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Acidentes por animais peçonhentos

Luiz Henrique Conde Sangenis


Acidentes Ofídicos:
ofidismo
Diagnóstico e Tratamento
CASOS DE INTOXICAÇÃO HUMANA POR AGENTE –
BRASIL (Sinitox)

Medicamentos
Animais Peçonhentos
Agrotóxicos
Domissanitários
Produtos Químicos Industriais
Animais não-peçonhentos
Raticidas
Plantas
Desconhecido
Drogas de Abuso
Outro
Cosméticos
Alimentos
Produtos veterinários
Metais

0 5000 10000 15000 20000 25000


EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES POR ANIMAIS
PEÇONHENTOS NO BRASIL
Acidentes ofídicos segundo o gênero de
serpente no Estado do Rio de Janeiro
3% 1%

96%

Período de 2003 a 2009: fonte SINAN


Identificação de serpentes peçonhentas

BOTHROPOIDES, BOTHROPS, CROTALUS


BOTHRIOPSIS, RHINOCEROPHIS

LACHESIS
MICRURUS
Identificação de serpentes peçonhentas

FOSSETA LOREAL
IDENTIFICAÇÃO DAS SERPENTES PEÇONHENTAS

1. OPISTÓGLIFAS (Não peçonhentas)


2. PROTERÓGLIFAS (Micrurus)
3. SOLENÓGLIFAS (Bothrops, Lachesis,
Crotalus)
4. CAUDA LISA (Bothrops)
5. CAUDA ERIÇADA (Lachesis)
6. CHOCALHO (Crotalus)
Serpentes não peçonhentas (Família
Dipsadidae) – Philodryas, Clelia
LETALIDADE DOS ACIDENTES OFÍDICOS POR
MACRO-REGIÃO
Geral: 1 morte em 200 casos
letalidade
1
0,84
0,8
0,63
0,6 0,53
0,45
0,4 0,33
0,25
0,2

0
NE CO N S SE BR
MACROREGIÕES

Letalidade por espécie: botrópico 0,43%, crotálico 0,87%, laquético 0,77%,


elapídico 0,4%
PRINCIPAIS ESPÉCIES E DISTRIBUIÇÃO

• ESPÉCIES e DISTRIBUIÇÃO

Bothropoides jararaca
(jararaca, jararaca
preguiçosa)
ESPÉCIES e DISTRIBUIÇÃO

Bothrops jararacussu - jararacuçu


ESPÉCIES e DISTRIBUIÇÃO

Bothrops moojeni (caiçaca)

Bothropoides neuwiedi (jararaca


pintada, jararaca do rabo branco)
ESPÉCIES e DISTRIBUIÇÃO

Bothropoides erythromelas

Rhinocerophis alternatus (urutu


cruzeira)
ESPÉCIES e DISTRIBUIÇÃO

Bothrops atrox
(jararaca do norte)

Bothriopsis bilineata
(cobra papagaio,
jararaca verde)
Crotalus durissus - CASCAVEL

C. d. ruruima

C. d. cascavel
C. d. colilineatus

C. d. terrificus

Cascavel de quatro ventas,


boicininga, maracambóia, maracá –
quatro subespécies
ESPÉCIES e DISTRIBUIÇÃO

Lachesis muta (surucucu, surucucu pico de jaca,


surucutinga, malha-de-fogo)
ESPÉCIES e DISTRIBUIÇÃO

Micrurus corallinus (coral,


coral verdadeira, boicorá)
ESPÉCIES e DISTRIBUIÇÃO

Micrurus frontalis

Micrurus lemniscatus
Atividade fisiopatológica dos venenos
ofídicos
VENENO ATIVIDADE EFEITO LOCAL EFEITO SISTÊMICO
botrópico •inflamatória •necrose tecidual •liberação de mediadores
•coagulante •lesão endotelial inflamatórios e subst. vasoativas
•hemorrágica •ativação da coagulação
•lesão endotelial
laquético •inflamatória •necrose tecidual •liberação de mediadores
•coagulante •lesão endotelial inflamatórios e subst. vasoativas
•hemorrágica •ativação da coagulação
•“neurotóxica” •lesão endotelial
•estimulação vagal
crotálico •neurotóxico •ausente •bloqueio neuromuscular
•miotóxico •rabdomiólise
•coagulante •ativação da coagulação
elapídico •neurotóxico •ausente •bloqueio neuromuscular
Diagnóstico clínico: acidente botrópico
Diagnóstico clínico: acidente botrópico
Diagnóstico clínico: acidente botrópico
Complicações: acidente botrópico
• abscesso, necrose, amputação
Complicações: acidente botrópico
• síndrome compartimental
Complicações: acidente botrópico
• hemorragias, hematúria
Complicações: acidente botrópico
Insuficiência renal aguda
Complicações: acidente botrópico
sequelas
Diagnóstico clínico: acidente crotálico
Diagnóstico clínico: acidente crotálico
 Face miastênica ou neurotóxica - Neurotoxina com bloqueio pré-
sináptico
Diagnóstico clínico: acidente crotálico
Complicações: acidente crotálico
• ação miotóxica -> rabdomiólise, mioglobinúria Insuficiência renal
• nefrite intersticial aguda
Complicações: acidente crotálico
• ação neurotóxica – Insuficiência respiratória
Diagnóstico clínico: acidente laquético
Complicações: acidente laquético

