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DFD0322 - Filosofia do Direito II - Literatura

Professor Dr. Ari Solon

A ACELERAÇÃO DA NARRATIVA:
RUMO À NEOHUMANIDADE

Marco Antonio Silva Fonseca - nº USP: 12510485


Marcos Paulo Blasques Bueno - nº USP: 10302829
Mariana Villar Marchi - nº USP: 12510888
Maslow Oliveira da Silva - nº USP: 12727890
Tamiris Diniz Landim - nº USP: 12729610

Uso para Citação: BLASQUES BUENO, M. P. FONSECA, M. A. S. LANDIM, T. D. MARCHI, M. V. SILVA, M. O. A aceleração da narrativa: ruma à
neohumanidade. Antologia Acadêmica de Filosofia do Direito, Faculdade de Direito da USP, 01-01-100/112, Novembro, 2023.

São Paulo
2023
Para melhor compreender o presente ensaio, torna-se essencial a leitura do artigo
Legislação e outro “fim da história” no transhumanismo: paradigmas ressignificados sob a
ótica da filosofia do direito1, que traz bases conceituais, bibliografias essenciais e explicações
sobre alguns processos fundamentais acarretados pelo transumanismo2 e pelo H+, a retomar, a
neohumanidade3. Este ensaio é um aprofundamento reflexivo sobre um ponto específico
daquela abordagem: a transparadigmação hodierna do conceito narrativa, consideravelmente
perceptível nas produções humanas, seja pela literatura, cinema ou no cotidiano.
Da narrativa, depreende-se o potencial significador do contar uma história. Desde
aproximadamente a primeira revolução industrial, esse procedimento - que acompanha nossa
natureza humana praticamente desde que esse ser humano tomou consciência de si - passou a
sofrer transformações que dizem respeito ao surgimento de novas e aceleradas linguagens:
desde o surgimento da prensa de Gutemberg até as mais inovadoras formas de expressão da
temporalidade4 evidenciadas pelos multimeios - audiovisual, publicidade, jornalismo, pela
própria literatura, bem como também acelerações temporais proporcionadas pelo metaverso.

1
BUENO, Marcos Paulo Blasques. Legislação e outro “fim da história” no transhumanismo: paradigmas ressignificados sob
a ótica da filosofia do direito. Disc.: Filosofia do Direito I - Departamento de Filosofia da FDUSP: São Paulo, 2023.
2
Transumanismo, abreviado H+, é um movimento cultural, filosófico, científico, político. Busca perpetuar o intelectivo
aplicando tecnologias avançadas, como IA, bio e nanotecnologia, robótica e outras, superando limitações biológicas e físicas
do corpo, expandindo capacidades humanas e de outros seres viventes, melhorando qualidade de vida, prolongando-a e
criando um futuro promissor. Baseia-se em visão otimista da tecnoaplicação avançada para superação de problemas que
podem extinguir a humanidade e a vida, tais como consumismo, guerras e desastres naturais. Ressalta-se que o debate sobre
H+ é complexo e controverso na comunidade acadêmica. IAs poderem ser consideradas sencientes e merecedoras de direitos
como humanos traz opiniões divergentes. Já se discute a questão do direito de AIGs sencientes e especula-se o que
representaria a sociedade H+ (transhumanista).
3
A ideologia neohumana é insatisfeita com aspectos sociais e tecnológicos atrelados ao consumismo na pós-modernidade. A
crise geral das sociedades ocidentais contemporâneas abordadas por diversos historiadores e estudiosos da sociedade, nos
dizeres - por exemplo - de Roudinesco (2015), é caracterizada pela “crise econômica e dos valores democráticos, crise social,
falta de esperança e ilusões” e, ainda, "desemprego, queda de renda, precariedade dos empregos e do trabalho”, acarretam
inclusive “vigorosa ascensão das psicoterapias corporais e dos tratamentos farmacológicos” [ROUDINESCO, Elisabeth. Por
que a Psicanálise? 1ª ed., Rio de Janeiro, Zahar, 2000]. A solução e, diga-se de passagem, a salvação para o ser humano da
autodestruição, está na possibilidade da libertação de limitações do corpo biológico, da interação ou integração simbiótica
mental e intelectual total entre biologias e tecnologias, o que nos livraria do sistema capitalista. Tal insustentabilidade global
pode ser inevitável após 2050 para humanos unicamente biológicos: não conectados completamente aos sistemas e máquinas.
