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Encontre fontes: ABW • CAPES • Google (N • L • A) (Outubro de 2020)
Os grandes
sistemas jurídicos do mundo, segundo categorização elaborada pelo projeto
JuriGlobe.
O termo direito comparado refere-se simultaneamente a uma disciplina
científica, que estuda as diferenças e as semelhanças entre os
diferentes direitos (incluindo suas legislações, jurisprudências e doutrinas), e a
um método científico que permite comparar elementos desses direitos, com
finalidades variadas. Em ambos os casos, a importância do direito comparado
aumentou muito na atualidade, marcada pela internacionalização e
pela globalização.
No primeiro caso, a disciplina envolve principalmente o estudo dos
diferentes sistemas jurídicos existentes no mundo, frequentemente agrupando-
os em "famílias de direitos". René David, por exemplo, divide os direitos do
mundo nas famílias do common law, do direito romano-germânico, do direito
socialista, do direito muçulmano, do direito da Índia, do direito do Extremo
Oriente e do direito da África e de Madagascar.[1] Ela inclui a descrição e análise
dos sistemas jurídicos estrangeiros, mesmo onde não há comparação explícita,
e sua finalidade é principalmente pedagógica.
No segundo caso, trata-se de um método de trabalho ou pesquisa que permite
a comparação efetiva de institutos, instrumentos, conceitos ou outros
elementos dos direitos de dois ou mais jurisdições (Blocos regionais, Países,
Estados, Províncias, Municípios, dentre outros).[2] Enquanto método, essa parte
do direito comparado estabelece os elementos necessários a uma comparação
efetiva, e seus objetivos podem ser os mais variados: identificar institutos
diferentes nos direitos comparados, mas que cumprem a mesma finalidade;
identificar institutos jurídicos semelhantes nos direitos comparados, mas que
cumprem finalidades distintas; avaliar a eficácia relativa de institutos jurídicos
semelhantes nos direitos comparados; estudar a evolução de determinados
institutos jurídicos que foram importados ou exportados de direitos de outros
países; avaliar a viabilidade de importação de um conceito jurídico estrangeiro
e as adaptações necessárias para que ele reproduza no direito importador os
mesmos efeitos observados em seu direito originário; dentre outros.
Muitos definem o direito comparado como ramo do direito, mas essa
concepção é pouco aceita pois em geral entende-se que um ramo de direito
visa regular de maneira específica uma dada situação jurídica, o que não
acontece com o direito comparado. Embora auxilie no estudo de diversos
ramos do direito, o método do direito comparado exerce papel essencial no
direito internacional privado e nos direitos dos blocos regionais, por razões
evidentes ligadas à necessidade de integração entre dois ou mais direitos.
História
O nascimento do direito comparado moderno é geralmente atribuída a Europa
no século XVIII. No entanto, antes disso, os juristas (precursores da
comparatistas de hoje e advogados internacionais) praticado método
comparativo. Na história legal da Rússia, por exemplo, o método comparativo
remonta ao século XVI.
Os antigos gregos já se esforçavam por comparar o direito em vigor em
diferentes cidades-Estado: Aristóteles estudou 153 constituições de cidades-
Estado gregas para escrever a sua Política; Sólon teria feito o mesmo antes de
promulgar as leis de Atenas. Os decênviros romanos somente teriam
preparado a Lei das Doze Tábuas após consulta às instituições gregas.
Montesquieu
De acordo com o ponto de vista predominante, Montesquieu é considerado
como o "pai" do direito comparado. Sua abordagem comparativa é evidente no
seguinte trecho do capítulo III do Livro I do que muitos consideram sua obra-
prima, "De l'esprit des Lois:
As leis políticas e civis de cada nação deve ser adaptada de tal forma que as
pessoas para quem eles estão enquadradas que deveria ser uma grande
chance de se aqueles de um terno nação outro. Eles devem estar em relação
com a natureza e o princípio de cada governo, se eles formam, como pode ser
dito de leis políticos, ou se apoiá-lo, como no caso das instituições civis. Eles
devem ser em relação ao clima de cada país, para a qualidade de seu solo, à
sua situação e extensão, para o principal ocupação dos nativos, se lavradores,
caçadores ou pastores: eles devem ter relação com o grau de liberdade que a
Constituição vai suportar, para a religião dos habitantes, às suas inclinações,
riquezas, número, comércio, costumes, e costumes. Além disso, no Capítulo XI
(intitulado "Como comparar dois sistemas diferentes de leis") do Livro XXIX ele
aconselha que "para determinar qual desses sistemas [ou seja, os sistemas de
Francês e Inglês para a punição de falsas testemunhas] é mais agradável à
razão, devemos levá-los cada um como um todo, e compará-los em sua
totalidade ".
No entanto, um outro trecho onde a abordagem comparativa de Montesquieu é
evidente é o seguinte do Capítulo XIII do Livro XXIX: Como as leis civis
dependem das instituições políticas, porque eles são feitos para a mesma
sociedade, sempre que há um projeto de adoção do direito civil de outro país,
seria adequado para analisar de antemão se eles têm as mesmas instituições e
os mesmos direito político.
Importância
Direito comparado é uma disciplina muito importante na comunicação entre os
sistemas jurídicos. Ele pode fornecer a base para a produção de dicionários
bilíngües, que incluem as informações necessárias para tornar a comunicação
legal através das fronteiras de sucesso. Ele também ajuda a compreensão
mútua e a dissipação de preconceito e má interpretação. Neste mundo
globalizado, o direito comparado é importante para ele fornece uma plataforma
para o intercâmbio intelectual nos termos da lei e que cultiva uma cultura de
compreensão em um mundo diverso. Além disso, o direito comparado ajuda a
alargar os horizontes para os reformadores da lei e os legisladores em todo o
mundo. Também pode ser útil nas relações internacionais na definição de
políticas estrangeiras.
Relação com outros sujeitos de direito
Direito comparado é diferente dos campos de jurisprudência geral (teoria legal),
o direito internacional, incluindo tanto o direito internacional público e direito
internacional privado (também conhecido como conflito de leis).
Apesar das diferenças entre o direito comparado e estas outras áreas jurídicas,
de direito comparado ajuda a informar todas estas áreas de normatividade. Por
exemplo, o direito comparado pode ajudar as instituições jurídicas
internacionais, como os do Sistema das Nações Unidas, ao analisar as leis de
diferentes países a respeito de suas obrigações do tratado. Direito comparado
seria aplicável ao direito internacional privado no desenvolvimento de uma
abordagem para a interpretação de uma análise de conflitos. Direito comparado
pode contribuir para a teoria jurídica, criando categorias e conceitos de
aplicação geral. Direito comparado também pode fornecer percepções sobre a
questão dos transplantes legais, ou seja, o transplante de direito e das
instituições jurídicas de um sistema para outro. A noção de transplantes legais
foi cunhado por Alan Watson, um dos mais renomados juristas do mundo
especializada em direito comparado.
Além disso, a utilidade do direito comparado para a sociologia do direito (e
vice-versa) é muito grande. O estudo comparativo dos vários sistemas jurídicos
podem mostrar o quão diferente as normas legais para a mesma função de
problema na prática. Por outro lado, sociologia do direito pode ajudar a
responder questões comparativas da lei, tais como: Como os regulamentos em
diferentes sistemas jurídicos realmente função nas respectivas sociedades?
