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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE DIREITO PROFESSOR JACY DE ASSIS

ANA CLARA TERRA PELARIN (12221DIR006)

BIANCA FARIA NASCIMENTO (12221DIR031)

FERNANDA ROCHA MEDEIROS PEIXOTO (12221DIR029)

JOÃO PEDRO CARVALHO DE MATOS (12221DIR021)

PAULO DE SOUSA TAVARES (12221DIR009)

VINÍCIUS PATRÍCIO QUEIROZ (12221DIR017)

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.348.854 SÃO PAULO

UBERLÂNDIA-MG

2023
ANA CLARA TERRA PELARIN (12221DIR006)

BIANCA FARIA NASCIMENTO (12221DIR031)

FERNANDA ROCHA MEDEIROS PEIXOTO (12221DIR029)

JOÃO PEDRO CARVALHO DE MATOS (12221DIR021)

PAULO DE SOUSA TAVARES (12221DIR009)

VINICIUS PATRÍCO QUEIROZ (12221DIR017)

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.348.854 SÃO PAULO

Trabalho elaborado como parte dos


componentes curriculares da disciplina Direito
Constitucional II: Direitos Fundamentais,
ministrada pelo professor Rodrigo Vitorino
Souza Alves, na graduação em Direito da
Universidade Federal de Uberlândia.

UBERLÂNDIA-MG

2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4

2. ACÓRDÃO .................................................................................................................. 4

3. RELATÓRIO .............................................................................................................. 4

4. VOTO DO MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES ........................................... 5

5. VOTO DO MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA ..................................................... 7

6. VOTO DO MINISTRO NUNES MARQUES .......................................................... 8

7. VOTO DO MINISTRO EDSON FACHIN ............................................................ 9

8. VOTO DO MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO ........................................ 10

9. VOTO DO MINISTRO DIAS TOFFOLI.............................................................. 11

10. VOTO DA MINISTRA CARMEN LÚCIA......................................................... 12

11. VOTO DO MINISTRO RICARDO LEWANDOWISK .................................... 13

12. VOTO DO MINISTRO GILMAR MENDES ..................................................... 13

13. VOTO DO MINISTRO LUIZ FUX ...................................................................... 15

14. PROPOSTA (TESE) ............................................................................................... 16

15. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 16

16. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 17


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1. INTRODUÇÃO

O recurso extraordinário analisado abordou a questão da extensão da licença-


maternidade a um genitor monoparental de crianças concebidas por fertilização in vitro.
O INSS interpôs o recurso contra o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que decidiu
favoravelmente pela ampliação do benefício de salário maternidade de 180 dias ao pai
solteiro dessas crianças, por meio de analogia. O INSS argumentou que essa decisão
violava certos artigos da Constituição, pois a licença-maternidade é concedida à mulher
devido às suas características biológicas que a ligam ao bebê de maneira distinta do pai.

Nesse caso, a discordância envolvia o fato do INSS apontar que não existe
previsão legal que possibilite ao pai solteiro de proles geradas por “barriga de aluguel”
obter a licença-maternidade. Em contrapartida, apresentou-se a tese de priorização da
proteção integral da criança e de que o cuidado parental é indispensável para o seu
desenvolvimento saudável.

O provimento do recurso extraordinário apresentado foi negado, para manter o


acórdão recorrido. O relator do acórdão foi o Ministro Alexandre de Moraes. Todos os
onze ministros do Supremo Tribunal Federal votaram no provimento ou não do recurso,
exceto a Ministra Rosa Weber, que teve sua ausência justificada.

2. ACÓRDÃO

Após análise do caso e discutidos os votos, os Ministros do Supremo Tribunal


Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux, por
unanimidade dos votos, acordaram em negar provimento ao recurso.

