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10 de Fevereiro de 2024

Fraude à Lei trabalhista e sua


nulidade absoluta
Comentários artigo 9º da CLT. A fraude à lei não se
confunde, portanto, com a violação da lei
Publicado por Sergio Angelotto Jr Adv Especialista Whatsapp 11980407282 há 9 anos

Um dos artigos fundamentais da CLT e de todo Direito Traba-


lhista é com certeza o 9º da CLT.

Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados


com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a
aplicação dos preceitos contidos na presente
Consolidação.

Conforme ensina ARNALDO SUSSEKIND, Comentários à Con-


solidação das Leis do Trabalho:
"A fraude à lei não se confunde, portanto, com a
violação da lei. No primeiro caso a lei é cumprida
sob o prisma objetivo e vulnerada sob o aspecto subje-
tivo; no segundo, ao contrário, ocorre a infração obje-
tiva do próprio texto legal. É o que salienta, com preci-
são, ALÍPIO SILVEIRA, quando escreve: “agem em
fraude à lei aqueles que, embora não vulne-
rando a letra, se desvia conscientemente do es-
pírito, intenção ou finalidade da lei”; já a viola-
ção da lei ocorre “quando vulnera objetivamente o texto
legal, não importando a intenção do infrator”. E acres-
centa: “no caso de fraude à lei, o elemento subjetivo da
intenção passa ao primeiro plano, sendo que a ausên-
cia de vulneração da letra da lei não obsta a violação
do espírito ou finalidade de norma” (Ob. Cit., págs. 129
e 130).

O direito positivo brasileiro possui, inquestionavelmente, as


normas capazes de ensejar a repressão à fraude intentada nas
relações de trabalho. Além da prescrição consagrada pelo art. 9º
da CLT, cujo campo de incidência não deve se limitar aos casos
de fraude aos dispositivos consolidados.

Convém acrescentar, ainda

que, em matéria de fraude, e, em geral, quando à prova


de todo ato em que se procura iludir a outrem, admite-
se como de grande relevo, não a prova incisiva, mas a
certeza inferida de indícios e circunstâncias. Se da com-
binação dos elementos em estudo transparece o conluio
ou a má-fé, dela não se pode exigir prova incisiva.

O fato de natureza oculta foge à luz, procurando vestir-se sob


formas irreconhecíveis e a prova direta jamais pode trazer à elu-
cidação do dolo ou da fraude contingente de relevo” (JORGE
AMERICANO – “Comentários ao Código de Processo Civil”, vol.
I, pág. 543).

Daí ter o nosso código civil de Processo Civil de 1916 estabele-


cido que “o dolo, a fraude, a simulação e, em geral, os atos de
má-fé, poderão ser provados por indícios e circunstâncias”. Já
no Código Civil de 2002, Art. 166. É nulo o negócio jurídico
quando:VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; o referido
coaduna Art. 9º Serão nulos de pleno direito os atos praticados
com o objetivo de desvirtuar, ou fraudar a aplicação dos precei-
tos contidos na presente Consolidação.

Sendo que,

“na apreciação dos indícios, o juiz considerará livre-


mente a natureza do negócio, a reputação dos indicia-
dos e a verossimilhança dos fatos alegados na inicial e
na defesa” (Art. 253).

Utilizando-se dos princípios do direito do trabalho. Além das


leis trabalhistas citadas no subitem anterior, o Direito do Tra-
balho é regido também e principalmente, de alguns princípios
que norteiam as relações do trabalho.

O Direito do Trabalho, através das leis trabalhistas e da apli-


cação destes princípios, busca garantir um equilíbrio entre o hi-
per (empregador) e o hipossuficiente (empregado), já que o hi-
possuficiente se apresenta mais vulnerável numa relação de tra-
balho, frente ao poder econômico e diretivo do empregador.

Princípio da Primazia da Realidade


O princípio da primazia da realidade destaca justamente que o
que vale é o que acontece realmente e não o que está escrito.
Neste princípio a verdade dos fatos impera sobre qualquer con-
trato formal, ou seja, caso haja conflito entre o que está escrito e
o que ocorre de fato, prevalece o que ocorre de fato. Princípio da
Proteção do Trabalhador Este princípio envolve três regras, a
saber: a) In dubio pro mísero; b) Condição mais favorável; c)
Norma mais benéfica.

Para algumas hipóteses, nas quais a fraude era praticada com


maior intensidade, a Consolidação prescreveu regras especiais,
regulando especificamente os efeitos do ato anormal. É o que
ocorre, por exemplo, com a despedida de empregado com o ob-
jetivo de obstar-lhe a aquisição da estabilidade no emprego, que
sujeitará o empregador ao pagamento em dobro da indenização
normalmente devida (§ 3º do art. 499); com a sucessão de con-
tratos por prazo determinado, com interregno inferior a seis
meses, desde que a expiração do primeiro não dependeu da exe-
cução de serviços especializados ou da realização de certo acon-
tecimentos, quando a relação de emprego se terá como ajustada
por prazo indeterminado (art. 453); com o pagamento de diárias
para viagem superiores a cinquenta por cento do salário, hipó-
tese em que serão computadas como se salário fossem (§ 3º do
art. 457), etc.

Consequentemente, como concluímos alhures, em face dos dis-


positivos legais supra transcritos, “a regra que prevalece no di-
reito do trabalho é a da nulidade absoluta do ato anormal prati-
cado com o intuito de evitar a aplicação das normas jurídicas de
proteção ao trabalho. Sempre que possível, desde que da lei não
resulte solução diversa, a relação de emprego deve prosseguir
como se o referido ato não tivesse sido praticado; em caso con-
trário, deve ser reparado nos limites da lei trabalhista, o dano
oriundo do ato malicioso. Ocorrendo simulação fraudulenta, ati-
nente à relação de trabalho, ou a uma de suas condições, as nor-
mas jurídicas pertinentes deverão ser aplicadas em face da ver-
dadeira natureza da relação ajustada ou da condição realmente
estipulada” (“Instituições”, vol. I, pág. 254).
Em certos casos, entretanto, conforme já acentuamos, o exercí-
cio anormal do direito constituirá violação e não fraude à lei,
sendo expressamente reguladas as consequências jurídicas da
respectiva infração. Os casos mais comuns de fraude à lei traba-
lhista concernem à simulação de contratos de sociedade, de in-
termediação, de empreitada, de parceria rural e, até, de arrenda-
mento ou locação de coisa, para ocultar a relação de emprego re-
almente configurada pelos elementos que a caracterizam.

Fonte: ARNALDO SUSSEKIND, Comentários à Consolidação


das Leis do Trabalho e à Legislação Complementar, vol. I, arts. 1
a 153, Freitas Bastos, 1960, págs. 215/235.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/fraude-a-lei-trabalhista-e-sua-nulidade-


absoluta/136879918

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