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Orientador:
Professor Doutor Adolfo Yanez Casal
Lisboa 2008
1
À minha Filha.
À memória dos meus Pais e Avós.
Aos meus Amigos.
Ao Eterno Feminino.
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço, entre outros, aos meus amigos Lima de Freitas e Natália Correia (In
Memoriam), Mário de Carvalho, José Carlos Tiago de Oliveira, Paulo Pereira, Maria
Mocho, Paula C. Costa, Carla Pinheiro, Helena Barbas, Cecília Barreira, Manuela
Parreira da Silva, Vítor Mendanha, Luís Ribeiro, António de Macedo, António Telmo,
Antónia de Sousa, Adalberto Alves, Alice Feiteira, Margarida Blasco, Rui Sá Gomes,
Jorge Bacelar Gouveia, Paulo Pereira de Almeida, João Maia Santos, Paulo Noguês,
António Silva Ribeiro, Gens. Garcia Leandro e Loureiro dos Santos, os incentivos e
apoios diversos que ao longo destes anos me entusiasmaram a continuar este trabalho.
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, todo o seu apoio crítico,
com particular destaque para o meu antigo Orientador, Professor Doutor Augusto
pronta generosidade do meu actual Orientador Prof. Doutor Yanez Casal (que
orientação) e que – relembro sempre com muita gratidão -, enquanto foi (por duas
também o apoio e a generosidade do Prof. Doutor Moisés Espírito Santo que, à frente
3
do ISER – Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da mesma Faculdade, me
convidou para leccionar, desde 1998, cursos livres sobre Novos Movimentos Religiosos
Polícia Judiciária, a sua ajuda e compreensão enquanto lá trabalhei – uma vez que desde
Juíz Fernando Negrão - último Director Geral da P.J. enquanto eu lá trabalhei - a “luz
conclusão deste trabalho, apesar de nunca ter estado tão ocupado com múltiplas tarefas,
como nos últimos anos, já que sempre mantive até hoje a dupla condição de
(correndo o risco de ser injusto por omissão), quero registar com gratidão a autorização
Canseliet (+), Bernard Renaud de la Faverie (“La Tourbe des Philosophes”), Patrick
4
Riviére (Spagy-Nature/C.H.R.C.H.M.), Solazaref - que me ofereceu um testemunho
Gérald Cibard ("Les Philosophes de la Nature"), Roger Caro (+), Elisabeth Demange e
Journal”) e Simon H (e o seu grupo), Bernard Fréon (“Ordre des Frères de la Lumière
d’Orient”), Rémi Boyer (“Lésprit des Choses” e C.I.R.E.M.), sem esquecer, no entanto,
Por último, “mas não em último lugar”, agradeço àqueles que se dedicaram (ou
de Hermes", como o fez, de um modo pioneiro, o “sorbonnard” René Alleau, tais como
Gilbert Durand (Univ. Grenoble), Antoine Faivre (Paris, EPHE-Sorbonne) – este último
a quem devo um agradecimento muito especial, pela sua amizade, pela sua confiança,
pelo seu apoio e pelas suas críticas a este trabalho e, também, pelas longas conversas
Françoise Bonardel (Univ. Paris I), Wouter J. Hanegraaff (Univ. Amsterdão), Basarab
J.Pierre Sironneau (Univ. Grenoble II), Joel Thomas (Univ. Perpignan), Massimo
estes dois últimos pelo auxílio no desenvolvimento de uma perspectiva sociológica dos
5
NMR -, os quais tiveram, todos, em alturas diversas da elaboração deste trabalho,
Para terminar esta introdução referirei que não estou só ao ter partido da
Química para chegar (assim o espero, através desta humilde Tese) à Antropologia, pois
há (pelo menos) mais um distinto exemplo (muito difícil de seguir para as minhas
Lewis, autor (entre outros trabalhos) do livro sobre xamanismo, Ecstatic Religion
(1971) que cito na Bibliografia, o qual, formado em Química, optou mais tarde pela
Antropologia. Os dois pontos de contacto entre estas duas disciplinas são, no meu caso,
o facto de a Alquimia ser (também, mas não apenas, como veremos) uma fase da
6
"O historiador das religiões deve primeiro
aprender a aceitar o que lhe dizem aqueles
que vivem as suas crenças e tentar em
seguida ver o que isso quer dizer,
de descobrir que espécie de existência humana
se desenvolve numa cultura (...). Se o fizer,
todo um mundo de significações se revela"1
1Mircea Eliade, Tratado de História das Religiões, trad. portuguesa de Natália Nunes e Fernando Tomaz
da edição francesa (Traité d’Histoire des Religions, Paris, Payot, 1970), Lisboa, Cosmos, 1977.
2 Mircea Eliade, Ferreiros e Alquimistas, Lisboa, Relógio de Água, 1987, pp. 10-11 (tradução de Carlos
Pessoa, da edição de 1977 de Forgerons et Alchimistes, Paris, Flammarion)
7
ÍNDICE
I – INTRODUÇÃO – p. 9
RITO - p. 78
- “Spagy-Nature” – p. 163
TERRENO - p. 243
BIBLIOGRAFIA – p. 284
ANEXOS – p. 312
8
I – INTRODUÇÃO
contemporâneos (já há muito recolhidas, quer fruto de estudo livresco, quer fruto de
espiritualidades, onde estes grupos se inserem - já que, como veremos, alguns deles
terminado o meu trabalho de terreno junto dos grupos alquímicos estudados, o qual se
realizou entre 1986 e 1996, embora com prolongamentos esporádicos até ao fim de
9
estudo antropológico neste domínio, a generosa e entusiasmante possibilidade que me
foi oferecida pelo meu actual Orientador de Tese – conhecedor dos meus estudos -,
FCSH/UNL, de poder leccionar (por amável sugestão do meu antecessor, Prof. Doutor
Armando Marques Guedes), durante três anos lectivos (não consecutivos) a cadeira de
Passados mais de um quarto de século sobre o início dos meus estudos sobre um
Faculdade de Ciências de Lisboa -, passados mais de dez anos sobre a minha primeira
“via húmida”, apropriada para os pacientes (neste caso, não apenas eu, mas também o
agradecimento) – eis aqui o produto final que não ousarei, de modo algum, denominar
de Pedra Filosofal, mas que, mais apropriadamente, poderá ser alegoricamente descrita
como uma mais humilde Pedra dos Filósofos que agora submeto ao superior critério
científico do Júri.
Este trabalho de Tese difere dos meus anteriores trabalhos sobre a Alquimia3,
Antropologia, neste caso), fazer a clara distinção entre o emic – o discurso do crente, ou
“popular”, que deve ser fielmente reproduzido pelo etnógrafo - e o etic – o discurso
3 Incluidos, por exemplo, no livro Re-criações Herméticas, Lisboa, Hugin, 1ª. Ed. 1996, 2ª.ed., 1997.
10
“sapiente” da Ciência do Homem sobre essa crença, que é trabalho do etnólogo e do
asfixiar ou destruir.4 De facto, enquanto que a maioria dos meus ensaios anteriores
sobre este tema – até 1998 - pode ser considerada (em parte, ou na totalidade) como
que é dito pelos alquimistas e aquilo que a ciência antropológica pode dizer sobre os
discursos e as práticas dos alquimistas. Não nos parece legítimo tentar fazer ciência,
equívoca que foi desenvolvida no século XX, entre outros, por um Guénon, ou por um
Evola; esse discurso é perfeitamente legítimo, desde que fique bem claro que é um
discurso esotérico, à margem da ciência, para que não se possa pensar que é ciência – o
que não quer dizer, antes pelo contrário, que não seja interessante de ser estudado como
Wouter J. Hanegraaf, anunciou este mesmo propósito – que agora procuro seguir
Esotericism in the Mirror of Secular Thought6, isto é, não o estudo do esoterismo à luz
fim de que fiquem bem claras as posições quer dos crentes, quer dos cientistas, esse
4 Ver, p.e., Jean-Pierre Olivier de Sardan, “Émique”, in L’Homme, nº. 147, Juillet-septembre, Paris, 1998.
Pp. 151-166.
5 No entanto na Introdução a esse meu primeiro livro (op. cit., p. 11), indicava claramente que os ensaios
nele contidos não eram “académicos”, ou universitários, mas se desenvolviam antes numa zona de
fronteira entre a ciência e a espiritualidade esotérica ou hermética.
6 Wouter J. Hanegraaff, New Age Religion and Western Culture, Leiden, Brill, 1996, p. 6.
11
agnosticismo metodológico7. Esta postura e este método - também denominado por W.
Hanegraaff de método empírico - são aqueles em que se exerce uma suspensão do juízo
participante dos discursos, das práticas e das vivências dos crentes (neste caso, dos
uma “ideologia”, a qual, essa sim, poderia contaminar o objecto de estudo com essa
dos que mais se notabilizou (particularmente nas suas obras La Pensée sauvage e
o homem sempre pensou assim tão bem e que a lógica do mito e a lógica da Ciência
particular – não planeada, mas decorrente das próprias condições de vida - onde os dois
7 Cf. J. G. Platvoet, Comparing Religions: A Limitative Approach, The Hague/Paris/New York, Mouton,
1967, citado por W. Hanegraaff, op. cit, p.4.
8 Ver, p.e., Lucien Lévy-Bruhl, La mentalité primitive, Paris, Presses Universitaires de France, …..
12
na perspectiva da antropologia, o material previamente observado. Destes dois
que ele consiste numa observation directe, par imprégnation lente et continue, de
groupes humains minuscules avec lesquels nous entretenons un rapport personel9. Ora,
segundo este autor, esse conhecimento – por “impregnação lenta e contínua” e através
son objet, s’efforce de vivre en lui l’expérience de ce dernier, ce qui n’est possible que
parce que cet objet est un sujet au même titre que lui. Esta “vivência da experiência do
etnográfica de Malinowski”.
Não temos conhecimento de ter sido realizada, até hoje, uma Tese de
tradição antropológica incida sobre sociedades sem escrita, sobre tradições orais em
9 Laplantine, François, Clefs pour l’Anthropologie, Paris, Seghers, 1987, p. 21 (o sublinhado é do autor)
13
- semelhança pois os grandes “arcanos” da alquimia só se comunicam oralmente,
grupo alquímico.
Mas não terá sido também o seu aspecto multifacetado – que ao mesmo tempo a
faz cair nas áreas da história da ciência, da arte, da literatura, da psicologia, da religião -
importantes estudos sobre a Alquimia: citemos – após uma abordagem inicial positivista
e “cientista” de Marcelin Berthelot, que considerava a Alquimia apenas como uma mera
10 Marcelin Berthelot, Collection des anciens alchimistes grecs, Paris; no entanto, este autor teve o mérito
de dar a conhecer, através de traduções suas, os textos da alquimia grega.
11 Gaston Bachelard, Psychanalyse du Feu, réed. Paris, Gallimard, 1962.
12 Carl-Gustav Jung, Psychologie et Alchimie, Paris, Buchet Chastel, 1960.
13 Mircea Eliade, Ferreiros e alquimistas, Lisboa, Relógio de Água, 1987, tradução,da autoria de Carlos
Pessoa, da obra Forgerons et alchimistes, nouvelle édition corrigée et augmentée, Paris, Flammarion,
1977.
14 René Alleau, Aspects de l’Alchimie Traditionelle, Paris, Les Éditions de Minuit, 1953
15 Henry Corbin, Corps spirituel et Terre Céleste, Paris, Buchet-Chastel, 1979 e L’Alchimie comme Art
Hiératique, Paris, L’Herne, 1986, com prefácio de Pierre Lory.
16 Antoine Faivre, “Pour un approche figuratif de l’Alchimie”, in Alchimie, Paris, Albin Michel, 1978
(Dervy, 1996)
17 E. J. Holmyard, A Alquimia, Lisboa, Ulisseia, s.d. (tradução de M. Marques da Silva da obra inglesa,
Alchemy, Harmondsworth, Penguin, 1957)
18 F. Sherwood Taylor, The Alchemists, G.B., W. Heineman, 1952 (repr. St. Albans, Paladin, 1976)
19 Jack Lindsay, Les Origines de l’Alchimie dans l’Égypte greco-romaine, trad. francesa (da autoria de
Christel Rollinat) do original inglês de 1970, publicada por Éditions du Rocher, Paris, 1986.
14
naturalmente, mais abrangente e compreensiva que a de Berthelot. Mas temos de
estudo dos textos, quer clássicos, quer modernos, no nosso caso particularmente estes,
e em particular, no que diz respeito aos grupos alquímicos, o último quartel do século
XX,), qualquer que seja a área geográfica ou a proveniência cultural dos grupos (no
nosso caso, os grupos franceses, embora com ramificações noutros países). Por exemplo
(sem querer ser exaustivo, mas registando apenas as mais importantes), devem referir-
se, na segunda metade do século XX, os trabalhos de Tese de Pierre Pelvet sobre A
15
Bonardel sobre a Alquimia no “extremo-ocidente”24 – autora que já publicou
XVII”31.
alquímica contemporânea (para além da breve referência feita por Mircea Eliade na sua
offerts à Antoine Faivre, Leuven (Belgique), Peeters, 2001, pp.17-25. Também aproximadamente sobre o
mesmo período, temos o capítulo “La pervivencia de la Alquimia desde 1800” do livro de Helmut
Gebelein, Alquimia, Barcelona, Ed. Robinbook, 2001 (tradução da edição original alemã de Alchemie,
Munchen, Heinrich Hugendubel Verlag, de 1991).
24 Françoise Bonardel, Visions du Grand Oeuvre en Extrême-Occident, “Thèse de doctorat d’État
(philosophie) soutenue à l’Université de Grenoble en Juillet 1984. Tapuscrit, 1383 pages”, como é
referido na revista ARIES, nº. 6, Paris, La Table d’Émeraude Éditeur, 1987, pp.45-53, numa nota de
leitura de J-J Wunenburger.
25 Françoise Bonardel, L’Hermétisme,Paris, Presses Universitaires de France, 1985.
26 Françoise Bonardel, Philosophie de l’Alchimie - Grand Oeuvre et modernité, Paris, PUF, 1993
27 Bonardel, Françoise, Philosopher par le Feu – Anthologie de textes alchimiques occidentaux, Paris,
Seuil, 1995.
28 Paulette Duval, La pensée alchimique et le Conte du Graal – recherches sur les structures (Gestalten)
de la pensée alchimique, leurs correspondances dans le conte du Graal de Chrétien de Troyes et
l’influence de l’Espagne mozarabe de l’Ebre sur la pensée symbolique de l’oeuvre,Paris, Librairie
Honoré Champion, 1979. Este livro é a publicação de Tese homónima, defendida pela autora na
Universidade de Lille III, em 1975.
29 Patrick Geay, Hermés Trahi, Paris, Dervy, 1996; este livro resulta da Tese de Doutoramento realizada
pelo autor, sob a orientação do Prof J.-J. Wunenburger, e defendida na Universidade da Borginha, em
1995 (cf., op. cit., p. 13).
30 Betty J. Teeter Dobbs, Les Fondements de l’Alchimie de Newton ou «La chasse au lion vert», trad. do
inglês por Sylvie Girard, Paris, Trédaniel, 1981 (ed. original publicada por Cambridge University Press,
1975).
16
da Alquimia, no Capítulo 7 do seu livro Alchimie et Spagyrie, intitulado «La Spagyrie
Alexandre von Bernus, Albert Riedel (“Frater Albertus”), F.A.R.C., “Les Phuilosophes
livro Pour la Rose Rouge et la Croix d’Or33; refira-se que nesta obra existem excelentes
F.T.M. Myriam (que não referiremos por não se tratar de alquimia operativo-
- por Joel Tetard, Alchemy in France today, in Alchemy Web site de Adam
McLean, (s.d., mas deve ter sido inserida na Web em 1998); este trabalho de cinco
Fulcanelli Dévoilé34;
grand secret35.
qui ont fait l’Alchimie du Xxe. siècle36, no qual ela refere, para além de Fulcanelli e
grupo alquímico que vamos referir e que estudámos (embora não em trabalho de
17
Quanto aos esoterólogos, mencionaremos Serge Hutin, que numa página do seu
segunda metade do século XX, alquimistas como Eugène Canseliet, Alexandre von
Bernus, Armand Barbault, Roger Caro, Patrick Rivière, Jean Dubuis e Solazaref. No
entanto, um livro como Les sociétés secrètes et les sectes, de Jean-Pierre Bayard39 – que
é uma boa, embora sintética, fonte de informação sobre o tema que o título indica, inclui
páginas e não referindo nenhuma actividade contemporânea, nem nenhum grupo actual.
A razão parece estar no próprio texto de Bayard: Il n’y a pas de cénacule alchimique,
parcimonieusement certaines de ses acquisitions40. Ora isto, como veremos (já que é o
objecto deste nosso estudo) não é verdade. Esta ideia de que a Alquimia é uma
actividade individual pode decorrer, para além de uma visão romântica do alquimista
como “artista” isolado e “maldito”, da sua associação com a magia – a Alquimia não é a
Magia mas, como veremos, participa de uma concepção e de uma atitude mágicas – e de
esta ser considerada por Durkheim uma actividade individual, face ao carácter social da
que o sociólogo da religião, Massimo Introvigne, inclui no seu livro La magie à nos
portes41, a propósito dos grupos mágicos, hoje. No entanto, além de citar apenas autores
do começo do século, como Jollivet-Castellot – que, via Dantine, teria iniciado Spencer
sucedeu Canseliet”, J.-P. Bayard cita um único grupo alquímico no último capítulo
37 Serge Hutin, Histoire de l’alchimie, Marabout Université, Veviers, Belgique, 1971, 240-242.
38 Serge Hutin, L’Alchimie, Paris, P.U.F., col «Que sais-je?», 1995, p. 56.
39 Jean-Pierre Bayard, Les sociétés secrètes et les sectes, Paris, Philippe Lebaud, 1997
40 op. cit., p. 58.
18
intitulado “Organismos diversos”, nos quais são referidos (por meio da designação e da
morada, sem referência à sua vocação religiosa, iniciática ou esotérica específica) uma
Nacional francesa, de 1996. Aqui sim, vemos um único grupo alquímico – não referido
filósofa da religião - que os trabalhos dos alquimistas operativos se incluem naquilo que
ela denomina, noutro lugar, o “equívoco oculto-hermetista”43, não lhes dando “direito
que claramente o caso da Alquimia. Ora a Alquimia tem desde sempre, para além da
A mesma atitude não exibe Antoine Faivre – o mais notável fundador de uma
19
ocidentais modernas” -, que no seu livro L’Ésotérisme44 tem, no capítulo dedicado aos
“esoterismos do século XX”, um parágrafo em que escreve que, para além dos
sopradores45 “sem pretensão de gnose” – alguns dos quais “se reunem em associações,
de que a «Paracelsus Research Society» de Salt Lake City, dirigida por Frater Albertus,
alias Albert Riedel (+1984), o que me parece um exemplo injusto pois não é nem
que à actividade das associações anteriormente referidas. Este mesmo autor, na sua obra
44 Antoine Faivre, L’Ésotérisme, Paris, Presses Universitaires de France, col. “Que sais-je?”, Paris.
P.U.F., 1992
45 Souffleur, é a denominção tradicional dos que só se preocupam com as receitas para a transmutação dos
metais em puro, negligenciando a dimensão iniciática da Alquimia.
46Antoine Faivre, op. cit., p. 99. Tradução nossa de Certains se rassemblent parfois en associations don’t
la «Paracelsus Research Society» de Salt Lake City, dirigée par Albert Riedel, alias Frater Albertus
(+1984), est un exemplr tout à fait caractéristique.
47 Ibidem.
48 Accès de l’Ésotérisme Occidental, Paris, Éditions Gallimard, “Bibliothèque de Sciences Humaines”,
Vol I, 1986, Vol. II, 1996
49 Vide infra (caps. IV).
50 Idem.
20
Pode constatar-se, como já referimos, da parte de alguns destes autores (como o
velhos Tratados dos grandes alquimistas (Flamel, Basílio Valentim, Filaleto, etc.) -, face
alquimia “física” que é o das essências e que constitui um tema de grande consumo no
Ora é o próprio Antoine Faivre que, com a sua definição de Alquimia - um bom
ponto de partida que iremos experimentar ao longo da Tese -, contempla, com igual
moeda. Para Faivre, ela será uma “visão do mundo (...) tendente a reencontrar (...) a
unidade (...) entre a matéria e o espírito”, podendo “essa prática (...) exercer-se (...)
de tout dualisme - mais non point de toute dualitude - accompagnée d’une pratique
51 Saliente-se que para além destas duas formas de Alquimia, a Física/Laboratorial (a que nos acupa aqui)
e a Espiritual ou Psico-Espiritual, há ainda uma terceira, menos divulgada, a “Interna”/Fisológica (ou “das
substâncias”), característica do Taoismo, do Tantrismo e do Hermetismo.
52 “visão do mundo”
21
élément matériel dont la “manipulation” suppose la fusion intime du sujet et de
l’objet53.
compreensiva não faz esquecer as reservas que se colocam por vezes, em relação ao
seus adeptos (pelo menos aos principiantes) como uma via espiritual de parte inteira. A
que voltarei adiante, ao longo deste trabalho -, que o estudo dos grupos alquímicos
experiência natural do fogo até ao seu controle tecnológico, passando pela experiência
53A. Faivre, “Pour une approche figurative de l’Alchimie”, in Alchimie, op. cit., Paris, 1978, p. 164
22
Farmácia. Todos estes feitos tecno-científicos são, no homem arcaico, integrados e
acompanhados por uma visão do mundo sagrada, pela qual controlar o fogo, fundir os
de hoje, insere-se nesta tradição do técnico e do artista que domina, pelo fogo - seja ele
materiais. O que acontece hoje com a Alquimia no contexto das novas religiosidades e
(E.A.) que procedem também a uma utilização moderna das “antigas sabedorias” e que
radicam na contracultura dos anos 60 a qual tem uma dimensão ideológica e social com
uma função não muito distinta das “novas espiritualidades”. Essa abordagem
antigo.
Logo, este trabalho de Tese que se segue começará pois, imediatamente, pela
seguinte questão, da qual decorrerão, como veremos a seguir, outras questões relativas a
método:
54como muito bem referiu Mircea Eliade, salientando a dimensão do sagrado em Alquimia, no seu livro
Forgerons et Alchimistes.
23
âmbito do seu objecto de estudo? E o estudo desses grupos contemporâneos caberá no
contexto dos NMR e EA? A ambas estas questões ousaremos dar resposta positiva, quer
Alexandria, o qual não é, nem nunca foi, uma instituição religiosa, mas sim uma
filosofia mágico-religiosa que teve por vezes uma expressão prática, aquilo a que se
denomina a alquimia operativa física, laboratorial. A Alquimia situa-se pois num quadro
religioso, entendendo a “religião” não numa visão ocidental das instituições religiosas,
beliefs and behaviours that deals with the relationship between humans and the sacred
supernatural55.
55Stewin, Rebecca L. e Stein Philip L., The Anthropology of Religion, Magic, and Witchcraft, New York,
Pearson, 2005, p. 19
24
culturally postulated superhuman beings56. A Alquimia não é uma religião nesse
sentido estrito de postular seres sobre-humanos, mas ela postula, de facto, a existência
não de seres, mas de forças sobrehumanas (ver Olav Hammer no artigo citado a seguir)
“sobrenatural” aquilo que se concebe como aquilo que está “acima do natural”, ou “para
conciliation of powers superiors to man which are believed to direct and control the
qui unissent en une même communauté morale, appelée Église, tout ceux qui y
adèrent.58
os “poderes superiores” que ela postula e com que ela lida não se estendem a toda a vida
dela. Veremos, no Capítulo sobre a Alquimia e seus conceitos, que esse poder superior
25
No que diz respeito à definição de Durkheim, não há dúvida de que ela aplica à
“Igreja” possa parecer demasiado restrita, ela pode aplicar-se no entanto aos grupos
religiosos que não são Igreja mas apresentam comportamentos similares, o que é o caso
dos NMR, das “seitas” e dos “cultos” e dos grupos alquímicos estudados, embora com
religião é (1) a system of symbols which act to (2) establish powerful, pervasive, and
order of existence and (4) clothing this conceptions with such an aura of factuality that
59 Anthony Wallace, Religion: An Anthropological View, N.Y., Random House, 1966, p. 107.
26
3. The ritual dimension (rites of passage and other important activities);
4. The social dimension (religion being a group activity that binds people
together);
Ciência de Hermes. No entanto, por outro lado, é preciso afirmar de que ela é mais do
que uma “pré-ciência” - como a denominou Marcelin Berthelot – pois contém clara uma
dimensão espiritual e religiosa – o que nos leva de volta ao que dizíamos há pouco.
Convém referir desde logo e neste contexto não científico onde ela se situa que a
verificação das experiências e das hipóteses que presidem à ciência positiva, pois a
discussão clássica destas condições feita por Canseliet, no Capítulo respectivo incluído
no seu livro L’Alchimie expliquée sur ses textes classiques, ou ainda a sua entrevista que
particulares do operador que nem sempre se verificam – disto nos falarão os alquimistas
60 Clifford Geertz, The Interpretation of Cultures, Nova Iorque, Basic Books, 1973, p. 90.
27
A possibilidade de uma Antropologia dos NMR e da EA e dos grupos
dianteira dos estudos dos denominados Novos Movimentos Religiosos (NMR). Isto
constitui uma lacuna pois como escreve James R. Lewis na Introdução à obra colectiva,
por ele coordenada, The Oxford Handbook of New Riligious Movements62, a abordagem
arising out of social forces; as a discipline, sociology does not consider religious
Por seu lado, mas na mesma direcção de pensamento, o sociólogo das religiões
Massimo Introvigne afirma que Les anthropologues et les ethnologues ont certainement
une parole importante à dire dur l’existence même du magique dans les sociétés
pelo The Golden Bough (1890) de James Frazer (ver bibliografia), o qual retomava a
61 Ninian Smart, Worldviews: Crosscultural Explorations of Human Beleifs, NJ, Prentice Hall, 1999, pp.
8-10, citado por Rebecca e Philip Stein, op. cit., p. 19.
62 Oxford, Oxford University Press, 2004.
63 Massimo Introvigne, La Magie à nos portes, Quebec, Fides, 1994, p.13.
28
ideia de um Comte relativa à evolução da humanidade em três etapas, a magia, a
religião e a ciência -, “constata-se hoje que o mágico não só não desapareceu com o
progresso científico e tecnológico, mas que ele nunca esteve tão presente socialmente”
como nos nossos dias: Aujourd’hui, on constate que le magique n’est absolument pas
- uma geral e antiga, devido à “relação problemática das ciências sociais com a
magia”, radicada nas perspectivas positivistas e racionalistas que têm fundado quer a
Greenwood66;
eminentemente individual” o que chocaria com o estudos dos NMR de tipo mágico,
29
(colectivo) Les Nouveaux Mouvements Réligieux da revista Ethnologie française69, onde
um grande nome como a socióloga das religiões Françoise Champion constata, no seu
desinteresse que não é tão gritante nos países de língua inglesa onde, embora escassas,
Susan Greenwood.
obra colectiva Le Défi Magique73 (1994), coordenada por Jean-Baptiste Martin, cujo
sociólogo das religiões Massimo Introvigne e, para além destas obras, o trabalho de
Antropologia dos NMR, reservas assentes sobretudo no objecto de estudo – distante das
69 a.v., Les Nouveaux Mouvements Religieux, “Ethologie française”, Paris, P.U.F., 2000/4
70 Blackwell, Londres,
71 Op. Cit.
72 Paris, Armand Colin.
73 Presses Universitaires de Lyon, Lyon.
74 Presses Universitaires de Franca, Paris.
30
contrário, publica em 2001 um artigo intitulado Pour une ethnologie contemporaine des
pratiques de l’alchimie et des sciences ésotériiques76, assunto que nos interessa aqui
sobremaneira.
Candomblé, etc, No entanto o lugar para os NMR está quase (e ainda) vazio. Como
refere Tanya M. Luhrmann no seu volumoso estudo acima citado, sendo a tarefa
audience, the strange beliefs and experiences of informants who are largely non-
anthropologists have focused on the distant and more primitive, and claimed that
through their very exotism, the near and apparently more complex might be better
understood77.
primitivo “evanescente”, “para as suas próprias sociedades”: The world has changed
for anthropology. The primitive societies are slowly vanishing (...). Ever more
anthropologists are turning inward to study their own society78. Contudo, apenas o
31
têm feito, segundo a autora, para “problemas imediatos da vida urbana”: (...) they have
religious revitalization79, pelo que Luhrmann constata uma lacuna básica nessa
anthropological questions, to look for the exotic and learn from it about the familiar,
pois, mesmo estudando o actual – onde encontramos no seu seio, mesmo em sectores
tradicional.
estudo da magia e do ritual em “pessoas normais da classe media inglesa”, é a que ela
afirmativa e crítica relativa à falsidade objectiva da magia, o que lhe tem valido muitas
críticas – postura que não invalida, no entanto, a verdade subjectiva da mesma, tema
não tem dado muitos frutos até hoje, como refere, aliás, Lionel Obadia: Certes, la
nourissant des approches singulières d’une anthropologie urbaine (...), n’a pas donné
essentiellement méthodologique.81
79 Ibid.
80 Ibid.
32
No entanto, enquanto não chegam esses “desenvolvimentos substanciais no
Nessa senda, embora com uma maior abertura, face a Luhrmann, em relação ao
mais reservado em relação a uma antropologia dos NMR, cita (não citando, no entanto,
Luhrmann) -, com um trabalho sobre magia urbana, o já citado Magic, Witchcraft and
the Otherworld que, segundo as suas próprias palavras, é “um estudo da tradição
esotérica ocidental (...) na última década do século XX”: This is a study of certain
ideas, philosophies, practices and groups within the Western esoteric tradition in the
que a questão do estudo de “uma sociedade complexa” não é “um campo clássico” da
Antropologia e que ele traz “problemas específicos”, já que entre outras coisas, as
33
sua prática mágica “baseada na literatura”: Magic and the study of witchcraft is a
field – brings specific problems. Magicians in Britain are usually highly educated and
literary-based practice, and a profusion of books and magazines have been written on
Questões metodológicas
“...the anthropologist (...). He is not concern qua anthropologist, with the truth
knowing whether the the spiritual beings of primitive religions or of any others have
any existence or not, and since that is the case he cannot take the question into
consideration. The beliefs are for him sociological facts, not theological facts, and his
sole concern is with their relation to each other and to other social facts. His
83 Op. Cit., p. 1.
84 Op. Cit., p. 11.
85 Cf. Fiona Bowie, The Anthropology of Religion, Londres, Blackwell, 2000, p. 29.
34
that now often called the phenomenological one – a comparative study of beliefs and
rites, such as god, sacrament , and sacrifice, to determine their meaning and social
significance.”
interest not because it might or might not be true, but for what it reveals of a coherent
Evans-Pritchard no texto acima citado – deve restituir essas crenças, ritos e textos
sagrados com a maior verdade possível (“emic”), numa primeira etapa, sem alteração
nem deturpação - “with as little comment and judgement as possible88, dirá F. Bowie –
outra) começam por este segundo momento de crítica, quase esquecendo o primeiro, tão
desejosos que estão de proclamar a “falsidade” das crenças e das práticas religiosas, não
86 E. E. Evans-Pritchard, Theories of Primitive Religion (1965), Oxford, Oxford University Press, 1972,
p. 17 (o sublinhado é nosso)
87 Fiona Bowie, op. cit., p. 5.
88 Ibidem.
35
deixando sequer ouvir a voz dos crentes e dos praticantes. Diga-se que esta atitude – que
pode configurar alguma arrogância cultural - que assenta no postulado de que sendo a
demonstrably false, the anthropologist should say so90. Defensores desta postura são por
exemplo James Left: the anthropologists have an intellectual and ethical obligation to
investigate the truth or falsity of religious beliefs91 e Stewart Guthrie, este mais
Ora, como muito bem diz Fiona Bowie, esta postura está cada vez mais afastada
do espírito antropológico moderno e é dificilmente aplicável à religião uma vez que esta
respeito à Alquimia que proclama a crença em “objectos totais” que, embora com uma
dimensão simbólica e mítica, como a Pedra Filosofal e o Elixir das Longa Vida, não
deixam de ter uma expressão material, é mais fácil e mesmo legítimo afirmar que, face à
ciência moderna eles não podem existir. As transmutações são teoricamente possíveis e
praticamente (no quadro da química nuclear), mas não nas condições das experiências
T.M. Luhrman – “como é que as pessoas continuam a acreditar em coisas que sabemos
89 Tradução de based on empiricism and rationality, cf. Fiona Bwie, op. cit. p. 6
90 ibidem.
91 “Science, religion and anthropology”, in Stephen D. Glazier (ed.), Anthropology of Religion: a
Handbook, Wesport, CT, Greenwood, Press, p. 77.
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que não existem” - que, embora discutível se aplicada à magia e face à nova atitude
analysis stresses the importance of a reflexive and experiential fieldwork and I begin
metodológica com que ela se defrontou - a “batalha” entre o emic do crente e o etic do
cientista social - e que suscitou ao mesmo tempo uma opção de “diálogo reflexivo”
anthropologist, I have to battle with emic and etic interpretations of data (...) my
anthropology itself.
do último quarto do século XX, pode parecer um pouco extensa, mas a tal fui obrigado
92 All religion is a result of anthropomorphism, and therefore illusory, cf. Fiona Bowie, op. cit. p.7.
93 Op. Cit. p. ix.
37
pois não havia até hoje nenhum estudo sobre este tema – estudo histórico de que
interesse pelo objecto de estudo (a Alquimia) e a sua vivência e o estudo dos grupos que
ocidentais (no sentido de Antoine Faivre) -, os seus símbolos, mitos e ritos. Considero
intimamente associado a um mito, o mito alquímico que estudarei nesse capítulo e que
objecto do Cap. IV, estudaremos no Cap. V - onde daremos conta da nossa descrição
das práticas dos grupos alquímicos estudados - as diversas modalidades dos ritos
do rito principal, ou principial, atrás referido, tal como acontece com as simbólicas e as
38
hoje de Novos Movimentos Religiosos (ou mágico-religiosos) e Espiritualidades
sentida por muitos homens e mulheres dos nossos dias. O Cap. VII será dedicado à
dos grupos estudados que elaborei com base numa outra proposta por um investigador
fenómenos das novas religiosidades e espiritualidades – grande parte das quais são
último quartel do século XX com a análise da sua estrutura social e das relações com a
39
II – RELATO AUTOBIOGRÁFICO E ANTROPOLOGIA REFLEXIVA
quando a partir de finais de 1970, regressado de Angola onde prestei Serviço Militar
primeiro momento nos anos 50 quando, com cerca de 14 ou 15 anos, o meu padrinho
voadores, seu enigma sua explicação, de Leslie (teósofo e autor da interessante, mas
tarde, ser autor de uma célebre fraude sobre discos voadores, iniciada precisamente com
as fotografias que este livro continha). Era eu na altura um católico praticante e filiado
94 J. Van Maanen, Tales of the field: on writing Ethnography, Chicago, Universigty of Chicago Press,
1988, p. 391, citado por J. Burckhead, no seu artigo “Reading «Snake Handling», in Stephen Glazier ed.,
Anthropology of Religion - an Handbook, Praezer, 1997 (1999), p. 23.
95 Émile Poulat, Liberté, laicité, Paris, Cerf/Cujas, 1987, pp. 322-323, citado por Jean-François Mayer na
epígrafe do seu livro Confessions d’un chasseur à sectes, Paris, Cerf, 1990. De referir que Émile Poulat
foi o antecessor de Antoine Faivre na EPHE-École Pratique des Hautes Études (Section de Sciences
Réligieuses), quando erm 1965 criou a cadeira de “Histoire de l’ésotérisme chrétien” que, a partir de
40
Por essa altura (começo dos anos 60) comecei a interessar-me pela literatura e
pela filosofia - com colegas como Eduardo Prado Coelho, Mário de Carvalho, e Rafael
marxismo (numa perspectiva revisionista). Dei conta, numa viagem a Paris, em 1960,
onde comprei, nos “bouquinistes”, uma colecção dos 6 números da revista Surréalisme
nome, André Breton, teve pela Alquimia, quer pela provocação antiracionalista que
encerrava, quer pela provocação moral, sexual e religiosa (ou antireligiosa) das suas
Em 1967 fui para Mafra, fazer a recruta para Oficial Miliciano seguindo, como
Aspirante, no começo de 1968, para a Escola Prática, em Vendas Novas. Nos dois anos
que passei em Angola, de Outubro de 1968 a Outubro de 1970, tive uma crise
de Camões, em Lisboa, onde tomei contacto com a filosofia da Macrobiótica Zen que,
1979, foi substituída pela de “Histoire des courants ésotériques et mystiques dans l’Europe moderne et
contemporaine”, já sob a responsabilidade de A. Faivre.
41
num certo sincretismo típico das “novas religiosidades e espiritualidades”, incluía o
e Bergier, saído em França em 1960, mas a que não tinha dado uma grande atenção,
talvez por causa do título. Este livro falava do misterioso alquimista Fulcanelli
(vulcano, fogo e helios, sol, logo, sob o signo do “fogo do sol”) – possuidor, talvez,
físico nuclear -, o que me levou a ler, em 1973 e 1977, na tradução portuguesa primeiro
(nas Edições 70) e depois nas reedições francesas (de 1964 e 1965) as suas duas obras,
Estes livros de Fulcanelli, prefaciados pelo seu discípulo Canseliet (quand sel y est,
“quando o sal aí está”, a Obra pode ser feita) tinham uma dimensão cultural não muito
que o autor anónimo tinha da arquitectura das catedrais góticas e do simbolismo nelas
Por volta dos anos 70, eu tentava conciliar a minha formação científica com uma
especiais das antidas sabedoriais (quase) perdidas. O que os livros sobre Alquimia, que
eram publicados na altura (Ranque, etc,), diziam era que alguns mestres alquimistas
42
ciência e da técnica actuais. Mas, as condições espirituais do operador seriam
surgiram em França alguns livros de um cientista francês, Louis Kervran, que dava
laboratorial.
