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Anamnese Psiquiátrica

I. IDENTIFICAÇÃO que começou o distúrbio; como vem se


apresentando, sob que condições melhora
Os dados são colocados na mesma linha, ou piora.
em sequência (tipo procuração).Dela
constam os seguintes itens: Indaga-se se houve instalação súbita ou
progressiva, se algum fato desencadeou
 Somente as iniciais do nome completo a doença ou episódios semelhantes que
do paciente, uma vez que, por extenso, pudessem ser correlacionados aos sintomas
constará o mesmo do seu prontuário ou atuais.
ficha de triagem (ex: R.L.L.P.);
 Idade em anos redondos (ex. “35 anos”);  Alguma coisa fazia prever o surgimento
 Sexo; da doença?
 Cor: branca, negra, parda, amarela;  Houve alguma alteração nos interesses,
hábitos, comportamento ou
 Nacionalidade;
personalidade?
 Grau de instrução: analfabeto,
 Quais as providências tomadas?
alfabetizado, primeiro, segundo ou
terceiro grau completo ou incompleto;  Averígua-se se já esteve em tratamento,
como foi realizado e quais os resultados
 Profissão;
obtidos, se houve internações e suas
 Estado civil – não necessariamente a causas, bem como o que sente
situação legal, mas se o paciente se atualmente.
considera ou não casado, por exemplo,
 Pede-se ao paciente que explique, o
numa situação de coabitação;
mais claro e detalhado possível, o que
 Religião; sente.
 Número do prontuário.  Anotar os medicamentos em uso pelo
paciente, caso não use: “não faz uso de
II. QUEIXA PRINCIPAL (QP) medicamentos”.

Neste item, explicita-se o motivo pelo qual É importante lembrar que ao se fazer o
o paciente recorre ao Serviço em busca relato escrito deve haver uma cronologia
de atendimento. Caso o paciente traga dos eventos mórbidos (do mais antigo para
várias queixas, registra-se aquela que mais o mais recente).
o incomoda e, preferencialmente, em não
mais de duas linhas. Neste item busca-se, com relação à
Deve-se colocá-la entre aspas e nas doença psíquica, “como” ela se manifesta,
palavras do paciente. com que frequência e intensidade e quais
Ex: “Tô sem saber o que faço da minha os tratamentos tentados.
vida. Acho que é culpa do governo”.
IV. HISTÓRIA PESSOAL (HP)

