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Ventilação não invasiva: método para oferecer suporte ventilatório como um auxílio no
processo de respiração dos indivíduos mediante equipamentos não introduzidos no sistema
respiratório, como os tubos endotraqueais, sem a necessidade, portanto, de intubação ou
traqueostomia.
PROPÓSITO
Para a formação do fisioterapeuta que atuará com ventilação, é essencial o reconhecimento
dos diferentes métodos de ventilação não invasiva que podem ser utilizados como suporte
ventilatório, bem como a característica, sua forma de utilização, a indicação e a
contraindicação de cada método, a fim de ajudar na formulação do tratamento e na intervenção
alinhadas com o quadro clínico do paciente.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Descrever a definição, o método de utilização, a indicação e a contraindicação da ventilação
não invasiva com dois níveis de pressão em vias aéreas (BIPAP)
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Dos métodos de ventilação mecânica (VM) por pressão positiva descritos na literatura
especializada, inclui-se a modalidade de ventilação não invasiva (VNI), um dos maiores
avanços da VM nas últimas décadas. A expressão “ventilação artificial do tipo não invasiva”
refere-se aos métodos de ventilação artificial realizados sem transpor as vias aéreas
superiores.
Com essa técnica, atingem-se os mesmos objetivos da ventilação invasiva, como manutenção
da ventilação alveolar, oxigenação adequada, manutenção de volumes e capacidades
pulmonares e diminuição do trabalho respiratório.
Outra condição a ser considerada é a de que a utilização da VNI promove uma normalização
mais rápida da função pulmonar, o que implica a diminuição de complicações pulmonares
clinicamente importantes. Ao mesmo tempo, sua utilização em unidades hospitalares e
domiciliares é menos dispendiosa e de aplicação mais fácil, sendo a VNI por pressão positiva a
mais empregada nos grandes centros hospitalares.
Por isso, abordaremos neste conteúdo as diferentes formas de utilização da VNI, assim como
suas características, suas indicações e suas contraindicações.
Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por
questões de tecnologia e didáticas. No entanto, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia (INMETRO) estabelece que deve existir um espaço entre o número e a unidade
(ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o
Sistema Internacional (SI) de separação dos números e das unidades.
MÓDULO 1
A pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) foi introduzida inicialmente em 1981 para
o tratamento da síndrome da apneia do sono, sendo reconhecida até os dias atuais como um
recurso de VNI eficaz em inúmeras condições patológicas pulmonares. Para sabermos o
correto funcionamento da CPAP, no entanto, precisamos entender algumas condições
relacionadas à fisiologia respiratória.
Para que ocorra um ciclo respiratório completo (1 fase inspiratória + 1 expiratória), nosso
sistema respiratório precisa produzir uma:
É preciso reconhecer que, nas patologias pulmonares, a dinâmica das pressões relatadas
acima se torna alterada, muitas vezes levando ao aumento das forças que se opõem ao
movimento respiratório normal – principalmente a entrada do ar na fase inspiratória. Isso faz
com que indivíduos com tais patologias desencadeiem um aumento do trabalho respiratório,
que, em curto e/ou longo prazo, é capaz de levar à fadiga da musculatura respiratória.
Denominada ventilação por pressão positiva contínua nas vias aéreas, a CPAP funciona
por meio da aplicação de tal pressão nas vias aéreas do paciente durante a fase inspiratória e
expiratória. As pressões são semelhantes nas duas fases, forçando a “abertura” alveolar,
levando ar para os alvéolos e, com isso, reduzindo o trabalho respiratório.
A utilização de CPAP depende do esforço respiratório inicial do paciente, que deve apresentar
respiração espontânea eficaz. Além disso, é necessário que ele possua o drive respiratório
suficiente capaz de acionar o sistema de disparo da ventilação.
A CPAP, portanto, não será efetiva durante períodos de apneia. Seu objetivo é aumentar a
pressão na via aérea e melhorar a relação ventilação/perfusão (V/Q), permitindo, assim, uma
maior redistribuição do oxigênio com aumento da pressão parcial de oxigênio (PaO2).
