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Sistema de Estimulação

Neuroauditiva
Embasamento teórico
Sumário

Introdução.............................................................6
Pirâmide do desenvolvimento.....................................................9
Avaliação do paciente a partir da pirâmide de
desenvolvimento.................................................................................................10
A pirâmide e o cérebro.......................................................................................12
Processos psicológicos básicos................................................13
Estímulo sensorial e resposta motora............................................................17
Sensação e percepção........................................................................................19
Atenção e memória.............................................................................................22
Encerramento................................................................................25

Acústica.......................................................................27
Acústica básica............................................................................29
Por que um som difere de outro.....................................................................31
Um pouco mais sobre o som...........................................................................34
Fenômenos induzidos pela natureza do som........................39
Encerramento................................................................................44

Sistema auditivo..........................................................46
Sensação.......................................................................................47
Sistema auditivo periférico................................................................................49
Percepção......................................................................................60
Via auditiva central...................................................................................................61
Tronco encefálico.......................................................................................................66
Sistema límbico..........................................................................................................76
Córtex............................................................................................................................81
Encerramento.................................................................................100

Processamento auditivo.................................................102
Habilidades e funções...................................................................104
Habilidades auditivas.............................................................................................104
Funções auditivas....................................................................................................106
Transtornos do Processamento Auditivo (TPA).....................107
Causas dos Transtornos do
Processamento Auditivo (TPA)................................................. 110
Encerramento..................................................................................117

Processos psicológicos básicos......................................119


Atenção.............................................................................................121
Tronco cerebral........................................................................................................122
Sistema límbico........................................................................................................123
Córtex.........................................................................................................................123
Sistemas atencionais..............................................................................................125
Modelos de atenção................................................................................................132
Memória............................................................................................139
Fases da memória...................................................................................................141
Classificação da memória.....................................................................................144
Modelos de armazenamento...............................................................................149
Novos conceitos.......................................................................................................155
Encerramento..................................................................................164
Linguagem.....................................................................166
Processamento da linguagem oral............................................170
Vias neurológicas da fala.....................................................................................171
Discriminação dos sons da fala..........................................................................176
Processamento da linguagem escrita.......................................182
Vias neurológicas da escrita................................................................................187
Ortografia e dislexia................................................................................................191
Encerramento..................................................................................199

Síndromes Generalizadas do Desenvolvimento..............202


Transtorno do espectro do autismo (TEA)..............................204
Diagnóstico...............................................................................................................207
Sintomas....................................................................................................................208
Processamento auditivo nas crianças com TEA.....................209
Hipoaudição e hiperaudição.................................................................................211
Associação multimodal..........................................................................................212
Alterações no eixo corticotalâmico esquerdo.................................................213
Estereotipias..............................................................................................................214
Encerramento..................................................................................218

Referências bibliográficas.............................................219
Capítulo 1
Capítulo 1 - Introdução

Introdução
É muito comum ouvir a recomendação: “Procura uma fono!”
quando alguns comportamentos e dificuldades em relação
ao aprendizado, à atenção, à memória, à linguagem e à
alfabetização, entre outros, são identificados.

6
Capítulo 1 - Introdução

No entanto, na maioria das vezes, o “problema” se limita apenas


à descrição do comportamento, e cabe ao fonoaudiólogo
investigar a fundo qual seria a real causa dele.

Pense bem: será que, quando uma criança apresenta


dificuldades para manter a atenção em sala de aula,
ela realmente tem um problema com a atenção?

Vou fazer uma pergunta melhor: por que será que essa
criança não consegue manter a atenção? Ao buscar
respostas para essa questão, estaremos partindo da
ponta do iceberg e nos aprofundando na causa subjacente
ao comportamento, ou seja, o problema real.

7
Capítulo 1 - Introdução

Falta de atenção

Dificuldade na
separação figura-fundo Dificuldade na
localização da
fonte sonora

Dificuldade na
inibição das
interferências

Ao descobrir a causa subjacente, entendemos de


forma clara como aquilo chamado de “problema”
ou “dificuldade” era apenas um sintoma e o
problema real estava oculto.

Trabalhando sob essa perspectiva é que o SENA© se tornou


uma ferramenta imprescindível na prática fonoaudiológica.
Ao final deste curso, ela estará em suas mãos para
transformar a vida de muitas pessoas com alterações no
processamento auditivo!

8
Capítulo 1 - Introdução

Pirâmide do
desenvolvimento
O SENA© é uma ferramenta projetada para potencializar
a terapia fonoaudiológica. Por isso, é importante entender
a sinergia entre a estimulação neuroauditiva (SENA©) e o
treinamento fonoaudiológico.

Observe a pirâmide de desenvolvimento da perspectiva do


SENA©. Em sua base, encontramos os aspectos fisiológicos
e biológicos; em seguida, os aspectos sensório-motor,
emocional, cognitivo e o último, que é o social.

Social

5
Aspectos relacionados ao
desenvolvimento de habilidades sociais.

4
Cognitivo
Aspectos relacionados ao desenvolvimento de
habilidades cognitivas.

Emocional
3 Aspectos relacionados à análise emocional do ambiente,
cujo objetivo é também a adaptação ao meio e a
sobrevivência.

Sensório-motor
2 Mecanismos que permitem ao organismo interagir com o
ambiente e se adaptar. São os mecanismos sensoriais, como o
processamento de informações e a resposta motora, que
sempre têm como objetivo a sobrevivência.

1
Fisiológico-biológico
Aspectos que mantêm
um organismo vivo.

9
Capítulo 1 - Introdução

Avaliação do paciente
a partir da pirâmide de
desenvolvimento
Quando encontramos um paciente com alguma alteração em
qualquer andar da pirâmide, a primeira coisa que devemos
fazer é descer até sua base e avaliar cada degrau.

Este é o primeiro andar a ser avaliado, seja em


pacientes que apresentam alterações nos aspectos
fisiológicos e biológicos, seja naqueles que
apresentam alterações em qualquer outro degrau,
1 pois sempre partiremos da base da pirâmide.
Fisiológico-
-biológico Uma avaliação do estado de saúde do paciente é
realizada, e, se algo for detectado, é com a parte
fisiológica que deveremos lidar. Nesse caso, não é
de responsabilidade do fonoaudiólogo, mas deve
ser lembrado durante a intervenção.

Subindo um andar na pirâmide, no sensório-motor


vamos considerar a capacidade do paciente de
interagir com o ambiente e avaliar suas habilidades
sensoriais (visão, audição, toque, paladar, olfato,
2 equilíbrio e propriocepção) e sua capacidade
Sensório- motora, tanto as habilidades motoras brutas como
motor as finas, responsáveis pelas linguagens oral e
escrita.
Se o problema estiver no segundo andar da
pirâmide, a primeira coisa que deveremos
melhorar no paciente será a percepção sensorial
ou sua resposta motora.

10
Capítulo 1 - Introdução

Na sequência, avaliaremos a parte emocional.


Apesar de esse aspecto não corresponder
3 diretamente ao campo profissional da
Emocional fonoaudiologia, é importante ter em mente sua
importância no trabalho fonoaudiológico com o
paciente.

A penúltima avaliação será em relação aos aspectos


cognitivos. Se o problema estiver neste andar,
4 cognitivamente deveremos trabalhar em habilidades
Cognitivo relacionadas às linguagens oral e escrita, à atenção,
à memória operacional (funções executivas) e à
capacidade de raciocínio lógico ou habilidades
matemáticas.

Finalmente, no quinto andar, avaliaremos o


5 desenvolvimento social do paciente. Encontraremos
Social as habilidades sociais e a capacidade do paciente
de interagir com os outros.

Se entendermos que o processo começa na parte


fisiológica e termina no desenvolvimento social
do paciente, naquele andar da pirâmide em que
encontrarmos uma alteração, teremos o ponto de
partida da intervenção fonoaudiológica.

11
Capítulo 1 - Introdução

A pirâmide e o cérebro
A pirâmide, além de descrever uma sequência no
desenvolvimento, também é um reflexo de como o cérebro
se desenvolveu ao longo da evolução. Acompanhe como se
deu esse processo:

Tronco cerebral
A primeira parte do cérebro a se
desenvolver foi o tronco cerebral. Ele é
responsável por manter os sinais vitais
do organismo e perceber, processar e
dar uma resposta motora, de maneira
reflexa, aos primeiros estímulos
sensoriais.

Sistema límbico
Desenvolvido acima do tronco cerebral,
o sistema límbico é nosso cérebro
emocional e, portanto, responsável por
avaliar emocionalmente o que acontece
conosco e com tudo o que nos rodeia.

12
Capítulo 1 - Introdução

Córtex
Acima do sistema límbico, foram
desenvolvidos os lobos occipital,
parietal e temporal, responsáveis pelas
habilidades cognitivas, e, finalmente,
o lobo frontal, responsável pelas
habilidades sociais.

Processos psicológicos
básicos
Encontraremos a relação do Sistema de Estimulação
Neuroauditiva (SENA©) com a fonoaudiologia no segundo
andar da pirâmide, o sensório-motor, que abordaremos a
seguir com mais profundidade.
O sistema sensorial e o sistema motor devem sempre
permanecer em constante equilíbrio no importante processo
de desenvolvimento.

13
Capítulo 1 - Introdução

O recém-nascido só consegue
perceber sons de alta frequência
em alta intensidade. Antes desses
estímulos, a criança emite respostas
motoras reflexas totalmente alheias
a seu controle ou sua vontade. Do
mesmo modo, o recém-nascido só
consegue ver em preto e branco,
distinguir luzes e sombras e, diante
desses estímulos, emitir as mesmas
respostas motoras reflexas.

Com o tempo, a criança que


só podia ouvir sons de alta
frequência, em alta intensidade,
começa a escutar todos os tipos
de sons e todas as vezes em
menor intensidade. A partir disso,
a criança começa a ver em cores e
é capaz de fixar o olhar.

14
Capítulo 1 - Introdução

Finalmente, a criança que somente


ouvia sons de alta frequência e
alta intensidade e que apenas
distinguia luzes e sombras poderá,
eventualmente, discriminar um
fonema e articulá-lo corretamente,
além de distinguir uma letra e
reproduzi-la corretamente no
papel. Portanto, à medida que
os sentidos se desenvolvem, as
habilidades motoras também vão
se aprimorando.

O que acontece quando esse equilíbrio entre o sistema


sensorial e o sistema motor não ocorre como deveria? Sim, é
possível que uma criança tenha um grande processamento
sensorial, mas baixa capacidade de resposta motora. No
entanto, é impossível que ocorra um desequilíbrio na direção
oposta.
Apraxias, ataxias, hemiparesia e paralisia cerebral são
alterações do sistema motor que limitam significativamente
as habilidades motoras, embora tenhamos uma boa
capacidade de processamento sensorial.

15
Capítulo 1 - Introdução

Agora, é impossível que uma criança com processamento


sensorial muito limitado tenha desenvolvido uma grande
capacidade de resposta.
Um exemplo disso é a criança nascida com profunda
Hipoacusia neurossensorial bilateral. Sob essas condições,
a criança não pode desenvolver a linguagem por causa da
falta de estímulo.

Hipoacusia neurossensorial bilateral


Conhecida como surdez neurossensorial,
sensório-neural ou surdez do nervo, ela ocorre
no ouvido interno quando as células ciliadas
presentes dentro da cóclea ou os condutores
nervosos sofrem alguma deterioração, impedindo
que os sinais do ouvido cheguem ao cérebro.

16
Capítulo 1 - Introdução

Com isso em mente, devemos assumir que,


para que uma resposta ocorra, é necessário um
estímulo que a ative.

Estímulo sensorial e
resposta motora
A relação entre estimulação sensorial e a resposta motora é
o que conhecemos como processamento de informações.

Ouvir, escutar e entender


O processamento de informações é um
processo global que permite a identificação
e a interpretação de estímulos. É formado
por diferentes níveis, e seu objetivo é
alcançar o mais alto grau de similaridade
entre a imagem física e a perceptiva.

17
Capítulo 1 - Introdução

A imagem física é o estímulo, como a luz


Imagem física
ou o som, por exemplo.

A imagem perceptiva é a representação


Imagem perceptiva do estímulo, na forma de uma rede
neural, que ocorre no cérebro.

Portanto, temos imagens perceptivas da luz, do som, do


tato, do paladar, do olfato, do equilíbrio e da propriocepção.

Obter uma maior semelhança entre a imagem


física e a perceptiva depende do estímulo e do
sistema sensorial.

Quanto mais complexo o estímulo,


maior a dificuldade em gerar essa
similaridade. O estímulo mais
complexo para o ser humano é o da
linguagem, tanto na modalidade
oral como na escrita. O fonema
e o grafema são os estímulos
mais complexos para os sistemas
auditivo e visual.

18
Capítulo 1 - Introdução

Em relação ao sistema sensorial,


ele deve ser capaz de transmitir
as informações sem distorção.
Pequenas distorções na percepção
sensorial, que em muitos aspectos
do processamento de informações
não são significativas, são críticas
no processamento da linguagem,
tanto na modalidade oral como
na escrita.

Sensação e percepção
O primeiro nível de processamento de informações é a
sensação, que é o primeiro contato entre o organismo e o
ambiente produzido no órgão sensorial.

Ouvir, escutar e entender


A sensação ocorre no sistema auditivo
periférico e é inconsciente, involuntária e
reduzida à análise das características físicas
do estímulo.

19
Capítulo 1 - Introdução

Quando as características físicas


do estímulo são codificadas na
forma de linguagem neural e
enviadas ao sistema nervoso
central, a sensação se torna
percepção.

A percepção é o código neural dos atributos físicos do


estímulo, ocorre no sistema nervoso central e é dividida em
duas fases:

• Fase inicial do processamento inconsciente.


• Fase posterior do processamento consciente.

A fase inicial do processamento inconsciente é a que


chamamos de bottom-up (que significa “de baixo para
cima”). Quando o estímulo se torna consciente, começa a fase
posterior do processamento consciente, que chamamos de
top-down (“de cima para baixo”) — quando isso acontece,
a atenção é ativada.

20
Capítulo 1 - Introdução

Entrada Saída
Motor
• Visão
• Grosso
• Audição
• Fino
• Toque
Linguagem
• Equilíbrio
• Oral
• Propriocepção
• Escrita

Top-down
Bottom-up

Após o processo de desenvolvimento, os andares da


pirâmide influenciam em ambas as direções: de cima para
baixo (top-down) e de baixo para cima (bottom-up).

Bottom-up Top-down
Social

5
Aspectos relacionados ao
desenvolvimento de habilidades sociais.

4
Cognitivo
Aspectos relacionados ao desenvolvimento de
habilidades cognitivas.

Emocional
3 Aspectos relacionados à análise emocional do ambiente,
cujo objetivo é também a adaptação ao meio e a
sobrevivência.

Sensório-motor
2 Mecanismos que permitem ao organismo interagir com o
ambiente e se adaptar. São os mecanismos sensoriais, como o
processamento de informações e a resposta motora, que
sempre têm como objetivo a sobrevivência.

1
Fisiológico-biológico
Aspectos que mantêm
um organismo vivo.

21
Capítulo 1 - Introdução

Atenção e memória
Atenção é o processo de seleção das informações que
serão processadas em um nível consciente e cujo objetivo
é o acesso ao significado. Por fim, essas informações
importantes são armazenadas na memória para posterior
recuperação. Esse processo é conhecido como aprendizado.
Podemos dividir o processamento de informações em dois
momentos:

• Processamento vertical.

• Processamento horizontal.

Corpo geniculado medial

Área cortical

Processamento vertical
Colículo inferior

O processamento vertical é
Complexo olival superior um tratamento de informações
Cóclea
que começa no órgão
periférico e termina em uma
Medula
área do córtex especializada
Nervo coclear
no processamento de um
estímulo específico (imagem
perceptiva).

22
Capítulo 1 - Introdução

Fascículo arqueado

Processamento horizontal
O processamento horizontal é
um tratamento de informações
Área de Boca que começa em uma área
específica do córtex e envolve
a ativação síncrona de outras
Área de Wernicke
áreas no nível cortical. Ele é
responsável pelas linguagens
oral e escrita e pelas funções
executivas, e depende
do desenvolvimento do
processamento vertical.

No sistema auditivo, o processamento de informações


permite desenvolver uma sequência de habilidades
fundamentais ao desenvolvimento do ser humano. Essa
sequência é a seguinte:

Ouvir
Capacidade do sistema auditivo periférico de capturar,
amplificar, analisar e transmitir ao sistema nervoso
central as variações de pressão geradas pelas ondas
acústicas propagadas pelo ambiente aéreo.

23
Capítulo 1 - Introdução

Escutar
Capacidade do sistema auditivo central de selecionar
as informações que queremos analisar.

Entender
Capacidade do sistema auditivo central de discriminar
um estímulo.

Compreender
Capacidade do sistema auditivo central de acessar o
significado de um estímulo.

Comunicar
Capacidade do sistema auditivo central de transmitir
uma ideia de maneira consistente e ordenada.

24
Capítulo 1 - Introdução

Encerramento
A audição é um processo extremamente complexo que
começa no ouvido e termina na função executiva. Entre
os dois – a orelha e a função executiva –, encontramos o
processamento auditivo.

Ouvir, escutar e entender


O SENA©, como uma estimulação, está
situado entre o ouvido e o processamento
auditivo. Sua função é melhorar o
processamento vertical; a função da
fonoaudiologia é melhorar o processamento
horizontal.

É nesse ponto que encontramos a sinergia entre


a estimulação e o treinamento, entre o SENA© e a
fonoaudiologia.

25
Capítulo 2
Capítulo 2 - Acústica

Acústica
A audição é um de nossos cinco sentidos e, por causa dela,
somos capazes de perceber os sons, ou seja, receber e
compreender informações sonoras do meio em que vivemos.
Agora, o que fazer quando compreender as informações
recebidas passa a ser um desafio?

