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Grupo de Estudo TF e PEF/RN – Estadiamento Motor de Brunnstrom

Fortaleza, maio e junho/2015


Responsáveis: TF Elisa, TF Helen Carol, Professora Esther
Colaboradores: TF Fernando, TF Hebert, TF José Augusto, TF Louise, TF Gisela,TF Celina e
Professor Fábio.

Realizamos discussão sobre o Estadiamento Motor de Brunnstrom, instrumento de classificação da


motricidade em pacientes com lesão encefálica, utilizado pelos fisioterapeutas do Programa de
Reabilitação Neurológica na avaliação funcional de pacientes com sequelas de AVE e TCE.

Propomos a leitura dos capítulos 1 e 2 do livro Brunnstrom's movement therapy in hemiplegia


(Sawner K. e Lavigne J., segunda edição, ano1970).

No primeiro capítulo é descrito a observação de padrões de movimentos sinérgicos, padrões


reflexos e de reações associadas, além do desenvolvimento da espasticidade, que ocorrem nos
indivíduos após lesões encefálicas por acidente vascular.
No segundo capítulo, a partir das obervações clínicas descritas no primeiro, as autoras descrevem
uma sequência de eventos/estágios que caracterizam etapas de recuperação motora nessa população,
e propõem um método para avaliar e identificar o estágio no qual o paciente se encontra. Este é
denominado Estadiamento Motor de Brunnstrom.

Em aspectos gerais, são descritos “Estágios da recuperação motora”.

Estágio 1 = logo após o ictus, caracteriza-se por flacidez e ausência de movimento, nem mesmo
movimento reflexo;

Estágio 2 = conforme a recuperação se inicia, as sinergias básicas ou alguns de seus componentes


podem aparecer como reações associadas ou mínimas respostas de movimentos voluntários. Inicia
a espasticidade, principalmente nos grupos musculares que dominam as sinergias.

Estágio 3 = desenvolve controle voluntário para os movimentos de sinergias, embora não alcance a
amplitude completa. A espasticidade alcança seu pico e pode se tornar severa. Fase considerada
como semivoluntária, pois é capaz de iniciar voluntariamente um padrão de sinergia mas não é
capaz de controlar o movimento resultante.

Estágio 4 = alguns movimentos que não seguem o padrão das sinergias são controlados,
inicialmente com dificuldade mas com gradativa facilidade. A espasticidade começa a reduzir, mas
a influência dela sobre os movimentos não sinérgicos é ainda evidente.

Estágio 5 = se a recuperação continua, a combinação de movimentos mais difíceis é controlada


voluntariamente, assim como as sinergias básicas perdem a dominância sobre os atos motores. A
espasticidade continua a declinar.

Estágio 6 = são possíveis os movimentos articulares individuais e a coordenação vai se


normalizando, conforme a espasticidade desaparece. O paciente se torna capaz de realizar todo o
espectro de padrões de movimento.

Estágio 7 = função motora é restaurada.

Para cada unidade funcional (mão, membro superior e membro inferior) é definido uma forma de
observar e registrar o estágio de recuperação, como se segue:
Mão

Estágio 1 = flacidez, nenhum movimento voluntário.

Estágio 2 = pequeno ou nenhum movimento dos dedos, espasticidade leve.

Estágio 3 = preensão em massa, uso da preensão em gancho, mas sem soltar voluntário; não há
extensão voluntária dos dedos; é possível a extensão reflexa dos dedos; espasticidade considerável.

Estágio 4 = preensão lateral com liberação do objeto pelo movimento do polegar; extensão dos
dedos semivoluntária em pequena amplitude.

Estágio 5 = realiza preensão palmar; preensões esféricas e cilíndricas podem ser possíveis, mas
realizadas com imprecisão e com uso funcional limitado; extensão voluntária dos dedos em massa,
em amplitude variável.

Estágio 6 = todos os tipos de preensões sob controle; melhora na habilidade e destreza; extensão
voluntária dos dedos em amplitude completa; movimentos individualizados dos dedos estão
presentes, mas com menor destreza que no lado não afetado.

Membro superior

Estágio 1 = sem movimento voluntário, flacidez.

Estágio 2 = aparecem componentes de sinergias associados a fracos movimentos voluntários.