Representação esquemática do aparelho de CPAP. Os acessórios do equipamento são: 1)
máscara nasal; 2) tubo flexível para conexão da máscara ao aparelho; 3) aparelho de CPAP.
MÉTODO DE UTILIZAÇÃO
CONCEITO
A CPAP é uma modalidade ventilatória que pode ser aplicada de duas formas:
DICA
ATENÇÃO
à:
Além da determinação dos níveis pressóricos de pressão positiva, a maior parte dos aparelhos
de uso de CPAP necessita de programação da fração inspirada de oxigênio (FiO2) necessária
ao paciente, que precisa ser ajustada conforme a condição patológica e o caso clínico
individual.
Forma intermitente.
ATENÇÃO
Em todos os aspectos da VNI por CPAP, deve-se conhecer a fundo a patologia a ser tratada,
bem como as limitações de cada paciente, para que possam ser aplicados de modo adequado
os níveis pressóricos que certamente os beneficiarão, como, por exemplo, a FiO2 adequada e
a melhor interface de utilização e conforto.
Um fator importante na aplicação da VNI por CPAP é a escolha adequada da interface a ser
utilizada durante a técnica, devendo-se levar em consideração algumas características, como o
peso da máscara, o conforto do contato da máscara com a pele/face do paciente, o tipo de
fixação (facilitando sua colocação e retirada) e a presença do menor espaço morto.
ESPAÇO MORTO
Espaço que é preenchido por ar nas vias respiratórias que não participa de trocas gasosas.
Além disso, a pressão exercida sobre os diferentes pontos de contato na face do paciente deve
ser a mais homogênea possível, o que previne o aparecimento de lesões. Essa condição pode
interferir na aceitabilidade do paciente diante da utilização das máscaras de aplicação.
Diferentes tipos de máscaras podem ser utilizados nesses pacientes. Veja a seguir.
MÁSCARA NASAL
MÁSCARA ORONASAL
É acoplada na região nasal e oral. Essas máscaras são as mais frequentemente utilizadas.
A máscara nasal é geralmente a interface mais confortável; entretanto, nesse tipo de interface,
a resistência das narinas ao fluxo de ar e a presença do vazamento de ar pela boca podem
limitar o seu uso em alguns pacientes. Além disso, quem apresenta insuficiência respiratória
aguda frequentemente tem dificuldade de manter uma oclusão bucal satisfatória quando a
máscara nasal é usada. Sendo assim, com frequência a máscara mais utilizada inicialmente é
a do tipo facial ou oronasal. Veja no quadro a seguir os tipos de máscaras e suas indicações:
Facilita a mobilização de
Perda de pressão por meio
secreção.
da boca.
Menos claustrofobia.
Maior resistência por meio
Máscara do conduto nasal.
Facilita a fonação.
nasal
Menos efetiva na presença
Possibilidade de
de obstrução nasal.
alimentação.
Ressecamento oral.
Fácil adaptação e
segurança.
Máscara
Melhor controle do Aumento do espaço morto.
oronasal
vazamento oral.
Maior claustrofobia.
Efetiva para pacientes com
via de entrada de ar Risco aumentado de
predominantemente oral ou aspiração.
misto.
Bem tolerada pelos Dificuldade de fonação e
pacientes agudos. alimentação.
Também conhecida como facial, a máscara oronasal é a interface mais utilizada para pacientes
com insuficiência respiratória aguda, permitindo um volume maior que a nasal e
consequentemente uma correção mais rápida das trocas gasosas. O uso de máscara nasal,
porém, não pode ser desconsiderado: cada caso precisa ser analisado individualmente.
COMENTÁRIO
Outro fator a ser considerado na escolha da interface e nas características relacionadas a ela é
que as máscaras com orifício de exalação nelas mesmas podem diminuir a reinalação de CO2
se comparadas ao uso de orifícios de exalação no circuito único dos ventiladores de VNI. Com
a evolução no uso da VNI na tentativa de melhorar o conforto e a tolerância dos pacientes,
foram sendo desenvolvidas outras interfaces de utilização, como a máscara facial total e o
capacete.
