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AO JUIZO DA 6ª VARA CÍVEL DO TERMO JUDICIÁRIO DE SÃO LUÍS DA

COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DO MARANHÃO

Processo nº 160816

DANIEL, brasileiro, profissão, estado civil, portador do RG n°, inscrito no


CPF sob o n°, com endereço, através de seu advogado que a esta subscreve,
conforme procuração em anexo (DOC 01), com escritório profissional situado,
onde recebe notificações e intimações, vem, respeitosamente à presença de
Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 335 e seguintes do Código de Processo
Civil, apresentar

CONTESTAÇÃO COM RECONVENÇÃO

À ação de natureza condenatória movida por MARIA FERNANDA, já


qualificada nos autos do processo em epígrafe, pelas relevantes questões de
fato e direito a seguir expostas.
I. DA TEMPESTIVIDADE:

Nos termos do artigo 335 do Código de Processo Civil, a contestação


será oferecida no prazo de 15 (quinze) dias a contar da citação do réu, vejamos:

Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no


prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data:
I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última
sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer
ou, comparecendo, não houver autocomposição;
II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de
conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando
ocorrer a hipótese do art. 334, § 4º, inciso I;
III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita
a citação, nos demais caso

No caso dos autos, a citação se deu com base no aviso de recebimento.


Com isso, necessário destacarmos o disposto no artigo 231, I do Código de
Processo Civil, que traz o seguinte:

Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia


do começo do prazo:
I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento,
quando a citação ou a intimação for pelo correio;

Segundo o dispositivo supramencionado, a tempestividade quando na


hipótese de citação por aviso de recebimento só será contada a partir da juntada
deste aviso de recebimento aos autos. Assim, sabendo que a citação ocorrera
no dia 04 de março de 2024, tendo o AR sido juntado tão somente em 18 de
março de 2024, completamente tempestiva a presente contestação.

Isto porque, conforme artigo 231, I do Código de Processo Civil, o prazo


teve início em 18 de março de 2024 (dia da juntada do AR) e finda-se tão
somente em 11 de abril de 2024, considerando que não haverá expediente
forense no dia 27 de março em virtude do ponto facultativo, bem como em razão
do feriado da semana santa, quais sejam: dias 28 e 29 de Março de 2024, de
acordo com a Resolução do Tribunal de Justiça do Maranhão (em anexo),
vejamos:

RESOLUÇÃO-GP Nº 98, DE 23 DE NOVEMBRO


DE 2023, ficou estabelecido no TJMA que, nos dias
28 e 29 de março de 2024 é feriado devido à
Semana Santa, portanto, não haverá expediente.
No dia 27 de março é ponto facultativo, ou seja, as
atividades estarão suspensas.

Portanto, completamente tempestiva a presente contestação, haja vista


que seu protocolo se dá antes do termo final.

II. DA SÍNTESE DOS FATOS:

Narra a autora que estava conduzindo seu veículo pela Rua das
Gardênias, nesta cidade, quando ocorrera uma colisão envolvendo o seu veículo
e o veículo de Daniel, ora requerido.

Aduz que o incidente ocasionou danos materiais estimados em R$


40.000,00 (quarenta mil reais) no que concerne o conserto de seu veículo, e
ainda, que Daniel foi o responsável pelo incidente, argumentando que no
momento dos fatos, este dirigia acima da velocidade permitida na via.

Irresignada, pois alega que Daniel fora integralmente responsável pelos


danos causados nos veículos, ajuizou ação de natureza condenatória com o
propósito de obter indenização pelos valores pagos no conserto de seu veículo.

Entretanto, conforme se demostrará adiante, razão nenhuma assiste aos


pleitos da autora, assim, deve a presente demanda ser julgada totalmente
improcedente.

III. DA VERDADE DOS FATOS:

Inicialmente, necessário destacarmos a verdade dos fatos como


efetivamente ocorreram, uma vez que a autora relata situações que não
correspondem com a realidade, de modo a induzir este juízo a erro.
Narra a autora que o requerido possui culpa exclusiva em razão dos
danos causados nos veículos, ao passo que no dia do acidente, dirigia acima da
velocidade permitida.

Entretanto, em que pese a autora alegue culpa exclusiva do requerido,


tais fatos não condizem com a realidade, uma vez que a responsabilidade pelo
ocorrido recai exclusivamente sobre a autora, que no momento dos fatos,
encontrava-se sob efeito de bebidas alcoólicas e ainda ultrapassou o sinal
vermelho, conforme boletim de ocorrência registrado pelo requerido (em anexo).