Coloca-se, de forma sucinta,


III. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL (HDA) separando-se cada tópico em parágrafos,
dados sobre a infância, educação,
Aqui se trata apenas da doença escolaridade, relacionamento com os pais,
psíquica do paciente. Registram-se o relacionamento social, aprendizado sobre
sintomas mais significativos, a época em sexo..., enfim, tudo o que se refere à vida
pessoal do paciente. capacidade de estabelecer vínculos,
Apreciam-se as condições: além do auxílio à compreensão da
ligação passado-presente.
 De nascimento e Ex: “Foi quando minha mãe estava
desenvolvimento: gestação (quadros limpando uma janela, bateu com a
infecciosos, traumatismos emocionais ou cabeça e caiu no chão. Era tanto
físicos, prematuridade ou nascimento a sangue que pensei que ela estava
termo), parto (normal, uso de fórceps, morta. Nessa época, eu tinha 3 anos”.
cesariana), condições ao nascer. Se o
paciente foi uma criança precoce ou
lenta, dentição, deambulação (ato de  Puberdade: a história menstrual
andar ou caminhar), como foi o (menarca: regularidade, duração e
desenvolvimento da linguagem e a quantidade dos catamênios; cólicas e
excreta (urina e fezes). cefaléias; alterações psíquicas, como
Ex: “Paciente declara ter nascido de nervosismo, emotividade, irritabilidade,
gestação a termo, parto normal...”. depressão; menopausa, última
menstruação).
Ex: “Paciente relata que os primeiros
 Sintomas neuróticos da sinais da puberdade ocorreram aos
infância: medos, terror noturno, onze anos e que obteve informações
sonambulismo, sonilóquio (falar sobre menstruação...”.
dormindo), tartamudez (gagueira),
enurese noturna, condutas impulsivas
(agressão ou fuga), chupar o dedo ou  História sexual: primeiras informações
chupeta (até que idade), ser uma que o paciente obteve e de quem; as
criança modelo, crises de nervosismo, primeiras experiências masturbatórias;
tiques, roer unhas. início da atividade sexual; jogos
Ex: “A.F. informa ter tido muitos pesadelos sexuais; atitude ante o sexo oposto;
e insônia, além de ser uma criança intimidades, namoros; experiências
isolada até os 9 anos...”. sexuais extraconjugais; homossexualismo;
separações e recasamentos; desvios
sexuais.
 Escolaridade: anotar começo e Ex: “Teve sua primeira experiência sexual
evolução, rendimento escolar, especiais aos 18 anos com seu namorado,
aptidões e dificuldades de mantendo, desde então,
aprendizagem, relações com professores relacionamentos heterossexuais
e colegas, jogos mais comuns ou satisfatórios com outros namorados...”.
preferidos, divertimentos, formação de
grupos, amizades, popularidade,
interesse por esportes, escolha da  Trabalho: registrar quando o paciente
profissão. começou a trabalhar, diferentes
Ex: “Afirma ter ido à escola a partir dos empregos e funções desempenhadas
10 anos, já que não havia escolas (sempre em ordem cronológica),
próximas à sua casa...” ou “Afirma ter regularidade nos empregos e motivos
freqüentado regularmente a escola, que levaram o paciente a sair de algum
sempre com idade e aprendizado deles, satisfação no trabalho, ambições
compatíveis...”. e circunstâncias econômicas atuais,
aposentadoria.
Ex: “Conta que aos 20 anos obteve seu
 Lembrança significativa: perguntar ao primeiro trabalho como contador numa
paciente qual sua lembrança antiga empresa transportadora...”
mais significativa que consegue
recordar. O objetivo é observar a
 Hábitos: uso do álcool, fumo ou os acontecimentos mais importantes
quaisquer outras drogas. Caso não durante os primeiros anos e aqueles
faça uso, assinalar: “Não faz uso de que, no momento, estão mobilizando
álcool, fumo ou quaisquer outras toda a família; as relações dos parentes
drogas”. entre si e destes com o paciente.
Ex: “Quanto ao seu lar, diz não se
V. HISTÓRIA FAMILIAR (HF) adaptar muito bem à filha mais velha,
que é muito desobediente...” ou “Não
O item deve abrigar as relações gosta do ambiente familiar, pois nele há
familiares (começa-se pela filiação do muitas pessoas doentes...”.
paciente).
Nunca é demais lembrar que se evite o
 Pais: idade; saúde; se mortos; causa e estilo romanceado e opiniões pessoais por
data do falecimento; ocupação; parte de quem faz a anamnese. Frases
personalidade; recasamentos, se houver, curtas e objetivas, contendo dados
de cada um deles. Verificar se há caso essenciais, facilitarão a apreensão do
de doença mental em um deles ou caso. A utilização das palavras do
ambos. paciente será produtiva na medida em que
Ex: “A.F. é o quinto filho de uma prole de se queira explicitar, de maneira objetiva e
dez. Seu pai, J.C., falecido, em 1983, clara, alguma situação ou característica
aos 70 anos, de infarto...”. relevante.

 Irmãos: idade; condições maritais;


VI. HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA
ocupação; personalidade. Indagar se
há caso de doença mental. Apenas (HPP)
referir-se por iniciais.
Ex: “Seus irmãos são: A.M., 34 anos, Nesta etapa, investigam-se os
solteiro, desempregado, descrito como antecedentes mórbidos do paciente.
violento, não se dá com ele”. Devem constar somente as doenças físicas.
Viroses comuns da infância, desmaios,
convulsões e sua frequência, doenças,
 Cônjuge: idade, ocupação e operações, acidentes, traumatismos
personalidade; compatibilidade; vida (sintomas, datas, duração), internações e
sexual; frigidez ou impotência; medidas tratamentos.
anticoncepcionais.
Ex: A.F. coabita maritalmente com G., 39
anos, do lar, descrita como carinhosa e
“boazinha”.

 Filhos: número; idades; saúde;


personalidade. Também referir-se
apenas pelas iniciais.
Ex: “Tem dois filhos: J., de 8 anos,
cursando a 2ª série do 1º grau,
apontado como “carinhoso, mas cobra
demais de mim e da minha mulher”.