A máscara facial total tem a vantagem de diminuir o vazamento e possibilitar o uso de maiores
pressões inspiratórias. Uma maior área de contato entre a máscara e a face do paciente pode
diminuir as lesões de pele relacionadas ao uso da máscara e tornar o seu uso mais confortável.
Já os capacetes possuem como vantagem a possibilidade de eliminar o contato da interface
com a face do paciente, evitando, assim, a lesão de pele.
O grande espaço morto dos capacetes e a sua parede muito complacente levam
respectivamente à reinalação de CO2 e à necessidade do uso de maiores valores de pressão
inspiratória para garantir a correção das trocas gasosas. Deve-se destacar ainda que o ruído
interno dos capacetes pode ser um grande limitante para o seu uso. Veja a imagem a seguir.
Pode-se utilizar a CPAP por meio de um gerador de fluxo acoplado ao sistema de ar da rede
hospitalar com máscara e válvula expiratória. Com essa válvula, é possível estipular um valor
fixo ou alterá-la para um valor escolhido. Desse modo, a pressão na via aérea gera maiores
volumes pulmonares, melhorando a relação V/Q.
Os ventiladores específicos para VNI por CPAP possuem como característica principal a
presença de um circuito único por meio do qual ocorrem tanto a inspiração como a expiração
realizada no aparelho. Um orifício localizado na porção distal desse circuito é obrigatório para
minimizar a reinalacão de CO2 durante a inspiração, auxiliando na eliminação do CO2 exalado
Tais equipamentos permitem mais sincronia entre paciente e ventilador, o que não ocorre
quando a VNI é realizada por equipamentos de VM em UTI.
Na relação V/Q, a CPAP pode levar a uma maior redistribuição do oxigênio com aumento
da pressão parcial dele.
INDICAÇÃO
A CPAP é indicada essencialmente para os casos em que se busca uma melhora nos
parâmetros de oxigenação de pacientes com quadros de hipoxemia, mas que não apresentam
uma hipercapnia.
HIPOXEMIA
HIPERCAPNIA
MELHORA DA HIPOXEMIA
REDUÇÃO DO BRONCOESPASMO
Tanto adultos quanto crianças podem se beneficiar da utilização da CPAP como método de
tratamento.
O sistema de fluxo para crianças emprega uma ação “fluídica” nas pregas nasais para ajudar a
reduzir o trabalho respiratório.
SAIBA MAIS
Um estudo relatou o uso de um dispositivo tipo capacete para o suporte ventilatório de crianças
com leucemia.
O uso de VNI encontra-se bem estabelecido em adultos. Seu uso em crianças ainda é
altamente reconhecido nos quadros agudos e crônicos.
COMPLICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES
Embora a terapia com pressão positiva nas vias aéreas seja um método eficaz em relação a
algumas patologias pulmonares, é importante estar atento para algumas complicações que
podem surgir quando não ocorre uma monitoração intensa e adequada de cada paciente.
EXEMPLO
Perdas de ar entre a máscara e a pele, o que pode diminuir a eficiência da VNI e causar
irritação nos olhos.
Congestão nasal.
Aerofagia.
Barotrauma.
Auto-PEEP.
BAROTRAUMA
O barotrauma é definido como uma lesão tecidual causada por uma alteração relacionada à
pressão do volume de ar em excesso que é levado aos alvéolos. Como ocorre um aumento do
trabalho respiratório, o paciente pode não se adaptar à pressão positiva gerada,
consequentemente exercendo maior ação muscular respiratória. Se a estafa muscular já
estiver instalada, deverão ser indicadas a intubação traqueal e a ventilação mecânica invasiva.
A seguir veremos as contraindicações para o uso da ventilação mecânica não invasiva com
pressão positiva.
