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Funções Cognitivas e seu Papel no Desenvolvimento do Ser
Humano e da Aprendizagem
Patrícia Botelho

Inicialmente o método utilizado para compreender a mente humana foi a

introspecção baseada em conceitos e análises filosóficas. Posteriormente, a
psicologia experimental passou a investigar a mente humana por análise
empírica. Surgiu então o interesse pelo comportamento, como este é
modificado pelo aprendizado e como funções cognitivas como atenção e
memória se relacionam com estes processos, dando origem a escola do
behaviorismo. Neste ponto o estudo na mente foi deixado de lado, e o foco era
o estudo somente de comportamentos observáveis. Os psicólogos incialmente
tentaram compreender o comportamento apenas por meio de mecanismos
comportamentais, desconsiderando a importância dos mecanismos mentais.
Neste ponto, surge a psicologia cognitiva argumentando que o behaviorismo se
limitava sobre a compreensão do mundo pelo ser humano. A psicologia
cognitiva traz à tona questões relacionadas a compreensão de que para
processar estímulos do ambiente é necessário tanto um aparato biológico,
quanto um aparato mental que organiza sistemas de processamentos da
informação no encéfalo. A partir disso, surge a neurociência cognitiva que torna
possível a compreensão e a identificação entre a combinação de áreas
cerebrais e funções cognitivas especificas. (Kandel, 2014).
A neurociência, então, possibilita a compreensão de que o cérebro
processa as informações do ambiente por meio de mecanismos e processos
neurais específicos que possibilitam o desenvolvimento da aprendizagem e
aquisição do conhecimento por meio da cognição. Sendo assim, a cognição
pode ser compreendida como processos de conhecimento sobre o mundo em
que extraindo sentindo sobre deste e tomando decisões sobre ações
necessárias a serem tomadas, podendo ser descrita como uma ponte entre o
cérebro e o ambiente (Eysenck & Keane, 2017; Fonseca, 2014; Orsati et al.
2015).

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 A neuropsicologia surge então como uma área buscando compreender
os processos cognitivos em pacientes com lesões ou alterações cerebrais
visando compreender os processos cognitivos preservados (Kandel, 2014).
Sendo assim, as funções cognitivas permitem ao ser humano não só
obter conhecimento sobre o mundo, mas também interagir com ele de maneira
adaptativa.

Mas Qual a Relação Entre o Funcionamento do Cérebro e a Cognição?

A neuropsicologia cognitiva se preocupa em compreender como o
cérebro e seu funcionamento estão associados à expressão das funções
cognitivas. Historicamente pacientes com lesão cerebral foram descritos com
alterações cognitivas. Porém, atualmente se sabe que também diferenças no
padrão de ativação cerebral estão relacionadas com alterações no
desempenho cognitivo. Quando o funcionamento cerebral está alterado o
desempenho pode ser compensado por meio de estratégias cognitivas
compensatórias até que o sistema neural se torne muito disfuncional ou as
demandas de desempenho se tornem muitos grandes e estas estratégias não
sejam mais eficazes. Assim, um problema ou dificuldade pode existir de
maneira subjacente, mas não se manifestar por meio do comportamento até
que as demandas acadêmicas com a evolução da escolarização excedam a
capacidade de compensação da criança, por exemplo. O fato é que quanto
mais cedo uma dificuldade ou um transtorno for detectado, melhor será o
prognóstico e proporcionar melhores condições ambientais de estimulação
cognitiva. Afinal, nosso cérebro apresenta grande plasticidade e se desenvolve
a partir da experiencia (Diamond & Amso, 2008).

Como Funciona o Sistema Cognitivo e Como ele é Formado?

