Você está na página 1de 180

Mecânica dos solos

Diego Mendonça Arantes

Tiago Zanquêta de Souza

Cecília Carmelita Ramos Marega

Eduardo Humberto Campos Borges

Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares


© 2012 by Universidade de Uberaba

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Universidade de Uberaba.

Universidade de Uberaba

Reitor:
Marcelo Palmério

Pró-Reitora de Ensino Superior:


Inara Barbosa Pena Elias

Pró-Reitor de Logística para Educação a Distância:


Fernando César Marra e Silva

Assessoria Técnica:
Ymiracy N. Sousa Polak

Produção de Material Didático:


• Comissão Central de Produção
• Subcomissão de Produção

Editoração:
Supervisão de Editoração
Equipe de Diagramação e Arte

Capa:
Toninho Cartoon

Edição:
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE

M463 Mecânica dos solos / Diego Mendonça Arantes ... [et al.]. – Uberaba:
Universidade de Uberaba, 2012.
180 p.: il. color.

ISBN 978-85-7777-487-6

1. Mecânica do solo. I. Arantes, Diego Mendonça. II. Souza, Tiago


Zanquêta de. III. Marega, Cecília Carmelita Ramos. IV. Borges, Eduardo
Humberto Campos. V. Soares, Larissa Soriani Zanini
Ribeiro. VI. Universidade de Uberaba.

CDD: 624.15136
Sobre os autores

Diego Mendonça Arantes

Engenheiro Ambiental pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) -


Campus de Sorocaba. Professor da Universidade de Uberaba (Uniube)
e integrante da equipe de produção de materiais didáticos para os cursos
ofertados na modalidade a distância.

Tiago Zanquêta de Souza

Mestre em Educação, pela Universidade de Uberaba, com ênfase em


Educação Popular. Especialista em Docência do Ensino Superior e em
Gestão Ambiental pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ).
Graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade de
Uberaba (Uniube). Docente dos cursos de graduação, nas modalidades
presencial e a distância, da Universidade de Uberaba (Uniube). Professor
de Biologia no Ensino Médio e de Curso Preparatório para Vestibular, da
rede particular de ensino em Uberaba.

Cecília Carmelita Ramos Marega

Mestre em Engenharia Urbana pela Universidade Federal de Uberlândia


(UFU). Especialista em Docência do Ensino Superior pela Universidade
Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Graduada em Engenharia Civil
pelas Faculdades Integradas de Uberaba (Fiube). Licenciada em
Matemática pela União das Faculdades Claretianas de São Paulo.
Docente do curso de Engenharia Civil da Universidade de Uberaba,
nas modalidades presencial e a distância. Docente do Centro de Ensino
Superior de Uberaba, na modalidade presencial.
Eduardo Humberto Campos Borges

Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).


Áreas de atuação: geoprocessamento, solos e recursos hídricos.

Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares

Graduada em Engenharia Civil pela Universidade de Uberaba (Uniube).


Docente dos cursos de Engenharia da Universidade de Uberaba (Uniube)
e integra a equipe de produção de materiais didáticos para os cursos de
Engenharia ofertados na modalidade a distância.
Sumário
Apresentação...................................................................................... VII

Capítulo 1 Fundamentos de mecânica dos solos..................................1


1.1 Origem, formação, classificação e estrutura dos solos............................................3
1.1.1 A composição do solo ....................................................................................6
1.2 Mecânica dos solos..................................................................................................9
1.2.1 Granulometria................................................................................................10
1.2.2 Limites de consistência.................................................................................13
1.3 Índices físicos dos solos.........................................................................................19

Capítulo 2 Cálculos e aplicações da mecânica dos solos...................29


2.1 Propagação e distribuição de tensões...................................................................31
2.1.1 Princípios das tensões efetivas....................................................................35
2.1.2 Cálculo de tensões........................................................................................36
2.1.3 Cálculo pontual sobre a superfície do maciço..............................................38
2.1.4 Tensão geostática vertical.............................................................................39
2.1.5 Tensão geostática horizontal........................................................................40
2.2 Resistência ao cisalhamento..................................................................................41
2.2.1 Tipos de ensaio de cisalhamento.................................................................42
2.2.2 Classificações dos ensaios de cisalhamento...............................................44
2.2.3 Resistência ao cisalhamento das areias......................................................44
2.2.4 Resistência ao cisalhamento das argilas......................................................45
2.2.5 Coeficientes A e B.........................................................................................46
2.2.6 Círculo de Mohr.............................................................................................46
2.2.7 Aplicações dos ensaios de cisalhamento na prática....................................49
2.3 Compressibilidade e adensamento........................................................................50
2.3.1 Compressibilidade.........................................................................................50
2.3.2 Compressibilidade dos solos........................................................................52
2.3.3 Valores para o coeficiente de forma (I).........................................................54
2.3.4 Teoria do adensamento.................................................................................55
2.3.5 Tempo de consolidação................................................................................55
2.3.6 Hipóteses da teoria do adensamento de Terzaghi.......................................56
2.4 Estabilidade de taludes...........................................................................................62
2.4.1 Identificação do local.....................................................................................63
2.4.2 Fatores que levam à ruptura.........................................................................64
2.4.3 Estabilidade de taludes.................................................................................65
2.4.4 Considerações de projeto.............................................................................67
2.5 Compactação..........................................................................................................70
2.5.1 Equipamentos para compactação................................................................71
2.5.2 Compactação de campo...............................................................................74
2.5.3 Controle de compactação.............................................................................78
2.5.4 Ensaios..........................................................................................................79
2.6 Rebaixamento do lençol freático............................................................................85
2.6.1 Sistema de rebaixamento de aquíferos........................................................86
2.6.2 Métodos para rebaixamento de lençol freático.............................................87
2.6.3 Rebaixamento do lençol freático temporário ou permanente......................92

Capítulo 3 Aspectos práticos da mecânica dos solos: muros de arrimo


e barragens de terra............................................................97
3.1 Pressões de terra....................................................................................................99
3.1.1 Pressões devido ao peso próprio do solo..................................................100
3.1.2 Pressões devido a cargas aplicadas..........................................................104
3.2 Empuxo de terra...................................................................................................105
3.2.1 Coeficientes de empuxo.............................................................................105
3.2.2 Estado de equilíbrio ou estado plástico......................................................107
3.2.3 Empuxo ativo x Empuxo passivo................................................................108
3.2.4 Teoria de Rankine....................................................................................... 110
3.3 Muros de arrimo.................................................................................................... 115
3.3.1 Definição..................................................................................................... 115
3.3.2 Tipos............................................................................................................ 115
3.3.3 Influência da água.......................................................................................121
3.3.4 Estabilidades de muros de arrimo..............................................................122
3.4 Introdução à barragem de terra e enrocamento..................................................130
3.4.1 Barragem de terra.......................................................................................131
3.4.2 Barragem de enrocamento.........................................................................132
3.4.3 Requisitos para dimensionamento das barragens.....................................133

Capítulo 4 Movimento da água nos solos.............................................139


4.1 Erosão...................................................................................................................141
4.1.1 Erosão hídrica.............................................................................................142
4.1.2 Erosão eólica...............................................................................................145
4.1.3 Erosão glacial..............................................................................................145
4.1.4 Erosão biológica..........................................................................................146
4.1.5 Erosão química...........................................................................................146
4.2 Fatores que influenciam nos processos erosivos................................................146
4.3 Consequências dos processos erosivos..............................................................147
4.4 Práticas conservacionistas contra a erosão em áreas de cultivo........................148
4.5 Estabilidade de taludes.........................................................................................149
4.5.1 Escorregamentos em taludes urbanos.......................................................151
4.6 Influência da água.................................................................................................159
4.6.1 Região não saturada...................................................................................162
4.6.2 Regime de fluxo..........................................................................................164
Apresentação
Caro(a) aluno(a)

Você está recebendo o livro Mecânica dos solos, composto por quatro
capítulos.