A.M.O.R.C.”, com sede em São José na Califórnia (EUA) e com grande presença em
(outros tantos de percurso), a AMORC – que afirmava ter na sua sede um “laboratório
mais do que um estojo escolar de Química para o ensino secundário, o que constituiu
tinha saído no final dos anos 60) – com edições espanhola e brasileira, Planeta – que
civilizações antigas, entre os quais os dos alquimistas, estes apresentados como sendo
os mais secretos e avançados, logo de maior prestígio – prestígio que levou muitos a
interessarem-se pela Alquimia, de entre as diversas “ciências ocultas”. Ainda nos anos
70, começou uma vaga de livros sobre aquilo que mais tarde, Wouter Hanegraaff, em
43
New Age Religion and Western Culture – Esotericism in the Mirror of Secular
de Frijtof Capra, The Tao of Physics (traduzido numa edição brasileira) e que
da moderna ciência. Este tema, que não está longe do que algum iluminismo proclamou
espíritos (como o meu) influenciados pela contra-cultura iniciada nos anos 60 e pelos
das antigas sabedorias e das suas realizações espirituais e técnicas, tema que foi
reforçado por uma vertente mais popular centrada nas “civilizações misteriosas” que já
referimos (“Planète” e muitos outros, Robert Charroux, Erich von Daniken, diversos
Lisboa, desde 1973 até 1976 – tendo apresentado uma comunicação ao Congresso
Medicina de Lisboa (H.S.M.) – ganhei uma bolsa de estudos do Governo espanhol e fui
96 Leiden, Brill, 1996, ver em particular o capítulo III, New Age Science e o capítulo VI, The Nature of
Reality.
97 Dobbs, Betty J, Teeter, Les Fondements de l’Alchinmie de Newton ou «La chasse au lion vert», Paris,
Trédaniel, 1981.
44
Instituto de Química-Física Rocasolano, de Madrid, do “Consejo Superior de
Ciências da Universidade Cumplutense da mesma cidade. Uma vez que não me foi
bolseiro, para realizar o Doutoramento, uma vez que a bolsa espanhola era pequena. Isto
constituiu uma grande frustração científica e profissional para mim, tendo sido obrigado
emprego como Técnico Superior do Estado, tendo sido admitido na Primavera de 1978
investigação científica.
para além do fascínio próprio que ela sempre exerceu sobre mim, uma espécie de
conhecimento que não dominamos ou onde não nos sentimos à vontade ou em posição
de relevo, para outro universo de conhecimento menos acessível aos outros e que nós
dominamos, mesmo que ele seja rejeitado pela ciência e pelo senso comum. Olaf
Hammer descreve esta estratégia em Claiming Knowledge. Algumas pessoas irão para a
alquimia por ignorância das realidades científicas, outras vão-no por compensação por
(particularmente numa dimensão popular, mas não apenas), a questão da Longa Vida,
45
proporcionada pelo Elixir alquímico ingerido pelo adepto e do Pó de Transmutação que
serão temas fortes de interesse pela Alquimia e da prática alquímica. Há ainda uma
dimensão esotérica e iniciática associada, não ao ouro material, mas ao Ouro simbólico
Tratados.
Em Madrid tinha tomado contacto com vários livros sobre o tema, publicados
final dos anos 70 uma livraria muito boa (propriedade de um jornalista que depois abriu
franceses de grande qualidade, nestes domínios e, de entre eles, adquiri livros de dois
Editions de. La Maisnie. Aqui a Alquimia era apresentada, para além do seu aspecto
inaugurado pela revista francesa Atlantis nos anos 30. Béatrice e Batfroi apresentavam
uma espécie da “alquimia generalizada” que dava conta de muitos aspectos do sagrado.
sem o seu aspecto espiritual e iniciático, veiculado pelo seu imaginário simbólico, de
pouco valia amputada dessa dimensão, sendo apenas, nessas circunstâncias uma
46
outros que se lhe seguiram valorizavam muito a figura do alquimista como detentor dos
sua dimensão simbólica e espiritual. Em 1982, resultante das minhas visitas a partir de
1980, à Livraria “La Table d’Émeraude” de Paris (rue de la Huchette) – que reunia os
me deixou muito feliz - com a seguinte frase: Pour José Anes, qui peut tout attendre de
para uma entrevista sobre Alquimia, num programa no RCP, com António Carlos
Carvalho e realizei uma conferência – fortemente influenciada por um livro que tinha
Manuel Algora Corbi, verdadeira enciclopédia das vias da alquimia operativa e por
na senda de um belo livro de Fabrice Bardeau, Les clefs secrètes de la chimie des
teosófica muito ligada à tradição portuguesa, com sede, nessa altura, em Sintra. Em
1983 publiquei o meu primeiro artigo numa publicação intitulada “Eldorado”, de “Os 4
Elementos Editores”, animados por Paulo Varela Gomes, Armando Guerreiro e Mário
de Carvalho e onde colaborou também Paulo Pereira e Ana Cristina Leite, sobre o
imaginário simbólico do Mosteiro dos Jerónimos, tema muito em voga na altura – veja-
se, por exemplo as interpretações de Fiama H. Pais Brandão sobre a “história mítica”
47
(Ourique) e a “geografia sagrada” (Batalha) portuguesas - e de algum modo inspirado
pelos livros de Fulcanelli, Canseliet e discípulos. Esta corrente expressou-se a partir dos
pelos anos 80 com António Quadros (Portugal, Razão e Mistério), Lima de Freitas
tive alguma intervenção nela, já em finais dos anos 80, com a interpretação simbólica e
esotérica da Quinta da Regaleira, a qual convida a esse tipo de leituras, de entre as quais
as alquímicas.
mas, a pouco e pouco, decidi começar a praticar os seus rudimentos laboratoriais, dando
francesa), que comprava regularmente, que tomei contacto em 1982 com o grupo de
mensais sobre Espagíria, o que continuou a acontecer durante 10 anos – vide Anexo.
minha casa (um 7º. Andar da Av. Almirante Reis, em Lisboa), o que provocou alguma
incompreensão da minha (na altura) mulher e um certo incómodo já que, para além de
ocupar espaço estas minhas actividades, elas davam origem a um intenso cheiro, devido
48
a certas plantas utilizadas na calcinação em Espagíria (Melissa, etc). Esta minha opção
levantou diversas reservas, com algumas excepções, nos meus colegas do LPC/PJ, mas
nada de grave se passou neste contexto. Por outro lado, junto dos esoteristas – mesmo
mineral.
Em 1982 morre Eugène Canseliet e surge uma disputa entre os seus “herdeiros”
espirituais, Jean Laplace que dirigia desde o nº. 1 a revista alquímica La Tourbe des
Philosophes – ver Anexos -, Bernard Renaud de la Faverie que lhe sucedeu nesse
cargo e que depois comprará a livraria “La Table d’Émeraude” (onde o conheci
alimentavam grande parte dos artigos da revista. Fascinado pela imagem de “operativo”
competente que ele deixava transparecer nesses artigos, contactei por volta de 1983 um
pela livraria “La Légende Dorée”, ambas em Riom, Puy de Dôme, zona onde ficava a
49
Uma vez que tinha conhecido, entretanto e a partir de 1983 até 1986, alguns
e através das entrevistas que dei, quer ao RCP, quer ao “Correio da Manhã” -, partilhei
estes meus contactos com eles. Tratou-se de um pequeno grupo informal constituído por
AMORC -, enfermeiro reformado que exerceu a sua profissão durante cerca de vinte
anos na Suíça e que vivia numa moradia em plena Serra da Arrábida, perto de Santana e
ainda T. P., técnico de electrónica e da rádio em Angola, de onde veio para Portugal
Portugal (seguido de uma tradução francesa), sob o pseudónimo Rubellus Petrinus (“a
pedra rubra”), o livro A Grande Obra Alquímica, com prefácio meu. Quanto à
experiência alquímica anterior destes membros, direi que o que possuía apenas um
conhecimento (não muito desenvolvido) da teoria alquímica, sem uma dimensão prática,
era O.G.. E.M. tinha um laboratório na garagem da sua moradia na Arrábida e na Suíça
terá tido contacto com os F.A.R.C., de Roger Caro. T.P., após anos de leitura dos
clássicos, quer em Angola, mas sobretudo já em Portugal, era o que mais tinha praticado
no laboratório da varanda de sua casa em Queluz, sendo um hábil operativo. Todos eles
eram utilizados na alquimia física, mas nem todos tinham em igual plano a ideia de que
do esoterismo. Neste domínio, havia duas posições, a dos que diziam – na linha de
impossível, já que era ele, através das interacção dos seus planos subtis com a “alma” da
50
matéria – isto foi claramente afirmado por Mary-Ann Atwood em 1850 no seu livro
transformações e uma outra, privilegiada pelos “operativos”, que sustentava que desde
teses ocultistas de Atwood), na primeira posição, T.P. estava no outro extremo e E.M.
permanecia numa posição intermédia às duas teses. Mas havia uma dimensão comum a
todos eles, eu incluído, que consistia na utilização da alquimia para aumentar o prestígio
e poder simbólico, junto dos outros esoteristas e do público que tinha uma ideia
todos: eu sou um alquimista, ele é um alquimista, eles são alquimistas, tudo isto dava
prestígio. No meu caso, o facto de eu aparecer como estudioso que também pratica a
alquimia para a entender melhor, também era uma afirmação identitária prestigiante,
arriscava a minha imagem junto dos meus colegas do LPC da PJ, amigos e família. Mas
atenuava esse risco e mesmo quando comecei a praticar em laboratório isso era sempre,
aos olhos dos outros como uma fase indispensável a esse estudo. A verdade é que eu
51
das transmutações alquímicas (mesmo considerando, desde sempre, que a realizarem-se
pelo imaginário da Alquimia, o que me granjeou uma certa aceitação junto de alguns
universitários, pois isso era um tema de crescente interesse junto da academia, a partir
de finais dos anos 70. No entanto, ainda não tinha começado a minha abordagem socio-
FCSH da UNL, mas de uma maneira mais consistente, só a partir de meados dos anos
90.
de E.M. ter ido a França pela primeira vez visitar Solazaref e a sua Filiação, a
nós, pois ele aparecia com um cientista, especialista em física dos plasmas, que se
“via breve” – que ele dizia descender dos etruscos -, utilizando o raio nos picos do
maciço central francês, na zona du Puy de Dôme, raios que eram captados por um pára-
de que decorre o alquimista, mas agora do herói que domina o raio e que o capta para
provocar as “transmutações”.
reformado e à sua capacidade financeira que lhe proporcionava a reforma suíça, o que
52
lhe granjeou uma posição de relevo junto de Solazaref. Dessa reunião semi-pública da
FS, onde EM esteve da primeira vez, trouxe-me uma fotografia, tirada por ele, de um
aspecto desse encontro onde se vêm dois membros, um masculino e outro feminino, na
casa dos 30 anos, usando uma túnica preta curta e um cinto (vide Anexo), ambos
próximos de uma bancada onde estavam instrumentos alquímicos. Obtida, por EM, a
autorização para trabalhar com um pequeno grupo (eu e depois, também, O.G.) não na
“via breve”, mas na “via seca” – fundindo os materiais em cadinhos, num forno -, os
laboratório ou no campo. As mulheres eram uma minoria nos grupos que frequentei. O
grupo português da FS incluiu mais tarde uma médica pediatra, D. C. , antiga Mestre da
Ordem AMORC em Portugal e a esposa (C.) de um dos membros (J.S.) que integravam
a versão mais alargada do primeiro grupo, em finais dos anos 80. Em França, havia
várias, as “Incorruptíveis”, junto ao “mestre” Solazaref (vide foto já citada) e nos LPN,
havia também algumas mas sempre não excedendo uns 20 a 30%. Na imagem do
alquimista como “herói” que trabalha os minerais e metais com o fogo, no forno - na
participação minoritária das mulheres. Aliás, também a própria tradição alquímica não
um milénio e a rainha Catarina da Suécia que terá praticado a Arte em Itália – e regista
Nicolau Flamel e sua assistente na Obra. De qualquer modo, a posição de privilégio das
53
“incorruptíveis” junto de Solazaref poderia significar também uma descriminação face
ao trabalho operativo e revelar uma visão tradicional face ao papel da mulher, mesmo
que numa microsociedade, visão que está patente no opúsculo da Filiação, Notrions sur
entretanto, para a garagem da residência de fim de semana da minha família (que havia
passado para minha posse, falecidos os meus avós e o meu pai), situada na Costa da
Caparica. A partir de 86 até 90 – sempre com o afã de saber mais sobre alquimia
quais versavam sobre Espagíria vegetal e a “via seca” de Fulcanelli, esta muito próxima
em linhas gerais da “primeira obra” que Solazaref seguia e propunha aos seus
(ferro, sais diversos, etc.). Mas, digamos, a via operativa mais sólida que tive a
seca”; trabalhos de preparação das matérias, com trituração da estibina, quer comprada
a reformados das minas de Valongo que, assim, tinham mais um pequeno rendimento
complementar para a sua magra reforma, quer obtida em viagens com O.G. a
fronteira, não longe de Arronches. Estas demandas do “sujeito da obra” eram encaradas
com espírito de aventura romântica e de convívio entre todos, a que não eram alheias
(por vezes) copiosas refeições acompanhadas de vinho. Esta, aliás, era uma
característica que verifiquei nos grupos por onde passei (FS e LPN) e que incluía a
54
celebração do vinho, esse “elixir” alquímico. No entanto, havia espaço para quem não
abstémio por razões de saúde, bebia o vinho às refeições de convívio sem receio de que
me fizesse mal...
estibina, em almofariz com martelo pilão manejado à mão (durante horas) por cada um
sobretudo para quem não está habituado a um trabalho manual pesado de doloroso (os
músculos pouco habituados, ressentiam-se). Aliás era esse um tema forte dos
tornando-os mais próximos da matéria e da Natureza – tema que um certo New Age
neo-pagão, não psicológico, utilizava (cultivo das hortas e dos campos, busca de plantas
soleil) quando este afirmava que os alquimistas eram onanistas já que referiam amiúde o
Para além da trituração da estibina havia ainda que preparar os sais nas
indispensáveis à fusão dos minerais e metais e, do ponto de vista alquímico, eram eles
que ajudavam a captar o “espírito universal”, agente verdadeiro da Obra, uma vez que
55
muitos eram higroscópios e, expostos ao ar numa noite de orvalhada calma (sem
nuvens, sem chuva e sem vento) absorviam a humidade do ar que, segundo a Tábua de
“prana” do ioga hindu. Numa das viagens de EM à FS, ele trouxe-me um testemunho da
num sal verde (talvez vitríolo). Para trabalhos espagíricos e alquímicos, procedia-se à
recolha do orvalho, tal como é indicada nas gravuras do Mutus Liber, o Livro Mudo,
que Canseliet tão bem comentou. Escolhem-se, como vimos, as noites calmas (sem
vento, chuva ou nuvens e antes de aparecerem os primeiros raios da aurora) dos meses
orvalhadas – estendendo panos de linho em prados não poluídos por adubos químicos
(precaução importante nos dias de hoje) e uma vez repletos de orvalho, torcem-se para
dentro de garrafões de vidro escuro (para não apanhar a luz) que é depois utilizado em
andando pela relva com os pés descalços, era utilizada pela FS e apela para uma
comunhão com a Madre Natura. Na primeira fase da FS, em que é patente um certo neo-
utilizada pela Filiação era par Marie, Mère de la Philosophie. Outro processo, como
referiam os LPN, é o de captar o orvalho num prato com um sal higroscópico, por
sal se transformou por dissolução no orvalho. Esse orvalho dá para elaborar preparações
espagíricas (tinturas, elixires, etc.) pois esse líquido – chamado pelos alquimistas “água
56
Voltando à Filiação Solazaref, após a confecção dos sais e a sua mistura em
material refractário que era introduzido num forno. No nosso caso, o forno ficava no
exterior da garagem de E.M., num prado, a cerca de 50 metros da sua casa da Arrábida,
foram referenciadas pelo seu secretário, nas suas memórias (ver o livro de Betty Dobbs,
Les Fondements de l’Alchimie de Newton) – foi vítima de uma explosão ocorrida no seu
laboratório que ficava num anexo da sua casa de Cambridge, uma explosão que lhe
Após uma ida a França, à sede da Filiação (viagem que não pude fazer por
motivos profissionais), de um grupo de portugueses (EM, EmM, OG, TP, J), a “etnia
portuguesa” foi recebendo outros membros (TP, J., J.S. e esposa C., drª. C., uma amiga
de EM), e constitui-se um pequeno grupo com reuniões periódicas (já não na Arrábida,
mas em Lisboa) e tarefas definidas pelo responsável, E.M., que as recebia de Solazaref,
quer epistolarmente, quer aquando das suas idas a Puy de Dôme. Do grupo informal de
amigos do começo (O.G., E.M. e eu), passou a uma organização e a uma hierarquia,
Nesta altura, houve dois relatos, transmitidos pelos que foram a França que
Alquimia, a qual era evidente no Introitius quando ele falava de “choques iniciáticos”.
Um desses choques terá ocorrido num jantar que encerrou a jornada de trabalho e
57
instrução e onde o Mestre Solazaref insultou e desvalorizou à frente dos outros, EmM, o
filho de EM, depois de uma pergunta que ele lhe fez. Trata-se de um método tradicional
utilizado pelo budismo “chan”, chinês (que deu origem ao budismo “zen” japonês) –
onde o mestre empunha a chibata com a qual bate, por vezes, no discípulo - e pelo
chamado sufismo “do norte” (Afeganistão, etc.), muito violento em relação ao ego que é
preciso “apagar”, fanã. Trata-se, não de uma desconsideração, mas de uma atenção ao
processo iniciático do discípulo. Mas, é claro, que para ocidentais, o método é violento.
Gurdjef – russo ortodoxo que recebeu formação na Ásia Central - criou em França o
intelectuais - Katherine Mansfield e a criadora de Mary Poppins, entre outros – que ele
sujeitava a longas caminhadas pelos bosques, a longas prelecções iniciáticas pela noite
fora (às vezes, depois das caminhadas...), acompanhadas de muito café, e ainda de
não é ainda verdadeiramente Homem, ele apenas reage a estímulos, ele não actua, ele “é
consciência”, etc.). Esta doutrina que pode levar a convergências com a ideia
Outro episódio que me relataram foi uma caminhada nocturna da Filiação por um
bosque onde havia lobos e onde o Mestre escolheu um discípulo, ordenando-lhe que ele
comesse uma osga, ao que ele obedeceu. A obediência e a imitação do mestre era um
fenómeno típico sectário em que o “mestre” tem um carisma muito grande que domina
explicação veio logo de seguida: Solazaref tinha rapado o cabelo. O mesmo aconteceu
58
Uma outra característica evidente foi a divisão dos adeptos da Filiação em
“etnias” periféricas à francesa: a belga, a italiana, a portuguesa, etc., tendo cada “etnia”
uma tarefa distribuída por Solazaref, a elaboração de cada material (o vitríolo, p.e., no
caso português) destinado a ser levado para França para que a Obra alquímica aí
pudesse ser realizada, com as contribuições de todos. Esta divisão de trabalho pelas
país” de Estaline. Para além da elaboração de instrumentos (cone em aço para fusões
sulfato de ferro, etc.) ou sua aquisição (tijolos refractários, retortas em grés, etc.) pela
“etnia” portuguesa foi decidido traduzir para português a obra de Solazaref, Introitus
todo) do esoterismo e a alquimia não escapa a essa tendência. O que eu verifiquei foi
sintonia com um catolicismo de tipo integrista mesclado com referência de tipo neo-
pagão, celta e centro-europeu “germano-celta”. Mas em finais dos anos 80, esse
tradicionalismo teve uma expressão política evidente e para mim desagradável, no seu
59
livro Les Bûchers du Xxe siècle (1988), uma vez que se exprimiu por um claro apoio ao
destruir”. Além disso, esse livro continha vários ataques às outras correntes alquímicas:
convivência e trabalho junto dos membros da “etnia” portuguesa – que não seguiam em
desapareceu do grande público – após uma crise grave entre Solazaref e Dominique
Portugal, onde já participei apenas como espectador junto do público – foi uma
Sacrée, evento organizado por iniciativa de um membro japonês, funcionário das N.U.
A partir dessa data comecei a seguir mais os LPN de Jean Dubuis, tendo
nos arredores de Toulouse, que se seguiu a uma conferência de Jean Dubuis numa
livraria dessa cidade, na 6ª.f à noite. Tudo era bastante diferente nos LPN, face à
60
experiência, um pouco traumatizante da FS: a FS era constituída, no seu núcleo interno,
rígidas, a desconstrução, feita pelo próprio Jean Dubuis, da imagem do “mestre”, tudo
isto era diferente da FS. Não que não houvesse convívio junto de Solazaref, mas tudo
era feito com propósitos iniciáticos definidos, sem espontaneidade. Para além do
Cabala e nos seus sefirot e nas correspondências que cada sefira tinha com as partes do
corpo humano e, daí, com os planetas, as plantas e os metais. Além disso, a Árvore da
os sonhos – aquilo a que Jean Dubuis chamava “a escola nocturna” - que eram
61
Em 1993 e 1994 organizei em Sintra – Várzea de Sintra na residência de um
casal, I.E. e J.C.A. - dois estágios (gratuitos) de fim de semana dos LPN, ambos
feito a tradução simultânea para português. Uma vez mais apareci aos olhos dos
teve eco na imprensa (“A Capital”). O lugar tenente de Jean Dubuis era Marc-Gerald
Cibard e o grupo dos LPN que veio de França era composto por mais três homens e uma
mulher, todos operativos. O convívio decorreu de uma forma calorosa e informal (vide
foto em anexo). Quanto ao estágio propriamente dito ele teve duas partes, a espagírica
da fusão da estibina com ferro e sais, no forno alquímico a gás – vide foto anexa. As
forno para o membro francês dos LPN, já que ela continha mais riscos. O estágio de
Neste ano, sábado à noite, Jean Dubuis ofereceu aos estagiários a possibilidade de
discutiram com ele o trabalho cabalístico da “escola nocturna” dos sonhos ou – numa
vertente mais tecnológica, típica de um certo “new age” - experimentarem uma máquina
electrónica de “harmonização das ondas alfa”, para relaxamento cerebral, a qual deu,
que nunca pertenceu verdadeiramente a ela, já que a sua experiência laboratorial lhe
62
permitia alguma liberdade – fomos a Fraga (Aragão, Espanha) conhecer o alquimista
Simon H., autor de um livro interessante que nos despertou a curiosidade. Ali
contactámos com alguns alquimistas espanhóis que já tinham experiência com outros
Esta fase foi orientada pelos “instructores” Elizabeth Demange e, a partir de 1998, por
porque Roger Caro incluiu uma foto de si próprio junto ao seu laboratório, junto ao
oratório – ora et labora - no seu livro Tout le Grand Oeuvre photographié e associou ao
seu grupo alquímico uma igreja cristã gnóstica, L’Église de la Nouvelle Alliance.
(em 1998) por um seu brilhante discípulo, Lucien Scubla, autor de Lire Lévi-Strauss,
biologia.
63
Já antes, tinha tomado contacto com universitários que estudavam o imaginário
o simbólico e o mítico, desde logo, Gilbert Durand, Doutor honoris causa pela
FCSH/UNL, amigo do falecido Lima de Freitas, que conheci num colóquio de uma
Michel Maffesoli (sociologia e autor de Le Temps des tribus, entre outros livros), Jean-
Durand não é aceite pelos antropólogos sociais e culturais. No entanto ela pode,
eventualmente, ser utilizada com alguma utilidade como uma metodologia para analisar
residência de Medon, Paris, com quem privei, ao longo dos anos, mais do que com os
outros, já que ele tinha uma aproximação histórica do esoterismo, mais útil para o
nada existia sobre o assunto, com alguma profundidade. No entanto, ultimado o meu
estudo histórico e descritivo sobre estes grupos, defrontava-me com uma questão
fundamental para o meu trabalho de Tese e que tinha a ver com a compreensão
64
ressurgimento ou de reactualização e recriação da velha alquimia, nos tempos de hoje,
por homens das cidades. A abordagem de Faivre, não sendo antropológica era útil, por
“esoterismo ocidental” e a sua evolução ao longo dos tempos até ao século XX.
“esoterismo ocidental”. Dizia-me ele que a sua primeira preocupação era delimitar o
nessa Universidade, onde frequentei um curso de verão, por ele organizado, no Verão de
Internacional da História das Religiões que inclui (pela primeira vez) um painel sobre
esoteristas. Esta dialéctica entre o emic e o etic não é perigosa em si mesma, para a
65
ciência, desde que se saiba claramente quem são uns e outros – o mais saudável era que
os própios afirmassem a sua posição (embora para o estudioso atento não seja difícil
verificado em França pela Alquimia, na segunda metade do século XX. Ali reencontrei
velhos conhecidos nestas andanças: Patrick Rivière, Fabrice Bardeau, etc., mas não
(pessoana) e Paula C. Costa (com a qual tinha feiro um extenso artigo sobre o
66
Castro Guimarães), para o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal – colóquio que
E eis que, em virtude destas minhas actividades e estudos, sou chamado pelo
Alquimia, particularmente em França, nos últimos 25 anos do século XX. Foi, como
Para além das razões que têm a ver com a minha vida profissional – em que,
67
contemporâneas, só começaram a ser mais desenvolvidos de um modo, na minha
opinião, adequado, a partir dos anos 90 e já neste começo do século XX – como aliás
está claramente patente na Bibliografia no fim deste trabalho. De facto, para além do
que aprendi com o Prof. Faivre, livros e trabalhos de nomes como Luhrmann,
Dawson, Partridge ou Lewis, nos domínios da sociologia e da ciência dos NMR, das
exerceu sobre mim, sobretudo através da “leitura” que dele fez Lucien Scubla (em Lire
simbolismo alquímico.
alquímico não sendo de tipo exclusivamente místico – pese embora o clima inebriante
interna, tal como a magia – como afirmou, entre outros, Lévi-Strauss -, que o colocam
contacto do alquimista com a matéria faz com que a sua imaginação criadora não seja
recorde-se que Paracelso dizia (ver o livro de Koyré) que a alquimia estava associada a
68
filosófica) das Estruturas Antropológicas do Imaginário, de Gilbert Durand – com as
ao imaginário nocturno, sendo a primeira destas a que faz a ponte “hermesiana” entre o
material.
interiores, muitas delas com uma carga emocional intensa (de afectos e de tensões), das
notas de campo e do estudo histórico que eu tinha feito – e que era inédito – sobre a
alquimia francesa e os seus grupos, no último quartel do século XX, para um diálogo
reflexivo entre essa minha experiência e a perspectiva da ciência social e humana que se
espécie de autocrítica científica dessas mesmas vivências e dos discursos que ele
elaborou. Muito está em causa e muito se joga nesta reflexividade autobiográfica: a sua
personalidade, a sua identidade, a sua imagem e a representação que os outros têm dele.
69
Se por um lado eu fui sempre considerado como um “outsider” junto dos grupos
alquímicos que frequentei, pois sempre assumi uma posição inequívoca de estudioso,
estudos, mesmo num quadro limitado de trabalho académico -, a verdade é que também
científica de uma parte dos meus colegas, a qual culminou com a já referida
da Religião. Mesmo assim, isso não impediu que fosse dispensado das minhas
noutra área. Como tinha uma longa experiência de Criminalista, enveredei pela área,
área de estudo (e que já tinha abordado na minha cadeira), estudos da violência religiosa
– apoiado nos livros dos sociólogos Mark Juergensmayer (Terror in the Mind of
God) e Charles Selengut (Sacred Fury) -, quer nas chamadas “seitas” (particularmente
do tipo sectário – ver um artigo de Mark Sedgwick, na Nova Religio, a esse respeito.
70
livro de 2005, El terrorista – como és. como se hace) era muito semelhante, embora em
menor intensidade, em alguns NMR e EA, fossem eles esotéricos ou não. O caso da
Filiação Solazaref parecia-me um claro exemplo desta situação. Com uma diferença
importante que tem a ver, nestes grupos “esotéricos” (na acepção de Hammer, já
referida), com o facto de a afirmação identitária se poder realizar fora de um grupo e por
vezes de ela ser mais interessante fora de um grupo, o que pode colocar em questão a
grupo destes é interessante e estimulante para os que têm tido pouca formação
diferentes entre si, nos grupos religiosos terroristas e nos NMR. No entanto, é de referir
que alguns NMR esotéricos tiveram desfechos terríveis, como foi o caso dos suicídios
mo típico do New Age), Aum Shinrikyo (a Verdade Suprema), no Japão (ver os estudos
de Ian Reader), para só citar dois exemplos – outros mais, nem todos violentos, mas
New Religions (coordenada por James R. Lewis e Jesper A. Petersen). Saliente-se que
ambos estes grupos, atrás mencionados, citavam a alquimia como objectivo: a Verdade
mística.
71
É um facto de que apenas só encontrei fenómenos de algum modo semelhantes,
na sua estrutura, mas não nas manifestações violentas, no caso da Filiação Solazaref.
Desde logo, o sentimento muito forte de pertença, neste caso a uma “filiação”, e do
espírito de tribo que é comum a ambos os casos – aliás, outro especialista de uma certa
e os impuros, etc., etc.) e uma atitude de pouca empatia ou mesmo de antipatia face ao
mundo, por vezes mesmo de confronto. Refiro um episódio que foi do domínio público
referir a tipologia dos NMR proposta por Roy Wallis, em Elementary Forms of New
Religious Life, a saber, os “que afirmam o mundo” (world affirming), os “que aceitam o
a “Filiação” rejeita o mundo nos domínios religioso, filosófico, político, social, etc. e
contrária – a dos que não aceitam e compreendem a alquimia ou a dos que aceitando-a,
não seguem a visão particular do “mestre” Solazaref, enfim dos que são inferiores,
72
Este universo de intransigência é atractivo e eloquente para os que se sentem
frustrados face ao mundo e por não encontrarem nele projectos mobilizadores que lhes
dêem sentido e por ele não lhes dar sentido às suas vidas, mantendo-os na periferia dos
seus diversos universos, social, político, religioso, filosófico, etc. Esta carência de
projectos existenciais que os mobilizem interiormente e dêem sentido à suas vidas, leva
muitos jovens, e também menos jovens, a aderir estes grupos sectários, sejam eles NMR
“obediência” quase cega que, além de me repugnarem sob o ponto de vista psicológico
e filosófico, me parecem ser o contrario de uma verdadeira vida espiritual. É certo que o
mestre sobre o discípulo. Mas é difícil, pelo menos no Ocidente, evitar a derrapagem de
uma via de “vigilância rigorosa e consciente sobre o ego” para um mero esquema de
capítulo sobre este tema no Oxford Handbook of New Religious Movements. É sabido
que muitos grupos “anti-seitas” - a este propósito, vale a pela recordar, com Massimo
Introvigne (La Magie à nos portes), a tipologia dos grupos “anti-cultistas” e dos
“controlo mental” para justificarem os seus ataques às “seitas” e aos “cultos” religiosos
alguns NMR, isso parece ser indiscutível. Defender os NMR de acusações injustas deste
e doutro tipo, parece ser um acto de justiça e uma obrigação social por parte dos
especialistas universitários dos NMR que têm também a obrigação política de defender
a liberdade religiosa, mesmo quando são apelidados “amigos das seitas” por aqueles que
73
querem cercear a liberdade religiosa apenas por interesse em conservar a sua posição no
Assembleia Nacional francesa, no livro de Introvigne e Melton, Pour en finir avec les
sectes.
outro lado eles não podem silenciar os aspectos problemáticos que, na maior parte dos
casos, não são violentos, mas que apresentam algum tipo de risco para a saúde mental
dos aderentes a esses grupos e ameaças à sua liberdade e à dos seus familiares. O caso
da Filiação é paradigmático desta situação. Recordo, entre outros, o caso mais flagrante,
grupo, no caso da Filiação termos – para além deste próprio termo que pode indicar o
conjunto de filiados, mas também que eles são filhos espirituais ou iniciáticos do Mestre
perseguição por parte do mundo exterior, ideia que existe de algum modo em muitos
expressões como a “tempestade química”, indicam que a via escolhida na Filiação não
74
pretende ser tranquila, mas sim “tempestuosa”, que o corte com os outros, com o Outro,
que os outros grupos estudados – e sobretudo o outro grupo onde fiz “trabalho de
campo”, não são tão estritos, quer do ponto de vista da teoria, quer da prática, quer
conjugado com o estudo intenso. Isto, quer em laboratório, quer na natureza. Ora, lege,
lege, relege, labora et invenies – ora, lê, lê e relê, trabalha e encontrarás. Há uma
atitude de respeito e reverência pela natureza conjugada com uma vontade da sua
Maier: ajuda-me que eu te ajudarei, diz a Natureza para o alquimista, advertindo-o que
talvez o maior segredo da alquimia seja essa íntima comunhão entre ambos que
Daquilo que observei junto dos membros destes grupos e que observei em mim
próprio durante esse trabalho de campo, a determinada altura quando começa o trabalho
de laboratório, mais importante do que a Pedra Filosofal – objectivo que se admite mas
como uma hipótese longínqua e quase inacessível, um “dom de Deus”, um donun dei
(título de um tratado de alquimia) – é esse longo caminho que põe à prova o alquimista,
75
que o desafia e que constitui uma verdadeira meditação onde ele concentra as sus
outras características marcantes que os grupos possam ter, por exemplo e como casos
Esse aspecto também marca uma diferença com as vias místicas onde se concebe
mais hermética do que gnóstica, logo, mais optimista do que pessimista -, que permite a
Pedra Filosofal? De facto, cheguei à conclusão, através do meu convívio com eles e da
minha introspecção, que nem todos os membros acreditam nela ou, na melhor das
hipóteses, acreditam numa possibilidade muito remota da sua realização. Direi mesmo
sua realidade, mesmo que remota, pois é esse “objecto total”, mítico, que é essencial
para mobilizar todo o seu projecto espiritual e a sua afirmação identitária nesse universo
76
objectives (Olaf Hammer, in Claiming Knowledge), afirmações que, mais do que se
porque nas quais nos convem acreditar, para sermos “persuadidos” por elas, através de
psicológicos”, identitários, por exemplo, mais do são gerados por eles. E, está claro,
que ela permite uma “celebração do eu” (cf. Paul Heelas, The New Age Movement –
The Celebration of the Self and the Sacralization of Modernity), mais do que isso,
elaboração da Pedra Filosofal, esse “objecto total”, através do rito sacrificial que
uma espécie de totems dos grupos e das correntes alquímicas: a via do antimónio, a via
do mercúrio, a via do vitríolo ou a via seca (em cadinhos e em fornos) e a via húmida
77
III – A ALQUIMIA NO CONTEXTO DAS CORRENTES ESOTÉRICAS
RITO.
praticantes, abordo agora neste Capítulo a sua História e a Filosofia e ainda o seu
próxima da Magia, uma “Magia natural”, pois ela faz apelo a operações que implicam a
acção do Espírito Universal – que “o vento traz no seu ventre”, diz a “Tábua de
78
Conforme sustenta Olav Hammer, no seu artigo “Esotericism in New Religioyus
- social formations;
- rituals;
- purported objectives;
Este conceito será muito útil para estudarmos os grupos que praticam a alquimia
hoje, já que dá atenção, para além das “formações sociais”, a questões muito
Deixemos por agora o conceito de Hammer – que utilizaremos, por ter uma
específicas:
98 In Oxford Handbook of New Religious Movements, Capítulo 19, op. cit., p. 445.
99 Op. Cit., p. 449.
79
- ideia das correspondências entre as diversas partes da Natureza e entre esta, o
Homem e o Cosmos;
laboratorial, não sejam apenas materiais e para que tenha sustentação a alquimia
“espiritual”;
Oriente, onde ele se mantém ainda, em grande parte, nesses domínios. Baseado nos
também a Alquimia que dele decorre - é, face à sua próxima e quase contemporânea
matéria, onde está agrilhoado e da qual ele tem de se libertar para “retornar à Casa do
Pai”, à morada celestial, de onde o Homem foi exilado. A Matéria, e o Corpo, é pois,
Gnose também refere -, o logos spermaticus, podem salvar uma parte ou mesmo a sua
totalidade. Para a Gnose essas partículas de Luz têm de ser retiradas e afastadas da
80
Matéria, a qual fica irremediavelmente perdida, sem salvação. Este conceito da Luz no
do século XVII, atribuído a Marc-Antoine Crasselame, A Luz saindo por si própria das
Universal que é preciso captar para animar a matéria, nunca é posta de parte a ideia de
que ele tem de se unir, por atracção, ao “espírito” que existe na matéria, tendo o
Todas estas ideias – as quais têm alguma semelhença com a noção de mana -
apresentam uma clara dimensão mágica, no contexto da ciência, mas de uma magia
e traduzidos a seu pedido por Marcillo Ficcino (1433-1499), estes textos herméticos
uma “filosofia perene”, que se perdeu e que era imperioso recuperar, quer dentro do
Cristianismo, quer fora dele. Embora o Hermetismo alexandrino – quer na sua dimensão
“culta”, filosófica, savante, como denominava o Rev. Padre Festugière, quer na sua
81
“prolongamento”, segundo Antoine Faivre, de l’astrologie hermétiste à partir de la
para a alquimia, como veremos - e terá sido até ao século II A.C., une technique
associée à la pratique des arts d’orfèvrerie – o que a situa, desde o princípio, na sua
dimensão operativa, laboratorial, sem esquecer a sua paralela dimensão espiritual, pois
como escreve A. Faivre, Avec Bolos de Mendès, au IIe siècle de notre ère, elle prend un
entanto, surge nesta altura, como uma corrente paralela, em Zózimo, em Sinésio e em
Panapolis (IIIe ou début du IVe siècle), dont vingt-huit livres ont été conservés,
développe une alchimie visionnaire, suivi en cela par Synesius (IVe siècle),
(do século XIV ao XV) por obras de nomes tão importantes como Nicolas Flamel,
héllénistique tardive, l’alchimie du Moyen Age tend à se déployer sur deux plans,
opératoire et spirituel.102
82
Esta tendência continuará com nomes com um Teofrasto Bombasto von
l’homme, du créateur même, elle devient vraiment vision totalisante; tout, y compris les
entre l’homme, la Terre et les astres d’une part, les astres et les métaux ou les éléments
para a seguir os reunir, fazendo-o reiteradamente, o que para a Química não fará muito
sentido, mas faz sentido para a Alquimia pois assim, diz ela, “abrem-se” os materiais ao
a saber, Robert Fludd, Michael Maier – autor de Atalanta fugiens (1618) e médico de
continuadora do Invisible College do grande químico Robert Boyle, da qual foi grande
animador Samuel Hartlib – e Sir Isaac Newton (1642-1727), um dos mais ilustres
sua vida (pois, para além de não querer arriscar o seu prestígio académico e científico,
ele foi mais tarde Presidente da Royal Society, durante cerca de quarenta anos, e
Director da Royal Mint (a Casa da Moeda inglesa), e que tinha, na sua casa de
Cambridge, onde foi Professor, um laboratório alquímico no qual ocorreu uma vez uma
grave explosão que afectou a sua saúde. Newton tinha uma grande biblioteca alquímica
laboratorial e com manuscritos alquímicos da sua própria mão (metade dos quais datam
mas que a humanidade tinha de reencontrar. Daí esta contradição aparente que
Serpente verde105. É de salientar ainda, nos séculos XVII e XVIII, a edição de grande
dois volumes) e a publicação dos seguintes livros que tiveram grande influência sobre a
104104 Ver a Tese de Doutoramento de Betty Dobbs, publicada sob a forma de livro (em tradução fran
cesa), com o título Les Fondements de l’Alchimie de Newton, ou “La chasse au lion vert”, Paris, Ed. de
la Maisnie, 1981,
84
Ennoea, ou aplicação do entendimento da Pedra Filosofal (1733), do médico português
licenças do Santo Oficio, que só terá tido eco, no entanto, na Península Ibérica -,
mytho-hernétique (1758) do Abade Dom Pernéty. Este último, será – já que a Rosa-cruz
85
alguns dos temas do Hermetismo e da Alquimia, pois surge com as seguintes
características essenciais:
correspondances;
d’une racine commune (matière et Nature reposent sur un principe spirituel, un Esprit
pair.110
psychanalyse plonge ses racines111 e menciona também que “é sob o seu clima” que
Como se vê, depois de uma Idade Média onde os alquimistas são em grande
parte gente do povo – exceptuando o caso de um Roger Bacon, mas saliente-se que os
no por uma questão de prestígio e não porque eles tenham sido os seus verdadeiros
86
autores –, e em que a tradição é comunicada sobretudo oralmente, verifica-se que a
partir do Renascimento ela passa a ser praticada por gente mais culta e por grandes
nomes da época, sendo veiculada por tratados de grande interesse literário, simbólico e
moderna, ela passa outra vez por um período de uma certa obscuridade. No entanto,
Enquiry into the Hermetic Mystery (1850), de Mary Ann Atwood, L’Alchimie et les
alchimistes (1856), de Louis Figuier, Alchemist and the Alchemists (1857) de Ethan A.
