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INTRODUÇÃO A

LABORATÓRIO DE
BIOQUÍMICA CLÍNICA
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

SUMÁRIO

1- BIOQUÍMICA DO SANGUE 3

2- TIPOS DE EXAMES 8

3- URINA 13

4- SANGUE 17

5- EXAMES DE FEZES 22

6- HEMOGRAMA 24

7- ANÁLISES CLÍNICAS 26

8- ENZIMAS 30

9- FUNÇÃO METABÓLICA 34

10- ASPECTOS BIOQUÍMICOS DAS ESTRUTURAS CELULARES 36

11- ENZIMOLOGIA 38

REFERÊNCIAS

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1- BIOQUÍMICA DO SANGUE

O sangue tem diversas funções e entre elas estar a de transporte, respiração,


nutrição, excreção e defesa. O sangue circula em um sistema fechado, onde seu
volume é mantido quase constante e um vazamento nessa circulação pode ser fatal,
então em casos de vazamento há uma série de acontecimentos para que a
hemostasia seja mantida.

Composição: O sangue é composto por plasma (parte liquida) + células.

O plasma é composto por substâncias orgânicas não protéicas (uréia, aminoácidos,


bilirrubina, creatina, carboidratos, lipídeos), proteínas (albumina, globulinas,
fibrinogênio), substâncias inorgânicas (bicarbonato, cloreto, fosfato, sódio, ferro,
iodo, potássio).

OBS.: A albumina regula pressão osmótica, transporta ác. Graxos, medicamentos.

Células: Hemácias (transporta oxigênio, dióxido de carbono, função desempenhada


pela hemoglobina que também tem função tamponante no sangue). Leucócitos
(mecanismo de defesa contra infecções). Além de fragmentos de células, as
Plaquetas (mecanismo de hemostasia / coagulação sanguínea).

Hemostasia: O sinal para coagulação é a lesão de um vaso. A Hemostasia implica


no processo de formação do coágulo (FASE 1, pró - coagulação), parada de
formação do coágulo (FASE 2, anticoagulação) e dissolução do coágulo (FASE 3,
fibrinólise). A fase 1 há formação de fibrina a partir do fibrinogênio e agregação em
uma rede insolúvel que recobre a área da ruptura e impede a perda de sangue,
concomitantemente há agregação plaquetária formando uma rolha física para ajudar
a parar o vazamento. As plaquetas sofrem alterações morfológicas e liberam
substâncias químicas que ajudam na vasoconstrição reduzindo o fluxo sanguíneo e
liberação de enzimas com a finalidade da formação do coágulo.

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OBS.: Muitas proteínas envolvidas na coagulação têm domínios tipo – fator de


crescimento epidérmico (EGF), uma fase não termina, antes que outra comece. A
formação do coágulo envolve duas vias intrínseca e extrínseca.

Etapas da Coagulação: Constrição do vaso lesado, formação de tampão


plaquetário frouxo e temporário (Inicia-se quando as plaquetas se aderem ao
endotélio vascular. Essa aderência acontece com uma ligação entre a glicoproteína
Ib/IX/V na superfície das plaquetas e colágeno exposto durante a lesão do endotélio.
Essa ligação é mediada pelo fator de Von Willebrand que funciona como
uma "ponte" entre a superfície da plaqueta e o colágeno.), formação do trombo
vermelho (adesão do fibrinogênio, eritrócitos e fibrina) e dissolução parcial ou
completa (plasmina).

OBS.: PGI2 e ácido nítrico são produzidos toda hora para que não haja coagulação
desnecessária.

Propriedades das Plaquetas: Aderem firmemente às fibras de colágeno, liberam


tromboxana A2 (vasoconstritor e indutor da agregação plaquetária) e ADP (induz
outras plaquetas a se aderirem às plaquetas aderidas ao colágeno) – formação de
rede plaquetária. Liberam serotonina que aumentam a vasoconstrição.

Propriedades da Aspirina: Fica inibindo a coagulação até o fim d ávida da plaqueta.


Liga-se irreversivelmente às plaquetas, inibe a clicooxigenase (conversão de
araquidonato em tromboxana) – não vai haver vasoconstrição e adesão.

Propriedades da Prostaglandina PGI2: é liberada pelo endotélio, vasodilatadora e


inibidora da agregação plaquetária.

A Coagulação é Autocontrolada: Tem como objetivo restringir a área do coágulo. Os


anticoagulantes do sangue são Antitrombina e Proteína S.

Mecanismo: A antitrombina se liga á uma molécula similar à trombina (heparina), a


trombina inativa a proteína S por proteólise e os fatores: II, X, IX, XI, XII ativos.

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Existem duas trombinas, a que participa do processo de coagulação tem sódio e a


que controla a coagulação não tem cálcio.

A proteína S em associação com a proteína C formam um complexo que inativam o


fator V e VIII. Quem tem deficiência de Vitamina C, vai ter mais trombina coagulada.

A Vitamina K e a Coagulação Sanguínea: é co-fator essencial para a carboxilase, a


função da carboxilase é catalisar reações de carboxilação. A vitamina K tem como
principal função ser coagulante e anti-hemorrágica. Participa na formação de certos
fatores de coagulação no fígado.

Sua carência pode aumentar o tempo de coagulação e diminuir a produção dos


fatores de coagulação o que é perigoso, por exemplo, num paciente que irá fazer
uma cirurgia, pois não haverá a coagulação ocorrendo uma hemorragia. A
carboxilase atua nas proteínas: Protrombina, fator 7,9,10,C e S.Anticoagulantes
Injetáveis: Cumarina (Warfarin), atuam na inibição da carboxilação dependentes de
vit K.

OBS.: O gla-peptídeos que são liberados após ativação da protrombina são


removidos as circulação pelo fígado. As proteínas são sintetizadas mesmo na
ausência de antagonista da vit K. No entanto, não são secretadas para circulação.

Soro vs. Plasma: O plasma é uma solução aquosa rica de substância inorgânicas e
orgânicas, que ajuda no transporte de nutrientes, anticorpos, hormônios, gases da
respiração e produtos de excreção, rico de fibrinogênio. O soro representa o plasma,
do qual foi retirado o fibrinogênio e, portanto, não tem a capacidade de promover
coagulação sangüínea.

Caso Clínico: Diabético tipo II tem muito fibrinogênio, podendo desenvolver trombos
com maior facilidade. Apesar disso, suas feridas não cicatrizam com maior rapidez,
como poderíamos pensar, pois a glicose em excesso circulando no sangue se liga
ao colágeno modificando-o e o colágeno é o fator de iniciação do processo de
coagulação, a partir de sua exposição.

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Muitas doenças trombóticas são associadas a mutações na proteína C, que afetam


sua atuação por trombina.

Cascata da Coagulação: A célula tem núcleo, por isso, pode produzir proteínas
combatendo os inibidores de suas enzimas, contrariamente, as plaquetas não têm
núcleo. Para formação do coágulo é necessário diversos fatores, e as plaquetas. Há
duas vias para coagulação, dependentes entre si, a via intrínseca e a extrínseca.

A via intrínseca: A carga negativa de colágeno é quem estimula tal via de formação
de fibrina.

A via extrínseca: Quando o endotélio se rompe libera o fator tecidual


(tromboplastina) estimulando essa via. A partir do fato X a via é comum.

Fator VIIa ativa o fator IX; Sem o cálcio, não há coagulação!!! O fator XIII ativa a
polimerização de fibrina, sem polimerização a fibrina é frágil.

IX, VII, X, II – fatores dependentes de cálcio. XIII – precisa de cálcio apenas para dar
estabilidade ao coágulo. II – protrombina. Cálcio – fator IV.

Como se pode perceber, a via extrínseca é mais simples que a via intrínseca.

Na via extrínseca, a tromboplastina atua sobre o fator VII, ativando-o. O fator VII
ativado age sobre o fator X, já na via final comum. Na via intrínseca, a calicreína
deflagra a ativação dos fatores XII, XI e IX, em cascata, ou seja, um ativa o seguinte
numa seqüência ordenada. O fator IX, em presença de Cálcio e fator VIII (anti-
hemofílico) ativam o fator X, iniciando a via final comum. Na via comum, a
protrombina é ativada pelo fator X ativado (tenha o processo se iniciado pela via
extrínseca ou pela intrínseca), formando-se Trombina. A trombina converte
Fibrinogênio em Fibrina, mas também ativa o fator XIII, responsável pela
polimerização da fibrina.

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Plasminogênio: Ajuda no coágulo, quando ativado em plasmina pela t - PA, degrada


o coágulo em fragmentos solúveis. No sangue, há inibidores da plasmina e do t - PA,
o alfa2, o PAI1, PAI2.

Fibrinólise: Quebra do coágulo, só acontece pós-reparação tecidual. A célula


endotelial produz t - PA (ativador tecidual de plasminogênio) que degrada o coágulo.

OBS.: Diabéticos têm alto nível de PAI, coágulo por mais tempo, ISQUEMIA.

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2- TIPOS DE EXAMES

Existem vários tipos de exame de sangue e cada um deles serve para avaliar
diferentes parâmetros. Os exames de sangue são usados para avaliar o
funcionamento de órgãos e glândulas como pâncreas, fígado e rins, detectar
doenças como câncer, anemia e diabetes, avaliar os níveis de colesterol, glicose,
ácido úrico, entre muitas outras indicações.

Dentre os tipos de exame de sangue mais usados estão o hemograma, colesterol,


triglicerídeos, glicemia, ácido úrico, ureia, creatinina, HIV e PSA.

Hemograma

O hemograma serve para analisar as células do sangue, ou seja, os leucócitos


(glóbulos brancos), as hemácias (glóbulos vermelhos) e as plaquetas. O exame é
usado para auxiliar o diagnóstico e acompanhar doenças como anemia, leucemia,
infecções e inflamações, problemas de imunidade, entre outras.

Hemácias

As hemácias, também chamadas de glóbulos vermelhos ou eritrócitos, transportam


o oxigênio através da circulação sanguínea.

Quando o nível de hemácias está alto, o sangue pode ficar mais "grosso" e
prejudicar o funcionamento das outras células sanguíneas. Por outro lado, se houver
uma redução do número de glóbulos vermelhos, pode ser um sinal de hemorragia ou
anemia.

Leucócitos

Os leucócitos ou glóbulos brancos fazem parte do sistema imunológico do corpo.


São células de defesa que protegem o corpo contra doenças, inflamações e
infecções.

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Se o hemograma detectar níveis elevados de leucócitos (leucocitose), pode ser um


indício de algum processo infeccioso, câncer (leucemia), ataque cardíaco ou ainda
morte de algum tecido do corpo.

Já a leucopenia caracteriza-se por um número baixo de leucócitos (leucopenia) e


pode ter diversas causas, como infecções virais, tratamento para câncer, ingestão
de mercúrio, febre tifoide, sarampo, hepatite, rubéola, entre outras.