Destarte, conforme é sabido, quando da ingestão de bebidas alcoólicas,


o motorista passa a ter, entre outros sintomas, considerável redução do nível de
concentração, diminuição de reflexos, visão turva, aumento da sonolência, e
ainda, dificuldade de compreender as informações sensoriais ao seu redor.
Assim, o acidente se deu em razão de ter a autora, em virtude da ingestão de
bebidas alcoólicas, ter ultrapassado o sinal vermelho.

A este propósito, o Código de Trânsito brasileiro, em seu artigo 165,


prevê penas para aqueles que dirigem embriagados, sendo, inclusive, uma
infração gravíssima, que pode acarretar em multa e suspensão do direito de
dirigir.

A autora, no momento dos fatos, agiu de forma completamente desidiosa,


ocasionando o acidente em razão de dirigir veículo automotor sob influência de
bebidas alcoólicas, não respeitando os cuidados indispensáveis à segurança do
trânsito.

Assim, diante de todo o exposto, razão nenhuma assiste ao pleito da


requerente, conforme se demonstrou, devendo ser julgada improcedente a
demanda e declarada exclusiva culpa da autora, eis que deu causa ao acidente
automotor.

IV. PRELIMINARMENTE

IV.I. DA INCORREÇÃO DO VALOR DA CAUSA:


Nobre Julgador, de análise da ação ajuizada sob o nº 160816, verifica-
se que a autora atribui à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), embora
tenha sofrido prejuízo material em seu veículo no valor de R$ 40.000,00
(Quarenta mil reais).

Entretanto, nos termos do artigo 292, inciso V do Código de Processo


Civil, as ações indenizatórias devem ter por valor da causa o importe de que
pretende, vejamos:

Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da


reconvenção e será:

(...)

V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral,


o valor pretendido;

réu
poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atribuído à causa pelo
autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso,

Deste modo, notadamente há uma incorreção no valor da causa, ao


passo que a autora atribui ao valor da causa um valor sabidamente 39 (trinta e
nove) vezes menor que o valor do conserto do automóvel que foi de R$
40.000,00 (quarenta mil reais). Assim, nestes casos, nos termos do artigo 337,
inciso III do Código de Processo Civil:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito,


alegar:
(...)
III - incorreção do valor da causa;

Assim, a vista de todo o exposto, requer-se que Vossa Excelência se


digne a intimar a parte autora para corrigir o valor da causa, e, se assim não o
fizer, que arbitre o valor que entender cabível, intimando a parte para recolher
as custas complementares.

Por fim, requer-se que em caso de inércia, seja indeferida a inicial em


razão do não recolhimento das custas processuais.
V. NO MÉRITO

V.I. DA CULPA EXCLUSIVA DA AUTORA. IMPRUDÊNCIA EM CONDUZIR


VEÍCULO AUTOMOTOR SOB EFEITO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS.
AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO PRATICADO PELO REQUERIDO.
INEXISTENCIA DE AFRONTA AO ARTIGO 186 DO CÓDIGO CIVIL:

Conforme depreende-se da Exordial, a autora alega que estava


conduzindo seu veículo pela Rua das Gardênias, nesta cidade, quando ocorrera
uma colisão envolvendo o seu veículo e o veículo de Daniel, ora requerido. Aduz
que este havia sido o responsável pelo acidente, ao passo que dirigia acima da
velocidade permitida na via.

Em razão disso, pugna para que este juízo condene Daniel ao


pagamento de indenização no valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), valor
que pagou em razão dos danos ocasionados no veículo.

Entretanto, razão nenhuma assiste a autora em seus pleitos, ao passo


que, conforme já narrado, no momento dos fatos estava sob efeito de bebidas
alcoólicas, e ainda, estava 5% (cinco por cento) acima do limite de velocidade
permitido na via, logo, possui culpa exclusiva no incidente causado.

Conforme é cediço, a condução de veículo em estado de embriaguez,


em razão de representar infração grave de trânsito, é suficiente para caracterizar
a culpa presumida da infratora. Isto porque, conforme se sabe, quando da
ingestão de bebidas alcoólicas, há uma considerável redução do nível de
concentração, diminuição dos reflexos, sonolência exacerbada, assim como há
uma maior dificuldade da compreensão de informações sensoriais.

