Você está na página 1de 504

Título original: Um bebê para o Sheik.

Copyright © 2022 por Bianca Pohndorf.


Preparação de texto: Mari Vieira
Revisão: Mari Vieira
Capa: Designer Tenório
Diagramação: Grazi Fontes

Está é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer forma
e/ou quaisquer meios existentes sem prévia autorização por escrito
da autora.
Os direitos morais foram assegurados.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Versão Digital – 2021.
ESTA É UMAOBRA REGISTRADA, QUALQUER REPRODUÇÃO
INDEVIDA SE ENQUADRA COMO PLÁGIO.
Ouça a playlist de “Um Bebê para o Sheik” enquanto aprecia a
leitura, basta abrir o leitor de QR Code do seu celular e
apontar câmera para o código abaixo:
Khalif Farzur é o filho mais novo da realeza de
Dubai, um playboy declarado, não tem nenhum interesse
em assumir o legado de sua família, pois toda a
responsabilidade de governar o povo está sob às costas
de seu irmão mais velho, Khalil. Mas algo acontece
quando seu melhor amigo se diz apaixonado por uma
brasileira.

Brianna Artonino é uma jovem batalhadora, recém-


graduada, buscando a tão sonhada promoção em seu
emprego, mas tudo muda quando uma de suas melhores
amigas oferece uma viagem a Dubai para que conheça
pessoalmente seu amor virtual.

A jovem e as amigas embarcam na maior loucura de


suas vidas, elas queriam diversão nada mais que isso,
contudo, Brianna não esperava se sentir tão atraída pelo
príncipe e muito menos voltar com um presente
inesperado na “mala”.

Será que o Sheik vai descobrir que seu elo com


essa brasileira não é apenas o bebê?

O que será que o destino reserva para Brianna e


Khalif?

Romance + 18.
SUMÁRIO
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Epílogo
Agradecimentos
Em algum lugar no meu apartamento, meu telefone
toca de maneira irritante e incessante. Forço meus olhos
a abrirem, acostumando-se com a claridade enervante.

Levanto o tórax, apoiando os cotovelos no colchão


macio para olhar ao redor. Há três mulheres dormindo ao
meu lado, os cabelos esparramados pela cama,
misturando-se uns aos outros pelas tonalidades distintas:
loiro, ruivo e castanhos. No chão, as roupas que
deixamos para trás, na pressa de chegar ao ato sexual.

O celular continua tocando, lembrando-me de o


porquê acordei tão cedo após uma longa noite de festa e
orgia.

Irritado, passo minha mão na nuca, o corpo


protestando pela falta de descanso. Nu, levanto da cama
e caminho até o aparador ao lado da porta. Solto um
suspiro profundo ao ver o nome do meu irmão estampado
no visor.

Faço uma repescagem mental de tudo o que eu fiz


ontem à noite, apesar do vislumbre de horas antes estar
anuviado pelas doses de uísque, ainda assim, consigo
lembrar bem que não há escândalos. Bom, pelo menos
que eu me lembre.

— Qual é o problema? — atendo, cessando o barulho


chato.

— Qual é o problema, Khalif? Não posso acreditar


que me atendeu assim. — esbraveja. — Mas vamos
recomeçar, o problema, querido irmãozinho, é que nós
temos um almoço marcado com a senhora, nossa mãe, ou
esqueceu?

Merda! É claro que eu esqueci, e nem teria como


lembrar, não com o cérebro inebriado em álcool.

Aperto a ponta do nariz com força e fecho os olhos,


tentando aplacar a iminente dor de cabeça.

— Eu estou indo, Khalil, não se preocupe.


— Você tem menos de meia hora. — Encerra a
chamada.

Jogo o celular com força em cima do móvel, irritado.

Meu irmão, por ser a Alteza Sheik Khalil Farzur,


governante de Abu Dhabi e Dubai, é acostumado a dar
ordens e ser acatado. O que me deixa colérico, pois não
sou um dos seus fiéis escudeiros, muito menos um de
seus capachos.

Os Emirados Árabes Unidos possuem seis tribos de


Sheik’s, para sete federações. Minha família assume o
maior controle delas, sendo responsável por duas: Dubai
e Abu Dhabi. Nosso pai, o Sheik Youssef Farzur, morreu
há alguns anos, passando o trono para o primeiro
herdeiro, ou seja, o meu irmão mais velho. Graças a
Allah, eu nasci seis anos depois de Khalil.

Enquanto meu irmão ficou com as responsabilidades


de governar o País, eu herdei o título de príncipe e Sheik,
status social e dinheiro. Khalil passa o seu tempo com a
cabeça enfiada em papéis burocráticos e problemas,
enquanto eu aproveito a vida com festas, orgias e
bebedeiras. É claro que ele e nossa mãe detestam a
forma como eu vivo, mas não falam nada, não mais.

— Farzur, vem para a cama! — Uma voz doce e


delicada soa logo atrás de mim.
A ruiva, totalmente nua, caminha em passos lentos e
sedutores em minha direção. Vasculho em meu cérebro o
seu nome, mas não consigo de forma alguma lembrar.

Seus seios densos e pesados balançam conforme o


movimento de andar das suas pernas, o que me deixa
imediatamente excitado.

— A cama fica tão fria sem você... — ronrona como


uma gata, parando há alguns centímetros.

Ela é linda, sua beleza atípica chamou a minha


atenção logo que cheguei na boate, na companhia de
Jamal, meu melhor amigo.

A ruiva desce os olhos para o meu pau duro e pronto


para mais uma seção de sexo.

— Chupe! — Indico meu membro, apontando


levemente com o queixo.

Um sorriso predatório delineia os seus lindos lábios


carnudos e rosados. Os olhos verdes se iluminam em
lampejos de lascívia.

Devagar, a ruiva se agacha no chão, segurando meu


pau com uma mão, induzindo-o até a sua boca. Ela lambe
a glande, passando a língua pela pequena fissura na
cabeça, antes de devorá-lo até a base, em um boquete
profissional.
Um gemido de prazer se desprende da minha
garganta. Jogo a cabeça para cima, fechando os olhos,
relaxando e aproveitando o prazer.

Os sons de sucção aumentam, conforme a ruiva


engole o pau até a base e retorna, em movimentos
consecutivos. Agarro seus cabelos com força, puxando o
seu couro cabeludo com fervor.

— Eu quero te comer! — aviso, puxando seu rosto


para cima.

Arrasto a mulher até a base da cama, pegando um


preservativo na cabeceira e cobrindo meu membro.
Coloco ela de quatro, seguro sua cintura e pincelo sua
entrada, assim que encontro a posição certa, penetro-a
fundo e bruto. A desgraçada já estava molhadinha, pronta
para me receber.

— Ohhh... isso é bom! — geme, rebolando no meu


pau.

Estoco com força, sentindo sua vagina me receber e


seus músculos internos me apertarem conforme eu
encontro passagem por eles.

— Rebola mais! — Estalo um tapa em sua bunda


dura.

E assim ela faz, rebolando e se deliciando em


movimentos alucinados e acelerados.
Como sua boceta com vontade, fodendo-a até
esquecer o próprio nome, somente para poder gritar o
meu. Ela goza, tornando a passagem mais limitada. Solto
um urro, acompanhando-a no total deleite.

Suado e ofegante, saio de dentro da ruiva, retirando


a camisinha gozada.

— Isso que eu chamo de acordar bem. — murmura.

Ela me encara sentada na cama, as bochechas


coradas, os cabelos desgrenhados e as sardas mais
visíveis, em uma imagem real de uma pessoa que acabara
de sentir muito prazer.

Ela é bonita... e decidida, pois, se bem me lembro,


assim que me viu entrando na boate, a garota veio para a
minha volta, sem rodeios, declarando suas verdadeiras
intenções.

— Quando vamos repetir a dose? — pergunta


descendo os olhos pelo meu corpo, deixando claro sua
vontade.

Solto um sorriso de escarnio.

— Eu nunca repito a dose, meu bem.

O sorriso dela desaparece imediatamente. Torço para


que ela não faça nenhuma cena e eu tenha que pedir aos
meus seguranças para expulsá-la da minha casa. Isso já
aconteceu uma vez, o assunto repercutiu tanto que Khalil
ficou possesso de raiva. Enfim, nada agradável.

— O problema é seu, então. — retruca, magoada e


irritada.

Melhor ela ficar me odiando e ir embora sem


escândalos do que eu ter outra conversa baseada em
censuras e reprovações da nossa alteza real.

— Preciso sair, tenho um compromisso agora. —


Faço um gesto de mãos apontando para as mulheres que
ainda dormem desmaiadas em minha cama. — Acorde
suas amigas e deem o fora daqui.

A ruiva urra de raiva.

— Você nos trouxe até aqui somente para isso, seu


cretino de merda?

Rio, achando muita graça que ela tenha pensado o


contrário disso.

— Meu bem, vocês vieram até aqui sabendo que seria


isso. Ou achou que eram especiais demais para mudar a
minha forma de viver? — Arqueio uma sobrancelha,
sugestiva.

Ela enruga o nariz e faz um bico com a boca,


claramente irritada.
— Foda-se você! — Aponta um dedo em riste para
mim. — Tomara que encontre uma mulher que seja
esperta o suficiente para te colocar no seu lugar. Babaca!

Ela chacoalha as amigas, colérica, enquanto procura


pelo quarto as roupas jogadas no chão.

Ignorando o chilique idiota e inconveniente, me dirijo


até o meu banheiro. Entro no banho, lavando o cheiro de
sexo impregnado em meu corpo e relaxando os músculos
cansados depois de uma noite inteira de trabalho pesado.

Uma mulher que me coloque no lugar. Rio com essa


afirmação, ensaboando minha cabeça.

Bom, lamento informar para a minha ex-foda que


essa mulher ainda não nasceu.

Entro no palácio que cresci e tive uma boa infância,


já ouvindo os gritos das brincadeiras dos meus sobrinhos
– a melhor coisa que o meu irmão já fez em vida –.

Vejo mamãe sentada em uma mesa na sombra com


Zaya. Elas conversam animadamente, enquanto bebem
café. As duas, mesmo estando em casa e somente entre
família, usam hijab [ i ] .
— Khalif, finalmente temos a honra da sua presença!
— Mamãe é a primeira a notar a minha aproximação.

Cumprimento Zaya de longe e planto um beijo na


testa de Fátima Farzur.

— Eu disse que viria, só não especifiquei exatamente


o horário.

Coloco as mãos na cintura e observo ao redor,


perscrutando com os olhos o lugar em busca dos meus
sobrinhos tão queridos.

— Eles estão brincando no jardim. — responde Zaya,


percebendo o que eu procuro.

— Sabe, Khalif, está na hora de ter os seus próprios


filhos. — replica, Fátima Farzur.

Seguro o crescente desejo de revirar meus olhos.

Não que eu não pense em um dia casar e ter lindos


filhos, assim como meu irmão fez. Talvez, quem sabe, em
um futuro muito, muito distante. Por ora, estou feliz
vivendo dessa forma despretensiosa.

— Quero mais netos. — acrescenta.

Cruzo os braços em frente ao peito, um esgar nos


lábios.
Minha família é um pouco atípica, apesar dos nossos
costumes permitirem, Khalil, assim como o nosso pai,
optou por ter uma única esposa, embora pretendentes não
faltem, fazendo fila em sua porta com o objetivo de se
casar com à alteza Farzur.

E isso nos tornou uma família pequena, por esse


motivo Fátima Farzur tem como objetivo de vida me
arranjar uma esposa e aumentar o número de herdeiros.

— Um dia, quem sabe.

— Até hoje me pergunto se o seu pai fez certo em


mandá-lo estudar fora. – declara em tom incisivo.

Sinto meus dentes rangerem pela pauta do assunto,


mas a cada respiração a irritação recua, desvanecendo-
se.

Quando eu fiz dezoito anos meu pai me enviou aos


Estados Unidos para cursar uma graduação de relações
internacionais. Morei durante anos nos EUA, sendo assim,
perdi alguns costumes mais típicos do nosso País, bem
como abri minha mente para coisas novas.

Não costumo usar kandura [ i i ] , perdi a prática ao viver


fora. Uso as vestes típicas somente em ocasiões
especiais, ou nesses almoços em família para agradar
minha mãe.
Fátima Farzur não gostou nada da minha mudança
brusca de comportamento, assim que retornei dos EUA.
Na verdade, eu tinha intenção zero de vir embora, mas
acabei cedendo com a morte precoce de Youssef. Mesmo
eu não assumindo nenhuma das responsabilidades, eu
sou filho e ainda tenho um coração, e sabendo que minha
mãe precisava de mim naquele momento, voltei para
casa. Eu só não poderia imaginar que, ter um ensino
superior e compreender diversas línguas seria motivo de
vergonha para a minha mãe ao invés de orgulho. Contudo,
não posso culpá-la completamente, mamãe, assim como
quase todos que eu conheço, limitaram-se a saber pouco,
somente o suficiente para viver em sociedade. E por isso
ter olvidado de alguns dos mais típicos dos nossos
costumes, é um ultraje para eles, mas não para mim.

Certo! Almoço em família e seus assuntos


agradáveis.

— Onde está Khalil? — mudo rapidamente a pauta da


conversa.

— Em uma ligação importante. — responde Zaya.

— Vou atrás dos meus sobrinhos.

Nem espero que elas digam mais nada, muito menos


mamãe, a qual parece ter acordado com a língua ainda
mais afiada do que de costume.
Entro no amplo jardim soltando a respiração que eu
nem havia percebido que estava segurando. Vejo os meus
sobrinhos correndo, brincando perto das flores.

Meu humor sempre muda quando estou perto deles,


não importa o que tenha acontecido no meu dia, tudo fica
melhor em suas presenças.

— Ei, o tio de vocês chegou! — exaspero, abrindo os


braços para receber um grande e apertado abraço.

Os gêmeos correm em minha direção, jogando-se


contra o meu corpo. Samira e Youssef estão com sete
anos, mas parecem possuir muito mais idade pela
inteligência.

Samira é parecida com o meu irmão, cabelos pretos,


olhos castanhos, nariz reto e lábios carnudos. Enquanto,
Youssef, puxou a mãe, cabelos um pouco mais claros que
os da irmã, olhos pequenos, boca e nariz finos. Eles não
só se distinguem fisicamente, como psicologicamente
também. Samira é uma menina curiosa e astuta, enquanto
Youssef é o contrário disso, sendo somente levado pelas
aventuras em busca de conhecimento da irmã.

— Tio, pensamos que não viria brincar com a gente


— fala Samira, tirando uma mexa de cabelo que grudou
na boca com o vento.
— Eu sempre venho — Aproximo-me mais deles,
como se eu fosse sussurrar um segredo — por vocês. —
Pisco um olho.

Eles riem, aumentando a gargalhada com as cócegas


que eu distribuo em suas barrigas.

— Venha, vamos brincar de esconde-esconde. —


Youssef me puxa pela mão.

Faço conforme instruído por eles, conto até vinte e


saio procurando-os. Como duas crianças jovens, eles não
sabem se esconder muito bem, mas eu como um bom tio,
finjo estar passando a maior dificuldade para encontrá-
los.

Depois de alguns minutos de brincadeira, estou


risonho, suado e ofegante. Adoraria estar usando um
terno, ou outra roupa fácil de dobrar as mangas e aliviar o
calor que o deserto emana.

— Não acha que está na hora de ter os seus próprios


filhos? Você leva jeito com crianças. — Meu irmão
aparece de onde quer que estivesse, com um sorriso bobo
no rosto.

Khalil, diferente de mim, sempre usa a kandura, pois


precisa dar o exemplo aos seus súditos. As marcas de
expressão causadas pela idade já aparecem em seu
rosto, bem como em seus cabelos grisalhos.
— Papai! — Assim que os vê, as crianças correm em
sua direção, jogando-se em seus braços, como fizeram
comigo mais cedo.

Reviro os olhos.

— Por qual motivo eu teria filhos se eu já tenho os


seus para me divertir? — questiono o óbvio.

— Não é a mesma coisa, Khalif, e só saberá disso


quando tiver os seus. O amor é único, puro, diferente. —
Beija a cabeça dos pequenos, orgulhoso.

Levanto-me do chão, limpando as palmas das mãos


sujas de areia na roupa.

— Não estou interessado.

Sempre a mesma conversa, sempre o mesmo


assunto. Ultimamente vem piorando, acredito que seja por
conta da minha idade. Afinal, já estou nos auge dos meus
trinta e quatro anos.

Khalil se casou com Zaya quando tinha vinte e nove


anos, na época, eu morava nos Estados Unidos, mas vim
para participar das festividades. Levou um tempo para
que Zaya conseguisse engravidar, o que causou uma
pequena frustração no casamento. Se fossemos uma
família típica, Khalil teria procurado outra esposa, a fim
de conseguir herdeiros. Mas ele não fez, e depois de três
anos, finalmente conseguiram o que tanto almejavam , e
em dobro.

Meu irmão se aproxima de mim, afastando-se das


crianças. Delicadamente, ele pousa uma mão em meu
ombro, apertando de leve.

— Não quero irritá-lo, mas falo sério quando digo que


suas orgias não lhe levarão a lugar algum. Construir uma
família, Khalif, significa mais do que ficar preso a uma
única mulher.

Luto para manter a expressão neutra, enquanto


retorno o aperto do meu irmão.

— Eu entendi, Khalil, mas agora chegou a vez de


vocês entenderem que, no momento, não estou à procura
disso.

Khalil estreita os olhos em uma expressão enfezada e


solta um suspiro, derrotado.

— E como andam os seus negócios? — muda de


assunto, percebendo que o outro não nos levaria a lugar
algum.

— Cada vez melhores, ainda mais com o aumento


gradativo de turistas.

Há alguns anos eu construí o edifício Khalifa, o maior


arranha-céu já erguido pelo ser humano. Além do uso
misto, tanto comercial como residencial, a empresa
encarregada cobra uma taxa específica dos visitantes que
possuem o interesse de subir no prédio.

Foi um projeto longo, durando seis anos para a


reforma ser concluída e, custando bilhões para ser
finalizada, mas que no final, valeu cada mês de espera e
dinheiro investidos.

[iii]
— Venha, vamos tomar um jellab enquanto
conversamos sobre negócios.

Depois de uma longa noite muito mal dormida, tudo o


que eu queria era passar o restante do dia descansando e
não falando de negócios, mas não é como se eu tivesse
muita escolha. Dessa forma, sigo meu irmão para dentro
da casa, encontrando alinhamento no meu cérebro para o
que está por vir.
— Brianna! — Miguel me chama, tirando-me das
divagações.

— Sim?

— Você estava espetacular na reunião, parabéns! —


Ele se escora na mesa ao meu lado, perto demais para o
meu gosto.

Não tenho uma posição de renome na empresa,


portanto, divido a sala com outros quinze arquitetos, mas
graças as divisórias, tenho um pouco de privacidade. Uma
privacidade que às vezes, acho desnecessária, ainda
mais quando Miguel está por perto.

— Ah, é... obrigada — agradeço abrindo um sorriso


que sinto que não chega aos olhos.

Miguel é um homem jovem e bonito, além de ser um


arquiteto conceituado é meu chefe. Embora ele viva
insinuando com indiretas que quer muito mais que uma
relação profissional comigo, eu nunca cedi e nem estou
disposta a fazê-lo.

Meu chefe tem os cabelos loiros e ralos, olhos


verdes, barba por fazer, nariz fino e lábios bem
desenhados. Ele é alto, beirando quase 1,90 de altura,
contudo, é magro demais para o seu tamanho o que lhe
deixa com a aparência varapau. Ele é cheiroso, deixando
sempre um rastro de perfume amadeirado por onde passa.
E tem como meta de vida, passar a noite no meu
apartamento... ou no seu.

— Quer sair para comemorar?

Sinto minhas costas retesarem. Respiro fundo,


puxando uma extensa lufada de ar, acalmando minha
rigidez, para que assim eu consiga manter uma expressão
impassível.

Eu tenho medo de negar e ser demitida do emprego


que tanto sonhei, ao mesmo tempo em que me sinto
revoltada por não ter minha opinião respeitada.

Suspiro, em busca de calma.

— Eu tenho compromisso hoje. Sinto muito. Reunião


das garotas. — Faço um gesto de mãos, fingindo
animação.

Miguel escrutina meu rosto, farejando mentira no que


eu disse. As sobrancelhas loiras franzem e os cantos dos
lábios se repuxam, formando uma expressão áspera.

— Que pena... nos divertiríamos tanto... — A


ambiguidade em suas palavras me anoja.

Talvez, se ele jamais tivesse sido tão insistente e


irritante, eu cogitaria dar uma chance a ele. Afinal, o
homem não é de se jogar fora. Mas confesso que peguei
ranço, e hoje, até mesmo o seu jeito de andar me irrita.

— Pois é, uma pena mesmo... — digo, balançando os


ombros em indiferença.

— Quem sabe outro dia!

Nem hoje, nem outro dia, nem nunca! Penso,


enquanto por fora mantenho um sorriso amarelo.

— Sim, quem sabe.

— Enfim, continue assim e vai longe. — Pisca,


lançando-me um sorriso incisivo e esfregando à mão
esquerda em meu braço.

Miguel impulsiona o corpo para frente, deslocando-se


da minha mesa. Espero-o se afastar o suficiente para
soltar uma respiração ruidosa de alívio.

Passo uma mão nos cabelos e faço voltas na cadeira


giratória, brincando e aliviando a tensão.

Sinto a fadiga por todo o nervosismo de mais cedo.


Hoje foi a minha primeira apresentação de um projeto
para os acionistas, um rito importantíssimo para alguém
que começou a trabalhar há poucos meses em uma das
empresas mais conceituadas do Estado.

Eu considero sorte conseguir um emprego na Eugleni


Arquitetura, levando em conta que sou recém-formada. Já
minha irmã fala que tudo isso não passa do meu grande
potencial e QI, é claro.

Estou me especializando em paisagismo, e assim que


conseguir meu tão almejado diploma da pós-graduação,
os sócios da Eugleni me prometeram projetos importantes
e uma vaga na equipe principal.

— Podemos ir embora?

— Aí, senhor, que susto! — Levo uma mão ao peito,


tentando acalmar as batidas aceleradas do meu coração.
Ivana para a poucos metros com os braços cruzados
em frente ao corpo, olhando-me da cabeça aos pés, com
seus olhos castanho-escuros, grandes e expressivos.

— Qual é o problema, Brianna?

Junto toda à papelada da minha apresentação de


cima da mesa, visualizando os gráficos e os projetos, os
motivos para a minha falta de sono das últimas semanas.
Levanto-me da cadeira e paro ao seu lado.

Ivana é alguns bons centímetros mais alta do que eu.


Ela é uma mulher linda e vaidosa. O macacão verde que
está vestindo realça a sua pele negra. As unhas estão
impecavelmente tingidas em rosa, assim como os lábios
carnudos. E seus cabelos encaracolados estão presos em
um coque comportado.

— Nada, eu só estava pensativa.

Semicerra os olhos, ainda com os braços cruzados,


desconfiada.

— Sei..., mas enfim, quero beber e estou com fome.


Vamos!

Hoje é sexta-feira, a última do mês, e como de


costume, Ivana, eu, Maitê e Celina nos encontramos para
beber e colocar a conversa em dia. E para a minha sorte,
esse encontro ficou marcado de ocorrer no meu
apartamento.
Nosso grupo de amigas é um pouco atípico. Ivana e
eu somos arquitetas, contudo, ela é dois anos mais velha,
enquanto eu fiz vinte e quatro anos, minha colega já beira
aos vinte e sete. Celina tem a minha idade, somos amigas
de infância, com o tempo, nos afastamos, mas retomamos
o contato há alguns anos, ela é digital influencer,
acumulando quase cem mil seguidores só no Instagram.
Já Maitê é minha irmã, a primogênita dos nossos pais.
Maitê é médica, e se divorciou há alguns anos quando
descobriu que o marido dormiu com todas as suas colegas
de trabalho. Desde então, ela não acredita mais no amor.
E assim formamos um quarteto e tanto.

Acompanho Ivana para a saída do prédio da empresa.

O único barulho que ecoa pelo local é o dos nossos


saltos batendo contra o piso de cimento.

Todas às sextas-feiras alguns funcionários são


liberados minutos mais cedo, mas por conta da minha
apresentação, acabei me atrasando um pouco e Ivana
ficou para me esperar. E esse é o verdadeiro motivo para
o estacionamento da empresa estar deserto nesse
horário.

— Vai me falar agora qual é o problema? — pergunta,


conforme o automóvel avança pelas ruas movimentadas
de Balneário Camboriú.
Solto um suspiro, acompanhando a paisagem borrada
que passa pelo vidro do carro.

— Eu não sei, às vezes acho Miguel tão invasivo,


sabe?

Ivana solta um riso de escárnio.

— Você é muito inocente, Brianna. E sim, Miguel é


mais do que invasivo, ele é quase um assediador.

Massageio as têmporas, tentando me tranquilizar.

— Não acho que eu seja inocente — rebato em um


tom de voz seco.

Ivana retira os olhos da estrada, somente para me


direcionar um olhar acusatório.

— É mesmo? Querida, eu acho que você é a única


pessoa que atravessou toda a faculdade mantendo a
virgindade intacta.

Sinto meus dedos se crisparem em punhos cerrados,


os nós embranquecendo conforme tento me controlar para
não ofender Ivana. Depois de alguns segundos calada,
volto a encarar minha amiga com um esgar nos lábios.

— Isso é mentira! Garanto que muitas outras garotas


ainda são virgens também.

Ela ri, balançando a cabeça em negativa.


— Vá a um convento e encontrará mais moças
virgens assim como você. — Revira os olhos.

Esse assunto é uma pauta recorrente entre o nosso


grupo de amigas. “Brianna e sua virgindade aos vinte e
quatro anos”. Acontece que sou virgem por escolha
própria, simples assim.

Tive um namorado no ensino médio, ficamos juntos


por longos quatro meses, até eu negar abrir as pernas
para ele e levar um belo pontapé. Depois, conheci um
cara legal na faculdade, saímos algumas vezes e, como
da primeira vez, ele resolveu chutar a minha bunda ao
constatar que não comeria a cereja antes do bolo. Enfim,
minhas experiências amorosas são desastrosas, sendo
assim, jamais encontrei alguém com o qual eu me
sentisse realmente pronta para me entregar em um
momento tão importante na vida de uma mulher.

Por mais que meu grupo de amigas diga o quanto


perder a virgindade se torna algo trivial com o passar dos
anos, uma virgem jamais pensa assim. Talvez no futuro eu
dê razão a elas, mas por enquanto, quero manter intacta
na minha mente de leitora de romances que, quando o
momento chegar, será o dia mais feliz da minha vida.

Mas isso não significa que eu seja inocente. Eu já li


muitos livros eróticos e assisti “Cinquenta Tons de Cinza”,
além do mais, sei bem como uma masturbação funciona.
— Isso é ridículo! Posso não ter uma ideia detalhada
de como as coisas entre um casal funcionam, mas eu sei
muito bem como paquerar ou quando um homem é
assediador.

Ivana para em um sinal vermelho, aproveitando o


trânsito parado, ela concentra toda a sua atenção em
mim.

— Brianna, está mais do que na hora de transar.


Deus do céu! Liberte a entrada aí. Encontre um homem
que seja gostoso o suficiente que faça a sua amiguinha
chorar, se delicie por horas no corpinho, e depois, vida
que segue. Pare de ficar fantasiando um momento que no
futuro, você descobrirá que não é nada demais.

Não contra-argumento. Por um lado, sei que Ivana


está certa e que eu fantasio muito algo tão banal, mas por
outro, acredito que esse homem está em algum lugar por
aí, e que na hora certa, eu saberei identificá-lo, ou minha
amiguinha, como diz minha amiga.

O sinal fica verde novamente, fazendo Ivana colocar


o carro em movimento.

— Olha, eu não quero que fique chateada comigo,


nem nada. Só estou falando isso porque acho injusto você
transar só depois que se casar. Conheço muitas mulheres
que optaram por isso e hoje são infelizes ou nem sabem o
que é um orgasmo, enfim, não quero que seja uma delas,
a insatisfação sexual é algo muito triste, amiga.

Suspiro, sorrindo sem mostrar os dentes.

— Eu sei. Obrigada por isso. Mas acredite, não estou


mantendo minha virgindade por casamento, só sou uma
tola romântica esperando o homem certo aparecer.

— Não se preocupe, Bri, uma hora ele vai chegar. Só


espero que seja logo, porque eu estou louquinha para
saber sua opinião com a tão sonhada e aguardada
primeira vez.

Solto uma gargalhada, jogando a cabeça para o lado.

— Ah, eu com certeza vou narrar cada mínimo


detalhe para vocês, ainda mais depois de todo esse
tempo de espera.

— E nós merecemos mesmo.

Ivana estaciona o carro em frente ao meu prédio,


optando por deixar o veículo na rua e não na garagem de
visitante.

Lanço-lhe um olhar indagador, com uma sobrancelha


arqueada, enquanto esperamos o elevador.

— Vai que alguma das meninas resolva encher a


cara. Se alguém precisar passar a noite aqui, ao menos a
garagem estará livre. — explica-se, dando de ombros.

Não seria a primeira vez que isso acontece. No mês


passado, Celina bebeu tanto, que precisamos retirar o seu
celular, antes que ela fizesse alguma postagem vexatória
para os seus cem mil seguidores. Como a noite foi na
casa da Maitê, Celina acabou dormindo por lá mesmo,
não sem antes vomitar todo o banheiro e precisar ser
colocada debaixo do chuveiro com roupa e tudo.

Destranco o meu apartamento, aliviada pelo início do


fim de semana. Jogo as chaves na mesinha do lado da
porta e ligo as luzes.

— Eu vou tomar um banho e trocar de roupa. Fique à


vontade.

— O que nós vamos jantar? — pergunta, se jogando


no meu sofá de sapato e tudo.

— Tanto faz. Quando as outras chegarem, veremos o


que vamos encomendar.

Entro no meu quarto semidesnuda, jogando os saltos


altos para longe e dando um alívio para os meus pés
cansados e doloridos.

Olho meu reflexo no espelho do banheiro, a exaustão


da semana corrida e da aflição pela primeira
apresentação, estando presentes nas olheiras marcadas
debaixo dos olhos castanhos. Nem mesmo minha pele
parda conseguiu esconder as manchas.

Até mesmo os meus cabelos castanhos, que sempre


possuíram um brilho único, hoje, parecem opacos. Predo-
os em um coque improvisado, para não molhá-los no
banho.

Não me acho uma pessoa feia, pelo contrário, sei que


sou bonita e chamo atenção. E sempre fui vaidosa,
passava a adolescência inteira hidratando os cabelos e
trocando o esmalte da unha a cada semana. Além do
mais, não saía de casa se não estivesse maquiada, sob
hipótese alguma.

Porém, hoje em dia, tudo isso se tornou impossível,


trabalhando na Eugleni em tempo integral. A empresa é
conceituada e para manter o ranking no mercado de
trabalho, cobra muito dos funcionários. Portanto, nada de
dias de beleza, não durante a semana, pelo menos.

Depois do meu momento de lazer, coloco uma roupa


leve e me junto novamente à Ivana, no aguardo das
meninas.

— Vinho? — oferece, enquanto enche sua própria


taça.

— Por favor!
Céus! Isso é quase o paraíso: banho tomado, vinho e
fim de semana.

— Ainda acha que trabalhar na Eugleni é a melhor


coisa do mundo? — indaga Ivana, entregando-me a taça
de vinho.

Bebo um pequeno gole, apreciando o sabor cítrico da


bebida.

— Eu ainda sou extremamente grata por conseguir o


emprego.

— Mas não acha mais que é a melhor coisa do


mundo?

Giro a taça em minha mão, movimentando o líquido.

— Eu acho o serviço puxado, só isso.

Ivana empurra minhas pernas para se sentar ao meu


lado, colocando-as em seguida, por cima do seu colo.

— Vai melhorar quando conseguir sua especialização.


Eles fazem exatamente isso com os novatos. Todos que
eu conheci até hoje passaram por isso, não se preocupe.

Quando eu consegui o emprego Ivana e eu já nos


conhecíamos. Aliás, foi ela quem entregou pessoalmente
o meu currículo. Na época, há sete meses, ela me disse
que era um serviço pesado, mas que com o tempo as
coisas melhorariam. Além do mais, o salário é ótimo, bom
o suficiente para que eu consiga me manter sozinha.

— Eu sei. Agora não falta muito tempo — comemoro.

Minha amiga é especialista em Luminotécnica, ou


seja, ela é responsável pelo desenvolvimento da
iluminação de ambientes, focando tanto na parte estética
como funcional.

— Sim, e precisaremos fazer uma festa quando o tão


desejado diploma de especialização chegar.

Rio, pois para as minhas amigas, qualquer coisa é


motivo para comemorar e festejar.

Prestes a falar mais alguma coisa, somos


interrompidas pelas conversas no corredor e o barulho da
campainha.

É hora de esquecer o trabalho, meu chefe invasivo e


a semana cansativa, focando somente em comemorar com
as amigas.
Celina se joga no sofá da frente, em mãos, uma taça
de espumante. Enquanto Maitê abre um vinho na cozinha,
a qual é anexa com a sala. E Ivana troca os canais de
música na televisão sem parar, tentando encontrar algo
para ouvir que seja adequado o suficiente aos seus
ouvidos nada ecléticos.

— Então, o que andam fazendo da vida? — pergunta


Celina, finalmente largando o celular de lado.

— Acredite, nossa vida não é tão animadora quanto a


sua. — retruca Ivana.
Ivana adora implicar com Celina e sua vida difícil de
digital influencer. Afinal, ela é paga para tirar fotos e
fazer postagens. Além de nunca precisar comprar roupas,
pois as lojas fazem questão de enviar para ela caixas e
mais caixas, como uma forma de agradecimento. O lado
bom de se ter uma amiga que trabalha com a internet: a
fonte interminável de presentes, pois tudo o que ela não
gosta, ela entrega para as amigas.

— Nem vem com essas suas críticas veladas! Acha


que é fácil ser digital influencer? Além de precisar cuidar
do meu corpo, deixando-o no padrão ridículo imposto pela
sociedade, eu tenho prazo para a entrega dos trabalhos e
preciso ser criativa na hora de tirar as fotos. — declara,
magoada.

Encaro Celina da cabeça aos pés. Minha amiga de


infância está sempre impecavelmente arrumada. Os
cabelos loiros ondulados por um babyliss muito bem feito,
as unhas em gel pintadas em rosa, sem um único defeito.
Os olhos verdes estão cobertos por extensão de cílios,
além do rosto perfeitamente assimétrico por conta de
todos os procedimentos estéticos.

O corpo magro, como o de uma modelo, ganha


destaque em seus peitos cheios e siliconados.

Celina é linda, sempre foi, na verdade. Mas desde


que começou a ganhar seguidores na internet, começou a
buscar um padrão de beleza elevado. Hoje, sei que ela se
arrepende de alguns procedimentos, mas não fala nada,
pois vive disso.

— Ei, ei, ei, não está mais aqui quem falou! — Ivana
joga as mãos para o alto, em rendição.

Celina não fala absolutamente nada, desviando o


olhar, ainda magoada.

— Não acredito que vocês já começaram a discutir!


Nós nem começamos a beber ainda! — rebate Maitê,
vindo da cozinha com uma garrafa de vinho em uma mão
e uma taça transbordando na outra.

Maitê e eu somos muito parecidas e próximas.


Quando eu nasci, minha irmã tinha doze anos de idade.
Eu fui um bebê não planejado. Ela cuidava de mim como
se eu fosse uma de suas bonecas, me amando, me
protegendo e me mimando. Assim, mesmo com a
diferença de idade, nós criamos um vínculo inquebrável
de amizade.

Há dois anos, quando ela descobriu a traição do


Guilherme, Maitê ficou deprimida, foi assim que nós
começamos a marcar essas reuniões todos os meses, não
importa sobre quais circunstâncias, e desde então cá
estamos nós, melhores amigas inseparáveis.

— Vamos beber! — exaspera Ivana, recolhendo a


taça de vinho e virando todo o líquido em poucos goles.
— O que tem feito, Celina? Vejo que não tem
publicado tanto no Instagram ultimamente. — Olho para
Celina, aguardando a sua resposta.

— Eu estive ocupada.

— Ocupada com o quê? — Dessa vez é Ivana quem


pergunta.

Celina revira os olhos.

— Estou conversando com um homem... e por conta


do fuso horário, não tenho dormido muito bem
ultimamente, consequentemente, nada de fotos.

Sinto minha testa franzir.

— Que homem? — Maitê se senta ao lado de Celina,


cuidando para não derramar vinho no sofá.

Celina fica em silêncio por alguns segundos,


cogitando se deve nos contar ou não. Vejo o exato
momento em que ela desiste de manter segredo, abrindo
um sorriso bobo e jogando o corpo para trás.

— Um Sheik! — grita, batendo palmas, animada.

Certo! Sinto minha boca se abrir em um “oh”


involuntário.

— Menina, conta tudo! — Maitê dá um tapa em sua


perna, induzindo-a a continuar.
— Como eu disse, ele é um Sheik, o pai era
governante de Ajman. Ele se chama Jamal e mora em
Dubai. Nos conhecemos através do Instagram, quando ele
começou a me seguir, eu o achei bonito, segui de volta, e
enfim, começamos a conversar.

— Nossa senhora, só Celina mesmo para vir com uma


história absurda dessas! — retruca Ivana, chacoalhando a
cabeça em negativa, incrédula.

— Não é absurda! Estamos nos dando muito bem, e


se você parasse de implicar tanto comigo, ouviria o
restante da história, porque eu tenho um babado ainda
maior! — As palavras de Celina não trouxeram críticas,
apenas tácita resignação e um pedido para Ivana parar de
interromper.

— Ah, mas eu quero saber. Pode continuar! — induz


Maitê.

— Ele me convidou para ir a Dubai. Vai fretar um


jatinho particular e tudo. — Suspira, comprimindo os
lábios.

Me reclino no sofá, registrando cada reação fugaz do


rosto de Celina.

— E é claro que você aceitou, não é? — Maitê larga a


taça na mesa de centro, tão animada, se não mais que
Celina.
— Eu espero que ela não tenha aceitado. Só Deus
sabe o que esses homens árabes são capazes de fazer,
além de serem extremamente machistas, é claro. —
censura Ivana, cada palavra saindo mais trincada que a
anterior.

Celina balança os ombros, colocando uma almofada


no colo.

— Eu disse que só iria se eu pudesse levar minhas


melhores amigas.

— O quê? — Maitê, Ivana e eu indagamos uníssonas.

— É isso mesmo o que ouviram. Aliás, Jamal me


respondeu, falando que não teria problema algum. Ainda
falou que consegue nos reservar uma suíte no edifício
Khalifa! ISSO NÃO É PERFEITO? — grita, exasperada.

Meu cérebro dá um nó na cabeça, me deixando


rapidamente desnorteada.

— Você não pode estar falando sério, Celina! Você


nem sabe se esse homem existe de verdade, não pode
ser tão louca assim! — ralha Ivana.

Celina revira os olhos.

— É claro que ele existe. Enviamos fotos um do outro


todos os dias, e acreditem, ele é igualzinho ao Instagram.
E outra, quem, além de um Sheik, teria todo esse dinheiro
para fretar um jatinho particular e reservar uma suíte no
maior prédio do mundo?

— Faz todo o sentido! Saiba que eu já sou presença


confirmada! — salienta Maitê.

— Yeeessss! — Celina dá um soco no ar,


comemorando.

— Maitê, é sério? Você deveria ser a mais


responsável do grupo! — A voz de Ivana soa aguda.

— E quem disse que eu não sou? Se Celina está


falando que o homem existe de verdade, então ele
realmente existe. Além do mais, eu é que não vou perder
uma viagem dessas!

— E se ele for um traficante de mulheres? — contra-


argumenta Ivana.

— Nossa senhora, Ivana! Ele não é, tudo bem? E se


for te fazer se sentir mais tranquila, eu pesquisei o nome
dele na internet e confirmei a veracidade. Jamal é Sheik
de Ajman e melhor amigo do príncipe de Dubai, inclusive.

— Meu Deus! Eu só posso estar sonhando! Sheik’s e


príncipes! Celina, se elas não forem com você, pode
apostar que eu irei. — aquiesce Maitê.

Fico em silêncio, observando a conversa das três,


ainda perplexa demais para falar qualquer coisa ou
formular alguma frase coerente.

— Vamos, meninas! Vai ser divertido, será somente


uma semana. — Celina bate o pé.

Ivana olha para mim, posteriormente para Maitê, a


qual faz um singelo aceno de cabeça, e por fim para
Celina.

— Você tem certeza de que ele não é nenhum


psicopata? Pelo amor de Deus, não quero terminar os
meus dias sendo escrava sexual de nenhum pervertido
árabe, não!

— Sim, Ivana, eu tenho certeza. — reitera Celina. —


Se quiser, posso enviar as fotos que ele me manda, o
Instagram e a página que fala sobre ele e o príncipe
Farzur. E as do monumento que eu experimentarei em
breve. — acrescenta em tom mais baixo, rindo.

— Sua safadinha! — Maitê empurra a perna de


Celina. — Eu quero ver.

Elas caem na gargalhada.

— Só aceito ir, se eu tiver certeza de que todo ele e


todas as partes são reais! — Pisca Ivana, rindo.

— Ah, mas eu posso mostrar isso agorinha para


vocês.
Minhas amigas sempre foram desvirtuadas, e Maitê
se tornou assim depois do divórcio, mas eu jamais pensei
que a loucura delas elevaria tanto de patamar como o que
eu estou presenciando agora.

Ir para Dubai encontrar um homem desconhecido?


Fala sério! Só elas mesmo para concordarem com essa
ideia absurda.

Alguém coça a garganta, tirando-me das divagações.


Olho ao redor e percebo que os três pares de olhos estão
atentos a mim.

— O que foi?

— Só falta você responder. — murmura Celina,


arqueando uma sobrancelha.

Balanço a cabeça em negativa, sem proferir uma


única palavra.

— É sério, Brianna? O que te impede? — Esperava a


pergunta de qualquer uma, menos da minha irmã, a qual
foi justamente quem proferiu.

Mordo o lábio, tensa.

— Eu não tenho direito a férias ainda, vou ter que


deixar essa viagem animadora passar.
— Mas isso não é problema, pois com apenas uma
ligação eu posso resolver...

Sigo negando com a cabeça, interrompendo-a.

— Eu não vou fazer isso!

— E por que não? — Para a minha surpresa, quem


faz a indagação é Ivana.

Passo a língua pelos lábios ressecados e as mãos


nos cabelos, nervosa.

— Eu não tenho essa coragem, e não me arriscaria,


também.

— Mas não seria um risco, não se não for descoberta.


— Celina abre um sorriso malicioso.

— E pode apostar que em outro País, isso é quase


impossível de acontecer. — acrescenta Ivana.

— Ainda mais se o atestado não deixar suspeitas. —


conclui Maitê.

Deus! Essa conversa só pode ser fruto da minha


imaginação. Eu com certeza não estou começando a
cogitar a hipótese de colocar um atestado falso no
trabalho para viajar para Dubai e encontrar um Sheik e
um Príncipe ou o que quer que seja que eles são.
— Vamos, por favor! Pensa na viagem divertida que
nós teremos. — Celina balança a minha perna,
suplicando.

Eu a encaro em silêncio, com o coração acelerado,


tentando entender o que está acontecendo.

— O que te impede, Brianna? Um serviço que te


explora? Que te tratam sem valor algum, enquanto
esperam a tua especialização para ver se é forte o
suficiente para aguentar a pressão? — contra-argumenta
Ivana.

— Ei, é o seu serviço também! — rebato.

— Eu sei, e hoje eu ganho bem, mas olhando para


trás, não sei se valeu realmente a pena todos aqueles
doze meses esperando para finalmente ser reconhecida.
Às vezes, a saúde mental é mais importante, sabe?

Desvio o olhar, passando a mão na nuca, tentando


me acalmar.

— Viu só! Até a Ivana que é a chata do grupo acha


que você deve ir! Pensa bem, Maitê conseguirá o
atestado, Ivana pedirá férias. Iremos para Dubai, não
vamos postar absolutamente nenhuma foto, por mais que
doa, retornaremos em uma semana e tudo certo, vida que
segue. Será um segredo nosso. — Os olhos de Celina
franzem em súplica.
— Eu não tenho condições de bancar uma viagem
dessas! — exaspero. — Maitê é médica, você trabalha
com a internet e Ivana tem um bom cargo na empresa,
todas possuem um salário relativamente maior que o meu.
Precisam considerar que a distinção é grande.

Maitê bufa.

— E que irmã mais velha eu seria se não fosse capaz


de pagar uma viagem para a caçula?

— Não sou sua responsabilidade, Maitê!

— Ora, eu sei que não é. Mesmo assim, faço questão


de suprir todos os seus gastos. Como disse, Bri, sou
médica, solteira e desimpedida. Mais da metade do meu
salário fica na conta todos os meses, portanto, tenho o
suficiente para pagar a viagem por nós todas.

— Ainda assim, é seu, Maitê! É você quem passa


horas e mais horas em plantões intermináveis. É mais do
que merecedora do que recebe.

E é verdade, Maitê é médica plantonista, pois é


cirurgiã. E apesar de ser suficientemente capaz de abrir a
própria clínica, ela gosta da correria do Hospital. Certa
vez minha irmã revelou que faz isso para postergar ao
máximo o momento de voltar para casa e assim cair na
realidade e perceber que está sozinha.
— Exato! Ele é meu e eu gasto como eu quiser,
sendo assim, gastarei suprindo nossas viagens.

Minhas mãos estão trêmulas, meu coração parece


prestes a sair do peito, batendo de forma acelerada.
Minha respiração é densa e pesada, como se eu estivesse
prestes a ter uma síncope.

— Vamos! É só uma semana! — Celina une as mãos,


clamando.

— Olha, se eu digo que não vai dar em nada e que a


empresa merece isso, é porque eu falo a verdade. —
declara Ivana.

— Sério, Bri, quando pensou que faríamos uma


viagem assim, ainda mais entre amigas e com tudo pago.
— complementa Maitê.

Levanto-me do sofá, caminhando de um lado para o


outro, massageando as têmporas, aflita.

Eu nunca fiz nada parecido com isso, nem nunca


cogitei algo assim. Mas, por um lado, elas têm total razão.
E, apesar de eu estar há somente sete meses na
empresa, me sinto esgotada, tanto fisicamente quanto
emocionalmente.

Contudo, as consequências de ser descoberta seriam


desastrosas. Pois, além de falsificar um atestado e
responder por isso, eu seria demitida por justa causa e
nunca mais na vida conseguiria um emprego, não no País.

— Vamos, Bri, por favor! — choraminga Celina.

Fecho os olhos, tentando colocar os pensamentos em


ordem, mas o silêncio que se expande na minha sala,
mesmo sendo pequena e tendo dentro dela quatro
pessoas, é ensurdecedor.

Ah, dane-se!

— Tá legal, vamos para Dubai! — aviso, abrindo os


braços em desistência.

A sequência de gritos e pulos que se sucede me


assusta incialmente, mas isso dura poucos segundos,
pois logo já estou pulando e comemorando com elas.

Que Deus nos ajude, pois essa será de todas, a


maior loucura que já fizemos.
O líquido âmbar desce pela minha garganta
queimando, mas a ardência em meu esôfago é um tanto
refrescante.

— Então, encontrei a sua mãe esses dias e ela me


pediu encarecidamente que eu coloque juízo na sua
cabeça e convença você a casar. — murmura Jamal,
girando o copo de uísque nas mãos, fazendo o gelo
tilintar.

Solto uma risada sem humor, balançando a cabeça.


— Olha logo para quem a minha querida mãe foi pedir
ajuda. — Lanço-lhe um olhar de desdém.

Jamal é tão cafajeste, se não mais que eu, no


entanto, por não carregar o título de herdeiro de Dubai e
Abu Dhabi nas costas, as pessoas tendem a se importar
menos com o que ele faz da vida. Mesmo ele sendo um
Sheik também.

— É sério, Khalif, não pensa mesmo em casamento?

Sinto minhas sobrancelhas escuras franzirem em


desentendimento.

Parece que a frase que compõe as três palavras:


–“Khalif, casamento e filhos”–, me persegue ultimamente.
Não importa se estou na companhia da minha família, e
agora dos meus amigos, o assunto é sempre o mesmo.
Começo a me questionar se devo começar a pintar os
cabelos ou fazer alguns procedimentos estéticos, me
preocupando finalmente com a idade.

— Você está realmente falando sério?

Ele dá de ombros.

— Sim. Ainda mais quando pode ter a mulher que


quiser, ou as mulheres.

Bufo.
— Deveria saber, querido amigo, que eu, assim como
meu pai e meu irmão, terei somente uma mulher. Além do
mais, acho as leis do nosso país quanto a isso absurdas.

— Eu sei, eu sei. Mas nem todos os homens pensam


assim, ao menos, não os antigos. Nós tivemos a
oportunidade de estudar fora daqui, conhecer como outras
culturas funcionam e retornar com a mente mais aberta,
Khalif, mas nossos avós, não.

— Meu pai também não teve essa oportunidade e


pensava diferente.

Jamal faz um gesto de mãos.

— Seu pai era diferente.

A verdade é que meu pai era tão apaixonado pela


minha mãe, que nunca nem mesmo cogitou a hipótese de
arranjar uma outra mulher.

Normalmente, os casamentos entre os membros mais


altos da nossa sociedade, ocorrem de forma arranjada. E,
embora meu pai concordasse com isso na época para
elevar ainda mais suas relações políticas, assim que
colocou os olhos em minha mãe, sua linha de raciocínio
mudou drasticamente.

Meu avô materno era um sultão, portanto, não foi


difícil convencer o meu avô paterno de que a relação
seria vantajosa para ambos. A única coisa que ele não
gostou nem um pouco, foi as recusas do meu pai em
encontrar outras esposas, afinal, quanto mais mulheres
ele tivesse, melhor seria a relação da família com a alta
patente.

Apesar da minha família ter essa linha de


pensamento, uma vez mamãe conversou comigo sobre
isso, disse que concordaria se eu quisesse ter mais de
uma mulher, desde que eu me casasse e parasse de sair
por aí participando dessas indecências e promiscuidades.
O que ela não sabe, é que eu faço exatamente isso
porque ainda não encontrei a mulher certa para me casar,
pois quando eu fizer, será somente ela e mais ninguém.

— O que está acontecendo, Jamal? Você está...


diferente. — Saio dos meus devaneios, bebericando um
pequeno gole do uísque.

Jamal passa a mãos nos cabelos e escora o braço no


encosto da cadeira.

Algumas turistas passam por nós, captando


imediatamente a nossa atenção. A melhor parte de morar
em Dubai ao invés de Abu Dhabi é a grande quantidade
de turistas que recebemos diariamente e suas poucas
vestimentas.

— Não estou diferente, eu só conheci uma pessoa.

Viro a cabeça para ele em um piscar de olhos.


— O quê?

Jamal fica cauteloso, um pouco retraído com a minha


súbita mudança de humor.

— Nos conhecemos na internet e desde então


estamos mantendo contato.

— O quê? — repito, arregalando os olhos.

Por um momento, cheguei a pensar que ele estaria


brincando.

— O nome dela é Celina. Ela tem muitos seguidores


no Instagram, um dia apareceu aquela notificação de
pessoas que eu talvez conheça, e eu comecei a segui-la,
sem muitas expectativas, mas quando ela retornou, eu
precisei chamar. Ela é linda, divertida, inteligente... —
Suspira, apaixonado.

Fico em silêncio por alguns segundos, ouvindo suas


palavras ecoarem pelo leve torpor em que me encontro.

— Você está apaixonado por uma garota que nunca


nem viu na vida? — Lanço um olhar enviesado em sua
direção.

Jamal revira os olhos.

— Eu já a vi, várias vezes, antes que diga mais


alguma coisa. — Levanta a mão, interrompendo-me. —
Nós fazemos vídeo chamada no WhatsApp direto.

Corro os dedos pelos cabelos, nervoso.

Jamal sempre foi mais centrado que eu, isso é um


fato. Ao contrário de mim, ele vem há alguns meses
formulando o quanto pretende se casar em algum
momento, mas eu não me preocupei com isso, pois
acreditei ser uma pequena crise existencial. Porém, essa
é a primeira vez que eu vejo Jamal falar de uma mulher
com tanto... carinho.

— E você vai fazer o que, exatamente? Essa garota


mora aonde?

— No Brasil, e eu não farei nada, pois ela virá até


mim.

Wallah [ i v ] ! Wallah!

O homem está mesmo levando a sério essa história


com a estrangeira. Não que alguém possa proibir um
homem de se casar com a mulher que bem entende, mas
Jamal trazer uma estrangeira para o nosso País e torná-la
sua, significa que ela precisará se ambientar com os
nossos costumes totalmente retrógrados em relação aos
seus.

— Virá até você quando?


— Em uma semana. Aliás, ela trará algumas amigas,
e é claro que eu precisarei da sua ajuda para fazer a
viagem dessas mulheres, inesquecível. — Os cantos dos
seus lábios se repuxam em um sorriso malicioso.

Bom, levando em conta que essa mulher por qual


Jamal tem um interesse amoroso está vindo acompanhada
de algumas amigas, no plural ainda, não me resta nada
além de ser um bom anfitrião e ajudar o meu tão querido
amigo de infância.

— Acho que posso ser útil. — murmuro, terminando


de virar o restante da bebida do meu copo.

Recolho a garrafa do centro da mesa, servindo-me de


mais uma dose.

— Que bom, porque eu prometi que conseguiria para


elas uma suíte no Khalifa, e isso, só você poderá
resolver.

Paro com o copo no meio do caminho até a boca.

— Eu sei que é difícil de conseguir uma vaga, mas


você precisa fazer isso, por favor! Não posso passar
vergonha com a minha garota prometendo coisas que não
conseguirei cumprir. Ela jamais vai me perdoar! —
pondera, pensativo, franzindo o nariz.

— E por que, em nome de Allah, você ofereceu uma


suíte no Khalifa? — Finalmente recupero a minha voz.
Jamal levanta os braços, exasperado.

— Eu precisava conquistá-la de alguma forma. Queria


deixá-la impressionada.

Jamal deve estar realmente apaixonado por essa


mulher, nunca na vida o vi tão preocupado com o que
alguma delas fosse pensar.

— Eu vou ver o que eu consigo fazer. — cicio,


pensativo e preocupado.

Não que seja impossível, mas acontece que o Khalifa


está sempre lotado de turistas e as reservas, na maioria
das vezes, levam meses até serem concluídas.

— Serei eternamente grato. É sério, você precisa ver


uma foto da Celina, ela é simplesmente espetacular, a
mulher mais bela que os meus olhos já tiveram a
oportunidade de visualizar. Eu preciso impressioná-la de
alguma forma, porque alguém como ela pode ter quem
bem entender.

— Por que você não se apaixona por uma mulher


daqui se quer tanto se casar, não seria tão mais fácil? —
questiono, franzindo o cenho.

— Não é bem assim que as coisas funcionam... não


disse que me casaria com Celina, ainda estamos nos
conhecendo.
Jamal morou alguns anos em Londres para estudar,
porém, assim como eu, depois de um tempo vivendo em
território inglês, meu amigo não tinha a menor intenção de
retornar, isso até o seu pai cortar seu dinheiro e ameaçar
deserdá-lo, obrigando-o a voltar. Caso o antigo Sheik
fizesse conforme prometido, hoje Jamal não teria nem
esse título para chamar de seu.

Mas tudo mudou há um ano, quando o Sheik faleceu


após um ataque cardíaco enquanto dormia. Como Jamal é
o primeiro filho homem do pai, herdou o título, riquezas e
Ajman para comandar.

Meu amigo tem muitos irmãos, pois o pai teve quatro


esposas, contudo, Jamal não fala deles e nem tem uma
boa relação. A mãe e primeira esposa morreu quando ele
ainda era jovem, fazendo com que as madrastas o
maltratassem. Sendo assim, Jamal cresceu com o mesmo
desejo da minha família, o de constituir uma única
esposa.

Além do mais, Jamal prefere manter residência fixa


em Dubai do que em sua terra natal e tudo isso para
evitar ao máximo a família.

— Mas está fissurado em fazer com que ela goste de


você. — retruco.

Jamal solta um suspiro pesado.


— Eu gosto dela, simples assim. Quero deixar as
coisas fluírem.

— O que você disse que ela faz mesmo?

— Eu não disse. Celina é digital influencer.

É, certamente Jamal está muito, mas muito


encrencado. A esposa de um Sheik sendo uma digital
influencer, uma garota que posta absolutamente tudo o
que faz nas redes sociais. Essa eu quero e pago para ver,
pois seria uma afronta aos mais velhos e recatados, o que
é ótimo, considerando que está na hora do nosso povo
evoluir.

— Bom, então vamos aguardar a presença da Celina


e suas amigas.

Levanto o copo em um brinde, um tanto ansioso para


conhecer essas brasileiras.

— Deus, eu vou ter um ataque cardíaco, é sério, olha


como está o meu coração! — Coloco a mão de Maitê em
meu peito.

Minha irmã revira os olhos, afastando-se.

— Não se preocupe! Caso aconteça alguma coisa


relacionada a isso, tem uma médica aqui que tem
capacidade o suficiente para controlar o problema. —
Sorri em deboche.

Tento acalmar meu estômago revolto, já que não


conseguirei fazer o mesmo com o meu coração acelerado.

Estamos no meu apartamento esperando as meninas


chegarem, para que assim possamos ir ao aeroporto, em
cima da hora, é claro, para evitar que alguém nos veja, ou
no caso, me veja.

Mais cedo, Maitê foi pessoalmente ao meu trabalho


no RH entregar o atestado que conseguiu com o amigo. A
causa da minha “dor e sofrimento” foi registrada como
CID 10 - A09, diarreia e gastroenterite de origem
infecciosa presumível.

Ando de um lado para o outro, conferindo a hora em


meu relógio de pulso a cada minuto. Enquanto não
sairmos do Brasil, eu não descansarei, com medo que a
qualquer momento alguém do trabalho possa bater em
minha porta para verificar a veracidade do atestado
médico.
— Você está me deixando tonta! — Maitê masca um
chiclete de boca aberta, escorada no sofá, acompanhando
os meus movimentos com os olhos.

— É inevitável. — Passo a mão no rosto, exausta.

Estou prestes a perguntar pela centésima vez se falta


muito tempo, quando o meu celular toca. Entro em pânico,
estacando no lugar, sem conseguir mexer um único
músculo.

— Não vai atender?

— Não consigo. Estou em choque.

Maitê bufa e revira os olhos.

— Deixa que eu atendo, então.

Ela caminha rapidamente até à mesa da cozinha,


antes que a ligação caia na caixa postal e recolhe o
telefone. Quando seus olhos encontram os meus, sei que
não é nada bom.

— Você precisa atender. É o seu chefe. Ao menos é o


que está escrito no visor.

Sem condições de lhe dar uma resposta verbal,


limito-me a acenar, enquanto forço o meu cérebro a voltar
a funcionar.
— Aqui! — Maitê puxa o meu braço, estende a minha
mão e larga o celular na minha palma. — Atenda antes
que desligue.

Continuo balançando a cabeça com veemência.

Com muito esforço, levo o celular ao ouvido,


atendendo, enfim, a ligação.

— A-alô? — gaguejo.

— Brianna, como você está? Fiquei sabendo que


ficou doente e o RH me entregou o atestado. — Ouço
barulhos de buzinas ao fundo, imediatamente percebo que
Miguel está na rua e automaticamente fico nervosa,
temendo que ele queira vir me visitar.

— E-eu estou bem... — Graças aos céus, minha voz


sai quase em um murmúrio por causa do nervosismo.

— Se precisar de alguma coisa, posso ir até a sua


casa para...

— Não preciso! — corto, soando seca demais para


alguém que fala com o chefe. Limpo a garganta. — Quer
dizer, minha irmã está aqui, não se preocupe.

— Me sinto mais tranquilo em ouvir isso.

— Obrigada.
Controlo a iminente vontade de encerrar a ligação e
enviar uma mensagem, posteriormente, mentindo que caiu
sozinha.

— Quero que saiba que você faz muita falta no


trabalho, será uma longa semana sem você...

Respiro e inspiro profundamente, tentando controlar


os nervos e a irritação.

— É... eu preciso desligar, não estou me sentindo


muito bem. Até mais.

Antes que ele diga alguma outra asneira, encerro a


chamada, suspirando.

— E aí? O que esse tarado queria? — Maitê, agora,


devora uma barra de chocolate.

Lanço um olhar enviesado em sua direção, arqueando


as sobrancelhas em questionamento.

— O que foi? Estou nervosa, sempre fico assim


quando vou viajar. — Faz um movimento com os ombros.

Jogo o celular de volta no sofá.

— Ele queria saber como eu estava e blá, blá, blá...


agora, onde as meninas estão? Eu só preciso sair desse
País e deixar aqui toda a tensão.
E é verdade, minhas costas estão retesadas desde
que eu acordei, na realidade, desde que eu me deitei para
tentar dormir, coisa que eu não consegui fazer de jeito
nenhum.

Antes que Maitê possa responder, a campainha toca.


Sem esperar alguém atender a porta, Ivana entra, seguida
por Celina.

— Vamos para Dubai, garotas? — Celina abre os


braços, a voz esganiçada em animação.
Estico as pernas sentindo todos os músculos do meu
corpo protestando, após quase quinze horas dentro de um
avião.