Plaquetas

As plaquetas atuam na coagulação sanguínea. A análise dessas células no


hemograma serve para verificar a capacidade que o sangue tem de coagular quando
há sangramentos, além de detectar as causas de um aumento ou diminuição do
número dessas células.

HIV

O exame de sangue para detectar o vírus HIV, causador da AIDS,


detecta anticorpos produzidos pelo organismo para combater o vírus. Quando o
resultado do exame é "não reativo", significa que não foram encontrados anticorpos
contra o vírus no sangue do indivíduo. Portanto o resultado nesse caso é "negativo"
para HIV.

Contudo, o fato do resultado dar negativo não significa que a pessoa não tenha a
doença. Os resultados falso-negativos ocorrem sobretudo na fase inicial da doença
ou no período da janela imunológica do HIV.

Quando o resultado do exame é positivo, costuma-se realizar um outro exame de


sangue anti-HIV para confirmar o diagnóstico. Esse exame é mais preciso, pois não
detecta anticorpos, mas sim o material genético do vírus.

Colesterol

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O exame de sangue de colesterol analisa 3 tipos de colesterol VLDL, LDL e HDL.


Os dois primeiros são considerados "mau colesterol", enquanto que o HDL é
conhecido como "colesterol bom".

Quado os níveis de LDL e VLDL (mau colesterol) estão altos, pode haver formação
de placas de gordura dentro das artérias que podem obstruir o fluxo sanguíneo,
aumentando o risco de derrames e infarto.

Já o HDL é considerado "bom colesterol" porque não forma placas de gordura e


pode remover da circulação o LDL.

Triglicerídeos

Os triglicerídeos são gorduras provenientes da alimentação e que também são


produzidas pelo organismo. O exame de triglicerídeos é importante para avaliar o
risco de doenças cardiovasculares, já que quando os seus níveis estão altos
também pode haver formação de placas de gordura na parede interna das artérias,
assim como ocorre com o colesterol.

Se os triglicérides, como também são conhecidos, estiverem muito elevados, pode


haver inclusive inflamação do pâncreas.

Glicemia

O exame de sangue de glicemia serve para avaliar os níveis de glicose (açúcar) na


circulação sanguínea, sendo usado para diagnosticar diabetes e outras alterações
metabólicas.

Quando a glicemia está acima dos valores de referência (hiperglicemia), pode ser
um sinal de diabetes. Já a hipoglicemia caracteriza-se pela pouca quantidade de
glicose na circulação e na maioria dos casos trata-se de um efeito colateral de
tratamentos com insulina ou hipoglicemiantes orais.

Ácido úrico

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O ácido úrico é um produto metabólico das purinas, uma substância presente nas
células e que fazem parte do material genético das mesmas.

Uma ingestão excessiva de carne e bebidas alcoólicas pode aumentar os níveis


de ácido úrico, podendo causar episódios de gota. Se o ácido úrico estiver alto,
também pode levar à formação de pedra nos rins.

Ureia

A ureia é um produto do metabolismo das proteínas. É produzida no fígado e


eliminada na urina. O exame de sangue de ureia ajuda a avaliar o funcionamento
dos rins, já que níveis altos de ureia podem indicar que os rins perderam a
capacidade de filtrar o sangue adequadamente, levando a um acúmulo de ureia na
circulação.

Contudo, o exame de ureia não é muito exato para avaliar a função renal, já que a
ureia pode se elevar conforme a alimentação e o nível de hidratação do indivíduo,
bem como em caso de infecções, doenças hepáticas, gravidez, entre outras
doenças e condições.

Quando os resultados do exame de ureia estão abaixo dos valores de referência,


pode ser um sinal de desnutrição, baixa ingestão de proteínas, insuficiência
hepática, gestação, outras doenças e condições.

Uma vez que os níveis de ureia no sangue podem estar altos ou baixos em diversas
situações, é comum pedir esse exame juntamente com o exame de creatinina, que é
mais preciso para avaliar a função renal.

Creatinina

A creatinina é resultante da degradação de uma substância presente nos músculos.


Quanto mais massa muscular tiver a pessoa, maior é a quantidade de creatinina na
circulação.

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Boa parte da creatinina é filtrada nos rins, por isso esse exame de sangue serve
para avaliar a capacidade de filtração dos rins. Se a função renal estiver reduzida,
os resultados irão apresentar níveis de creatinina elevados.

PSA

O exame de sangue de PSA serve para detectar doenças ou alterações


na próstata, tais como câncer, infecções, aumento de tamanho da glândula e
traumas.

PSA é a sigla para Antígeno Prostático Específico. É produzido na próstata e está


normalmente presente na circulação sanguínea. Quando há alguma alteração na
glândula, os níveis de PSA ficam altos.

O exame de PSA associado ao toque retal é a forma mais eficaz de detectar


o câncer de próstata nas fases iniciais.

Todos os exames de sangue devem se interpretados pelo médico que os solicitou,


juntamente com os sinais e sintomas apresentados, a história clínica e outros
exames, quando necessários.

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3- URINA

Parece até um pouco nojento, mas é importante observar a cor do xixi. Uma vez
que a urina reúne substâncias que até pouco tempo atrás estavam trafegando pelo
corpo, ela revela informações pra lá de úteis sobre sua saúde. Conheça agora o que
sete diferentes tons podem dizer sobre o estado do organismo:

Ligeiramente amarelo

É a cor ideal: significa que você está bebendo uma boa quantidade de água, o que é
fundamental para diluir e descartar toxinas e o excesso de minerais. “Elementos
como sódio, potássio e ureia são todos eliminados pela urina”, explica o urologista
José Carlos Truzzi, do Fleury Medicina e Saúde.

Transparente
Talvez o consumo de H2O esteja mais elevado do que o seu organismo realmente
necessita – daí os rins retiram o excedente da circulação sanguínea. Se o quadro
persistir, vale procurar um médico. “É comum que no diabete descontrolado, por
exemplo, o indivíduo vá muito ao banheiro e libere um líquido incolor”, relata Truzzi.

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Amarelo-escuro ou castanho

Aqui é a situação contrária: a carência nos goles d’água faz o xixi ficar concentrado
de ureia e companhia. “Em longo prazo, isso aumenta o risco de desidratação e
cálculo renal”, avisa Maria Alice Barcelos, nefrologista do Hospital 9 de Julho, em
São Paulo. Para evitar complicações, basta caprichar na hidratação.

Laranja

“Remédios e suplementos vitamínicos podem deixar a urina nessa cor”, conta o


médico Cristiano Gomes, da Sociedade Brasileira de Urologia. Pigmentos de
legumes como a cenoura e a abóbora têm efeito parecido, o que não causa
problemas. Um laranja forte levanta suspeita de doenças no fígado.

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Vermelho

Você comeu beterraba? Componentes dessa raiz tingem o xixi e as fezes. Mas aí
não há nenhuma repercussão ruim no corpo. Em todo caso, é bom prestar atenção:
a troca de cor também acontece pela presença de sangue. “Aí é preciso investigar,
porque alguma estrutura do sistema urinário, como os rins ou a bexiga, pode estar
doente”, alerta Maria Alice.

Verde ou azul

A culpa recai sobre o corante azul de metileno, utilizado na fabricação de algumas


medicações. Ele é excretado na urina, que, ao misturar as cores, ganha tons
esverdeados ou azulados. Na bula dos medicamentos, você encontra informações
sobre essas eventuais consequências. Aspargos e a cerveja verde, típica da Irlanda,
provocam efeito semelhante.

Espumoso

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É natural que, ao cair no vaso sanitário, a urina crie um pouco de espuma. Mas, se
surgirem muitas bolhas, fique esperto: você provavelmente está eliminando proteína
pelo xixi. “Isso não é normal e pede consulta com um médico”, diz o nefrologista
Nestor Schor, da Universidade Federal de São Paulo. Às vezes, o motivo é o
excesso de proteína na dieta.

E o exame de urina?
O teste é simples e dá vários detalhes em relação à saúde. Ele acusa a
concentração de várias substâncias e detecta elementos como sangue, glicose e
células de defesa, o que auxilia no diagnóstico de quadros como diabete e
infecções.

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4- SANGUE

O sangue é um tecido líquido formado por diferentes tipos de células suspensas no


plasma. Ele circula por todo nosso corpo, através das veias e artérias.
As veias levam o sangue dos órgãos e tecidos para o coração, enquanto as artérias
levam o sangue do coração para os órgãos e tecidos.

Já as células, recebem sangue através de vasos sanguíneos de menor porte


denominados de arteríolas, vénulas e capilares.

Em um adulto circulam, em média, seis litros de sangue.

Funções do Sangue
Uma das funções básicas do sangue é o transporte de substâncias, das quais
destacam-se:

 Levar oxigênio e nutrientes para as células;


 Retirar dos tecidos as sobras das atividades celulares (como gás carbônico
produzido na respiração celular);
 Conduzir hormônios pelo organismo.

O sangue desempenha um importante papel de defender o corpo das ações de


agentes nocivos.

Composição do Sangue

Composição do sangue

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O sangue parece um líquido homogêneo, no entanto, com a observação por


microscópio pode-se verificar que ele é heterogêneo, sendo composto por glóbulos
vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e plasma.

O plasma, corresponde até 60% do volume do sangue, é a parte líquida onde ficam
suspensos os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. A quantidade de
cada componente pode variar conforme o sexo e idade da pessoa.

Algumas doenças, como a anemia, também podem causar modificações nos valores
normais dos componentes do sangue.

Glóbulos Vermelhos

Hemácias no interior de uma artéria

Os glóbulos vermelhos, também chamado de hemácias, são células em maior


quantidade nos humanos. Possuem a forma de um disco côncavo de ambos os
lados e não apresentam possuem núcleo.

Eles são produzidos pela medula óssea, ricos em hemoglobina, uma proteína cujo
pigmento vermelho dá a cor característica ao sangue. Ela tem a propriedade de
transportar o oxigênio, desempenhando papel fundamental na respiração.

Glóbulos Brancos

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Glóbulos brancos visualizados através de microscopia eletrônica

Os glóbulos brancos, também chamados de leucócitos são produzidos na medula


óssea. São células de defesa do organismo que pertencem ao sistema imunológico.

Eles destroem os agentes estranhos, como bactérias, vírus e as substâncias tóxicas


que atacam nosso organismo e causam infecções ou outras doenças. Além disso,
também possuem papel importante na coagulação do sangue.

No sangue há diversos tipos de leucócitos com diferentes formatos, tamanhos e


formas de núcleo: neutrófilos, monócitos, basófilos, eosinófilos e linfócitos.

Os leucócitos são maiores que as hemácias, porém, a quantidade deles no sangue é


bem menor. Quando o organismo é atacado por agentes estranhos, o número de
leucócitos aumenta significativamente.