3. RELATÓRIO

O autor Marco Antônio Alves Ribeiro ajuizou uma Ação Ordinária pedindo tutela
antecipada em face do INSS e da União Federal, para conseguir o direito de salário
maternidade por 180 dias. Ele narra que é servidor público federal e perito médico pelo
INSS, e que é pai de um casal de filhos, registrados unicamente em seu nome, nascidos
prematuros e pelo processo de fertilização in vitro. O processo contra a União Federal
foi extinto devido à falta de legitimidade passiva, pois o pedido inicial deveria ser tratado
pelo órgão ao qual o autor está vinculado.
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O impasse surgiu devido à decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que


se baseou em princípios como dignidade da pessoa humana, isonomia material e vedação
da proteção deficiente para conceder o benefício solicitado. Assim, reconheceu-se a
licença-maternidade para o autor, argumentando que ela visa fortalecer os laços afetivos
entre o genitor e a criança nos primeiros momentos de vida em família,
independentemente do método de concepção, aceitando o pedido por analogia do
julgador.

O INSS argumentou a ausência de previsão legal e alegou a violação de preceitos


constitucionais, apontando que a diferença nos prazos das licenças não provoca a falta
de assistência às proles. Ademais, partindo do preceito da relevância econômica, ele
apontou que é gerado um prejuízo ao erário que atinge a esfera jurídica de toda a
Administração Pública. Após a admissão dos Recursos Especial e Extraordinário, os
autos foram remetidos ao Superior Tribunal de Justiça, mas o Recurso Especial não foi
aceito no STJ devido à natureza constitucional da disputa.

A FENAJUFE e a Defensoria Pública da União foram aceitas como amici curiae


na causa. A Procuradoria Geral da República se posicionou contra o provimento do
Recurso Extraordinário, alegando que a extensão da licença-maternidade ao pai solo
reflete a realidade da família contemporânea. O INSS juntou, aos autos de petição, Notas
emitidas pela SEGEP que destacavam a possibilidade de conceder um período
equivalente à licença-maternidade, quando a mãe está indisponível na estrutura familiar
do servidor, com o intuito de apoiar a tese de reconhecimento da Repercussão Geral n°
1182.

4. VOTO DO MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES

O Ministro Alexandre de Moraes inicia seu voto realizando uma descrição da


demanda ajuizada, relatando seu desenvolvimento causal. A fundamentação do julgado
concentrou-se na analogia entre a situação do autor e os casos que envolvem o
falecimento da mãe durante o parto, assim como a situação de um funcionário adotante,
já que, no caso concreto tratado, o cuidado dos bebês seria destinado exclusivamente ao
pai.

Assim, a controvérsia está na concessão ou não do direito ao pai solteiro de obter o


salário maternidade por 180 dias. Primeiramente, o Ministro ressalta a alteração de
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postura pelo INSS, que solicitou provimento ao recurso extraordinário com base em
argumentos biológicos, além da falta de fonte de custeio, já que o genitor já possui o
direito a licença paternidade pelo período de cinco dias.

O Ministro argumentou que a Constituição Federal dispõe sobre a igualdade de


direitos entre cidadãos, vedando a discriminação arbitrária. Só se justifica o tratamento
dispare dos casos desiguais, com finalidade proporcional ao fim objetivado. Ele
ressaltou que a proteção à maternidade e à família é garantida pela Constituição e citou
precedentes do STF que favorecem a proteção da mulher gestante ou lactante em
situações específicas, como no trabalho em locais insalubres ou em caso de dispensa
injustificada durante a gravidez.

Além disso, apontou que a igualdade entre os gêneros é fundamental, conforme


estabelecido pelo artigo 5º da Constituição, e que ambos os pais devem ter os mesmos
direitos e deveres para com os filhos. Ele mencionou as legislações que estipulam a
igualdade entre os prazos das licenças adotante e gestante; o direito de prorrogação desses
prazos em 60 dias, bem como a licença para pais adotantes ou em casos de falecimento
da mãe. Isso está estipulado no Estatuto da Criança e do Adolescente, na Lei de
Previdência Social, na Lei 11.770, criadora do Programa Empresa Cidadã e na
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O Ministro também citou exemplos de países estrangeiros que reconhecem a


igualdade de licença parental, inclusive para pais adotivos. Ademais, Ele enfatizou o
compromisso do STF com a proteção integral das crianças e adolescentes, priorizando
o ambiente familiar harmônico. Na hipótese referida, não é possível adotar o argumento
de tratamento normativo diferenciado frente à Constituição Federal, de modo que, no
caso concreto, o fato das crianças serem geradas por “barriga de aluguel” é irrelevante,
não havendo motivo para não se estender o direito requerido ao pai monoparental.

