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Projetos de Investimento
Capítulo 1 – Introdução
Investimento: alocação de recursos hoje com o objetivo de atingir benefícios futuros (troca de riqueza certa
por riqueza incerta). Se os recursos e benefícios assumirem a forma de dinheiro, o investimento é o
compromisso presente de dinheiro com o propósito de receber (“hopefully more”) dinheiro mais tarde.
As decisões de investimento são realizadas num contexto de incerteza e implicam a alocação de recursos
financeiros escassos que podem ter diferentes alternativas de uso.
Efetuar boas decisões de investimento é vital para o sucesso da empresa no longo prazo. A empresa
deve-se manter competitiva e inovadora, o que exige a melhoria dos produtos existentes e a análise de
novas ideias e novas oportunidades.
A empresa é o que é hoje em resultado de todos os projetos de investimento que realizou no passado.
Questões fundamentais:
Para medirmos o valor podemos considerar a diferença entre os “benefícios” produzidos pelo projeto líquidos
dos seus “custos”. Para a empresa, os benefícios e os custos assumem a forma de cash-flows.
NOTAS
• Os benefícios externos não são relevantes para a empresa.
• As externalidades negativas também não devem ser relevantes, exceto quando isso leva ao
pagamento de impostos (exemplo: o Estado pode obrigar as empresas que poluem as águas a
pagar para o seu tratamento).
Os projetos produzem efeitos ao longo de muitos anos, não sendo possível desfazer esses investimentos e os
seus custos irreversíveis e irrecuperáveis (afundados), por exemplo os custos de formação, máquinas
compradas, custos de publicidade, etc..
Classificação de Investimentos:
• Projetos independentes – a implementação do projeto não tem impacto sobre outros projetos da
empresa (já implementados ou não). Exemplo: uma cadeia de supermercados portuguesa está a
estudar a oportunidade de expandir o negócio para Espanha, ou seja, não será de esperar qualquer
impacto em Portugal.
• Projetos dependentes – a sua implementação terá impacto nos projetos da empresa (já
implementados ou não). Exemplo: a Apple está a investir no desenvolvimento de um novo iPhone,
que vai afetar as vendas da geração anterior.
• Projetos mutuamente exclusivos – a implementação de um projeto implica a rejeição de outro(s)
projeto(s). Os projetos A e B são mutuamente exclusivos se apenas um deles puder ser implementado.
Exemplo: podemos usar um terreno para construir uma fábrica ou um prédio para venda.
• Projetos padrão (ou convencionais) – apresentam despesas líquidas seguidas por receitas líquidas,
ou seja, há apenas uma mudança de sinal dos cash-flows durante a vida do projeto.
Comissão de Finalistas 22/23 – Maria Mendes
• Projeto fora do padrão (ou não convencional) – há mais de uma mudança no sinal dos cash-flows,
ou seja, ocorrem despesas e receitas intercaladas.
• Projeto indivisível – não é possível implementar parte do projeto, apenas o projeto “todo”. Exemplo:
a construção de uma ponte.
• Projeto divisível – são aqueles que admitem a sua implementação em menor escala. Exemplo: o
projeto de abertura de 10 restaurantes em Espanha – pode começar-se por abrir apenas 2 e depois
abrir as restantes unidades.
• Projetos para inovar – desenvolver novos produtos; introduzir novos produtos no mercado.
• Projetos para substituir – não aumentam a capacidade da empresa, pois o objetivo é substituir os
equipamentos.
• Projetos para expandir – aumentar a capacidade produtiva da empresa, ou entrar em novos
mercados, com os mesmos produtos.
• Projetos estratégicos – podem ser relacionados com os anteriores, mas com uma componente
estratégica superior.
O processo de fazer o orçamento para o projeto requer a recolha de informações importantes, tanto
internas como externas.
Informações internas:
Informações externas:
Ciclo do Projeto:
Regra fundamental: para comparar cash-flows que ocorrem em diferentes momentos no tempo, precisamos
de os reportar ao mesmo momento do tempo.