André Savoret e, muito importante para o nosso estudo de grupos alquímicos, o livro
seus membros e que reunia nomes como o já mencionado Papus (da Ordem Martinista),
Dr. Marc Haven, Sédir, Stanislas De Guaita, Barlet, Augusto Strindberg e ainda Camille
Uma das razões que poderão presidir a este renascimento da antiga Ciência ou
Arte de Hermes, em plena época cientista, será a necessidade, sentida por muitos –
87
nascente115 -, de um imaginário mais rico que o da ciência triunfante, imaginário quer
Como escreve Serge Hutin em Histoire de l’Alchimie, sobre a época da belle epoque,
dans la réssurrection générale des sciences occultes, dans leur remise au goût du
totale erreur de croire que la période si troublée qu’a connue le monde aprés 1914 ait
também explicada por Mircea Eliade por uma continuidade entre o sonho dos
peut donc dire que les alchimistes, dans leur désir de se substituer au Temps, ont
anticipé l’essenciel de l’idéologie du monde moderne (...) c’est dans sa foi dans la
science expérimentale (...) qu’il convient de chercher les rêves des alchimistes.118. Para
Eliade, a Alquimia deixou muito mais ao mundo moderno do que uma mera química
rudimentar, ela deixou-lhe como legado sa foi dans la transmutation de la Nature et son
114 F. Jollivet- Castellot, Comment on devient alchimiste, réed. Paris, Éd. D’Aujourd’hui, 1985, pp. 408-
412.
115 Recordemos aqui a divisão de Nietsche, retomada pela epistemologia – ver o livro de Gérard Holton,
L’imagination scientifique, Paris, Gallimard, 1981, particularmente o Capítulo “L’imagination
scientifique: dyonisiens et appoliniens”, pp. 375 - 415.
116 Serge Hutin, Histoire de l’Alchimie, Paris, Marabout Université, 1971, p 234.
117 Op. Cit., p. 235.
118 Mircea Eliade, Forgerons et Alchimistes, Paris, Flammarion, 1997, nouvelle édition corrigée et
augmentée, p. 154.
88
científica do fim de século XIX e do virar do século XX, como Marcellin Berthelot,
considerável na altura da sua edição, mas será muito mais importante anos mais tarde,
sucessivas reedições nos anos 60, 70 e 80, altura em que começam a surgir as obras de
(1964), L’Alchimie et son livre muet, Mutus Liber (1967), L’Alchinmie expliquée sur ses
textes classiques (1972), Trois anciens traités d’Alchimie (1975), Deux logis alchimistes
119 Ibidem.
120 Patrick Rivière dá conta no seu livro Fulcanelli, Paris, Éd. De Vecchi, 2000, das relações deste
universo científico com a alquimia, e talvez o próprio Fulcanelli, de que falaremos a seguir.
121 Fulcanelli, Le mystère des cathédrales, Paris, Jean-Jacques Pauvert, 1964 (réed. 3e éd. Augmentée,
Paris, Jean Schemit, 1925). 1ª. Ed. Portuguesa, Lisboa, Edições 70, 1973.
122 Fulcanelli, Les demeures philosophales, 2 tomes, Paris, Jean-Jacques Pauvert, 1964 (reed. 3e. éd.
Augmentée, Paris, Jean Schemit, 1930). 1ª. Ed. Portuguesa, Lisboa, Edições 70, 1977.
123 Ver, por exemplo, o balanço de Geneviève Dubois, Fulcanelli dévoilé, Paris, Dervy, 1992.
124 Ver Frédéric Courjeaud, Fulcanelli, une identité révélée, Paris, Claire Vigne, 1996.
125 André VanderBroek, Al-Kemi, a Memoir – Hermetic, Occult, Political, and Private Aspects of R.A.
Schwaller de Lubicz, N.Y., USA, Lindisfarne Press, 1987.
89
L’Alchimie expliquée... -, destaque-se o grande impacto sobre os alquimistas operativos
século XX, o alemão Alexandre von Bernus (1880-1965), influenciado pela alquimia e
pseudónimo foi Frater Albertus (+ 1984), o “alquimista das Montanhas Rochosas” - será
a Paracelsus Research Society, com sede em Salt Lake City, EUA. Também, mas já nos
anos 70, o espagirista Armand Barbault terá muita influência com o seu livro L’or du
Para se ter uma ideia do impacto e da aceitação dos livros de alquimia em França
126 Editado por Guy Trédaniel/Éditions de la maisnie, Paris, que editou nos anos 70, obras dos discípulos
de Canseliet, Guy Béatrice e Sévérin Batfroi.
127 Réed., Paris, J’ai Lu, 1970.
90
Nature/CHRCHM, de Patrick Rivière (final dos anos 80). Destes grupos falaremos
adiante no Capítulo IV, já que se trata do tema principal desta Tese e do seu objecto de
estudo.
É verdade, certo e sem nenhuma dúvida. Tudo o que está em baixo é como o
que está em cima e o que está em cima é como o que está em baixo, para realizar os
milagres de uma só coisa. Da mesma maneira que todas as coisas procedem dum
Único, do mesmo modo, por adaptação, elas nasceram dessa coisa única. O seu pai é
o Sol e a sua mãe a Lua. O vento trouxe-o no seu ventre e a Terra é a sua ama. (o
Único) É o pai de todos os milagres do mundo. O seu poder é perfeito, se ela (essa
suavemente e com grande prudência. Ele eleva-se da terra ao céu e torna a descer
sobre a terra, recebendo assim a potência das realidades superiores e inferiores Deste
a potência das potências, que estende a sua vitória sobre todas as coisas subtis e
penetra todas as coisas sólidas. Assim foi criado o microcosmo, segundo o modelo do
91
sou chamado de Hermes Trismegisto, pois eu possuo as três partes da sabedoria do
criação. Este mito alquímico fundador – que lembra outros mitos familiares à
Antropologia, como o dos Dogon estudado por Griaule 129- vai repercutir-se ao longo da
Baseada num claro “dualismo sexual”, como refere Serge Hutin130 - ver
também e sobretudo os capítulos “Le monder sexualisé” e “Terra mater. Petra genitrix”,
Jung na sua célebre obra Psicologia e Alquimia132, tendo Bachelard feito algo
128 Traduzido do latim por Titus Buerckhardt nasua obra Alchimie, Olten, Walter Verlag, 1960, pp. 198-
199, citado por Françoise Bonardel, L’Hermétisme, Paris, P.U.F., 1985, p. 13. A tradução é nossa.
129 Griaule, Marcel, Dieu d’eau, Paris, Fayard, 1966
130 Serge Hutin, L’Alchimie, Paris, P.U.F., 1995, pp. 31-32.
131 Op. Cit., p. 32.
132 Carl Gustav Jung, Psychologie et alchimie, Paris, Buchet-Chastel & Correa, 1970.
133 Gaston Bachelard, Psychanalyse du feu, Paris, Gallimard, reed., 1962.
92
Sistematizemos, então os conceitos - que não designam corpos (elementos ou
substâncias) químicos, entenda-se, mas que designam qualidades - nos quais assenta a
teoria alquímica:
- Dimensão estática:
- três “princípios”: Enxofre, Mercúrio e Sal; este terceiro princípio, mediador entre os
dois primeiros – e por vezes simbolizado pelo Bispo que casa o Rei e a Raínha -,
embora implícito desde cedo, foi explicitado por Roger Bacon, Basílio Valentim e
Paracelso134.
- “quinta essência”, para fazer correspondência com o Sal, por vezes denomina-se um
alquímico.
- Dimensão dinâmica:
93
- em três momentos: Obra ao Negro (Nigredo) – a morte sacrificial da matéria - » Obra
da nova matéria, ressurgida, renascida -, isto é, as três cores da Grande Obra alquímica.
Uma vez mais a binaridade e a ternaridade, desta vez não na dimensão estática,
valores bem fixos – a da vida e da morte, por exemplo – mesmo se os símbolos que os
e tendo ele por “função tratar e resolver algumas grandes contradições com as
135 Lucien Scubla, Lire Lévi-Strauss, Paris, Éditions Odile Jacob, 1998, p. 69.
136 Claude Lévi-Strauss, Anthropologie structurale, Paris, Plon, 1958, p. 254.
137 Lucien Scubla, op. cit., pp. 30, 32-34 e 38.
94
Continuemos à abordagem estrutural do simbólico em alquimia, a qual é muito
importante para entender melhor como é feita, no seu seio, a articulação entre o “dois” e
Mary Douglas e Vitor Turner). Lucien Scubla – num importante livro onde deu conta,
canónica do mito” -, constatou que, como dissemos, para o autor de La Pensée Sauvage,
un mythe est un opérateur logique pour résoudre une contradiction, resolução que é
verificam-se introduções de um ou mais, mediadores simbólicos, A’, A’’, B’, B’’, etc.,
“fórmula canónica do mito” (cujo estudo não tem aqui lugar) - quaternária na sua
essência mas com uma assimetria que conduz ao ternário -, mas antes tem, desde logo,
uma expressão assumida no seu “triângulo culinário”, obtido a partir de uma dupla
binaridade. O antropólogo inglês Edmund Leach, no seu livro sobre Lévi-Strauss, expõe
Crut et le Cuit:
95
Cultura «-------------------» Natureza
Normal Cru
Cozido Podre
Transformado
Alquimia. Como afirma Leach, «a tese estruturalista é que triângulos deste género,
apreendidos pelos cérebros humanos, têm uma aplicação muito geral…» (op. cit. p. 26),
p. 36).
Mythologiques (Lévi-Strauss, 1964, 1966, 1968 e 1971), Lévi-Stauss (E. Leach, 1970),
Anthropologie et calcul (P. Maranda e outros, 1971), Structural models in folklore (P. e
138 E também, noutro registo, pelo autor de Steps to an accology of mind, Gregory Bateson
96
Moles, etc., 1974), entre outros -, e que retomou novo alento a partir dos anos 80, com
matemático Jean Petitot (e discípulo do criador da teoria das catástrofes, René Thom),
(in L’Homme, 135, 1995). Recentemente surgiram dois importantes livros sobre este
semio-linguística.
hermeneuticas que ele classifica de “redutoras” e que resultam duma perspectiva assente
na sua lógica binária (a qual é, apesar de tudo, uma parte apenas, ou mesmo o ponto de
partida, da sua teoria), não deixa de pôr em evidência o aspecto extremamente positivo
contrário de todo o eurocentrismo, que os homens sempre Pensaram assim tão bem e
precioso” (5).
97
Discipulo de Gaston Bachelard – o qual nos seus estudos sobre o imaginário
adopta jà o binarismo dos dois regimes, nocturno e diurno – e influenciado pelas ideias
o seu quaternarismo, que no fundo não passa de um duplo binarismo) –, Gilbert Durand
procede como o seu Mestre a uma recuperação corajosa de certas correntes esotéricas
Espírito Antropológico – que não tem a ver com a Antropologia etnológica, entenda-se,
Zurich, que o imaginário humano é uma produção humana e não uma teofania – como
defende Mircea Eliade. Com efeito, como escreve P. Géay, se para Durand – na linha de
o arquétipo para ele “a verdadeira matriz das ideias, enquanto que ligação entre o
Como escreve Antoine Faivre, Durand “vai mais longe” que Jung e Bachelard,
susceptível de dar conta das diversas formas de actividade do nosso espírito, sendo a
racional apenas uma dentre outras”(8). Como nos diz G. Durand, « é o imaginário que é
98
o primeiro, e a racionalidade é apenas uma sua modalidade» (9). Com efeito, como
Nós voltaremos a este mediador “regime nocturno sintético”, mas por agora é o
sociólogo Patrick Tacussel – não residirá no facto de, para o autor da Imagination
lógica ternária, uma lógica mediadora que liga a luz e a sombra, a racionalidade e
uma lógica “racional” interna – embora, face à ciência e ao senso comum moderno, ela
Este Novo Espírito Antropológico – que não é “etnológico”, mas sim “literário”
99
diairrética, associada ao regime diurno, e as outras duas associadas ao regime
quadro:
no regime nocturno, cabendo a outra no regime diurno. Além disso, ela põe em
pensamento humano, a sua parte diurna, mas que existem outras formas de
de arte” (F. Bonardel, op. cit.,p. 119) , constituindo não uma actividade irracional mas
100
quadro – na sua “figuração” esquemática - da “classificação isotópica”, Gilbert Durand
opta por uma distribuição assimétrica de três estruturas por dois regimes.
«negativamente», numa ambivalência que a faz tender para a sua regeneração ou para a
sua morte; como as duas instâncias são elas próprias colocadas em «tensão»
estrutura dinâmica com cinco termos, composta por quatro polos (a estrutura
A+ (vida) B+ (vida)
A- (morte) B- (morte)
101
da teoria de Durand das estruturas antropológicas do imaginário. Considerando mais
atentamente o esquema de Thomas, podemos ver que a “tensão” entre as duas instâncias
pares diagonais são exclusivos, “puros” – e que contempla uma lógica diurna da não
isotópica das imagens de Durand, podemos obter as três estruturas (em triângulo)
Diurno Heróica
Regime
Estruturas
polarização – homóloga desta - claro-escuro e dia-noite (vide Quadro). Vê-se assim que
102
influenciada pelo desenvolvimento clássico das três fases da Obra Alquímica ocidental
que tanto interessaram o seu mestre Jung: a Obra ao negro (nigredo), a Obra ao branco
Quaternário taoista, constituído pelos diagramas chineses(18) “yin – yin” (velho yin,
Inverno), “yin – yang” (jóvem yin, Outono), “yang – yin” (jóvem yang, Primavera),
“yang-yang” (velho yang, Verão), podemos ver (tableau C) – que a “tensão” entre as
exclusivos, “puros” – o que tem a ver com uma lógica “diurna” da não-
contradição;
contradição.
sobre o taoismo alquímico: “…este Dois não pode subsistir, pois nem o Yin nem o Yang
podem permanecer isolados e puros, repetem sem descanso os alquimistas, sob pena de
tornarem-se estéreis. Eles cruzam-se pois, e unem-se para dar origem (nascimento) a
dois compostos (…) cada um contendo (…) a marca significativa do outro” (19).
103
2 - a mediação é fonte de criatividade, pois, ao contrário, os pares “puros” são
“estéreis”.
“noite clara” e a “noite escura”), sendo o dia incapaz desta plasticidade: não existe
(rubedo)
sortant par soi-même des ténèbres (A luz saindo por si própria das trevas). Então não
há lugar, na teoria optimista de Durand, para a morte, para o “crepúsculo” – ele que,
104
dimensão nocturna do espírito humano e ao seu carácter contraditório (tão presente no
hermetismo e na alquimia que tanto o interessam), Durand afirma o triunfo da Luz sobre
certo maniqueismo, num universo onde o racismo cultural está ausente e onde a luz
convive com as trevas, a lógica binária com outras lógicas (a ternária, em particular) e a
de raíz xamânica.
vidro, que têm ambos, saliente-se, uma forma análoga (embora mais o segundo do que o
primeiro) ao útero. Uma vez mais a analogia com a sexualidade e a fecundação dela
decorrente, já que a Obra alquímica é por vezes descrita em termos de Casamento das
duas naturezas, das suas Bodas – As Bodas Químicas (ou alquímicas) de Christian
começo do século XVII, atribuído a João Valentim Andrea. Quer no forno, quer no
matraz (ou balão) – consoante se siga a “via seca”, onde os metais e minerais, são
fundidos no formo, ou a “via húmida”, com minerais, metais ou plantas, nos balões ou
demanda, mixto de técnica, de arte e de inspiração, pode ser mineral, metálica ou,
mercúrio), ou com os sulfatos de ferro, ou com o ouro e a prata (partem do ouro para
atingir o “Ouro dos filósofos”...). A estas matérias juntam-se sais que, entre outras
“húmido radical”, o “mercúrio” (que nada tem a ver com o Mercúrio princípio, nem
com o mercúrio comum, metálico), que está presente em todos os metais (em uns, mais
do que noutros) e que é preciso “cozer”, “assar”, fermentar”, através de não menos
divina”, a semente do espírito”, que tem uma clara origem gnóstico-hermética, como
vimos anteriormente.
Esta teoria e estes conceitos, que figuram nos antigos o modernos tratados, são
descrevem as sua operações – conforme pude comprovar neste estudo. Por exemplo, o
adiante referirei -, cita o clássico Filaleto, numa passagem, mixto de técnica alquímica e
106
A substância que tomamos primeiro é um mineral familiar ao mercúrio que coze
na terra um um enxofre cru; vil à vista mas glorioso internamente, o filho de Saturno,
A dimensão simbólica e poética dos textos alquímicos, faz com que ela se
lidar com materiais comuns, a estibina, o cinábrio, etc., mas ele não os descreve e sente
como tais, pois eles são em algum momento da Obra, o “dragão venenoso”, a serpente”,
o “lobo”, o “leão”, a “águia”, as “pombas (de Diana)”. Mais alguns exemplos – agora
seu corpus, tratado da autoria de Anselmo Caetano de Abreu Gusmão e Castelo Branco,
masculino, ficando ilesa a glória da sua virgindade, com as faces tintas de roxo;
ajuntai-a com o segundo sujeito masculino, sem suspeita, nem perigo de adultério; e
por fim parirá um venerável fruto de ambos os sexos, do qual sairá uma imortal
prosápia de poderosíssimos Reis. (...) Ajuntai pois a Águia com o Leão, e escondei-os
139Citado por Rubellus Petriunus, in A Grande Obra Alquímica de Ireneu Filaleto, Nicolau Flamel e
Basílio Valentm, Lisboa, Hugin, 1997, p. 26.
107
no seu cláustro diáfano, com a porta bem tapada, para que não saia por ela a sua
muito negro, este perdendo paulatinamente as penas, principiará a voar e com o seu
voo remontará tanto que sacudirá sobre si mesmo água das nuvens, até que, ficando
molhada, dispa de boa vontade as asas e descendo por falta delas, se convertam num
sua tradição, fazendo a síntese do grande corpus alquímico até aos começos do século
simbólica, mesmo que esta veicule uma técnica. Para alguns alquimistas esta dimensão
140 ENNOEA, ou Aplicação do Entendimento da Pedra Filosofal, Lisboa Ocidental, 1733, reeditado em
1987, pela Fundação Gulbenkian com introdução de IvetteK. Centeno e também numa edição de MM,
Mafra, com prefácio de Manuel J, Gandra.
141 Op. cit., pp. 39 e 40 da Parte Segunda da edição original.
142 Unberto Eco, Os limites da interpretação, Lisboa, Difel, 1992 (trad. do original I limiti
dell’interpretacioni, 1990), p. 79 e seguintes – O Discurso alquímico e o segredo diferido.
108
procura realmente produzir ouro, e representou um modo, embora ingénuo e pré-
transformações, escreve Eco143 - enquanto que a segunda, segundo ele, se move a nível
Este filão simbólico seria místico, esotérico e hermético e não teria nenhum valor
espiritual146.
poderemos seguir no que diz respeito à distinção radical entre as duas alquimias, pois a
sua nomenclatura leva a pensar que a alquimia operativa está isenta de símbolos e a
como o exemplar ENNOEA. Também não poderemos acompanhar Eco no que concerne
Apesar de este autor salientar – muito acertadamente, ele que, no entanto, não é
que o momento operativo e o momento simbólico andaram sempre a par e passo, ele
quer, no entanto, dizer apenas com isso que eles coexistiram historicamente, não
admitindo Eco que esses dois “momentos” estivessem presentes, ao longo da história da
109
Arte de Hermes, num mesmo alquimista, a não ser, como ele refere, excepcionalmente,
sustentar que todos os autores alquímicos de antanho tenham visado uma prática
claro numa certa alquimia do século XVII e XVIII, que, segundo Betty Dobbs, estava
Dobbs, não são mutuamente exclusivos: a alquimia racionalizada dos séculos XVII e
estão presentes, como veremos, quer um discurso racional quer um simbolismo onírico.
pelo adepto relativa às condições espirituais prévias à Obra. O que acontece é que essas
indicações podem constituir , por parte do alquimista, apenas sinais de temência a Deus,
paciência, essenciais a um trabalho tão longo, não constituindo por si sós, provas do
carácter vincadamente místico da obra – o que não quer dizer que esse carácter esteja
- que Umberto Eco se interessa, para dissertar sobre a semiose hermética desse discurso polissémico de
sinonimia total, do remoinho metalinguistico sobre o qual assenta o discurso alquímico.
147 op. cit., p. 81
148 Betty Dobbs, Les Fondements de l’alchimie de Newton, Paris, Trédaniel, 1981, p. 87
110
necessariamente ausente. O caso do ENNOEA parece não constituir excepção, mesmo
De facto, na Parte Segunda desta exemplar obra, diz o autor que só aos Adeptos,
que são, e forem, perfeitos, e justos concederá Deus esta grande ciência; porque a
sabedoria não entra no entendimento dos homens maus, nem preservera no corpo dos
pecadores150. Por isso mesmo, Deus remunera esses homens – sejam eles cristãos, ou
pois se eles não tiveram estas virtudes, não os remuneraria Deus com estes prémios152.
segundo ele, Há-de ser homem de claro entendimento, profundo juízo, subtil discurso,
grande compreensão, e bom engenho; e porque isto só não basta, deve ser também
à prática com o bom engenho. Além de todas estas qualidades há de ter indústria,
149 Anselmo Caetano Munhoz de Abreu Gusmão e Castelo Branco, ENNOEA ou Aplicação do
Entendimento sobre a Pedra Filosofal,seguida de outras obras, Nota preambular de Manuel J. Gandra,
Mafra, 1987, Segunda parte, Diálogo segundo, cap. Únic. # 2, p. 29
150 opp. Cit., p. 9
151 ibid.; a actualização da ortografia é nossa (mantivemos a pontuação).
152 ibid. (idem)
111
coisa devem os Adeptos ser mais acautelados, do que em ocultarem os segredos com
que obram153.
razões iniciáticas ou místicas – tais como as que são explicitadas hoje pelos cultores da
razões que têm a ver com a dificuldade das operações - a razão deste misterioso
segredo é, porque as operações da Arte Magna são muito dificultosas, e não podem os
homens explicar-se com palavras, quando as coisas são muito difíceis154 - e outras que
têm a ver com questões de preservação do segredo por motivo de segurança de todos –
para que ficando estas operações duvidosas, não sejam inquiridas, nem averiguadas
por homens ignorantes, e malignos, que executem com elas grandes maldades (…) para
satisfazer os danos, que causariam ao Mundo todos aqueles Tiranos, e Poderosos, que
aqui, Anselmo Caetano invoca uma razão utilitária (e não iniciática) para a utilização do
simbolismo: o afastamento dos (perigosos) ignorantes. No entanto, ele refere ainda uma
razão última para a manutenção do segredo – mesmo para os que têm condições para
encetar a Obra – e que consiste na exigência do esforço individual nesta via operativa.
112
Mas para aqueles que, hoje, verão facilmente aqui uma indicação de tipo iniciático, o
grande apreço a sua Obra: Bem sabeis, que vos não posso revelar a matéria da Pedra
Filosofal, senão em segredo; e para o segurar mais, quero que vos custe algum
trabalho, porque os homens não estimam senão aquilo, que pelo seu trabalho
adquiram157.
Natureza. Diz Anselmo Caetano: (…) a Arte Magna para fazer a Crisopeia deve imitar
nas suas operações a Natureza158. Uns verão, nesta asserção uma indicação de cariz
alquímica, que tem um forte registo de transformação dessa mesma Natureza – longe
portanto de uma atitude passiva e submissa. Mas não será legítimo ver nela apenas uma
estratégia operativa eficaz para levar a bom terno a Obra Grande? Cremos que sim.
Para terminar esta breve introdução ao carácter iniciático (ou ao carácter não
psicanalista como Bachelard terá uma conotação evidentemente sexual, mas que para
andrógino filosofal, assim como, para um cultor da chamada alquimia interna, será uma
organismo humano, as quais são utilizadas nesse tipo de alquimia): na geração dos
113
com que concorre o sexo feminino para a geração do feto, as quais ambas juntas
formam no útero um só, e perfeito corpo. E daqui se segue que esta matéria é uma só
coisa159. Mas não constituirá apenas esta descrição uma alegoria biológica da união
Interessa agora ver que tipo de discurso realiza Anselmo Caetano, ao tratar Da
matéria com que os Herméticos fazem a Pedra Filosofal (ou a matéria com que os
questionado por Enódio? No que diz respeito à discussão da verdadeira matéria de que
o Lapis se forma – a primeira coisa que deveis conhecer, e averiguar, diz Enodato -, o
Raimundo Lúlio - e os animais – como o espírito de urina -, pois como diz Enodato,
ainda que estes menstruos têm o seu uso na Química, na Alquimia eles não têm nenhum
primeira matéria de que foi formado, separando os princípios do metal mais fixo e mais
114
perfeito161. Refira-se que esta distinção entre Química e Alquimia, apenas subalterniza
a primeira face à segunda, mas não exclui o trabalho químico da Obra alquímica, já que
Química162, embora afirme que mais se aprendia nos bosques do que nos livros,
sobretudo naqueles livros onde se acha muita ignorância do homem163 - uma vez que
será preciso estudo, experiência e paciência(…) para ler tantos autores, a fim de
ambos, segundo ele, totalmente imprórios e inúteis. Postos de lado os minerais, falta
nenhum modo podereis tirar dele a matéria da nossa Obra167 - os quais são também
rejeitados, pois Todas essas matérias, ou Minerais, são impróprios por serem sujeitos à
corrupção, introduzida nelas pela actividade do fogo168. Mas, por outro lado, também o
Ouro, e a Prata, que no seu centro é Ouro169, não são próprios para a Obra, pois o
115
Ouro tem uma natural e fortíssima composição, e não sofre nenhuma calcinação, por
não ter Enxofre combustível, como têm os outros metais170. Ou seja, enquanto que uns
são rejeitados por serem demasiado vulneráveis ao fogo, o Ouro é rejeitado, pelo
perfeita.
demonstrar não só o que afirmou anteriormente, mas também para justificar outras
posteriroes escolhas para a matéria do Lapis. Diz ele pela boca de Enódio – que
a matéria, que buscamos, é o cálido inato, e o húmido radical dos Metai s172, ou pela
boca de Enodato: a matéria do Lapis não se tira de toda a substância metálica, senão
Porque, quer o cálido inato, quer o húmido radical dos metais, são incorruptíveis e
Enódio refere que Todos os Adeptos confessam que esta matéria se acha, ou se
tira de coisas vis, ou de pouca estimação, e Enodato confirma que temos muitos
116
sujeitos de que tirar a Pedra Filosofal177. Então, para além dos já rejeitados, a matéria
vil – comparando-a com o valor, que depois adquire por benefício da Arte Magna178 -
também não se pode tirar do Chumbo e do Estanho , por serem Metais impurissimos, e
imundos na sua raiz, ou no princípio da sua criação; porque é tão impura a sua
e o Mercúrio, pois deles se pode tirar mais facilmente a Matéria da Pedra Filosofal,
sobretudo no Mercúrio – como diz Geber sobre este assunto, o autor que Anselmo
Caetano mais cita, aqui e em outras partes do ENNOEA. A razão reside no facto de,
embora diversos na sua forma acidental, ou aparente, eles serem, na substância radical
(…) essencialmente o mesmo sujeito metálico180. Por esse motivo, aconselhado por
Enodato, Enódio afirma estar resolvido a trabalhar no Azougue, pedindo-lhe, agora, que
Enodato avisa logo que Nenhum Filósofo explica claramente ess preparação,
porque não é lícito falar nesta matéria com muita clareza182. Contudo ele menciona,
logo no começo da sua discussão, que é necessário efectuar sobre o Mercúrio, uma
separação no corpo do Mercúrio para dele tirar a matéria da Pedra Filosofal, uma vez
177 ibid.; o que dá aso a Anselmo Caetano, pela boca de Enodato, a fazer uma bem humorada dissertação
sobre as (más) qualidades dos Esvrivães, dos Requerentes, das Sogras, dos lisonjeiros,dos Fidalgos e de
outros muitos…
178 op. cit., p. 25
179 ibid.
180 op. cit., p. 26
181 op. cit., p. 27
182 ibid.
117
que o Azougue, ficou tão infeccionado pelo pecado original mineral, que se ocultam
nele duas imundices, uma de natureza terrestre e outra de natureza líquida. No entanto,
como essa lepra,que mancha o corpo do Mercúrio, não procede da sua raíz, nem se
identifica com a sua substância, (…) sñ acidentalmente se une com ele, e facilmente se
pode separar pela Arte183. Assim, separa-se a terra, por banho húmido, e pela
ensaboadura da Natureza, enquanto que a água se separa por meio de um banho seco e
calor benigno, de tal modo que, com três lavações e purgas se renova o Dragão,
laveures de Nicolas Flamel185 , o que, eventualmente, apontaria para uma via com
Mercúrio e Antimónio186 (que seria animado pelo Mercúrio, através das Pombas de
Sol, em que se utiliza Mercúrio e Ouro (ou Prata); há quem refira, também, uma “obra
só com Mercúrio”189.
alegorias e dos símbolos passa a ser dominante, se não mesmo exclusivo. Estamos, pois,
183 ibid.
184 op. cit., p. 28
185 cf. Le Livre des Laveures, in Les Oeuvres de Nicolas Flamel, Paris, Pierre Belfond, 1973
186 Note-se que os antigos denominavam o nosso Antimónio metálico, de Régulo de Antimónio, sendo a
nossa Estibina (Sulfureto de Antimónio) denominada de Antimónio, ou Estíbio – que não era útil para a
Obra Grande (como afirma Anselmo Caetano), mas sim o Régulo….
187 Op. cit., Cap. V
188 Rubellus Petrinus, A Grande Obra Alquímica, Lisboa, Hugin, 1997, em particular a primeira parte.
189 Manuel Algora Corbi, La Tabla Redonda de los Alquimistas, Luís Caárcamo, Madrid, 1980, pp. 183-
195
118
aqui na senda do discurso simbólico de que nos fala H. Eco, mas que aqui coexiste, num
mesmo autor e numa mesma obra, contrariamente ao que ele afirma, aceitando apenas
- Ainda que esta matéria não entra na Obra, serve de meio para alcançar, e
elementos191;
universal192.
ENNOEA, pelo que apenas veremos, por alto, a estrutura da sua Obra Grande. Mas é
total com a tradição alquímica -, o qual será uma substância puríssima, penetrantíssima,
(…) impalpável, invisível e imperceptível (…) que desce do Céu empíreo para os
os, se faz corporal, constituindo assim o Sal, que é a primeira matéria de todo o
contendo os três princípios, que são a mesma substância radical: o enxofre, ou fogo
190 op. cit., p. 33; registe-se o que nos parece uma evidente alusão ao tratado de Filaleto, A Entrada
Aberta no Palácio Fechado do Rei – cf. L’Entrée Ouverte au Palais du Roi, Paris, Retz, 1976.
191 ibid.
119
natural, o mercúrio, ou húmido natural e o sal, ou seco radical , que liga os outros
dois. 193
do Lapis, depois do seu nascimento (isto é, quando o cálido e o húmido, estão unidos
perlo seco). Os sucessivos nomes que (ela, matéria, ou ele, mercúrio) vai tomar – o
Mercúrio, o Enxofre, etc. – são estados da matéria, que resultam dos graus de calor
Então, Quando pela força do fogo se destila a humidade radical, juntamente com ela se
destila o seu natural calor que tem cor de Ouro (…) o Ouro Filosófico – denominado
hermético do Leão com a Águia, o qual introduz aquilo que vai ser discutido no
192 ibid.; Manuel Algora Corbi (op. cit.), refere as Vias do Espírito Universal, assentes (quase) apenas no
Antimónio, o que parece não ser o caso da via de Anselmo Caetano, centrada no Mercúrio, ou Azougue.
193 Op. cit., pp.34-36
194 op. cit., pp. 37-38
120
Tomai a Virgem com asas, lavada, limpa, e prenha da Seminal, e espiritual
diáfano, com a porta muito bem tapada, para que não saia por ela a sua
tanto, que sacudirá sobre si mesmo água das núvens, até que ficando molhado
Sem pretender fazer a exegese completa deste texto exemplar – parecido, aliás, a
mercúrio –, a qual necessitaria de ser vista também à luz daquilo que Anselmo
Caetano escreve adiante, quando refere os graus de digestão, parece-nos não ser de
excluir a hipótese de que a Virgem com asas, seja o Mercúrio, ou Azougue o qual ao
sublimar-se, voa – o que segundo Filaleto é uma Águia -, podendo transportar com
121
ele um Ouro, intrínseco (a sua semente radical) ou extrínseco (o Ouro “vulgar”).
Herméticas, expõe Anselmo Caetano a Obra alquímica que propõe e segue. Desde
macho e da fêmea, que conduz ao corvo negro; c) separação dos quatro elementos
Tenebroso abismo).
2º.) – Lavação: faz do Corvo Negro, um Cisne Branco, de Saturno, faz nascer
122
2º. Meio ou sinal demonstrativo - cor Branca (o Cisne): - onde se dá a perfeição do
Corresponde ainda à 2ª. Digestão, onde o Espírito do Senhor anda sobre as águas
(começa a fazer-se luz, separando as águas das águas); renova-se o Sol e a Lua,
corpos, os Corvos negros dão origem às Pombas brancas. O espírito ígneo que desce
- diz ele, também, que é necessário obrar com grande advertência, para que se
faça a separação das águas com o peso, e medida, de sorte que as águas que
123
cabelos dourados do Sol - e a cor Vermelha escura (o Enxofre so Sol, Esperma
masculino, Fogo da Pedra, Coroa Régia, Filho do Sol) – que se tira da Branca, pelo
fogo.