No primeiro capítulo, “Fundamentos de mecânica dos solos”, abordare-


mos assuntos importantes relacionados ao solo, que se estendem desde
a origem e formação, até algumas aplicações da mecânica nas obras de
engenharia.

No segundo capítulo, “Cálculos e aplicações da mecânica dos solos”,


estudaremos alguns conceitos e princípios básicos relacionados às
tensões e deformações do solo, assunto de fundamental importância,
uma vez que o conhecimento das tensões atuantes em um maciço é
necessário para o planejamento de obras e verificação da segurança
com relação às tensões cisalhantes.

No terceiro capítulo, “Aspectos práticos da mecânica dos solos: muros


de arrimo e barragens de terra”, veremos a aplicação do aprendizado
construído com os capítulos anteriores, revisando alguns conceitos
básicos, visando à elaboração de um bom planejamento e execução
de obras de engenharia civil que envolvam o conhecimento do maciço
terroso, tais como muros de arrimos e barragens.

No quarto capítulo, “Movimento da água nos solos”, abordaremos


assuntos de extrema importância para o entendimento e aplicação de
VIII UNIUBE

fundamentos teóricos que visem à estabilidade de um talude; propondo


medidas para correção de instabilidade de taludes, provocadas pelo
movimento da água no solo.

Por meio desse estudo, esperamos que você possa compreender


a utilidade e a aplicação básica da mecânica dos solos em sua vida
profissional.

Bons estudos!
Capítulo
Fundamentos de
mecânica dos solos
1

Diego Mendonça Arantes


Tiago Zanquêta de Souza

Introdução
Desde os tempos mais remotos, o homem tem a necessidade
de trabalhar com solos. Essa necessidade é tão antiga quanto a
civilização humana. O que prova essa afirmação é a existência de
grandes construções representadas pelos templos da Babilônia,
pirâmides do Egito, grande Muralha da China, os aquedutos e as
estradas do Império Romano que, com certeza, apresentaram, no
passado, problemas de fundações e de obras de terra (CAPUTO,
1985, p. 1).

Segundo Caputo (1985, p. 2), uma numerosa série de acidentes


também marca o início do século XIX, mostrando inadequação da
percepção dos princípios de engenharia até então admitidos e, por
outro lado, a insuficiência de conhecimentos para a tomada de
nova orientação. Dentre os vários acidentes ocorridos, destacam-
-se os escorregamentos de taludes durante a construção do
Canal do Panamá, ruptura de barragens de terra e recalques
de grandes edifícios nos Estados Unidos, além de sucessivos
escorregamentos em taludes de ferrovias, na Suécia.

Já, no ano de 1925, Karl Terzaghi deu origem à Mecânica dos


Solos, ou seja, a mecânica dos sistemas constituídos por uma
fase sólida granular e uma fase fluida. De extraordinário interesse
2 UNIUBE

para o desenvolvimento dos fundamentos da Mecânica dos Solos,


em particular no que se refere à consolidação, cisalhamento
e estabilidade de taludes, foram os estudos de Taylor, do
Departamento de Engenharia Civil do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (CAPUTO, 1985, p. 3).

Conquanto, sempre existiam riscos na execução de uma


fundação, devido às incertezas que se ocultam nos terrenos, e,
principalmente, nas hipóteses de cálculo da infraestrutura. Por
isso, de acordo com Caputo (1985, p. 7), deve haver a iniciativa
de procurar reduzir esses riscos ao mínimo possível, até mesmo
porque as falhas decorrentes desses riscos e hipóteses podem
atingir as três partes interessadas na construção: o proprietário, o
projetista e o construtor.

Dessa forma, para Caputo (1985, p. 7), “o engenheiro deve ter


sempre presente que está tratando com um material (o terreno)
extremamente complexo, que varia de lugar para lugar e que,
em geral, não pode ser observado em sua totalidade”, mas, tão
somente, através de amostras ou de ensaios in loco. Não se pode
esquecer, também, de que o comportamento do solo se dá em
função das pressões com que é solicitado, bem como depende
do tempo e do meio físico, não possuindo uma definida relação
tensão-deformação.

Neste capítulo, abordaremos assuntos extremamente importantes,


que se estendem desde a origem e formação dos solos, até
algumas aplicações da mecânica nas obras de engenharia.

Bons estudos!
UNIUBE 3

Objetivos
Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• analisar a origem, formação, classificação e estrutura dos


solos;
• aplicar os conceitos fundamentais de análise das caracterís-
ticas físicas do solo.

Esquema
1.1 Origem, formação, classificação e estrutura dos solos
1.2 Mecânica dos solos
1.3 Índices físicos dos solos

1.1 Origem, formação, classificação e estrutura dos solos

Pode-se considerar que a base para os estudos de Mecânica dos Solos


vem da Geologia, especialmente no que diz respeito ao entendimento das
características do solo quando da sua origem, formação, classificação
e também outras estruturas. Entretanto, por vezes, necessita-se da
caracterização física das propriedades do solo para propor medidas de
melhoria. Neste momento, justifica-se a breve revisão dos conceitos
básicos de Mecânica dos Solos referentes aos experimentos, para
determinação dos índices físicos mais empregados em estudos
geotécnicos.

Quando qualquer pessoa pensa em solo, tem ela uma ideia direta de
terra, material solto, base para a vida humana. Agora, em se tratando
de conceituação profissional de solo, cada um relevará o que de mais
importante o solo oferecer para sua profissão.
4 UNIUBE

EXEMPLIFICANDO!

Se perguntarmos a um agrônomo o que é solo, poderemos, com grandes


chances, obter uma resposta do tipo: solo é o material fofo da crosta
terrestre, constituído de rochas e matéria orgânica, capaz de sustentar a
vida.

Entretanto, para um geólogo, a definição seria: solo é o material inorgâ-


nico não consolidado da decomposição das rochas. Para um engenheiro
civil, seria: solo é a rocha decomposta capaz de ser escavada apenas
com o auxílio de escavadeiras, enquanto que para escavação da rocha
haveria a necessidade do uso de explosivos.

Agentes intempéricos Enfim, fica claro que todo o solo é proveniente


São aqueles oriundos
da decomposição das rochas, seja por agentes
da própria natureza, intempéricos ou pela ação humana. O tipo de
como a água, o vento
e até mesmo os solo gerado dependerá fundamentalmente do
terremotos, maremotos
e pequenos tremores. tipo de rocha de origem, também chamado de
rocha mãe, ou matriz.

O intemperismo é o conjunto de processos da natureza responsáveis


pela degradação das rochas para formação do solo. Pode ser do tipo
físico, químico ou biológico.