(onde r > g)
1−(1+𝑟)−𝑁
Valor atual de uma renda constante: 𝑉𝑃 = 𝐶 ⋅
𝑟
NOTAS
• Se partirmos do zero, todos os cash-flows gerados são incrementais.
• Uma forma de calcular os cash-flows incrementais é comparar os cash-flows totais da empresa com
e sem a implementação do projeto.
Importante:
+ subsídios ao investimento
- custos de oportunidade
NOTAS
• Normalmente, há uma diferença de tempo entre o momento em que a empresa compra os stocks
e o momento em que são pagos aos fornecedores. Existe também uma diferença de tempo entre
o momento em que as mercadorias são vendidas e o momento em que o cliente paga.
Comissão de Finalistas 22/23 – Maria Mendes
Para acomodar estas diferenças de tempo, as empresas precisam de alocar capital de longo prazo para
esta necessidade operacional, ou seja, é necessário investir em working capital (fundo de maneio) no
momento da implementação do projeto.
Se ao longo da vida do projeto ocorrerem mais/menos necessidades de fundo de maneio, então a empresa
vai investir/libertar fundo de maneio.
+ proveitos operacionais
- depreciações
- impostos
+ depreciações
NOTAS
• Não se devem incluir juros (custos de financiamento) para o cálculo dos cash-flows líquidos de
exploração. Este tipo de custo será incluído através da taxa de desconto (o custo do capital).
2. Cash-flow terminal =
O payback pode ser um critério de escolha entre projetos, ao escolher o projeto que restitui os investidores
em 1.º lugar. Desvantagens:
Ano (momento) 0 1 2 3
Cash flow -50 000 30 000 20 000 10 000
NOTAS
• O momento 0 é o início do ano 1 (início do projeto). O momento 1 é o fim do ano 1, etc..
Comissão de Finalistas 22/23 – Maria Mendes
Pelo método do payback, seria indiferente implementar o projeto A ou B, pois em ambos o investidor
consegue recuperar o seu investimento ao fim de 3 anos. Contudo, o projeto B é naturalmente preferível,
pois gera cash-flows elevados mais cedo.
Entre os projetos A, B e C, pelo método do payback também seria indiferente implementar qualquer um dos
projetos. Mas seria preferível o projeto C porque no ano 4 temos um cash-flow mais elevado.
Cálculo do Payback modificado = Último período negativo (2) + |Saldo do último período negativo (-
13.2)|/Fluxo atualizado do período seguinte (22.5)
O payback modificado supera a primeira limitação, considerando o valor do dinheiro no tempo. No entanto,
as demais limitações permanecem, tornando o payback uma regra não efetiva. É meramente informativo.
Valor atual líquido (VAL): corresponde ao valor atual dos cash-flows (todos os cash-flows) gerados pelo
projeto, líquidos das despesas de investimento necessárias para o implementar. O VAL corresponde ao
aumento de valor para a empresa em resultado da implementação de um projeto, estando de acordo com
o objetivo da empresa.
Passos:
1 𝐶𝐹 2 𝐶𝐹 𝑛 𝐶𝐹
𝑉𝐴𝐿 = −𝐼0 + (1+𝐾) + (1+𝐾) 2 + ⋯ + (1+𝐾)𝑛
𝑚 𝑛
𝐼𝑗 𝐶𝐹𝑖
𝑉𝐴𝐿 = − ∑ 𝑗
+∑
(1 + 𝐾) (1 + 𝐾)𝑖
𝑗=0 𝑖=1
A última equação é adequada para quando existe mais do que um período de investimento. Neste caso,
o custo de capital deverá ser considerado e os investimentos também devem ser atualizados.
Desta forma, a empresa cumpre o seu objetivo (a criação de valor) através da implementação de projetos
de VAL positivo.