27
Capítulo 2 - Acústica

Para obter essa resposta e encontrar uma solução, é preciso


rever alguns conceitos como a acústica, por exemplo, ciência
que tem como objeto de estudo o som.

O som é um fenômeno físico complexo, pois não


é algo material e não tem permanência no espaço
e no tempo. Som é energia e sua propagação
é como um transporte de energia, uma frente
de compressão mecânica ou onda mecânica
processada pelo sistema auditivo.

Por esse motivo, o processamento auditivo central é


extremamente complexo e a compreensão do que se
ouve pode ser muito desaf iador para algumas pessoas.
Que tal entender mais sobre isso? Neste capítulo, você
encontrará def inições e características de conceitos
base da acústica que serão aplicados na utilização do
software Sena©. Ao f inal, você será capaz de:

28
Capítulo 2 - Acústica

Compreender os princípios básicos da acústica.

Relacionar os princípios básicos da acústica com o


processamento auditivo.

Acústica básica

Compressão Rarefação

Onda longitudinal

Onda transversal

29
Capítulo 2 - Acústica

Podemos definir o som como a propagação de uma vibração


através de um meio elástico.

Ouvir, escutar e entender


As vibrações se propagam através dos
corpos sólidos e, pelo contato destes
com o ambiente aéreo, as vibrações se
espalham pelo ar.

No ar, o som se propaga a 340 m/s, mas essa velocidade


pode mudar dependendo da densidade do meio. Observe a
relação da densidade com a taxa de propagação:

Ar
Meio material que permite o transporte de energia.

Maior densidade Maior a taxa de propagação

Menor densidade Menor a taxa de propagação

30
Capítulo 2 - Acústica

Quando essas vibrações atingem o ouvido, ocorre


o fenômeno da audição.

Por que um som difere


de outro?
Quando um som difere de outro, ele só pode fazê-lo por
causa de suas qualidades fisiológicas que são: altura,
intensidade e timbre.

Baixa frequência – Som grave

1 Ciclo

Alta frequência – Som agudo

Vários ciclos

Altura
Está relacionada à frequência. Frequência é o número de
ciclos ou oscilações (ondas sonoras) que passam por um
ponto específico do meio, por segundo. É expresso em hertz
(Hz). A frequência 1000 Hz significa 1000 p/s, por exemplo.
Quando a frequência é alta, o tom é mais alto (agudo) e,
quando a frequência é baixa, o tom é mais baixo (grave).

31
Capítulo 2 - Acústica

F Nº de ciclos F 1000c F F
1000 = 1000 = 1000 = 1000c/s 1000 = 1000Hz
1s 1s

Amplitude

Amplitude

Intensidade
Está relacionada à amplitude. Quanto maior é a amplitude,
maior é o deslocamento das partículas do meio pelo qual
o som se propaga, de modo que quanto maior é a pressão
gerada no meio, maior é a intensidade com que o som se
propaga.
Quanto mais baixa é uma frequência, maior é sua amplitude
e quanto mais alta é uma frequência, menor a sua
amplitude. Portanto, sons de alta frequência se propagam
em menor intensidade e sons de baixa frequência, em maior
intensidade. Dependendo da intensidade, o som será mais
forte ou mais fraco.

32
Capítulo 2 - Acústica

Som simples
Diapasão

Voz

Som complexo
Violino

Timbre
Permite dividir o som entre som simples e som complexo.
O som simples é formado por uma única frequência, é
conhecido como tom puro e só pode ser criado artificialmente.
O som que ouvimos é sempre um som complexo e consiste
em várias frequências.
A frequência que se propaga em maior intensidade é a
frequência fundamental. As demais frequências formam o
espectro sonoro. Das frequências que formam o espectro
sonoro, aquelas que são múltiplos e divisores da frequência
fundamental são seus harmônicos. A energia relativa de
cada um dos harmônicos caracteriza o timbre.
O timbre permite distinguir as vozes de pessoas ou
instrumentos musicais.

33
Capítulo 2 - Acústica

Um pouco mais sobre o som


Outros atributos do som que precisamos destacar são:
período, comprimento de onda e duração.

Período
O período é o tempo que demora em completar-se um ciclo.
É a função inversa da frequência e é expresso com a letra (T).
Dessa forma, quanto maior a frequência, menor o período e,
inversamente, quanto menor a frequência, maior o período.

Deslocamento
Período (T)
s
Amplitude

Tempo (s)

Deslocamento
Período (T)
s
Amplitude

Tempo (s)

34
Capítulo 2 - Acústica

Portanto, se a frequência 1000 (F1000) for 1000 c/s, para


encontrar o período, basta dividir pelo inverso. O período da
frequência 1000 TF1000 será 0,001 s/c.

1s
T= T
F1000 =
1s T
F1000 = 0,001 s/c
Nº de ciclos 1000c

Comprimento de onda
O comprimento de onda é a distância entre dois pontos
iguais da onda que vibram na mesma fase e é expresso com
a letra (^).
Observe que, quanto menor a frequência, maior é o período
e maior o comprimento de onda, quanto maior é uma
frequência, menor é o período e menor o comprimento de
onda.

Comprimento da onda (^)


Deslocamento

s
Amplitude

Tempo (s)

35
Capítulo 2 - Acústica

Comprimento da onda (^)


Deslocamento

s
Amplitude

Tempo (s)

Podemos calcular o comprimento de onda ao dividir a


velocidade do som pela frequência. Observe o exemplo do
cálculo, considerando:

• Velocidade do som – 340


• Frequência – 1000

340
F1000 =
1000

F1000 = 0,34 m/c

Em razão do período e comprimento de onda, quanto


menor é uma frequência, maior é sua amplitude e quanto
maior é uma frequência, menor é sua amplitude. No timbre
de qualquer som, quanto mais a frequência se afasta da
frequência fundamental, menor é sua amplitude. Este
padrão é reproduzido em todas as fontes de som.

36
Capítulo 2 - Acústica

37
Capítulo 2 - Acústica

Duração
A duração do som tem três períodos:

O período em que a vibração é


Inicial estabelecida. É chamado de inicial ou
ataque.

O período em que, após uma pequena


Sustentado diminuição na intensidade, ele é mantido
até que a vibração termine.

Período que começa após o


Decaimento desaparecimento da vibração e se
mantém até o fim do som.

38
Capítulo 2 - Acústica

Os sons de baixa frequência têm uma duração


mais longa, porque são propagados em maior
intensidade, e os sons de alta frequência têm
uma duração mais curta em razão da baixa
intensidade na qual eles se propagam.

Fenômenos induzidos
pela natureza do som
Para finalizar a revisão sobre os conceitos da acústica, não
podemos deixar de abordar os fenômenos induzidos pela
natureza do som.
Sabemos que a onda sonora induz alguns fenômenos
psicofísicos que são estudados pela psicoacústica e entre
alguns exemplos podemos citar:

Psicoacústica
A psicoacústica é um ramo da psicofísica que estuda a relação
entre as características físicas de um estímulo sonoro e a
resposta psicológica que ela causa em um sujeito.

39
Capítulo 2 - Acústica

Reflexão
É a capacidade da onda sonora de refletir energia
e proporcionar maior audição. O ângulo de
reflexão é o mesmo que o ângulo de incidência.

Refração
É o desvio das ondas sonoras em relação ao seu
caminho original, que ocorre quando elas cruzam
meios de diferentes características.

40
Capítulo 2 - Acústica

Difração
É a capacidade de uma onda de cercar um
obstáculo ou se espalhar por uma pequena
abertura.

Impedância
É a resistência de um meio à passagem da onda
sonora durante sua propagação.

41
Capítulo 2 - Acústica

Eco
É o fenômeno que consiste em ouvir um som depois
que a sensação produzida pela onda sonora é
extinta. Um eco ocorre quando a onda sonora é
refletida perpendicularmente em uma parede.

Interferência
Ocorre quando duas ondas iguais de origem
diferente coincidem sobrepostas em um ponto
de maneira construtiva ou destrutiva, para que
possam ser atenuadas ou reforçadas. Se elas
coincidem em fase, há uma soma de amplitudes
e um aumento na intensidade. Se as fases são
opostas, há uma redução nas amplitudes e uma
redução na intensidade.

42
Capítulo 2 - Acústica

Efeito Doppler
É a variação do som que uma fonte sonora
em movimento sofre. À medida que o som se
aproxima, ele muda de grave para agudo e, à
medida que se afasta, muda de agudo para grave.

43
Capítulo 2 - Acústica

Encerramento
Determinar as habilidades e as limitações da audição
humana possui um valor incalculável para ajudar a usar
os sons no nosso meio ambiente a fim de melhorar as
habilidades auditivas de uma pessoa.

Ouvir, escutar e entender


Qualquer ambiente onde o som seja
produzido com o fim de ser processado por
alguém deve considerar como esse som
chega para esse indivíduo.

44
Capítulo 3
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Sistema auditivo
Sabemos que o processamento auditivo é mais complexo do
que simplesmente compreender os mecanismos envolvidos
na jornada do som até o córtex.

46
Capítulo 3 - Sistema auditivo

As informações que chegam à nossa consciência após


recebermos um estímulo auditivo passam por incríveis
mecanismos no corpo humano.
Serão esses mecanismos que exploraremos neste capítulo
e no próximo. Para iniciar, a seguir você conhecerá as
especificidades do sistema auditivo no que se relacionam
à sensação que está ligada ao sistema auditivo periférico e
à percepção que está ligada à via auditiva central. Ao final,
você será capaz de:

Compreender o sistema auditivo humano tanto


anatômica como funcionalmente.

Sensação
Nossos sete sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar,
equilíbrio e propriocepção) são mecanismos que permitem
captar os sinais provenientes do ambiente que nos cerca e de
nosso próprio corpo por meio do sistema sensorial.

47
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Ouvir, escutar e entender


Em resumo, o sistema sensorial é o
conjunto de órgãos responsáveis por
captar os sinais (estímulos) do ambiente
interno ou externo, analisá-los, traduzi-los
e processá-los. Esse processo ocorre por
meio de um mecanismo periférico e um
mecanismo central.

Quando você sente um beliscão, por exemplo, seu sistema


sensorial entra em ação!

Ai, isso dói!


Quando você sente um beliscão, um estímulo
externo é captado por meio do tato, em que a pele
atua como mecanismo periférico. Ele captura uma
informação (sensação), traduzida em percepção,
e interpreta por meio do sistema nervoso central
para que você tenha uma resposta.

E se em vez de um beliscão você tivesse recebido um


estímulo auditivo? A seguir, vamos examinar as sensações
geradas pela audição, o sentido que nos permite capturar as
vibrações (ondas sonoras) propagadas pelo ar.

48
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Sistema auditivo periférico


Quando o estímulo externo é sonoro, nosso corpo faz sua
captação por meio do ouvido. Como parte do mecanismo
periférico, ele é o responsável por capturar as ondas
sonoras, e será por meio da via auditiva central que ocorrerá
a interpretação dessas ondas sonoras.
O sistema auditivo periférico é dividido em três partes:
orelha externa, orelha média e orelha interna, claramente
diferenciadas anatômica e funcionalmente. Observe:

Anatomia
Quando falamos anatomicamente, as três partes que
compõem o sistema auditivo periférico são divididas da
seguinte forma:

Orelha externa Orelha média Orelha interna

49
Capítulo 3 - Sistema auditivo

A orelha externa é formada pelo pavilhão auricular e pelo


canal auditivo. A orelha média é uma cadeia óssea formada
por três ossos: martelo, bigorna e estribo. A orelha interna,
a cóclea, é um osso com 35 mm de comprimento enrolado
duas vezes e meia.

Função
Quando falamos em função, essas três partes se diferem
da seguinte maneira:

Orelha externa
A função do pavilhão auricular é coletar a energia sonora
das ondas acústicas e conduzi-la pelo canal auditivo até a
membrana timpânica, que fecha o canal auditivo e o separa
da orelha média.

Devido à sua anatomia, o canal auditivo gera


uma amplificação entre as frequências 2.500 Hz
e 5.000 Hz, gerando um ganho de intensidade de
12 dB a 15 dB com um pico máximo na frequência
4.000 Hz.

50
Capítulo 3 - Sistema auditivo

No final do canal auditivo, encontramos o tímpano, que é


nosso mecanismo de separação de frequência e controle de
intensidade. Isso significa que diferentes frequências, altas
ou baixas, causarão movimentos distintos no tímpano.

Conheça como atua o tímpano ao receber altas ou baixas


frequências:

Alta frequência Baixa frequência

As altas frequências causam a As baixas frequências fazem


vibração de diferentes partes com que o tímpano vibre por
da membrana timpânica. completo.

51
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Na sua face posterior, o tímpano está preso ao osso martelo.


Este se move nos três eixos do espaço. Dependendo da
parte da membrana timpânica que responde às vibrações,
a energia transmitida ao ouvido interno por meio da cadeia
ossicular muda e pode transmitir mais ou menos energia,
dependendo da frequência.

Martelo

Quando o som excede um certo nível de


intensidade, ele fica tenso, reduzindo a energia
transmitida ao ouvido interno.

Orelha média
A orelha média, como vimos, é uma cadeia ossicular formada
por três ossos – martelo, bigorna e estribo –, que fazem a
comunicação da membrana timpânica com o ouvido interno.
Observe:

52
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Estribo

Martelo

Bigorna

Ouvir, escutar e entender


A função dessa cadeia ossicular é
amplificar a energia das ondas sonoras
para compensar a diferença de impedância
entre o ouvido externo (meio aéreo) e o
ouvido interno (meio líquido).

Impedância
É a resistência de um meio (aéreo, sólido, líquido ou gasoso) à
passagem da onda sonora durante sua propagação.

53
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Essa compensação é produzida pela diferença na área da


superfície entre o tímpano (55 mm²) e o estribo (3,2 mm²),
que aumenta a pressão da onda sonora em 35 vezes.

Estribo – 3,2 mm²

Membrana timpânica – 55 mm²

Além do ganho de energia gerado, o ouvido médio pode


agir de maneira oposta, como um mecanismo de proteção
que chamamos de reflexo acústico.

Esse mecanismo entra em


ação, por exemplo, quando
um secador de cabelos está
ligado, pois ocorre uma
contração involuntária da
membrana timpânica para
sons de frequências abaixo
de 1-2 kHz e intensidades
próximas a 90 dB.

54
Capítulo 3 - Sistema auditivo

O movimento mecânico dos ossículos da orelha média


transmite o som para a orelha interna.

Orelha interna

Ao receber o som do ouvido médio, a orelha


interna, composta pela cóclea, é responsável
pela transformação da energia mecânica das
ondas sonoras em impulsos elétricos. Isso
ocorre no seu interior por meio de dois líquidos:
endolinfa e perilinfa.

Dentro da cóclea, a frequência e a intensidade do som


são codificadas

A cóclea é dividida em duas metades – a superior é chamada


de rampa vestibular, e a inferior é chamada de rampa
timpânica –, que estão separadas pelas membranas basilar
e tectória.

55
Capítulo 3 - Sistema auditivo

A membrana basilar é elástica, sendo mais fina e


mais rígida perto da janela oval e mais espessa
e elástica perto do ápice. Essa anatomia permite
que a cóclea se comporte como um oscilador
mecânico que responde ao deslocamento das
ondas pelo meio líquido.

As ondas sonoras, independentemente de suas frequência


e intensidade, viajam na mesma velocidade pelo espaço.
Quando atingem a cóclea, cada uma delas se propaga pelo
meio líquido para um ponto específico. Esse fenômeno é
conhecido como distribuição tonotópica.
Atualmente, duas teorias são as mais aceitas para explicar
a mecânica coclear. Uma delas é a teoria da ressonância, e
a outra é a teoria da onda propagada.

56
Capítulo 3 - Sistema auditivo

A teoria da ressonância está baseada na


frequência de ressonância. Trata-se da
característica da frequência de um corpo
Teoria da ressonância
ou sistema que atinge o grau máximo de
oscilação com a quantidade mínima de
energia.

A teoria da onda propagada depende do


comprimento da onda. Em ondas de baixa
frequência, devido à sua maior amplitude,
o comprimento é codificado no final da
cóclea, oscilando a membrana basilar
Teoria da onda
com maior deslocamento, mas mais
propagada lentamente. Ondas de alta frequência,
de menores amplitude e comprimento,
são codificadas perto da janela oval,
produzindo deslocamentos menores de
membrana, porém mais rápidos.

Resposta seletiva

Entre as duas membranas, basilar e tectória, encontramos as


células ciliadas internas e externas, que serão responsáveis
pela transdução mecanoelétrica. Elas nos permitem
responder seletivamente aos estímulos.

57
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Células ciliadas internas Células ciliadas externas

Os axônios das células ciliadas internas são


90% aferentes, enquanto os axônios das
células ciliadas externas são 90% eferentes. A
seletividade de frequência permite responder
seletivamente a estímulos.

Para realizar a seletividade da frequência, a cóclea tem um


mecanismo passivo que corresponde às células ciliadas
internas e um mecanismo ativo que corresponde às células
ciliadas externas, responsáveis pela codificação exata da
frequência.

58
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Depois que a frequência é codificada pelas células ciliadas


externas, elas transmitem as informações específicas da
frequência às células internas para que sejam enviadas aos
centros receptores no tronco cerebral pelo nervo auditivo,
fenômeno conhecido como transmissão paralela.
A codificação da frequência, então, dependerá:

• Da sincronização entre as oscilações da cóclea


causadas pelas ondas sonoras que trafegam pelos
fluidos cocleares.
• Do número de impulsos elétricos transmitidos pela
célula ciliada aos núcleos cocleares no tronco cerebral.