Certas regras legais comparáveis? Como é que as semelhanças e diferenças
entre os sistemas jurídicos se explica?
Classificações dos sistemas jurídicos
1. Arminjon, Nolde, and Wolff - Acredita que, para efeitos de classificação dos
(então) os sistemas jurídicos contemporâneos do mundo, foi necessário que
esses sistemas, por si só se estudou, independentemente de fatores externos,
como os geográficos. Eles propuseram a classificação do sistema legal em
sete grupos, ou os chamados "famílias":
Democracia liberal;
Economia capitalista;
Religião cristã.
3. Zweigert e Kötz - Propõem uma metodologia diferente, multidimensional para
a categorização de leis, ou seja, para encomendar as famílias de leis. Eles
sustentam que, para determinar essas famílias, deve ser levado em conta cinco
critérios, nomeadamente: o contexto histórico, o modo característico de
pensamento, as diferentes instituições, as fontes reconhecidas de direito, e da
ideologia dominante. Usando os critérios acima mencionados, eles classificam
os sistemas jurídicos do mundo em seis famílias:
Família romana;
Família alemã;
Família common law;
Família nórdica;
Família das leis do Extremo Oriente (China e Japão);
Família religiosa (muçulmana e lei Hindu).
As associações profissionais
Famílias de direitos
Conforme a sua origem histórica e a sua operação interna, os diversos direitos
nacionais modernos podem ser divididos em três grandes famílias ou sistemas:
família romano-germânica;
família do common law;
família dos direitos socialistas (em declínio); e
outras famílias.
Família romano-germânica
Ver artigo principal: Sistema romano-germânico
É formada pelo conjunto dos direitos nacionais que sofrem forte influência
do direito romano e do seu estudo através dos séculos. Em termos geográficos,
pertencem a esta família os direitos de vários países europeus, de toda
a América Latina, de grande parte da África, do Oriente Médio, do Japão e
da Indonésia. São romano-germânicos os direitos nacionais do Brasil e
de Portugal.
O período de formação histórica desta família começa no século XIII, com o
renascimento do interesse pelo estudo do direito romano nas universidades
europeias, a partir da redescoberta do Corpus Iuris Civilis. O seu
desenvolvimento prossegue através da Idade Moderna até a chamada fase do
direito legislativo, durante a qual surgem as noções de que o direito não é
imutável, deve ser fruto da razão, e o resultado da aplicação da razão ao
ordenamento jurídico pode e deve ser registrado por escrito. O encontro destas
ideias com o nacionalismo romântico dos séculos XVIII e XIX permitiu o
surgimento dos direitos nacionais, no âmbito da família romano-germânica. Já
não eram mais exclusivamente direito romano, mas um conjunto de regras,
conceitos e mentalidades jurídicos nele baseado, alterado, ampliado e
adaptado pelos séculos de estudo do direito romano, agora posto por escrito,
de maneira sistemática (à luz da Razão), em códigos (como o Código
Napoleônico francês de 1804). O conceito de um único direito romano
(adaptado pelos juristas medievais e modernos) válido para toda a Europa foi
substituído pelo de direito nacional, adaptado às necessidades e circunstâncias
locais, mas os países europeus continentais podiam traçar uma origem comum
para os seus respectivos direitos nacionais - o estudo do direito romano -, o
que os faz pertencer à família romano-germânica.
Na família romano-germânica, a regra de direito é genérica, a ser aplicada ao
caso concreto pelos tribunais. Esta regra de direito genérica costuma ser criada
por meio de lei escrita. A generalização permitiu o fenômeno da codificação do
direito, pelo qual as regras genéricas são compiladas em códigos de leis e
posteriormente aplicadas pelos juristas e tribunais.
Outras famílias
As famílias romano-germânica, dos jurídicos em vigor no mundo e incluem as
maiores potências do planeta. Não obstante, fora da Europa e
das Américas podem existir concepções diferentes do que seja direito, ou
grupos de ordenamentos jurídicos estruturados de forma diferente das grandes
famílias. Estes casos - geralmente na Ásia e na África - costumam ser reunidos
num capítulo "outros" ou "outras famílias" pelos juristas.
Cabe ressaltar que, nestes casos, não é incomum conviverem o direito formal,
"moderno", adotado de modelos europeus ou americanos, com regras e
hábitos (e concepções do direito) locais.
Direito muçulmano
O Direito Muçulmano é o direito da comunidade religiosa Islâmica, ou seja, é
um direito que rege os adeptos onde quer que eles se encontrem. O Direito
Muçulmano é o direito de um grupo religioso, e não de um povo ou de um país.
Este grupo religioso conta com mais de 400 milhões de fiéis, repartidos por
mais de 30 países. O direito muçulmano não é uma ciência autônoma, mas
uma das faces da religião. Esta compreende a teologia (que fixa os dogmas,
aquilo em que o muçulmano deve acreditar) e a Char’ia, que prescreve aos
crentes o que devem ou não fazer. Então a châr’ia é a via a seguir, a lei
revelada; compreende o que nos chamamos Direito, mas também o que o
crente deve fazer em relação a Deus (oração, jejuns, etc.). A sanção é o estado
do pecado; ela não é, portanto, aplicada senão aos crentes; o direito
muçulmano é inaplicável aos infiéis. O Fiqh é o conjunto de soluções
preconizadas para obedecer a châr’ia; é a ciência dos direitos e deveres dos
homens, nas recompensas das penas espirituais. Ciência das Normas que
podem ser deduzidas por um processo lógico, das quatro fontes da châr’ia: O
Alcorão, a tradição (Sunna), o acordo unânime da comunidade muçulmana
(idjma) e a analogia ( qiyâs). Os muçulmanos concebem a ciência do direito
como uma arvore: as quatro fontes são as raízes, a lei revelada (châr’ia) é o
tronco, os ramos constituem as soluções especiais deduzidas da lei revelada
(fiqh).
Direitos do Extremo Oriente
Nos Estados do Extremo Oriente, o direito é visto como exercendo uma função
subsidiária na composição dos conflitos sociais; mais importantes para tal fim
são a persuasão, a moderação e a conciliação.
Referências
1. ↑ DAVID, R. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. 4. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2002.
2. ↑ MICHAELS, R. The Functional Method of Comparative Law. In: REIMANN, M.;
ZIMMERMAN, R. (Org.). The Oxford Handbook of Comparative Law [Kindle version]. New
York: Oxford University Press, 2008. p. 339–382.
3. ↑ Rodrigues Junior, Otavio Luiz. «O Direito Comparado nos séculos XIX e XX (parte
2)». Consultor Jurídico. São Paulo, 12 de março de 2014. Consultado em 23 de janeiro de
2015
4. ↑ LYRA TAVARES, Ana Lucia. «O ensino do direito comparado no Brasil
contemporâneo.». Direito, Estado e Sociedade, n. 29, p. 69-87, jul./dez. 2006.
DICAS DE ESTUDO
Entenda o que é
Direito Comparado
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Ficou curioso e quer saber mais sobre esse ramo do Direito? Acompanhe a
leitura do post e descubra muito mais!
Romano-germânico
Sistema jurídico mais disseminado no mundo, também conhecido como Civil
Law, e baseado na codificação do Direito. Está presente em toda a América
Latina, em boa parte da Ásia e da África e na Europa Continental.