INDICADORES DE SUCESSO
O sucesso no uso da ventilação por pressão positiva, como o da CPAP, já pode ser avaliado
entre 1 e 2 horas após o início de utilização da VNI, etapa em que os objetivos propostos são
atingidos. Existirá a necessidade de reavaliação da indicação, sendo possivelmente
recomendado iniciar estratégias ventilatórias invasivas, caso não haja uma melhora de:
NÍVEIS DE O2 E/OU CO2 NA GASOMETRIA ARTERIAL
ESFORÇO RESPIRATÓRIO
NÍVEL DE CONSCIÊNCIA
CPAP
No vídeo a seguir, a especialista Ana Inês Gonzáles explicará o que é a CPAP e por que essa
modalidade ventilatória pode ser de extrema importância para pacientes com alterações
respiratórias agudas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
DEFINIÇÃO
Conhecida como método de pressão positiva nas vias aéreas em dois níveis, a BiPAP é uma
modalidade de suporte por pressão positiva nas vias aéreas que utiliza duas fases de níveis
pressóricos, ou seja, os níveis de pressão podem ser diferenciados para as fases inspiratória e
expiratória do ciclo respiratório.
Tal condição permite que o paciente alcance um volume corrente mais adequado na fase
inspiratória mantendo um volume residual adequado. Isso faz com que o paciente não tenha
um aumento do trabalho respiratório.
Esses ventiladores ciclam entre dois níveis de pressão positiva: um nível pressórico mais
elevado durante a inspiração, o que auxilia a ventilação, e outro menor durante a expiração.
SAIBA MAIS
O surgimento dessa modalidade de ventilação ocorreu com o objetivo inicial de tratar distúrbios
de apneia do sono, sendo atualmente preconizada e de uso frequente como terapêutica na
insuficiência respiratória aguda (IRpA) tanto do tipo hipoxêmica (edema agudo pulmonar,
pneumonias e atelectasias são alguns exemplos) quanto hipercápnica (característica dos
pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica).
A VNI vem sendo uma das principais formas de tratamento da IRpA nas UTIs e no pronto-
atendimento. Entretanto, é de extrema importância que cada membro da equipe responsável
pelo paciente tenha pleno conhecimento e entendimento da fisiopatologia da IRpA, bem como
de seu tratamento e de suas complicações, para personalizar e adequar o tratamento e os
ajustes corretos do uso dessa modalidade à realidade dos pacientes.
MÉTODO DE UTILIZAÇÃO
PARÂMETROS
Como parâmetro para ajuste e utilização da BiPAP em indivíduos no qual sua terapêutica é
recomendada, o II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica orienta que seja iniciada com
os seguintes valores de IPAP e EPAP:
Inicia-se com valores menores que 25cmH2O de pressão de pico para objetivar a obtenção de
um volume corrente entre 8 e 10mL/kg, obtendo-se, com isso, uma frequência respiratória
inferior a 28irpm.
Pode ser ajustado com um valor mínimo de 5cmH2O, mantendo-se os valores de PEEP entre 5
e 8cmH2O.
Os alarmes podem ser ajustados no equipamento, o que permite um controle maior sobre os
parâmetros estipulados ao paciente. Orienta-se que os valores de pressões sejam, de modo
progressivo, aumentados de acordo com a saturação de oxigênio e a gasometria arterial do
paciente.
DICA
Esse processo tem de ser iniciado com valores considerados confortáveis aos pacientes.
Nesse caso, não se negligencia o conforto dele. Deve-se salientar ainda que, ao ser indicada e
imposta a terapia por BiPAP, é preciso considerar o fato de que os valores de IPAP e EPAP
podem sofrer modificações de acordo com as doenças a serem manejadas, o quadro clínico e
o conforto do paciente.
ATENÇÃO
O valor da EPAP precisa ser inferior ao da pressão positiva expiratória final intrínseca (PEEPi)
a fim de evitar complicações geradas por um valor de PEEP expiratória elevada. Caso haja
dificuldade de medir a PEEPi na ventilação espontânea, o III Consenso sugere o uso da EPAP
inicialmente em torno de 6cmH2O.