Ou seja, apesar de o conceito neohumanidade aparentar semelhança ao de H+, na medida em que busca transcender as
limitações biológicas do ser humano por meio de tecnoavanços, vai além ao propor uma mudança fundamental e profunda na
própria natureza humana, em vez de apenas melhorar suas capacidades. Uma nova forma de humanidade emerge, menos
vulnerável, mais consciente, empática e ética, por meio do uso de tecnologias com viéses H+, tais como bioengenharia,
nanotecnologia, IA, VR - Realidade Virtual, entre outras. Não se limita apenas à tecnologia, envolve transformação pessoal e
coletiva, consciência interativa elevada, onde indivíduos são incentivados a desenvolver compaixão e altruísmo, essenciais
para sociedade mais pacífica, justa e sustentável - um novo paradigma de humanidade. Elimina-se a mortalidade física - ideal
motivador da 2045 Iniciative [www.2045.com e youtube.com/watch?v=MuiTgCSXNB Y&feature=watch_response_rev].
Opiniões são contrárias à neo-humanidade: considera-se modificar a natureza humana intrinsecamente contrário à ética,
enxergando o decurso neo-humano como a violação da integridade natural biológica, causando consequências imprevisíveis e
potencialmente perigosas; outros apontam riscos enormes para a sociedade, incluindo questões de segurança e controle,
podendo aumentar a desigualdade econômica e social ou ameaçar potencialmente a segurança internacional. Há quem
considere o neohumanismo uma negação do que é ser humano, por acreditarem que a essência da humanidade define-se, por
exemplo, por limitações e imperfeições; enfim, alguns descartam o conceito como irrealista ou utópico, compreendendo que
barreiras técnicas, éticas e sociais são insuperáveis. Entretanto, crescem defensores que assimilam factível o plano
neohumano conforme novas tecnologias interconectadas solvem as outrora distopias e aproximam essa realidade.
4
MARQUES, J. B. O conceito de temporalidade e sua aplicação na historiografia antiga. Revista de História, [S. l.], n.158,
p.43-65,2008. DOI:10.11606/issn.2316-9141.v0i158p43-65 <www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/19074> 2/12/2023.
O conceito da temporalidade aplicado no contexto dessa análise, compreende
essencialmente o desenvolvimento de linguagens técnicas de manipulação da linha do tempo
ao contarmos uma história: saltamos no tempo, retornamos, fracionamos, sem prejuízos
significativos da compreensão de seu transcorrer e, enfim, intensificamos tão profundamente
essa velocidade da apresentação dos fatos ao ponto de aproximarmos a narrativa de uma
verticalização, ou seja, aqui percebemos a evidência de uma manifestação ou prática de
aceleração significativa.5 Um exemplo, onde esse processo de construção de linguagem que
emprega manipulações temporais pode ser percebido mais facilmente, é o cinema6.
Depreende-se aqui que a narrativa horizontal é aquela que mais se aproxima do
transcorrer linear real de acontecimentos, em todos os seus detalhes, no tempo. A
verticalização estaria mais relacionada com a apresentação acelerada dos fatos, das ações em
um contexto, quase acontecendo concomitantemente, seja por recortes de frações narrativas
que não afetam sua compreensão, seja por meio de acelerações, similares às proporcionadas
por recursos de edição time stretch para multimeios, ou ainda, por meio de recursos
tecnológicos atrelados a contextos comunicacionais neohumanos e da computação quântica,
onde informações poderiam, supostamente, ser transmitidas e assimiladas mais
instantaneamente entre emissor e receptor, ou melhor, entre interlocutores totais.
Processos de aceleração são amplamente investigados por áreas como Estudos
Culturais, Filosofia, Sociologia, Comunicação, justamente por configurarem panoramas
sócio-político-econômico-culturais pós revoluções industriais que não podem ser desprezados
na Era da Informação7, transformando profundamente o sujeito e a forma como ele se
5
Exemplo do emprego convencional do recurso de linguagem de manipulação da percepção do transcorrer do tempo no
audiovisual, ou seja, da manipulação da temporalidade, é o seguinte: No roteiro, a linha do tempo mais estendida mostra um
jovem que acorda em sua cama pela manhã ao som do despertador, caminha até o banheiro, escova os dentes, caminha até a
cozinha, toma café da manhã, caminha até a porta, abre, fecha, vai até o elevador que desce, caminha até a saída do prédio,
faz sinal para um taxi, entra, percorre no veículo todo o trajeto até chegar em frente ao prédio de seu emprego, paga e sai do
taxi, atravessa a avenida, caminha até o elevador, aperta o botão, aguarda chegar, a porta abre, entra, o elevador sobe, abre
a porta, caminha até a entrada de uma sala onde estão seus chefes que, ao verem que o jovem chegou, discutem com ele.