Anglo-saxão
Mais conhecido como Common Law, esse sistema se desenvolve a partir das
decisões dos tribunais, e não pela codificação de leis. É praticado pelo Reino
Unido, pela maior parte dos Estados Unidos e do Canadá e pelas ex-colônias
do Império Britânico.
Direitos socialistas
Sistema baseado no romano-germânico, mas com modificações provenientes
do Marxismo e do Leninismo. Nele, prevalece o Direito Público. Foi praticado
pela União Soviética, mas atualmente pode ser encontrado na China e na
Coreia do Norte.
Os Direitos são diversos, ainda que haja previsões legislativas que vão
de encontro do que uma pessoa tem como valor moral ou ético.
Para evitar que se entre nesse juízo de valor, o método para o estudo do
Direito Comparado passa obrigatoriamente pelo conhecimento de Sociologia
do Direito. É impossível entender o arcabouço legal de um Estado sem
compreender as sociedades nas quais os Direitos se formataram.
Recursos judiciais
No Brasil, os processos se iniciam nos órgãos de primeira instância e, quando
as partes querem questionar uma decisão, elas têm direito ao princípio do
duplo grau de jurisdição.
Esse grupo faz uma triagem e indica três pleiteantes ao cargo para o
governador, responsável pela escolha final. Outra distinção: pela lei brasileira,
depois de dois anos, os juízes ganham estabilidade e o cargo se torna vitalício.
Formação de profissionais
Mais um importante contraste entre os ordenamentos jurídicos das duas
nações é a formação dos profissionais de Direito. No modelo americano, não
existe uma graduação em Direito como aqui. Lá, os estudantes fazem um
estudo complementar a uma licenciatura conquistada antes.
Por exemplo: um cidadão obtém o diploma de Bachelor of Arts em Licenciatura
ou História da Arte. Depois de conquistar um certificado desse tipo, esse
estudante pode fazer um curso de Direito, com duração de três anos, para
adquirir o título de Júris Doctor (JD).
Em seguida, o aluno tem a opção de continuar no aprendizado e obter um título
de Master of Laws (LL.M.). Só que existem ainda outros tipos de títulos, por
exemplo, o doutorado PhD (philosophiae doctor).
Essa assimetria entre os dois modelos traz muitos obstáculos para quem quer
revalidar diplomas de pós-graduação norte-americanos no Brasil, o que acaba
atrapalhando os investimentos nos estudos, em alguns casos.
Acordos
Ao contrário do que acontece no Brasil, a maioria das ações que dá entrada
nas cortes dos Estados Unidos, seja na área Penal, seja na área Cível, acaba
sendo negociada. Isso significa que boa parte dos processos sequer vai a
julgamento.
Lá, o entendimento entre as partes prevalece, sendo que em território nacional
o índice de conciliações é tido como muito baixo. Muitos especialistas atribuem
a morosidade do sistema judiciário brasileiro, ao menos em parte, a essa pouca
adesão às soluções pactuadas.
Inclusive, nossa lei maior traz, no artigo 5º, preceitos que endossam a
influência do Direito Comparado no ordenamento jurídico brasileiro:
O juiz não pode alegar lacuna ou obscuridade da lei ao proferir uma decisão.
Em vez disso, se valerá dos costumes, da analogia e dos princípios gerais de
Direito. Isso significa dizer, em outras palavras, que o Direito Comparado
poderá ser utilizado.
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Tomo Teoria Geral e Filosofia do Direito, Edição 1, Abril de 2017
A ideia de Estado de Direito, que tem origem na Idade Média, como forma de contenção do poder
absoluto,1 ressurgiu nas últimas décadas como um ideal extremamente poderoso para todos aqueles
que lutam contra o autoritarismo e o totalitarismo, transformando-se num dos principais pilares do
regime democrático.2 Para os defensores de direitos humanos, o Estado de Direito é visto como uma
ferramenta indispensável para evitar a discriminação e o uso arbitrário da força.3 Ao mesmo tempo, a
ideia de Estado de Direito, ao ser renovada por libertários como Hayek em meados do século XX,
passou a receber forte apoio das agências financeiras internacionais e instituições de auxílio ao
desenvolvimento jurídico, como um pré-requisito essencial para o estabelecimento de economias de
mercado eficientes.4 Do outro lado do espectro político, até mesmo os marxistas, que viam
antigamente o Estado de Direito como um mero instrumento superestrutural, voltado à manutenção
do poder das elites, começaram a vê-lo como um “bem humano incondicional”.5 Seria difícil
encontrar qualquer outro ideal político louvado por públicos tão diversos.6 Porém, a questão é:
estamos todos defendendo a mesma ideia? Obviamente não. Cada concepção de Estado de Direito,
bem como as características que lhes são atribuídas refletem distintas concepções políticas ou
econômicas que se busca avançar.
O conceito clássico de Estado de Direito foi submetido a uma severa reavaliação nas primeiras
décadas do último século. Pensadores como Max Weber em Economia y Sociedad¸7 alertaram-nos
acerca do processo de desformalização do Direito como consequência das transformações na esfera
pública. Os anos que se seguiram após os trabalhos de Weber foram marcados por uma tensa luta
política e intelectual sobre a capacidade do Rechtsstaat de se adequar aos novos desafios
apresentados pela Constituição socialdemocrata de Weimar. Essa luta pode ser vista no debate entre
conservadores como Carl Schmitt e socialdemocratas representados por Franz Neumann.8 Hayek
responde a essas perspectivas céticas sobre o Estado de Direito em seu influente O Caminho da
Servidão, de 1944.9
Para Hayek, a intervenção estatal na economia e o crescente poder discricionário dos burocratas de
estabelecer e buscar a realização de objetivos sociais ameaça a eficiência econômica; como
consequência das transformações nas funções do Estado, houve um processo de declínio da condição
do Direito como instrumento substantivo na proteção da liberdade. A noção de que o Estado não tem
apenas a obrigação de tratar os cidadãos de maneira igual perante a lei, mas também o dever de
assegurar a justiça substantiva, foi acompanhada pelo argumento, proposto por novos teóricos do
direito, de que o conceito tradicional de Estado de Direito se tornou incompatível com o mundo
moderno. Diferentes teorias jurídicas, como o positivismo, o realismo jurídico ou a jurisprudência de
interesses construíram uma versão formal do Direito, liberando o Estado das inerentes limitações
impostas por uma concepção substantiva.