COMENTÁRIO
Apesar dos inúmeros benefícios condicionados ao uso da BiPAP, alguns autores chamam a
atenção para uma rigorosa monitoração antes e durante sua utilização. Como ela é comumente
usada no tratamento de problemas de oxigenação, pode-se subestimar a falência dos
pacientes, tornando-a, com isso, prejudicial e passível de complicações. Além disso, somada
ao ajuste das pressões de suporte inspiratórias e expiratórias, a FiO2 precisará ser ajustada
quando for necessário a cada caso, objetivando-se uma SpO2 > 92%.
Para aplicar a VNI nos doentes, é necessário seguir algumas regras e cuidados para garantir a
melhor eficácia da técnica e evitar a recusa do paciente em detrimento de sua utilização:
Deve-se procurar explicar ao paciente o procedimento que será realizado, permitindo que ele
tome conhecimento do processo.
O paciente precisa ser posicionado semissentado ou o mais elevado possível, o que permite
mais conforto e melhores parâmetros fisiológicos durante a realização do uso da BiPAP. Deve-
se escolher a interface adequada a ser utilizada para o rosto, o quadro clínico e as
necessidades do paciente a fim de permitir o melhor conforto e melhores resultados na
oxigenação.
Para o ajuste da pressão de suporte a ser administrada, deve-se iniciar com uma pressão
positiva adequada para o conforto e a doença de cada paciente, respeitando-se as
recomendações já descritas, com uma FiO2 capaz de manter uma SpO2 > 92%.
Deve-se fixar a interface com cabresto confortável, não muito apertado e reavaliar o paciente
periodicamente.
INTERFACE DE UTILIZAÇÃO
Assim como ocorre na utilização de VNI por CPAP, na BiPAP as máscaras mais utilizadas
também são as oronasais e nasais.
Embora as máscaras nasais sejam consideradas pelos pacientes as mais confortáveis, além
de permitirem a fala e não serem pesadas, a utilização delas, em termos terapêuticos,
infelizmente é limitada, já que promovem um maior vazamento de ar pela cavidade oral no
momento da fala, assim como a resistência produzida pelas narinas.
As máscaras nasais também possuem um dispositivo acoplado que permite o escape de ar,
evitando a reinalação de CO2. Isso melhora a tolerância e o conforto dos pacientes portadores
de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), já que eles tendem a reter CO2 como
O acoplamento das máscaras para uso de BiPAP é realizado utilizando uma almofada de
silicone presa à face do doente por um cabresto de tecido e fechamento de velcro, o que não
causa lesões por ambos serem bastante tolerados e confortáveis. Tal amarração ainda evita o
escape de ar e a lesão dos olhos.
Mais uma vez, assim como na CPAP, as máscaras total face e helmet são as mais novas
tentativas de conforto que vêm sendo introduzidas, estudadas e utilizadas nas técnicas de
BiPAP. Trata-se de uma tentativa de possibilitar o uso de maiores pressões inspiratórias e de
diminuir as lesões cutâneas. Entretanto, como já apontamos, o maior agravante é a reinalação
de CO2, fator que precisa ser acompanhado constantemente durante sua utilização com a
verificação dos parâmetros de oxigenação e de gasometria arterial.
Caso haja a necessidade de utilização de BiPAP como técnica de VNI em crianças, se faz
necessário o ajuste adequado do equipamento para não ocorrer nenhum escape de ar. Os
prongs nasais (acopladores nasais utilizados em crianças) são mais confortáveis e adaptáveis
à anatomia dos recém-nascidos, evitando as lesões de face e preservando a “linha média” e a
da sucção. Em adultos, os prongs também serão utilizados caso o paciente necessite de
independência para falar e se alimentar.
Interface de VNI por prongs nasais.