Plaquetas

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As plaquetas são fragmentos celulares sem núcleo

As plaquetas, também chamadas de trombócitos, não são células, mas fragmentos


celulares. A sua principal função está relacionada ao processo de coagulação
sanguínea.

Quando há um ferimento, com rompimento de vasos sanguíneos, as plaquetas


aderem às áreas lesadas e produzem uma rede de fios extremamente finos que
impedem a passagem das hemácias e retém o sangue.

As plaquetas estão presentes em cada gota de sangue e seu número é de


aproximadamente 150.000 a 400.000 plaquetas por milímetro cúbico em condições
normais de saúde.

Plasma

O plasma é a parte líquida do sangue

O plasma é um líquido de cor amarela e corresponde a mais da metade do volume


do sangue.

Ele é constituído por grande quantidade de água, mais de 90%, onde encontram-se
dissolvidos os nutrientes (glicose, lipídios, aminoácidos, proteínas, sais minerais e
vitaminas), o gás oxigênio e hormônios, e os resíduos produzidos pelas células,
como gás carbônico e outras substâncias que devem ser eliminadas do corpo.

Tipos Sanguíneos
Os tipos sanguíneos são sistemas de classificação do sangue. Eles foram
descobertos no início de século XX pelo médico Karl Landsteiner.

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Para a espécie humana, os tipos sanguíneos mais importantes são o Sistema ABO e
o Fator Rh.

No Sistema ABO, por exemplo, há quatro tipos sanguíneo: A, B, AB e O. Os tipos


possíveis de doação compatíveis são:

 Tipo A: recebe de A e O e doa para A e AB


 Tipo B: recebe de B e O e doa para B e AB
 Tipo AB: recebe de A,B, AB e O e doa para AB
 Tipo O: recebe de O e doa para A,B,AB e O

Enquanto isso, o Fator Rh funciona independentemente do Sistema ABO, e


relaciona-se com a produção de um antígeno localizado na membrana plasmática
das hemácias.

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5- EXAMES DE FEZES

O exame de fezes pode ser solicitado pelo médico para avaliar as funções
digestivas, quantidade de gordura nas fezes ou ovos de parasitas, sendo útil para
saber como está a saúde do indivíduo. Veja o que a cor das fezes pode dizer sobre
a sua saúde clicando em: Como entender a cor das fezes.
O material para o exame pode ser guardado na geladeira dependendo do exame a
ser feito mas o laboratório poderá esclarecer esta dúvida. No caso do exame
parasitológico e na pesquisa de sangue oculto as fezes podem ser guardadas na
geladeira por até 24 horas.

Pode até dar nojinho, mas a coleta de xixi e cocô é essencial para confirmar o
diagnóstico de um monte de encrencas, já que fornece pistas relativamente fáceis
de serem vistas pelos experts. Conheça mais sobre os exames de urina e
fezes, que estão entre os mais antigos do mundo.

Para que servem

O urina 1, nome oficial do teste mais popular da categoria, flagra problemas nos rins
ou no trato urinário, além de outros males sistêmicos, como alguns tipos
de anemia e especialmente o diabetes.
Há ainda a urocultura, que investiga infecções, e a urina de 24 horas, que considera
todos os xixis feitos no dia e pode ser solicitada para confirmar a pré-eclâmpsia – ou
seja, a hipertensão típica das gestantes.
Já o exame parasitológico de fezes ajuda a entender melhor as dores de estômago,
por exemplo, ou confirmar a suspeita de que algum parasita, como a lombriga,
instalou-se no sistema digestivo. Existe também a pesquisa de sangue oculto nas
fezes, teste que detecta possíveis tumores e outros males intestinais.

Como são feitos

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Em casa ou no laboratório, a pessoa faz suas necessidades em um potinho


esterilizado e entrega a amostra o mais rápido possível para a avaliação. No caso da
urina, o ideal é que seja o primeiro xixi da manhã, descartando o primeiro jato – mas
o xixi de outros momentos pode ser utilizado, se necessário. O material é submetido
a testes para inspecionar aparência, composição e consistência.

Resultados

Grande parte da investigação consiste em encontrar substâncias que não deveriam


estar nas amostras. Na urina, para ter ideia, não pode ter excesso de glicose,
proteínas ou corpos cetônicos, que indicam diabetes e outras doenças que atacam
os rins. Já a bilirrubina e os nitritos estão associados a problemas no fígado e à
presença de infecções, respectivamente. Por último, a presença de cristais
denuncia cálculos renais.
Nas fezes, o alvo da busca são os ovos e as larvas de parasitas, ou a hemoglobina
humana, no caso da pesquisa de sangue oculto.

Periodicidade

Em geral, são solicitados de acordo com a necessidade de investigação de algum


transtorno. Mas o teste da urina é parte do checkup de algumas especialidades. Já a
verificação de sangue oculto nas fezes deve ser feita como maneira de flagrar
precocemente o câncer colorretal em indivíduos com mais de 40 anos e histórico
familiar de tumores na região.

Principais cuidados e contraindicações

Todos podem fazer os exames, mas alguns medicamentos alteram os resultados da


urina 1, caso dos suplementos de vitamina C, que interferem na eliminação de
glicose pelo xixi. Por isso, o ideal é contar para o médico sobre qualquer remédio
que esteja sendo tomado, por mais banal que ele seja.

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6- HEMOGRAMA

Hemograma: Conheça o exame, as orientações e para que serve

O Hemograma é o exame laboratorial que avalia os elementos figurados do sangue,


ou seja, as células sanguíneas. Pela quantidade e qualidade de informações que vai
transmitir ao clínico, certamente é o exame mais prescrito pelos médicos.

Consiste na avaliação de três componentes: leucócitos, hemácias e plaquetas. Para


cada um destes componentes, apresenta uma estratificação de resultados que
auxiliará no diagnóstico clínico.

Pra que serve o Hemograma?

O hemograma é ferramenta fundamental no diagnóstico de:

– Anemias

– Policitemias

– Doenças hemolíticas

– Processos infecciosos bacterianos e virais

– Leucemias

– Processos alérgicos

– Doenças inflamatória crônicas

– Distúrbios da coagulação (manchas no corpo, sangramento excessivo, …)

Orientações de coleta

Para realização do hemograma não é necessário jejum tampouco qualquer preparo


prévio.
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Interpretação

O hemograma pode ser dividido em eritrograma, leucograma e contagem de


plaquetas. No eritrograma são avaliadas as características das hemácias, sua
contagem, morfologia, assim como a concentração de hemoglobina. Também
constam do resultado os índices hematimétricos, como o VCM (volume corpuscular
médio), CHCM (concentração hemoglobínica corpuscular média) e RDW (avalai a
variação no tamanho das hemácias). Os quais auxiliarão o clínico no diagnóstico
diferencial das anemias, como anemia ferropriva (mais comum), anemia carencial de
vitamina B12, policitemias, talassemias,

Já o leucograma vai avaliar os leucócitos, principais células de defesa do nosso


organismo. Demonstra o número total de leucócitos totais e seus tipos celulares
(neutrófilos, eosinófilos, bastões, linfócitos, monócitos), assim como divide o
resultado de forma absoluta (contagem em mm3) e relativa (contagem percentual). É
de suma importância no diagnóstico e monitoramento das doenças infecciosas,
alergias, parasitoses, leucemias,….

As plaquetas, por sua vez, atuam de forma acessória na coagulação sanguínea. As


chamadas trombocitopenias (diminuição de plaquetas) estão associadas com
sangramentos, púrpura trombocitopênica, coagulação intravascular disseminada,
vasculites,

A contagem dos componentes supracitados é realizada em equipamentos de última


geração, os quais tem a capacidade de identificar alterações celulares importantes
nas três linhagens de células, enviando “flags”(avisos) ao analista que irá proceder
uma avaliação pormenorizada da amostra e emitir um laudo com a descrição de
todas as alterações microscópicas encontradas, auxiliando o clínico no diagnóstico
final do paciente.

25
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

7- ANÁLISES CLÍNICAS

As análises clínicas são um conjunto de exames com a finalidade de verificar o


estado de saúde de um paciente ou investigar doenças, como os chamados exames
de rotina, check-ups, dentre outros.

A análise é feita através do estudo de material biológico colhido do paciente, como


por exemplo, sangue, urina, saliva, fezes, esperma, fragmentos de tecido, líquido
sinovial, pleural, líquido cefalorraquidiano, pus, etc. A coleta pode ser feita no próprio
laboratório onde são feitas as análises ou em locais como um hospital, clínica,
postos de coleta ou até mesmo no domicílio e local de trabalho do paciente.

Os laboratórios de análises clínicas estudam cada uma dessas amostras em setores


específicos, conforme o composto bioquímico ou suspeita clínica que se pretende
investigar. Alguns exemplos de setores são:

 hematologia;
 bioquímica;
 imunologia;
 uroanálise;
 microbiologia e
 parasitologia.

Tipos de exames de laboratoriais

Conforme vimos anteriormente, os laboratórios de análises clínicas são divididos em


setores que estudam especificamente cada uma das amostras biológicas colhidas. A
seguir, apresentamos os tipos de exames executados em cada uma destas áreas e
seu propósito. Acompanhe.

No setor de bioquímica, os exames realizados dizem respeito a investigação do


funcionamento dos processos metabólicos do organismo. São exemplos: glicose,
colesterol, triglicerídeos, exames de função hepática, função renal, função cardíaca,
eletrólitos, etc.
26
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

O setor de hematologia, por sua vez, investiga condições relacionadas ao sangue e


suas frações, sendo o Hemograma o exame mais comum entre as solicitações
médicas dentro deste grupo. Este tipo de exame é frequentemente solicitado devido
à relevância do sangue em sinalizar alterações em diferentes partes do organismo,
já que este sistema de vasos conecta todo o corpo.

No setor de hormônios, moléculas produzidas por glândulas e que exercem efeito


específico sobre uma ou mais partes do corpo, os exames dizem respeito a função
tireoideana, reprodutora, entre outros. Dosagens de PSA e TSH são exemplos de
exames que compõem este grupo.

Doenças relacionadas a alterações na capacidade de defesa do organismo


(imunidade) e resposta contra infecções como a rubéola, a toxoplasmose e a
dengue, são investigadas no setor de imunologia.

O setor de microbiologia realiza exames como cultura de urina, orofaringe e outras


secreções. Esses exames balizam o diagnóstico de doenças infecciosas
relacionadas, por exemplo, à atividade bacteriana nociva no organismo.

Assim como o hemograma, a análise de urina pode ser muito importante para a
detecção de determinadas substâncias capazes de indicar a presença de alguma
patologia que não apresente sintomas. É no setor de uroanálises que essa
investigação irá começar.

Por fim, é no setor de parasitologia onde se pesquisa a presença de determinados


microrganismos como vermes e alguns protozoários. Lá são realizados exames
como: parasitológico das fezes, pesquisa de sangue oculto, entre outros.