O intemperismo físico é o processo de


Hidrólise, hidratação,
carbonatação
decomposição da rocha sem que haja altera-
ções significativas na composição química dos
Hidrólise é a quebra de
uma molécula por água. componentes. Os principais agentes são as
Hidratação é a adição
de uma molécula de variações de temperatura, os ciclos de gelo e
água a uma substância. degelo e os alívios de pressões. O intemperis-
Carbonatação consiste
na dissolução do CO2 no mo químico é a decomposição da rocha com a
meio líquido, em níveis
especificados. alteração química dos componentes. O princi-
pal agente é a água. Dentre os processos,
podemos destacar: hidrólise, hidratação, carbonatação. O intempe-
rismo biológico ocorre devido aos esforços mecânicos produzidos pelos
vegetais através das raízes, principalmente.
UNIUBE 5

O intemperismo químico possui um poder de degradação muito maior


que o intemperismo físico. Por este motivo, solos gerados por processos
de intemperismo químico tendem a ser mais profundos e mais finos do
que aqueles formados por intemperismo físico, porém menos parecidos
com a rocha mãe. Vários materiais argilosos, que são silicatos planares,
formam-se pela alteração química e estrutural de outros minerais, tais
como o feldspato potássico (WICANDER; MONROE, 2009).

IMPORTANTE!

Não confunda intemperismo com erosão! O intemperismo é entendido como


a decomposição da rocha, enquanto que erosão é o transporte do solo por
agentes erosivos, dentre eles a água e o vento.

Várias são as maneiras de se classificar o solo: por meio de sua origem,


pela evolução, pela presença (ou não) de matéria orgânica, pela
estrutura. Entretanto, quanto ao interesse da mecânica dos solos, apenas
classificaremos o solo em duas grandes vertentes relativas ao processo
geológico de formação: solos sedimentares e solos residuais.

Os solos ditos residuais são aqueles que permanecem no local da


decomposição da rocha, logo, a velocidade do processo intempérico
de formação da rocha deve ser maior que a velocidade do agente
erosivo de transporte/remoção do solo, e suas características dependem
essencialmente da rocha matriz. Solos sedimentares são aqueles que
foram levados ao local atual por processos erosivos de transporte/
remoção de solo; suas características dependem do tipo de agente de
transporte e, desta forma, os solos sedimentares podem ser do tipo:
eólicos, aluvionares, marinhos, fluviais, pluviais, glaciais ou coluvionares.

PESQUISANDO

Faça uma pesquisa na internet para aumentar seus conhecimentos sobre os


solos sedimentares do tipo: eólicos, aluvionares, marinhos, fluviais, pluviais,
glaciais e coluvionares, e, em seguida, em um momento de encontro
presencial, converse sobre o que encontrou com seus colegas.
6 UNIUBE

Sobre a estrutura dos solos, entende-se como o tamanho relativo e a


distribuição das partículas sólidas que o compõem. O estudo específico
da estrutura dos solos é tratado pelo ensaio de granulometria que será
estudado mais à frente. Entretanto, já adiantamos que os solos podem
ser divididos em dois grupos: solos finos, compostos basicamente por
silte e argila, e solos grossos, compostos por areia, pedregulhos e pedras
de mão.

Nos solos grossos atuam, principalmente, forças gravitacionais, com


partículas visíveis a olho nu, ou seja, com diâmetro maior que 0,074
mm, tendo suas formas arredondadas. Solos finos possuem dimensões
menores que 0,074 mm, e serão classificados como silte ou argila,
simplesmente. A escala granulométrica adotada pela ABNT NBR 6502
(1995) está representada, a seguir, pela Figura 1:

Areia

Argila Silte Fina Média Grossa Pedregulho


mm
0,002 0,06 0,2 0,6 2,0
Figura 1: Escala granulométrica.

1.1.1 A composição do solo

De acordo com Braga et al. (2005) a formação dos solos resulta da ação
combinada de cinco elementos, que são: clima (pluviosidade, umidade,
temperatura etc.), fonte dos organismos (vegetação, microorganismos
decompositores, animais), material de origem, relevo e idade.

Na sua atuação, o clima, a fonte dos organismos, o material de origem


e o relevo, dão às rochas, ao longo do tempo (idade), características
que definem os estágios de sucessão por meio de sua profundidade,
composição e propriedades e do que se denomina horizontes do solo.
A Figura 2 esquematiza a forma pela qual ocorre esse processo. Para
UNIUBE 7

determinadas condições do relevo, organismos presentes e material de


origem, o intemperismo aumenta continuamente a profundidade do solo a
velocidades crescentes com a pluviosidade, a umidade e a temperatura.
No solo formado à superfície, habitam os vegetais e os microorganismos.
A lixiviação (transporte pela água que infiltra e percola no solo) faz a
translocação das porções mais finas do solo (argilas, especialmente) e a
remoção dos sais minerais. As porções de terra mais grossas (arenosas)
permanecem na parte superior. Em consequência, formam-se os estratos
com aparência diferente, constituindo as camadas, ou seja, os horizontes
do solo.

SAIBA MAIS

De acordo com Braga et al. (2005), os horizontes do solo podem ser


identificados por letras, de acordo com suas características. Em um perfil
hipotético, eles podem se apresentar como as da Figura 2. Na realidade,
nem sempre todos estão presentes e são facilmente identificáveis. Quando
o solo atinge seu clímax, é que esses horizontes se apresentam de forma
mais evidente e são identificáveis em maior número.

• Horizonte O: é a primeira camada do solo, que apresenta restos


vegetais identificáveis, com grande quantidade de matéria orgânica
(húmus). Apresenta o nível de maior fertilidade do solo, que pode
ter alguns poucos centímetros de profundidade. Para agropecuária,
esse horizonte do solo é essencial, uma vez que apresenta grande
potencial para desenvolvimento das espécies vegetais.
• Horizonte A: é a segunda camada do solo, chamada de solo arável,
que apresenta restos vegetais não identificáveis, mistura de material
orgânico e mineral, além de máxima perda por eluviação de argilas,
ferro ou alumínio. Por apresentar restos vegetais, possui intensa
atividade biológica, porque as plantas e organismos decompositores
são abundantes. O horizonte A é dividido em três frações:
8 UNIUBE

1. a primeira fração é a do calcário, correspondente a 7 a 10%


desse horizonte;

2. a segunda fração é a da argila, formada na maior parte dos


horizontes por caolinita, caulim e sedimentos de feldspato.
Corresponde a 20 de 30% desse horizonte;

3. a terceira e última fração é a da areia. Esta camada é muito


permeável e existem espaços entre as partículas da areia,
permitindo que entrem ar e água com mais facilidade, ou
seja, os índices de vazios desse solo serão altos. Esta
fração corresponde a 60 de 70% do horizonte total.

• Horizonte B: é a terceira camada de solos, que apresenta máxi-


ma concentração de argila translocada do horizonte A. Por isso, é
formada por rochas parcialmente decompostas. Os agentes intem-
péricos (erosivos), como os movimentos de rocha, por exemplo,
transformam essas rochas em sedimentos, tornando-se incapazes
de dar condições ao crescimento de plantas, até mesmo porque não
apresenta sequer um pequeno índice de matéria orgânica na sua
composição.

• Horizonte C: é a quarta camada de solo, formado por material


inconsolidado, pouco afetado pelos organismos, mas que pode ser
bem intemperisado. Parte dessa camada pode ainda apresentar
rocha consolidada, em grandes profundidades. Essas rochas podem
ser chamadas de rocha matriz.
UNIUBE 9

Figura 2: Horizontes do solo.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

É importante lembrar que nesse capítulo estamos pensando o solo


a partir do olhar de um engenheiro, ou seja, pensamos o solo como
material de construção, bem como de base para a instalação de qualquer
empreendimento civil. Daí decorre também a necessidade de entender
esse solo em todos os seus níveis de composição, muito embora alguns
desses níveis (horizontes) sejam de fundamental importância para a
agricultura. Nos capítulos de geologia, você tem a oportunidade de
aprofundar seus estudos sobre esse assunto.

