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Assim, a ideia de que podemos ser injustos de duas maneiras quando se trata de aplicar
normas: ou aplicamos a norma de forma inconsistente ou não aplicamos a norma correta. É
importante notar que podemos ser injustos nos dois sentidos ao mesmo tempo. Decidir qual
norma aplicar pode ser difícil em certas situações, o que pode levar a conflitos morais. Além
disso, as reações perante um crime podem variar muito, o que aumenta o risco de tomar uma
decisão errada. Em resumo, uma ação é justa quando trata igualmente todos os mencionados
na norma e aplica a norma correta. Também é abordada a relação entre justiça e igualdade,
bem como entre justiça e lei.
Primeiramente, há uma conexão entre justiça e igualdade, destacando que ser justo é
tratar todos de forma igual. A justiça é simbolizada pela imagem de uma balança e uma venda
nos olhos, representando a imparcialidade, que é um ponto de vista impessoal que nos permite
julgar o que é justo ou injusto. Falar sobre justiça significa ir além da nossa perspectiva
particular e conceber conflitos humanos como problemas que podem ser resolvidos a partir de
um ponto de vista em que todos poderiam concordar. Ser justo exige não ser influenciado por
sentimentos de simpatia ou antipatia pelas pessoas, o que pode ser difícil em algumas
situações. Temos como exemplo um professor que precisa avaliar todos os alunos de maneira
igual, mas sabe que alguns se esforçaram mais do que outros, o que pode gerar um sentimento
de injustiça.
Perelman apresenta uma lista de seis concepções de justiça, sendo que quatro delas são
relevantes para nossos fins: a igualdade para todos, a recompensa de acordo com o trabalho
realizado, a recompensa de acordo com o mérito e a recompensa de acordo com as
necessidades. Todas essas fórmulas ou critérios de justiça têm em comum a expressão "para
cada um", indicando que sempre que se trata de justiça, um grupo de pessoas está envolvido,
essas pessoas são reunidas em um grupo e é necessário levar em consideração alguma
característica que elas tenham em comum. No exemplo dos cadernos, as normas que formam
os grupos. Nesse exemplo, a norma agrupa todos os alunos da 1ª série, que são "iguais" e
devem ser tratados igualmente, recebendo um caderno cada um, sem considerar mais nada.
Embora os alunos não sejam iguais, eles são igualmente alunos da 1ª série. A norma traz
explicitamente alguma propriedade compartilhada e ordena que as pessoas que compartilham
essa propriedade recebam um tratamento específico, igual para todas elas. As pessoas podem
compartilhar inúmeras propriedades ou características, mas nem todas parecem relevantes
para serem levadas em conta pelas normas de uma sociedade, pois são as normas que, ao
destacar determinadas propriedades e ordenar algum tipo de tratamento igual para todas as
pessoas que as possuem, garantem a justiça.
Ao tratar-se do conceito formal de justiça, que exige que todas as pessoas de uma
mesma categoria sejam tratadas da mesma forma, já que isso decorre da aplicação de uma
norma que já se refere a um grupo de pessoas. A exigência de igualdade segue o fato de que
uma norma deve ser aplicada em todos os casos que caem sob seus supostos e em nenhum
caso que não caia sob eles. Agir de acordo com uma norma é tratar igualmente todos aqueles
que a norma agrupou como iguais (justo) e a norma deve ser aplicada corretamente para tratar
igualmente todos os que a norma agrupa. Em suma, a definição formal de justiça é tratar de
forma igual todos os seres que fazem parte da mesma categoria.
A equidade é uma ferramenta utilizada quando não há outra saída para julgar casos em
que duas concepções da justiça entram em conflito, já que ela diminui a desigualdade que
pode ser produzida ao levar em conta apenas uma característica, permitindo a adaptação das
normas a um caso específico que não estava previsto. Não há regras para a equidade, o que
pode levar a desacordos sobre o grau em que as diferentes perspectivas estão sendo
consideradas. Em contextos jurídicos normais, as normas que devem ser aplicadas são claras e
espera-se que os juízes não apelam para a equidade, embora às vezes seja inevitável. A
equidade é uma tendência a não tratar de forma por demais igual os seres que fazem parte de
uma mesma categoria.