Para superar tal situação de “opressão”, na qual o Estado pode exercer coerção sobre seus cidadãos –
através de atos normativos – sem a necessidade de justificar suas ações em uma lei abstrata e geral,
seria necessário retornar às origens do Estado de Direito. Para isso, Hayek revisitou a história e
formulou uma lista de elementos normativos essenciais do Estado de Direito, visto como
instrumento par excellence para assegurar a liberdade. De acordo com essa versão, ele não pode ser
comparado ao princípio da legalidade desenvolvido pelo direito administrativo, porque o Estado de
Direito representa uma concepção material referente ao que o Direito deveria ser. Essa concepção
material o configura como uma doutrina meta legal e um ideal político, que serve à causa da
liberdade, e não como uma mera concepção de que a ação governamental deva estar de acordo com
as normas. O Estado de Direito deveria ser formado, para Hayek, pelos seguintes elementos: (a) a lei
deveria ser geral, abstrata e prospectiva, para que o legislador não pudesse arbitrariamente escolher
uma pessoa para ser alvo de sua coerção ou privilégio; (b) a lei deveria ser conhecida e certa, para
que os cidadãos pudessem fazer planos – Hayek defende que esse é um dos principais fatores que
contribuíram para a prosperidade no Ocidente; (c) a lei deveria ser aplicada de forma equânime a
todos os cidadãos e agentes públicos, a fim de que os incentivos para editar leis injustas
diminuíssem; (d) deveria haver uma separação entre aqueles que fazem as leis e aqueles com a
competência para aplicá-las, sejam juízes ou administradores, para que as normas não fossem feitas
com casos particulares em mente; (e) deveria haver a possibilidade de revisão judicial das decisões
discricionárias da administração para corrigir eventual má aplicação do Direito; (f) a legislação e a
política deveriam ser também separadas e a coerção estatal legitimada apenas pela legislação, para
prevenir que ela fosse destinada a satisfazer propósitos individuais; e (g) deveria haver uma carta de
direitos não taxativa para proteger a esfera privada.10
Dessa maneira, a concepção de Estado de Direito defendida por Hayek engloba uma visão
substantiva do Direito, uma noção estrita da separação de poderes e a existência de direitos liberais
que protejam a esfera privada, moldada assim para servir como um instrumento de proteção da
propriedade privada e da economia de mercado. O maior problema dessa concepção é que, através
dela, o Estado de Direito se torna refém de um ideal político particular.
Em reação a esse e a outros tipos de formulações substantivas do Estado de Direito, como aquela
mais direcionada ao aspecto social que resultou do Congresso de Delhi, organizado pela Comissão
Internacional de Juristas em 1959, Joseph Raz propõe uma concepção mais formalista, que evitaria a
confusão entre diversos objetivos sociais e ideológicos e as virtudes intrínsecas do Estado de Direito.
Para ele, “se o Estado de Direito for um Estado governado por boas leis, então explicar a sua
natureza é difundir uma filosofia social completa. Porém, dessa maneira, o termo perde qualquer
utilidade”.11
Para Raz, o Estado de Direito em seu sentido amplo “significa que as pessoas devem obedecer às leis
e serem reguladas por elas. Porém, em uma teoria política e jurídica, ele deve ser lido de uma
maneira mais estrita, no sentido de que o governo deve ser regulado pelas leis e submetido às
mesmas”.12 A construção de Raz requer que as leis devam ser entendidas como regras gerais, para
que possam efetivamente direcionar ações. Nesse sentido, o Direito não é apenas um fato decorrente
do poder, precisa, ao contrário, possuir uma forma particular. Raz, no entanto, não compartilha da
ideia defendida por Hayek, segundo a qual apenas normas abstratas e gerais podem constituir um
sistema de Estado de Direito. Para Raz, seria impossível governar apenas com normas gerais;
qualquer sistema concreto deve ser composto por normas gerais e outras específicas, que em
contrapartida devem ser consistentes com as primeiras. Para concretizar o objetivo de um sistema
jurídico que possa guiar a ação individual, Raz cria sua própria lista com os princípios do Estado de
Direito, de acordo com os quais as leis devem ser prospectivas, acessíveis, claras e relativamente
estáveis; a edição de normas específicas deve ser guiada por outras que sejam, por sua vez,
acessíveis, claras e gerais.
Porém, essas regras somente farão sentido se houver instituições responsáveis pela sua aplicação
consistente, a fim de que o Direito possa se tornar um parâmetro efetivo para guiar a ação individual.
A formulação de Raz requer, desse modo, a existência de um judiciário independente, porque, se as
normas fundamentam racionalmente as ações e o judiciário é responsável por aplicá-las, seria inútil
guiar nossas ações pelas leis se as cortes pudessem levar em consideração outras razões que não as
leis ao decidir casos concretos. Pela mesma razão, os princípios do devido processo, como o direito
das partes a serem ouvidas e a imparcialidade, devem ser contemplados. O Estado de Direito
também requer que as cortes devam ter competência para rever atos de outras esferas do governo, a
fim de assegurar a conformidade desses com o Estado de Direito. As cortes devem ser facilmente
acessíveis para que não se frustre o Estado de Direito. Por último, os poderes discricionários das
instâncias responsáveis pela prevenção criminal devem ser reduzidos no intuito de não se deturpar as
leis. Nem o promotor nem a polícia devem ter a discricionariedade para alocar seus recursos
destinados ao combate ao crime com base em outros fundamentos que não aqueles estabelecidos
legalmente.13
Dentro dessa perspectiva, o Estado de Direito é um conceito formal de acordo com o qual os
sistemas jurídicos podem ser mensurados, não a partir de um ponto de vista substantivo, como a
justiça ou a liberdade, mas por sua funcionalidade. A principal função do sistema jurídico é servir de
guia seguro para a ação humana. Essa é a primeira razão pela qual as concepções formalistas do
Estado de Direito, semelhantes à formulada por Raz, recebem amplo apoio de diferentes
perspectivas políticas. É extremamente importante para os governos em geral contarem com um
eficiente instrumento para guiar o comportamento humano. Contudo, servir de ferramenta para
distintas perspectivas políticas não significa que mesmo a concepção formalista de Estado de Direito
seja compatível com todos os tipos de regimes políticos. Por favorecer a previsibilidade, a
transparência, a generalidade, a imparcialidade e por dar integridade à implementação do Direito, a
ideia do Estado de Direito se torna a antítese do poder arbitrário.14 Dessa maneira, as perspectivas
políticas distintas que apoiam o Estado de Direito têm em comum uma aversão ao uso arbitrário do
poder; essa é uma outra explicação sobre por que o Estado de Direito é defendido por democratas,
liberais igualitários, neoliberais e ativistas de direitos humanos. Apesar de suas diferenças, eles são
todos a favor de conter a arbitrariedade. Em uma sociedade aberta e pluralista, que ofereça espaço
para ideais concorrentes acerca do bem público, a noção de Estado de Direito se torna uma proteção
comum contra o poder arbitrário.
Existe, no entanto, uma explicação menos nobre para o apoio amplo ao Estado de Direito que deve
ser mencionada. Tendo em vista que o Estado de Direito é um conceito multifacetado, se usarmos
cada um de seus elementos constitutivos separadamente, eles serão extremamente valiosos na
promoção de valores ou interesses diferentes e muitas vezes concorrentes, como eficiência de
mercado, igualdade, dignidade humana e liberdade. Para aqueles que defendem reformas de
mercado, a ideia de um sistema jurídico que proporcione previsibilidade e estabilidade é de extrema
importância. Para os democratas, a generalidade, a imparcialidade e a transparência são essenciais e,
para os defensores de direitos humanos, a igualdade de tratamento e a integridade das instâncias de
aplicação da lei são indispensáveis.
Portanto, a leitura parcial desse conceito multifacetado, feita por concepções políticas distintas,
também ajuda a entender a atração de público tão amplo pelo Estado de Direito. Assim, quando nós
encontramos alguém defendendo o Estado de Direito, precisamos ser cautelosos e verificar se ele
não está apenas exaltando uma das virtudes do Estado de Direito. Apenas a virtude que justamente
sustenta os objetivos sociais que ele quer promover.
1. Conformidade com o Estado de Direito
1.1. Por que um governante respeitaria a lei?
1.2. Por que as pessoas respeitam a lei?
Liberalismo e democracia, no entanto, requerem a expansão do Estado de Direito para todos. Foi
assim, de fato, que o Estado de Direito se desenvolveu desde a Idade Média, através da expansão de
privilégios a diferentes grupos. A Magna Carta é talvez o primeiro símbolo desse processo de
expansão de direitos legais que culminou na Carta Internacional de Direitos Humanos no século XX
e nas cartas de direitos das democracias constitucionais contemporâneas.