O jatinho particular de Jamal é impressionante e


cômodo. Com uma decoração clássica, o avião particular
traz cinco pequenas suítes semelhantes a cabines
vintages separadas por portas deslizantes. O avião
também possui uma área de descanso para a tripulação e
um quarto principal com banheiro e ducha. No quarto, há
um sofá que pode ser transformado em dois assentos,
também há dois bares escondidos atrás de espelhos.
Além disso, o jato traz um cinema para dois passageiros e
15 poltronas totalmente reclináveis que podem ser
controladas por celular ou tablet. Nunca na vida imaginei
que eu veria tanto luxo em um espaço relativamente
pequeno. Contudo, ficar tanto tempo dentro de um mesmo
ambiente é entediante. Acabei lendo um livro inteiro e
parei na metade de outro quando fomos avisadas de que
estávamos chegando.

O ar quente e abafado do deserto me abraça quando


coloco o pé para fora, estranhamente, eu amo o
calorzinho que faz aqui, pois sempre fui inimiga do
inverno. E morar no sul do Brasil significa resistir a
invernos rigorosos.

— Quem vai ter uma síncope agora sou eu. — cicia


Celina, roendo a unha do polegar.

— Por quê? — pergunta Maitê parando ao seu lado,


deslumbrada com a infraestrutura, as tecnologias
utilizadas e o imenso Duty Free que transformam o
aeroporto em um verdadeiro paraíso.

— Bem, ver Jamal pela internet é uma coisa... e se


ele não gostar de mim?

Viro imediatamente para Celina, impressionada com a


sua insegurança, pois em anos de amizade, essa é a
primeira vez que ela age assim.
— Deixa de ser boba! Você é linda. — responde
Ivana.

Por um momento, cogitei a possibilidade de Celina


estar somente se divertindo com essa história de Sheik
Árabe e tudo mais. Mas agora, vendo-a nervosa por
encontrá-lo, constato que é mais do que isso. Celina está
levando a sério, ainda mais, está apaixonada.

— Eu sei, mas é que ele é um Sheik, sabe, poderá ter


a mulher que bem entender. — Faz um movimento de dar
de ombros.

Viro para a minha amiga e seguro as suas mãos,


forçando-a a me olhar.

— Celina, olhe bem para você, assim como esse tal


Sheik pode ter a mulher que quiser, você igualmente
poderá ter o homem que bem entender. É simplesmente
uma das mulheres mais lindas que eu conheço.

Celina se joga em meus braços, em um abraço


apertado.

— Obrigada! — murmura contra o meu pescoço.

Alguém pigarreia atrás de nós e, automaticamente,


sinto o corpo de Celina rígido. Lentamente, tão
lentamente, ela se vira, ficando de frente para o seu amor
virtual.
Uau! Jamal é um homem alto, bem alto. Ele possui as
características típicas dos árabes. Cabelos pretos e ralos,
olhos castanhos, nariz reto e boca fica. Diferente do que
eu imaginava, ele não usa aquelas túnicas que vemos em
filmes e novelas, o Sheik veste um terno preto com
caimento perfeito em seus ombros largos e musculosos.

— Oi. — Celina é a primeira a falar alguma coisa,


pois o homem parece encantado demais para formular
uma frase.

Minha amiga dá um passo indeciso e contido na


direção do Sheik, receosa.

— É... oi! É um prazer finalmente conhecê-la. —


Parece que Jamal sai de seu torpor.

— O prazer é meu. — Celina sorri, baixando a cabeça


e arrumando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Isso é outra novidade. No final das contas, nós recém


começamos a viagem e eu já estou descobrindo muitas
coisas interessantes! Eu vi Celina, por uma única vez,
colocar o cabelo atrás da orelha e abrir seu sorriso de
“garota sedutora, mas inibida”. E isso aconteceu quando
estávamos entrando no ensino médio e ela era
apaixonada pelo representante de turma.

Jamal olha por trás dos seus ombros, finalmente


reparando na nossa presença.
— Vocês devem ser Brianna, Ivana e Maitê. Estou
certo? Celina fala muito de vocês.

— Espero que coisas boas. — Ivana pisca um olho,


soando amigável.

— Só coisas boas! — Jamal entra na brincadeira. —


Vocês devem estar famintas e cansadas. Venham, vou
levá-las até o hotel e, posteriormente, em algum
restaurante.

— Ah, sim! Por favor! Meu estômago precisa de


comida de verdade. — reclama Maitê, colocando seus
óculos de sol.

— Se preferirem ficar no hotel descansando, o


Khalifa possui um ótimo serviço de quarto...

— Não! Nós viemos para nos divertir, sem hotel. —


nega Ivana, balançando a cabeça com veemência.

— Tudo bem! Que seja feita a vontade de vocês,


então! — Jamal levanta os braços, rendido.

Ficamos para trás, diminuindo os nossos passos


propositalmente para deixá-lo mais à vontade com Celina.
Os dois entram em uma conversa animada.

Olho ao redor, observando a cultura tão atípica do


que estamos acostumadas. Me pergunto, como as
mulheres conseguem sobreviver com as roupas tão longas
e fechadas nesse calor escaldante.

O aeroporto é enorme. O som das conversas


sobressaindo-se uma das outras, misturando-se com o
som dos saltos que ecoam no piso, bem como, o de
talhares batendo em pratos nos restaurantes.

Diferente do que eu imaginava, algumas mulheres


não usam a roupa típica, talvez turistas ou residentes de
etnias diferentes. Há também aquelas que vestem roupas
que escondem toda parte do corpo, excluindo o rosto, as
mãos, pulsos, pés e cabelos.

— Acho que eles se deram bem! — Ivana aponta com


o queixo para Celina e Jamal.

Paro de prestar atenção no povo que nos rodeia,


focando em ver como minha amiga está feliz e realizada
por conhecer pessoalmente o seu tão sonhado príncipe
encantado.

— O que é ótimo, pois Celina parece realmente


apaixonada. — pontuo.

— Ela é jovem, tem muito ainda o que aprender sobre


o amor. — acrescenta Maitê.

Minha doce irmã sempre faz questão de vir com


divagações ácidas todas as vezes em que alguma de nós
conhece alguém. Por um lado, sei que ela ainda sofre
pela separação e traição do único homem que já amou na
vida, e por isso eu relevo as coisas que fala, pois sei que
Maitê só está tentando proteger o nosso coração.

— Só sei que Celina vai ter que pesar em uma


balança se essa relação realmente vale a pena. — Ivana
olha para os lados. — Olhem em volta, vejam como essas
mulheres se portam e se vestem. Elas parecem robôs,
temente a própria sombra.

Nem todas! Quero protestar, mas permaneço calada.

Ivana tem um pouco de razão, algumas delas se


portam realmente como robôs, até mesmo o jeito de andar
parece ser meticulosamente estudado. Mas não me
admira agirem assim, sei que o atual governo tem
diminuído as restrições quanto ao sexo feminino, embora
os Países do Oriente Médio ainda sejam os mais
perigosos para uma mulher viver, pois a taxa de assédio
sexual e violência doméstica é alta.

— Não acho que Celina se sujeitaria a isso. — Minha


voz sai alguns tons mais baixo.

Morro de medo de questionar a cultura deles e ser


retaliada. Por mais que estejamos conversando em
português, nada impede que possamos encontrar alguém
que entenda o nosso idioma, o que inclusive acontece
com Jamal e Celina, pois o árabe é fluente em português.
— Eu espero que não. Mas olhe bem para ela, Celina
está apaixonada ou encantada com tudo o que esse Sheik
tem a oferecer.

Balanço a cabeça em negativa.

Não! Diferente de Ivana e Maitê, Celina e eu


crescemos juntas. Eu sei bem como a minha amiga age e
pensa. Se tem algo que ela ama, é a própria liberdade e,
as redes sociais, é claro.

Jamal poderia ser o próprio príncipe do deserto, e


mesmo assim, Celina ainda não se submeteria a viver de
forma tão retrógrada.

— Deixem a menina se divertir. Olhem esse corpo,


senhor Deus, quem não queria estar no lugar dela? —
Maitê se abana, fazendo-nos cair em uma gargalhada.

— Não se preocupe, irmã, logo Jamal vai apresentar


os amigos dele e você também terá um corpo para se
divertir. — Aperto o seu ombro, risonha.

— E você também, espero! — declara Ivana.

Reviro os olhos.

Desde que decidimos fazer essa viagem, minhas


amigas têm tentado colocar na minha cabeça as
vantagens de se perder a virgindade com um Sheik.
Segundo elas, será algo marcante e impactante em minha
vida, considerando a atipicidade do lugar e homem
escolhido.

— Vocês são umas chatas insistentes!

Rindo, continuamos a seguir Celina e Jamal no


aeroporto de Dubai que não parece ter fim.

— Eu estou apaixonado, de verdade! — Jamal se


joga no meu sofá, suspirando.

Ele não costuma usar a kandura, não mais do que


preciso, porém, hoje ele está muito mais ajeitado do que
me lembro de vê-lo nos últimos meses. Acredito até
mesmo que o terno que ele está vestindo é novo,
comprado exclusivamente para essa ocasião tão
aguardada.

— Conheceu a tal garota?

— Sim, inclusive, elas já estão na suíte que você


preparou. E obrigado mais uma vez por isso.
— Tem mais é que agradecer mesmo. Precisei mentir
para o cliente que havia reservado que aconteceu um
pequeno incidente com o banheiro. Além de desmarcar a
reserva, tive que devolver o dinheiro.

Jamal revira os olhos.

— Como se o dinheiro fosse lhe fazer falta.

Tamborilo os dedos no encosto do sofá, aguardando


mais histórias sobre sua aventura amorosa com a
brasileira.

Já andei com muitas mulheres, mais do que eu posso


contar. No meu tempo vivendo nos Estados Unidos, vivia
em casas noturnos em noites infindáveis de sexo bom.
Quando retornei para Dubai, as coisas não mudaram
muito, embora eu tenha que ser mais discreto. Como
recebemos um número gradativo de turistas, não sei se já
andei com alguma brasileira, nunca tive tempo ou
interesse em perguntar.

— Como ela é? Continua sendo tão bonita quanto na


internet?

Jamal olha para o teto, pensativo, um sorriso bobo


brotando em seus lábios.

— Ela é ainda mais linda pessoalmente, acredita?


Celina é encantadora. — Ele se levanta, segurando o
tronco sobre os cotovelos. — E para a tua sorte e
felicidade, as amigas dela são bem bonitas, também.

Arqueio uma sobrancelha.

— É mesmo? Conte mais sobre elas.

Já que eu precisarei aguentar Jamal parecendo um


tolo apaixonado pelos próximos dias, que valha a pena de
alguma forma.

— Tem uma que parece ter a nossa idade, acho que é


a Maitê. Lembro de Celina falar que ela é médica. Tem a
Ivana, a arquiteta. E tem a Brianna, a melhor amiga de
infância, arquiteta também. Todas elas são
extraordinariamente atraentes.

Rio, levando uma mão à barba.

— Bom, sendo assim, me sinto ansioso para conhecê-


las.

Imediatamente Jamal se senta no sofá, levantando


um dedo em riste na minha direção.

— Ei, nada de oferecer orgia a elas. Não quero que


se assustem, seja um cavalheiro, ou o mais parecido com
isso que conseguir.

Levo uma mão ao peito, fingindo ofensa.


— Certo! Como o príncipe que sou, tratarei suas
garotas como princesas.

Jamal fica sério, pesaroso.

— Eu estou falando sério, Khalif, eu gosto realmente


da Celina. Por favor, não estrague as coisas entre suas
amigas, pois ela leva a opinião delas muito a sério.

Se antes eu tinha alguma desconfiança quanto aos


sentimentos de Jamal, agora eu não tenho mais. Meu
amigo sempre foi tão brincalhão e animado, essa é uma
das poucas vezes que eu o vejo tão sério.

— Não se preocupe, não farei nada para magoá-lo,


nem você, nem Celina, e nem as amigas dela.

— Obrigado!

Jamal se levanta, conferindo a hora em seu relógio


de pulso.

— Eu preciso ir, prometi levá-las para comer alguma


coisa. Quer ir junto?

Tenho interesse em conhecer as brasileiras,


principalmente à mulher que, mesmo virtualmente,
arrebatou o coração do maior cafajeste que eu conheço.
Mas, infelizmente, precisarei adiar esse momento.

— Tenho um compromisso em breve.


Jamal me lança um olhar ferino.

— Qual vai ser a mulher que visitará a sua suíte


hoje?

— Acha que a minha vida é rodeada por mulheres? —


Franzo a testa.

— Pode enganar sua mãe com esse joguinho, não a


mim.

Rio, sabendo exatamente que eu jamais conseguiria


fazer isso, mesmo se quisesse. Jamal sabe até mesmo o
rumo dos meus pensamentos.

— Não é nenhuma mulher, só tenho uma reunião com


Khalil. Sabe que ele está tentando melhorar as coisas
para as mulheres do nosso País.

Desde que começou a governar o País, Khalil tem


mudado drasticamente as coisas, aos poucos, mas tem
feito. Hoje em dia, as mulheres já podem votar, estudar e
trabalhar, coisas simples, mas que antigamente era
altamente proibido.

Além do mais, usar as roupas típicas também vem se


tornando opcional, não que nossas mulheres estejam
sujeitas a aceitar isso, pois para elas, usar hijab é uma
questão de respeito e orgulho.

— Tudo bem. Então nos vemos à noite?


— Cavalli Club? — pergunto para confirmar.

— E tem lugar melhor para levar as meninas em uma


noite em Dubai?

— Não para quem quer impressionar uma garota! —


Pisco um olho.

— Te vejo lá, Khalif, por favor, não vá me deixar na


mão.

— E eu já fiz isso alguma vez antes?

— Nunca, mas não custa nada reiterar.

Jogo uma almofada em Jamal, o qual desvia do


objeto.

— Até mais! — grita, entrando no elevador.

Escoro o meu braço atrás da cabeça, rindo dele e sua


tão linda história de amor.

Me sinto um pouco ansioso para conhecer essas


brasileiras, pois quero ver com os meus próprios olhos o
que elas são capazes de fazer, já que uma delas
conseguiu encantar o maior cafajeste de todos.

Fico perdido em pensamentos, imaginando como


essas mulheres são, enquanto aguardo o meu irmão para
a nossa longa reunião de negócios governamentais.
— Acha que essa roupa está boa? — pergunto para
Celina, enquanto olho o meu reflexo no espelho do
banheiro.

Jamal não estava brincando quando disse que nos


arrumaria uma suíte no edifício Khalifa. Deus, é
simplesmente um dos lugares mais bonitos que eu já tive
a oportunidade de estar. Estamos no andar 159, dos 163
andares, dentro dos 828 metros de altura. É claro que até
agora eu não cheguei perto das janelas. Não que eu
tenha medo de altura, nunca tive, pelo menos não antes
de estar há tantos metros do chão.
Nossa suíte possui dois quartos com duas camas de
casal. Maitê e eu iremos dividir uma, enquanto Ivana e
Celina a outra, isso se Celina não passar as noites na
casa do seu Sheik.

À tarde, Jamal nos levou em um restaurante chamado


Al Muntaha, que fica na Torre das Arábias, tendo como
vista o mar e uma parte da cidade. Simplesmente
espetacular! Tomamos um bom vinho e degustamos de
uma boa comida italiana. Segundo Jamal, no Al Muntaha,
o Chef Saverio serve uma das experiências culinárias
mais requintadas de Dubai.

Eu me acostumaria fácil, fácil com essa vida de


rainha que estamos desfrutando. Fala sério, Dubai até
parece ficar em outro planeta de tão perfeita e luxuosa.
Pena que a minha conta bancária não comporta passar
mais uns dias aqui, caso contrário, não me importaria nem
um pouco em continuar tendo essa vida de mordomia e
regalias.

— Acho que está ótimo! — responde, tirando-me das


divagações.

Olho-me mais uma vez, averiguando se é verídico o


seu aval sobre o meu look. Sei que iremos à uma boate
famosa, e que não é com qualquer vestimenta que a
passagem é permitida, sendo assim, saltos altos,
maquiagem bem-feita e um vestido formidável é o
composto crucial para o aval.
Estou usando um vestido preto brilhoso, com manga-
longa e de um ombro só. Apesar dos costumes de Dubai,
estou com os joelhos de fora, pois, o comprimento é
acima deles. Nos pés, um salto também preto, assim
como a bolsa de mão que eu carrego.

Como minha roupa é escura, optei por não pesar


muito na maquiagem, fazendo algo leve e iluminado.

— Vai deixar seus cabelos assim? — questiona


Celina, olhando-me através do reflexo do espelho,
enquanto passa rímel nos olhos.

— E qual é o problema?

Celina para de se maquiar, arqueando uma


sobrancelha em minha direção.

— Bem, considerando que nós vamos a um dos


lugares mais requintados do mundo, pensei que se
produziria mais.

Faço um bico com a boca, ofendida.

— É sério? Não vejo problema algum com a minha


roupa. — Coloco as mãos na cintura.

Celina cai na gargalhada, arqueando o corpo para rir


ainda mais.

— Estou brincando, Bri, você está um arraso!


Reviro os olhos, bufando.

Por um momento pensei que ela estivesse falando


sério. Eu realmente não pretendo fazer nada nos meus
cabelos. Uma que eles são densos e pesados, portanto,
por mais que eu passe horas e mais horas fazendo
cachos, eles não irão durar mais do que alguns minutos.
E outra que minha paciência para isso é um total de zero.

E mesmo que eu ficasse quebrando a cabeça e


elaborando penteados, eu não passaria de nada além do
que uma pessoa simples e comum, não com Celina ao
meu lado. Por Deus, ela está expendida.

Diferente de mim que ficou no básico mesmo, Celina


usa um vestido rosa curto e decotado, evidenciando suas
curvas. Seus cabelos loiros estão com cachos volumosos
e seus olhos muito bem pintados e marcados. Ela parece
uma Barbie ambulante.

Saio do banheiro, encontrando Ivana e Maitê


sentadas nas poltronas perto do bar de bebidas.

Maitê usa um macacão azul longo, os cabelos presos


em um coque alto, uma maquiagem leve e saltos altos. Já
Ivana usa um conjunto de saia e cropped, vermelhos, cor
que realça sua pele, deixando-a ainda mais linda. Os
cabelos encaracolados estão amarrados por presilhas
brilhosas na parte da frente, enquanto a parte de trás está
solta e volumosa, ressaltando seu rosto.
— Animada? — pergunta Maitê, tomando um longo
gole da champagne que Jamal enviou através do serviço
de quarto mais cedo.

Mexo uma mão contra a outra, sentindo frio na


barriga por estar em Dubai e, principalmente, por ir a uma
boate noturna.

Eu já fui em muitas boates, mais do que sou capaz de


contar, mas nada parecido com o que vivenciaremos hoje
à noite. Isso é diferente de tudo, parece até mesmo um
sonho de tão surreal. Sempre tive o desejo de viajar,
conhecer o mundo, acumular cultura e conhecimento,
porém, sou uma recém-formada, tenho muito chão a
percorrer ainda antes de conquistar tudo o que eu almejo.

— Estou ansiosa e nervosa e animada, tudo junto e


misturado.

— É normal. — Ivana enche uma outra taça,


estendendo-a a mim. — Beba um pouco, vai ajudar.

Recolho a taça da sua mão, virando todo o líquido do


copo em poucos goles.

— Acho que é mais pra nervosa do que qualquer


outra coisa. — retruca Ivana.

— Vamos? — Celina sai do banheiro, os saltos


batendo do chão com a altivez de uma rainha.
— Uau! Menina, se você não ficar com esse Sheik
essa noite, pode apostar que outro vai aparecer. Que
espetáculo! — Ivana bate palmas.

Celina revira os olhos, colocando um batom dentro da


bolsa transversal.

— E se não sairmos agora, deixarei o meu Sheik


tempo demais sozinho na boate, e eu sou um pouco
ciumenta, sabe?

— Nem beijou o Sheik ainda para saber se presta e já


está aí toda possessiva? — Ivana finge perplexidade.

— Homens como Jamal são experientes, eu sei que


ele será bom. — Dá de ombros. E acrescenta: — Em
todos os quesitos, quero dizer.

— Safadinha! Já pensando na cereja do bolo? — Os


lábios de Ivana se contorcem em um bico divertido,
enquanto seus olhos ganham contornos de diversão.

— Somente uma garota esperta.

— Então vamos para a festa! — Maitê se levanta,


dançando enquanto se dirige para a porta de saída.
— Puta merda! — arfa Ivana ao analisar a boate
noturna.

O chão preto laminado reflete os lustres suntuosos. O


lugar enorme, abarrotado de gente impecavelmente
vestida, espelha as riquezas de Dubai e a conta bancária
que a maioria dessas pessoas deve possuir.

Quando chegamos aqui, Celina deu somente o seu


nome, e isso foi o suficiente para nos dar passagem
exclusiva ao camarote do príncipe Farzur.

— Vem! Vamos encontrar Jamal! — Celina grita por


cima da música, fazendo sua voz ecoar até os nossos
ouvidos.

Puxando meu braço e forçando minhas pernas a se


mexer, ela nos arrasta, atravessando a multidão em busca
de Jamal. Esquadrinho lugar, tentando ajudá-la a
encontrar o Sheik, mas a cada vez que os meus olhos se
arrastam, eu encontro alguma coisa ou alguém para ficar
perplexa e me perder na missão.

— Ali! — Aponta Ivana, mais atenta que nós duas.

Celina trava as pernas por um momento, mas tudo


não passa de milésimos de segundos, pois logo percebo
que ela está me puxando novamente.

Jamal segura um copo de uísque nas mãos, e


conversa animadamente com um homem alto, mas não
consigo ver suas feições, pois ele está de costas, e
mesmo assim, percebo os ombros largos, musculosos e
atraentes.

Minha amiga para em frente ao Sheik, elevando o


queixo em uma atitude esnobe. Jamal, finalmente
percebendo a nossa presença, fica boquiaberto ao correr
os olhos pelo corpo de Celina. Um brilho de pura
satisfação masculina passa em seu olhar.

— Eu estava esperando você. — Um sorriso delineia


seus lábios, então ele pigarreia. — Vocês, quero dizer.

— Bem, aqui estamos nós.

O amigo de Jamal se vira, dando-nos o vislumbre do


seu rosto.

Ouço-me resfolegar.

O ar parece se tornar rarefeito, dificultando a


respiração.

O homem é... maravilhoso.

Os cabelos pretos e espessos estão escovados para


trás em um penteado impecável. Reparo nos cílios
grossos e escuros que escondem seus olhos. Lindos
olhos castanhos, másculos e profundos. Os lábios
grossos, totalmente beijáveis, expressam um sorriso
singelo, mas malicioso. A camisa branca define o
tanquinho, absolutamente apalpável do seu abdômen.

Descendo ainda mais o olhar, vejo as pernas


torneadas, escondidas por uma calça de terno justa.

— Esse é Khalif Farzur, príncipe de Dubai e Abu


Dhabi. — apresenta Jamal.

Pisco consecutivamente, desanuviando a minha


mente.

Olho para o homem, o príncipe, e para a minha


surpresa, ele me encara, os olhos com um interesse
absoluto em mim.

— Olá, meninas! — A voz dele é grave e firme, do


tipo que costuma mandar e ser obedecido e envia
calafrios por todo o meu corpo.

O português dele é impecável, embora seja carregado


por um sotaque não identificável.

— É um prazer, conhecê-lo! — Celina toma a frente,


quebrando o silêncio constrangedor. — Devo chamá-lo de
alteza? Sheik? Desculpe, não estamos acostumadas a
isso.

— Só Khalif, ou Farzur, como preferir. — Embora ele


esteja respondendo Celina, seus olhos não saem dos
meus.
Maitê dá um leve empurrão no meu ombro, para os
outros, algo desproposital, mas que eu entendo o
significado. Estou a tempo demais encarando o príncipe
Farzur.

Baixando a cabeça, envergonhada por ter sido pega


no flagra, acompanho Celina até os bancos. Passo ao
lado de Khalif, sentindo seu inebriando perfume e o calor
tórrido do seu corpo.

Agradeço aos céus por me sentar, minhas pernas


bambas não aguentariam mais um minuto se quer o peso
do meu corpo.

— Vocês querem beber alguma coisa? — indaga


Jamal, alheio ao meu conflito interno.

— Champagne, por favor!

— É para já! — Jamal estende a mão, solicitando a


presença de um garçom.

Permaneço cabisbaixa, sentindo os olhos do príncipe


ainda cravados em mim.

— Qual é o nome de vocês? — Ele pergunta.

— Eu sou a Celina, essa daqui é a Brianna, Maitê e


Ivana! — Celina aponta de uma para outra enquanto faz
as apresentações. — Bri e Maitê são irmãs, mas já deve
ter percebido pela semelhança das duas.
— Que prazer finalmente conhecê-las. — O príncipe
abre um sorriso à guisa de cumprimento formal. E, Deus
do céu, que sorriso. — Jamal tem falado muito bem de
vocês.

Antes que alguém possa perguntar o que exatamente


o Sheik tem falado, o garçom se aproxima trazendo o
balde com algumas garrafas de champagne.

Criando coragem, olho novamente para Khalif e,


como da primeira vez, perco o ar. O príncipe me observa
com a testa levemente franzida e as sobrancelhas
arqueadas, como se estivesse estudando os meus
movimentos ou tentando ler a minha mente.

Nossos olhares se perdem um no outro, refletindo


algo que eu ainda não consigo identificar. Uma corrente
elétrica percorre o meu corpo, fazendo-me arquear
levemente, ofegando.

— Ele está caidinho por você. — sussurra Maitê em


meu ouvido, quebrando o feitiço ou o que quer que seja
que esteja acontecendo.

Quebro nosso contato, virando para a minha irmã.

— Do que diabos você está falando?

Maitê revira os olhos, bebendo um pequeno gole da


sua champagne.
— Khalif, ele não para de te encarar. Sem contar que
ele nem olhou direito para a nossa cara depois que
colocou os olhos em você.

Ofego, aturdida.

— Você só pode estar imaginando coisas. — Puxo o


copo da mão de Celina, a qual está tão encantada
conversando com Jamal que nem mesmo protesta, e seco
todo o líquido, aplacando o fogo da minha garganta... ou
do meu interior.

— Estou? Ou você é que está tentando se enganar?


— Seus olhos ganham contornos de diversão.

Pela visão periférica, noto que Khalif me encara


descaradamente, mas não ouso olhar em sua direção.

Nego com a cabeça.

— Fala sério, Bri, qual é o problema? — Maitê solta


um longo suspiro. — Olhe bem para ele, além de lindo, é
um príncipe. Não era exatamente isso que imaginava
quando pensava no homem perfeito?

Eu não acredito que Maitê está realmente cogitando a


hipótese de eu perder a minha virgindade com o príncipe.
Céus! Nós acabamos de nos conhecer.

— Eu... eu tenho que dar uma volta. — Maitê começa


a se levantar, mas eu puxo o seu braço, mantendo-a no
lugar.

— Você não pode fazer isso! É minha irmã mais


velha, deveria ralhar comigo e falar que sexo só depois
do casamento.

Maitê cai em uma gargalhada estrondosa, fazendo-me


encolher o corpo, envergonhada.

— Eu jamais faria isso com você, isso seria cruel da


minha parte. Querida, você precisa experimentar alguns
paus antes de se casar com o primeiro sem ao menos
saber se é bom.

Cerro a mandíbula, rígida.

— Maitê, pelo amor de Deus! — suplico, beirando à


histeria.

— Vai me agradecer depois, maninha!

Ela puxa o braço com força, deixando o lugar ao meu


lado vazio. Meu coração parece prestes a saltar para fora
do peito. Tamborilo os dedos na taça, tentando fingir que
nada está acontecendo.

Estou começando a me acalmar, quando um corpo


forte, másculo e quente, senta-se no lugar de Maitê.
Elevo o rosto, ficando face a face com Khalif Farzur, o
príncipe herdeiro de Dubai e Abu Dhabi. Meu coração
acelera e minhas mãos suam, algo novo desabrochando
dentro de mim.
Brianna! Esse é o nome da garota que assim que
coloquei os olhos, fez o meu coração acelerar e meu pau
latejar. Entrando em um estado de letargia; encantado,
fascinado, seduzido por sua beleza.

Esquecendo do Jamal, Celina ou qualquer outro,


permaneço focado em Brianna, encarando-a, tentando
desvendar de alguma forma o motivo por ela ter me
encantado tanto, coisa que nenhuma outra mulher fez
antes.

A brasileira fica cabisbaixa, as bochechas rubras em


vergonha, ignorando-me o máximo possível, contudo, os
pelos arrepiados do seu corpo comprovam que sua
tentativa de ser alheia a mim não está funcionando, assim
como eu, ela também tem interesse.

Jamal se levanta de onde estava sentado ao lado da


Celina e para ao meu lado, desviando, por ora, a minha
atenção da brasileira a minha frente.

— Cara, você deve estar assustando a moça desse


jeito. — fala em tom divertido, apoiando os braços no
parapeito do camarote. Nos lábios, um sorriso sacana.

— Não sei do que está falando. — Bebo um pequeno


gole do uísque, ignorando-o.

Jamal solta um riso de escárnio.

— Você basicamente ignorou Celina e as outras, não


tirou e não tira os olhos da Brianna. Também não está
conseguindo resistir ao charme das brasileiras?

— Ela é diferente.

— Todas são. — Jamal ri, colocando uma mão em


meu ombro.

— Eu não sei, há algo em Brianna... ela parece


inocente e ao mesmo tempo tão desinibida...

— Vai firme, só não faça nada que vá magoá-la, por


favor. Celina jamais me perdoaria por isso e eu jamais
perdoaria você por afastá-la de mim.

Reviro os olhos, incontido.

— Pode deixar.

Jamal fica em silêncio por alguns segundos ao meu


lado, ponderando algo, mas cede e sem falar nada, volta
a se sentar ao lado da sua musa, escorando os braços no
encosto da sua cadeira, aproximando-se cada vez mais.

Corro meus olhos até onde Brianna está, vejo que ela
e a irmã conversam, por um breve momento, parecem
discutir, mas logo Maitê se levanta e sai caminhando e o
espaço ao lado fica vazio.

Brianna esconde os olhos pela camada espessa de


cílios. Pelo subir e descer do peito, noto a respiração
acelerada.

Lentamente, caminho até a cadeira vazia e me sento


ao seu lado. O cheiro adocicado do seu perfume impregna
as minhas narinas. Assim, tão perto, fico ainda mais
embebecido em sua beleza.

Brianna eleva o rosto, encarando-me, parece


assustada e um tanto acuada.

— Olá, Brianna, acho que não fomos apresentados


formalmente, ainda.
Ela engole em seco, arregalando levemente os olhos
castanhos.

Faço algo que jamais poderia fazer com as mulheres


daqui, não sem autorização expressa de um homem da
família, seguro sua mão e planto um beijo em seu dorso,
sem desviar o olhar por um único momento.

— É... hã... o-oi. — A voz soa fraca, quase um


sussurro.

— Como você está?

— B-bem.

— Gostou de Dubai? Está se divertindo?

Brianna franze o cenho, um sorriso se repuxando em


seus lábios perfeitamente delineados.

— Está perguntando mesmo isso?

Dessa vez, quem sorri sou eu.

— Acho que sim.

O sorriso aumenta, mostrando os dentes alinhados.

— Bem, é simplesmente o lugar mais perfeito que eu


já tive o prazer de conhecer. — responde com
sinceridade.
— Fico contente que esteja gostando.

— Ah, é mesmo, esqueci que você é o príncipe e tudo


mais. — Dá de ombros.

Rio, maneando a cabeça.

— O que você faz no Brasil?

Brianna olha para as nossas mãos ainda


entrelaçadas, mas não faz menção de desfazer o contato,
muito menos eu.

— Sou arquiteta. Trabalho em uma empresa muito


conhecida no nosso Estado, a Eugleni. E estou me
especializando em paisagismo, me formarei em quatro
meses, e assim, conseguirei uma promoção.

Arqueios as sobrancelhas, surpreso.

— O que foi? Parece um tanto abismado. —


Semicerra os olhos, desconfiada.

— Na verdade, estou mesmo. Você parece tão jovem


e já está se especializando. Bem, isso é um feito e tanto,
acredito.

— Não sou tão jovem assim. Estou na idade para


tudo o que adquiri. Nunca reprovei na escola, saí do
ensino médio e já ingressei na faculdade... — responde,
encolhendo os ombros, como se a resposta fosse muito
esclarecedora. — E você, é formado em alguma coisa?

— Morei alguns anos nos Estados Unidos, fiz


faculdade de relações internacionais em Harvard.

— Nossa! Uau! Isso sim é um feito e tanto.

Deslizo minha mão pelo seu braço, para cima e para


baixo, em uma tentativa de aumentar o nosso toque.

Se Brianna fosse como as mulheres que eu costumo


sair, eu ofertaria a ela que fossemos ao meu apartamento
para degustar de alguma bebida, é claro que com
segundas intenções, no entanto, conversando com
Brianna, mesmo que tenhamos trocado poucas palavras,
sei que ela se sentiria ofendida.

— Podemos concluir que nós dois fizemos um feito e


tanto. — Pisco um olho.

Ela baixa a cabeça com um sorriso tímido no rosto e


as bochechas coradas, envergonhada. Espetacular! Fica
ainda mais formosa assim tão inibida.

Meus olhos descem para suas pernas desnudas, a


pele parece brilhar, ressaltada pelo vestido curto em uma
combinação fatal para um homem.

Ela coça a garganta e passa uma mão nas madeixas


castanhas e sedosas.
— É...hã... como é ser um príncipe?

Como um pervertido, fiquei tempo demais admirando


seu corpo e ela percebeu. Mas a sua súbita mudança de
assunto foi inteligente, devo admitir.

— A responsabilidade toda ficou a cargo do meu


irmão mais velho, Khalil. Enquanto eu pude mudar de
País, estudar fora e não precisar ocupar minha cabeça
com obrigações governamentais, meu irmão ficou aqui,
aprendendo com o nosso pai. — Bebo um gole de minha
bebida. — Mas isso não significa que eu não me importe,
de fato. Sempre que possível, ajudo Khalil em algumas
coisas e estou sempre em busca de uma melhor qualidade
de vida, principalmente para as nossas mulheres.

Brianna me encara, surpresa.

— Você... você acha que as mulheres não têm uma


boa qualidade de vida, aqui?

Nego com a cabeça.

— Khalil fez algumas mudanças importantes desde


que assumiu o governo, mas ainda assim, há muitas
outras para fazer.

A mudança de sua expressão facial e a intensidade


que os olhos castanhos adquiriram, por alguma razão,
causaram-me uma inquietude.
— Então você é moderno...

Não é uma pergunta, mesmo assim, sinto vontade de


responder, afirmando com um leve manear de cabeça.

É comum para mulheres de etnias diferente da nossa


pensar que todos os árabes são machistas e retrógrados.
Portanto, não me sinto nem um pouco ofendido pelo
assombro dela.

Devo admitir que uma parte do nosso povo, os


homens mais velhos, ainda pensam em mulheres como
objetos de prazer e procriação. E, embora Khalil tenha
aumentado as penalidades para os crimes de assédio,
estupro e violência doméstica, são raros os casos de
denúncias, pois ainda assim, elas não se sentem
protegidas para uma delação.

— E fala português... — continua, perdida em


pensamentos.

Solto uma risada.

— Sou poliglota, sei falar árabe, inglês, português,


mandarim, francês, e me arrisco um pouco no russo.

Brianna arregala os olhos, perplexa.

Além da graduação, falar algumas das principais


línguas do mundo estava no currículo obrigatório
estipulado pelo meu pai. Na época, eu odiava estudar
tudo isso, me sentia pressionado, mas como Jamal
resolveu seguir meus passos para que pudesse ficar o
mais longe possível de casa com alguma desculpa
plausível, as aulas passaram a ser até... divertidas.

Uma movimentação capta a minha atenção e a da


brasileira. Vejo Mazin e Omar entrando em nosso
camarote, trôpegos pelo álcool. Ambos estacam no lugar,
correndo os olhos pelas mulheres que nos acompanham.

— Se soubéssemos que estariam tão bem


acompanhados, teríamos vindo antes. — zomba Omar.

Travo a mandíbula e cerro os punhos com força,


sentindo a raiva me esquentar por dentro pela forma como
Omar encara as pernas desnudas da Brianna.

— Quem são eles? — ela pergunta em um sussurro.

— Alguns amigos antigos, Omar e Mazin.

Jamal se levanta para cumprimentá-los, e, pela forma


como a mandíbula está contraída e a pulsação da veia em
sua testa, ele gosta tanto da interrupção no camarote
quanto eu.

— Venha! Vamos dar uma volta! — Maitê para na


frente de da irmã, puxando sua mão.

Brianna me lança um olhar, para em seguida correr


atrás da irmã, deixando-me sozinho.
Irritado, vou até os babacas que escolheram aparecer
justo agora.

— O que estão fazendo aqui? — Pouso os cotovelos


na mesa.

— Farzur, é um prazer vê-lo também. — retruca


Mazin.

Me mantenho sério, ainda incomodado pela


interrupção.

— Qual é o problema? Estamos nos divertindo.


Sempre viemos ao seu camarote, por qual motivo,
justamente hoje, não quer a nossa presença? — Omar
abre um sorriso meticuloso. — Está escondendo quais
delícias de nós?

Cruzo os braços, colocando uma expressão enfezada


no rosto, os olhos estreitando-se em uma expressão letal.

— Não quero que cheguem perto das brasileiras. Não


é um aviso.

Jamal e eu somos cafajestes, no entanto, as


mulheres que se deitam em nossas camas sabem que o
que estamos tendo não passará de poucas horas de
diversão. Somos claros com elas, sempre.

Omar e Mazin são o oposto disso, eles se divertem


iludindo as mulheres, prometendo casamento e ouro, mas
assim que a transa acaba, manda-as embora sem maiores
explicações. E suas presas favoritas são as turistas, pois
eles as consideram mais deslumbradas. Além de tudo
isso, ainda possuem a mente antiga dos nossos
antepassados.

Por um tempo, Mazin, Omar, Jamal e eu erámos um


grupo de amigos inseparáveis. Mas as atitudes
deploráveis da dupla acabaram nos afastando.

— Isso é um aviso, príncipe? — Meu título soa como


um desdém nos lábios de Omar.

— O príncipe aqui nunca dá um aviso mais de duas


vezes, lembra? — Lanço-lhe um sorriso incisivo,
desafiando-o a tentar o contrário do que estou falando.

Mazin, o mais sensato, aperta o ombro de Omar,


induzindo o amigo a parar de ser tão hipócrita.

— Nós vamos ficar longe delas, Farzur.

— Ótimo!

Esquadrinho a multidão em busca da Brianna,


localizando-a no meio da pista de dança, divertindo-se
com a irmã. Alguns homens analisam as duas,
encantados.

Faço um sinal para o garçom, o qual atende


imediatamente.
— Diga a todos que aquela garota ali. — Aponto
discretamente com o queixo na direção da Brianna. —
Pertence a Khalif Farzur e devem manter distância.

— Certo, alteza.

Ele gira nos calcanhares e some tão rápido quanto se


aproximou, espalhando o recado pela multidão.

Brianna será minha e de mais ninguém, e só de


pensar e ver esses homens em sua volta, imaginando
coisas impróprias ao seu respeito, me deixa irritado em
patamares assustadores. Quero que todos saibam que ela
pertence ao príncipe e que mantenham os dedos sujos
longe dela.

A boate está ficando cada vez mais lotada com o


passar dos minutos, alguns rostos conhecidos,
misturando-se com o de turistas e até mesmo
celebridades.

Aperto a nuca, sentindo cada músculo do corpo


tensionar.

— Isso é uma novidade, ainda mais se tratando de


Khalif Farzur. — murmura Jamal, parando ao meu lado.

Celina e Ivana se juntaram a Maitê e Brianna na pista


de dança. Alheias ao fato de que elas estão chamando
atenção e se tornando as estrelas da festa, as meninas
dançam e cantam, divertindo-se.
— O que é uma novidade?

Não pisco, encantado demais com Brianna, vendo


como ela remexe o corpo de forma sensual. Minhas bolas
doem e meu pau lateja, alucinado para se enterrar nela
durante horas e mais horas em uma noite inesquecível de
prazer.

— Khalif Farzur tomar uma mulher como sua. —


Jamal dá um safanão em meu braço.

Não respondo, me mantendo em completo silêncio.

Nós árabes possuímos um código de honra...


especial. Todas as vezes que alguém deseja uma mulher
ao ponto de cogitar fazê-la sua esposa, um comunicado é
lançado, avisando aos outros homens para que se
mantenham longe. O código funciona em uma festa,
podendo ser postergado a outros eventos. Se, ao final de
tudo o casal não fluir, a mulher está livre. Mas isso é
somente entre o nosso vínculo social.

Eu, assim como Jamal, nunca havia feito antes um


comunicado. Como é a primeira vez, entendo a surpresa
de todos.

A parte ruim, Brianna se tornará o centro de diversos


olhares curiosos, mas não mais alvo de cantadas e
insinuações amorosas.
— Me admira que não tenha feito isso com Celina
ainda.

— Celina veio para me encontrar, ela não vai olhar


para ninguém, pois construímos um vínculo assim como
uma amizade nos últimos meses. — revela de forma
enigmática.

Faço um gesto de mãos.

— Tanto faz. Eu quero Brianna e eu a terei, portanto,


que todos fiquem longe.

— Desde que permaneça de acordo com as nossas


regras.

Reviro os olhos.

— Não vou magoá-la, já disse e reitero.

— Pelo menos Omar e Mazin te respeitam. Se não


estivesse aqui, não sei o que faria. Talvez levasse as
meninas embora com alguma desculpa esfarrapada.

Mesmo que Jamal seja um Sheik, Ajman é o menor


emirado membro da União dos Emirados Árabes, sendo
assim, os dois idiotas tendem a não temer Jamal e seu
título, não como temem o meu.

— Eles receberam ordens expressas para ficarem


longe de todas elas, não se preocupe.
Jamal coloca a mão em meu ombro, dando um leve
aperto.

— Obrigado por isso, significa muito para mim.

— Eu sei, eu sei. — Coloco minha mão sobre a sua.

Ficamos parados, observando-as como dois tolos


encantados, perdidos no tempo e espaço, como se nada
mais no mundo existisse ou importasse, somente elas.

— Cara, o que tem no sangue dessas brasileiras? —


Jamal sai de seu torpor, retornando para a realidade
antes de mim.

— Não sei. Que Allah nos ajude. — respondo com a


voz lânguida.
Sinto o suor descer pela minha nuca, enquanto eu
remexo o meu corpo em uma dança sensual e divertida
com Maitê. Jogo os cabelos para o lado, balançando-os
conforme o ritmo da música.

— Eu não entendo, por um momento queria me deixar


sozinha, depois foi lá e me arrancou do lado de Khalif. —
falo em tom baixo, quase sem me fazer ouvir por cima das
conversas paralelas da boate e da música alta.

Maitê puxa o meu corpo, aproximando os lábios do


meu ouvido.
— Ele está caidinho por você. Disfarça e olha para o
camarote.

Giro o corpo, rindo e dançando, momento em que


lanço um olhar na direção do camarote. Meu coração
acelera e minha respiração fica mais densa ao reparar na
forma como Khalif me encara, parecendo encantado.

Volto a me abraçar em Maitê.

— Eu só ainda não entendi o motivo por ter me tirado


de lá.

Maitê solta uma risada.

— Querida irmã, você ainda é muito inocente, meu


bem. Khalif está encantado, então daremos motivos para
ele ficar ainda mais.

Oh, Deus! Maitê é insana.

— Do que você está falando?

— Ignore-o, Bri, finja desinteresse. Khalif é um


homem importante e poderoso, é acostumado a ter tudo
aquilo que deseja e quando deseja, seja diferente.

Oh, certo. Maitê acha que nós iremos casar e ter


lindos príncipes? É só uma diversão, alguns dias
conhecendo um cara bonito e bacana. Depois disso,
retornaremos ao Brasil e eu terei essas lembranças para
carregar comigo pelo resto da vida.

— Eu sei no que está pensando, Brianna! — Minha


irmã interrompe minha linha de pensamento. — Pare de
calcular toda a sua vida e trajetória. É sério, vai por mim,
nada do que planejamos dá certo.

Algumas pessoas nos empurram, conforme seguem o


ritmo da dança, alucinadas demais para perceber o
safanão.

Solto um suspiro profundo.

— É inevitável não planejar.

— Eu sei, Bri. Não estou falando isso como a mulher


experiente de 36 anos que levou um belo par de chifres
do homem que namorou durante toda a adolescência.
Estou falando isso como uma irmã mais velha tentando
proteger o coração da caçula, tentando impedir que
cometa os mesmos erros que eu.

Abraço Maitê no meio da festa, escorando a cabeça


no seu pescoço e inspirando seu perfume doce, o mesmo
que eu uso.

— Obrigada. — murmuro contra a sua pele.

— Querida, estou e estarei sempre aqui por você.


Não há o que agradecer.
Ter minha irmã por perto sempre foi fundamental na
minha vida, mas receber os seus conselhos é primordial.
Nossa relação de cumplicidade ultrapassa a barreira da
irmandade, Maitê é mais que somente isso, ela é meu
exemplo de vida a ser seguido.

Forço todo esse sentimento de nostalgia a submergir,


escondendo-o em um lugar muito profundo, focando no
agora, em me divertir nessa festa magnífica. Nós
voltamos a dançar no exato momento em que Celina e
Ivana se juntam a nós.

Celina segura o meu braço, sorrindo.

— Menina, e eu que achei que tivesse feito algo


extraordinário encontrando um Sheik, mas na verdade,
quem fez foi você encantando justamente o príncipe de
Dubai e Abu Dhabi.

— Encantado é pouco, olhem a forma possessiva


como ele olha para ela. — salienta Ivana.

— Vocês estão vendo coisas. — Passo as mãos nos


cabelos, envergonhada.

— Estamos nada, você é que tenta evitar o inevitável.


É sério, Brianna, seu príncipe encantado dos sonhos de
fada chegou, se não perder a virgindade com ele, não
perderá com mais ninguém. — Ivana fala alto demais para
o meu desespero.
Quase solto um gemido em aflição, mas me obrigo a
ficar quieta.

— Shiiiii... — Tapo a sua boca, olhando para os


lados, garantindo que ninguém possa ter escutado.

Encaro Celina e Ivana ao mesmo tempo, enquanto


falo:

— Eu não quero que ele saiba que eu sou virgem,


entenderam? – aquiesço em tom de voz incisivo.

— Por quê? — Celina franze as sobrancelhas loiras.

— Eu só não quero. Não sei se vai rolar alguma coisa


ou não, pois, pela primeira vez na vida, encontrei alguém
que eu sinta vontade de dividir esse momento importante.

— Então, Bri... hã... você sabe que na hora H ele vai


descobrir? — Celina segura um sorriso, assim como Ivana
e Maitê.

Reviro os olhos.

— Eu sei, mesmo assim, não fale nada para Jamal e


nem para ninguém. Se acontecer, que ele se surpreenda,
pois eu não direi uma única palavra.

— Corajosa! Gostei. — aprova Ivana.

— Eu não faria isso, pois ele pode ser meio bruto, e


na primeira vez, cada delicadeza conta. — aconselha
Maitê.

— Se acontecer — reitero, antes que elas comecem a


ter ideias absurdas. — eu pensarei o que fazer na hora.

— Bom, se não acontecer com você, posso garantir


que comigo vai, pois, essa noite eu tenho planos de
passar na cama de Jamal. — Celina morde o lábio
inferior, suspirando.

— Isso é perfeito! Depois conte para nós como é um


pau árabe, quem sabe a gente possa dar dicas à Brianna
antes que ela vá para a cama do Khalif. — exige Maitê,
em tom de brincadeira.

Dou um tapa na minha testa, causando um pequeno


estalo.

— Vamos, por favor, terminar esse assunto? — Minha


voz soa esganiçada pela vergonha.

— Vida sexual da Brianna decidida com sucesso,


vamos nos divertir meninas, por favor, merecemos! —
Ivana joga os braços para cima, balançando o quadril
conforme a música, fazendo conforme eu solicitei.

— Espero que na nossa próxima festa, nós estejamos


brindando a nova Brianna, uma mulher sexualmente ativa.
— Celina bate palmas, dançando.
Deus! Não sei quem é pior nesse quarteto. Maitê é
que a minha irmã mais velha e deveria querer meu
resguardo. Celina que, desde que perdeu a virgindade há
uns dez anos, vem insistindo que eu perca a minha. Ou
Ivana que, de todas, é a mais louca e vive procurando
pretendentes que estejam à altura da minha,
carinhosamente apelidada vagina, como “briazinha”.

— Eeeeee... — finjo uma animação inexistente,


sentindo minha bochechas pegando fogo pela vergonha.

Elas caem em uma gargalhada que não conseguem


controlar, chegando até mesmo a dobrar o corpo.

— Estamos brincando, Brianna, você é muito séria. —


Ivana revira os olhos.

— Em parte. — acrescenta Celina. — Mas assim que


disponibilizar a briazinha, vamos parar com as
importunações.

— Meninas, vocês estão a deixando vermelha de


vergonha. — ralha Maitê, mas os contornos de diversão
em seus olhos permanecem visíveis.

— Vamos nos divertir! — Ivana puxa nossos braços,


forçando-nos a movimentar o corpo em uma dança
sensual.

Pelos próximos minutos, esquecemos onde estamos


ou o que estamos fazendo, curtindo o som que o DJ toca,
dançando conforme a batida.

Eu adoro dançar, sempre gostei de seguir o ritmo das


músicas, de sentir o corpo dolorido no dia seguinte pelas
horas de diversão. É um dos maiores prazeres da vida, ao
menos para mim.

Cansadas, suadas e esgotadas, voltamos para o


camarote. A garganta seca pelo esforço, os músculos
protestando.

Celina serve nossas taças de espumante, as quais


não permanecem cheias por muito mais que alguns
minutos.

O líquido gélido desce pela minha garganta, as


bolhas fazendo cosquinha em minha língua e bochechas.

Aproximo-me do parapeito do camarote para observar


a multidão que permanece na pista de dança. O lugar
requintado e muito bem iluminado fica ainda mais bonito
com tanta gente se divertindo.

Mãos fortes agarram a minha cintura, imediatamente,


fico rígida, mas assim que o perfume dele chega até as
minhas narinas dilatadas, começo a relaxar os músculos.

Sinto sua boca roçar contra a pele macia do meu


pescoço, fazendo-me resfolegar.
— Você é incrivelmente linda, tão linda que chega a
parecer uma miragem. — murmura, soprando o hálito
quente.

Khalif me vira de frente para ele. Dou o primeiro


passo vacilante, passando a mão nos cabelos, sentindo-
me excitada e incomodada por estar tão molhada.

O príncipe árabe passa um dedo pelos meus lábios,


contornando-os, enquanto seus olhos permanecem nos
meus, lânguidos com um brilho de excitação pura.

Minha pele esquenta tanto que eu temo entrar em


combustão espontânea a qualquer momento. Já me senti
molhada algumas vezes, principalmente quando as coisas
esquentavam nos meus relacionamentos anteriores, mas
nada se compara a isso. É como se Khalif fosse fogo
puro, queimando-me a cada olhar, a cada toque.

Ele se aproxima o rosto do meu, lento e


moderadamente. Com calma, planta beijos no meu queixo,
esfregando a língua, subindo aos poucos.

— Eu quero você, Brianna! — sussurra, tão perto da


minha boca.

Em um piscar de olhos, seus lábios cobrem os meus,


em um beijo ardente, desesperado e arrebatador. Dou
espaço para a sua língua, sentindo-a me penetrar,
misturando-se à minha, tudo virando uma única coisa. E
ainda assim não é o suficiente.

Eu quero mais.

Agarro as costas de Khalif, enterrando as unhas em


sua camisa, tentando fundir nossos corpos. Sua virilha
toca meu ventre e eu percebo qual é o verdadeiro
significado das suas palavras, porém, hoje, eu quero a
mesma coisa.

O Sheik mordisca meu lábio inferior, fazendo com que


um gemido se desprenda da minha garganta, soando
desesperado.

Deus! Que homem!

Khalif sabe onde colocar as mãos, sabe como


controlar um toque certeiro, sabe ainda mais como levar
uma mulher às alturas somente com a boca imoral.

Por um breve momento, resquícios de uma


consciência muito distante me tomam, gritando o quão
indecoroso eu estou agindo, sendo quase fodida em um
parapeito de um camarote dentro de uma boate em Dubai.
Mas eu não escuto, não quero ouvir, não hoje.

A mão de Khalif desce, apalpando a minha bunda,


enquanto a outra enrosca meus cabelos em punho.
Começo a me questionar se ficaria muito
ridicularizado da minha parte implorar para ele me comer
logo e acabar de uma vez com toda a minha curiosidade
sobre o assunto, quando Khalif para imediatamente os
toques.

Abro os olhos e vejo Jamal sussurrando alguma coisa


em seu ouvido, mas Khalif parece pouco se importar com
o que quer que ele tenha dito, dando de ombros.

Olho por cima do seu ombro e vejo as meninas


cochichando e sorrindo, imediatamente me lembro o que
eu acabei de fazer, não só na frente delas, como de
todos.

Virgem Maria Santíssima!

— É... eu preciso ir... hã... ali — Encontro minha voz


perdida em algum lugar.

Ofegante, com o coração acelerado e excitada, finjo


normalidade, enquanto Khalif e Jamal param a breve
discussão, encarando-me.

Desfaço o enlace das mãos do Sheik, correndo para


longe dele e dos seus lábios e dedos enfeitiçados. Jogo o
corpo na cadeira ao lado de Maitê, passando a mão na
testa suada, as bochechas coradas em vergonha.

— Menina, se só esse beijo for um pequeno


deslumbre do que esse homem é capaz de fazer em uma
cama, então você está em muitas boas mãos. — Ivana
estampa um sorriso ferino.

— Até eu queria ter esperado para perder a


virgindade se soubesse que conheceria um Sheik
desses... — Celina leva uma mão ao queixo, pensativa.

— Você ainda vai passar uma noite com o Sheik, não


se preocupe. — revida Maitê.

Celina revira os olhos.

— Estraga prazeres.

Khalif e Jamal finalmente terminam a conversa


profunda, fazendo-nos companhia na mesa. O príncipe
sorri e pisca ao mesmo tempo, o que é uma combinação
fatal e causa cambalhotas no meu coração.

— Não gostei nadinha daqueles amigos deles que


chegaram, ainda bem que já foram embora. — cicia Ivana
em certo momento.

Como eu estava bastante ocupada com a língua de


Khalif na minha boca, nem percebi a hora que os dois
sumiram.

— Concorrência, meninas? — Maitê aponta com o


queixo para um grupo de mulheres que desfila até nós.
As três, uma ruiva, uma morena e uma loira,
caminham em passos decididos, rebolando em cima do
salto plataforma, os vestidos curtos sobem com o
movimento exagerado do quadril.

A ruiva, talvez a líder do grupo, para em frente a


Khalif com um sorriso felino no rosto e um brilho de
lascívia no olhar.

— Olá, querido! Com saudade de nós? — ronrona em


inglês.

Khalif encara a mulher e, por um momento, vejo uma


fúria enevoar sua visão, mas ele pisca para afastá-la. A
boca segue fechada em um silêncio sepulcral.

— Pelo silêncio, acreditamos se tratar de um sinal


positivo. — Ela ri, fazendo com que as outras lhe
acompanhem.

Khalif franze a testa, dando um único sinal de cólera.

— Não conheço vocês. — responde, por fim, com


uma irritante expressão impassível no rosto.

A ruiva abre e fecha a boca, os lábios volumosos


formando um bico de desaprovação, as mãos parando na
cintura, os olhos semicerrados em desgosto.

— Só porque tem vadias novas isso não significa que


deva esquecer as antigas! — censura.
Alguém bufa ao meu lado, e pelo conhecimento que
eu tenho das minhas amigas, posso apostar que se trata
de Ivana.

— Vadia é a sua mãe, cadela nojenta! — rebate a


arquiteta, furiosa.

Solto uma risada disfarçada por uma tossida.

A ruiva olha para Ivana da cabeça aos pés, fazendo


um sinal de desdém com as mãos.

— Você passou a noite inteirinha em uma orgia


interminável conosco há uma semana. Chupei o seu pau
de tantos ângulos, que sei até a quantidade de veias que
ele possui. Então pare de ser um babaca e assuma de
uma vez que nos conhece, para que assim, possamos
desfrutar de mais algumas horas de diversão.

Ouço Jamal pestanejar e Khalif solta um pequeno


grunhido.

Enrijeço com a forma brusca em que ela cospe as


palavras. Khalif é um príncipe, um Sheik jovem e bonito,
jamais imaginaria que ele é um santo ou um celibatário.
Mas, isso é diferente e triste. Diferente por ver que, além
de mulherengo, é um amante de orgias. E triste por ver
uma mulher se humilhando assim.

O príncipe me encara, mas eu desvio o olhar


rapidamente, sem coragem de olhar em seus olhos. Céus!
Eu jamais gostaria de me sentir como essas mulheres
estão se sentindo, gostaria menos ainda de ser tratada
assim.

Khalif levanta o braço, fazendo um sinal singelo com


a mão e somente isso basta para que o camarote fique
abarrotado de seguranças disfarçados, arrastando as
mulheres para fora, enquanto elas gritam e protestam,
implorando por mais atenção.

Viro o rosto, não querendo ver as expressões de


súplica e tristeza conforme elas se afastam.

— Isso foi tenso. — sussurra Maitê, com os olhos


arregalados, fixos na cena.

Percebo agora a lucidez nas palavras da minha irmã,


na forma como ela tentou me avisar de como Khalif era e
de como eu deveria agir, de como eu deveria ser
diferente.

Minhas amigas têm razão em uma coisa, eu esperei


pelo príncipe encantado, e agora aqui está ele, bem... não
tão encantado assim, mas ainda é um príncipe.

Eu quero Khalif Farzur, contudo, ele terá mais cinco


dias para me reconquistar, caso contrário, irei embora
levando somente as lembranças da sua boca habilidosa.
Urro de raiva daquelas desgraçadas! Como elas
ousam vir até o meu camarote, tirar satisfação e ainda
implorar por mais atenção?

Depois que elas foram embora, Brianna mudou


drasticamente comigo, isolando-se e até mesmo me
evitando, o que me deixou ainda mais irritado do que eu
já estava.

Encaro o teto do meu quarto, as bolas doendo pela


noite solitária, quando eu só pensava em me enterrar na
brasileira.
Como um jovem tolo, relembro o nosso beijo ardente.
Quase perdi o controle, mandando esvaziar a boate para
que eu pudesse tomá-la ali mesmo. Se não fosse por
Jamal intervir, eu teria feito exatamente isso.

Na hora em que ele me cutucou o ombro, pensei


seriamente em ignorá-lo, mas conforme o toque foi se
tornando mais denso, parei para prestar atenção no que
ele tinha a dizer a respeito. Jamal estava me alertando.
Revelando discretamente que todos na boate, sem
exceção a ninguém, todos nos observavam. E, embora eu
não me importe com o que falam de mim, me importo com
o que falam dela. Não quero que seja comparada a
qualquer uma das vadias que eu durmo, Brianna não é
assim e não merece essa fama.

Viro para o lado, suspirando.

Eu pretendia voltar a conversar com ela, paquerá-la


como os casais normais costumam fazer. Depois convidá-
la para vir ao meu apartamento e, se fosse da sua
vontade, fazê-la minha por uma noite.

Já tinha tudo meticulosamente articulado, isso até as


vadias aparecerem e estragarem tudo, deixando-me de
volta à estaca zero.

Meu celular toca ao lado da cama, estico o braço


para pegar o aparelho e vejo o nome do meu irmão na
tela.
A ligação que eu já esperava, nenhuma novidade!
Reviro os olhos.

— Khalil! — atendo com a voz firme.

Ouço um suspiro do outro lado, seguido por alguns


murmúrios de irritação.

— De novo, Khalif? Pensei que tivesse mudado e


amadurecido.

Lá vem mais um longo e interminável discurso de


advertência.

— Por mais que você não acredite, dessa vez não foi
culpa minha.

Khalil solta uma risada áspera, sem humor.

— Nunca é sua culpa, Khalif, nunca é.

— Exato! E você nunca acredita mesmo assim.

— Ora meu irmão, se não seduzisse e iludisse tanto


essas moças, nada disso aconteceria, portanto, é sim
culpa sua.

É claro que assim que eu solicitasse a presença dos


meus seguranças, o burburinho sobre o que havia
acontecido iria se espalhar, chegando rapidamente aos
ouvidos da minha família que o príncipe Khalif se
envolveu em mais uma confusão.
Se Brianna não estivesse na festa, talvez eu até
passasse mais uma noite com elas, aproveitando. Depois
daria ordens expressas a minha equipe para mantê-las o
mais longe possível, sendo impedidas de frequentar os
mesmos locais que eu. Sendo assim, nada de confusão.

Porém, eu tive duas únicas escolhas. A primeira,


deixar com que ficassem lá, dando fim de uma vez por
toda a qualquer chance que eu tenha de dormir com
Brianna. A segunda, chamar os seguranças, fazer o
escândalo e enfrentar o meu irmão no dia seguinte. Não
foi tão difícil escolher.

