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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUI (UESPI)

CAMPUS DOM JOSÉ VÁSQUEZ DIAZ


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
PRATICA JURÍDICA DE DIREITO TRIBUTÁRIO E EMPRESARIAL

Docente: Profa. Maria Cláudia Veloso


Discentes: Layssa Vitória Fontes Pimentel e César Dias Rodrigues

AVALIAÇÃO:
PERGUNTA:
NINA É FILHA DE MARIA E JOÃO. EM OUTUBRO DE 2023, O JUIZ DA
VARA DAS FAMÍLIAS DE BOM JESUS SENTECIOU QUE JOÃO DEVERÁ
PAGAR O VALOR DE 3 SALÁRIOS MÍNIMOS COMO PENSÃO
ALIMENTÍCIA PARA NINA. EM MARÇO DE 2024, JOÃO AGENDOU UMA
CONSULTA JURÍDICA COM AS SEGUINTES DÚVIDAS:
1. INCIDE IMPOSTO DE RENDA SOBRE O VALOR DA PENSÃO
ALIMENTÍCIA QUE PAGO PARA MINHA FILHA?
Conforme a decisão do STF na ADI nº 5422/DF de junho de 2022, não há
incidência do imposto de renda sobre o valor pago a título de pensão alimentícia.
Portanto, dos valores pagos por João a Nina não há recolhimento do imposto de renda.

2. POSSO RECEBER DE VOLTA OS VALORES QUE JÁ PAGUEI?


Sim, João poderá receber os valores do imposto de renda sobre a prestação
alimentícia de sua filha de forma equivocada, uma vez que o STF entendeu que os
valores de pensão alimentícia são isentos do imposto de renda. Dessa forma, João terá o
direito de pedir a retificação do seu imposto de renda e obter a restituição até dos
últimos 5 anos.
PARECER
AÇÃO DIRIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE nº 5.422/ STF

EMENTA
Ação direta de inconstitucionalidade. Legitimidade ativa. Presença. Afastamento de
questões preliminares. Conhecimento parcial da ação. Direito tributário e direito de
família. Imposto de renda. Incidência sobre valores percebidos a título de alimentos ou
de pensão alimentícia. Inconstitucionalidade. Ausência de acréscimo patrimonial.
Igualdade de gênero. Mínimo existencial. 1. Consiste o IBDFAM em associação
homogênea, só podendo a ele se associarem pessoas físicas ou jurídicas, profissionais,
estudantes, órgãos ou entidades que tenham conexão com o direito de família. Está
presente, portanto, a pertinência temática, em razão da correlação entre seus objetivos
institucionais e o objeto da ação direta de inconstitucionalidade. 2. Afastamento de
outras questões preliminares, em razão da presença de procuração com poderes
específicos; da desnecessidade de se impugnar dispositivo que não integre o complexo
normativo questionado e da possibilidade de se declarar, por arrastamento, a
inconstitucionalidade de disposições regulamentares e de outras disposições legais que
possuam os mesmos vícios das normas citadas na petição inicial, tendo com elas
inequívoca ligação. 3. A inconstitucionalidade suscitada está limitada à incidência do
imposto de renda sobre os valores percebidos a título de alimentos ou de pensões
alimentícias oriundos do direito de família. Ação da qual se conhece parcialmente, de
modo a se entender que os pedidos formulados alcançam os dispositivos questionados
apenas nas partes que tratam da aludida tributação. 4. A materialidade do imposto de
renda está conectada com a existência de acréscimo patrimonial, aspecto presente nas
ideias de renda e de proventos de qualquer natureza. 5. Alimentos ou pensão alimentícia
oriundos do direito de família não se configuram como renda nem proventos de
qualquer natureza do credor dos alimentos, mas montante retirado dos acréscimos
patrimoniais recebidos pelo alimentante para ser dado ao alimentado. A percepção
desses valores pelo alimentado não representa riqueza nova, estando fora, portanto, da
hipótese de incidência do imposto. 6. Na esteira do voto-vista do Ministro Roberto
Barroso, “[n]a maioria dos casos, após a dissolução do vínculo conjugal, a guarda dos
filhos menores é concedida à mãe. A incidência do imposto de renda sobre pensão
alimentícia acaba por afrontar a igualdade de gênero, visto que penaliza ainda mais as
mulheres. Além de criar, assistir e educar os filhos, elas ainda devem arcar com ônus
tributários dos valores recebidos a título de alimentos, os quais foram fixados
justamente para atender às necessidades básicas da criança ou do adolescente”. 7.
Consoante o voto-vista do Ministro Alexandre de Moraes, a tributação não pode obstar
o exercício de direitos fundamentais, de modo que “os valores recebidos a título de
pensão alimentícia decorrente das obrigações familiares de seu provedor não podem
integrar a renda tributável do alimentando, sob pena de violar-se a garantia ao mínimo
existencial”. 8. Vencidos parcialmente os Ministro Gilmar Mendes, Edson Fachin e
Nunes Marques, que sustentavam que as pensões alimentícias decorrentes do direito de
família deveriam ser somadas aos valores de seu responsável legal aplicando-se a tabela
progressiva do imposto de renda para cada dependente, ressalvando a possibilidade de o
alimentando realizar isoladamente a declaração de imposto de renda. 9. Ação direta da
qual se conhece em parte, relativamente à qual ela é julgada procedente, de modo a dar
ao art. 3º, § 1º, da Lei nº 7.713/88, ao arts. 4º e 46 do Anexo do Decreto nº 9.580/18 e
aos arts. 3º, caput e § 1º; e 4º do Decreto-lei nº 1.301/73 interpretação conforme à
Constituição Federal para se afastar a incidência do imposto de renda sobre valores
decorrentes do direito de família percebidos pelos alimentados a título de alimentos ou
de pensões alimentícias. (STF - ADI: 5422 DF 9032329-95.2015.1.00.0000, Relator:
DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 06/06/2022, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
23/08/2022)