A distribuição de direitos, capaz de fortalecer as pessoas, torna-se, assim, o fator chave para obter
cooperação. T.H. Marshal, em seu clássico Cidadania, Classe Social e Status (1967)17 proporciona
uma clara descrição da evolução da cidadania nos países ocidentais, através do processo de inclusão
do povo na proteção proporcionada pela lei. Tem sido através do embate político que novos grupos
conseguem obter status jurídico por intermédio dos direitos civis, políticos, sociais e econômicos,
recebendo, como contrapartida por sua cooperação, diferentes níveis de inserção no Estado de
Direito. Assim, mesmo que nós não possamos confundir o Estado de Direito com os direitos dos
cidadãos, é muito difícil historicamente dissociar o processo de expansão da cidadania da ampliação
do Estado de Direito. A generalidade e a aplicação imparcial da lei, como virtudes internas do
Estado de Direito, estão diretamente associadas à noção de igualdade perante a lei obtida pela
expansão da cidadania.18
Isso significa que qualquer aproximação com a ideia do Estado de Direito depende não apenas da
expansão de direitos no papel, mas também, e talvez de maneira mais crítica, de como esses direitos
são consistentemente implementados pelo Estado. Aqui está o paradoxo enfrentado por muitos
regimes democráticos com altos níveis de desigualdade social. Embora direitos iguais sejam
reconhecidos nos livros, como uma medida simbólica para obter cooperação, os governos não se
sentem compelidos a respeitar as obrigações correlatas a esses direitos iguais, nos mesmos termos
para todos os membros da sociedade. A partir do momento em que os custos para exigir a
implementação dos direitos através do Estado de Direito são desproporcionalmente maiores para
alguns membros da sociedade do que para outros, ele se torna um bem parcial, favorecendo
essencialmente aqueles que possuem poder e recursos para conseguir vantagens com isso. Em outras
palavras, a igualdade formal proporcionada pela linguagem dos direitos não se converte em acesso
igualitário ao Estado de Direito ou à aplicação imparcial das leis e dos direitos.19 Dessa maneira, é
possível ter direitos, mas não possuir suficientes recursos para exigir a sua implementação. Nesse
sentido, é apropriado pensar no Estado de Direito não em termos de sua existência ou inexistência,
mas sim em graus de inclusão. O processo democrático pode expandir o Estado de Direito. Porém,
mesmo os regimes democráticos em sociedades com extremos níveis de desigualdade, onde as
pessoas e os grupos possuem recursos e poder desproporcionais, o Estado de Direito tende a ser
menos capaz de proteger os economicamente desfavorecidos e de fazer os poderosos serem
responsabilizados perante a lei.
No entanto, o controle do poder estatal e sua submissão à lei não é apenas uma consequência de
como o poder está socialmente distribuído. Nas sociedades modernas, as instituições são criadas para
moldar o comportamento, através de inúmeras formas de incentivo. Instituições também podem ser
desenhadas para controlar umas às outras. Conforme notado por Madison: quando a ambição é
institucionalmente direcionada para restringir a ambição, a possibilidade de ter o governo sob
controle aumenta.20 Os momentos fundacionais se tornam assim muito importantes. Quando poderes
sociais concorrentes não são suficientemente fortes para superar uns aos outros, eles tendem a se
comprometer com a criação de estruturas políticas dotadas de poderes fragmentados e contrapostos.
Os grupos menos favorecidos podem se beneficiar do resultado desses conflitos de elite. Essa é a
lógica básica que informa o constitucionalismo moderno.
Contudo, o Estado de Direito tem como objetivo mais do que ter um governo submetido ao controle
constitucional e legal. Ele também procura guiar o comportamento individual e a interação social.
Dessa forma, também é necessário explorar por que as pessoas se comprometeriam com o Direito.
Assim é importante buscar compreender quais são as razões que todos nós levamos em consideração
quando obedecemos ao Direito.
1.2. Por que as pessoas respeitam a lei?
Razões cognitivas. O primeiro conjunto de razões para que haja o cumprimento individual das leis é
certamente cognitivo e diz respeito à capacidade de entendimento dos conceitos jurídicos básicos,
como a noção de regras e direitos. Sem essas concepções culturais básicas, nós não podemos pensar
na possibilidade de respeitar o Direito. Essa não é uma questão trivial. Em muitas sociedades, a ideia
de que as pessoas sejam possuidoras de direitos iguais e de que o Direito deva ser aplicado
imparcialmente é, com frequência, contrária à experiência diária. Privilégios existentes, direitos
decorrentes de classe e de hierarquia estão cravados em diferentes sistemas culturais, fazendo com
que a experiência da generalidade do Direito não seja observável. Além de entender a função
estrutural dos conceitos jurídicos básicos, é importante que as pessoas compreendam as regras
fundamentais que governam suas próprias sociedades, suas obrigações e direitos. Nas sociedades
com alto grau de concentração de pobreza e de analfabetismo, essa condição quase nunca é
satisfeita.21
Razões instrumentais. O segundo conjunto de razões para a obediência ao Estado de Direito está
ligado à nossa habilidade de raciocinar instrumentalmente, calcular riscos e potenciais benefícios nas
ações que tentamos realizar. As pessoas respeitam as leis e os direitos dos demais para obter
recompensas ou escapar de punições. Se utilizarmos uma visão instrumental estrita, o respeito ao
Direito é reforçado se o seu descumprimento acarretar claramente um custo para o nosso bolso,
liberdade, imagem, estado psíquico ou integridade, e se respeitá-lo for igualmente benéfico pelas
mesmas razões. Para ter um valor instrumental, respeitar o Estado de Direito deve gerar algum tipo
de benefício para a pessoa. Através dessa razão instrumental, os indivíduos buscam maximizar os
seus ganhos econômicos, políticos ou sociais. Duas razões instrumentais sustentam a discussão nesse
contexto – o medo da coerção estatal e a reciprocidade mutuamente vantajosa.
Na medida em que as pessoas temem e esperam punição ou recompensa estatal, elas tendem a
respeitar o Estado de Direito. Essa ideia poderia ser chamada de argumento hobbesiano. A coerção
estatal pode ser instrumento eficiente para promover o respeito ao Direito em algumas
circunstâncias, sendo também uma condição necessária, porque certo grau de comportamento
antissocial irá sempre existir, sem que possa de outra maneira ser controlado. Desse modo, a
impunidade causada pela ineficiência estatal, corrupção ou seletividade colocam em risco a
capacidade de ameaça da coerção como um meio de obter obediência. Deve ser levado em
consideração também que o Estado, em muitas circunstâncias, deve ser provocado por indivíduos
antes de exercer a coerção. As pessoas devem com frequência preencher reclamações, ingressar com
processos judiciais, ou apenas informar à polícia certos fatos ilícitos para que o Estado tome alguma
atitude. Dessa maneira, a falta de recursos ou desconfiança nas autoridades pode produzir um forte
impacto na mobilização do poder estatal, permitindo àqueles que não obedecem à lei agir
impunemente.