Ele aponta que o INSS alega a ausência de previsão legal que favoreça o uso das
analogias demandadas pelo servidor, confirmando que não existe, realmente, essa
previsão como há em outras legislações. Entretanto, a licença maternidade tem o intuito
de assegurar o melhor interesse da criança, além de possibilitar a criação de laços afetivos
em seus primeiros meses de vida. No caso apresentado, é extremamente necessária a
presença do pai, que assegurará uma proteção integral aos bebês.

Para concluir, o Ministro defendeu que a melhor interpretação do artigo 7º, XVIII,
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da Constituição é a concessão do salário maternidade por 180 dias ao pai monoparental,


de acordo com as regulamentações do Regime Geral da Previdência Social e do Regime
Especial de Previdência do Servidor Público aplicáveis às mulheres.
Por fim, ele cita que os autos de Notas anexados pelo INSS, que ditam sobre a
Administração Pública, quando a mãe está indisponível na estrutura familiar do servidor,
conceder o direito a um dos membros da filiação a um período que equivale à licença
maternidade; apenas confirmam o entendimento defendido pelo STF, à importância do
cuidado parental no desenvolvimento de um ambiente seguro para as crianças, o Ministro
Alexandre de Moraes votou no sentido de negar provimento ao Recurso Extraordinário,
para manter o acórdão requerido.

5. VOTO DO MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA

Inicialmente, o Ministro elogia a relevância das considerações trazidas por


Alexandre de Moraes no que tange ao aspecto protetivo da família, a garantia de prazo
igual para a mãe adotante e biológica da criança. Sobre isso, ele reflete sobre um valor
garantido na Constituição sobre a licença-maternidade, originalmente voltada às
condições biológicas da mulher e sua primazia no cuidado com os filhos.

Nesse sentido, aponta-se um novo olhar, mais adequado, de interpretar as licenças


como cumprimento dos deveres dos pais em relação aos filhos. Ademais, ele reitera seu
alinhamento integral ao voto do Relator, entendendo que deve-se garantir a todos os
filhos o tempo igual de convívio com um de seus pais, nos primeiros meses de vida.
Assim, defende a concessão da licença paternidade de maneira correspondente à licença-
maternidade, incluindo o âmbito de remuneração.

O Ministro aponta as alegações do INSS para interpor recurso contra o acórdão.


Em seguida expõe que o recém-nascido possui necessidades que implicam o afastamento
do trabalho daqueles que cuidam do bebê. Originalmente, a licença-maternidade foi
assentada em características biológicas e sociais de recuperação e cuidado do filho,
gerando, consequentemente, a distinção entre a duração das licenças.

Além disso, cita o artigo 229 da Constituição, dispondo que cabe aos pais, com
igualdade de deveres e direitos, criar e educar os filhos. Posteriormente, ressalta o marco
do afastamento da diferença entre as relações de filiação biológica e adotiva sobre o
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prazo da licença-maternidade, totalizando-se atualmente em 180 dias. Ele salienta,


ainda, que reconhece as diferenças do processo gestacional, do parto e da amamentação.
Entretanto, compreende que o cerne está no valor constitucional sobre a necessidade de
se garantir a igualdade entre os filhos, assegurada no art. 227, § 6º, da Constituição.

Outros dispositivos também dispõe sobre a igualdade entre os filhos, como o


Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Civil, impedindo a discriminação dos
filhos sobre a forma de filiação, inclusive no caso concreto tratado. Em seguida, ele afasta
as alegações da Autarquia Previdenciária de não se conceder a licença ao pai solteiro em
razão das características biológicas que diferenciam mães e pais, visto que é instrumento
de proteção à criança.

