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um-causo-aprende-a-ler

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 190, 01 de Março | 2006

Planejamento

Quem conta um causo


aprende a ler
O suspense dos contos de assombração ajudou a
professora Rosany a dar continuidade à alfabetização de
sua turma de 2ª série e a resgatar as histórias contadas
pela comunidade
Paola Gentile

Medo, arrepios, suspense e calafrios.


Essas foram algumas das expressões
usadas pelos alunos de 2ª série da Escola
Municipal de Educação Infantil e Ensino
Fundamental Associação da Paz, de
Paragominas (PA), para caracterizar os
contos de assombração. Essas narrativas,
assustadoras e cativantes, fizeram parte
das aulas de Língua Portuguesa das
crianças durante o primeiro semestre do
Rosany lê contos de assombração:
ano passado. Disposta a dar
momentos de magia que ajudaram continuidade à alfabetização da turma
na alfabetização da turma
iniciada em 2004, a professora Rosany de
Fátima Silva Guerreiro, 31 anos, escolheu
os causos de arrepiar contados pelos pais
e pelos familiares dos alunos como tema de seu projeto. A professora, que
leciona há 14 anos, se inspirou em atividades que ela mesma vivenciou
durante o programa de formação Escola que Vale - mantido pela Companhia
Vale do Rio Doce em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de
Paragominas. Rosany propôs diversas situações para que os alunos se
apropriassem da linguagem escrita e oral. Cada aluno teve contato com pelo
menos uma dezena de livros do gênero, produziu cinco reescritas, elaborou
um caderno de contos e participou de sarau literário com colegas de outras
turmas e de outra escola.
Passo a passo e metodologia

1. A Leitura e a escolha dos contos


Os momentos em que Rosany lia histórias de assombração para a turma
eram de puro encantamento e magia. Essa atividade marcava o início de um
processo que se repetiria várias vezes durante o projeto. Atenta aos detalhes,
a garotada começou a perceber as características específicas desse tipo de
narrativa (contos de assombração nunca começam com "era uma vez...", mas
com "certa noite", "em um local tenebroso" ou algo tão assustador quanto).
Rosany anotou as observações e as colocou em um cartaz. Foi enriquecedor
também quando ela pediu aos estudantes para contar em quais momentos
sentiram mais medo e de que forma ele se manifestou. Como o corpo reagiu
às situações assustadoras? O coração bateu mais rápido? Os olhos se
arregalaram? "Isso foi importante para que eles identificassem e
descrevessem as emoções", analisa Rosany. Depois de nomear e escrever na
lousa todas aquelas sensações, a professora solicitou que, coletivamente, eles
fizessem o reconto oral, enquanto ela transcrevia esse novo texto.

2. Correção coletiva
Quando os alunos já estavam familiarizados com as novas palavras e com a
história, Rosany entregou uma cópia do conto original a cada um para que
acontecesse a leitura compartilhada. Nesse momento, a turma acompanhava
no papel a leitura em voz alta da professora. Depois, cada um fez a própria
reescrita. Desses textos individuais, a professora escolheu alguns para a
revisão coletiva. Ela copiava um na lousa e as crianças davam palpites: alguns
sugeriam palavras mais adequadas às situações narradas; outros percebiam
erros ortográficos ou de concordância. Durante essa atividade, Rosany
chamava a atenção para a estrutura narrativa e para a pontuação correta,
ressaltando sempre a intenção do autor. Depois, todos liam e copiavam o
texto revisado. Esse processo foi realizado com diversas histórias. Além de
servir de escriba para os pequenos em produções coletivas, Rosany também
organizou a classe em duplas em vários momentos para que os já
alfabetizados escrevessem o texto elaborado pelos que ainda não
dominavam a linguagem escrita.

3. Produção e apresentação
Durante o projeto, os alunos fizeram contato com as demais turmas e
também com outra escola para chamá-las para o sarau literário. Escolhido o
público, vez ou outra o grupo parava a atividade de reescrita e redigia um
bilhete para os convidados contando como andava o projeto e o que estava
sendo preparado para o evento. Rosany ensaiou várias vezes com os
estudantes os contos que seriam apresentados. Nessas ocasiões, ela analisou
a clareza da fala e a entonação, o ritmo e a seqüência dos fatos narrados. No
dia do sarau, não faltaram fantasmas, mulas-sem-cabeça, sacis, esqueletos e
muitos balões pretos na decoração do palco. As crianças, seguras do que
estavam falando, conseguiram até botar medo nos colegas que assistiram à
apresentação.

Língua Portuguesa

TEMA DO TRABALHO
Leitura e escrita de contos de assombração

2ª série

Objetivos e conteúdos
A principal meta de Rosany era dar seqüência à alfabetização e à formação de
leitores e escritores competentes. Neste projeto, que teve a duração de
quatro meses, os alunos conheceram um gênero da literatura pouco utilizado
em sala de aula, os contos de assombração. Eles aprenderam a ouvir e a
contar histórias, a planejar a escrita e a fazer a revisão dos textos e
comentários sobre os livros lidos.

Avaliação
Comparando as redações feitas no início e no final das atividades, Rosany
constatou o desenvolvimento da escrita da turma, com a diminuição do
número de alunos pré-silábicos e silábicos e o aumento da porcentagem de
alfabéticos e silábico-alfabéticos.

Quer saber mais?

Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Associação da Paz, Av. Tupinambás, s/no, 68625-
970, Paragominas, PA, tel. (91) 3739-1062

Rosany de Fátima Silva Guerreiro, peqv@nortnet.com.br

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