Denota-se que inexiste por parte do Requerido quaisquer atos ilícitos,


logo, não há que se falar em responsabilidade civil. Isto porque, o Requerido em
nenhum momento praticou ação voluntária com negligência ou imprudência que
causasse danos à parte requerente, como demonstra o boletim de ocorrência
em anexo, assim, não há o que se falar em dever de indenizar.

Em contrapartida, toda responsabilidade recai sobre a autora que


conforme documentação acostada aos autos, encontrava-se completamente
embriagada no momento do acidente, pondo o requerente e demais pessoas em
risco.

Deste modo, a autora, pelos aludidos fatores de imprudência, teve culpa


exclusiva pela colisão, considerando que dirigia sob efeito de álcool, com
velocidade de 5% acima do limite permitido e ainda, ultrapassou o sinal
vermelho. Ademais, as condutas praticadas pela autora são consideradas
infrações de trânsito gravíssimas, sendo estas as maiores causadoras de
acidentes e mortes no trânsito.

Assim, a imprudência da autora culmina na assunção do risco de


colisões ao dirigir sob estado de embriaguez, não devendo, em razão disso, ser
atribuído ao requerido qualquer ato ilícito, ao passo que, diferente da autora, não
deu causa ao acidente envolvendo os veículos automotores. A este propósito,
necessário destacarmos o entendimento externado pelos Egrégios Tribunais de
Justiça, conforme depreende-se da ementa abaixo transcrita, vejamos:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE


PROCEDIMENTO COMUM RESPONSABILIDADE CIVIL
- ACIDENTE DE TRÂNSITO - ESTADO DE EMBRIAGUEZ
- CULPA PELO EVENTO DANOSO - DANOS MORAIS -
QUANTIFICAÇÃO - MÉTODO BIFÁSICO. 1. A
Responsabilidade Civil designa o dever que alguém
tem de reparar o prejuízo, em consequência da ofensa
a um direito alheio. 2. A condução de veículo em
estado de embriaguez, por representar grave infração
de trânsito e comprometer a segurança viária, é motivo
suficiente para a caracterização de culpa presumida
do infrator na hipótese de acidente. 3. Age com culpa
o condutor de veículo conduz veículo após consumo
de bebida alcoólica. 4. O dano moral ocorre quando há
lesão aos direitos da personalidade da vítima. 5. O
arbitramento da quantia devida para compensação do
dano moral deve se realizar por meio de um método
bifásico, no qual são considerados os precedentes em
relação ao mesmo tema e as características do caso
concreto (a gravidade do fato em si, a responsabilidade do
agente, a culpa concorrente da vítima e a condição
econômica do ofensor).

(TJ-MG - AC: 10000222415226001 MG, RELATOR: JOSÉ


AMÉRICO MARTINS DA COSTA, DATA DE
JULGAMENTO: 10/02/2023, CÂMARAS CÍVEIS / 15ª
CÂMARA CÍVEL, DATA DE PUBLICAÇÃO: 14/02/2023)

Deste modo, não observa-se que o requerido tenha cometido quaisquer


tipos de atos ilícitos, sendo assim, razão nenhuma assiste aos pleitos da autora,
conforme se demonstrou, devendo ser declarada a culpa exclusiva da autora e
julgada improcedente a demanda, pelas razões exaustivamente narradas.

V.II. DA AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE CIVIL. INEXISTÊNCIA DO


DEVER DE INDENIZAR OS DANOS MATERIAIS SOFRIDOS:

Conforme já aduzido, a autora imputa erroneamente ao requerido as


causas e consequências do referido acidente, no entanto, embora se tenha
projetado efeitos e danos materiais em ambos os automóveis, somente à
requerente, deve-se atribuir toda e qualquer responsabilidade, na medida em
que esta, ao dirigir veículo automotor sob efeito de bebidas alcoólicas, não agiu
com a prudência necessária, causando a colisão.

Ademais, o artigo 28 do Código de trânsito brasileiro aduz que cabe ao


motorista, ora condutor, ter domínio de seu veículo e dirigir com atenção e
cuidado, vejamos:

Art. 28. O condutor deverá, a todo momento, ter domínio de


seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados
indispensáveis à segurança do trânsito.

Deste modo, não se pode imputar ao requerido as custas de conserto e


demais reparos, ao passo que a autora foi a única responsável pelo acidente em
razão de dirigir sob efeito de bebidas alcoólicas e não dirigir com a atenção e
cuidado indispensável, portanto, deve esta ser responsável integralmente aos
encargos equivalentes a R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) em razão dos danos
causados em seu veículo. Torna-se explicita a má-fé da requerente ao atribuir
para o requerido todos os custos por consequência da colisão que tão somente
ocorreu por sua irresponsabilidade.