Por fim, ele compreende que houve uma tentativa do INSS de aplicação do
princípio da prévia fonte de custeio, e aponta que não há ofensa a essa disposição. No
mais, é oportuno estabelecer, em relação à licença paternidade, uma interpretação
sistemática da Constituição Federal para a efetivação da proteção à criança. O Ministro
votou no sentido de negar provimento ao Recurso.

6. VOTO DO MINISTRO NUNES MARQUES

O Ministro Nunes Marques, primeiramente, estabelece um embate entre o que


dispõe diversos artigos da Constituição Federal sobre os direitos de maternidade e de
paternidade, dos servidores públicos e os dos filhos. Nesse sentido, ele aponta, segundo
o princípio da legalidade estrita, que os benefícios em lei só podem ser autorizados
conforme manda o texto constitucional. Porém, aponta também que os artigos
referenciados no acordão sobre a proteção da criança não são suficientes, ou não
especificam sobre o assunto da paternidade ou da maternidade especificamente.

Para o Procurador Geral da República, que apelou para o desprovimento do


recurso extraordinário, a justificativa apontada expõe que há a necessidade da extensão
da licença-maternidade para o pai solteiro servidor público em face dos princípios da
isonomia, da legalidade e da proteção integra da criança com absoluta prioridade, de
modo que essa extensão fundamenta-se no direito da criança de ser protegida pelo pai,
cujo vínculo afetivo criado promoverá a integração da família.
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Nesse prisma, apontam-se razões de diferenciação entre a licenças maternidade e


paternidade. Inicialmente, o magistrado expõe que, por razões biológicas, o corpo da
mulher passa por modificações hormonais e estruturais antes e depois da gravidez, como
a amamentação, que a impede de realizar suas atividades normalmente. Por isso,
apresenta que há essa diferenciação de tempo entre homens e mulheres, indicando que as
mulheres sempre foram vistas como as maiores responsáveis pelos cuidados diretos do
recém-nascido.

Todavia, é realizada uma ressalva sobre o atual modo como as novas relações
sociais estabelecem-se, a exemplo de uma paternidade mais participativa durante e após
o processo gestacional. Sabendo disso, é citado o caso da legislação espanhola que
equiparou a licença-maternidade à licença-paternidade, o que se amparou na equalização
dos deveres dos pais nos cuidados dos infantes e no fato de que esse período de licença
não é um direito exclusivo dos genitores, mas também dos recém-nascidos de serem
cuidados.

Sendo assim, o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e o INSS permitem,


ao pai, os 120 dias de licença-paternidade eventualmente prorrogáveis para os casos de
pai solteiro, adotante ou viúvo em casos da morte da mãe no parto. Por isso, o magistrado
assegura ao pai solteiro por métodos artificiais os mesmos direitos anteriores, sabendo
que, mesmo com mãe biológica em vida, no caso como “barriga de aluguel”, a criança irá
carecer de maior amparo do pai.

Para finalizar, ele refuta a tese de que reconhecer esse direito iria comprometer os
gastos da União: aceitando esse novo direito ao pai solteiro por reprodução assistida, não
geraria novo gasto, já que o servidor iria ser remunerado da mesma forma. Ainda, o caso
em específico não abrange parte da população de pais servidores públicos, estando a
previdência preparada para possíveis alterações flutuantes. Por fim, aponta que a lei já
estende os direitos de licença-paternidade nos casos de morte da mãe e pai solteiro que
adota, assim, esse novo fenômeno da reprodução assistida representa um direito maior
para a criança e não para o pai, além da Constituição não pode barrar uma regra ou
princípio constitucional, como o da isonomia. Assim, o Ministro encerra o voto
reprovando o provimento ao Recurso e mantendo o acordão recorrido.

7. VOTO DO MINISTRO EDSON FACHIN


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O Ministro Edson Fachin começa seu voto apontando o parecer do Procurador Geral
da República Augusto Aras. Em seguida, aponta que do acordão se extrai os seguintes
fundamentos: diante da nova realidade familiar que se apresenta na modernidade, o
princípio da proteção à família e do melhor interesse da criança e do adolescente deve
prevalecer, e que, de acordo com as pesquisas mais recentes, o contato parental no período
da primeira infância é fundamental para o desenvolvimento da criança. Ademais, ele
aponta que, sabendo da incapacidade do Direito de acompanhar as transições que a
sociedade passa, negar o direito de paternidade ao pai solteiro por reprodução assistida é
violar o princípio da isonomia material, assim como o da vedação a proteção deficiente.