1.2 Mecânica dos solos

A mecânica dos solos trata do estudo do comportamento das


características físicas do solo, especialmente quando se tem interesse
de utilizá-lo em obras de engenharia. Foi sistematizado como ciência em
1925, por Terzaghi, que é conhecido com o pai da mecânica dos solos
(CAPUTO, 1985, p. 3).
10 UNIUBE

A revisão realizada anteriormente sobre origem, formação, estrutura e


classificação dos solos será de muita utilidade para o entendimento do
comportamento do solo. Neste momento, passaremos a considerar o solo
como um material composto por apenas três fases: ar, água e partículas
sólidas. A mecânica dos solos é empregada também nos estudos da
engenharia geotécnica, mecânica das rochas, geologia de engenharia,
dentre outras.

1.2.1 Granulometria

As partículas constituintes do solo estão divididas proporcionalmente


em relação aos seus diâmetros num volume de solo. A distribuição das
dimensões destas partículas chama-se análise granulométrica, na qual,
à representação gráfica, dá-se o nome de curva granulométrica.

O ensaio de granulometria, procedimento para determinação da


curva granulométrica do solo, trata da determinação do porcentual de
massa que cada intervalo de dimensão dos diâmetros das partículas
representa na massa total adotada na amostra. Este ensaio pode ser
feito por peneiramento, para partículas maiores que 0,074 mm, ou por
sedimentação, para partículas menores que 0,2 mm.

A realização do ensaio requer os seguintes equipamentos: jogo de


peneiras (conforme Tabela 1), balança, destorroador, bandejas, proveta,
termômetro, densímetro, cronômetro, dispersor, defloculante etc.

As peneiras são padronizadas quanto ao tamanho de sua malha, e,


geralmente, recebem a seguinte classificação (Tabela 1):
UNIUBE 11

Tabela 1: Diâmetro das malhas das peneiras


Número da peneira #200 #140 #80 #60 #40 #20 #16 #10

Diâmetro [mm] 0,075 0,106 0,177 0,25 0,425 0,85 1,14 2,0

Número da peneira #4 #3/8” #1/2” #3/4” #1” #11/2” #2” #3”

Diâmetro [mm] 4,75 9,5 12,5 19,1 25 37,5 50 75

Fonte: Diego Mendonça Arantes.

Conforme ABNT NBR 7181 (1984), para realização do peneiramento,


deve-se realizar a passagem da amostra do solo pelas peneiras
padronizadas e pesar a quantidade de material retido em cada uma das
peneiras. Do material retido na peneira #10, cerca de 100 g deve ser
utilizado para o ensaio de sedimentação.

O ensaio de sedimentação para determinação da curva granulométrica


de solos finos foi desenvolvido por Arthur Casagrande, que baseia-se na
Lei de Stokes, na qual a velocidade de sedimentação de um partícula
esférica em um meio viscoso é proporcional ao quadrado do diâmetro
da partícula. Por isso, partículas de diâmetro menor sedimentam mais
lentamente que partículas maiores. O ensaio trata da leitura da densidade
da solução em suspensão das partículas ao longo do tempo, permitindo
a relação com o número de partículas que ainda não sedimentaram.

A Lei de Stokes, para o ensaio de sedimentação, é dada por: V =


γs −γw 2
.D
18m
Em que: γ s , peso específico médio das partículas do solo; γ w , peso
específico do fluido, em geral, a água; m, viscosidade do fluido; e D, o
diâmetro das partículas.

Por fim, os ensaios de granulometria, seja por meio de peneiramento


ou sedimentação são resumidos na curva granulométrica do solo em
questão, a partir da qual pode-se identificar o tipo de solo: pedregulho,
areia, silte ou argila.
12 UNIUBE

Uma classificação comum a partir da curva granulométrica é sobre


a graduação do solo: um solo bem graduado apresenta distribuição
contínua dos diâmetros equivalentes de suas partículas; um solo mal
graduado, quando possui uma curva granulométrica uniforme ou com
ausência de uma faixa de tamanho de partículas (nenhuma porção de
material ficou retida em uma das peneiras, por exemplo).

Na Figura 3, a seguir, ilustra-se o modelo de uma curva granulométrica


de uma areia.

Figura 3: Exemplo de uma curva granulométrica.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

PESQUISANDO

O ensaio de granulometria é padronizado no Brasil pela ABNT NBR 7181


(1984). Procure mais informações na internet sobre este ensaio e sua
aplicação.

1.2.1.1 Classificação trilinear dos solos

De acordo com essa classificação, a identificação do tipo de solo é feita


em função das percentagens dos seus constituintes principais, utilizando-
-se um diagrama trilinear, no qual cada um dos três eixos coordenados
representa uma dessas três frações granulométricas: areia, silte e argila
(Figura 4).
UNIUBE 13

Figura 4: Classificação triangular dos solos.


Fonte: Adaptado de Lemos e Santos (1984) apud Silva (2004).

O diagrama trilinear está fundamentado na propriedade dos triângulos


equiláteros, segundo a qual a soma das distâncias de um ponto interior
qualquer, aos lados, é constante e igual à altura do triângulo.

Como corolário, obtém-se que “a soma das distâncias de um ponto


interior qualquer aos lados, medidas paralelamente aos três lados, é
constante e igual ao lado do triângulo (CAPUTO, 1985, p. 33).

1.2.2 Limites de consistência

Geralmente, o efeito da umidade para solos grossos deixa de ser


considerado, pois o efeito da água pode ser desconsiderado. Por este
motivo é que, por exemplo, a classificação de solos grossos pode ser
realizada por meio da sua curva granulométrica simplesmente.
14 UNIUBE

Contudo, o comportamento de solos finos depende da mineralogia, da


umidade, da textura e de seu grau de saturação. Por este motivo, a
umidade tem sido muito utilizada para classificar o comportamento deste
tipo de solo. Por exemplo, uma argila pode estar num estado líquido,
plástico ou sólido dependente de sua umidade. A isto, dá-se o nome de
consistência dos solos.

Quando em estado plástico, o solo é caracterizado por sua capacidade


de se deformar sem apresentar rupturas. Esta propriedade depende dos
seguintes fatores:

I – umidade: há uma faixa de valores de umidade nos quais o solo se


comporta como plástico; valores de umidade abaixo desta faixa tornarão
o solo sólido, enquanto que para valores de umidade acima desta faixa
farão o solo se comportar como líquido;

II – tipo de mineral: a forma, a mineralogia e o tamanho de partícula


influenciam na capacidade do material se apresentar como plástico.

Assim sendo, dependendo da quantidade de água no solo, têm-se os


seguintes estados de consistência: sólido, semissólido, plástico e fluido.
Os limites entre cada estado de consistência é denominado: ws, limite
de contração; wp, limite de plasticidade; wl, limite de liquidez.

As características de cada estado são as seguintes:

• estado sólido: o volume não varia quando varia-se a umidade;


• estado semissólido: apresenta fraturas e rompe quando é trabalhado;
• estado plástico: quando é possível fazer molduras sem apresentar
fissuras;
• estado fluido: quando tem propriedades semelhantes de uma
suspensão.