O sistema cognitivo é responsável por uma tríade de processos que vão
desde o input da informação do ambiente (entrada da informação), o
processamento e armazenamento, e pôr fim a programação das unidades de
saída da informação (Fonseca, 2014). Este sistema é formado por diferentes
habilidades cognitivas que auxiliam neste processo de aquisição do

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conhecimento e aprendizado. São elas: a inteligência, memória, atenção,
funções executivas, linguagem, percepção entre outras (Fonseca, 2014; Orsati
et al. 2015). A partir disso, podemos dizer que a aprendizagem ocorre por meio
de múltiplas habilidades e funções cognitivas que possibilitam a compreensão
do mundo e dos conceitos nele presente.
Em relação a classificação das funções cognitivas, podemos separar os
domínios cognitivos por meio dos processos gerais envolvidos, ou seja, por
meio de cada habilidade, ou podemos compreender as funções cognitivas
utilizando uma classificação hierárquica separando os domínios cognitivos por
complexidade dos processos. Com isso, podemos encontrar dois tipos de
processos: top down (cima para baixo) ou bottow up (baixo para cima). Os
processos bottow up, são processos básico e menos complexos, como os
processos sensoriais e perceptivos. Estes processos são afetados pela
produção do estímulo. Já os processos top down são mais complexos e
requerem um nível de processamento superior, bem como a coordenação de
múltiplas funções cognitivas como o raciocínio e a resolução de problemas,
como o funcionamento executivo. Além disso, dependem da expectativa e
conhecimento prévio do sujeito, não dependendo apenas do estímulo em si
(Eysenck & Keane, 2017; Harvey, 2019).

Mas Como Ocorre o Desenvolvimento Cognitivo?

Os estudos das neurociências são importantes para compreensão de
como o comportamento observável pode ser compreendido, bem como as
habilidades cognitivas se desenvolvem. A partir disso, a compreensão de que o
cérebro é plástico e de molda em diferentes fases da vida torna-se importante
para entender como as funções cognitivas podem se desenvolvem ao longo do
tempo. Pensando nisso, a maturação do sistema nervoso está relacionada com
um aumento da eficácia de processos cognitivos. Estes processos evoluem não
só a partir da biologia, mas também devido a experiencia vivenciada em cada
fase da vida. A descoberta da importância da experiência e seu poder maior
sobre o desenvolvimento cerebral e cognitivo, implicando também na
expressão gênica de fatores favoráveis ou não para um desenvolvimento

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cognitivo saudável. Diante disso, torna-se importante processos de prevenção
e estimulação precoces em ambientes saudáveis e que proporcionem melhores
condições de desenvolvimento (Diamond & Amso, 2008).
Portanto, a relação entre o desenvolvimento cerebral e os estímulos que
o ambiente proporciona é importante para garantir o desenvolvimento integral
das crianças. Já se sabe que mesmo após o desenvolvimento inicial, o cérebro
ainda é capaz de se modificar e aprender coisas novas. Trata-se da
plasticidade cerebral, que pode ser definida pela capacidade do cérebro de se
remodelar, adquirindo novas funções e habilidades por meio de experiências.
Porém, há alguns períodos do desenvolvimento, chamados de períodos
sensíveis, em que há maior probabilidade para que as habilidades cognitivas
possam ser estimuladas e desenvolvidas. Quando a habilidade é estimulada
nestes períodos, a chance de sucesso e aprimoramento cognitivo é maior
(CCNCPI, 2014). Sendo assim, os períodos sensíveis possibilitam a construção
de bases cognitivas e neurológicas importantes no início da vida. Porém,
podem ser considerados “janelas de vulnerabilidade a potenciais efeitos
nocivos do meio”, uma vez que caso o ambiente apresente-se desfavorável ao
desenvolvimento os prejuízos ao desenvolvimento se tornam grandes
(CCNCPI, 2014, p. 5). Um exemplo para este fato é a importância do toque
materno no início da vida. Bebês que receberam maior toque das figuras de
afeto, liberam mais hormônios do crescimento e ao longo da vida mostram
reações mais adequadas ao estresse, apresentam menores chances de
desenvolver depressão e melhor desenvolvimento das funções cognitivas
(Diamond & Amso, 2008). Além disso, fatores socioeconômicos podem
interferir significativamente no desenvolvimento cognitivo, desempenho escolar
e de aprendizagem. As habilidades por exemplo de linguagem e funções
executivas são muito afetadas por estas condições. (Engel de Abreu et al.,
2015).