Toda essa linha narrativa estendida temporalmente pode ser reduzida para, por exemplo, despertador toca e mão o desliga,
jovem escova dentes, atravessa avenida colocando o paletó deixando taxi, entra na sala onde estão os chefes, discutem. Ou
seja, foi possível reduzir diversos elementos narrativos por meio de uma convenção de linguagem cinematográfica.
6
COSTA, F. C. O primeiro cinema: considerações sobre a temporalidade dos primeiros filmes. PUC-SP. Disponível em
https://revistas.pucsp.br/index.php/cadernossubjetividade/article/view/38419/26085. Acesso em 03/12/2023 às 0h.
7
Peter Drucker e Daniel Bell tratam sobre um novo paradigma sócio-comunicacional na Era da Informação, apontando uma
inversão no mercado de trabalho que acelera relações. O avanço da internet, da globalização e das tecnologias
informacionais, consolida esse panorama e, com a popularização da conexão portátil - internet nos smartphones - fala-se de
uma Nova Era Digital e de nova geografia no mercado de trabalho [MORETTI, Enrico. The New Geography of Jobs. Boston:
Houghton Mifflin Harcourt, 2012. Abstract in journal.c2er.org/20 12/11/the-new-geography-of-jobs-enrico-moretti/ Acesso:
03/04/2017 22:20H]. Um aceleracionismo ruptural pode estar em curso com a chegada das IAs Cognitiva, Quântica,
Organóide, etc: o meio - sistemas inteligentes - emancipa-se à função de interlocutor no processo comunicacional e, no auge
comunicacional H+, essas AIGs tornam-se parte integrante e indissociável do sujeito, fundindo-se a ele como
potencializadoras de memória, processos e interlocuções. Portanto, a ruptura do pós-moderno, momento de transição
enquanto 1ª fase H+, pode ocorrer quando esse limite comunicacional for atingido e proporcionar essa fusão, de 2ª fase, numa
comunicação total. Mas e o embate de opiniões? O exercício pleno da tolerância frente às diferenças, diante dos segredos e
individualidades, torna-se bloqueado justamente por conta da dificuldade do ser humano em se colocar no lugar do outro por
completo, em conhecer de fato suas carências, medos e distintos pontos de vista. [ZARKA, Yves Charles. Difícil Tolerância:
relaciona. É fato que, no fenômeno pós-moderno, busca-se acelerar a comunicação ao limite.
Meios de comunicação passaram a funcionar como parte do homem8, onde se torna quase
impossível interagir em sociedade sem possuir smartphone, rede social, etc.
Apesar da aproximação do paradigma narrativa se verticalizar, dissemos “mais
instantaneamente” pois perceberemos que ela somente pode se acercar cada vez mais da
verticalização. Parece ser um pressuposto do conceito paradigmático de narrativa que ocorra
um transcorrer horizontal da contação no tempo independente de quão rápida for a
transferência da informação. Para que o fenômeno se verticalizasse por completo, seria
necessário que a humanidade desenvolvesse uma comunicação instantânea. Entretanto, apesar
de o cinema, por exemplo, explorar o fenômeno de uma comunicação instantânea que, até
mesmo, ultrapassaria inclusive a compreensão humana sobre o transcorrer do próprio tempo
da existência real, percebemos que esse acontecimento pode estar significativamente longe de
se concretizar, dificilmente abandonando esse exemplo no campo fictício e se tornando
realidade. Fala-se aqui do filme A Chegada9, usado como exemplo onde o poder narrativo na
linguagem não dependeria do transcorrer do tempo, vez que seus símbolos comunicativos
seriam concebidos integral e instantaneamente em imagens únicas, geradas com semântica
completa. Ou seja, ideia, intencionalidade, história, enredo, linguagem etc, no roteiro de A
Chegada são verticais na forma como os alienígenas se expressam, moldando o próprio
pensamento de quem fala aquela língua sobre o transcorrer do tempo real da vida.