SÍNTESE DOS FATOS

O caso julgado pelo STJ na ADI 5.422/ DF, se trata de uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade ajuizada pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família
(IBDFAM), tendo por objeto o art. 3º, § 1º, da Lei nº 7.713/88 e os arts. 5º e 54 do
Decreto nº 3.000/99 (Regulamento do Imposto de Renda (RIR), que assim dispõem:

Lei nº 7.713/1988:
Art. 3º O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução,
ressalvado o disposto nos arts. 9º a 14 desta Lei. (Vide Lei 8.023, de 12.4.90)
§ 1º Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho ou
da combinação de ambos, os alimentos e pensões percebidos em dinheiro, e
ainda os proventos de qualquer natureza, assim também entendidos os
acréscimos patrimoniais não correspondentes aos rendimentos declarados.
Decreto nº 3.000/1999:
Art. 5º No caso de rendimentos percebidos em dinheiro a título de alimentos
ou pensões em cumprimento de acordo homologado judicialmente ou decisão
judicial, inclusive alimentos provisionais ou provisórios, verificando-se a
incapacidade civil do alimentado, a tributação far-se-á em seu nome pelo
tutor, curador ou responsável por sua guarda (Decreto-Lei nº 1.301, de 1973,
arts. 3º, § 1º, e 4º).
Art. 54. São tributáveis os valores percebidos, em dinheiro, a título de
alimentos ou pensões, em cumprimento de decisão judicial ou acordo
homologado judicialmente, inclusive a prestação de alimentos provisionais
(Lei nº 7.713, de 1988, art. 3º, § 1º).

Com essa ação, o IBDFAM busca, em síntese, a declaração de


inconstitucionalidade da incidência do imposto de renda sobre os valores recebidos em
dinheiro a título de pensão alimentícia.

Argumenta o requerente que existem limites constitucionais para o legislador


definir rendas e proventos de qualquer natureza. Alega que, tradicionalmente, os
alimentos são conceituados como “prestação para a satisfação das necessidades do
alimentando que, por si só, não tem meios possíveis para provê-las”. Essas necessidades
seriam, na regra, “aquelas indispensáveis à vida de uma pessoa”. Não sendo possível
atribuir caráter patrimonial ao direito alimentar. Alude que prevaleceria no instituto
caráter superior: social e familiar.

O IBDFAM alega ainda que a renda atinente à pensão alimentícia já teria sido
devidamente tributada à época de seu ingresso no patrimônio do devedor dos alimentos.
Nessa direção, diz que os valores “estão sendo duplamente tributados em sequela da
separação oficial dos cônjuges ou conviventes”.

Instado a prestar informações, o Presidente da República se manifestou no


sentido de ser constitucional a incidência do imposto de renda sobre os valores
recebidos em dinheiro a título de pensão alimentícia, não estando essa espécie de
riqueza imune ao tributo. Avalia não haver bis in idem, tendo em vista que o
contribuinte do tributo ora questionado seria o credor da pensão alimentícia, e não o
devedor.

O Presidente do Congresso Nacional, por sua vez, sustentou que não é possível o
conhecimento da ação, aduzindo que “a alegação de que não se podem tributar
alimentos e pensão dada sua natureza alimentar esbarra na prática cotidiana desde a
primeira instituição do imposto de renda”. Defendeu a constitucionalidade das normas
questionadas e sustentou não haver, na espécie, tributação do mínimo existencial.

No mesmo sentido, o Advogado-Geral da União manifestou-se pela


constitucionalidade da incidência do tributo sobre os valores recebidos em dinheiro a
título de pensão alimentícia. Sustenta que eles provocam acréscimo no patrimônio de
quem os recebe. Corroborando tal entendimento também se manifestou o Procurador-
Geral da República manifestou-se pelo não conhecimento da ação.