 Lar: neste quesito, descreve-se, em


poucas palavras, a atmosfera familiar,
Exame Psíquico (EP)
Até aqui, tivemos um relato feito pelo determinado local); deambulação –
paciente e, em alguns casos, outros dados modo de caminhar (tenso, elástico,
colhidos por familiares ou pessoa que o largado, amaneirado, encurvado, etc.).
acompanha à entrevista. Ex: “Sua mímica é ansiosa, torce as mãos
ao falar, levando-as à boca para roer
No exame psíquico, as anotações deverão as unhas...” ou “Seu gestual é discreto...”.
ser feitas de forma que alguém de fora da
área “Psi” possa compreendê-las.
A sua organização deve obedecer a c) Atitude para com o
determinados quesitos que, entrevistador: cooperativo, submisso,
obrigatoriamente, serão respondidos pelo arrogante, desconfiado, apático,
entrevistador. superior, irritado, indiferente, hostil, bem-
humorado, etc.
No exame psíquico, não se usam termos Ex: “Mostra-se cooperativo, mas irrita-se
técnicos; o que se espera que seja ao falar de sua medicação...”.
registrado aqui são aspectos objetivos que
justifiquem os termos técnicos que serão
empregados posteriormente na súmula. d) Atividade verbal: normalmente
Ex: “Paciente apresenta-se inquieto, responsivo às deixas do entrevistador,
demonstrando desassossego, mas podendo não-espontâneo (tipo pergunta e
ainda controlar sua agitação.” resposta), fala muito, exaltado ou pouco
e taciturno.
1. Apresentação Ex: “É normalmente responsivo às deixas
do entrevistador, mas torna-se hostil
Refere-se à impressão geral que o quando algo é anotado em sua ficha...”.
paciente causa no entrevistador.
Compreende: 2. Consciência

a) Aparência: tipo constitucional, É a capacidade do indivíduo de dar


condições de higiene pessoal, conta do que está ocorrendo dentro e
adequação do vestuário, cuidados fora de si mesmo.
pessoais. Não confundir com a classe
social a que pertence o indivíduo. Consciência, aqui, será a indicação do
Ex: “Paciente é alto, atlético e processo psíquico complexo, que é capaz
apresenta-se para a entrevista em boas de integrar acontecimentos de um
condições de higiene pessoal, com determinado momento numa atividade de
vestes adequadas, porém sempre com a coordenação e síntese. Na prática, a
camisa bem aberta...”. consciência se revela na sustentação,
coerência e pertinência das respostas
dadas ao entrevistador.
b) Atividade psicomotora e
comportamento: mímica – atitudes e A clareza dessa consciência é traduzida
movimentos expressivos da fisionomia pela lucidez. Quando o paciente está
(triste, alegre, ansioso, temeroso, desperto, recebendo e devolvendo
desconfiado, esquivo, dramático, informações do meio ambiente, ele está
medroso, etc.); gesticulação (ausência lúcido, não importando, para esta
ou exagero); motilidade – toda a classificação, o teor de sua integração
capacidade motora (inquieto, imóvel, com o meio.
incapacidade de manter-se em um
Os distúrbios da consciência geralmente B. Alopsíquica: paciente reconhece os
indicam dano cerebral orgânico. As dados fora do eu; no ambiente:
informações sensoriais chegam amortecidas
ou nem chegam à consciência.
 Temporal: dia, mês, ano em que está; em
Os estados de rebaixamento da que parte do dia se localiza (manhã, tarde,
consciência podem ser: noite);
 Espacial: a espécie de lugar em que se
 Rebaixamento ou embotamento; encontra, para que serve; a cidade onde
 Turvação ou obnubilação (que é um está; como chegou ao consultório;
rebaixamento geral da capacidade de  Somatopsíquica: alterações do esquema
perceber o ambiente); corporal, como, por exemplo, os membros
 Estreitamento (perda da percepção do fantasmas dos amputados, negação de
todo com uma concentração em um uma paralisia, a incapacidade de localizar
único objetivo paralelo à realidade (ex. o próprio nariz ou olhos...
estados de hipnotismo e sonambulismo)).
Ex: “Sabe fornecer dados de identificação
Cabe ao entrevistador avaliar o grau de pessoal, informar onde se encontra, dia, mês
alteração da consciência, observando se e ano em que está...”.
o paciente faz esforço para manter o
4. Atenção
diálogo e levar a entrevista a termo, se a
confusão mental interfere na exatidão das
respostas, que se fazem com lentidão, ou se
o paciente chega mesmo a cochilar, A atenção é um processo psíquico que
adormecer no curso da entrevista. concentra a atividade mental sobre
determinado ponto, traduzindo um esforço
mental.
Exemplo de como descrever paciente Destaca-se aí:
lúcido nas entrevistas: “Paciente apresenta-
se desperto durante as entrevistas, sendo  Vigilância (consciência sem foco, difusa,
capaz de trocar informações com o meio com atenção em tudo ao redor);
ambiente...”.  Tenacidade (capacidade de se
concentrar num foco).
3. Orientação
O paciente não pode ter essas duas
Pode-se definir orientação como um funções concomitantemente exaltadas (o
complexo de funções psíquicas, pelo qual paciente maníaco, por exemplo, é hipervigil
tomamos consciência da situação real em e hipotenaz), porém, pode tê-las
que nos encontramos a cada momento de rebaixadas, como no caso do sujeito
nossa vida. autista, esclerosado ou esquizofrênico
catatônico.
A orientação pode ser inferida da
avaliação do estado de consciência e Investiga-se assim:
encontra-se intimamente ligada às noções
de tempo e de espaço.  Atenção normal: ou euprossexia;
normovigilância;
A orientação divide-se em:
 Hipervigilância: ocorre num exagero, na
A. Autopsíquica: paciente reconhece
facilidade com que a atenção é
dados de identificação pessoal e sabe
atraída pelos acontecimentos externos;
quem é;
 Hipovigilância: é um enfraquecimento O exame da memória passada
significativo da atenção, onde é difícil (retrógrada) faz-se com perguntas sobre o
obter a atenção do paciente; passado do paciente, data de
acontecimentos importantes. Contradições
 Hipertenacidade: a atenção se adere nas informações podem indicar
em demasia a algum estímulo ou tópico; dificuldades.
concentração num estímulo; Com relação à memória recente
(anterógrada), podem ser feitas perguntas
rápidas e objetivas, como “O que você fez
 Hipotenacidade: a atenção se afasta
hoje?” ou dizer um número de 4 ou 5
com demasiada rapidez do estímulo ou algarismos ou uma série de objetos e pedir
tópico. para que o paciente repita após alguns
minutos, se houver necessidade.

