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UBERLÂNDIA-MG
2023
ANA CLARA TERRA PELARIN (12221DIR006)
UBERLÂNDIA-MG
2023
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4
2. ACÓRDÃO .................................................................................................................. 4
3. RELATÓRIO .............................................................................................................. 4
1. INTRODUÇÃO
Nesse caso, a discordância envolvia o fato do INSS apontar que não existe
previsão legal que possibilite ao pai solteiro de proles geradas por “barriga de aluguel”
obter a licença-maternidade. Em contrapartida, apresentou-se a tese de priorização da
proteção integral da criança e de que o cuidado parental é indispensável para o seu
desenvolvimento saudável.
2. ACÓRDÃO
3. RELATÓRIO
O autor Marco Antônio Alves Ribeiro ajuizou uma Ação Ordinária pedindo tutela
antecipada em face do INSS e da União Federal, para conseguir o direito de salário
maternidade por 180 dias. Ele narra que é servidor público federal e perito médico pelo
INSS, e que é pai de um casal de filhos, registrados unicamente em seu nome, nascidos
prematuros e pelo processo de fertilização in vitro. O processo contra a União Federal
foi extinto devido à falta de legitimidade passiva, pois o pedido inicial deveria ser tratado
pelo órgão ao qual o autor está vinculado.
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postura pelo INSS, que solicitou provimento ao recurso extraordinário com base em
argumentos biológicos, além da falta de fonte de custeio, já que o genitor já possui o
direito a licença paternidade pelo período de cinco dias.
Ele aponta que o INSS alega a ausência de previsão legal que favoreça o uso das
analogias demandadas pelo servidor, confirmando que não existe, realmente, essa
previsão como há em outras legislações. Entretanto, a licença maternidade tem o intuito
de assegurar o melhor interesse da criança, além de possibilitar a criação de laços afetivos
em seus primeiros meses de vida. No caso apresentado, é extremamente necessária a
presença do pai, que assegurará uma proteção integral aos bebês.
Para concluir, o Ministro defendeu que a melhor interpretação do artigo 7º, XVIII,
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Além disso, cita o artigo 229 da Constituição, dispondo que cabe aos pais, com
igualdade de deveres e direitos, criar e educar os filhos. Posteriormente, ressalta o marco
do afastamento da diferença entre as relações de filiação biológica e adotiva sobre o
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Por fim, ele compreende que houve uma tentativa do INSS de aplicação do
princípio da prévia fonte de custeio, e aponta que não há ofensa a essa disposição. No
mais, é oportuno estabelecer, em relação à licença paternidade, uma interpretação
sistemática da Constituição Federal para a efetivação da proteção à criança. O Ministro
votou no sentido de negar provimento ao Recurso.
Todavia, é realizada uma ressalva sobre o atual modo como as novas relações
sociais estabelecem-se, a exemplo de uma paternidade mais participativa durante e após
o processo gestacional. Sabendo disso, é citado o caso da legislação espanhola que
equiparou a licença-maternidade à licença-paternidade, o que se amparou na equalização
dos deveres dos pais nos cuidados dos infantes e no fato de que esse período de licença
não é um direito exclusivo dos genitores, mas também dos recém-nascidos de serem
cuidados.
Para finalizar, ele refuta a tese de que reconhecer esse direito iria comprometer os
gastos da União: aceitando esse novo direito ao pai solteiro por reprodução assistida, não
geraria novo gasto, já que o servidor iria ser remunerado da mesma forma. Ainda, o caso
em específico não abrange parte da população de pais servidores públicos, estando a
previdência preparada para possíveis alterações flutuantes. Por fim, aponta que a lei já
estende os direitos de licença-paternidade nos casos de morte da mãe e pai solteiro que
adota, assim, esse novo fenômeno da reprodução assistida representa um direito maior
para a criança e não para o pai, além da Constituição não pode barrar uma regra ou
princípio constitucional, como o da isonomia. Assim, o Ministro encerra o voto
reprovando o provimento ao Recurso e mantendo o acordão recorrido.
O Ministro Edson Fachin começa seu voto apontando o parecer do Procurador Geral
da República Augusto Aras. Em seguida, aponta que do acordão se extrai os seguintes
fundamentos: diante da nova realidade familiar que se apresenta na modernidade, o
princípio da proteção à família e do melhor interesse da criança e do adolescente deve
prevalecer, e que, de acordo com as pesquisas mais recentes, o contato parental no período
da primeira infância é fundamental para o desenvolvimento da criança. Ademais, ele
aponta que, sabendo da incapacidade do Direito de acompanhar as transições que a
sociedade passa, negar o direito de paternidade ao pai solteiro por reprodução assistida é
violar o princípio da isonomia material, assim como o da vedação a proteção deficiente.
O Ministro trata ainda de dar relevância aos artigos 226 e 227 da Constituição como
consagradores da família com valores centrados no afeto. Dessa forma, ele compreende
a licença maternidade não apenas como um direito individual da mãe, mas um interesse
para genitores e filhos, no sentido de tutela do vínculo paternal.
Nega que o caso em questão viole o artigo 195, §5°, pois não é real a possível
distorção no equilíbrio orçamentário do INSS por conceder tal benefício. Portanto, o
Ministro vota pelo desprovimento do Recurso no mesmo sentido proposto pela
Procuradoria Geral da República.