Células ciliadas saudáveis

Frequências maiores que


1 kHz são codificadas por
mais de uma célula ciliada,
e, quanto mais alta é a
frequência, maior é o número
de células ciliadas envolvidas
na codificação da frequência.
Esse fenômeno explica
Células ciliadas por que a perda auditiva
danificadas
neurossensorial ocorre nas
altas frequências.

A codificação da intensidade depende do


número de fibras ativadas no nervo coclear.

59
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Dessa maneira, as informações de frequência e intensidade


são codificadas na forma de impulsos elétricos que são
enviados, por meio do nervo auditivo, para os núcleos
cocleares do tronco cerebral, iniciando o processamento
auditivo central.

Percepção
Percepção é o processo pelo qual o cérebro recebe
informações sobre o que está acontecendo ao seu redor.
Em outras palavras, é o processo que leva à representação
mental que fazemos após receber um estímulo sonoro.

Estímulo sonoro
Vibração mecânica do ambiente em faixas de frequência e
amplitude que estimulam o órgão sensorial da audição, como
vimos nos capítulos anteriores.

60
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Ouvir, escutar e entender


A percepção auditiva é o que nos faz
realmente compreender os estímulos sonoros,
desde ruídos até música e linguagem.

A seguir, abordaremos como esse processo ocorre na via


auditiva central.

Via auditiva central


A via auditiva central é a mais complexa de todas as
vias centrais. Essa complexidade se deve à participação
limitada do sistema auditivo periférico no processamento
da informação.

Embora o ouvido seja um órgão extremamente


sensível, sua participação no processamento
de informações não vai além da codificação de
frequência e intensidade. Fica a cargo da via
auditiva central a análise de muitos aspectos
relacionados ao som que permitirão a correta
interpretação da mensagem.

Além disso, não devemos esquecer que o som não


tempo permanência no espaço e no tempo, isso faz com
que a memória desempenhe um papel fundamental na
compreensão da mensagem.

61
Capítulo 3 - Sistema auditivo

No caso da fala ou de uma


conversa, por exemplo,
ao mesmo tempo em que
reconhecemos os novos
sinais, devemos manter na
memória os sinais anteriores
para entender o significado
da mensagem.

Mas a questão é: como determinar onde termina o sistema


auditivo periférico e onde começa a via auditiva central?
É difícil delimitar essa resposta, mas podemos fazer uma
análise considerando a eletrofisiologia cerebral e as ondas
do potencial evocado auditivo (PEA). Observe onde ocorre
cada onda:

I II III IV V

Córtex
auditivo

Onda I – Nervo auditivo


V. Colículo inferior Onda II – Núcleos cocleares
Corpo geniculado medial
Onda III – Complexo olivar superior
IV. Lemnisco medial II. Núcleos Onda IV – Lemnisco lateral
cocleares Onda V – Colículo inferior
III. Complexo olivar superior
Cóclea
I. Nervo auditivo

62
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Se considerarmos a eletrofisiologia cerebral, a onda I do


potencial evocado do tronco encefálico, o início da via
auditiva central é registrado na parte proximal do nervo
auditivo, portanto, no ouvido interno.
No entanto, se considerarmos a primeira sinapse da via
auditiva, a onda II do potencial evocado, o início da via
auditiva central é registrado na parte distal do nervo auditivo,
nos núcleos cocleares do tronco cerebral.

Reprograme
Para um entendimento comum, neste curso
consideraremos que a via possui origem na
onda II, portanto, nos núcleos cocleares.

Fisiologia
A via auditiva é, portanto, o caminho do impulso elétrico
pelos diferentes núcleos de relevo que a constituem e que
são distribuídos pelos três estágios de desenvolvimento do
sistema nervoso central (SNC):

• tronco cerebral;
• sistema límbico;
• córtex.

63
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Córtex

Sistema límbico

Tronco cerebral

Cada um desses estágios foi responsável pela adaptação


ao meio ambiente por um certo período, até que um estágio
superior foi desenvolvido. Isso ocorreu ao longo de centenas
de milhões de anos.

O estágio superior é sempre responsável pela


adaptação ao ambiente, tendo a função de
controlar a resposta dos estágios inferiores, pois
estes permanecem ativos o tempo todo durante a
evolução.

Cada um desses estágios tem uma função específica, que


pode ser delimitada da seguinte forma:

64
Capítulo 3 - Sistema auditivo

O tronco cerebral é o cérebro territorial,


responsável pela localização das fontes
sonoras e pela representação do mapa
espacial.

O sistema límbico é o cérebro emocional,


responsável pelas emoções associadas
aos estímulos auditivos.

O córtex é o cérebro racional,


responsável pela linguagem e pelas
funções executivas.

Ouvir, escutar e entender


Há ainda uma função comum a esses três
estágios:
• Atenção e, em consequência, resposta
motora aos estímulos auditivos.
No tronco encefálico, a resposta motora
é baseada nas caraterísticas físicas do
estímulo; no sistema límbico, nas caraterísticas
emocionais; e, no córtex, nas caraterísticas
semânticas do estímulo.

65
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Tronco encefálico
A via auditiva no tronco encefálico começa nos núcleos
cocleares (NC), como mencionado anteriormente. Estes
são divididos em dois, o ventral e o dorsal, e, por sua vez, o
ventral é dividido em anterior e posterior. Observe:

Córtex auditivo primário

Núcleo geniculado medial

Colículo inferior

Lemnisco lateral Núcleo do


lemnisco
lateral

Complexo olivar
superior
Núcleo coclear dorsal
Núcleo coclear ventral

Formação
reticular Células ciliadas
Corpo trapezoide

Fonte: Felten, O’Banion e Maida (2016).

66
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Primeira sinapse
Núcleo do
lemnisco
lateral

A primeira sinapse ocorre no


Núcleo coclear dorsal núcleo anterior ventral, onde
Núcleo coclear ventral as fibras nervosas auditivas
sinapsam com os neurônios
receptores do referido núcleo.
Em seguida, a informação
passa para o núcleo posterior
ventral e para o núcleo
Células ciliadas dorsal, todos os três núcleos
pezoide
recebendo, assim, a mesma
informação.

Os núcleos cocleares recebem informações monoaurais, e,


portanto, os núcleos cocleares direitos recebem informações
da orelha direita, e os núcleos cocleares esquerdos, da orelha
esquerda.

É importante lembrar que núcleos cocleares não


compartilham informações!

67
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Córtex auditivo primário

Para as informações codificadas no ouvido interno –


Núcleo geniculado medial
frequência e intensidade –, os núcleos cocleares codificarão
o início e o fim do som, analisando a duração do estímulo.

Colículo inferior
Segunda sinapse

Lemnisco lateral Núcleo do


lemnisco
lateral

Após essa primeira sinapse


Complexo olivar
superior nos núcleos cocleares, a via
Núcleo coclear dorsal
auditiva cruza a linha média
Núcleo coclear ventral
pela primeira vez, e 70%
das fibras criam sinapses
contralateralmente com os
Formação
neurônios receptores do
reticular complexo
Células ciliadasolivar superior
Corpo trapezoide
(COS), enquanto que, para
30% das fibras, essa sinapse
será ipsilateral.

A análise de estímulos que ocorrerá nesse núcleo de relevo


está relacionada à localização da fonte sonora. Observe
neste esquema:

68
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Cérebro

Córtex auditivo

Corpo Azul representa o som Corpo


vindo por meio da
geniculado cóclea esquerda geniculado
medial medial

Vermelho representa o
som vindo por meio da
cóclea direita

Colículo Colículo
inferior inferior

Olivar Olivar
superior superior

Núcleos Núcleos
cocleares cocleares

Cóclea Cóclea

69
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Essa localização é realizada pela comparação das informações


relacionadas às diferenças de tempo (fase) e intensidade
que ocorrem nos núcleos medial e lateral consecutivamente.
Isso se dá entre as duas orelhas, dependendo da posição
relativa da fonte sonora em relação ao ouvinte.

Essa comparação implica que os núcleos direito e


esquerdo do COS compartilham as informações.
Córtex auditivo primário

Núcleo geniculado medial

Terceira sinapse

Colículo inferior

Uma vez que a fonte sonora


Lemnisco lateral Núcleo do
está localizada, as fibras
lemnisco
lateral continuam para o próximo
núcleo, o lemnisco lateral (LL),
Complexo olivar
superior onde a terceira sinapse da via
Núcleo coclear dorsal
auditiva ocorrerá no tronco
Núcleo coclear ventral
cerebral.

Formação
reticular Células ciliadas
Corpo trapezoide 70
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Ouvir, escutar e entender


O lemnisco lateral participa rudimentarmente
em tarefas relacionadas à linguagem, mas
sua principal função é melhorar a resolução
espacial iniciada no complexo olivar superior
(COS), distinguindo a fonte sonora primária
de outras fontes quando ocorrem ecos.

Quarta sinapse Córtex auditivo primário

Núcleo geniculado medial

Finalmente, no colículo
inferior, encontramos a quarta
sinapse da via auditiva.
Colículo inferior
O colículo inferior está
envolvido na:
• análise do espaço;
Lemnisco lateral Núcleo do
lemnisco • integração das informações
lateral
auditivas com as
Complexo olivar informações visuais e
superior motoras;
Núcleo coclear dorsal
• resposta reflexa motora decoclear
Núcleo orientação.
ventral

Observe que, ao longo do tronco encefálico, as


características físicas do estímulo sonoro são
analisadas e a fonte sonora é localizada.
Formação
reticular Células ciliadas
Corpo trapezoide

71
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Reprograme
Assim, entendemos que a resposta da
atenção no tronco encefálico é determinada
pelas características físicas do estímulo. São
as variações na intensidade, na frequência
e na duração do estímulo que ativarão a
resposta reflexa de orientação.

A resposta reflexa de orientação envolve o movimento da


cabeça na direção da fonte sonora para a identificação
visual e a resposta reflexa motora associada, cujo objetivo
será a adaptação ao ambiente, a sobrevivência.
Por isso, afirmamos que as informações visuais e auditivas
estão integradas nos colículos inferior e superior.

72
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Uma das maiores limitações que encontramos


no tronco cerebral é sua incapacidade de gerar
memórias e, por ser uma estrutura desprovida de
memória, não poder gerar aprendizado ( por meio
da lembrança das experiências).

Participação do cerebelo no
processamento auditivo

Cerebelo

Núcleos cocleares também fazem sinapse com o


cerebelo. Este participa ativamente da discriminação
sensorial, da atenção, da memória e da linguagem,
além de sua intervenção nos aspectos temporal,
rítmico e sequencial do processamento auditivo.

73
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Formação reticular

SARA

Uma estrutura importante que devemos enfatizar no


tronco encefálico é a formação reticular. O sistema de
ativação reticular ascendente (Sara) é responsável por
liberar as substâncias neurotransmissoras associadas
à audição.

A função mais importante da formação reticular está


relacionada às respostas vegetativas e ao despertar. Nesse
caso, vale destacar os seguintes neurotransmissores:

Noradrenalina Acetilcolina

É o principal neurotransmissor
Contribui para a atenção.
das vias auditiva e de memória.

Observe, no exemplo a seguir, a relação desses e de outros


neurotransmissores com a via auditiva primária (sinalizada
em vermelho) e com a formação reticular (em verde):

74
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Tanto a via auditiva que atravessa todos os


núcleos de relevo do tronco encefálico, na versão
simplificada que abordamos até aqui, como
a via que passa pela formação reticular e as
informações processadas na sinapse do cerebelo
fazem sinapse no núcleo geniculado medial do
tálamo, dando origem ao processamento auditivo
no sistema límbico.

75
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Córtex auditivo primário

Núcleo geniculado medial

Colículo inferior

Sistema límbico
Lemnisco lateral O sistema
Núcleo dolímbico é formado pelas estruturas tálamo,
hipotálamo,
lateral amígdala, hipocampo, região septal e gânglios
lemnisco

da base.
Complexo olivar
superior
Núcleo coclear dorsal
Núcleo coclear ventral
Gânglios da base

Tálamo
Formação
reticular
Hipotálamo Células ciliadas
Corpo trapezoide
Região septal

Amígdala

Hipocampo

76
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Como já mencionamos nos capítulos anteriores, cada


estrutura cerebral desenvolvida sobre a anterior oferece
uma maior vantagem adaptativa, ou seja, uma melhor
capacidade de adaptação ao ambiente. Quando falamos
do sistema límbico, estamos nos referindo à capacidade de
armazenagem.

No sistema límbico, entendemos como vantagem


adaptativa sua capacidade de gerar uma
memória, uma associação entre o estímulo
sensorial e a resposta motora.

Essa capacidade se deve ao


hipocampo, que é a estrutura
relacionada à memória, na qual
o vínculo entre o estímulo e a
resposta é armazenado.

Em outras palavras, se na presença de um estímulo a resposta


é eficaz para a sobrevivência, a relação entre estímulo e
resposta é armazenada no hipocampo. Dessa forma, na vez
seguinte em que o mesmo estímulo é apresentado, a resposta
armazenada na memória é ativada automaticamente, o que
favorece muito a adaptação ao ambiente, pois passamos de
uma resposta baseada no acaso para uma resposta baseada
na experiência.

77
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Filtro atencional
Da mesma maneira que acontece no tronco cerebral, o
sistema límbico também participa ativamente do processo
de atenção.

Ouvir, escutar e entender


Como o sistema límbico é o cérebro
emocional e sua função é dar aos
estímulos o significado emocional que
lhes corresponde, a resposta atencional
será baseada na emoção (motivação).
Ele desviará o foco para os estímulos que
provoquem uma resposta emocional, seja
de emoção positiva, seja de negativa.

Acompanhe como se dá esse processo:

Tálamo

O corpo geniculado medial


do tálamo é um núcleo
que responde a estímulos
auditivos. A partir dele,
o estímulo é direcionado
por um caminho rápido
para a amígdala, uma estrutura responsável por
determinar se um estímulo representa ou não
uma ameaça.

78
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Amígdala

Se o estímulo representar
uma ameaça, a amígdala,
por meio do eixo hipo-
tálamo-hipóf ise-adrenal,
ativará a resposta ao es-
tresse, preparando o or-
ganismo para uma situação de luta, fuga ou para-
lisia. Se for um alarme falso, quando o estímulo se
tornar consciente no córtex auditivo, ele poderá
inibir a resposta da amígdala por meio do eixo or-
bitofrontal, que conecta o córtex frontal ao siste-
ma límbico.

Córtex auditivo
primário
Ao mesmo tempo em que
o estímulo é direcionado
para a amígdala pela
via rápida, por uma rota
mais lenta, o estímulo
é direcionado para o córtex por meio do núcleo
reticular talâmico, que tem a função de filtrar
os estímulos direcionados ao córtex auditivo
primário.

79
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Motivação e foco
Quando o estímulo gera uma resposta emocional positiva
( motivação), o núcleo reticular talâmico permite que o
estímulo passe para o córtex auditivo, enquanto impede que
outros estímulos competitivos o atinjam, comportando-se
como um filtro atencional que permite manter o foco da
atenção sem esforço.

Se o processamento da informação não é acompanhado


de uma motivação, o filtro para de agir – muitos estímulos
atingem o córtex auditivo, e a separação figura-fundo fica
mais complexa devido ao número de estímulos competitivos,
dificultando o processo de atenção. É por isso que a
motivação na aprendizagem é tão importante.

80
Capítulo 3 - Sistema auditivo

São várias as funções que ocorrem no sistema límbico. Ele


está envolvido em:

• percepção do espaço;
• integração sensorial;
• motivação;
• atenção;
• respostas emocionais condicionadas;
• processamento de sinais auditivos com grande carga
biológica.

Córtex
A estrutura mais recente do sistema nervoso central
é o córtex, possuindo maiores volume e peso que as
demais, além de ser o responsável por controlar nosso
comportamento.
Nele, encontramos a área auditiva primária, que receberá os
estímulos vindos do núcleo reticular talâmico, como vimos
até aqui.

81
Capítulo 3 - Sistema auditivo

córtex primário e de
associação auditiva

Áreas de Brodmann.

Córtex auditivo

Acima da área auditiva primária, o córtex auditivo


está organizado em seis camadas. A camada
mais interna apresenta uma densidade neuronal
mais baixa, que aumentará camada por camada
até atingir a mais externa, que apresenta uma
densidade mais alta.

82
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Dependendo da complexidade dos estímulos,


estes são processados em uma camada de
maior ou menor densidade.

A via auditiva central é idêntica nos lados direito e esquerdo


Córtex auditi
desde os núcleos cocleares até o tálamo, transportando e
processando ambas as vias a mesma informação.
Núcleo geni

Colículo inferior

Lemnisco lateral Núcleo do


lemnisco
lateral

Complexo olivar
superior
Núcleo cocle
Núcleo cocle

Formação
reticular Células cil
Corpo trapezoide

83
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Entre o tálamo e o córtex, a via auditiva é anatômica e


funcionalmente assimétrica, portanto, apesar do transporte
da mesma informação, o processamento muda dependendo
da via. Conheça quais são as diferenças de processamento
em cada uma:

Talamocortical direita Talamocortical esquerda

A via auditiva talamocortical


A via auditiva talamocortical
esquerda possui poucas
direita é muito rica em fibras
fibras nervosas, porém mais
nervosas pouco mielinizadas.
mielinizadas.

Veja o que isso representa na prática:

• A mielina aumenta a velocidade de condução da via


nervosa, portanto, a via talamocortical direita é mais
específica na resolução da frequência, mas menos
precisa na resolução temporal, exigindo estímulos de
maior duração para esse processamento.
• A via talamocortical esquerda é menos específica
na resolução da frequência, mas possui uma maior
capacidade de resolução temporal, estímulos de
processamento de menor duração e transição mais
rápida.