4º.) – Fixação: fixa um e outro enxofre – 3º) meio material, que marca o fim
da primeira Obra -, sobre o seu corpo fixo, mediante o espírito; isto é feito, cozendo
amargas)
Este último meio operativo – que marca o fim da primeiro trabalho da Obra
penetrando e tingindo, de tal modo que gera o Elixir, e depois exalta-o 196. Na
verdade, a Pedra exalta-se por graus – até chegar à sua última perfeição -, com
O autor de ENNOEA, comenta a Obra que acaba de expôr, em linhas gerais, com as
- toda a fabrica da Obra Filosófica não é outra coisa mais que dissolver e
passa a ser fixa, do mesmo modo que a fixa tinha passado a ser volátil.197
124
- A produção da Pedra dos Filósofos é como a criação do mundo, porque é
necessário que tenha o seu caos, e a sua matéria prima, em que nadem
confusos os elementos, até que separados pelo espírito ígneo, e que seja
elevada a parte leve desta separação para cima, e a grave seja precipitada
sua mesma natureza (…), que é o Mercúrio Filosófico; porém quem não o
tiver, não poderá colher o fruto desta Árvore da vida, ainda que saiba
conhecê-la200.
125
- Quase que não há maior segredo em toda a praxe da obra, que o certo e
Filosófico.202
Eelementos, o Fogo Filosófico, Enódio pede a Enodato que lhe faça uma breve
relação da aplicação destas coisas, ao que ele anui, noutra descrição – uma
nenhuma força. Depois escolhei sete ou nove Águias generosas, cuja vista se não
ofenda com os raios do sol. Lançai as Aves com a Fera em um cárcere claro, e
fortemente fechado, debaixo do qual poreis um vapor tépido, para que se acenda a
peleja. Em breve tempo se cometerão com dilatada e obstinada batalha, etá que
(…)
papel central que a imaginação criadora teria nesse processo místico de transformação
o do Rosário dos Filósofos (obra de alquimia operativa que surgiu na Idade Média e no
Vilanova), podemos ler: A Natureza efectua a sua operação pouco a pouco. E quero
natureza. E deves ver segundo a natureza, graças à qual os corpos são regenerados
203 El Rosario de los Filósofos, Barcelona, Munoz, Moya e Montraveta eds., 1986, p. 31 (a tradução é
nossa).
204 citado por Alexandre Koyré, in Mystiques, Spirituels, Alchimistes du XVIe. Siècle allemand, Paris,
Gallimard, 1971, p. 97 (a tradução é nossa).
127
Alexandre Koyré, fundamento na natureza e sendo apenas puramente intelectual, onde
as imagens flutuam no nosso espírito sem ligação profunda entre elas e entre elas e nós
como refere Yvette Centeno no seu prefácio ao ENNOEA 207 -expressa sob a forma
Caetano de Castelo Branco, com o seu Sonho Enigmático, descrição simbólica, onírica,
todos os enigmas com que os Adeptos explicaram a maior obra, que a Natureza produz
sonhar, que estava embarcado, e dava logo à vela, navegando com bonança, pelas
inquietas ondas do Oceano. Como não descobria mais que Mar, e Céu, desejava
Tendo chegado à Cidade Morgana, ele vislumbra depois um vale, que ficava
entre dois montes muito altos e um admirável e delicioso bosque, onde as cores dos
cuja ocupação era ensinar ignorantes Peregrinos (como ele) e, que de um modo
128
enigmático e alegórico lhe ensina os Mistérios da Arte que conduzem ao talo precioso –
sejam estados de alma (como quer Jung), eles podem conduzir a uma transformação
Operações da Arte;
129
matéria, próxima do conceito totémico de mana o qual, segundo Durkheim é “uma
espécie” de force anonyme et impersonnelle qui se trouve dans chacun de ces êtres
(animaux, hommes, images), sans pourtant se confondre avec aucun d’eux. Nul ne la
influir sobre essa evolução, dando-se, assim, uma convergência entre as forças
manière tout empirique dans une action efficace...209. Essa acção eficaz da “força” que
o alquimista vai adquirir ao longo do seu caminho iniciático, fruto do seu “contacto
íntimo com a matéria”, é decisiva para a operação alquímica, já que é afirmado que ele
não tiver essa “força”, tal como a matéria (“fogo secreto”, etc,.), não haverá
transmutação.
uma realidade física, para além da simbólica. De facto, algo se passa no laboratório do
Obra “ - em termos de Química e de Metalurgia. Mas muito mais se passa, como vimos,
presente no rito alquímico – e assente no mito alquímico – transborda nas fases mais
130
IV - O RENASCER DA FÉNIX: O RESSURGIMENTO DA ALQUIMIA EM
restrito que estudaremos no Capítulo seguinte, já que sâo próprias dos diversos grupos
alquímicos estudados -, quer seja a reedição de tratados clássicos quer seja a edição de
livros de uma determinada área é porque há quem os compre. Aliás, era frequente de
1975 a 2000, encontrarmos estes livros à venda não apenas em livrarias esotéricas, mas
também noutras generalistas e de grande consumo, como a FNAC. Saber se esses livros
– de difícil leitura, diga-se – são para serem lidos, ou para serem exibidos numa estante
da sala de visitas lá de casa, isso é uma questão importante de que falaremos adiante e
que tem a ver com o simbólico. Possuir esses livros é dominar aparentemente um
assunto “retro” e “outro”, que escapa ao entendimento dos outros, é colocar-se fora do
conhecimento comum da ciência e da técnica, talvez mesmo acima dele, é isso que se
pretende sugerir. No entanto, para além disso, existe um fenómeno social interessante –
homens e mulheres dos nossos dias, com habilitações literárias por vezes superiores e
208 Émile Durkheim, Les Formes élémentaires de la vie religieuse (1912), Paris, PUF, 1968, pp. 268-270.
131
Como referiu a antropóloga T.M. Luhrmann no seu já citado Persuasions of the
outrora e do mundo primitivo. Muitos (a maior parte) dos leitores destas publicações
O que é que retiraram esses leitores de textos que se referem a uma prárica laboratorial,
mas que, de facto, não se esgotam nela? Creio que foi uma filosofia da Natureza,
tiveram expressão espiritual a partir dos anos 70, como referiremos no Capítulo VI,
dedicado aos NMR e às EA. Tratou-se também, dentro desse retorno, de uma moda, de
que tinham a ver com um tema relacionado com o uniderso da Alquimia: uma demanda
209 Claude Rivière, Socio-anthriopologie des religions, Paris, Armand Colin, 1997, p. 31.
132
antigos quer modernos, verdadeiro desafio de hermenêutica assente numa dimensão ao
linguagem simbólica que iria moldar o discurso dos praticantes, os quais pouco
inovavam em relação àquilo que os grandes mestres da Alquimia tinham escrito. Esse
discurso é determinante pois ele coloca a teoria e a prática da Alquimia num universo
medida que o leitor passa do exterior do universo alquímico para o seu interior, mesmo
ternaridades, como vimos no capítulo anterior, pode acentuar esse fascínio, devido à sua
Pouco tempo antes de começar o período que nos interessa neste capítulo (1950
alquímica. Nesse mesmo ano, como refere Atorène211, havia ainda por vender alguns
210 Ver o livro de Bernard Joly, La Rationalité de l’Allchimie au XVIIe. Siècle, Paris, Vrin, 1992
211 Atorène, Le laboratoire alchimque, Guy Trédaniel, 1982
133
exemplares das duas obras de Fulcanelli, mas em 1955, a sua reedição esgotou antes de
sair quando se propôs uma subscrição de 1.000 exemplares, o que revela o interesse
cescente pela alquimia a partir de 1950 – e Canseliet teve um papel importante nesse
Sem pretender ser exaustivo, uma vez que em Anexo indicaremos praticamente
toda a actividade editorial, continuaremos com uma revista dos principais títulos. Em
1947 dá-se a publicação de Qu’est-ce que l’Alchimie, de André Savoret, nas ed. de
Psyché – um pequeno mas interessante ensaio em que a Alquimia é definida não como
sendo uma mística, nem uma química, nem muito menos um yoga ocidental. Em 1948
sai a Anthologie de la poésie hermétique de Claude d’Ygé, nas ed. Montbrun, Paris,
com prefácio de Eugène Canseliet. 2ª. Ed. na Dervy Livres, em 1976). Em 1951 é
de France (P.U.F.), Paris (a 9ª. ed. será publicada em 1995), revelando por um lado o
interesse do grande público cultivado pelo tema, e por outro o interesse de uma editora
Mas a história da Alquimia não se faz apenas com as edições de livros, mas
instalado em Savignies (desde 1946) começa, segundo Atorène212, uma nova cocção –
expliquée..; ele terá revisto nesse ano, em Espanha, o misterioso Fulcanelli – vide a
problemática afirmação que ele faz na entrevista que dá a R. Amadou, em Feu du Soleil.
Todos os anos, até 1956, será publicado um livro sobre alquimia. Em 1953 surge
134
Aspects de l’Alchimie traditionelle, de René Alleau (nas èditions de Minuit, Paris), com
Philosophes Chymiques, de Claude d’Ygé (nas edições Dervy, Paris), com prefácio de
Eugéne Canseliet; uma reimpressão será publicada em 1972. Em 1955, sairá Mystiques,
anuais sobre este tema aumentará consideravelmente; nesse ano sairá Les Douze Clefs
esta obra terá reimpressões em 1972 e 1977. Sairá ainda, em 1956, a importante obra de
Breton (ed. Formes et Reflets, Paris) e sai também o segundo prefácio de E. Canseliet,
para a 2ª. edição da célebre obra de Fulcanelli Le Mystère des Cathédrales (publicado
em 1926, no Jean Schemit ed.), na edições Omnium Littéraire, Paris. Para além do livro
Dante alchimiste de Jacques Breyer, nas edições La Colombe, Paris, sairá nesse mesmo
introdução de René Alleau, nas ed. Caractères, Paris; outra edição sairá mais tarde, em
1985, nas ed. Bailly, com apresentação de Sylvain Matyon. 1958 é um ano singular:
nenhuma obra de alquimia foi publicada, mas, no entanto, sai um dos livros que mais
135
contribuirá para a divulgação do mito alquímico, junto do grande público. Trata-se de
como tendo tido acesso ao segredo das transmutações nucleares, num quadro diferente
esta vertente da Alquimia que, como vimos, é apenas uma parte (discutível) do seu
universo.
Em 1959, é publicado, nas ed. Fayard, Paris, o clássico estudo histórico de John
histórica Les alchimistes de Michel Caron e Serge Hutin, nas Éditions du Seuil, Paris. A
partir de 1960, o número das edições sobre alquimia sobre em flecha (eventual
consequência do livro de Pawels e Bergier). Nesse ano sai a segunda edição de Les
Demeures Philosophales (1ª. Ed. 1930. Jean Schemit ed.), de Fulcanelli, nas edições
ainda Alchimie et Médicine de Alexander von Bernus (trad. da edição alemã de 1948,
por Henri Hunwald), nas Edições Dangles, Paris – de grande interesse prático no
nas edições Chacornac (com reimpressões nas Éditions Traditionelles, em 1971 e 1981)
e Les Sept livres de l’archidoxe magique de Paracelso, Ed. Nicolas Bussière, Paris,
reimp. 1983. Em 1960 dá-se ainda a publicação dos tomos I e II do Corpus Herméticum
136
de Hermes Trismegisto, fix., trad. de A. D. Nock e A.-J. Festugière (1ª. Ed. em 1946,
com reimpressões de 1972 a 1992), nas edições Belles Lettres, Paris; os tomos III e IV
(cujas primeiras edições francesas são de 1954), serão reeditados em 1972 (com
Após dois anos “fracos” – 1962 em que apenas sai a tradução francesa de La
em 1978. Ainda em 1964 sai o terceiro prefácio, de E. Canseliet, para a 3ª. edição de Le
Bernard Husson (no Omnium Littéraire), o livro Deux traités alchimiques du XIXe.
Siècle.
Poisson, nas Éditions Traditionelles. Nesse ano é publicado ainda os Commentaires sur
le Mutus Liber, de Serge Hutin, nas ed. Le Lien, Mazières les Metz, s.d. e também o
importante livro Art et Alchimie de Jacques Van Lennep, nas ed. Meddens,
son livre muet - Mutus Liber (1677), com comentários de E. Canseliet, nas edições J.-J.
137
Pauvert, de Paris (reimpressões em 1974 e em 1986). Em 1975 será publicado Trois
anciens Traités d’Alchimie, com caligrafia de E. Canseliet, por esta mesma editora.
Roger Caro (1911-1992) – que fundará em 1971 uma associação alquímica, Les
Argentières. Deve salientar-se a posição singular de Roger Caro que, sob o pseudónimo
Grand Oeuvre photographié, com fotos a cores das diversas fases da Obra
alquímica.213 Segunda obra de Roger Caro, Pleiade alchimique, editada pelo autor, em
o Rituel FARC avec deux textes alchimiques inédits, ed. aut., como habitualmente em
Saint-Cyr-sur-Mer.
premières/Denoel (reed. “J’ai lu”, 1970). Nesse mesmo ano sai a reedição de Théories et
symboles des alchimistes (1891), de Albert Poisson, nas Éditions Traditionelles; e cujas
cada vez maior, interessado pelo esoterismo, e pela Alquimia. A publicação, nesse ano
dans ses rapports avec l’alchimie et la franc-maçonnerie, de Oswald Wirth, nas Ed.
Dervy-Livres (a 1ª. Ed. tinha sido publicada em 1910, a 2ª. em 1931) revela desta vez
138
aparecem nos rituais da Maçonaria, sejam eles dos primeiros graus (Aprendiz,
au Noir214 que relata o anseio pela descoberta da verdade, o tormento face à Inquisição e
será adaptado ao cinema 20 anos mais tarde e ambos, livro e filme terão um grande eco
1966 com o livro de van Lennep, Art et Alchimie. A publicação em 1976, de Anthologie
Canseliet, nas edições Dervy irá no mesmo sentido. Ainda em 1970 dá-se a reedição de
L’Alchimie et les Alchimistes (1854) de Louis Figuier, na “Bibliotheca Hermetica”,
dirigida por René Alleau desde 1969, na editora Denoel, Paris. Esta importantíssima
colecção reeditou, durante os anos 70, uma profusão de textos clássicos de Alquimia,
como por exemplo, também em 1970, Le livre des figures hiéroglyphiques de Nicolas
Filaleto, em 1971, La Lumière sortant par soi- même des ténèbres (1666) de Marc-
Flamel (com introdução de E. Canseliet), e mais tarde, em 1975, Les 5 livres ou la clef
testament, também de Basile Valentin, já sob a chancela de Retz, Paris. Nesse mesmo
139
1970 dá-se a publicação de La Legenda des F.A.R.C. do atrás citado Roger Caro (ed.
aut., St.-Cyr-sur Mer), que encerra a lenda da fundação da Ordem dos FARC,
atribuindo, por uma questão de prestígio, uma grande antiguidade à mesma e associando
a ela, como seus “grão-mestres”, diversos nomes ilustres; esta estratégia é comum em
várias Ordens iniciáticas (veja-se o caso da AMORC, com a sua ascendência “egípcia”,
Librairie de Médicis), livro que vai influenciar muitos investigadores que já seguiam as
Nesse mesmo ano é publicado um livro que terá grande eco junto de um público
maior, mais popular, Le trésor des alchimistes, de Jacques Sadoul (reed. em 1971, 1972,
1976, 1990), na col. “J’ai lu”, já que divulga os “segredos” dos alquimistas e das suas
“transmutações”. Nessa mesma direcção divulgação, mas de um modo mais rigoroso e
ed. Robert Laffont, Paris, de Alchimie, de Lucien Gérardin, nas ed. Culture, Art,
Loisirs, Paris e de Lumières de l’Alchimie, de Arnold Walstein, nas ed. Mame, Tours
mis largo, continuada em 1973 com a publicação de Le Grand Art des alchimistes, de
140
François Trojani, nas edições La Table d’Émeraude, Paris). Ainda no que diz respeito à
textos de René Alleau, Eugène Canseliet, Claude d’Ygé, etc., editada na Arthaud. No
que diz respeito à grande divulgação (nem sempre rigorosa) da Alquimia junto de um
alchimique, de Serge Hutin, nas éd. Montorgueil, Paris. Em 1994 sai o “best-seller”
L’Alchimiste do brasileiro Paulo Coelho, nas ed. Anne Carrière e em 1996, de Alchimie,
(num nível científico), Qu’est-ce que l’alchimie? do químico Pierre Lazlo, nas éd.
Dom Pernety, nas ed. Arché, Milão, livro que será editado, também, em 1981, pelas ed.
La Table d’Èmeraude, Paris (reimp. 1991). Em 1972 serão também editados Les
verbe de Rimbaud, de Jean Richer (reeditada em 1991, nas ed. Trédaniel) e no domínio
da sua dimensão artística e iconográfica saliente-se a publicação, em 1973, de Alchimie.
Florilège de l’art secret, de Stanislas Klossowski de Rola (trad. ed. inglesa, de 1973),
nas edições Seuil Em 1978 será publicado o livro La pensée alchimique et le conte du
141
Alchimie, de Paul Georges Sansonetti, nas ed. Berg International, Paris (reimpressão em
Paris. De assinalar também em 1990 Toison d’or et alchimie de Antoine Faivre, nas
l’étoile au front de Alexandra Charbonnier, nas ed. Dervy. Saliência ainda para
Françoise Bonardel, em 1994, nas ed. Seuil, Paris e L’Hermétisme alchimique chez
André Breton, de Richard Danier (com prefácio de Patrick Rivière), nas edições
Em 1976 é publicada uma obra citada por Fulcanelli e que diz respeito à
Barthelemy, s.l, s.d., nem menção do editor (reimpressão em 1983, ano em que será
Fulcanelli serão publicados nos anos 80 e 90, como por exemplo, Fulcanelli, une
biographie impossible (1986, ed. Obelisco, Barcelona), de L.M. Martinez Otero, nas éd.
Arista, Plazac e em 1996 Fulcanelli, une identité révélée, de Frédéric Courjeaud, nas
edições Claire Vigne, Paris, e em 1997 e Fulcanelli dévoilé de Geneviève Dubois, nas
ed. Dervy, Paris. Nesta senda serão publicados já em 1997, Fulcanelli et le Cabaret du
Chat Noir, de Richard Khaitzine. Outro tema relacionado com os livros de Fulcanelli e
142
(com prefácio de E. Canseliet), por Retz e Paris et l’alchimie, de Bernard Roger, (éd.
Alta, Paris).
livros sobre ela, foram, para além das já citadas anteriormente, Jean-Jacques Pauvert
que reeditou os livros de Fulcanelli e de Canseliet - publicação em 1978 da segunda
editada, em 1945, por J. Schemit), de Deux Logis Alchimiques, de E. Canseliet, por J.-J.
Pauvert, Paris, onde ele rectifica algumas passagens da entrevista que R. Amadou
Respour, com reimp. em 1977, no mesmo ano, La Tourbe des Philosophes e em 1977, o
inédits du XVIIe. Siècle, com introdução de Bernard Husson. São ainda de assinalar,
atribuído a Alberto Magno, tudo nas edições Arché, de Milão, que editarão ainda vários
143
Milão. O Liber Paraminum de Paracelso, será reeditado em 1984 nas Ed. Traditionelles
com introdução de Antoine Faivre e prólogo de Bernard Gorceix, dois universitários.
préparation (1896) de Tripied e em 1977, Processus Chimique sous forme de messe (s.
XVI), de N. Melchior de Szeben, também nas edições Arché, Milão; no mesmo ano,
Oeuvre Chymique de Geber (em dois vols.) e, no memo ano, Oeuvre Chymique de
Petri Murien, nas ed. Guy Tréadniel;. o mesmo autor publicará, no mesmo editor, em
sagesse des Anciens (sec. XVII), de autor anónimo, com comentários e gravuras de
144
dos tratados de Alquimia e de Química antiga, com a publicação de Traité de la chimie
Aquarium des sages (1619), de J.A. Siebmaacher, com a chancela de Éditions La Table
d’Émeraude” que já tinha reeditado em 1984, Voyages en kaléidoscope (1919, Paris) de
croix (un manuscrit inédit de Pierre Dujols), com apresentação e comentários de J.-F.
“linguagem dos pássaros”, alquímica, tão cara a Fulcanelli, Canseliet e seus discípulos
A actividade editorial de livros de Alquimia, grande parte dos quais são tratados
clássicos dos séculos XV a XVII, continua em bom ritmo até ao fim do século. Em
Pierre philosophale. Étude rationelle de l’alchimie, de Albert Cau, nas ed. Col du Feu,
Paris.
145
Em 1997 é publicado La Pratique du Grand Oeuvre des philosophes por
Dubois, nas Éditions Dervy, Paris. Nesta editora – que publicara em 1994 Propos sur la
Chrysopée, suivi du manuscrit de Pierre Dujols-Fulcanelli traitant de la pratique de
Moise, de Roger Caro, nas Éditions du Sphinx, L’Alchimie, antique science de demain,
de Loic Tréhédel, nas Éditions du Rocher, com prefácio de Rémi Chauvin, Alchimie
Éditions Col du Feu, Orcier e Ces Hommes qui ont fait l’alchimie au Xxe. Siècle, de
Geneviève Dubois, por Geneviève Dubois éditions, Grenoble. Ainda em 1999 terá lugar
Jacques d’Arés, e editado em Londres, por Liber Mirabilis. Em 2000 será a vez de La
Génération & opération du grand oeuvre pour faire de l’or (sec. XVII), na mesma ed.
révélée par l’image. L’Alchimie enfin réhabilitée, de Jean Deleuvre, nas Éditions
Valentin, do português Rubellus Petrinus, nas Arcadis éd. , Amiens (trad. fr. da ed.
146
textes classiques, de E. Canseliet, no editor Jean-Jacques Pauvert, Paris (reedição
aumentada em 1980), em 1975, Les clefs secrètes de l’alchimie des anciens de Fabrice
de Robert Amadou, por J.-J. Pauvert, contendo uma entrevista de três horas a E.
Canseliet - onde este alquimista declara ter reencontrado (pela última vez) Fulcanelli,
em 1952, em Espanha. Muito importante, pelas indicações operativas que dá, foi a
Newton da Profª. Betty Dobbs (que decorre da sua Tese de Doutoramento), com
prefácio de Sévérin Batfroi, nas edições de La Maisnie, em 1980, também ajudou muito
final do século são publicados tratados alquímicos clássicos de grande interesse para a
de Molinier, com prefácio de Fabrice Bardeau, nas èditions d’Art Savary e em 1992, Le
procédé de Monsieur d’Anvers (1722), por Fabrice Bardeau, nas edições J.M. Savary,
siècle, editado nas edições Dervy e Poelle Alchimique de Winthertur et le feu des sages.
foi a fundação, em Grenoble, por Jean Laplace, da revista trimestral “de estudos
até à sua morte em 1982, com uma rubrica intitulada “Alchimiques mémoires”. Dessa
147
As revistas periódicas de Alquimia (extra-grupos estudados)
e um grupo que mais tarde se intitulará “Les Compagnons du Feu” (animado por
Laplace e La Faverie), embora não sendo uma “escola” alquímica, a “Tourbe des
Philosophes” veícula uma filosofia alquímica geral com um nível cultural bastante
Jean Laplace, a revista trimestral “de estudos alquímicos”, “La Tourbe des Philosophes”
terá como principal colaborador E. Canseliet que colaborará assiduamente com uma
editorial. Em 1979 a revista pasa a ser publicada pelo editor parisiense Bernard Renaud
Huchette, junto ao Quai Saint Michel, onde havia também, a livraria Éditions
séc. XX. A “Tourbe” incluirá ao longo dos seus 39 números – nº. 38-39 do 2º. Trimestre
de 1995, aguardando-se o nº. 40 desde essa data -, muitos artigos de alquimia operativa,
juntamente com outros, também sobre Alquimia, numa perspectiva cultural, filosófica e
espiritual bastante interessante e alargada. Dois anos antes da sua morte, em Savignies,
148
após a saída de Laplace, em 1979 - e nos artigos dos seus mais influentes
colaboradores, como, por exemplo, Guy Béatrice e Sévérin Batfroi. Mas também
indicaremos outros artigos de outros autores para ilustrar a natureza plural da revista e a
Num dos primeiros números desta revista fundada por Jean Laplace - cujo
primeiro número data do 4º. trimestre de 1977215- num texto assinado por Guy Béatrice,
podia ler-se aquilo que era um verdadeiro manifesto da Alquimia Operativa: “Il
faudrait que l’on cessât enfin, définitivement, de présenter au public, voire aux
spécialistes, l’Alchimie comme étant «une sorte d’approche figurative des réalités
archetypiques de l’homme et de sa pensée». Cette vision de l’Alchimie est un total
tous les partisans d’une Alchimie «spiritualiste» n’ont pas encore compris, semble-t-il,
d’Ygé et de René Alleau, c’est que l’Alchimie n’est en rien une théosophie, mais bien
segundo a “Tourbe” - ou melhor segundo os autores da revista, já que embora haja uma
muito menos unicidade, pelo menos quanto às linguagens - a Alquimia não é apenas
uma “manipulatória” material, embora ela se exerça sobre os materiais. De facto, outro
discípulo de Canseliet, Sévérin Batfroi, num artigo intitulado “Le disciple d’Hermés et
ses vertus”, escrevia: “Les Artistes ont lourdement insisté sur le fait que la seule
lignes - n’est point l’essentiel de la quête alchimique. Fulcanelli lui-même signale cela
215”La Tourbe des Philosophes - revue d’études alchimiques”, Directeur et Redacteur en chef: Jean
Laplace, Éditions de la Tourbe, 9, Place Championnet, Grenoble
216Guy Béatrice, “Les Livres et les revues”, recensão crítica do livro “Raymond Lulle” de Jean-Claude
Frère, in “La Tourbe des Philosophes”, nº. 2, 1er. trimestre de 1978, p. 63
149
l’acquisition d’une technique spéciale, de quelque artifice de laboratoire, elle se
réduirait à fort peu de chose et n’excéderait pas la valeur d’une simple formule»217.
Logo, uma rejeição da única dimensão técnica da Alquimia. Mas o que é que
diferencia a Alquimia da mera Química? Desde logo, como já vimos anteriormente, a
atitude espiritual do operador que deve estar en sintonia com o verdadeiro objectivo da
PRINCIPE ET LA FIN DESIRÉE, LE BUT DE NOTRE INTENTION, celui qui, par les
rayons de sa lumière divine, doit nous conduire et diriger vers le but: heureux, en verité
ceux qui comprennent cette lumière avec la pénétrante diligence de leur intelligence, et
Deus – quer ele seja deísta ou teísta -, crença que iluminará a sua relação com a matéria
transformada pela Obra. Como refere Sévérin Batfroi: “Alexandre Sethon énumère les
vertus philosophiques avec beaucoup de précision, en sorte que nous lui laissons
maintenant la parole: «Les scructateurs de la Nature doivent être tels qu’est la Nature
même: c’est-à-dire vrais, simples, patients, constants, etc., mais, ce qui est le principal
point, pieux, craignant Dieu et ne nuisant aucunement à leur prochain»(op. cit.,
217Sévérin Batfroi, “Le Disciple d’Hermés et ses vertus”, in “La Tourbe des Philosophes”, nº. 4 (3e. trim
1978), p. 16-17
218ibid., p. 17
219Sévérin Batfroi, citando “La nouvelle Lumière Chymique”, no artigo “Le Disciple d’Hermés et ses
vertus - 2e. partie”, in “La Tourbe des Philosophes”, nº. 5 (4e. trimestre de 1978), p. 17
150
A partir do nº.6, a revista tem novo director - Faverie - e editor - o próprio,
deste século. No nº.8 da “Tourbe”, surge, em editorial, um texto do seu director, “une
mise au point qui était grandement nécessaire et qui donne l’orientation définitive de la
carácter “universal” da Alquimia e do processo alquímico:”Ce n’est pas en vain que les
monde, une voie illuminative qui depuis de la Table d’Émeraude d’Hermés Trismegiste
est à la recherche d’une loi universelle et d’une conception toute particulière des
rapports entre Dieu, l’homme et l’univers. C’est donc avec raison qu’on puisse
été appelés alchimie depuis la fin du XIXe. sciècle. La encore la recherche d’Antoine
Faivre - de que voltamos a citar a sua parte essencial, por ter sido apropriada pela
220Bernard Renaud de la Faverie, “Éditorial”, in “La Tourbe des Philosophes”, nº. 8 (3e. trim. 1979), p. 4
221ibid., p. 5
151
et eschatologique. Mas ela assenta também em algumas correntes herméticas e na
tradição de uma certa teosofia alquímica do século XVIII, incarnada por Jacob Boheme,
o qual escreveu em «Signatura Rerum» (Cap. VII, 78) - e Faverie cita-o - a seguinte
à un symbolisme abstrait, car le côté opératoire est ici essentiel”223. Esta perspectiva
feitas por Fulcanelli e por Canseliet, nas suas especulações sobre o “fim dos tempos”,
Sévérin Batfroi, publicados entre 1976 e 1979, “Terre du Dauphin et Grand Oeuvre
Solaire” (1976), assinado por ambos, “Sainte Anne d’Alchimie” (1978), “Le vaisseau
Chaos à la Lumière” (1978) de Sévérin Batfroi. Estes livros foram muito importantes
por terem tornado pública esta perspectiva “generalizada” da Alquimia. Seria contra
esta perspectiva que, mais tarde, Solazaref vai levantar a voz da “Tempestade” centrada
numa Alquimia exclusivamente laboratorial? Cremos que sim. Seja como for, a
“Tourbe” continuou a publicar artigos com indicações mais ou menos explícitas sobre a
Alquimia laboratorial, a maior parte das vezes veladas pelo mais tradicional simbolismo
222ibidem
223ibidem
152
De qualquer modo, como conciliar o artigo de Béatrice, sobre a operatividade da
com este editorial de Faverie em que uma perspectiva “generalizada” da Alquimia passa
trimestre de 1979, mas publicado em 1980), o editor escreve para quem tivesse ficado
com dúvidas: “L’Alchimie opérative, classique, traditionelle est pour nous la base
incontestable de tout notre effort. Sans elle, la réflexion dite alchimique n’aurait plus
de sens. Son Maître incontesté au XXe. sciècle, sucesseur de Cyliani et Fulcanelli, est
Eugène Canseliet”. E, como para justificar o estilo dos artigos da revista - e o estilo dos
livros dos seus colaboradores - Faverie escreve: “Les alchimistes de tout temps ont eu
un langage spécifique d’une poésie incomparable. S’ils l’ont toujours utilisé, c’est
qu’ils le cryaient apte et indispensable pour communiquer leur Art. C’est donc
l’alchimie opérative, son simbolisme, son langage, sa pure tradition, celle qui a été
honorée par les générations des Artistes, qui est et sera pour la Tour des Philosophes
son fondement. C’est elle qui a assuré la continuité de leur Art. La philosophie y
rejoint la beauté. «Les Mystères des Cathédrales» est non seulement un exceptionel
traité d’alchimie, mais aussi un des plus grands livres de la littérature française de ce
comparar esta situação privilegiada com a reflexão filosófica que predomina nos livros
que são publicados, sobre o mesmo tema, nos países anglo-saxões, aos quais “manquant
“Universal”: “Mais non moins précieuse pour nous est la pensée alchimique et sa
vision du monde”. Por isso, ele diz: “Aussi nous saluons l’effort de tous ceux qui -
comme nos amis et collaborateurs Sévérin Batfroi et Guy Béatrice - oeuvrent pour
153
témoigner la présence de la pensée alchimique”.226 Mas vejamos melhor em que
“Tourbe”: “Nous venions tout bonnement de confirmer que l’Alchimie, dans son
(...)
E para que não se confunda esta posição com a teoria de Jung sobre a Alquimia,
Batfroi esclarece: “Par conséquent, ce que nous répétons ici, c’est que du macrocosme
Ansi, donc, l’Ouvrage Minéral témoigne à la perfection du Grand Oeuvre divin qu’est
Création, et ceci pour chacune de ses phases. Toutes choses qui dépassent la
conception de Jung qui voulut que l’Alchimie s’exerçât également dans l’inconscient
collectif humain. Nous entendons donc démontrer qu’elle est surtout l’Archétype des
universel de création”228
Esta filosofia, sustenta Faverie, está presente hoje na Universidade, “elle pénètre
même à l’Université. Grâce à des travaux de Eliade, Corbin, Gilbert Durand, Antoine
Faivre, Frédéric Tristan - tant d’autres. La pensée et la logique des alchimistes (...).
pensée des grands théosophes, entre dans nos préoccupations. Telles sont nos options
226ibid., p. 5
227ibidem
228Guy Béatrice, “Graal et Alchimie”, in “La Tourbe des Philosophes”, nº. 9, p. 23
154
fondamentales et nous invitons tous les collaborateurs de bonne volonté de s’unir à
notre effort”229.
tratando de várias vias (via húmida, via seca, etc), é evidente de que a via que é a mais
característica desta revista é a “via seca de Fulcanelli”, seguida por Canseliet embora,
tanto o Mestre como o discípulo tenham tratado, também, de outras vias (a das
amálgamas, por exemplo). Uma questão importante que irá marcar a diferença entre a
Pierre d’Houches e, mais tarde, segundo o próprio Solazaref, é uma via com a dignidade
de qualquer outra mas que, segundo esta revista, não é uma via alquímica.
savons que des faux alchimistes existen et ont toujours existé. Nous croyons que ceux
que les Anciens traitaient de faux philosophe étaient des gens qui trompaient le monde
mercure vif, donnant des recettes frauduleuses pour le travail. Nous en voyons encore
aujourd’hui qui nous promettent d’expliquer en un seul volume le Grand Oeuvre, dansd
229ibid., p.5
230ibid.
155
Revista “L’Alchimie”
2000. De destacar, nestes números, dossiers sobre alquimistas praticantes como Jean
Esotéricas
- 1987: Publicação do nº. 114 (4e. trim 1987) da revista “L’Autre Monde” - Nº.
dossier “Les Transmutations ou comment changer la nature des choses”, com artigos de
diversos autores, entre os quais Pierre Carnac, Robert Amadou e Richard Khaitzine.
artigos de Fabrice Bardeau, Richard Khaitzine, etc.. O nº. 391 da mesma revista –
Fabrice Bardeau.
Canseliet, no nº. 398 (3º. Trimestre de 1999) da revista “Atlantis”, con sede em
Vincennes.
156
Revistas académicas sobre esoterismo e alquimia
a qual publicou, entre outros artigos com estudos de alquimia, um número monográfico
intitulado “Paracelse et les siens”: nº. 19 da revista A.R.I.E.S., dirigida por Antoine
com o apoio do “Centre National des Lettres” . Comentários de Sylvain Matton. O tomo
II desta revista, publicado em 1988, inclui Commentaires sur l’épitaphe et les plaques
157
Congressos, exposições e conferências públicas
prática”.
Faverie, etc.), onde se podia ver diverso material de alquímico, entre o qual um
Athanor.
- Colóquio intitulado “Paracelse et les siens”, realizado em Dezembro de 1994
na Sorbonne, organizado pela revista A.R.I.E.S., dirigida pelo Prof. Antoine Faivre,
158
filha de E. Canseliet, Béatrix, Henri Bodard, Bernard Renaud de la Faverie, Stanislas
Klossowski de Rola, François Trojani, Patrick Rivière, Fabrice Bardeau, Paolo Lucarelli
Cassettes
CDs editados
159
Sítios na Internet
O primeiro site na nternet comçou nos anos 90, por iniciativa do escocês Adam
McLean – editor de “The Hermetic Journal” – e tem o título de Alchemy. É o maior sitio
da Internet dedicado à Alquimia.
160
V - A ALQUIMIA OPERATIVO-LABORATORIAL DO ÚLTIMO QUARTEL
O estudo que realizei para este Trabalho de Tese, junto dos grupos alquímicos
franceses do último quartel do século XX, decorreu nas seguintes frentes: a) estudo de
livros, revistas, etc., publicados pelos grupos; b) conversas com diversos alquimistas,
Relativamente ao material utilizado para este trabalho, ele foi constituído pelos
“cassettes”, etc. e por fotografias tiradas nas reuniões. Tivemos autorização expressa de
para a publicação desse material. Mesmo nos grupos em que não pedi autorização para
excepção das reservadas, a que aliás não tive acesso), encontrando-se até algumas à
como alguém que a queria estudar em todas as suas dimensões, mesmo numa
observando-o “de fora”- e, ao mesmo tempo, fascinado pelo mesmo – participando “por
dentro” - foi aceite sem problemas pelos grupos, excepto junto da Filiação Solazaref,
perspectiva de “observador participante” desde o início dos meus estudos, mas ela só
161
adquiriu (assim o espero) a teoria e a metodologia necessárias para um estudo
seus “estágios” práticos, um em França (em 90) e dois em Portugal (93 e 94) – ver
Anexos;
Segui um ensino por correspondência e mantive contacto com alguns dos seus
monografias, entre 1986 e 1990, tendo privado com o seu lider várias vezes em França
livraria era muito frequentada por esoteristas e alquimistas de várias escolas maa
162
alquimicos”, La Tourbe des Philosophes, editada pela livraria e que agrupava, até ao
seu termo, sobretudo os discípulos de Eugène Canseliet. Tive ainda contacto estreito
(para além do epistolar) com diversos alquimistas, franceses (p.e., Fabrice Bardeau),
espanhóis (p.e. Simon H.), norte-americanos (por exemplo, Hanz Nintzel) e portugueses
(Rubellus Petrinus), tendo em alguns casos participado nos seus trabalhos e, noutros
Começarei por referir os grupos que têm a ver com a linhagem alquímica
que dissemos no capítulo anterior sobre a revista “La Table d’Émeraude” que agrupa
Patrick Rivière é autor de vários livros sobre Esoterismo, entre os quais Sur les
Science et Mystique235. Na sua primeira obra sobre alquimia, o autor coloca em fac
simile, uma carta de Eugène Canseliet, datada de 1973, que atesta uma relação
alquímica (pelo menos epistolar) desde essa data, entre o “Mestre de Savignies” e o
dupla tradição:
231 Patrck Rivière, Sur les sentiers du Graal, Paris, Robert Laffont, 1984; existe uma tradução para
português, editada no Brasil: Os caminhos do Graal, São Paulo, Ibrasa, 1988.