Nobre Julgador, é forçoso imputar ao requerido a responsabilização sem


que tenha dado causa ao acidente. Diante de todo exposto, resta evidente a
culpabilidade tão somente da requerente, ao passo que assumiu a direção de
veículo automotor mesmo estando sob influência de bebidas alcoólicas.

Logo, também neste ponto não merecem respaldo os requerimentos da


autora, sendo assim, não pode ser outra a decisão desse juízo, senão pela
improcedência dos pedidos de condenação por danos materiais.

VI. DA RECONVENÇÃO:

VI.I. DA NECESSIDADE DE INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MATERIAIS


SOFRIDOS. POSSIBILIDADE. ACIDENTE DECORRENTE DE CULPA
EXCLUSIVA DA RECONVINDA:

Inicialmente, cumpre destacar que cabe ao réu propor reconvenção,


manifestando pretensão própria, se conexa com a ação principal ou com o
fundamento da defesa, nos termos do artigo 343 do Código de Processo Civil,
vejamos:

Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção


para manifestar pretensão própria, conexa com a ação
principal ou com o fundamento da defesa.

In casu, conforme já exaustivamente narrado, a Autora visa se locupletar


do Poder Judiciário, tentando desvincular-se de responsabilidade que sabe ser
devida, e ainda, pleiteia indenização do requerido sem que este tenha concorrido
para o evento danoso.

Em verdade, conforme restou evidente, a autora fora a única


responsável pelos danos ocasionados em razão de, no dia dos fatos, estar
dirigindo sob efeito de bebidas alcoólicas, estar dirigindo 5% (cinco por cento)
acima da velocidade permitida na via, e ainda, em razão de ter, de forma
irresponsável, desrespeitado a sinalização de trânsito, ultrapassando o sinal
vermelho.

Deste modo, as condutas perpetradas pela autora configuram-se como


as verdadeiras causas do acidente, resultando nos danos materiais aos veículos
envolvidos. Deste modo, em razão da falta de dever de cuidado por parte da
autora, deve ser condenada a indenizar, nos termos o artigo 927 do Código civil,
a saber:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

No que concerne a indenização por danos materiais, tem-se que é


especialmente tutelado por nossa Carta Magna em seu art. 5°, V e X, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
(...)
V - É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
(...)
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

A esse propósito, faz-se mister trazer à colação o entendimento do


eminente Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, que quando dos danos materiais,
assevera:

Mal ou ofensa pessoal; prejuízo moral, prejuízo material


causado a alguém pela deterioração ou inutilização de
1

1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI Dicionário


eletrônico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM.
Deste modo, demostrada a culpa exclusiva da autora, o réu, ora
reconvinte, requer que esta seja condenada a pagar, a título de indenização por
danos materiais, em decorrência do acidente de trânsito, o montante de R$
30.000,00 (trinta mil reais), valor utilizado para o conserto de seu veículo, e
ainda, que julgue improcedentes os pedidos iniciais da autora.

VI.II. DA NECESSIDADE DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


DEMOSTRAÇÃO DE DANOS EXTRAPATRIMONIAIS:

Nobre Julgador, conforme é cediço, a Constituição Federal em seu artigo


5º, inciso X, assegura o direito de indenização pelo dano moral decorrente de
violação à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas.

No caso em análise, o dano moral é pleiteado em virtude da má-fé da


reconvinda para com o reconvinte, ao passo que esta atribui ao reconvinte
responsabilidade pelo acidente e pelos danos sem que este tenha concorrido ou
dado causa aos fatos. A situação ora narrada excede o mero aborrecimento, ao
passo que o reconvinte teve que suportar, para além dos inúmeros danos em
razão das avarias causadas em seu veículo, o fato de ter contra si uma ação
judicial sem que tenha concorrido para o evento danoso.

Deste modo, restando demostrado que a reconvinda causou danos ao


reconvinte, deve responder por estes. A este propósito, quando da
responsabilidade por ato ilícito, dispõem os artigos 186 e 927 do Código civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Assim, o dano moral compreende agressões à integridade psicológica,
ao abalo emocional ocasionado pela reconvinda, que causou diversos danos ao
reconvinte e ainda tentou imputar-lhe responsabilidade que sabe ser indevida.