O Ministro trata ainda de dar relevância aos artigos 226 e 227 da Constituição como
consagradores da família com valores centrados no afeto. Dessa forma, ele compreende
a licença maternidade não apenas como um direito individual da mãe, mas um interesse
para genitores e filhos, no sentido de tutela do vínculo paternal.

Além disso, ele critica a posição individualista da licença de fundo biológico e


defende que esse benefício deve ser interpretado à luz do princípio do melhor interesse
da criança. Fachin utiliza analogia com a lei 12.873/2013 (que estende licença
maternidade ao pai viúvo e ao empregado adotante) para reforçar a constitucionalidade
da extensão do benefício ao pai solo.

Nega que o caso em questão viole o artigo 195, §5°, pois não é real a possível
distorção no equilíbrio orçamentário do INSS por conceder tal benefício. Portanto, o
Ministro vota pelo desprovimento do Recurso no mesmo sentido proposto pela
Procuradoria Geral da República.

8. VOTO DO MINISTRO LUIS ROBERTO BARROSO

O Ministro Luís Roberto Barroso inicia sua exposição fazendo uma descrição do
caso em questão. Em seguida, salienta que é importante reconhecer-se que o autor da ação
é perito médico do INSS, sendo que o vínculo existente é o de empregador e empregado.

Barroso recorre a uma dicotomia da teoria do Direito de casos fáceis e difíceis.


Ele afirma que o caso supracitado seria, em tese, um caso difícil, uma vez que não há uma
lei expressa que trate dessa hipótese, no entanto, não é, já que um grande conjunto de
normas constitucionais é capaz de apontar uma solução adequada para o problema. Dessa
forma, ele trata de indicar as normas, que servem como base para sua afirmação.
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Primeiramente, ele ressalta que a Constituição Federal de 1988 – em seu artigo


226, § 4º – admite expressamente três tipos de família: resultante do casamento, as que
resultam de união estável e as famílias monoparentais. O último tipo corresponde à
situação do autor da ação citada. Em segundo lugar, o Ministro volta sua atenção ao artigo
227, § 6º, que veda a não equiparação entre os filhos, sejam havidos pela relação do
casamento ou por adoção e, implicitamente, por fertilização in vitro. Sendo assim, essa
criança e essa família não têm menos direitos do que as outras. Por fim, considera como
decisivo na solução do problema a previsão do artigo 227, que determina como prioridade
os direitos fundamentais da criança, do adolescente e do jovem. A partir desse artigo,
extrai-se o princípio do melhor interesse da criança.

Nesse sentido, Barroso deixa claro que a licença-maternidade (estendida, aqui, à


situação de paternidade) tem como objetivo alcançar o interesse da criança, para permitir
o convívio direto com o pai ou a mãe nos primeiros meses de formação. Ainda afirma
que, não é possível arguir a falta de lei expressa, visto que a solução proposta pelo
Ministro Alexandre de Moraes decorre da aplicação da própria Constituição.

O Ministro retorna ao fato de que o autor da ação é um empregado público do


INSS. Por esse motivo, destaca que a CLT, nos artigos 329-C e 396, já garante a
possibilidade expressa da licença maternidade (180 dias) também aos empregados que
adotarem ou obtiverem guarda judicial para fins de adoção – e, implicitamente, a
fertilização in vitro.
Barroso defende que não pode ser aplicado o artigo 195, § 5º da Constituição –
que exige que o benefício tenha fonte de custeio – pois, a própria Constituição prevê o
salário-maternidade independente do gênero. Além disso, não se trata de benefício
previdenciário, mas sim de um pagamento pelo regime estatuário de um empregador ao
seu servidor.
Por fim, o Ministro deixa explicita sua tese de julgamento: “É constitucional a
extensão da licença maternidade ao servidor público pai de família monoparental pelo
prazo de 180 dias, com fundamento nos princípios da igualdade e da proteção integral da
criança com absoluta prioridade”.