— Eu não ofereço nada, Khalil. Sempre aviso que não


passará de uma única noite, nada além disso. Não tenho
culpa se mesmo com os avisos, elas se iludem.

Isso é injusto! Acho terrível o que Omar e Mazin


fazem, desprezo a forma como agem e vivem e, mesmo
assim, eles nunca têm problema com mulheres. Enquanto
eu que tento ser o mais cavalheiro possível, vivo me
metendo em confusões desnecessárias.

Ouço sua respiração ruidosa, até mesmo cansada.

— Está na hora de mudar, Khalif! Chegou a hora de


crescer e assumir responsabilidades. Você não é tão mais
jovem que eu, já tem 34 anos, não é mais um garoto.

E lá vamos nós de novo!


— Eu tenho um compromisso agora, falo com você
mais tarde. — minto.

Khalil sabe que não há compromisso algum, assim


como sabe que eu só estou tentando evitar mais uma
discussão cansativa, pois já tivemos outras vezes.

— Tudo bem. Jantará conosco essa semana?

Pelo menos duas vezes na semana nós jantamos


juntos. Como Khalil vive com mamãe, fica ao meu encargo
ir visitá-los. Porém, Brianna tem mais cinco dias em Dubai
e eu quero aproveitar a sua companhia o máximo
possível.

— Essa semana eu não vou poder, tenho alguns


compromissos importante e inadiáveis.

— Compromissos femininos, suponho. — Seu tom é


seco, embora polido.

Rio, soltando uma leve gargalhada ao imaginar a


expressão enfezada em seu rosto.

— Não se preocupe, esses não envolvem escândalos.

— Tudo bem. Até mais, irmão.

Encerro a chamada jogando o celular ao meu lado no


colchão macio. Volto a analisar o teto do meu quarto,
pensando na vida e em tudo o que vem acontecendo.
Talvez eu esteja ficando doente, ou talvez eu só
esteja andando com um Jamal apaixonado. Só sei que
pela primeira vez na vida começo a questionar se meu
irmão realmente não está certo quanto a eu arranjar um
casamento. Sei que há muitas mulheres de famílias
nobres por aí aguardando o pretendente adequado, se eu
começasse a espalhar a notícia da minha intenção em
casar, alguns pais bateriam a minha porta e eu só
precisaria escolher a que mais me agrada.

Esfrego as mãos no rosto, rangendo os dentes.

Não! Isso é loucura! Eu com certeza me sinto solitário


e excitado no momento, mas posso resolver essa situação
rapidamente com apenas algumas ligações. Agora um
casamento é definitivo, e eu não sei se me sinto pronto ou
sequer algum dia estarei para dividir a vida com uma
mulher que não amo, algo arranjado, improvisado,
imposto.

Isso é ridículo! Devo estar passando por alguma crise


existencial.

Eu sou Khalif Farzur, o príncipe herdeiro de Dubai e


Abu Dhabi, filho mais novo de Youssef Farzur. Não
preciso de uma esposa arranjada, não preciso de
herdeiros, não preciso ser bem visto aos olhos dos mais
velhos do nosso povo. E é isso que torna a minha vida
mais fácil que a do meu irmão. Eu tenho liberdade, ele
não. E como tenho uma opção, opto por permanecer
solteiro.

— Quais os planos para o restante da semana? —


pergunto para Jamal.

Meu amigo está sentado no banco à minha frente,


observando o movimento da rua através das janelas do
restaurante. O terno impecável que veste revelando que
se ainda não viu Celina, tem planos de vê-la e ainda hoje.

Em nossa mesa, Gahwa [ v ] com barazek [ v i ] .

Costumamos vir nessa cafeteria sempre que possível


para colocar a conversa em dia. Além do café delicioso,
os biscoitos que servem são sensacionais. E as janelas
altas e compridas dão uma visão privilegiada para o
centro de Dubai, ajudando a passar o tempo.

— Eu tenho algumas ideias. Quero levá-las em


alguns pontos turísticos, também ao estádio para assistir
alguma partida de futebol, e um jantar no deserto. —
Tamborila os dedos na mesa, pensativo.

Jogo um biscoito na boca, tomando um gole de café


para acompanhar.
— Podemos fazer uma festa na minha suíte, se
quiser.

Jamal traz seus olhos de encontro aos meus, a testa


franzida, os olhos brilhando em animação.

— Isso seria ótimo! Quer dizer, Celina adora uma


festa e pelo que eu vi, as meninas gostaram da noite de
ontem... e, enfim, sua cobertura é perfeita para a ocasião.

Faço um movimento de dar de ombros. Termino de


mastigar o biscoito, engolindo-o, para finalmente falar:

— Vamos marcar a festa para a última noite delas


aqui, assim, fecharemos a estádia das brasileiras em
Dubai com chave de ouro.

— Sim, sim! — Jamal mal consegue conter o


entusiasmo.

Um meio-sorriso curva o canto da minha boca, ao


mudar de assunto.

— E como foi a sua noite? Celina lhe fez companhia?

Jamal serve uma xícara de café, com uma expressão


intrigante o suficiente que faz com que eu preste mais
atenção, enquanto responde:

— Ela optou por ir para o hotel no fim das contas,


mas nós nos beijamos.
Bufo uma risada, constatando que Celina está
fazendo jogo duro, mesmo Jamal não percebendo.

— E ela ainda é tão maravilhosa?

Ele termina se se servir, descansando as costas no


encosto da cadeira.

— É ainda mais que maravilhosa. — Corre os dedos


pelos cabelos escuros. — Estou apaixonado,
sinceramente. — lamenta, voltando a encarar o
movimento na rua.

Pendo a cabeça para o lado, a expressão em meu


rosto se tornando solene.

— Eu já percebi isso faz tempo.

— Eu sei, mas agora é diferente. Vendo-a


pessoalmente, conhecendo-a melhor... Celina é incrível, a
mulher mais fantástica que eu já conheci.

Quase sucumbo a iminente vontade de revirar os


olhos com toda essa baboseira de homem apaixonado,
mas como sou um bom amigo, induzo-o a continuar.

— E?

— E, que eu não sei! E isso tem me deixado aflito.

— Como assim?
— Bem, Celina não é só um rostinho bonito. É
inteligente, independente, determinada... não sei se ela
se adaptaria aos nossos costumes, nem sei se aceitaria
isso.

Comprimo os lábios, sustentando o olhar dele.

Eu temia que isso fosse acontecer. Os árabes podem


se casar com mulheres de etnias diferentes, desde que
elas se adequem aos nossos costumes. Não significa que
Celina vá sair por aí usando hijab, mas significa que
precisará abrir mão de algumas coisas, como das roupas
mais curtas, principalmente as decotadas ou as que
deixem os joelhos de fora.

— Você não tem um pai para atormentá-lo quanto aos


costumes da esposa, Jamal. Não vejo problema em ficar
com Celina, mesmo que seja nos termos dela.

Jamal, como um Sheik, não precisa se impor a certas


regras, e isso pode ser estendido a sua esposa, se essa
for a sua vontade.

Ele solta um longo suspiro e bebe um gole do café.

— É cedo demais para pensar nessas coisas, sou um


tolo por me preocupar com isso.

Nos costumes brasileiros, provavelmente Celina vá


achar que ele esteja louco por pensar em casamento
quando eles se viram somente uma vez. Porém, para nós,
é comum imaginar uma mulher como sua esposa assim
que um interesse mútuo surge.

— E você e Brianna? — Ele sorri com malícia,


mudando de assunto.

— Nada mais aconteceu, não depois do que àquelas


vadias fizeram. — falo, em um tom de voz frio o bastante
para intimidar até mesmo Jamal, ao lembrar da cena no
camarote e da conversa com o meu irmão.

Jamal inclina a cabeça para trás e solta uma


gargalhada.

— Você se meteu em uma enrascada e tanto. Mas


afinal, quem eram aquelas? Não consigo me lembrar, por
mais que tente.

Reviro os olhos, bufando, a contragosto.

— Eu saí com elas na semana passada, nada


relativamente importante.

— Talvez não para você, mas eu vi como Brianna


ficou distante e frívola.

Mastigo outro bolinho, o maxilar travado em irritação.

— Eu sei, elas estragaram a minha noite.

— Mas pelo que eu vi, Brianna também se interessou


profundamente por você, então... — Mexe os ombros. —
Acredito que terá uma segunda chance.

Que Allah ouça, Jamal, pois no momento não há mais


nada que eu queira além de ter a oportunidade de beijar
aqueles lábios macios e carnudos novamente.

— E que tal se levarmos elas para o jantar no deserto


hoje? — Jamal olha para a rua, inspecionando o céu em
busca de resquícios de alguma tempestade.

O jantar no deserto é um lugar atrativo e inesquecível


para quem nunca foi. E se Jamal está querendo encantar
Celina ainda mais, essa é uma aposta certeira. E de
quebra, eu consigo mais umas horas ao lado de Brianna.

— É só ligar.

Jamal me lança um olhar condescendente.

— Pensei que você pudesse resolver isso e ainda


reservar a tenda do seu irmão.

Ah, que ótimo! Com certeza Khalil vai ficar muito feliz
de me ver levando mulheres à tenda da família, ainda
mais depois da nossa discussão de hoje mais cedo.

— Khalil não está muito contente comigo e com a


vida devassa que ando levando.

Jamal solta uma tossida, escondendo um sorriso.


— Mas é claro que Khalif Farzur dará um jeito nisso e
arranjará à tenda da realeza para nós. — Faz um gesto
incisivo e vibrante.

Eu não preciso pedir permissão para Khalil e nem


nada parecido, só preciso ordenar que alguém da minha
equipe entre em contato com o restaurante e comunique a
reserva. Provavelmente meu irmão saberá no mesmo dia,
com sorte, no outro, e ficará possesso de raiva por eu
desrespeitar a família dessa forma. Mas, situações
desesperadas pedem medidas extremas, e me redimir
com Brianna é uma delas.

— Sim, darei um jeito. — confirmo, sentindo o corpo


enrijecer ao imaginar como será a próxima conversa com
o rei.

— Perfeito! — Jamal se levanta, recolhendo o blazer


do terno do encosto da cadeira. — Tenho alguns
compromissos, nos vemos mais tarde.

— Até mais.

Vejo-o girar nos calcanhares e se afastar até sumir


na porta do restaurante. Permaneço sentado, perdido em
pensamentos sobre tudo o que ouvi e observei até agora.

Jamal está apaixonado, um fato. E um homem


apaixonado tende a ser cego em relação a certas coisas.
Só me resta analisar o comportamento da Celina e
identificar se o sentimento é recíproco. Como um bom e
verdadeiro amigo, devo isso a ele.

O jantar de hoje não irá ser somente diversão.


O carro que Jamal disse que enviaria estacionou no
horário exato em frente ao edifício Khalifa. O Sheik avisou
que deveríamos estar prontas até às 18h, horário máximo
para ir ao deserto desfrutar de um delicioso e agradável
jantar.

O clima denso do deserto é cálido até mesmo durante


o período noturno, portanto, optei por vestir uma saia
longa, blusa simples e rasteirinhas. Também prendi os
cabelos em um rabo de cavalo para evitar de suar tanto.

O percurso até o local dura em torno de 45 minutos,


longos e tensos minutos repletos de curvas e areia.
Nosso dia foi tranquilo, caminhamos pela cidade e
visitamos a Dubai antiga. Compramos algumas coisas
diferentes para levar de lembrança. Bolsas, roupas e, é
claro, chás.

No meu caso e da Maitê, também compramos alguns


mimos para nossos pais. Eles sabem que estamos
viajando, mas não sabem sob que circunstâncias, muito
menos que entreguei um atestado falso no trabalho. Antes
de sairmos, avisamos que eu consegui folga e que Celina
ganhou a viagem de um patrocinador, podendo levar até
três pessoas.

Às vezes, mamãe pede foto no WhatsApp através do


grupo da família, mas com medo de que ela possa postar
em alguma rede social, sempre desviamos o foco do
assunto, fotografando paisagens e enviando.

— Até agora não consigo entender o porquê você não


passou a noite com Jamal. — murmura Ivana, negando
com a cabeça em descrença.

Celina passa um batom nos lábios, olhando o reflexo


em um pequeno espelho de mãos, tudo isso para não
borrar. Mas considerando o tanto que o carro chacoalha,
minha amiga é uma verdadeira da coordenação motora.

Ela revira os olhos, ainda concentrada no espelho.

— Não darei a ele o que tanto quer, não de primeira.


— E vai enrolar até quando se veio para Dubai
justamente por isso? — Ivana segura a porta do carro
com tanta intensidade que veias saltam em sua mão.

— Como diabos você consegue fazer isso? — Maitê


segura no encosto do banco da frente, tentando não cair
por cima da Celina.

Celina fecha o espelho e guarda o batom, então olha


para Maitê com a testa franzida.

— Conseguir o quê?

Maitê abre e fecha a boca, bufando.

— Esquece. — Volta a segurar com força para


permanecer no lugar.

— Talvez eu vá hoje para o seu apartamento, não sei.


Eu quero mais que isso, Ivana. Quero que Jamal vá para
o Brasil me visitar e que me traga mais vezes. —
responde, por fim.

— Se for analisar o jeito como ele baba em você,


então está no caminho certo para um casamento árabe. —
Ivana pisca, retesando o corpo ao passarmos por outro
monte de areia.

Jamal e Celina estão claramente apaixonados, isso


fica óbvio para qualquer um ao vê-los juntos. A forma
como se portam, o jeito como ele olha para ela, querendo
protegê-la, mimá-la e amá-la. E o jeito como ela fala dele
como nunca falou de homem algum. Fico feliz por minha
amiga.

O carro finalmente para em frente ao restaurante.

O sol se põe, deixando o ambiente um pouco escuro


e ressaltando as luzes do local. As tendas coloridas e
bem iluminadas encantam os olhos, assim como as mesas
e as almofadas de chão, tão diferentes de tudo o que já
frequentamos.

Desço do veículo e estico as pernas, sentindo os


meus músculos protestarem após tantos minutos do
percurso mais tenso da minha vida.

— Uau, vendo agora, até que valeu a pena essa


viagem. — Maitê encara tudo, admirada.

Paramos em frente à entrada onde um homem


recolhe os nossos nomes e confere na lista de presença,
após encontrar, ele nos conduz até uma das inúmeras
tendas. Contudo, a tenda que iremos ficar é diferente das
demais, destacando-se.

— Jamal é o máximo, não é? — Celina parece ainda


mais admirada pelo seu Sheik.

A tenda fica ao fundo do restaurante, de frente para


um palco onde alguns shows acontecem. Uma banda toca
ao vivo e duas mulheres dançam à dança do ventre.
O espaço mais amplo já conta com a presença do
Jamal e Khalif, eles bebem alguma coisa viscosa e
esquisita enquanto riem e conversam, alheios a nossa
presença.

O homem do restaurante chama-os avisando e...


pedindo autorização? Enfim, parece exatamente isso que
ele está fazendo. Os olhos de Khalif encontram os meus e
ele abre um sorriso fatal, confirmando com um leve
manear de cabeça.

Khalif se levanta, vindo em minha direção. O príncipe


segura a minha mão, plantando um beijo em meu dorso.

— Oi. — murmura, a voz enviando arrepios para a


minha coluna.

— Olá.

— Venha, sente-se ao meu lado.

Khalif me conduz, acomodando-me nas almofadas ao


lado de onde ele estava antes de se levantar para me
receber. Sentada e confortável, observo as outras tendas
e vejo alguns olhares curiosos destinados a nós.

— Essa é a primeira vez que trago mulheres aqui,


eles estão se perguntando quem são vocês. — explica
Khalif, sussurrando em meu ouvido.

Solto uma risada áspera.


— Que honra! — sibilo, arqueando as sobrancelhas.

O sorriso de Khalif se amplia e os olhos brilham,


como se ele tivesse se sentido incitado pelo meu gesto
desinibido.

— Eu gosto do seu deboche, senhorita Brianna. —


Passa os lábios pelo meu pescoço, arrepiando-me.

Arquejo e coço a garganta, antes de falar:

— Essa tenda pertence à sua família?

— Sim, e somente membros dela podem vir aqui.

— Exceto nós.

— Exceto vocês.

— Interessante...

Olho para os objetos na mesa, interessada em cada


coisa atípica aos meus olhos. E isso inclui ao líquido
branco e viscoso nos copos do Khalif e Jamal.

— O que exatamente é isso?

Khalif segura o copo, trazendo-o em minha direção.

— Beba.

Lanço-lhe um olhar desconfiado, mas recolho o copo


de suas mãos e cheiro o conteúdo. Sinto meu cenho
franzir ao constatar o aroma levemente adocicado.
Levando o copo a boca, bebo o conteúdo em um gole
pequeno.

— Humm... é bom, mas é forte. — Entrego de volta


para Khalif.

A bebida é palatável, embora seja doce demais para


o meu gosto.

Ele solta uma risada rouca.

— Se chama arak [ v i i ] , também conhecido como o


néctar dos deuses árabes. — explica, esvaziando o
conteúdo. — E sim, é bem forte, estimasse que tenha
quase 50% de teor alcoólico.

Passo um dedo na madeira da mesa, sentindo a


textura do objeto.

— Vou pedir algo para beber que esteja do seu


agrado. — ele chama o garçom e solicita vinho. — Então,
não me disse ainda o que te trouxe a Dubai, além de
Celina e a viagem com as amigas.

— Nada em especial. — Encaro a dançarina que


remexe o corpo com os olhos fixos no príncipe,
desesperada para chamar a sua atenção. — Eu estava
cansada do trabalho, precisava de uns dias de folga e foi
isso.
Khalif permanece o tempo todo com seus olhos fixos
em mim, alheio a mulher ou simplesmente ignorando-a.

— Parece descontente com o emprego.

— Não estou descontente, as coisas funcionam assim


mesmo. Enfim, sou grata ao meu emprego e sei que tudo
vai melhorar quando meu diploma de especialização
estiver comigo.

Khalif coloca uma mecha do meu cabelo atrás da


orelha, seus dedos roçam na pele do meu rosto em um
toque sedutor.

— Você é maravilhosa, Brianna. — Aproxima-se,


plantando um beijo na minha bochecha. — E merece o
mundo. — acrescenta, finalmente chegando até meus
lábios.

Assim que nossos lábios se chocam, abro passagem


para a língua dele. Nosso beijo é intenso, tão intenso
quanto o primeiro, embora menos ardente. Khalif segura
minha cabeça com uma mão, acariciando minha têmpora
com o polegar. A temperatura do ambiente parece elevar
a níveis assustadores.

— Brianna, você poderia me acompanhar, por favor?


— Ouço a voz de Celina retumbar através dos meus
sentidos lânguidos.
Afasto-me do Khalif, a visão embaçada pelo beijo
arrebatador.

— Eu... é.... hã... claro. — Consigo ouvir a


engrenagens do meu cérebro tentando entrar em
funcionamento.

Sigo Celina para onde quer que ela esteja indo e me


deparo com o banheiro feminino. Ela analisa o lugar, ao
perceber que estamos sozinhas me encara.

— O que foi? — Cruzo os braços, acoada.

— Você ficou louca?

Meu cenho franze em confusão. Olho para os lados


questionando se ela está falando realmente comigo, ao
perceber que não há mais ninguém, pergunto:

— Como assim?

Celina bufa e passa uma mão nos cabelos, nervosa.

— Beijar ou trocar carícias ou qualquer coisa


parecida aqui em Dubai é considerado um ato de ofensa.
— explica.

Arregalo os olhos, sobressaltada com as hipóteses do


que pode me acontecer, após o meu ato de indulgência.

— Deus do céu! Mas foi Khalif quem me beijou, quer


dizer, ele começou... eu pensei que não tivesse problema
algum por ele ter feito isso e, céus, na boate nós...

Celina seguras as minhas mãos trêmulas, obrigando-


me a olhá-la.

— Calma, Bri! Só respira. — Faço como ela instrui,


acalmando as batidas incessantes do meu coração. —
Isso.

— E agora? Eu vou ser presa?

Celina solta uma risada rouca, feminina, que


reverbera pelos meus ossos estremecidos.

— Na boate é diferente, as coisas funcionam de outra


forma em casas noturnas. E não, você não será presa,
apesar de ter chocado uma quantidade absurda de
pessoas. Khalif é um príncipe e ninguém ousaria ralhar
com ele.

Solto um suspiro profundo, resistindo ao impulso de


chorar depois de todo esse desespero.

— Só não repita isso, tá bom? — Maneio a cabeça


em sinal positivo. Os lábios colados pela boca seca. —
Vou te contar um segredo, mas Deus o livre você contar
algo para Khalif.

Sinto a minha testa franzir, a curiosidade fervilhando


imediatamente.
— Eu jamais faria isso, Celina.

— Eu sei, mas não custa reiterar. Enfim, Jamal me


disse que as coisas não estão muito boas entre Khalif e o
irmão, mas não entrou muito fundo nessa história. Ele só
quase implorou para que eu te chamasse e vocês
parassem com o ato impróprio em público antes que as
coisas piorassem ainda mais entre os irmãos. — Faz um
movimento de dar de ombros, balançando os cabelos
loiros. — Enfim, só queria te alertar.

Khalif nunca falou nada sobre a família ou suas


obrigações como príncipe, não que tenhamos tido muito
tempo para isso. Mas me sinto um pouco chateada por
nunca termos tido a conversa. Percebo que, até o
momento, a maioria dos assuntos foram sobre mim e
pouco sobre ele.

— Vamos voltar. — Celina puxa a minha mão,


forçando-nos a retornar para o foco do movimento do
restaurante.

Minha deglutição é audível assim que eu percebo os


olhares de soslaio que recebo das pessoas ao redor do
restaurante. Deus! Eu nem tive um tempo para pensar no
que eu estava fazendo. Na melhor das hipóteses,
inventaria uma dor de cabeça terrível e fugiria pela porta
dos fundos, se é que tem uma; na pior, bem... essa é a
pior, ainda mais considerando a quantidade de olhares de
censura que estou recebendo.
Volto para o meu lugar ao lado do príncipe e percebo
também que sua expressão, antes suave e jovial, agora
não passa de uma carranca, pelo nariz franzido e o esgar
nos lábios. Ele está tão contente quanto eu.

— Tudo bem? — pergunto próxima a ele, mas


afastada o suficiente para evitar mais falatórios.

Khalif traz seus olhos de encontro aos meus, sua


expressão suaviza imediatamente, mas ainda assim,
consigo perceber que algo lhe incomoda.

— Claro.

Diminuindo a intensidade das luzes, uma nova música


começa a tocar e algumas dançarinas surgem. Os cabelos
estão soltos, mas um véu cobre os seus rostos, as vestes
coloridas fazem barulho pelos pedregulhos pendurados
nos tecidos conforme se movimentam, balançando o
quadril de um jeito que deixa qualquer um com inveja pela
elasticidade do corpo.

Após o show, um suntuoso buffet de comida árabe e


outro de frutos do mar é servido. A comida é tão
impecável quanto o restaurante.

— O que vai fazer depois que sair daqui? — indaga


Khalif.

O príncipe árabe está escorado para trás na tenda,


escondido na sombra, enquanto bebe o seu néctar dos
deuses. O braço direito descansa distraidamente ao meu
lado, a mão acariciando a minha perna, agora, com
descrição.

— Para o hotel dormir, provavelmente. — Mordo um


pedaço de morango suculento, gemendo no processo.

— Hummm... — Khalif retira o restante da fruta da


minha mão, encarando-me, ele morde o morango de forma
despudorada demais para o meu gosto.

Céus.... ok, isso foi... sensual.

Coço a garganta, forçando as palavras engasgadas a


raiarem.

— Qual o motivo da pergunta?

Khalif lambe os dedos, passando a língua pelo vinco


entre eles. Seus olhos ganham contornos de diversão ao
perceber como lhe encaro com... fome.

— Nada demais, pensei que quisesse ir conhecer a


minha cobertura. — Os olhos escuros nem mesmo
piscaram com a proposta indecorosa.

Eu sei muito bem o que significa ir conhecer o seu


apartamento, sei mais ainda quais são as suas intenções
para nos manter entretidos e... céus! Como eu gostaria de
ceder e ir correndo, sem nem pensar duas vezes.
As meninas sempre falaram que a “brizinha” saberia a
hora certa de abrir caminho, liberar a passagem, que
seria ela quem escolheria o sortudo da vez. E com
certeza Khalif é o escolhido.

— Prometo que não vai se arrepender. — acrescenta,


fazendo-me voltar a encarar seu belo rosto cheio de
linhas poderosas e másculas.

Talvez eu vá me arrepender no futuro de ter tomado


essa atitude, talvez eu me pergunte por qual motivo eu
não cedi antes, se eu acabarei cedendo de qualquer
forma, no entanto, estou decidida a manter o plano inicial.

Sorrio, um sorriso largo e estúpido.

— Estou muito cansada, fica para outro dia.

Surpresa, descrença e algo que eu não consigo


identificar brilha nos olhos dele. A boca sensual se
contrai, em uma arrogância condescendente e
depreciativa de quem sabe que no fim das contas vai sair
vencedor.

— Talvez amanhã, então. — O sorriso incisivo se


amplia, desafiando-me a continuar.

— Talvez, Khalif Farzur, talvez.

Ele entendeu minha negativa como um desafio, e eu


só posso me sentir feliz por isso, pois é exatamente o que
eu quero que sinta.

Eu serei sua, Khalif Farzur, mas não sem antes fazê-


lo implorar pela minha companhia.
Brianna é uma verdadeira gata traiçoeira. Com o
sorriso inocente e os olhos atentos, a brasileira me fez
correr atrás dela durante os últimos dias, sempre se
esquivando de todas as minhas insinuações para ir ao
meu apartamento.

Nosso contato não passa de nada além de beijos e


algumas mãos bobas aqui e ali. Quando eu tento
aprofundar as coisas, Brianna foge, mas ao contrário do
que ela pensa, isso só tem me deixado cada dia mais
fissurado, como um drogado em abstinência.
Confesso que me sinto surpreso e em êxtase pelo
desafio, há anos que eu não sei o que é correr atrás de
uma mulher, havia até mesmo esquecido como esse tipo
de jogo é prazeroso. Além do mais, desde que eu a vi
pela primeira vez naquela boate, eu não transei com
nenhuma outra mulher, fissurado demais nela para me
importar em conseguir outro alguém.

Hoje passamos a tarde inteira juntos, assistindo a


uma partida de futebol. Depois Jamal largou-as no edifício
e eu subi pelo meu elevador privativo.

Engraçado que nenhuma delas assimilou o meu nome


com o Khalifa, Brianna e as amigas estão dormindo
poucos andares abaixo do meu e nem sabem.

— Senhor, as bebidas estão servidas. — avisa o


garçom contratado para nos servir durante a noite.

— Certo. Agora é só esperar os convidados chegarem


— falo, dispensando-o com um aceno de mãos.

Olho as notificações de chamada do meu celular mais


uma vez, começando a me sentir preocupado pelo silêncio
de Khalil. Pensei em ligar para ele, mas acabei desistindo
com medo do que a ligação pudesse parecer aos seus
olhos.

Meu irmão já ficou outras vezes sem falar comigo,


principalmente depois de eu ter exercido algum
comportamento que ele despreza. Contudo, acredito que
esse seja o recorde da quebra do nosso contato. E,
embora eu devesse começar a me preocupar com isso,
hoje é o último dia das garotas em Dubai e quero
aproveitar isso, aproveitar Brianna e nossas últimas horas
juntos. Khalil pode esperar.

A campainha toca, desanuviando a preocupação da


minha mente. Permaneço sentado na poltrona,
aguardando. Ouço a voz do meu amigo e das meninas,
pouco antes deles apontarem em minha sala.

— Não acredito que você mora aqui. — exclama


Celina.

— Eu não acredito que nenhuma de nós foi esperta o


suficiente para analisar Khalif com Khalifa. — Ivana
coloca as mãos no quadril, resoluta.

— E ninguém pensou em nos falar nada, né? —


conclama Maitê, a voz calma, mas resoluta.

Dou de ombros.

— Ninguém pareceu tentada a perguntar.

Brianna tosse, abafando uma risada.

— Vamos pedir uma bebida? — Jamal aponta para o


sofá, indicando que as meninas se sentem e se sintam à
vontade.
Brianna me encara, os olhos um pouco mais
envergonhados do que de costume. Dou um tapa no lugar
disponível ao meu lado em um convite silencioso. Em
passos lentos, ela vem até mim, cedendo ao chamado.

A brasileira está ainda mais deslumbrante do que das


outras vezes em que a vi. Os cabelos soltos e brilhosos
se moldando ao seu rosto, o vestido vermelho rodado
balançando em suas pernas torneadas conforme faz os
movimentos de caminhar.

Delicadamente, ela se senta ao meu lado.

— Olá, Brianna.

— Oi. — a voz rouca me deixa instigado a saber o


que tanto lhe aflige.

Jamal escolhe justamente esse momento para voltar


a sala, ao seu encalce o garçom contratado carregando
uma bandeja com todas as bebidas da casa.

Uma por uma, elas vão escolhendo o que querem


beber. Ao chegar em Brianna, para a minha surpresa, ela
opta por um copo de uísque.

— Parece que alguém tem planos para um dia nada


agradável amanhã. — Rindo, arqueio o meu corpo em sua
direção e aponto com o queixo para o copo.
Ela faz um movimento de dar de ombros e leva o
líquido âmbar até os deliciosos lábios, com uma careta,
ela vira todo o conteúdo.

— É meu último dia em Dubai, quero fazer dele um


momento inesquecível.

— E o momento inesquecível é se embriagar até


passar mal? — Arqueio uma sobrancelha.

Brianna pisca, as bochechas tomam um tom


avermelhado, mas quando traz seus olhos de encontro
aos meus, eu só posso ver determinação neles.

— Quem sabe quais são os meus planos, príncipe. —


Um sorriso acintoso delineia seus lábios.

Ah, doce Brianna!

— Estou ansioso para descobrir, sendo assim. —


Pisco um olho e ouço-a resfolegar.

Ficamos alguns segundos em silêncio, observando a


conversa alheia dos nossos parceiros, perdidos em
pensamentos nada convencionais da noite ardente que
planejamos ter.

— Eu posso te fazer uma pergunta? — A voz doce de


Brianna entoa pelo torpor em que me encontro,
imaginando-a quicando em meu colo.
Pigarreio.

— Claro.

Encaro-a, diante de seu olhar questionador, aguardo


que faça a pergunta que parece tão curiosa quanto
intimidada em fazer.

— É um pouco pessoal...

— Faça a pergunta, Brianna.

Ela franze o cenho, ponderando se continua ou não.

— É... você me disse que toda a responsabilidade


governamental ficou com Khalil. — Confirmo com um leve
manear de cabeça. — Ele não se importa com isso?

Pensativo, passo a mão pela barba, pelo cabelo e


solto a respiração de forma ruidosa.

— Ele se importa. — revelo. — Nossa relação até


mesmo tem andado balançada ultimamente.

— E por que você não assume alguma


responsabilidade?

Eu a encaro em silêncio com uma expressão vazia, o


coração acelerado, me fazendo internamente a mesma
pergunta que Brianna, com mais coragem, conseguiu
emitir em tom de voz alto.
— Sinceramente? Não sei! Talvez eu me sinta
envergonhado em assumir alguma responsabilidade
governamental quando me sinto tão distante das nossas
tradições. Ou talvez, eu não me ache bom o
suficientemente para governar pessoas que avocam
atitudes que eu desprezo. — Ergo o olhar. — Não tenho a
paciência de Khalil, e por mais que eu saiba que essa é a
tradição, ainda assim, me sinto deslocado quando se trata
dela, ainda assim, desprezo-a de algumas formas. E me
sinto um maldito traidor por causa disso. — murmuro com
a garganta travada.

O silêncio que se instala entre nós é denso, cheio de


significados. Como se de todas as pessoas no mundo,
Brianna pudesse me entender, ler os meus tormentos e
aprovisionar minhas indecisões.

Eu nunca comentei com ninguém como me sinto


verdadeiramente em relação a isso, nem com Khalil, nem
com Jamal. Mas então, em uma noite qualquer com o céu
escuro, Brianna apareceu, fazendo-me revelar o mais dos
obscuros segredos, fazendo-me questionar a mais
decisiva das minhas decisões. Afinal, o que há com essa
garota? E por qual motivo ela consegue sugar até a mais
profunda das minhas emoções?

— Talvez, Khalif, seja exatamente por causa disso


que as pessoas precisam de você, especialmente as
mulheres. — fala, resoluta.
Puxo os cabelos para trás, frustrado, cansado e
reflexivo.

Se não fosse pelo pomo-de-adão subindo e descendo


ou a leve contração na mandíbula indicando que se
esforça para esconder alguma emoção, eu diria que Khalif
não passa de um playboy desinteressado. Porém, o
príncipe se encontra em um dilema pessoal entre seguir a
tradição ou o coração.

Quando a campainha do nosso quarto tocou mais


cedo, eu quase tive uma síncope, pois sabia que era
Jamal indo nos buscar para a festinha particular na
cobertura de Khalif. Se simplesmente fosse só mais uma
festa, eu me sentiria animada e feliz, até mesmo ansiosa,
porém, não será somente isso, não é somente a minha
despedida de Dubai.

Depois de pensar muito, eu decidi que as meninas


têm razão, está na hora de perder a virgindade e me
declarar livre de todas as amarras que ela impõe. Sendo
assim, nada melhor e mais inesquecível do que transar
em Dubai e com um príncipe.

Nossos dias aqui serão memoráveis, essa certamente


entrará para a minha lista como a melhor viagem que eu
já fiz, não que eu já tenho feito outras, mas pretendo.

— Vamos fazer um brinde a nossa amizade! — Jamal


levanta o copo, visivelmente embriagado.

Os copos tilintam uns contra os outros, enquanto


comemoramos tudo isso que estamos vivendo. Tatuando
em nossas mentes cada mínimo detalhe.

— E que venham mais histórias para contar —


ronrona Celina, lançando um sorriso malicioso para
Jamal.

— Ah, com certeza. — sibila o árabe, engolindo em


seco.

Celina foi firme até agora, foi enfática ao falar que


não transaria com Jamal, não sem antes deixá-lo
enlouquecido aos seus pés, mas acredito firmemente que
hoje o árabe e ela terão uma noite inesquecível.

Khalif está calado, pensativo, desde a conversa que


tivemos. Ele sorri para as piadas sem graça que alguém
faz, até mesmo entra em conversas triviais, mas sua
expressão se mantém sempre a mesma; impassível.
Caminho até a sacada aproveitando a leve disposição
e coragem que os sentidos embriagados pelo álcool estão
me dando. O vento abafado bagunça os meus cabelos,
mas não parece importar muito, não quando eu tenho um
céu estrelado e uma cidade iluminada como vista.

Solto um suspiro saudoso, sentindo falta com


antecedência de tudo o que eu vivi até agora.

— Gosta daqui? — Khalif cruza as mãos em minha


barriga e apoia o queixo em meu ombro.

Meu coração acelera e minha respiração fica densa


com a proximidade dele.

— Sim. É um belo lugar para morar.

Uma das mãos e Khalif faz uma leve carícia em meu


abdômen, descendo e subindo, fazendo-me arquejar.

— Com certeza é — sussurra ao pé do meu ouvido.

Khalif desce mais a mão, passando pela minha perna,


chegando ao meu vestido. Ele beija meu pescoço,
passando a língua em pontos específicos.

— Sabe como ela fica ainda mais inesquecível?

Demoro alguns segundos para fazer meu cérebro


funcionar.

— E-ela quem?
Ele ri, fazendo cócegas contra a minha pele.

— A vista.

Ah sim, estamos falando da vista do prédio. Deus!

— C-como?

— Deixe-me mostrá-la.

Lentamente, Khalif sobe a barra do meu vestido, os


dedos resvalam na renda da minha calcinha molhada. Ele
espalma uma mão na minha barriga, colando minhas
costas em seu corpo, fazendo-me sentir sua
masculinidade dura.

O príncipe passa o dedo por baixa da calcinha,


tocando minha pele lisa. Delicadamente, ele vai
descendo, desenhando os meus lábios vaginais com o
indicador, espalhando a minha excitação.

Um gemido involuntário se desprende dos meus


lábios assim que ele chega ao meu clitóris. Deito a
cabeça em seu peito e fecho os olhos.

— Abra os olhos, Brianna, veja a vista enquanto eu te


faço gozar. — murmura, intensificando o toque.

Deus, isso é bom!

Khalif começa a bolinar a minha carne macia, o dedo


subindo e descendo e circulando devagar e acelerando,
brincando e dando prazer, espalhando minha excitação.

— Está gostando, Brianna?

Como ele consegue falar em uma hora dessas?


Quero questionar em voz alta, mas minha vontade se
perde assim que eu começo a sentir alguns espasmos no
meu corpo, informando-me que eu estou no limite, prestes
a gozar.

Toda melada, Khalif segura meu clítoris com força,


circulando-o com o polegar em um carinho tão... céus!

— Goze, Brianna! – ordena com a voz rouca.

Ele morde o lóbulo da minha orelha para depois


passar a língua. A mão que estava espalmada em minha
barriga sobe, apertando o meu seio direito.

Ergo o quadril quando a sensação sublime começa a


me envolver. Khalif aumenta a fricção, sem mais aguentar,
meu corpo convulsiona por inteiro em um orgasmo
sensacional.

Fico entorpecida por alguns segundos, devastada


pelo melhor orgasmo que eu já tive. E se não fosse por
Khalif, eu já estaria caidinha no chão, pois minhas pernas
perderam as forças.

Khalif planta um beijo na minha nuca suada.


— Vamos para o meu quarto.

Sem condições de dar uma resposta verbal, limito-me


a acenar.

Se antes eu tinha alguma dúvida ou algum medo, com


esse orgasmo tudo deixou de existir.

Khalif me ajuda a caminhar, apoiando o meu corpo no


seu. Deixando nossos copos na sacada, ele faz um
percurso que não consigo observar, pois ainda me sinto
trôpega demais.

— Seu quarto é tão longe assim?

Ele ri, parando-nos em frente a um elevador e


apertando um botão.

Uau!

— É no próximo andar.

Assim que o elevador chega e as portas se abrem,


Khalif nos joga para dentro, mal esperando a caixa
metálica voltar a funcionar para atacar a minha boca,
passando a língua pelos meus lábios.

— Eu estou louco para foder você! — murmura contra


a pele do meu pescoço, onde deixa beijos molhados.

Solto um gemido, agarrando sua nuca com força,


fincando as minhas unhas em sua pele.
— Então aproveite, príncipe, pois essa é sua noite de
sorte.

Passo minhas pernas pelo seu quadril em um abraço


de urso, enquanto espalho beijos em seu pescoço e rosto.

Não vejo a hora que o elevador chega, vejo menos


ainda o caminho ou o quarto, só sei que chegamos
quando sinto a cama macia em minhas costas, enquanto
Khalif movimenta os quadris, masturbando o meu clitóris
inchado e sensível com o pênis duro.

Suas mãos se espalham por toda a parte, acariciando


cada ponto da minha pele, exposto e não exposto,
tentando me marcar.

— Se é minha noite de sorte, terei que aproveitar de


verdade. — Abre um sorriso malicioso, enquanto desce os
beijos pelo meu abdômen.

Talvez seja o efeito do álcool, ou talvez seja só o


efeito do que esse homem é capaz de fazer, mas eu estou
enlouquecida, ébria de prazer e luxúria. Onde antes havia
medo e dúvida, agora não há mais.

— Faça-me sua, Khalif Farzur.

— Será um prazer.

Levanta-se e começa a se despir, sem tirar os olhos


de mim. A primeira peça a cair no chão é a camisa,
deixando o abdômen trincado em exposição, repleto por
gominhos e pelos escuros que descem. Ainda sem
quebrar a conexão do olhar, ele abre os botões da calça,
baixando-a e desfazendo-se dela. A cueca boxer preta
está marcada, esticada pelo seu membro ereto.

— Sou todo seu, Brianna! — fala e baixa o tecido,


ficando completamente nu.

Seu membro é grosso, denso e cheio de veias. Um


verdadeiro instrumento de prazer.

Ofego, como é possível que todo o ar do apartamento


tenha sido sugado?
Deito por cima de Brianna e puxo o seu vestido pela
cabeça, deixando-a de lingerie.

— Eu quero que você fique completamente nua,


quero beijar cada centímetro dessa pele macia e cheirosa.

Coloco minha mão em suas costas contra o colchão


e, com precisão e maestria, abro o sutiã. Puxo-o de seu
corpo, deixando os peitos redondos e fartos livres, os
bicos castanhos eriçados.

— Deliciosa! — Levo minha boca até um deles,


chupando, sugando e acariciando, fazendo-a arquejar.
Brianna passa as unhas pelas minhas costas,
deixando marcas. Largo os seus seios e vou até o
minúsculo tecido da sua calcinha encharcada pelo recente
orgasmo. Puxo-o pelas suas pernas, deixando-a,
finalmente, completamente nua.

— Hummm... quero experimentar isso aqui. — falo


com o olhar vidrado em sua boceta melada.

Ficando sobre os joelhos, me agacho de frente para


as suas pernas e coloco-as sobre os meus ombros,
posicionando-a no lugar certo.

— Tem certeza disso? — pergunta parecendo


envergonhada.

Solto uma risada áspera, sendo abafada pelas suas


pernas que cobrem a minha cabeça.

— Pode apostar, amor, que não há mais nada que eu


queira nessa vida, no momento.

Passo a língua pela extensão, sem pudor, abrindo os


grandes lábios vaginais. O clitóris ainda inchado do outro
orgasmo pulsa em minha boca, enquanto seu líquido
aumenta, enchendo-me com o seu gosto.

— Oh... — geme, os dedos se crispando em punhos


cerrados, agarrando os lençóis, os nós embranquecendo.
Mordisco sua carne melada e enfio a língua no seu
canal vaginal.

— Goze na minha boca, Brianna. — instruo-a.

Brianna arrebita a boceta, ansiosa, desesperada por


mais.

Esfrego, pressiono e círculo o clítoris inchado,


fodendo sua boceta com a língua. E então ela goza, o
corpo tremendo sobre as minhas costas, enquanto eu
bebo, mamo todo o líquido que ela expele, até deixá-la
limpa.

Me levanto, o rosto todo melado do seu prazer. Meu


pau dói, enlouquecido para se enterrar nela, quase em
desespero de tanta ansiedade.

Os olhos de Brianna estão lânguidos, anuviados em


luxúria. Os lábios entreabertos revelando o quanto está
gostando, como quer mais.

— Agora eu vou foder você, amor.

Deito-me sobre ela, o corpo suado colando-se ao


meu. Vejo Brianna arregalar os olhos levemente,
assustada.

— Algum problema? — Sinto minha testa franzir.


— Não... é... eu só estou ansiosa. — Morde o lábio
inferior.

Me perco nos castanhos dos seus olhos, alucinado


pela garota que chegou para arrebatar a minha sanidade.

Colo os nossos lábios, misturando nossas línguas,


dando-lhe amostras de como é seu gosto, de quão
deliciosa ela é. Meu peito contra o seu, consigo sentir a
intensidade em como o seu coração bate, acelerado.

Desço a boca, voltando até os seus seios arrepiados


e desejosos, implorando por atenção. Chupo um deles
com força, mordendo e pressionando. Brianna enterra as
unhas em meus ombros, gemendo.

Sinto o bico na minha língua, exploro a aréola,


mamando com fervor, esfregando o rosto e barba em seu
meio. Revezo entre eles, deixando-os vermelhos e
babados.

— Céus! — ela grita, mas eu a silencio com um beijo.

Acomodo-me em seu centro, ansioso, prestes a


enlouquecer caso eu não a devore de uma vez.

O atrito dos seus seios contra o meu peito, o cheiro


do seu perfume doce, sua respiração ofegante e seu olhar
ávido me enlouquecem ainda mais.
Seguro seu cabelo com delicadeza, enquanto guio o
meu pau até sua boceta, abrindo-a aos poucos, sentindo
a textura suave e melada e comprimida.

Solto um gemido ao ser tragado pela sua entrada


apertada. Brianna crava as unhas em meus braços,
preparando-se para a penetração.

Enfio-me mais, sua boceta me engolindo, a


musculatura me abraçando, conforme reivindico espaço,
mais e mais. Sem aguentar mais tempo, penetro-a ao
fundo e imediatamente sinto uma barreira se romper.
Paro, automaticamente, tenso, todo o corpo fica rígido,
em alerta.

Levanto sobre os cotovelos para encarar Brianna.

— Você... você é virgem? — Minha voz sai


esganiçada pelo crescente desespero do que eu acabei
de fazer.

Os olhos de Brianna lacrimejam, só não sei se pela


ardência de ter sido possuída pela primeira vez na vida
ou por outra coisa.

Ela engole em seco e desvia o olhar.

— Bem... era — Dá de ombros.

Sinto o suor da minha testa escorrer pelo esforço em


me manter parado quando eu só quero fodê-la, porém,
com essa novidade, não posso simplesmente fazer tudo o
que planejo.

— E em nenhum momento pensou em me comunicar?

Brianna faz um bico com a boca, irritada.

— E faria alguma diferença?

— É claro que faria! Eu seria mais delicado e teria


preparado ainda mais o seu corpo. — rebato.

— Só continua, eu sei que vai ficar bom.

Passo uma mão nos cabelos suados, puxando as


madeixas para trás.

Volto a beijar o seu pescoço, tentando tirar sua


tensão.

— Você precisa relaxar, Brianna.

— Certo. — Suspira e fecha os olhos, concentrando-


se.

Desço a mão pelo seu dorso até chegar em seu


clitóris, voltando a estimular o nervo sensível. Faço
movimentos circulares devagar, uma leve carícia. Sua
entrada fica molhada novamente, aproveitando a
facilidade da lubrificação, faço o primeiro movimento de
vai e vem, com calma, cuidando para que ela não sinta
mais dor.
Brianna solta um gemido, agarrando os lençóis e
arqueando o corpo. O aval que eu precisava para saber
se ela está gostando.

Penetro-a fundo, deixando somente as bolas de fora,


batendo contra a sua virilha.

— Oh, céus! — arqueja, mordendo o lábio inferior e


semicerrando os olhos.

Acelero os movimentos, concentrando-me em lhe dar


prazer, levá-la ao êxtase mais uma vez, fazer da sua
primeira vez inesquecível.

— Oh... — Nossos gemidos se unem, conforme eu


vou mais fundo, mais forte, mais bruto.

Seu íntimo ao meu redor se aperta, caloroso,


fervendo. Beijo seus lábios com força, nossos dentes
entrando em atrito pela brutalidade do toque, enquanto
engulo seus gemidos.

Cerro a mandíbula com força, conforme seu espaço


se comprime mais enquanto eu recuo para me afundar
novamente, com estocadas mais violentas.

Brianna enterra as unhas em minhas costas,


estremecendo em espasmos de prazer enquanto goza.
Reviro os olhos, arrepiado, conforme ejaculo devagar em
seu interior.
Desabo na cama ao seu lado, meu corpo todo
molhado de suor, ofegante, satisfeito e realizado.

— Foi bom para você? — pergunto ao regular a


respiração.

Brianna fica de lado, virando-se para mim, um sorriso


sincero delineando os lábios.

— Foi melhor do que eu imaginei.

Puxo sua cabeça e planto um beijo em sua testa,


sentindo o gosto salgado do seu suor.

— Gostaria realmente que tivesse me contado, pois


eu teria agido diferente.

Brianna passa um dedo pelos meus lábios,


dedilhando o meu rosto.

— Eu não poderia imaginar nada melhor do que isso,


Khalif. Obrigada.

Uma sensação abraçadora de orgulho e pura


satisfação masculina preenche o meu peito. Saber que eu
fui seu primeiro homem me deixa orgulhoso, não posso
negar.

— Agora, deixe-me cuidar de você.

Ela franze o cenho, desconfiada.


— Como?

— Venha tomar um banho comigo, quem sabe não


ganha uma massagem também. — Lanço-lhe uma
piscadela.

— Isso seria perfeito. — Brianna desce o dedo que


estava no meu rosto pelo meu peito. — Mas eu quero
aproveitar outras coisas enquanto ainda estou em Dubai.

Abro um sorriso ferino.

— Não se preocupe, amor, essa noite eu sou todo


seu.

Levantando-me na cama, pego-a no colo.

— O que você está fazendo? — Agarra-se ao meu


pescoço.

— Vamos começar o segundo round no banheiro.

Rindo, levo Brianna para mais uma aventura sexual,


pois a noite só começou e ela vai descobrir que sou um
homem muito, muito faminto. E isso se eleva quando se
trata dela.
Encaro Khalif enquanto dorme ao meu lado, sentindo
admiração e... carinho, afinal, ele foi o meu primeiro
homem.

O príncipe descansa de olhos fechados, uma mão


sobre o peito definido, o lençol cobrindo somente da
cintura para baixo. Sua respiração lenta e frenética.
Lindo, até mesmo dormindo.

Ontem Khalif foi perfeito, não surtou como pensei que


pudesse fazer quando descobrisse minha verdadeira
condição, pelo contrário, ele foi um verdadeiro príncipe,
fazendo jus ao título que carrega. Foi atencioso, amoroso
e delicado, cuidando ao máximo para que o prazer fosse
de ambos e não de uma só parte.

Olho a hora na tela do meu celular e solto um suspiro


triste por saber que está na hora de partir, é chagado o
momento de retornar para a minha casa, seguir em frente.

Levanto-me em um impulso, antes que eu o acorde e


diga palavras sem sentido ou acabe lhe assustando,
afinal, para ele foi somente mais uma noite, mais uma
mulher para a sua lista. Mas para mim foi mais que isso...
enfim, não há como explicar.
— Obrigada, adeus! — sussurro, baixo o suficiente
para não o acordar.

Deixando Khalif para trás, saio em passos lentos do


quarto com os saltos em mãos, tentando ser mais o
silenciosa possível.

A casa está organizada, apesar da festinha que


fizemos ontem, não encontro nenhum funcionário durante
o caminho. Abro a porta e, olhando uma última vez para o
seu apartamento, fecho-a deixando minha aventura com
Khalif para as lembranças.

Encontro as meninas no aeroporto, pois me atrasei e


elas precisaram ir na frente para segurar o voo. Me jogo
na poltrona, cansada pela noite que não dormi,
necessitando de longas horas de sono e de uma boa
refeição para repor as energias.

— Olha só quem está com o brilho no olhar de quem


deu a noite inteirinha. — zomba Ivana.

Maitê retira os óculos de sol e olha de mim para


Celina, um sorriso debochado estampado no rosto.
— Não só uma, como duas estão. Acho que a viagem
rendeu.

Viro-me para Celina e entendo imediatamente o que


elas falam, pois, assim como eu, minha amiga ostenta
enormes manchas arroxeadas debaixo dos olhos, além
dos cabelos desgrenhados.

— O importante é Brianna, pode contando tudo, todos


os detalhes! — E mesmo assim, Celina tira fôlego de
algum lugar desconhecido para fazer um interrogatório.

— Bom, foi como sempre é a primeira vez. — Dou de


ombros, sentindo as bochechas esquentando.

— Conta logo, Brianna! — insiste.

Solto uma respiração ruidosa, desistindo de manter


minha vida sexual em sigilo, pois sei que elas jamais irão
me deixar em paz.

— O que vocês querem que eu diga? Foi


simplesmente sensacional!

— Você disse que era virgem em qual momento? —


Maitê, que está na poltrona da frente da minha, curva o
corpo, aproximando-se mais, curiosa.

— Eu não disse exatamente, ele meio que sentiu,


sabe...
Ivana inclina a cabeça para trás e solta uma
gargalhada estrondosa, a qual ecoa pelo meu cérebro
padecido após muitas doses de uísque e a falta de sono.

— Eu não acredito que você foi até o final com a


mentira.

— Ei, não era uma mentira, era uma omissão, é


diferente! — replico na defensiva.

— Tá, tá, tanto faz, mas o que ele disse? — Maitê faz
um gesto com as mãos.

— Ele ficou surpreso e disse que eu deveria ter


contado, enfim, foi mais delicado e foi perfeito, gozei
tanto que nem lembro o número exato, não dormi
absolutamente nada e minha vagina tá ardida, é isso. –
Quase tropeço uma palavra contra a outra, em um ledo
desespero de contar tudo de uma vez e me ver livre do
interrogatório.

As três começam a rir e a bater palmas,


comemorando a perda da minha adorável virgindade.

— Com certeza isso merece um jantar extra esse


mês, só para comemorar! — fala Ivana.

Reviro os olhos, resmungando.

— E você, Celina, como foi a noite? Valeu a pena a


viagem? — pergunta Maitê, recolocando o óculos no
rosto.

Celina solta um suspiro apaixonado, os olhos


tornando-se mais calorosos.

— Ôh, se valeu! Nossa senhora, se eu soubesse que


os árabes têm pauzão, teria vindo antes.

Me engasgo com a própria saliva pelo jeito


despudorado que fala.

Ivana dá um tapa no braço de Maitê.

— Deveríamos ter experimentado um pau árabe.

— Já tá na hora de se arrepender? — retruca a minha


irmã.

— Mas e agora, Celina, como ficarão as coisas entre


vocês? — Olho para Celina, uma ansiedade palpável pela
sua resposta.

— Já tenho viagem marcada para retornar. — Tenta


conter a animação, mas é inevitável.

_Isso é incrível! – comemora Maitê.

As meninas entram em uma calorosa discussão sobre


o futuro da Celina e Jamal e o que tudo isso significa,
mas eu não presto atenção, perdendo-me em
pensamentos.
Também tento no criar expectativas com a revelação
da minha melhor amiga, Jamal e Celina é uma coisa, já se
conhecem há meses, criaram um vínculo afetivo. E
embora eu esteja apegada a Khalif por ele ter sido o meu
primeiro homem, eu não fui sua primeira mulher, o apego
pode não ser mútuo.

Só me resta esperar e descobrir se o convite se


estenderá a mim também, caso contrário, só seguirei em
frente com as lembranças que ele deixou impressas em
minha pele.

O avião decola e eu acompanho Dubai diminuir pela


janela, até se tornar invisível sobre os meus olhos. O
coração quente pela aventura com as pessoas mais
incríveis que eu conheço.
Acordo e encontro a cama vazia ao meu lado. Sento-
me sobre os cotovelos e inspeciono tudo ao redor em
busca dela, mas não há nenhum sinal seu, nada que diga
que a noite passada realmente aconteceu. Se não fosse
pelo seu perfume ou a pequena mancha de sangue em
meus lençóis, eu diria que tudo não passou de um sonho.

Levanto-me totalmente nu e saio a procura do meu


aparelho celular, encontrando-o na mesa de centro da
sala.

A casa limpa e organizada, sem rastros ou sinais da


festa que rolou ontem à noite, mostra a competência da
minha equipe de limpeza.

Debloqueio o aparelho e fico surpreso ao constatar


que não há nenhuma notificação. Nada.

Cerro o maxilar com força conforme as lembranças de


horas mais cedo começam a me alvejar. A ideia da
Brianna ter ido embora sem deixar nenhum rastro, nem
mesmo um bilhete...

Agarro os cabelos com força, sentindo o sangue


latejar em todo o meu corpo.

Ligo para Jamal, sentando-me em uma das poltronas,


o joelho balançando sem descanso.

— Alô! — atende, um piscar de olhos depois.

— Onde ela está? — Esfrego o rosto, aflito.

Jamal ri, a risada rouca entoando pelo autofalante. E


pelo tom enfraquecido, percebo que meu amigo dormiu
tanto quanto eu.

— Bom dia, Khalif, fico feliz que tenha tido uma noite
tão agradável quanto a minha. Tudo bem com você?

— Sem gracinhas, Jamal! — Solto um rosnado,


impaciente.

— As meninas estão nesse momento voando de volta


para o Brasil. Me despedi de Celina há pouco mais de
uma hora.

Frustrado, irritado e abandonado, tamborilo os dedos


no encosto da poltrona, perdido em pensamentos.

Como assim Brianna me deu um lindo pé na bunda?


Normalmente sou eu o autor dessas ações e não a vítima.
Além do mais, depois de ter sido seu primeiro e único
homem, pensei que ela teria mais consideração por mim,
por nós.

— Espera! Brianna não disse nada antes de sair?

Balanço a cabeça em desgosto, bufando.

— Acha que eu estaria te ligando se ela tivesse dito


alguma coisa?

Jamal faz algo que me irrita ainda mais que o seu


deboche logo cedo, ele ri, não só ri como gargalha alto.
Estou prestes a encerrar a ligação quando a risada cessa.

— Por Allah! Brianna fez o que nenhuma outra mulher


fez antes, deu um belo pé na bunda do príncipe de Dubai
e Abu Dhabi! Isso merecia ir para o jornal e virar
manchete: “príncipe leva fora de brasileira”.

Reviro os olhos, apertando a ponta do nariz com o


polegar e o indicador, tentando aplacar as fisgadas de
uma leve dor de cabeça.
— Ela era virgem. — revelo, em voz baixa.

— O QUÊ?

Tento reprimir a respiração brusca e entrecortada,


conforme sou mais uma vez impactado pelas lembranças
da noite anterior.

— Ela era virgem e não me disse nada, eu fiquei


sabendo na hora do... hã... ato. Pensei... pensei que ela
teria mais consideração pelo momento, sabe? Não
imaginei que me deixaria dormindo para ir embora, sem
nem se quer deixar uma mensagem ou um recado.

Jamal solta um assobio.

— Não acredito que ela era virgem. — segundos de


silêncio absoluto. — Bem, pelo que eu estou percebendo,
ao invés da garota se apaixonar, quem ficou caidinho foi
você.

Não posso e não quero negar o óbvio. Ter sido o


único homem na vida de Brianna acionou atitudes e
pensamentos primitivos que eu nem sabia que existiam.
Um sentimento de posse se apodera de mim, no momento.

— Eu a quero! — pontuo, resoluto.

— E você sabe se ela quer você? Bem, uma mulher


que some depois da primeira transa sem mais e nem
menos, não me parece muito... interessada.
Puxo os cabelos com força.

Jamal tem razão, se Brianna quisesse algo, ela teria


dito ou deixado um bilhete ou até mesmo um recado para
Jamal me passar, mas não fez nada disso, a maldita
simplesmente sumiu, evaporando como fumaça ao vento.

— Eu preciso falar com ela outra vez, vê-la, entender


o porquê me deixou aqui sem dizer nada.

— Olha, eu combinei de trazer Celina para cá no mês


que vem, também estou vendo na minha agenda dias
disponíveis para que eu possa ir até o Brasil, se você
quiser, posso estender ao convite à Brianna em seu
nome.

Seria a primeira vez que eu correria atrás de uma


mulher, mas pouco me importa, eu só quero ver Brianna
novamente.

— Tudo bem.

Jamal solta outro suspiro.

— Está se apaixonando, príncipe? Pensei que fossem


as mulheres que se apaixonavam na primeira transa.

— Não estou com tempo para as suas gracinhas,


Jamal!
O desgraçado ri, ignorando completamente a minha
aflição de um homem abandonado, pois é exatamente isso
que eu estou sentindo, abandono.

— Eu preciso desligar, tenho algumas coisas para


fazer. — minto, as mãos trêmulas.

— Sei, você vai é para a cama chorar. — zomba,


gargalhando alto.

Sem mais paciência, encerro a ligação, mesmo


sabendo que isso é só mais um pretexto para ele
debochar quando nos encontrarmos pessoalmente.

Retorno para o meu quarto e me jogo na cama. Deito


a cabeça no travesseiro que Brianna dormiu e inspiro
fundo, sentindo o cheiro do seu perfume, lembrando-me
novamente de tudo o que fizemos.

Brianna é doce, delicada e ao mesmo tempo tão...


dona de si.

Virgem! Allah!

Se fosse como nossa cultura ordena, eu seria


obrigado a me casar com ela por tê-la desonrado, caso
não fizesse, viraria vergonha para a minha família e meu
País, tendo meu caráter colocado em discussão. Mas ela
não é árabe e não precisa se casar por ter transado e,
pela primeira vez, não consigo decidir se acho isso bom
ou ruim.
Quer dizer, passei uns dias com ela, sei que gosto da
sua companhia, lhe acho atraente, mas... fui o primeiro e
único homem, Allah! Não consigo negar a ufania por isso.

Allah não faz nada sem pensar, se Brianna pertence a


mim, ela voltará.

Uma semana depois.

Fiquei surpreso quando a campainha tocou e uma das


minhas empregadas informou que se tratava do meu
irmão. Depois de me ignorar por dias em afinco, até
mesmo evitando os jantares semanais em família, pensei
que continuaria o seu martírio sobre mim.

Khalil se senta na poltrona à minha frente, o


semblante cansado e sério delatando que teremos uma
longa, exaustiva e irritante conversa.

— Estava esperando suas... amiguinhas irem embora


para poder vir até você. — começa nosso diálogo com
uma crítica velada, um ótimo jeito de captar a minha
atenção, devo admitir.

Cerro a mandíbula com força.


— Se for começar a me ofender ou ofender meus
companheiros, podemos parar por aqui. — Faço um gesto
de mãos.

— Pelo menos essas são diferentes das outras?

Escoro as costas no encosto macio da poltrona e


cruzo as pernas.

— Sim, totalmente diferentes.

Tão diferentes que uma me deu um pé na bunda e faz


uma semana que eu não tenho uma única notícia sua.
Quero acrescentar, mas me mantenho silente.

— Sendo assim, desculpe-me por ofendê-las. —


Khalil suspira e passa uma mão nos cabelos.