É difícil para qualquer sociedade, no entanto, arcar com o custo do grau de coerção estatal necessário
para assegurar a obediência aos parâmetros legais. Imagine, por exemplo, que a ameaça de uma
multa ou prisão fosse a única razão pela qual as pessoas deixariam de ultrapassar o sinal vermelho
no semáforo de trânsito. A experiência dos Estados totalitários mostra que conseguir obediência pela
constante vigilância é algo extremamente caro e, mesmo se os custos pudessem ser suportados, seria
absolutamente indesejado.
As razões instrumentais para obedecer à lei deveriam, assim, ser estendidas para além da estrutura
coercitiva do Estado. As pessoas fazem parte de círculos sociais, grupos e comunidades que moldam
e determinam suas ações.22 Portanto, a segunda razão instrumental para respeitar a lei é a expectativa
de represália ou benefício por parte da comunidade ou círculo social ao qual se pertence ou pelo qual
se transita. A fraude no mercado ou no casamento possui sérias consequências. A credibilidade é um
bem de grande importância em qualquer grupo. Perdê-la, por desrespeitar a lei, pode prejudicar a
posição pessoal e diminuir a sua capacidade de entrar em novas relações voluntárias com outros
membros daquele círculo social. Essa é a razão pela qual as pessoas comumente agem de acordo
com o Direito, mesmo na ausência de autoridade estatal.23
Numa relação mutuamente vantajosa, a regra de ouro é: não faço aos outros o que eu não gostaria
que fizessem comigo. Por não ser um princípio moral substantivo, essa regra não afirma nem nega a
existência de uma estrutura moral mais profunda. Relações mutuamente vantajosas, no entanto,
podem auxiliar na obtenção da obediência à lei, ainda que em termos frágeis. Partindo de uma
estrutura de vantagem mútua, em circunstâncias de disparidade de poder, indivíduos têm um
incentivo para trapacear: o meu interesse é que todos os outros cooperem e que eu não o
faça.24 Pressões amistosas também podem ser problemáticas, porque o meio social pode ser
influenciado por uma cultura de desrespeito, ou pior, por uma cultura interna de respeito que desafie
o Estado de Direito, como no caso da máfia e de outras formas de crime organizado.
Consequentemente, as razões instrumentais representadas pela coerção ou por arranjos de vantagem
mútua (auto interessada) não conseguem explicar totalmente por que as pessoas obedeceriam à lei.
Embora importantes, elas são insuficientes como explicação completa da questão.
Razões morais. A moralidade tem sido negligenciada por muitas análises recentes da eficácia do
Direito, especialmente por aquelas elaboradas por pensadores jurídicos formalistas ou estudiosos
ligados à escolha racional.25 Nesse sentido, o argumento de Lon Fuller de que a reciprocidade moral
é um elemento fundamental para a existência de um sistema legal se torna particularmente
interessante.26 A implementação do Estado de Direito seria consideravelmente mais fácil naquelas
sociedades em que os indivíduos construam o seu pacto de reciprocidade baseado não apenas no
auto interesse, mas na noção de que cada indivíduo é dotado de igual valor moral, devendo, portanto,
merecer igual respeito e consideração.27 Os direitos igualmente distribuídos não são um presente dos
céus, mas sim uma construção social; uma decisão feita pela comunidade para valorizar os
indivíduos em termos equitativos e para fundamentar o exercício do poder nesses direitos
básicos.28 Isso significa que as decisões coletivas são apenas válidas se derivarem da vontade de
indivíduos autônomos e se eles respeitarem a esfera da dignidade humana delineada por esses
mesmos direitos.29
Esse é um sistema governado por regras, no qual cada cidadão recebe o status de sujeito de direito,
sendo a ele conferida uma esfera de proteção ao entrar em contato com outros cidadãos e com o
Estado, este último também subordinado ao princípio da reciprocidade. Nesse sentido, a
autocontenção, que implica respeito pelos direitos dos outros, é a base fundamental para a
generalização de expectativas relacionadas com o estabelecimento do Estado de Direito. Na medida
em que essas expectativas de respeito aos direitos de todos são generalizadas, a implementação de
um autêntico Estado de Direito também se torna possível.
Pode-se argumentar, no entanto, que a reciprocidade sempre tem uma origem utilitária, ou seja, que
o meu respeito pelos outros não surge por eu lhes ter concedido algum valor (reciprocidade
kantiana), mas sim pelo fato de que nós firmamos um pacto de não agressão que serve aos nossos
interesses (reciprocidade hobbesiana).30 Como eu havia argumentado acima, existe uma diferença
entre a reciprocidade moral baseada na noção da dignidade humana e a reciprocidade mutuamente
vantajosa, com fundamento no cálculo estratégico. Voltando ao exemplo do semáforo de trânsito, de
acordo com a concepção moral de reciprocidade, eu pararia meu carro porque acreditaria firmemente
que os outros motoristas ou pedestres têm o mesmo direito que eu possuo de atravessar o
cruzamento, portanto, eu tenho a obrigação correlata de parar. Numa comunidade limitada pela
reciprocidade moral, baseada em direitos, a lei deveria ser mais fácil de ser implementada.
Evidentemente que são inúmeros os empecilhos para se obter ou construir reciprocidade moral,
dificuldades essas que são ainda maiores em sociedades modernas e consumistas caracterizadas por
disparidades socioeconômicas profundas entre seus membros.
A ideia da moralidade, contudo, poderia ser mais formal, como a articulada por autores
contratualistas como Rousseau. Nesse caso, a justificativa moral para o respeito à lei não deriva do
fato de que um dado sistema jurídico esteja em harmonia com um conjunto pré-estabelecido de
valores embutidos nos direitos. O respeito à lei é devido ao fato de que os próprios cidadãos, sob um
procedimento especial justo, produzem leis reguladoras das relações sociais e da esfera pública. A
justiça do procedimento garantiria que a maximização do auto interesse fosse neutralizada, assim o
povo poderia deliberar em termos de bem público, o que criaria uma obrigação moral sobre todos os
cidadãos de aceitar esses resultados.31 Se nós seguirmos aqui a teoria de Rousseau acerca do Estado
de Direito, não apenas os procedimentos deveriam ser justos, mas também o resultado deveria ser
veiculado através de meios específicos que assegurassem a imparcialidade. Ou seja, por meio de leis
gerais. Neste sentido é importante enfatizar que a justiça procedimental não está limitada a processos
para edição de leis gerais, o que seria aceito por todos os participantes no processo político, mas
também trata da maneira pela qual essas leis são implementadas pelo Estado. Novamente seguindo
Rousseau, uma das maiores causas do declínio da democracia é a distorção na aplicação de leis
gerais feita por magistrados que tendem a defender seus próprios interesses privados em detrimento
da vontade geral expressa pela lei.32 Dessa maneira, a justiça da aplicação das leis é tão importante
quanto a justiça referente a sua produção. Se a aplicação do direito não for levada a cabo com
imparcialidade, de acordo com parâmetros de devido processo apresentados pela própria lei, o
Estado de Direito perderá sua autoridade e, consequentemente, o povo não o verá como uma diretriz
aceitável para a sua ação.33
Para resumir o argumento aqui elaborado, a obediência individual à lei é sustentada por três
conjuntos principais de razões: cognitiva, instrumental e moral. Conforme tentei argumentar, todas
essas razões são importantes para explicar por que os indivíduos (cidadãos e agentes públicos) agem
em conformidade com o Estado de Direito, mesmo que o peso de cada razão varie de acordo com a
natureza da ação, os atores envolvidos e as circunstâncias ou os círculos sociais nos quais as ações
ocorrem.