Linguagem
A área auditiva primária responde aos estímulos como
tons puros. Dependendo da complexidade do estímulo,
ele é direcionado à área de associação auditiva e à área de
Wernicke (área de linguagem).

84
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Área de Wernicke

Área de Brodmann.

Antes que o estímulo chegue à área de Wernicke e o estímulo


da linguagem seja reconhecido, a discriminação é realizada
em áreas inferiores do córtex, de modo que a discriminação
fonológica é um processo inconsciente, antes da percepção
consciente do estímulo.

Isso depende da capacidade do sistema


auditivo de reconhecer sinais de curta duração
e baixa intensidade, como o contraste surdo-
sonoro e o contraste por ponto de articulação.

Processamento espectral
No córtex auditivo, encontramos um circuito de
processamento espectral no hemisfério esquerdo e outro no
hemisfério direito. Cada um deles é responsável por analisar
um aspecto específico da informação, especialmente em
funções tão lateralizadas como a linguagem. Observe como
isso ocorre em cada hemisfério:

85
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Processamento espacial
Além disso, no córtex, encontramos um circuito de
processamento espacial, que se origina do corpo caloso.
Observe:

86
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Ele permite que um hemisfério compartilhe informações


com o outro hemisfério, criando um mapa espacial das
diferentes fontes sonoras, possibilitando:

• Conhecer sua localização.


• Organizar uma boa orientação espacial.

Mecanismo atencional
No córtex, encontramos um primeiro mecanismo atencional
baseado na habituação e na inibição de interferências.

A habituação ocorre na própria sinapse


da via auditiva. Quando um estímulo não
altera seus atributos físicos – intensidade,
Habituação
frequência e duração – e também não tem
relevância como estímulo, a via auditiva
para de responder a ele.

A inibição de interferências é a resposta


Inibição de inibitória do córtex a sinais que não
interferências podem ser previstos e não precisam da
nossa atenção.

Já em um nível mais alto do processamento, da mesma


maneira que encontramos um sistema atencional no tronco
cerebral baseado nas características físicas do estímulo e
outro no sistema límbico, baseado na resposta emocional
ao estímulo, no córtex, encontramos outro mecanismo
atencional com base na relevância semântica do estímulo.

87
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Dependendo da importância que o estímulo


tiver para a tarefa que devemos executar,
realizaremos a separação figura-fundo. Esse
estímulo de maior relevância semântica
se tornará parte da figura, e os de menor
importância se tornarão parte do fundo,
permanecendo em segundo plano.

O que é mais importante para você?


Quando estamos em um restaurante conversando, as vozes
dos amigos fazem parte da figura, e os sons ao redor fazem
parte do fundo.

Fundo

Figura

Via auditiva eferente


Quando o estímulo auditivo atinge o córtex auditivo, a via
aferente termina, e a via auditiva eferente começa.

88
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Na via auditiva eferente, embora seja descrita


anatomicamente, sua funcionalidade ainda é bastante
desconhecida. Funcionalmente, poderíamos descrever três
eixos: o corticotalâmico, o corticocerebelar e o córtico-olivar.

Parece estar relacionado à atenção e à


Eixo corticotalâmico
motivação no processamento auditivo.

Pode estar relacionado ao controle do


Eixo corticocerebelar
ritmo e do fluxo da fala.

Tem relação com a atenção seletiva,


controlando a resposta do córtex
no ouvido interno por meio do eixo
Eixo córtico-olivar
olivococlear quando queremos
direcionar a atenção para um
determinado estímulo.

O desenvolvimento da via auditiva central é


um reflexo das habilidades auditivas. Quanto
mais desenvolvidas tivermos as habilidades
auditivas, melhor será nossa capacidade de
processamento auditivo.

89
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Inúmeros testes foram desenvolvidos para avaliar


as habilidades auditivas de crianças e adultos,
porém o mais objetivo deles é a eletrofisiologia
cerebral. Esse teste é o que avalia as habilidades
auditivas centrais com maior objetividade e,
portanto, com maior precisão. Veremos mais
sobre o que esse tipo de teste representa a seguir.

Eletrofisiologia cerebral
Por meio da eletrofisiologia, podemos medir a função
associada a cada um dos núcleos da via auditiva,
observando a atividade elétrica que ocorre neles durante o
processamento das informações auditivas.
Os parâmetros avaliados em eletrofisiologia são a amplitude
e a latência de uma sequência de ondas positivas e negativas.

90
Capítulo 3 - Sistema auditivo

P2

P2 – base
N1 – P2 ( pico amplitude)
( pico a pico
amplitude)

N1
N1 – base
( pico amplitude)

Amplitude
Está associada à função: quanto maior a amplitude, mais
desenvolvida é a função.

Latência
Está relacionada à velocidade de processamento: quanto
maior a latência, mais lentamente a informação é processada.

91
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Podemos dividir a eletrofisiologia do cérebro em potenciais


evocados de latências curta, média e longa. Observe:

Ouvir, escutar e entender


Potenciais de latência curta estão
associados às respostas da via auditiva no
tronco cerebral; aqueles com latência média,
ao sistema límbico e ao córtex auditivo
primário; e, aqueles com latência longa, às
funções cognitivas e executivas.

A seguir, veremos alguns pontos específicos que devemos


considerar sobre cada potencial evocado de latência.

92
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Potenciais de latência curta


Potenciais de latência curta representam atividade elétrica
em resposta à estimulação auditiva ao longo dos núcleos
do tronco encefálico.
Essas são respostas exógenas durante os primeiros cinco
milissegundos de processamento auditivo.

Córtex frontal e áreas associadas

Corpo geniculado medial e


córtex auditivo primário

IV V P1 P2
I III Pa
II
VI
Po

Nervo acústico e µV
V
tronco cerebral No Na Nb
N2
Resposta N1
Resposta do cortical Resposta cortical
tronco cerebral precoce tardia

1 2 5 10 20 50 100 200 500 1000 ms

Tem início na parte proximal do nervo


Onda I auditivo no ouvido interno (órgão de
Corti).

Aparece na parte distal do nervo auditivo


e reflete a atividade sináptica que ocorre
Onda II nos núcleos cocleares associada à
resposta da codificação da frequência, da
intensidade e da duração do estímulo.

93
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Mostra a atividade sináptica que ocorre


no complexo olivar superior e reflete
Onda III
a capacidade de localizar as fontes
sonoras.

Está associada à atividade sináptica que


ocorre nos núcleos do lemnisco lateral,
Onda IV
refletindo a melhora da percepção
espacial.

Está relacionada à atividade sináptica


que ocorre no colículo inferior e é uma
Onda V
amostra das habilidades atencionais,
reflexo da orientação.

As ondas VI e VII representam a radiação do


colículo inferior para o tálamo.

Os potenciais de latência média


Os potenciais de latência média estão associados à atividade
eletrofisiológica que ocorre no tálamo e no córtex auditivo
primário.
Essas são as respostas obtidas com latências entre 10 ms
e 80 ms, e são exógenas e compostas pelas ondas P0, Na,
Pa (P30), Nb e Pb (P1 ou P50).

94
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Córtex frontal e áreas associadas

Corpo geniculado medial e


córtex auditivo primário

IV V P1 P2
III Pa
I
II
VI
Po

Nervo acústico e µV
V
tronco cerebral No Na Nb
N2
Resposta N1
Resposta do cortical Resposta cortical
tronco cerebral precoce tardia

1 2 5 10 20 50 100 200 500 1000 ms

De todos, o mais conhecido é o Pb, P1 ou P50. Sua amplitude


reflete a capacidade de inibir estímulos perturbadores
ou irrelevantes, um processo conhecido como bloqueio
sensorial, portanto intervém na separação figura-fundo no
sistema límbico.

Os potenciais de latência longa


Os potenciais de latência longa estão associados à atividade
elétrica que ocorre no córtex auditivo e estão relacionados a:

• atenção;
• discriminação;
• funções cognitivas;
• linguagem.

95
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Córtex frontal e áreas associadas

Corpo geniculado medial e


córtex auditivo primário

IV V P1 P2
III Pa
I
II
VI
Po

Nervo acústico e µV
V
tronco cerebral No
Na Nb
N2
Resposta N1
Resposta do cortical Resposta cortical
tronco cerebral precoce tardia

1 2 5 10 20 50 100 200 500 1000 ms

O complexo P1-N1-P2 está relacionado


à atividade elétrica cerebral associada à
chegada ao córtex do estímulo auditivo e ao
início do processamento cortical do estímulo.

São potenciais exógenos ou sensoriais, pois a atividade


elétrica varia de acordo com as características físicas do
estímulo e está relacionada à:

• maturação da via auditiva;


• qualidade do processamento auditivo;
• percepção da fala.

96
Capítulo 3 - Sistema auditivo

A onda N1 é um potencial exógeno que


Onda N1 está relacionado à memória sensorial
ecoica.

A onda P2 é um potencial exógeno,


de latência entre 175 ms e 225 ms,
que responde a estímulos auditivos
repetitivos e irrelevantes. Está
Onda P2
relacionada à resposta de habituação
que ocorre no córtex auditivo, e sua
função é melhorar a separação figura-
fundo no córtex auditivo.

O complexo N2, com uma latência entre


175 ms e 225 ms, é composto pelas
ondas N2a e N2b.
A onda N2a também é conhecida como
Missmatch Negativity, ou MMN, e é um
potencial exógeno antes da resposta
de reorientação da atenção. Isso
ocorre quando um estímulo estranho é
introduzido em uma série de estímulos
repetitivos ( paradigma oddball). Essa
onda reflete o processo de detecção
automática de novos estímulos dentro
Complexo N2
de uma série de estímulos repetitivos e
a resposta automática, pré-atencional
ao desvio do estímulo, mostrando a
capacidade de discriminar estímulos que
não são atendidos.
A onda N2b reflete a mesma atividade,
mas registrada em uma condição de
atenção, por isso representa o primeiro
potencial endógeno da via auditiva, uma
vez que a resposta eletrofisiológica varia
dependendo do grau de atenção do
sujeito.

97
Capítulo 3 - Sistema auditivo

A diferença entre a onda N2a e N2b é


que a N2b acontece quando prestamos
atenção ao estímulo.

O complexo P3 é composto pelas ondas


P3a e P3b, com uma latência entre 250
ms e 550 ms.
P3a é um potencial endógeno causado
por estímulos irrelevantes e pouco
frequentes, e está relacionado à
resposta de orientação. Uma amplitude
reduzida reflete um déficit de inibição
cortical necessário para processar e
descartar adequadamente informações
irrelevantes.
Complexo P3
P3b é o segundo componente do
complexo P3. É um potencial endógeno
que reflete a capacidade de processar
estímulos relevantes. Dependendo da
relevância e da atenção, sua amplitude
varia, refletindo a capacidade de
memória de curto prazo. Um déficit
em sua amplitude reflete dificuldades
em concentrar os recursos de atenção,
e um aumento na latência reflete um
processamento auditivo lento.

Após o complexo P3, encontramos as ondas N400, P600 e


N900, todas relacionadas ao processamento da linguagem.

98
Capítulo 3 - Sistema auditivo

A onda N400 reflete a resposta


elétrica do cérebro ao processamento
Onda N400 semântico. Sua amplitude reflete a
capacidade do sujeito de reconhecer
erros semânticos em uma frase.

A onda P600 aparece antes da


resposta elétrica cerebral durante o
Onda P600
processamento sintático, refletindo
assim a capacidade de análise sintática.

A onda N900 reflete a transferência


de informações da memória de curto
Onda N900 prazo para a memória de longo prazo na
integração de informações no contexto
do discurso.

99
Capítulo 3 - Sistema auditivo

Encerramento
Neste capítulo, vimos como o estímulo auditivo, que são
variações de pressão propagadas pelo ambiente aéreo,
passa por diferentes análises, cada vez mais complexas,
até atingir o córtex e se tornar uma mensagem significativa.
Isso ocorre, resumidamente, da seguinte maneira:

3. Córtex 2. Sistema límbico


Quando o estímulo É acrescentado um
atinge o córtex, torna-se significado emocional
3
consciente, permitindo-nos à informação recebida
concentrar a atenção do tronco cerebral.
e acessar seu
significado.
2

1. Tronco cerebral
A localização espacial 1
é adicionada à análise
das características físicas
do estímulo. É estritamente
relacionado à sobrevivência.

100
Capítulo 4
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Processamento
auditivo
Segundo os autores Katz, Stecker e Henderson (1992), o
processamento auditivo pode ser definido como a capacidade
de o cérebro reconhecer e interpretar estímulos sonoros.

102
Capítulo 4 - Processamento auditivo

E nas palavras do Dr. Katz:

O processamento auditivo central é o que


fazemos com o que ouvimos.”

Como vimos nos capítulos anteriores, a capacidade de


traduzir as informações enviadas pela audição ao cérebro
está diretamente relacionada com as habilidades de
localização dos sons, de concentrar-se em apenas um
som e ignorar os demais, focalizando a atenção.
Neste capítulo, aprofundaremos os estudos sobre essas
habilidades e conheceremos os distúrbios que podem
ocorrer no processamento auditivo. Você será capaz de:

Compreender o processamento auditivo e as


habilidades auditivas.

Compreender os distúrbios de processamento


auditivo.

103
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Habilidades e funções
Sabemos que ouvir é muito mais do que apenas escutar. O
processamento auditivo envolve um conjunto de habilidades
que permitem uma interpretação correta da informação
sonora. É o que chamamos de habilidades auditivas.

Habilidades auditivas
Algumas habilidades auditivas são:

Localização
Capacidade de localizar a fonte de som.

Figura-fundo
Capacidade de identificar o sinal de fala na
presença de outros sons competitivos.

Integração binaural
Reconhecer diferentes estímulos
apresentados simultaneamente nos dois
ouvidos. Com base no princípio de que
ouvintes normais podem entender duas
pessoas falando ao mesmo tempo.

104
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Separação binaural
Capacidade de escolher estímulos
apresentados em uma orelha, ignorando as
informações apresentadas na orelha oposta.
Com base no princípio de que ouvintes
normais podem ignorar um alto-falante e
direcionar a atenção para o outro.

Ordenação temporal
Capacidade auditiva que implica a percepção
e o processamento de dois ou mais estímulos
auditivos em sua ordem de ocorrência ao
longo do tempo.

Resolução temporal
Capacidade de detectar intervalos de tempo
entre estímulos sonoros, mudanças rápidas e
repentinas no estímulo sonoro, ou detectar o
menor tempo necessário para que o indivíduo
perceba diferenças entre os sinais sonoros.

Interação binaural
Implica a apresentação de informações
auditivas não simultâneas, sequenciais e/
ou complementares, apresentadas aos
dois ouvidos, com base no conceito de
que ouvintes normais podem processar
informações de forma binaural, ou seja,
usando os dois ouvidos. Depende da
localização e da lateralização dos estímulos
auditivos.

105
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Fechamento auditivo
Baseado no conceito de que um ouvinte
normal pode entender a fala, mesmo que seja
incompleta ou distorcida. É a capacidade de
perceber a mensagem inteira quando partes
são omitidas.

Funções auditivas
Segundo a American Speech-Language-Hearing
Association (1996), as funções auditivas centrais são:
• localização e lateralização do som;
• discriminação auditiva;
• reconhecimento de padrões auditivos;
• reconhecimento dos aspectos temporais da audição
(resolução temporal, mascaramento temporal,
integração temporal e ordenação sequencial);
• capacidade de reconhecer sinais competitivos e
degradados.
Dificuldades e distúrbios associados às habilidades e funções
citadas acima podem estar diretamente relacionados aos
Transtornos do Processamento Auditivo (TPA), como
veremos a seguir.

106
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Transtornos do
Processamento Auditivo
(TPA)
Ouvir e não compreender o que foi dito, dificuldade de
concentração e problemas na leitura e escrita podem
ser indícios de Transtornos do Processamento Auditivo
(TPA). Em outras palavras, algumas circunstâncias estão
prejudicando o processamento ou a interpretação de
informações sonoras.

Pessoas que sofrem desse tipo de transtorno não


têm problemas físicos que afetam sua audição,
no entanto, têm dificuldade em reconhecer
corretamente a linguagem e interpretar o som do
ambiente.

Diferentes organizações e associações definiram


Transtornos do Processamento Auditivo, confira:

Déficit no processamento neural do estímulo


auditivo que não é por causa da linguagem ou de
funções cognitivas. (ASHA, 2016)

107
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Dificuldade no processamento perceptivo da


função auditiva. (AAA, 2010)

Déficit no caminho da representação neuronal


dos sons representados pelo cérebro, o que resulta
em uma representação neuronal distorcida do
sinal auditivo. (NAL, 2015)

A má percepção verbal e não verbal. Sua


origem inc lui o Sistema Nervoso Auditivo
Central (SNAC) e o processamento neural para
linguagem, leitura, fala, atenção, memória e
funções executivas. (BSA, 2017)

Os Transtornos do Processamento Auditivo Central podem


aparecer como um distúrbio primário ou associado a outros
tipos de distúrbios como:

108
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Transtorno do Espectro do Autismo

Síndromes Generalizadas do
Desenvolvimento

Doenças neurológicas, como Alzheimer


e Parkinson

109
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Doenças psiquiátricas, como


ansiedade, depressão ou esquizofrenia

Problemas relacionados à
aprendizagem, como atenção,
memória de curto prazo e problemas
de linguagem oral e escrita

Causas dos Transtornos


do Processamento
Auditivo (TPA)
Os Transtornos do Processamento Auditivo podem ser
provocados por inúmeras causas. Entre elas podemos
citar a genética, as alterações durante a gravidez e os
primeiros anos de vida, nutrição, mecanismos neurológicos,
entre outros, que comprometem o desenvolvimento do
processamento auditivo.