Flo Menezes, considerado um dos maiores compositores de Música Eletroacústica em
todo o mundo e de todos os tempos, faz uma observação em 2018 que, naquele momento,
preconizava a reflexão sobre o aceleracionismo e da verticalização na transmissão dos dados
no tempo até mesmo na música eletroacústica. Ele aponta que a Música Maximalista, isto é,
termo cunhado por ele para designar a linguagem musical que se vale da mais extrema

a coexistência de culturas em regimes democráticos. São Leopoldo: Unisinos, 2013] Destruiremos o indivíduo? Ao tratar
sobre intensos processos de hibridização cultural, de choques entre os encontros das diferentes culturas, Canclini (1997)
demonstra conflitos multiculturais da globalização. Acreditava-se que as individualidades nos permitiam a construção de
diferenças culturais e, com a globalização, tecemos inicialmente expectativas teóricas pessimistas quanto a possibilidade de
ocorrer uma homogeneização cultural - como uma norte-americanização fatal do mundo. Entretanto, o oposto se manifestou:
percebemos que, apesar de estarmos atualmente conectados por meios de comunicação que nos bombardeiam constantemente
de maneiras de ver o mundo e de “culturas padrões”, a efervescência cultural e as diferenças se mantém e, até mesmo,
intensificam-se. Ainda que se fortaleça certa padronização de cultura, direitos e ética cosmopolitas que nos permitem
convivência convencionada, principalmente nos grandes centros urbanos. [CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas -
estratégias para entrar e sair da modernidade. Trad. Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 1997.]
Isso pode indicar que anseios sobre a interconexão anular indivíduo e diversidade resultam do mero medo atual da
imprevisibilidade na construção do paradigma.
8
MACLUHAN, M. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. Trad. D. Pignatari. Cultrix: São Paulo, 1969.
Original: Understanding Media: The Extensions of Man, McGraw-Hill Book Company: Nova York, Toronto, Londres, 1964.
9
VILLENUEVE, Denis (Direção). HEISSERER, Eric (Roteiro). A Chegada [Filme]. Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner,
Forest Whitaker. Título original: Arrival. Estados Unidos, 2016.
complexidade concebível, aproxima-se da velocidade da luz (MENEZES, 2018, pg. 212)10.
Essa afirmação à época não foi devidamente compreendida e sofreu inúmeras críticas no meio
acadêmico. Em nosso tempo, percebemos que Menezes já compreendia a velocidade extrema
da transmissão de conteúdos na forma musical, em suas texturas sonoras, em suas inúmeras
melodias em contraponto, seu resultado vertical no tempo, sua exigência na capacidade de
digestão, quântica, sua aceleração enquanto um contexto ainda mais amplo de narrativa que se
relaciona até mesmo com linguagens não verbais, agora sonoras, subjetivas, pertinente até às
formas musicais extremamente complexas e que obrigam a mais disciplinada e impossível
atenção do ouvinte. O maximalismo, portanto, torna-se inalcançável para o ser humano
unicamente biológico, sua assimilação já exige o transumanismo e, por conseguinte, o H+,
único panorama que permite compreensão, quase vertical, dos objetos sonoros articulados.
O aceleracionismo é um termo cunhado por Benjamin Noys em "Malign Velocities:
Accelerationism and Capitalism" de 2014. Trata-se de uma teoria que se transfigura nas
últimas décadas e tem raízes na filosofia continental. Esse conceito filosófico-político, em
geral, argumenta que as contradições inerentes ao capitalismo devem ser intensificadas e
aceleradas para alcançar uma crise terminal que possa abrir caminho para uma transformação
radical do sistema. A ideia central é que a velocidade do desenvolvimento tecnológico e das
forças produtivas deve ser aproveitada para romper com as estruturas e relações de poder
existentes. O conceito é complexo, polêmico e existem diferentes interpretações e abordagens
dentro desse campo. Nick Land e Alex Williams, por exemplo, discutiram o aceleracionismo
no "Manifesto for an Accelerationist Politics" (Manifesto por uma Política Aceleracionista),
publicado em 2013. Apresentam uma abordagem diferente do aceleracionismo, que diverge
de Noys. Defendem que a aceleração das forças produtivas e do desenvolvimento tecnológico
pode levar a transformações sociais e políticas profundas. Argumentam que, ao invés de
simplesmente buscar uma crise terminal do capitalismo, é necessário abraçar a aceleração e
direcionar seu potencial para criar novas formas de organização social e emancipação11.
Embora Noys seja frequentemente associado à crítica do aceleracionismo, é importante notar
que Land e Williams desenvolvem perspectiva diferente, buscando explorar o potencial
emancipatório da aceleração tecnológica que, em certa medida, corrobora com ideais H+.