Ex: “Concentra-se intensamente no A maior parte das alterações da memória é


entrevistador e no que lhe é dito, proveniente de síndromes orgânicas
abstendo-se completamente do que se (amnésia, hiper ou hipomnésia).
passa à sua volta...”. Ex: “A.F. é capaz de fornecer dados com
cronologia correta; consegue lembrar de
5. Memória informações recentes, como a próxima
consulta com seu psiquiatra...”.
“É o elo temporal da vida psíquica
(passado, presente, futuro)”. 6. Inteligência

A memória permite a integração de cada O que se faz nessa avaliação da


momento. Há cinco dimensões principais do inteligência não é o que chamamos “uma
seu funcionamento:
avaliação fina”, realizada por meio de
testes. É mais para se constatar se o
i. Percepção (maneira como o sujeito
paciente está dentro do chamado padrão
percebe os fatos e atitudes em seu
de normalidade
cotidiano e os reconhece
psiquicamente);
Quando houver suspeita de déficit ou
ii. Fixação (capacidade de gravar
perda intelectiva, as informações podem
imagens na memória);
ser obtidas pedindo-se lhe que explique um
iii. Conservação (refere-se tudo que o
trabalho que realize, alguma situação do
sujeito guarda para o resto da vida; a
tipo: “Se tiver que lavar uma escada,
memória aparece como um todo e é um
começará por onde?”, que defina algumas
processo tipicamente afetivo),
palavras (umas mais concretas, como
iv. Evocação (atualização dos dados
“igreja”, outras mais abstratas, como
fixados – nem tudo pode ser evocado). “esperança”), que estabeleça algumas
v. Reconhecimento (reconhecimento do semelhanças, como, por exemplo, “o que é
anagrama (imagem recordada) como mais pesado, um quilo de algodão ou de
tal – é o momento em que fica mais chumbo?”.
difícil detectar onde e quando
determinado fato aconteceu no tempo Ex: “Durante as entrevistas percebe-se que
e no espaço). o paciente tem boa capacidade de
compreensão, estabelecendo relações e
A função mnésica pode ser avaliada pela respostas adequadas,
rapidez, precisão e cronologia das apresentando insights...”.
informações que o próprio paciente dá,
assim como a observação da capacidade
de fixação.
7. Sensopercepção da vida” e “ouvir uma voz que lhe diz ser
um deus...”.
É o atributo psíquico, no qual o indivíduo
reflete subjetivamente a realidade objetiva. Caso o paciente não apresente nenhuma
Fundamenta-se na capacidade de situação digna de nota neste item, pode-
perceber e sentir. se registrar: “Não apresenta experiências
ilusórias ou alucinatórias”.
Neste ponto, investigam-se os transtornos
do eu sensorialmente projetados, 8. Pensamento
simultâneos à percepção verdadeira, ou
seja, experiências ilusórias ou Por meio do pensamento ou do raciocínio,
alucinatórias que são acompanhadas de o ser humano é capaz de manifestar suas
profundas alterações do pensamento. possibilidades de adaptar-se ao meio.