110
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Antes do nascimento, na gestação,


por exemplo, alterações genéticas
ou cromossômicas, bem como
infecções, intoxicações ou estresse,
podem alterar o curso natural do
desenvolvimento auditivo.

No momento do parto, a falta de


oxigênio ou o uso de acessórios,
como fórceps, espátulas ou
ventosas, podem interferir no curso
natural do desenvolvimento da
audição pela pressão que geram
nos ossos do crânio, principalmente
os ossos temporais, intimamente
ligados à audição.

111
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Após o nascimento, o número de


fatores que podem interferir no
desenvolvimento da audição é
maior. O correto desenvolvimento
motor é essencial para o
desenvolvimento sensorial
adequado, da mesma maneira
que um bom desenvolvimento
sensorial é importante para o
desenvolvimento motor adequado.

O sistema auditivo periférico e central de uma criança é


diferente do sistema anatômico e funcional do adulto. Ao
longo dos primeiros 10 anos de vida, o sistema auditivo da
criança amadurece até atingir a forma e a função do ouvido
do adulto. Observe:

112
Capítulo 4 - Processamento auditivo

113
Capítulo 4 - Processamento auditivo

No início, o ouvido não é muito sensível a sons de


baixa frequência e é mais sensível a sons de alta
frequência, necessitando de estímulos de certa
intensidade para que o ouvido responda.

A criança melhora a sensibilidade a sons de baixa frequência


e perde a sensibilidade a sons de alta frequência durante os
primeiros anos de vida. Essa evolução na resposta do sistema
auditivo terminará quando o sistema auditivo periférico
atingir a forma de um ouvido adulto, aproximadamente no
momento em que o crânio da criança atingir o tamanho de
um crânio adulto.

114
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Durante esses anos, o ambiente pode alterar o


desenvolvimento natural do sistema auditivo,
o que resultará em comprometimento do
processamento auditivo. A nutrição, o uso de
drogas, principalmente ototóxicas, ou doenças
do sistema auditivo, como a otite recorrente,
também são exemplos de causas dos TPA, pois
podem alterar o curso natural do desenvolvimento
auditivo em crianças.

ototóxicas
As drogas ototóxicas são aquelas capazes de lesar estruturas
da orelha interna, impactando negativamente suas funções
auditivas e do equilíbrio.

Para finalizar, é importante destacar dois mecanismos


neurológicos que podem alterar a resposta do sistema
auditivo. O primeiro deles é o eixo tálamo-cortical e o
segundo é a via auditiva eferente. Esses mecanismos
formam parte das respostas do sistema auditivo em
determinadas situações. Conheça alguns exemplos:

115
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Por esse mecanismo, quando um


som é associado a uma situação de
estresse, o tálamo aumenta a liberação
de acetilcolina no córtex auditivo para
aumentar a resposta cortical ao estímulo
e antecipar o perigo.
Quando determinado som foi associado a
Eixo tálamo-cortical uma lembrança emocional, por exemplo,
num assalto onde houve disparos com
arma de fogo, o reaparecimento desse
estímulo faz com que o sistema límbico
reconheça que é um som associado
a uma situação emocional relevante
e aumenta a resposta do córtex para
prestarmos atenção ao som e ter uma
resposta.

Uma ordem é enviada do córtex


para aumentar a liberação de
acetilcolinesterase no terminal pós-
sináptico das células ciliadas para reduzir
a efetividade da sinapse e reduzir a
resposta do sistema auditivo.
Via auditiva eferente
Em outras palavras o córtex é capaz de
enviar uma ordem ao ouvido interno
para reduzir resposta do mesmo às
frequências que geram o desconforto,
diminuindo assim a resposta emocional
desencadeada pelo sistema límbico.

116
Capítulo 4 - Processamento auditivo

Encerramento
Neste capítulo, vimos a definição de processamento auditivo,
o conjunto de habilidades que permitem uma interpretação
correta da informação sonora e as principais causas dos
Transtornos do Processamento Auditivo.

No próximo capítulo, vamos compreender como


os mecanismos cerebrais da atenção e a memória
atuam enquanto o sistema auditivo processa as
informações dos sons do ambiente.

117
Capítulo 5
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Processos
psicológicos
básicos
Estudar ou dirigir ouvindo música. Assistir à televisão e falar
ao telefone ao mesmo tempo. Encontrar aquele acessório
que se quer usar em uma gaveta cheia deles. Prestar atenção
à explicação do professor em sala de aula enquanto vários
alunos estão conversando.
Você com certeza já vivenciou algumas dessas situações!

119
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Esses fatos tão comuns em nosso dia a dia são exemplos dos
conceitos que veremos neste capítulo.

A capacidade do cérebro de selecionar algumas


informações do ambiente em detrimento de
todas as outras disponíveis está relacionada aos
processos psicológicos básicos denominados
atenção e memória.

Neste capítulo, vamos compreender como esses


mecanismos do cérebro atuam enquanto o sistema
auditivo processa as informações do ambiente. Ao f inal
deste capítulo, você será capaz de:

Relacionar o funcionamento do sistema auditivo


humano com os processos psicológicos básicos.

120
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Atenção
A atenção é a função executiva que consome mais recursos
energéticos em nosso cérebro, pois é ela que nos permite
selecionar as informações que precisamos processar o
tempo todo.

Ouvir, escutar e entender


Sem atenção, não podemos armazenar
informações na memória, e assim o
processo de aprendizagem não é possível.

121
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Como vimos nos capítulos anteriores, nosso cérebro é


composto por três estruturas: o tronco cerebral, o sistema
límbico e o córtex. Cada uma dessas partes realiza um
processo atencional com base na análise de diferentes
características de estímulos.

Tronco cerebral

O tronco cerebral, a mais antiga estrutura filogenética,


baseia a resposta da atenção nas características físicas do
estímulo: intensidade, frequência ou duração.

Dependendo da intensidade, da frequência ou


da duração de um estímulo, o tronco cerebral
ativará uma maior ou menor resposta reflexa da
orientação, ou seja, concentrará a atenção no
estímulo.

Um estímulo de maior intensidade será atendido antes de


um de menor intensidade; um estímulo de maior frequência
será atendido antes de um de menor frequência, e, quanto
maior a duração de um estímulo, maior a resposta que é
ativada.

122
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Sistema límbico

GÂNGLIOS BASAIS
controle de movimentos
aprendendo, hábito, cognição
e emoção

HIPOTÁLAMO TÁLAMO
Controla temperatura Regulação do sono,
corporal, fome, consciência e atenção
fadiga e sono

AMÍGDALA
Memória, tomada de decisão
e respostas emocionais HIPOCAMPO
Memória, navegação

O sistema límbico é a estrutura que encontramos


imediatamente acima do tronco cerebral. Nesse caso, será a
resposta emocional que ativará a atenção. Os estímulos que
ativam a resposta emocional ( motivação) serão tratados
com muito mais eficácia do que aqueles que não obtêm
essa resposta emocional.

Cortéx

123
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Finalmente, o córtex, a estrutura desenvolvida mais


recentemente; é ela que ativa a atenção dependendo
do significado do estímulo. Portanto, é nossa vontade
consciente que permite direcionar os recursos de atenção.
Agora, veja como esse processo se dá em sequência assim
que o ouvido recebe um estímulo.
Observando esse processo, entendemos que milhões de
informações são apresentadas a nós por meio da audição,
mas não são todas que acessam nossa mente consciente. A
partir disso, compreendemos a essência da atenção.

2 3

1. Filtro atencional do tronco cerebral - Os


estímulos com maior intensidade, frequência ou
duração serão atendidos antes dos estímulos com
menor intensidade, frequência ou duração.
2. Filtro atencional do sistema límbico - Selecionará
os estímulos que ativam resposta emocional.
3. Filtro atencional do córtex cerebral - Ativará a
atenção dependendo do significado do estímulo.

124
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Nas palavras de James (1890):

Atenção pode ser definida como a posse,


clara e vívida, tomada pela mente, de um ou
vários objetos de pensamento que aparecem
simultaneamente.

Sistemas atencionais
Observe que, se a atenção surge da necessidade que temos
de selecionar uma parte da informação para que ela possa
ser processada, é necessário supor que o ser humano tenha
uma capacidade limitada de processamento da informação.

Isso porque a atenção é um mecanismo complexo,


que ativa inúmeras áreas do Sistema Nervoso
Central (SNC) e envolve a ativação de diferentes
sistemas e mecanismos.

125
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

A seguir, veremos quais sistemas e mecanismos estão


relacionados à capacidade de processamento da informação.

Sinais de alerta
A atenção, como sistema de alerta, nos permite manter
um estado de alerta para processar informações, explorar o
ambiente e nos adaptar a ele, e, finalmente, sobreviver. Isso
ocorre em diferentes momentos e pode ser caracterizado
por alerta tônico ou alerta fásico.

126
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

O alerta tônico
é afetado pelo
cansaço ou pelas
demandas da
tarefa.

Dependendo do estado em que o organismo se


encontra, o processo de atenção é mais ou menos
eficaz, o que afeta o aprendizado. Esse estado do
organismo é conhecido como alerta tônico.

Por exemplo,
quando estamos
caminhando e
ouvimos o som
de uma freada,
isso ativa o alerta
fásico.

Além do alerta tônico, temos um sistema de


preparação baseado em sinais de alerta, o alerta
fásico. Quando um sinal de aviso ocorre, a
atividade que está sendo executada é interrompida
para dar uma resposta rápida ao sinal.

127
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

O aumento na velocidade da resposta do sinal significa que,


em muitos casos, a eficiência na execução da resposta é
perdida.

Ouvir, escutar e entender


Muitas vezes, esses sinais de aviso, ou
alertas fásicos, são sinais acústicos que
realmente não preveem nenhum evento
e apenas produzem mudanças no foco de
atenção que impedem o processamento
correto das informações na sala de aula.

Sistema de orientação
A atenção, como sistema de orientação, nos permite
concentrar o foco nos estímulos importantes para resolver
uma tarefa ou algo potencialmente perigoso. A atenção
pode ser orientada endógena ou exogenamente. Confira:

Endógena
A orientação endógena depende das
metas ou objetivos e, portanto, é
voluntária. Está mais relacionada ao
sistema límbico e ao córtex.

128
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Exógena
A orientação exógena depende da
estimulação externa e, portanto, é
involuntária. Está mais relacionada
ao tronco cerebral.

Sistema de controle executivo


A atenção também é um sistema de controle executivo ou
sistema de atenção supervisora.

Ouvir, escutar e entender


Esse sistema nos permite:
• Direcionar o comportamento
em direção aos objetivos,
independentemente dos fatores
que podem atuar como elementos
de distração.
• Processar informações novas.
• Reagir a eventos inesperados para
adaptar nosso comportamento a
cada situação.

129
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Em 1980, Norman e Shallice descreveram um sistema


de atenção supervisora responsável pelo controle e pelo
gerenciamento da atenção com base nos objetivos da
pessoa.

O sistema é capaz de fornecer a inibição necessária


durante a execução de uma atividade para
impedir que algumas informações irrelevantes
atinjam níveis mais altos de processamento que
possam interferir na tarefa e, por sua vez, criar
um esquema de execução correto.

Esse sistema de atenção supervisora é responsável por:

Planejamento Enfrentamento Dar respostas


e tomada de de situações alternativas a situações
decisões novas ou pouco habituais
aprendidas

Enfrentamento de
Correção de erros tarefas em
condições difíceis
ou perigosas

Retomando a eletrofisiologia cerebral, o componente N200


é um indicador confiável da capacidade de monitoramento
de erros.

130
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Córtex frontal e áreas associadas

Corpo geniculado medial e


córtex auditivo primário

IV V P1 P2
I III Pa
II
VI
Po

Nervo acústico e µV
tronco cerebral No Na Nb
N2
Resposta N1
Resposta do cortical Resposta cortical
tronco cerebral precoce tardia

1 2 5 10 20 50 100 200 500 1000 ms

Ouvir, escutar e entender


Como sistema de seleção de informações,
a atenção seria responsável por deixar
passarem as informações relevantes e
manter o irrelevante fora do processamento.

Isso ocorre porque os sistemas sensoriais processam muito


mais informações do que realmente atingem o consciente.
Esse fato é um reflexo de nossa baixa capacidade de
processamento de dados, portanto, a atenção é essencial
como sistema de seleção de informações.

131
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Modelos de atenção
Dentro dos modelos estruturais de atenção, podemos
encontrar:

Os modelos de seleção precoce baseiam-


se no conceito de que a informação
é filtrada nos estágios iniciais do
processamento, com base nas informações
das características físicas do estímulo –
Modelos de seleção intensidade ou localização, por exemplo
precoce –, e que não atingirá níveis mais altos de
processamento.
Dessa forma, o filtro atencional está
localizado no tronco cerebral e é a via
auditiva no nível do tronco que será
responsável por filtrar as informações.

Os modelos de seleção precoce possuem


certas limitações e não explicam por
que, em muitas ocasiões, as informações
ignoradas atingem níveis mais altos de
Modelos de seleção processamento, como na escuta dicótica.
tardia Por esse motivo, filtros baseados em
seleção tardia, ou seja, baseados nas
características semânticas e no acesso
da informação à consciência, começam a
surgir.

132
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

O modelo de filtro flexível de Anne


Treisman (1969) propõe um modelo de filtro
seletivoque atua atenuando informações
ignoradas para que não atinjam níveis
superiores de processamento, que somente
seriam alcançados pela informação
atendida.
Modelo de filtro
flexível O conceito de filtro flexível é entendido
a partir do momento em que o filtro
pode ser ativado nas diferentes fases
do processamento: nas fases iniciais,
dependendo das características físicas
do estímulo, ou nas fases posteriores,
dependendo da relevância ou do
significado.

O modelo de recursos de atenção de


Kahneman (1973) baseia-se no conceito
de que as pessoas têm uma quantidade
limitada de recursos de atenção. Quando
diferentes tarefas devem ser executadas ao
Modelo de recursos
mesmo tempo, os recursos atencionais são
de atenção distribuídos de acordo com a importância
da tarefa, com mais recursos sendo
atribuídos à atividade principal, o que deixa
recursos atencionais livres para executar
outras tarefas secundárias.

Atualmente, a posição mais aceita em relação à atenção é


que ela opera nos estágios iniciais e finais do processamento.
Nos estágios iniciais, afeta a percepção e, nos estágios
finais, a seleção da informação na memória de curto prazo.
Acompanhe:

133
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

IV V P1 P2
III Pa
I
II
VI
Po

µV
No Na Nb
N2
Resposta
N1
Resposta do cortical Resposta cortical
tronco cerebral precoce tardia

1 2 5 10 20 50 100 200 500 1000 ms

Fases iniciais
A atenção, nas fases iniciais, começa a partir de 70-90 ms
e é observada nos potenciais P100 e N100. Esse fato indica
que a atenção começa a ser ativada nos estágios iniciais
antes de atingir níveis mais altos de processamento.

P4
P2
P1 P3
P5

µV

N2
N4
N1
N3 Resposta cortical
tardia

0 2 4 6 8 10 ms

Fases finais
A atenção nas fases finais ocorre quando selecionamos
as informações na memória de trabalho. As ondas P300 e
N400 são um indicador confiável da seleção de informações
nas fases finais.

134
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Independentemente do momento em que a


seleção das informações ocorre, a localização
correta das fontes sonoras e a orientação espacial
exata são necessárias para realizar o processo de
atenção.

Localização das fontes sonoras


A localização da fonte sonora é realizada no tronco cerebral,
no complexo olivar superior, por meio de dois mecanismos
de comparação das informações dos dois ouvidos. Observe
como isso ocorre:

Cóclea Cóclea

Linha média

AN CN CN
MSO
LSO

HF

MNTB MNTB
LF

AN= Nervo auditivo LSO = oliva superior lateral MNTB = núcleo medial do
corpo trapezoides
CN= Núcleos cocleares MSO = oliva superior medial

Desenho esquemático dos circuitos de localização primária das fontes


sonoras no tronco cerebral de mamíferos. Kandler et al., 2009.

135
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Tempo
O primeiro desses mecanismos é a comparação da diferença
no tempo que o som levou para alcançar um ou outro ouvido.

Ouvir, escutar e entender


Esse mecanismo depende da frequência e
é independente do sistema auditivo.

Ele depende da frequência, porque é eficaz apenas para


frequências abaixo de 1,5 kHz.

Frequências abaixo de 1,5 kHz têm um


comprimento de onda maior que o tamanho
Frequências abaixo
do crânio, de modo que o fenômeno da
de 1,5 kHz difração ocorre, e o som atinge primeiro um
ouvido e, depois, o outro.

Para frequências acima de 1,5 kHz, o


comprimento de onda é reduzido, e o
Frequências acima
tamanho do crânio não permite difração e
de 1,5 kHz gera reflexão na onda, que passa a se desviar
de seu caminho.

136
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

No entanto, esse mecanismo não é afetado pela


diferença de limiar que podemos encontrar entre
uma orelha ou outra.

Intensidade
O segundo mecanismo compara a diferença de intensidade
com a qual o som atinge um ou outro ouvido.

Ouvir, escutar e entender


Esse mecanismo é independente da
frequência, pois é eficaz para qualquer
uma, mas depende do sistema auditivo.

Se encontrarmos frequências nas quais o limiar seja diferente


em cada orelha, o mecanismo não será mais funcional. Além
disso, a localização por diferença de intensidade interfere
no cálculo por diferença de tempo.

137
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

r
θ

Plano frontal Plano médio

Para trás

Para frente

Plano horizontal

Fonte: Moore, 2013.