Estágio 3 = realiza padrões de sinergias de forma voluntária e amplitude variável (trazer mão atrás
da orelha, levar a mão ao joelho oposto), espasticidade considerável.

Estágio 4 = realiza movimentos que diferenciam-se das sinergias (leva mão a lombar, estende o
braço à frente até 90°, faz prono/supinação com cotovelo em 90°), espasticidade diminui.

Estágio 5 = combinação de movimentos mais complexos (braço em abdução 90° com antebraço
pronado, elevar braço acima da cabeça, prono/supinação com braço abduzido à 90°).

Estágio 6 = movimentos seletivos em todas as articulações, espasticidade não é observada em


movimentos passivos, mas pode ser vista em movimentos rápidos: levar a mão ao queixo e à coxa, e
levar a mão ao joelho oposto e à coxa ipsilateral, durante 5 segundos, e comparar com a quantidade
de vezes que consegue do lado não acometido.

Membro Inferior

Estágio 1 = flacidez, nenhum movimento voluntário.

Estágio 2 = movimento voluntário mínimo, espasticidade leve.

Estágio 3 = Flexão do quadril, joelho e tornozelo na posição sentada ou em pé.

Estágio 4 = sentado, deslizando o pé no solo, fazer flexão do joelho além de 90°; dorsiflexão do
tornozelo sem retirar o calcanhar do solo; espasticidade considerável.

Estágio 5 = Em pé, quadril estendido ou quase estendido, realizar a flexão do joelho, sem carga;
dorsiflexão isolada do tornozelo, com joelho estendido, calcanhar apoiado à frente, como num
pequeno passo.

Estágio 6 = Em pé, realizar abdução do quadril além da amplitude alcançada com a elevação da
pelve; sentado, ação recíproca dos isquiotibiais mediais e laterais, resultando em rotação interna e
externa da perna no joelho, combinada com inversão
e eversão da subtalar.

Em nossa discussão e comparação com a tradução que utilizamos na avaliação funcional,


encontramos algumas diferenças:

- No geral, o estágio 1, em princípio é caracterizado por flacidez e ausência de movimento


voluntário. Nós considerávamos apenas ausência de movimento voluntário, podendo haver
espasticidade, o que a autora considera já o segundo estágio;

- para a mão, no estágio 4 está descrito que o objeto em preensão lateral deve ser liberado pelo
movimento feito pelo polegar, enquanto usávamos a expressão “libração do polegar”, com
interpretação vaga sobre o movimento que o polegar seria capaz de realizar;

- ainda na mão, no estágio 5, as preensões esféricas e cilíndricas são descritas como “ com função
limitada”, enquanto usamos apenas como “mal realizadas”, o que é mais vago quanto ao aspecto
funcional;

- No membro superior, estágio 5 descrito para realizar pronação e supinação do antebraço com
braço estendido em abdução, enquanto a nossa descrição sugeria que fosse em flexão;

- no estágio 6, não estava descrito teste para observar espasticidade em movimentos rápidos;

- para o membro inferior, o estágio 3 é descrito como tríplice flexão do quadril, joelho e tornozelo
na posição sentada ou em pé, e não em decúbito dorsal como fazemos.

- ainda para o membro inferior , no estágio 4, é descrito que na posição sentada, a realização de
flexão do joelho deve ocorrer além de 90°, e nossa tradução fala até 90°.

- E, no estágio 6, está descrito que na posição sentada, pode-se observar ação dos isquiotibiais
mediais e laterais, associada à rotação interna e externa da perna na articulação do joelho,
respectivamente, durante os movimentos de inversão e eversão da subtalar. Na nossa tradução, está
descrito como rotação interna e externa do quadril.

- costumamos classificar como estágio 6 o lado não acometido, com significado de normalidade,
porém identificamos que não é adequado pois as autoras descrevem que no estágio 6, embora os
padrões de movimentos estejam presentes há alguma diferença em relação ao lado não acometido
(destreza, espasticidade, coordenação). Além disso, o lado não acometido não deve receber a
classificação em estágios, mas sim a descrição de normalidade.

- Se houver acometimento neurológico (sinais de liberação piramidal, por exemplo), mas sem
alterações dos movimentos, a classificação deverá ser 7.