 Ilusão é a percepção deformada da Este item da anamnese é destinado à


investigação do curso, forma e conteúdo
realidade, de um objeto real e presente,
do pensamento. Aqui se faz uma análise do
uma interpretação errônea do que
discurso do paciente.
existe.
 Alucinação é uma falsa percepção,
Curso: Trata-se da velocidade com que o
que consiste no que se poderia dizer
pensamento é expresso e pode ir do
uma “percepção sem objeto”, aceita por
acelerado ao retardado, passando por
quem faz a experiência como uma
variações.
imagem de uma percepção normal,
dadas as suas características de
corporeidade, vivacidade, nitidez  Fuga de ideias: paciente muda de
sensorial, objetividade e projeção no assunto a todo instante, sem concluí-los
espaço externo. ou dar continuidade, numa aceleração
patológica do fluxo do pensamento; é
Algumas perguntas são sugeridas: a forma extrema do taquipsiquismo
(comum na mania).
 “Acontece de você olhar para uma
pessoa e achar que é outra?”;  Interceptação ou bloqueio: há uma
 “Já teve a impressão de ver pessoas interrupção brusca do que vinha
onde apenas existam sombras ou uma falando e o paciente pode retomar o
disposição especial de objetos?; assunto como se não o tivesse
interrompido (comum no esquizofrenia).
 “Você se engana quanto ao tamanho
dos objetos ou pessoas?”;
 Prolixidade: é um discurso detalhista,
 “Sente zumbidos nos ouvidos?”;
cheio de rodeios e repetições, com uma
 “Ouve vozes?”; “O que dizem?”; “Dirigem- certa circunstancialidade; há
se diretamente a você ou se referem a introdução de temas e comentários
você como ele ou ela?”; “Falam mal de não-pertinentes ao que se está falando.
você?”; “Xingam?”; “De quê?”;
 “Tem tido visões?”; “Como são?”;  Descarrilamento: há uma mudança
 “Vê pequenos animais correndo na súbita do que se está falando.
parede ou fios”;
 “Sente pequenos animais correndo pelo  Perseveração: há uma repetição dos
corpo?”; “Tem sentido cheiros estranhos?”. mesmos conteúdos de pensamento
(comum nas demências).