— O que você quer Khalil? Qual a verdadeira


finalidade da nossa conversa? Sei que não veio aqui para
falar das minhas “amigas”.

— Tem razão. — Fica em completo silêncio. Apenas


me encara, impassível e apático. Então acrescenta: —
Enfim, eu preciso de você Khalif, as coisas não andam
boas no governo ultimamente.

Passo a mão na barba, reprimindo o tremor.

— Continue, por favor!


Khalil tamborila o dedo indicador no encosto do sofá,
os olhos ávidos, atentos à parede de vidros às minhas
costas, na sua cidade.

— Como sabe, sempre tive mais dificuldade em fazer


com que o povo de Abu Dhabi cedesse às novas ordens,
principalmente as que que diz respeito as mulheres.

Ah, eu com certeza sei. Diferente de Dubai que


recebe uma quantidade generosa de turistas e já começou
a se modernizar e se acostumar com isso, os residentes
de Abu Dhabi não estão tão tentados a ceder. Bem, em
Dubai ninguém se importa, de fato, com as vestes dos
turistas, pois entendem que cada um possui uma cultura
diferente e não é uma ofensa para a nossa comunidade,
já em Abu Dhabi, houve relatos de turistas alvejados por
simplesmente estar com os joelhos de fora.

Sendo assim, o número de mulheres em nosso


mercado de trabalho ainda é irrisório, mas em Abu Dhabi
é estimado em quase zero. Além, é claro, delas ainda
serem obrigadas a usar hijab em público. E o estupro e
violência doméstica não sofrem tantas denúncias como
em Dubai.

Menos de duas horas, esse é o tempo de uma cidade


para outra, e mesmo assim, a distinção entre o povo é
gritante.
E, de ambos os Emirados, Abu Dhabi é certamente o
que mais nos causa problemas.

— Continue. — induzo-o com um gesto de mão.

— Abu Dhabi precisa de um governo mais rigoroso,


que os obriguem a cumprirem as ordens estabelecidas.

— O que você está querendo falar, Khalil?

Sinto minhas entranhas se revirando, sentindo que,


seja lá o que o meu irmão está pensando, eu não vou
gostar nenhum pouco.

— Eu vou me mudar para Abu Dhabi, Khalif. Estarei


presente, e se for preciso, darei penas mais rigorosas,
mas farei com que cumpram as minhas ordens.

— E o que quer exatamente que eu faça?

Khalil me encara, a determinação em seus olhos


dizendo que eu não terei uma escolha, independente da
sua decisão.

— Allah presenteou nossos pais com dois filhos, dois


príncipes herdeiros de Dubai e Abu Dhabi. — Engulo em
seco, ouvindo atentamente. — Portanto, não é justo que
eu governe sozinho.

— O quê?! — exclamo, sobressaltado, quase pulando


da poltrona.
— Governarei de Abu Dhabi, enquanto você
governará de Dubai.

Meu cérebro dá algumas voltas, perdido em um limbo


de palavras que ecoam de forma aleatória e confusa.

— Espera! Você quer simplesmente mudar a forma de


governo? — Encontro a minha voz, conseguindo formular
uma frase coerente, apesar do cérebro falhado.

Isso seria um verdadeiro caos, ao menos no início.


Youssef, assim como os antepassados, governaram
ambas as federações de maneira unitária, mesmo com
outros herdeiros. Dividir Dubai e Abu Dhabi em dois
governos, mesmo sendo estes pertencentes à mesma
família, seria como alterar completamente a origem de
tudo.

Khalil suspira, dando de ombros.

— O mundo está se modernizando a cada dia que


passa, Khalif. Chegou o momento de nosso povo se
modernizar também. Além do mais, Abu Dhabi é a nossa
capital, sempre deveríamos ter governado de lá.

Levanto-me, sem condições de ficar parado.

— Simplesmente se mude e governe. Ponto. Você já


faz isso daqui. Qual seria a diferença? — Coloco as mãos
no quadril, a testa franzida.
— Não tenho mais cabeça nem idade para me
preocupar com tanto, Khalif. Nos tempos de nosso pai as
coisas eram diferentes, e ele não brigou diretamente com
o povo para ajudar nossas mulheres.

Me irrita saber que Khalil tem razão. Youssef nunca


se importou em tornar as coisas modernas, portanto, o
povo lhe amava e nunca houve qualquer pedido de
renúncia pelo título.

Quando Khalil comunicou ao povo que o hijab


passaria a ser optativo, que as mulheres poderiam
trabalhar, bem como teriam direito a voto e as penas para
crimes de estupro seriam mais rigorosas. Ou quando criou
a lei de violência doméstica, houve inúmeros protestos,
quase todos vindo de homens da família, pedindo a
revogação da “absurdidade” que Khalil havia feito. Meu
irmão não cedeu, nem nunca cederia e, com o tempo, os
protestos terminaram, mas isso não significou que eles
concordaram.

— O que você está me pedindo...

— Eu estou pedindo que faça o que nasceu para


fazer, Khalif, nada além disso. Você teve uma vida inteira
de liberdade, chegou a hora de fazer jus ao seu título.

Ando de um lado para o outro, parando em frente às


vastas janelas que envolvem a parede externa do meu
apartamento. A cidade corre embaixo dos nossos pés,
comércio, turistas e cidadãos, movimentando-se de
maneira contínua. O sol quente do deserto escaldante
cobre as nossas cabeças, tornando o dia bonito e
ensolarado.

Suspiro na direção do céu, ignorando o olhar intenso


e direto do meu irmão que queima às minhas costas.

E sei que Khalil tem razão, se não fosse por ele, eu


teria que ter tomado essa atitude muito cedo, muito antes
de tudo e jamais teria a liberdade que exerci até agora.

— Eu preciso saber, Khalif, se poderei contar com


você. — prossegue, diante do meu eterno silêncio.

Solto uma risada áspera e sem humor, virando-me


para encarar meu irmão de volta.

— Não é como se eu tivesse escolha...

— Sim, meu irmão, você tem direito a escolha. Caso


aceite, passaremos a trabalhar juntos no nosso plano de
governo, você precisará mudar algumas atitudes e se
ajeitar como um homem decente. Mas, caso negue,
precisarei encontrar alguém à altura para governar Dubai
e você... bem, o título que carrega não passará de ser
nada além disso, um mero título.

Alguém para governar o que nos pertence desde o


nascimento? Khalil ficou louco? Se nosso pai estivesse
vivo, só de ouvir isso, ficaria decepcionado com o filho.
Ou comigo, por estar cogitando a possibilidade.

Eu sei o que significa assumir essa posição, mas


também sei que jamais deixaria um estranho assumir o
meu legado.

Esse é o fim da minha vida libertina.

— Eu vou governar com você. — decido, dando fim a


toda essa aflição.

— Eu sempre soube que poderia contar com você! —


Khalil se levanta e me abraça, dando tapas nas minhas
costas. — Agora que está tudo acertado, preciso ir e
começar a colocar as coisas em prática.

— Quando você fará a mudança?

— Em uma semana, Khalif. As coisas não estão boas,


precisamos colocar o novo governo em prática o quanto
antes.

Aperto meus lábios até se tornarem nada além de


uma linha fina e faço um leve manear de cabeça,
concordando.

— Até mais, meu irmão.

Muito tempo depois da sua saída, eu ainda encarava


a porta fechada sem enxergar nada.
Uma mistura de pânico e tensão me bagunçando por
inteiro.

Ouço meu celular tocar, ecoando pelo torpor em que


me encontro. Levo a mão ao bolso, segurando o aparelho
sem ao menos ver quem é.

— Eu vou falar com Celina hoje, quando quer eu peça


para que elas venham? — pergunta Jamal, empolgado.

Engulo em seco, angustiado por saber que essa será


somente a primeira coisa que eu serei obrigado a desistir,
mas compreensivo por entender que, no fim das contas,
eu realmente nasci para isso e sou privilegiado por poder
ter vivido ao menos um pouco da vida que eu queria.

— Eu não posso mais ficar com Brianna, Jamal.


Deixei-a fora disso, deixe-a viver a vida como deseja. —
falo, mesmo que minha garganta esteja travada, mesmo
que minha voz não passe de um leve murmúrio.

Brianna é algo que deve permanecer no meu


passado, embora meu coração pense diferente.
Dois meses depois.

Eu fui capaz de ignorar os sintomas, ou tentar, por


mais de um mês. Começou com alguns enjoos matinais,
nada relativamente preocupante, depois vieram as
tonturas e por último a menstruação atrasada.

Ando de um lado para o outro no banheiro com o


teste em mãos, nervosa demais para me aquietar ou
pensar com tranquilidade.

Bom, não deveria parecer assustador, não quando eu


tomo anticoncepcional, mesmo que não fosse preciso,
pois eu não tinha uma vida sexual ativa. Porém, minha
ginecologista indicou para diminuir as cólicas e não posso
dizer que sou uma boa paciente, não quando eu esqueço
de tomar a pílula dia sim e dia não.

Agarro os cabelos com força, fazendo o couro


cabeludo arder pelo toque desesperador.

Deus! Não preciso arrancar os cabelos, não quando


tudo isso pode ser simplesmente o nervosismo pela
apresentação do meu TCC de pós-graduação. Com a
chegada da bendita entrega e, posteriormente, da
apresentação, eu venho tendo noites mal dormidas pela
iminente preocupação.

Além do mais, Deus não seria tão injusto comigo,


afinal, eu nem tenho um emprego decente ainda, e Khalif
simplesmente esqueceu que eu existo depois da noite que
tivemos. Pelo menos Celina conseguiu continuar suas
aventuras com Jamal, e fico feliz por ela.

Paro em frente ao espelho e encaro o meu reflexo.


Minha pele está mais clara, pálida pela inquietação. Meus
olhos estão expressivos, arregalados, atormentados. Há
olheiras marcando meu rosto, amarronzadas. Eu pareço
doente, totalmente diferente da mulher que viajou para
Dubai há pouco mais de dois meses e retornou para o
trabalho com um lindo bronze e um sorriso no rosto.
Como eu queria que aquela viagem durasse para
sempre, quando tudo voltou ao normal e a rotina recaiu
sobre a minha porta, eu senti o impacto. Eu estava tão
feliz, tão esplendida que até mesmo Miguel desconfiou
que nunca houve doença alguma.

Mas a felicidade durou exatos sete dias, até Jamal


ligar para Celina marcando outra ida a Dubai, dessa vez,
somente ela. Então eu percebi quão tola eu fui. Saindo de
fininho, fugindo de Khalif, tentando ser diferente para que
o príncipe viesse atrás de mim.

Mas tudo terminou de ruir quando Celina retornou da


viagem, contando que viu Khalif com outra mulher e que
ele nem sequer perguntou como eu estava. Fui tão
inconveniente em sua vida, que ele nem se lembrou mais
da minha existência. Mas eu segui em frente, foquei no
trabalho e na minha especialização... bom, até os
sintomas começarem a aparecer.

Solto um suspiro e olho mais uma vez para o teste.


Viro a caixinha e começo a ler as instruções.

— Vai dar tudo certo, você não pode ser tão azarada
assim. — digo em voz fraca para o meu reflexo no
espelho.

Por mais que não tenhamos usado camisinha, o que


foi uma grande irresponsabilidade, eu tomo remédio! Grito
mentalmente, tentando acalmar as batidas aceleradas do
meu coração.

Trêmula e com as pernas bambas, sento-me ao vaso


e faço conforme instruído na caixinha.

Para não ter erro, comprei o teste mais caro da


farmácia. Segundo o balconista, ele computa até mesmo
as semanas de gestação.

Sinto meus olhos e garganta começarem e arder,


enquanto o meu peito comprime. Massageio o coração,
em uma falha tentativa de diminuir a angústia.

— Por favor, Deus! — sussurro, a visão ficando


embaçada pelo desespero.

Então o resultado começa a aparecer e eu agradeço


por ainda estar sentada no vaso, caso contrário, teria
estatelado no chão. O +2 fica tão visível que, mesmo de
longe, eu perceberia o que isso significa.

Positivo.

Sinto as lágrimas silenciosas e quentes umedecendo


a pele do meu rosto. Em algum momento, comecei a
chorar e nem ao menos percebi.

Não sei quanto tempo eu me mantive na mesma


posição, as pernas fracas demais para sustentar o corpo,
as lágrimas banhando meu rosto e pescoço, escorrendo
até a blusa. Os dedos trêmulos, os músculos rígidos.

Razão e emoção duelando, confundindo ainda mais a


minha cabeça.

A emoção por saber que estou gestando uma vida,


um bebê inofensivo. Enquanto a razão grita, perguntando
o que farei, ainda mais quando o pai é um príncipe, um
sheik árabe com uma cultura totalmente diferente da
minha, e que nem lembra que eu existo.

Esfrego a testa suada, a visão turva pelas lágrimas


não derramadas.

Exausta, física e emocionalmente, me levanto do


vaso, segurando-me nos móveis, temendo cair. Procuro o
aparelho celular na minha bolsa e quando encontro, envio
uma mensagem no grupo do WhatsApp que tenho com as
meninas.

Jogada no sofá, aguardo que elas venham até o meu


apartamento. Descanso uma mão sobre a barriga, os
olhos fechados, em uma tentativa quase falha de não
vomitar todo o meu almoço.

Não percebo o tempo passar, mal vejo a campainha


tocar. Graças a Maitê e sua chave reserva, eu nem sequer
preciso me levantar para atender a porta, continuando na
mesma posição durante horas.
— O que foi? Qual é o problema? — Maitê joga a
bolsa no sofá e corre em minha direção. Minha irmã
assume o seu papel de médica, colocando a mão em
minha testa, medindo a minha temperatura. — Está
gelada, Bri. — A voz sai esganiçada pela preocupação.

Abro os olhos e vejo Celina e Ivana sentadas no


outro sofá, elas me encaram com os olhos arregalados em
uma confusão mental pela cena que se sucede.

Sem condições de dar uma resposta verbal, estendo


o teste, mostrando-o a elas.

— Oh, meu Deus! — É Celina quem suspira, os olhos


dobrando de tamanho, a boca formando um “oh”.

Maitê arranca o teste das minhas mãos, conferindo o


resultado com os próprios olhos.

— Você não usou camisinha? — grita Ivana,


desesperada.

Nego com a cabeça.

Maitê anda de um lado para o outro com o aparelho


nas mãos.

— Droga, Brianna! Você é idiota ou o quê? Como é


que transa com um homem que mal conhece sem usar
preservativo? — Ivana se levanta e acompanha minha
irmã nos movimentos.
— Eu tomo remédio. — sussurro, a voz fraca de tanto
chorar.

— Então pode ser um falso positivo! — Alívio brilha


nos olhos de Maitê. — Precisamos ir fazer um teste de
sangue para ver a veracidade.

Celina que me conhece muito bem fica calada, os


olhos marejados, o rosto branco.

— Brianna não toma a pílula corretamente. — fala,


retornando à realidade.

Maitê e Ivana param automaticamente de caminhar de


um lado para o outro, as costas retesadas.

— Como assim? — É minha irmã quem pergunta.

As três me observam em silêncio mortal. Se não


fosse pelo subir e descer dos seus peitos, diria que elas
nem respiram.

Esfrego o rosto, estafada.

— Eu esqueço de tomar.

— Com que frequência? — O tom de voz de Maitê é


repreensivo, embora carinhoso.

— Eu não sei.... às vezes eu tomo três comprimidos


de uma só vez... eu não me importava muito, nem
cuidava.
Ivana solta um assobio.

— Brianna, você está ferrada. — Leva as mãos à


cintura, chacoalhando a cabeça.

— Vamos à clínica, não podemos tirar conclusões


precipitadas, não com um teste de farmácia. — Maitê
pega o telefone e começa a digitar alguma coisa.

— O que você vai fazer? — pergunta Celina.

— Vou encontrar alguma clínica que esteja atendendo


sem precisar marcar hora e que disponibilize o resultado
hoje.

— Espero que consiga. — Celina aperta a ponta do


nariz.

— Eu tenho contatos, é claro que vou conseguir.

Minutos mais tarde, Maitê estaciona o carro em frente


à clínica de um amigo. Ela me conduz até o lugar para
tirar o sangue, instrui o enfermeiro e me ajuda a retornar
para o veículo, posteriormente. Não parei para analisar o
nome do consultório ou a fisionomia do local ou
enfermeiro, nem mesmo reparei em que bairro ficava ou
se tinham mais pessoas. Eu passei por tudo isso como se
estivesse vivendo uma experiência extracorpórea,
acordando em casa, de volta em meu sofá. E se eu não
estivesse acompanhada das meninas, teria dito que tudo
não passou de uma miragem, um sonho realista de algo
que eu pensei que tivesse feito, quando na verdade não o
fiz.

— Você está bem? — Ivana coloca a mão no meu


rosto medindo a minha temperatura.

Jogada no sofá, passo um braço por cima dos olhos.


Minhas pernas tremem e meus músculos estão
amolecidos como gelatina.

— Estou cansada. — murmuro.

Massageio as têmporas com o polegar e o indicador,


sentindo como se minha cabeça fosse explodir a qualquer
momento, pesando uma tonelada.

— O que... o que nós vamos fazer se o resultado der


positivo? — sibila Celina.

Maitê suspira.

— Faremos o que Brianna quiser fazer. — Abro um


olho. — Independente da sua escolha, estaremos aqui
para apoiá-la.

Eu não queria debater esse assunto nesse momento,


queria menos ainda estar discutindo isso, não sem antes
receber o resultado. Contudo, no fundo do meu ímpeto eu
já sei qual é a resposta antes mesmo do laboratório.
Solto uma respiração ruidosa, engulo o choro e me
preparo para decidir as consequências do meu ato
imprudente.

— Eu vou continuar com a gestação, se é isso que


estão se questionando. — falo com firmeza, mesmo
sentindo o bolo na garganta.

Não sou contra quem interrompe uma gestação, pois


acredito que cada mulher tem a sua própria história e
seus próprios motivos, porém, não consigo pensar em
fazer isso, não sem passar o resto da vida com a culpa
recaindo sobre os meus ombros. Afinal, a relação foi
consentida, eu fui imprudente, nós fomos, e o bebê não
tem culpa disso.

— E depois? — Ivana rói a ponta do polegar, nervosa.

— Khalif não poderá saber, jamais! — Dói falar isso,


arde como o próprio inferno, mas eu não posso me
arriscar.

— Você ficou louca? — Celina começa a andar de um


lado para o outro com as mãos na cintura.

Estamos prestes a perder o controle, conhecendo o


nosso grupo há tanto tempo, eu sei que em algum
momento iremos nos abraçar e chorar copiosamente até
todas as lágrimas do corpo secarem.
— Eu não posso me arriscar, Celina. Se tiver um...
bebê, ele será o herdeiro de Khalif.

— E daí? Só por causa disso vai esconder a criança


para sempre? — Celina franze o rosto, indignada.

Sento-me no sofá, assumindo uma posição defensiva,


a cabeça pendendo para a frente, os ombros cruzados.

— E daí? Khalif agora governa Dubai, ele é um


homem importante. Caso saiba do filho, na melhor das
hipóteses, eu terei que me mudar para Dubai e assumir
um cargo que não tenho interesse. Na pior delas, Khalif e
eu brigaremos na justiça pela guarda. — Suspiro. E
acrescento: — Entenda, Celina, fazemos parte de culturas
diferentes.

Celina volta a fazer a andar de um lado para o outro.

— Droga, Bri! Olhando por esse lado, a situação não


é das melhores, mesmo. — Ivana esfrega o rosto.

Maitê se senta ao meu lado, abraçando minhas


costas.

— Ei, faremos à sua vontade! — Ela lança um olhar


sério para Celina. — Independente se concordamos ou
não.

— E como vamos esconder do Jamal? Ou vocês


esqueceram que nós estamos namorando e ele vem
frequentando o Brasil ultimamente? — Celina joga as
mãos para o alto.

— Brianna não encontrará com vocês nos próximos


sete meses, não publicaremos nenhuma foto e jamais
comentaremos algo sobre isso. — Maitê aperta o meu
ombro e desliza a mão pelo meu braço para cima e para
baixo em uma tentativa de me consolar.

— Essa ideia é absurda! Brianna nunca postará nada


do filho?

— Se for necessário para manter a criança em sigilo,


mais ainda, conosco! Sim, jamais publicará nada. —
responde Maitê, a voz inexpressiva, fria, assumindo seu
papel de irmã mais velha e protetora.

Celina se joga no sofá ao lado de Ivana, as


bochechas rubras e os olhos trêmulos sendo os únicos
sinais de que ela está prestes a ter um colapso nervoso.

— Tá, tudo bem! Eu ajudarei nesse plano. Só espero


que dê certo. — Faz um gesto de desdém com as mãos.

Eu sei que isso soa absurdo e impróprio, mas não é


como se eu tivesse tido muito tempo para pensar ou
planejar. Para facilitar a minha vida, a do bebê e a de
Khalif, manterei a criança nas sombras. Com a ajuda das
minhas amigas e da minha família, posso assumir o cargo
de mãe solo incrivelmente bem. Com o tempo e o passar
dos anos, caso a criança queira conhecer o pai, me
disponibilizarei para ajudar nesse encontro, mas por ora,
esse é um segredo e um presente do destino, somente
para mim.

O silêncio que recai sobre nós é denso, mas ele é


desfeito assim que o meu celular apita, sinalizando a
chegada de um novo e-mail.

Engulo em seco, a garganta e o peito comprimindo,


as mãos trêmulas. Reprimo o desespero bem fundo, fundo
o suficiente para que não passe de um leve sentimento
agoniante bramindo no abismo em que me encontro.
Forço-me a me concentrar na conversa, na notícia que
está por vir.

— Eu... eu não consigo me mexer. — Minha voz soa


tão baixa, que somente Maitê consegue ouvir.

Lentamente, minha irmã se levanta e arrasta os pés


até onde o celular está. Com a digital cadastrada ela
desbloqueia o celular e abre o e-mail. Ela semicerra os
olhos e franze a testa e, quando me encara, eu vejo a
resposta estampada em sua face.

— Bem... a família vai aumentar. — Dá de ombros, a


voz soando aguda.

Mesmo imaginando a resposta, obter a confirmação


deixa tudo ainda mais... assustador.
Um filho ou uma filha.

Uma bebê de um Sheik árabe, príncipe e governante


de Dubai.

Meu segredo mais obscuro.


Sete meses depois

Alongo a coluna, louca para me sentar em algum


lugar e descansar minhas pernas exaustas e meus pés
inchados pelo fim da gestação.

Solto um longo suspiro, escrutinando toda a sala de


reuniões, verificando se tudo esteve realmente dentro dos
padrões exigidos por mim mesma para apresentar meu
trabalho.

Passei os últimos meses criando um projeto para o


shopping que será construído em breve. No início eu era
somente uma das colaboradoras, mas com a notícia da
minha gravidez, meu chefe ordenou que eu criasse um
trabalho sozinha, algo inovador para provar meu valor ao
escritório e receber a minha tão sonhada promoção.

Olho a hora em meu relógio de pulso. Meu estômago


embrulhado, as palmas das mãos suadas, enquanto
aguardo que os sócios retornem para a sala com o
veredito final.

O bebê se movimento, chutando as minhas costelas,


o que me faz arquejar.

— Eu sei, também estou nervosa, Zayn. — Passo a


mão no ventre protuberante. — Logo, logo você terá
espaço o suficiente aqui fora.

Aos nove meses, Zayn já está esmagado e quase


cansado por ficar dentro da barriga, embora a bolsa ainda
não tenha estourado e eu não tenha sentido nenhuma
contração, que não seja as de treinamento, o meu filho já
está falando – através de chutes –, que chegou ao seu
limite de tempo.

Como eu planejava, não tive mais notícias de Khalif,


quer dizer, vi algumas coisas em sites de fofocas. Sei que
ele está namorando uma modelo árabe, pois é a primeira
mulher que assume publicamente, portanto, virou notícia
no mundo todo. Além do mais, o plano de governo dele
vem obtendo resultados satisfatórios, o que gera mais
notícias. Fora isso, Khalif esqueceu totalmente da minha
existência.

Jamal veio para o Brasil três vezes nesse meio


tempo, de resto, Celina fez questão de ir em Dubai visitá-
lo, tudo isso para mantê-lo o mais longe possível de mim,
pois em uma das visitas, as meninas saíram com eles e o
árabe estranhou a minha ausência.

Minha família aceitou bem à notícia da gravidez


inesperada, mesmo eu sendo relutante em manter a
identidade do pai no anonimato. Contudo, a proteção e
compreensão de Maitê foram cruciais para isso, pois
mamãe e papai confiam muito na minha irmã e tê-la ao
meu lado ajudou, e muito.

Recolho a garrafa de água gelada de cima da mesa e


tomo longos goles, molhando a garganta seca e sedenta
pela agitação dos últimos minutos.

Vejo Ivana colocar a cabeça para dentro da sala e


espiar, assim que percebe que eu estou sozinha, ela
entra:

— Como foi?

Dou de ombros.

— Foi bom, eu acho. Eles pareceram realmente


impressionados com o projeto.
— E agora?

Fecho a garrafa e coloco-a de volta à mesa, limpando


a boca molhada com o dorso da mão.

— Eu não sei. Já faz alguns minutos que eles saíram


para discutir a minha situação. — Solto um suspiro. —
enfim, espero que dê tudo certo.

Ivana segura as minhas mãos, um sorriso acolhedor


brotando em seus lábios pintados em vermelho vivo.

— Vai dar tudo certo, Bri! Você é ótima, é esforçada e


inteligente...

— E mãe. — interrompo-a, acrescentando mais esse


fato na minha lista de qualidades.

Ivana ri.

— Sim, mas não há ninguém melhor do que você para


o cargo. Aliás, eu jamais conseguiria desenvolver um
projeto nessa magnitude, você arrasou!

É claro, Ivana ou qualquer outra funcionária não


foram incumbidas a mostrar os seus talentos através de
um projeto importante, pois elas não engravidaram no
meio da promoção. E mesmo que isso seja retrógrado e
machista, sei que se não fosse pelo Zayn, eu já estaria
comemorando a minha promoção há meses, desde que
meu diploma de pós-graduação chegou.
Jamais esquecerei a conversa que tive com Miguel
quando contei sobre a gravidez, o jeito como o meu chefe
mudou comigo, a forma como menosprezou meu novo
status. Ele basicamente me chamou de burra por
engravidar tão cedo e logo após a formatura, dizendo que
eu teria tido um futuro brilhante. Foi, além de humilhante,
triste. Chorei a noite inteira.

Ivana corre os olhos pelo meu corpo.

— Você parece que vai explodir a qualquer momento.


— comenta com a testa franzida.

E ela tem razão, meu rosto inchado está


irreconhecível, sem contar nos peitos enormes que saltam
de todas as minhas blusas, ou da barriga distendida que
mal entra em qualquer uma das minhas calças.

— Nunca pensei que falaria isso, mas não vejo a hora


de parir. Cansei da gestação.

Ivana solta uma gargalhada ainda mais estrondosa.

— Ainda bem que você engravidou primeiro, dessa


forma, tive um vislumbre perfeito de como isso funciona e
cheguei à conclusão de que eu jamais terei filhos.

Passo a mão na testa suada, rindo.

— Bem faz você.


Ivana não fala mais nada, pois é impedida pelo som
de passos no corredor, em seguida, dois sócios, meu
chefe e uma nova funcionária chamada Cristina, entram
na sala.

Miguel olha para Ivana e arqueia uma sobrancelha,


mas ignora sua presença e o fato de que ela está
matando o trabalho conversando comigo.

Os dois sócios, homens de meia idade que exalam


riqueza e poder, se sentam na extensa mesa de vidro.
Cristina mantém seu olhar aos seus pés, ignorando-me.
Enquanto Miguel vem até mim, parando ao meu lado.

Miguel ajeita a gravata e coça a garganta.

— Brianna, nós conversamos muito sobre o seu


projeto. Devo dizer que você conseguiu nos surpreender
positivamente, pois fez um trabalho impecável.

— Obrigada.

Coloco a palma da mão na mesa, disfarçadamente.


Minhas pernas estão tão trêmulas e bambas, que eu temo
despencar a qualquer instante.

— Como eu disse, seu projeto foi incrível. — Miguel


para de falar, comprimindo os lábios, a boca tornando-se
nada além de uma linha fina. Quando os seus olhos
encontram os meus, eu sei que não gostarei do que ele
tem a dizer em seguida: — Mas, por conta da sua
situação, concluímos que precisará se dedicar mais ao
seu filho, pois crianças requerem tempo e você precisará
disso. Portanto, decidimos dar a vaga em aberto para
Cristina.

Não consigo engolir a saliva, pois o bolo na garganta


aumenta até consumir toda a passagem de ar. Pisco uma,
duas, três vezes, aturdida.

— O quê? — Minha voz não é nada além de um mero


sussurro.

Miguel solta um suspiro resignado e apoia a mão em


meu ombro.

— Eu sinto muito, Brianna. Tentei convencê-los de


que você daria conta, mas todos nós sabemos como isso
termina. Em alguns dias. Com sorte, semanas. Você dará
à luz e ficará afastada por quatro meses.

Eu não posso estar realmente ouvindo isso, não, com


certeza não! Devo apostar que eu estou em um sonho
aleatório, ouvindo todas essas baboseiras articuladas
pelo meu cérebro amedrontado.

— Isso é um absurdo! — Ivana se manifesta,


indignada. — Você tem filhos? — pergunta para Miguel.

Ele engole em seco e olha para os dois sócios com


um sorriso amarelo no rosto.
— Não.

Ivana coloca as mãos na cintura em uma posição


defensiva, virando-se para os sócios.

— Vocês dois têm filhos?

Os homens se entreolham e um deles, o da direita, se


digna a responder.

— É claro que eu tenho.

— E a sua esposa trabalha?

— Sim.

— E ela tem utilidade no trabalho mesmo sendo mãe?


Pensei que a maternidade, segundo o conceito de vocês,
tornasse as mulheres inúteis.

— Ivana! — ralha Miguel.

Céus! Ela ficou louca? Ivana está discutindo com um


dos sócios da empresa, o homem todo poderoso capaz de
causar a sua demissão proferindo uma única palavra.

Agarro a mão de Ivana e dou um leve apertão.

— Está tudo bem. — sussurro em seu ouvido.

Ivana me lança um olhar de quem diz: “não, não está


tudo bem”.
— Obrigada pela oportunidade. — agradeço a Miguel
e aos outros sócios. — Com licença.

Puxo Ivana pelo braço para fora da sala, antes que


essa doida cause a sua demissão – e a minha –, pois eu
jamais permaneceria na empresa sem a sua companhia.
Na dispensa, entro com ela e fecho a porta, trancando-a
para impedir interrupções.

— Você ficou maluca? — exaspero, puxando os meus


cabelos.

Meu corpo começa a amolecer, meus músculos


relaxando após tanta tensão.

— Maluca? Você viu a forma como eles te trataram?


Isso é nojento e absurdo e retrógrado, Brianna! — grita,
incontida pela raiva.

Escoro-me em uma prateleira cheia de produtos de


limpeza, o baque da notícia começando a recair sobre as
minhas costas. Sei que estou chorando pela visão
embaçada que me impede de enxergar direito.

— Não podemos fazer nada.

— E, Deus! Cristina nem pós-graduada é. A menina


acabou de se formar! Eu estou urrando de raiva, possessa
por isso!
Não só Ivana está com ódio, pois eu também estou,
afinal, eles me obrigaram a estudar dia e noite.
Prometeram uma promoção depois que meu diploma
estivesse em minhas mãos. Eu deixei de lado para
alcançar todas essas implicações, coisas triviais como
comer e dormir. Renunciei ao meu lazer, da minha
comodidade.

Solto um suspiro, esfregando a mão em minha barriga


rechonchuda.

— Não podemos fazer nada. Eu preciso desse


emprego, mais do que nunca agora. — Aperto a ponta do
nariz com força.

— Eu sinto muito, Bri, muito mesmo. — Ivana me


abraça.

Sem condições de proferir mais nada, começo a


chorar, soluçando feito uma criança por ver os meus
sonhos escorrendo sobre os meus dedos. Mas não culpo
o meu filho por isso, culpo os homens asquerosos para os
quais trabalho.

— Você vai pegar o seu projeto de volta! — Ivana fala


depois de um tempo.

Enxugo as lágrimas e assoo o nariz em um pedaço de


papel higiênico que eu encontrei na prateleira.

— O quê? — Sinto minhas sobrancelhas franzirem.


— O projeto. — explica como se fosse óbvio. Então
continua ao ver minha confusão: — Eles não devolveram
o projeto, Brianna. Miguel elogiou para que só no final
desse o veredito e não entregou o projeto.

Ivana tem razão, eu fiquei tão nervosa e revoltada


que esqueci completamente do meu projeto. Mas, mesmo
que isso acarrete a minha demissão, pegarei de volta o
meu projeto, pois jamais deixarei alguém exercer uma
ideia que surgiu de mim, depois de muito trabalho e
noites mal dormidas.

— E agora? — pergunto.

— Vai lá, pede com licença e pega o projeto, simples.


É seu, sem promoção, sem projeto bom. — Dá de ombros.

Fungo.

— Certo, certo.

Arrumo os cabelos com os dedos, limpo o rosto mais


uma vez e saio da dispensa seguida por Ivana.

Revoltada, muito grávida e nervosa, é assim que me


sinto atualmente. Mas, acima de tudo, feliz por saber que
em breve serei presenteada com o mais lindo e puro amor
do mundo, meu eterno companheiro.
Zayn Artonino é o ser humano mais lindo que eu já vi
em toda a minha vida, apesar de ser igualzinho ao pai.
Desde o seu nascimento, cheguei à conclusão de que o
meu útero é uma máquina de xerox. E, embora tenha sido
necessário trinta e seis horas de trabalho de parto, eu
viveria toda a dor e sofrimento novamente só para tê-lo
em meus braços.

— Eu estou completamente apaixonada! — murmura


Maitê, com o sobrinho nos braços, encantada.

Mastigo um sanduíche natural suspirando por


finalmente conseguir comer alguma coisa sem as dores
das contrações.

— Ele é lindo, não é? — falo de boca cheia, incapaz


de parar de comer.

— Sim. — Maitê sorri, mas quando levanta a cabeça


para me encarar, o sorriso some dos seus lábios. — Mas
é muito parecido com Khalif, vai ser difícil manter a
identidade do pai escondida se ele ou Jamal ou qualquer
outro que o conheça, ver Zayn.

Suspiro.
— Eu sei e eu não ajudei em nada colocando nele um
nome árabe.

Maitê ri.

— Eu acho perfeito!

Zayn choraminga e se remexe no colo da tia,


automaticamente, deixo o sanduiche de lado e estendo os
braços em sua direção.

— Ele está com fome.

Esse início de amamentação tem sido difícil, tudo é


novo ainda, além da dor em meu peito e das rachaduras.
Mesmo assim, continuarei induzindo-o, pois o leite
materno é crucial para a sua formação.

Maitê se levanta, colocando o bebê em meus braços.


Dedilho o rostinho delicado dele, os cabelos pretos, o
nariz fino e a boca, iguais aos do pai.

Lindo! Com ele nos meus braços, começo a sentir


que absolutamente tudo valeu a pena. Meu coração chega
a inflar de tanto amor, o amor mais puro e verdadeiro que
eu já senti. Ao mesmo tempo em que sinto isso, me sinto
uma cretina egoísta por privar Khalif dessa emoção. Ele
tem todo o direito de saber sobre o nascimento do filho,
sobre a sua existência, eu sei disso, mas é difícil quando
ele mora tão longe e pode ser um pivô para afastar o meu
filho de mim.
Chega de me culpar! É hora de viver cada segundo
que a maternidade proporciona.
Seis meses depois

Me sento no sofá da minha sala com um copo de


uísque nas mãos. O nó da gravata desfeito, a camisa
aberta e os cabelos amarrotados depois de um longo dia
de compromissos governamentais.

Desde que eu assumi a liderança de Dubai há um ano


e meio, tudo na minha vida mudou drasticamente.
Começando pela minha liberdade, a qual foi parcialmente
privada, pois com tantos compromissos, foi impossível
continuar com as festas e a vida libertina. Também veio a
pressão da minha família para arranjar uma esposa e
parecer mais bem-feito aos olhos do nosso povo, é claro
que eu não cedi a esse capricho, ainda não.

Nunca mais ouvi falar nada da Brianna Artonino, a


brasileira que entrou em minha vida e balançou minha
cabeça. É como se tivesse sumido do mapa, nem mesmo
Jamal obteve notícias dela em suas viagens para o Brasil.

Depois de um tempo, deixei de lado a minha


obsessão pela garota e conheci Aiyra, minha namorada é
modelo, passa uma boa parte do tempo viajando, ou seja,
nos vemos de tempos e tempos. O sexo é bom e ela é
linda e gostosa pra caramba. Porém, como tudo há um
outro lado, Aiyra é muito ciumenta, às vezes beirando à
histeria e isso vem me cansando muito ultimamente, me
fazendo questionar o futuro da nossa relação.

Minha vida está tomando o rumo certo, o que eu


nasci para fazer e fugi por tanto tempo. E, embora eu
sinta que falta alguma coisa, mesmo assim, me sinto feliz.

Olho a hora em meu relógio no exato momento em


que a campainha toca. Ouço vozes e passos, em seguida,
Jamal aparece na minha linha de visão.

— Nossa, você parece acabado! — murmura


carinhosamente, sentando-se à minha frente.

Reviro os olhos e beberico mais um gole de uísque.


— Negócios e essas coisas. — Faço um gesto com a
mão.

— Ah, sei bem como é, inclusive, é um milagre que


finalmente tenhamos conseguido nos encontrar.

Ultimamente, Jamal e eu mal temos visto um ao


outro. Nas minhas folgas, ele normalmente está em visita
no Brasil ou Celina está aqui e, estranhamente, a
brasileira parece querer me evitar a todo custo. E quando
ele está sem Celina ou em Dubai, eu estou com Aiyra ou
em alguma reunião. Portanto, o que antes era algo banal
como sentar e conversar para beber, hoje é algo raro e
incomum.

— Como andam as coisas com Celina?

Se não me engano, em nossa última conversa, há


quase um mês, Jamal me disse que estava pretendendo
pedir a brasileira em casamento, mas, considerando a
falta de aliança em seu dedo ou a ligação para comunicar
às boas-novas, acredito que ele não tenha realizado seu
desejo.

— As mesmas de sempre, sabe como é. Ela vem um


mês, eu vou no outro. — Ele franze as sobrancelhas
escuras. — Apesar de que nos últimos meses ela tem
feito questão de vir até mim, impedindo-me de ir ao
Brasil.
Rio.

— Qual é o problema? Acha que ela está traindo


você?

Jamal me lança um olhar enviesado.

— Não, é claro que não! Só é estranho, sabe?

— Qual é a sua linha de raciocínio?

Jamal leva a mão ao queixo, massageando a barba,


pensativo.

— Eu não sei, já pensei em tanta coisa... as últimas


vezes que eu fui, Brianna me evitou, não vejo a garota faz
mais de ano. E agora Celina... — Perde-se em seus
pensamentos.

Brianna! Ouvir seu nome ainda me causa um estranho


arrepio na coluna. Eu gosto de Aiyra, mas nada com ela
foi tão... intenso, não como foi com Brianna.

— Vá ao Brasil, faça uma surpresa. — Dou de


ombros, dispersando os pensamentos sobre a brasileira
tumultuosa.

— Ah, mas eu já pensei em fazer isso. — Jamal para


de falar, olhando-me com os olhos semicerrados. —
Adoraria que você viesse comigo.

Solto um riso de escárnio.


— Não tenho tempo, Jamal. Além do mais, o que eu
faria no Brasil?

— Conhecer o lugar, ver... Brianna.

Bufo, pendendo a cabeça para o lado.

— Eu tenho uma namorada, Brianna foi algo do


passado, somente um caso de uma noite.

Dessa vez quem solta uma risada sem humor é


Jamal.

— Acha que eu sou idiota? Eu vi como ficou


obcecado por ela, só mudou de ideia por causa do seu
irmão e da pressão que ele colocou nas tuas costas.

Sim, ele tem razão e sabe disso. Se Khalil não


tivesse vindo falar comigo e pedir ajuda para governar o
País, talvez hoje eu e Brianna estivéssemos em um
relacionamento, assim como Jamal e Celina. Na época,
parecia o certo renunciar à garota, pois eu sabia o que
meu novo status iria requerer.

— Independente, Brianna deve ter seguido a vida,


deve estar com alguém e feliz. Faz um ano e meio, Jamal!
Fui seu primeiro homem, mas não sou insubstituível.

Jamal solta uma respiração ruidosa e esfrega o rosto.


— Tudo bem! Eu vou ver o que Celina tanto esconde
e quero que vá junto, porque, caso ela esteja pretendendo
me largar ou esteja apaixonada por outro, não sei como
vou superar o pé na bunda, e preciso de você para isso.
— fala a verdade, soando quase desesperador.

Tenho vontade de rir, porque jamais pensei que


ouviria Jamal falando assim de uma mulher, se bem que,
desde que Celina entrou em sua vida, Jamal nunca mais
agiu como o homem que eu conhecia. Mas agora, precisar
do meu apoio moral e psicológico para ir descobrir algo
que ele nem sabe se é verdade, bem, isso é um tanto...
burlesco.

— Você o quê? — me forço a perguntar.

Jamal revira os olhos.

— Você ouviu bem. Estou apavorado, Khalif! Eu até já


comprei a droga do anel de noivado! — exaspera.

Levo o copo aos lábios, escondendo um sorriso que


insiste em aparecer. Porém, Jamal está falando tão sério,
por um momento, pensei que tudo não passasse de uma
brincadeira, mas agora vejo que ele está realmente
apavorado.

— Eu posso ver na minha agenda, se você quiser...

— Allah! Obrigado! — agradece, soando aliviado.


Jamal realmente acha que Celina vai lhe dar um belo
pontapé e está desesperado o suficiente para me pedir
ajuda e ficar mais que agradecido por isso. Pobre homem!

— Você sabe mais ou menos quando terá um tempo


disponível? — pergunta, olhando alguma coisa em seu
aparelho celular.

— Eu não sei! Quanto tempo precisaríamos?

— Talvez uns quatro dias, considerando as horas de


viagem.

Seria muito, todo esse tempo afastado, porém, estou


mais do que precisando de férias e Khalil entenderia
perfeitamente isso, deixando seu braço direito em meu
lugar. Enfim, Jamal precisa de mim e eu preciso de
descanso, o que gera uma combinação perfeita.

— Vou ver com o meu secretário amanhã.

— Por favor, consiga isso o quanto antes, eu não


aguento mais ficar preocupado com Celina ou com o
desfecho de nossa relação. — suplica, com a voz
nervosa.

— Mas ela não tem vindo? Qual é o problema? Acha


que ela tem um amante só porque não lhe deixa ir ao
Brasil?
Jamal agarra os cabelos, puxando-os para trás e para
frente.

— É claro! Teve um mês em que Celina não veio e


não me deixou ir de jeito nenhum, isso já faz uns seis
meses. Quando eu questionei, ela disse que estava
enfrentando alguns problemas profissionais e precisaria
se dedicar inteiramente a isso. Depois, ela até veio, mas
nunca mais permitiu que eu fosse ao Brasil, como se
estivesse tentando me manter o mais longe possível de
lá.

Estranho! Jamal realmente tem motivos para


desconfiar, ainda mais com essa mudança súbita da
garota.

Levanto-me e caminho em sua direção, coloco a mão


em seu ombro e dou um leve aperto, reconfortando-o.

— Não se preocupe! Vamos descobrir o que está


acontecendo.

— Obrigado! — sussurra.

Retiro a gravata do pescoço e viro todo o líquido do


copo. Não me sinto mais confortável que Jamal por ir ao
Brasil, pois ir até lá significa rever fantasmas do passado
e reabrir dúvidas, como a que eu senti e vivi por tanto
tempo, questionando-me o motivo do porquê Brianna
simplesmente desapareceu após a nossa noite, sem
deixar vestígios.

Só espero que Jamal não esteja me levando para a


forca, uma vez que, minha vida não é completa, mas
segue nos eixos há mais de um ano e reaver minha
relação com Brianna significa questionar ainda mais
minha relação com Aiyra, algo que eu já venho fazendo
faz tempo. Afinal, a modelo e eu mal temos mantido
contato e quando fazemos, seus surtos de ciúmes acabam
estragando toda a nossa conversa, deixando tudo ainda
mais desgastado. Dessa forma, tenho me questionado se
não estou só prendendo Aiyra em um relacionamento
fracassado, sem futuro algum.

Paramos em frente ao apartamento da Celina e vejo o


quanto Jamal parece nervoso e ansioso. Retiro meus
óculos de sol para olhar o topo do prédio, admirado com
lugar bonito e muito bem construído de frente para o mar.

Chegamos ao Brasil faz algumas horas e eu já gostei


imediatamente. Apesar de estarmos no início do verão,
não é tão quente e seco como em Dubai, o clima chega a
ser até mesmo agradável.
— Você vai junto? — pergunta Jamal, as manchas
molhadas na camisa debaixo do braço revelando a
corrente de nervosismo potente que está sentindo no
momento.

Nego com a cabeça.

— Vocês precisam conversar, mas ficarei aqui


esperando. Se tudo der certo, me envie uma mensagem
que eu irei para o hotel, caso contrário, estarei aqui para
você.

Jamal aperta o meu ombro.

— Obrigado!

Ele suspira, então olha para a frente e começa a


caminhar, dando um passo de cada vez, oscilando vez ou
outra. Vejo sua silhueta sumir no prédio, assim que sua
entrada é liberada pelo porteiro.

É claro que nós pensamos em tudo. Jamal é


conhecido, pois antes da Celina começar a impedi-lo de
vir ao Brasil, ele estava sempre aqui com ela, portanto,
quando chegamos, ele ligou para o local para comunicar
que faria uma surpresa a namorada e pedindo que
liberassem sua passagem sem comunicar, o que foi
concedido.

Escoro-me no automóvel que alugamos e cruzo os


braços e pernas, esperando. Meu celular apita,
notificando o recebimento de uma mensagem, recolho o
aparelho e leio o conteúdo.

Aiyra: Estou com saudades! Amo você

Suspiro e guardo o aparelho de volta no bolso da


calça.

Depois da conversa que eu tive com Jamal há uma


semana, quando decidimos vir ao Brasil, cheguei à
conclusão de que Aiyra merece algo melhor e esse algo
não sou eu. Ela é uma boa mulher, doce, bonita e
independente. É digna de alguém que a ame de verdade,
coisa que eu não posso fazer. E por Allah, como eu já
tentei!

Ela sabe que eu estou no Brasil, eu lhe comuniquei


há alguns dias, mas não falei o verdadeiro motivo, disse
que viria para negócios. Ela, por outro lado, está em
Milão para um desfile. E é isso que me torna um péssimo
namorado, eu jamais fui em algum dos seus desfiles, pois
nunca tive tempo, mas assim que Jamal suplicou pela
minha ajuda, eu encontrei para ele o tempo que nunca
encontrei para Aiyra.

Meu celular toca e eu vejo o número dele na tela,


atendo no segundo toque com um sorriso nos lábios, já
imaginando que voltarei sozinho para o hotel.

— Deixa eu adivinhar, finalmente se acertou com


Celina e eu posso voltar sozinho? — Rio.

— Eu... eu nem sei como te contar isso. — gagueja.

No automático, me inclino, as mãos trêmulas,


imaginando mil e uma coisas para a sua ligação.

— Bem, isso não era o que eu estava esperando


ouvir.

Jamal solta um assobio, nervoso.

— Eu descobri por que Celina tem me mantido longe


esse tempo todo, na verdade, eu vi uma foto e tudo
começou a fazer sentido.

Droga! Não é possível que ela esteja realmente


traindo ele, pois eu esperava mais dela, ainda mais
considerando o quanto Jamal está apaixonado e valoriza
a união deles.

— E? Quem é o homem? — pergunto começando a


perder a paciência.

— Não! Você não está entendendo, não tem nada a


ver com Celina, tem a ver com Brianna!

Meu coração erra uma batida, minha respiração


acelera, ficando mais pesada, densa, difícil de passar
pelas vias aéreas, enquanto minhas mãos começam a
suar.

— Do que você está falando?

— Eu realmente sinto muito, Khalif! Se eu soubesse...

Minhas pernas falham, fazendo-me parar de


caminhar, trêmulas e bambas. Levo uma mão ao peito,
imaginando o pior e já antecipando a dor.

— Fala logo, porra! — Mesmo assustado, forço minha


voz a sair, aguardando para ouvir a malfadada notícia.

— Brianna teve um filho, estranhamente, ele bem


parecido com você.

Minha visão fica completamente turva, sinto como se


fosse desmaiar. A respiração que antes passava com
dificuldade, agora já não passam mais.
Chego em casa após um dia exaustivo no trabalho,
mas assim que escuto um choro misturado com algumas
palavras incoerentes, um sorriso brota automaticamente
em meu rosto.

Há dois meses, quando a minha licença maternidade


acabou, eu me senti uma péssima mãe por ter que deixar
Zayn em casa, além de me forçar a estocar leite para
amamentá-lo no meu tempo fora. Meu bebê sentiu tanto a
minha falta quanto eu senti a dele. E, por um momento,
um pequeno momento, me culpei por me sobrecarregar
com a maternidade sozinha, quando Zayn tem um pai, um
homem que eu tenho quase certeza de que assumiria o
filho. Mas esse lapso passou assim que eu lembrei que o
pai dele se encontra, 12.373 quilômetros de distância de
nós.

Entro na sala e encontro o meu filho brincando com


Neiva.

Neiva é uma senhora de pouco mais de sessenta


anos, mãe de três filhos e avó de cinco netos. Ela ama
crianças, é confiável e atenciosa. Foi um grande achado.

Uma das netas dela é técnica em enfermagem e


trabalha no mesmo hospital que Maitê, quando minha
licença maternidade começou a findar, eu me desesperei
em busca de alguém. Minha irmã comentou com a menina
e ela informou que sua avó estava procurando emprego,
pois a família das crianças que ela cuidava se mudaram
há pouco tempo para outra cidade, deixando-a
desempregada, e assim nós duas chegamos a um acordo.

Zayn finalmente me vê na porta, abrindo um sorriso e


estendendo os bracinhos na minha direção. Neiva se vira
para mim.

— Oh, senhora Brianna! Não havia visto que já


estava de volta, estávamos entretidos brincando.

Aproximo-me, plantando um beijo na têmpora de


Neiva e pegando Zayn no colo para amassá-lo e enchê-lo
de beijos depois de um longo dia longe dele.

— Eu sei, vocês pareciam estar se divertindo muito.

Planto beijos no pescoço lisinho e com cheirinho de


bebê, enquanto Zayn puxa o meu cabelo tentando levar os
fios à boca. Ultimamente ele quer morder tudo, mas
segundo a pediatra, os dentinhos estão prestes a nascer
e a gengiva fica irritada.

Neiva olha a hora no relógio da parede.

— A senhora vai precisar de mim para mais alguma


coisa? Eu já posso ir embora?

— É claro, Neiva, está liberada!

— Obrigada! Até amanhã!

— Até mais!

Sento-me no sofá com Zayn e observo a bagunça de


brinquedos espalhados pelo chão.

— Você é tão pequeno e mesmo assim faz tanta


bagunça. — Acaricio os seus cabelos.

Zayn me observa com seus olhos castanhos, na


mesma tonalidade que os do pai, então solta um
burburinho incompreensível, fazendo-me rir.
Nem sempre a maternidade foi fácil, se não fosse por
Maitê, Ivana, Celina e meus pais, tenho certeza de que eu
teria sofrido a tão apavorante depressão pós-parto. No
início, amamentar doía tanto que eu chorava todas as
vezes que chegava a hora e depois chorava mais ainda
por me culpar por causa disso. Quando a dor passou e eu
aprendi o jeito certo, Zayn passava as noites em claro,
então a falta de sono começou a me abalar, além da
exaustão física, veio a mental. Com o estresse evidente,
as meninas começaram a fazer rodízio para ficar comigo
durante o período noturno, para me ajudar a cuidar dele.
Cada uma renunciou ao seu conforto. Maitê tirou férias,
deixando o trabalho de lado, Ivana parou de sair e Celina
ficou mais de mês sem ver Jamal. Já minha mãe me
ajudava durante o dia, para que eu pudesse descansar ao
menos um pouco. E assim, eu consegui passar a fase do
puerpério.

Celina. Pensar na minha amiga me causa uma leve


pontada de culpa. Desde que Zayn nasceu, ela tem
evitado que Jamal venha ao Brasil com medo de que ele
descubra a existência do bebê, sendo assim, a relação
dos dois esfriou um pouco, afastando-os. E, embora o
brilho em seus olhos continue todas as vezes em que ela
fala do namorado, também é visível alguns resquícios de
tristeza.

Zayn puxa o meu cabelo com força, tirando-me das


divagações.
— Ei! Não pode fazer isso com a mamãe. — Puxo os
fios de volta, abrindo a sua mãozinha para liberar as
madeixas. — Vamos tomar banho?

Eu preciso tanto de um banho para descansar o corpo


e a mente, pois as coisas não andam muito boas no
trabalho, não desde que eles deram a promoção para
Cristina. Não que eu desmereça o seu trabalho, mas
poxa, ela é menos qualificada do que eu. Porém não é
mãe, o empecilho para impedir uma promoção. Além do
mais, quando eu peguei meu projeto de volta, comecei a
ser tratada com certo desprezo pela empresa. Mas como
preciso do emprego, ainda mais agora que tenho um filho
para sustentar, acabo me submetendo a tudo isso.

Já enviei currículos para inúmeros lugares, mas


sempre que sou chamada para uma entrevista de emprego
e eles perguntam o número de filhos, sou imediatamente
desclassificada.

Meu telefone toca.

— Quem será que está nos ligando? — pergunto para


Zayn.

Levanto-me com o bebê no colo e arrasto os meus


pés cansados até a mesa onde eu deixei a minha bolsa.
Vejo a foto de Celina e o seu nome estampado no visor.
— Já está com saudades do seu afilhado? —
pergunto, segurando o aparelho entre o ouvido e o
pescoço.

— Bri, você precisa ouvir atentamente. — Além da


respiração ofegante, significando que ela está correndo,
Celina parece nervosa.

— Céus, o que está acontecendo? — Trêmula, seguro


Zayn mais rente ao corpo.

— Eu não imaginei que ele fosse vir... meu Deu! Ele


só quis fazer uma surpresa, não pensei que a foto fosse
causar todo esse transtorno... eu só sinto muito... sinto
tanto... — murmura palavras desconexas.

— Tudo bem, Celina, o que você diz não está fazendo


sentido algum. Por favor, comece do início e seja mais
coerente.

Zayn tenta agarrar o celular, mas eu seguro sua mão


no ar, impedindo-o.

A campainha toca.

— Eu preciso atender a porta, mas vai falando que eu


vou ouvindo.

Caminho até a entrada do apartamento com um bebê


insistente querendo a todo custo o celular.
— NÃO! — grita Celina do outro lado da linha. — Só
não abra a porta!

Ao mesmo tempo em que ela fala isso, escancaro a


porta do meu apartamento. Dou um passo para trás como
se tivesse sido atingida, até mesmo Zayn para de se
mexer, sentindo a mudança drástica no ambiente.

O celular tomba no chão.

Khalif me encara, os olhos acusatórios e sérios. O


semblante, uma máscara impassível e, se não fosse pelos
cantos da boca levemente repuxados, não diria que ele
está tão furioso assim.

Vê-lo depois de tanto tempo causa coisas estranhas


no meu estômago, além da letargia e da falta de ar pelo
baque de ter a sua presença.

Seus olhos recaem no bebê ao meu colo, os dois se


encaram, tão idênticos, tão geneticamente parecidos. Vejo
algo passar nos olhos do Sheik, mas não consigo
identificar, pois é um misto de sentimentos conturbados.

Sem esperar, Zayn abre um sorriso para ele e


estende os braços, como se sentisse a presença do pai e
o identificasse. Khalif fica surpreso, mas não demora mais
do que poucos segundos para retribuir o gesto e retirar o
bebê do meu colo.
Pisco, atordoada demais pela cena que eu jamais
imaginei visualizar. Meu cérebro dá uma volta, entrando
em pane, as engrenagens voltando a funcionar lentamente
quando dou por mim que Khalif segura o meu filho.

— Eu... é... hã... — gaguejo, sem saber o que falar


ao certo.

— Como você pôde? — indaga, a voz inexpressiva,


fria como gelo.

Meus olhos correm de um para o outro, momento em


que o bebê abraça o pescoço do pai, como se estivesse
saudando-o, finalmente.

Um soluço se desprende dos meus lábios com a


cena, levo as mãos a boca, enquanto as lágrimas
começam a jorrar umedecendo meu rosto.

Khalif fecha os olhos, apreciando o contato, então


solta um suspiro profundo, triste, magoado. Quando
reabre os olhos, ele parece mais calmo.

— Eu posso entrar?

Sem condições de dar uma resposta verbal, limito-me


a acenar. Assim que ele entra com Zayn, fecho a porta e
sigo-os em direção a sala. Vejo que ele observa o
apartamento e seus olhos recaem sobre os brinquedos
espalhados pelo chão, fazendo-o oscilar por um pequeno
momento.
— Pode se sentar. — Consigo fazer minha garganta
funcionar.

Corro até o sofá e jogo alguns brinquedos que


estavam em cima do móvel no chão, liberando o lugar.
Khalif se senta, enquanto eu me acomodo na sua frente,
sentindo as pernas trêmulas assim que alívio o peso do
corpo.

Ele vira o filho de frente para si, analisando suas


feições, quando termina a análise, a raiva que eu vi antes
em seus olhos retorna com força total.

— Comece e a se explicar! — Embora o tom de voz


soe calmo, consigo sentir o redemoinho de emoções se
formando.

Desvio o olhar do seu, pigarreando.

— Não tem nada para explicar.

— Nada para explicar? O que essa criança significa,


então? Pensou em omitir a existência dele até quando?

Por mais que eu esteja errada, imediatamente me


sinto irritada pelo seu tom de voz.

— Ele é meu filho!

— Seu filho? Seu? Porque ele não se parece em


nada com você! — zomba, sem humor algum.
Cerro a mandíbula com força e aperto as mãos em
punho. Quando encaro Khalif de novo, toda a vergonha
que eu senti por ter tido a minha mentira descoberta se
esvai, deixando lugar somente para a raiva e o
ressentimento.

— Não interessa com quem ele é parecido. Ela é


meu!

As narinas de Khalif se dilatam, os olhos franzidos,


um esgar na boca bem desenhada. O Sheik respira fundo,
como se estivesse tentando se acalmar. E quando fala,
seu tom é mais pacífico:

— Eu vou pedir um exame de DNA, mas farei isso


somente para conseguir o direito sobre ele.

— O quê? — Levanto-me, exasperada.

Zayn se assusta com o meu movimento brusco e


começa a chorar.

Fechando os olhos, concentro-me no coração


trovejante, no choro do meu filho e no fato de que ele
precisa de mim. Mais calma, mas ainda trêmula, retiro-o
do colo de Khalif, o qual não protesta.

— Ele precisa dormir, está com sono. Podemos ter


essa conversa outra hora? — Deito o bebê em meus
braços e procuro sua chupeta pelo apartamento.
— Nós teremos essa conversa hoje! Faça-o dormir
que eu esperarei bem aqui.

Que inferno! Que homem teimoso e insuportável.

Sem protestos, recolho a chupeta de Zayn de cima da


mesa, entregando-a ao bebê. Ele se acomoda em meu
colo com o pano favorito tapando um dos olhos em sua
posição costumeira de dormir. Balanço o corpo de um
lado para o outro, sob a supervisão minuciosa do árabe.

Khalif pega o celular e digita uma mensagem, para


então recolocar o aparelho de volta no bolso, cruzar os
braços e voltar a me encarar.

Assim que Zayn pega no sono, levo-o até o seu


quarto, colocando-o em seu berço.

Fico parada por alguns segundos, respirando


profundamente com os olhos fechados, tentando me
concentrar e manter a sanidade intacta para a tempestade
que está por vir com o homem que neste momento, está
sentado em minha sala, me aguardando.

Eu não planejei nada disso, céus! Jamais me preparei


para enfrentar Khalif, pois nunca imaginei que ele
descobriria a existência do filho, não tão cedo, pelo
menos.

Engulo em seco, engolindo junto a vontade de chorar,


e de pegar Zayn e sair correndo, fugindo mundo à fora.
Querendo ou não, Khalif acabou de me ameaçar, dizendo
que pediria o direito sobre o filho, e foi justamente por
esse motivo que eu o mantive no anonimato.

Não surte, Brianna! Vai ficar tudo bem. Entoo


mentalmente como um mantra.

Saio do quarto, escorando a porta para que Zayn


tenha um bom e profundo sono, para que fique alheio a
conversa que se sucederá e para que não sinta toda a
pressão e ansiedade que está se instalando em nossa
residência.

Assim que chego à sala, me sento de frente para


Khalif, observando-o pela primeira vez com veemência.
Ele parece ainda mais lindo do que eu me lembrava. A
barba cresceu um pouco, deixando-o com as feições mais
sérias, o cabelo também parece maior, revelando a falta
de tempo para cuidar de si mesmo. Além do mais, Khalif
parece mais magro, menos musculoso do que eu
lembrava, mas ainda assim, lindo.