ESTADIAMENTO DA RECUPERAÇÃO MOTORA SEGUNDO


BRUNNSTROM
AVALIAÇÃO DA MÃO COMPROMETIDA 1ª 2ª
D D E
E
ESTÁ Nenhum movimento voluntário é
GIO 1 realizado, flacidez.

ESTÁ Pequena ou nenhuma atividade de


GIO 2 flexão dos dedos, espasticidade leve

ESTÁ preensão (grosseira) em massa, uso


GIO 3 da preensão em gancho, sem soltar
voluntário; não há extensão
voluntária dos dedos, mas é possível
extensão reflexa dos dedos;
espasticidade considerável
ESTÁ preensão lateral, liberação do objeto
GIO 4 pelo movimento do polegar,
extensão semi-voluntária* dos dedos
em amplitude pequena (incompleta),
decréscimo da espasticidade
ESTÁ preensão palmar; preensão esférica e
GIO 5 cilíndrica possível mas mal
realizadas e com uso funcional
limitado, extensão voluntária em
massa dos dedos, em amplitude
variável; espasticidade leve
ESTÁ todos os tipos de preensão, extensão
GIO 6 (total) em amplitude completa dos
dedos, movimentos individuais dos
dedos com menor destreza que no
lado não afetado, espasticidade não
é observada
ESTÁ normal, sem alterações.
GIO 7

AVALIAÇÃO DO MEMBRO SUPERIOR 1ª 2ª


COMPROMETIDO
D D E
E
ESTÁ Nenhum movimento voluntário é
GIO 1 realizado, flacidez,

ESTÁ Aparecem componentes das


GIO 2 sinergias associadas a movimentos
voluntários fracos, espasticidade leve.

ESTÁ Realiza padrões de sinergias de


GIO 3 forma voluntária: trazer a mão atrás
da orelha; levar a mão ao joelho
oposto, espasticidade considerável.
ESTÁ Movimentos que diferenciam-se
GIO 4 das sinergias: trazer a mão p/ região
lombar; elevação do braço p/frente
até posição horizontal; prono-supino
com o cotovelo à 90º; decréscimo
da espasticidade.
ESTÁ Combinações de movimentos mais
GIO 5 complexo: Abd do braço a 90º com o
antebraço pronado; elevação do braço
estendido acima da cabeça; prono-
supinação com o braço estendido em
abdução; espasticidade leve.
ESTÁ Movimentação seletiva realizada
GIO 6 livremente (boa coordenação);
espasticidade não é observada em
movimentos passivos, mas pode ser
revelada em movimentos rápidos:
punho cerrado, levar a mão ao
queixo e à coxa ipsilateral; levar a
mão ao joelho oposto e à coxa
ipsilateral, avaliar quantas
repetições em 5 segundos,
comparar com contralateral.

ESTÁ normal, sem alterações


GIO 7
AVALIAÇÃO DO MEMBRO INFERIOR 1ª 2ª
COMPROMETIDO
D D E
E
ESTÁ nenhum movimento voluntário é
GIO 1 realizado, flacidez

ESTÁ movimentos voluntários mínimos,


GIO 2 espasticidade leve.
ESTÁ Na posição sentada ou em pé,
GIO 3 tríplice flexão, espasticidade
considerável.

ESTÁ Sentado, com o pé deslizando no


GIO 4 solo, flexão do joelho além de (a)
90º; dorsiflexão do tornozelo, sem
retirar o calcanhar (pé) do chão,
espasticidade considerável
ESTÁ Em pé, flexão do joelho com o
GIO 5 quadril estendido ou quase
estendido; dorsiflexão do tornozelo
com o joelho estendido, projeção do
calcanhar para frente, espasticidade
leve.
ESTÁ Em pé, abdução do quadril (30º com
GIO 6 o tronco) além da amplitude obtida
pela elevação pélvica; sentado, com
os joelhos fletidos, (abduzí-los)
contração recíproca dos
isquiotibiais mediais e laterais,
resultando em rotação interna e
externa da perna no joelho,
combinado com a inversão e eversão
do tornozelo, sem espasticidade
ESTÁ normal, sem alterações
GIO 7

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