Os aparelhos BiPAP são dispositivos biníveis, isto é, diferentemente da CPAP, eles permitem a
configuração de dois níveis diferentes de pressão de suporte:
Ao predeterminar dois níveis pressóricos, ocorre um valor constante durante a fase inspiratória
de forma assistida para o paciente, sendo o término do ciclo inspiratório determinado por fluxo
(geralmente, 25% do valor máximo). Nesse caso, o tempo inspiratório, o volume, a frequência
respiratória e o fluxo são determinados pela impedância do sistema respiratório do doente.
Para essa técnica, é necessário utilizar um ventilador mecânico específico no qual seja
possível haver a melhor monitoração do escape de ar na interface ventilador/paciente, podendo
até minimizá-lo ou eliminá-lo para o melhor conforto, e mais ventilação alveolar.
Nos ajustes dos níveis pressóricos, a pressão de suporte da EPAP é sempre mais baixa
que a da IPAP, pois ela tem como função a facilitação ao máximo da expiração. Sendo assim,
o esforço para exalar é menor nos dispositivos biníveis.
COMENTÁRIO
Hoje em dia, o mercado nacional conta com diferentes tipos de ventiladores que disponibilizam
o ajuste diferenciado de dois níveis de pressão positiva. Além disso, essa modalidade
ventilatória também pode ser realizada com ventiladores não específicos, ou seja, aqueles
utilizados para a realização de assistência ventilatória a pacientes intubados.
A utilização de VNI com dois níveis de pressão positiva, como o que ocorre com a BiPAP, pode
ser realizada de três modos ventilatórios diferentes:
MODO ESPONTÂNEO
Este modo ventilatório requer que o paciente inicie cada ciclo respiratório necessitando de
maior drive. É necessário realizar o ajuste apenas dos níveis da pressão inspiratória positiva
(IPAP) e da pressão expiratória positiva (EPAP). O modo espontâneo também é indicado para
pacientes terminais que escolham não receber a ventilação invasiva.
MODO ASSISTIDO-CONTROLADO
Nesta modalidade, o ventilador cicla entre inspiração e expiração de acordo com o esforço do
paciente, mas o dispositivo ciclará automaticamente se ele não iniciar a inspiração dentro de
um intervalo de tempo predeterminado. É necessário realizar o ajuste de IPAP, de EPAP e de
uma frequência de segurança. Tal modo é indicado para aqueles pacientes que possuem um
menor drive respiratório.
MODO CONTROLADO
Para esta modalidade de utilização, a IPAP, a EPAP, a frequência respiratória e a relação
tempo inspiratório/tempo expiratório precisam ser preestabelecidas. Independentemente do
esforço do paciente, é o ventilador que controla todo o ciclo respiratório. O modo controlado é
indicado para pacientes com mínimo drive respiratório.
INDICAÇÕES
Asma.
Neuropatias periféricas.
DPOC.
Asma agudizada.
Pacientes imunossuprimidos.
Pós-transplante.
Estratégia de desmame.
Assim como ocorre no uso da ventilação por pressão positiva por CPAP, a utilização de BiPAP
também tem complicações que precisam ser observadas e evitadas mediante um controle mais
rígido durante sua realização:
Aerofagia.
Cefaleia.
Arritmias.
Perdas de ar entre a máscara e a pele, o que pode diminuir a eficiência da VNI e causar
irritação nos olhos.
Congestão nasal.
Aerofagia.
ATENÇÃO
Tais complicações podem ser parcial ou totalmente evitadas quando se toma os devidos
cuidados. Por conta disso, o terapeuta que institui a aplicação da VNI tem de realizar uma boa
seleção dos pacientes indicados para tal técnica.
O uso de VNI por BiPAP, entretanto, é contraindicado em algumas condições clínicas. Tais
condições devem ser observadas com cautela:
Contraindicações relacionadas ao uso da pressão positiva por BiPAP
Parada respiratória.
Arritmias cardíacas.