Notas
1
BRACTON, Henry. On the laws and customs of England.
2
O´DONNELL, Guillermo. Why the rule of law matters. Journal of democracy, pp. 32-46.
3
VIEIRA, Oscar Vilhena. A violação sistemática dos direitos humanos como limite à consolidação
do Estado de Direito no Brasil. Direito, cidadania e justiça.
4
CAROTHERS, Thomas. Promoting the rule of law abroad in search of knowledge, pp. 3-13.
5
THOMPSON, Edward P. Senhores e caçadores, p. 357.
6
TAMANAHA, Brian. On the rule of law, pp. 137-141.
7
WEBER, Max. Economia y sociedad, pp. 603-620.
8
UNGER, Roberto Mangabeira. O direito na sociedade moderna: contribuição à crítica da teoria
social, pp. 225-228.
9
HAYEK, Friedrich August von. A. O caminho da servidão.
10
HAYEK, Friedrich August von. A. O caminho da servidão.
11
RAZ, Joseph. The authority of law: essays on law and morality, p. 211.
12
RAZ, Joseph. The authority of law: essays on law and morality, p. 212.
13
Idem, pp. 216-217.
14
RAZ, Joseph. The authority of law: essays on law and morality, p. 220.
15
MARAVALL, José Maria; PRZEWORSKI, Adam (org). Democracy and the rule of law, p. 1.
16
HOLMES, Stephen. Lineages of the rule of law. Democracy and the rule of law, p. 20.
17
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status.
18
BENDIX, Reinhard. Nation-building and citizenship, p. 92.
19
Agradeço a Persio Arida por essa observação.
20
HAMILTON, Alexander; MADISON, James; JAY, John. The federalist papers, cap. 51.
21
Com relação a isso, é importante destacar que o grau de conhecimento sobre a constituição política
na América do Sul é muito baixo; apenas 30% dos latino-americanos sabem alguma coisa ou muito
sobre a sua Carta Magna e apenas 34% conhecem os seus deveres e obrigações, Latinobarometro, p.
14.
22
GALLIGAN, Denis J. Law in modern society, pp 310-326.
23
ELLICKSON, Robert C. Order without law: how neighbours settle disputes, pp. 281-283.
24
BARRY, Brian. Justice as impartiality, p. 51.
25
BECKER, Gary. Crime and punishment: an economic approach. Journal of political economy, pp.
169-217.
26
FULLER, Lon L. The morality of freedom, pp. 21-25.
27
DWORKIN, Ronald. Sovereign virtue, theory and practice of equality.
28
HABERMAS, Jürgen. Between facts and norms: contributions to a discourse theory of law and
democracy, p. 119.
29
Idem, p. 82.
30
REISS, Hans. Kant: political writings.
31
ROUSSEAU, Jean-Jacques. The social contract, pp. 339-340.
32
ROUSSEAU, Jean-Jacques. The social contract, p. 418.
33
TYLER, Tom. Why people obey the law.
Referências
BARRY, Brian. Justice as impartiality. Oxford: Oxford University Press, 1991.
BECKER, Gary. Crime and punishment: an economic approach. Journal of political economy, v. 76.
Washington, 1968.
BENDIX, Reinhard. Nation-building and citizenship. Los Angeles: University of California Press,
1964.
BRACTON, Henry. On the laws and customs of England. Cambridge: Harvard University Press,
1968.
CAROTHERS, Thomas. Promoting the rule of law abroad in search of knowledge. Washington:
Carnegie Endowment for International Peace, 2006.
DWORKIN, Ronald. Sovereign virtue, theory and practice of equality. Cambridge: Harvard
University Press, 2000.
ELLICKSON, Robert C. Order without law: how neighbours settle disputes. Boston: Harvard
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FULLER, Lon L. The morality of freedom. 2. ed. New Haven: Yale University Press, 1969.
GALLIGAN, Denis J. Law in modern society. Oxford: Oxford University Press, 2007.
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HAYEK, Friedrich August von. O Caminho da servidão. São Paulo: Instituto Liberal, 1990.
HOLMES, Stephen. Lineages of the rule of law. Democracy and the rule of law. José Maria
Maravall Adam Przeworski (org.). Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
MARAVALL, José María; PRZEWORSKI, Adam (org). Democracy and the rule of law.
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MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
O´DONNELL, Guillermo. Why the rule of law matters. Journal of democracy, vol. 15, n. 4.
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TYLER, Tom. Why people obey the Law. New Haven: Yale University Press, 1990.
VIEIRA, Oscar Vilhena. A violação sistemática dos direitos humanos como limite à consolidação do
Estado de Direito no Brasil. Direito, cidadania e justiça. Celso Campilongo (org.). São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1995.
WEBER, Max. Economia y sociedad. 2. ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1984.
Citação
VIEIRA, Oscar Vilhena. Estado de Direito. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes
Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Teoria Geral e
Filosofia do Direito. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga, André Luiz Freire
(coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível
em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/78/edicao-1/estado-de-direito
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como finalidade elucidar, a partir dos estudos
da Teoria Geral do Direito e Teoria Geral do Estado, de que maneira
ocorre a relação entre Direito e Estado, com o fim último de
conscientizar as pessoas acerca de tal relação presente em todos os
atos da vida civil. Para isso, organizou-se este artigo por meio do
estudo isolado das partes (Estado e Direito) para depois correlacioná-
los e, assim, garantir uma leitura fácil, haja vista que estudando
primeiramente os elementos do todo isoladamente (mediante método
cartesiano), e, após, estudá-los de forma conjunta, integrando-os, é
que se torna possível uma compreensão sistemática do tema a que se
propôs esta pesquisa.
3 CONCEPÇÃO DE ESTADO
A conceituação de Estado é objeto de diversas discussões
doutrinárias, de tal modo que se é impossível encontrar um conceito
absoluto a respeito, pois o politicólogo e o jurista não se encontram
isentos de subjetividade quando conceituam ou definem o Estado,
resultando em variadas interpretações e divergências. De qualquer
[9]
A ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo
situado em determinado território. Nesse conceito se acham presentes
todos os elementos que compõem o Estado, e só esses elementos. A
noção de poder está implícita na de soberania, que, no entanto, é
referida como característica da própria ordem jurídica. A politicidade
do Estado é afirmada na referência expressa ao bem comum, com a
vinculação deste a um certo povo e, finalmente, a territoriedade,
limitadora da ação jurídica e política do Estado, está presente na
menção a determinado território. [13]
4 ELEMENTOS DO ESTADO
O povo é o elemento gerador do Estado. “Sem essa substância
humana não há que cogitar da formação ou existência do Estado”. É [14]
por meio dele que o Estado expressa a sua vontade. Além do mais,
em um Estado Democrático, o povo é o ente que escolhe os dirigentes
do Estado.
No tocante aos elementos naturais, têm-se que a raça e o território não podem
ser considerados elementos constitutivos da Nação. A raça não é fator
determinante de uma Nação, haja vista que no Brasil e nos Estados Unidos,
constituídos de muitos imigrantes, a raça não é elemento distintivo de uma
Nação. Do mesmo modo o território não é elemento constitutivo, prova disso
são os ciganos, os judeus, os palestinos, os cristãos, etc. Todavia, a língua é
traço característico da Nação, uma vez que a língua é adaptada às
peculiaridades de cada Nação, como ocorre com o português no Brasil.