• abscessos
• hemorragias
• necrose
• amputação
• síndrome compartimental
• insuficiência renal
• estimulação vagal – hipotensão arterial, tonturas,
bradicardia, escurecimento visual, cólicas abdominais
e diarreia
Complicações: acidente laquético
sequelas
Diagnóstico clínico: acidente elapídico
Diagnóstico clínico: acidente elapídico
 Face miastênica ou neurotóxica – toxina com ação pós-sináptica e
algumas serpentes com as duas ações (pós e pré-sináptica)
 náuseas, vômitos, sudorese, ptose palpebral, oftalmoplegia,
dificuldade de deglutição, insuficiência respiratória (45 - 75 minutos)

• oftalmoplegia
Complicação: acidente elapídico
Insuficiência
respiratória aguda

• Obs: na ausência do soro


antielapídico, pode-se tentar
manter a função respiratória com
neostigmina e atropina IV
Fatores de risco para complicações
• demora em procurar socorro médico crianças e idosos

torniquete
incisões

extremidades
Conduta nos acidentes ofídicos

SIM
Conduta nos acidentes ofídicos

• acalmar a vítima
• verificar sinais vitais: pulso, PA, respiração, diurese
• determinar o tempo de coagulação (TC)

Normal: até 9 min


Prolongado: 10 a 30 min
Incoagulável: > 30 min
Diagnóstico laboratorial
• Hemograma – leucocitose com neutrofilia e
desvio à esquerda
• Coagulograma – plaquetopenia, TAP, PTT e INR
alargados
• VHS – elevado
• Uréia, creatinina, creatinofosfoquinase (CK),
TGO, LDH, troponina - elevadas
• Eletrólitos – hiperpotassemia (IRA),
hipocalcemia
• Urina – EAS
Tratamento geral dos acidentes
ofídicos
• Elevar o membro picado
• Retirar anéis e pulseiras
• Hidratação venosa – manter função renal
• Analgesia
• Lavar o local com água e sabão ou solução
degermante
• Profilaxia do tétano
• Antibiótico sistêmico profilático
(ceftriaxona, cefepima, gentamicina, amicacina,
ertapeném, meropeném )
Tratamento soroterápico dos acidentes
ofídicos
PREVENÇÃO
DOS
ACIDENTES
OFÍDICOS
REVISTA BRASILEIRA DE ZOOLOGIA
Acidentes por escorpiões:
escorpionismo
ESCORPIONISMO – ESPÉCIES e
DISTRIBUIÇÃO

Tityus cambridgei Tityus stigmurus

Tityus bahiensis
Tityus serrulatus
ESCORPIONISMO – Principais Espécies

Tityus serrulatus –
escorpião amarelo

Tityus bahiensis –
escorpião preto
EPIDEMIOLOGIA dos ACIDENTES
ESCORPIÔNICOS

• MAIOR Nº DE CASOS NAS REGIÕES NORDESTE e


SUDESTE (MG, SP)
• MAIOR INCIDÊNCIA NOS MESES QUENTES e
CHUVOSOS
• 65% DOS ACIDENTES ACOMETENDO A MÃO e o
ANTEBRAÇO
• T. serrulatus ENVOLVIDO NOS ACIDENTES DE
MAIOR GRAVIDADE PRINCIPALMENTE EM
CRIANÇAS
• A MAIORIA DOS CASOS SÃO BENÍGNOS
• LETALIDADE TOTAL DE 0,14% (1 caso em 700)
Tityus serrulatus –

• Acidentes mais graves


• Poder de adaptação aos ambientes
urbanos
• Multiplicação partenogenética
• Acidentes em expansão no Brasil
EPIDEMIOLOGIA dos ACIDENTES
ESCORPIÔNICOS POR REGIÃO
MECANISMO DE AÇÃO DO VENENO
ESCORPIÔNICO

Ativação de canais de Na+

Despolarização de terminações nervosas:


