo, os alimentos continuam condicionados ao binômio


necessidade/possibilidade, sendo imperiosa a verificação dos documentos
acostados aos autos para se aferir a condição econômica das partes.

Com efeito, na hipótese dos autos, o dever de alimentar restou


positivado nos autos, face a comprovação do vínculo existente entre p autor e o
requerido, pelo que configurado o seu dever legal de prestar alimentos ao filho.
Não foi produzida prova nos autos a ensejar a isenção do réu sobre a
responsabilidade de prestar os alimentos.

O que resta a estabelecer é o valor a ser arbitrado a título de


alimentos definitivos, observado, repise-se, o binômio necessidade x
capacidade, conforme estabelecido no artigo 1.694, § 1º, do CC/02.

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Ao exame dos autos, tem-se que o autor não logrou demonstrar a
capacidade financeira do requerido, por outro lado também não logrou o
requerido comprovar sua insuficiência financeira a arcar com os alimentos,
tanto que sequer se insurgiu nos autos.

Neste preâmbulo, sopesando os elementos colacionados nos


autos e frente às necessidades do autor e a inércia do requerido, é razoável a
fixação dos alimentos no patamar de 30% (trinta por cento) do salário mínimo,
até porque não se tem notícias de atual vínculo formal empregatício do
alimentante, ora requerido.

Sobre o tema, colhe- se o seguinte julgado:

CIVIL. PEDIDO DE ALIMENTOS.


FILHOS MENORES. OBRIGAÇÃO PATERNA. A
obrigação de prestar alimentos a filho menor
decorre das previsões do art. 227 da
Constituição Federal e do art. 1.566, IV, do
Código Civil, cuja interpretação é de que o
alimentando deve ser atendido prioritariamente.
A prestação alimentícia é mantida quando o valor
fixado mostra-se necessário ao sustento dos
alimentandos e compatível com a aparente
capacidade contributiva do alimentante. (grifei)
Recurso não provido.” (Processo nº
1.0231.09.140599-4/001(1), Eminente
Desembargador Almeida Melo, publicado em
01/02/2010).

Registre-se, por oportuno, que o valor dos alimentos fixados


poderá ser revisto, a qualquer tempo, mediante ajuizamento de ação própria,
haja vista que a presente sentença apenas implica na coisa julgada formal e
não material, por força de sua própria natureza alimentar.

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3. DISPOSITIVO

Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado na


inicial, extinguindo o processo com resolução de mérito, na forma do art. 487,
inc. I do Código de Processo Civil, para CONDENAR o requerido MICHEL
FILIPE PEREIRA DO PORTO BATISTA a pagar pensão alimentícia mensal que
ora ARBITRO em 30% (trinta por cento) do salário mínimo vigente á época do
pagamento, em favor do autor GABRIEL FILIPE PORTO DA SILVA BATISTA,
devidos desde a citação.

A pensão alimentícia deverá ser paga até o dia 10 (dez) de cada


mês subseqüente ao vencido. Fica desde já autorizada a abertura de conta
corrente no Banco do Brasil para depósitos dos alimentos em nome da
representante legal do requerente, caso esta não possua conta aberta.

CONDENO a parte requerida ao pagamento das custas,


despesas processuais e honorários advocatícios que ora arbitro em 10% (dez
por cento) sobre o valor atualizado atribuído a causa, em atenção ao grau de
zelo do profissional, ao lugar de prestação do serviço, à natureza e à
importância da causa, ao trabalho realizado pelo advogado e ao tempo exigido
para o seu serviço nos termos do art. 85, § 2º do Código de Processo Civil.

CIENTIFIQUEM-SE, pessoalmente, o Ministério Público e a


Defensoria Pública.

APLIQUE-SE ao revel o disposto no art. 346 do Código de


Processo Civil.

Transitado em julgado e, quitadas as custas, arquive-se, com


baixa na distribuição.

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Juiz de Direito Substituto

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