138
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Memória
Uma das coisas mais impressionantes que nosso cérebro
faz é criar memórias. Esse importante processo neurológico
nos permite aprender, fazer representações mentais que
envolvem mudanças estruturais e funcionais no cérebro
e tomar decisões que nos levam ao futuro a partir de
experiências vivenciadas.
A memória é um processo pelo qual novos conhecimentos
ou eventos são codificados, armazenados e recuperados
posteriormente.

Por isso, é muito difícil separar o aprendizado da


memória. Na verdade, é impossível que um exista
sem o outro, além dos fenômenos de habituação
e sensibilização.

Aprendizagem Memória

139
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Diferentes autores definiram aprendizado e memória. Veja


algumas dessas definições:

Mudança relativamente permanente no


comportamento de um organismo como resultado
da experiência. (KOLB; WHISHAW)

Aquisição de novas informações. (SQUIRE)

Preservação da informação oferecida por


um sinal após a suspensão da ação do referido
sinal. (SOKOLOV)

Gravação, retenção e reprodução dos traços


da experiência que permitem o acúmulo de
informações. (LURIA)

Capacidade dos organismos de reter e usar


as informações adquiridas. (TULVING)

140
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

A presença do estímulo na ausência do


estímulo. (Jodi Galcerán Exposito)

E você? Como definiria a memória?


Siga em frente e conheça mais profundamente cada
fase desse processo neurológico tão importante para a
aprendizagem.

Fases da memória
O fato ou a necessidade de armazenar as informações na
memória permite que essas informações estejam disponíveis
para uso no momento certo. Quando estudamos para
um exame, por exemplo, precisamos que as informações
estejam disponíveis na memória no dia da prova.

Esse processo de aprendizagem e memória ocorre em três


estágios diferentes, que são:
• codificação;
• armazenamento ou consolidação;
• recuperação.

141
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Conheça melhor cada um desses estágios:

Codificação
Envolve a transformação, consciente ou
inconsciente, de estímulos sensoriais em diferentes
códigos de armazenamento. Esses códigos podem
pertencer a diferentes categorias sensoriais, e a
forma mais eficaz de armazenamento é aquela na
qual as informações são codificadas com base em
mais de uma modalidade.

Armazenamento ou consolidação
Envolve o registro temporário ou permanente das
informações. Quanto melhor a sua organização,
maior a quantidade de informações que podemos
armazenar, embora elas possam ser perdidas
por diferentes motivos – o mais frequente é o
esquecimento.

Recuperação
Envolve a recuperação e nos permite acessar
as informações armazenadas para criar uma
recuperação consciente delas ou executar um
comportamento aprendido.

142
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Este último estágio, o processo de recuperação, pode ser


realizado de duas maneiras diferentes. Veja a seguir os
detalhes e as diferenças de cada processo de recuperação.

Reconhecimento

A primeira é o reconhecimento, no qual as


informações que devemos recuperar estão
disponíveis juntamente com outras e devemos
apenas identificá-las.
É o que acontece, por exemplo, quando
respondemos a questões objetivas em uma prova,
pois, além da pergunta, temos diferentes opções
de resposta e devemos identificar a correta.

143
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Recordação
A outra maneira de acessar a memória é a
recordação, em que as informações não estão
disponíveis, mas devemos procurá-las em nossa
memória e recuperá-las.
Nesse caso, estamos falando, por exemplo, de
quando respondemos a questões discursivas
em uma prova, pois uma pergunta é feita, e a
resposta é aberta.

Classificação da memória
Já parou para pensar que tudo em nossa vida está organizado
de alguma forma?
Todas as coisas estão classificadas e ordenadas de acordo
com algum critério: as gavetas do armário da cozinha separam
talheres de outros utensílios domésticos, os livros em uma
estante têm alguma característica semelhante, as palavras
no dicionário estão em ordem alfabética, e por aí vai!

144
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Assim também trabalha nossa memória! Quando


você consegue identificar algum padrão de
organização ou classificação do material que tem
em mãos, consegue memorizá-lo mais facilmente.

A seguir, veremos aspectos cognitivos muito importantes


para a classificação e a organização na memória.

Posição serial
A posição serial e a organização do material são aspectos
cognitivos relevantes para a memória.

145
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Por exemplo, se você receber


uma lista com dez palavras
e tiver apenas poucos
minutos para memorizá-las,
com certeza será mais fácil
lembrar a primeira e a última
palavra do que aquelas
que ocuparem posições
intermediárias.

Esse é o efeito da posição serial que chamamos de princípios


de primazia e recência.

Ouvir, escutar e entender


Ao lembrar o primeiro elemento mais
facilmente, estamos nos referindo ao
princípio de primazia, enquanto ao lembrar
melhor o último elemento estamos nos
referindo ao princípio de recência.

146
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

No entanto, é importante destacar que o


princípio de primazia é mais forte que o princípio
de recência e que esse efeito da posição serial
é observado nos processos de reconhecimento e
recuperação.

Organização
A organização também influencia a recuperação do material
armazenado na memória. Reflita:

De que adiantaria um dicionário


em que as palavras estivessem
dispostas de forma aleatória? Ou
uma biblioteca que armazenasse os
livros sem nenhuma classificação?

Para entender como a organização


atua na recuperação de informações,
basta pensar na ordem alfabética.
Fica bem mais fácil encontrar as
palavras no dicionário por ele estar
organizado em ordem alfabética,
não é mesmo?

147
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Quando o material é armazenado seguindo os


critérios de classificação, o armazenamento é
mais eficaz. Esse fato se torna mais evidente
nos processos de recuperação do que no
reconhecimento.

Esquecimento e interferência
Até aqui entendemos o mecanismo da memória a cada nova
informação recebida, mas fica a questão: por que a memória
não funciona sempre? A resposta é simples: estamos falando
de esquecimento e interferência. Acompanhe:

Erros de codificação, consolidação ou


recuperação podem incidir no esquecimento,
mas devemos entender que essa é uma
função adaptativa, já que não é necessário
lembrar de todas as informações que
Esquecimento processamos ao longo de nossas vidas e
tendemos a esquecer aquelas que não são
relevantes ou necessárias.
O esquecimento pode ocorrer em qualquer
estágio do processo, mas fica mais evidente
na recuperação.

148
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Aprender um novo material pode dificultar


o aprendizado de outras informações ou,
inversamente, impedir que algumas sejam
esquecidas. Esse efeito é chamado de
interferência.
A interferência pode ser de dois tipos,
Interferência proativa ou retroativa:
• Proativa: ocorre quando o aprendizado
dificulta a aquisição de outro material para
aprender posteriormente.
• Retroativa: ocorre quando um segundo
material aprendido faz esquecer as
informações adquiridas anteriormente.

Modelos de armazenamento
Um dos primeiros modelos de memória conhecidos é o
modelo de armazenamento múltiplo de Atkinson e Shiffrin
(1968). Até hoje é um dos modelos mais aceitos e baseia-se
na classificação por sistemas de memória.
Para os autores, temos três sistemas de memória. São eles:
• memória sensorial;
• memória de curto prazo;
• memória de longo prazo.

149
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Memória sensorial
No caso da audição, a memória sensorial é chamada
de memória sensorial ecoica. Esse sistema possui uma
grande capacidade de armazenamento, mas de curta
duração (aproximadamente 250 ms, embora alguns autores
considerem que pode atingir dois ou três segundos).

A memória sensorial está fora do controle do


sujeito, pois é um armazém inconsciente que
opera automática e espontaneamente.

A função da memória sensorial ecoica é manter a representação


das informações para uma melhor discriminação antes de
transferi-las para a memória de curto prazo.

Mantém
Mantéma representação
a representação
Memória Memória
dasdas
informações
informaçõespara
para
sensorial de curto
melhor discriminação
melhor discriminação
ecoica prazo
para enviar
para à: à:
enviar

Memória de curto prazo


Também conhecida como memória de trabalho ou memória
operacional, tem capacidade limitada, e a permanência da
informação é curta (cerca de 20 a 30 segundos).

150
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Mantém a representação
Memória Memória
Memória de dasAnalisa, interpreta
informações para e
sensorial organiza as informações de longo
curto prazo melhor discriminação
ecoica para enviar prazo
para enviar à: à:

Sua função é ser um armazém transitório de codificação


rápida, no qual as informações são analisadas, interpretadas
e organizadas para armazenamento posterior na memória
de longo prazo.

Memória de longo prazo

A memória de longo prazo


contém as informações
transferidas pelos outros
sistemas de memória
– sensoriais e de curto
prazo. É um depósito
permanente, com capacidade
e persistência ilimitadas,
que retém o conhecimento
acumulado durante a vida.

151
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

A memória de longo prazo é dividida em dois subsistemas


principais:
• memória declarativa, ou memória explícita;
• memória não declarativa.

A memória declarativa, ou memória explícita,


refere-se aos conhecimentos geral e pessoal
armazenados, adquiridos de forma consciente,
que podem ser expressos pela palavra e avaliados
pela linguagem.

O armazenamento e a recuperação de informações são


conscientes e voluntários, por sua vez essa memória se
divide em semântica e episódica. Acompanhe:

• Conteúdo conceitual e sua relação.


• Conhecimentos gerais com validade
independente do evento em que são
utilizados.
Memória • Organização do conteúdo de acordo com
semântica critérios conceituais.
• Manipulação das informações que não
foram aprendidas explicitamente, mas que
estão implícitas em seu conteúdo.
• Baixa vulnerabilidade ao esquecimento.

152
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

• Conteúdo dos eventos ou episódios.


• Organização do conteúdo segundo critérios
Memória espaço-temporais.
episódica
• Eventos explicitamente codificados.
• Alta vulnerabilidade ao esquecimento.

Já a memória não declarativa, ou implícita, poderia ser


entendida como a memória de como as coisas são feitas.

A memória não declarativa, ou implícita,


coleta e armazena informações relacionadas a
procedimentos, habilidades motoras e repertórios
comportamentais.

O armazenamento e a recuperação de informações são


involuntários, inconscientes e independentes da vontade do
sujeito em todas as suas fases.

153
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Veja a seguir um quadro com as principais diferenças entre


as memórias declarativa e não declarativa:

Memória declarativa Memória não declarativa


(Explícita) (Implícita)

Informação facilmente Informação difícil de


1 expressa verbalmente expressar verbalmente 1

2 Altas flexibilidade e
modificabilidade
Baixas flexibilidade e
modificabilidade 2

3 Controle consciente
MD Controle consciente 3
difícil

Natureza voluntária e Caráter involuntário e


4 intencional da etenção
e da recuperação de
não intencional da
retenção e da
4
informações recuperação de

MND
Avaliação por meio de Avaliação por meio de
5 medições diretas de medições indiretas de 5
memória memória; efeito

Estruturas Estruturas

6 6
neuroanatômicas neuroanatômicas
filogeneticamente mais filogeneticamente mais
recentes antigas

7 Alta vulnerabilidade
à deterioração
Baixa
vulnerabilidade à 7

154
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Novos conceitos
Em 1974, Baddeley e Hitch propuseram um modelo de
memória de curto prazo (ou memória de trabalho) diferente
do que foi proposto por Atkinson e Shiffrin.

Ouvir, escutar e entender


Segundo os autores, a memória de curto
prazo é dividida em três subsistemas
anatômica e funcionalmente diferenciados,
mas altamente organizados.

Nesse modelo, o armazenamento de memória de curto


prazo é composto pelo executivo central, pela agenda
visuoespacial e pela alça fonológica. Esses aspectos estão
relacionados da seguinte forma:

Executivo
central

Alça Agenda
fonológica visuoespacial

155
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Conheça melhor a função de cada um deles:

O executivo central é um centro de controle


para todo o sistema operacional de memória.
Executivo central Ele planeja, organiza e controla as operações
e atividades realizadas pelos outros dois
subsistemas.

A agenda visuoespacial é o processador


analógico responsável pelo armazenamento e
pela manipulação temporários de informações
visuais e espaciais. Consiste em um sistema
de armazenamento de material visuoespacial
e um mecanismo de revisão de material para
Agenda estender o tempo de armazenamento.
visuoespacial
Esse subsistema participa de orientação
geográfica, localização espacial de objetos,
planejamento de tarefas espaciais,
planejamento de eventos motores etc.

A alça fonológica é um depósito temporário


responsável pela manutenção e pela
manipulação da informação verbal. Consiste
em um armazém fonológico (que contém
Alça fonológica informações verbais por um período de um ou
dois segundos) e um processador de controle
do articulador (que processa o material do
armazém fonológico por meio de repetição da
fala interna ou subvocal).

156
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Reprograme
A alça fonológica intervém em praticamente
todas as tarefas relacionadas ao idioma,
por isso é essencial para leitura e escrita,
aquisição de vocabulário, aprendizado de
idiomas etc.

A classificação da memória
dependendo do tempo
Se considerarmos o tempo, dependendo se as informações
a serem recuperadas pertencem a um evento do passado
ou do futuro, podemos classificar a memória em:
• prospectiva;
• retrospectiva.

Memória retrospectiva
Implica uma recordação do momento específico e da
situação em que a atividade ocorreu, bem como a
memória da própria atividade.

157
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Memória prospectiva
Refere-se à memória de atividades ou planos de
ação que devem ser executados em um futuro
próximo ou distante.

A memória prospectiva é muito vulnerável ao


esquecimento, e a quantidade de informações
retidas é baixa. A memória retrospectiva, pelo
contrário, refere-se ao registro de ações ou
eventos que ocorreram no passado.

Como a memória prospectiva implica a memória do momento


específico e a situação em que o evento ocorreu, a quantidade
de informações coletadas na memória retrospectiva é
enorme, muito maior que a da memória prospectiva e, além
disso, menos vulnerável ao esquecimento.

158
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Quando o estímulo auditivo atinge o córtex auditivo


primário, a memória sensorial ecoica é ativada. A função
dessa memória é a codificação de estímulos e, no caso
da linguagem, a discriminação, a segmentação e o
sequenciamento da sílaba ou da palavra.

Córtex auditivo
primário

159
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Em seguida, as informações são armazenadas na memória


de curto prazo, responsável pela regularidade acústica e,
portanto, pela atenção seletiva e pela separação figura-
fundo.

Para essa função, escolhemos dentre todos


os estímulos sonoros representados no córtex
auditivo os de maior relevância, deixando
em segundo plano o restante dos estímulos
presentes.

Reprograme
Para que isso ocorra, a localização da
fonte sonora é essencial, mas, além de
sua localização, temos outras informações,
como a frequência ou os aspectos temporais
do estímulo, que podem contribuir para a
eficácia do filtro atencional.

As informações processadas na memória de curto prazo nos


permitem acessar o significado, entender o texto e, portanto,
dar a resposta mais adequada ao estímulo auditivo.

160
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Por exemplo, uma vez que o enunciado do


problema é entendido e a resposta é dada,
não é necessário manter essas informações
na memória de curto prazo, que por essa
razão acabam sendo esquecidas.

As informações relevantes entrarão na memória de longo


prazo para serem recuperadas quando necessário.

161
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Quando uma criança


pega um objeto, ela
o analisa com todos
os seus sentidos
– isso lhe permite
gerar uma imagem
mental do objeto.
Posteriormente,
a criança associa uma palavra a ele; essa
associação da imagem do objeto com a
palavra que o denomina é armazenada na
memória de longo prazo – neste caso, na
memória semântica.

Quando a criança
vê o objeto, uma
imagem mental é
formada na agenda
visuoespacial da
memória de curto
prazo. Essa imagem
mental ativa
automaticamente a memória da palavra que
denomina o objeto (alça fonológica). Quando
a criança ouve o nome do objeto e ativa sua
alça fonológica na memória de curto prazo,
a memória da imagem do objeto (agenda
visuoespacial) é automaticamente ativada.

162
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Agora, acompanhe todos os aspectos relacionados à


memória que vimos até aqui:

Esquecimento

Estímulo
Memória Memória de Memória de

sensorial (ecoica) curto prazo longo prazo


Resposta

Codificação de Regularidade Recuperação de

estímulos acústica armazenamento

Discriminação, Localização, Consciência


seguimentação e harmonia e
sincronia fonológica
sequenciação

Percepção Atenção Memória

163
Capítulo 5 - Processos psicológicos básicos

Encerramento
Neste capítulo, vimos como, sem atenção, não podemos
armazenar informações na memória, e assim o processo de
aprendizagem não é possível.
Vimos também que a memória é um processo pelo qual novos
conhecimentos ou eventos são codificados, armazenados e
recuperados. Por isso, é muito difícil separar o aprendizado
da memória.

Portanto, independentemente do momento


em que a seleção das informações ocorre, a
localização precisa das fontes sonoras e a correta
orientação espacial são fundamentais para
realizar os processos de atenção e memória!

164
Capítulo 6
Capítulo 6 - Linguagem

Linguagem
A linguagem é uma habilidade característica do ser humano,
e a facilidade com que é adquirida e desenvolvida nos permite
pensar em uma predisposição biológica.

166
Capítulo 6 - Linguagem

Durante o desenvolvimento do nosso sistema


nervoso central, geneticamente determinado,
o córtex cerebral é organizado para sustentar
o desenvolvimento futuro da linguagem. No
entanto, ainda serão necessários os estímulos
do ambiente para excitar e estruturar os
circuitos cerebrais que darão suporte ao seu
desenvolvimento.

A linguagem é um código
cuja função é a comunicação,
a transmissão de ideias e
pensamentos, que ocorre
por meio de um sinal de
natureza sequencial que é
decodificado à medida que
se desenvolve ao longo do
tempo.

Neurologicamente, a linguagem está intimamente ligada a


processos cognitivos básicos, como as funções executivas:
• atenção;
• memória de curto prazo.