O Ministro Luís Roberto Barroso inicia sua exposição fazendo uma descrição do
caso em questão. Em seguida, salienta que é importante reconhecer-se que o autor da ação
é perito médico do INSS, sendo que o vínculo existente é o de empregador e empregado.
A Senhora Ministra Cármen Lúcia inicia seu voto enfatizando o que o Ministro
Edson Fachin disse anteriormente, em relação à necessidade de um olhar coerente com o
que está previsto na Constituição, em especial no sentido de que essa já não diz respeito
a apenas um único modelo familiar, e sim a famílias. Ela prossegue adentrando com a
fundamentação do voto no princípio da igualdade no seu sentido dinâmico, no qual a
igualação é tida como a conquista permanente de, por meio da interpretação e, então, da
aplicação das normas constitucionais, chegar aos mesmos espaços jurídicos de direitos
fundamentais.
Este pode ser um caso novo apenas na extensão e na expressão constitucional que
está sendo dada, porque o Supremo Tribunal Federal, pela Segunda Turma, reconheceu e
estendeu o direito a ter prisão domiciliar, ou a ter medidas cautelares que pudessem
substituir a prisão a todos os responsáveis diretos por menores que estivessem presos.
Isso para que as crianças não ficassem sem a guarda e pudessem ter a proteção e a
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presença da autoridade paterna. Até mesmo em um outro habeas corpus, citado pela
Ministra, o qual o número ela não se recorda, foi concedido aos avós, quando os únicos
responsáveis, o direito de estarem presentes e não deixar desguardadas essas crianças.
O Senhor Ministro Gilmar Mendes inicia seu voto fazendo uma retrospectiva de
todos os fatos que ocorreram desde o início do caso em questão. Nesse sentido, ele
apresenta a argumentação utilizada pelo INSS para interpor a apelação, a qual foi baseada
nos seguintes pontos: não se pode negar as diferenças biológicas entre pai e mãe; somente
é possível a concessão dos benefícios previstos em lei, de modo que a licença paternidade
de 180 dias não tem previsão legal; a interpretação acerca dos benefícios concedidos pela
seguridade Social deverá ser estrita, não podendo ser extensiva; a não concessão de
licença paternidade por igual período ao concedido à mãe não implica em falta de
assistência aos filhos, pois o pai tem direito a licença paternidade pelo período
estabelecido em lei.
Após isso, ele apresenta dispositivos legais que, por outro lado, sustentam a
concessão do direito à licença-maternidade, com o benefício previdenciário de salário
maternidade. Dentre eles, destaca a Lei 1257/2016, a partir da qual o Estado brasileiro
assumiu o compromisso de reduzir as desigualdades no acesso a bens e serviços que
atendam aos direitos da criança na primeira infância, sem qualquer discriminação entre
os infantes, independentemente de o(s) genitor(es) ser(em) submetidos ao RPPS ou RGPS
e/ou integrarem família homo ou heteroafetiva.
Além disso, para consolidar tais considerações, o Senhor Ministro também faz
uma breve explicação acerca dos benefícios da licença paternidade e maternidade e
conclui que, qualquer diferenciação, sem justificativa razoável, que acentue a
desigualdade entre servidores federais que são genitores de famílias monoparentais, por
meio da técnica de RMA, ofende o postulado constitucional da isonomia (art. 5º, I, da
CF) e da proteção integral e sem discriminação à criança (§ 8º do art. 226 e § 6º do art.
227 da CF).
Assim sendo, por fim, o Ministro conclui dizendo que vota pelo desprovimento
do Recurso Extraordinário.
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O Ministro Luiz Fux inicia seu voto explicando qual o tema do acórdão e em
seguida divide seus argumentos em duas vertentes, os aspectos jurídicos-dogmáticos e os
aspectos de ordem pragmática que apontam para a possibilidade de extensão do referido
benefício em hipóteses como as que constam nos autos.
Por fim, o Ministro conclui dizendo que vota pelo desprovimento do Recurso.
14. PROPOSTA
O Ministro Relator aponta que gostaria de rever sua tese proposta, acrescentando
as sugestões do Ministro Gilmar e da Ministra Cármen Lúcia. Então, ele propõe: “À luz
do art. 227, da Constituição Federal, que confere proteção integral da criança com
absoluta prioridade e do princípio da paternidade responsável, a licença maternidade
prevista no art. 7º, XVIII, da Constituição Federal de 88, e regulamentada pelo art. 207,
da Lei nº 8.112/90, estende-se ao pai genitor monoparental”.
15. CONCLUSÃO
Nesse sentido, é possível perceber que o caso em questão, apesar dos argumentos
contrários apresentados pelo INSS, foi decidido por unanimidade no STF. Isso mostra a
concretude certeira da decisão tomada, visto que, ao se analisar a situação, até mesmo sob
um aspecto leigo, não são construídas opiniões divergentes sobre a atitude que se deve
tomar. Sendo assim, acompanhando o desfecho decidido pelo Supremo Tribunal Federal,
conclui-se que o direito à licença e salário maternidade, deve ser estendido, de fato, ao
pai monoparental em questão, considerando o pleno desenvolvimento e proteção dos
gêmeos, que devem ter a presença integral do pai nos primeiros meses de vida.
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17. BIBLIOGRAFIA