Uma informação que muita gente desconhece é que as análises microscópicas de


células e tecidos provenientes de biópsias também são uma categoria de exame de
análises clínicas.

Quais as etapas dos exames?

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

No laboratório ou outra unidade de coleta, o paciente terá a as amostras biológicas


recolhidas por um profissional habilitado que vai manipular e armazená-las
adequadamente.

Em seguidas as amostras serão encaminhadas para os setores relacionados no


laboratório, conforme sinalizamos anteriormente, onde serão analisadas para, ao
final, ser emitido um laudo diagnóstico.

Hoje, com os avanços tecnológicos, essas análises são feitas com o auxílio de
aparelhos automatizados que garantem resultados mais precisos. O uso deles evita
erros comuns, como uso de unidades erradas, erros de digitação, etc.

Por isso, na hora de escolher um laboratório para realizar seus exames, fique atento
se este utiliza aparelhos tecnológicos modernos, além, claro, de contar com equipe
de profissionais qualificados.

Profissionais que trabalham com análises clínicas

A análise dos fluidos pode ser executada por diversos profissionais da saúde, tais
como biólogos, bioquímicos, biomédicos, farmacêuticos, médicos e veterinários.

Para a coleta do material, enfermeiros ou técnicos em análises clínicas costumam


ser mobilizados, na rotina dos laboratórios e hospitais.

Ao profissional bacharel cabem as responsabilidades e competências legais sobre


efetuar liberação de laudos, resultados e perícias, assim como responder sobre o
laboratório e possíveis erros cometidos.

A importância das análises clínicas

Agora que você já sabe um pouco mais a respeito das análises clínicas, rotinas em
um laboratório e os profissionais envolvidos, que tal considerarmos a importância
dos exames laboratoriais?

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Um médico conta com alguns recursos para acompanhar a saúde de um paciente,


tais como o testemunho deste, sua própria observação dos sintomas, entre outras
práticas similares.

Com esses recursos, os médicos geralmente chegam a uma hipótese sobre uma
possível patologia que possa estar em desenvolvimento.

Neste contexto, os exames de análises clínicas são um dos recursos mais eficientes
que um profissional de saúde tem a sua disposição. Com eles, é possível avaliar
parâmetros e analisar de forma minuciosa a condição de saúde de determinado
paciente.

A recomendação médica é que um check-up com exames laboratoriais seja feito


anualmente.

Ao submeter-se a essa rotina, o paciente ganha a vantagem de diagnosticar


doenças ou qualquer outra alteração no organismo a tempo de um tratamento mais
eficiente.

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

8- ENZIMAS

As enzimas são proteínas que catalisam reações químicas as quais ocorrem em


seres vivos.

Elas aceleram a velocidade das reações, o que contribui para o metabolismo. Sem
as enzimas, muitas reações seriam extremamente lentas.
Durante a reação, as enzimas não mudam sua composição e também não são
consumidas. Assim, elas podem participar várias vezes do mesmo tipo de reação,
em um intervalo de tempo pequeno.

Quase todas as reações do metabolismo celular são catalisadas por enzimas.

Um exemplo da atividade das enzimas ocorre no processo de digestão. Graças à


ação das enzimas digestivas, as moléculas dos alimentos são quebradas em
substâncias mais simples.
A eficiência de uma molécula de enzima é muito grande. Estima-se que, em geral,
uma molécula de enzima seja capaz de converter 1000 moléculas de substrato em
seus respectivos produtos, isso em apenas 1 minuto.

Como funcionam?
Cada enzima é específica para um tipo de reação. Ou seja, elas atuam somente em
um determinado composto e efetuam sempre o mesmo tipo de reação.

O composto sobre o qual a enzima age é genericamente denominado substrato. A


grande especificidade enzima-substrato está relacionada à forma tridimensional de
ambos.
A enzima se liga a uma molécula de substrato em uma região específica
denominada sítio de ligação. Para isso, tanto a enzima quanto o substrato sofrem
mudança de conformação para o encaixe.
Eles se encaixam perfeitamente como chaves em fechaduras. A esse
comportamento damos o nome de Teoria da Chave-Fechadura.

30
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Funcionamento do modelo Chave-Fechadura


Entre os fatores que alteram a atividade das enzimas estão:

 Temperatura: A temperatura condiciona a velocidade da reação. Temperaturas


extremamente altas podem desnaturar as enzimas. Cada enzima atua sob uma
temperatura ideal.
 pH: Cada enzima possui uma faixa de pH considerada ideal. Dentro desses
valores a atividade é máxima.
 Tempo: Quando mais tempo a enzima tiver contato com o substrato, mais
produtos serão produzidos.
 Concentração da enzima e do substrato: Quanto maior a concentração da
enzima e do substrato, maior será a velocidade da reação.
Classificação
As enzimas são classificadas nos seguintes grupos, conforme o tipo de reação
química que catalisam:

1. Oxido-redutases: reações de oxidação-redução ou transferência de elétrons.


Exemplo: Desidrogenases e Oxidases.
2. Transferases: transferência de grupos funcionais como amina, fosfato, acil e
carboxi. Exemplo: Quinases e Transaminases.
3. Hidrolases: reações de hidrólise de ligação covalente. Exemplo: Peptidases.
4. Liases: reações de quebra de ligações covalentes e a remoção de moléculas
de água, amônia e gás carbônico. Exemplo: Dehidratases e Descarboxilases.
5. Isomerases: reações de interconversão entre isômeros óticos ou geométricos.
Exemplo: Epimerases.

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

6. Ligases: reações de formação de novas moléculas a partir da ligação entre


duas pré-existentes. Exemplo: Sintetases.

Exemplos e Tipos
As enzimas são formadas por uma parte protéica, chamada de apoenzima e outra
parte não protéica, chamada de co-fator.
Quando o co-fator é uma molécula orgânica, recebe a denominação de coenzima.
Muitas coenzimas são relacionadas com as vitaminas.
O conjunto da enzima + co-fator, é chamado de holoenzima.
Veja algumas das principais enzimas e suas ações:

 Catalase: decompõe o peróxido de hidrogênio;


 DNA polimerase ou Transcriptase Reversa: catalisa a duplicação do DNA;
 Lactase: facilita a hidrólise da lactose;
 Lipase: facilita a digestão de lipídios;
 Protease: atuam sobre as proteínas;
 Urease: facilita a degradação da ureia;
 Ptialina ou Amilase: atua na degradação do amido na boca, transformando-o
em maltose (molécula de menor tamanho);
 Pepsina ou Protease: atua sobre proteínas, degradando-as em moléculas
menores;
 Tripsina: participa da degradação de proteínas que não foram digeridas no
estômago.

Enzimas de Restrição
As enzimas de restrição ou endonucleases de restrição são produzidas por
bactérias.

Elas são capazes de cortar o DNA em pontos específicos.

Podemos considerá-las tesouras moleculares. As enzimas de restrição são


fundamentais para a manipulação do DNA.

Saiba também sobre DNA recombinante.

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Ribozimas
Ribozimas são moléculas de RNA que atuam como enzimas. Muitas reações
químicas que ocorrem dentro das células são catalisadas pelo RNA.

Assim como as proteínas que atuam como enzimas, essas moléculas de RNA
aceleram a velocidade de certas reações químicas.

Elas também são altamente específicas quanto ao substrato e permanecem


quimicamente intactas após a reação.

A atuação dessas ribozimas está ligada a várias etapas da síntese de proteínas nas
células.

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

9- FUNÇÃO METABÓLICA

O que é Metabolismo:

Metabolismo é o conjunto de transformações e reações químicas através das


quais se realizam os processos de síntese degradação (ou decomposição) das
células.
Originado a partir do termo grego metábole, que significa “mudança” ou “troca”, o
metabolismo acontece com a ajuda de enzimas, por meio de uma cadeia de
produtos intermediários.
Este fenômeno está relacionado com três funções que são vitais e que ocorrem no
corpo humano: nutrição (inclusão de elementos essenciais no
organismo), respiração (oxidação desses elementos essenciais para produção de
energia química) e síntese de moléculas estruturais (utilizando a energia produzida).
O processo metabólico se divide em dois grupos denominados anabolismo(reações
de síntese) e catabolismo (reações de degradação).
Veja a Diferença entre Anabolismo e Catabolismo.
Anabolismo são reações químicas construtivas, ou seja, produzem nova matéria
orgânica nos seres vivos. Por exemplo, a síntese de proteínas no tecido muscular a
partir de aminoácidos.
Catabolismo são reações químicas destrutivas, ou seja, há uma quebra de
substâncias. Por exemplo, a quebra da molécula de glicose que é transformada em
energia e água.
Para manter as funções vitais (respiração, batimento cardíaco, temperatura corporal,
e etc.), o organismo gasta uma grande quantidade de energia. É o que se chama de
metabolismo basal.

Metabolismo acelerado
Há influência de diversos fatores no metabolismo, por exemplo, genética, idade,
sexo, altura, peso, prática de atividade física, entre outros.

O gasto de mais ou menos energia depende desses fatores. Por isso, algumas
pessoas são magras e, mesmo comendo de tudo, não engordam. Enquanto outras,
enfrentam grandes dificuldades para conseguirem emagrecer.

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Emagrecer de forma adequada, implica equilibrar a ingestão de calorias de acordo


com o nível de atividade física. Dietas rápidas envolvem a perda de gorduras, mas
também de massa muscular, o que não é conveniente para resultados a longo
prazo.

No caso do chamado “metabolismo acelerado”, o organismo processa de modo mais


rápido o desgaste das calorias. De acordo com alguns endocrinologistas, quanto
maior a aceleração do metabolismo, maior será o gasto calórico.

Neste caso, as pessoas com “metabolismo acelerado” tendem a ter mais


dificuldades em ganhar peso, enquanto que os indivíduos com metabolismo lento
apresentam dificuldades em perder peso.

Metabolismo basal
Consiste na quantidade de calorias consumidas em vinte quatro horas por um
indivíduo que se encontra em repouso absoluto e em jejum (de pelo menos 12
horas), sem haver dano nos órgãos internos do seu corpo.

É medido através do oxigênio consumido ou do dióxido de carbono libertado em um


determinado intervalo de tempo. O metabolismo basal varia de acordo com o
tamanho da pessoa (é maior quanto menor for a pessoa), da idade (é menor quanto
maior for a idade), e do sexo (sendo um pouco menor no caso das mulheres).

35
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

10- ASPECTOS BIOQUÍMICOS DAS ESTRUTURAS CELULARES

As substâncias orgânicas são moléculas mais complexas, sendo muitas vezes,


macromoléculas como, por exemplo, os carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas e
ácidos nucleicos.

Os carboidratos são a base da nossa alimentação e responsáveis pelo fornecimento


de energia. Os carboidratos são divididos em:

Monossacarídeos: é o principal combustível para a célula, possuem função plástica


e servem para "construir" as estruturas do nosso corpo. Por exemplo, glicose,
frutose, galactose, ribose e desoxirribose.