A Taxa Interna de Rentabilidade (TIR) corresponde à taxa de atualização que torna o valor presente dos
cash-flows igual ao custo do investimento – VAL igual a zero. A TIR depende apenas dos cash-flows do
projeto – não depende de nenhum “retorno de mercado”. É uma taxa de retorno "intrínseca".
1. Começamos com uma taxa de atualização razoável (mas baixa) e calculamos o VAL;
2. Se obtivermos um VAL positivo, aumentamos a taxa de atualização até termos um VAL negativo;
3. Como a função VAL cruzou o ”0”, a TIR está entre essas duas taxas de atualização;
4. Para minimizar erros, as duas taxas de atualização não devem ser muito extremas.
20 30 50 60
−100 + + 2
+ 3
+ = 0 ⇔ 𝑇𝐼𝑅 =?
1 + 𝑇𝐼𝑅 (1 + 𝑇𝐼𝑅) (1 + 𝑇𝐼𝑅) (1 + 𝑇𝐼𝑅)4
Se TIR=15% ?
20 30 50 60
−100 + + 2
+ 3
+ = 7.3
1.15 (1.15) (1.15) (1.15)4
Se TIR=20% ?
20 30 50 60
−100 + + 2
+ 3
+ = −4.6
1.2 (1.2) (1.2) (1.2)4
Assim concluímos que 15% < TIR < 20%.
∆+ 0.05 ⇒ ∆− 11.9
∆+ 𝑥 ⇒ ∆− 7.3
0.05 ⋅ 7.3
𝑥= = 0.0306 = 3.06%
11.9
𝑇𝐼𝑅 ≈ 15% + 3.06% ≈ 18.06%
Comissão de Finalistas 22/23 – Maria Mendes
NOTAS
• O valor verdadeiro é 17.9%. Esta diferença ocorre porque estamos a assumir uma relação linear
entre a taxa de atualização e o VAL, e essa relação é, ao contrário, convexa. Ou seja, só usamos
esta técnica se nenhuma outra estiver disponível.
Graficamente:
Se os projetos são independentes, qual deve ser a decisão? Dado que VAL > 0 e TIR > K em ambos os casos,
concluímos novamente que os métodos concordam sobre a implementação do projeto.
Se os projetos forem mutuamente exclusivos a empresa só pode implementar um. Vamos para o projeto
com o maior VAL (Projeto F), ou com a maior TIR (Projeto E)? Para responder a isto criamos um projeto fictício:
o “Projeto F-E” incremental.
Graficamente:
Ano Projeto H
0 -100
1 20
2 30
TIR1=10%
TIR
TIR2=20%
Ano Projeto I
0 15 000
1 -8 000
2 -10 000
TIR 12.6%
Este padrão de cash-flows é típico em projetos de
desinvestimento (entrada inicial positiva ao custo
de cash-flows (perdidos) futuros. Consideremos
K=10%.
Graficamente:
Normalmente uma empresa tem vários projetos para serem implementados. No entanto, existem restrições
de capital sendo inviável a implementação de todos os projetos.
A ideia é identificar o portfólio de projetos que maximizam o valor da empresa, sujeito a um desembolso
máximo de capital.
Assumindo que os projetos são divisíveis, ou seja podem ser implementados em diferentes escalas:
Comissão de Finalistas 22/23 – Maria Mendes
𝑉𝐴𝐶𝐹 𝑉𝐴𝐿
𝑃𝐼 = =1+
𝐼 𝐼
VACF – Valor Atual dos Cash Flows; PI – Índice de Rentabilidade; I – Custo do investimento.
Sob restrições de capital, devemos selecionar os projetos com maiores PI até o limite dos fundos disponíveis.
Essa é a melhor combinação de projetos que podemos escolher.
Exemplo 1:
A empresa dispõe de um orçamento de 850 000€ para a implementação de novos projetos. Os projetos são
considerados divisíveis.
Todos os projetos têm um PI > 1, por isso, sem as restrições de capital todos deviam ser implementados.
Supondo agora que os projetos eram indivisíveis (portanto, a empresa não era capaz de adaptar a escala
dos projetos).