10
MENEZES, F. Repetições. In: Riscos sobre música: ensaios – repetições – provas[online]. São Paulo: Ed. UNESP, 2018,
pp. 212 (203-276).ISBN: 978-85-95462-88-5. https://doi.org/10.7476/9788595462885. Disponível em
<https://books.scielo.org/id/y38z5/pdf/menezes-9788595462885-14.pdf> Acesso em 03/12/2023 às 00h48.
11
https://criticallegalthinking.com/2013/05/14/accelerate-manifesto-for-an-accelerationist-politics/. Acesso: 02/12/2023 14h.
O aceleracionismo, frequentemente, se manifesta em três formas: em aceleracionismo
de esquerda, em aceleracionismo de direita e, nos últimos anos, podemos ainda avaliar a
predominância de um aceleracionismo tecnológico sustentável.
O aceleracionismo de esquerda12, em parte, influenciado por pensadores como Guilles
Deleuze e Félix Guattari, busca acelerar as contradições do capitalismo para alcançar essa
transformação radical em direção a uma sociedade pós-capitalista. Dessa forma, alguns de
seus teóricos sugerem que para superar as contradições capitalistas, é necessário acelerar
certos processos, em vez de tentar desacelerá-los.
Argumenta-se que, ao invés de resistir a certas formas de controle, seria mais eficaz
acelerar essas tendências para atingir um ponto em que elas se tornam insustentáveis e se
desintegram. Isso envolve uma visão crítica do sistema atual, propondo uma aceleração
radical das forças que o impulsionam. Tal visão recebe inúmeras críticas sobre esse potencial
desintegrador.
Por outro lado, o aceleracionismo de direita13 propõe acelerar forças do mercado,
acreditando que isso levará à automação e à eficiência extrema, eventualmente resultando em
uma sociedade que transcende as estruturas atuais. Esse pensamento também sofre inúmeras
críticas, vez que parece não se distanciar do aceleracionismo de esquerda sobre a
problemática sustentável envolvendo o fortalecimento dessas forças de mercado.
Nesse sentido, em outras palavras, Mark Fisher, em sua obra "Realismo Capitalista",
lança uma crítica penetrante sobre o cenário sociopolítico contemporâneo, identificando as
implicações do que ele denomina "realismo capitalista". Fisher argumenta que a lógica do
capitalismo se infiltrou tão profundamente na cultura e na política que obscureceu nossa
capacidade de imaginar alternativas significativas. Ele ressoa com as ideias do
aceleracionismo, especialmente o de esquerda, ao destacar a falta de imaginação política
como um obstáculo à transformação. O aceleracionismo de esquerda propõe a aceleração das
contradições do sistema capitalista, buscando, assim, uma transformação radical em direção a
uma sociedade pós-capitalista.
No entanto, Fisher também aponta para o aceleracionismo de direita, que propõe a
variação das forças do mercado, movendo à automação e eficiência extremas. Esta
abordagem, embora prometa transcender as estruturas atuais, enfrenta críticas importantes,

12
Os proponentes dessa visão argumentam que, ao acelerar o desenvolvimento tecnológico e as contradições internas do
sistema, pode-se abrir caminho para formas mais progressistas de organização social.
13
Seus defensores frequentemente argumentam que a sociedade alcançará um ponto em que a automação substituirá o
trabalho humano, resultando em uma forma de pós-capitalismo ou em uma ordem social radicalmente diferente. Essa
abordagem, no entanto, é controversa, e muitos críticos apontam para as potenciais consequências negativas, como
desigualdade extrema e falta de consideração pelos impactos sociais.
especialmente no que diz respeito à sustentabilidade e às implicações sociais. A interseção
entre as ideias de Fisher e as propostas de aceleracionismo revela um debate crucial sobre
como enfrentar os desafios contemporâneos e construir caminhos alternativos em meio a um
cenário que parece muitas vezes enredado no realismo capitalista. Este diálogo ressalta a
urgência de considerar criticamente as implicações e as abordagens dessas abordagens diante
das complexidades do mundo contemporâneo.
Todavia, fraciona-se ainda, cada vez mais, uma vertente que se contrapõe às duas
tendências anteriores abordadas durante o curso de Filosofia de Direito II na FDUSP, tanto à
visão desintegradora do capitalismo pela intensificação quanto a da aceleração das forças do
mercado em si. Trata-se da visão aceleracionista tecnológica sustentável, cujos propagadores
são, enfim, os principais defensores de pensamentos transumanistas e de uma neohumanidade.