Dissacarídeos: são formados pela união de dois monossacarídeos a partir de uma


síntese por desidratação, não produzem energia imediata, são hidrolisados para
formar monossacarídeos e aí sim produzem energia. Por exemplo, maltose (glicose
+ glicose), sacarose (glicose + frutose) e lactose (glicose + galactose).

Polissacarídeos: constituídos por várias moléculas de monossacarídeos. São


insolúveis em água e divididos em dois grupos, os estruturais (celulose e quitina) e
energéticos (amido nas plantas e glicogênio em fungos e animais).

LIPÍDIOS

Os lipídios possuem diversas funções biológicas. São insolúveis em água e solúveis


apenas em solventes orgânicos, como o álcool e o éter. São divididos em:
Carotenoides: atuam como pigmentos, absorvem luz e são precursores da vitamina
A (importante para a visão, evitando a cegueira noturna).

Cerídeos: tem função protetora, como impermeabilizar as superfícies das folhas e


frutos. Por exemplo, ceras.

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Fosfolipídios: compostos por ácidos graxos, fosfatos e glicerol. A membrana


plasmática é formada por uma bicamada de fosfolipídios que atua uma barreira entre
a célula e o ambiente externo.

Triglicerídeos: formados pela união de três ácidos graxos com glicerol. Constituem
a forma mais eficiente em armazenar energia. São divididos em ácido graxos
saturados e ácidos graxos insaturados. Por exemplo: óleos e gorduras
Esteroides: são consideradas moléculas sinalizadoras, precursoras de hormônios
como o estrogênio, progesterona e testosterona. O colesterol é um lipídio do grupo
dos esteroides que é naturalmente produzido pelos animais no fígado (colesterol
endógeno) e pode ser absorvido a partir dos alimentos (colesterol exógeno). O
excesso de colesterol pode estimular o aparecimento de doenças vasculares como a
aterosclerose.

PROTEÍNAS

As proteínas são macromoléculas complexas formadas pela associação de


aminoácidos. Possuem diversas funções: (i) estrutural: participam das estruturas
dos tecidos. Por exemplo, colágeno e queratina; (ii) enzimática: aceleram as
reações químicas e reduzem a energia de ativação. A eficiência das enzimas
depende de três fatores: temperatura, pH e concentração do substrato;
(iii) hormonal: vários hormônios produzidos em nosso organismo são de origem
proteica. Por exemplo, insulina e glucagon; (iv) proteção: na presença de antígenos,
o organismo produz proteínas de defesa denominadas, anticorpos; (v) transporte: o
oxigênio é transportado por proteínas denominadas, hemoglobinas.

As vitaminas são substâncias essenciais, obtidas através da alimentação, que


estimulam e regulam atividades metabólicas dos organismos. São divididas em:
hidrossolúveis (C, B1, B2, B6, B12, entre outras) e lipossolúveis (A, D, E e K).

Os ácidos nucleicos são as moléculas com a função de armazenamento e


expressão da informação genética. Existem basicamente dois tipos de ácidos
nucleicos: ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA). Estudaremos
mais afundo essas biomoléculas mais adiante.
37
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

11- ENZIMOLOGIA

Enzimas são grupos de substâncias orgânicas de natureza


normalmente proteica (existem também enzimas constituídas
de RNA,[1] as ribozimas), com atividade intra ou extracelular que têm
funções catalisadoras, catalisando reações químicas que, sem a sua presença,
dificilmente aconteceriam. Isso é conseguido através do abaixamento da energia de
ativação necessária para que se dê uma reação química, resultando no aumento da
velocidade da reação e possibilitando o metabolismo dos seres vivos. A capacidade
catalítica das enzimas torna-as adequadas para aplicações industriais, como
na indústria farmacêutica ou na alimentar.

Em sistemas vivos, a maioria das reações bioquímicas dá-se em vias metabólicas,


que são sequências de reações em que o produto de uma reação é utilizado como
reagente na reação seguinte. Diferentes enzimas catalisam diferentes passos de
vias metabólicas, agindo de forma concertada de modo a não interromper o fluxo
nessas vias. Cada enzima pode sofrer regulação da sua actividade, aumentando-a,
diminuindo-a ou mesmo interrompendo-a, de modo a modular o fluxo da via
metabólica em que se insere. Sem as enzimas as reações químicas do organismo
seriam muito lentas, elas proporcionam uma maior eficiência reduzindo a energia de
ativação sem deslocar o equilíbrio exercendo assim seu poder catalítico.

Existem quatro tipos estruturais de enzimas: enzimas simples, enzimas alostéricas,


enzimas complexas(holoenzima) e as isoenzimas.

O ramo da Bioquímica que trata do estudo das reações enzimáticas é a enzimologia.


É comum ouvirmos falar sobre as enzimas, do quanto elas são importantes no
nosso organismo e da sua função catalisadora no nosso sistema biológico. Porém,
de fato, o que vem a ser uma enzima? Qual seu real papel e o que ela representa no
nosso organismo?

Normalmente nosso organismo se depara com um sistema orgânico lento e pouco


espontâneo, que depende exclusivamente do trabalho das chamadas enzimas para
que possa ter um funcionamento metabólico melhor, de maneira mais regular e
específica. Dizemos que essas enzimas funcionam como catalisadores celulares,
38
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

pois elas facilitam com que aconteçam certas reações internas de nosso corpo,
dando uma melhor agilidade quando de certa forma as coisas costumam ocorrer
mais devagar. Se não fossem as enzimas, diversas reações do nosso metabolismo
aconteceriam de maneira exageradamente lenta, o que iria prejudicar e muito o
nosso sistema. Elas agilizam as reações químicas das células aumentando a
velocidade com que elas trabalham, assim, a sua atuação se torna mais eficaz,
fazendo com que haja um melhor desempenho.

Atividades enzimáticas

As enzimas convertem uma substância, chamada de substrato, noutra


denominada produto, e são extremamente específicas para a reação que catalisam.
Isso significa que, em geral, uma enzima catalisa um e só um tipo de reacção
química. Consequentemente, o tipo de enzimas encontradas numa célula determina
o tipo de metabolismo que a célula efetua.

A velocidade da reação catalisada por uma enzima é aumentada devido ao


abaixamento da energia de ativação necessária para converter o substrato no
produto. O aceleramento da reação pode ser da ordem dos milhões de vezes: por
exemplo, a enzima orotidina-5'-fosfato descarboxilase diminui o tempo da reação por
ela catalisada de 78 milhões de anos para 25 milissegundos.

Como são catalisadores, as enzimas não são consumidas na reação e não alteram
o equilíbrio químico dela.

A atividade enzimática pode depender da presença de determinadas moléculas,


genericamente chamadas cofatores. A natureza química dos cofatores é muito
variável, podendo ser, por exemplo, um ou mais iõesmetálicos (como o ferro), ou
uma molécula orgânica (como a vitamina B12). Estes cofatores podem participar ou
não diretamente na reação enzimática.

Determinadas substâncias, podem inibir a atividade de algumas enzimas,


diminuindo-a ou eliminando-a totalmente; são os chamados inibidores enzimáticos.

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Pelo fato de serem proteínas com estrutura terciária ou quaternária, as enzimas são
dotadas de dobramentos tridimensionais em suas cadeias polipeptídicas, o que lhes
confere uma forma característica e exclusiva. Assim, diferentes enzimas têm
diferentes formas e, portanto, diferentes papéis biológicos. Para que um enzima
atue, é necessário que os substratos "se encaixem" na enzima. Esse "encaixe",
porém, depende da forma, isto é, do "contorno" da enzima. Por isso, substratos que
se "encaixam" em uma determinada enzima não se "encaixam" em outras diferentes,
e a reação não ocorre; daí a especificidade das enzimas quanto aos substratos em
que atuam. Uma vez ocorrido o "encaixe", forma-se o complexo enzima-substrato,
dado isso, temos a famosa "Teoria Da Chave-Fechadura" O local da enzima onde o
substrato se "encaixa" é denominado sítio ativo (ou centro ativo). No caso de
substâncias que reagem entre si, sob a ação catalisadora das enzimas, a reação é
facilitada, tornando-se mais rápida, pois a proximidade entre as moléculas
"encaixadas" acelera o processo reativo; após a reação, a enzima desliga-se do
substrato e permanece intacta.

Podemos encontrar enzimas em quase todas as estruturas celulares e fluidos


corporais. Algumas têm uma localização específica, de tal modo que podem servir
para indicar que estamos em presença de um tal tecido, secreção ou fragmento
celular se verificar a atividade de uma dada enzima.

As enzimas são proteínas, e podem ter um tamanho desde 62 resíduos de


aminoácidos, como é o caso do monómero da enzima 4-oxalocrotonato
tautomerase, até um tamanho de 2.500 resíduos, como é o caso da sintase de
ácidos gordos. A atividade das enzimas são determinadas pela sua estrutura
quaternária. A maioria das enzimas são maiores do que o substrato sobre o qual
atuam, e só uma pequena porção da enzima (cerca de 3-4 aminoácidos) está
envolvida na catálise.

A região que contém estes resíduos catalíticos, que se liga-se ao substrato e que
desempenha a reação, é denominada de sítio activo. As enzimas também podem ter
sítios onde se ligam cofactores, que são necessários às reações catalíticas.
Algumas enzimas também podem ter sítios de ligações para pequenas moléculas,
que são produtos ou substratos, diretos ou indirectos, da reação catalisada. Estas

40
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

ligações servem para aumentar ou diminuir a atividade da enzima, providenciando


um meio de regulação por feedback.

Tal como todas as proteínas, as enzimas são formadas por longas cadeias lineares
de aminoácidos que sofrem um enovelamento que tem como resultado um produto
com estrutura tridimensional. Cada sequência única de aminoácidos produz também
uma estrutura tridimensional única que tem propriedade específicas. Cadeias
individuais de proteínas podem por vezes agrupar-se para formar um complexo
proteico. A maioria das enzimas pode sofrer desnaturação, isto é, a sua estrutura
pode sofrer desagregação e inativação pelo aumento de temperatura, o que provoca
alterações na conformação tridimensional da proteína. Dependendo da enzima, a
desnaturação pode ter efeitos reversíveis ou irreversíveis.

Como toda proteína, as enzimas também são sensíveis a variações de pH. O pH


pode alterar fatores como a ligação do substrato à enzima, a atividade catalítica da
[13][14]
enzima, a ionização do substrato e a variação da estrutura da proteína.

As cadeias laterais dos aminoácidos no sítio ativo das enzimas podem agir como
ácidos fracos ou bases com funções críticas para a manutenção de um estado
ionizado necessário para a atividade enzimática. A faixa de pH na qual a enzima
sofre alterações em sua atividade pode indicar inclusive o tipo de resíduo de
aminoácido envolvido na catálise.