232 Patrick Rivière, Alchimie et Spagyrie, du Grand-Oeuvre à la Médicine de Paracelse, Caen, Éditions
de Neustrie, 1986.
233 Patrick Rivière, La Médicine Spagyrique, s.l., Éditions Capricorne, 1988.
234 Patrick Rivière, La Médicine de Paracelse, Paris, Éditions Traditionelles, 1988.
235 Patrick Rivière, L’Alchimie Science et Mystique, Paris, Éditions de Vecchi, 1990.
163
- a espagírica de Paracelso, continuada neste século por nomes como Armand
Barbault, Alexandre von Bernus e Albert Reidel (“Frater Albertus”) – nomes que
Patrick Rivière - “N S H”237 - trabalha em Alquimia “há mais de quinze anos” tendo
quinze ans, bien qu’entouré par de nombreux médecins, et oeuvrant activement dans ce
dedicar à Alquimia desde os anos 70 -, estabeleci contacto epistolar com este alquimista
164
com sede em Molières (França). Esta Associação dedica-se basicamente à Espagíria de
Uma vez admitido, passei a receber – mediante uma quantia que orçava os 100
denominadas Solve et Coagula, assim como me foi facultado (na minha qualidade de
respeitantes à Alquimia. Adquiri, ainda, dois livros editados por Spagy-Nature para os
possuo o nº. 22) – esta edição do Mutus Liber apresenta a particularidade de ter as
correspondência trocada com ele – de 1986 a 1992 -, a qual me permitiu obter algumas
própria Associação. Assim, poderei afirmar que Patrick Rivière é de fácil acesso, e de
trato cordato, mesmo simpático, não guardando grandes distâncias a quem o aborda
239 esta é o nome – utilizado na Ordem Rosa-Cruz AMORC- que se tornou habitual, para designar dos
fascículos enviados pelas designações esotéricas.
165
quer epistolar, quer pessoalmente. No entanto, a sua caligrafia – presente também nas
introduções às edições dos dois livros acima citados - é do tipo clássico, mesmo
artístico, na linha da de Eugène Canseliet (que transcreveu com o seu próprio punho e
como revela uma distância em relação à escrita corrente, moderna. A sua caligrafia tem,
pois, também uma função de separação e sugere de algum modo um mundo diferente,
separado, sagrado.
Patrick Rivière parece ter recebido outras transmissões além da alquímica, pois
numa sua carta datada de 20/11/90 (a mim dirigida) – ver Anexos - figuram, na
assinatura, para além do lema In Herma Trimegisto – que o coloca uma vez mais na
seguintes:
Rivière seguiu. Note-se que o Martinismo é uma corrente que radica num tipo de
Rectificado, maçonaria cristã, originária do século XVIII, criada por outro discípulo de
240 Eugène Canseliet ed., Trois Anciens Traités d’Alchimie – caligraphie et prolégomènes d’Eugène
Canseliet, F.C.H., Paris, Jean-Jacques Pauvert, 1975.
241 Vide reprodução fac-simile de uma carta de Canseliet a Rivière no livro deste último Alchimie et
Spagyrie¸ op. cit., p. 5.
242 Como escreveu Fernando Pessoa…..
166
Saint-Martin – pelo que se pode afirmar que se trata de um “martinismo maçónico e
cavaleiresco”. O Priorado que terá transmitido a P. Rivière este armamento terá sido o
“Prieuré Arcana” que ele refere noutra carta de 1992 (vide Anexos);
- R+C Aurea, o que parece ter a ver com a tradição da Rosa-Cruz de Ouro alemã
joanina. Existiu uma Igreja joanina, ou joanita, “dos cristãos primitivos” ligada, no
(ou possui ainda) um Instituto (teológico) de S. João, sendo muito provavelmente, esta
como a dessa Igreja joânica. Temos então um conjunto de transmissões iniciáticas que
sacerdotal que irá banhar todas as outras. Implicará isto uma perspectiva “sacerdotal” da
Alquimia? Pensamos que sim. No entanto, esta vertente “sacerdotal”, está assente, não
167
Alquimia, isto é, no oratório. Nesta vivência poderemos incluir uma peregrinação a
antimónio) e um forno – concebido pela própria associação, talvez mesmo pelo próprio
alquímicos – organizaram-se estágios em França (nos quais não pude estar presente por
dificuldades diversas), quer na via alquímica dominante neste grupo – a “via seca” de
A parte estritamente alquímica das actidades deste grupo estava incluída num
“hermético”. Fui admitido nesse círculo interno, através de um exame escrito que me foi
enviado pelo correio, mas não não recebi a iniciação presencial – oral – pelas
que foi discutido e feito nessas reuniões. As questões escritas do exame de admissão no
“Fogo Secreto”, como captar o “Spiritus Mundi”, quais as fases da Obra Alquímica, etc.
menor (caso de Les Philosophes de la Nature) grau. Nesta escala, Spagy-Nature ocupa
uma posição intermédia . Por isso podemos afirmar a dupla natureza "esotérica” destes
grupos, pois são-no no sentido de Hammer, devido à sua estrutura social, características
168
Refira-se que, quer nos seus livros para o grande público, quer nas instruções
“Adeptos” – tal como o fazia Canseliet – criando assim uma atmosfera “tradicional” –
ajuda à criação deste clima e desta sua afirmação identitária. Patrick Rivière revela –
simbolismo alquímico.
Esta Associação continua, desde essa data até aos nossos dias, com o mesmo tipo de
Patrick Rivière, com prefácio de Serge Hutin, nas Ed. de Vecchi, Paris (reimpressão em
1992).
uma fidelidade em relação aos ensinamento desses mestres. Tendo nascido, ao que me
pareceu, pelos anos 50, ele terá conhecido ainda Eugêne Canseliet (falecido em 1982).
Não nos detemos na descrição da sua prática e da sua filosofia alquímicas pois tudo o
que já dissemos acerca dos seus mestres no Capítulo sobre a História da Alquimia e
também no que antecedeu este, quando falei da revista “La Tourbe des Philosophes” de
169
É importante afirmar que o lider deste grupo, embora afirmando (como um
como uma meta distante e difícil de atingir. Fulcanelli terá conseguido esse objectivo,
mas Canseliet não o conseguiu. Patrick Rivière nunca afirmou que estava em vias de o
conseguir.
com o seu Imperator, Roger Caro - apresentamos, em Anexo, a última carta que dele
recebemos, pouco tempo antes da sua morte - na aquisição de alguns dos seus livros
(que não se obtinham no circuito comercial, mas que ele vendia directamente) e na
terá sido instituído em 1317, tendo-se perpetuado esta confraria, segundo os FARC, até
aos nossos dias através de uma ilustre sucesão: les FARC ne remontent pas au Temple
de Salomon, ni a Toutmés III, mais leur présence est virtuellement démontré avec ces
115 parchemins munis de leur scel d’origine s’étalant de 1317 à nos jours. La
243Roger Caro, “Legenda des F.A.R.C.”, St. Cyr-sur-mer, 1970, citado por Jean-Pierre Giudicielli de
Cressac-Bachelerie, “Pour la Rose Rouge et la Croix d’Or”, Paris, 1988, ps. 95-96; mais ainda do que as
outras obras de Caro/Kamala-Jnana (que consultámos), a “Legenda” é extremamente difícil de encontrar.
170
A origem da Ordem tem, segundo a “legenda”, a ver com a extinção da Ordem
do Templo - o que faz lembrar a “lenda escocesa” da Maçonaria (presente, por exemplo
no Rito Escocês Rectificado), visto que aqui, também, são os templários fugidos de
França, em 1314, à perseguição movida pelo Rei, que se refugiam nas Ilhas Britânicas,
tendo ido para a ilha de Mull e colocando-se ao serviço do rei escocês Robert Bruce. O
ambos reunem, em 1316, vinte e cinco companheiros com o objectivo de voltar para
França, a fim de cumprir uma missão excepcional. Morto Pierre Phoebus (numa
XXII (que intercedeu para a sua nomeação) foi envenenado em 6 de Maio de 1317,
l’Aisne de Flame) do 12º. Imperator Ludovic des Pins, entre 1418 e 1427, o adjunto do
Imperator Bergues, Sixte de Levalois Carlos, seria Carlos VI de Valois, sendo o 33º.
de la Nouvelle Alliance - ENA” - que, como os “FARC”, tinha até à recente morte de
na “Legenda des FARC”, que existem profundos laços entre estas duas organizações e a
Igreja Arménia Uniata e aceita as decisões conciliares até 1054, data da separação das
Igrejas do Oriente e do Ocidente244. Para cimentar esta ligação entre a Igreja Católica e
244cf.Jean-Pierre Bayard, “Le Guide des Sociétés Secrètes”, Paris, 1989, ps. 42 e 91; aqui, o Autor entra
em crontradição com o que escreve no seu livro anterior “La symbolique de la Rose-Croix”, onde afirme
que “Pierre Phoebus, 58e. Imperator, nommé en 1969, n’a pas dévoilé son identité”. Será Pierre Pheobus,
Roger Caro? Haverá um engano apenas entre 57º. e 58º.?
171
a Alquimia, os FARC publicaram um manuscrito apócrifo, um “pergaminho alquímico
Sírio-Jacobita de Antioquia cujo representante actual foi ordenado pelo Patriarca Pierre
Phoebus (Roger Caro)”. Ela contém “no seu seio” os FARC que perpetuam “un ensino
iniciação maçónica”246.
provem dos “mestres ismaelitas”: “(l’article 10 de la) Règle de l’Ordre des Frères
Aînés de la Rose-Croix fait et rédigé sur l’ordre de Notre Saint Père Jehan XXII, pape,
couvent des frères Pontifes de Pont-Saint-Esprit par notre vénéré rector et approuvé
par Jacques de Via Imperator et par Della Revere, Sénéchal, qui ont mis leur scel: En
souvenir des maîtres ismaeliens qui nous enseignèrent leur science, nous
perpétuerons l’alchimie non pour obtenir des trésors aurifères, mais parce qu’elle
A propósito de influências árabes sobre a Ordem dos FARC (para além das
172
entre outras, esta filiação alquímica - conta-nos que há que ter em conta também a
L’histoire de l’Ordre part du contact entre quelques rares templiers (et non les
templiers plus guerriers que quêteurs de sciences hermétiques) et des adeptes liés
en 830. Les chrétiens l’appelèrent Maison de la Sagesse. Il ne faut pas négliger non
Por seu turno, Jean-Pierre Bayard249, transcreve um trecho da “Legenda” (p. 27)
Templários e árabes: De trés nombreux auteurs ont exposé (et nous le verrons en détail
plus loin) comment les Templiers sous Hassan et Saladin, ont étudié toute sortes de
Naturelement, on s’en doute, ces Chevaliers du Christ ne fréquentaient pas tous cette
Maison de la Science. Plus soldats qu’intelectuels, leur nombre était trés restreint.
tard, lorsque la «science» orientale leur fut fermée, les Templiers instruits en Art
ensuite, ceux de elurs pairs les plus aptes à leur succéder. C’est ainsi, par cette filière
détenteurs du secret hermétique et pûrent plus tard instruire à leur tour leurs
compagnons en Fraternité.
da Ordem (baseado na “Legenda”) indo desde o seu começo até aos tempos mais
recentes e que têm a ver com a afirmação – que pretende dar prestígio à Ordem, mas
248Jean-Pierre Giudicelli Cressac-Bachelerie, “Pour la Rose Rouge et la Croix d’Or”, Paris, 1988, p. 96
249 Op. Cit.
173
que não pode ser provada, nem parece ser verosímil - de que nomes ilustres, no contexto
SRIA e fundador da “Golden Dawn”) e o escritor ocultista Eliphas Levi (“ A Chave dos
Grandes Mistérios”, História da Magia”, “Dogma e Ritual da Alta Magia”), foram seus
Grimoard, Pierre Yorick de Rivault et César Minvielle, se replièrent en toute hâte vers
Dinard, puis vers Saint-Malo où ils affrétèrent de nuit une barque de pêcheurs qui les
déposa sur le sol d’Angleterre. La commanderie de Londres les reçu et les hébergea.
Afin d’éviter les persécutions du roi Édouard, quelques chevaliers adeptes s’enfuirent à
l’île de Mull, ils retournèrent plus tard en France, où ils donnèrent un nom à l’ordre le
2 décembre 1316: «Les Frères Aînés de la Rose-Croix». Nous n’allons suivre l’ordre
aux cours des sciècles, mais il nous semble important de signaler quelques noms des
derniers Imperator, le 51e. était Lord Bulwer Lytton, lié étroitement à divers cercles
trés fermés, l’abbé Louis Constant (Eliphas Levi) lui succéda, suivi par William Wynn
Westcott (membre de la SRIA). Passant ainsi entre les mains des frères dépositaires des
filiations diverses, l’ordre va par la suite retourner à son pays d’origine: la France, où
nombreux livres hors commerce. Relativamente a esta fase mais recente dos FARC,
(1898-1900).
cooptar alguns poucos adeptos, mas que existe uma outra Ordem mais interna– o
174
mesmo arquétipo “esotérico” (no conceito de Hammer) – que não pude eu próprio
provar a sua existência, a qual possuirá, segundo ele, as chaves da “alquimia interna”, a
rentrer dans la notion de mythes, de rêves si chers à l’humain plus avide de sensations
membres et qui concerne une autre opérativité alchimique interne mais, malgré son
ancienneté, nous pensons que les deux ordres n’en constituaient qu’un seul à un
moment de l’histoire, ou qu’ils étaient imbrinqués l’un dans l’autre de toute manière.
Cet ordre interne pratique la voie du corps d’immortalité par la Esta Ordem “interna”
segundo este mesmo Jean-Pierre Giudicelli, “la Collégiale Al Kimia, animée par un
groupe d’adeptes issus de l’enseignement des Frères Aînés de la Rose + Croix, ordre
(...) qui est dépositaire sur la voie du cinabre (il s’agit bien entendu du Wouei Tan). E,
mais adiante, diz: “(...) les FAR+C (elle est la seule organisation) à témoigner d’une
vieille pratique: la voie du cinabre. Il s’agit là d’un Wouei Tan (voie du cinabre
extérieur), encore que nous ayons la preuve que certains Imperators connaissaient bien
l’aspect interne, c’est le cas par exemple de Lord Bulwer Lytton - qui fut le 51e.
A via dos FARC - que, segundo J.-P. Bayard ne se font pas connaître du grand
public et restent profondément discrets sur leurs activité”252- é, segundo nos parece, a
via húmida, utilizando, como matéria prima o cinábrio (conforme é sugerido nos
251ibidem, p. 64
252ibidem, p. 225
175
Para uma descrição o mais detalhada possível dos princípios, do processo e da
uma conferência realizada por um seguidor desta confraria, Alain Serrière254; este
relato poderá ser complementado pelo exame das fofografias a cores de “toda a Grande
de Roger Caro255.
embora sejam eles os elementos de instrução para os Neófitos da Ordem, uma instrução
guiada, é certo, eles não são tão explícitos como o artigo de Trieli e, sobretudo, como a
nível de descrição operativa, quer de simbolização, quer ainda da doutrina dos FARC.
de Clairefontaine, nas ed. Axis, 1985 - poderia também ter sido utilizado mas não é tão
intressante para o nosso propósito como aqueles dois trabalhos que aqui utilizaremos de
seguida.
o texto de Trieli que é mais pobre neste aspecto, uma vez que apresenta, uma síntese do
253Jaques Trieli, “La Voie du Cinabre: un grand particulier ou voie de la Pierre Philosophale?”, in
“Troisième Millénaire”, nº. 35, 1995.
254Alain Serrière, ”Alchimie Opérative et Alchimie Spirituelle”, cassette editada pela Associação
“Atlantis”, Vincennes, 1985; a transcrição, a tradução e os sublinhados são nossos.
255Roger Caro, “Tout le Grand Oeuvre Photographié”, Saint-Cyr-sur-Mer, 1968
256Roger Caro, “Pleiade alchimique”, Saint-Cyr-sur-Mer, 1967; “Concordances alchimiques”, S.-C.-sur-
Mer, 1968; “Rituel FARC et deux textes alchimiques inédits”, S.-C.-sur-Mer, 1972
176
Serrière). Dessa conferência, transcrevemos as suas diversas passagens (em tradução
a) Princípios:
Sufismo, etc, inclui manipulações materiais e físicas” (...) “A Alquimia á a única via
iniciática que permite controlar num plano físico material, o progresso do operador
- “O laboratório é Laborare e Orare, (pelo que) sem oração não se chega a parte
alguma”.
operativo que seja, se ele não se transformar a ele próprio, nos seus diversos planos,
ele não chegará a nenhum resultado, do ponto de vista alquímico (poderá chegar a
praticar uma Alquimia Operativa; é muito difícil (...) O que se passa no Athanor do
b) Prática
pecado (não no sentido moral, mas espiritual), até ao momento em que estando
177
- “Como é que reconhecemos que se trata de Alquimia? Em Alquimia, há cinco
espécies de Fogo, mas nunca se utiliza o fogo vulgar, a não ser para as primeiras
operações (para fabricar o Sal) e para as últimas (para transmutar). Em Alquimia, não
se junta, à Pedra, nada que lhe seja estranho (o homem não se purifica tomando
Santo, o Sal - que é preciso fabricar na primeira fase da operação alquímica, a pré-
uma grande força - “ros”, de rosa, de rocio, do orvalho que impregna os cristais
orvalho, em alturas propícias, é apenas para a Espagíria)- força essa que é ao mesmo
tempo espiritual e material. O Sal fabrica-se pondo em contacto dois corpos muito
simples e deitando água a ferver em cima (com um filtro); dá-se uma reacção violenta e
conter o Sal é contê-lo nele próprio - coagulá-lo - ou pô-lo numa forma líquida (mas não
em pó (caos primordial) do mesmo modo que o homem que quer avançar no caminho
preciso que o homem velho morra para que o novo renasça. É preciso, pois, morrer para
a vida terrestre, para renascer para a vida espiritual - as operações alquímicas dão um
seu corpo, até que um Anjo o avisou). A Pedra também terá de morrer como Pedra e
178
Mercúrio (o “espírito”) e a ganga terrestre (“terrestreités”). Na Alquimia
uma grande força divina (os alquimistas são os “Frères de la Rosée Cuite” - os
“Irmãos do Orvalho Cozido”), ao ser deitado sobre a Matéria Prima em pó, ele vai
desencadear uma reação violenta e provocar a sublimação (não se deve encher o balão
com mais de 25% do seu volume pois ele pode rebentar e o Sal a ferver é muito
perigoso). Mas se a Pedra tem um Sal intrínseco, porque é que ele não provoca a
por um corpo que ocupa todo o espaço físico, a alma que ocupa muito menos espaço e o
espírito que é apenas uma chama divina; o Espírito (Sal) existe muito pouco, quer no
homem, quer nos minerais, logo é preciso acrescentar Espírito Santo ao homem e à
Pedra, isto, é coloca-se uma quantidade de Sal na retorta (onde está a Matéria Prima
em pó) nas “proporções da Natureza”(não se conhecem, só pertencem a Deus)”.
Cristo que transformou água em vinho nas Bodas de Canã - desencadear a sublimação
(excitação mútua dos corpos) que vai dar origem à passagem do Sal e, depois, do
Mercúrio que se condensam, por essa ordem, num balão, após refrigeração (nesse balão
Após esta primeira fase o muda de forma: de retorta, passa a balão (matraz). Sobre o
cuidadosamente (o selo de Hermes) com tecido e cera e depois tudo se sublima como
anteriormente, mas agora, uma parte de enxofre vai sublimar-se também, ficando no
fundo do balão dois terços de Enxofre com a ganga. As mãos do operador continuam
a actuar, e agora dá-se uma sublimação geral que vai até ao topo do balão”.
179
- o “fogo do espírito” existe na matéria mas também deve ser captado pelo
pelo outro (fêmea e macho, raính, a e rei, etc.) - tal como o Pai e o Filho estão ligados
sulfurosos, tornando-se mais pesados e caindo como chuva sobre o “compost” a ferver
que está em baixo e desaparecem dentro dele e a reacção depois pára. As granulações
se o homem não fosse pecador, não poderia continuar na matéria, do mesmo modo se
nossa condição de pecadores, pois se, de facto, é devido ao pecado que não somos
deuses, também é graças ao pecado (à “terrestreité”) que nos podemos elevar até
Deus”.
- “Então abre-se o balão e junta-se o Sal; a intervalos regulares (“meses
filosóficos”) vai-se acrescentar uma certa quantidade de Sal de modo a que ele circule
no interior do Athanor para banhar o seu interior e aquecer tudo outra vez; assim, a
pouco e pouco, vai passar a castanho e depois a negro (“corvo”) - se se puser Sal a
180
mais ficamos com uma cor laranja (e tem de se deitar tudo fora). É preciso continuar
progressivamente, regularmente e moderadamente (naturalmente). Do seio do negro vai
nascer o “óleo de Saturno” muito belo e irisado (com todas as cores do arco-iris -
depois sobe pelo balão, até que, graças a uma técnica particular, o alquimista vai
uma Medicina Universal (cf. Cyliani e Fulcanelli): uma gota dela, apenas, tomada em
cada equinócio, num caldo ou num copo de leite, é o suficiente para se purificar por seis
meses; hoje o mundo já é diferente, pelo que a purificação não deverá durar tanto,
devido à spoluições físicas e psíquicas. No entanto, e mesmo assim, a quintaessência
purifica (embora cheire mal, devido ao Enxofre); se tomada à noite, ao acordar estamos
banhados em sujidade devido à transpiração (os “humores” dos antigos), então toma-se
- “Agora vai-se trabalhar com o balão aberto e aí a matéria líquida vai apodrecer
- Putrefacção - e torna-se verde (Fulcanelli e Canseliet têm razão). Junta-se o Sal - que
atrás foi utilizado para a cocção - desta vez, para para lavar a matéria (as “leveures” de
Flamel - lavagens ígneas), isto é, para a desembaraçar das impurezas. Então o sal - que
é branco porque contém um corpo branco - vai branquear a matéria - Albedo. A Pedra
alquimista pode pôr o ovo na sua mão - a mão do alquimista torna-se uma vez mais o
Athanor. Esta fase de brancura, esta “lua”, esta “virgem imaculada”, marca o fim da
fase alquímica do Solve, dissolução, pelo que temos as seguintes fases alquímicas:
181
3 - 4ª. coagulação (Coagula) -16“meses filosóficos”
acrescenta, no entanto, nada que lhe seja estranho - tal como não se acrescenta nada ao
homem para o fazer avançar na sua via espiritual - mas dando-lhe a quintaessência
Iodo - o que é práticamente a cor da quintaessência, embora esta seja um pouco mais
viva) o qual vai fazer passar a Pedra, progressivamente do branco ao amarelo e depois
depois e a Pedra torna-se vermelha. Esta Pedra tem todas as características da Pedra
Filosofal, só que não tem poder transmutatório (é um “falso profeta”, não tem poder por
Agora as coisas vão decorrer muito depressa, pois no total, a Grande Obra demora 28
Para tal é preciso que o alquimista triture a Pedra que ele fabricou, que a coloque, deste
modo, numa retorta e que coloque aí também, um pouco de Sal que terá que lhe ter
sobrado. Este Sal vai provocar a mesma sublimação que que se realizou na fase de
preparação. Põe-se, então, um pouco de Mercúrio e de Sal num balão bem fechado, e
agora já quase não há “compost” (há pouco estava liquefeito). Dá-se pois a sublimação,
formando-se “granulações” que caem sobre o “compost” e agora tudo vai muito
depressa: o Sal vai Pedra provocar uma enorme quantidade de quintaessência, que se
recolhe, lava-se de novo a (que embranquece muito depressa) a qual está dentro de uma
casca que já é muito mais sólida que na fase anterior, leva-se ao rubro e agora já tem
algum poder transmutatório, ela é práticamente pura. Mas o alquimista vai operar
182
uma 2ª. multiplicação: repete tudo outra vez e mesmo mais do que uma vez, também o
- “No entanto, é preciso que o “Irmão burro” não seja morto pelo “Irmão
Francisco”, isto é, a evolução espiritual do alquimista não o deve fazer deixar a Terra.
Ora chega-se, a partir da 3ª. multiplicação, a um grau de pureza tal que nada já pode
conter a Pedra Filosofal, ela retorna aos elementos constitutivos do Universo (ela passa
através de tudo, “evapora-se”) ela retorna ao seu Criador, pela via mais directa e mais
curta. Mas, mesmo a este nível, a Pedra Filosofal é ainda um “objecto/sujeito” material,
ela é ainda matéria - e essa é a grande diferença entre a Pedra Filosofal e o Cristo (a
Pedra Filosofal pode ser assimilada ao Alquimista, mas não ao Cristo), pois o Cristo
encontrando Madalena no Jardim e esta toma-o por jardineiro (e ela conhecia-o bem, se
ela disse isso é porque ele mudou) e ele disse-lhe: “Não me toques!”, pois ele já não
pertencia a este mundo (ele passaria através dela?). Jesus incarnado era Deus e Homem.
Em Jesus ressuscitado, a parte divina prevalece sobre a parte humana, e é por isso que
ele diz para Maria Madalena não lhe tocar. Assim, o alquimista não deve levar a
purificação da Pedra Filosofal até a um limite extremo, pois correria o risco de não lhe
poder tocar”.
- “A obtenção da Pedra Filosofal não é o fim, é o começo. Desde logo, por que
o grão da Pedra Filosofal em cera e lança-o sobre o metal em fusão (por exemplo
chumbo, cuidado com o mercúrio pois os vapores são perigosos), num cadinho
- “Para além das vias húmida e seca (o Sal utiliza-se líquido na via hímida e
cristalino na via seca - nesta, cuidado com as explosões, pois não só as reacções são
mais intensas, mas ainda existe o risco de queimar o “compost”) há a via sacerdotal.
183
tem de “cortar a cabeça do corvo” e o trabalho faz-se em menos de um dia, mas isto é só
para pessoas missionadas”
- “O alquimista não utiliza o ouro para ele próprio, mas sim para curar, o fim da
Alquimia é curar! (por exemplo, pode-se colocar o ouro puríssimo, laminado, sob a
forma de folha que se enrola e se põe num frasco com água da chuva e daí resulta um
elixir; o elixir pode ser lunar - com a Pedra branca - ou solar - com a Pedra rubra)”
- “Para que haja Alquimia é preciso que se verifiquem três condições: 1) que
purificada sem nunca lhe juntar nada que lhe seja estranho; 3) que não seja utilisado o
fogo vulgar”.
- “Para além das pessoas que praticam a Alquimia, mesmo nas outras que têm
um bom conhecimento teórico, há já um começo de transmutação. A Alquimia
que não é possível descrever - este é o verdadeiro segredo dos alquimistas! De onde
184
Do artigo de Trieli, cujo título é “La voie de cinabre, grand Particulier ou voie de
la Pierre Philosophale”257, começaremos logo por registar a sua opinião sobre aquilo
que poderia pôr em risco a dignidade alquímica da via dos FARC qaue, segundo ele
conduz à Pedra Filosofal, “embora ele só tenha conhecido uma pessoa que a tenha
conseguido e que foi Kamala Jnana/Roger Caro”: “Dire que la voie du Cinabre est un
grand Particulier ne veut pas dire qu’elle ne conduit pas à la Pierre transmutatoire,
mais peu nombreux sont ceux qui on réussi la Pierre Philosophale dans cette voie.
Jnana, qui ait réussi une poudre de projection à partir de la voie du Cinabre. Pour les
autres, bien nombreux, qui ont essayé cette voie, les plus heureux n’ont réussi qu’une
coloration de l’argent en Or sans lui donner le poids (la densité), ou d’autres ont
quantité insuffisante pour permettre des tests physiques”258. Mais à feente, será
Mas o artigo de Trieli é, também, uma boa síntese muito interessante para os
renascimento”:
- 1º La prépéparation ;
185
- 2º La préparation : durée, 2 mois philosophiques;
- 3º La phase Solve : durée, 8 mois philosophiques;
- 6º La phase projection.
1º. La Prépréparation:
Elle concerne la fabrication du sel. Ce sont les travaux d’Hercule, et ceux qui
ont eu le courage de chercher le vieux chêne creux de Nicolas Flamel savent ce que
veulent dire ces travaux d’Hercule. La durée de ces travaux constituant «le hors
d’oeuvre» nést pas déterminée par l’Art, elle ne dépend que des conditions de travail de
l’opérateur. Il est dit aussi que l’on peut faire préparer ce sel par ceux qui ont une
bonne expérience de la chimie, mais dans ce cas, il faut l’abreuver de Spiritus Mundi
afin de le rendre canonique.
2º La Préparation
Première phase du Grand Oeuvre, en considérant qu’on a sous la main tout ce
qui est nécéssaire pour l’entreprendre. Elle consiste à broyer des blocs de materia
prima dans un mortier et à mettre cette matière pilée avec de l’eau philosophale dans
l’athanor, en appliquant le cinquième feu. Sous la violence de cette chaleur, les trois
corps se séparent en deux groupes; le corps sulfureux reste dans l’Athanor et le corps
3º Solve:
Deuxième phase du Grand Oeuvre; elle se trouve entre la Préparation et
- La Végétation
C’est dans cette phase qu’apparaissent les granulations ressemblent à des oeufs
de grennouilles (photo 2), le corbeau et le sang du dragon (photo 3), la couronne d’or,
186
l’herbe sans racine, etc. Elle a une durée de huit mois philosophiques. Solve et régit par
Saturne et Jupiter.
4º Coagula
Troisième phase du Magistère. Elle vient directement aprés Solve, et contient
trois degrés de feu durant lesquels apparaissent les couleurs: Blanche (photo nº 4:
oeufs de poissons), orangée, et rouge (photo nº. 5). Sa durée est de seize mois
philosophiques. C’est à la fin de ce stade qu’apparait la première pierre au rouge (le
faux prophète, photo nº 5). Pour que cette Pierre ait quelques vertus notables, il lui faut
5º Multiplication
Dernière phase du Magistère. Elle consiste à épurer d’avantage la Matière en
6º Projection
Opération qui consiste à jeter de la poudre lunaire ou solaire (enrobée de cire
Após esta exposição, J. Trieli passa à discussão antes iniciada e que diz respeito
às capacidades de “projecção” desta via, pois, pelos vistos, nem todos os que nela se
lançaram “não foram coroados de sucesso”: “Bien que le processus indiqué par Kamala
Jnana soit rélativement clair, il faut reconnaître que les résultats de la majorité des
Interrogando-se sobre quais serão as causas desse insucesso, Trieli - além daquilo que já
insuficiente dos Princípios alquímicos” - aponta como uma delas, a “qualidade das
matièrias postas em jogo”: “On peut donc s’interroger sur les raisons qui ont conduit la
187
plupart de ces aspirants à échouer. Elles reposent notamment sur la qualité des
Citando o texto de Basilio Valentino: “Sache mon ami que toutes choses
marchandises à vendre, tirées des mines, valent chacune leur prix, mais lorsqu’elles
sont falsifiées, elles deviennent impropres. Elles sont, en effet, altérées sous un faux
éclat, et ne sont plus comme auparavant, convenables au même ouvrage”. Mas a
escolha das matérias nas minas e no seio da natureza, pode não ser suficiente, pelo que
elas deverão ser trabalhadas “canónicamente”, pela Arte, isto é, segundo Trieli: “en
leur donnant cette semence qui leur donnera le pouvoir de réaliser les véritables
«Noces Chimiques», et non une parodie basée sur une simple réaction chimique.” Em
que é que consistirá esa “semente” mineral? A resposta, segfundo Trielli, parece estar
nos “isótopos”, razão pela qual, é feita uma incursão na Química Nuclear (citando um
trabalho do físico Albert Cau, sobre a Alquimia, que referiremos adiante): “Ces
faut que le mercure possède toute sa famille isotopique (tableau nº 1). Un Cinabre
reconstitué avec des matières achetées chez un fournusseur de produits chimiques est
certainement pur, mais alchimiquement c’est un corps mort, non animé. Prenons,
nº 1):
Il est bien évident que si vous voulez réaliser une transmutation avec mercure
natif, vous aurez beaucoup plus de chances de réaliser une transmutation partielle
grâce aux isotopes prés de l’or 197/79. Les énergies mises en jeu ne sont pas de même
188
Deve dizer-se, em boa verdade, que estas “revelações” não estão na linha
habitual dos textos e das intervenções públicas dos FARC. De facto, esta linguagem
de um Solazaref e de um Albert Cau - raramente surge à luz do dia, pela boca de Caro e
dos seus seguidores. Jacques Trieli cita Cau para justificar esta posição: “Pour Albert
Cau, physicien courageux, l’Alchimie doit être repensée avec le langage des
quantique que la Pierre Philosophale devrait avoir pour réaliser une transmutation
com as mesmas matérias e ao mesmo tempo e no mesmo lugar, mas apenas Caro
consegue ter êxito - o que lhe confere uma natural superioridade espiritual e iniciática,
témoignage vécu: «Mon ami Maurice Auberger (major de l’École Centrale) avait été
invité à débuter la phase Solve chez son ami Roger Caro, acompagné de son épouse et
disciple Madeleine. Ils choisirent chacun une même part des trois matières
philosophales (soufre, mercure et sel), et les ayant cohobées, ils firent agir le feu
energétique,... seul Roger Caro réussit cette phase en produisant des granules et les
avait utilisé les même matières, un même ballon et le même sel dans un même lieu, et
Este testemunho anónimo (ou será do próprio Trieli?), confirma o adágio dos
Adeptos: “Não transmutarás senão estiveres transmutado”. Como escreve Trieli: “la
262ibid., p. 35
263ibidem
189
Pierre Philosophale ne sert qu’à transmuter les autres, que ce soient des métaux ou des
êtres humains, «vu que l’Adepte doit déjà s’être transmuté lui-même pour réussir sa
Pierre Philosophale». De facto, continua ele,“l’homme lui-même est impliqué dans la
transmutation de la matière. C’est lui, en définitive, qui doit être transmuté. Le Grand
Oeuvre, c’est aussi les véritables Noces Alchimiques de l’Esprit et de l’Âme” 264. Aqui
relativamente a Caro e aos FARC - de que ele parece ter sido ou ser um membro,
embora tudo indica que ele tenha recebido outras filiações, pelo que a globalidade do
seu texto, não é paradigmática dos FARC - não queremos deixar de citar uma frase sua
affirme son caractère universel car son processus s’applique à tous les ordres de la
nature. Elle ne peut être uniquement une voie spirituelle ni une voie appliquée
qu’Eyrénée Philalèthe veut nous faire entendre lorsque, dans son «Entrée ouverte au
Palais fermé du Roi», il fait parler la Pierre et l’Alchimiste: «... aide-moi et moi je
“Ajuda-me que eu te ajudarei, liberta-me que eu te libertarei”, frase que não poderia ser
264ibidem
265ibidem
190
- Outras características históricas e estruturais do grupo
características:
Imperator;
Hierofante maior, e cinco Grão-Mestres (um para cada parte do mundo). Sob a
cooptação, através de uma série de perguntas a que o aluno tem de responder - após
estudo dos livros de Caro - e enviar ao instrutor, o qual, por sua vez, corrige as
segundo a “Legenda” (p.22) têm pontos comuns com aquelees que figuram no “Tuilleur
- Cada Imperator deve compor o seu brasão, mas entre os diversos emblemas
devem figurar obrigatòriamente, o pelicano, o leão e o Agnus Dei. As armas cotêm, lém
191
disso, o brasão da Ordem (a cruz e a rosa) e o da Igreja Templária (o pelicano e os três
alquímica.
- A última edição de uma obra de Roger Caro de que temos conhecimento foi a
realizada já depois da sua morte, por iniciativa do seu filho: Bible, Science et Alchimie,
de Roger Caro, com prefácio do seu filho Daniel Caro, nas Éditions du Sphinx, Ganges,
1994.