ARGUMENTOS FAVORÁVEIS

De forma favorável à inconstitucionalidade da cobrança do imposto de renda


sobre a prestação de alimentos votou o relator da ADI, o Min. Dias Toffoli, sustentando
o argumento de que os Alimentos ou pensão alimentícia oriundos do direito de família
não são renda nem provento de qualquer natureza do credor dos alimentos, mas
simplesmente montantes retirados dos rendimentos (acréscimos patrimoniais) recebidos
pelo alimentante para serem dados ao alimentado.
Nesse sentido, para o último, o recebimento de valores a título de alimentos ou
de pensão alimentícia representa tão somente uma entrada de valores. Afora isso, é certo
que a legislação impugnada provoca a ocorrência de bis in idem camuflado e sem
justificação legítima, violando, assim, o texto constitucional.

Em seu voto, o Min. Roberto Barroso acompanhou o relator de modo a afastar a


incidência de imposto de renda sobre alimentos ou pensões alimentícias quando
decorrentes do direito de família e propôs a seguinte tese: “ É inconstitucional a
incidência de imposto de renda sobre os alimentos ou pensões alimentícias quando
fundados no direito de família”

Também acompanhou o relator, corroborando os seus argumentos os Ministros


Alexandre de Morais, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, André Mendonça, Cármen
Lúcia e Rosa Weber.

VOTO DE DIVERGÊNCIA

Em dissonância ao voto do relator, o Ministro Gilmar Mendes apresentou o seu


voto sustentando o entendimento de que desde os seus primórdios, o imposto de renda
se propunha a incidir sobre verbas das mais amplas e diversas origens possíveis, sempre
com uma minudente disciplina legal que não pode, a meu sentir, ser desprezada. Nesse
sentido, reiterou que não vislumbra incompatibilidade entre a tributação das pensões
alimentícias e a disciplina constitucional em torno do conceito de renda.

Afirmou ainda o Min. Gilmar Mendes que não há bis in idem no que tange à
tributação das prestações alimentícias, pois no formato atual há uma incidência única (e
não dupla), apenas por quem recebe a pensão. Votando, por fim, no sentido de que as
pensões alimentícias decorrentes do direito de família devem ser somadas aos valores de
seu responsável legal aplicando-se a tabela progressiva do imposto de renda para cada
dependente. Ressalvada a possibilidade, atualmente já existente, de o alimentando
realizar isoladamente a declaração de imposto de renda.

De forma contraria ao voto apresentado pelo relator, também sustentaram os


ministros Edson Fachin e Nunes Marques.
DECISÃO DO STF

O Tribunal, por maioria, conheceu, em parte, da ação direta e, quanto à parte


conhecida, julgou procedente o pedido formulado, de modo a dar ao art. 3º, § 1º, da Lei
nº 7.713/88, ao arts. 4º e 46 do Anexo do Decreto nº 9.580/18 e aos arts. 3º, caput e § 1º;
e 4º do Decreto-lei nº 1.301/73 interpretação conforme à Constituição Federal para se
afastar a incidência do imposto de renda sobre valores decorrentes do direito de família
percebidos pelos alimentados a título de alimentos ou de pensões alimentícias, nos
termos do voto do Relator, Min. Dias Toffoli.

A decisão proferida pelo plenário do STF entende que a materialidade do tributo


está ligada à existência de acréscimo patrimonial. Ocorre que, consoante o
entendimento exarado especialmente pelos Ministros Dias Tofolli e Roberto Barroso, os
proventos oriundos de alimentos ou prestação alimentícia oriundos do direito de família
não se tratam de renda do credor dos alimentos, mas tão somente de uma entrada de
valores que passam dos rendimentos recebidos do pagador.

O STF entendeu ainda, com essa decisão que o devedor dos alimentos, ao
receber os proventos sujeitos ao Impostos de Renda, já retira deles a parcela própria
para o pagamento da tributação e que uma nova cobrança desse imposto implicaria na
incidência de bis in idem, uma bitributação camuflada sem justificativa legítima.

OPINIÃO ACERCA DA DECISÃO

Ao analisarmos a decisão proferida pelo plenário do STF, bem como os


argumentos apresentados pelos excelentíssimos ministros, concordamos com o
entendimento do Ministro Relator Dias Toffoli, tendo em vista a natureza existencial
das prestações alimentícias.

Pelo seu caráter naturalmente alimentar, a pensão alimentícia não poderia ser
reduzida pela incidência do Imposto de Renda, pois estaria significando uma diminuição
de verba indispensável para quem a recebe, verba que abrange os custos com moradia,
vestuário, educação, saúde entre outros.

Deve prosperar também os argumentos apresentados pelo Ministro Relator, bem


como pelos que acompanharam seu voto, no sentido de que a constitucionalidade do
imposto de renda sobre a prestação alimentícia poderia implicar em uma bitributação,
em que se paga o imposto pelo devedor de alimentos, ao receber esse provento, e pelo
alimentado que deveria paga-lo no momento em que o valor é repassado. É clara a
incidência do bis in idem, prática vedada no âmbito tributário e constitucional.

REFERÊNCIA

STF - ADI: 5422 DF 9032329-95.2015.1.00.0000, Relator: DIAS TOFFOLI, Data de


Julgamento: 06/06/2022, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 23/08/2022. Disponível
em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4893325. Acesso em: 01
abr. 2024.

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