Ambos movimentos compartilham um otimismo em relação à aceleração de certos
processos. Enquanto vertentes do aceleracionismo buscam acelerar as contradições do sistema
para atingir uma transformação radical, o transhumanismo está interessado na aceleração do
desenvolvimento tecnológico para melhorar paulatina ou subitamente a condição humana,
muitas vezes, por meio de avanços em biotecnologia, inteligência artificial e realidade
aumentada. A neohumanidade refere-se à visão dessa próxima etapa na evolução humana,
agora transhumana, facilitada pela biotecnologia. Tal como no aceleracionismo, há uma
crença na transformação rápida e radical de condições e paradigmas. A neohumanidade, no
entanto, enfatiza mais diretamente a mudança na própria natureza humana por meio de
aprimoramento genético e da fusão com tecnologia ou outras formas de transcendência. Há,
portanto, inclinação para a aceleração, seja nas mudanças sociais, tecnológicas ou na evolução
humana - com vistas à intercomunicação total, afetando enfim o paradigma narrativa.
Cada vertente aborda essa aceleração sob uma perspectiva ligeiramente diferente, mas
há uma sobreposição no desejo de superar as limitações e impulsionar a humanidade para
novos estágios de desenvolvimento. Entretanto, as três vertentes aceleracionistas
compartilham a ideia de que as contradições inerentes ao sistema devem ser superadas. No
entanto, há diversas críticas consideráveis e debates sobre a eficácia e as implicações éticas
desse aceleracionismo, o que se reflete em todos os pilares sociais, radicalmente no Direito.
Um dos paradigmas que acabam esfacelados ou ressignificados a partir dos processos
aceleracionistas trabalhados naquele artigo de Bueno (2023), citado como premissa de leitura
para a compreensão deste estudo é, retomando, a narrativa. Avaliam-se assim transformações
que esta vem sofrendo nos últimos séculos, alguns desdobramentos filosóficos -
especialmente voltados para o Direito - e eventuais possibilidades científico-especulativas.
Deste modo, a metodologia do presente envolve tanto uma abordagem qualitativa da
fenomenologia quanto a abertura para o desenvolvimento de novos saberes por meio da
especulação sobre os dados obtidos, futurística sob certa ótica, seguramente, mas procurando
afastar-se ideologicamente a fim de obtermos visões mais neutras, ou que apresentem tanto
aspectos negativos e positivos sobre o fenômeno, sem depreciar a vigilância epistemológica.
A relação entre o aceleracionismo e um processo de verticalização dos paradigmas
narrativa e literatura pode ainda ser explorada por meio do rompimento com estruturas
convencionais e aceleração da experimentação estilística e conceitual na produção literária em
seu amplo sentido - considerando que narrativa e literatura são conceitos interdependentes.
Na trilha da busca por futuros alternativos proposta pelo Aceleracionismo da
Narrativa, a obra de Ray Bradbury, "Fahrenheit 451", ganha destaque ao ilustrar vividamente
os riscos inerentes a essa aceleração descontrolada. Ao criar uma sociedade distópica em que
a sobrecarga de informações não apenas resulta em uma superficialidade de pensamento, mas
também na perda generalizada da capacidade crítica, o autor destaca como um
Aceleracionismo da Narrativa pode precipitar uma dificuldade em filtrar a enxurrada
informativa - processo análogo é enfrentado e discutido na sociedade digital em nossos dias.
Nesse cenário, a facilidade de acesso torna-se um critério preponderante, favorecendo
informações instantâneas e simplificadas, pois, quanto mais rápido e simples, mais atraente
torna-se o consumo. Essa dinâmica evidencia a preferência por formas de entretenimento mais
acessíveis, como séries televisivas, em detrimento de obras literárias mais densas,
contribuindo para a percepção de que a simplicidade instantânea é mais atrativa em um
mundo saturado de informação, retomando crises do conhecimento apontadas por Hobsbawn14.
Em resumo, "Fahrenheit 451" de Ray Bradbury destaca os perigos do
Aceleracionismo da Narrativa ao ilustrar como a sobrecarga informativa resulta em
superficialidade e perda crítica. Esta relação aponta para o risco de aceitação passiva,
facilitando a ascensão de sistemas autoritários sem contestação.
As novas formas de comunicação advindas das mídias digitais, fruto do
desenvolvimento tecnológico contemporâneo, provocaram a transformação da percepção do
tempo cotidiano com a dinamicidade dos processos comunicativos. Com a rapidez dos
eventos hodiernos e, consequentemente, dos seus reflexos na sociedade, o consumo de
informações se tornou, gradativamente e para muitos, supérfluo.