- Por último, devemos indicar que, para além da ligação entre os FARC e a
ENA, existe uma outra ligação com a organização “Templiers de Chypre”, também
uma Igreja cristã. A filiação alquímica reclamada é “ismaelita”, embora a via húmida do
cinábrio, por eles seguida, se encontre em outras fontes. A sua discreção está de acordo
com o tipo de recrutamento utilisado, com o seu processo de ensino e com os seus
textos onde se verifica uma integração entre a teoria alquímica, a doutrina cristã
268Em J.-P. Giudicelli, op. cit. figuram, a página 97, “les symboles des FAR+C”, que, embora
semelhantes, não correspondem exactamente a esta descrição - apresentaremos, este desenho, em Anexo
269Jean-Pierre Bayard, “Le Guide des Societés Secrètes”, op. cit., p. 42
192
GRUPOS ESTUDADOS NO TERRENO
- O Período da “Tourbe”
intitulado “Du matériel céramique pour la voie sèche et la voie humide” que marcou a
porcelaine au tour et selon les pocédés tout aussi spéciaux que traditionels. C’est - et lá
est le but essenciel de son travail de potier - un pratiquant assidu de l’art d’Hermés.
(...)Le matériel qu’il fabrique est spécialement conçu pour le travail des matières
philosophiques. Aprés ces annés de mise au point et avec l’aide de ses amis chymistes,
il a pu élaborer des terres spéciales, des procédés de façonnage tout aussi particuliers,
en vue de confectionner un matériel propre à l’Art (...) par exemple, ses creusets des
Pour des raisons que vous savez tous, Pierre d’Houches (lá est son nom de chymiste)
tient à garder un certain anonymat, sauf pour ceux qui le contacteraient. Cela
n’empêche pas, évidemment d’exercer son métier de potier tout á fait oficiellement dans
193
le monde. Voici où vous pouvez le joindre: Pierre d’Houches, aux bons soins d’Anne
Thu Thuy, Vidal /Grand Rue/ Marsat/63200 RIOM. Anne Thu Thuy, elle, est réligieuse
et se veut l’être au sens traditionel du terme. Ainsi, elle peut, avec grand sapience, re-
lier en un seul volume plusieurs écrits ou parer d’un habit noble et solide les ouvrages
tradicional) que vivem fora dos grandes centros - por opção, já que “Pierre d’Houches”
“métier” tradicional e que vivem dele, o que aliás está em sintonia com as “novas
este par venha a rejeitar, numa atitude tradicionalista e anti-moderna, essas “novas
a maioria dos leitores da “Tourbe” - pessoas das cidades, com outros empregos, que se
livres possíveis, esperando, eventualmente, que mais tarde a reforma os pudesse libertar,
finalmente, para o seu grande interesse. “Pierre d’Houches” é um nome que na “cabala
fonética” poderá significar “Pierre de touche”, a Pedra de toque - talvez indicando que a
verdadeiro alquimista.
no primeiro dos quais se anunciava que: “un certain nombre d’articles paraîtront sur la
pratique même, entrant dans les moindres détails des nécessités de démarrage, tant en
270in “La Tourbe des Philosophes”, nº. 17 , 4e. trimestre de 1981, ps. 47-48. Esta revista é editada em
Paris 5e., pela livraria “La Table d’Émeraude”, 21, rue de la Huchette.
271”La Tourbe des Philosophes”, nº.19, 2e. trimestre de 1982
272”La Tourbe des Philosophes”, nº. 20, 3e. trimestre de 1982, nº. 21, 4e. trimestre de 1982, nº. 22, 4e.
trimestre de 1983
194
voie sèche qu’en voie humide, relatant plus le matériel , les manipulations, que la
doctrine”273. Nesses artigos operativos, assinados os três primeiros por Pierre
se: “Nous ne clôturerons pas cet épître liminaire sans rendre hommage, d’une manière
Canseliet et Fulcanelli, car la situation était toute différente: rapellons que Fulnanelli,
patenté par son haut niveau d’Adepte, a lui-même confié une mission au Maître de
Savignies”. É verdade que, logo a seguir, lê-se que: “Cette mission, nous savons que les
fils de l’Art saurons la retrouver selon la réelle filiation, dans laquelle toutes les
précautions sont prises pour écerter les vautours”274, o que poderia fazer vaticinar uma
espiritual: “C’est avec la trés amicale autorisation d’Isabelle Canseliet qui, comme
l’Homme avec lequel elles ont toujours vécu” E, na realidade, Pierre d’Houches afirma
que, a propósito de uma questão que ocorrerá ao espírito dos “invejosos” - “la question
moment vient et - in occulto - selon les dernières volontés du maître275”. Nessa altura,
contráriamente ao que alguns diziam, lamentando que o Mestre de Savignies não tivesse
conseguido realizar a Obra, Pierre d’Houches afirma, pelo contrário, que ele foi coroado
de sucesso: “Canseliet a réussi!(...) l’au-delá de cette réussite, dont nous affirmons qu’il
195
existe et dont nous apporterons la preuve en temps voulu, reste pour toujours sous le
Mas estas referências a Fulcanelli - por exemplo, “La route fut longue qui, de
Fulcanelli, nous fit découvrir ce monde étrange et merveilleux de l’absolu, vers lequel
tout humain devrait se tourner”277- e a Canseliet - “c’est Monsieur Canseliet qu’il vous
faut suivre comme précieux guide” (...)“Cher ami Eugène Canseliet” 278- iriam, em
breve ser rectificadas, no caso do primeiro por uma negação - violentísima - da sua
estavam interessados vários outros alquimistas, ente os quais Jean Laplace, primeiro
son immense travail au laboratoire (...) l’étudiant attiré par le labeur artisanal. Tu dois
temas que irão acompanhar - aqui sim, fielmente - todo o percurso de Pierre
via a seguir para o conseguir vai levar o futuro Solazaref a a afastar-se do seu
276ibidem
277ibidem, p.22-23
278ibidem
279 Cf. La violence etkle Sacré, op, cit.
280ibidem, p.23
281ibidem, p.22
196
despertar” de Gurdjef – sincretismo bastante típico das “novas espiritualidades” que
características que iriam marcar a obra do futuro Solazaref, entre as quais, as indicações
explícitas de natureza técnica (cálculos, desenhos, tabelas, etc.) aptas para chocar um
com referências aos textos alquímicos tradicionais, mas também com alusões
Gurdjeff, para o qual “o homem dorme, não está despertado”: “Tous (les Pères, Adeptes
de Science) nous disent que l’Homme dort”, “C’est de ce sommeil au monde dont ils
“(...) le conseil des Sages est de quitter ce monde-lá, pour rejoindre celui de l’Art”282.
prática “no forno” indispensável ao “despertar”, poderia fazer prever uma inflexão
relativamente ao estilo da revista o que, em breve, iria resultar num conflito com os
282”La Tourbe des Philosophes”, nº. 20, 3e. trimestre 1982, p. 22-23
197
outros discípulos destes dois grandes nomes da alquimia deste século, não porque eles
indiciava já uma diferença de tom e de escola, como veremos. Aliás o espírito desses
union san laquelle le travail alchimique reste stérile, tombant soit dans l’excés de
- (...) ils s’adressent aux pratiquants, aux manipulateurs, et non pas à ceux qui
Nature”), a Virgem, que acompanhará Solazaref nos seus primeiros escritos - muitos
car elle n’a jamais déçu les hommes ni Dieu. Elle est la seule qui ait été inviolablement
fidèle, et c’est pour cela qu’on dit qu’Elle est immaculé, même lorsqu’Elle est dans la
prison du soufre: vierge minérale... La Dame est si bienveillante! Elle invite tout
d’abord l’aspirant à la visiter. Tout au début, il faut rechercher minières, eaux, sels,...:
parmi les appelés à l’art, la présence de la Vierge est un privilège. «Tu est la Mère»”.
E, para o aspirante, este conselho de sempre invocar o amor de Maria: “Si tu est perdu
Marie (...). Tous les artistes, di fait qu’ils entrent plus avant dans le mystère de la
Dame, lui appartiennent davantage, lui donnent alors encore plus d’amour et plus
d’honneur.”.
198
É preciso estar em “harmonia” com a Dama Natura, venerando Maria, Nossa
Senhora: “vivre sous le manteau de Notre-Dame” - pois ela é iniciadora: “la Dame lui
enseigne qu’il se doit être plus préservérant, plus stable”. Além do mais, ela é
deve ser colhido para as operações espagíricas: “L’artiste se retrouve tout naturellement
dans les champs où la rosée se dépose, aux petits matins printanniers des précieuses
E, a propósito das diferentes vias, diz ele que “a voz corrente” diz que existirão
entre elas “diferenças aparentes” que fazem com que se considere a via breve como “la
plus extraordinaire”, la via seca como “la plus contemporaine”, a via húmida como
“la plus difficile” e a espagíria como “parent pauvre, reléguée au rang d’un vague
bricolage hermétique” . Ora, segundo o nosso autor, isso constitui um erro pois a
Espagíria é tão digna como a Alquimia “Considerer la Spagyrie comme parent pauvre
de l’Alchimie est une grave erreur. Bien de prodiges peuvent être accomplis avec la
Spagyrie (...) En outre la Spagyrie, comme toute ses soeurs (voie séche, voie humide et
voie brève), possède emð elle toutes les conditions requises pour l’évolution intérieure,
dans ses modes opératoires”285 . Por tal facto ele procede a uma igualitarização das
“grande mestre” von Bernus, “talvez a melhor escola alemã de espagíria” 286), pois a via
espagírica está, cono às outras, “sob o manto de Nossa Senhora”: ”Tout ce qui meut
sous le manteau de Notre-Dame lui appartient. Dés lors, comment oser prétendre que
l’une de ses parties est plus noble qu’une autre ? La Vierge est immaculée: la spagyrie
est immaculée, la voie humide est immaculée, la voie sèche et immaculée, la voie brève
est immaculée. La finitude des quatre voies ne concerne pas les hommes dans son
199
essence, et la pierre des philosophes n’est pas plus l’apanage d’une voie que d’une
Mas qual das vias seguir - “La spagyrie, la voie humide, la voie sèche ou l’art
bref, vers quelle destinée est appelé l’artiste?”. A resposta está na “linguagem dos
pássaros”, nessa linguagem, mais poética que racional, que privilegia a intuição e a
inspiração e que pode dar respostas ao alquimista:“C’est lui, aspirant, qui viendra te
guider pour choisir ta voie. Il est la forme manifestée de Marie, des saints anges et de
l’Esprit Universel. Il est la seule voie. Il est la porte ouverte au palais fermé du roi”. E,
immense hommage à Fulcanelli et à son disciple, M. Canseliet, eux qui, par leur bonté,
ont révélé jusqu’au monde profane la seule clef permettant d’accéder réellement au
ton coeur, attends patiemment dans la prière et dans les signes. Le langage des oiseaux
“assadura” (“assation”) em via seca – de carácter mais técnico -, o que faremos adiante,
mas iremos deter-nos, brevemente e desdde já, sobre outras características que esses
d’Houches segue o laico, mas não areligioso Fulcanelli - a quem ele mais tarde acusará
de maçon – e o cristão católico Canseliet: (“a prática religiosa tradicional” é)“la Pierre
Vérité chrétiennes”289. Esse espírito religioso é referido, pelo futuro Solazaref, como
200
sendo essencial ao domínio do ego, etapa fundamen tal da via do “despertar”: “Ce qui
est nécessaire pour le travail est avant tout la pratique en notre temps d’un état
hypnotique de l’ego. Une absence quasi totale de l’influence primaire de l’ego est
requise pour se mettre au travail (...). Notre sciècle exige un travail au préalable, qui
fait appel plus que jamais à l’observance strcte d’une discipline religieuse (...). La
pratique stricte d’une discipline religieuse n’est pas un vague étude symbolique de telle
ou telle religion(...) Elle est comme l’Alchimie: opérative et non pas livresque”290.
chaque chymiste se doit de pratiquer au laboratoire sans en ommettre aucune, avec tout
ce que cette pratique comporte comme éléments guidants et sûrs”291 - objectivo que
d’Houches, sustenta: “C’est ainsi que les quatre voies dont nous parlons entrent
précisement dans le cadre des trois médicines. Cela veut dire qu’un alchimiste ne peut
pas ignorer une médicine plus qu’une autre, une voie plus qu’une autre. Un alchimiste
est, par conséquent, aussi bien spagyriste que pratiquant la voie sèche ou les autres. Un
alchmiste, tout comme ce qu’il vit, s’ouvre fatalement dans le sens positif de l´’evantail
de la connaissance que la Dame déploit, au lieu de se perdre dans ce qui devient alors
sectairement une vulgaire spécialité dans laquelle, necesse est, il ne peut aboutir”292.
Esta crítica da especialização alquímica, irá ter as suas consequências quer no “Introitus
relevo numa exposição quase enciclopédica - o que não admira pois o autor praticou-as
todas.
201
Também aparece nos artigos da “Tourbe”, inevitávelmente e uma vez mais, a
grande questão da operatividade e da especulação: “il ne faut pas (...) laisser ceux qui
ne pratiquent pas parler de pratique”, pois, “ce attitudes de «parler sans faire les
choses à faire» engendrent ou sont issues de ce que nous reprochent à juste titre lçes
Jung et Bachelard (...). O que não retira o valor a certos trabalhos “intelectuais”:“Voilá
qui n’a rien à voir avec des études comparatives ou des analyses symboliques: il faut
des intellectuels, des analystes, seuls eux sont capables de réaliser ces travaux de
agradeça ao edotor da revista: “Nous avons en cela l’aide trés chaleureuse de toute
témoigner en public notre confiance. Non pas que l’équipe fût une sorte de «complice» -
elle qui se caractérise justement par sa complète indépendance - mais tout simplement
parce qu’elle nous offrit cette liberté d’intention à l’égal d’autres qui avaient aussi trés
bien compris les nécessités de l’heure”. E prevendo que será necessária uma “limpeza”
das “cavalariças“ (termo que ele utilizará, neste contexto, num opúsculo posterior, Du
aprés le grand nettoyage prévu dans quelques années”, onde, com algum
les méchants seront alors classés dans les poussièrreux dosiers de l’histoire, en
entre postulants à l’Art, que nous nous retirons définitivement vers le laboratoire (...)
Tant que Dieu le voudra, nous serons, du fond de notre laboratoire, discrètement
202
présent en observant l’évolution de la question alchimique. Et, au besoin seulement,
nous interviendrons ponctuellement pour donner notre point de vue, mais seulement si
ser anunciadas e impostas, também, aos discípulos, pelo “novo herdeiro”: “Pour
l’heure, tous au travail (...) En signe de pénitence, j’impose à ceux qui marchent sous la
bannière du nouvel héritier un silence absolu de deux années de laboratoire (...) Tous
au charbon”.296
Ora, se a intenção era de silêncio exterior, ela não foi respeitada, pois não só ele
foi autor de uma das mais prolíficas produções alquímicas de sempre, como as suas
intervenções nunca primaram pela “discreção”. Por outro lado, o último artigo desta
série de cinco publicados pela “Tourbe”, anunciava, também, o começo da ruptura com
a linhagem “Fulcanelli-Canseliet” que, segundo ele, tinha “posto o dedo na via seca”, a
qual não era a única adequada aos nossos dias e além disso, embora hoje se verificasse
um primado dessa via - “la voie sèche semble plus à aisée de nos jours que la voie
humide” - mais tarde, a via preferencial será a via breve: “En cette époque donc, la voie
sèche peut avoir une sorte de préférence, comme plus tard, lorsque le monde sera
decorria de Fulcanelli, Canseliet e do Adepto N.: “Le temps de l’imposture est mort.
Cela est notre blason.(...). Servir, c’est l’unique voie qui offre la magnificence à notre
295ibidem, ps.15 e 37
296Solazaref, “L’Obédience Conventuelle Alchimique à l’Aube du XXIe. Sciècle”, s.l., s.d., p. 4
297ibidem, p. 29
298Solazaref, “L’Obédience Conventuelle Alchimique à l’Aube du XXIe. Sciècle”, s. l., s. d., p.2
203
blason, celui de la fraternité. C’est l’heure de réunir autour du même feu, tout prés du
Graal, les fils de Science que Eugène Canseliet a formés au secret dans l’ombre de la
transmission de Fulcanelli et de mon maître N..., par lequel j’ai reçu la Pierre”. E, ao
mesmo tempo, vincava bem a sua linhagem alquímica e a legitimidade do seu “poder
temporal”, recebido da filha de Canseliet - “La loi nouvelle qui m’a été remise par
Isabelle Canseliet est celle des actes dans la bonne direction. Le laboratoire passe par
là et uniquement par là (...) J’en assure dorénavant la paternité ainsi que l’autorité
temporelle”. Em suma, Solazaref afirmava a sua filiação: “Les derniers écrits en date
d’un authentique Maître sont ceux de Monsieur Canseliet, précédé de Fulcanelli et,
pour l’Europe Centrale et l’Asie, de N..., dont je présenterai les manuscrits un jour.
Eux sont entièrement crédibles, justes, saints et trés vrais. Ils sont, avec leurs Pères, la
manière à éclaircir la situation du moment. Rien de sérieux n’a encore jamais été écrit
sur l’Ari bref. Laplace était venu, inquiet; il était là pour demander l’initiation à l’Art
bref.
- 1985: les sangsues s’étant procuré des copies de ces écrits, on se met à parler
299ibid., p. 4
300Solazaref, “Les Bûchers du Xxe. Sciècle”, Teilhède, 1988, ps. 227-228
204
No Segundo Caderno da revista “Tempête Chymique, face à l’Athanor:
nascimento:
Solazaref, avait prononcé ce mot régence, dont il nous fut difficile de saisir à la fois
l’ampleur et le sens précis. Cependant, de fait, nous avions été appelés: nous partions.
L’Assemblée des Philosophes devait exercer la Régence, comme nous l’avait annoncé
Canseliet? Não, no seu entender: “Présente, ô combien, Isabelle Canseliet se tient dans
L’obédience demande que chacun soit à sa juste place. Isabelle Canseliet a maintenu en
hauteur que se situe l’intervention brève de Solazaref, avant qu’il ne soit appelé à cette
plus filiative charge, spécialement dans son ouvrage Introitus. Il est bienséant de croire
que ces coups de foudre représentent justement les deux Adeptes, N... et Fulcanelli, se
donnant la main dans l’éternité alors que, le calme revenu au bon niveau
philosophique, l’héritage reprend ses devoirs d’obédience. Tout cela était caché depuis
bien des annés et, si Solazaref n’a connu Eugène Canseliet que tardivement, c’est lui
301Jacques de Beaulieu et son épouse (sic), “Alchimia sola est”, in “La Tempête Chymique”, deuxième
cahier: Carême 1985, p. 16
205
qui prépara le corps du Maître avec Isabelle, et il était depuis douze ans disciple averti
de celui qui le nomme aujourd’hui”. E quanto a esse (então) misterioso Adepto N..., “il
suffira de révéler que l’Adepte qui enseigna la voie brève à Solazaref n’est évidemment
pas inconnu de Fulcanelli, puisqu’ils sont tout les deux couronées. Il serait cependant
vain de tenter le moindre rapprochement entre les deux Adeptes sur le plan de ce
monde, parce que d’une part ils ne sont pas de ce monde et, d’autre part, si quelque
chose pouvait les séparer, ce ne serait que quelques dizaines d’annés d’âge, du point de
vue du monde”302.
Isabelle Canseliet.
de 350 exemplares, dos quais 50 numerados – edição que iria causar um verdadeiro
bomba: desde fotos de Solazaref a fazer tiro ao alvo com uma “Smith & Wesson”, ou a
nécessaires...Le regard solaire, ouvett au monde, par lequel “je” est mort, voyant tout”,
302ibidem, p.16 e 17
303Solazaref, ”Introitus ad Philosophorum Lapidem”, Chez l’Auteur, imprimerie Dole à Moulins, 1984, p
71
206
A primeira parte, intitulada “Ce qui est/ Ce qui est possible”, começa por uma
cabelo comprido e barbas e com um hábito comprido, com cinto (o próprio Solazaref),
espada que está colocada sobre o ombro direito de um homem ajoelhado e com as mão
alquimista - desenrola-se sob um céu nublado do qual desce uma pomba do Espírito
Santo. Aqui está claramente enunciada a vocação dos elementos da Filiação Solazaref:
portulant à l’Art, commencez par vous mettre à genoux et par dire: AU NOM DU
políticas inquietantes que referiremos - é referida mais adiante, no Tratado: Mais tout
comme dans la Chevalerie, qui n’a pas d’époque puisqu’elle est principalement
réalités supérieures?”305 . Mas para que serve este combate, hic et nunc ? Desde logo,
ele serve para vencer o ego, mas tambérm para vencer os “falsos”: “nous affirmons,
avec toute la puissance de notre expérience à l’Athanor, que toute personne n’exerçant
pas à la pince ou au ballon n’est pas autorisée par les Pères à transmettre quoi que ce
soit (...). Nous ne serons jamais assez combatifs contre ces faux, nous ne sévirons
apelo, no “Les Bûchers du Xxe siècle”, para resistêrncia armada contra a eminente
(segundo Solazaref) invasão da Europa Ocidental pelas tropas soviéticas e levou alguns
atacar e a danificar um stand da revista “La Table d’Émeraude”, numa Feira de Livros
304ibid., p. 19
305ibid., p.37
306ibid., p.113
207
esotéricos – o que deu origem a um processo judicial contra a “Filiação”. Curiosa ideia
de cavalaria...
miséricorde de Marie notre trés-sainte Mère”307- é dedicado, entre outros (ao Pai,
trabalhadora, esposa exemplar”, “aos artesãos que trabalham com as suas mãos”) aos
seus Mestres, “ceux qui furent mes maîtres, pour avoir su m’administrer de justes
controlados...: N., Adepte, qui m’enseigna l’Art brevis, par lequel je suis arrivé, Le
Cosmopolite, Monsieur Eugène Canseliet, Père Paul, moine, Archimandrite Placide D.,
Kowaliski, fils de l’Arménien trés estimé, Tri Sang, moine instructeur bouddhiste au
Viet-Nam, assassiné par les Viet Minhs, d.C., indien d’Amérique Centrale, Père E. de
L., Abbé, Frère Marcel, ermite bénédictin.”308. Ele foi entregue “em mão” a “vingt-
deux personnes qui, par leurs actes, ont montré qu’elles étaient dignes de le recevoir,
la longue route d’un pélérinage de plus de cent soixante dix kilomètres, à l’iisue
duquel le présent traité leur fut confié. En outre, l’initiation dont il est question plus bas
Pentecôte 1984, par l’artifice d’une opération d’Art Bref (...) Les futurs disciples
seront reçus par ces derniers. Ce n’est qu’à la suite d’épreuves qu’ils seront, à leur tour
307ibidem
308ibid., p.5
309ibid., p.9
208
voulez-vous sortir quiconque du sommeil sans le secouer un peu?”310. E, na realidade,
Solazaref cumpre a promessa, pois: “Atteindre l’Adeptat, c’est en premier lieu ne plus
dormir”311, “Il ne faut jamais oublier”, “Ceux qui luttent sont ceux qui se rappelent”.
Por isso, utilizando assuntos que alguns pensarão não ter “rapport direct avec
hoje pois segundo este Alquimista, “l’homme a cristallisé définitivement une nouvelle
dimension de lui-même dans cette relation négative avec l’univers: la personalité,
poderosas de trabalho sobre o ego, que ajudem o homem a despertar para uma dimensão
a que ele tinha acesso outrora. Esta “bricolage” iniciática, característica das novas
dos discípulos de Solazaref”314 - com cerca de 400 páginas, em três partes, das quais a
segunda contem treze capítulos, tantos quantos os degraus da “Escada Santa” que é
necessário subir para realizar a Grande Obra. Desses capítulos, indicaremos os seus
209
operações alquímicas laboratoriais - em itálico, tal como figura no livro, no caso dos
capítulos sétimo a décimo segundo, cujo texto está ausente (só existe a primeira página),
ou em letra normal (embora incluindo citações em itálico), por nossa iniciativa, para os
Capítulos que estão realmente presentes no Tratado. Esta associação entre as operações
galvaudées ne peut mener qu’au désespoir si le laboratoire intérieur n’a pas été visité
umas e outras - existe uma subtil a-causalidade, na maior parte dos casos - não deixa de
ter interesse, para pôr em relevo a ligação entre o que se deve passar no interior e no
exterior do operador.
Santa”, “la Renonce”, é dito que “seul le maintient de la lutte entre l’ego et l’être
pourra créer l’énergie suffisamment permanente pour vaincre vos fixités”316. Quanto
à parte operativa, vemos, nesse capítulo, uma página onde figura uma foto, com a
particulier de Vigenère sur le Plomb, en or trés fin”. Isto, como prova operativa da
neste caso, através de um “particular” do Autor do “Traité du Feu et du Sel” - pois, para
210
la division, base arithmétique choisie pour le calcul de dimensions de l’enceinte
Renúncia e do Afastamento, pelo facto de ele ser “sans retour”, porque o Exílio
Voluntário implica uma “atitude tradicional”. Neste capítulo é mencionada a questão da
extracção du “Sujeito” das minas - “l’exil volontaire est l’étape philosophique qui
desculpa por não nomear essa “matéria primeira”, “par simple respect pour la Dame”.
“condições exteriores” e nele são dadas indicações sobre as terras refractárias destinadas
manière de préparer le charbon de bois, afin que vous puissiez, si le dessein de mes
ennemis se précipitait sur moi àvant l’heure, tenter la fusion du mars en votre
317ibid., p. 152
318ibid., p. 187
211
temps.”319. Este capítulo inclui, ainda, referências à Espagíria vegetal - obtenção dos
três Princípios e sua conjunção num “vaso de circulação” 320- e, também à elaboração
amonìaco, pois “bien peu d’Adeptes indiquèrent, dans leurs traités, lusage précis de
putrefacção dos corpos, “est l’agent transmisseur des qualités de l’astral - astris”.
Como escreve Solazaref, “este sexto grau, marca o fim do Introitus ad Philosophorum
pont de jonction qui relie cette finitude avec les purifications mercurielles, s’effectue
par l’usage de ce fameux sel”, sal que, como o Autor indica, é “le seul être capable de
Maître, par nécessité traditionelle) - Comme le feu secret sépare et purifie, l’affliction,
par ses larmes pures, détruit toutes les impuretés visibles ou cachés. Au laboratoire:
nécessité traditionelle) - (...) Ne veuillez pas aux hommes, mais aux causes qui les ont
- Dixième degré: “De la Médisance” (idem), Nul homme sensé n’ignore que la
319ibid., p. 240
320vide foto, op. cit. p. 253
321ibid., p.279
212
- Onzième degré: “Du bavardage et du Silence” (Tome II d’Introitus ad
mentir(...)Pour dire la vérité, il faut acquérir une énergie spéciale, dont le trait
premier oeuvre
est le seul qui vous autorise à traiter d’une manière irréversible toutes vos maladies de
- Quatorzième degré: “Du ventre”. (...) vous ne savez plus que vous êtes
de digestion traditionnel, car il est secret, et il faut que vous le découvrez par vous-
même: cela fait partie de votre libération intégrale du péché originel.” É por isso que
“le maître veille ainsi sur vous jusque dans votre estomac: c’est comme cela qu’il vous
preferências dos diversos tipos (anímico, emocional e intelectual) e qual a sua relação
322ibid., p. 309
323ibid., p. 315
324ibid., p. 320
213
Tipos Preferências Fase da Obra
Trabalhos de
Hércules
emocional
intelectual Vegetais, águas minerais, chás, fruta, oleaginosas, Reino da 3ª. Obra
integração cósmica
Além disso, são fornecidos325 conselhos quanto aos cuidados gerais a ter com a
alimentação:
Quanto ao jejum, “bien qu’elle fasse partie intégrante de ce degré, sera examiné
música - o canto sagrado. Quanto à primeira, “Pour extraire le plus possible la filiale
nouriture de l’air - celle qui aidera à ce troisième choc -, il est nécessaire que votre
correspondantes, dont l’élaboration s’est réalisée par votre propre ascèse. C’est alors
et seulement que les corps que vous aurez conçus en vous agiront comme des aimants
sur les substances sacrées contenues dans l’air”.327 Revela-se muito interessante esta
passagem, pois ela tem a ver com a chamada “alquimia interna” (que não tem nada a ver
com a alquimia psíquica ou mística) ou “via das substâncias”, embora nesta o objectivo
325ibid., p. 322
326ibid., p. 336
327ibid., p. 350
214
seja mais a constituição do “corpo de glória”, que sobrevivirá à morte, do que a simples
temps météorologique - bien qu’il soit primordial sur un autre plan -, que la
Fulcanelli”328. Isto tem, além do mais, um grande interesse, pois volta a colocar o
Introitus, já se afirme discípulo do Mestre N..., ele não corta radicalmente, ainda, com
Fulcanelli, e muito menos com Canseliet - com este, nunca haverá um corte, mas uma
dont il était dépositaire pouvait exorciser les caprices météorologiques. Notez comme
personne n’a souligné la profonde nostalgie des termes avec lequels il relattait
ordre de mission, que je vous répète: allez, pélerins, vous recueillir sur sa tombe.”
muito grande durante a 2ª. Obra: “Nous avions souligné l’importance d’éduquer la
fonction émotionelle comme étant celle qui est le centre de la vie intérieure du disciple
au second oeuvre. La coction, dont certaines tares s’maginent encore qu’il ne s’agit
que d’une manipulation subtile, requiert un type de choc spécial, qui concerne les élus.
(...) l’artiste méritant (...)maintenant, arrivé à ce stade de l’oeuvre, il atteint le seuil
328ibid., p. 344
215
d’oraison tel qu’il ne subsiste plus aucune distance entre la Dame et son porpre
les souffleurs malins qui «arriveraient» par esprit déluré à une pseudo-coction
n’engendreraient rien d’autre qu’un petit particulier à l’or, sous forme saline, capable
de transmuter seulement une à dix fois son propre poids. La Pierre est bien autre chose.
Outre ses capacités transmutatoires grandement supérieures - jusqu’à cent mille -, elle
vit et n’a rien de commun avec un particulier”329. Interessante é notar que, em relação
ao “domínio do ego” dos “eleitos”, Solazaref escreve - numa alusão clara ao sufismo
islâmico: “la condition humaine d’élu préssupose la baraka, c’est-à-dire l’aide directe
de Dieu - le don des étoiles -, se traduisant par ce qu’on peut dénommer une «cause sur
consumez l’énergie négative des désirs, agents dynamiques de l’ego”. Cristã, mas com
referências orientais, como se vê, também, pela seguinte passagem: Les désirs invoulent
en rapport avec le feu secret que vous développez en vous, comme nous l’avions
croissant, dissout les désirs par crémation interne. C’est pourquoi cette pratique est de
síntese da relação entre os “alimentos” e as “causas”, nas suas três estados, ou níveis:
“vous aurez saisi aidément que la maîtrise de la première sorte de nourriture - las
niveau d’accomplissement est celui qui le rend, en sus, cause sur lui-même. Mais ce
dernier état atteint encore un stade de transcendance tel que l’homme n’est plus seul: il
s’agit de la liaison même entre l’homme et Dieu qui se manifeste, et c’est la raison
329ibid., p. 347
330ibid., p. 348
331ibid., p. 352
216
pour laquelle le philosophe est alors cause sur le social (...)” 332. Esta última frase,
desenvolver ao longo dos anos e que atingirá o seu ponto mais forte com o livro “Les
O “Introitus” termina com uma terceira parte intitulada “Le nouvel âge”,
referente à “Arte Breve” e que passaremos a mensionar adiante. Este Tratado termina
com um aviso: quem não tiver efectuado a “synchronisation précise entre tous les
assistons ainsi, pour l’alchimie, à l’élévation en échelle et dans la même direction, des
matières de départ, qui mènent à la toute matière première. Et si la spagyrie utilise les
vitriols métaliques, si la voie humide part des sulfures, si la voie sèche démarre des
métaux et de sulfures, si la voie brève s’enclenche sur métal à état de plasma, ces
l’artifice, trouver la matière première tout comme l’artiste de voie sèche, et tous, d’être
“filosófica” das quatro vias, o Autor escreve: “Le mercure philosophique, réelle matière
première de l’Oeuvre, s’extrait dans les quatres voies, avec plus ou moins de difficultés
selon son ordre d’appartenance dans les voies. Il est, dans la spagyrie et dans la voie
humide, tout aussi difficile de le rendre fixe qu’il est difficile de le faire poindre dans la
332ibid.,p. 348
333ibid.,p. 411
334Pierre d’Houches, “De operandi modo: igne aquaque”, in “La Tourbe des Philosophes”, nº. 22 (4e.
trim 1983), Paris, p. 13
217
voie sèche et dans la voie brève (dans cette dernière, il est complètement occulté par le
modus operandi335). Este “mercúrio filosófico” não deve ser confundido com o
“mercúrio dos filósofos”, que, segundo o Autor, está nele presente, duma maneira ígnea.
“parte mercurial”, bastante discutida pelos diversos autores, os quais fazem, no entanto,
sobre o “enxofre”, uma grande discreção: “C’est ainsi qu’en voie sèche, les textes
pourquoi bon nombre de pratiquants en voie sèche sont bloqués aux aigles: la
question du soufre est la plus grave. (...). Por iso, Pierre d’Houches, continua com
largement sur le mercure ou la partie mercurielle, alors que le caput mortuum, d’où
l’on tire la terra adamique, est laissé pour aompte. C’est qu’il s’agit lá de l’entrée au
troisième oeuvre (...) terre noire et delaissée, de laquelle on tire la terre adamique, qui
donnera aux aigles la rémore, vrai soufre philosophique (...). Calciner vulgairement le
caput ne donne q’une terre rouille, de laquelle est sorti le soufre subtil. Il faut extraire
des préparatifs du deuxième ouvre, se doit être philosophique. Or, chacun sait qu’une
referida: “Pour ce qui concerne le tout début de l’oeuvre sèche - l’extraction réguline
de notre minière - il ne faut pas oublier l’opération suivante, l’assation, qui précédrea,
aux judicieuses époques, les premières séparations. Mais outre l’assation, au feu doux
de la voie humide, la matière concassée et mêlée habilement aux petits galets de rivière,
le tout en gros ballon mis en quarentaine, comme dans la mine, il est impératif d’avoir
335ibid., p.15
336ibid., p.16-17
218
obtenu auparavant de trés excellents sels”337. Continuando com a sua divulgação
“caridosa”, Pierre d’Houches refere que, tendo já falado do “primeiro sal” “à propos du
langage des oiseaux” - onde ele refere uma pequena aldeia, Montsel, “mon sel”, com
muitos estábulos e currais, onde “un magnifique sel de pierre abondait sur tous les
murs!”338 - importa referir o “segundo sal”, no que ele aconselha a seguir a XIIª. chave
“caridosas”, no tocante à “la manière de le bien préarer”. Quanto ao mais, para os sais,
Na VIA HÚMIDA - onde, “dés le départ que la porte se fait étroite” - é preciso
ter atenção “aux moments trés décisifs des dissolutions et des lavages propres aux
matières dissoutes, afin de préparer un trés excellent mariage et non pas un mariage
voué à l’échec, forcé par la hâte. Lá, ce sont les matières qui se marient, le philosophe
nétant qu’une sorte de serviteur... car elles s’attirent et passent d’un vase à l’autre,
toutes pures, pour s’unir en un troisième lieu, qui sera trés exactement l’union parfaite
des deux principes, en poids et en mesure: le philosophe n’aurait jamais pu être aussi
précis!. Les matières dissoutes, lavées, sont prêtes aux noces chymiques, dans un lieu
frais et à l’abri des regards, où la Dame décide du jour et de heure. Puis, lorsque Dieu
le veut - Dieu le feu, éveil du feu secret - les matières aimantées se jettent dans les bras
l’une de l’autre, comme des aimés qui s’étaient perduis et qui se retrouvent”.340
insisterons tout particulièrement sur la spagyrie - outre le fait qu’elle soit mal comprise
en France dans son histoire alors qu’à l’Est elle l’est... - c’est qu’elle permet, justement
par son aspect exotérique, de découvrir la porte d’entrée de la science” 341. A propósito
337ibid., p.17
338ibid., p. 12
339ibid., p. 17
340ibid., p. 17-18
341ibid., p.15
219
desta “porta de entrada” e dos princípios que devem guiar a sua prática, Pierre
l’abri des regards de la lumière. Le temps requis pour cette opération dernière, menant
à la médicine du corps de base, est souvent trés long: plusieurs mois à des années,
mauis c’est le seul moyen de résoudre les trois principes, par leur propre essence et
sans l’aide d’aucune manipulation extérieure, sinon celle de leur nettre en présence,
afin qu’ils puissent se fixer en parfaite médicine.”342. Neste âmbito, ele chama a
atenção para duas importantes operações espagíricas: a destilação - “savoir distiller est
distillations sucessives. (...) Distiller est, sinon l’opération la plus difficile, le moyen
l’expérience et l’intuition que demande cette «simple» opéartion, pourtant seule clef
Pierre d’Houches diz: “De même, la calcination et les laveures des cendres qui
déboucheront sur le sel végétable, se doivent d’être éxécutés avec autant de soin et
d’amour. Lá, les conditions extérieures sont d’égale importance que dans les autres
voies chymiques. Lune montante oblige, variation d’éclats de lumière et, au départ,
excellente broyage des cendres dans lesquelles la partie saline sera ainsi en union
intime avec la partie fixe, facilitant plus tard la fixation de la médicine elle-même, tout
en retardant sa «prise»”.343
Para a Espagíria dos METAIS, é necessário “un trés bon vitriol” - “le meilleur
commerce”- em que a sua preparação é a chave da sua qualidade: “Un soin tout
342ibid., p. 18
343ibid., p. 19
220
particulier se fera ici dans la dissolution du métal de base avec un esprit approprié, le
tout obtenu philosophiquement, même le métal!”. Quanto a esta operação, ela é um bom
dignidade: “Lá encore, les voies ne peuvent que s’interférer, pour la plus grande gloire
de la Dame. Car ce métal, issu bien entendu à partir de sa minière et par voie sèche, au
creuset, donnera son régule que l’on fera ensuite fermenter, afin d’en faciliter
também importante: “L’esprit requis, propre à chaque métal, est à voir selon le grade
de soufre: l’ouverture se fera d’autant mieux que les deux sont de même «niveau». Quoi
qu’il en soit, l’esprit doit également être préparé par l’artiste, qui sait, par l’expérience,
que le choix de sa terre, emprisonnant les résidus au fond de la curcubite du potier, est
tout à fait primordial. En effet, dépend d’elle la finesse des pointes obtenues et
Por último, “but not least”, a VIA BREVE, relativamente à qual, apesar de
“La voie brève, elle, renferme une terrible clef dés le départ (...) tout simplement la
capacité de l’artiste à mettre le métal en état de plasma gazeux. Ce sera ce plasma qui,
nesta via: “le vase est la nature elle-même, par le sceau d’Hermés”. Pierre d’Houches
termina estas curtas referências sobre a via breve, avisando: “Dieu est grand, ayant
placé dans cette clef d’ouverture de la voie brève le diable, au même instant, donnant à
l’opération le caractère d’un grand danger, pour soi et pour les siens, et aussi pour sa
344ibidem
345ibid., ps. 19-20
346ibid., p. 20
221
descendance. Seuls les élus, comme d’habitude pourrions-nous dire, peuvent toucher le
manteau de la Dame”347.
se com sucessor de Canseliet. O choque deve ter sido grande, com a recusa verificada-
por questões de doutrina, mais por questões de técnica - o que terá suscitado a violenta
Outras características
anunciando tempos de combate. No entanto, nada fazia prever que ese combate se
temps. De l’alchimie, vous devez en sublimer les vertus, en célébrer les rites, en
assumer les risques”. Mas, o “inimigo” parecia ser apenas os adversários no plano da
alquimia e do esoterismo: “Nécoutez pas les mots de l’ennemi (...) les mauvais de ce
monde (...) ennemis, adversaires de l’Art (...) ils sont impies et ils le savent au fond
d’eux. La cause qui les meut n’est pas celle de l’Alchimie”348.
un corps (...). Votre seul drapeau est le manteau de la Dame (...) Vous deviendrez peu à
347ibid., p. 21
348Solazaref, “L’Obédience Conventuelle Alchimique à l’Aube du XXIe. Sciècle”, s.l, s.d., p.1
349ibid., p. 2
222
peu, si vous continuez, ce corps d’élite qui défendra la Science des mauvais de ce
monde. (...) Vous n’avez jamais à avoir honte de vos actes, pourvu qu’ils soient
sincères, car vous êtes initiés à un enseignement trés dur, le plus authentique (...) Vous
devez être supérieurs en tout car la cause que vous défendez est hors la loi commune.