Portanto, o pH da solução influencia a atividade enzimática, e, consequentemente, a


velocidade das reações: se o pH está em sua faixa ótima para a ação de
determinada enzima, a velocidade da catálise será mais rápida. É importante
ressaltar que a velocidade e a eficiência da catálise enzimática são influenciadas por
vários outros fatores, como temperatura, regulação da enzima, presença ou
ausência de cofatores, etc.

41
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Relação entre os valores de pH e a velocidade da reação e os valores dos pH


ótimos para algumas enzimas.

Especificidade

As enzimas possuem normalmente uma alta especificidade em relação às reações


que catalisam e aos substratos que estão envolvidos nessas reações. A forma
complementar, carga e características hidrofílicas/hidrofóbicas, são responsáveis por
esta especificidade. As enzimas exibem também elevados níveis
de estereoespecificidade, regioselectividade e quimioselectividade.

Algumas das enzimas que apresentam maior especificidade e precisão, estão


envolvidas na cópia e expressão do genoma. Estas enzimas possuem mecanismos
de proof-reading (revisão). Um destes casos é a DNA polimerase, que catalisa uma
reacção num primeiro passo, para de seguida confirmar, num segundo passo, se o
produto é o correcto. Este processo em duas etapas resulta em médias de taxa de
erro muito diminutas, na ordem de uma para cem milhões de reacções, no caso de
polimerases de mamíferos. Mecanismos de revisão similares também podem ser
encontrados na RNA polimerase na aminoacil-tRNA sintetases e em ribossomas.

Algumas enzimas que produzem metabolitos secundários são descritos


como promíscuos, visto que podem actuar num largo espectro de diferentes
substratos. Tem sido sugerido que este tipo de especificidade alargada é importante
nos processos de evolução de novas vias de biossíntese.

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INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Modelo chave-fechadura ( Não é mais utilizado )

As enzimas exibem uma elevada especificidade, e foi sugerido por Emil Fischer, em
1894, que esse facto era devido a que tanto as enzimas como os substratos
apresentam formas geométricas complementares, fazendo com que encaixem de
maneira precisa umas nos outros. Este processo é muitas vezes referido
como modelo chave-fechadura. No entanto, apesar deste modelo explicar a
especificidade das enzimas, falha em explicar a estabilização dos estados de
transição que as enzimas exibem.

Modelo do encaixe induzido

Diagramas que mostram a actividade enzimática através do modelo do encaixe


induzido.

Em 1958, Daniel Koshland sugeriu uma modificação ao modelo de chave-fechadura:


uma vez que as enzimas exibem estruturas flexíveis, o sítios activo altera a sua
forma de maneira continuada através de interações com o substrato, enquanto esse
mesmo substrato vai interagindo com a enzima.[] Como resultado, o substrato não se
liga simplesmente a um sítio ativo que é rígido. As cadeias laterais dos aminoácidos
que formam o sítios ativo sofrem um reorientação de maneira a que as suas
posições potenciem a ação catalítica da enzima. Em alguns casos, como nas
glicosidases, a molécula de substrato também sofre alterações de conformação à
medida que vai se aproximando do sítio ativo. O sítio ativo continua a sofrer
modificações até que o substrato esteja completamente ligado e é neste momento
em que a conformação final e a carga são determinadas.

Mecanismos

As enzimas atuam de diversas formas, todas elas baixando o valor de ΔG ‡:


43
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

 Baixando a energia de ativação, através da criação de um ambiente no qual o


estado de transição é estabilizado (por exemplo, distorcendo a forma da
molécula do substrato - a enzima distorce o substrato, gastando energia neste
passo, de modo a baixar a energia do estado de transição da reacção catalisada,
resultando numa diminuição global da energia requerida para completar a
reação).
 Providenciando uma via alternativa (por exemplo, reagindo com o substrato
formando um complexo enzima-substrato, de existência impossível sem a
presença da enzima).
 Reduzindo a variação da entropia da reacção ao orientar os substratos de forma
correcta para facilitar a reacção. Na ausência de enzima, as moléculas colidem
em todas as direcções possíveis de forma aleatória, um processo menos
eficiente que na presença da enzima. Ao considerar-se ΔH‡ isoladamente, este
aspecto é negligenciado.

O mecanismo de regulação da atividade enzimática pode ser lento, quando a


regulação apresenta aumento ou diminuição de síntese de enzimas, ou rápido que é
por meio molecular, ou seja, por ligações de moléculas na enzima ou no substrato,
podendo ser também por ligações covalentes “fosforilação”.

Dinâmica e funções

Investigações recentes providenciaram novos conhecimentos sobre a ligação entre


a dinâmica interna de uma enzima e o seu mecanismo de catálise. A dinâmica
interna de uma enzima é descrita como o movimento de partes internas (como
aminoácidos individuais, grupos de aminoácidos, um laço da cadeia, uma hélice alfa,
folhas beta vizinhas ou até domínios proteicos inteiros) destas biomoléculas, que
podem ocorrer a diversas escalas de tempo, desde femtossegundos a segundos.
Redes de resíduos de aminoácidos de uma estrutura podem contribuir para a
catálise através de movimentos dinâmicos. Os movimentos em proteínas são
importantes para diversas enzimas mas o tipo de reacção que elas catalisam
determina que tipos de movimento são mais importantes: pequenas e
rápidas vibrações ou lentas e significativas alterações conformacionais. Estes
estudos têm consequências na compreensão dos efeitos alostéricos, na produção
industrial de enzimas e no desinadas moléculas. A modulação da actividade da
44
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

enzima pode ser directa, quando a molécula se liga directamente a um local de


ligação na enzima, ou indirecta, quando a molécula se liga a outras proteínas ou
subunidades que interagem com a enzima alostérica, influenciando então a sua
actividade.

As enzimas alostéricas são também, em geral, maiores e mais complexas que as


enzimas simples. A maioria tem duas ou mais cadeias polipeptídicas ou
subunidades.

A maioria das enzimas, em cada sistema, segue os padrões cinéticos já descritos.


Em cada sistema enzimático, entretanto, há pelo menos uma enzima que determina
a velocidade de toda a sequência, porque ela catalisa a reação mais lenta ou a
reação limitante da velocidade. Estas enzimas reguladoras têm sua atividade
catalítica aumentada ou diminuída em resposta a determinados sinais. Pela ação
destas enzimas reguladoras a velocidade de cada sequência metabólica é
constantemente ajustadas as mudanças que ocorrem nas necessidades de energia
e de biomoléculas requeridas no crescimento da célula e no seu auto-reparo.

A enzima alostérica possui ,além do sítio ativo específico, um sítio de ligação de


moléculas, denominado sítio alostérico. Nesse sítio pode se ligar os produtos da
reação para realizar um “feedback” negativo da reação e regulá-la melhor, podendo
se ligar também efetores (inibidores) que aumentam ou diminuem a afinidade da
enzima e substrato. O substrato pode se ligar ao sítio alostérico, denominado
fenômeno de cooperação, o que dá característica ao gráfico das enzimas
alostéricas. Existem também enzimas que atuam com o mesmo substrato realizando
a mesma reação, porém com algumas diferenças. Essas possuem sítio ativo
específico para o mesmo substrato, entretanto apresentam regulações alostéricas
distintas, são denominadas isoenzimas.

Cofactores

Algumas enzimas não necessitam de componentes adicionais para mostrarem uma


actividade completa. No entanto, outras requerem ligação a moléculas não proteícas
para que possam exercer a sua actividade. Os cofactores podem
ser inorgânicos (iões metálicos e complexos ferro-enxofre) ou compostos

45
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

orgânicos (flavina ou heme). Os cofactores orgânicos (coenzimas) são


normalmente grupos prostéticos, que estão intimamente ligados às enzimas a que
eles prestam assistência. Os cofactores que possuem ligação forte às enzimas são
distintos de outras coenzimas, tal como a NADH, visto que não são libertados
do sítio activodurante a reacção catalisada.

Um exemplo de uma enzima que contém um cofactor é a anidrase carbónica, que é


mostrada em figura acima com um ião de zinco como cofactor. Estas moléculas que
possuem uma ligação estreita com as enzimas são normalmente encontradas no
sítio activo e estão envolvidas na reacção catalítica. Por exemplo, a flavina e grupos
heme estão muitas vezes envolvidos em reações de oxidação-redução.

Enzimas que requerem um cofactor mas que não se ligam a estes, são
denominadas apoenzimas. Uma apoenzima juntamente com o(s) seu(s) cofactor(es)
são denominadas holoenzimas. As enzimas complexas, ou holoenzimas, possuem
além da parte protéica (apoenzima), um cofator, podendo ser um íon ou uma
coenzima, que é uma molécula orgânica, vitamina ativada transformando-se em
coenzima. A maioria dos cofactores não se ligam por covalência a uma enzima, mas
estabelecem ligações fortes. No entanto, os grupos prostéticos orgânicos podem
ligar-se de maneira covalente. Um exemplo disso é a ligação da tiamina pirofosfato à
enzima piruvato desidrogenase.

O bom funcionamento do organismo se deve ao fato de que alguns cofatores terem


a habilidade de se separarem de suas respectivas apoenzimas e operar funções
específicas. O exemplo mais conhecido para este fato é o NAD e o FAD, ambas
coenzimas de holoenzimas desidrogenases que, ao capturarem hidrogênio,
separam-se da apoenzima para terem importante função no ciclo de Krebs.

Coenzimas

Modelo tridimensional da coenzima NADH.

46
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

As coenzimas são pequenas moléculas que transportam grupos químicos de uma


enzima para outra. Alguns destes compostos químicos, como a riboflavina,
a tiamina e o ácido fólico, são vitaminas, compostos que não são sintetizados no
organismo e que têm de ser assimilados através da dieta. Os grupos químicos
transportados incluem o ião hidreto (H-) transportado pelo NAD ou NADP+, o grupo
acetilo transportado pela coenzima A, os grupos formilo, metenilo e metilo
transportados pelo ácido fólico e o grupo metilo transportado pela S-
adenosilmetionina.

Dado que as coenzimas são modificadas quimicamente como consequência da


acção enzimática, é útil considerá-las como sendo uma classe especial de
substratos, ou substratos secundários, que são comuns em muitos tipos de enzimas
diferentes. Por exemplo, sabe-se que existem cerca de 700 enzimas que utilizam a
coenzima NADH.

As coenzimas sofrem regeneração e as suas concetrações são mantidas a um nível


estável dentro da célula. Por exemplo, o NADPH é regenerado através da via das
pentoses-fosfato e a S-adenosilmetionina é regenerada pela metionina
adenosiltransferase.