14
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4018951/mod_resource/content/1/A%20Era%20dos%20Imperios%201875-1914
%20-%20Eric%20J.%20Hobsbawm.pdf e https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7658836/mod_resource/content/1/Eric%2
0J.%20Hobsbawm%20-%20Hist%C3%B3ria%20Social%20do%20Jazz-Editora%20Paz%20e%20Terra%20%281990%29.pdf
A obra de Zygmunt Bauman, “Modernidade Líquida”, traduz as implicações da
dinamicidade do ritmo de vida cotidiano nas relações sociais. Observa-se, a partir disso, uma
superficialidade intelectual que leva não só à perda da capacidade de reflexão crítica, mas
também à desvalorização do conhecimento substancial em favor de uma busca incessante por
experiências, estímulos rápidos e passageiros.
É nítido, nesse sentido, que a literatura aceleracionista não apenas deve considerar os
avanços tecnológicos, mas também como essas transformações afetam a essência humana e as
relações sociais e interpessoais. O aceleracionismo, assim como a Modernidade Líquida
retratada por Bauman, busca não apenas a desconstrução dos paradigmas estabelecidos, mas
também a mudança constante em resposta à rápida transformação do mundo contemporâneo.
Esse processo causa uma pressão sobre os paradigmas narrativa e literatura.
Assim como Bauman retrata a necessidade de adaptabilidade e flexibilidade diante das
mudanças constantes na modernidade líquida, o aceleracionismo na literatura expressa e
busca adaptar-se, bem como procura responder rapidamente às complexidades do mundo
contemporâneo. Esse movimento não se limita apenas a desafiar as estruturas das narrativas
tradicionais no âmbito de sua temporalidade, mas também se propõe a ser um reflexo sensível
e ágil das transformações culturais, sociais e tecnológicas que ocorrem em ritmo acelerado na
contemporaneidade.
Ambos os conceitos - a modernidade líquida de Bauman e o aceleracionismo na
literatura - convergem na noção de que a rigidez e a permanência são inadequadas para
capturar a essência do mundo em constante mutação. Ao invés disso, eles promovem a
agilidade, a adaptabilidade e a capacidade de desconstruir e reconstruir constantemente
paradigmas, sejam eles sociais, culturais ou narrativos, como estratégias fundamentais para
compreender e representar a complexidade dinâmica do mundo em nossos dias.
Outrossim, analisando as consequências desse aceleracionismo, pode-se destacar
problemas sociais característicos de uma sociedade cada vez mais acelerada. Nessa
perspectiva, em curto espaço de tempo, podemos perceber a intensificação das disparidades
sociais e econômicas: a aceleração das forças de mercado pode aumentar a desigualdade,
beneficiando os já poderosos ou tecnologicamente avançados. Além disso, pode-se mencionar
a instabilidade política e social, uma vez que a rápida mudança pode levar a conflitos sociais,
protestos e instabilidade política, à medida que diferentes grupos reagem às transformações
aceleradas. Em que pese a questão tecnológica, o aumento na inovação e no desenvolvimento
tecnológico, impulsionado pela competição e pela rápida mudança do mercado, pode ser
descrito como outra consequência do aceleracionismo crescente.
A longo prazo, o aceleracionismo - considerando, por exemplo, a abrangência global
das inteligências artificiais e as biotecnologias integrativas - pode acarretar uma
transformação drástica dos sistemas econômicos e políticos existentes. Em um cenário ideal,
isso poderia resultar na criação de estruturas mais eficientes e equitativas, adaptadas às
realidades de um mundo cada vez mais tecnológico. Por outro lado, essa transformação
acelerada pode também resultar em instabilidade social e política cuja análise é emergente, à
medida que as pessoas lutam para se adaptar a mudanças rápidas e, muitas vezes, disruptivas.
Do ponto de vista ambiental, o aceleracionismo moderno pode ter consequências
preocupantes. A ênfase na produção e no crescimento tecnológico pode exacerbar a crise
climática e outros problemas ambientais, a menos que acompanhada de uma forte
conscientização e políticas de sustentabilidade. Isso exige uma abordagem equilibrada sobre a
necessidade de avanço tecnológico e a preservação do meio ambiente.
Outra dimensão importante é o impacto do aceleracionismo nas relações de trabalho.
A automação e outras tecnologias disruptivas podem levar à perda de empregos em setores
tradicionais, exigindo uma revisão dos sistemas de segurança social e uma maior ênfase na
requalificação e educação contínua dos trabalhadores, que fatalmente não acompanham o
processo em tempo de se readequar profissionalmente e participar do novo sistema.