Um ano e meio.

Deus, faz tanto tempo!

— Estou esperando a sua explicação. — Quebra o


silêncio.

Passo uma mão no cabelo, sentindo a exaustão do


dia de trabalho, mais maternidade, e agora, mais essa
preocupação, tudo isso se acumulando em meu ser.

— Explicar o que exatamente, Khalif?

— Vai explicar por qual razão resolveu manter o meu


filho longe de mim.

Essa é a primeira vez que ele chama Zayn de filho e


eu não posso deixar de notar como seu tom de voz soa
resignado e amargurado com isso.

Não há mais como mentir ou fugir do inevitável, Khalif


tem razão, chegou a hora de colocar as cartas na mesa.
Como o tempo e a maternidade fizeram bem à
Brianna. Conheci uma menina jovem e atraente, mas hoje
estou sentado em frente a uma mulher sensacional.

Seu corpo ganhou curvas, os seios estão maiores e


até mesmo o rosto parece mais anguloso e maduro, além
do brilho em seu olhar, o qual aumenta drasticamente
todas as vezes em que olha para o filho. O meu filho.

Eu soube que era o pai da criança assim que Brianna


abriu a porta com o menino no colo. Eu o reconheceria em
qualquer lugar, pois é como ver uma imagem do passado,
uma fotografia da minha infância. Se meu pai estivesse
vivo, ficaria orgulhoso pela genética forte da família.

Além do mais, eu senti uma estranha conexão assim


que ele olhou para mim, mas quando abriu um lindo e
enorme sorriso, meu coração acelerou e eu senti um amor
profundo e arrebatador. Soube no exato instante que ele
me pertencia.

Nem sei como cheguei ao apartamento dela, minha


mente estava atordoada demais para decorar o percurso.
Por sorte, encontrei um táxi próximo do prédio da Celina,
pois não tinha condição alguma de dirigir. E assim que
Jamal conseguiu o endereço, a primeira coisa que eu fiz
foi correr para cá. Não sabia ao certo o que diria ou o que
eu faria, só sabia que precisava vir. E como Allah esteve
o tempo todo ao meu lado, o porteiro estava no banheiro
e um casal estava entrando, tudo corroborou para que eu
surpreendesse Brianna.

Agora aqui estamos nós, encarando-nos em um


silêncio cheio de significados. Brianna me olha como se
estivesse vendo um fantasma, ressentida, enquanto eu
lhe encaro com amargura.

— Ainda estou esperando... — murmuro, impaciente.

Tamborilo os dedos no encosto do sofá, ansioso


demais para ficar totalmente imóvel. Meus olhos pousam
nos brinquedos jogados no chão, reconheço como
mordedores infantis de silicone, pois lembro da época em
que os meus sobrinhos viviam com isso na boca.

— Eu nunca planejei contar para você. — A verdade


em suas palavras me causa um arrepio e uma dor absurda
no peito.

Pisco como se tivesse sido agredido, o que ela disse


me afetando tanto que eu sinto o gosto da bile na boca.

Suspiro, em busca de calma, não encontrando-a em


lugar algum.

— Você é ridícula! — cuspo as palavras com raiva.

Me sinto mais do que simplesmente enganado por


Brianna, me sinto traído! A amargura se inflando como um
sentimento pregresso.

A brasileira se levanta como se tivesse sido agredida,


ela passa as mãos no rosto e puxa os cabelos, nervosa e
irritada.

— Se falar assim comigo novamente, eu te coloco


para fora desse apartamento, entendeu? Pouco me
importa se é a porra de um príncipe em Dubai, porque
aqui não passa de um turista qualquer.

Esperava que, no mínimo, Brianna tivesse a decência


de revelar seu erro, de pedir desculpas, mas não uma
razão ilógica.
— Você esconde o meu filho de mim e quer o quê?
Flores e parabéns? — declaro sarcástico, elevando o meu
tom, enraivecido.

— Foda-se o que você pensa ou acha, Khalif! Eu


passei a gestação sozinha, passei a porcaria da fase do
puerpério sozinha e criei Zayn até os seis meses sozinha,
não preciso de você.

Meu coração parece prestes a saltar do peito e o


súbito silêncio com a constatação do que o nome significa
parece opressor.

— Você colocou um nome árabe nele... — murmuro,


as sobrancelhas franzidas, fazendo-a me encarar.

Brianna dá de ombros e coloca as mãos na cintura.

— Foi a forma que eu encontrei de homenagear


metade da sua genética.

Solto um suspiro profundo com a respiração elevada


pelo choque, pela emoção e pela raiva. Esse pode ser
considerando o dia mais impactante da minha vida.

— Você realmente não tinha planos de contar sobre


Zayn para mim, não é mesmo? — pergunto, do modo mais
displicente que sou capaz.

Zayn, o nome da criança, do meu filho, saí pelos


meus lábios causando fervorosos sentimentos. Agora que
ele é identificável, não passa mais de um bebê inominado.
Zayn Farzur, meu primogênito, o filho que eu não sabia
que existia.

Allah, terei um ataque cardíaco! Afrouxo o nó da


gravata, sentindo o ar se tornar rarefeito, dificultando a
minha respiração.

Brianna solta um suspiro e volta a se sentar no sofá à


minha frente, colocando uma mexa dos cabelos castanhos
atrás da orelha.

— Não, eu não tinha.

— Por quê?

Ela desvia o olhar e cruza os braços.

— Não sabia como iria agir... você não me procurou


depois que nós... é... bem, enfim. A descoberta da
gravidez foi um choque, eu não sabia o que fazer, mas
sabia que não poderia falar porque somos de culturas
diferentes e pensamos diferentes, então achei melhor
manter Zayn como um segredo e uma lembrança.

Eu a encaro em silêncio, com o coração acelerado,


tentando entender o que está realmente acontecendo
aqui. Agora, vendo a fragilidade na voz dela e a forma
defensiva como se põe, eu consigo compreender um
pouco do que ela passou.
Brianna não passava de uma garota jovem e ingênua,
e agora, vejo como a diferença das nossas idades pode
pesar. Eu fui seu primeiro homem, ela deve ter entrado
em pânico quando se viu grávida de alguém que não lhe
procurou depois de tirar sua inocência, de alguém que
mal conhecia, de um príncipe árabe que estava no outro
lado do mundo. Por mais que eu ainda seja incapaz de
perdoar a omissão das suas atitudes, não posso julgá-la.

— Quando você descobriu a gravidez? Eu nem


percebi que não usamos camisinha, estava ébrio de
tesão.

As bochechas de Brianna coram e ela disfarça um


sorriso com uma fungada.

— Eu descobri a gravidez dois meses depois.


Comecei a sentir os sintomas em poucas semanas, mas
ignorei, pois eu tomava remédio. Não na ordem certa,
mas tomava. Tentei acreditar cegamente que eu estava
daquela forma pelo final da pós-graduação, pelo
esgotamento que as horas de estudo e mais o trabalho na
empresa estavam me causando. Mas quando o
sangramento não veio e os sintomas pioraram, eu me
forcei a fazer o exame mesmo já pressentindo o
resultado.

Desvio o olhar de Brianna, incapaz de encarar os


seus olhos, não quando eu sinto tanta vergonha pela
minha irresponsabilidade. Era a primeira vez dela, cabia a
mim tomar os cuidados necessários para evitar
consequências da nossa noite.

— Você ficou com medo de me contar? — Forço-me a


continuar as perguntas, pois quero saber cada detalhe,
talvez ouvir cada parte que eu perdi desses últimos
meses.

— É claro! Eu deixei você sem maiores explicações,


eu errei, eu sei. Mas no fundo eu tinha esperanças de que
você viesse me procurar. — Sua voz morre, tornando-se
nada além do que um simples murmúrio. — E você não
veio, seguiu a vida. Eu não sabia como aparecer na sua
porta dois meses depois falando que eu estava grávida,
não sabia o que esperar. Não sabia o que fazer.

— Brianna, eu ia vir atrás de você, eu só não o fiz


por causa do meu irmão e da responsabilidade de
governar Dubai que ele colocou sobre as minhas costas.

Ela franze a testa.

— Então não veio porque precisava se dedicar


totalmente ao governo, mas nunca pensou em enviar uma
mensagem ou até mesmo um recado por Jamal?

Suspiro.

— Eu não queria te envolver em tudo isso. — digo a


verdade. — Não sabia o que esperar do governo e como
você me deixou, pensei que essa fosse uma escolha
sábia, que deveria seguir a vida.

Ela solta uma risada rouca, melancólica.

— Engraçado, não quis me envolver, mesmo assim,


arranjou uma namorada.

Brianna sabe de Aiyra? Bem, não que seja segredo,


pois o nosso relacionamento foi estampado em diversas
revistas de fofocas assim que assumimos ao público a
nossa relação.

Balanço a cabeça, dispersando os pensamentos.

— Você investigou a minha vida?

Brianna traz os olhos de encontro aos meus, séria e


frívola, completamente sem humor.

— Eu nunca disse que jamais pensei em te contar


Quando eu me senti sozinha, desamparada e carente, por
uma vez, uma única vez, eu cogitei te enviar uma
mensagem, então eu pesquisei o seu nome e me deparei
com o recente relacionamento e com seu status de
governante. Desde então, me mantive longe do alcance
de quaisquer notícias suas, tentando esquecer de vez a
sua existência.

Cruzo os braços, abalado pelo seu desabafo.


— Eu não tinha como saber...

— Não, não tinha. A culpa não é sua, eu deveria ter


lhe procurado para falar do Zayn, mas tive medo. Medo de
perder o meu filho. Medo de ser submetida a coisas que
eu não queria.

Um alerta vermelho pisca em letras garrafais na


minha mente.

— De ser submetida ao que, Brianna?

Ela engole em seco, mas não desvia o olhar.

— De ser submetida a ir embora para Dubai, de ter


que me casar com você, de... — Para abruptamente de
falar.

Arqueio uma sobrancelha, descrente.

— Acha que eu sou um monstro, mesmo depois de


tudo o que mostrei a você?

— Não, não acho. Mas com um filho, um herdeiro, as


coisas funcionam diferentes.

Sim, ela tem razão. Zayn precisa ser apresentado e


reconhecido como meu filho para ser declarado meu
herdeiro. Além do mais, os filhos ficam com os pais e não
com as mães, dessa forma, Brianna e eu entraríamos em
uma briga interminável, onde a melhor solução, com
certeza, seria o casamento.

— Funcionam, mas sempre é hora de mudar.

Ela semicerra os olhos.

— Como assim?

— Jamais permitirei que prejudiquem Zayn. Mas você


precisa saber que as coisas não serão fáceis.

— E se... e se Zayn for um segredo nosso? Você vem


ao Brasil, visita o filho e...

— Não! Eu quero que a minha família saiba da


existência dele, eles merecem isso. Quero que o meu
povo reconheça Zayn como meu filho, um príncipe
herdeiro.

— Mas... eu não irei embora, muito menos me casar


com você. — sussurra com um fio de voz.

Me sinto, de certa forma, ofendido com a sua


declaração, mas opto por pensar nisso depois. Chega de
brigas por hoje.

— Não precisamos nos casar. Mas quanto a ir


embora, precisarei que me acompanhe para Dubai, sem
prazo determinado para o retorno.
Brianna começa a coçar o pescoço, deixando a pele
vermelha pelo toque insistente. Reconheço essa atitude
como um hábito, algo que faz quando se sente apreensiva
ou nervosa e não sabe como se expressar.

— Eu tenho trabalho, Khalif, não posso largar tudo e


te acompanhar.

Lembro imediatamente que em uma de nossas


conversas, Brianna disse que iria se especializar em
paisagismo para conseguir uma promoção.

— Você conseguiu a promoção?

Vejo a forma como o seu olhar e semblante mudam.


Primeiro, ela franze a testa sem compreender, depois um
brilho de satisfação passa em suas irises e, por fim,
tristeza.

— Não, eu não consegui.

Dessa vez, quem fica perplexo sou eu.

— Mas você acabou de me dizer que já se


especializou, qual foi o problema?

Brianna respira fundo, então solta a respiração


lentamente.

— O problema é que eles consideram uma mulher


que é mãe incapaz de assumir um cargo importante, pois
o filho requer tempo e cuidados.

Cerro a mandíbula e aperto os punhos com força.

Pobre, Brianna! De quantos sonhos ela precisou abrir


mão para assumir uma gravidez inesperada? Além do
mais, qual foi o peso do fardo que precisou carregar
sozinha nas costas nesses últimos meses?

— Demita-se.

Brianna arregala os olhos.

— Você ficou maluco? Eu tenho Zayn para sustentar,


tenho contas a pagar. Ninguém sobrevive sem emprego.

— Zayn tem um pai. E eu preciso de você em Dubai,


quero apresentá-la para o povo e para a minha família,
por mais que não tenhamos nada e que você insiste em
enaltecer que jamais teremos, ainda assim é a mãe do
meu primogênito.

— Céus, Khalif! Eu preciso de um tempo para pensar.


É muita coisa para a minha cabeça, eu não consigo
raciocinar direito. Você, Dubai, emprego, Zayn, enfim...
não dá.

Olho a hora em meu relógio de pulso e percebo que


já está um tanto tarde, portanto, é hora de me retirar e
retornar amanhã de manhã para que possamos continuar
a conversa. Além do mais, quero fazer uma ligação para a
minha família e contar essa novidade.

Levanto-me e fecho os botões do meu blazer no


processo.

— Eu vou deixá-la descansar, mas amanhã cedo


estarei de volta.

— Não vai dar, eu trabalho.

— Bem, e Zayn fica com quem?

— Com Neiva, a babá.

— Então eu virei vê-lo.

Pela expressão de Brianna, ela não está convencida


nem contente sobre eu vir ver o filho sozinho. A brasileira
tem medo de que eu pegue o bebê e fuja do País, pelo
visto.

— Por que você foi embora sem falar nada, Brianna?


— faço a pergunta que queimou em minha mente por
tantos meses.

Brianna franze a testa e aperta os lábios, pensativa.

— Eu queria ser diferente das outras. — confessa.

Solto um riso de escárnio.


— E de fato você foi.

Antes que ela possa falar alguma coisa, a campainha


toca, mas não é necessário ninguém abrir. Em poucos
segundos, o apartamento é invadido por uma Celina
afobada, seguida por Maitê e Ivana, as duas últimas mais
brancas que papel.

— É... oi, Khalif! — Celina fala entre uma lufada de ar


e outra.

Sinto um sorriso brotando em meus lábios, as três


mulheres parecem, além de apavoradas, atrapalhadas e
prestes a pular no meu pescoço, se julgassem necessário.

— Olá, Celina. — Dirijo um olhar para as outras, à


guisa de cumprimento. — Maitê e Ivana, como vão?

Maitê faz um aceno de mãos, enquanto Ivana se


contenta em balançar a cabeça. Com isso, vejo meu aval
para deixá-las sozinhas.

— Até mais, Brianna.

Não espero uma resposta dela, giro nos calcanhares


e arrasto os pés para fora do seu apartamento. Faço o
percurso pelas escadas, com o coração inquieto e o peito
apertado. Na rua, encontro Jamal prestes a vomitar.

— O que foi? — Coloco a mão sobre o ombro do meu


amigo.
— Ainda bem que você tem um herdeiro, porque
depois do chute que levei da Celina nas bolas por contar
o segredo, acredito que eu esteja incapacitado.

Solto uma gargalhada.

— Vamos para o hotel, temos muitas coisas para


conversar e assimilar.

Jamal concorda, destrancando o carro para que


possamos entrar.

Conforme o automóvel vai avançando pelas ruas


desconhecidas, a realidade vai penetrando, pouco a
pouco, na minha mente atordoada.

— Como você se sente? — pergunta ao virar à direita


em um cruzamento, conforme o desenho do GPS instrui.

Observo a paisagem pelo vidro, a cabeça em um


turbilhão e o coração inflado com sentimentos que eu
ainda não sei identificar, pois é tudo novo e diferente.

— Eu ainda não sei. — respondo a verdade.

Eu gosto de crianças, amo conviver com os meus


sobrinhos, mas nunca pensei como seria ter os meus
próprios filhos, e agora eu tenho um. Um lindo bebê
sorridente e tão parecido comigo e com a minha família.
— Eu não sei. — repito, absorvendo tudo o que vi e
senti nos últimos minutos.
Muito tempo depois da saída de Khalif eu me mantive
no mesmo lugar, imóvel e incapacitada de conseguir fazer
qualquer coisa, não sem arriscar desmoronar no chão
pelas pernas trêmulas.

Celina me puxa pela mão, parecendo tão abalada


quanto eu, ela me arrasta para o sofá, sentando-me
calmamente. O toque frio das palmas das suas mãos
revelando o quanto está soturna.

— Zayn? — Maitê joga o corpo no encosto da


poltrona.
Aponto com o queixo em direção ao seu quarto, ainda
sem condições de responder em tom de voz alto.

Ivana solta um assobio e ocupa o espaço ao lado da


minha irmã.

— Amiga, você se meteu em uma enrascada, hein?

Nesse exato momento Celina começa a chorar,


soluçando debruçada no sofá.

— Celina qual é o problema? — Ivana segura os seus


cabelos, acariciando-os de um jeito carinhoso.

Celina limpa o rosto com o dorso da mão e funga. Ela


se acomoda ao lado de Ivana, todas ficando de frente
para mim, então suspira fundo e começa a mexer as
mãos, nervosa.

— É culpa minha! — revela.

— O quê? — Maitê grita, saindo imediatamente de


seu estupor, fazendo Celina se encolher.

— Eu estava em casa prestes a ligar para Brianna


perguntando se ela queria a minha companhia quando a
campainha tocou e eu dei de cara com Jamal. Quando eu
o vi parado na porta, inicialmente eu fiquei feliz por vê-lo,
pois estava com saudades, mas assim que ele entrou no
meu apartamento e viu a foto do batizado de Zayn, eu não
pude fazer mais nada.
Deus! Zayn foi batizado quando tinha pouco mais de
quatro meses, e é claro que as meninas foram convidadas
para serem as madrinhas dele. Na ocasião, Maitê fez
questão de servir um almoço para os amigos íntimos e
organizar um espaço para registrar o momento, sendo
assim, nós tivemos a brilhante ideia de tirar uma foto. As
quatro melhores amigas e o novo membro do grupo. Eu vi
a imagem em um porta-retratos no rol de entrada da casa
de Celina, mas jamais pensei que pudesse causar tantos
problemas.

— Você é idiota ou o quê? Como assim deixa uma


foto de Zayn em sua casa, ainda mais com Jamal tendo
acesso. — brada Maitê.

Uma lágrima solitária rola pela bochecha direita da


minha amiga, mas ela ignora o surto da minha irmã,
mantendo os olhos em mim enquanto fala:

— Eu jamais esperei que Jamal viesse ao Brasil,


como você sabe, eu venho o evitando e somente por isso
coloquei a fotografia na minha casa. — Celina solta uma
respiração longa e olha para o teto, tentando acalmar as
lágrimas. — Foi tudo tão rápido, Jamal viu a foto, se
aproximou para analisar melhor, leu o nome e então saiu
correndo ligando para Khalif. Eu pensei que teria um
tempo para te preparar, sei lá, ajudá-la a fugir do País,
mas Khalif estava no Brasil e eu não sabia. Eu sinto
muito, Bri.
Faço o mais improvável, sorrio, para logo cair em
uma gargalhada que não consigo controlar, chegando a
dobrar ao meio de tanto que a minha barriga dói pelo
esforço. As meninas ficam sérias, me encarando, algumas
com a testa franzida e um olhar acusatório, enquanto as
outras formam a boca em um perfeito “oh” pelo espanto.

— Ela está em choque, isso é uma reação comum. —


Maitê faz um gesto com a mão.

Rio tanto até o ar faltar dos meus pulmões e os


músculos do meu admonem protestarem pelo esforço.
Limpo as lágrimas acumuladas no canto dos olhos, mais
calma, respiro fundo.

— Desculpem. — cicio.

— Bem, isso foi... estranho. — Ivana mantém o rosto


franzido.

Pigarreio.

— Khalif quer me levar para Dubai.

— O QUÊ? — O som de vozes se mistura, pois as


três falam ao mesmo tempo.

— Ele quer que Zayn seja apresentado à família e ao


povo. Quer que o filho tenha os mesmos direitos que um
herdeiro legítimo, embora seja um filho fora do
casamento.
Celina solta um pequeno gemido, fazendo todos os
olhos se voltarem a ela.

— ISSO É PERFEITO! — Sorri pela primeira vez


desde que chegou no apartamento, levantando-se pela
animação.

— Como assim é perfeito? — Ivana lhe lança um


olhar estranho.

As bochechas de Celina coram, ela volta para o sofá,


encarando as próprias pernas.

— Eu... é... hã... vai ser bom ter companhia. —


Lentamente, ela levanta a mão esquerda e vira para que
todas nós possamos ver o anel com uma pedra enorme de
brilhantes que reluz em seu dedo anelar.

Levo as mãos à boca, sem condições alguma de dar


uma resposta.

— Meu Deus! Você vai se casar? — Ivana é a


primeira a perguntar o que todas nós temos vontade, mas
falta coragem.

— Sim!! — Celina bate palmas e mais lágrimas se


acumulam em seus olhos. — Jamal fez o pedido logo após
toda a confusão. Ele achou que eu estava o traindo ou
querendo terminar o relacionamento por estar evitando
que viesse ao Brasil. Disse que queria fazer isso há um
tempo, mas não fez por essas questões.
Oh, pobre da minha amiga! Eu inventei uma mentira e
trouxe todos juntos na minha teia, inclusive ela e o seu
relacionamento, quase declarando o seu fim.

Sou uma egoísta, uma maldita egoísta.

Maitê parece ainda absorver a notícia que Khalif sabe


da existência de Zayn, portanto, permanece silente. Já
Ivana tem certa aversão sobre casamento com árabes,
cabe a mim parabenizar Celina.

— Parabéns! Fico feliz que vocês tenham se


acertado! — Levanto-me para abraçá-la.

Celina olha para Ivana e Maitê, esperando que elas


lhe deem felicitações, mas como não o fazem, bufa,
irritada.

— Você ficou doida? Sabe que terá que usar àquelas


roupas esquisitas, não é? — Ivana finalmente se
pronuncia.

Celina revira os olhos.

— Eu estou apaixonada por Jamal. E respondendo a


sua pergunta, não, eu não precisarei usar hijab, pois
segundo o livro sagrado, não é obrigatório, as mulheres
usam por questão de honra.

Isso é uma novidade para mim, sempre achei que as


vestimentas fossem obrigatórias. Confesso que me sinto
um pouco aliviada por descobrir isso.

— E desde quando você lê livro sagrado, aliás, desde


quando você lê algum livro? — Ivana joga os braços para
cima, estupefata.

— Eu li o Alcorão [ v i i i ] faz algumas semanas. — Celina


levanta um dedo em riste. — E nunca li antes porque não
achei necessário, pois não acrescentaria em nada na
minha vida.

Ivana abre um sorriso zombeteiro.

— Ah, é claro! E ler uma bíblia árabe deve ser um


livro e tanto.

Antes que elas possam continuar a discussão, Maitê


se levanta abruptamente, colocando as mãos na cintura.

— Celina, parabéns pelo seu novo status, espero que


você e Jamal sejam muito felizes. Agora podemos falar
sobre um caso mais importante do que a droga de um
livro sagrado? Khalif sabe de Zayn e nós escondemos sua
existência por um motivo bem específico. — Ela gira o
corpo em minha direção — Bri, você sabe o que vai fazer?

Por um momento, um pequeno lapso de tempo, eu me


contagiei tanto com a felicidade de Celina que esqueci
completamente da bela enrascada em que eu me meti.

Suspiro e passo as mãos nos cabelos.


— Eu não sei — falo a verdade e nada além dela. —
Khalif quer que eu me demita e vá para Dubai, mesmo eu
tendo sido relutante com o casamento.

— Uau! Você poderia se casar com ele, isso seria


ótimo, na verdade. Poderíamos morar uma ao lado da
outra e as meninas iriam nos visitar e... — Celina começa
a fazer planos, mas Maitê a ignora.

— E o que você quer fazer?

— Eu odeio o meu emprego com todas as minhas


forças, mas apesar de tudo isso é ele quem me sustenta.
Eu amo minha independência.

— Então mande Khalif para a puta que pariu e pronto.


— pontua Ivana.

— Mas... — continuo — Khalif é o pai de Zayn e meu


filho tem todo o direito do mundo de receber tudo o que
ele tem a ofertar. — Respiro fundo, escorando as costas
no encosto macio do sofá e cruzando os braços em frente
ao peito. — Maternidade significa abrir mão de muitas
coisas, dentre elas, das próprias vontades em prol do bem
do filho. Eu amo Zayn mais do que tudo, mais do que
qualquer coisa no mundo, mas seria uma mãe estúpida se
dissesse que tudo é igual antes dele nascer, porque não
é. Eu não recebi a promoção que eu queria, eu não tenho
mais todo o tempo que eu tinha para sair com vocês e
estou exausta, mentalmente e fisicamente e, apesar de
tudo isso, não me arrependo nem por um único segundo
de ter tido o meu filho.

— Bri, nós estamos aqui para o que precisar, você


sabe disso... — Maitê dá um passo em minha direção,
mas eu levanto a mão, interrompendo-a.

— Eu irei com Khalif.

Um silêncio mortal se estende pela sala, ninguém fala


nada, ninguém se mexe e ninguém sequer respira.

— Tem certeza disso? — Ivana se debruça sobre o


próprio corpo, aproximando-se de mim.

Maneio a cabeça em sinal positivo.

— Você sabe que nós poderemos encontrar outra


solução e...

— Eu quero ir, Maitê! Meu filho merece isso. Que tipo


de mão eu seria se o privasse do convívio com à família
paterna?

— Brianna tem razão. Ela já privou Khalif de toda a


gestação e de seis meses de vida do filho, agora chegou
a hora de ceder. — Celina dá de ombros.

Ivana solta uma risada sem humor.

— Me diz onde ele estava quando ela ficou nove


meses em sofrimento pelas modificações do corpo? Onde
ele estava quando ela ficou trinta e seis horas em
trabalho de parto? Onde ele estava quando ela sofreu
durante todo o puerpério? — Celina abre a boca, mas
Ivana levanta a mão. — Ah, sim, ele estava feliz da vida
comendo uma modelo bonitona e esbanjando isso em
todos os jornais.

Pela contração na mandíbula da Celina e o cerrar de


punhos, ela não está gostando nada do rumo que a
conversa está levando.

— Você está sendo injusta, Khalif não sabia que seria


pai. Aliás, se tivessem seguido o que eu sempre falei,
nada disso teria acontecido.

Khalif não sabia do filho, eu sei que não, a culpa foi


toda minha que escondeu isso dele e da família, mesmo
assim, me sinto ressentida por ele ter seguido a vida e
esquecido da minha existência.

Antes que Ivana e Celina possam dar continuidade a


mais essa discussão, me levanto do sofá.

— Não podemos mudar o passado, mas eu posso


mudar o futuro. Antes um pai seria algo inimaginável para
Zayn, mas hoje já não é mais. Eu irei para Dubai, estou
decidida.

— Sendo assim, nós iremos, Bri. Eu já teria que ir de


qualquer jeito, Jamal não tem família para me apresentar,
mas quer que eu escolha algumas coisas para o
casamento e veja uma casa, caso eu não goste da sua...
enfim, sei que vai se sentir mais confortável se tiver
companhia.

Sinto vontade de chorar por, apesar de tudo, ter a


oportunidade de ter amigas tão maravilhosas como as
minhas, as quais estão sempre disponíveis para mim a
qualquer momento.

— Obrigada! — Limpo o canto do olho com o dedo.

Ivana bate as palmas da mão nas pernas, causando


um estalo, levantando-se.

— E agora? Quando você vai viajar?

Passo as mãos no rosto, exausta.

— Agora eu tenho que resolver as coisas no trabalho,


apresentar Khalif aos meus pais e... Deus! Muitas outras
coisas.

Sinto o toque acolhedor de Maitê em meu ombro.

— Estamos aqui para lhe ajudar, não se preocupe.

Estou nervosa, apreensiva e temerosa com o que


está por vir, mas saber que tenho minhas amigas comigo
faz com que um terço desses sentimentos diminua
drasticamente.
As meninas, depois de muita insistência minha,
finalmente vão embora, deixando-me sozinha. Deitada em
minha cama, encaro o teto escuro do meu quarto, incapaz
de dormir com a cabeça atordoada por inúmeros
pensamentos.

Khalif tem uma namorada agora, como ela reagirá a


notícia de que ele tem um filho? E a sua família?

Tantas, tantas perguntas sem resposta.

Suspirando, levanto-me da cama e vou até o quarto


de Zayn, o bebê dorme calmamente em seu berço. Com
cuidado, retiro-o do lugar, fazendo de tudo para não o
acordar. Retorno para a minha cama, coloco alguns
travesseiros na ponta e deito meu filho ao meu lado,
inspirando o seu cheiro delicioso de flor de laranjeira,
trazendo a sensação de calmaria. Só assim eu consigo
dormir.
Encaro o celular sem conseguir efetuar a chamada,
incapaz de saber o que falarei assim que alguém atender
a ligação. Pelo horário, minha família recém acordou e
desfruta de um bom café da manhã, juntos. O que é a
ocasião perfeita para noticiar algo tão importante,
contudo, não sei bem como eles irão reagir a notícia da
existência de Zayn, pois nem eu mesmo sei como eu
estou reagindo.

Olho pela janela do meu quarto de hotel, as luzes dos


postes da rua iluminam a praia, enquanto as ondas
quebram na areia, trazendo uma sensação de
comodidade.
Solto uma respiração ruidosa e cansada.

Quando concordei com Jamal em vir para o Brasil,


pensei que eu tiraria longas e primordiais férias, jamais
imaginei que essa viagem me revelaria uma surpresa
maravilhosa, e com ela longos dias de trabalho. Afinal,
além de falar com a minha família, preciso conversar com
Aiyra e terminar o relacionamento, como já era da minha
vontade antes mesmo de saber que tenho um filho.
Depois tenho que preparar alguma forma de divulgar que
sou pai, destacando em manchetes e redes sociais, para
que o meu povo possa saber que há mais um príncipe
herdeiro.

Sem enrolar mais, ligo por chamada de vídeo para o


celular do meu irmão. A cada toque o meu coração falha
uma batida em nervosismo.

Khalil atende com um sorriso no rosto e como eu


imaginava, pela visão periférica posso notar que está
sentado à mesa.

— Khalif, com saudades? Como está aí no Brasil? É


tão bonito o quanto dizem que é?

Coço a cabeça com uma mão, arrastando os


segundos, postergando o meu tempo.

— Quem está aí com você?


Vejo as sobrancelhas escuras do meu irmão franzir,
mas ele não faz nenhuma pergunta.

— Mamãe, os garotos e Zaya. — Vira o celular e


todos me abanam, sorrindo.

Limpo a garganta.

— Você poderia colocar o telefone em um lugar onde


eu possa ver todos enquanto falo?

Khalil abre a boca, mas alguém arranca o celular de


suas mãos e, em seguida, vejo o rosto de minha mãe na
tela.

— Khalif, está tudo bem? Você parece estranho.


Aconteceu alguma coisa? Está machucado? — Minha mãe
me bombardeia com perguntas, sem esperar a resposta
entre uma e outra.

— Estou bem, sem ferimentos. — Ouço-a suspirar em


alívio. — Mas aconteceu algo, por isso preciso falar com
vocês, agora.

Pela forma inconstante com a qual a câmera se


movimenta, sei que Fátima ficou trêmula. Alguns minutos
passam e eu ouço burburinhos e ruídos pelo celular
passar de mão em mão. Em seguida, vejo através da
câmera Khalil colocando o aparelho na mesa de frente
para todos, afastando-se para se sentar ao lado de Zaya.
Até mesmo os meus sobrinhos encontram-se em completo
silêncio, o que consiste em um verdadeiro milagre.

— Pode falar. — induz meu irmão.

— Não sei como dar a notícia de forma menos


arrebatadora. Então, aqui vai: eu tenho um filho.

Quando eu encaro de volta a tela e percebo que


ninguém pisca, penso que a chamada travou, mas quando
olho para a mão de Khalil e vejo-o apertando a perna de
Zaya, sei que eles só estão reagindo ao choque do que
acabaram de ouvir, então continuo:

— Jamal está noivo de uma brasileira, como já devem


saber, ele vem namorando ela há algum tempo. Há um
ano e meio, aproximadamente, quando eles se
conheceram, ela foi para Dubai com um grupo de amigas,
na ocasião eu conheci Brianna e nós.. — Coço a nuca,
constrangido pelo assunto. — ficamos juntos.

Khalil, de forma singela, maneia a cabeça em sinal


positivo, confirmando que sabe exatamente de quem eu
estou falando, pois foi após ter levado as meninas para à
tenda da família que ele resolveu impor dois governantes
em uma forma de colocar alguma responsabilidade em
minhas costas.

— Espera! Você não sabia do filho? — mamãe sai do


estupor.
— Não até hoje. Brianna escondeu a gravidez e
planejou não contar sobre a existência do bebê.

— Por quê? — indaga Khalil.

Dou de ombros.

— Pela distância, pela diferença em nossos


costumes, por muitos fatores.

— Você viu a criança? Tem certeza de que é o seu


filho? — continua o meu irmão.

Um sorrio involuntário brota em meus lábios.

— Sim, eu vi. O nome dele é Zayn e ele é tão


parecido comigo que vocês ficariam surpresos.

— Allah! — comemora Zaya batendo palmas. — Um


filho é sempre uma benção, agora um filho homem... ah,
Khalif, você foi abençoado por Allah. Precisamos
comemorar!

— Você vai trazê-lo para casa, não vai? — Mamãe e


Zaya riem, trocando ideias com o olhar.

— Brianna concordou em ir comigo para Dubai,


acredito que em pouco mais de algumas semanas nós
retornaremos.

Khalil abre tanto os olhos que chega a me assustar.


— E você vai ficar todo esse tempo no Brasil?

— Não vou deixar o meu filho, Khalil.

— E nem deve! Só Allah sabe o que essa menina


pode fazer com o meu neto! Se ela já escondeu sua
existência por todo esse tempo. — Os lábios se repuxam
em desgosto. E acrescenta: — A criança pertence ao pai!

E aí está o grande problema que precisarei enfrentar.


Em tese, a guarda de um filho é discutido perante o juiz,
contudo, normalmente esta é concebida ao pai, pois ele é
o responsável pela educação do filho, e, por
consequência, muitas pessoas acreditam que a criança
pertença ao pai em nossa cultura.

— Mãe, Brianna é brasileira, as coisas são diferentes


aqui. No Brasil, a guarda fica com a mãe,
independentemente de qualquer coisa.

— Isso é um absurdo!

Solto um suspiro.

— Preciso que vocês entendam as coisas, por favor!


Somos de culturas diferentes e isso foi o que mais
assustou Brianna, tanto ao ponto de ela manter meu filho
escondido de mim.

— E ela está realmente de acordo em vir com você?


— pergunta Khalil.
— Insha'Allah [ i x ] — Zaya levanta as mãos para o alto.

— Sim, e é por isso que eu preciso que vocês sejam


compreensivos. Quero que Brianna se sinta em casa.

— Você vai se casar com ela, Khalif, não vai?


Podemos convencê-la a seguir os nossos costumes e...

— Não temos planos de nos casar, mãe.

Minha mãe semicerra os olhos e leva uma mão ao


peito.

— Que Allah tenha piedade da sua alma, Khalif! Criei


meus filhos para que se tornassem homens de respeito,
mas você parece fazer questão de me envergonhar.
Chelb [ x ] ! — sussurra a última parte.

Minha cunhada dá um solavanco na cadeira, virando-


se para a sogra no mesmo instante, espantada pela sua
falta de respeito.

— Crianças, vão brincar na rua, está um dia lindo! —


Zaya corre os filhos da sala depois da avó deles falar uma
palavra desagradável na companhia de crianças.

Fico em silêncio, espantado demais para proferir


qualquer coisa. Nunca na minha vida eu vi minha mãe tão
furiosa como hoje. Além do mais, ela me xingou! E essa
foi a primeira vez em meus trinta e seis anos nesse
mundo.
Khalil finge um ataque de tosse para disfarçar um
sorriso, enquanto Zaya bate em suas costas preocupada
com a saúde do marido.

— Enfim, Khalif, você tem alguma foto de Zayn para


nos mostrar? Eu adoraria conhecer o meu sobrinho. —
Minha cunhada abre um sorriso.

— Infelizmente não deu tempo de tirar foto alguma,


mas assim que amanhecer eu irei até o apartamento da
Brianna, então farei muitas e muitas fotografias dele para
apresentá-lo a vocês.

— Você disse que Brianna é brasileira, contudo, ela


escolheu um nome árabe, por quê? — Finalmente Khalil
teve a decência de parar de sorrir.

— Ela disse que queria dar ao filho algo que o fizesse


lembrar as suas origens, por isso escolheu esse nome.

— Gostei mais dessa moça, já me sinto ansiosa para


conhecê-la. — fala Fátima, embora ainda não olhe em
minha direção.

Brianna e eu teremos muitas coisas para enfrentar de


agora em diante, ao menos, minha família teve uma
atitude muito melhor do que eu esperava. Agora só falta
Aiyra e o restante do nosso povo.

Olho a hora no canto da tela do celular.


— Eu preciso ir dormir, quero estar cedo no
apartamento dela.

— Certo, certo! — Khalil se levanta, caminha até o


celular e o retira de onde quer que tenha depositado. —
Até mais, irmão.

— Até mais.

Sem esperar as despedidas dos demais, ele encerra


a ligação.

Jogo o celular na cama e esfrego os olhos. Apesar do


cansaço e esgotamento, não consigo me sentir sonolento
por causa do fuso-horário.

Fecho os olhos, tentando descansar nem que seja a


mente. Estou prestes a pegar no sono quando o meu
celular toca, me acordando de súbito. Olho o nome na tela
e vejo que é Aiyra, suspiro e, por um momento, penso em
deixar cair na caixa de mensagens, mas isso seria injusto
com ela.

— Khalif. — atendo.

— Oi, meu amor! Onde você está? Ainda no Brasil?

— Sim.

— Tenho uma notícia excelente! — grita, fazendo-me


afastar o aparelho do ouvido. — Estou voltando para
Dubai em uma semana, poderemos passar uns dias
juntos. Isso não é maravilhoso?

Que Allah me ajude! Não quero falar para Aiyra que


tenho um filho, muito menos terminar o relacionamento
por telefone.

— Aiyra eu...

— Eu sei, vai dizer que está lotado de serviço e que


não poderemos passar tanto tempo assim juntos, mas
prometo que irei compensá-lo por isso.

Aperto a ponta do nariz com força, a falta de sono


começando a virar em dores de cabeça.

— Aiyra, eu não voltarei para Dubai na semana que


vem.

— Como assim não vai voltar? — Seu tom de voz


muda drasticamente, antes era carinhoso e manhoso,
agora é seco.

— Alguns compromissos no Brasil surgiram, dessa


forma, precisarei estender minha estadia aqui. — minto,
embora não seja uma mentira completa.

— Como assim Khalif? Então eu irei até você.

— Não.
Aiyra fica em silêncio, ouço sua respiração pesada no
autofalante do celular.

— Eu preciso conversar com você, mas que seja


pessoalmente.

— Você está me traindo, é isso? — Sei que está


chorando, mesmo que ela não diga.

— É claro que não! Por favor, não comece com isso


novamente.

Esse é um problema recorrente em nosso


relacionamento, a falta de confiança. Nunca trai Aiyra
com ninguém, além da falta de tempo, sempre fui
relutante em falar que para mim só há uma mulher em
minha vida. Quando eu era solteiro, andava com várias,
mas sem compromisso, desde que engatamos um
relacionamento sério, nunca mais houve ninguém, e
mesmo assim Aiyra insiste em achar que é traída todos os
meses, em quase todas as conversas que temos. Às
vezes eu só estou irritado com algo do trabalho ou
cansado pela correria do dia a dia e quando nos falamos,
pela diferença no meu tom de voz, ela já julga ser traição.

— O que você quer que eu pense, Khalif? Eu quero ir


visitá-lo, mas você parece me evitar, só há uma
explicação para isso...
— Não! Chega! — interrompo-a perdendo a paciência.
— Se for começar novamente com essa discussão,
encerrarei a ligação agora.

A verdade é que as coisas entre nós dois esfriou já


faz muito tempo. Ter Aiyra longe, sempre viajando,
acarretou nosso afastamento. No início era bom, quando
ela retornava nós matávamos a saudade como se o
mundo fosse acabar no dia seguinte, contudo, com o
passar dos meses, acabamos caindo na rotina. Eu nunca
amei Aiyra, eu gostei dela e ainda gosto, mas nada disso
se tornou amor. Estamos em momentos diferentes da
nossa vida, agora eu tenho um filho e um povo para
governar, enquanto ela tem intermináveis desfiles.

— Não! Eu amo você! Ficar longe por tanto tempo me


deixa ansiosa e apreensiva.

— Aiyra, eu preciso dormir ou não terei energia para


enfrentar o dia. Até mais.

— Você é meu, está ouvindo? MEU!

Com essa frase psicótica e um tanto agressiva, Aiyra


encerra a ligação.

Jogo mais uma vez o telefone para o lado, a cabeça


mais bagunçada do que antes.

Eu não sabia quando Aiyra voltaria para Dubai, mas


esperei o último mês inteiro pela sua visita para que
pudéssemos ter uma conversa e romper o nosso
relacionamento. No fundo, acredito que ela estava
pressentindo isso, pois não voltou, mesmo tendo um
intervalo de uma semana entre um desfile e outro.

Não sei como ela reagirá ao saber que eu tenho um


filho, muito menos quando descobrir que estou com a mãe
dele hospedada em minha casa.

Droga! Eu deveria ter dito alguma coisa, pois, apesar


de tudo, nós ainda estamos em um relacionamento.

Que Allah me ajude.


Saio da sala de Miguel com o queixo empinado e
batendo os saltos com a altivez de uma rainha no piso de
mármore. Jamais imaginei que me demitir surtiria um
efeito tão bom, uma sensação de alívio agradável. A
verdade é que eu já estava surtada, oprimida demais em
um emprego que não trazia nada além de dor de cabeça e
zero felicidade.

Ivana anda de um lado para o outro com os braços


cruzados na sala do corredor.

— Então, como foi? — Para de caminhar e começa a


roer a ponta do polegar, nervosa.
— Eu estou desempregada! — Solto uma gargalhada,
nervosa e feliz, uma combinação adversa e estranha.

Ivana se joga em meus braços, fungando.

— Não sei como vou sobreviver nessa empresa sem


você.

Rio contra o seu pescoço.

— Ei, foi você quem me colocou na empresa. Vai


sobreviver da mesma forma que sobrevivia antes de eu
entrar.

— É diferente agora.

Afasto Ivana para olhar em seus olhos.

— Me prometa que não vai fazer nenhuma loucura,


por favor.

Ela franze a testa.

— Não sei do que está falando.

Suspiro.

— Eu conheço você suficientemente bem para saber


que é impulsiva. — Aperto seus braços. — Por favor, não
faça nada. Querendo ou não, esse é um bom emprego,
você tem um bom salário, então, só fique de boca calada
e trabalhe.
Ela bufa e desvia o olhar, mas acaba concordando
com um leve aceno de cabeça.

— Certo, não farei nada impulsivo ou absurdo. —


Revira os olhos.

— Obrigada!

Com um último abraço, nos afastamos mais uma vez


antes que Miguel apareça e resolva despedir a minha
amiga.

Penso em como as coisas funcionam de maneira


estranha e hilária, eu ralei tanto para conseguir esse
emprego, me esforcei mais ainda para alcançar a tão
almejada promoção, e hoje eu me demiti sem um pingo de
remorso, para falar a verdade, me sinto até mesmo
comedida. Enfim, a hipocrisia da vida.

— O que vai fazer agora? — Ivana quebra o silêncio


que se estendeu enquanto fazemos o percurso para as
nossas salas.

Respiro fundo.

— Eu vou para casa e ver Zayn, depois vou pedir


para que Khalif me acompanhe até a casa dos meus pais
para que eles possam finalmente conhecer o pai do meu
filho e entender o motivo da minha súbita viagem. E, por
último, começarei a ajeitar as malas.
— Bom, só posso lhe desejar uma boa sorte. — dito
isso, ela atira um beijo no ar em minha direção e some em
um corredor para a direita.

Sento em minha mesa e envio mais uma mensagem


para Neiva, perguntando sobre Khalif e Zayn. Sei que o
príncipe árabe foi para o meu apartamento ainda cedo,
pouco depois que eu saí para o trabalho.

Hoje, assim que Neiva chegou para trabalhar, eu me


sentei com ela e comecei a contar a verdade sobre a
paternidade de Zayn, optei por deixar tudo esclarecido
antes que a notícia começasse a se espalhar, portanto,
começarei a contar, aos poucos, para as pessoas mais
próximas e mais importantes, pessoalmente. Não há mais
nada para esconder.

— Aqui está, senhor! — Neiva, a babá de Zayn, me


entrega uma mamadeira quente e cheia de leite.

— E agora? — Encaro a mulher com os olhos


arregalados.
Eu participei da criação dos meus sobrinhos, mas
isso não significa que eu precisasse alimentá-los ou fazer
qualquer outra atividade crucial, além de brincar.

Neiva ri.

— Esse é o leite da senhora Brianna, ela tira todas


as manhãs e deixa pronto para o bebê. — Ela segura a
mamadeira, mostrando-me como eu devo prosseguir. —
Aqui, dessa forma. — Coloca a minha mão no objeto,
instruindo. — Se não der o leite agora, Zayn vai começar
a chorar.

Olho para o bebê e percebo seu desespero ao


reparar na mamadeira de leite em frente aos seus olhos.

— Ele sabe segurar, mas quando está sonolento


como agora, prefere que alguém o faça.

Coloco o bico na boca dele, o qual começa a sugar a


mamadeira com força, desesperado.

— Nossa, ele estava realmente faminto. — falo, mas


não tiro os olhos dele.

Um bolo se forma na minha garganta pela emoção de


estar alimentando o meu filho pela primeira vez. Hoje,
quando eu cheguei, pensei que Zayn fosse me estranhar
ou até mesmo chorar, mas muito pelo contrário, o bebê,
assim que me viu na porta, se jogou em meus braços.
Nesse meio tempo eu assisti desenho com ele e brinquei
com os seus mordedores favoritos. Também tive a
oportunidade de conhecer Neiva melhor e depois que eu
conquistei a sua confiança, ela até mesmo me revelou
que os filhos sentem os pais e por isso Zayn sempre quer
a minha companhia.

Tiro algumas fotos dele e envio para o grupo da


família no WhatsApp. Na verdade, é isso que eu tenho
feito a manhã inteira, pois desde que enviei a primeira
fotografia, mamãe, Khalil e Zaya não pararam de pedir
mais e mais, apaixonados pelo novo membro da família.

Também recebi inúmeros elogios em decorrência da


aparência do meu filho, mamãe se disse orgulhosa pelo
sangue forte da nossa família; falou também que
reconheceria o neto em qualquer lugar do mundo se
pusesse os olhos nele, pois Zayn é incrivelmente idêntico
a mim quando tinha essa idade.

— Que horas Brianna vem para casa? — pergunto


para Neiva ao bloquear o celular.

A mulher está sentada à minha frente com alguns


rolos de lã, fazendo, segundo ela, crochê.

— Normalmente ela não vem para casa ao meio-dia,


mas hoje disse que virá, ela quer falar com você.

Espero que Brianna venha com notícias boas, visto


que, logo, logo quero ir para casa. Fora que se eu não
fizer isso, não serei capaz de segurar minha família por
muito tempo em Dubai, não antes que eles peguem um
avião e venham para o Brasil conhecer Zayn.

Ele termina a mamadeira e se garra em meus braços


para se levantar e olhar ao redor.

— Ah, ele quer a manta, pois chegou a hora de


dormir. — Neiva sai em busca da tão preciosa manta e
retorna com um pequeno pano azul repleto de bolas
brancas. — Aqui está, querido.

Zayn pega a manta e coloca no rosto, tapando um


olho, posteriormente, recolhe o bico e deita a cabeça em
meu peito, piscando os olhos lentamente.

Aos poucos vejo seus olhos se fecharem de vez e sua


respiração tomar um ritmo calmo e preciso.

— Podemos colocar ele no berço.

Continuo encarando minha prole, a criança com tão


pouco tempo de vida e que eu conheci em menos de vinte
e quatro horas e já sinto uma forte ligação, um amor
indescritível.

— Não! Deixe-o dormir em meu colo.

Ele parece ainda mais pequeno aninhado em meus


braços enormes. Fico assim, olhando Zayn por tanto
tempo que acabo me perdendo no momento, não vejo as
horas passarem, mas sinto a presença de alguém.
Levanto o olhar e vejo Brianna nos encarando, algo vibra
e brilha em seus olhos.

— Oi. — murmura, segurando forte a alça da bolsa


no ombro.

— Oi.

Brianna se dá por conta que está no mesmo lugar,


então coça a garganta e solta a bolsa na mesa, sentando-
se no sofá à minha frente, por fim.

— Eu pedi demissão.

— E como foi? — Embalo Zayn com movimentos


lentos para que ele não desperte com o nosso falatório.

— Foi... bom. — Franze a testa.

Solto uma pequena risada.

— Quando poderemos viajar? Minha família está


ensandecida para conhecê-lo.

Ela solta um suspiro e esfrega uma mão nos cabelos.

— Tenho que resolver algumas coisas ainda, mas


antes de tudo, quero que você conheça os meus pais. —
Ela traz os olhos de encontro aos meus. — Quando eu
engravidei, ocultei a paternidade do meu filho de todos,
inclusive deles, mas agora que você está aqui, quero que
eles saibam a verdade.

Cerro a mandíbula com força, irritado por ela ter


escondido não só de mim, como de todos ao seu redor a
verdade sobre o meu filho. Estou tentando entender
Brianna, compreender sua atitude egoísta, mas todas as
vezes que lembro que eu perdi toda a gestação e os
últimos seis meses de vida do Zayn, se torna impossível
compreendê-la.

— Tudo bem. — É só o que eu falo.

Brianna começa a roer a unha do polegar, nervosa.

— Olha, Khalif, eu sei que ainda se sente magoado


pela minha omissão, mas eu não sabia o que fazer! Eu
era virgem e inocente quando fui para Dubai, quando
conheci você. Nunca pensei que voltaria para o Brasil
grávida. Os primeiros meses foram difíceis, muito difíceis.
— Os olhos ficam fixos em um ponto, pensativos.

Merda! Eu não posso ficar com mágoa ou rancor dela,


não se eu quiser ter uma amizade e uma convivência
agradável. Querendo ou não, Brianna é a mãe do meu
primeiro e único filho, teremos um vínculo para o resto de
nossas vidas.

— Ei, está tudo bem. Ainda me sinto enganado,


confesso, mas tentarei colocar seus pontos em mente
todas às vezes que eu me sentir assim.

Ela sorri de boca fechada.

— Obrigada! Acredito que assim viveremos muito


mais felizes e em paz.

Neiva aparece, caminhando calmamente e fazendo


barulho alto por onde passa. Quase sucumbo a iminente
vontade de gargalhar ao tentar imaginar o que se passa
em sua mente para fazer tudo isso.

Ela pigarreia.

— Eu preparei algo para vocês comerem, não é nada


demais, mas está pronto.

— Neiva, você sabe que não precisa cozinhar, isso


está fora das suas tarefas.

Neiva abre um sorriso acolhedor.

— Eu sei, senhora Brianna, mas como essa é a


primeira vez em meses que almoçará em casa, resolvi
fazer esse agrado.

— Obrigada, estou realmente faminta. — Brianna me


olha. — Vamos colocar Zayn no berço, almoçar e
conversar sobre o almoço programado com os meus pais.

Faço um leve aceno de cabeça, concordando.


Levanto-me e me dirijo até o quarto do meu filho,
deitando-o em seu berço. Pela primeira vez, olho ao redor
e reparo na decoração aconchegante do cômodo. Paredes
pintadas em um azul-claro. Prateleiras com ursos de
pelúcia, o berço ao centro com uma luminária ao lado. Um
trocador e uma poltrona de amamentação. Alguns
brinquedos estrategicamente espalhados ao redor.

— Gostou? As meninas que prepararam, deram de


presente para o afilhado. — Vejo Brianna escorada no
batente da porta com os braços cruzados.

— É lindo, elas têm bom gosto.

Brianna escrutina o local com um brilho nos olhos e


um sorriso bobo nos lábios.

— Sim, ainda fizeram questão de dar muitas outras


coisas, mesmo eu me sentindo constrangida e falando que
não era necessário.

Sinto minhas sobrancelhas franzirem com o alerta


que pisca na minha mente.

— Por que elas deram tudo, Brianna?

Ela cora e arruma a coluna, nitidamente sem graça.

— Meu salário não é tão bom assim, Khalif, e isso foi


uma das coisas que mais me assustou ao pensar que eu
teria um filho. Eu estava pagando a minha pós-graduação
para que eu finalmente conseguisse a promoção, mas
quando ela não veio... enfim, as coisas não foram tão
boas, mas teriam sido piores se não fosse por elas.

Minha vontade de esganar Brianna aumenta a cada


minuto. Allah! Por qual razão essa menina teimosa
resolveu passar por tudo isso sozinha quando eu poderia
estar disponível a qualquer momento.

Paro em frente a Brianna e seguro os seus ombros, o


aroma do seu perfume tatuado em minha cabeça
impregnando minhas narinas, enquanto sinto o toque
quente da sua pele acordar lugares que deveriam
permanecer adormecidos.

— Eu vou cuidar de vocês de agora em diante.

Ouço-a resfolegar, mesmo assim, seus olhos não


largam os meus. Minha vontade de beijá-la é grande, mas
me contenho, pois não quero assustá-la, não quando ela
já parece um cachorro acuado todas as vezes que está na
minha presença.

— Vamos almoçar. — acrescento.

Brianna faz um sinal positivo de cabeça,


desafazendo-se do meu toque.

Coloco as mãos na cintura e olho para baixo, vendo


minha calça marcada pela leve ereção. Fecho os olhos e
respiro fundo, colocando a cabeça em ordem. Mais calmo,
sigo a garota que bagunça toda a minha estrutura
corpórea, assim como a minha mente.
Andar de um lado para o outro quando me sinto
apreensiva e nervosa é um método que encontrei quando
era mais jovem para me acalmar. No passado isso
funcionava, mas com o tempo e com a gravidade dos
meus problemas aumentando a cada ano, infelizmente,
hoje já não surte tanto efeito quanto o esperado.

— Você está me irritando, Brianna! — Ivana joga um


pacote de bolacha em mim.

— Não posso ser julgada! — levanto as mãos para o


alto em rendição. — No meu lugar, vocês estariam
nervosas também.
Ivana revira os olhos e bufa.

— No seu lugar, eu jamais teria passado por isso,


pois teria seguido o meu plano desde o início. — fala
Celina, lixando as unhas.

Maitê solta uma lufada de ar, levantando-se e vindo


até mim.

— Tem certeza de que quer ir para Dubai? Ainda dá


tempo de mudar de ideia, sabe. Pode apresentar nossos
pais para Khalif e deixar a família deles conhecer Zayn,
desde que venham para cá.

Maitê discorda da minha decisão de voltar para o


território árabe e não faz questão nenhuma de esconder
isso. E é claro que sua atitude só me faz amá-la ainda
mais, não só como irmã, mas como uma tia muito babona.

— Eu tenho certeza, Maitê. Nada vai acontecer.

— E eu estarei junto, não podemos esquecer desse


detalhe muito importante. — Celina aponta a lixa para a
minha irmã.

— Me sinto menos apreensiva agora. — debocha a


médica.

Depois de conversar muito com elas, e de surtar


também, decidimos que seria melhor fazer o almoço no
meu apartamento, mesmo ele sendo bem menor e bem
menos aconchegante que a casa dos meus pais. Segundo
as meninas, eu me sentiria um pouco mais confortável
estando em casa.

Como eu não tive tempo, muito menos cabeça para


pensar, encomendei comida de um restaurante perto, mas
é claro que a minha mãe jamais saberá disso. Portanto,
fiz questão de tirar das embalagens originais e colocar
tudo em panelas como se eu tivesse tido uma trabalhosa
manhã cozinhando sem parar.

Ouço a campainha tocar.

— Eu vou enfartar! — Levo a mão ao peito, sentindo


meu coração acelerar.

— Deixa de ser boba, não tem muita coisa que eles


possam fazer — rebate, Celina.

— Tem sim, eles podem deserdá-la, ou nunca mais


olhar para a cara dela, enfim... muitas possibilidades. —
Embora Ivana fale isso em um tom sério, as rugas que se
formam ao lado dos seus olhos expressam o contrário.

— Vai deixá-la mais nervosa, para com isso. —


ralha, minha amiga.

Como ninguém se manifestou em ir abrir a porta,


Maitê resolve tomar a iniciativa. Mamãe e papai entram no
apartamento abarrotados de sacolas.
— Cadê o meu neto? — É a primeira coisa que
perguntam.

— Dormindo no quarto. — responde Celina, ainda


lixando a porcaria das unhas.

Mamãe larga as sacolas em cima da mesa.

— Eu trouxe a sobremesa e mais algumas coisinhas


que poderia precisar. Também trouxe uns mimos para
Zayn.

Os anos passam, mas Eva Artonino nunca muda.


Com os cabelos castanhos tingidos, um olhar acolhedor,
as marcas da idade estampadas no rosto e as roupas
florias que tanto ama, ela está sempre igual. Doce e
atenciosa como mãe e ainda mais zelosa como avó.

Já papai teve mudanças um tanto visíveis ao longo


dos anos, os cabelos estão mais ralos e grisalhos, os
olhos mais profundos, até mesmo a pele parece mais
frágil, mas ainda assim é o homem mais inteligente que
eu conheço.

— Oi, meninas! Não sabia que vocês também viriam.


— mamãe cumprimenta minhas amigas, posteriormente,
lança um olhar em minha direção. — Se eu soubesse,
poderíamos ter marcado o almoço lá em casa, à beira da
piscina.
— Ah, é que a Bri tem algo muito importante para
revelar... — Ivana larga uma indireta dando de ombros, os
lábios tremem enquanto tenta conter a risada.

— O que você quer contar, filha? — Meu pai para ao


lado da minha mãe, abraçando a sua cintura.

Engulo em seco, ainda parada no mesmo lugar,


incapaz de me mexer.

— Eu... é... lembram quando me perguntaram sobre


o pai do Zayn?

As feições dos meus pais mudam, mas não era


basicamente o espanto que eu estava esperando, mas sim
perplexidade, talvez?

— Querida, não me diga que você encontrou o pai


dele? E... oh, Deus! O que ele quer do Zayn? — Mamãe
leva as mãos à boca, incapaz de conter o gemido de
desespero.

Inspiro o ar profundamente, expirando-o em seguida.


Esfrego os dedos nas palmas das mãos, sentindo o suor
se espalhar por toda a pele.

— Eu menti. — revelo. — O pai dele não é um


homem qualquer que eu não lembro nem mesmo o nome.

— E deixou que pensássemos o pior de você esse


tempo todo, mas por qual motivo? — Meu pai franze as
sobrancelhas.

— Por medo. — Dou de ombros. — Não medo dele,


mas medo do que poderia acontecer se ele soubesse da
existência do filho.

— Isso tá ficando cada vez pior, Brianna! Vai dizer


que o pai do seu filho, meu neto, é um traficante
qualquer? — As veias saltam no pescoço do meu pai
conforme ele fala, pois, sua irritação é palpável.

Considerando a forma como eu estou dando a notícia,


tudo leva a considerar exatamente a sua linha de
raciocínio. De fato, Khalif parecia perigoso não para Zayn,
mas para mim.

— O pai de Zayn se chama Khalif Farzur e ele é o


Sheik de Dubai. — Falar isso em voz alta depois de todos
esses meses mentindo tem um gosto amargo na minha
boca.

Meus pais ficam em silêncio, parecem suspender até


mesmo as suas respirações, o que só serve para me
deixar ainda mais apreensiva.

Sem ideia do que diabos estou proferindo, continuo:

— Eu escondi Zayn dele por medo do que poderia


acontecer, considerando que ele é filho de um Sheik
importante. E pretendia manter isso em segredo, mas
Jamal veio visitar Celina e Khalif veio junto, então vocês
já devem imaginar o desfecho dessa história...

— Você ficou louca, Brianna? Se envolver com esse


tipo de homem e ainda...

— Ei! — ralha Celina, revirando os olhos. — Como


assim esse tipo de homem?

— Homens que destroem coisas e pessoas. — Meu


pai cospe as palavras com rancor.

Celina levanta um dedo em riste.

— Só para deixar claro, isso é preconceito! O


islamismo não incita a violência, depende muito da
interpretação de cada um. Assim como funciona em todas
e em cada religião.

Meu pai fica em silêncio encarando Celina por alguns


segundos, mas resolve ignorá-la, retornando sua atenção
a mim.

Suspiro.

— Celina tem razão, pai. Eu não escondi Zayn por


medo de que Khalif fosse fazer algo, pois o conheço bem
e sei que ele é um homem honrado e maravilhoso. Eu só
fiquei com medo de ter que compartilhar a guarda do meu
filho.
Mamãe passa as mãos nos cabelos.

— Querida, o que você vai fazer agora?