Ex: Relata sentir um vazio na cabeça, mas Forma: pode-se dizer que a forma é a
que “é bom, pois não ligo pros problemas
maneira como o conteúdo do pensamento
é expresso. O pensamento abriga um  Expansão do eu: (grandeza, ciúme,
encadeamento coerente de ideias ligadas reivindicação, genealógico, místico, de
a uma carga afetiva, que é transmitida missão salvadora, deificação, erótico,
pela comunicação. Há um caráter de ciúmes, invenção ou reforma, idéias
conceitual. fantásticas, excessiva saúde,
capacidade física, beleza...).
As desordens da forma podem ocorrer  Retração do eu: (prejuízo, auto-
por: perdas (orgânicas) ou deficiência
referência, perseguição, influência,
(oligofrenia) qualitativas ou quantitativas possessão, humildades, experiências
de conceitos ou por perda da apocalípticas).
intencionalidade (fusão ou condensação,
 Negação do eu: (hipocondríaco,
desagregação ou escape do pensamento,
negação e transformação corporal,
pensamento imposto ou fabricado), onde
auto-acusação, culpa, ruína, niilismo,
pode se compreender as palavras que são
tendência ao suicídio).
ditas, mas o conjunto é incompreensível,
cessando-se os nexos lógicos, comum na
esquizofrenia.
Ex: “A.F. muda de assunto a todo instante e
Ex: “Paciente apresenta um discurso com subitamente. Reconhece que já ficou “bem
ruim, mas nunca fiz sadomasoquismo,
curso regular, porém não mantém uma
porque isso é coisa de judeu de olhos
coerência entre as idéias, que se
apresentam frouxas e desconexas”. azuis. Mas, graças a Deus, nunca pisei
numa maçonaria. Não influencio ninguém,
Conteúdo: As perturbações no conteúdo mas sou influenciado. Sou o deus A.,
defensor dos fracos e oprimidos.
do pensamento estão associadas a
determinadas alterações, como as
9. Linguagem
obsessões, hipocondrias, fobias e
especialmente os delírios.
A linguagem é considerada como um
a. delirium: rebaixamento da consciência
processo mental predominantemente
(delirium tremens; delirium febril); consciente, significativo, além de ser
orientada para o social. É um processo
b. delírio: alteração do pensamento dinâmico que se inicia na percepção e
(alteração do juízo); termina na palavra falada ou escrita e, por
isso, se modifica constantemente.
 b.1 idéia delirante: também chamada
de delírio verdadeiro; é primário e  Disartria (má articulação de palavras);
ocorre com lucidez de consciência; não  Afasias (perturbações por danos
é consequência de qualquer outro cerebrais que implicam na dificuldade
fenômeno. É um conjunto de juízos falsos, ou incapacidade de compreender e
que não se sabe como eclodiu. utilizar os símbolos verbais);
 Verbigeração (repetição incessante de
 b.2 idéia deliróide: é secundária a uma
palavras ou frases);
perturbação do humor ou a uma
situação afetiva traumática, existencial  Parafasia (emprego inapropriado de
grave ou uso de droga. Há uma palavras com sentidos parecidos);
compreensão dos mecanismos que a  Neologismo (criação de palavras
originaram. novas);
 Jargonofasia (“salada de palavras”);
As idéias delirantes podem ser agrupadas  Mussitação (voz murmurada em tom
em temas típicos de:
baixo);
 Logorréia (fluxo incessante e incoercível prolongada que matiza a percepção que
de palavras), para-respostas (responde a pessoa tem do mundo. É como o
a uma indagação com algo que não paciente diz sentir-se: deprimido,
tem nada a ver com o que foi angustiado, irritável, ansioso, apavorado,
perguntado), etc. zangado, expansivo, eufórico, culpado,
atônito, fútil, autodepreciativo.

Ex: “Expressa-se por meio de mensagens Os tipos de humor dividem-se em:


claras e bem articuladas em linguagem - normotímico: normal;
correta...”. - hipertímico: exaltado;
- hipotímico: baixa de humor;
10. Consciência do Eu - distímico: quebra súbita da tonalidade
do humor durante a entrevista;
Este item refere-se ao fato de o indivíduo
ter a consciência dos próprios atos No exame psíquico, descreve-se o humor
psíquicos, a percepção do seu eu, como o do paciente sem, no entanto, colocá-lo
sujeito apreende a sua personalidade. sob um título técnico.

As características formais do eu são: Ex: “O paciente apresenta uma quebra


súbita de humor, passando de um estado
 Sentimento de unidade: eu sou uno no de exaltação a um de inibição...”.
momento;
 Sentimento de atividade: consciência 13. Psicomotricidade
da própria ação;
 Consciência da identidade: sempre Todo movimento humano objetiva
satisfação de uma necessidade consciente
sou o mesmo ao longo do tempo;
ou inconsciente.
 Cisão sujeito-objeto: consciência do A psicomotricidade é observada no
eu em oposição ao exterior e aos decorrer da entrevista e se evidencia
outros. geralmente de forma espontânea.