(...) Souvenez-vous que vous êtes dressés dans l’ombre de purs tués pour la cause que
vous défendez: les Chevaliers nos Pères; ainsi vous préparez vos épousailles avec la
mort à vous-mêmes. La Saga de ce corps d’élite s’ouvre et se ferme sur des actes
héroiques. Le pire n’est pas encore venu. Pourtant, vous connaîtrez le pire, et il
faudra être prêts. (...) Vous, vous êtes les soldats de la Dame350”. Estas frases iriam,
por certo, moldar os espíritos dos discípulos e prepará-los para os mais duros
la trahison (...) Une seule référence: l’Art. Une seule attitude: son éthique, son glaive
philosophorum lapidem de Solazaref, ed. aut., s.l.. Publicação do 1º. número (premier
une série limitée de cahiers d’alchimie – Une réponse traditionelle concrète aux
350ibid., p.1
223
1985 - Publicação do nº. 2 (deuxième cahier: Carême 1985) de Tempête
Bref, dirigida por Dominique Vadot e Jeanne Descarmes e editada por Aux Amoureux
1988 - Publicação de Les Bûchers du Xxe. Siècle, de Solazaref, nas ed. “Aux
Science”, Teilhède.
nas ed. “Aux Amoureux de Science”: Tome III, De l’esprit universel Vol.I: Vitriolum,
Vol.II: Alkaest.
351ibid., p. 2
224
mesma obra, do vol 1: Le feux du ciel de Somme Hermétique Tome VI: Ars brevis, na
mesma editora.
mesma editora.
the Third Millenium, realizada no “Auditório Dag Hammarskjold, nas Nações Unidas,
Nova Iorque, em 13 de Maio de 1993. O título completo era (em françês): Metallurgie
publicada, em Junho do mesmo ano, nas Éditions Aux Amoureux de Science, Teilhède.
Solazaref, realizou uma exposição de material alquímico e uma conferência pelo próprio
225
1995 - Carta da ”Filiation Solazaref”, denunciando uma dissidência, no seu seio,
recém criadas Éditions Janvier. Na prática, a “Filiação” chegava ao fim, pelo menos
La Garenne Colombes), fundada em 1979 e presidida por Jean Dubuis marca o apare
membros da Associação, com muitos artigos sobre Espagíria e Alquimia, o qual atingiu
membro em Fevereiro de 1983, o que me permitiu receber o seu boletim mensal - com
artigos sobre Espagíria e Alquimia, além de outros sobre temas diversos - receber as
criada em Malesherbes, no princípio dos anos 80, tendo o seu boletim “Le Petit
226
Dezembro de 1982352;o último número, o 127, saiu em Junho-Julho de 1995, altura em
mais de dez anos, se, por qualquer motivo não interrompesse a sua cotisação - que em
1994 era de 300 FF para residentes em França e nos territórios do Ultramar e de 350 FF
para residentes no estrangeiro, e que dava, em qualquer dos casos, direito a receber o
boletim e a inscrever-se nos cursos por correspondência. Quanto ao preço destes cursos,
ele era de 360 FF por ano, podendo ser pago trimestralmente 354. Os Filósofos da
divulgado pela própria associação (vide Anexo) que cultivou sempre uma imagem de
transparência nas suas actividades - ele era, em Setembro de 1990, de 948 membros, dos
quais 394 (42%) mulheres e 554 (58%) homens; quanto à distribuição profissional, para
e reformados, os valores mais significativos, nessa data, eram de 123 (13%) médicos e
352”Le Petit Philosophe de la Nature”, dirigido por Jean Dubuis, impresso (policopiado) por LPN, BP 18,
45330 Malesherbes
353LPN, 12 avenue Olivier, La Garenne Colombes
354cf. “Le Petit Philosophe”, nº. 121 de Dezembro de 1994, p.3
227
estudantes. Quanto á sua distribuição geográfica havia 78 (8%) membros estrangeiros
povoadas, mas também mais interessadas - como as regiões de Paris: 382 membros
etc.355
irradiados (certamente por falta de pagamento de cotisação). Dos 648 membros activos,
de alquimistas alemães: “À titre d’exemple nous allons décrire un des procédés utilisés
228
par les spagyristes de l’école allemande”357(...) “L’école allemande qui utilise ce
processus ne cherche pas par ce procédé, à rejoindre une voie alchimique; elle reste
dans le cadre de la guérison que les lois de ce pays lui autorisent”358. A forte vertente
quer alquímicos), a sua insistência - pelo menos nos seus primeiros tempos - na “via dos
- Alquimia:
talvez devido à perigosidade da “via dos acetatos” - tendo sidos publicados os textos
Embora tivesse sido autorizado por Jean Dubuis para me referir aos
carta anexa), considero também útil e importante referir-me aos ensinamentos teórico-
práticos ministrados nos estágios que frequentei, quer em França (1990) quer em
devidamente legendadas.
229
- A CONCEPÇÃO GERAL “LPN” DA ALQUIMIA E DO ALQUIMISTA
num estágio de alquimia dos LPN359- mas porque eles constituem a base do discurso
Nature, mais à la différence des sciences profanes qui n’envisagent que l’aspect
des études alchimiques que l’opérateur est conduit à un progrés spirituel, à une
élévation de son niveau de conscience. (...) l’avancement spirituel conduit à avoir “la
tête dans le ciel”, mais, pour mener son travail à bien, l’Alchimiste est obligé de garder
les pieds sur Terre; il prend conscience des réalités supérieures tout en gardant à
peut et doit parvenir à manipuler les éléments divin, spirituel invisible qui sont les
230
Relativamente ao aspecto relativo à interacção operador-matéria, Jean Dubuis,
escreve: “En alchimie, même si les ingrédients adéquats son présents et si les
manipulations physiques sont bien faites le résultat ne sera pas nécessairement atteint
est encore plus vrai lorsqu’on avance dans la hiérarchie des opérations et oeuvres
alchimiques.”362
Quanto ao requisitos a que deve obedecer o alquimista, Jean Dubuis diz que ele
“ne peut pas être athée: ce doit être un spiritualiste. (...) il importe qu’il puisse faire
commencer chaque période e travail (...) par une invocation et qu’il la termine par une
conception Divine ou Spirituelle qu’il a choisi selon son coeur. Importa que o
alquimista tenha presente, escreve o Presidente dos LPN, que o seu objectivo deve ser
spirituel personel; mais on n’a jamais aidé qui que ce soit dans ce monde avec de l’or
si l’Infini ne l’a pas permis. (...) C’est ce progrés spirituel personnel que l’on doit
d’abord rechercher: comment peut-on songer à aider les autres si on ne possède pas
soi-même un certain degré de maîtrise. Il existe un principe sacré d’égoisme qui veut
que l’on progresse d’abord soi-même avant de songer à faire avancer les autres.”363
- Quanto à teoria cabalística dos “Philosophes de la Nature”: “Il ne faut pas
oublier que nul n’est Alchimiste s’il ne connait la théorie de l’Alchimie, celle de la
231
“La Qabal vient de la tradition israelite. Elle explique la création de l’univers,
Qabal opérative, pratique, conduit aussi à une certaine connaissance unitaire, à une
initiation intérieure et l’on peut penser que, dans les temps anciens, c’est-à-dire du
temps des véritables Adeptes, ceux-ci obtenaient une Connaissance unique qui était à la
unitaire, quelle que soit la voie par laquelle on est passé, on a la Connaissance dans les
autres disciplines”. Por outro lado, “L’Alchimie donne une connaissance de la Nature
une connaissance à peu prés unitaire qui enveloppe tous les aspects de l’Univers et de
l’Homme”365.
verdade é que, ao mesmo tempo, “pour nous, le pouvoir de transmutation doit être l’un
la guérison de l’âme”.
posterior reunião, com vista à elaboração das tinturas, dos elixires, etc. Eis o que nos
365Jean Dubuis, “Alchimie, Qabal et Astrologie” in “Le Petit Philosophe”, nº. 30 (novembre 1985), p.1
232
- Quanto aos princípios: “Étymologiquement, ce mot signifie, en grec, séparer et
réunir (...)si l’on peut considérer la spagirie comme une partie de l’alchimie, il y a
cependant entre elles une différence de but et aussi de méthode de travail. La spagirie
s’occupe essentiellement de la santé du corps mais elle n’est pas une recherche
initiatique, alors que l’alchimie est une médicine de l’âme et son véritable but est
opérateur est faible.. Par contre, en alchimie, le lien matière-opérateur est trés fort, et
nul ne transmute quoi que ce soit s’il n’est pas transmuté lui-même. En alchimie, la
concentrent les énergies spirituelles: le soufre, le sel, le mercure. Le soufre est l’âme
incorruptible, le mercure est l’esprit qui lie et anime le soufre et le sel, le sel est le
corps. Il y a en plus des impuretés appelées fèces. La méthode consistera, à partir d’un
A Alquimia Mineral dos LPN estava centrada, na sua primeira fase, numa via
húmida, a “via dos acetatos”. Apenas na parte final do curso “Mineral” começaram a ser
feitas descrições da “via seca do Antimónio”, sobretudo da “1ª. Obra”, e nos últimos
tempo que os estágios passaram a incluir - para além da espagíria - esta via alquímica.
366Jean Dubuis, ”Spagirie”, in “Le Petit Philosophe”, nº. 24 (mars 1985), p.1; os sublinhados são nossos
367Jean Pajot, ”La Spagyrie”, in “Le Petit Philosophe”, nº. 92 (janvier 1992), p.1; idem
233
- Em cada uma são incluidos textos sobre Filosofia, Teoria e Prática alquímicas,
pois segundo afirma Jean Dubuis “cette division ternaire nous a été inspirée par Dom
Pernety qui déclare que trois choses sont néecessaires pour avoir quelques chances de
succés dans la Voie Alchimique: un bon jugement, une bonne théorie et une main
évident est une pensée libre; mais cela n’implique absolument pas le fait d’être libre
penseur. La partie “Théorie Alchimique”de nos cours vise deux buts principaux. Le
alchimique n’est pas possible. En effet, il ne faut jamais tenter une expérience en ce
des livres hermétiques: ils ne sont pas écrits pour des débutants ou des ignorants, mais
précautions qui doivenmt les accompagner (pour) accéder “à la main habile” 368
elixires, os quais revelam, ainda, as concepções que os LPN têm quanto aos efeitos
curativos das suas preparações espagíricas e alquímicas: “Il ne faut pas utiliser les
ont un effet essentiellement spirituel et on ne doit pas toucher à cet aspet chez les
autres: un élixir pourrait évéiller un chakra chez une personne qui n’aurait pas la
efficaces sont les extractions métalliques, lesquelles ne sont pas incluses dans les
234
premières parties de ce cours”369. É de salientar que estas questões da segurança e da
aplicação dos elixires para efeitos médicos, estiveram presentes nos últimos documentos
do grupo, antes da sua suspensão - por divisões internas. Mas elas estiveram sempre
presentes, desde o início da actividade pública dos LPN, como o atesta a seguinte
passagem, relativa ao uso dos elixires, incuída na 1ª. “Notice Postulant” do curso de
maintenant sur le fait que la loi française interdit à toute personne étrangère au corps
médical de prescrire à une autre l’usage de tout produit dans un but de cure ou de soin.
Il ne faut dons pas songer aux élixirs pour la santé des aitre. Et pour nous éviter toute
tentationen ce domaine nous ne donnerons pas, au moins dans un premier temps, les
“Vous serez peut-être étonnés de la brièveté de nos textes; mais nous suivons en cela la
Tradition Alchimique. L’adage dit:”lis et relis”. Il faut donc lire et relire les textes
avant de s’en imprégner, suivant par la l’exemple donné par certaines opérations
ESPAGÍRIA
235
Os Estágios de Espagíria que frequentámos, quer em França (arredores de
dias do fim de semana em questão (um dia para a Espagíria e outro para a Alquimia,
embora nem sempre os “dias” fossem inteiros). Vamos transcrever, a seguir, as notas
que tirámos nesses estágios e que são consistentes umas com as outras (são
- A primeira operação efectuada foi a destilação do vinho tinto - tinto, pois ele
contem “fogo solar”; foi utilizado o densímetro para determinação do grau alcooñlico
do destilado. A partir dos 90º é preciso juntar sais obtidos por lixiviação das cinzs das
planta moída num cartucho de “Soxhlet”, colocá-lo num refrigerante vertical sobre um
balão com álcool e proceder à extracção; neste caso o que é extraído é uma tintura -
Mercúrio da planta, aquele vai “determinar-se”, isto é vai entrar em ressonância com
a memária da planta.
- Outro procedimento ainda é o de fazer uma destilação a vapor de água (planta
com água no balão); neste caso, dá-se uma separação do óleo do álcool e no fundo do
balão fica a planta que deve ser calcinada - para dar cinzas que serão lixiviadas (por
meio de lavagens, filtrações e cristalizações), até que o sal fique bem branco e
cristalizado.
236
Espírito Universal é mais abundante. Quanto ao óleo essencial - o Enxofre - ele deve
ser purificado num balão com água e depois realiza-se novas destilações até que
exemplo, para o coração, toma-se 10 gotas de “garence” num copo de água, todos os
dias - e o sistema de extracção por vapor dá boas medicinas para a alma. Para a
planta seca utiliza-se o soxhlet, para a planta fresca utiliza-se a destilação a vapor.
circulação - com a tintura(a tintura sobre o sal), numa incubadora, a 38/40º durante
dias até chegar ao dia da planta. O sal que se pôs em contacto com a tintura recebe as
energias e também as impurezas desta. Decanta-se o sal e calcina-se pelo fogo, o que
tintura até que a tintura fique completamente descolorida; nesta altura a tintura está
destilar-se a tintura e deixar cair o destilado sobre o sal). Obtem-se assim o elixir.
Enxofre
Fixo Volátil
Sal Mercúrio
« «« PEDRA ELIXIR » » »
237
- Para realizar a Pedra coloca-se o mercúrio sobre o sal + enxofre - 1º.) deita-
se o enxofre sobre o sal, i.e., satura-se o sal com o enxofre; 2º.) deita-se o mercúrio
sobre o sal saturado com o enxofre - tapa-se o recipiente o qual vai para a
incubadoura durante uma semana. Repete-se a operação várias vezes até que o sal fixe
o mercúrio, o qual permite que o enxofre se una a ele. A Pedra parece uma resina.
meses.
Guarda-se esse carbonato de potássio liquefeito - a Água dos Anjos - e deita-se (em
volumes iguais) sobre a planta em pó num frasco (a planta é deitada no frasco com
uma peneira “canñnica”); deixa-se passar duas semanas, após o que se junta álcool
“seco”(sem água, ou quase sem água). Guarda-se o frasco durante um mês numa
estufa a 40º C e depois usa-se o extracto como habitualmente - é o “fogo” que extrai,
dá-se uma energetização. A “Água dfos Anjos”, uma vez que dissolve os sais, revivifica
- A Pedra é mais eficaz iniciáticamante que o Elixir(a menos que ele provenha
escolhido:
- Exemplos dos efeitos de algumas Pedras: a “Pedra de Hod” dá autoridade
podendo dar contacto com a Eternidade, derá difìcilmente suportada pelo Homem.
238
- Em que momento se deve começar a extracção da planta? Ela deve ser feita
nos períodos mais favoráveis. Para iso dve ter-se em conta as atribuições planetárias
por um tubo de aço com um estreitamento em baixo, dentro de um cilindro com uma
ganga) e a 500º C deixa de estalar e começa a fundir a cerca de 550º C (até 800º C o
máximo). Ela passa então para baixo onde cai sobre um copo com água - a ganga fica
esponjosa e não cai - e as gotas de estibina vão depositar-se na água onde arrefecem.
Então temos o mineral de antimónio separado da sua ganga. Na 1ª. fusão fica já retido
- Agora vamos realizar uma outra operação química que vai retirar mais
que o antimónio fica livre, sob a forma metálica - o Régulo de Antimónio. Para isso,
põe-se tudo num cadinho de grafite o qual se coloca no forno até atingir a temperatura
que dê uma cor vermelha alaranjada (cuidado: é preciso utilizar óculos, luvas de
amianto e pinças). Depois vaza-se para uma “lingotière” em aço, dando-se uma
separação do Antimónio (Régulo) das escórias; no caso das primeiras escórias, elas
contêm a semente do Ouro (não acontece o mesmo nas seguintes) pelo que as vamos
guardar. Então vamos fazer uma nova purificação: junta-se o Régulo, sob a forma
cñnica (“culot”), com o Ferro e o Salitre; repete-se a operação três vezes no total, até
que os pregos fiquem intactos, até que já não fiquem pregos nas escórias, o que quer
239
dizer que já não fixam mais enxofre. Obteve-se o Régulo marcial de Antimónio, muito
Régulo com uma parte de Prata com um pouco de Salitre. Este conjunto - Régulo (de
Antomónio) marcial lunar - funde a 800º C e, reduzido a pó, num almofariz, vai
marcial lunar (100 g) com o Mercúrio (500 g), durante 4 a 5 horas, num moinho de
bolas metálicas (cuidado: não se deve fazer num almofariz, pois os vapores são
perigosos). Outra via, era a junção do Cobre, para obtenção do Régulo (de Antimónio)
explícitas em Tratados de Química antiga como por exemplo em Lémery, Glaser, etc..
A partir daqui é que o trabalho começa a ser alquímico; de qualquer modo, os LPN
Alquimia, o Homem deve fazer evoluir ou Iniciar a Natureza Caída (que fez a
involução). Ora como o Antimónio está em correspondência com a Séfira mais baixa,
Malkuth, devemos partir dele para o fazermos evoluir (subir a Árvore) - esta é a razão
porque foi escolhido por alquimistas como Flamel, Filaleto, Valentino, etc.. A razão
da mistura com os metais Ferro, Prata, Mercúrio, Cobre, etc. é que eles estão em
(cuidado, não pode haver retorno de água - perigo de explosão). Em cada destilação do
240
é ao mesmo tempo mediadora e fornecedora da semente lunar). No fundo do balão
ficam as “Pombas mortas de Diana” - que não conseguiram voar, ou que começaram a
voar e cairam logo de seguida. A seguir ao voo de cada “Águia” e antes de se fazer
uma nova amálgama, o Mercúrio animado deve ser destilado uma vez; depois da
com a realização laboratorial das “Águias”, tendo sido distribuido um folheto intitulado
técnicos, temperaturas, tempos, etc. que não vale a pena aqui indicar. Os aspectos
globais da técnica até ao começo da 2ª. Obra de Flamel, foram aqui referidos, com
teórico.
de Flamel, mas sim a elaboração do Régulo marcial de Antimónio (tal como foi acima
referida) para a via seca e, também, trabalho do “vinagre radical” para a via dos
Radical”:
Foi dado pouco tempo a esta via pois em 1990 já ela estava em declínio, dentro
Então destila-se esse vinagre e, depois, põe-çse esse vinagre sobre carbonato de cobre
241
o que vai dar acetato de cobre. Aquece-se a 200º C e separa-se o ácido acético (sem
água) do cobre. O Vinagre radical obtido dá para fazer o acetato de antimónio.
estágio foi realizado, em Agosto de 1994, no mesmo lugar, pela mesma Associação.
devido a desinteligências entre os seus dirigentes (de um lado, Jean Dubuis, do outro
uma clara inspiração cabalística e uma forte componente espagírica e que nos últimos
anos passou de uma formação alquímica na “via dos acetatos” para uma formação na
“estágios” práticos de fins de semana. Têm um boletim onde são publicados (entre
outros) artigos sobre alquimia e espagíria. Quer os texto dos cursos, quer os artigos do
boletim, quer ainda os estágios, assentam numa linguagem onde a simbolização náo é
muito forte e, por isso, onde a integração entre doutrina, teoria e prática não é a mais
conseguida.
242
VI - NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS E ESPIRITUALIDADES
nestas mesmas dimensões, vejamos agora as suas dimensões sociais internas e externas.
espiritualidades.
Ocidente em geral, sobretudo nos século XIX e primeira metade do século XX,
verificou-se, segundo a apreciação sociológica vigente até aos anos 70/80, aquilo a que
243
sucessivamente, os estágios da Magia e da Religião, estava agora a entrar,
detalhada, reflexão que a própria sociologia elaborou sobretudo a partir do começo dos
anos 90. De facto, paralelamente a uma evidente “decomposição” das religiões, fruto
da sua crise – somada a uma manifesta crise das ideologias profanas (as “grande
religiosas, quer dos efectivos que são influenciados por essa “nebulosa místico-
casos afastadas das grandes religiões - é, segundo François Laplantine, “um dos
372 François Laplantine, “Présentation” de Le Défi Magique - Ésotérisme, Occultisme, Spiritisme, Volume
1, Textes réunis par Jean-Bapt6iste Martin et présentés par François Laplantine, Lyon, Presses
Universitaires de Lyon, 1994, p. 9. Este volume (e o 2º. ) inclui as actas de um colóquio realizado em
1992 e organizado pelo CREA – “Centre de Recherches et d’études anthropologiques” da Universidade
Lumière de Lyon e o CESNUR – “Centro Studi sulle Nuove Religioni” de Torino, dirigido por Massimo
Introvigne.
244
suas manifestações -, e manifesta-se através de “uma série de respostas (à crise desta
religieux, loin de disparaître en cette fin du Xxe. siècle, se recompose selon des formes
société, donne significations et valeurs aux comportements, «relie» les hommes entre
eux: le religieux373.
do religioso em geral, muito menos o seu fim. O que aconteceu foi que a religião tomou
politicas) já não lhes podiam resolver. Uma significativa parte das pessoas das
ponto de vista racional e emocional) às grandes questões do Homem que, quer a Ciência
instituições, muitas vezes distantes dos fiéis, já não lhes podiam oferecer, quer por
373 Ibidem.
245
social foi, de algum modo, afastada do espaço público. O que acontece é que essa
mais complexe et ambigu, qui n’exclu pas les individus charismatiques ni les
do sagrado”, que são o objecto deste nosso trabalho de Tese e de que já tratámos
anteriormente.
par syncrétisme, de l’inédit et font réapparaître des formes de spiritualité que l’on
croyait abandonnées et surtout qui ne sont plus l’oeuvre des grandes institutions
judaisme que dans l’Islam, le catholicisme, le protestantisme. Dans le primier cas (la
246
reconstituition des identités et la reconquête du sens s’effectuent plutôt aujourd’hui, par
ce que le groupe social capte par ses «antennes». Dans le second cas (la recomposition
du religieux à partir d’une option qui peut être qualifiée de «sectaire»), elles
religieux, que nous sommes confrontées. La modernité réactive notamment des formes
surpreendente - levou (como dissemos) alguns dos que elaboraram há décadas a “teoria
Pelo interesse que isso constitui para este nosso trabalho, vamos determo-nos um pouco
mais neste tema de reflexão, a qual tem a ver com uma reflexão sobre o conceito de
376 Claude Rivière, Socio-anthropologie des réligions, Paris, Armand Colin/Masson, 1997, p. 150.
377 François Laplantine, Le Défi Magique, vol. I, op. cit., p. 9 e 10.
378 Essa tipologia – evolutiva - distingue as religiões das seitas e, entre as duas, abre um espaço para as
denominações (ver, p.e., J.P. Willaime, Sociologie des religions, Paris, P.U.F., pp.27 e )
247
Exemplo dessa atitude de mudança teórica é Peter Berger, teórico da
“secularização” e autor do importante livro do final dos anos 60, The Sacred Canopy:
religioso”, revendo a análise onde assentou a “secularização”, já que para ele e os que o
acompanham – neste livro, Jonathan Sacks, George Weigel, David Martin, Grace Davie,
etc, mas não apenas estes – “a modernidade não acarretou um declínio da religião”.
É habitual localizar a origem dos NMR nos anos 70, decorrente de vários
factores que a seguir analisaremos. Mas parece que eles têm (pelo menos os primeiros)
uma raíz na contra-cultura dos anos 60, com a sua contestação ao “sistema” e a busca de
dessa “vingança de Deus” (cf. Gilles Kepel, op. cit. na Bibliografia), desse regresso de
“islamista” em geral, quer xiita, quer sobretudo sunita (Al-Qaida, etc.) - e, também
248
manifestação mais intensa e espectacular no chamado islamismo “salafista” e
“jihadista”, não se limitam a este, podendo dizer-se que quase todas as “grandes
(sobretudo nos século XIX e primeira metade do século XX), e que acarretaram aquilo a
doutrina da secularização de Peter Berger, proposta no seu já citado livro de 1967, The
tomava essa crise das instituições religiosas por uma crise do religioso no seu todo, crise
380 Peter Berger e outros, Le réenchant du monde, Paris, Bayard, 2001, trad. francesa de The
Desecularization of the World – Resurgent Religion and World Politics, Grand Rapids, Mi/EUA,
Eerdmans, 1999.
381 Ver um resumo disto num meu trabalho intitulado “A violência religiosa contemporânea” publicado
no anuário “Janus 2007” (Público/UAL). Para um tratamento mais detalhado e completo, ver as obras de
Mark Juergensmeyer e de Charles Selengut, citadas na bibliografia.
382 Teoria na qual a religião é um “nomos”, um mundo de ordem significaticva contra o caos, um “escudo
último contra o terror da anomia”, i.e., a ansiedade e a falta de normas, o qual “fornece a mais efectiva
legitimação da ordem social”, “cosmicizando-a e tornando-a sagrada-a” e, ao mesmo tempo, criando um a
alienação”, ao esquecer o homem que foi ele próprio que ”construiu socialmente” esse mundo cultural
que é a religião.
383 e do consequente “mercado” de “produtos religiosos” que traz a desobjectivação do “nomos” e põe
em cheque a sua veracidade, relativizando-a
249
“seitas” ou “cultos” – e de uma ”nova espiritualidade”, exuberante, quer do ponto de
vista das doutrinas religiosas e mágico-religiosas, quer dos efectivos influenciados por
suma: o religioso não desapareceu, antes ressurgiu sob novas formas, uma das quais
Homem que, quer a Ciência (ou melhor, a tecno-ciência), quer as Religiões históricas
assentes em grandes instituições, muitas vezes distantes dos fiéis, já não lhes podiam
oferecer, quer por limitação doutrinal (dogmas, etc.), quer por limitação funcional (a
indivíduo nas grandes instituições religiosas, para uma posição central em que o
384Essa tipologia – evolutiva - distingue as religiões das seitas e, entre as duas, abre um espaço para as
denominações (ver, p.e., J.P. Willaime, Sociologie des religions, Paris, P.U.F., pp.27 e )
250
plurais e não-exclusivos, substitui o ser tradicional que aceitava, muitas vezes
compromissos exclusivos.
Mas, como já refrimos, este processo não foi um processo geral e único, antes
coexistiu (e coexiste) com as antigas formas religiosas e suas instituições (que, embora
os NMR “evitar as análises reducionistas” e ter em conta, para além dos problemas na
humanidade, as quais têm uma realidade e uma importância independentes das nossas
385 Ver o meu artigo e o esquema nele publicado, em Le sacré, comme centre organisateur, publicado no
livro dirigido por Basarab Nicolescu, Le sacré aujourd’hui, Ed. Rocher, Monaco, 2003, incluído, em
tradução para português, no meu livro Re-criações herméticas II, Hugin, Lisboa, 2004, pp.224-231.
386 David Martin, A General Theory of Seculization, Oxford, Blackwell, 1978.
387 Claude Rivière, Socio-anthropologie des réligions, Paris, Armand Colin/Masson, 1997, p. 150 (a
tradução é nossa).
388 Ibid., p. 154 (a tradução é nossa).
251
Será muito útil ver agora qual a Teoria da Religião que fundamenta estas
fornece uma versão alternativa às que Peter Berger propôs. Partindo da convergência
promessas de recompensa (vida depois da morte, etc.) noutro tempo e noutro lugar -,
como Weber e Berger) que “os humanos precisam de viver num mundo com
das sociedades industriais avançadas anulam esta necessidade” - nem a satisfazem, tal
se terem tornado mais mundanas, mais acomodadas aos aspectos não religiosos dos seus
contextos culturais”, pelo que, “ao contrário do que afirmam Berger e seguidores, (...) a
estabelecidas”. Em suma, como já vimos (mas nunca é demais repetir), a religião não
252
Está na altura de enquadrar estes grupos, de precisar os conceitos e estabelecer
religioso, com menor grau de organização e estrutura que os NMR e ainda com um
carácter mais filosófico e menos “religioso” que as religiões tradicionais. Estes NMR e
EA não são todos “novos” e nem todos são “movimentos” – ver Massimo Introvigne,
La Magie à nos portes, Fides, Paris, 1994 - ver ainda o prefácio de J. Gordon Melton a
religiões apresentam as velhas religiões num novo contexto, a uma nova audiência.” (p.
10). Além disso, muitas das suas manifestações “desafiam as nossas próprias definições
de religião” (ibid., p. 11), pelo que seria mais natural colocá-las mais no campo das
primeiras – ver o título da obra editada por Eileen Barker (uma das fundadoras do
estudo dos NMR) e Margit Warburg, New Religions and New Religiosity, Aarhus
obra de Paul Heelas e Linda Woodhead, The Spiritual Revolution – why Religion is
given way to Spirituality, Blackwell, Oxford, 2005. E, convém dizer, muito do seu
389 Nova Religio – The Journal of Alternative and Emergent Religions, é o título de uma recente revista
académica, dirigida por Catherine Wessinger e editada, em Nova Iorque, pela Seven Bridges Press, em
colaboração com a Universidade Loyola de Nova Orléans e a Universidade Stetson, dedicada, como o seu
subtítulo indica, ao estudo das religões alternativas e emergentes.
253
“mágico-religioso” – ver, a este propósito, o interessante e já citado livrinho de
Torino). Esclareça-se, por fim, nesta breve discussão da denominação NMR, que ela foi
Comecemos pela mais recente tipologia, que não é evolutiva, mas que pretende
harmonia, com mais ou menos violência, nos nossos dias – tanto nos níveis global,
nacional, local, como pessoal - e que de alguma maneira integra (como veremos
- religions of difference;
- religions of humanity;
- spiritualities of life391.
baseada nos diferentes graus de relação entre o divino, o humano e a ordem natural,
390 Paul Heelas, Linda Woodhead, Religion in modern times – an interpretative anthology, editado na
colecção Religion and Modernity , em Oxford, pela editora Blackwell, em 2000.
391 P. Heelas, L. Woodhead, op. cit., pp. 2 e3.
254
- As Religiões de diferença, que distinguem drásticamente entre o divino, por
delas de seguida;
estes três elementos, sem subordinar o humano, quer ao divino, quer ao natural.
Estes três tipos de religião dos nossos dias podem dar origem, segundo Paul
Heelas, a outras formas de religião, a novas variedades religiosas, de que ele cita duas:
255
experiential religions of difference e experiential religions of humanity, as quais aliás
não são de muita importância para o tema que estudámos: os grupos alquímicos da
tipologia de Heelas, que passaremos a examinar com mais detalhe. Ao contrário das
“espiritualidades da vida” consideram que o divino existe já dentro da ordem das coisas
interior” que é preciso libertar, aqui e agora, do “eu inferior”. Para elas a vida perfeita
já está inerentemente presente; a única coisa que é preciso fazer é “trabalhar” com
a autoridade é considerada residir antes no interior, do que no exterior (…) (pelo que)
os que nelas estão envolvidos não confiam nos ditames da ttradição (sendo, por isso) as
256
elas rejeitam a tradição, que podem ser consideradas genuinamente pós-
tradicionais395.
indesmentível tendência para o interno ou para o interior e que, além disso, defendem e
procedem a uma valorização da vida - apresentam alguns “termos análogos”, dos quais
destacamos os seguintes:
partir dos anos 60 o qual embora, segundo Paul Heelas, se sobrepõe àquilo
“espiritualidade de Hollywood”396.
comunidades muito mais diferenciadas do que aquelas que são típicas dos
395 Ibidem.
396 Ibid., p. 112.
397 Ibidem.
257
interior e os que a seguem não se sentem por eles atraídos, antes privilegiam
reunião, etc.398
Neste domínio da organização das novas formas religiosas existe uma situação
pela frase da socióloga Grace Davies, “acreditar sem pertencer”, incluída no seu célebre
Esta tipologia de Paul Heelas , embora útil para distinguir as novas religiosidades
a diversidade que existe nas manifestações actuais do religioso, neste domínio – onde
coexistem, como já vimos, formas e conteúdos “antigos” e “novos” – pelo que será
necessário recorrer, de seguida, a outras tipologias mais finas, as quais poderão melhor
258
Tipologias dos NMR
De todas as tipologias que pretendem fazer uma distinção mais fina no interior
dos NMR, i.e., entre as suas diversas manifestações, parece-nos que a apresentada na
descrição deste fenómeno complexo que são os NMR. Assim, nesta tipologia proposta,
Igreja Celestial de Cristo/Aladura (Benin), Igreja Cristã de Sião (África do Sul), Templo do
Povo do Ver. Jim Jones (EUA/Guiana), Ramo dos Davidianos (waco, Texas), A
Learning Center, de Rav Berg, etc.), Aleph/Aliança para a Renovação do Judaísmo, Judaísmo
- NMR com raízes no Islão: Ordem Sufi Turca/ Odem dos Derviches Halveti-
Jerrahi, Ordem Sufi dos Naqshbandis Haqqani, Fé Baha’i, Movimento Internacional Sufi, A
259
- NMR com raízes no Zoroastrismo: Mazdeísmo reformado, Filosofia Parsi, etc.
Kumaris, Movimento Meher Baba, Sociedade Satya Sai Baba, Ananda Marga, MT/Meditação
- NMR com raízes no Extremo Oriente: Tenrikyo (Japão), Soka Gakkai (Japão),
Reiki (Japão), Aum Shinrikyo (Japão), Taoismo moderno (Mantak Chia, etc.), Kyodan/Perfeita
Liberdade (Japão), Cao Daí (Vietnam), Falun Gong (China), Tai Chi (China), Artes Marciais
- NMR com raízes nas Tradições indígenas e Pagãs: Cultos “cargo” (Melanesia,
(Brasil), Vudu (Haiti), Brujeria (México), Palo Maiombe (México), Igreja dos Nativos
Americanos (EUA), Xamanismos diversos (Castaneda, Michael Harner, etc.), Wicca, Eco-
etc.
Age”(NA):
OCTCND, OVDT, OSMTJ, etc.), (Franco-) Maçonaria (Judaico-cristã, Cristã, “egípcia”, etc.,
de Ofício, de Altos graus, Regular, liberal, etc.), Teosofismo (Sociedade Teosófica de H.P.