O ensaio para determinação dos limites de consistência dos solos finos


foi primeiramente realizado pelo cientista sueco Atterberg, em 1911;
UNIUBE 15

contudo, acabou sendo padronizado por Arthur Casagrande (CAPUTO,


1985).

Em estudos geotécnicos, o conhecimento dos limites de consistência


é muito utilizado para se avaliar o solo em obras de construções de
estradas, aeroportos, fundações e, especialmente para a Engenharia
Ambiental, para armazenamento e retenção de água.

O limite de liquidez, como sendo o valor de umidade para qual o solo


passa do estado plástico para o estado fluido, pode ser determinado da
seguinte maneira, conforme ABNT NBR 6459 (1984):

I. deve-se colocar na concha do aparelho de Casagrande uma


pasta de solo que passa pela peneira #40 com umidade
próxima do limite de plasticidade (para isto, deve-se ir
adicionando água à amostra de solo);
II. realiza-se um sulco, um corte, neste solo com um cinzel
padronizado;
III. aplicam-se os golpes com o aparelho, girando-se a manivela
(a velocidade de batida dos golpes deve ser de 2 golpes por
segundo);
IV. contam-se os golpes necessários para que a ranhura feita com
o cinzel se feche por, pelo menos, 1 cm de extensão;
V. repete-se o experimento por mais 5 vezes com valores
crescentes de umidade (assim, o número de golpes necessá-
rios para o mesmo efeito deve ser menor que os anteriores);
VI. faz-se um gráfico da umidade pelo log do número de golpes,
ajusta-se uma reta passando por estes pontos. O limite de
liquidez corresponde a umidade na qual 25 golpes são
necessários para se fechar a ranhura.

O limite de plasticidade é a umidade pela qual o solo passa do


estado semissólido para o estado plástico. A determinação do limite de
16 UNIUBE

plasticidade deve ser realizada da seguinte maneira, conforme ABNT


NBR 7180 (1984):

I. prepara-se uma pasta com solo que passa pela peneira #40,
fazendo-a rolar com a palma da mão sobre uma placa de vidro,
formando um cilindro;
II. quando o cilindro atingir o diâmetro de 3 mm e apresentar
fissuras, mede-se a umidade do solo;
III. este procedimento é repetido ao menos 5 vezes;
IV. o limite de plasticidade é definido como o valor médio das
umidades calculadas anteriormente.

O limite de contração é a umidade na qual o solo passa do estado


semissólido para o estado sólido. A determinação do limite de contração
deve ser realizada da seguinte maneira, conforme ABNT NBR 7183
(1982):

I. com uma amostra de solo que passa pela peneira #40,


molda-se uma pastilha em uma cápsula metálica com teor de
umidade entre 10 e 25 golpes no aparelho de Casagrande;
II. seca-se a amostra à sombra e depois em estufa;
III. pesa-se a amostra;
IV. meça o volume do solo seco por meio da imersão do mesmo
num recipiente adequado, por exemplo numa cápsula de vidro;
V. o limite de contração é dado pela equação, a seguir, conforme
ABNT NBR 7183 (1982);
V 1 
=  −  γ w.100
ws
 p γs
Em que:
V = volume da amostra seca;
P = peso da amostra seca;
UNIUBE 17

γ s = peso específico das partículas sólidas;


γ w = peso específico da água.

PESQUISANDO

Pode-se notar que para cada ensaio de determinação dos limites de


consistência há uma norma da ABNT associada. Portanto, pesquise na
internet um pouco mais sobre estas normas.
ABNT NBR 6459 (1984) – Solo: Determinação do Limite de Liquidez.
ABNT NBR 7180 (1984) – Solo: Determinação do Limite de Plasticidade.
ABNT NBR 7183 (1982) – Determinação do Limite de e Ralação de
Contração de Solos.

Conhecidos os limites de consistência, pode-se ainda determinar alguns


índices:

Índice de Plasticidade (IP): indica valores de umidade nos quais o solo


se comporta de maneira plástica. Corresponde à diferença numérica
entre o limite de liquidez e o limite de plasticidade.

IP = wI - wp
Classificação do solo conforme seu índice de plasticidade:

• IP = 0 – Não Plástico;
• 1<IP<7 – Pouco Plástico;
• 7<IP<15 – Plasticidade Média;
• IP>15 – Muito Plástico.

Índice de Consistência (IC): é a consistência do solo no estado em que


se encontra no campo.

wl – w
IC =
IP
18 UNIUBE

A classificação, conforme Índice de Consistência:

• IC<0 – Estado Fluido;


• 0<IC<1 – Estado Plástico;
• IC>1 – Estado Semissólido ou sólido.

EXEMPLIFICANDO!

Com o intuito de se determinar o limite de liquidez de um solo, uma amostra


foi coletada e submetida ao ensaio conforme descrito pelo procedimento
padronizado pela ABNT. Os dados de umidade e número de golpes são
apresentados a seguir. Determine o Limite de Liquidez do solo em questão.

Ensaio Umidade # de Golpes


1 50 34
2 51,5 27
3 53,2 20
4 54,2 17
5 55,4 14

Para determinação do Limite de Liquidez, deve-se representar em gráfico


a umidade pelo log do número de golpes. A umidade relativa a 25 golpes
refere-se ao Limite de Liquidez do solo. Portanto, a representação gráfica
é a seguinte, Figura 5:

Figura 5: Curva para determinação do limite de liquidez.


UNIUBE 19

Desta forma, verifica-se que o Limite de Liquidez deste solo é de 51,7%.

1.3 Índices físicos dos solos

A determinação dos índices físicos do solo parte do princípio que num


volume de solo, apenas parte deste é realmente ocupado por partículas
sólidas e que outra parte, chamada de vazios, é ocupada por ar e água.
Portanto, deve-se considerar o solo como sendo constituído apenas por
três partes: ar, água e partículas sólidas. Cabe, a esta consideração, uma
representação gráfica do solo para determinação dos índices físicos,
denominada diagrama de fases, representado pela Figura 6.

Ar

Água

Partículas
Sólidas
Figura 6: Diagrama de fases do solo.

As quantidades relativas de cada uma destas fases formam relações


para expressar as proporções entre elas. A seguir, na Figura 7, serão
apresentadas as características de peso e volume de cada uma das
fases.

Pesos Volumes

Ar Va
Vv
P Pw Água Vw V

Partículas
Ps Vs
Sólidas

Figura 7: As fases do solo em função dos pesos e volumes.


20 UNIUBE

Em que Pw representa o peso da água, Ps o peso das partículas sólidas


e P o peso total, ou seja, P = Pw + Ps. Ainda, Va representa o volume
de ar, Vw o volume de água, Vs o volume de partículas sólidas, Vv o
volume de vazios, isto é, Vv = Va + Vw, e V o volume total, sendo V = Va
+ Vw + Vs = Vv + Vs.

As diversas alterações que pode sofrer o solo podem afetar as


quantidades de pesos e volumes das fases do solo, exceto a quantidade
de partículas sólidas que deve-se manter inalterada para o estudo dos
índices físicos do solo. Diante das várias correlações que podem existir
entre os pesos e volumes das fases, definem-se os seguintes índices:

• Umidade: é a relação entre o peso da água e o peso das partículas


sólidas, sendo calculada como:

Pw
w= .100
Ps
A umidade é geralmente expressa em termos de porcentagem. Para sua
determinação laboratorial, deve-se secar uma amostra natural do solo,
previamente pesada, em estufa a 105ºC até a constância do peso. Após,
pesa-se novamente a amostra de solo. A diferença de pesos, antes e
após a secagem, corresponde ao peso da água evaporada.