— Vou para Dubai com Khalif, a família dele quer


conhecer Zayn.

— Céus! Você ficou maluca? E se eles te prenderem


lá? — Celina bufa com as palavras proferidas pelo meu
pai.

— Nada vai me acontecer, pai. Khalif e eu


resolvemos estabelecer uma amizade amigável pelo bem
do nosso filho.

Minha mãe dá alguns passos à frente e segura as


minhas mãos.

— Isso é realmente o certo a se fazer, querida. A


felicidade do Zayn acima de tudo e qualquer coisa.

Faço um sinal positivo de cabeça, concordando com a


sua afirmação.

Cada músculo do meu corpo treme com o final da


conversa. Confesso que pensei que tudo isso tomaria um
rumo muito pior, mas a compreensão dos meus pais e a
confiança depositava em mim foi incrível. Em suma,
menos uma preocupação para ocupar a minha cabeça.

Ivana bate palmas.


— Agora que está tudo combinado, podemos comer
alguma coisa? Estou com fome.

— É claro! — Os lábios de mamãe se curvam. — Bri,


hã... Khalif virá hoje? — pigarreia.

— Sim. Ele já deve estar chegando, inclusive.

— Vamos organizar essas coisas. — exaspera,


levantando os braços para o alto. — Meninas, vamos,
vamos! Não é todo dia que recebemos um príncipe árabe
em casa. — Pisca um olho para mim.

Rio da confusão que se estabelece em seguida. Eva


Artonino passa os próximos minutos proferindo ordens,
organizando as compras e arrumando a casa que já
estava arrumada. Quando a campainha toca, todos se
jogam no sofá, fingindo uma calma inexistente.

— Pelo visto eu terei que abrir a porta. — murmuro.

— A casa é sua! — Ivana faz um sinal com a mão.

Reviro os olhos.

Meu coração começa a dar solavancos em meu peito


conforme eu dou um passo de cada vez. Não sei qual o
motivo do meu nervosismo, mas posso apostar que a
fonte tem nome e sobrenome. Espero que com o tempo eu
possa me acostumar com a sua presença e pare de me
sentir tão apreensiva todas as vezes que eu sei que nos
encontraremos.

Embora eu ainda sinta algo por Khalif, brigo


diariamente comigo mesma para afastar esse sentimento,
colocando-o em uma caixa escondida no fundo de um
baú. No passado era fácil, mas agora, ao abrir a porta e
dar de cara com o Sheik impecavelmente vestido em um
terno azul-marinho, a barba bem aparada e os cabelos
bem feitos, é inevitável não sentir a sensação de bolhas
no meu ventre.

— Oi. — Khalif é o primeiro a quebrar o silêncio


constrangedor.

— Olá. — Abro ainda mais a porta. — Entre!


Algumas pessoas estão esperando para te conhecer.

Sigo Khalif até a sala, meus pais são os primeiros a


se levantar quando nos veem. Minha mãe sorri
gentilmente, enquanto o meu pai permanece com o
semblante fechado, mas a testa franzida delata a sua
preocupação.

— Prazer em finalmente conhecê-los. — Khalif


estende a mão para eles à guisa de um cumprimento
formal, mas é surpreendido por um abraço de urso da
minha mãe.
— Descobriria que você é o pai do meu neto de
qualquer lugar que estivesse, pois, a semelhança é
assustadora. — cicia mamãe.

— Obrigado. — Um sorriso bobo delineia os lábios


do príncipe.

Maitê surge na sala com Zayn nos braços, o bebê


com os olhos inchados pelo sono e com a chupeta
amarelha na boca, abre um enorme sorriso ao ver o pai, e
este retribui em uma atitude que aquece o meu coração.
Imediatamente Zayn fica se remexendo no colo da tia,
querendo a atenção do pai.

— Oh! — Eva fica admirada com a cena.

Khalif vai até Maitê, cumprimentando-a com um leve


aceno de cabeça, para que então, pegue o filho no colo.

— Como vai, rapazinho? — Ele beija a cabeça do


menino.

Sei que estou prestes a chorar quando fungo sem


perceber, rapidamente limpo o canto dos olhos tentando
disfarçar minha comoção.

— Agora que estamos todos aqui e apresentados,


podemos comer? — Ivana revira os olhos, impaciente.

— Sim, Ivana. Venha me ajudar na cozinha se quer


agilidade. — Mamãe dá um tapa em seu ombro.
Observo a forma como Khalif brinca com Zayn,
beijando e admirando o filho. Percebo também que não
sou a única a contemplar a cena, pelo silêncio que se
estende, Maitê, papai e Celina fazem exatamente a
mesma coisa. Enquanto isso, o Sheik permanece alheio à
plateia, atento demais em sua prole.

Meu pai coça a garganta.

— Então, Khalif, quando vocês irão a Dubai?

Khalif acaricia a cabeça do Zayn, enquanto olha para


o avô do filho.

— Assim que Brianna estiver com tudo resolvido.

— Imagino que a sua família esteja ansiosa para


conhecer Zayn.

— Eles com certeza estão.

— E como reagiram com a notícia da sua existência?

— Muito bem, ficaram completamente felizes.

— Que bom... — Meu pai se cala, dando fim ao


pequeno interrogatório.

Ivana e mamãe retornam, chamando a todos para o


almoço. Khalif se recusa a soltar Zayn, então eu lhe sirvo
um prato e deixo-o almoçar com o bebê no colo, dando-
lhe, de vez em quando, brócolis.
Zayn brinca com o relógio do pai, tentando morder o
objeto a todo momento. Nunca vi o meu filho tão contente,
parece que até mesmo ele já caiu nos encantos do
príncipe.

Ver a cena dele alimentando o filho e sendo tão


apegado a pequena criança me causa um pequeno
alvoroço. Uma pontada de culpa insiste em aparecer,
assim como algo ainda desconhecido, talvez... admiração
ou paixão.

— Sabe o que eu acho? — Celina engole a comida


que estava mastigando antes de sussurrar em meu
ouvido.

— O quê? — sussurro de volto, sem saber o motivo


de estarmos cochichando.

— Essa sua ida a Dubai vai render muita coisa


ainda. — Dá de ombros, colocando mais comida na boca.

Penso em protestar, negar veemente, mas não


consigo, porque no fundo eu sinto como se fosse
exatamente isso a acontecer. Passar os próximos dias na
companhia do Khalif será um trabalho difícil, não para
mim, mas para o meu coração.
Brianna conseguiu resolver tudo o que precisava no
Brasil em uma semana. Nesse meio tempo, fui todos os
dias até o seu apartamento passar um tempo com Zayn,
além, é claro, das chamadas de vídeo – obrigatórias –
com a minha família.

A viagem com o bebê foi mais tranquila do que eu


esperava. Zayn é uma criança maravilhosa, uma
verdadeira benção de Allah.

Assim que Brianna confirmou que viria até Dubai


comigo, eu liguei para a minha equipe e comecei a
ordenar algumas mudanças. Um dos quartos foi
reformado, tornando-se do meu filho e outro em anexo foi
melhorado para a estadia da mãe dele, além de uma sala
de brinquedos que fora construída e de todas janelas e
sacadas do apartamento que foram teladas. Antes, a casa
de um solteiro, hoje, a residência de um pai.

Descemos do carro e eu ajudo Brianna com a mochila


que contém as coisas básicas do bebê. Estamos
estacionados em frente ao meu prédio.

Brianna se vira de frente e olha para cima, tentando


visualizar o topo. Ela franze as sobrancelhas e solta um
suspiro, delatando estar nervosa.

— Sua família está nos esperando? — Vira-se para


mim.

— Não. Nossa visita ficou agendada para a noite,


depois que vocês se acomodarem.

Ela faz um pequeno gesto com a cabeça.

Eu vi como Brianna ficou taciturna ao se separar da


Celina no aeroporto, o que inclusive fico grato, pois quero
que ela se sinta em casa e confortável e percebi que ter
uma companhia amiga faz justamente isso.

Compreendo que Brianna esteja nervosa, em breve


ela conhecerá a família do Zayn, mas acima de tudo, a
família que ela enganou, mantendo a existência do bebê
desconhecida. Ela sente medo de retaliações, o que não
ocorrerá, de forma alguma.

Uma parte da minha equipe de segurança desce para


carregar as malas. Conduzo Brianna e Zayn para dentro
do edifício, cumprimentando alguns funcionários no meio
do caminho.

O elevador chega ao meu andar, mas assim que as


portas se abrem eu sou recepcionado, para o meu
espanto, por Aiyra, assustando-me, de imediato.

Dou um passo para trás. Pisco uma, duas, três vezes,


testando se o que eu estou vendo é verdadeiro ou não
passa de uma miragem. Mas como a imagem não some,
constato a óbvia e aterradora verdade.

— Surpresa! — A modelo abre os braços, um sorriso


reluzente no rosto que começa a se desfazer quando ela
enxerga Brianna ao meu lado.

— Aiyra, o que você está fazendo aqui?

Ela empina levemente o queixo, cerrando a


mandíbula com força.

— Eu vim fazer uma surpresa para o meu namorado,


mas percebo que estava... ocupado. — Pende a cabeça
para o lado, encarando Brianna, a qual permanece
calada.
Giro nos calcanhares e encaro a brasileira. Ela
parece desconfortável, agarrando Zayn com força.

— Nádia! — grito.

— Sim, senhor Khalif. — Prontamente minha


governanta aparece.

— Leve à senhorita Brianna ao seu aposento e


mostre a ela o restante da casa, incluindo as áreas que
foram criadas para Zayn. —oriento.

— É claro, senhor. — Nádia sorri para Brianna,


conduzindo-a simpaticamente para longe.

Viro-me novamente para Aiyra, minha namorada


fulmina a brasileira pelas costas com as mãos na cintura.

— Uma amante, isso eu já imaginava, agora uma


amante com filho... bem, isso sim é uma surpresa. —
Arqueia uma sobrancelha.

— Ela não é minha amante.

Aiyra solta um riso de escárnio.

— Eu a vi, Khalif! Não tente me fazer de boba. — Seu


tom de voz eleva, o que me irrita.

Pego Aiyra pelo braço e arrasto-a para a sala.

— Precisamos conversar.
— Com certeza precisamos, alteza!

Faço-a a se sentar na poltrona em frente à minha.


Inspiro profundamente, me preparando para ter a
conversa que venho postergando há algum tempo.

— Antes de tudo, por que não me falou que estava


aqui?

Aiyra estala a língua no céu da boca.

— Justamente por causa do que eu vi hoje. — Estou


prestes a falar, mas ela eleva a mão, interrompendo-me.
— Mas estou disposta a perdoá-lo, desde que mande
aquela vadia embora.

Vê-la ofender Brianna me irrita de uma forma


indescritível, mas mantenho a calma, afinal, Aiyra não
sabe a história toda e é normal estar tão zangada com o
que presenciou.

— Antes de tudo, você nunca mais ofenderá Brianna


na minha frente.

— Eu falo o que eu quiser!

— Sim, mas não na minha frente. E isso não é um


aviso.

Aiyra cruza os braços em frente ao peito, os olhos


umedecendo.
— Eu fiz tudo por você, Khalif! Como pode me tratar
assim?

Aperto a ponta do nariz com o indicador e o polegar,


sentindo pequenas fisgadas na cabeça.

— Eu não a trai, Aiyra, mas será que você pode parar


de falar para que eu possa explicar o que está
acontecendo?

— Estou esperando.

Depois de uma longa viagem de avião, essa conversa


certamente era o que eu menos gostaria de enfrentar.
Meus planos eram chegar em casa e dormir algumas
horas de sono antes de ir jantar na casa do Khalil.

— Eu conheci Brianna há pouco mais de um ano, ela


é uma das melhores amigas da noiva do Jamal.

— E sua amante — interrompe-me.

— Nós tivemos um caso na época, mas logo Brianna


retornou ao Brasil, eu assumi as reponsabilidades
governamentais e nunca mais nos vimos.

— Até você ir ao Brasil atrás da sua antiga amante


enquanto eu ficava aqui te esperando? Que lindo!

Tenho que inspirar e expirar o ar algumas vezes para


acalmar a raiva iminente pelas interrupções dela.
— Fui ao Brasil para fazer companhia a Jamal, mas
quando cheguei lá descobri que Brianna teve um filho, o
meu filho.

Aiyra fica branca, tão branca quanto um papel e


arregala os olhos. Ela agarra o encosto da poltrona com
tanta força que os vincos das suas mãos ficam
embranquecidos. Cruzando as pernas, fazendo o vestido
verde e escandalosamente curto, nada convencional em
nossa cultura, subir, curva o corpo para frente, piscando.

— Como é? — pergunta, o peito subindo e descendo


sucessivamente.

— O bebê que estava no colo dela é meu filho, meu


primogênito.

Aiyra leva as mãos ao coração, uma lufada de ar


misturada com um gemido escapa da sua garganta,
enquanto lágrimas descem pelos seus olhos.

— Ela me tirou o direito de lhe dar o primogênito. —


murmura entredentes.

Minhas sobrancelhas franzem.

— Do que você está falando, Aiyra? Jamais falamos


nem sequer em casamento, muito menos em filhos.

Aiyra se levanta, nervosa demais para permanecer


sentada e imóvel.
— Eu deveria ser a sua primeira esposa, Khalif! Eu
nasci para isso.

Começo a me questionar o que exatamente Aiyra


bebeu ou comeu antes do nosso encontro, considerando
que ela parece instável e atordoada, sem falar nada que
faça sentido.

— Você nem sabe se aquela criança é realmente sua,


mas nada que um exame de DNA não resolva, aí sim
desmascaremos a impostora.

Minha paciência chega ao limite.

— Aiyra, chega! Zayn é sim o meu filho e eu não


preciso de um exame de DNA para comprovar isso.

— Não! Isso é injusto! Eles ficarão entre nós e...

— Não existe mais nós. — interrompo-a.

Aiyra se vira para mim tão rápido que ela precisa


apoiar o corpo na cadeira para não perder o equilíbrio.

— Khalif, querido, como assim não existe nós? — As


lágrimas escorrem mais densamente de seus olhos agora.

Suspiro.

— Aiyra, faz tempo que eu quero ter essa conversa


com você, mas como não nos vimos ultimamente, precisei
postergar. Estamos em caminhos diferentes, em passos
dispares, manter essa relação só significa adiar o
inevitável.

— Não! Não! Khalif, por favor! — Aiyra faz algo


inimaginável e pior do que eu esperava, ela se ajoelha na
minha frente, chorando. — Por favor, eu largo as
passarelas, prometo! Eu nasci para me casar com você,
passei a vida toda esperando por isso.

Agarro as mãos de Aiyra forte o suficiente para


chamar a sua atenção, mas não para machucá-la.

— Aiyra, eu jamais pediria que largasse o seu


emprego. Você deveria se orgulhar, uma mulher árabe,
seguidora do islamismo sendo reconhecida mundialmente.
Querida, você nasceu para isso e não para casar comigo.

Por segundos intermináveis Aiyra fica me encarando,


as lágrimas fazendo o caminho pelas suas bochechas e
descendo para o pescoço. De repente, ela puxa as mãos,
desvencilhando-se do meu toque e levantando-se do
chão. Aiyra limpa o rosto com o dorso da mão e arruma os
cabelos.

— Você ainda vai se arrepender disso. — funga.

Eu poderia lembrá-la do que exatamente acontece


quando a realeza é ameaçada, mas relevarei suas
palavras em decorrência da nossa história e do momento.
— Foi bom o tempo que passamos juntos, Aiyra.
Espero que seja feliz.

Sem falar mais nada, Aiyra junta a bolsa do outro


sofá e sai batendo o salto no chão, furiosa.

Eu imaginava que seria um momento difícil de


enfrentar, só não pensei que Aiyra seria tão contundente.

Levanto-me e encho um copo com uísque e desfaço o


nó da minha gravata. Minha ideia inicial de relaxamento
foi interrompida e mesmo que eu tente me deitar para
descansar, não conseguirei, não com a cabeça atordoada.

Minha vontade de subir e explicar o ocorrido para


Brianna é forte, mas sei que ela iria ficar ainda mais
receosa se eu fizesse isso, então o melhor é deixar as
coisas como estão.

Sento-me na poltrona com o copo em mãos e perco a


noção do tempo enquanto encaro um mesmo ponto
específico, pensativo.

Meu celular toca e eu vejo o número do Jamal na


tela, atendo um piscar de olhos depois.

— Pensei que estaria mais ocupado com a sua noiva.

— Eu estaria, se não fosse pela sua ex-namorada e


as milhões de mensagens dela.
Viro todo o líquido do copo, irritado.

— O que ela disse? Faz pouco mais de quinze


minutos que ela saiu daqui.

— Devo começar por “quem é Brianna?” ou “fale a


verdade, eu sei que Khalif me traiu” ou “ela é uma
golpista, se realmente gosta de Khalif, deve induzi-lo a
fazer um teste de DNA” ou “por favor, Jamal, fale com
Khalif, nós nascemos um para o outro, eu fui criada e
moldada para ser princesa, não posso retornar para casa
de mãos vazias”. Qual dessas partes te deixa mais
assustado?

— Com certeza a última parte.

— Achei estranho também, parece que Aiyra planejou


não só o encontro de vocês, como o relacionamento, o
casamento e os filhos.

Largo o copo vazio na mesa ao lado e agarro os


meus cabelos com força.

— Acha que ela vai fazer alguma coisa? Ou tentar?

Jamal fica em silêncio por alguns segundos, ouço


somente o ruído da sua respiração.

— Acredito que deva se preparar, Aiyra parecia...


desequilibrada. Ela não aceitou bem o fim do
relacionamento e aceitou menos ainda que Brianna e
principalmente Zayn existem e fazem parte da sua vida
agora.

— Vou ficar de olho em Aiyra.

Sei que ela não faria nada contra Brianna e Zayn,


não fisicamente. Contudo, sou o príncipe herdeiro, a
mídia vive atrás de mim, caçando escândalos e farejando
problemas. E Aiyra sabe disso e sabe como usar de
artimanhas para conseguir um artigo comprometedor. No
meu caso, pouco me importa, mas me preocupo com
Brianna e em como ela reagirá no meio desse fogo
cruzado.

— Tudo bem. Só liguei para te deixar a par de tudo,


agora preciso encontrar Celina e descobrir se ela decidiu
a nova casa que iremos morar.

— Ela não quis ficar no apartamento?

O apartamento do Jamal é tão bom e elegante quanto


o meu, além de ter uma quantidade gradativa de quartos
disponíveis para os filhos que virão e ser bem localizado.

Jamal bufa.

— Ela disse que não iria morar no lugar onde eu


pratiquei orgias, quer algo novo e virgem.

Abafo minha risada com um ataque de tosse.


— Boa sorte em encontrar uma casa nova.

Mesmo não enxergando Jamal, consigo vê-lo


revirando os olhos.

— Obrigado. Até mais.

Jogo o celular no sofá da frente, um sorriso curvando


os meus lábios. Celina mal pisou em Dubai e já está
fazendo as modificações para o seu casamento com
Jamal. Adoraria estar presente nesse momento somente
para ver a cara do meu amigo.

Jamal ama o seu apartamento, para ele o lugar é o


verdadeiro significado de liberdade, pois foi a primeira
coisa que comprou assim que recebeu a herança de seu
pai. Porém, Jamal ama Celina, e sua felicidade é muito
mais importante que qualquer outra coisa.

Olho para o meu apartamento ao redor, me


perguntando se Brianna faria a mesma coisa caso
estabelecêssemos uma união. Levando em conta sua
vasta amizade com Celina, acredito que ela tomaria a
mesma atitude da amiga. E assim como Jamal, eu cederia
aos seus caprichos somente para vê-la feliz.

Levanto-me, caminhando para o meu quarto. Ficar


parado, sozinho e pensativo com um pouco de álcool no
meu sangue está me assustando, pois já estou até mesmo
imaginando um casamento com uma garota que deixou
claro não ter interesse, ao menos por enquanto.

A pergunta é: eu quero me casar? No passado eu


responderia imediatamente, mas hoje, sabendo da
conexão imediata que desenvolvi com Brianna e da
existência do meu filho, eu já não sei mais a resposta.
— Ela é uma vaca, isso sim! — exaspera Ivana.

Estou deitada na cama do quarto que foi


disponibilizado a mim, com o notebook ligado em uma
videochamada com Ivana, Celina e Maitê.

Ivana lixa as unhas sentada em seu sofá, já Maitê


está dentro da dispensa do hospital onde faz plantão e
Celina está no banheiro do apartamento do noivo.

Assim que eu subi e coloquei um Zayn exausto no


berço, o qual pegou no sono imediatamente, eu efetuei a
ligação para elas, incapaz de esperar até mais tarde e
contei todo o ocorrido. Acontece que eu fiquei mais do
que furiosa ao chegar na casa do Khalif e dar de cara com
a sua namorada.

E, que injustiça, pois Aiyra é ainda mais linda


pessoalmente. A mulher de cabelos castanhos levemente
encaracolados, olhos da mesma tonalidade das madeixas,
lábios grossos, nariz fino e ângulos perfeitos é,
nitidamente, uma modelo. Sem falar no corpo esbelto e
pernas tão longas que estavam dentro daquele vestido
verde que só o que fez foi ressaltar suas curvas
acentuadas. Enfim, nunca na vida me senti tão sem sal
como hoje, estando em sua presença.

— Jamal recebeu várias mensagens dela. — Celina


termina de passar um pó no rosto, os cabelos ainda estão
enrolados em uma toalha de banho, assim como o seu
corpo.

— E por qual motivo ela ligaria para Jamal? — Maitê


boceja, as olheiras evidentes em seu rosto mostrando o
plantão corrido e cansativo que enfrenta.

— Foi estranho, sabe? O celular dele começou a


tocar tanto que eu fiquei desconfiada e ele viu que eu
estava emburrada, então resolveu me mostrar. — Dá de
ombros, encarando a câmera. — Ela enviou mensagens
porque estava desesperada por Khalif ter rompido o
relacionamento com ela.
Não deveria, mas meu coração dá um solavanco com
essa notícia. Sento-me na cama e coloco o computador no
colo, ofegante.

— C-como assim? — gaguejo.

Celina pega o rímel de cima do balcão para passar.

— É isso. Ele não respondeu as mensagens, mas vi


que ligou para Khalif para avisar da ex-louca e solta por
aí.

— Agora, a pergunta que não quer calar: Khalif


terminou com ela por causa da Brianna? — Ivana para de
lixar as unhas, concentrando-se nas respostas para o seu
questionamento.

— Do meu ponto de vista: sim! — pondera Celina.

— Eu não estive com ele o suficiente para poder


argumentar. — responde Maitê. — Mas antes de pensar
em Khalif, precisamos pensar em Brianna. O que você
quer?

Todas olham para a mesma direção, qual seja, a


parte onde a minha foto aparece na tela. Engulo em seco,
sem ter uma resposta, ainda.

— Eu não sei. — falo a verdade, pois não adiantaria


nada mentir, elas me conhecem melhor do que eu mesma.
— Querida, está pronta? — A voz do Jamal entoa
através da porta fechada do banheiro.

— Quase. — ela grita de volta. Celina olha para o


celular. — Preciso ir, estou um pouquinho atrasada.

— Até mais, meninas! — Maitê desliga


imediatamente, provavelmente agradecendo por poder
finalmente tirar um cochilo.

Ivana faz o mesmo em seguida, deixando somente


Celina e eu na ligação.

— Bri, eu sei que você pensa que se casar com um


árabe é o fim do mundo e blá, blá, blá, mas você ao
menos já se questionou se tudo o que ouvimos é
verdade?

— Eu... eu não sei.

— Se você gosta dele e ele gosta de você, não há


nada de errado nisso.

Suspiro.

— Celina, eu acabei de chegar em Dubai, nem


conheci a família do Khalif ainda. E outra, ele acabou de
terminar um relacionamento, acho que essa conversa está
sendo precipitada demais.
— Tudo bem, só não seja cabeça dura. Eu te amo,
até mais. — Desliga.

Fecho o notebook e coloco ao lado, soltando uma


pesada lufada de ar.

Pensar em um relacionamento com Khalif nesse


momento beira ao ridículo, embora já faça algumas
semanas que voltamos a manter contato, ainda mais
considerando todo o tempo que o árabe passou no meu
apartamento para fazer companhia a Zayn, nós recém
chegamos em Dubai e nem trocamos uma única palavra
ou um gesto diferente do que é considerado amigável.

Meus olhos ficam pesados e eu acabo pegando no


sono, e é claro que tenho um sonho tórrido com Khalif
Farzur.

— Não há motivos para ficar tão apreensiva assim. —


cicia Khalif, enquanto caminhamos para a entrada da casa
do seu irmão.

Lanço um olhar enfadonho na direção do Sheik.

— Não é como se eu fizesse questão de chegar na


casa da sua família pingando a suor. — retruco.
Zayn brinca com a gravata do pai, alheio ao que está
prestes a acontecer e que ele, muito em breve, conhecerá
o restante da sua família.

— Eles estão tão ansiosos para conhecer Zayn que


nem irão reparar no seu suor, não se preocupe. — zomba.

— Engraçadinho.

Avisto algumas pessoas paradas na entrada. Duas


mulheres, um homem e um casal de crianças, para ser
mais exata. O homem abraça uma mulher, ele é
assustadoramente parecido com Khalif, se não fosse
pelos olhos marcados pela idade, eu diria que são
gêmeos. A mulher que ele abraça veste as roupas típicas,
mas sem o véu, ela tem longos cabelos pretos e rebeldes
que caem em cascatas pelas costas. Já a senhora ao
lado, está vestida igual, mas os cabelos brancos estão
presos em um coque apertado.

— Ah, Khalif! Deixe-me vê-lo. — A senhora é a


primeira a correr na direção do príncipe.

— Mãe, esse é Zayn, seu neto.

Os olhos estão molhados por lágrimas não


derramadas, ela olha admirada para Zayn, como se o
conhecesse desde o nascimento. Meu bebê sorri,
reconhecendo imediatamente a família paterna.

— Ele é um bom garoto, não é?


— Tão simpático, nem parece com o pai. — debocha
o homem, aproximando-se com a esposa.

Meu filho levanta os braços, pedindo o colo da avó


paterna. Ela, sem pestanejar, agarra o neto, a emoção do
momento transbordando pelos olhos e escorrendo pelas
bochechas.

Khalif pigarreia.

— Essa é Brianna, mãe do Zayn. — Khalif pousa uma


mão delicada na minha cintura, o toque, mesmo sem
segundas intenções, me causa arrepios. — Brianna, esses
são: Khalil, meu irmão; Zaya, sua esposa; Fátima, minha
mãe; e os gêmeos se chamam Samira e Youssef, meus
sobrinhos.

Todos os olhos antes voltados para Zayn, pousam em


mim.

— É... olá! — murmuro em árabe, espantando a


todos, até mesmo a Khalif, o qual aperta a minha cintura.

— É um prazer conhecê-la, mashallah [ x i ] ! — fala


Fátima.

— O prazer é meu.

Zaya para ao lado da sogra e segura a mão de Zayn,


dando-lhe um beijo.
— É um lindo presente de Allah! — murmura.

— Que sangue forte, meu irmão! — Khalil aperta o


ombro de Khalif.

Zaya solta a mão do bebê, vira-se para mim e me


abraça, surpreendendo-me.

— Finalmente conseguimos conhecê-la. — cicia


contra os meus cabelos.

— Estou feliz também.

Khalil é mais contido que Zaya em seu cumprimento,


ficando apenas com um leve aperto de mãos. As crianças
ficam em alvoroço para conhecer o primo, fazendo com
que Fátima tenha que se ajoelhar para mostrar o bebê a
eles.

— Vamos para o jardim, tem chá nos esperando antes


do jantar. Khalil e Khalif possuem muitos assuntos para
colocar em dia.

Sinto uma queimação em meu rosto em decorrência


da vergonha. Khalif não veio para Dubai por culpa minha,
não que eu o tivesse obrigado, pois o Sheik disse em todo
o momento que não retornaria sem o filho, e, embora isso
tenha mexido comigo, devo confessar que fiz tudo o que
estava ao meu alcance para postergar esse momento pelo
medo que sentia em vir com ele, encontrar e conhecer
sua família e tudo o que isso significaria.
— Vamos!

Eles começam a se afastar, mas Khalif permanece


parado ao meu lado, esperando que estejam longe o
suficiente para que possa falar comigo em sigilo.

— Por que não me contou que sabia falar árabe? —


Ele me puxa, virando-me em sua direção.

É difícil pensar ou raciocinar estando assim tão perto,


mas forço as engrenagens do meu cérebro a trabalhar.

— Eu aprendi enquanto estive de licença


maternidade.

A boca de Khalif se torna uma linha fina.

— Por quê? — questiona com as sobrancelhas


franzidas.

Dou de ombros.

— Eu queria ensinar a Zayn mais coisas do que


simplesmente o significado do seu nome árabe.

E é verdade, jamais imaginei que eu reencontraria o


príncipe. Pensei sim que um dia isso ocorreria, mas que
aconteceria quando o meu filho chegasse à idade
suficiente para querer ir atrás do pai, nada tão prévio.
Então comecei a fazer um curso online, aprendi o básico
e depois passei para o intermediário com o intuito de
ensinar Zayn no futuro para que ele pudesse se
comunicar com a família paterna.

— E manteve em segredo.

— Não achei necessário falar nada, nas ocasiões em


que nos encontramos eu nem mesmo precisei colocar o
árabe em prática. — aquiesço, registrando cada reação
fugaz do seu rosto.

— Fico feliz que tenha se interessado em aprender


sobre nós.

— Vocês são e sempre foram a família de Zayn,


Khalif. Eu não contei sobre ele para você, mas isso não
significa que eu não contaria de você para ele.

Noto a contração em sua mandíbula, denunciando


que Khalif não gostou do que ouviu.

— E diria o que, Brianna? Que o pai lhe abandonou?


— o tom de voz revelando uma amargura pregressa.

Desvio o olhar para o lado, afetada pelas palavras


secas.

— Eu diria que a mãe foi covarde demais para falar


da gravidez. Eu diria que a família nunca soube da sua
existência e que a culpa foi integralmente minha. Eu diria
que cometi um erro. — pigarreio.
Khalif fica em silêncio por alguns segundos, então me
abraça e planta um beijo no topo da minha cabeça.

— Vamos deixar essa história para lá. Você está aqui.


Zayn está aqui. E é isso o que importa agora.

Faço um leve manear de cabeça, concordando, mas


ainda sentindo a culpa me corroer.

— Vamos! Tem uma família ansiosa para conhecer


melhor você, ainda mais agora que sabem que
conseguirão se comunicar. — Ele segura a minha mão,
me puxando para dentro da sua casa.

Deixo Brianna com minha mãe, Zaya e as crianças, e


encontro Khalil na sala de estar. Meu irmão segura um
copo com arak e vejo outro disposto na mesa.

Sento-me no sofá ao seu lado e recolho o copo,


bebendo um pouco do líquido branco e adocicado.

— Por que elas estão sem hijab?


Mamãe e Zaya estão vestidas à caráter, contudo, os
cabelos soltos foram uma verdadeira surpresa. Nem
mesmo nas últimas vezes que eu compareci em casa elas
estavam assim tão... à vontade.

— Elas preferiram assim. Chegaram à conclusão que


seria uma melhor forma de recepcionar Brianna que não é
da nossa religião a não se sentir tão deslocada.

Um sentimento de gratidão e admiração tremeluz em


meu peito. Mamãe e Zaya amam o hijab, para elas
significa uma aliança com Allah, o que é sinônimo de
admiração. Portanto, desistir de usar algo com um
significado tão forte assim somente para deixar a mãe do
meu filho confortável é... amável.

— Não posso esquecer de agradecê-las. — Bebo


mais um gole do meu arak.

— Ah, nem precisa se incomodar. Elas estão felizes


por poder fazer isso pela sua brasileira.

Rio.

— Minha brasileira?

Khalil está prestes a levar o copo a boca, quando


para imediatamente e me lança um olhar enviesado.

— Aliás, o que aconteceu com Aiyra? – ignora a


minha pergunta.
— Nós terminamos.

— Quando?

Suspiro, os dedos se crispando envolta ao copo


conforme me lembro de tudo o que Aiyra fez em nosso
último encontro.

— Eu cheguei em casa e ela estava me esperando,


então encontrou Brianna e Zayn... enfim, você já deve
imaginar o resto.

Khalil parece cauteloso, meio retraído.

— Ela entrou em contato comigo há dois dias, queria


saber quando você retornaria do Brasil para que pudesse
fazer uma surpresa. Eu sinto muito Khalif, não pensei que
ela fosse causar problemas.

Passo a língua na boca ressecada e as mãos nos


cabelos.

— Não foi culpa sua, Aiyra não deveria ter falado da


Brianna da forma como falou. Além do mais, eu já queria
terminar o relacionamento, só estava esperando a
oportunidade certa. Às vezes eu até mesmo acho que ela
sabia disso, e por isso veio me evitando nas últimas
semanas.

— E como estão as coisas com a brasileira? — Khalil


muda de assunto, percebendo a mudança no meu humor
ao tocar no nome da minha ex-namorada.

Encaro a porta por onde eu entrei, pensativo.

— Não estão. Brianna não quer um relacionamento,


ela não quer se converter ao islamismo e muito menos
ficar aqui, longe da família.

Khalil solta uma risada, o que chama imediatamente a


minha atenção, pelo gesto enigmático.

— O que foi? — pergunto com a voz falhando e o


coração acelerado.

A mudança no rosto de Khalil e a intensidade que os


olhos adquirem, por alguma razão, me causa uma
inquietude de arrepiar.

— Porque Fátima Farzur não irá sossegar enquanto


não ver Brianna, a mãe do seu primogênito, como a sua
legítima esposa.

Ofego, sabendo exatamente o que isso significa, pois


quando Fátima Farzur coloca uma coisa na cabeça, nem
mesmo Allah consegue tirar.
Assim que chegamos à mesa disponível nos fundos, a
qual fica de frente para uma piscina, as crianças saem
correndo para brincar no jardim. Fátima se senta com
Zayn em seu colo, entregando-lhe um brinquedo.
Enquanto Zaya faz um leve gesto com a mão, solicitando
a presença de um empregado para que sirva o chá.

— Espero que goste de chá de Karkadeh. — fala


Zaya, abrindo uma bandeja com biscoitos.

Sinto meu cenho franzir.

— Eu não tenho certeza do que é isso.


Zaya ri.

— É chá de hibisco. — explica.

— Ah, eu gosto sim.

Uma moça mais velha, vestida dos pés à cabeça com


um manto preto que deixa somente os olhos de fora,
termina de servir nossas xícaras, então se afasta, dando-
nos privacidade.

— Então, nos conte sobre sua gravidez, como foi?

Paro para pensar por alguns instantes nos nove


meses em que estive com Zayn no ventre. Nem sempre foi
fácil, mas foi a tarefa mais importante que já me foi
designada.

— Foi tranquilo, embora eu tenha sentido muitos


enjoos. — beberico um gole da bebida quente,
saboreando o chá.

— Ah, sei como é. Eu tive gêmeos, então duplica


esses sintomas.

Arqueios as sobrancelhas, espantada.

— Deve ter sido difícil.

Zaya dá de ombros.
— Não posso dizer que foi fácil, mas foi a melhor
coisa que já me aconteceu. Eu quis tanto os meus filhos
que às vezes a vontade chegava a sufocar, tornando-se
quase uma necessidade.

Eu deveria me manter silente, não fazer perguntas,


pois a conotação na voz de Zaya delata que isso é algo
pessoal, algo que ela ainda sente certa dor por ter
passado, porém, a vontade de conhecer essa família
melhor e a curiosidade falam mais alto, no fim das contas.

— Por quê?

Zaya mastiga um biscoito, engolindo-o com a ajuda


do chá e suspira antes de continuar:

— Eu fiquei anos tentando engravidar. Nós árabes


levamos a família muito a sério, filhos é uma benção, uma
preciosidade, quantos mais nós tivermos, mais felizes
seremos. E todos aqueles meses quando meu sangue
descia... — sua voz falha pela emoção. — eu me sentia
fraca e inútil.

— Ei, não, Zaya, não diga isso! Cada corpo é um


corpo e cada mulher reage de alguma forma. Enquanto
umas só de olhar para o marido engravidam, outras
precisam batalhar muito para conquistar o sonho da
maternidade. — brinco, tentando diminuir a tensão no ar.
Os lábios de Zaya se curvam, mas o sorriso não
chega aos olhos.

— Eu sei. Mas Khalil era o Sheik de Dubai e Abu


Dhabi, esperava-se que eu lhe desse um filho. Enfim, sou
grata a Allah por ter me dado um marido maravilhoso.
Khalil esperou comigo todo os anos sem nunca ir em
busca de uma segunda esposa.

Um nó se forma em meu estômago, fazendo-me


estremecer.

— Ele... ele iria atrás de outra esposa?

— Alguns homens já fizeram isso, sabe. Como eu


disse, filhos são sinônimo de felicidade e quando as
esposas não conseguem... enfim, o homem precisa ir
atrás de outra.

Uma parte minha acha isso um absurdo, mas outra


reconsidera, ainda mais levando em conta que no Brasil
os homens vão atrás de outras mulheres no anonimato. É
tudo hipocrisia, ambas só soam diferentes.

— Mas, me fale de você, Brianna. Em algum momento


contaria para Khalif sobre Zayn?

Engulo em seco. Até mesmo a mãe do árabe parou de


brincar com o neto, atenta a mim.
Agarro a xícara com mais força, as unhas guinchando
no porcelanato, enquanto penso em uma resposta que
não corrobore ofensa a ninguém:

— Eu contaria, sim. — Faço uma pausa, hesitando


por um momento, mas, continuo: — Não agora, em algum
futuro quando ele sentisse vontade de conhecer o pai.

— E por que você fez isso? — indaga Fátima.

— Eu fiquei com medo.

— Medo de quê? — refuta Zaya, as palavras não


entoando crítica, apenas tácita resignação.

— Eu não sei exatamente.

Elas ficam em silêncio, pensativas. Zayn faz barulhos


com a boca, brincando e mordendo o brinquedo que está
nas mãos da avó, alheio a toda a tensão.

— Ele é tão lindo. — admira Fátima, os olhos


brilhando fixos no neto.

Solto a respiração que eu estava prendendo,


embalando a cabeça em alívio pela mudança de assunto.

Uma fisgada de curiosidade vem me assolando desde


o momento que eu cheguei aqui e vi Fátima e Zaya,
embora eu tenha um pouco de vergonha e receio de
perguntar, cederei a curiosidade mais uma vez.
— Por que vocês estão sem o véu?

Elas param automaticamente, as costas retesadas,


então trocam um olhar cúmplice antes de Zaya explicar:

— Não precisamos usar o hijab em casa.

— Mas na rua sim?

— Sim.

— E é obrigatório? — Celina já me deu essa


resposta, mas gostaria de ouvir da boca de uma árabe
para ter certeza.

— Em alguns Países é sim obrigatório, contudo, há


alguns anos Khalil modificou isso, afinal, não está escrito
no alcorão que é um dever.

— Então por que vocês usam?

Eu acabei de fazer a pergunta que a maioria das


pessoas que não seguem o islamismo tem interesse em
fazer, mas não a coragem. Enfim, não tenho ideia do que
diabo me saí da boca, é como se o filtro tivesse sido
removido, me deixando completamente desinibida frente a
elas.

— Porque nós queremos. — declara, com uma


expressão impassível. — Para nós usar o hijab é
significado de honra. É algo nosso com o nosso Deus,
compreende? Se não quisermos usar, ninguém virá nos
punir ou o que quer que você pense.

— Me desculpe, eu só estou tentando entender.

Zaya abre um sorriso acolhedor.

— Não se preocupe, Brianna. Estou satisfeita em


sanar todas as suas dúvidas. — Ela faz um gesto com a
mão. — se tiver curiosidade sobre mais algum assunto,
por favor, fique à vontade.

Levo um dedo ao queixo, pensativa.

— Você sabia que nem sempre os árabes assumiram


estrangeiras? — Fátima fala depois de um tempo.

— Como assim?

— Antigamente muitas coisas predominavam o


casamento, afinal, ele significa aliança. No passado,
cultura e religião eram mais significativas do que qualquer
outra coisa, dessa forma, os homens iam atrás de
mulheres que obtivessem ambos.

A união do Jamal e Celina passa imediatamente pela


minha cabeça.

— Mas... hoje isso mudou, não é? — Caso contrário,


matarei Jamal com as próprias mãos se ele fizer Celina
sofrer.
— Sim, muita coisa mudou com o tempo. Hoje em dia
é possível a união, desde que a mulher se converta ao
islamismo. — Ela ri, e acrescenta.: — Não se preocupe
com sua amiga, Jamal é um Sheik e mudaria as leis da
sua federação se isso significasse se casar com a noiva.

Ainda não compreendo exatamente como essas


coisas funcionam, só sei que Sheik é um título dado a um
comandante de um povo, nada além disso. Mas me sinto
mais aliviada ao saber que Jamal teria todo esse poder e
vontade somente para assumir Celina.

— E se converter ao islamismo significa


obrigatoriamente usar o hijab?

— Não. Como Zaya havia dito, o hijab é uma ligação


nossa com Allah, você não precisa usar se for se sentir
desconfortável, pois Allah jamais iria querer isso.

No final das contas, Celina tinha razão quando


defendeu veemente seu casamento com Jamal. Mas não
podemos nos culpar por ter pensamentos tão suspeitosos
contra os árabes, pois enquanto o resto do mundo vem há
algum tempo se modernizando, eles só começaram a
fazer isso agora. Além do que, uma mulher que nasceu e
foi moldada pela liberdade, jamais cederia a uma prisão
por um casamento, assim sendo, é melhor perguntar,
sempre.
— Mas é claro que alguns casamentos são mais
convenientes do que outros... — continua Fátima após
minutos em silêncio.

— Não entendi.

Ela faz um movimento de dar de ombros.

— Por exemplo: casar com o Sheik traz mais


benefícios e mais vantagens do que casar com um árabe
comum. Mesmo que o hijab não seja obrigatório, ainda
existe algumas que enfrentam o preconceito dos mais
antigos, os quais acham que deveria sim ser imposto
como vestimenta indispensável. Sendo assim, a mulher de
um príncipe não passaria por isso, ninguém teria coragem
de levantar uma única palavra contra ela. — Malícia
tremeluz nos olhos da avó do meu filho.

Pigarreio.

— Deve ser bom...

— Ah, é sim.

Só Deus sabe onde Fátima Farzur quer chegar com


essa história, mas me parece um plano muito bem armado
e articulado.

Zayn resmunga, quebrando o silêncio para a minha


sorte e felicidade.
— Ele está com fome. — Levanto-me e retiro o bebê
dos seus braços, estou prestes a retornar para a cadeira
e amamentá-lo quando me lembro que não estou no
Brasil. — Eu... hã... onde eu posso dar de mamar para
ele?

— Venha, vamos para o antigo quarto de Khalif. —


Zaya se levanta.

— Verificarei quanto tempo ainda falta para o jantar.


— avisa Fátima.

Sigo Zaya para dentro da casa e fico perplexa com o


luxo da residência. O local todo em mármore branco e
lustres brilhantes e espelhados, possui alguns detalhes
em dourado, como o mastro das escadas. Subimos um
lance, vejo um extenso corredor com algumas estatuas e
portas, mas Zaya começa a subir outro lance de escadas,
indo para um terceiro andar. No local há algumas portas,
passamos por uma entreaberta e eu vejo uma biblioteca
com um piano. Outra porta e eu vejo uma sala com um
bar. Por fim, no final do corredor, Zaya entra no cômodo.
O antigo quarto do sheik é amplo e claro, assim como o
restante da casa. Há uma cama de dossel no meio, e
alguns sofás ao lado, de frente para uma enorme
televisão. Um bar, uma porta para um vasto banheiro e
outra para o closet.

— Pode amamentá-lo aqui. Descerei para ver as


crianças, quando estiver pronta, é só me avisar.
— Obrigada.

Zaya sai do quarto e deixa a porta entreaberta.


Sento-me em um dos sofás com Zayn no colo, abaixo a
blusa despojando o seio direito, seu favorito, e levo sua
boca até o bico. Imediatamente ele começa a mamar,
faminto.

Olho ao redor enquanto aguardo meu filho se


alimentar, inspecionando tudo minuciosamente.

Sinto o nervosismo iminente anterior se dizimar,


conforme vou me habituando e me acalmando. Quase
entrei em pânico durante o nosso percurso até aqui,
pensei em inúmeras possibilidades de como seria a minha
recepção e nenhuma delas era agradável, dado ao fato de
que eu omiti a existência do Zayn por todo esse tempo.
No entanto, posso afirmar que fui muito bem-
recepcionada e que já nutro um enorme carinho pela
família Farzur.

— Estava me perguntando onde elas teriam colocado


vocês. — Estreito os olhos e vejo Khalif parado próximo
da porta com as mãos nos bolsos.

— Alguém aqui precisava se alimentar.

O Sheik caminha em minha direção com sua


graciosidade própria, o terno moldando-se aos seus
músculos pelos movimentos, sentando-se ao meu lado,
por fim. Zayn encara o pai, mas permanece agarrado ao
seu alimento favorito: o leite materno.

— Ele é um menino muito faminto. — Khalif segura a


mão do bebê. — Como foi com a minha mãe e Zaya?
Espero que elas não a tenham causado nenhum
desconforto.

Sua pergunta é um tanto suspeita, ainda mais


levando em consideração o quanto Zaya e Fátima estão
se mostrando serem mulheres maravilhosas.

— Elas foram ótimas e ainda me ensinaram muitas


coisas sobre o islamismo.

Os olhos de Khalif ganham contornos de diversão.

— É mesmo? E o que exatamente elas ensinaram a


você?

— Sobre o hijab, principalmente.

Khalif faz um gesto com a cabeça, soltando uma


risada rouca e gostosa de ouvir.

— É claro que sim.

Acaricio a pele macia do rosto do meu filho, sentindo


meu coração quentinho por compartilhar esse momento
com eles.

— Sua família é maravilhosa, Khalif, você tem sorte.


— A sua também.

Encontro o olhar de Khalif, sorrindo.

— Zayn tem sorte de poder desfrutar das duas


famílias maravilhosas.

— Espero que não seja só ele. — A voz soa rouca,


quase um murmúrio enquanto os olhos encaram a minha
boca com intensidade.

Nossos corpos começam a se encontrar,


aproximando-se como ímãs. Algo lampeja em seus olhos,
malícia e outro sentimento não identificável. O ar parece
se tornar mais denso, escasso, sumindo conforme meu
coração bate, acelerando mais a cada segundo, a cada
centímetro de proximidade. Até mesmo Zayn permanece
calmo, mamando em completo silêncio.

— Brianna como ele está? — Zaya entra no quarto,


fazendo-me pular para o lado e manter uma distância
segura de Khalif.

Pigarreio.

— Está bem, mas ainda não sei quanto de leite falta


para deixá-lo satisfeito.

Zaya sorri.
— Ah, não podemos deixar o bebê Khalif faminto. Vou
descer e pedir para que sirvam a comida com calma.

— Obrigada.

Zaya gira os calcanhares e corre para fora do quarto,


deixando-me sozinha novamente com o príncipe.

— Você já tem uma data para retornar ao Brasil?

Fico rígida instantaneamente com essa pergunta. É


claro que eu não pensei nisso, na verdade, não quis
estipular uma data, pois imaginei que a família de Khalif
iria querer passar mais tempo com Zayn.

Reprimo o sentimento de desgosto, fundo o


suficiente para que não passe de uma mera sensação
bramindo dentro de mim.

— Eu... eu não pensei ainda, mas se você quiser,


posso estipular uma. — saliento, com a voz aguda.

Khalif levanta as mãos para cima, reclinando-se.

— O quê? Claro que não! Eu fiz a pergunta


justamente para me preparar psicologicamente para vê-
los partir.

Procuro no rosto de Khalif algum resquício de


mentira, mas não encontro nada. Qualquer agonia que
tenha perpassado agora se transformou em algo mais
leve, mal conseguindo conter o arrepio de alívio.

— Tem certeza? Não quero incomodá-lo.

Khalif segura a minha mão, acariciando o dorso em


movimentos circulares com o polegar.

— Sim, Brianna, eu tenho certeza. — responde sem


oscilar.

Como uma idiota, meu coração retumba de maneira


descompassada, mas, imediatamente, eu suprimo
qualquer sentimento insignificante que queira emergir.

Da sacada, escondido pela iluminação precária do


local, encaro Brianna que conversa e ri animadamente
com a minha família. Zayn está confortável no colo de
Fátima, brincando com alguns lenços da avó, enquanto
Zaya mostra à Brianna algumas joias e Khalil ensina
alguma coisa.
A cena, algo banal para olhos alheios, me causa um
sentimento estranho, quente e puro, que formiga em meu
peito.

Eu não sou mais o mesmo homem que Brianna


conheceu há um ano e meio, àquele Khalif já evaporou
como fumaça. O garoto festeiro foi embora e deu lugar a
um homem ajuizado. No passado, talvez a cena não me
emocionasse tanto, mas hoje, eu sinto e tenho a
necessidade de ter certeza de que continuarei vendo e
vivenciando isso. Agora só falta fazer com que Brianna
Artonino concorde comigo.
— Eu preciso resolver algumas coisas na rua, mas
minha mãe e minha cunhada estão vindo para lhe fazer
companhia. — avisa Khalif, terminando de abotoar o pulso
da camisa.

Faz uma semana que eu cheguei em Dubai e, desde


então, Khalif tem passado quase todo o seu tempo comigo
e com Zayn. Celina está atarefada com as coisas para o
casamento, portanto, mal temos mantido contato. E falar
que ela está empolgadíssima seria um eufemismo, minha
amiga simplesmente publica tudo no Instagram, além de
estar eufórica pelo casamento árabe durar três dias.
— Tudo bem, não precisa se preocupar. Eu e Zayn
ficaremos bem.

Khalif coloca o blazer, arrumando as lapelas, virando-


se para recolher a carteira e o celular de cima da mesa,
ele me encara:

— Acredite, eu nem precisei pedir. Khalil disse que


eu ficaria a tarde fora e elas prontamente se ofereceram
para te fazer companhia.

É tão difícil me concentrar no que ele está falando


quando o Sheik está tão atraente vestido de forma
pomposa. Khalif arrumou os cabelos, repuxando-os para
trás. O terno de coloração acinzentada cai muito bem com
a camisa branca, acentuando o tom dos seus olhos.

— Brianna... — Sua voz entoa, tirando-me das


divagações.

Envergonhada, abro um meio sorriso.

— Sim?

— Ouviu alguma coisa do que eu falei?

— Eu estava.... hã... estava pensando em outro


assunto. Desculpe. Pode repetir?

O brilho de satisfação que aparece nos olhos do


Sheik deixa claro que ele sabe muito bem em qual
assunto eu estava pensando.

— Eu perguntei se você gostaria de sair comigo,


podemos ir em alguma boate legal como a que conheceu
quando veio na primeira vez.

— Ah, é claro! Quando?

Zayn agarra o meu cabelo, mas eu puxo o bebê para


longe, o que faz Khalif rir.

— Quando você quiser, estou sempre disponível para


você. — Finjo que não senti ambiguidade em suas
palavras.

Khalif caminha até onde estou, planta um beijo na


cabeça do bebê e posteriormente na minha.

— Vejo vocês mais tarde.

Ouço o barulho da porta batendo, transformando o


apartamento em um local grande e silêncio sem a sua
presença. Olho para Zayn, o bebê me encara como se
estivesse questionando o que está acontecendo.

— Bom, seremos somente você e eu por um tempo.


— Beijo o seu rosto.
— Compras, nós precisamos fazer compras para
Brianna! — exaspera Zaya.

Estamos sentadas na sala de estar de Khalif


degustando de um maravilhoso chá da tarde
especialmente preparado por sua governanta. Fátima está
no tapete, entregando alguns mordedores para Zayn,
enquanto brinca com o neto.

Diferente do dia em que nos conhecemos ou de todas


as vezes conseguintes que eu fui visitá-las, hoje, as
mulheres usam o famoso hijab.

— Por que compras? — indago, engolindo um pouco


do chá quente totalmente perdida com o rumo do nosso
assunto.

Zaya dá de ombros.

— Pensei que quisesse se habituar mais com a nossa


cultura. — Ela faz um gesto com a mão. — Está até
mesmo falando árabe fluente.

— Eu estudei árabe por Zayn. — pontuo.

— Sei... — Zaya devia o olhar para o pote de


biscoito, pegando um pequeno pedaço, antes de falar: —
Não gosta das nossas vestes?

Olho-a da cabeça aos pés. A roupa larga e clara tapa


absolutamente cada pedaço do corpo, deixando somente
as mãos à mostra. No entanto, o lenço que cobre a
cabeça e esconde seus lindos e longos cabelos, contrasta
com a maquiagem pesada nos olhos. É como se Zaya
tivesse nascido justamente para vestir isso, pois,
espantosamente, ela parece ainda mais linda assim.

— É que... parece desconfortável.

— Mas quem disse que você precisa usar as vestes


completas? Pensei em alguns lenços, só isso. — pondera.

— Como assim?

Antes que ela possa responder, a campainha toca e a


governanta passa correndo, indo atender o visitante.
Momentos depois ouvimos a voz da Celina.

— Brianna, você nem sabe... — sua voz morre


quando ela percebe que estou acompanhada. — Oh,
vocês devem ser a família de Khalif, é um prazer
conhecê-las. — profere em um árabe melhor que o meu.

De queixo caído, admiro minha amiga vestindo o


famoso hijab. Celina usa um vestido longo na cor azul de
mangas curtas, os cabelos estão escondidos por um lenço
na mesma tonalidade, mas alguns tons mais claros. Os
olhos bem delineados e sombreados, o rosto bem
contornado e os lábios tingidos lhe conferem um ar de
saúde e jovialidade.

Esplêndida! Essa é a palavra que a descreve bem.


— Celina, nem acredito que finalmente estamos tendo
a honra de conhecer a noiva do Jamal! — Fátima se
levanta para ir abraçá-la, à guisa de cumprimento.

Após as formalidades, Nádia traz outra xícara para


Celina.

— Era sobre isso que eu estava falando. — murmura


Zaya olhando para mim.

— Sobre o quê?

Zaya faz um leve manear com a cabeça apontando


com o queixo para Celina e eu entendo completamente.
Celina já está se adaptando à cultura árabe, e muito bem
por sinal.

Entramos em uma conversa trivial, relativa ao


casamento de Celina e Jamal. Estou ansiosa para o
evento, tanto por poder participar de algo tão diferente do
que eu já presenciei, como para poder rever minha irmã e
Ivana, das quais eu estou morrendo de saudades.

Nádia, em passos silêncios, se aproxima de nós. Noto


que ela segura uma pequena bolsa nas mãos e parece um
pouco retraída.

— Preciso ir ao mercado, gostaria de alguma coisa


em específico?
Sinto meu cenho franzir por ela estar indagando isso
justamente para mim, ainda mais considerando que eu
sou somente uma visita.

— Não, obrigada.

Com um aceno de cabeça, Nádia sai da casa,


deixando-nos a sós.

Celina conta mais um pouco sobre suas opções. Ela


disse que está tentando misturar um pouco de cada
cultura, pois quer algo que lembre aos convidados que ela
é brasileira e com muito orgulho. Em dado momento a
campainha volta a tocar, como Nádia saiu, levanto-me
para atender.

Abro a porta e vejo um homem parado no rol de


entrada. Ele se veste à caráter do local, diferente de
Jamal e Khalif. Os olhos são ávidos como os de um
predador e maliciosos como os de um patife. A expressão
em seu rosto é delinquida.

— Olá. — cumprimento-o unindo as sobrancelhas em


desentendimento.

O homem faz o mesmo, retribuindo a expressão de


surpresa.

— Eu conheço você! — semicerra os olhos.


— Não sei se seria possível, cheguei há pouco
tempo.

Um silêncio um tanto constrangedor se estende


enquanto ele me encara da cabeça aos pés.
Imediatamente não gosto dele e da sua falta de decoro.

— Preciso falar com Khalif.

— Ele não está.

A vontade de perguntar o seu nome pinica na minha


língua, mas sei que isso estenderia ainda mais o nosso
diálogo e eu não gostei dele, portanto, melhor encerrar a
conversa de uma vez.

— Precisa de mais alguma coisa? — questiono,


deixando evidente no meu tom que estou ficando
impaciente.

Seus lábios se repuxam em um sorriso malicioso.

— Quem é você, afinal? Aiyra eu sei que não é.

Sinto meus ombros rígidos a menção do nome da ex-


namorada do Khalif.

— Como eu disse, Khalif não está! Passar bem.

Tento fechar a porta, mas o inconveniente impede


colocando um pé.
— É falta de educação não responder as visitas,
principalmente, não as convidar para entrar para um chá,
estrangeira!

Se antes eu duvidava que não havia gostado dele,


agora eu tenho total certeza dos meus sentimentos.

— E inapropriado, ainda mais quando estamos


somente entre mulheres, Omar. Mas você deveria saber
disso. — Zaya escancara a porta.

Omar, reviro a minha mente em busca desse nome,


tendo um leve intuito de que eu já ouvi alguma vez, mas
não consigo lembrar de nada.

O árabe inconveniente muda completamente ao ver


Zaya, seus olhos arregalados e as bochechas coradas são
sinal da vergonha. Ele pigarreia e arruma o lenço branco
que cobre a cabeça.

— Olá, Zaya, como vai?

— Estava muito melhor antes de você aparecer. — O


tom de voz dela soa tão seco, que eu até mesmo a
encaro, espantada. — Mas agora me diga o que é tão
importante ao ponto de fazê-lo querer invadir uma casa
com mulheres desacompanhadas?

Omar dá um passo para trás, como se tivesse sido


atingido por algo.
— Eu... eu... desculpe, eu não sabia.

— Não se preocupe, quando Khalif chegar


comunicarei a ele da sua visita.

Pensei que não fosse possível, mas Omar fica ainda


mais branco do que antes, os olhos dobrando de tamanho.

— Estou indo, até mais.

Ele corre para o elevador e afunda o dedo no botão,


chamando a caixa metálica com certo desespero. Zaya
bate à porta com uma força exagerada, causando um leve
baque. Ela me encara, levando um dedo ao queixo,
pensativa.

— Venha! Você precisa aprender algumas coisas. —


Me conduz de volta para sala, onde Celina e Fátima
conversam animadamente.

Sentamo-nos no sofá e eu me sinto um pouco


nervosa por conta de toda essa situação.

— Jamais podemos receber homens em casa sem a


companhia de nossos maridos. — explica.

Tensa, mordo a boca, fitando-a.

— Por quê?

— Porque devemos respeitar nossos maridos. —


Estou prestes a contra-argumentar e falar que não tenho
marido, quando Zaya levanta uma mão, interrompendo-
me. — Hoje em dia as coisas estão diferentes, mudadas
graças a Khalil e Khalif, um exemplo disso é de que
mulheres podem morar sozinhas, dessa forma, a visita de
um homem não se aplica a elas, pois elas são donas da
própria casa. Mas aqui, como Khalif é o proprietário, seria
desonroso receber Omar.

Sinto o vinco na minha testa se aprofundar mais.

— Então se uma mulher quiser receber o pai ou o


irmão, ela não pode? — Embora eu tente manter o
ceticismo escuso, meu tom de voz me deleta.

Zaya solta uma risada.

— Membros da família é diferente, querida, isso só se


aplica a homens desconhecidos.

Eu sempre soube que haveria muitas e muitas coisas


que eu precisaria estudar, só não imaginei que atitudes
tão banais como essa fosse causar algum transtorno. Por
outro lado, me sinto aliviada por essa regra um tanto...
atípica, pois eu não gostei nem um pouco de Omar e ter
isso como empecilho para mantê-lo longe me deixa
aliviada.

Encaro Celina com uma pergunta estampada nos


olhos, como uma boa amiga, ela compreende
imediatamente e balança a cabeça com veemência,
concordando.

Parece que alguém fez a lição de casa. Brinco


mentalmente.

A reunião demorou mais do que eu esperava, mas no


fim, tudo ocorreu muito bem.

Entro no veículo e induzo ao motorista para que vá


direto para casa, me sinto ansioso para encontrar Brianna
e Zayn.

Meu celular toca, estranho ao visualizar o número de


Zaya na tela, é incomum ela me ligar. Inspiro fundo,
soltando o ar pela boca devagar, tentando me acalmar e
cessar as imagens que passam pela minha mente fértil.

— Khalif.

— Como você está, querido?

Encaro a janela do veículo, vendo a imagem borrada.


— Agora, nervoso com a sua ligação.

Zaya solta uma risada, o que me deixa um pouco


mais aliviado.

— Nada que precise se preocupar, eu só liguei para


comunicá-lo de que Omar esteve em seu apartamento.

Minha mandíbula se contrai e uma veia em minha


testa pulsa pelo sentimento de ódio dominante pelo que
eu acabei de ouvir.

— Explique-se. — Faço um movimento com a mão,


induzindo-a, mesmo que ela não possa ver.

Como Omar ousa visitar o meu apartamento sem a


minha presença? Será que eu precisarei ensinar ao meu
amigo distante como funciona o nosso territorialismo?
Isso é ultrajante!

— Ele queria entrar... — Zaya faz silêncio,


ponderando se deve ou não revelar algo, mas cede no
final. — em sua casa à força.