260
Blavatksky, Antroposofia de Rudolf Steiner, Escola Arcana de Alice Bailey, etc.), outras
escolas: HOGD/Hermetic Order of the Golden Dawn, de W. Wynn Wescott, AA, de Aleister
Crowley, OTO/Ordo Templi Orientis, de Karl Kellner, Theodor Reuss e A Crowley, Grupos
Gurdjieff e Ouspensky, Igrejas Gnósticas, Satanismo (Igreja de Satã, de LaVey, Templo de Set,
nas Celebridades (Elvis Presley, Princesa Diana, etc.), Psicologias transpessoais (Stanislav Grof,
Pierre Weil, etc.), URANTIA, Ufologia (Raelianos, Heaven’s Gate, etc.), Controle Mental de
Criticável, para alguns, nesta tipologia – a melhor, no entanto, que nos foi
proposta até agora – apenas as duas últimas divisões, já que pode parecer que seria
também, no segundo, raízes gnósticas e herméticas, mas, além delas, também outras,
sincrético e mesmo oriental – e integrar o “New Age” nos NMR com raízes nas
entanto como veremos neste trabalho de Tese, há grupos esotéricos que apresentam
400 Ambos pertencentes à categoria de audience cults¸ proposta (tal como as outras categorias de client
cults e movement cults) por Rodney Stark e William S. Bainbridge, no seu livro The Future of Religion:
Secularization, Revival and Cult Formation, University of California Press, 1985
261
É importante lembrar o lugar que ocupa a alquimia operativo-laboratorial nestas
Essa espiritualidade da “Nova Era” (onde incluiremos também, o que não faz
Partridge, a escola Ramtha e o channeling), este “New Age”, não é nem um movimento
único, nem está assente apenas em raízes panteístas e gnósticas, foi estudado, sob
diferentes perspectivas, em três obras essenciais: duas de 1996, The New Age
Movement. Celebration of the Self and the Sacralization of Modernity, de Paul Heelas,
(Blackwell, Oxfrod) – para o qual este fenómeno de uma “nova religiosidade”, é “uma
com a expansão e realização pessoais - e New Age Religion and Western Culture.
que reduz o “New Age” ao “esoterismo ocidental” (o que é no mínimo discutível, já que
401 Muitas Ordens esotéricas ocidentais encaram o “New Age” com alguma superioridade espiritual e
262
uma parte significativa do esoterismo contemporâneo afasta-se dele e até o rejeita),
novo compromisso com a ciência moderna - e outra mais recente, Le New Age, des
origines à nos jours, de Massimo Introvigne (Dervy, Paris, 2005, tradução do livro
italiano New Age & Next Age, de 2000). Nesta última obra, o autor (Director do
CESNUR) propões que, depois do primeiro “New Age” de 1962 a 1992 – movimento
verifica a emergência de uma nova forma, o pós-“New Age”, ou o “Next Age” que,
relatados pelos media, mas que em boa verdade atingem apenas uma pequena parte
mesmo aversão.
402 Ver, por exemplo, James R. Lewis e Jesper Aagaard Petersen, eds., Controversial New Religions,
Oxford, Oxford University Press, 2005.
403 Cite-se o caso célebre dos “Meninos de Deus”.
404 Cite-se os casos dos Davidianos em Waco/Texas e da Ordem do Templo Solar.
405 A Cientologia é alvo deste tipo de acusações em vários países.
406 Ver, por exemplo, J. Gordon Melton e David Bromley, eds., Cults, Religion and Violence, Cambridge,
Cambridge University Press, 2002.
263
evocadas pelas organizações “anti-seitas” (quer religiosas, quer laicas) como suficientes
para a proibição do fenómeno dos NMR no seu todo, o que a verificar-se traria como
religiões” e as outras acusações acima referidas são por vezes injustificadas (como é o
caso da maior parte das chamadas “lavagens ao cérebro”), ou têm raíz em conflitos
familiares. É claro que devido à natureza complexa do fenómeno dos NMR este é mais
(como é o caso dos violentos). No entanto, o que é necessário fazer, desde já, é (em vez
das ciências das religiões, a antropologia que embora tendo “chegado tarde” 408 ao
estudo do fenómeno, está em boa posição para dar um precioso contributo ao seu
violência física.
407 Veja-se, neste contexto das manifestações violentas, o trabalho de campo do sociólogo suiço Jean-
François Mayer, elaborado na fase “tranquila” da Ordem do Templo Solar. Infelizmente este estudioso
terminou o seu trabalho antes de se começarem a verificar sintomas inquietantes naquele grupo,
particularmente uma radicalização gnosticista do seu discurso consubstanciada numa desvalorização
progressiva do mundo – em resposta a um cerco legítimo das autoridades, por razões de tráficos diversos.
Depois dos diversos suicídios verificados (não só na Suiça, mas também em França e no Canadá), Mayer
foi contratado pela Polícia e pelas Informações helvéticas para expliucar o sucedido e para prevenir
recidivas.
408 O excelente trabalho (de 1989) da antropóloga T.M. Luhrman, Persuations of the Witch’s Craft –
Ritual Magic in Comtemporary England (Picador, London, 1994), teve infelizmente, até hoje, poucos
264
aos múltiplos desafios da vida. E se no caso das influências vagas e das adesões fluidas,
entrega do aderente é total ou quase total: beaucoup d’adhérents ont eu à supporear une
Cherchant la sécurité, ils trouvent dans les sectes résponse à leurs besoins, puisqu’on
leur assure gîet et couvert, soutient et protection tant physique que psychologique410.
Tal relação emocional põe por vezes os aderentes a esses grupos na sua dependência
“lavagem ao cérebro”, temas que são frequentes nas acusações contra as “seitas”
destes dois tipos de associação acima citados, sendo maioritária a adesão fluida a grupos
adesão do tipo comunitário sectário, rígido e com forte sistema de sanção, um caso
limite que só verificámos num dos grupos (“Filiação Solazaref”) e que, mesmo assim,
integrava sobretudo uma minoria dentro do próprio grupo (uma espécie de “círculo
grupo, como vimos. Em todos os grupos há sempre alguma espécie de “círculo interno”
continuadores à altura. Cite-se, como excepção notável, o trabalho de Susan Greenwood, Magic,
Witchcraft and the Otherworld – An Anthropology, Oxford, Berg, 2000.
409 Françoise Champion, Danielle Hervieu Léger, De l’émotion en religion. Renouveaux et traditions,
265
em torno do fundador e do lider mas a intensidade dessa estrutura e os seus reflexos em
Veremos também adiante que alguns dos grupos alquímicos estudados se podem
Age” (“Nova Era”), cujos grupos, ou associações mais ou menos vagas, “não
É importante dizer, desde já, que a adesão ao universo da Alquimia e aos grupos
alquímicos, por parte de muitos, radica nessa esperança de cura e saúde psico-físicas
que eles têm a esperança de encontrar, quer seja através das essências, tinturas e elixires
Longa Vida -, quer através do carisma e influência do “mestre” que se pensa estar
transmitida ao grupo, qual baraka (benção ou graça) dos mestres das tarikas sufis.
412 Ibidem.
266
(Rodney e Stark, op. cit.) para diminuir a angústia e a incerteza e dar conforto e
esperança.
diacrónica da alquimia e a vivência dos membros dos seus grupos, seus discursos e suas
práticas, vamos agora estudar a sua dimensão sincrónica. O objectivo deste capítulo é
analisar as doutrinas dos grupos alquímicos estudados e estudar a sua correlação com a
grupos.
DOUTRINAS
proclamações dos seus lideres, na maior parte dos casos não existe uma doutrina
alquímica “pura”, mas sim uma “bricolage” com várias contribuições. Apenas
observámos uma maior “pureza” no caso do Sagy-Nature de Patrick Rivière, que segue
Fulcanelli e seu discípulo Canseliet – este, no entanto, mais cristão que o seu mestre.
Mas mesmo nestes mestres da tradição alquímica europeia, renascida no século XX, há
o capítulo do Mistérios das Catedrais relativo à “Cruz cíclica de Hendaye” e que tem
267
Procuraremos fazer no quadro seguinte a síntese das diversas contribuições
Philosophes de la Nature”/LPN (Qabal como eles escrevem) que, para além de ser
Ouro alemã dos anos 70 do século XVIII) e inglês (Ordem Hermética da Aurora
doenças, por um lado, e os planetas, os metais e as plantes, por outro, permitindo assim
que os elixires vegetais ou minerais preparados sejam utilizados para fins medicinais.
constatámos nas suas publicações e no seu discurso público ou semi-público, uma clara
e para as camadas subtis mais profundas do alquimista – uma vez mais uma
os adeptos, como as longas caminhadas no campo, por vezes à noite (que Gurdjef
Homem), as invectivas, por vezes sob a forma de insultos, para “pôr o ego no seu lugar”
(recordo o episódio que me contaram e de que foi alvo o filho de EM, aquando da
268
deslocação de um grupo de portugueses à sede da FS em Marsat, Auvergne/Puy de
Dôme. É de referir ainda no que diz respeito à doutrina que a FS teve uma primeira fase
algumas referências célticas, mas esse tipo de cristianismo celta foi sendo
claramente rosacrucianos e têm associados uma Igreja cristã gnóstica – de que Roger
Caro era o Patriarca - que, apesar do seu esoterismo, procurou sempre o reconhecimento
detectámos nele um cristianismo alquímico – o Graal como líquido alquimico - que lhe
Assim, temos:
LPN FS SN FARC
Doutrinas
Espagíria + + + +
Alquimia + + + +
Cabala (Qabal) +
Cristianismo + (1ª. fase) + +
Neo-paganismo + (2ª. Fase)
Rosicrucianismo (+) +
Templarismo + +
Igreja Gnóstica +
Gurdjief +
et Épopée, t. I, II, III (1968, 1971, 1973, 1986) Paris, Gallimard, 1995 -, podemos
estabelecer uma correlação entre estes grupos e os três níveis de iniciação simbólica
269
associados à “tripartição” de Dumézil. Pode observar-se, assim, que todos eles se
LPN FS SN FARC
Simbolismo
Artesanal + + + +
Cavaleiresco ++ +
Sacerdotal + + + ++
a si própria, o que se passa é que estes grupos e os seus membros sentam a necessidade
outras práticas (Qabala, Gurdjief, etc.) mais “espirituais”. Isto deve radicar na tradição
270
religiosa e míistica ocidental que desvaloriza o corpo e a matéria e para a qual só há
Finalmente, é útil para melhor sistematizar as posições destes grupos face aos
temas da espiritualidade moderna do tipo New Age – ver, p. e., Wouter H. Hanegraaff,
New Age Religion and Western Culture – Esotericism in the Mirror of Secular Thought.
Alguns dos grupos alquímicos que estudámos rejeitam firmemente o New Age e as
do LPN.
LPN FS SN FARC
Afirmação da ciência + + +
“Nova Ciência” + +
Parapsicologia + +
Terapias Alternativas + + + +
alquímicas
Terapias Alternativas +
Electrónicas (*)
E, mesmo nos grupos abertamente anti-New Age e anti-NM FS, vemos que
LPN FS SN FARC
NMR + +
EA +
New Age +
271
Anti-New age +++ + ++
classifica a Alquimia como um tipo de NMR e EA, incluindo como subtipos quer o
Esoterismo Ocidental quer o New Age, nós devemos aceitá-la pois essa vertente “new
SOCIOLÓGICAS
The Oxford Hanbook of New Religious Movements, editado por James R. Lewis,
Oxford University Press, 2004, pp. 445-465), Olav Hammer discute as definições de
conhecimento apenas para alguns e por fases” - e que está relacionado com a estrutura e
a função das “religiões esotéricas” e dos NMR, como explicita Hammer, nesse artigo:
272
sociopsychological mechanisms. O mesmo autor afirma, nesse sentido, que é necessário
- rituais (rituals);
273
- estilo cognitivo (cognitive style);
Como afirma Olaf Hammer there are “Western Esoteric” currents that are not
esoteric in the typological sense of the world, e por outro lado, many of the esoteric
typological currents are not “Western esoteric” in Faivre’s sense. Exemplo disto será
Quanto à Alquimia, se nós considerarmos apenas a sua teoria e a sua prática, sera
274
(fornos/atanores, retortas, balões, etc.) – que são uma espécie de de totems dos
nos Capítulos II, III e IV e a segunda que nos guiou no que já focámos em capítulo
antecedente e nos guiará no que se segue e que ilustraremos sinteticamente por tabelas
vezes secreto, cuja divulgação e acesso são administrados por especialistas do sagrado,
por virtuosi religiosos (cf. Max Weber), através de uma estrutura hierárquica que está
associada ao poder desses mesmos especialistas. Esta fronteira estabelecida pelo grupo
próprio esotérico, estabelece assim uma partição entre dois mundos, o dos profanos
(“eles”) e o dos iniciados (“nós”) que detêm este conhecimento reservado e que está
limitado aos iniciados e que lhes dá “poder ideológico” e simbólico. Esta divisão entre o
grupo e a sociedade, é replicada dentro do próprio grupo pois, dentro dele existe
também uma partição entre os detentores dos diversos níveis de conhecimento e poder.
Tudo isto, o poder dentro do grupo e o poder face à sociedade exterior. Como escreve
Olaf Hammer, in this form, secret knowledge not only defines those who are privy to it,
the initiates who have access to the scarce resource. It also defines an out-group that
lacks the privileged insight, by drawing boundaries between them and the in-group. (…)
The degree to which one possesses the scarce resource will place any given individual
275
Religious Movements”, in The Oxford Hanbook of New Religious Movements, op. cit.,
p. 450).
envolvente. Como refere Hammer, The demarcation between in- and out-groups can
run along lines that resemble those of the surrounding society (ibidem), uma vez que
the hierarchy of a religious organization can mirror the inequalities of society at large
ver-se no seguinte quadro comparatvo, utilizando a tipologia que tem a ver com a
world rennouncing - proposta por Roy Wallis no seeu livro Elementary Forms of New
Religious Life:
LPN FS SN FARC
Afirmação do mundo + (*)
Acomodação face ao mundo + + +
Renúncia do mundo ++
(*) Roger Caro, Patriarca da ENA, solicitou ao Vaticano o reconhecimento da Igreja Católica à
sua igreja, apesar desta ser esotérica, gnóstica e de ele estar à frente de um grupo alquímico
276
LPN FS SN FARC
Milenarismo + +
Apocaliptismo ++
Dos dois quadros anteriores se pode ver que a Filiação Solazaref apresenta, ao
LPN FS SN FARC
Violência (pelo menos retórica) +
Não-violência + + +
oferece uma vida em comunidade, pelo menos ao seu núcleo interno – e a hierarquia
interna, a qual esta naturalmente associda ao poder e ao carisma dos seus dirigentes:
277
LPN FS SN FARC
Hierárquico ++ + (*)
Não-hierárquico + + (**)
LPN FS SN FARC
Líderes carismáticos + +++ + ++
LPN FS SN FARC
Cursos por correspondência + + (+)
Nota: no caso dos FARC o ensinamento por correspondência é reservado, graduado e sujeito a
É claro que uma vez que o conhecimento detido por esses grupos é reservado, tal
grupo, face a esses conhecimentos, tal como no interior do mesmo existirão fenómenos
278
de “rivalidade mimética” (René Girard) despertados por esse acesso ao conhecimento
vezes conduz a cisões nos grupos, com a formação de novas estruturas e hierarquias, no
do seu já citado trabalho -, que “existe uma circularidade característica entre as crenças,
as formações sociais e a praxis dos segmentos de mais alto grau de uma comunidade
(...) a study of the social formations of esoteric religions can also highlight the
mechanisms by which the structure of such religious bodies is maintained over time.
There is a characteristic circularity between the beliefs, the social formations and the
initiation into restricted insight is only meaningful within a given religious world that
mass of arcane details that constitutes the religious worldview can only be helpful if
there is a corps of individuals who are able to allocate intellectual and other resources.
This knowledge is used as a marker of status that sets the same corps of people off
against the lower-ranking members. And in order to protect their rank, the higher-
ranking members reproduce the initiatory ritualism. A major goal of the religious
activity of those of lower rank may be to gain access to the protected knowledge of the
higher echelons. In some movements, this upward mobility causes new tittles (and)
279
VII – CONCLUSÃO
sacrificial que o alquimista transfere para o laboratório e que se exerce sobre matérias
por ele escolhidas. O mito alquímico tem, pois, a sua correspondência operativa num
Este processo que a matéria sofre tem claras ressonâncias xamânicas, como se o
alquimista não quisesse sofrer esse proceso directamente em si mesmo, mas sim
alquimistas denominam a sua Arte de “drama mineral”, em que “a matéria que todos
não sem antes ter sido sujeita a uma prévia trituração. A “morte” da matéria profana –
de Pedra Filosofal.
280
Os processos que se passam no laboratório do alquimista - processos químicos e
através da imaginação criadora dos adeptos. À medida que a Obra avança essa
sobrenaturais, quer na matéria, quer no operador, que nos fazem recordar o conceito de
mana. Embora em potência, num e noutro, essas “forças sobrenaturais” vão evoluindo
qualidade espiritual próxima (na Pedra dos Filósofos) ou igual (Pedra Filosofal) à
nobres, Ouro (Crisopeia) ou Prata (Argiropeia). Estes conceitos míticos (“fogo secreto”,
“espírito universal”, etc.) colocam a alquimia no campo da magia - embora isso seja
negado pelos seus praticantes -, de uma magia “natural”, é certo, e fornecem aos seus
necessita.
suposta existência de uma Matéria-prima universal. Não tendo ela – face à ciência
menos o prolongamento significativo dessa vida física), nem quanto aos meios, ela
apresenta, entretanto, uma lógica interna. É, pois, de salientar que, mesmo num universo
281
de carácter binário e ternário, universal, porque baseada na biologia e na sexualidade - o
entanto uma “racionalidade interna da alquimia”, pelo que o que Lévi-Strauss afirmou
essencialmente oral, ela passa a veicular cada vez mais os seus ensinamentos através de
alquímicos organizados só se verifica a partir dos séculos XVII e XVIII e, após uma
“reencantamento do mundo” que deu origem, a partir dos anos 60 do século XX, a um
as Espiritualidades Alternativas (EA) e as da Nova Era, New Age (NA). A origem desse
282
falta de respostas e de sentido – de “compensadores” - que as grandes instituições
novas religiosidades e espiritualidades contêm como um dos temas fortes esse regresso
do “muito antigo”, raíz do “muito actual”, demanda dos iluminismos, quer o inglês de
finais do século XX, quer na filosofia, quer na religião, quer em alguns casos na ciência
(mas não o negar, em muitos casos) o Cristianismo, por vezes numa perspectiva
moderna, já que é o indivíduo que está no centro desse universo espiritual e religioso,
alfa” nos Filósofos da Natureza – neste grupo, por outro lado, a utilização conjunta com
NMR e EA, que estão presentes, de um modo muito claro, na alquimia operativo-
283
laboratorial, onde o alquimista, mesmo que em grupo, está no centro da experiência
Uma das razões da permanência nos dias de hoje da Alquimia reside no facto de
totalmente (isto ainda é mais verdadeiro para os que não possuem formação técnico-
científica actual), para o centro de um outro universo gnoseológico que a maioria não
passiva, face à Natureza, pois ela encara a contemplação da Natureza com o objectivo
ponto de vista da doutrina, uma vez que se situam no domínio do Esoterismo Ocidental
(A. Faivre), mas também são esotéricos do ponto de vista da sua estrutura social (O.
284
Hammer). Há uma evidente correlação entre a hierarquia e a estrutura fechada do grupo,
dispensados.
285
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- Alchimie, nº. 1 - 39
– Minéral, nº. 40 - 84
Spagy-Nature
exemplares).
312
ANEXOS
313
ANEXO A
Nota: A bold figuram os acontecimentos mais importantes para as diversas escolas da alquimia
laboratorial.
Canseliet.). Nesse mesmo ano, como refere Atorène, havia ainda por vender alguns
exemplares das duas obras de Fulcanelli, mas em 1955, a sua reedição esgotou antes
de sair, quando se propôs uma subscrição de 1.000 exemplares, o que revela o interesse
cescente pela alquimia a partir de 1950 – e Canseliet teve um papel importante nesse
Psyché.)
ed. Montbrun, Paris, com prefácio de Eugène Canseliet. 2ª. Ed. na Dervy Livres, em
1976)
1951
413 Utilisámos, para tal várias fontes, entre as quais duas muito importantes: no que diz respeito a
Canseliet seguimos a cronologia apresentada por Atorène no seu livro Laroratoire alchimique, Paris, Guy
Trédaniel, 1981, pp.332 e seguintes. No que concerne à bibliografia, utilisámos o artigo de Jean-Jacques
Mathé, Bibliographie des ouvrages et travaux en langue française depuis 1945 concernant la philosophie
hermétique, incluído em Alchimie, Antoine Faivre, etc., Albin Michel, Paris, 1978, pp. 189-221,
completado, em 1996, na segunda edição da mesma obra, editada por Dervy, Paris.
314
1952
– E. Canseliet, instalado em Savignies (desde 1946) começa, segundo Atorène,
uma nova cocção de que dará testemunho no seu livro L’Alchimie expliquée..; ele
1953
– Publicação de Aspects de l’Alchimie traditionelle, de René Alleau (nas
1954
– Publicação de Nouvelle Assemblée des Philosophes Chymiques, de Claude
d’Ygé (nas edições Dervy, Paris), com prefácio de Eugéne Canseliet; reimpressão em
1972.
1955
– Publicação de Mystiques, sprituels et alchimistes du XVIe. Siècle allemand, de
1956
– Publicação de Les Douze Clefs de la Philosophie (1602, edição francesa de
1957
– Publicação de um artigo de E. Canseliet em Art Magique de André Breton (ed.
Paris.
Paris.
315
- Publicação de Les Clefs de la Philosophie Spagyrique (1722), de Le Breton,
com introdução de René Alleau, nas ed. Caractères, Paris; outra edição , em 1985, nas
1958
– Publicação de Le Matin des magiciens, de Louis Pawels e Jacques Bergier, na
1959
– Publicação de De l’Alchimie à la chimie (trad. de Prelude to Chemistry,
Seuil, Paris.
1960
– Segundo prefácio, da autoria de E. Canseliet, para a 2ª. edição de Les
Demeures Philosophales (1ª. Ed. 1930. Jean Schemit ed.), de Fulcanelli, nas edições
fix., trad. de A. D. Nock e A.-J. Festugière (1ª. Ed. em 1946, reimpressões de 1972 a
1992), nas edições Belles Lettres, Paris. Os tomos III e IV (cujas primeiras edições
francesas são de 1954, serão reeditadas em 1972, com reimpressões até 1973).
1961
– Publicação de Dictionnaire de philosophie alchimique, de Kamala-Jnana
316
- Publicação de L’alchimie spirituelle, de Robert Ambelain, em La Diffusion
1962
– Publicação da tradução francesa de La tradition hermétique de Julius Evola,
1963
1964
- Publicação de Alchimie de E. Canseliet – conjunto de artigos publicados em
diversas revistas – nas edições Jean-Jacques Pauvert, Paris; reimpressão aumentada
em 1978.
1965
– Terceiro prefácio de E. Canseliet, para a 3ª edição de Les Demeures
1966
1966 – Publicação da reedição de Théories et symboles des alchimistes (1893),
1967
317
– Publicação de Alchimie et son livre muet - Mutus Liber (1677), com
comentários de E. Canseliet, nas edições J.-J. Pauvert, Paris; reimpressões em 1974 e
em 1986.
Planète.
Johannes de Rupescissa, nas ed. Arché, Milão, que editará vários textos clássicos de
1968
– Publicação de Concordances alchimiques de Roger Caro, S.-C.-sur Mer.
1969
– Publicação de Atalante Fugitive (1618), de Michel Maier (trad.de Etienne
l’alchimie et la franc-maçonnerie, de Oswald Wirth, nas ed. Dervy-Livres (a 1ª. Ed. foi
1970
– Publicação de L’Érotique de l’Alchimie, de Elie-Charles Flamand, com
Bibliotheca Hermetica, dirigida por René Alleau desde 1969, na editora Denoel,
318
Paris. Esta importantíssima colecção reeditou, durante os anos 70, vários textos
clássicos de Alquimia, como por exemplo, também em 1970, Le livre des figures
hiéroglyphiques de Nicolas Flamel (reeditado em 1978) e L’Entrée ouverte au palais
fermé du roi (1667), de Filaleto, em 1971, La Lumière sortant par soi- même des
tarde, em 1975, Les 5 livres ou la clef du secret des secrets de Nicolas Valois e Nicolas
Cyr-sur Mer.
1971
– Criação dos Frères Aînés de la Rose-Croix – F.A.R.C., por Roger Caro
(1911-1992), en Saint-Cyr-sur-Mer.
- Publicação de L’Anthologie de l’Alchimie, de Bernard Husson (Belfond,
Paris).
1991.
319
- Publicação de Dictionnaire Mytho-hermétique (1787), de Dom A. J. Pernety,
nas ed. Arché, Milão; reimpressão em 1980. Este diccionário será editado também, em
ed. Arché, Milão. Este livro será editado, também, em 1981, pelas ed. La Table
1972
– Publicação de L’Alchimie expliquée sur ses textes classiques, de E. Canseliet
Laffont, Paris.
Paris.
1973
– Publicação de Les Oeuvres de Nicolas Flamel, na editora Pierre Belfond,
Paris.
Tours.
1973
320
- Reedição de L’Alchimie au Moyen Age (1938, Paderborn), de Wilhelm
d’Émeraude, Paris..
Beaucens, Bélgica.
composés, de Albert Le Grand, nas edições Arché, de Milão, que editarão vários textos
Paracelso (reed. em 1984 nas Ed. Traditionelles com “avant-propos de Antoine Faivre
e prólogo de Bernard Gorceix. Em 1976, será editado, por esta editora, Du Vitriol
1975
– Publicação de Trois anciens Traités d’Alchimie, com caligrafia de E.
321
- Publicação de Rares Expériences sur l’Esprit minéral (1668), de P. Moras de
Respour, nas ed. Jobert; reimp. 1977. Publicação de La Tourbe des Philosophes e do
1977). Em 1976, será publicado, também nas ed. Jobert, Traité du feu et du sel (1618),
de Blaise de Vigenère.
1976
– Publicação de Alchimie et Révélation Chrétienne, de Sévérin Batfroi (com
por Bernard Allieu e Alain Barthelemy, s.l, s.d., nem menção do editor; reimpressão em
1977
– Fundação, em Grenoble, por Jean Laplace, da revista trimestral “de estudos
322
- Publicação de Alchimiques métamorphoses du Mercure universel de Sévérin
cachée par la sagesse des Anciens (sec. XVII), de autor anónimo, com comentários e
Philovite Cosmocole.
Snyders.
Trédaniel/La Maisnie.
1978
– Publicação de Sainte-Anne d’Alchimie de Guy Béatrice, Hermétiques Ballades
contendo
uma entrevista de três horas a E. Canseliet, onde este alquimista declara ter
323
- Publicação de Hermétiques ballades, de Jean Laplace, com prefácio de
1979
- Publicação da segunda edição, “considerávelmente aumentada” (a primeira
foi editada, em 1945, por J. Schemit), de Deux Logis Alchimiques, de E. Canseliet, por
J.-J. Pauvert, Paris; aí ele rectifica algumas passagens da entrevista que R. Amadou
publicou.
d’Émeraude (25, rue de la Huchette, junto ao Quai Sint Michel, onde havia também,
324
- Publicação de Traité de la Pierre philosophale, seguido do Traité de l’art de
l’alchimie, atribuido a S. Tomás de Aquino, nas ed. Arché, Milão (col Sebastiani).
Éd. Les Deux Océans, Paris, com trad. introdução e notas de Catherine Despeux.
dirigida por Jean Dubuis. A Associação LPN (assim também designada), punha à
fasc./ 8 anos), entre outros. A Associação LPN também realizou, até meados dos anos
1980
– Publicação de La France des lieux et des demeures alchimiques de Josane
da segunda edição de 1668, Jean d’Houry, Paris); estas edições editarão outras obras
325
philosophique (1781), de Sabine Stuart de Chevalier, e em 1984, IX Livre de distallion,
de Jean-Baptiste Porta.
já tinha publicado, entre outros livros, Alchimie (1978, vide supra), publicará em 1988,
autor publicará em 1988, uma outra obra sobre alquimia (vide infra).
Robert Laffont.
1981
– Publicação de Cours de Chymie (1757), de Nicolas Lemery, nas Éditions
d’Aujourd’hui.
1982
– Publicação de Laboratoire alchimique de Atorène, nas edições Guy
- Publicação de L’art métallique des anciens (1910), de Jean Maveric, nas ed.
Phoenix, Genova.
326
- Publicação de Fulcanelli, une biographie impossible (1986, ed. Obelisco,
L’Originel, Paris.
matériel céramique pour la voie sèche et la voie humide, assinado por Pierre
Colombes), presidida por Jean Dubuis. Tratava-se de um boletim interno dos cerca de
1.000 membros da Associação, com muitos artigos sobre Espagíria e Alquimia, o qual
1983
– Publicação na revista Le Fil d’Ariane Waulhain-St.-Paul, Bélgica), nº. 19,
de Explication de la teinture.. (1781), de Alexandre von Suchten
- Publicação de Traité sur la matière des Philosophes (s. XVII), nas ed.
outros cinco, na mesma revista, um (La tourbe des Philosophes, nº. 19, 2e.trim. 1982)
denominado Littera Custodium, e quatro (La Tourbe des Philosophes, nº.s 20, 21 e
22, de, respectivemente, 3º. E 4º. Trim de 82 e 4º. Trim de 83), intitulados De operandi
modo: Igne Aquaque.
327
- Publicação de L’Obédience conventuelle alchimique à l’aube du Xxe. Siècle,
1984
Dezembro de 1984 a Março de 1985, sobre a Alquimia, a sua Arte e a sua prática.
Amoureux de Science, com direcção de correio, Librairie “La Légende Dorée”, Riom.
1985
– Publicação de Apocalypse: révélations alchimiques de Jean de
328
- Publicação do nº. 2 (deuxième cahier: Carême 1985) de Tempête Chymique,
1986
Paris.
Murien, nas ed. Guy Tréadniel. O mesmo autor publicará, no mesmo editor, em 1989,
329
Associação continua, desde essa data até aos nossos dias, com o mesmo tipo de
estágios (com níveis diversos de desenvolvimento). Também põe à disposição dos seus
1987
- Publicação de Herbarius de Paracelso, na col. “Médicines Naturelles” da
Dervy Livres.
Nicolas Flamel, também com apresentação de Sylvain Matton. A revista publicou ainda
- Publicação do nº. 114 (4e. trim 1987) da revista L’Autre Monde - Nº. Spécial
devido a desinteligências entre os seus dirigentes (de um lado, Jean Dubuis, do outro
dirigida por Dominique Vadot e Jeanne Descarmes e editada por Aux Amoureux de
1988
– Publicação de Les Bûchers du Xxe. Siècle, de Solazaref, nas ed. “Aux
330
- Publicação de Pour la Rose Rouge et la Croix d’Or de Jean-Pierre Giudicelli
de Cressac Bachelerie, nas edições Axis Mundi, Paris.
Paracelse, de Patrick Rivière, nas Ed. de Neustrie, Caen, e, também, do mesmo autor,
Jâbir ibn Hayyân et les “Frères de la Pureté” , de Yves Marquet, na ed. Maisonneuve
& Larose.
1989
– Publicação de Traité d’alchimie: le magnum opus de Samuel Aun Weor, nas
Verdier, Lagrasse.
331
– Começo da publicação de Somme Hermétique (1990-1991) de Solazaref, nas
ed. “Aux Amoureux de Science”: Tome III, De l’esprit universel Vol.I: Vitriolum,
Vol.II: Alkaest.
- Publicação de Toison d’or et alchimie de Antoine Faivre, nas edições Arché,
Milão.
Scientifique, Paris.
1991
– Publicação de Somme Hermétique Tome IV, De natura metallorum, Vol. 1:
mesma obra, do vol 1: Le feux du ciel de Somme Hermétique Tome VI: Ars brevis, na
mesma editora.
- Publicação de L’Immortalité alchimique, de Serge Hutin, nas éd.
Montorgueil, Paris.
(un manuscrit inédit de Pierre Dujols), nas Éditions La Table d’Émeraude, Paris, com
1992
- Publicação da Deuxième partie de Petites opérations minérales & Voies
332
Publicação ainda, de Somme Hermétique Tome V – De Natura Vegetalorum, Volume
mesma editora.
– Publicação de Le procédé de Monsieur d’Anvers (1722), por Fabrice
Table d’Émeraude.
Savary, Carcassonne.
- Publicação de Quatre traités de Paracelse, nas Ed. Dervy.
1993
–Publicação de Philosophie de l’alchimie: Grand Oeuvre et modernité de
333
- Publicação de Alchimie et Philosophie (actas do colóquio internacional de
Tours, 4-6 de Dezembro de 1991), por J.-C. Margolin e S. Matton, nas ed. Vrin.
Emmanuel d’Hooghvorst.
Nova Iorque, em 13 de Maio de 1993. O título completo era (em françês): Metallurgie
publicada, em Junho do mesmo ano, nas Éditions Aux Amoureux de Science, Teilhède.
estágio foi realizado, em Agosto de 1994, no mesmo lugar, pela mesma Associação.
1994
- Publicação dos nº. 1 e nº. 2 (respectivamente, 1º. e 2º. Trimestres de 1984) de
Anne Carrière.
publicara, algo de semelhante, em 1986 e 1989), e Eric Saint-Clair, nas ed. Ramuel.
- Publicação do nº. 138 (Julho 1994) da revista L’Autre Monde, dossier Les
334
- Exposição de Alquimia, em Florença, organizada pela Filiation Solazaref. A
1995
- Carta da Filiation Solazaref, denunciando uma dissidência, no seu seio, e
Dervy.
l’art maieutique de Jésus et de Paul. Para além de um artigo de Albert Cau sobre a
335
Pedra Filosofal e a energia atómica (bem característico deste autor), e de um
alquimia operativo-laboratorial.
1996
- Publicação de Hermés Trahi, de Patrick Géay, nas ed. Dervy
1997
– Publicação de Fulcanelli et le Cabaret du Chat Noir, de Richard Khaitzine, de
nas Éditions Dervy, Paris. Nesta edição foram publicados, também, entre outras obras,
336
Le Psautier d’Hermophile seguido do Dictionnaire élémentaire à l’usage des jeunes
disciples d’Hermés, no mesmo ano.
sagesse, nº. 385 (Primavera de 1996), da revista “Atlantis”, Vinvennes, com artigos de
Fabrice Bardeau, Richard Khaitzine, etc.. O nº. 391 da mesma revista – Le vin – banale
1998
– Publicação de Le Livre d’Or de l’Alchimie de Jean-Pascal Percherron, nas
Éditions Ramuel.
- - Começo da página na “internet” Contrepoints, com interessantes elementos
1999
337
destacar, nestes números, dossiers sobre alquimistas praticantes como Jean d’Ambre,
J.-P. Percheron e o português Rubellus Petrinus. De notar ainda a colaboração de
2000
– Edição do CD-ROM, Fulcanelli – La Chronique d’un mystère annoncé, de
Parmain.
- Publicação de Alchimie. La voie de amalgames ou voie de synthèse, de Jean-
338
- Publicação de Le Grand Oeuvre alchimique de Eyrenée Filalète et Basile
Valentin, de Rubellus Petrinus (trad. fr. da ed. portuguesa de 1997, Hugin ed.),
339
ANEXO B
grupos, uma “ficha-tipo”, inspirada em parte na que Michel Raoult utilizou no seu
1) – Nome do grupo
3) – Fundador(es)
características
jóia e cotização
9) – Textos de referência
grupo(reuniões, conferências)
414Michel Raoult, Les Druides, Les sociétés initiatiques celtiques contemporaines, Paris, Éd. Rocher,
1992, p. 398-399; esta edição é a versão mais reduzida da sua Tese de Doutoramento de 3º. Ciclo
apresentada em 1980, na Universidade de Rennes II.
340
13) – Estrutura iniciática: tem graus, ou níveis, existe núcleo interior?; método
políticos, etc.
3) As seitas
341
ANEXO C415
restrutura.
Elementos alquímicos – São os que foram propostos pela teoria grega “dos quatro
elementos” (e que Aristóteles adoptou): Água, Terra, Ar e Fogo. Não designam estas
Todo em Um) - e é representada pelo dragão ou pela serpente que morde a cauda
(uroboros).
415 Cf. Serge Hutin, Alchimie, Paris, P.U.F., 9ª ed. corrig,. 1995.
342
Obra ao branco (Albedo) – Segunda fase da Obra alquímica simbolicamente
Pedra dos Filósofos – A união dos princípios alquímicos, sem no entanto ter
Pedra Filosofal - União perfeita dos princípios alquímicos, obtida no final da Obra.
químicos com o mesmo nome, mas sim qualidades da matéria (ver cada um deles).
Enxofre e Mercúrio.
Sal – Princípio alquímico neutro, mediador entrre o Enxofre e o Mercúrio. Por vezes
denominado Arsénico.
343
ANEXO D
DOCUMENTAÇÃO DIVERSA
344
SPAGY-NATURE
345
FRÈRES AÎNÉES DE LA ROSE-CROIX (F.A.R.C.)
346
FILIATION SOLAZAREF
Circulares diversas
Boletim interno
de via seca.
347
LES PHILOSOPHES DE LA NATURE
Nas fotos: Jean Dubuis, membros franceses dos LPN e participantes portugueses
348