Deste modo, no que concerne o conceito de dano moral, a doutrina


majoritária o compreende como sendo a lesão aos direitos da personalidade,
concretamente merecedora de tutela. Neste sentido, o respeitável Carlos Alberto
Bittar, quando dos danos morais, entende que
ânimo, em reações desagradáveis, desconfortáveis ou constrangedoras, ou
2

No mesmo sentido, o Nobre Silvio de Salvo Venosa, quando dos danos


morais, aduz:

Será moral o dano que ocasiona um distúrbio anormal


na vida do indivíduo; uma inconveniência de
comportamento ou, como definimos, um desconforto
comportamental a ser examinado em cada caso. Ao se
analisar o dano moral, o juiz se volta para a
sintomatologia do sofrimento, a qual, se não pode ser
valorada por terceiro, deve, no caso, ser quantificada
3
economicamente

No que concerne a natureza jurídica da reparação por danos morais, a


doutrina e jurisprudência majoritária conferem-lhe uma dupla finalidade, quais
sejam: compensar o ofendido e punir o ofensor. Deste modo, para além de
atenuar o sofrimento e as inúmeras frustrações encaradas pelo reconvinte, deve
ainda a reparação ter o fito de sancionar e punir a reconvinda, de modo a
desestimulá-la a reiterar a conduta lesiva aqui demostrada, impedindo-a de

2 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. 1994, p. 31.

3 VENOSA, Silvio de Salvo, Direito Civil: Responsabilidade Civil. 15. ed. São Paulo:
Atlas, 2015
colocar a vida de terceiros em risco em razão de assumir veículo automotor sob
efeito de bebidas alcoólicas, causando danos a indivíduos.

Assim, na presente situação, tem-se como pertinente a reparação pelo


dano moral sofrido pelo reconvinte, de modo a cumprir, como afirmado, a sua
dupla finalidade, tanto punitiva e inibidora da conduta ilícita do agente, quanto
compensatória, em relação ao dano aqui demostrado.

Quanto ao valor da condenação, deve ser fixado a partir dos seguintes


critérios: a extensão do dano, as condições socioeconômicas e culturais dos
envolvidos, as condições psicológicas das partes e o grau de relevância da
conduta do agente, de terceiro ou da vítima para a causa do resultado.

Sendo assim, diante de todo o exposto, entende-se necessária a


reparação em favor do reconvinte, de modo que reconvinda seja condenada a
pagar, a título de danos morais, o importe de R$ 5.000,00 (Cinco mil reais) ou
outro valor arbitrado por Vossa Excelência, dentro da teoria do valor de
desestímulo, que faça com que a reconvinda passe a tomar as medidas cabíveis
antes de assumir a direção de veículo automotor sob efeito de bebidas
alcoólicas, de modo que não exponha outras pessoas a mesma situação pelo
qual o reconvinte vem sendo submetido.

VII. SUBSIDIARIAMENTE

VII.I DA CULPA CONCORRENTE:

Nobre Julgador, não entendendo Vossa Excelência pela culpa exclusiva


da autora, ao passo que no momentos dos fatos dirigia sob efeito de bebidas
alcoólicas, encontrava-se em alta velocidade e ainda avançou um sinal
vermelho, que reconheça a culpa concorrente, devendo, em razão disso, ser
fixado valor a título de reparação pelos danos materiais sofridos levando-se em
consideração a culpa de cada uma das partes, para que seja determinado a
estas valor proporcional a suas efetivas participações no evento danoso.
No que concerne a culpa concorrente, preconiza o artigo 945 do Código
de Processo Civil:

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o


evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em
conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do
autor do dano.

Deste modo, considerando que no momento dos fatos o requerido


encontrava-se 5% (cinco por cento) acima da velocidade permitida na via, e que
a requerida encontrava-se sob efeito de bebidas alcoólicas, em alta velocidade
e ainda que ultrapassou sinal vermelho, devem as partes serem condenadas na
medida de suas respectivas culpabilidades, conforme acima demostradas.