Por fim, o aceleracionismo moderno desafia as noções tradicionais de governança e
poder. A velocidade das transformações tecnológicas pode ultrapassar a capacidade dos
sistemas políticos de se adaptarem, levando a um descompasso entre os desenvolvimentos
tecnológicos e as regulamentações, ou seja, direitos são afetados. Isso resulta em um vácuo de
poder, onde entidades não governamentais e corporações ganham influência desproporcional.
Portanto, o aceleracionismo moderno é uma teoria que, embora prometa avanços
tecnológicos e transformações sociais rápidas, traz consigo um conjunto complexo de desafios
e riscos. A sua implementação requer uma consideração cuidadosa das consequências sociais,
econômicas, políticas e ambientais, garantindo que o progresso tecnológico beneficie a
sociedade como um todo e não apenas uma elite.
Em linhas finais, vale ressaltar que à medida que adentramos as complexidades do
aceleracionismo, seja no contexto sociopolítico, surge uma visão clara da transparadigmação
do conceito de narrativa. O movimento, refletido na literatura por meio da desconstrução de
paradigmas narrativos, experimentação estilística intensificada, exploração de temas futuristas
e ruptura com linearidades temporais, revela-se como uma força revolucionária. Portanto, essa
transformação não apenas desafia estruturas, mas também conduz a literatura a um território
inexplorado de inovação e reflexão.
Ao acelerar a experimentação estilística, a literatura busca uma diversidade de estilos
alinhados aos conceitos pós-modernos, desafiando normas condicionais e promovendo uma
rapsódia que dialoga com a multiplicidade de perspectivas. Entretanto, é importante
considerar as críticas - destacadas ao longo do texto - que surgem diante desse ímpeto
aceleracionista. Como vistos, algumas vozes questionam se essa busca por diversidade
estilística pode, em alguns casos, obter preocupações, como resultar em obras fragmentadas
ou de compreensão, levantando inquietações sobre a coesão narrativa e a difícil
acessibilidade.
Assim, a exploração intensiva de temas futuristas, em alguns pontos, impulsionada
pelo aceleracionismo, pode enriquecer o repertório da linguagem literária, estimulando a
verticalização dos temas. No entanto, esse foco excessivo em futuros alternativos pode
negligenciar as complexidades e desafios presentes no mundo atual, trazendo consequências e
levantando a questão da relevância e equilíbrio na abordagem de tais temáticas.
Por conseguinte, torna-se claro o risco de uma alienação do público, questionando se a
literatura aceleracionista, ao se distanciar demais da realidade, pode perder sua capacidade de
conectar-se emocional e culturalmente com a audiência. Isto é, diante de um paradoxo onde a
literatura, ao tornar-se uma ferramenta vital para refletir sobre os rumores da sociedade,
alimenta o imaginário coletivo com cenários inovadores e provocativos, mas que podem
disfarçar os fatos de uma conjuntura realista, proporcionando um risco aos envolvidos.
Vale destacar que a ruptura com as linearidades temporais tradicionais, inspirada pela
natureza não linear do desenvolvimento aceleracionista, tem como fenômeno narrativas mais
complexas e quase instantâneas. Sendo assim, essa revolução de narrativa transcende as
fronteiras do convencional, isto é, manifestando-se não apenas na forma, mas também no
conteúdo das histórias contadas. Como resultado, essa não linearidade apresenta à
compreensão e envolvimento do leitor, levantando questões sobre a acessibilidade e a
capacidade de transmitir mensagens e significados efetivamente. Assim, ao absorver os
princípios da tração, a literatura não apenas se adapta à velocidade vertiginosa do mundo
contemporâneo, mas incorpora a urgência da mudança em suas entradas.
Logo, a natureza transformativa dessa abordagem estende-se à própria essência das
narrativas, refletindo uma consciência aguçada da atualização do tempo e da constante busca
por novas possibilidades, mergulhando nas questões fundamentais da contemporaneidade,
enfrentando tanto o aplauso quanto às críticas. Nessa perspectiva, a exploração intensiva de
temas futuristas não é apenas uma manifestação estilística, mas uma tentativa audaciosa de
sondar os horizontes do que está por vir. Ou seja, a literatura não apenas narra histórias; ela se
torna um veículo para a compreensão mais profunda da dinâmica acelerada do mundo,
consolidando-se como testemunha e participante ativo da revolução que molda a maneira
como percebemos e narramos nossas experiências.

REFERÊNCIAS

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