9. VOTO DO MINISTRO DIAS TOFFOLI


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O Ministro Dias Toffoli declarou em seu voto que acompanha o Ministro


Alexandre de Moraes, exaltando todos os votos proferidos.

10. VOTO DA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA

A Senhora Ministra Cármen Lúcia inicia seu voto enfatizando o que o Ministro
Edson Fachin disse anteriormente, em relação à necessidade de um olhar coerente com o
que está previsto na Constituição, em especial no sentido de que essa já não diz respeito
a apenas um único modelo familiar, e sim a famílias. Ela prossegue adentrando com a
fundamentação do voto no princípio da igualdade no seu sentido dinâmico, no qual a
igualação é tida como a conquista permanente de, por meio da interpretação e, então, da
aplicação das normas constitucionais, chegar aos mesmos espaços jurídicos de direitos
fundamentais.

Ela prossegue confirmando a presença do direito do filho e do direito da criança,


bem como apresenta o direito do pai de ser pai. Esse último ganha uma evidência
justamente por ter sido uma aspiração e uma escolha própria e livre da figura paterna
assumir esse posto. Da mesma forma que a mãe tem uma presença imprescindível e uma
vontade de executar essa função da melhor forma possível, o pai também tem. Para ela
ficou claro que o recorrido quer ser um bom pai, logo, esse direito é dele e deve ser
concedido a ele.

Para a Ministra, um dos componentes da dignidade humana é cumprir a sua


vocação com todos os direitos que lhe sejam reconhecidos pelo sistema. A partir disso,
no momento em que o recorrente busca essa condição e quer cumpri-la, seus direitos
referentes ao exercício da paternidade devem ser efetivados. Ela não considera esse um
caso novo, porque, assim como as “mãegistradas”, juízas que têm que assumir seus
deveres e continuar desempenhando suas tarefas, o homem em questão tem a
“paiternidade”. Ou seja, ele tem o direito de ser pai e, ao mesmo tempo, desempenhar
suas funções, com a vinculação que tem ao serviço público.

Este pode ser um caso novo apenas na extensão e na expressão constitucional que
está sendo dada, porque o Supremo Tribunal Federal, pela Segunda Turma, reconheceu e
estendeu o direito a ter prisão domiciliar, ou a ter medidas cautelares que pudessem
substituir a prisão a todos os responsáveis diretos por menores que estivessem presos.
Isso para que as crianças não ficassem sem a guarda e pudessem ter a proteção e a
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presença da autoridade paterna. Até mesmo em um outro habeas corpus, citado pela
Ministra, o qual o número ela não se recorda, foi concedido aos avós, quando os únicos
responsáveis, o direito de estarem presentes e não deixar desguardadas essas crianças.

A Ministra pontua que o caso abarca tanto o conteúdo da dignidade humana


quanto o princípio constitucional da solidariedade (previsto no art.3º, I, na matéria
previdenciária, na da seguridade e em outras questões). Nesse sentido, não se trata de uma
extensão, mas do reconhecimento do direito do que é igual.

Caso o julgamento terminasse de maneira diferente, Cármen Lúcia pondera que


seria criado um cenário constituído por duas desigualdades. A primeira diz respeito ao
fato de que todos os empregados, no espaço privado, e todos os empregados celetistas, no
próprio serviço público, teriam direito com base na norma da CLT. Por outro lado, caso
fossem submetidos ao Regime Estatuário, não teriam. A outra compreende ao fato de a
condição de servidor desigualar o tratamento dado às crianças, de tal modo que seria
necessário perguntar a cada uma delas se o seu pai ou sua mãe era um servidor público.
Caso a resposta fosse positiva, esse filho teria que lidar com as consequências da ausência
de um pai na primeira fase da vida.

