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O artigo aborda os pilares da distinção entre genótipo-fenótipo (G-P), novas descobertas sobre
hereditariedade e abordagens recentes relacionadas aos genótipos e fenótipos. Embora a distinção
G-P ainda seja utilizada em casos específicos, existem questionamentos sobre sua relevância na
atualidade, visto que o conhecimento sobre o tema evoluiu no decorrer do tempo. Ela precisa ser
repensada, já que foi elaborada por volta do século XIX e tem como base a genética mendeliana, no
início dos estudos sobre a hereditariedade. Nessa época, pesquisadores conceituaram a
hereditariedade biológica como o processo de transmissão de características entre gerações por
meio da reprodução e acreditavam que essa teoria deveria explicar, além das semelhanças entre pais
e filhos e características parentais híbridas, as irregularidades na transmissão dessas características
(que fazem os filhos nem sempre se parecerem com os pais, ou filhos de mesmos pais não serem
idênticos). Assim, as teorias da época sugeriram que a hereditariedade envolve não apenas
transmitir aos descendentes características observáveis, mas também “germes” latentes que
poderiam ou não se tornar características observáveis nas gerações seguintes.
Para Darwin, os germes eram diferentes das partes do corpo, sendo formados de “gêmulas” ou
elementos expelidos pelas partes do corpo durante a ontogênese, podendo ser mapeadas nessas
partes mesmo sem serem desenvolvidas. Essa concepção era coerente com o fato de que
características podem ser transmitidas de forma latente, mas sua teoria ainda manteve o conceito de
transmissão direta de características. O neodarwinista Weismman, entretanto, afirmou que os
caracteres e seus determinantes são de natureza distinta, permitindo diferenciar o
“germen”(continuidade da espécie) e o soma (partes do corpo dos pais e da prole). Segundo ele,
durante a ontogênese as linhagens de células germinativas e somáticas se separam e o germe
determina as características dos pais e dos descendentes. Galton também teve um pensamento
semelhante, diferenciando a soma dos germes transmitidos do organismo pessoal. Ele achava que, se
o corpo possui mais germes do que aqueles que seriam produzidos na ontogênese, o indivíduo
poderia transmitir tanto uma característica como uma doença, ainda que ele não a apresentasse.
Por volta do século XX, houve uma redescoberta das leis que mais tarde ficaram conhecidas
como genética mendeliana, e que, inicialmente, destacavam a formação e o desenvolvimento de
híbridos. A lei da segregação de Mendel aborda a separação de pares de caracteres nas células
sexuais, e a lei da segregação independente sustenta que pares de caracteres diferentes se
comportam de forma independente. Mendel, (através do experimento das ervilhas), diferenciou
caracteres puros, híbridos, dominantes e recessivos. Ele destacou que os caracteres dominantes
seriam transmitidos à prole, porém, os recessivos ficariam latentes nos híbridos e se manifestariam
nos descendentes, distinguindo, dessa forma, entre o que é transmitido e o que é observado nas
gerações. A redescoberta das leis de Mendel mudou a visão da hereditariedade, que passou de uma
força versátil para um fenômeno regido por regras específicas dando origem à genética mendeliana.
A partir de então, surgiram novos termos como alelo, homo/heterozigoto, a distinção G-P e o
conceito de gene, que representava “fatores unitários” enviados aos gametas como elementos
teóricos e funcionais, observados indiretamente por meio do fenótipo.
O terceiro pilar da distinção G-P é avaliado com base em uma perspectiva teórica sistêmica
chamada organicismo. Essa teoria questiona a determinação unidirecional entre as partes e o todo
do organismo. Ela afirma que partes funcionais diferentes em um sistema biológico dependem uma
das outras para se manterem ao longo do tempo. Esse conceito apoia a visão de que a relação entre
as sequências de DNA e todo organismo deve ser mútua em três sentidos: nas condições de
existência (genótipo e fenótipo se interdependem para se manterem); especificação mútua de
poderes causais (os genes contribuem para formar as redes moleculares e as redes moleculares
determinam a atividade dos genes); relações de causa e efeito (genótipos e fenótipos criam
diferenças entre si), por exemplo, processos epigenéticos podem modificar sequências de DNA em
uma única geração de organismos levando à assimilação mutacional. Nesse processo, um gene
defeituoso é regulado positivamente (por mutação) para compensar seu defeito, cessando quando o
organismo encontra um estado viável e levando a conclusão que a variação genética pode ser
orientada e adaptada no nível do genoma.