167
Capítulo 6 - Linguagem

As áreas e vias que formam os circuitos


neurológicos que suportam a linguagem estão
presentes desde o nascimento.
Elas estão distribuídas entre os lobos frontais,
temporais e parietais bilaterais, com predomínio
do hemisfério esquerdo, mas também participam
na linguagem o sistema límbico, o cerebelo e o
tronco cerebral.

O corpo caloso é a
estrutura que comunica
as diferentes áreas dos
hemisférios direito e
esquerdo do cérebro.

Os fascículos dorsais e
os fascículos ventrais
comunicam as diferentes
áreas corticais que darão
origem às diferentes vias
da linguagem.

168
Capítulo 6 - Linguagem

Ouvir, escutar e entender


Após o nascimento, o hemisfério
direito é mais desenvolvido que o
hemisfério esquerdo, de modo que o
processamento da linguagem, em seu
início, está mais relacionado aos aspectos
suprassegmentais.

Suprassegmentais
Uma característica suprassegmental ou prosódica é uma
característica da fala que afeta um segmento maior que o
fonema, como acento, entonação, ritmo, duração e outros.
O termo suprassegmental implica a existência de elementos
que se enquadram em mais de um segmento por vez. Os
suprassegmentais resultam de um uso particular dos recursos
do aparelho fonador.

É nesse processo de aprendizagem que desenvolvemos


as linguagens oral e escrita, conforme estudaremos neste
capítulo. Ao f inal, você será capaz de:

Conhecer a relação de processamento auditivo com


a linguagem oral e a linguagem escrita.

169
Capítulo 6 - Linguagem

Processamento da
linguagem oral
Agora que já refletimos sobre o que é a linguagem e vimos
um pouco sobre seus circuitos neurológicos, seguiremos
em frente abordando o processamento da linguagem oral.

A linguagem é um código baseado no som. Portanto, o


primeiro contato que temos com o som significa distinguir
o conjunto de sons que formam a linguagem dos sons de
outra natureza.

Podemos chamar essa primeira discriminação


de discriminação grossa, ou discriminação do
conjunto. Mais adiante, devemos discriminar os
diferentes sons da linguagem, que chamaremos
de discriminação fina, ou discriminação do
elemento.

170
Capítulo 6 - Linguagem

Ouvir, escutar e entender


Até os seis meses de idade, a criança é
sensível aos contrastes fonéticos de todas
as línguas. A partir dessa idade, e até 18
meses, começa a poda sináptica.

A criança perde a capacidade de reconhecer contrastes


fonéticos de outras línguas e começa a construir a consciência
fonológica da língua materna. Os recém-nascidos têm uma
preferência inata pela língua materna pelas vozes humanas
e mostram maior atenção aos sons da fala.

Vias neurológicas da fala


O modelo neurológico mais aceito atualmente é o modelo
de via ou de fluxo duplo de Hickok e Poeppel (2004), que
propõe que os estágios iniciais da fala ocorrem em regiões
auditivas.

Via dorsal ou circuito auditivo motor

Via ventral ou circuito conceitual

Fonte: Adaptada de Chang, Raygor e Berger (2015).

171
Capítulo 6 - Linguagem

De acordo com o modelo, a linguagem tem duas rotas, e


uma delas é a via dorsal, ou circuito auditivo motor, que liga
a área de Wernicke à área de Broca por meio do fascículo
arqueado.

Ouvir, escutar e entender


Essa rota é crítica no desenvolvimento
da linguagem, pois é responsável pela
conexão da representação dos sons e
da articulação motora, permite a criação
da consciência fonológica e é o caminho
do processamento subléxico e das
pseudopalavras.

A outra rota é a via ventral, ou circuito conceitual, que


conecta a área de Wernicke à área de Broca por meio
dos fascículos longitudinais inferiores, fronto-occipitais
inferiores e uncinados.

Ouvir, escutar e entender


Essa rota é crítica para o acesso ao
significado das palavras, das frases
e da estrutura sintática, e é a rota do
processamento lexical e do fechamento
fonológico.

172
Capítulo 6 - Linguagem

Os diferentes níveis de análise da linguagem variam desde a


menor unidade, o fonema, até a maior unidade, o discurso. O
desenvolvimento da linguagem na criança segue o mesmo
padrão — balbuciar é a primeira forma de linguagem na
criança.

Essas primeiras amostras


da linguagem oral darão
origem à produção das
primeiras transmissões
vocais significativas, as
primeiras sílabas, seguindo
pela duplicação de sílabas,
palavras, frases simples
e frases complexas para
desenvolver a pragmática e
a capacidade de entender o
significado dependendo do
contexto.

A teoria mais aceita da produção de fala hoje é a teoria


linear de fonte e filtro de produção da fala (FANT, 1960;
KENT; READ, 1992; PICKETT,1999).

Ela é baseada na acústica dos tubos. A vibração


inicial das cordas vocais gera a frequência
fundamental dos sons da linguagem, ou do F0.

Conheça a seguir as primeiras formantes da linguagem oral.

173
Capítulo 6 - Linguagem

Vibração inicial
A vibração inicial das cordas
vocais cria um som que atende
às características acústicas da
vibração de qualquer corda.
Quanto mais distantes estão
os harmônicos da frequência
fundamental, menor sua
amplitude.

Modo de
articulação
A coluna de ar, ao passar pelo
trato vocal, sofrerá certas
obstruções em diferentes
partes desse trato. A primeira
obstrução, conhecida como
modo de articulação, levará à
formação da primeira formante
(F1).

174
Capítulo 6 - Linguagem

Ponto de
articulação
A segunda obstrução, chamada
ponto de articulação, originará
a segunda formante (F2), e a
posição da ponta da língua
gerará a terceira formante (F3).

Portanto, para cada fonema da


linguagem, temos formantes
características a certa distância uma
da outra. Para uma discriminação
fonológica adequada, é necessário
reconhecer as formantes de cada
fonema e a distância relativa entre
elas. A mais grave é sempre a
frequência fundamental.

Quanto mais distante da frequência fundamental,


menor a amplitude da formante. Então, de
maior intensidade para menor intensidade,
encontramos as formantes da linguagem: F0, F1,
F2, F3, F4 e F5.

175
Capítulo 6 - Linguagem

Espectro do som emitido

Formante

Intensidade

Frequência

Discriminação dos sons


da fala
A linguagem é caracterizada por sua percepção categórica.
Isso significa que, desenvolvendo a consciência fonológica,
aprendemos a atribuir cada fonema a uma categoria ou outra.

Um dos fenômenos que dá mais complexidade


à linguagem é a coarticulação dos fonemas
organizados em uma sílaba.

176
Capítulo 6 - Linguagem

A sílaba supõe, na maioria dos casos, a articulação conjunta


de dois ou mais fonemas emitidos em um único golpe de
voz. A sílaba é composta por sons de vogais e consoantes.
Os sons das vogais constituem o núcleo da sílaba, e, ao
redor deles, os sons consoantes são articulados.
Mas, afinal, o que isso significa?
Isso significa que, toda vez que articulamos um som
consoante, a articulação muda dependendo da vogal. A
sonoridade de um fonema depende de sua articulação;
portanto, se a articulação mudar, a sonoridade também
mudará. Esse fenômeno é conhecido como alófono, ou
variante alofônica.

177
Capítulo 6 - Linguagem

Portanto, quando a criança constrói sua


consciência fonológica, ela deve ser capaz de
realizar um processo de redução da variante
alofônica para atribuir cada fonema à categoria
que pertence.

Vamos exemplificar!
Os fonemas /n/ das palavras [cana] e [canta] soam
diferentes, mas a criança, que desenvolve corretamente sua
consciência fonológica, aprende que ambos pertencem à
mesma categoria: fonema /n/.

Ouvir, escutar e entender


Os fonemas são classificados por seu
modo articulatório, seu ponto articulatório
e sua sonoridade.

Dependendo da natureza de cada fonema, sua discriminação


é feita por meio de diferentes características acústicas. Por
exemplo, no caso de consoantes fricativas, a discriminação
é realizada pelas diferenças de frequência.

178
Capítulo 6 - Linguagem

Voice onset time

Início da vibração Início da vibração

Explosão do som Explosão do som

Tempo Tempo

No caso de consoantes oclusivas, a discriminação do


contraste surdo/sonoro é realizada por meio do VOT – sigla
em inglês para voice onset time, que significa tempo de
início – e pela transição de formantes, quando discriminam
por ponto de articulação.

O tempo de início da voz (VOT) é uma pista


acústica de baixa intensidade e curta duração que
encontramos no início das consoantes oclusivas
sonoras e que é o resultado da vibração inicial
das cordas vocais antes da articulação. Essa pista
não existe em consoantes oclusivas surdas.

Mas atenção!

179
Capítulo 6 - Linguagem

Se o sistema auditivo não é capaz de perceber


sinais de baixa intensidade, transição rápida
e curta duração, não consegue de processar
o contraste surdo/sonoro, e o som é percebido
como surdo.

Por esse motivo, os sons sonoros são confundidos pelos


surdos, e não vice-versa, pois confundir um som surdo com
um som sonoro significaria perceber um sinal que não foi
emitido na articulação.

A discriminação por ponto de articulação de consoantes


oclusivas é realizada pela transição de formantes.

180
Capítulo 6 - Linguagem

A coarticulação envolve a emissão de um conjunto de


fonemas em um único golpe de voz (sílaba). Portanto, a
coarticulação envolve encadear um conjunto de fonemas
durante a articulação, gerando uma cadeia de sons
interligados.
Cada fonema possui certos formantes que serão
encadeados aos formantes do próximo fonema. Por exemplo,
considerando a sílaba [ba], vemos que:

• F1 do fonema /b/ está ligada à F1 do fonema /a/;


• F2 do fonema /b/ está ligada à F2 do fonema /a/;
• F3 do fonema /b/ está ligada à F3 do fonema /a/.

Frequência (KHz)

/ba/ /da/ /ga/

f3

40 ms 260 ms

f2
f1

Tempo ( ms)

A transição de formantes é uma faixa acústica


de curta duração e baixa intensidade que
encontramos entre os formantes durante a
coarticulação. No contraste entre as sílabas /ba/,
/da/ e /ga/, dependendo da consoante inicial, a
transição dos formantes será uma pista acústica
que modula o som de grave para agudo ou
agudo para grave.

181
Capítulo 6 - Linguagem

Se o sistema auditivo não é capaz de perceber


sinais de baixa intensidade e curta duração,
não consegue processar a pista acústica entre
as formantes, não sendo possível discriminar
corretamente as consoantes oclusivas por ponto
de articulação.

Aqui, finalizamos os aspectos relacionados à linguagem


oral. Agora, sigamos para o que diz respeito à linguagem
escrita.

Processamento da
linguagem escrita
A linguagem escrita é o avanço cultural mais importante
da humanidade. Atualmente, todo o conhecimento é
armazenado em forma escrita, impressa em papel ou
em formato digital. Portanto, é por meio da leitura que
acessamos o conhecimento.

Como vimos no capítulo 2 – Acústica, o som não


tem permanência no espaço ou no tempo, no
entanto, a linguagem escrita permanece devido
ao símbolo gráfico que representa o som.

182
Capítulo 6 - Linguagem

As primeiras representações gráficas do som da


linguagem têm aproximadamente 9.000 anos,
mas poderíamos considerar muito mais que isso.
As pinturas rupestres que nossos ancestrais
pintaram nas cavernas, por exemplo, poderiam
ser consideradas como uma das primeiras
formas de linguagem escrita. Por meio dessas
pinturas, medos, desejos e informações foram
transmitidos.

Os símbolos evoluíram muito desde as primeiras


representações gráficas até o presente. Por exemplo, nos
hieróglifos egípcios, o símbolo representava uma ação. Em
outras línguas o símbolo exprimia a palavra, a sílaba ou o
fonema. Esse significado representado pelo símbolo é a
unidade, que foi cada vez mais reduzida.

183
Capítulo 6 - Linguagem

Nesse sentido, podemos classificar línguas de várias


maneiras. Uma das classificações é aquela que podemos
fazer com base na simbologia. Nesse caso, a classificação
será baseada em se a língua é alfabética ou ideográfica.

São aquelas nas quais o


símbolo corresponde a
um som, como na língua
portuguesa, e podem
ser classificadas pela
concordância entre a forma
oral e a escrita.

184
Capítulo 6 - Linguagem

São aquelas nas quais o


símbolo corresponde a
uma sílaba ou uma palavra,
como são os idiomas chinês,
japonês e outras variações
deles.

A classificação das línguas alfabéticas pela concordância


entre a forma oral e a escrita nos permite distinguir entre
idiomas de ortografia superficial e idiomas de ortografia
profunda.

Línguas ortográficas superficiais ou


transparentes são aquelas nas quais existe
Ortografia
uma alta correspondência entre as formas oral
superficial e escrita. Espanhol ou finlandês são idiomas
com esse tipo de ortografia.

Ao contrário das línguas ortográficas


superficiais ou transparentes, idiomas
Ortografia
de ortografia profunda têm pouca
profunda correspondência entre as formas oral e escrita,
como o inglês, por exemplo.

Entre os dois extremos, as línguas são distribuídas como


um continuum que vai do mais superficial ao mais profundo.
No centro desse continuum, encontramos o português,
que não podemos considerar uma linguagem de ortografia
superficial ou ortografia profunda.

185
Capítulo 6 - Linguagem

Línguas ortográficas superficiais Línguas ortográficas profundas

Espanhol
Português Inglês
Finlandês

A classificação segundo a concordância entre a forma oral e


a escrita pode condicionar o método de ensino da leitura.

Se considerarmos a importância da consciência


fonológica na aprendizagem da leitura, o método
fônico favorece mais a consciência fonológica,
de modo que, nas línguas com ortografia
superficial, o método fonológico é o mais
recomendável.

186
Capítulo 6 - Linguagem

Ouvir, escutar e entender


Nas línguas de ortografia profunda, o
método fonológico não pode ser usado,
e devemos aplicar o método global para
a alfabetização. Sem dúvida, em línguas
com ortografia superficial, o aprendizado
da leitura é mais simples, dentro de sua
complexidade.

Vias neurológicas da escrita


O sistema nervoso central é responsável por todas as
habilidades que o ser humano é capaz de executar. Podemos
classificar essas habilidades entre adquiridas e aprendidas.

Habilidades adquiridas
As habilidades adquiridas são
aquelas para as quais o ser humano é
geneticamente disposto, e, portanto,
sua origem é biológica.

Habilidades aprendidas
As habilidades aprendidas são aquelas
para as quais o ser humano não está
geneticamente disposto, e, portanto,
sua origem é cultural.

187
Capítulo 6 - Linguagem

O critério para essa classificação baseia-se no fato de que,


para aquelas habilidades para as quais o ser humano é
geneticamente disposto, existem áreas no cérebro para seu
desenvolvimento e função.
Já aquelas habilidades para as quais o ser humano não
é geneticamente capacitado, mas que a aprendizagem
permitiu seu desenvolvimento, devem reciclar áreas cerebrais
inicialmente desenvolvidas para outras habilidades.

É o caso da leitura, que deve reciclar as áreas


cerebrais da linguagem para sua execução.

.
ABC..
ABC...

A primeira das áreas neurológicas relacionadas à leitura é a


área da forma visual das palavras no hemisfério esquerdo.
No entanto, essa área do cérebro é originalmente destinada
ao reconhecimento de objetos, rostos e formas geométricas.

188
Capítulo 6 - Linguagem

Dehaene (2007) diz que a prática da leitura transforma


essa área no aspecto especializado no reconhecimento das
letras, das séries de letras e dos morfemas mais frequentes.
Além disso, essa é a área que permite discriminar a palavra
de estímulos semelhantes e assimilar outros estímulos à
forma visual das palavras. Uma vez que reconheçamos as
letras, deveremos conectar a área visual das palavras às
áreas da linguagem oral para começar a ler.

189
Capítulo 6 - Linguagem

Ouvir, escutar e entender


Um requisito indispensável para a leitura
é ter consciência fonológica construída. No
entanto, a criança não tem consciência de
sua consciência fonológica até começar a
ler.

Até agora, para a criança, a menor unidade de linguagem é a


sílaba. Com a leitura, ela descobre que a palavra [bola], que
até então era assinada por dois sons /bo/ e /la/, é composta
de quatro sons /b/, /o/, /l/ e /a/, aos quais você deve atribuir
uma ortografia específica.

Giro angular

A primeira fase da leitura consiste no reconhecimento das


letras. Para que isso seja possível, é necessário conectar a
área da forma visual das palavras à área da linguagem (área
de Wernicke) no hemisfério esquerdo. O giro angular é o
feixe de fibras que conecta a área visual das palavras com a
área de Wernicke.

190
Capítulo 6 - Linguagem

Essa conexão dá origem aos dois caminhos da leitura,


que seguem os mesmos princípios que as duas áreas da
linguagem.

É a via crítica na aquisição da leitura, na


decodificação fonológica, na conversão
grafema-fonema e na leitura de novas palavras
Rota dorsal ou e pseudopalavras, portanto, a via da leitura
subléxica sem acesso ao significado; a rota de aprender
a ler. Uma vez que a exposição repetida ao
mesmo estímulo permite o reconhecimento
global da palavra, a leitura muda de rota.

É o caminho que permite que a palavra seja


identificada como um todo (leitura global);
Rota ventral ou
o caminho da leitura de palavras familiares,
lexical o processamento semântico e, portanto, o
caminho da leitura com acesso ao significado.

Ortografia e dislexia
Ortografia

Um aspecto importante da escrita é a ortografia. Dependendo


da associação ortografia/som, podemos classificar a ortografia
como arbitrária e não arbitrária.

191
Capítulo 6 - Linguagem

Ortografia arbitrária

A ortografia arbitrária é aquela em que o som não se


altera quando alteramos a ortografia. Exemplo: sessão
e seção.