Termodinâmica

Diagrama de uma reacção catalítica, mostrando o nível de energia em cada etapa


da reacção. Normalmente, o substrato necessita de uma quantidade elevada de
energia para conseguir chegar ao estado de transição, decaindo depois até a um
produto final. A enzima estabiliza o estado de transição, reduzindo o valor de energia
47
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

necessário para que se formem os produtos. A linha a vermelho (cheio) representa a


reacção na ausência de catalisador; a azul (tracejado), na presença de enzima. S:
nível de energia do(s) substrato(s); P: nível de energia do(s) produto(s); G: energia
de Gibbs; R: coordenada de reacção (sentidos de progressão de reacção); ΔG'º:
energia livre padrão bioquímica; ΔG‡: energia de activação (S-P: do(s) substrato(s);
P-S: do(s) produto(s)).

Tal com acontece com todos os compostos catalisadores, as enzimas não alteram a
posição do equilíbrio químico da reacção. Normalmente, na presença de uma
enzima, a reacção desenvolve-se na mesma direção que se seria tomada se ela não
estivesse presente, mas de maneira mais rápida. no entanto, Na ausência da
enzima, as reações poderão dar origem a diferentes produtos, porque nessas
condições esses produtos são formados de maneira mais rápida.

Para além disso, as enzimas podem executar duas ou mais reacções, de tal maneira
que a actuação numa reacção termodinamicamente favorável possa facilitar a
actuação numa reacção menos favorável. Por exemplo, a energia disponibilizada
pela hidrólise do ATP é normalmente utilizada para executar outras reacções.

As enzimas catalisam as reacções em ambos os sentidos. Elas não alteram o


equilíbrio em si, mas a velocidade em que este é alcançado. Por exemplo,
a anidrase carbónica catalisa a sua reacção nas duas direcções, dependendo
da concentração dos seus reagentes.

(em tecidos; alta concentração de CO2)

(nos pulmões; baixa concentração de CO2)

Se o equilíbrio estiver substancialmente deslocado para uma das direcções,


isto é, se for uma reacção muito exergónica, a reacção
é efectivamente irreversível. Nestas condições, a enzima só catalisará a
reacção na direcção termodinamicamente permitida.

Cinética

48
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Mecanismo de reacção de uma enzima com substrato único. A enzima (E)


liga o substrato (S) e liberta o produto (P).

A cinética enzimática é o estudo do mecanismo pelo qual as enzimas ligam


substratos e os transformam em produtos. São utilizados dados sobre a
velocidade de reacção de enzimas através de ensaios enzimáticos.

Em 1902, Victor Henri propôs uma teoria quantitativa de cinética enzimática,


mas os seus dados experimentais tinham pouca utilidade porque não era
então considerada a importância da concentração do ião H+. Depois de Peter
Lauritz Sørensen definir a escala logarítmica de pH e introduzir o conceito
de solução tampãoem 1909,[41] o químico alemão Leonor Michaelis e a sua
pós-doc canadiana Maud Leonora Menten repetiram as experiências de Henri
e confirmaram a sua equação, sendo esta cinética conhecida como cinética
de Henri-Michaelis-Menten (muitas vezes simplificado para cinética de
Michaelis-Menten). Este trabalho foi desenvolvido por G. E. Briggs e J. B. S.
Haldane, que derivaram equações cinéticas usadas ainda hoje em dia.

Henri contribuiu significativamente para este campo ao teorizar as reacções


enzimáticas ocorrendo em dois passos. No primeiro, o substrato liga-se de
forma reversível à enzima, formando o complexo enzima-substrato. Este
complexo é por vezes designado complexo de Michaelis. A enzima catalisa
então o passo químico da reacção e liberta o produto.

49
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Curva de saturação numa reacção enzimática, mostrando a relação entre a


concentração de substrato ([S]) e a velocidade (V).

As enzimas podem catalisar até vários milhões de reacções por segundo. Por
exemplo, a reacção catalisada pela orotidina 5'-fosfato descarboxilase tem
uma semivida de 78 milhões de anos na ausência de enzima, diminuindo
para apenas 25 milissegundos na presença desta.[44] As velocidades de
reacção dependem das condições em que as enzimas se encontram e da
concentração de substrato. Condições de alta temperatura, pH extremos ou
altas concentrações salinas desestabilizam a estrutura da
proteína, desnaturando-a. Por outro lado, em geral, um aumento na
concentração de substrato tende a aumentar a actividade enzimática.

Experimentalmete, encontra-se a velocidade máxima de reacção


aumentando progressivamente a concentração de substrato, até se verificar
uma velocidade constante de formação de produto. Tal é visível na curva de
saturação do gráfico à direita. A saturação acontece porque, à medida que é
aumentada a concentração de substrato, aumenta também a quantidade de
enzima presente sob a forma de complexo enzima-substrato (ES).
À velocidade máxima, Vmax, todos os centros activos estão ocupados
(saturados) com substrato, ou seja, não existe enzima livre para ligar mais
substrato e a concentração de complexo ES é igual à concentração de
enzima.

A actividade de uma enzima é geralmente descrita através de Vmax e também


da constante de Michaelis-Menten, KM, que representa a concentração de
substrato à qual se detecta uma velocidade de reacção igual a metade
50
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

de Vmax. Cada enzima possui um KM característico para um dado substrato;


este parâmetro é muitas vezes usado para demonstrar a força de ligação de
um substrato à enzima. É também usada outra constante cinética, kcat, para
descrever o comportamento de uma enzima, representando o número de
moléculas de substrato que podem ser catalisadas por centro activo por
segundo.

A eficiência catalítica de uma enzima pode ser expressa através da constante


de especificidade, igual à razão kcat/Km. A constante de especificidade
relaciona-se tanto com a afinidade da ligação do substrato à enzima como
com a capacidade catalítica desta, pelo que se torna útil para a comparação
entre diferentes enzimas, ou a mesma enzima com diferentes substratos.
Existe um valor máximo teórico para esta constante, cerca de 108 to
109 M−1 s−1, denominado limite de difusão. Considerando-se que cada colisão
entre enzima e substrato resulta em catálise, a velocidade global de formação
do produto não será limitada pela velocidade de reacção da enzima mas sim
pela velocidade de difusão das moléculas em solução. Enzimas que possuam
uma constante de especificidade perto deste valor são designadas enzimas
cataliticamente (ou cineticamente) perfeitas; alguns exemplos incluem as
enzimas triose fosfato isomerase, anidrase
carbónica, acetilcolinesterase, catalase, fumarase, ß-lactamase e superóxido
dismutase.

A cinética de Michaelis-Menten baseia-se na lei da acção das massas, que é


derivada das assunções sobre difusão livre e sobre colisões aleatórias com
base termodinâmica. No entanto, muitos dos processos bioquímicos ou
celulares não se comportam da forma prevista por estes modelos devido à
alta concentração de substâncias no meio celular, separação de fases entre
enzima, substrato e produto e restrição do movimento molecular a uma ou
duas dimensões. Nestas situações, é aplicável um modelo fractal da cinética
de Michaelis-Menten.

Algumas enzimas apresentam cinética mais veloz que as velocidades de


difusão, no que aparenta ser uma impossibilidade. Diversos mecanismos
foram usados como razão para explicar este fenómeno. Uma explicação é a
51
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

de algumas enzimas acelerarem a sua catálise ao captar e orientar o seu


substrato usando dipolos eléctricos. Outros modelos usam um
mecanismo quântico-mecânico de tunneling, em que um protão ou electrão
podem atravessar barreiras de activação, embora o modelo de tunneling de
protões seja controverso, tendo sido no entanto observado na
triptamina. Estes modelos sugerem que a catálise enzimática seja
possivelmente melhor descrita em termos de "atravessar um barreira" em
detrimento do modelo tradicional de "passar por cima" de uma barreira
energética diminuída.

Inibição

Exemplo de uma reacção normal (a) e de uma inibição reversível


competitiva (b), em que o substrato e o inibidor competem pela enzima.
Numa reacção normal, o Substrato liga-se ao centro Activo da Enzima (1),
provocando a libertação de produtos por parte da enzima (2). Quanto à
inibição, o Inibidor liga-se à enzima (3), não permitindo ao substrato ter
acesso à mesma (4), logo não havendo reacção e não sendo produzidos
quaisquer produtos.

As taxas de reacção enzimáticas podem ser diminuídas por acção de vários


tipos de inibidores enzimáticos.

Inibição competitiva

52
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Na inibição competitiva, o inibidor e o substrato competem reversivelmente


ao mesmo sítio enzimático. Os inibidores são muitas vezes semelhantes ao
substrato da enzima. Por exemplo, o metotrexato é um inibidor competitivo da
enzima dihidrofolato redutase, que catalisa a redução do dihidrofolato em
tetrahidrofolato. A similitude entre as estruturas do ácido fólico e desta droga
são mostradas na figura adjacente. Nota-se que o local de ligação do inibidor
não é necessariamente o mesmo que o local de ligação do inibidor, se a
ligação de este último mudar a conformação da enzima com vista a impedir a
ligação do substrato, e vice versa. Na inibição competitiva, a velocidade
máxima da reação não é alterada, mas níveis mais altos de concentração do
substrato são requeridos para que se atinja uma determinada velocidade,
com o aumento do KM. Outro exemplo de inibidor competitivo são as
estatinas, essas substâncias anti-hiperlipidêmicas inibem competitivamente a
primeira reação na síntese do colesterol, inibindo a hidroximetilglutaril-CoA-
redutase (HMG-CoA-redutase).

Inibição acompetitiva ou incompetitiva

Na inibição acompetitiva, o inibidor não se pode ligar à enzima no estado


livre, mas somente ao complexo E-S. O complexo E-I-S assim formado, é
enzimaticamente inactivo. Este tipo de inibição é raro, mas pode ocorrer em
enzima multiméricas.

Inibição não-competitiva

Os inibidores não-competitivos podem ligar-se à enzima ao mesmo tempo


que o substrato, ou seja, nunca se ligam ao sítio ativo. Quer o complexo E-I,
quer o complexo E-I-S, são enzimaticamente inactivos. O KM aparente não é
alterado, a ligação do inibidor não interfere no sítio ativo da enzima, mas o
Vmax muda neste caso, pois o inibidor não pode ser desligado da enzima por
aumento da concentração de substrato (em contraste com o que acontece na
inibição competitiva).

53
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Inibição mista

Este tipo de inibição assemelha-se à inibição não-competitiva. Neste caso, o


complexo E-I-S possui actividade enzimática residual.

Em muitos organismos, os inibidores podem agir como parte do mecanismo


de retroalimentação. Se uma enzima produz um determinada substância em
demasia, essa substância poderá agir como inibidor da enzima, no início
da via que a produz, causando a redução ou paragem da produção da
substância quando esta se acumula. Esta é um forma de retroalimentação
negativa. Enzimas que estão sujeitas a esta forma de regulação são muitas
vezes multiméricas e possuem sítios de ligação alostéricos para substâncias
reguladoras. Os seus gráficos substrato/velocidade não têm a
forma hiperbólica mas sim forma sigmóide (curva em forma de S)

O ácido fólico (à esquerda) e a droga anticancerígena metotrexato são


semelhantes na sua estrutura. Como resultado, o metotrexato é um inibidor
competitivo de muitas das enzimas que utilizam os folatos.