[32]
Assim entende Filomeno ao afirmar que:
Já não existe mais uma língua portuguesa falada no Brasil, mas sim uma
língua brasileira. Isto porque não apenas a embelezamos, tornando-a muito
mais sonora, clara, cadenciada e inteligível, com supressão dos sons
marcadamente guturais dos lusitanos ou então exageradamente sibilados, ou
ainda com supressão de sílabas inteiras, como também a tornamos
praticamente uniforme na grafia e com pequenas variações semânticas de
acordo com as diversas regiões do País. [33]
Quanto aos elementos históricos, tratam-se dos fatores sociais instituídos que
mudam com o passar do tempo e acompanham os anseios e necessidades
grupais. Como já dito, eles são as tradições, os costumes, a religião e as leis.
Todavia, analisando a religião, percebe-se que ela não pode seguir o mesmo
viés, bem como não pode ser considerada como um aspecto da Nação,
porquanto no mundo contemporâneo o fenômeno religioso se propaga de
maneira integradora, ultrapassando as fronteiras estatais e abarcando diversos
povos. Não há que se considerar, pois, a religião como elemento da Nação.
Cabe ainda esclarecer o assunto quanto às leis. Para tanto, é preciso escolher
um prisma do qual se partirá a análise, se é o formal ou o material. Sob o ponto
de vista formal, a lei como norma abstrata, geral, permanente, emanada de um
órgão competente, de cunho obrigatório e escrita, em outras palavras, norma
jurídica positiva emanada do Estado, não deve ser entendida como elemento
da nação. Por outro lado, sob a ótica material, a lei deriva do costume popular,
que é obedecido pelas pessoas para a conservação da ordem social, de modo
que um costume por demais importante para a referida ordem alcança o status
de lei, sendo apropriado afirmar que a lei é elemento da nação. [36]
No mesmo sentido, a Nação está ligada mais ao fator tempo do que o Estado,
pois a história daquela é fundamental à sua própria conceituação. [38]Com efeito,
fica assentada, enfim, a diferença entre Estado e Nação.
6 CONCEITO DE DIREITO
A palavra direito deriva do latim directum, que significa direção, regra.
[39]
Portanto, em sua origem, a palavra direito já remetia à ideia de não desvio,
retidão, e mesmo justiça, podendo-se até mesmo extrair a essência da noção
jurídica a partir do aspecto etimológico.
Há muito tempo, nos primórdios da sociedade, o Direito não era visto como
ente autônomo. Era confundido com a Moral e a Religião, sendo impossível
estudar o Direito de forma específica. Mesmo os gregos, na Idade Antiga, não
foram capazes de destacar o direito das demais normas sociais. Somente a
partir dos estudos dos juristas romanos é que o Direito passou a se apresentar
como ordenação e ciência autônoma. A partir daí, o Direito começa a ganhar
importância para os estudiosos, sendo que hoje em dia o Direito é uma das
ciências humanas mais relevantes para a vida social das pessoas. Ciência
prática por excelência, o Direito ordena a sociedade na busca do bem comum.
Tal definição aparenta ser perfeita, contudo, não demonstra como o Direito se
forma e como ele se estrutura no seio social.
Teve como defensor o jurista e jusfilósofo italiano Giorgio Del Vecchio, que
embora defendesse o pluralismo jurídico de um lado, admitia a preponderância
do direito estatal, de outro. [51] Assim comentam Cicco e Gonzaga:
Nessa relação entre Direito e Estado é patente a eficácia do direito positivo (ou
direito estatal), que decorre do aparelho de segurança estatal, bem como da
força do Juridiciário.[56]
A própria natureza dos fins do Estado exige dele uma ação intensa e profunda,
continuamente desenvolvida, para que ele possa realizá-los, o que produz,
inevitavelmente, uma permanente possibilidade de conflitos de interesses, que
serão melhor resguardados e adequadamente promovidos só através do
direito. É por meio da noção do Estado como pessoa jurídica, existindo na
ordem jurídica e procurando atuar segundo o direito, que se estabelecem
limites jurídicos eficazes à ação do Estado, no seu relacionamento com os
cidadãos. Se, de um lado, é inevitável que o Estado se torne titular de direitos
que ele próprio cria por meio de seus órgãos, há, de outro, a possibilidade de
que os cidadãos possam fazer valer contra ele suas pretensões jurídicas, o que
só é concebível numa relação entre pessoas jurídicas. [58]
REFERÊNCIAS
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1995.
MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
REALE, Miguel. Lições preliminares do direito. 13ª ed. São Paulo: Saraiva,
1986.
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 18ª ed. rev. e
atual. São Paulo: Malheiros Editores, 2000.
Notas
MENEZES, Aderson de. Teoria geral do Estado. 8ª ed. Rio de Janeiro:
[3]
Forense, 1999. p. 41
[4]
MENEZES, loc. cit.
[5]
MENEZES, op. cit., p. 42.
[7]
DALLARI, op. cit., p. 67.
[8]
Ibidem, p. 70.
[9]
DALLARI, op. cit., p. 115.
[11]
DALLARI, loc. cit.
[12]
DALLARI, op cit., p. 116.
[13]
DALLARI, op cit., p. 118.
MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
[14]
p. 23.
[15]
DALLARI, op. cit., p. 95.
[16]
FILOMENO, op. cit., p. 66.
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 18ª ed. rev.
[17]
[18]
DALLARI, op. cit., p. 99-100.
[19]
DALLARI, op. cit., p. 76.
[20]
FILOMENO, op. cit., p. 129.
[21]
BODIN, apud DALLARI, op. cit., p. 77.
[22]
DALLARI, op. cit.,. p. 79-80.
[23]
DALLARI, op. cit., p. 81.
[24]
MALUF, op. cit., p. 25.
[25]
Ibidem, p. 26.
[26]
DALLARI, op. cit., p. 90.
[27]
Ibidem, p. 91-93 passim.
Estado e ciência política. 3ª ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011. p. 53.
[29]
DALLARI, op, cit., p. 107.
[30]
CICCO, GONZAGA, loc. cit.
[31]
FILOMENO, op. cit., p. 47.
[32]
FILOMENO, op. cit., p. 48.
[33]
Loc. cit.
[34]
Ibidem, p. 49.
[35]
FILOMENO, op. cit., p. 50.
[36]
FILOMENO, op. cit., p. 50-51.
[37]
DALLARI, op. cit., p. 134-136 passim.
[38]
CICCO; GONZAGA, op.cit., p. 58.
[42]
GUSMÃO, op. cit.,. p. 384.
[44]
NUNES, loc. cit.
[45]
GUSMÃO, op. cit., p. 408.
[47]
REALE, op. cit., p. 67.
[48]
REALE, op. cit., p. 67.
[49]
CICCO; GONZAGA, op. cit., p. 42-43.
[50]
MALUF, op. cit., p. 2.
[51]
Ibidem, p. 3.
[52]
CICCO, op. cit, p. 45.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 18ª ed, Rio de Janeiro:
[53]
[54]
FILOMENO, op. cit., p. 63.
[55]
NADER, op. cit., p. 126.
[56]
GUSMÃO, op. cit.,. p. 349.
[57]
Ibidem, p. 271-272.
[58]
. DALLARI, op. cit., p. 125-126.