11. Afetividade Averígua-se se está normal, diminuída,


inibida, agitada ou exaltada, se o
A afetividade revela a sensibilidade intensa paciente apresenta maneirismos,
da pessoa frente à satisfação ou estereotipias posturais, automatismos,
frustração das suas necessidades. flexibilidade cérea, ecopraxia ou qualquer
outra alteração.
Pesquisa-se estados de euforia, tristeza,
irritabilidade, angústia, ambivalência e Ex: “Apresenta tique, estalando os dedos
labilidade afetivas, incontinência da mão direita...”.
emocional, etc. Observa-se, ainda, de
maneira geral, o comportamento do 14. Vontade
paciente.
Ex: É sensível frente à frustração ou Está relacionada aos atos voluntários. É
satisfação, apresentando ligações afetivas uma disposição (energia) interior que tem
fortes com a família e amigos...”. por princípio alcançar um objetivo
consciente e determinado.
12. Humor O indivíduo pode se apresentar
normobúlico (vontade normal) ter a
O humor é mais superficial e variável do vontade rebaixada (hipobúlico), uma
que a afetividade. É o que se pode exaltação patológica (hiperbúlico), pode
observar com mais facilidade numa responder a solicitações repetidas e
entrevista; é uma emoção difusa e
exageradas (obediência automática), ordem, assim como na redação do exame
pode concordar com tudo o que é dito, psíquico. A disposição da súmula deverá
mesmo que sejam juízos contraditórios constar de um único parágrafo, com cada
(sugestionabilidade patológica), realizar item avaliado limitado por ponto.
atos contra a sua vontade (compulsão),
duvidar exageradamente do que quer Com o objetivo de melhor esclarecer,
(dúvida patológica), opor-se de forma apresentamos um exemplo de súmula de um
passiva ou ativa, às solicitações paciente que apresentava uma hipótese
(negativismo), etc. diagnóstica de “quadro maníaco com
sintomas psicóticos”.
Ex: “Apresenta oscilações entre momentos
de grande disposição interna para “Lúcido. Vestido adequadamente e com
conseguir algo e momentos em que boas condições de higiene pessoal.
permanece sem qualquer tipo de ação...”. Orientado auto e alopsiquicamente.
Cooperativo. Normovigil. Hipertenaz.
15. Pragmatismo Memórias retrógrada e anterógrada
prejudicadas. Inteligência mantida.
Aqui, analisa-se se o paciente exerce Sensopercepção alterada com alucinação
atividades práticas como comer, cuidar auditivo-verbal. Pensamento sem alteração
de sua aparência, dormir, ter de forma, porém apresentando alteração
autopreservação, trabalhar, conseguir de curso (fuga de idéias e descarrilamento)
realizar o que se propõe e adequar-se à por ocasião da agudização do quadro e
vida. alteração de conteúdo (idéias deliróides
Ex: “Exerce suas tarefas diárias e consegue de perseguição, grandeza e onipotência).
realizar aquilo a que se propõe...”. Linguagem apresentando alguns
neologismos. Consciência do eu alterada
16. Consciência da doença atual na fase aguda do quadro. Nexos afetivos
mantidos. Hipertimia. Psicomotricidade
Verifica-se o grau de consciência e alterada, apresentando tiques. Hiperbúlico.
compreensão que o paciente tem de estar Pragmatismo parcialmente comprometido.
enfermo, assim como a sua percepção de Com consciência da doença atual”.
que precisa ou não de um tratamento.

Observa-se que considerações os Com a súmula, é possível a outro


pacientes fazem a respeito do seu próprio profissional da área, em poucos minutos,
estado; se há perda do juízo ou um inteirar-se da situação do paciente.
embotamento.
Ex: “Compreende a necessidade de
tratamento e considera que a terapia
pode ajudá-lo a encontrar melhores De acordo com o que pode ser observado
soluções para seus conflitos...”. durante a entrevista, propõe-se uma
hipótese de diagnóstico, que poderá ser
esclarecida, reforçada ou contestada por
outro profissional ou exames
Uma vez realizado e redigido o exame complementares, se houver necessidade.
psíquico, deverão constar na súmula os Não é demais lembrar que poderá haver
termos técnicos que expressam a um diagnóstico principal e outro(s)
normalidade ou as patologias secundário(s), em comorbidade.
observadas no paciente. Trata-se de um Ex: F 30.2 – Mania com sintomas psicóticos.
resumo técnico de tudo o que foi
observado na entrevista.
Aconselha-se seguir-se uma determinada

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