• Índice de vazios: é a relação entre o volume de vazios e o volume


das partículas sólidas.

Vv Va + Vw
e
= =
Vs Vs

• Porosidade: é a relação entre o volume de vazios e o volume total.

Vv Va + Vw Va + Vw
n
= = =
V V Va + Vw + Vs
UNIUBE 21

• Grau de saturação: é a relação entre o volume de água e o volume


de vazios, por isso pode variar de 0, quando seco, a 100%, quando
saturado.

Vw Vw
S
= = .100
Vv Va + Vw

• Peso específico das partículas sólidas (ou dos grãos): é a


relação entre o peso das partículas sólidas e seu volume.

Ps
γs =
Vs
Pode ser determinado em laboratório através da utilização de um
equipamento chamado picnômetro (Figura 8), da seguinte maneira
(acompanhe os passos do procedimento nas figuras 9 e 10):

Figura 8: Picnômetro.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

I – da mesma maneira como feito para o cálculo da umidade do solo,


deve-se submetê-lo à secagem em estufa para determinação de seu
peso seco;

II – este solo, agora seco, deve ser colocado no picnômetro e deve-se


completar o volume com água;
22 UNIUBE

Pc + Ps + = Pc+Ps+Pw*

Picnômetro com
Picnômetro Solo Seco Água
solo e água
Figura 9: Representação do peso do picnômetro com o solo seco e água.

III – a quantidade de solo seco colocada no picnômetro, expressa


simplesmente por Ps, impede que uma certa quantidade de
água, Pw, fosse adicionada para se completar todo o volume do
picnômetro. Este volume de água, que podemos dizer, foi substituído
por solo, corresponde exatamente ao volume deste solo;

Pc+Pw + Ps - Pc+Ps+Pw* = Pw*

Ps

Picnômetro com Picnômetro com


Solo Seco Água
água solo e água
Figura 10: Representação do volume de água substituído por solo, que
corresponde ao volume do próprio solo.

IV – determinados o peso e o volume das partículas sólidas, pode-se


calcular o peso específico por meio da relação de massa do solo
seco e seu volume.

• Peso específico natural do solo: é a relação entre o peso total do


solo e seu volume total no estado natural, ou seja, sem que haja
interferências maiores após a coleta da amostra em campo.
P
γn =
V
UNIUBE 23

• Peso específico aparente seco: é a relação entre o peso das


partículas sólidas e o volume total do solo.
Ps
γd =
V

Apesar de serem vários os índices físicos apresentados anteriormente,


apenas três deles podem ser determinados em laboratório: umidade,
peso específico das partículas sólidas e peso específico natural. Todos
os demais são calculados como relações entre estes três. Na Figura 11,
está representado o diagrama de fases apenas com base nos índices
físicos, facilitando a relação para se determinar os demais. Nesta figura,
adota-se o volume de partículas sólidas como sendo unitário, ou seja,
Vs = 1.
Pesos Volumes

Ar
e
ys+ys.w ys.w Água S.e e+1

Partículas
ys 1
Sólidas

Figura 11: Diagrama de fases em função do volume de partículas sólidas.

EXEMPLIFICANDO!
1. Uma amostra de solo foi coletada em campo. Verificou-se que a amostra,
juntamente com seu recipiente, pesavam 120,45 g. Após permanecer
em estufa, a 105 ºC, até estabilizar o peso, o conjunto pesava 110,92 g.
Sendo a massa do recipiente de coleta da amostra de 28,72 g, qual a
umidade deste solo?

Sendo Mc = 28,72 g a massa da cápsula, Mw a massa da água e Ms a


Massa das partículas sólidas:

Mw = 120,45 – 110,92 = 9,53 g


Ms = 110,92 – 28,72 = 82,20 g
24 UNIUBE

Mw 9,53
w
Do modo como definimos umidade,= = .100
= 11,59%
Ms 82, 20

2. Esta mesma amostra de solo foi imersa em água e agitada com dispersor
para eliminar bolhas de ar. Após, a mistura foi colocada num picnômetro
completando-se o volume com água; este conjunto apresentava massa
de 632,15 g. Sabe-se que o picnômetro com água pesa 601,46 g. Qual a
massa específica dos grãos?

Pelo experimento anterior, foi verificado que a massa do solo seco, Ms,
corresponde a 82,20 g.

Se esta massa de solo seco fosse adicionada ao picnômetro cheio com


água, sem que houvesse perdas, teríamos:

Ms + Mp+a = 82,20 + 601,46 = 683,66 g.

Porém, sabemos que haveria perdas nesta situação proposta. Logo, o


volume de água perdido corresponde ao volume do solo seco adicionado:

Ms + Mp+a – Ms+p+a= 683,66 – 632,15 = 51,51 g.

Considerando a massa específica da água como sendo de 1g/cm³,


o volume de água perdido seria de 51,51 cm³, desta forma, a massa
específica do solo seco, ou seja, das partículas sólidas é de:

Ms 82, 20
Ps
= = = 1,59 g / cm3
Vs 51,51

Note que, para peso específico, usamos a letra grega (gama); no entanto,
para massa específica é comum usar a letra (rô).
UNIUBE 25

Resumo

No capítulo 1 “Fundamentos de mecânica dos solos e algumas


aplicações”, dedicou-se ao estudo dos conceitos introdutórios, para uso
do solo como material de construção. Conhecer a estrutura, origem e
formação dos solos é essencial, uma vez que a partir deste estudo é que
se compreendem os índices físicos determinantes para construção civil.

Observe, então, que este é um capítulo extremamente importante para


sua formação. Se algum conceito ou aplicação não foi bem assimilado,
retome a leitura, fazendo anotações dos principais pontos-chave.

Acreditamos que você, quanto aos fundamentos da mecânica dos solos,


tenha compreendido o solo como material de engenharia, e que, agora,
sabe como determinar suas propriedades físicas de interesse.

O solo recebe, passivamente, todas as obras da engenharia, sejam


ambiental ou civil. Muitas dessas obras utilizam o solo como matéria-
-prima para fabricação de outros produtos, além de utilizá-lo como material
de construção. Dessa forma, a estabilidade e o comportamento estético-
-funcional de qualquer obra e empreendimento, serão determinados, em boa
parte, pelo desempenho dos materiais sólidos e maciços que compõem os
diferentes tipos de solos.

Atividades

Atividade 1

Uma amostra indeformada de solo foi coletada numa cápsula cilíndrica


de 4,0 cm de diâmetro e 10,0 cm de altura. Sua massa foi de 300,38 g.
Determine a massa específica natural do solo. Considere a massa da
cápsula como sendo 100,32 g.
26 UNIUBE

Atividade 2

Num ensaio para determinação da massa específica dos grãos do solo,


utilizando-se um picnômetro, foi coletada uma amostra em campo com
80,43 g. Seguindo-se todos os procedimentos recomendados para
esta análise, após a amostra ter sido seca, foi colocada no picnômetro,
completando-se o volume com água. Verificou-se que o conjunto
pesava 560,12 g. Uma calibração realizada anteriormente indicava que
o picnômetro cheio com água pesava 530,23 g. Considerando que a
umidade do solo era de 23,14%, calcule a massa específica dos grãos
deste solo.