Como são Avaliadas as Funções Cognitivas?

A avaliação neuropsicológica clínica busca identificar e caracterizar o
desempenho em domínios cognitivos. Cada domínio pode ser constituído por

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subdomínio que são habilidades que compõe o domínio principal. Os testes
neuropsicológicos buscam medir um ou mais dos subdomínios de cada
domínio cognitivo. As avaliações cognitivas têm por objetivo identificar padrões
e perfis de desempenho visando fornecer pistas sobre a complexidade e
amplitude de possíveis déficits funcionais e orientar o tratamento (Harvey,
2019).
A tabela a seguir apresenta algumas habilidades cognitivas, como são
avaliadas e prejuízos ou transtornos em que encontramos estes déficits. Outras
habilidades cognitivas serão discutidas ao longo dos próximos módulos.
Habilidade Definição Avaliação Prejuízo
Sensação e detectar um testes buscam Negligência:
Percepção estímulo verificar desatenção a
que ocorre em integridade um lado de um
uma das cinco sensorial. campo visual.
modalidades Percepção: Agnosia:
sensoriais testes com o incapacidade de
objetivo de reconhecer
verificar a objetos, sons,
capacidade de cheiros, gostos e
identificar um sensação táteis.
estímulo
Habilidades habilidades Testes de batidas Disfunção
motoras motoras finas, com os dedos, cerebral
velocidade motora tarefas de lateralizada
e pegboard,
habilidades mais avaliações da
globais, como força de
equilíbrio. preensão
Velocidade de processamento tarefas de esquizofrenia,
processamento cognitivo codificação depressão
que requerem um (codificação de grave, doenças
desempenho símbolos), mentais graves,

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 rápido de tarefas tarefas que Doença de
que variam desde requerem Parkinson,
muito desempenho cortical e
simples para rápido de tarefas frontoestriatal
complexo. simples (trilhas). condições
degenerativas.

Conclui-se com isso que as habilidades cognitivas são importantes para

o desenvolvimento integral dos indivíduos, uma vez que é por meio delas que
desenvolvemos nossa aprendizagem e conhecimento. As funções cognitivas se
desenvolvem por meio da experiencia e estímulos do ambiente. A avaliação
neuropsicológica cognitiva possibilita não só a compreensão de quando estes
processos não vão bem, mas também a compreensão do desenvolvimento
típico.

Referências Bibliográficas

ABREU, Engel de. P. M. J. et al. A pobreza e a mente: perspectiva da ciência

cognitiva. Walferdange: The University of Luxembourg, 2015.

COMITÊ Científico do Núcleo Ciência pela Infância (CCNCPI). O impacto do

desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem: estudo I. In:
NCPI. São Paulo, 2014. Disponível em:
https://ncpi.org.br/wp-content/uploads/2018/07/O-IMPACTO-DO-DESENVOLVI
MENTO-

NAPRIMEIRA-INFaNCIA-SOBRE-A-APRENDIZAGEM.pdf.
DIAMOND, Adele & AMSO, Dima. Contributions of Neuroscience to Our
Understanding of Cognitive Development. Curr Dir Psychol Sci; 17(2): 136–141.
doi:10.1111/j.1467-8721.2008.00563. x. (2008).

EYSENCK, Michael W. & KEANE, Mark T. Manual de psicologia cognitiva.

São Paulo: Artmed. (2017).

FONSECA, Vitor. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na

aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Rev. Psicopedagogia;
31(96): 236-53. (2014).

HARVEY, Philip D. Domains of cognition and their assessment. Dialogues

Clin Neurosci. 21(3):227-237. (2019). doi:10.31887/DCNS.2019.21.3/pharvey.

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KANDEL, Eric R. Das células nervosas à cognição: as representações
internas de espaço e ação. In: Kandel, E. R et al. Princípios de neurociência. 5ª
ed. Porto Alegre: AMGH. (2014).

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