Os inibidores irreversíveis reagem com a enzima e formam ligações


covalentes com a cadeia polipeptídica. Este tipo de inactivação é irreversível.
Um exemplo de inibidor irreversível é a eflornitina, uma substância utilizada
no tratamento da doença do sono.[53] A penicilina e a aspirina também
actuam deste modo. Nestes casos, o composto liga-se ao centro activo e a
enzima converte-o a uma forma activada que reage irreversivelmente com
um ou mais resíduos de aminoácidos.

Usos de inactivadores

54
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Os inactivadores são muitas vezes usados como medicamentos, mas


também poderão actuar como venenos. No entanto, a diferença entre um
medicamento e um veneno é normalmente uma questão de dosagem, visto
que a maior parte dos medicamentos e drogas são tóxicas a partir de certo
nível. Como Paracelso disse: "Todas as coisas são um veneno e nada existe
sem veneno, apenas a dosagem é razão para que uma coisa não seja um
veneno" Igualmente, os antibióticos e outras drogas antiinfecciosas são
apenas venenos que matam o agente patogénicos e não o hospedeiro deste.

Um exemplo de um inactivador que é usado como medicamento é a aspirina,


que inibe a ciclooxigenase 1 e a ciclooxigenase 2, que são enzimas que
produzem um mensageiro que age em casos de inflamação, neste caso
uma prostaglandina, suprimindo assim a dor e a inflamação. O cianureto é
um inactivador enzimático irreversível, que se combina
com cobre e zinco no sítio activo da enzima citocromo c oxidase, bloqueando
a respiração celular.

Funções biológicas

A acção da luciferase induz bioluminiscência nos pirilampos

As enzimas exercem uma grande variedade de funções nos organismos


vivos. São indispensáveis para a transdução de sinais, na regulação celular,
muitas vezes por acção de cinasese fosfatases. Através da sua acção podem
gerar movimento, como no caso da miosina que hidroliza ATP,
gerando contracções musculares. Também movimentam carga através da
célula, através da acção do citoesqueleto. Algumas enzimas são ATPases
(funcionam como bombas iónicas), que se localizam na membrana celular,
estando envolvidas do processo de transporte activo. Algumas funções mais
55
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

exóticas são operadas por enzimas, como é o caso da luciferase que gera luz
nos pirilampos. Os vírus podem conter enzimas que auxiliam na infecção de
células (HIV-integrase e transcriptase reversa) ou na libertação celular de
vírus (neuraminidase no vírus influenza).

Uma importante função das enzimas tem lugar no sistema digestivo dos
animais. Enzimas como as amilases e proteases, quebram grandes
moléculas como o amido e proteínas, respectivamente, em moléculas de
menores dimensões, de maneira a que estas possam ser absorvidas
no intestino. O amido não é absorvível no intestino, mas as enzimas
hidrolizam as cadeias de amido em moléculas menores tais como
a maltose e a glucose, podendo desta maneira ser absorvidas. Diferentes
enzimas actuam sobre diferentes tipos de alimento. Nos ruminantes, que
possuem uma dieta herbívora, bactérias no sistema digestivo produzem uma
enzima denominada celulase que quebra as paredes celulares das células
vegetais.

As enzimas podem trabalhar em conjunto, seguindo uma ordem de actuação


específica. Desta maneira podem formar vias metabólicas. Nestas vias, uma
enzima processa o produto da acção de outra enzima como o seu substrato.
Após a reacção catalítica, o produto é depois entregue a outra enzima. Por
vezes, mais do que uma enzima pode catalisar a mesma reacção, em
paralelo. Isto permite uma regulação mais complexa:

As enzimas determinam que passos é que ocorrem nessa vias metabólicas.


Sem a presença de enzimas, o metabolismo não progride através dos
mesmo passos, nem é suficientemente rápido para que sirva as
necessidades da célula. De facto, uma via metabólica tão importante como
a glicólise não poderia existir sem a presença de enzimas. A glucose, por
exemplo, pode reagir directamente com o ATP para dar origem a um
produto fosforilado em um ou mais carbonos. Na ausência de enzimas, este
processo é tão lento que se torna insignificante. No entanto, se a
enzima hexocinase for adicionada, estas reacção lentas continuam a ser
efectuadas, mas a fosforilação do carbono número 6 ocorre de maneira tão
rápida que, se a mistura for testada pouco tempo depois, a glicose-6-fosfato o
56
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

único produto significativo. Consequentemente, pode-se dizer que a rede de


vias metabólicas existentes dentro de cada célula depende do conjunto de
enzimas funcionais que estão presentes.

Controle da atividade

A atividade enzimática na célula é controlada de cinco principais modos:

1. A produção da
enzima (transcrição e tradução dos genes que codificam a enzima)
pode ser aumentada ou diminuída pela célula em resposta a
mudanças no ambiente celular. Esta forma de regulação genética é
designada como indução ou inibição da expressão enzimática. Por
exemplo, as bactérias podem desenvolver resistência a
antibióticos como a penicilina porque são induzidas enzimas (β-
lactamases) que hidrolisam o anel beta-lactâmico presente na
estrutura do antibiótico e essencial para a sua actividade biológica.
Outro exemplo é a importância das enzimas hepáticas citocromo P450
oxidases, envolvidas no metabolismo de desintoxicação
de xenobióticos.
2. As enzimas podem encontrar-se compartimentadas, com difentes vias
metabólicas (ou partes de vias metabólicas) ocorrendo em diferentes
compartimentos celulares. Por exemplo, os ácidos gordos são
sintetizados por um conjunto de enzimas no citoplasma, no retículo
endoplasmático e no complexo de Golgi e usados por um conjunto
diferente de enzimas como fonte de energia na mitocôndria, através
da β-oxidação.
3. As enzimas podem ser reguladas por inibidores e activadores. Por
exemplo, os produtos finais de uma dada via metabólica são
frequentemente inibidores das enzimas que catalisam os primeiros
passos da via (normalmente o primeiro passo factualmente
irreversível), regulando assim a quantidade de produto final produzido
pela via. Este tipo de regulação é denominado mecanismo
de feedback (ou autoalimentação) negativo porque a quantidade de
57
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

produto final é regulada pela sua própria concentração. Na prática,


o feedback negativo ajusta a velocidade de síntese de metabolitos
intermediários da via de acordo com a necessidade da célula. Este
mecanismo ajuda na distribuição económica e eficiente de compostos,
evitando a produção excessiva de produtos finais. Tal como outros
mecanismos homeostáticos, o controlo da actividade enzimática ajuda
na manutenção de um ambiente interno estável em organismos vivos.
4. As enzimas podem ser reguladas através da sua modificação pós-
traducional. Este tipo de modificação inclui a fosforilação,
a miristoilação e a glicosilação. Por exemplo, a fosforilação de
diversas enzimas, como a glicogénio sintase, em resposta a um sinal
da insulina, ajuda no controlo da síntese ou degradação
do glicogénio e permite a resposta celular a variações
da glicemia.[60] Outro exemplo é a quebra da cadeia
polipeptídica da quimotripsina, uma protease digestiva que é
produzida numa forma inactiva (quimotripsinogénio) no pâncreas e
transportada então para o estômago, onde é activada. Este
mecanismo evita a digestão de tecidos pancreáticos (ou outros) pela
quimotripsina antes de entrar no tracto digestivo. Este tipo de
precursor inactivo de uma enzima é denominado zimógeno.
5. Algumas enzimas tornam-se activas quando são colocadas num
ambiente diferente (por exemplo, de um ambiente
citoplasmático redutor para um ambiente periplasmático oxidativo).
Um exemplo encontra-se na hemaglutinina dos vírus Influenza (vírus
da gripe), que sofre uma mudança conformacional quando encontra o
ambiente acídico de vesículas da célula hospedeira, provocando a
sua activação.

Envolvimento em doenças

58
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Fenilalanina hidroxilase

Uma vez que controlo da actividade enzimática é essencial para


a homeostase, qualquer alteração em genes que codifiquem enzimas
(mutações ou delecções) poderá ter como efeito o aparecimento de doenças
genéticas. A importância das enzimas é demonstrada pelo facto de que uma
doença letal pode ser causada pelo mau funcionamento de um único tipo de
enzima entre as milhares que estão presentes no corpo humano.

Um exemplo disso é que o acontece com o tipo mais comum


de fenilcetonúria. Uma mutação num único aminoácido da
enzima fenilalanina hidroxilase, que catalisa o primeiro passo na degradação
da fenilalanina, resulta na acumulação da fenilalanina e dos produtos
associados. Isto pode causar atraso mental se a doença não for tratada.[62][63]

Outro exemplo acontece quando mutações em genes que codificam enzimas


envolvidas no reparo de DNA causam síndromas de cancro hereditário, tal
com a xerodermia pigmentosa. Defeitos nestas enzimas podem causar
cancro, visto que o corpo fica com uma habilidade menor para reparar
mutações no genoma. Isto causa uma lenta acumulação de mutações e
resulta no desenvolvimento de muitos tipos de cancro no paciente.

Nomenclatura

A determinação do nome das enzimas é normatizada por um comitê


especializado, o Nomenclature Committee of the International Union of
Biochemistry and Molecular Biology (NC-IUBMB).

59
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

Classes de enzimas

Classe Catalisam reacções de oxirredução, transferindo


Oxirredutases
1 eletrons, hidretos (H-) ou protons (H+).

Classe
Transferases Transferem grupos químicos entre moléculas.
2

Classe Utilizam a água como receptor de grupos funcionais


Hidrolases
3 de outras moléculas.

Formam ou destroem ligações duplas,


Classe
Liases respectivamente retirando ou adicionando grupos
4
funcionais.

Classe
Isomerases Transformam uma molécula num isómero.
5

Formam ligações químicas por reacções de


Classe
Ligases condensação, consumindo energia sob a forma de
6
ATP.

A partir destas categorias principais, as enzimas ainda são subdivididas em


outras categorias, podendo ser identificadas pelo seu número da EC; por
exemplo, EC 5.4.2.2 é a fosfoglicomutase.

Aplicações

Enzimas digestivas tais como a amilase, protease e lipase, reduzem os


alimentos em componentes menores que são mais facilmente absorvidos
no tracto digestivo.

60
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

As enzimas contribuem enormemente para inúmeras indústrias. Enzimas de


processamento alimentar tais como a glucoamilase podem reduzir o alimento
em glicose.

Uma aplicação industrial é a produção de antibióticos em larga escala.


Encontram-se também determinados tipos de enzimas em produtos de
limpeza, para ajudar a digerir gorduras e proteínas presentes em nódoas.

Também são usadas em investigação laboratorial e na medição de


concentrações de substâncias com interesse clínico (Patologia Clínica,
análises clínicas).

61
INTRODUÇÃO A LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA

REFERÊNCIAS

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