As normas que são regras possuem uma forma condicional, mencionando as condições
de sua aplicação, enquanto as normas que são princípios são enunciados abertos que não
mencionam as condições de sua aplicação. É mais fácil saber quando aplicar uma regra, pois
ela especifica as circunstâncias gerais em que deve ser aplicada. No entanto, a interpretação
das normas envolve discussão racional e comparação entre enunciados linguísticos. Para
seguir uma regra, é preciso saber qual possível regra aplicar e verificar se a circunstância
mencionada na regra verifica-se nos fatos, já para aplicar um princípio, é mais difícil saber
quando cabe ou não cabe aplicá-lo.
Marina Velasco traz a importância da análise das normas para determinar a justiça ou
injustiça das mesmas. É destacado que diferentes fórmulas de justiça são usadas para discutir
a justiça e injustiça das normas, por exemplo, a distribuição de cadernos para alunos da 1ª
série, onde a fórmula "a cada um a mesma coisa" pode ser questionada como injusta,
sugerindo que a distribuição deve ser feita de acordo com as necessidades dos alunos. Em
outros casos, uma norma pode ser criticada por ser inconsistente com outras normas já aceitas
pela sociedade. A questão da justiça ou injustiça das próprias normas são objeto de
problematização e não apenas tomadas como dadas, além disso, é mencionada a importância
das normas jurídicas e da divisão de poderes do Estado nessa discussão.
Assim, a ideia de igualdade de status entre todos os seres humanos substituiu a noção
hierárquica de honra que existia na sociedade do ancien régime. O termo "senhor" passou a
ser utilizado para nomear todos os cidadãos, e não havia mais estratos diferentes. Na época
revolucionária, pensava-se que a justiça das normas dependia apenas da forma universal que
as leis tinham. Posteriormente, o positivismo compartilhou essa crença de que o Direito nada
mais é do que o conjunto das leis vigentes, consideradas legítimas simplesmente pelo fato de
provir de uma fonte considerada legítima.
Enquanto alguns defendem que a justiça deve ser igualitária, outros argumentam que a
igualdade não é um valor a ser perseguido. Robert Nozick, por exemplo, defende que a justiça
depende da liberdade individual e que o Estado deve garantir a segurança e proteger os
direitos de propriedade dos cidadãos, sem promover políticas redistributivas. Mesmo aqueles
que não consideram a igualdade como um valor em si reconhecem sua importância na
aplicação das normas, mas há divergências quanto à sua relevância na construção de uma
sociedade justa.
2.1. De novo da igualdade: duas concepções “igualitárias” de sociedade justa
O filósofo John Rawls, em sua obra "Teoria da justiça", propôs a ideia de justiça
igualitária, que consiste em garantir que as instituições de uma sociedade permitam que a vida
das pessoas dependa de suas escolhas e não da sorte. Rawls defende que cada pessoa deve ter
acesso ao mesmo conjunto de bens primários, como liberdades, oportunidades, renda e
riqueza, para realizar seus planos de vida. A concepção igualitária de justiça de Rawls
resume-se em dois princípios: igualdade estrita na distribuição de liberdades e um duplo
critério para aceitar desigualdades em renda e riqueza, desde que beneficiem os menos
favorecidos da sociedade e estejam ligadas a posições acessíveis a todos. É importante
observar que Rawls concebe todas as dimensões de justiça de uma sociedade conforme o
modelo de distribuição igualitária.
a) Justiça como democracia radical, que enfatiza a liberdade positiva das pessoas e
entende que uma sociedade justa é, sem dúvida, uma sociedade igualitária, mas onde a
igualdade tem mais a ver com a igualdade de chances de influenciar as decisões que afetam
todos. A perspectiva defende a participação igualitária na livre troca de razões como um
pressuposto inevitável de toda argumentação, com o objetivo de se alcançar uma estrutura de
interação não estratégica, mas "comunicativa". A importância de obedecer às leis, que são
criadas pelos cidadãos, e a ideia de que ninguém pode ser injusto consigo mesmo, então, o
ideal é a igualdade na participação da livre troca de razões, que é uma prática necessária para
resolver conflitos pacificamente.