A partir do exposto, a Ministra concorda com o encaminhamento do Ministro


Alexandre de Moraes e reforça seu desejo por pais e mães inteiramente comprometidos
com os outros seres humanos. Diante disso, nega provimento ao recurso do INSS e não
tem dúvidas em assegurar a concessão de direitos ao recorrido no que se refere à licença
paternidade ao consectário – salário durante o período.

11. VOTO DO MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI

O Senhor Ministro Ricardo Lewandowski considera o acórdão recorrido em


estreita concordância com os ditames constitucionais de proteção à família, amplamente
considerada, e da primazia do vínculo afetivo sobre os aspectos biológicos da
maternidade. Assim, tendo em conta os princípios da isonomia e da proteção integral da
criança com absoluta prioridade, ele acompanha o relator e vota pelo desprovimento do
recurso extraordinário do INSS e pela constitucionalidade do benefício de licença-
maternidade de 180 dias, ao pai de família monoparental.

12. VOTO DO MINISTRO GILMAR MENDES


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O Senhor Ministro Gilmar Mendes inicia seu voto fazendo uma retrospectiva de
todos os fatos que ocorreram desde o início do caso em questão. Nesse sentido, ele
apresenta a argumentação utilizada pelo INSS para interpor a apelação, a qual foi baseada
nos seguintes pontos: não se pode negar as diferenças biológicas entre pai e mãe; somente
é possível a concessão dos benefícios previstos em lei, de modo que a licença paternidade
de 180 dias não tem previsão legal; a interpretação acerca dos benefícios concedidos pela
seguridade Social deverá ser estrita, não podendo ser extensiva; a não concessão de
licença paternidade por igual período ao concedido à mãe não implica em falta de
assistência aos filhos, pois o pai tem direito a licença paternidade pelo período
estabelecido em lei.

Após isso, ele apresenta dispositivos legais que, por outro lado, sustentam a
concessão do direito à licença-maternidade, com o benefício previdenciário de salário
maternidade. Dentre eles, destaca a Lei 1257/2016, a partir da qual o Estado brasileiro
assumiu o compromisso de reduzir as desigualdades no acesso a bens e serviços que
atendam aos direitos da criança na primeira infância, sem qualquer discriminação entre
os infantes, independentemente de o(s) genitor(es) ser(em) submetidos ao RPPS ou RGPS
e/ou integrarem família homo ou heteroafetiva.

Entretanto, inexiste previsão legal específica para autorização do benefício da


licença parental remunerada ao genitor de família monoparental, gerador de prole pela
reprodução médica assistida. Isso coloca o pai em uma situação de total desamparo, o que
se afigura discrímen injustificado, atraindo omissão anti-isonômica e inconstitucional,
bem como diversas consequências negativas decorrentes desse tratamento desigual.

Além disso, para consolidar tais considerações, o Senhor Ministro também faz
uma breve explicação acerca dos benefícios da licença paternidade e maternidade e
conclui que, qualquer diferenciação, sem justificativa razoável, que acentue a
desigualdade entre servidores federais que são genitores de famílias monoparentais, por
meio da técnica de RMA, ofende o postulado constitucional da isonomia (art. 5º, I, da
CF) e da proteção integral e sem discriminação à criança (§ 8º do art. 226 e § 6º do art.
227 da CF).

Assim sendo, por fim, o Ministro conclui dizendo que vota pelo desprovimento
do Recurso Extraordinário.
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13. VOTO DO MINISTRO LUIZ FUX

O Ministro Luiz Fux inicia seu voto explicando qual o tema do acórdão e em
seguida divide seus argumentos em duas vertentes, os aspectos jurídicos-dogmáticos e os
aspectos de ordem pragmática que apontam para a possibilidade de extensão do referido
benefício em hipóteses como as que constam nos autos.

Dessa forma, sob o prisma do novo paradigma da Constituição de 1988 em relação


ao Direito da Família, Fux elenca três princípios constitucionais que impõe a
possibilidade de extensão do benefício da maternidade ao pai solteiro em hipóteses como
a ora analisada.