• Sensitivas

• Motoras

• SNA Simpático
Parassimpático
ACIDENTE ESCORPIÔNICO

Dor, eritema, edema


discreto e sudorese local

Escorpionismo grave – edema


agudo de pulmão
ACIDENTE ESCORPIÔNICO

• Complicações cardíacas
Arritmias, ICC aguda
ACIDENTE ESCORPIÔNICO – Exames
laboratoriais

• Rx de tórax – EAP, ICC


• ECG – taquicardia ou bradicardia, arritmias ->
ARV, BAV, SAE, SVE
• Hemograma – leucocitose e desvio para
esquerda
• Eletrólitos – diminuição do Na⁺ e do K⁺
• Amilase, CK e CK-MB elevadas nos acidentes
moderados e graves
ACIDENTE ESCORPIÔNICO – Tratamento geral
• Analgesia (dipirona, tramadol)
• Infiltração de lidocaína no local da
picada (dor refratária)
• Atropina EV no caso de BAV e
bradicardia
• Captopril VO ou nitroprussiato EV
na Hipertensão arterial
• O2, isossorbida SL, furosemida e
morfina no Edema agudo do pulmão
• Noradrenalina e dobutamina em
caso de Choque
• Casos graves - > UTI
ACIDENTE ESCORPIÔNICO – Quadro Clínico e
Tratamento Específico

CLASSIFICAÇÃO QUADRO CLÍNICO TRATAMENTO

LEVE
Dor, eritema, sudorese local Sintomáticos
(>90%)

Alterações locais + sistêmicas: SAE


MODERADO Agitação, sonolência, sudorese,
náuseas, vômitos, hipertensão
(<5%) arterial, taquicardia, taquipnéia. 2 - 3 amp. EV

Vômitos profusos, sialorréia,


sudorese profusa, agitação, SAE
GRAVE tremores, espasmos musculares,
(<5%) bradicardia, bradipnéia, alterações 4 - 6 amp.EV
de ECG, EAP, ICC, choque
PREVENÇÃO DO ACIDENTE ESCORPIÔNICO

• Manter a casa limpa, evitando acúmulo


de lixo
• Cuidado ao manusear tijolos, blocos e
outros materiais de construção
• Tampar buracos e frestas de paredes,
janelas, portas e rodapés
• Sacudir roupas, sapatos e toalhas antes
de usar
• Verificar a roupa de cama antes de
deitar, afastando a cama da parede
• Controlar a infestação por baratas
• Preservar os predadores naturais (sapos
e galinhas) dos escorpiões
ARANEÍSMO – Principais Espécies

Loxosceles –
Aranha-marrom

Latrodectus –
Viúva-negra
Phoneutria -
Armadeira
ARANEÍSMO – Distribuição de acidentes por
gênero – Brasil

Phoneutria
27,0% Não informado
29,9%

Loxosceles Outros
6,0%
36,6%
Latrodectus
Total de 6859 casos: 0,4%
4 acidentes / 100.000 hab
ARANEÍSMO – Distribuição dos casos por
gênero e por região - Brasil

Gênero N NE SE S CO
Phoneutria 1 6 2885 1912 5
Loxosceles 1 15 267 6224 5
Latrodectus 0 56 0 13 0
ARANEÍSMO – ACIDENTE por Phoneutria

• P. fera, P. reidyi - Norte


• P. nigriventer – GO, MS,
MG, RJ, SP, PR, SC, RS
• P. keyserfingi – ES, MG,
RJ, SP, PR, SC, RS
EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES POR
Phoneutria

 SAZONALIDADE: INCIDÊNCIA AUMENTA NOS


MESES DE ABRIL E MAIO (SUL E SUDESTE)

 REGIÃO ANATÔMICA DA PICADA: PREDOMÍNIO EM


EXTREMIDADES

 INTERVALO ENTRE PICADA E ATENDIMENTO:


INÍCIO PRECOCE DOS SINTOMAS

 CIRCUNSTÂNCIAS DO ACIDENTE: CALÇANDO,


LIMPANDO JARDIM, MANUSEANDO
FRUTAS/LEGUMES
MECANISMO DE AÇÃO DO VENENO de
Phoneutria

Ativação de canais de Na+

Despolarização de terminações nervosas:

• Sensitivas
• Motoras
Simpático
• SNA
Parassimpático
ACIDENTE POR Phoneutria – Quadro Clínico

Dor, Eritema e
Edema no local
da picada

Sinais da picada

Priapismo
ACIDENTE POR Phoneutria – Quadro clínico e
Tratamento
ACIDENTE POR Loxosceles

L. intermedia L. laeta

L. gaucho
EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTE POR Loxosceles

Sazonalidade: meses quentes (Sul e Sudeste)