A este propósito, necessário destacarmos o entendimento do


Ilustríssimo Sergio Cavalieri, que quando da culpa concorrente, preconiza, in
verbis:

jurisprudência recomendam dividir a indenização,


não necessariamente pela metade, como querem
alguns, mas proporcionalmente ao grau de
culpabilidade de cada um dos envolvidos(...). Note-se
que a gravidade da culpa deve ser apreciada
objetivamente, isto é, segundo o grau de causalidade do
ato de cada um. Tem-se objetado contra esta solução que

por que não se deve atender à diversa gravidade das

dividida com justiça sem se ponderar essa diversidade


influi na indenização, contribuindo para a repartição
4

4 CAVALIERI, Sergio. Da Responsabilidade Civil, 5ª ed., v. II/314, n. 221.


Em casos semelhantes ao dos autos, os Egrégios Tribunais de Justiça
vem decidindo reiteradamente acerca da culpa concorrente, explicitando que,
quando demostrada a culpa de mais de uma pessoa, deve a reparação dos
danos ser dividida de forma proporcional a culpabilidade de cada uma das
partes, vejamos:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REGRESSIVA DE


RESSARCIMENTO. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
DESLOCAMENTO LATERAL REALIZADO DE FORMA
INSEGURA. COLISÃO COM VEÍCULO QUE
TRANSITA NA VIA PRINCIP A L.
RESPONSABILIDADE. EXCESSO DE VELOCID A D E.
CAUSA AGRAVANTE. CULPA CONCORRE NT E.
COMPROVAÇÃO.DIVISÃO PROPORCIONAL.
O condutor do veículo que assume a decisão de
ingressar na via sem observar os cuidados necessár io s,
tem responsabilidade pelo acidente provocado -
Demonstrada nos autos, através da dinâmica e das
circunstâncias do acidente, a culpa do condutor do
veículo envolvido, ainda que configurada a culpa
concorrente, deve ser mantida a sua responsabil id a de
fixada de forma proporcional, pela reparação dos danos
- O excesso de velocidade constitui infração às regras
de trânsito e enseja o reconhecimento de culpa
concorrente se demonstrado que tal excesso agravou o
resultado danoso - Demonstrada a culpa concorre n te
dos condutores dos veículos envolvidos no
acidente, impõe-se a aplicação do art. 945 do Código
Civil, para dividir proporcionalmente os danos
materiais.

(TJ-MG - AC: 10000220273163001 MG, Relator: Luiz


Carlos Gomes da Mata, Data de Julgame nt o:
02/06/2022, Câmaras Cíveis / 13ª CÂMARA CÍVEL,
Data de Publicação: 03/06/2022)
Diante do exposto, no remoto caso de Vossa Excelência não entender
pela culpa exclusiva da autora, que se digne a reconhecer a culpa concorrente,
de modo que sejam fixados a título de indenização pelos danos materiais
sofridos, valores proporcionais, devendo o requerido responder na medida de
sua culpabilidade.

VIII. DOS PEDIDOS:

Diante de todo o exposto, requer-se:

A) O acolhimento da preliminar de incorreção do valor da causa, de modo que


se digne Vossa Excelência a intimar a parte autora para corrigir o valor da
causa e recolher as custas complementares, e se assim não o fizer, que seja
indeferida a inicial em razão do não recolhimento das custas;
B) No mérito, a TOTAL IMPROCEDÊNCIA dos pedidos da parte autora, por
tudo que exaustivamente se demonstrou, restando comprovado que o direito
não lhe assiste;
C) Que seja acolhida e dado provimento a presente reconvenção, determinando
que a reconvinte:

C.1) Seja intimada, na pessoa de seu advogado, para apresentar resposta no


prazo de 15 (quinze) dias;

C.2) Seja condenada a arcar com todos os danos materiais referentes ao


conserto do veículo, este no valor de R$ 30.000,000 (Trinta mil reais) em razão
de ser a causadora dos prejuízos, conforme restou demostrado;

C.3) Seja a reconvinte condenada ao pagamento de danos morais em razão dos


abalos extrapatrimoniais causados ao requerido, estes no valor de R$
5.000,00 (cinco mil reais) ou outro valor a ser arbitrado por Vossa Excelência;

D) No remoto caso de Vossa Excelência não entender pela culpa exclusiva da


autora, que se digne a reconhecer a culpa concorrente, de modo que o
requerido responda na medida de sua culpabilidade, que conforme já
demostrado, é ínfima;
E) Que seja a requerente/reconvinda condenada ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, estes últimos no percentual de 20%
(vinte por cento) sobre o valor atualizado da causa;

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitidas, especialmente a prova documental e pericial.

Dá-se à causa o valor de R$ 35.000,00 (Trinta e cinco mil reais).

Nesses termos,

Pede deferimento.

São Luís/MA, 22 de março de 2024

ADVOGADO

OAB/MA

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