MÓDULO 3
DEFINIÇÃO
Para começarmos o estudo deste módulo, vamos ver como a ventilação não invasiva por
pressão negativa foi definida ao longo dos anos:
1838
O método de VNIPN começa a surgir em meados de 1838 graças ao médico escocês John
Dalziel, que utiliza um tanque para gerar manualmente a pressão negativa ao redor dos
pulmões dos pacientes. Nessa época, acreditava-se que o ar poderia ser aspirado para dentro
dos pulmões pela boca e pelo nariz se uma pressão subatmosférica fosse desenvolvida ao
redor do tórax e do abdômen.
RESUMINDO
A ventilação ocorre pelo bombear de ar para fora e para dentro do tanque em um ciclo
predeterminado que cria um vácuo parcial (pressão negativa) no espaço à volta da pessoa, o
que leva à expansão do tórax e dos pulmões. Quando a pressão em torno da parede do tórax
volta à pressão do ar ambiente, a expiração ocorre passivamente devido ao recuo elástico dos
pulmões e da parede torácica.
1864
Nos EUA, Alfred E. Jones patenteia o primeiro respirador tanque norte-americano no qual o
paciente pode permanecer sentado durante a terapia. Veja a seguir.
Desenvolvida por Ignez Von Hauke, a primeira couraça se trata de uma concha de aço que
cobre a parte anterior do tórax.
1928
Philip Drinker cria o pulmão de aço, estrutura cujos cilindros metálicos em seu interior são
capazes de gerar uma pressão negativa ao redor do tórax do paciente por meio da utilização
da força elétrica.
ANOS 1950
Na maior parte dos primeiros ventiladores por pressão negativa desenvolvidos, todo o corpo
(até o pescoço) estava contido na câmara. Sua vantagem era que a expansão da parede
torácica não ficava limitada pelo contato com os lados do dispositivo de pressão negativa e que
apenas um selo hermético, em volta do pescoço, era obrigatório.
COMENTÁRIO
Ao longo dos anos, conforme sua utilização se tornava essencial na epidemia de poliomielite,
mesmo com o uso do tanque se mostrando eficaz, ele foi caindo em desuso gradualmente à
medida que vinham sendo desenvolvidas vestes e couraças cada vez mais confortáveis e que
possibilitavam uma melhor aplicabilidade desse método, pois o uso do tanque era bastante
desconfortável ao paciente.
Ventiladores de pressão negativa mais simples, sem tanque e em forma de couraça foram
desenvolvidos pela primeira vez por volta do final do século XIX, tornando sua fabricação mais
rápida. Atualmente, a aplicação da VNI utiliza aparelhos mais leves e portáteis.
Equipamento de VNIPN sem utilização de tanque.
ÚLTIMAS DÉCADAS
A inovação mais recente em VNIPN é o ventilador bifásico cuirass (BPCV) de Hayek, médico
israelense que projetou uma unidade de concha torácica com um circuito digital eletrônico com
opções de pressão negativa e positiva em uma ampla gama de taxas e pressões. Seus
parâmetros podem ser definidos individualmente para o “melhor suporte” ditado pelas
circunstâncias individuais. Veja na imagem a seguir.
Concha torácica customizada (imagem A) e Ventilador bifásico tipo cuirass Hayek (BPCV)
representado na imagem B.
Crianças.
Tal pressão negativa passa a ser transmitida inicialmente ao espaço pleural e, em seguida, aos
alvéolos pulmonares.
ATENÇÃO
Os respiradores de VNIPN acabam por simular a respiração normal. Toda respiração do tipo é
realizada por uma pressão negativa causada pelo desenvolvimento da pressão negativa
intratorácica quando os músculos inspiratórios se contraem.
COMENTÁRIO
Como já destacamos, esses ventiladores são do tipo tanque (cabine), o que envolve todo o
corpo do paciente, exceto a cabeça, sendo criada dentro desse local uma pressão do tipo
negativa intermitente. Também é possível haver modelos nos quais uma couraça veste o
paciente.