Região anatômica da picada: predomina em


regiões centrais

Intervalo entre picada e atendimento:


aparecimento dos sintomas tende a ser mais
tardio

Circunstâncias do acidente: vestindo, dormindo


ACIDENTE LOXOSCÉLICO – Formas Clínicas
FORMA CUTÂNEA

MANIFESTAÇÕES GERAIS  edema local


endurado
 febre
 mal-estar  dor local
 exantema  equimose, isquemia
 vesícula, bolha
 necrose
FORMA CUTÂNEO-HEMOLÍTICA
 hemólise intravascular
 CIVD
 IRA
AÇÕES DO VENENO LOXOSCÉLICO

ESFINGOMIELINASE D

• Distruição do endotélio vascular


• Hemólise
• Ativação da cascata do complemento, da
coagulação e das plaquetas

• Inflamação no local da picada


• Obstrução de pequenos vasos
• Edema, hemorragia e necrose focal
ACIDENTE POR Loxosceles – Quadro Clínico
ACIDENTE POR Loxosceles – Quadro Clínico

Eritema, edema, lesões


hemorrágicas, isquemia,
equimoses e necrose
ACIDENTE LOXOSCÉLICO GRAVE – Forma
cutâneo-hemolítica

Exantema, necrose,
hemólise, icterícia,
hemoglobinúria
ACIDENTE POR Loxosceles – EXAMES
COMPLEMENTARES
• Forma cutânea: leucocitose com neutrofilia
• Forma cutâneo-visceral: anemia aguda,
plaquetopenia, reticulocitose,
hiperbilirrubinemia indireta, hipercalemia,
aumento de uréia e creatinina e
coagulograma alterado.
ACIDENTE POR Loxosceles – TRATAMENTO

• Analgesia (dipirona, codeína, tramadol)


• Cuidados locais com eventual tratamento
cirúrgico (compressas frias, permanganato de
potássio 1/40.000 ou água boricada)
• Hemotransfusão
• Soroterapia – Até 36h
• Corticoterapia
• Antibioticoterapia em caso de infecção
secundária na ferida (amoxicilina-clavulanato)
LOXOSCELISMO – Classificação, Clínica e
Tratamento
ACIDENTE POR Latrodectus (viúva-negra)

Latrodectus curacaviensis : Latrodectus geometricus :


flamenguinha (CE, BA, ES, RJ, encontrada em todo país
RN e SP)
LATRODECTISMO – Quadro Clínico e
Tratamento Geral e Específico

GRAVIDADE MANIFESTAÇÕES TRATAMENTO


 Local: dor, edema, sudorese
 Dor dos membros inferiores,  Geral: analgésicos,
LEVE parestesia membros, tremores, observação
contraturas
Anteriores +  Geral: analgésico,
dor abdominal, sudorese sedativos
generalizada, ansiedade, agitação,
MODERADO mialgia, cefaléia, tontura, dificuldade  Específico: SAL 1 amp
de deambulação, hipertermia atropina 1 amp

Todos acima +  Geral: analgésico,


sedativos
taqui/bradicardia, hipertensão,
GRAVE taquidispnéia, náuseas, vômitos,  Específico: SAL 2 amp
priapismo, retenção urinária atropina 1 a 2 amp
Cuidados na Soroterapia
• Investigar história alérgica do paciente
• Não realizar teste de sensibilidade
• Aplicar por via IV sem diluir (dose de acordo com a gravidade =
adultos e crianças) por 30 minutos.
• pré- medicação (?): adrenalina, anti-histamínico H1 IM , corticóide e
anti- histamínico H2 IV 30 minutos antes da aplicação
• Deixar material de parada cardiorrespiratória e adrenalina prontos
Reações adversas da soroterapia

Reações precoces

Urticária, tremores, náuseas, tosse, dor abdominal, prurido, rubor


facial, choque anafilático

Reações tardias

Doença do soro: febre, artralgia, linfadenopatia, exantema e


proteinúria
Tiê-sangue (Lumiar – Nova Friburgo)

Obrigado!
Bibliografia e fontes:
• Instituto Butantan – SP
• Instituto Vital Brasil - RJ
• Ministério da saúde – Brasil – Manual de Diagnóstico e tratamento
dos acidentes por animais peçonhentos
• Ministério da saúde – Anvisa – Guia de Vigilância epidemiológica 7ª
edição 2010 – animais peçonhentos – capítulo 14
• Ministério da saúde – Brasil - SINAN – Acidentes ofídicos
• SANAR – Acidentes por animais peçonhentos

Fotos:
• Butantan, ivb.rj.gov.br, Manual D T A Animais Peçonhentos, HU –
UFPA, biologiaeterna.com, Rodolfo César de Souza,
cobrasbrasileiras.com.br, zoopets.com.br, univap.br

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