Atividade 3

Num ensaio para determinação dos limites de liquidez do solo, os


seguintes dados foram coletados:

Ensaio Umidade # de Golpes


1 53,3 31
2 54,8 24
3 56,5 17
4 57,5 14
5 58,7 11

Determine, para este solo, o limite de liquidez.

Atividade 4

O peso específico de uma argila é 1,7 g/cm3, o teor de umidade 34% e


a densidade das partículas é 2,65. Qual o índice de vazios do material?

Atividade 5

Uma amostra de areia no estado natural pesa 875g e o seu volume é


igual a 512 cm3. O seu peso seco é 803g e a densidade relativa dos grãos
UNIUBE 27

é 2,66. Determine o índice de vazios, a porosidade, teor de umidade e


grau de saturação da areia.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo -


Determinação do Limite de Liquidez, 1984.

_____. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de Janeiro, 1995.

_____. NBR 7180: Solo: Determinação do limite de plasticidade.


Rio de Janeiro, 1984.

_____. NBR 7181: Solo - Análise granulométrica. Rio de Janeiro, 1984.

_____. NBR 7182: Solo - Ensaio de compactação. Rio de Janeiro, 1986.

_____. NBR 7183: Determinação do limite de e relação de contratação de solos.


Rio de Janeiro, 1982.

_____. NBR 10004: classificação de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004.

BRAGA, et al. Intodução à Engenharia Ambiental. 2. ed. São Paulo: Pearson


Prentice Hall, 2005.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: exercícios e problemas


resolvidos. vol. 3. Rio de Janeiro: LTC – Editora S.A.,1975.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 5. ed. Rio de Janeiro:


LTC – Editora S.A., 1985.

LEMOS, R. C.; SANTOS, R. D. Manual de descrição e coleta de solo no campo. 2.


ed. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; Embrapa-SNLCS, 1984. 46 p.

SILVA, Eusébio Medrado da et al. Comparação de Modelos matemáticos para o


traçado de curvas granulométricas. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 39, n. 4,
Abr. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.php?script=sci_arttex&pid=S0100-
204x2004000400010&Ing=en&nrm=iso>. Acesso em 27 nov. 2012.

WICANDER, R.; MONROE, J. S. Fundamentos de Geologia. São Paulo:


Cengage Learning, 2009.
Capítulo
Cálculos e aplicações da
mecânica dos solos
2

Cecília Carmelita Ramos Marega


Eduardo Humberto Campos Borges

Introdução
Prezado(a) aluno(a).

Para os futuros profissionais da área das engenharias, o conheci-


mento das características e do comportamento dos diversos
tipos de solo sob a ótica da construção civil ou do ambiente é
de fundamental importância, pois, desconsiderando algumas
exceções, é sobre o solo que implementaremos nossos projetos.

Não raramente, verificamos problemas em obras, desde simples


rachaduras a ocorrência de grandes desastres, relacionados à
negligência, ou deficiência na formação dos profissionais da área,
no que se refere ao comportamento mecânico dos solos.

Neste capítulo, serão abordados alguns conceitos e princí-


pios básicos relacionados às tensões e deformações do solo.
O conhecimento das tensões atuantes em um maciço é de
fundamental importância no planejamento de obras, pois o solo
suportará as tensões de cisalhamento induzidas, uma vez que a
água ou o ar não oferecem resistência ao cisalhamento.
30 UNIUBE

Neste sentido, trataremos de alguns dos principais fundamentos


e aplicações da mecânica dos solos. Serão abordados aspectos
relacionados à propagação e distribuição de tensões no solo,
bem como à resistência ao cisalhamento, à compressibilidade
e adensamento, à estabilidade de taludes, à compactação e ao
rebaixamento do lençol freático.

Importante ressaltar que a compreensão dos temas, tratados neste


capítulo, contribuirá na construção de conhecimentos necessários
à sua futura atuação.

Objetivos
Ao final desse capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• conhecer como ocorre a distribuição das tensões no solo,


bem como sua tipologia;
• determinar a resistência ao cisalhamento para diferentes
tipos de solo;
• reconhecer os principais ensaios para determinação da
resistência ao cisalhamento;
• compreender como se aplica a compressibilidade e adensa-
mento do solo;
• entender os principais fatores que determinam a estabilidade
de taludes;
• definir áreas vulneráveis à ruptura de taludes e como evitá-las;
• verificar a importância da compactação, bem como conhecer
os equipamentos utilizados para esse fim e os principais
ensaios;
• avaliar os principais métodos de rebaixamento de lençol
freático.
UNIUBE 31

Portanto, o objetivo principal deste capítulo é propor um estudo


que viabilize analisar o comportamento dos solos referente à
propagação e distribuição de tensões, resistência ao cisalhamento,
considerando a compressibilidade, adensamento e compactação.

Esquema
2.1 Propagação e distribuição de tensões
2.2 Resistência ao cisalhamento
2.3 Compressibilidade e adensamento
2.4 Estabilidade de taludes
2.5 Compactação
2.6 Rebaixamento de lençol freático

2.1 Propagação e distribuição de tensões

De uma maneira geral, as tensões existentes em qualquer plano serão


suportadas pela fase sólida e fluida do solo. A tensão transmitida
diretamente aos constituintes sólidos é nomeada tensão efetiva e, à parte
fluida, tensão neutra.

Os acréscimos de tensões em certa profundidade não se limitam a


projeção da área carregada, pois nas áreas adjacentes também ocorre
acréscimo de tensões, que se somam às anteriores resultantes do peso
próprio. As tensões subjacentes à área carregada decrescem à medida
que há um aumento da profundidade.

Ao se estudar um caso particular, como o de solos saturados, verifica-se


que a pressão atuante na água intersticial, chamada de pressão neutra,
pode se diversificar. Essas pressões ocorrem pelo cisalhamento ou
adensamento do solo.
32 UNIUBE

IMPORTANTE!

A transmissão de tensões se faz em contatos e, portanto, em áreas muito


reduzidas em relação à área total envolvida.

As forças transmitidas às placas pelos grãos podem ser decompostas


em forças normais e tangenciais em relação à superfície da placa. Com
a impossibilidade do desenvolvimento de modelos matemáticos tendo
como base essas forças, a sua ação é substituída pelo conceito de
Tensão em um ponto (desenvolvido pela mecânica do contínuo).

PESQUISANDO

Faça uma pesquisa relacionada à mecânica do contínuo. Com essa


pesquisa, você estará apto a definir tensores e entender as forças que
atuam nos grãos e os seus coeficientes, e o quanto a mecânica dos meios
contínuos é fundamental para a geologia estrutural.

Tensão Normal é o somatório das forças normais ao plano, dividido pela


área total da placa.

σ = ∑ N área

Tensão cisalhante é o somatório das forças tangenciais, dividido pela área.

τ = ∑ T área
UNIUBE 33

A impossibilidade de determinar áreas e forças leva à simplificação para


as tensões em um meio contínuo.

O conceito de tensões descrito conduz ao conceito de tensão da


mecânica do contínuo. As tensões definidas serão consideradas atuando
num ponto definido, sem cogitar se ele é ou não ocupado por massa.

No dizer de Hachich et al. (1996), a mecânica do contínuo, o estado


de tensão em qualquer plano passando por um ponto em um meio
contínuo é totalmente especificado pelas tensões atuantes em três planos
mutuamente ortogonais, passando no mesmo ponto.