Soco o banco da frente, incontido pela raiva do que


Zaya acabou de falar. Alguns homens declararam guerra
por muito menos que isso.

— Eu vou matá-lo.

Zaya solta uma respiração pesada.


— Não acredito que deva chegar a tanto, Khalif.
Creio que Omar não fez de propósito, afinal, ele não
sabia sobre Brianna. E outra, Brianna também não sabia
que não podia receber um homem sem a sua presença.
Enfim, somente uma conversa e um alerta será suficiente.

Cerro os punhos com força e fecho os olhos,


respirando profundamente.

— Ele jamais deveria ousar fazer isso com Brianna.

A risada com humor de Zaya me irrita.

— Brianna é sua, Khalif? Pois se for, ninguém sabe.


Como quer que Omar ou qualquer outro homem tenha
noção de que há uma mulher em sua casa, se você
próprio não comunica a ninguém?

Não me importa o que eles acham, Brianna é minha e


ponto final. Faz mais de um mês que voltamos a ter
contato e estamos convivendo bem, contudo, faz poucos
dias que eu terminei com Aiyra e, apesar de estarmos
basicamente separados há meses, eu resolvi dar um
tempo para que todos assimilassem a nossa separação.

— O que você está esperando, Khalif? — continua


Zaya.

— Eu não sei. — Frustrado, passo a mão nos cabelos


revoltos. — Brianna foi enfática ao falar que jamais se
submeteria a um casamento.
— As coisas estão mudando, querido. Brianna está
vendo nossa cultura de outro ângulo e com novos olhos.
Enfim, só liguei mesmo para narrar o ocorrido. Espero que
tenha uma boa noite de sono.

— Obrigado, Zaya. Boa noite.

Desligo o celular e jogo no banco ao lado. Minha


cunhada tem razão em muitas coisas, porém, tenho medo
de assustar Brianna com investidas, fazendo-a correr de
volta para o Brasil. Estou tão apegado a Zayn e a ela que
eu iria atrás deles, mesmo que isso significasse abdicar
do meu título.

Eu estou sujeito a ceder por Brianna, agora basta


saber se ela também está sujeita a ceder por mim.
Balanço Zayn de um lado para o outro quase
chorando junto com o bebê. O choro incessante do meu
filho começou há algumas horas e não parou mais.

— Eu vou chamar um médico! — avisa Khalif com o


semblante cansado e preocupado.

Quando Zayn acordou chorando, pensei que fosse


somente para a sua alimentação rotineira de todas as
madrugadas, contudo, o bebê não quis o leite e quando o
forcei, ele vomitou. Me senti imediatamente culpada e
uma péssima mãe por não ter entendido o desejo do meu
filho. Depois disso, começou o choro tão forte e tão alto
que foi capaz de acordar Khalif e todos os seus
funcionários. Quando nem mesmo o Sheik conseguiu
acalmá-lo, viemos para sala tentar desvendar o problema,
mas até agora nada.

Beijo a testa de Zayn e sinto-o quente, meu coração


acelera e as lágrimas começam a acumular nos cantos
dos olhos.

— Ele está quente. — murmuro, chamando a atenção


de Khalif.

O príncipe caminha em minha direção e,


delicadamente, pousa o dorso da mão na testa do filho.

— Acho que está com febre.

— Eu tenho um termômetro na bolsa, eu vou buscá-


lo.

Faço um movimento em direção ao elevador, mas ele


segura o meu braço, mantendo-me no lugar. Com um
pequeno gesto de mão, Nádia dispara na direção que eu
estava indo.

— Ela não precisava fazer isso, deveria estar


descansando.

Khalif acaricia a minha cabeça, forçando-me a olhar


em seus olhos.
— Nádia é uma mulher solícita, Brianna. Se você
fizesse algo que ela mesma poderia fazer, Nádia se
sentiria ofendida e até mesmo magoada.

Acho isso estranho, mas não protesto, estou nervosa


e preocupada de mais com a saúde do meu filho.

Em instantes, Nádia retorna com o termômetro em


mãos, ela me entrega o aparelho. Sento-me no sofá e
coloco debaixo do braço de Zayn. Os minutos que se
sucedem são os mais demorados de toda a minha vida,
quando o aparelho apita, retiro-o imediatamente para
verificar o resultado.

Ofego, aturdida.

— Ele está com quase trinta e nove graus. — Meu


peito comprimi, ardendo em agonia e desespero.

Eu não sei como agir! Essa é a primeira vez que meu


bebê fica doente. Além do mais, nas outras vezes que ele
adoeceu por coisas mais simples, como um pequeno
resfriado, eu tinha Maitê e meus pais para me amparar, e
agora...

Caio no choro.

— Ei, ei! — Khalif se ajoelha de frente para mim. —


Vai ficar tudo bem, eu vou solicitar a presença de um
médico com caráter de urgência.
Sem condições de falar absolutamente nada, limito-
me a acenar.

Khalif corre para o seu quarto em busca do seu


aparelho celular. Abro os olhos molhados e encaro o meu
filho, Zayn ainda choraminga, procuro em seu corpo
alguma marca, qualquer vestígio do que possa estar lhe
causando dor, mas não encontro nada, o que só amplia
ainda mais o meu desespero.

Como eu gostaria que fosse em mim, dói, chega a


corroer a minha alma de ver meu bebezinho chorando
desse jeito, e eu não poder fazer nada.

Khalif retorna com o aparelho e se senta ao meu


lado. Segundos, minutos ou talvez horas se passam
enquanto permanecemos inertes, encarando o nada,
acompanhando o ritmo dos soluços de Zayn, quando a
campainha toca, tirando-nos do estupor.

Um homem com o rosto amassado de quem estava


dormindo entra em nosso campo de visão. Ele segura uma
maleta na mão direita.

— Boa noite, sou o médico Said. — Apresenta-se.

— Estávamos ansiosos a sua espera, doutor. —


Khalif se levanta, dando passagem para o homem.

O médico, um homem de meia idade, cabelos


escuros, bigode grosso, nariz reto e pontudo, se
aproxima, sentando-se onde antes Khalif ocupava o lugar.

— Posso? — pergunta, trazendo as mãos para Zayn.

Balanço a cabeça com veemência, entregando o bebê


para ele e imediatamente sentindo falta do corpinho
quente em meus braços. Said deita Zayn em seu colo,
abre a maleta e começa a examiná-lo, o médico ouve a
respiração do bebê e seus batimentos cardíacos, olha os
seus ouvidos e, por fim, abre seus olhos e sua boca.

— Achei o problema.

— Qual é? — Khalif se agacha em nossa frente,


ansioso.

— Dente. — O médico levanta o lábio inferior de Zayn


e aponta para um lugar em específico em sua gengiva. —
Olhem bem aqui, essa parte inchada com esse pontinho
branco é um dente nascendo, por isso o choro e a febre.

Encaro-o e vejo na gengiva exatamente o que ele


disse, além da vermelhidão no local pela irritação.

— E agora? — pergunta Khalif.

O médico solta o lábio de Zayn, o qual se remexe


inquieto, e me entrega o bebê de volta.

— Vou receitar um remédio para febre e outro para


diminuir o incômodo causado pelo nascimento do primeiro
dente.

Said retira um bloco de dentro da pasta e começa a


escrever, arrancando a folha ao terminar e estendendo a
Khalif.

— Aqui está, depois que esse garotão tomar os


remédios, ficará melhor e conseguirá dormir.

Khalif estende a folha sobre a cabeça,


momentaneamente, um homem da sua esquipe de
segurança aparece e recolhe o papel, sumindo logo em
seguida.

— Minha equipe efetuará o pagamento, doutor.


Obrigado pelos seus serviços.

O médico termina de fechar a maleta, levantando-se


prestes a ir embora.

— Sempre que precisar, estarei disponível. É uma


honra, alteza. — Faz uma pequena reverência e sai.

Bom, isso foi estranho.

Embalo Zayn em meu colo, tentando acalmá-lo


enquanto o remédio não chega. O alívio imediato que eu
senti ao ouvir que não era nada sério, tirou um peso
enorme das minhas costas.
Khalif se senta ao meu lado novamente e acaricia as
perninhas do bebê.

— Mais calma, agora?

Solto um suspiro profundo em resposta.

— Muitas coisas passaram pela minha cabeça, menos


dente.

Ele sorri.

— Zayn é uma caixinha de surpresas.

— Ele e todas as crianças.

Mais rápido do que eu imaginava, o segurança


retorna com uma sacola da farmácia. Com pena, deixo
que Khalif manipule os remédios que Zayn precisa tomar.
E, como se fosse acostumado com isso, ele força o bebê
com maestria, dando-lhe os dois remédios sem fazê-lo
vomitar ou se engasgar no processo.

— Espero que ele não me odeie por isso. — murmura


depois de um tempo.

Continuo balançando Zayn, percebendo que ele está


quase dormindo.

— Ele nem vai lembrar, acredite.


Apesar do ar-condicionado ligado, o qual regula o
apartamento a uma temperatura agradável, suor brota nos
cabelos do bebê em decorrência da febre que está
baixando.

— Espero também que você tenha razão.

Solto uma risada baixinha para não o acordar.

— Ele adora as enfermeiras responsáveis por lhe dar


vacina. Ele tem muito mais motivo para odiá-las e mesmo
assim sempre sorri quando vê as duas.

Khalif cruza os braços atrás do pescoço, ressaltando


os músculos, só então eu percebo que ele está sem
camisa, vestindo nada além do que uma calça de
moletom.

Virgem Maria Santíssima!

Ouço-me resfolegar.

— Zayn é um menino maravilhoso.

Pigarreio, ainda afetada pela visão.

— É sim. — Minha voz sai esganiçada.

— Algum problema, Brianna? — Um vinco surge na


testa de Khalif, enquanto seus olhos analisam o meu
rosto.
Olho para Zayn e percebo que ele finalmente pegou
no sono, um suspiro de alívio se desprende da minha
garganta.

— Eu vou colocá-lo para dormir e tentar fazer o


mesmo. — Viro-me prestes a sair correndo. — Obrigada
por tudo, Khalif.

— Não tem motivo para agradecer, Brianna, ele é


meu filho e eu não fiz mais que a minha obrigação.

Sem esperar para ouvir mais nada, corro para o meu


quarto, fechando a porta do cômodo. Coloco Zayn em seu
berço delicadamente, cuidando para não o acordar no
processo.

Ao me deitar na cama, sinto meu corpo cansado e


não leva muito mais do que alguns segundos para a
exaustão me sugar para o mundo dos sonhos com as
imagens de Khalif seminu na sala.

Acordo espreguiçando os braços e bocejando.


Embora algo tenha me feito despertar, me sinto ainda
cansada, precisando muito mais do que isso para renovar
as minhas energias.
Estranho a quietude de Zayn e a falta do seu choro
faminto, ainda mais considerando que ele fica um bebê
muito zangado quando está com fome, portanto, é
incomum esse silêncio todo. Levanto-me imediatamente e
corro até o berço, encontrando-o completamente vazio.
Encaro a cama e vejo uma coberta que não estava lá na
hora que eu dormi. Descalça, não espero o elevador,
desço as escadas correndo em busca do meu filho.

— Khalif? — chamo o Sheik, começando a ficar


apavorada.

— Aqui! — Ouço sua voz entoar da sala.

Entro no ambiente descabelada e desesperada,


mesmo assim, nada havia me preparada para a visão que
se sucedeu. Khalif está sentado no sofá com Zayn em
seus braços, amamentando-o com uma das mamadeiras
do leite que eu retirei ontem antes de dormir.

— Você parecia tão cansada e estava dormindo tão


profundamente, não quis acordá-la.

Com as pernas bambas, forço-me a dar um passo de


cada vez.

— Ele chorou? — Sinto o espanto em minha voz.

— Estava choramingando, eu ouvi do corredor, bati


na porta e como você não atendeu, resolvi entrar.
Passo uma mão nos cabelos, desembaraçando-os
com os dedos, estupefata.

— Nossa, eu sempre acordei todas as vezes em que


ele chorou. Me sinto culpada, qualquer coisa poderia ter
acontecido por conta desse meu relapso.

— Brianna, nada iria acontecer! Você não está mais


sozinha agora, eu sempre estarei por perto para ajudá-la
no que for preciso. Além do mais, não pode se culpar por
se sentir cansada.

Suspiro, sentando-me ao seu lado. Encaro as roupas


de Khalif e constato que ele usa o mesmo pijama de
ontem à noite.

— Que horas são? — Olho ao redor em busca de um


relógio.

— Estamos na metade da manhã.

— Você não vai trabalhar?

Khalif maneia a cabeça em sinal negativo.

— Por quê? — Ouço-me perguntar.

— Zayn e você precisam de mim hoje, e vocês são


muito mais importantes do que o meu trabalho.

Entreabro os lábios, passando a língua na boca


ressecada.
— Zayn parece bem melhor. — murmura Khalif com a
voz rouca, quebrando o silêncio constrangedor que se
instalou.

Olho para o bebê em seu colo, os olhos piscando


lentamente pelo sono enquanto suga o bico da
mamadeira, bebendo os últimos resquícios de leite
materno que restam. Curvo meu corpo, aproximando-me
ainda mais de Khalif e pouso uma mão na testa de Zayn,
medindo sua temperatura.

— Ele não está com febre.

— Ele está bem, Brianna, vá descansar. Deixa que eu


cuide dele.

Me afasto e lanço um olhar de gratidão a ele,


levantando-me em seguida.

— Eu vou tomar um banho, sendo assim.

Khalif aponta o queixo em minha direção, induzindo-


me.

— Faça o que bem entender e leve o tempo que for.

— Eu só preciso de um banho, nada além disso.


Ficarei com ele após para que você também possa se
trocar. — Estalo a língua no céu da boca. — Hã... você
colocou um cobertor para mim?
— Você estava encolhida e gelada. — explica. —
Desculpa retirar a sua privacidade, mas achei que ficaria
doente.

— É... obrigada!

O Sheik balança a cabeça levemente, desviando o


olhar do meu para encontrar o do filho.

Sinto um nó na garganta ao observá-los juntos, ao


ver a relação de cumplicidade que eles criaram em pouco
mais de um mês. Khalif tem razão, Zayn é um bebê
extraordinário, e desde o primeiro momento sentiu a
presença do pai, entregando-se por completo.

Giro nos calcanhares para sair da sala o mais rápido


possível, um misto de sensações e emoções me afogando
conforme imagens das últimas horas alvejam minha
mente. Khalif é um homem incrível, mas devo confessar
que me surpreendi muito ao perceber que como pai ele é
mais admirável ainda.

Essas últimas semanas de convivência estão, aos


poucos, alterando algumas coisas. Além de conhecer
melhor um ao outro, eu acabei de perceber que a
presença do Sheik é importante para mim, tanto ao ponto
de me deixar saudosa quando ele está longe. E para
agravar ainda mais a minha situação, não é somente eu
que sinto isso, Zayn também sente, eu vejo a forma como
o bebê encara a porta ou fica atento em todos os
barulhos, ansioso pela chegada do pai.

Parece que mãe e filho caíram nos encantos do


príncipe árabe.
— Tem certeza de que ele ficará bem? — pergunto
pela milionésima vez.

Khalif não fala nada, só levanta uma sobrancelha em


questionamento.

Jogo as mãos para cima e me sento no sofá,


derrotada.

— Eu sei, eu sei. — retruco.

Vamos a algum clube com Jamal e Celina, como se


fosse uma festa de despedida de solteiro, mas ambos
estarão juntos, portanto, nada de festa isolada. Como
Zayn não pode frequentar esses ambientes e eu nem
mesmo seria tão inconsequente ao ponto de levar o meu
filho, ele ficará sob os cuidados de Fátima e Zaya, e
desde então, eu venho questionando a cada dois
segundos se Khalif acredita que o filho não estranhará o
lugar ou sentirá a nossa falta. Chega a beirar o ridículo,
afinal, Fátima teve dois filhos assim como Zaya, é claro
que ele ficará muito bem amparado. Mas enfim, coração
de mãe é assim mesmo.

— Quero que saiba que não estou questionando a


eficiência de Fátima e Zaya, eu só...

— Eu entendo, Brianna, não há nada para explicar.

Maneio a cabeça com veemência.

Remexo as mãos em meu colo, trançando os dedos


sucessivamente, inquieta pela noite que teremos e por
saber que ficarei sozinha nesse apartamento com o
príncipe.

— Podemos ir? — Khalif se levanta da poltrona, larga


o copo de uísque na mesa ao lado, recolhe o blazer e
estende a mão para mim. — Zayn está bem, Brianna,
vamos nos divertir.

Aperto a mão dele e em um solavanco, ele me puxa,


colando os nossos corpos.
— A propósito, você está incrivelmente deliciosa
nesse vestido. — Seus lábios se repuxam em um sorriso
malicioso, o que corrobora para uma combinação fatal
com o brilho de lascívia em seus olhos.

Minhas entranhas começam a se revirar em


antecipação pelo que a noite promete. E, embora eu tente
pensar com a cabeça, sabendo que temos um filho e que
não podemos conturbar nossa relação de amizade, meu
útero grita o contrário, implorando por Khalif, assim como
meus pulmões imploram por ar.

— Acho... acho melhor irmos, ou vamos nos atrasar.


— Meu tom soa lento por conta da minha respiração
pesada.

Khalif amplia ainda mais o sorriso, o braço que


segura a minha cintura se enrosca em minhas costas,
puxando-me, quase fundindo os nossos corpos. Tranco a
respiração ao sentir sua masculinidade dura batendo em
minha barriga. Em uma lentidão maçante, ele aproxima os
lábios do meu pescoço e planta pequenos beijos
molhados, deixando um rastro ardente na pele.

Sem esperar, Khalif se afasta abruptamente,


deixando-me desnorteada no mesmo lugar.

— Vamos. — fala, enquanto arruma as abotoaduras


das mangas da camisa.
Céus! O que foi que aconteceu aqui? Esse homem
quer me enlouquecer?

Como uma devassa, encaro a sua calça e vejo o


volume marcante no tecido fino, engulo em seco, ainda
mais ansiosa para o final da festa.

A casa noturna é muito parecida com a que nos


conhecemos. Uma pista de dança no meio, mezaninos ao
redor e camarotes em cima.

Khalif me puxa pela mão, conduzindo-me até o local


certo. Vejo Celina de longe, embasbacada pela beleza da
minha amiga, é como se o amor estivesse deixando-a
cada dia mais linda.

Celina corre em minha direção, me abraçando.

— Eu já estava com saudades de você. — murmura


contra os meus cabelos.

Ultimamente é difícil encontrar ou até mesmo falar


com ela, Celina está focada e usando cada hora do seu
dia para preparar as coisas para o casamento, o evento
ocorrerá em poucas semanas e com a aproximação, ela
vem ficando cada vez mais tensa. Para o meu deleite, em
menos de um mês Ivana e Maitê estão vindo ao nosso
encontro, como Celina está sem tempo, as meninas
ficaram como responsáveis de cuidar da sua mudança no
Brasil.

— Quando teremos um tempo para nós?

Celina solta uma risada sem humor, afastando-se


para me encarar.

— Acredite, quando for o seu casamento entenderá


perfeitamente o que eu estou querendo dizer. — Revira os
olhos.

Quero protestar, mas Celina sai andando em direção


a outras pessoas que entram no camarote, fazendo a
frente como uma boa anfitriã.

— Acho que você gosta desse aqui. — Khalif coloca


um copo de coquetel na minha frente.

Olho para o Sheik, surpresa.

— Sim, eu adoro esse. — Sorrio.

Percebo que Jamal e Celina estão combinando as


roupas, enquanto ele veste um terno preto com gravata
vermelha. Ela usa um lindo vestido branco com flores em
vermelho bordadas no tecido.
Celina me apresenta aos convidados, segundo ela,
alguns amigos próximos do Jamal. E é claro, todos
casais.

Caminho até o parapeito do camarote e me escoro


para observar a multidão que dança de maneira animada
conforme as batidas das músicas eletrônicas.
Imediatamente eu sinto saudades disso, de sair para
dançar com as minhas amigas, de chegar tarde em casa
após horas e mais horas de pura diversão. Desde que eu
me tornei mãe, esse tipo de situação ficou apenas na
memória.

Sinto um corpo quente atrás do meu e não preciso me


virar para saber que é Khalif.

— Parece saudosa. — fala em meu ouvido, fazendo-


se escutar sobre o som alto da música e vozes.

Dou de ombros.

— É que faz tempo que eu não faço nada parecido


com isso, sabe? Zayn ainda é muito novo e requer muita
atenção.

Khalif cruza os braços em frente à minha barriga em


um abraço apertado.

— Me diga de tudo que sente falta que eu farei


questão de lhe ajudar a matar essa saudade.
Solto uma risada.

— Podemos conversar sobre isso mais tarde, pois a


lista é extensa.

— Mas no momento, do que sente mais falta agora?

Paro para pensar em como a minha vida, antes


focada para os estudos e trabalho, tendo como lazer
minhas três melhores amigas e nossas noites de diversão,
se tornou algo tão pacato, afinal, eu perdi tudo isso.

Solto um suspiro profundo.

— Eu sinto saudades de trabalhar. — revelo. — Eu


odiava o meu emprego, mas amava a minha profissão.

Khalif descansa o queixo em meu ombro.

— Que seja feito o seu desejo. — fala, antes da


minha amiga aparecer me puxando pelo braço escadas
abaixo.

— O que você está fazendo? — questiono, totalmente


perdida com a situação.

Celina pula e bate palmas.

— Olha essa música! Como não se lembra? É a


favorita de Ivana, precisamos dançar e enviar um vídeo
para ela.
Celina encontra um local mais espaçado por entre as
pessoas. Ela retira o celular da bolsa e começa a gravar
um vídeo, enquanto dança e pula. Levo alguns segundos
para raciocinar, mas então entro no embalo da melodia,
acompanhando Celina em cada passo, em cada
movimento, em cada vibração.

Depois de um tempo, sinto o suor escorrendo em


minha nuca, mas não paro mesmo assim, eu só quero me
divertir e continuar. E estaria tudo bem se não fossem por
mãos alheias pressionando a minha cintura.

— O que é isso? — pergunto, afastando as mãos e


me virando para o indivíduo. — Omar?

Sinto um arrepio de repulsa ao lembrar que esse


homem nojento estava me tocando poucos segundos
atrás. Como um verdadeiro abusado, ele sorri, indiferente
aos seus atos repugnantes.

— Olá! Pensei que ficaria feliz em me ver.

Um riso de escárnio se desprende da minha garganta


sem controle, enquanto eu arqueio uma sobrancelha em
desdém.

Omar dá um passo em minha direção, trazendo suas


mãos novamente para a minha cintura.

— Vai se fazer de difícil? Eu não sou um príncipe,


mas tenho tanto dinheiro quanto.
Antes que eu possa dar um tapa em suas mãos,
alguém o faz por mim, puxando Omar pelo colarinho da
camisa. Mas não é Khalif e sim um de seus homens.

— Droga, Khalif! Qual é o seu problema? — grita.

Para o meu desespero, a música parou de tocar e as


pessoas fazem um círculo em nossa volta, curiosos e
observadores tentando captar cada momento da
balbúrdia.

Khalif caminha por entre a multidão como um


verdadeiro rei, de cabeça erguida e uma altivez de dar
inveja, ela para ao meu lado, passando a mão pela minha
cintura.

— Se tocar em Brianna mais uma vez, você vai


descobrir qual é o meu problema. — pregoa, alto o
suficiente para que todos possam ouvir.

— Eu pensei que ela não fosse ninguém, fosse


somente uma convidada... eu encontrei Aiyra esses dias e
ela me disse que você estava trazendo algumas
mercadorias do Brasil e... — Khalif faz um gesto com a
mão e os seguranças começam a puxar Omar para fora do
clube, interrompendo a sua frase.

Me sinto trêmula e rígida por toda essa situação, meu


coração martela em minha caixa torácica com força.
Khalif me vira de frente para si e coloca as mãos ao
lado do meu pescoço, beijando a minha testa, enquanto
seus dedos afagam meus cabelos.

— Você quer ir embora?

— Por favor. — maneio a cabeça em sinal positivo.

Khalif estala os dedos e outros seguranças aparecem


para nos ajudar a sair da boate lotada, em poucos
passos, sinto o ar quente e seco da rua, em seguida,
estamos dentro do carro em movimento. Tudo passa pelos
meus olhos em flashes de imagens através do estupor em
que eu me encontro.

Ao chegarmos ao apartamento, ele me coloca


sentada no sofá da sala, enquanto vai atrás de Nádia para
pedir um chá e alguma coisa para comer. Posteriormente,
o Sheik se agacha na minha frente, escrutinando o meu
rosto com precisão.

— Você está bem?

Faço um sinal positivo com a cabeça.

— Tem certeza? — A preocupação no seu tom de voz


é evidente.

— Estou só tentando assimilar tudo o que aconteceu


— cicio.
Ele se levanta repentinamente e esfrega as mãos no
rosto, exausto.

— Eu vou matar Omar! — brada.

Levanto-me do sofá e agarro as suas mãos pelos


pulsos fortes e másculos, torneados por veias, forçando-o
a olhar para mim.

— Khalif, ele é um idiota, você não pode e não


precisa se incomodar com nada por causa de uma pessoa
como ele.

Khalif retira uma mão da minha, agarrando o meu


pescoço.

— Omar precisa aprender a não tocar no que não lhe


pertence. — fala, encarando o fundo dos meus olhos.

— No... no que é seu? — pergunto, com a voz


lânguida.

Respiro fundo, tentando acalmar o meu coração.

Khalif se curva para deixar os olhos na altura dos


meus.

— Você é minha, Brianna. E deve saber que nós


árabes somos territorialista e não gostamos das mãos de
outros homens no que nos pertence.
Jesus! Maria! José! Ofegante e com o coração
prestes a saltar pela boca, fico sem reação e sem fala.
Khalif sorri e pisca ao mesmo tempo, afastando-se em
seguida. Estou prestes a protestar e pedir que volte com
o seu calor corporal quando noto que Nádia está vindo
com uma bandeja com chá e biscoitos.

— Chá de jasmim para acalmar os ânimos e biscoito


de gengibre como acompanhamento. — Ela abre um sorrio
e deposita a bandeja na mesa de centro. — Com licença.

Khalif enche uma xícara de chá, entregando-a a mim,


só então eu percebo que continuo parada no mesmo lugar
feito uma estátua e boba como uma adolescente
apaixonada.

— Obrigada. — Recolho a xícara da sua mão e com


as pernas trêmulas, dou um passo de cada vez indo em
direção ao sofá.

Sem assunto, fico com xícara fumegante na boca,


fingindo estar engolindo o líquido como desculpa da
minha mudez. Khalif retira o celular do bolso e começa a
digitar uma mensagem.

— Esse chá está divino. — falo, em uma tentativa de


quebrar o silêncio que se estendeu por longos minutos.

— Nádia é especialista em chás. — murmura, ainda


com a atenção focada no aparelho celular. Os dedos
ágeis se mexendo de maneira contínua.

Uma pequena pontada de curiosidade me pinica,


afinal, com quem Khalif está falando à essa hora que
parece ser tão importante. Mordo o a língua para manter a
boca fechada.

Termino o meu chá e deposito a xícara de volta na


bandeja, levantando-me no processo. Esfrego as mãos na
roupa, nervosa.

— Bom, eu vou dormir. — aviso.

Khalif finalmente para de mexer no celular,


bloqueando o aparelho e colocando-o de volta no bolso da
calça.

— Comigo? — pergunta com um sorriso malicioso nos


lábios.

Pendo na balança todos os motivos do porquê essa é


uma péssima ideia, mas como eu nunca sigo a razão e
vivo somente pela emoção...

— Se esse for o seu desejo. — revido sem pudor


algum.

— Acompanhe-me, Brianna Artonino. — Estende a


mão para mim.

— Com prazer, Khalif Farzur.


Passo direto pelo meu quarto no corredor do segundo
andar, seguindo até o final, sendo puxada por Khalif
durante todo o percurso. Ao entrarmos em seu aposento,
um misto de emoções me assola. É como voltar no tempo,
retornar há mais de um ano, no dia em que eu deixei aqui
a minha virgindade, entregando-me de corpo e alma a
esse homem.

— Você não mudou nada. — Olho ao redor,


estudando o ambiente.

— Eu gosto do quarto assim.


Khalif para alguns metros à minha frente e coloca as
mãos no bolso com uma graciosidade própria.

Fico nervosa e sem saber o que falar. Depois de


tanto tempo, posso até mesmo me considerar virgem
novamente, afinal, eu só fiz sexo com ele e no dia em que
Zayn foi concebido, depois disso, nada relativo aconteceu
na minha vida.

Pigarreio.

— Acho melhor eu colocar o meu pijama.

Os cantos dos lábios de Khalif se repuxam em um


sorriso.

— Acredite, meu bem, você não precisará de roupas


para o que eu planejo fazer.

Fico instantaneamente corada.

— Eu adoro ver as suas bochechas vermelhas pelas


minhas palavras maliciosas, é como voltar no tempo. —
acrescenta.

Khalif retira as mãos do bolso e com uma agilidade


hábil, agarra a minha cintura.

— Eu preciso falar uma coisa. — Coloco um dedo em


seus lábios, impedindo o beijo. — Eu... eu nunca mais
andei com ninguém. Só estou falando isso porque talvez
eu não tenha toda a experiência que você deva estar
imaginando.

Um brilho de orgulho masculino transparece em seus


olhos, bem como, seu peito de amplia em puro regozijo.
Khalif retira o meu dedo do meio dos seus lábios.

— Então, deixe-me lembrá-la do porquê nós


combinamos tão bem.

Khalif me beija, língua, dentes, lábios e gemidos se


misturando. Não é nada calmo, é latente, bruto, saudoso.
É como voltar no tempo, oscilar entre o passado e o
presente.

O sheik agarra a minha bunda com as duas mãos,


levantando-me levemente pelas nádegas e colando sua
masculinidade dura e pulsante em minha barriga.

— Eu vou foder tanto com você, Brianna... quero


matar a saudade dos últimos meses, refazer cada
lembrança daquela noite marcante. — sussurra entre os
meus lábios.

Minha vagina pinga como uma torneira aberta de


tanto tesão por esse homem e por tudo o que ele significa
para mim.

— Então faça exatamente isso, Khalif Farzur. — cedo,


dando o meu aval final.
Khalif me arrasta até a sua cama, jogando-me contra
o colchão macio. Levanto o tronco sobre os cotovelos
para apreciar os movimentos do seu corpo enquanto ele
começa a desabotoar a camisa, deixando o peitoral
esculpido em evidência. Khalif retira a camisa pelos
ombros em um movimento brusco que me faz ofegar,
então passa para o cinto, abrindo-o e puxando para fora
da calça. Estou quase babando feito uma idiota, ansiosa
pela parte mais importante, mas ele para, agachando-se
em cima de mim.

— Primeiro vamos desnudar você. — explica ao ver a


pergunta estampada em meus olhos.

Ele segura os meus pés, subindo os dedos pelos


meus calcanhares e pernas, até chegar na borda do
vestido, puxando-o para cima e revelando a minha
calcinha rendada.

— Pelo visto você continua com a mesma fissuração


para calcinhas que são capazes de me causar
taquicardia.

— Oh! Desculpe, alteza, jamais imaginei que meu


bom-gosto para lingeries pudesse lhe causar danos
colaterais. — Mordo o lábio inferior.

Khalif solta um rosnado baixo, segurando o meu


vestido com força, ele rasga o tecido com brutalidade,
desnudando os meus seios desejosos.
— Eu gostava desse vestido, sabe. — zombo.

— Eu compro outro para você, compro quantos você


quiser desde que me deixe rasgá-los para que eu possa
substitui-los novamente depois.

Ele desce a boca para a minha coxa, mordendo a


carne macia para, posteriormente, beijá-la. E vai subindo,
criando um rastro que queima, que aumenta o meu tesão.
Quando chega na barriga ele se demora mais e eu vejo o
sorriso que abre quando eu começo a implorar para que
continue o percurso, para que não pare jamais. E assim
ele o faz, Khalif agarra um seio com força e leva os lábios
a auréola, sugando, passando a língua, mamando.

— Oh, Khalif! — arquejo, fechando os olhos e


agarrando os lençóis com força.

Então ele vai para o outro seio, fazendo os mesmos


movimentos alucinantes com a língua habilidosa, levando-
me ao céu e ao inferno ao mesmo tempo.

Khalif se afasta, levantando-se da cama para retirar a


calça.

— Você está tomando remédio? — pergunta.

Murmuro alguma coisa incoerente, atordoada demais


admirando os músculos dos seus braços em evidência
pelo esforço para baixar a calça. A cueca boxer preta
define todo o pênis duro, o qual pressiona o tecido,
desesperado por libertação. Para o meu deleite, Khalif
termina com a última peça de roupa, fazendo-me ofegar,
aturdida.

— Brianna, você toma remédio? — refaz a pergunta.

Tiro os olhos no suntuoso instrumento, levando-os de


encontro aos seus, envergonhada por ter sido pega no
flagra.

— Sim, mas eu também tomava da última vez. Somos


um tanto férteis juntos, sabe, é melhor precaver.

Totalmente nu, Khalif gira nos calcanhares me dando


uma bela visão da sua bunda dura e definida. Ele caminha
até a gaveta da cômoda, retira uma caixa de
preservativos e joga-os na cama, retornando.

Khalif se ajoelha no chão e puxa os meus


calcanhares, deixando a minha bunda na beira do
colchão, retirando a calcinha em seguida.

— O que você está fazendo?

— Vou me banquetear, estou saudoso e faminto.

Sem mais delongas, ele lambe toda a minha


extensão. Jogo a cabeça para o alto, em deleite. Khalif
suga meu clitóris com vontade, passa a língua, mordisca
e volta a fazer o ritual novamente. Ele se afasta, somente
o suficiente para que seus dedos possam abrir meus
lábios vaginais, deixando a pontinha do nervo sensível de
fora, então ele volta a chupar, lamber, babar, saborear.

— Oh, Deus.... — Agarro seus cabelos com uma mão,


enquanto estapeio a cama com a outra.

Uma leve sensação de agonia se instala em meu


ventre, seguida por uma libertação que me faz sair de
órbita e retornar a terra momentos depois.

Abro os olhos e vejo Khalif encapando o pênis com a


camisinha, os pelos da barba brilham, sujos pelo meu
orgasmo.

— Isso foi intenso. — digo com um sorriso bobo no


rosto.

— E a noite só está começando.

Sinto seu peso corporal sob o meu, ele segura as


minhas pernas para cima, seu pênis pincela a minha
entrada, enquanto ele se acomoda no meu centro. Então
ele me penetra, fundo e com força.

— Tinha esquecido o quanto você é deliciosa e


viciante. — cicia de olhos fechados, soltando um gemido.

Deitando-se sobre mim, começa a me penetrar. De


início, lento, apreciando o momento, namorando, mas
logo se torno algo mais algoz, desesperado. Passo as
unhas pelas suas costas, arrancando pele e sangue,
marcando-o como meu.

— Khalif... — seu nome sai como um lamurio em


meus lábios.

Ele me beija, calando-me por completo, rendendo-me


para si. Mordo sua língua, ele morde o meu lábio, sinto o
meu gosto em sua boca, é tudo tão intenso, tão devasso.

A queimação retorna e eu sei o significado, finco


ainda mais as unhas em sua pele, sabendo que em breve
estarei planando.

— Goze para mim, amor, goze. — fala entredentes,


trincando o maxilar com força, contendo o próprio gozo
para me acompanhar.

— Oh...

Gozo com força, ainda mais intenso do que antes e


Khalif me acompanha, deleitando-se com as últimas
estocadas até o membro parar de jorrar o líquido que lhe
causa tanto prazer.

Suados, exaustos e satisfeitos, Khalif rola para o


lado, puxando o meu corpo para o seu.

— Você é perfeita, Brianna. — Beija minha cabeça.


— Nós somos. — sussurro, fechando os olhos pelo
cansaço.

— Durma, amor.

Não espero mais nenhum aval, durmo no calor dos


seus braços, saciada.

Acordo e vejo Brianna ainda sonolenta ao meu lado.


A luz que entra pela janela me faz ter certeza de que já é
tarde da manhã. Levanto-me cuidando para não a acordar,
coloco uma calça de moletom qualquer e vou até a
cozinha preparar o nosso café da manhã.

— Bom dia, senhor Farzur, precisa de alguma coisa?


— Recepciona-me Nádia.

Se fosse em outras condições e Nádia fosse uma


empregada qualquer e não minha fiel companheira de
anos, ela já estaria desmaiada por me ver vestido com tão
pouca roupa, contudo, Nádia já viu muitas coisas tórridas
durante esses anos, meu peitoral é o menor dos seus
problemas.
Sorrio para a mulher e faço um sinal negativo. Abro
os armários em busca dos suprimentos, opto por algumas
torradas, um suco natural que encontrei na geladeira,
queijo e café.

— Preciso alimentar Brianna. — aviso dando uma


mordida em uma torrada ao perceber o olhar de espanto
que Nádia joga na minha direção.

— Oh, é claro! — Ela cora, desviando o olhar para o


lado.

Rindo, saio da cozinha mastigando a torrada,


pensativo após tudo o que aconteceu ontem à noite. Ao
entrar no quarto não encontro Brianna, mas escuto o
barulho do chuveiro. Deixo a bandeja com o café em cima
da cama, retiro a minha calça e vou encontrá-la.

— Mas essa é uma visão muito deliciosa. Que Allah


me beneficie com isso todos os dias. — Me escoro no
batente da porta para admirar o seu corpo nu.

Brianna esfrega os cabelos com o meu xampu, ao


ouvir a minha voz, ela se vira para mim e abre um sorriso,
seus olhos descem pelo meu peitoral e param em meu
pênis acordado com a bela visão à minha frente.

— Estou me sentindo muito solitária nesse espaço


enorme. — ronrona.
Solto uma risada de escárnio, mas caminho em sua
direção.

— Posso lhe ajudar com isso, se esse for o seu


desejo.

Brianna coloca as mãos em meu peitoral duro,


passando as unhas pela pele sensível, refazendo o rastro
de seus arranhões de ontem à noite.

— Eu quero experimentar uma coisa. — Passa a


língua nos lábios.

Meu pau pulsa em antecipação pelo que quer que ela


queira experimentar.

— Sou todo seu. — Abro os braços em rendição.

Brianna retira as mãos de mim, fechando-as em


concha debaixo do chuveiro, após enchê-las com água,
ela joga o líquido em meu peitoral.

— Vai me dar um banho? Interessante. — Arqueio


uma sobrancelha.

Rindo, a safada se segura em meus ombros,


enquanto desce os lábios para a minha pele e começa a
lamber a água que acabou de jogar no local. A língua
áspera e traiçoeira me arrepia por inteiro. Lentamente, ela
vai descendo mais e mais, até chegar nos pelos do
abdômen.
— Caminho interessante. — murmuro olhando para
baixo.

Ela se ajoelha no chão do box de frente para o meu


pau, então segura-o com uma mão, me fazendo soltar um
gemido involuntário.

— Espero que esteja mais interessante agora. —


debocha.

Antes que eu possa retrucar, Brianna leva a cabeça


do meu pênis até a boca, passando a maldita língua em
toda a minha glande. Seguro as paredes do box, temeroso
que minhas pernas trêmulas pelo prazer não consigam
manter o peso corporal.

A maldita engole até a metade, então retorna e volta


a engolir e assim sucessivamente. Os barulhos da
sucção, misturados com o da água corrente me deixam
mais alucinado. Incontido, seguro seus cabelos com força,
urrando de prazer.

— Se continuar assim, gozarei em sua boca, amor. —


as palavras saem pausadamente pelo esforço que coloco
em fazer a voz funcionar.

Mesmo ouvindo meu comunicado, Brianna acelera o


ritmo, engolindo o máximo que consegue, esfregando a
língua na cabeça, chupando e mamando como uma
devassa. Meu líquido pré-ejaculatório escorre, mas
Brianna trata prontamente de engolir cada gota expelida.

— Ah.... — regozijo.

Pressiono os músculos das pernas, fincando os pés


no chão para não desmoronar enquanto gozo na boca de
Brianna, enviando todo o meu esperma em jatos potentes
para dentro da sua garganta. Ela lambe, deliciando-se em
cada momento, até deixar meu pau limpo sem qualquer
resquício do que acabou de acontecer.

— Bom — fala e passa um dedo nos lábios,


chupando-o em seguida. — isso foi delicioso, mas agora
podemos focar no banho e em um café da manhã mais
nutritivo, pois estou com fome.

Viro a cabeça para cima e solto uma gargalhada.


Ajudo Brianna a se levantar, seguro sua cabeça e lhe dou
um vasto beijo nos lábios.

— Se existe alguém mais perfeito, eu desconheço.

— Zayn. — brinca.

Recolho o sabonete com a intenção de revidar o favor


que ela me fez há alguns segundos.

— Sim, nossa prole. Agora, amor, deixe-me limpá-la.


— dito isso, esfrego seu clitóris com o meu dedo cheio de
sabão.
— O lugar está vazio? — pergunto ao meu segurança.

— Sim, como o senhor solicitou.

Faço um sinal positivo de cabeça.

Retiro meu blazer e coloco-o no banco de traz do


carro. Olho ao redor e vejo a movimentação de pessoas
na rua em frente ao clube, alheias ao que está prestes a
acontecer.

— Mantenha qualquer um afastado, principalmente


curiosos.
— Como o senhor quiser.

Giro nos calcanhares e caminho calmamente para


dentro do clube, abrindo a porta e fazendo um barulho
proposital para delatar a minha chegada. Como o meu
segurança havia comunicado, o ambiente está vazio. Uma
música toca, ecoando pelos altos falantes, enquanto
risadas em uma mesa mais ao fundo me fazem rumar em
sua direção.

Omar, Mazin e Jamal fumam um narguilé. Os dois


primeiros parecem embriagados, divertindo-se e rindo de
algo que provavelmente é tão banal que nem vale a pena
descobrir. Jamal é o primeiro a me ver, pelos olhos
esbugalhados e as narinas dilatadas do meu amigo que
entoa pavor por cada um dos seus poros, ele
possivelmente sabe o que eu vim fazer aqui, sabe o
motivo da minha ligação mais cedo solicitando essa
reunião.

Omar não é idiota, muito pelo contrário, é um homem


extremamente inteligente. O árabe jamais viria se o
convite viesse diretamente de mim. Apesar dos esforços
para se mostrar empoderado, ele tem medo de mim e
mais ainda do título que eu carrego nas costas.

A fumaça do narguilé chega até o meu olfato. Paro


diante da mesa, pousando as duas mãos na madeira
envernizada.
— Boa tarde, rapazes!

Imediatamente eles param de rir. Omar e Mazin


trocam um olhar de pavor.

— É... Khalif, não sabíamos que se juntaria a nós. —


Mazin, o mais sábio, é o primeiro a falar.

Abro um sorriso predatório.

— Com licença. — Peço a Jamal, empurrando-o para


o lado a fim de me acomodar no banco. — Tenho negócios
a tratar.

Pelo mexer no pomo-de-adão de Omar, o homem está


passando do estágio de apavorada para aterrorizado.

Pouso os cotovelos na mesa e encaro Omar nos


olhos.

— Você disse algumas coisas sobre Aiyra há algumas


noites, explique-se.

— Eu... Khalif.... eu... — Omar começa a fazer um


movimento para sair da mesa, mas para abruptamente
com o meu levantar de mão.

— Antes que você pense em sair, saiba que eu tenho


homens em cada canto desse estabelecimento, rondando
cada abertura. Portanto, Omar, sugiro que se sente
novamente e comece a fazer o que eu mandei.
Omar engole em seco, retornando para o assento.

— Eu estava bêbado, por favor, você precisa relevar.

Olho a hora em meu relógio de pulso.

— Em alguns minutos preciso encontrar Brianna,


caso você não faça o que eu disse até o momento, serei
obrigado a pedir para que a minha equipe lembre a você
com quem está falando.

Omar passa uma mão nos cabelos, pávido. Até


mesmo os sintomas de embriaguez estão sumindo,
desanuviando os seus olhos.

Ele suspira, dando-se por rendido.

— Eu dormi com Aiyra. — confessa, mas logo


arregala os olhos dando-se por conta o que acabou de
fazer. — Quer dizer, depois que vocês terminaram, nunca
saímos juntos enquanto vocês tinham um relacionamento.
Em uma noite eu estava na Zinc [ x i i ] quando encontrei
Aiyra, ela me disse que vocês haviam terminado, eu lhe
paguei algumas bebidas e nós fomos para casa juntos...
foi somente isso, eu juro.

Mais imbecil do que eu imaginava, pouco me importa


se ele ou qualquer outro tenha dormido com Aiyra, o que
nós tínhamos acabou, sem sentimentos e sem
ressentimentos.
Solto uma respiração ruidosa, perdendo a paciência.

— Será que eu precisarei chamar algum dos meus


homens para colocar a sua cabeça em ordem?

Omar trinca o maxilar com força.

— Você já foi melhor, Khalif. O que àquela brasileira


está fazendo com você?

Levanto a mão e estalo os dedos, solicitando a


presença de Ali. O brutamontes começa a se aproximar e
Omar fica inquieto, revirando-se no banco.

— Tudo bem, tudo bem! — Levanta as mãos em


rendição. — Me desculpa! Eu vou falar tudo o que eu sei.

— Então comece, pois meu tempo está quase


esgotado.

Jamal nem respira ao meu lado, assustado demais


com o meu comportamento para proferir qualquer coisa.
Enquanto Mazin permanece silente, a fim de salvar a
própria pele.

Omar se escora na cadeira e aperta os lábios,


tornando-os uma linha fina, antes de falar:

— Aiyra estava chateada, ela disse que você trouxe


uma brasileira para casa. Falou que ela tinha um filho e
que a criança era sua. — Omar me encara, esperando
uma confirmação dos fatos, afinal, ele viu Brianna, mas
não viu Zayn. Com o meu silêncio, ele continua: — Mas
Aiyra foi enfática ao falar que você não estava com a mãe
da criança e que a mulher não passava de uma prostituta
brasileira barata. Ela me convenceu a ir até a sua casa
para conferir com os meus próprios olhos, depois disso
me induziu a tentar pegar a mulher, pois alguns homens
falaram para ela que a garota trabalhava bem.

Cerro as mãos em punhos e trinco a mandíbula com


força, preciso respirar lentamente em lufadas espessas de
ar para manter o autocontrole e não socar o rosto de
Omar nesse momento.

— Enfim, eu fiz o que Aiyra me induziu. Não sabia


que ela era importante para você, nós já ficamos com as
mesmas putas no passado.

Não consigo mais me conter, levanto-me em súbito e


agarro Omar pelo colarinho da camisa, socando o seu
rosto em punhos fechados. Jamal agarra os meus ombros,
tentando me afastar do homem, enquanto Mazin tenta
puxar Omar para longe, mas falha.

— Escute bem o que eu vou falar. — solto um


grunhido em seu rosto ensanguentado. — Se chamar
Brianna de puta mais uma vez não sobrará nada de você
para lembrar da sua existência medíocre, ouviu bem?
— Sim... — a voz sai mais um gemido do que uma
palavra.

— Brianna é minha mulher e futura esposa. Nunca


mais, NUNCA MAIS, você colocará essas mãos imundas
em sua alteza e muito menos falará de seu caráter em tão
baixo calão. Agora me confirme para que eu possa sair
daqui e deixá-lo em paz.

— Eu entendi... me desculpe.

Jogo-o de volta à cadeira. Retiro um lenço do bolso e


limpo a minha mão ensanguentada.

— Que bom que tivemos uma conversa displicente e


chegamos a um acordo. — Jogo o lenço sujo à mesa. —
Boa tarde, rapazes.

Jamal me segue para fora do local, ainda em silêncio.


Na rua, ele para ao meu lado e começa a esfregar a
cabeça.

— Você enlouqueceu de vez?

Faço um movimento para entrar no carro, mas paro


com a porta aberta.

— Se Omar fizesse o mesmo com Celina o que você


faria? – revido.

Ele parece ponderar seriamente, franzindo o nariz.


— Eu faria pior. — refuta.

Solto uma gargalhada.

— Obrigado por hoje, Jamal.

Ele faz uma reverência debochada.

— Não tem de quê.

E vai embora, entrando em seu carro estacionado


logo atrás do meu.

— Para onde, senhor?

— Vamos encontrar Brianna.

Encaro os nós dos meus dedos machucados, mas não


me sinto arrependido, pelo contrário, me sinto aliviado.
Ninguém vai falar de Brianna, não sem ser punido, as
pessoas precisam entender que ela será a minha mulher,
o respeito deve ser sincero, caso contrário, não haverá dó
da minha parte.
— Olha esse, Brianna, que lindo! — Zaya me
apresenta outro dos milhões de lenços que já me
apresentou.

— Eu precisarei de tantos assim?

— Sim, você precisará! — intervém Celina com a


testa franzida em desgosto.

Zayn brinca com Fátima, entretido demais com todos


os tecidos à sua volta. Enquanto Zaya e Celina
selecionam inúmeros lenços e tecidos para as minhas
vestimentas em Dubai.

Sempre me perguntei como seria sair com a realeza,


e bem, é estranho. Absolutamente toda a loja veio nos
atender, uns atendentes correram de um lado para
separar os melhores produtos, enquanto outros foram
selecionar os petiscos mais requintados, e isso tudo
assim que colocamos o pé dentro do local. Desde então,
cá estamos nós, rodeadas de pessoas nos paparicando e
roupas e mais roupas.

Olho para a montanha de tecidos, um tanto


apavorada e outro tanto perdida.

— Levem todos que vocês acharem necessário, ainda


preciso me adaptar com isso tudo. — Faço um gesto com
a mão.
— Viu, eu disse que ela cederia no final. — fala
Celina, virando-se para Zaya.

Nos últimos dias Khalif e eu vivemos momentos


inesquecíveis, completamente família. Por conta do Zayn
e do berço, o Sheik tem dormido todos os dias no meu
quarto. Nossa vida estaria perfeita, se não fosse pela
ligação dos meus pais perguntando quando eu retornarei
para o Brasil. É estranho pensar nisso agora, se a
pergunta viesse antes das coisas se ajeitarem, eu
responderia “o mais rápido possível”, contudo, quando
penso em retornar, meu coração aperta tanto ao ponto de
virar um pequeno grão de areia.

— Olha esse, Brianna, você precisa experimentar


para o casamento da Celina! — Zaya levanta um tecido
verde na altura dos meus olhos.

Solto um suspiro, levantando-me. Recolho o tecido da


sua mão e rumo em direção ao provador, acostumada com
o caminho depois de tantas horas dentro dessa mesma
loja.

Começo a retirar minhas vestes quando a cortina


abre abruptamente.

— O quê? — exaspero, assustada.

Viro e encontro Aiyra me encarando. A mulher bonita


que sempre fez questão de deixar os cabelos aparentes,
hoje parece outra pessoa. Aiyra se esconde por baixo de
uma burca preta, deixando somente os olhos de fora. Com
o meu reconhecimento, ela retira o tecido do rosto.

— Eu preciso falar com você!

Dois pensamentos passam pela minha cabeça. O


primeiro é de que ela é uma psicopata desvairada. E o
segundo é o de que ela é somente uma pobre mulher
perdida e apaixonada.

— Acredite, esse não é o melhor jeito de chegar a


uma pessoa e comunicar isso. — retruco

Aiyra revira os olhos e fecha à cortina.

— Eu tenho uma proposta para fazer a você.

Sinto meu cenho franzir em desentendimento.

— Uma proposta?

— Sim.

— E qual seria?

— Eu me caso primeiro com Khalif, me torno a


primeira esposa. Depois permito que ele case com você.

Tenho certeza de que estou de boca aberta e com


uma expressão nada bonita no rosto, mas não vejo outra
maneira de reagir a uma absurdidade dessas.
— Espera, como é? — preciso ter certeza de que eu
ouvi direito.

— Isso mesmo. Você precisa entender que eu nasci


para isso, fui moldada, criada e educada para que um dia
eu encontrasse Khalif e me tornasse a sua princesa.
Portanto, ser a primeira esposa é um direito meu.
Pretendia ser a única, mas como Khalif parece nutrir
sentimentos por você, estou disposta a dividi-lo com outra
mulher se isso significa o status e o casamento.

Esfrego a testa, aturdida demais para responder ao


que ela fala.

— Escute, Brianna! Ser a segunda esposa não é tão


terrível assim. É claro que como primeira eu terei alguns
direitos que você não terá, mas nós podemos chegar a um
consenso. Além do mais, você já tem o filho homem o que
é um feito muito importante. — Ela levanta o braço e dá
um passo em minha direção.

Jogo o tecido para longe, entrando em desespero


com tudo o que está acontecendo.

— Você ficou maluca? — Encontro a minha voz em


algum lugar.

Aiyra pisca sucessivamente, espantada com o meu


tom.

— Não gostou da ideia?


— Como você ainda pode perguntar? É claro que
não! Eu jamais me casaria com um homem e aceitaria
dividi-lo com outras mulheres.

— Mas essa é a nossa cultura...

— Não a minha! Se ficar com Khalif significa ter que


dividi-lo, então eu prefiro retornar ao Brasil e seguir a
minha vida em frente.

Aiyra permanece em silêncio por alguns segundos.

— Você retornaria para o Brasil? — indaga com uma


malícia incontida na voz.

Cerro a mandíbula, irritada com a inconveniência


dessa mulher. Por muito tempo eu só a conhecia por
capas de revistas e manchetes ao lado de Khalif, contudo,
no dia em que ela apareceu no apartamento e lançou não
só a mim, como ao meu filho também, olhares de desdém
e desprezo, eu percebi ali que ela é uma péssima pessoa,
uma que me fez querer manter distância.

— Se você não sair agora eu vou chamar a


segurança. — ameaço entredentes.

Ou vou voar no seu pescoço. Acrescento


mentalmente.

— Não precisa chegar a tanto, só estou tentando um


acordo amigável com você.
— Não haverá um acordo, saia agora daqui!

A fisionomia de Aiyra muda, ela fica séria, o mesmo


olhar que me lançou no primeiro dia retorna. É como ver
uma transformação bem na frente.

— Khalif vai saber quem é você! Farei questão de


esfregar o resultado do exame de DNA daquela criança.
— Levanta um dedo em riste apontado para mim. — Você
vai se arrepender de não ter aceitado o acordo. Se
arrependerá mais ainda quando ele a colocar para fora
como a vadia que realmente é. E não só você, como
àquele... indigente.

Ah, não! Ela precisa pensar muito bem antes de falar


do meu filho.

Agarro a burca de Aiyra, agarrando tanto o tecido


quanto os cabelos que estão por baixo. Ela começa a
gritar e me estapear e eu revido. Nem sei o que estou
fazendo, nunca na vida eu cheguei às vias de fato com
alguém, mas as palavras proferidas contra a honra do
meu bebê me dão gás para continuar essa briga.

— Fala de novo do meu filho para ver se eu não


arranco esses seus cabelos sua maldita! — grito.

Um movimento sacode a cortina do provador, então


ele é aberto por Celina. Zaya, Fátima, e para a minha
surpresa, Khalif, estão logo atrás da minha amiga.
— Mas o que está acontecendo aqui? — brada Khalif.

— Khalif, querido, essa louca começou a me bater.

Arranco a burca da sua cabeça, revelando finalmente


os seus cabelos, tendo algo sólido para agarrar.

— Deixa de ser mentirosa! Ela falou de Zayn.

— Como é que é? — Celina dá um passo à frente. —


Essa pernas de aranha falou do meu afilhado? Não posso
acreditar.

Celina se joga contra Aiyra, fazendo-me largar os


cabelos da mulher. As duas rolam pelo provador em uma
mistura de tapas e cabelos.

— Alguém precisa parar essas duas! — Zaya entra


em desespero.

Fátima corre com Zayn para longe, a fim de afastar o


bebê de toda a confusão.

— Um segurança, por favor! — Khalif joga os braços


para cima, frustrado.

Com os gritos de desespero, mais os de guerra que


Celina profere, uma multidão de homens corre para o
nosso redor armados até os dentes, com o intuito de
proteger a família real.
— Aquela é a noiva do Jamal, cuidem bem dela.
Quanto a outra, mantenham-na o mais longe de mim, da
minha família e dos meus amigos. — instruí Khalif.

Após apartar a briga, os homens arrastam Aiyra para


longe de nós. Celina, com uma imponência invejável,
arruma os cabelos bagunçados e ergue o queixo, como se
nada tivesse acontecido.

— Khalif, vamos embora, há muitas pessoas na porta


da loja querendo saber o que aconteceu. — Zaya aperta o
braço do Sheik.

Khalif mantém os olhos em mim, não acusatórios,


mas preocupados e curiosos.

— Vamos! — Antes de sair, ele segura os meus


ombros. — Preciso que faça como Celina, que saia do
lugar com a cabeça erguida, que finja que estava
selecionando roupas e ponto.

— Por quê? — Ouço-me perguntar.

— Você não vai querer sair em revistas de fofocas,


não com as manchetes que eles irão publicar sobre o
ocorrido.

Engulo em seco.

— Eu posso fazer isso. — afirmo com convicção.


Khalif sorri.

— Eu sei que pode.

Me afasto dele para não sair nas mesmas fotos e


recolho Zayn do colo de Fátima. Assim, com a cabeça
erguida, saímos da loja sorrindo e esquecendo os últimos
minutos, enquanto flashes de câmeras nos acompanham
durante todo o percurso até o carro.
Khalif se mantém em silêncio durante todo o percurso
até o seu apartamento. Ao entrarmos, vou até o quarto e
coloco Zayn no berço antes de voltar para a sala e
encontrar o Sheik escorado em uma das janelas. A forma
como os seus músculos se molda na camisa branca pelo
esforço que faz ao manter o peso corporal, me causa um
reboliço no estômago.

Ainda não sei o que se passa na cabeça dele, um


lado meu grita que ele acreditará em mim, afinal,
basicamente expulsou a namorada no primeiro dia e tudo
para manter Zayn e eu em harmonia dentro da sua casa.
Mas também tem o meu lado masoquista, aquele que fica
sussurrando em meu ouvido que ele não gostou do
showzinho dentro do provador. Independentemente, um
relacionamento se mantém à base de confiança, portanto,
não terei outra escolha, se não, a de ir embora.

— Khalif. — Mantenho o tom de voz firme parando há


alguns metros de distância.

O Sheik se vira. Ele parece cansado, a camisa


amassada está com alguns botões abertos, enquanto a
gravata que antes se mantinha no pescoço em um nó
impecável, agora está aberta, solta sobre os ombros.

— O que aconteceu, Brianna? — pergunta, colocando


as mãos nos bolsos da calça.

Passo a língua na boca ressecada, nervosa.

— Aconteceu o que eu já disse, Aiyra entrou no


provador e começou a falar baboseiras, depois começou a
me ofender e a ofender Zayn.

— Quais baboseiras?

Empino o queixo, começando a ficar invocada com o


tom de voz que ele está usando nessa conversa.

— Ela quer se a primeira esposa.

Khalif franze as sobrancelhas, surpreso.


— O quê?

— Isso mesmo. Aiyra disse que permitiria um


segundo casamento, desde que ela fosse a primeira. E
com essa ideia, veio atrás de mim com um tratado de paz.

O príncipe abre e fecha a boca, espantado e


indignado. Ele retira uma mão do bolso e esfrega os
cabelos revoltos.

— E o que exatamente você disse?

— Eu disse que jamais dividiria um homem. — falo


em um tom de voz seco, embora polido.

Não há de forma alguma uma chance de mudar a


minha opinião sobre isso, e espero ter deixado bem claro
a minha posição.

Khalif aperta os lábios, tornando-os uma linha fina,


enquanto pensa.

— Bem, isso é espantoso. — cicia, por fim.

— Espantoso?

— É claro, Aiyra não é de aceitar a derrota.

Coloco as mãos na cintura, irritada com o fato dele


superestimar a ex-namorada.
— Ah, mas ela não aceitou, acredite. Tenho certeza
de que em breve Aiyra entrará em contato com você para
implorar o casamento. Além do mais, ela faz questão de
esfregar o exame de DNA de Zayn na sua cara para que
eu possa ser excomungada daqui como a golpista que
sou.

A expressão de Khalif vai se alterando aos poucos.


Ele não gostou do que ouviu, ficou claro pela contração
da mandíbula e a pulsação da veia na testa.

— Eu quero falar sobre isso com você.

Khalif cruza os braços em frente ao peito, a maneira


como seus músculos ficam ainda mais evidentes pelo
movimento me causa uma distração momentânea.

— Falar o que? — subo os olhos até os seus,


mantendo-os longe do corpo maravilhoso.

— Sobre isso. Quero que Zayn seja reconhecido


como meu filho, já faz quase um mês que chegamos em
Dubai, resolvi esperar, pois as coisas irão ficar...
transtornadas quando a mídia descobrir.

Passo uma mão nos cabelos, sentindo um leve tremor


ao pensar em como as coisas ficarão tensas daqui para
frente. Mas não é só um direito dele, como de Zayn
também.
— Tudo bem, quanto mais cedo, mais rápido de
acabar. — Dou de ombros.

— O que você quer dizer com isso? — Khalif dá um


passo à frente.

— Bem, eu quero dizer que uma hora ou outra as


pessoas precisarão saber que você tem um filho,
portanto, é melhor resolver essa questão de uma vez.

Khalif eleva o queixo, desafiadoramente.

— E depois você pretende retornar ao Brasil?