Ortografia não arbitrária

A ortografia não arbitrária é aquela em que o som se


altera quando alteramos a ortografia. Exemplo: caça e
casa.

Ouvir, escutar e entender


Erros na ortografia arbitrária são causados
por problemas de memória visual, ou seja,
devemos lembrar como escrever a palavra
porque o som, por si só, não nos diz qual
é a grafia correta. Erros na ortografia não
arbitrária são devidos ao processamento
auditivo, pois, se modificarmos a ortografia,
o som mudará.

Dislexia
Dentro dos problemas de leitura e escrita, devemos fazer
uma menção específica à dislexia.

192
Capítulo 6 - Linguagem

A dislexia compartilha
sintomas com outros
problemas de alfabetização,
mas a diferença mais
importante é que a criança
que sofre de dislexia, e
não de um problema de
alfabetização, dificilmente
superará os sintomas e
sempre apresentará sérias
dificuldades na leitura e na
escrita.

Uma das referências mais antigas à dislexia é de 1896. Dr.


Walter Pringle Morgan descreveu um adolescente de 14
anos com inteligência normal incapaz de aprender a ler ou
escrever. Sem estar ciente disso, o profissional definiu a
dislexia.

Ouvir, escutar e entender


Atualmente, além da inteligência normal,
devemos acrescentar que o sujeito
diagnosticado tenha condições sociais,
econômicas e culturais que permitam o
acesso à leitura.

193
Capítulo 6 - Linguagem

Temos dois tipos de dislexia. Vamos identificá-los:


• A dislexia do desenvolvimento aparece durante o
aprendizado da leitura e da escrita.
• A dislexia adquirida ocorre depois de aprender a ler e
a escrever por causa de trauma ou doença.

A base biológica da dislexia está centrada na


genética. Como consequência de alterações
genéticas, o desenvolvimento neurológico sofre
as alterações presentes em indivíduos disléxicos.
Durante a migração neuronal na gestação, o giro
angular não se formou.

CÉREBRO SEM DISLEXIA X CÉREBRO COM DISLEXIA LENDO

SEM DISLEXIA

ÁREA PARIETAL TEMPORAL


Normalmente, o leitor iniciante
usa essa área em combinação
com a área de Broca para,
lentamente, analisar novas
palavras.

ÁREA DE BROCA

ÁREA PARIETAL
OCCIPITAL TEMPORAL
Essa é a área da forma da palavra
do cérebro. Para a maioria das
pessoas, quando a palavra é lida
várias vezes, o cérebro faz um
modelo neural que inclui soletrar,
pronunciar e interpretar o
significado da palavra.

194
Capítulo 6 - Linguagem

COM DISLEXIA

ÁREAS NÃO ATIVADAS

ÁREA DE BROCA
Essa é a área que processa a
articulação e, geralmente, nos
ajuda a conectar os sons às
letras. Observe o lado maior.
Essa área está sendo utilizada
para compensar.

O giro angular é um feixe de fibras que conecta a área


visual das palavras (lobo occipital) com a área de Wernicke
(lobo temporal). Como consequência disso, no cérebro
de indivíduos disléxicos não encontramos diferença no
tamanho dos hemisférios, no entanto, diferenças anatômicas
são encontradas no cerebelo e problemas no sistema visual
magnocelular também podem ser evidenciadas.

Classificação
Rastle e Colheart (2000) classificaram a dislexia em três
aspectos:

195
Capítulo 6 - Linguagem

Dislexia fonológica

Baseia-se principalmente na incapacidade de


usar a via subléxica na leitura, em dificuldades na
conversão grafema-fonema e na dificuldade na
leitura de pseudopalavras e palavras desconhecidas.
A dificuldade em ler palavras desconhecidas ou
pseudopalavras está baseada no tamanho ou no
número de sílabas. A leitura frequente de palavras é
afetada pelo número de sílabas ou pela frequência
de apresentação, e os erros mais frequentes
nesses casos são paralexias visuais, confundindo
uma palavra por outra devido à sua semelhança,
derivações morfológicas (ler a parte inicial da
palavra e errar na leitura da derivação morfológica),
decifração parcial da palavra (ler a raiz da palavra,
mas não sua derivação morfológica) e erros por
informações contextuais (ler outra palavra que por
contexto faz sentido na frase).

Dislexia superficial

Caracterizada pela incapacidade de usar a via lexical.


Todas as palavras são decodificadas, sejam elas
conhecidas ou não. Assim, a leitura é muito lenta, não
há diferença entre ler palavras e pseudopalavras, e
condicionada pelo comprimento das palavras.

Dislexia mista

Caracteriza-se pela combinação dos tipos de


alterações vistos nos aspectos anteriores.

196
Capítulo 6 - Linguagem

Para compreender melhor a dislexia


Diferentes hipóteses tentaram explicar a dislexia. Conheça
algumas delas:

A hipótese do déficit fonológico entende


a dislexia como um déficit específico do
processamento fonológico e é avaliada com
pseudopalavras da seguinte forma:
• Se apresentar dificuldades na leitura de
Déficit fonológico pseudopalavras, mas não na leitura de
palavras conhecidas, a via subléxica foi
afetada.
• Se não houver diferença entre ler
palavras conhecidas e pseudopalavras,
o caminho lexical foi afetado.

A hipótese da percepção visual concentra-


se nas dificuldades causadas por fixações e
Percepção visual
movimentos sacádicos que dificultariam a
leitura.

A hipótese da velocidade de processamento


Velocidade de
é baseada nos processamentos visual e
processamento auditivo lentos.

A hipótese do processamento temporal


Processamento refere-se à dificuldade em processos
temporal sequenciais visuais e auditivos com curtos
intervalos de tempo.

197
Capítulo 6 - Linguagem

A hipótese de automatização concentra-


se na dificuldade de converter processos
Automatização
repetitivos em processos automáticos,
afetando fundamentalmente o cerebelo.

A hipótese de duplo déficit é baseada em


Duplo déficit dificuldades fonológicas e de velocidade de
processamento.

A hipótese mais captada atualmente é a hipótese


fonológica. Ela é baseada na dificuldade de
decompor a palavra foneticamente. Indivíduos
com dislexia não desenvolveram sua consciência
fonológica corretamente, razão pela qual não
conseguem estabelecer da maneira certa a
relação grafema-fonema exigida pela leitura.

198
Capítulo 6 - Linguagem

Encerramento
Neste capítulo, vimos que a linguagem é uma habilidade,
um código de comunicação baseado no som, característica
do ser humano, e necessita de estímulos do ambiente para
excitar e estruturar os circuitos cerebrais que darão suporte
ao seu desenvolvimento.

Os diferentes níveis de análise da linguagem


variam desde a menor unidade, o fonema, até
a maior unidade, o discurso, e, se o sistema
auditivo não é capaz de perceber sinais de baixa
intensidade, transição rápida e curta duração,
não consegue processar as pistas acústicas
corretamente.

199
Capítulo 6 - Linguagem

Vimos que o som não tem permanência no espaço ou no


tempo. No entanto, a linguagem escrita foi um dos avanços
culturais mais importantes da humanidade, pois permitiu a
preservação do som no espaço e no tempo.

É por meio da leitura que acessamos o


conhecimento.

E, por fim, observamos que indivíduos com dislexia não


desenvolveram sua consciência fonológica corretamente,
razão pela qual não conseguem estabelecer da forma certa
a relação grafema-fonema exigida pela leitura.

200
Capítulo 7
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Síndromes
generalizadas do
desenvolvimento
Transtorno global do desenvolvimento (TGD), ou distúrbio
abrangente do desenvolvimento (PDD, em inglês), é uma
categoria que engloba os transtornos caracterizados por
atraso simultâneo no desenvolvimento de funções básicas,
como socialização e comunicação em geral.

202
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Os transtornos globais do desenvolvimento são:

• autismo;
• síndrome de Rett;
• transtorno desintegrativo da infância;
• transtorno global do desenvolvimento sem outra
especificação, que inclui (ou também é conhecido
como) autismo atípico.

O mais conhecido deles, o transtorno do


espectro do autismo (TEA), é um distúrbio do
desenvolvimento cerebral caracterizado por
interação social e comunicação debilitadas além
de uma gama limitada de interesses e atividades.

O TEA é o TGD mais característico e o que foi mais


bem estudado – é por essa razão que o abordaremos
neste capítulo. Aqui, nossa conversa será sobre as
características do TEA e como se dá o processamento
auditivo em crianças com essas características. Ao f inal,
você será capaz de:

Compreender a influência da audição na conduta das


crianças com TEA e TGD.

203
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Transtorno do espectro
do autismo (TEA)
O autismo é um distúrbio de origem desconhecida. No
entanto, alguns estudos fornecem dados para a existência
de um componente genético, e muitos deles demonstram a
participação de diferentes genes.

Por esse motivo, a categoria TEA envolve muitos subtipos


clínicos que diferem em termos de herança genética, fatores
ambientais e manifestações clínicas.

204
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Reprograme
Podemos afirmar, então, que indivíduos
com TEA possuem uma condição clínica
complexa de herança multifatorial.

Segundo as estatísticas apresentadas pelo Centro de


Controle e Prevenção de Doenças (CD) dos Estados Unidos,
a incidência de TEA tem aumentado nos últimos anos. Em
2000, encontramos um autista a cada 1.150 nascidos, e,
em 2014, esse número passou para um a cada 59 nascidos.
Veja o aumento gradativo ao passar dos anos:

1 a cada 1.150 1 a cada 68


nascidos nascidos

2000 2008 2012 2014

1 a cada 88 1 a cada 59
nascidos nascidos

205
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Entre aqueles que são diagnosticados como portadores


de TEA, encontramos diferentes variedades de sintomas e
características:

Autismo precoce típico


O autismo precoce típico aparece antes
dos 12 meses de idade.

Autismo regressivo tipo I


O autismo regressivo tipo I envolve a
perda de habilidades adquiridas após um
desenvolvimento típico.

Autismo regressivo tipo II


O autismo regressivo tipo II envolve a perda de
habilidades após o desenvolvimento atípico.

206
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Diagnóstico
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (2013), os critérios diagnósticos do
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) são baseados
em padrões restritivos e repetitivos de comportamento,
interesses ou atividades. Esses comportamentos devem
manifestar-se, atualmente ou no passado, em dois ou mais
dos seguintes pontos.
Os exemplos são ilustrativos, mas não exaustivos. Observe:

Movimentos, uso de objetos ou discurso


estereotipado ou repetitivo
Estereótipos motores simples, alinhamento de
brinquedos ou mudança de local de objetos,
ecolalia, frases idiossincráticas.

Insistência em monotonia, inflexibilidade


excessiva de rotina ou padrões ritualizados
de comportamento verbal ou não verbal
Grande angústia diante de pequenas mudanças,
dificuldades com transições, padrões de
pensamento rígido, rituais de saudação, precisam
seguir o mesmo caminho ou comer os mesmos
alimentos todos os dias.

Interesses muito restritos e fixos que


são anormais em termos de
intensidade ou foco de interesse
Forte apego ou preocupação com objetos
incomuns, interesses excessivamente
circunscritos ou perseverantes.

207
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Hiper ou hiporreatividade a estímulos


sensoriais ou interesse incomum em
aspectos sensoriais do ambiente
Indiferença aparente à dor/temperatura, resposta
adversa a sons ou texturas específicas, cheiração
ou palpação excessiva de objetos, fascínio visual
por luzes ou movimento.

Sintomas

Os sintomas devem estar presentes nos estágios


iniciais do período de desenvolvimento, mas
podem não se manifestar completamente até que
a demanda social exceda as capacidades limitadas,
ou podem ser mascarados pelas estratégias
aprendidas nas fases posteriores da vida.

Esses sintomas causam uma deterioração clinicamente


significativa nas áreas sociais e ocupacionais ou em outras
esferas importantes do funcionamento habitual.

208
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Essas alterações não são mais bem explicadas pela


deficiência intelectual (distúrbio do desenvolvimento
intelectual) ou pelo atraso global do desenvolvimento. A
deficiência intelectual e o distúrbio do espectro do autismo
geralmente coincidem.

Ouvir, escutar e entender


Para diagnosticar comorbidades de um
transtorno do espectro do autismo e
deficiência intelectual, a comunicação social
deve estar abaixo do esperado para o nível
geral de desenvolvimento.

Processamento
auditivo nas crianças
com TEA
Indivíduos com TEA apresentam graves dificuldades nos
seguintes aspectos:

• linguagem;
• relações sociais;
• resposta a estímulos sensoriais.
Independentemente do nível de gravidade que possam
manifestar nas diferentes alterações, esses sujeitos
apresentam um denominador comum: a incapacidade de
desenvolver o pensamento simbólico.

209
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Ouvir, escutar e entender


Sem essa capacidade, é impossível:
• desenvolver a linguagem;
• entender os estados emocionais de
outras pessoas;
• antecipar o que pode acontecer se
modificamos nosso comportamento.

Sair da rotina e aventurar-se fazendo algo


diferente é um desafio e tanto para um autista.

Certamente, alguns
indivíduos com TEA podem
criar seus próprios sistemas
de comunicação, mas não
são capazes de aprender
um código de comunicação
criado por terceiros e que
seja comum a outros.

210
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Hipoaudição e hiperaudição

A relação entre o TEA e a estimulação neuroauditiva está na


percepção sensorial desses indivíduos. Nessas pessoas, os
canais sensoriais são afetados, seja por excesso de resposta,
seja pela falta delas. Portanto, temos um continuum que vai
da hipoaudição à hiperaudição.

A hipoaudição está relacionada às alterações


fisiológicas que afetam o sistema auditivo
Hipoaudição periférico, ou seja, alterações no canal
auditivo externo (CAE) e problemas na orelha
média ou no nível coclear.

A hiperaudição está relacionada à


sensibilização. Além disso, o exame
eletrofisiológico mostrou que indivíduos com
Hiperaudição TEA apresentam alterações nas ondas P50,
N100, P200, MMN e P300, o que mostra uma
clara alteração do processamento auditivo
nesses pacientes.

As reações mais comuns em relação às alterações sensoriais


relacionadas à hipoaudição e à hiperaudição são:

211
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

x
Hipoaudição Hiperaudição

• Isolar-se.
• Provocar sons intensos e rítmicos.
• Tampar os ouvidos.
• Romper objetos que fazem ruído.
• Assustar-se com facilidade.
• Aproximar-se da fonte sonora.
• Aparentar falsa surdez.
• Ter preferência por ambientes
ruidosos e reverberantes.
• Ouvir sons aparentemente inexistentes.
• Ter medo de sons agudos.

• Ter medo de lugares com reverberação.

• Autoestimulação: balançar-se, gritar,


provocar sons.

Associação multimodal
Indivíduos com TEA também apresentam alterações nas
áreas de associação multimodal.

212
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Eles possuem sérias dificuldades em processar


simultaneamente a mesma informação por meio de
diferentes canais sensoriais, por exemplo, ver e ouvir ao
mesmo tempo.

Alterações no eixo
corticotalâmico esquerdo

Córtex auditivo primário

Núcleo geniculado medial

Colículo inferior

213
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Sabe-se ainda que esses indivíduos apresentam


alterações no eixo corticotalâmico esquerdo, modificando a
comunicação entre o tálamo e o córtex esquerdos.

Esse fato nos permite entender as ecolalias e o


déficit nas linguagens receptiva e expressiva.

A falta de comunicação Em contrapartida,


entre o tálamo esquerdo e portadores de TEA
o córtex esquerdo reduz a possuem grande
capacidade das capacidade de linguagens
expressiva e receptiva
linguagens expressiva e
receptiva, bem como da relacionadas ao
hemisfério direito,
maioria das funções
relacionadas à linguagem principalmente
habilidades musicais.
no hemisfério esquerdo.

Estereotipias
A estereotipia é uma das maneiras mais comuns de
indivíduos com TEA controlarem a ansiedade gerada por
distúrbios sensoriais.

214
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Ouvir, escutar e entender


Estereotipias são respostas motoras
repetitivas que permitem ao sujeito com
TEA se libertar da ansiedade gerada por
distúrbios sensoriais.

Entre as estereotipias, as mais comuns são agitar as mãos


e balançar-se, gritar e provocar sons. Entenda melhor o
porquê de cada uma:

Agitar as mãos
(flapping)
Diminuir a ansiedade
ativando a resposta
periférica do sistema visual.

215
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Balançar-se
Balançar-se ativa o sistema
vestibular, que reduz
a resposta do sistema
auditivo.

Gritar
Os gritos, por sua
vez, ativam o reflexo
estapediano, de forma
que a resposta do sistema
auditivo também é
reduzida.

216
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Provocar sons
A criança produz sons mais
intensos para mascarar
sons do ambiente.

Esses comportamentos têm dois denominadores


em comum:
• Primeiro: a agressão que o som gera no sujeito
com TEA é reduzida.
• Segundo: todos os comportamentos são
controlados pelo próprio sujeito.

217
Capítulo 7 - Síndromes generalizadas do desenvolvimento

Encerramento
Um ponto-chave para compreendermos a relação dos
transtornos generalizados de desenvolvimento, como o
TEA, com o processamento auditivo é entender que o
desenvolvimento motor facilita o sensorial, e, por sua vez, o
desenvolvimento sensorial facilita o motor, como vimos no
capítulo 3 – Processamento auditivo.

Desenvolvimento Desenvolvimento
motor sensorial

Por esse motivo, quando ocorrem alterações no


sistema motor, elas são refletidas no sistema
sensorial.

Crianças com maior distúrbio no sistema motor e,


portanto, maiores dificuldades de mobilidade apresentam
mais hipersensibilidade ao som, e indivíduos com menor
comprometimento da mobilidade apresentam menos
hipersensibilidade ao som.

218
Referências Bibliográficas

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