O primeiro princípio citado pelo ministro é o da dignidade da pessoa humana, é


como base nele que Fux afirma que os vínculos parentais de origem afetiva e biológica
são igualmente merecedores de tutela jurídica concomitante para todos os fins do direito.
Dessa forma, a negação da concessão do benefício da licença maternidade implicaria em
deixar ao desabrigo o modelo familiar monoparental, previsto como legitima na
Constituição Brasileira.

Em segundo lugar, o Ministro trabalha o princípio da isonomia. Ao comentar sobre


essa questão, ele dispõe que, como já dito anteriormente, o conceito de família não pode
ser reduzido a modelos padronizados e como o próprio Plenário do Supremo Tribunal
Federal já assentou a necessidade de se “contemplar sob o âmbito jurídico todas as formas
pelas quais a parentalidade pode se manifestar, a saber: (i) pela presunção decorrente do
casamento ou outras hipóteses legais (como a fecundação artificial homóloga ou a
inseminação artificial heteróloga – art. 1.597, III a V do Código Civil de 2002)”.

Além disso, o princípio da isonomia ainda abrange a igualdade entre homens e


mulheres, e, diferentemente de outros casos em que realmente se enxerga a necessidade
de tratamento singularmente favorecido à mulher, essa é uma questão de um direito que
assiste à família – e sobretudo a criança. Dessa maneira, uma vez que a licença configura,
antes de tudo, um benefício da criança, resta evidente que a impossibilidade de sua
extensão aos homens violaria o princípio da isonomia entre os gêneros.

Posteriormente, o Ministro trabalha os últimos princípios elencados: o do melhor


interesse do menor e da paternidade responsável. O princípio do melhor interesse do
menor encontra alicerce no art. 227 da CF/88, que estabelece ser “dever da família, da
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sociedade e do Estado” assegurar à criança e ao adolescente “com absoluta prioridade”


os direitos nele previstos, enquanto o princípio da paternidade responsável encontra
previsão expressa no art. 226, § 7°, da CF/88, que conceitua que o planejamento familiar,
de livre decisão do casal, deve ser fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana
e na paternidade responsável.

Na segunda parte de sua argumentação, ao trabalhar os aspectos pragmáticos da


questão, Fux diz que, como era de se esperar, uma vez que ela foi elaborada em 1988, a
Constituição Brasileira não aborda a fertilização in vitro em seu texto, entretanto, como
o progresso científico-tecnológico é extremamente fundamental que ela ampare
integralmente as novas modalidades de filiação, sob pena de enfraquecimento da força
normativa da Carta Maior.

Por fim, o Ministro conclui dizendo que vota pelo desprovimento do Recurso.

14. PROPOSTA

O Ministro Relator aponta que gostaria de rever sua tese proposta, acrescentando
as sugestões do Ministro Gilmar e da Ministra Cármen Lúcia. Então, ele propõe: “À luz
do art. 227, da Constituição Federal, que confere proteção integral da criança com
absoluta prioridade e do princípio da paternidade responsável, a licença maternidade
prevista no art. 7º, XVIII, da Constituição Federal de 88, e regulamentada pelo art. 207,
da Lei nº 8.112/90, estende-se ao pai genitor monoparental”.

15. CONCLUSÃO

O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao recurso extraordinário, para


manter o acórdão recorrido, e fixou a tese apresentada por Alexandre de Moraes.

Nesse sentido, é possível perceber que o caso em questão, apesar dos argumentos
contrários apresentados pelo INSS, foi decidido por unanimidade no STF. Isso mostra a
concretude certeira da decisão tomada, visto que, ao se analisar a situação, até mesmo sob
um aspecto leigo, não são construídas opiniões divergentes sobre a atitude que se deve
tomar. Sendo assim, acompanhando o desfecho decidido pelo Supremo Tribunal Federal,
conclui-se que o direito à licença e salário maternidade, deve ser estendido, de fato, ao
pai monoparental em questão, considerando o pleno desenvolvimento e proteção dos
gêmeos, que devem ter a presença integral do pai nos primeiros meses de vida.
17

17. BIBLIOGRAFIA

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário no 654432. São Paulo,


11 maio 2022. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&doc
ID=763952910. Acesso em: 21 set. 2023.

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