Essa é uma ótima pergunta, uma que eu não sei o


que responder. Mas que escolha eu tenho? Não posso
passar o resto da vida aqui, sendo amante de Khalif e
ponto. Eu quero voltar a trabalhar, quero ter minha
independência financeira. Quero ter uma vida novamente.

— Sim. — respondo com a voz trêmula pela garganta


embargada.

O Sheik dá mais um passo, aproximando-se cada vez


mais.

— E quanto ao que Aiyra disse?

Sinto meu cenho franzir.

— Qual das partes?


— A parte em que ela lhe propôs ser a segunda
esposa.

— Fora de cogitação, jamais me submeterei a isso.

— Não se submeteria a ser a segunda esposa, mas


se submeteria a ser a única?

Cristo! Deus! Pai! Minha mente dá uma volta,


deixando meu cérebro em pane total. Pisco uma, duas,
três vezes, desconexa. Khalif não pode estar me
propondo o que eu acho que ele esteja fazendo, não!
Espera! Ele quer se casar? Comigo?

— Como? — sussurro, sem forças nas cordas vocais.

— Exatamente o que você ouviu, Brianna. — retruca.

Eu me casaria com Khalif? Bem, se fosse antes


desse mês que passei em Dubai, talvez eu tivesse saído
correndo desse apartamento com as minhas malas em um
braço e o filho no outro. No entanto, conviver com ele,
morar com ele, realmente tem me surpreendido. Além, é
claro, de Zaya e Fátima e todos os seus ensinamentos
sobre o alcorão e o islamismo. Mas, eu amo Khalif tanto
ao ponto de me casar com ele?

Antes que eu possa responder, um choro ecoa no


andar de cima, tirando-me das divagações.

— Eu... eu preciso ir vê-lo — Aponto para a escada.


— Vá, essa conversa ainda não terminou mesmo.

Engolindo em seco, corro para fora da sala, subindo


os degraus das escadas de dois em dois. Quando entro
no quarto, encontro Zayn sentado no berço,
choramingando.

— Vamos fazer uma papinha para você? — pergunto,


enquanto retiro-o da cama.

Zayn bate palmas animado com o que quer que eu


tenha a oferecer. Beijo a sua cabeça, inspirando seu
cheirinho de bebê.

— E você, o que quer? Vamos ficar em Dubai ou


vamos voltar para o Brasil?

Sem respostas, ele apenas abre um sorriso virado em


gengiva, alheio à tempestade interna que domina a minha
mente.
— Ela já chegou? — pergunto para um dos meus
seguranças.

— Sim, senhor. Ela está no lugar onde o senhor


informou.

Faço um aceno com a cabeça.

Diferente do bar que eu fui ontem para encontrar


Omar, hoje optei por um restaurante requintado, mas
exclusivo. Não quero a mídia atrapalhando os meus
negócios, muito menos fotos ardilosas rolando pelas
redes sociais, não quando estou tentando convencer
Brianna a ficar aqui e casar comigo.

Cumprimento alguns conhecidos conforme caminho


pelo local, em silêncio. A mesa que eu escolhi é
reservada, sendo separada dos demais por uma cortina
transparente.

Vejo as costas de Aiyra, conhecendo-a bem, sei que


a mulher está muito bem vestida e excepcionalmente
maquiada. Uma combinação fatal, mas não para mim.
Sempre achei Aiyra uma mulher linda, mas admirava mais
ainda a sua autonomia em ir morar fora, independente da
opinião dos pais, e fazer nome. Admirava também como
ela, mesmo seguindo o islamismo, nunca deixou ser
influenciada por isso, fazendo o que bem entende. Mas eu
pensava tudo isso antes, ao menos até eu conhecer a sua
verdadeira personalidade e descobrir que ela não passa
de uma cobra peçonhenta.

Empurro a cortina e me sento no banco à sua frente.


Ao me ver, Aiyra abre um sorriso inocente, a fim de
esconder a verdadeira face.

— Fiquei feliz quando sua equipe me ligou, mas


confesso que me senti magoada por você não ter feito
isso pessoalmente. — Ela passa um dedo no cálice de
vinho, distraidamente.

— Deveria agradecer, esse é o mais perto de um


contato que conseguirá comigo pelo resto da sua vida.

Aiyra pisca, surpresa com a rispidez das minhas


palavras. Os olhos começam a lacrimejar, mas nem isso é
capaz de me causar compaixão.

— Khalif... eu...

Levanto um dedo, interrompendo-a.

— Eu só marquei essa reunião para deixar algumas


coisas claras, principalmente para você.

— Eu não sei o que àquela mulher te disse, mas


saiba que é mentira! Eu tentei chegar a um acordo, ela
que é descontrolada e partiu para a agressão.
— Terminou? — Contenho a vontade de revirar os
olhos.

Vejo a contração na mandíbula de Aiyra, bem como o


elevar de cabeça, a fim de passar um ar de superioridade.

— Sim.

— Ótimo! Primeiro, quero lembrá-la de que eu sou um


príncipe, como também o governante de Dubai. Espero
que esteja ciente disso quando vier ameaçar as pessoas
ao meu redor.

— Eu não ameacei ninguém!

— Estou falando, não me interrompa mais. — Suspiro


em busca de calma. — Segundo, você nunca mais vai
falar do meu filho novamente. E não me importa o que
diga, pois sei que é cega o suficiente quando se trata de
algo que lhe convém. E, por fim, não terei duas esposas.

— Bom, quanto ao terceiro quesito não tenho nada a


me opor, desde que eu seja ela. — Abre um sorriso
malicioso.

Os cantos dos meus lábios se curvam em desdém.

— Acredite, eu prefiro passar o resto da minha vida


solteiro a casar com você.
Aiyra parece ficar ofendida com as minhas palavras,
pois joga o corpo no encosto da cadeira levando uma mão
ao coração.

— Não era isso que pensava, não antes daquela


vadia aparecer!

— Lembre-se de que Brianna pode ser a sua alteza


real, Aiyra, dessa forma, eu mediria as palavras.

— Você não pode estar falando sério! Khalif, você


enlouqueceu? Brianna não é mulher para você, eu sou!

Não me contenho, reviro os olhos.

— Bom, só para reiterar, caso não siga alguma das


minhas instruções, entrarei em contato com a sua
agência... e você sabe, eles jamais discordariam da
decisão de alguém tão importante.

Aiyra semicerra os olhos.

— Nossa, Khalif, ameaças não combinam nada com


você.

— Não é uma ameaça, Aiyra, é uma promessa. Não


mexa nunca mais com a minha família.

Faço um movimento para me levantar, mas Aiyra


segura o meu braço, forçando-me a voltar ao lugar.
— Espera! Você não pode fazer isso! Eu fui moldada
e criada para ser a sua esposa.

Sinto minha testa franzir.

— Do que você está falando?

Ela solta um suspiro pesado.

— Minha mãe me criou para isso, Khalif. Acha mesmo


que a família conservadora que eu tenho permitiria que eu
fosse viajar o mundo sendo modelo?

— Aiyra, o quê?

Arrumo o nó da minha gravata, sentindo um pouco de


dificuldade em respirar por conta dessa revelação nada
convencional.

— Quando eu era criança, ela me dizia que eu


deveria agir como uma princesa. Me fez decorar cada
linha do alcorão, me colocou em aula de etiqueta, ela me
moldou para ser a mulher perfeita, a escolhida. — Sua
voz falha pela emoção. Inspirando fundo, ela continua: —
Mas o tempo foi passando e você não dava sinal algum de
que queria se casar, então minha mãe resolveu que eu
deveria me destacar, aparecer para que pudesse me
conhecer. Cheguei a ir às mesmas festas que você, a
compartilhar das mesmas amizades, mas você nunca me
notou. Mamãe começou a se desesperar, até que um dia
uma agência de modelos resolveu vir na cidade em busca
de mulheres com uma beleza diferente. E ali mamãe viu a
oportunidade perfeita, só não esperávamos o sucesso e a
carreira internacional.

— Você tem noção da absurdidade que está me


falando? — questiono, cético.

— Eu sei, mas eu não tive escolha, era isso ou nunca


sair do ninho. — Aiyra toma um pequeno gole do seu
vinho, molhando a garganta seca pela emoção de estar
revelando seu mais sórdido segredo. Depositando a taça
de volta na mesa, ela encara um ponto qualquer. —
Quando começamos a namorar ela surtou, entrou em
êxtase, mas aí o pedido de casamento não veio... enfim,
quando terminamos mamãe ameaçou me trancar em casa,
acabar com a minha carreira caso eu não conseguisse
reatar o relacionamento, então eu entrei em desespero.

Passo as mãos no rosto, apavorado com tudo isso.

— Espera! Então você nunca gostou de mim?

Aiyra cora, maneando a cabeça em sinal negativo.

— Quer dizer, gostar sim, mas nunca amei você.

Uma pontada de culpa me assola, mas eu jamais


poderia imaginar que Aiyra passou por tudo isso, é claro
que eu faria diferente se eu soubesse.
— Aiyra, mas o que lhe impede de seguir em frente?
De se desligar da sua mãe?

Ela tamborila as unhas tingidas em vermelho na


mesa, pensativa.

— Eu não sei... talvez a minha família, talvez Dubai.

— Pense bem, você é motivo de orgulho para tantas


mulheres. Sua carreira e história de vida são incríveis.
Além do mais, é financeiramente independente e mora no
exterior. Sua mãe não pode fazer nada para lhe atingir.

— Acho que está na hora de cortar o cordão


umbilical. — murmura, os olhos anuviados, perdida em
pensamentos.

— Quer uma sugestão?

Aiyra traz os olhos de encontro aos meus,


escrutinando o meu rosto.

— Vá em frente. — Faz um gesto com a mão.

— Pare de mentir para as pessoas, diga a verdade.


Fale que você não tem todo esse apoio da sua família,
mas que mesmo assim correu atrás dos seus sonhos e
hoje é feliz e realizada.

— E o que isso vai me acrescentar? — Dá de ombros.


— Admiração. Pense em quantas outras meninas não
estão enfrentando os mesmos problemas, você se tornará
alguém em quem elas queiram se espelhar. Khalil e eu
trabalhamos todos os dias para quebrar as barreiras que
divergem entre homens e mulheres, ter uma figura de
dentro do nosso próprio povo como sinônimo de
superação, ajudará não só elas, como o nosso trabalho.

Aiyra leva um dedo ao queixo.

— Eu nunca tinha pensado por esse lado...

— Então pense. — revido.

Segundos se passam até que um sorriso brota nos


lábios de Aiyra. Ela recolhe a bolsa na cadeira ao lado,
levantando-se em seguida.

— Obrigada, Khalif. Boa sorte entre você e Brianna.


— Gira nos calcanhares para ir embora, mas retorna. —
E, ah, eu sempre soube que o bebê é seu filho, as
semelhanças são gritantes. Nem sei como é que a mídia
ainda não descobriu.

— Boa sorte na carreira, Aiyra.

Ela levanta a mão agradecendo de costas, enquanto


desfila para fora do restaurante.

Me jogo no encosto do banco e suspiro aliviado, um


problema a menos, agora só falta enfrentar a mídia e,
posteriormente, o aval da minha brasileira.
— Que surpresa é essa? — Mal consigo conter a
curiosidade na voz.

— Uma surpresa que você vai gostar.

Khalif me instrui na caminhada, enquanto mantém as


mãos vendando os meus olhos para que eu não consiga
ver nada. Ouço o barulho de uma porta abrindo.

— Temos um degrau.

Dou um chute, procurando a escadaria que ele falou.


Sem cair, consigo sentir o exato momento em que
entramos no ambiente, seja lá qual for ele. Khalif para de
caminhar, mantendo-nos no lugar.

— Chegamos. — avisa, retirando as mãos dos meus


olhos. — Surpresa!

Olho tudo ao redor, girando o corpo para que eu


possa ter um melhor vislumbre. Estamos dentro de um
amplo escritório com design moderno e requintado. Há
uma mesa ao centro, ao fundo salas separadas por
paredes de vidro.

— O que é isso? — pergunto, caminhando pelo piso


marmoreado, fazendo meu salto ecoar.

Vejo uma sala de reuniões com uma mesa ampla ao


centro, um bar com sofás de frente para a enorme janela
que tem vista para a rua. Ao lado, uma sala que parece
pertencer ao chefe do local pela decoração exagerada. E,
por fim, uma sala com algumas mesas, especifica para um
número de funcionários.

— Esse é o seu local de trabalho.

Paro abruptamente de caminhar, encarando Khalif


com o cenho franzido.

— Como é? — A voz ecoa pelo ambiente vazio.

Khalif sorri e coloca as mãos no bolso.


— Quando eu perguntei na boate do que sentia falta,
você me disse que sentia falta da sua profissão. — Faz
um movimento de dar de ombros. — Pensei em lhe
presentear com um escritório para que pudesse retornar
ao labor.

Ofego, aturdida.

— Khalif, eu... o quê?! — Passo uma mão nos


cabelos.

— Eu preciso renovar os jardins do meu prédio, e é


claro que pensei em contratar a melhor profissional da
área que eu conheço. Além do mais, sei de outros tantos
clientes que enfrentam o mesmo problema.

Deus do céu! Como ele lembra daquela conversa que


tivemos a tantos dias atrás? Esse simples fato faz meu
coração dar leves solavancos em minha caixa torácica,
afinal, estou tentando veemente não me apaixonar por
esse homem, mas cada uma das suas atitudes é um
desafio voltado justamente contra isso.

— Eu demorei porque estava em reforma, queria lhe


apresentar o local quando estivesse pronto. — continua,
apontando ao redor. — A reforma começou no outro dia
após nossa conversa na boate. Pedi também que
criassem uma sala para colaboradores, pois sei que logo
terá muito serviço e não dará conta sozinha.
Levo uma mão até minha boca, atordoada,
emocionada e... apaixonada demais para falar qualquer
coisa.

— Aqui você será a chefe, Brianna. — Khalif me


encara e muitos sentimentos passam em seus olhos,
assim como estão passando nos meus. — Aqui você
poderá contratar mulheres e nos ajudar a colocá-las no
mercado de trabalho, um problema que, infelizmente,
ainda estamos enfrentando. Além do mais, não vai
dispensar ninguém ou até mesmo abster-se de promover
alguém por uma gestação.

Ah, dane-se, eu estou completamente apaixonada por


esse homem, não há mais como mentir, simples assim.

Corro até Khalif e me jogo em seus braços.

— Obrigada, Khalif! Isso é muito importante para


mim.

Ele mexe em meus cabelos, massageando o couro


cabeludo.

— Tudo o que for importante para você, é importante


para mim.

As três palavras mais avassaladoras da face da terra


pinicam na minha língua, mas eu me contenho.
Infantilidade, ou não, eu não quero ser a primeira a falar.
Me afasto de Khalif para poder encarar sua face.

— E Zayn, como ele vai ficar? — Por mais que eu


esteja feliz e emocionada, eu ainda tenho um filho para
cuidar, não posso esquecer disso.

Khalif abre um sorriso e acaricia meu rosto com o


polegar.

— Venha até aqui.

Ele me conduz pelo salão, levando-me até uma porta


anexa, uma que havia passado despercebido por mim, até
então. Ele empurra a madeira e eu me dou conta que a
sala nada mais é do que um berçário.

— Tenho alguns nomes, indicação de Zaya e da


minha mãe, para as cuidadoras. — Ele se vira, mas
quando percebe meu espanto, acrescenta: — Não pensou
que eu planejaria uma empresa revolucionária sem razoar
todos os pontos, não é mesmo?

Oh, Deus!

Agarro as lapelas da sua camisa e grudo nossas


bocas, tentando lhe mostrar o quanto me sinto honrada
por tê-lo ao meu lado, e o quanto me sinto orgulhosa do
pai do meu filho. Nossas línguas entram em sintonia
constante, conforme aprofundamos o beijo. Mordo seu
lábio inferior, segurando a pele macia por entre os dentes.
— Eu não faria isso se eu fosse você. — sussurra
contra a minha boca.

— Por que não? — revido, fingindo inocência.

Khalif abraça a minha cintura e cola nossos corpos,


momento em que sinto sua ereção pulsar em minha
barriga.

— Podíamos inaugurar o escritório, sabe.

Ele agarra os meus cabelos com força, fechando o


punho nas madeixas.

— Não me provoque, Brianna! — ameaça, os olhos


brilhando em labaredas de desejo e luxúria.

Me esfrego em sua masculinidade, soltando um


pequeno gemido. Khalif intensifica o aperto em minha
nuca, rosnando.

— Você é muito safada, Brianna Artonino.

Ele me vira abruptamente, me escorando contra um


dos berços e empina o meu quadril. O Sheik puxa meu
vestido até a cintura, deixando a minha bunda de fora,
então estala um tapa no local.

— É bom que estejamos sozinhos, pois tenho muitos


planos para foder você de maneira que grite meu nome
até ficar rouca.
Khalif coloca a minha calcinha para o lado e esfrega
os dedos por entre os meus lábios vaginais.

— Molhadinha, Brianna?! Já tinha planos para isso?

Ele encontra meu clitóris e começa a circular o nervo


com o indicador, enquanto o polegar pressiona a minha
uretra. Khalif começa com movimentos lentos e rítmicos,
até intensificar os estímulos, esfregando o dedo com mais
força, aumentando a fricção. Minhas pernas ficam
trêmulas pelo intenso prazer que se acumula. Agarro o
berço com força, deixando os vincos das mãos
esbranquiçados.

— Oh, Khalif...

Meu peito sobe e desce em movimentos sucessivos


pela respiração densa e pesada, então eu explodo, meu
corpo convulsiona por inteiro em um orgasmo gostoso.

Ouço através do meu estado de estupor o barulho da


calça de Khalif se abrindo, então sinto seu membro
pincelar a minha entrada encharcada antes de ser
penetrada de vez.

— Oh... — Khalif geme, jogando a cabeça para o alto.

Empino ainda mais a minha bunda, dando-lhe total


passagem. Khalif sai de dentro de mim e retorna,
penetrando uma, duas, três vezes. Meu interior se contrai
para recebê-lo.
— Você é deliciosa, Brianna. — Agarra meus cabelos,
puxando meu pescoço para trás.

— Me mostre.

Ele ri, aumentando o movimento do quadril. Khalif


beija meu pescoço, enquanto me penetra, cada vez mais
fundo, cada vez mais bruto, cada vez mais apaixonado.

— Não vou aguentar muito tempo. — avisa com a voz


lânguida.

Khalif muda a posição, encontrando o meu ponto G,


em cada penetração, uma nova lufada de prazer.

— AH... — grito desesperada, incapaz de me manter


inerte nessa posição deliciosa.

Começo a tremer, o corpo volta a convulsionar pelo


novo orgasmo arrebatador. Khalif aumenta o aperto na
minha nuca, tão incontido quanto eu, então se delicia
dentro de mim, alcançando o próprio ápice.

Levo alguns segundos para voltar ao normal. Sinto os


músculos das pernas doloridos e preciso da ajuda do
príncipe para ficar de pé.

— Espero que tenha pensado em um banheiro


também. — Tento desfazer os nós dos cabelos com os
dedos, mas falho miseravelmente.
Khalif segura o meu rosto entre as mãos e dá um
beijo estalado na minha testa. Ele fica tão lindo depois de
gozar, as feições mais leves e as bochechas levemente
coradas lhe dão um ar de jovialidade.

— Eu penso em tudo, amor.

— AÍ MEU DEUS! MEU DEUS! — Grito, jogando-me


nos braços de Ivana e Maitê.

Estamos no aeroporto, mas assim que as meninas


desembarcaram, Celina e eu corremos em sua direção
como duas loucas desvairadas. A saudade era tanta que
não conseguimos controlar.

Khalif e Jamal ficaram para trás com Zayn no colo,


como se já estivessem pressentindo a cena toda.

— Eu nem acredito que ficamos todo esse tempo


longe umas das outras. — murmura Ivana, desfazendo-se
de nosso abraço.

— Onde está meu sobrinho? — Maitê corre os olhos


pelo aeroporto à procura de Zayn.
Aponto com o queixo na direção onde Khalif segura o
bebê no colo.

— Ali.

Maitê corre até eles, saudosa demais para aguentar


mais um pouco. Zayn assim que coloca os olhos na tia,
abre um enorme sorriso e bate palmas, fazendo Maitê
chorar de emoção.

— Antes de falar com vocês, irei ver o meu afilhado.


— Ivana corre atrás de Maitê.

Falta uma semana para o casamento da Celina e


Jamal, as meninas vieram em antecipação para matar a
saudade e nos fazer companhia. Elas ainda não sabem
que Khalif está abrindo uma empresa de arquitetura para
mim e, embora o Sheik nunca mais tenha dado a entender
que deseja casamento, ele me deu uma empresa, então
devo concluir que ele quer tanto a minha estádia em
Dubai quanto eu quero.

Além de tudo, sei que terei total apoio das meninas,


ainda mais de Ivana quando ela descobrir o verdadeiro
significado por trás da empresa.

Maitê agarra Zayn no colo, esmagando a bochecha


do bebê com inúmeros beijos.

— Como ele cresceu, estou apavorada. — Ela afasta


o sobrinho para inspecioná-lo melhor.
Zayn cresce mais a cada dia, desenvolvendo-se de
maneira saudável como um bebê da sua idade. Nesses
últimos meses, o bebê aprendeu a fazer gestos, a
murmurar palavras desconexas, mas que soam como
“papa” e “mama”, além de já ter suas predileções por
comida e a boca estar se enchendo de dentes.

— Então, o que nós iremos fazer para comemorar o


reencontro? — Ivana encara a mim e Celina da cabeça
aos pés.

Um fato que estou estranhando é o de Ivana não ter


dito nada sobre Celina estar usando o hijab. Como uma
verdadeira apreciadora da moda, Celina tem um jeito
único de combinar o lenço com vestidos mais leves.

— Khalif e Jamal vão ir passear com Zayn, enquanto


nós nos divertiremos na minha festinha particular de
despedida de solteira. — Celina estala a língua no céu da
boca.

Ivana abre um sorriso malicioso.

— Céus! Era exatamente disso que eu estava


precisando, álcool e amigas.

Não consigo nem calcular a saudade que eu estava


sentindo das duas. E não havia percebido o quanto até
vê-las descer do avião e meu peito comprimir.
Coloco um braço sobre o ombro da Maitê, querendo
manter o máximo de contato possível com a minha irmã.

— Como nossos pais estão? — pergunto, enquanto


caminhamos para fora do aeroporto.

— Com saudades e perguntando insistentemente


quando você retornará para casa.

Solto um suspiro profundo.

— Nem eu sei mais.

Os ombros de Maitê se movem em uma risada


silenciosa.

— Você está brilhando, Bri.

— O quê?

— Está amando. Khalif está fazendo bem para você.


Por mais que me doa dizer isso e me cause aflição, eu
seria uma péssima irmã, pois estaria me opondo contra a
sua felicidade. Enfim, eu nunca lhe vi tão feliz antes como
estou vendo hoje, é como se Dubai tivesse renovado as
tuas energias. Àquela menina triste e que vivia correndo
atrás de um reconhecimento que nunca veio, foi embora
dando lugar para uma mulher expansiva e segura de si.

Só percebo que eu parei de caminhar pelo baque que


as palavras da minha irmã me causam, quando ela me
puxa, forçando minhas pernas a retomarem o movimento.

— Está tão perceptível assim? — sussurro com voz


embargada.

— Sim, minha querida irmã, está!

Eu não notei mudanças externas nas últimas


semanas, mas devo concordar com Maitê sobre as
internas. No Brasil, eu corria atrás de reconhecimento de
uma empresa dirigida por homens machistas e sugadores
de talento. Custei a perceber que àquilo não só estava me
afetando financeiramente, mas psicologicamente também.
Já aqui com Khalif eu descobri um lado dele que eu não
conhecia, um homem maravilhoso, moderno e amoroso.

Eu amo a rotina que temos, adoro o convívio familiar


que estipulamos. Sou apaixonada em todas as noites
quando nos juntamos no meu quarto para assistir a algum
programa qualquer com Zayn em nosso meio. Ou quando
o príncipe me acorda com um generoso café da manhã
após uma extensa noite de sexo. Enfim, são tantas coisas
do dia a dia que fazem com que eu me apaixone mais e
mais.

— Nós temos muitas coisas para conversar. — cicio,


puxando-a para mais um abraço.
— Ao meu casamento! — Celina brinda com uma
garrafa de champagne nas mãos, derramando o líquido
borbulhante para todos os lados.

Elevamos nossos copos, brindando e sorrindo


enquanto ela serve cada uma das três taças. Por fim, ela
se joga no sofá do apartamento de Jamal à nossa frente,
bebendo através do gargalo da garrafa.

— Eu nem acredito que vou me casar.

Ivana termina de beber, limpando a boca antes de


falar:
— E eu nem acredito que direi isso, mas a cultura
árabe combina com você, sério, estava um arraso com
àquele lenço.

— E eu concordo plenamente, devo confessar. —


pontua Maitê.

— É lindo, não é? Eu amo reinventar e renovar, além


do mais, minhas seguidoras estão acompanhando tudo, já
recebi inúmeras mensagens delas me perguntando como
as coisas funcionam, onde eu encontro os hijab que uso e
muitos outros questionamentos.

E eu acompanhei tudo de perto, desde que Celina se


mudou para Dubai, a fim de organizar as coisas do
casamento, ela vem postando tudo com frequência nos
stories do Instagram, e é claro que as meninas ficaram
loucas com a moda que ela criou, viajando até Dubai
somente para seguir suas vestimentas e fazer mídia. Além
disso, muitas marcas fecharam parceria com Celina
depois que perceberam o alcance que suas publicações
estavam chegando e o número de seguidores que só
vinha aumentando. Celina está no auge da sua carreira,
crescendo a cada dia mais.

— E como estão as coisas para o casamento? É


verdade que Jamal não convidou a família dele?

Celina vira a garrafa, tomando longos goles antes de


responder:
— Ele deixou as madrastas e os irmãos fora da lista.
Disse que seria melhor assim. — Dá de ombros. — Os
preparativos terminaram, graças a Deus, agora é só
esperar.

Ivana dá um safanão no braço de Maitê.

— Quem sabe a sorte vira a nosso favor e nós


também não encontramos um árabe para chamar de nosso
na festa de Celina? — Pisca um olho.

— Ah, eu já cansei de esperar. — zomba Maitê.

— E você, Brianna, como andam as coisas? E quando


ou se pretende voltar ao Brasil? — Ivana aponta a taça na
minha direção.

Celina leva o gargalo da garrafa de volta aos lábios,


fingindo estar muito ocupada bebendo. Ela já sabe da
empresa, já foi até lá comigo, além de ter me aconselhado
a ficar aqui e propor ao Zayn a chance de crescer com a
presença do pai.

Inspiro e expiro o ar profundamente, preparando-me


para externar pela primeira vez em voz alta a minha
verdadeira vontade.

— Eu não vou mais retornar para o Brasil.

Ivana se engasga com a bebida, sendo necessário


Maitê dar tapas em suas costas.
— O que eu perdi? — pergunta com a voz rouca pelo
ataque de tosse.

Então eu começo a contar tudo como um livro aberto.


Falo de como eu e Khalif nos aproximamos. Narro os
episódios de Aiyra e de como ela era vítima de uma mãe
manipuladora. Conto de como nossos dias estão sendo
maravilhosos e estamos construindo um vínculo e um
convívio familiar perfeito. Por último, falo da empresa e
dos planos de Khalif de torná-la uma empresa feminina e
empoderada.

Segundos de silêncio se estendem após todos os


meus relatos. Estamos jogadas contra os sofás, os efeitos
da embriaguez anuviando nossos sentidos.

Ivana pula do seu assento abruptamente, derrubando


algumas almofadas no chão, antes de virar para mim.

— Eu acho que você deveria ficar, Bri.

O que diabos tinha na bebida que Celina serviu?


Pergunto mentalmente, enquanto por fora só contraio as
sobrancelhas.

— Acha? — A palavra sai arrastada, proferida por


uma língua lenta pela bebedeira.

— É claro! Essa empresa é maravilhosa, é uma ideia


fenomenal, para falar a verdade. Mesmo que não
houvesse Khalif ou que vocês não ficassem juntos, olha
só o poder que está sendo colocado em suas mãos, um
poder para fazer o bem. Quantas mulheres que procuram
independência financeira, mais ainda, a liberdade você
conseguirá ajudar? É incrível!

Elevo meu corpo sobre os cotovelos para visualizá-la


melhor.

— Que bom que tenha gostado, pois espero que você


seja a minha primeira contratação.

Ivana pisca várias vezes e jogo a cabeça para trás,


como se ela pesasse uma tonelada, com os olhos
esbugalhados.

Logo depois que Khalif me revelou sobre a empresa,


comecei a pensar como organizaria tudo, de que forma eu
conseguiria fazer com que tudo saísse perfeito, então
concluí que precisaria de Ivana, pois ela é uma arquiteta
excepcional, além de poder trazê-la para perto de mim. É
claro que não me sentirei magoada ou algo parecido caso
ela negue a proposta, afinal, é uma mudança e tanto, mas
eu não poderia não fazê-la.

— Você está me contratando? — indaga com


ceticismo latente.

Dou de ombros.

— Entenda como quiser, só quero você comigo, não


sei se consigo fazer sozinha. — revelo meu maior temor
momentâneo.

Ivana recolhe a taça da mesa de centro e vira todo o


líquido, como se estivesse querendo um pouco de
coragem antes de continuar nossa discussão.

— Bem, Bri, eu me sinto honrada, mas eu não sei,


sabe... é tão extremo.

— Não se preocupe, Ivana, pode pensar à vontade,


leve o tempo que for preciso. Eu sei que essa mudança
pode ser assustadora e não me sentirei magoada caso
sua resposta seja negativa.

Ela abre um sorriso que não chega aos olhos.

— Obrigada.

Um soluço chama a nossa atenção, momento em que


todas as cabeças se viram para Maitê.

— Qual é o problema? — Celina se ajoelha em frente


à minha irmã, cambaleando para os lados.

— Nada, é só que vocês estão se mudando e eu


acabei ficando sozinha, velha e decrépita no Brasil. —
funga.

— Não vejo motivo para tanto, você é médica, pode


vir atuar em Dubai. — Celina dá de ombros.
Imediatamente eu me animo, ter minhas amigas junto
de mim seria como um sonho não realizado.

— Sim, Maitê, pense bem! Você pode abrir seu


próprio consultório e contratar outras mulheres, isso seria
perfeito, não acha? — induzo-a, tentando soar o mais
convincente possível. — Tenho certeza de que Khalif
daria total apoio.

Maitê limpa as lágrimas que escorrem pelas


bochechas.

— Eu vou pensar, é realmente uma mudança muito


brusca.

Celina se levanta e começa a pular, gritando como


uma louca.

— Deus! Isso seria a melhor coisa do mundo! Imagina


todas nós morando juntas? P-E-R-F-E-I-T-O — soletra a
última palavra. — Eu já tenho muitos planos para nós. —
Leva um dedo a boca, parando alguns segundos para
pensar. — É claro, caso vocês concordem.

— Vocês são insanas! E de pensar que tudo isso


começou por causa de um namoro virtual. — Ivana joga o
corpo de volta no sofá, bêbada.

— E agora estamos todas aqui, seguindo o nosso


verdadeiro destino! Sabe o que isso merece? Outra
comemoração! Acho que Jamal tem mais garrafas
guardadas por aí. — Celina corre – ou tenta – para fora
da sala.

Começo a rir, eu senti tanta saudade disso, tanta


saudade delas. Da falta de como as nossas
personalidades tão extremas são capazes de se
complementar.

Mas de tudo o que eu ouvi essa noite, uma coisa


Celina tem razão, estamos seguindo o nosso verdadeiro
caminho.

Tento me concentrar no livro que escolhi para ler,


mas não consigo. A cada segundo eu encaro o berço de
Zayn, temeroso de que algo possa acontecer com o bebê.

É a primeira vez que Brianna me deixa sozinho com


ele, não que ela não tivesse tido vontade antes, só nunca
surgiu oportunidade.

Estou feliz que ela esteja com as amigas, Brianna


ama àquelas meninas e estar com elas lhe causa um bem
extremo. Além do mais, Brianna assumiu muitas
responsabilidades sozinha, não só durante toda a
gestação, como nos cinco primeiros meses de vida de
Zayn, abrindo mão do próprio lazer, portanto, me sinto
feliz sendo útil fazendo-a recuperar um pouco da antiga
rotina.

Olho a hora em meu relógio de pulso e pelo tardar da


noite sei que em breve ela retornará. Jamal não foi para
casa como Celina havia instruído, segundo ele, a noiva
queria um pouco de privacidade com as melhores amigas
e ele acatou. Mas há pouco mais de meia hora Jamal me
comunicou que elas estavam quase acabando a festinha,
pois o estoque de bebidas dele estava chegando ao fim –
relatos dos funcionários –.

Meu celular apita notificando uma mensagem, coloco


o livro de lado na cama e abro a notificação.

Tudo certo para a notícia da existência de Zayn. E


sobre a do noivado, já tem algum aval?

Faz alguns dias que eu venho conversando com a


minha assessora de impressa em busca de uma forma de
dar a notícia sem causar muitos danos na vida da
Brianna, ainda mais agora que ela terá a própria empresa.
Chegamos à conclusão que faremos isso dois dias antes
do casamento do Jamal e Celina, por estratégia, pois
quando o evento começar, todos os holofotes estarão
virados para o casal de pombinhos, ainda mais com
Celina sendo uma pessoa tão reconhecida nas mídias
sociais.

Embora eu tenha dado meu total aval quanto a notícia


de Zayn, também comuniquei a minha assessora a minha
vontade de me casar com Brianna e torná-la a minha
única esposa, mas deixei claro que eu ainda não obtive
uma resposta dela, portanto, nada certo quanto a segunda
parte.

Bloqueio o telefone e jogo de volta na cama. Passo


uma mão nos cabelos nervoso com a conversa que eu não
poderei mais adiar. Porém, o medo da rejeição queima a
minha alma como fogo líquido.

Ouço um barulho na porta da frente, seguida por


algumas conversas e então passos na escada, sei que é
Brianna antes mesmo dela apontar na porta.

— Boa noite! Espero que tenha se divertido. — falo.

Brianna se escora no batente, seus olhos ganhando


contornos de diversão enquanto escrutina todo o meu
dorso nu.

— Pelo visto a diversão recém começou. — morde o


lábio inferior.
As bochechas de Brianna estão coradas e os olhos
anuviados de embriaguez, e agora, luxúria.

— Parece que a bebida lhe deu certa animação,


amor.

Brianna se arrasta até a cama, engatinhando por


cima do colchão e se senta no meu colo, jogando celular
e livro para o chão.

— Você nem sabe quanta animação. — Abre um


sorriso ferino.

Ela distribui beijos pelo meu pescoço, instigando-me.


Seguro a sua cintura com força deixando um pequeno
gemido escapar dos meus lábios quando a desgraçada
rebola em meu pau duro.

Essa garota tem um poder tão grande sobre mim, só


de vê-la molhadinha e desejosa na porta meu pau acordou
para a vida, pronto para mais um round. Brianna é
faminta, ela me acompanha fácil na rotina diária sexual. E
eu, com um bom companheiro, preciso estar sempre ao
seu dispor.

— Eu quero você agora, Khalif! — A voz soa quase


desesperada.

Brianna leva as mãos ao cós da minha calça,


descendo o tecido leve juntamente com a cueca boxer.
Meu pau salta assim que fica liberto. Sem esperar muito
tempo, ela retira o vestido de qualquer jeito, coloca a
calcinha para o lado e se senta em minha extensão,
descendo até o topo.

— Oh! — Pressiono sua pele com ainda mais força,


arquejando.

Sobre as pernas, Brianna sobe e desce, engolindo e


cuspindo o meu pau, conforme se movimenta, rebolando,
deleitando-se.

Seus seios desnudos balançam em meu rosto, ávidos


por atenção. Com uma mão, aperto um mamilo, enquanto
levo o outro até a boca, sugando com vontade.

— Khalif... oh, meu Deus! — Brianna joga o pescoço


para o alto e fecha os olhos. — Eu vou gozar! — avisa.

Solto os seus seios para apoiar os cotovelos no


colchão e remexer meu quadril. Acompanho Brianna,
penetrando-a, enquanto ela se senta. Aumento a
velocidade sentindo meu próprio prazer queimar na boca
do estômago.

— Ah! — urra, deliciando-se.

Brianna convulsiona em cima de mim, entrando em


estase, e não demora mais que isso para que eu mesmo
encontre a volúpia quando sua entrada me aperta pelos
espasmos do seu orgasmo.
Suados, Brianna joga o corpo por cima do meu e
fecha os olhos, caindo imediatamente em um sono
profundo. Com delicadeza, coloco-a para o lado, limpo
suas partes íntimas, cubro-a com o lençol, desligo as
luzes e me abraço ao seu corpo ainda nu.

Esse é o melhor lugar do mundo para se estar.


Me espreguiço na cama, sentindo meu ventre ardente
pelo sexo bruto que Khalif e eu fizemos ontem.
Estranhando a calmaria do ambiente, olho para o lado e
vejo que Zayn não está no berço, bem como Khalif não
está no quarto. Aproveito esses minutos para estender
meu tempo na cama, ficar deitada pensando na vida do
jeito que eu gosto.

Essas últimas semanas foram conturbadas, um misto


de emoções e sensações misturando-se dia após dia.
Posso dizer que, depois da gestação, foram os dias mais
intensos da minha vida. Eu ganhei uma empresa, descobri
que amo Khalif, decidi me mudar de vez para Dubai,
reencontrei as minhas amigas e ainda teve toda a correria
e ansiedade para o casamento de Celina. Enfim,
momentos inesquecíveis.

Vejo Khalif entrando no quarto com uma bandeja de


café da manhã, o que vem se tornando corriqueiro, pois é
assim que ele me trata todas as vezes em que passamos
a noite transando e gastando energia.

— Bom dia! Precisa de algo para ressaca? —


Deposita a bandeja ao meu lado e beija a minha cabeça.

Rindo, levanto-me para recolher uma torrada, dou


uma mordida, enquanto respondo de boca cheia:

— Não era bebida doce, portanto, nada de ressaca.

Khalif se senta na ponta da cama e recolhe uma


xícara de café, bebendo o líquido, me encarando de forma
estranha, intensa.

— O que foi?

— Lembre-me de dar mais daquelas bebidas para


você.

Dou um tapa em seu ombro, maneando a cabeça em


negativa.

— Bobo!
Acabo de mastigar minha torrada e passo para um
iogurte com cereais, terminando com um copo de suco
natural.

— Onde está Zayn?

— Minha mãe e Zaya passaram aqui mais cedo para


pegá-lo. Elas foram levar os gêmeos para passear e
queriam que ele fosse junto.

Coloco o copo na bandeja e me deito de volta na


cama. Vejo que Khalif parece inquieto, os olhos até
mesmo tremeluzem, vez ou outra, alguns sentimentos
conturbados.

— Algum problema?

Khalif solta um suspiro e passa uma mão nos cabelos


bagunçados. Ele desvia o olhar do meu, focando em um
ponto qualquer.

— Há alguns dias nós tivemos uma conversa que foi


interrompida, mas eu gostaria de terminá-la.

Cruzo as mãos em frente ao corpo, nervosa.

— Pode continuar! — instruo, tentando manter a voz


séria.

— Eu perguntei se você aceitaria ser a única esposa.


— Khalif finalmente me olha. E continua: — Eu quero me
casar com você, Brianna, não me importa se será nos
seus termos, tanto faz, eu só quero que seja a minha
esposa. Quero mais filhos, quero continuar dividindo uma
vida com você.

Me arrependo de ter ingerido a quantidade de comida


consumida nos últimos minutos, pois sinto que estou
prestes a vomitar em nervosismo.

— Você quer casar comigo?

Sei que estou com uma expressão de pavor, consigo


notar pela minha visão periférica através do espelho, os
cabelos bagunçados, o rosto alguns tons mais claros que
o normal, os olhos esbugalhados. Nem um pouco bonita
para um momento tão importante como esse.

— Sim, eu quero. Eu estou apaixonado por você,


Brianna! Se isso que estamos tendo basta? Basta, se
estiver bom para você. Mas quero que saiba que os meus
planos é torná-la minha perante os homens e perante
Allah. Eu amo você, querida. Me encantei no momento em
que lhe vi na boate e me apaixonei por cada detalhe seu
nesses últimos meses.

Deus! Eu tentei não pensar muito no que o seu


silêncio até então sobre o casamento significava.
Estávamos convivendo bem, então pensei que àquilo
bastava para mim, mas agora com a proposta de Khalif
percebo que estava longe disso. Eu amo esse homem com
todas as minhas forças, quero passar o resto da minha
vida com ele, como esposa e mãe dos seus filhos. Quero
que todos saibam que pertencemos um ao outro.

Tensa, mordo a boca, fitando-o. Até mesmo respirar


se tornou difícil, como se o ar parecesse rarefeito. Encaro
Khalif em silêncio por longos segundos opressores, meu
coração acelerado socando a caixa torácica com força
total.

— Khalif, isso é tudo o que eu mais quero! — revelo,


beirando à histeria. — Eu também amo você. Amo como
homem para a minha vida e como pai para os meus filhos.

Khalif cola as nossas bocas, sugando a minha língua


com força, selando o nosso acordo de união absoluta.

— Agora eu quero saber os seus termos. — Se


afasta, mas mantém a mão em meus cabelos em carícias
suaves com o polegar.

— Oh, amor, convivendo com você eu descobri que


não preciso estabelecer termo algum. Você é incrível!

— Eu amo você, Brianna Artonino.

— Eu amo você, Khalif Farzur.


O primeiro dia do casamento do Jamal e Celina foi
mais calmo. Na ocasião, Jamal foi até o pai de Celina e
pediu para se casar com ela. Com a aprovação, todos nós
celebramos tomando sharbat [ x i i i ] . Também aconteceu a
troca de alianças e o contrato do casamento foi assinado,
tornando-os oficialmente casados.

No segundo dia nós participamos do “dia da noiva”,


que foi quando prepararam Celina para a celebração do
casamento e teve os pés e mãos tatuados com hena.
Segundo as tradições árabes, elas trazem fortuna e
felicidade aos casais, e apenas mulheres solteiras podem
fazer essas tatuagens, sendo uma forte característica da
noiva árabe. Eles até mesmo acreditam que as tatuagens
afastam os maus espíritos, que podem interferir no
casamento. Também fomos induzidos a derramar açúcar
na cabeça de ambos para impedir que os maus espíritos
se aproximem. Jamal e Celina ficaram em salões
separados. Enquanto as mulheres se divertiram com
música e dança, os homens beberam chá e conversaram
por um tempo, celebrando sua união.

No terceiro e último dia, foi quando eles se juntaram


aos convidados para celebrar a união. Jamal entrou
rodeado de música e festa, sozinho. Já Celina entrou
carregada em um tipo de trono suspenso e foi aclamada
pelos convidados. Eles trocaram novamente alianças,
dessa vez, junto com uma série de juras e tradições, bem
como, troca de presentes entre amigos e familiares.
Celina ganhou também muitas joias do noivo, para trazer
prosperidade e demonstrar alegria com o acontecimento.

— Me lembre de estar doente no seu casamento! —


reclama Ivana, retirando os sapatos e se sentando à mesa
com uma taça em mãos.

Como Celina havia dito, ela quis misturar um pouco


das duas culturas, portanto, o buffet brasileiro, as
músicas e o restante da festa não causam espanto algum
e nós que estamos acostumadas, já os convidados
árabes...

Eu queria protestar a afirmação de Ivana, mas ela


tem completa razão, faz três dias que eu mal vejo o meu
filho e não sei bem o que é dormir.

— Infelizmente, também precisarei seguir essa


tradição.

— Fale por vocês, pois eu estou amando essas


festas! — interrompe Maitê, juntando-se a nós.

Minha irmã eleva a sua taça, cumprimento um primo


próximo de Jamal com um piscar de olhos.
— Eu não acredito que você está realmente
paquerando, Maitê. — Ivana soa cética.

Maitê faz um gesto de mãos, desdenhando.

— Já passamos dessa fase. — Ela joga a bomba e


começa a beber, fingindo inocência.

— Como assim? — É a minha vez de perguntar,


arregalando os olhos.

— Nós transamos ontem depois da festa, sabe.

— Oh. Meu. Deus! Conta tudo! — grita Ivana.

Maitê lança um olhar enviesado em nossa direção.

— Parem com isso, ou seremos presas!

Olho para os lados e vejo que algumas pessoas nos


observam com curiosidade palpável, mas sei que os
olhares não estão relacionados a nossa conversa nada
convencional. Eles estão me analisando, observando a
mulher que saiu em todos os noticiários do País há dois
dias. A noiva do príncipe Khalif Farzur e mãe do seu
primogênito.

Quando a notícia foi espalhada, aconteceu como


Khalif havia informado, nossa vida se tornou um caos. A
imprensa foi atrás da minha história, chegando até mesmo
a entrevistar antigos colegas de trabalho, verificando se
eu realmente estive grávida e se eu tinha um
companheiro. Depois foram atrás da minha família,
descobriram fotos na internet e chegaram até as minhas
amigas. Por fim, se deram por derrotados ao ver que tudo
era verdade e que Zayn realmente era filho de Khalif. E
como também o Sheik havia dito, hoje todos os holofotes
estão em Celina e Jamal, deixando-nos esquecidos nas
sombras.

Ivana pigarreia, chamando a nossa atenção.

— Eu tenho um comunicado a fazer.

— Isso vai ser interessante. — zomba Maitê.

Troco olhares com a minha irmã, tentando descobrir


de alguma forma se ela sabe o que tudo isso significa,
mas vejo que ela está tão perdida quanto eu.

— Eu aceito a sua proposta, Brianna! — fala, por fim.

— AÍ MEU DEUS! — grito, incontida.

Atravesso a mesa e me jogo nos braços de Ivana,


feliz demais para ficar longe. Sempre foi meu desejo tê-
las por perto e saber que ele está se realizando me deixa
em êxtase.

— Obrigada! Obrigada! Obrigada! — Espalho beijos


pelo seu rosto.
— Quem disse que estou fazendo isso por você? Eu
estou mesmo é interessada no salário! — brinca.

— Já que você fez um comunicado, eu também tenho


um a fazer. — grita Maitê, fazendo-se sobressair por cima
das conversas paralelas.

Retorno para o meu lugar e aguardo ansiosamente a


grande revelação da minha irmã, seja ela qual for.

— Já que as três traíras resolveram atravessar o


mundo sem mim, não me restou outra solução se não
segui-las. — Os olhos de Maitê ganham contornos de
diversão, enquanto ela fica quieta, fazendo um pequeno
mistério. — Khalif me fez uma proposta, eu não serei
somente a chefe de uma clínica, como também darei
aulas em uma universidade.

Fazendo o percurso contrário de Ivana, corro até a


minha irmã e me jogo em seu colo, feliz demais por tudo
isso que está acontecendo.

Maitê levanta uma mão, afastando-me.

— Calma! Vocês sabem que Khalif e Khalil estão


trabalhando arduamente para dar às mulheres árabes os
mesmos direitos que os homens. Eles estão investindo no
ensino, investindo no mercado de trabalho, mas as leis
ainda atrapalham, pois elas precisam da aprovação de um
homem. — pontua Maitê, relembrando o longo caminho
que ainda teremos para percorrer.

— Vai dar tudo certo, Maitê. Aos poucos, Khalif,


Khalil e nós conseguiremos mais e mais feitos. Pense
bem! Um escritório, uma clínica e uma escola de
medicina! É uma vitória e tanto!

Meu príncipe árabe está focado em atualizar as


coisas em seu País, em melhorar a vida das mulheres e
eu me sinto honrada e mais do que feliz em poder fazer
parte dessa trajetória.

— O que achou dessa daqui? Jamal e Celina moram


há algumas casas, vocês poderão se ver todos os dias.

Brianna escrutina a casa que eu selecionei como


presente de casamento. Com as mãos nos bolsos,
aguardo-a sentindo a ansiedade aumentar a cada
segundo de silêncio que se estende.

A mansão, composta por três andares, doze quartos,


oito banheiros, cozinha, sala de jantar, sala de lazer, sala
de estar. Piscina com borda infinita para uma praia
privativa e um extenso gramado com pracinha para Zayn e
os futuros filhos, é uma das melhores e mais bem
localizadas de Dubai. Escolhi a dedo assim que Brianna
aceitou o pedido de casamento, queria poder entregar o
melhor para a minha futura esposa, para a construção da
nossa família.

Brianna finalmente se vira para mim, um sorriso bobo


delineando os seus lábios.

— Você comprou essa casa para mim?

Faço um sinal positivo de cabeça.

— É um presente de casamento.

Ela abre e fecha a boca, embasbacada.

— Bem, é um presente de casamento e tanto. — Dá


de ombros.

Sorrio, me aproximando dela e retirando as mãos dos


bolsos para poder tocá-la.

— Acredito que esse seja um ambiente muito melhor


para construir a nossa família do que em um apartamento.

Os olhos de Brianna brilham em ciúmes e indignação.

Quando Jamal me disse que Celina fez questão de


abrir mão do apartamento para pegar uma casa “virgem”,
eu soube no momento em que Brianna me disse o tão
esperado ‘sim’ que deveria fazer o mesmo.

— Bem, eu amei, Khalif. Obrigada! — Espalha beijos


pelas minhas bochechas e boca.

— Amou mesmo? Caso contrário, podemos escolher


outro lugar...

— Ficou maluco? É perfeita! Já imagino nossos filhos


correndo por esse lugar enorme.

Coloco as mãos ao redor da cintura de Brianna,


enquanto ela segura a minha nuca, encarando os meus
olhos com um misto de sentimentos e emoções, todos
bons.

— Eu amo você, Khalif, tanto que às vezes chega a


doer.

Planto um beijo no seu pescoço, rindo com a sua


declaração.

— Eu também amo você, amor! E não vejo a hora de


torná-la a minha esposa, de fazê-la a senhora Farzur,
princesa de Dubai.

Faltam poucos dias para o nosso casamento, mesmo


assim, já conto as horas para o evento, para dizer ao
mundo que nosso amor está selado.
— Você já pensou em como quer as coisas?

Brianna se vira e começa a examinar o local,


narrando suas ideias conforme elas brotam em sua mente.
Escuto tudo atentamente, sentindo meu peito comprimir
por tanto amor e imaginando nossos filhos correndo por
cada um desses corredores, trazendo alegria para a
nossa casa e nossas vidas.
Dois anos depois.

Alongo a coluna, louca para me sentar em algum


lugar. O peso de um longo dia de trabalho começando a
cobrar.

— Brianna, por Allah, deixe que algumas das


mulheres façam isso por você! — Layla, uma das minhas
arquitetas, grita.

— Já estou descendo, são só alguns retoques


necessários! — revido no topo da escada.
Estou no penúltimo andar, organizando as folhas de
uma palmeira, seria uma tarefa desnecessária caso o
jardim fosse na rua, o que não é o caso, pois este fica
dentro de um shopping que inaugurará em breve.

— Por favor, o senhor Farzur vai arrancar a nossa


cabeça se descobrir o que deixamos fazê-la.

Reviro os olhos.

— Khalif não manda em mim, Layla.

Com calma, desço um degrau de cada vez, cuidando


para não esbarrar em nada. Ao tocar no chão, ouço Layla
suspirar de alívio.

— Ainda bem que a senhora está segura no chão


firme, por favor, nunca mais dê esse susto em mim
novamente.

Aperto o seu ombro.

— Essa foi a última vez, independentemente de


promessa ou não.

Levo uma mão até meu ventre arredondado,


massageando a barriga dura. Minha filha chuta o local,
remexendo-se e apertando a minha bexiga com força.

— Essa menina precisa sair. — murmuro, sentindo os


efeitos de nove meses de gestação.
— Ele é teimosa como a mãe. — ralha Layla.

Rio, balançando a cabeça.

As portas se abrem e Ivana entra, logo atrás dela


vem Celina com a bebê Isa no colo. Isa é a primogênita
de Celina e Jamal, a menina de pouco mais de dois
meses é fisicamente parecida com o pai, mas Celina faz
tanta questão de combinar os looks de ambas que elas
acabam se parecendo também.

— Esse lugar ficou incrível, não vejo a hora da


inauguração. — Ivana bate palmas.

— Está mesmo! Parabéns, meninas. — acrescenta


Celina.

Nossa equipe de arquitetas começou com pouca


gente, mas com o tempo foi aumentando, criando público.
As famílias começaram a achar importante as mulheres
terem contato com a família real, dessa forma, foram
dando o aval para que elas pudessem trabalhar. E a
mesma coisa vem acontecendo com o consultório e a
escola de medicina de Maitê, a cada dia há mais inscritas.

Diferente de mim e Celina, Ivana e Maitê optaram por


permanecer solteiras. As duas viajam para as Maldivas, a
fim de curtir a praia corriqueiramente e lá elas conhecem
homens de todos os lugares do mundo, e estão mais do
que felizes assim.
— Nossa, você parece que vai explodir! — Ivana
arregala os olhos ao olhar para a minha barriga.

Rio ao lembrar que ela fez exatamente esse mesmo


comentário tantos anos atrás quando eu ainda estava
grávida de Zayn.

Maitê abre a porta e entra nesse exato momento, os


olhos dela descem para o meu ventre, fazendo-a abrir um
sorriso de orelha a orelha.

— Está mais baixa, o que significa que Malika vem aí.

Meus olhos lacrimejam por causa de um longo


bocejo.

— Bem, eu vou para casa e ter talvez a última noite


de sono decente antes de ter outro recém-nascido em
casa. — aviso.

Recolho a minha bolsa do canto do salão, me


despedindo das meninas soltando outro bocejo.

— Não esquece de avisar a mamãe e papai das


contrações! — grita Maitê.

Nossos pais vieram para Dubai logo após a mudança


de Maitê, eles não aguentaram ficar sozinhos no Brasil
tão longe das duas filhas. Khalif arranjou uma boa
residência para eles, enquanto Maitê e Ivana ficaram no
seu antigo apartamento.
Antes de sair vejo um pequeno vislumbre de um
cartaz com uma foto de Aiyra, a qual faz propaganda para
a loja que inaugurará em breve. Depois de um tempo
calada, Aiyra resolveu fazer como Khalif instruiu. Sua
oposição gerou revolta em famílias mais conservadoras,
fazendo com que ela não viesse mais a Dubai, a fim de
preservar a sua integridade física. As últimas notícias que
tivemos foi a de que Aiyra abriu um centro para mulheres
refugiadas e está escrevendo um livro que contará toda a
sua história como forma de apoio a muitas meninas que
sofrem o mesmo que ela sofreu. Sei também que Aiyra se
casou com um empresário italiano riquíssimo do ramo
automobilístico.

Ao colocar o pé na rua, vejo meu marido escorado no


carro me aguardando. A visão dele sempre me retira
suspiros, mas ultimamente com os hormônios da gravidez,
isso tem se tornando mais profundo.

Quando me vê, ele abre um enorme sorriso, deixando


os dentes brancos e bem alinhados à vista.

— Como estão as mulheres da minha vida? — Dá um


leve beijo na minha testa.

— Cansadas.

— Então precisamos ir para casa e resolver o


problema.
Sento no banco carona e retiro o hijab da cabeça. Eu
fui tão refuta ao falar que jamais usaria essas vestimentas
e hoje elas se tornaram umas das minhas favoritas. Como
Celina, não faço questão de me vestir de maneira
totalmente correta, mas ainda assim, respeito o islamismo
dentro dos meus termos, conforme o meu entendimento
do Alcorão.

Khalif faz a volta no carro, após fechar a porta para


mim, e assume a direção. Ele liga o veículo, pondo-o em
movimento.

— Vai rindo, você vai ver como ter um recém-nascido


em casa pode modificar toda uma rotina e isso inclui boas
e maravilhosas horas de sono.

Khalif sorri, sem tirar os olhos da estrada.

— Estou ansioso por isso, amor.

Ah, sim, ele está! Como não acompanhou nada da


primeira gestação, o Sheik resolveu recuperar todos os
momentos perdidos com essa. Khalif esteve presente em
todas as consultas, acompanhou todo o desenvolvimento
da Malika através de aplicativos, bem como, faz questão
de tocar no ventre sempre que ela se mexe. Agora,
segundo ele, está pronto para o próximo passo e
descobrir todas as maravilhas, ou não, da maternidade.

— E Zayn? — Olho a paisagem pela janela.


— Está na casa dos seus pais.

Viro para Khalif com a testa franzida.

— Por quê?

Khalif dá de ombros.

— Sua mãe disse que você precisava descansar e


pediu que eu levasse Zayn para lá.

— Sei....

Mamãe ama ter o neto por perto, ainda mais agora na


fase em que ele se encontra. Com três anos, Zayn já
entende tudo e tem uma ótima dicção, além de ser
esperto e ter suas próprias escolhas e predileções.

Meu filho agora disputa a atenção das duas famílias.


De um lado, mamãe querendo ao máximo a sua
companhia, e de outro, Fátima mimando o garoto com
tudo o que tem direito.

Coloco a minha mão no ombro de Khalif, mais uma


vez emocionada pela minha família. Como eu lhe disse há
alguns anos, eu o amo tanto que chega a doer. O que
tudo começou com uma aventura, acabou se tornando
isso, o mais puro e sincero amor que eu já senti.

— O que foi, querida? — Khalif pergunta ao me ouvir


fungar.
— Não é nada... eu só amo você.

Ele abre um sorriso acolhedor.

— Eu sei, eu também sinto isso, é tanto amor que


chega a sufocar... enfim, eu também amo você!

Eu pensei que já tivesse presenciado todas as formas


de amor, que já tivesse sentindo o mais puro dos
sentimentos, mas eu acabei descobrindo que o amor tem
inúmeras formas. E uma dessas formas nasceu às 8h30,
pesando 3,542kg, com os cabelos colados pelo sangue e
com um tom de voz que chega a apavorar.

Malika parece tão pequena e frágil em meu colo,


observo a bebezinha dormindo depois de ter sugado
metade do leite da mãe, pois essa já nasceu faminta. Só
percebo que estou chorando quando vejo uma lágrima
pingando em sua roupinha rosa.

Levanto a cabeça e vejo Brianna descansando, após


as longas horas de parto normal. No sofá ao canto, Zayn
descansa, pois foi redundante ao falar que não
abandonaria a mãe.

Minha esposa e meus filhos. Sou tão abençoado por


Allah que nem os maiores dos agradecimentos seria
capaz de transparecer, de fato, minha verdadeira
gratidão.

Nossa família está finalmente unida, embebecida de


felicidade e amor.
E chegamos ao fim de mais uma história. Espero que
tenham gostado da trajetória desses personagens e que
tenham finalizado a leitura com a sensação de ter o
coração quentinho. Obrigada por você ter me lido até
aqui! E, psiu, não esqueçam de deixar suas avaliações na
Amazon, elas são muito importantes para mim, além de eu
amar ler a opinião de vocês, só não se esqueçam que por
trás dessa história tem um ser humano, alguém com
sentimentos, gentileza nunca é demais.

Já na minha própria trajetória literária, tenho algumas


pessoas para agradecer:

Mari e Andreia, minhas assessoras e amigas


maravilhosas, vocês são incríveis! Nunca me cansarei de
agradecer a vocês ao fim de cada livro, pois vocês fazem
parte deles.

Mãe, obrigada pelas leituras, pelos feedbacks e por


toda a propaganda, pois, para você, eu sou a melhor
escritora do mundo. Eu te amo!

Kevinn, obrigada por aturar os meus surtos literários


e por embarcar comigo em cada jornada, afinal, mês
passado estávamos em Londres, agora em Dubai, qual
será o próximo destino? Hahaha.

Andressa e Jade, jamais poderá faltar vocês em meus


agradecimentos, vocês foram, literalmente, o ponto de
partida para que eu iniciasse essa carreira. Obrigada,
obrigada, obrigada!

Às minhas parceiras literárias, Aline, Ana, Ariana,


Ivone, Keyth, Luana, Luana Andrade, Nina, Nirvana,
Rafaela e Rayenne, meninas vocês são maravilhosas!
Obrigada por me ajudarem com a divulgação de cada
lançamento, dando o máximo de si.

Aos meus leitores, obrigada por cada um de vocês,


serei sempre grata por tê-los comigo.

Gratidão
[i]
O hijab é a vestimenta majoritária das mulheres árabes
[ii] A roupa masculina tradicional.
[ i i i ] Uma bebida árabe tradicional, uma mistura de melaço de uva e água de

rosas, com coberturas opcionais de pinhões e passas.


[ i v ] Significado "Eu juro por Deus".
[ v ] Café árabe.
[ v i ] Biscoitos árabes cujo ingrediente principal é o gergelim.
[ v i i ] É uma bebida alcoólica destilada da família do anisete, produzida a partir da

fermentação do mosto de uva destilado em aguardente à qual são adicionadas


sementes de anis e envelhecida em potes de cerâmica.
[ v i i i ] Livro sagrado que contém o código religioso, moral e político dos

muçulmanos ou maometanos
[ i x ] Significado “Se Alá quiser”
[ x ] "Cachorro" para os árabes, essa é uma das coisas mais insultuosas para se

chamar uma pessoa.


[ x i ] Essa palavra é usada quando se quer elogiar algo bonito ou espetacular.
[xii]
Clube noturno reconhecido de Dubai
[xiii]
Uma bebida feita com flores e frutas para o momento

Você também pode gostar