EXEMPLO
INDICAÇÃO
Eis as principais indicações da VNIPN a serem consideradas:
Embora os ventiladores não invasivos de pressão negativa tenham sido amplamente utilizados
em meados do século XX (especialmente em vítimas da epidemia de poliomielite), agora eles
são amplamente substituídos por aqueles de via aérea de pressão positiva, forçando o ar (ou
oxigênio) diretamente nas vias aéreas do paciente.
A ventilação com pressão negativa ainda era usada com frequência até meados dos anos 1980
para tratar crises crônicas e mesmo agudas de insuficiência respiratória em pacientes com
doença neuromuscular. Contudo, até mesmo essa aplicação foi usurpada pela ventilação com
pressão positiva não invasiva (NPPV) durante o final da década de 1980 devido às inúmeras
vantagens dela, incluindo a conveniência de aplicação, a portabilidade e a prevenção de
obstruções das vias aéreas superiores, que, por sua vez, podem ser induzidas pela ventilação
com pressão negativa.
SAIBA MAIS
Estudo desenvolvido em 2004 com pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica em
exacerbação demonstrou que o uso de VNIPN associado a outras técnicas de suporte
ventilatório foi eficaz na prática clínica a fim de evitar a intubação endotraqueal.
Além disso, a imensa necessidade de ventiladores para apoiar os pacientes com covid-19
atualmente e a escassez de ventiladores positivos levaram a um aumento da pesquisa sobre o
papel da ventilação de pressão negativa e o aprimoramento das tecnologias para sua
utilização.
Houve um novo ressurgimento do interesse na VNIPN, especialmente na Itália, uma vez que as
complicações da ventilação com pressão positiva de intubação e traqueotomia continuaram a
aumentar, uma vez que pacientes mais doentes e mais velhos – e com mais comorbidades –
são ressuscitados. No entanto, as empresas responsáveis pela fabricação e pelo fornecimento
de sistemas de pressão negativa foram vendidas e não fornecem mais esses equipamentos, o
que dificulta a reimplantação desse método nos dias atuais.
COMENTÁRIO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pontuamos neste conteúdo, nos últimos anos, a utilização da ventilação não invasiva
vem ganhando cada vez mais espaço na área de fisioterapia, o que evidencia sua importância
como um recurso capaz de auxiliar no processo de respiração dos pacientes sem que
equipamentos invasivos sejam introduzidos no aparelho respiratório, evitando, assim, traumas,
lesões e complicações dos modos invasivos.
Devido ao grande grupo de pacientes que pode se beneficiar com tal método, é de extrema
importância que o fisioterapeuta conheça cada um dos diferentes tipos de ventilação não
invasiva que podem ser utilizados, assim como suas interfaces de utilização no paciente e suas
características fisiológicas. Isso permitirá uma adequada elaboração da conduta terapêutica a
ser realizada e a tomada de decisão para cada caso.
Também é importante ressaltar que, com o surgimento e o avanço da covid-19 em 2020, o uso
da ventilação não invasiva se tornou ainda mais importante, recebendo destaque como recurso
terapêutico plausível de ser utilizado nesses pacientes para lhes proporcionar um suporte
ventilatório e um conforto respiratório em momentos nos quais a ventilação invasiva se
mostrava escassa, o que fez aumentar a chance de sobrevidas deles.
PODCAST
Agora, a especialista Ana Inês Gonzáles encerra nosso estudo falando sobre um breve
histórico da VNI e abordando o surgimento dos principais modos ventilatórios (CPAP, BiPAP e
VNIPN), além de suas respectivas indicações e contraindicações.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BARRETO, S. S. M. et al. II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Jornal de
pneumologia, 2000.
EXPLORE+
Assista a estes vídeos no YouTube para:
a) Saber um pouco mais sobre a diferença das duas modalidades de ventilação não
invasiva por pressão positiva
FATOS DESCONHECIDOS. Por que esse homem está trancado em uma máquina há
60 anos?. Publicado em: 14 dez. 2019.
SAMUEL ARAUJO DE LIMA. O pulmão de aço: a importância da vacinação. Publicado
em: 19 fev. 2020.
CONTEUDISTA
Ana Inês Gonzáles