O estado de tensões é completamente representado pelo tensor


de tensões naquele ponto, que é composto por nove componentes,
formando uma matriz simétrica. A Figura 1 representa a especificação do
bloco de tensão onde consta o peso próprio do bloco e o carregamento
externo.

Figura 1: Especificação do bloco de tensão.

N V γ A.h.λ
σ=
v = = = h.γ n
A A A

Em que:

• σ é tensão total (peso total do solo);


• γ é o peso de tudo (solo + água) por unidade de volume;
34 UNIUBE

• o peso específico dos solos varia, aproximadamente, entre 20KN/


m3 para um solo saturado e 16KN/m3 para solo seco;
• o peso específico da água é 10KN/m³.

Em solos saturados (Figura 2), a água intersticial está em contato com


a água na superfície do solo e, portanto, a pressão neutra em qualquer
ponto será igual à pressão hidrostática.

Figura 2: Especificação da pressão da água.

m = hw .λw

A tensão efetiva (σ’) (Figura 3) pode ser considerada a pressão que


responde por todas as características de deformação e resistência do solo.

σ= σ ' + m
Em que:

σ= Tensão Normal;
σ’= Tensão Efetiva;
µ= Tensão Neutra;
UNIUBE 35

Tensão Efetiva σ'


σ

Tensões Totais Pressão neutra µ


Externas

Tensão
τ cisalhante
τ

Figura 3: Distribuição de tensões.

2.1.1 Princípios das tensões efetivas

Vamos analisar um solo onde não há movimento de água, e que a


pressão neutra tenha a mesma intensidade em qualquer direção. Sabe-se
que a tensão efetiva (σ’) corresponde à diferença entre a tensão total e a
pressão neutra (µ). Considerando que esses vazios podem estar cheios
de água e que exercem certa pressão, essa pressão é considerada
pressão neutra.
σ '=σ –m
Fazendo uma analogia a uma esponja colocada dentro de um tanque
com água, observa-se que, elevando-se o nível de água, eleva-se a
pressão total sobre a esponja, mas não há deformação na mesma. Isto
ocorre porque todo o acréscimo de pressão é na água, que atua também
no interior da esponja comprimindo suas fibras, mas não as deformando.
Como exemplo, temos que uma areia ou uma argila no fundo do mar em
grande profundidade pode estar tão fofa quanto um fundo de um lago ou
lagoa de pequena profundidade.

IMPORTANTE!

A pressão neutra não interfere nas tensões de cisalhamento, pois ocorrem


paralelamente ao plano considerado, e a água não tem nenhuma resistência
ao cisalhamento.
36 UNIUBE

As tensões efetivas possuem alguns princípios:

1) não existe variação de tensões efetivas se o solo for submetido a


um carregamento ou descarregamento sem nenhuma mudança de
volume;
2) dois solos de mesma mineralogia têm o mesmo comportamento
desde que submetido ao mesmo estado de tensão;
3) um solo perde resistência (expande) ou ganha resistência (comprime)
desde que a pressão nos poros aumente ou diminua.

SINTETIZANDO...

Sempre que há deformação, o posicionamento dos grãos muda e,


consequentemente, a tensão efetiva. Portanto, qualquer variação de tensão
efetiva acarreta em variações volumétricas (recalque ou expansão).

Ressaltamos que quanto maior for o nível de tensão efetiva, maior será a
capacidade do solo de resistir a tensões de cisalhamento. Como os solos
não resistem à tensão de tração, a tensão efetiva não pode ser negativa.

2.1.2 Cálculo de tensões

Terzaghi (1943) enunciou o princípio das tensões efetivas: “A tensão


efetiva no solo é a soma das tensões totais menos a pressão neutra”.
Ele constatou ainda que todos os efeitos resultantes de variações
de tensões (deformações, deslocamentos etc.) são devido à variação de
tensões efetivas (Figura 4).
UNIUBE 37

NA

Argila orgânica mole preta

γ = 15KN/m³
Areia fina argilosa mediamente compactada

γ = 19KN/m³

Argila siltosa mole cinza escura

γ = 17KN/m³

Argila orgânica mole preta

γ = 15KN/m³
Figura 4: Variação de tensões efetivas.

Para calcular as tensões para a cota h = – 10 m, deve-se seguir os


seguintes passos:

KN
γ w = 10
m3
KN
σ= 15.6 + 19.4 → σ= 166
m3
KN 100 KN
m= γ w .h → m= 10.10 → m=
m3 m3
KN
σ ' =σ − m → σ ' =166 − 100 → σ ' =66 3
m
38 UNIUBE

EXEMPLIFICANDO!

Vamos ver um exemplo:


Calcule as tensões neutras, efetivas e totais ao longo da profundidade cuja
cota é – 6.

NA = NT
0
γ = 17 KN/m3
–4
γ = 20 KN/m 3

–6
γ = 22 KN/m3
– 10

Resolução:

10 KN
γw =
m3
108 KN
σ =17.4 + 20.2 → 68 + 40 =σ =
m3
48 KN
m= γ wxh → m= 10 x 6 → m=
m3

2.1.3 Cálculo pontual sobre a superfície do maciço

A situação geostática é aquela em que o peso do solo resulta em um


padrão de distribuição de tensão simplificado. Temos uma representação
na Figura 5, a seguir.
UNIUBE 39

Figura 5: Cálculo pontual.

Esta situação corresponde à superfície do terreno horizontal, subcamadas


horizontais, pouca variação na profundidade do solo na direção
horizontal. Nesta situação, não existem tensões cisalhantes nos planos
verticais e horizontais do solo. O não atendimento a qualquer um dos
requisitos da condição geostática pode acarretar no aparecimento de
tensões cisalhantes.

3Pz 3
∆a = 5
2π R

2.1.4 Tensão geostática vertical

É calculada considerando o peso total sobrejacente à profundidade


adotada, sendo constante o peso específico do solo em cada camada.
A tensão vertical pode ser calculada pela fórmula a seguir, em que z
representa a espessura da camada e γ o peso específico do solo.

σ v = ∑ y.Z

Se o nível d’água coincidir com a superfície do terreno, o peso específico


a ser considerado é o correspondente à condição saturada.
40 UNIUBE

2.1.5 Tensão geostática horizontal

A condição geostática horizontal corresponde a um processo de


deposição de solo sedimentar, no qual cada camada depositada gera
deformações verticais. Para anular as deformações horizontais surgem
as tensões horizontais.

A magnitude destas tensões depende não só da tensão vertical, mas


também da compressibilidade do solo. Na fórmula, a seguir, é calculada
a tensão horizontal em que Ko é o coeficiente de empuxo no repouso e
está associado às propriedades de deformação do material.
σh
σ ' K=
o .σ ' v Ko
σv

IMPORTANTE!

A compressibilidade dos solos está relacionada à capacidade de seus


constituintes mudarem de posição; esta mobilidade ocorre em função das
tensões aplicadas nos grãos. Dessa forma, o Ko é definido em função de
tensão efetiva (Tabela 1).

Tabela 1: Valores Típicos de Ko


Solo Ko
Areia fina 0,55
Areia densa 0,40
Argila de alta plasticidade 0,65
Argila de baixa plasticidade 0,50
Fonte: Diego Mendonça Arantes.

Vamos a mais um exemplo:


UNIUBE 41

EXEMPLIFICANDO!

Num terreno de areia densa, cujo peso específico natural é de 19,0kN/m³,


o nível da água se encontra a 2 m de profundidade. Deseja-se estudar o
estado de tensões a 8m de profundidade. Calcular as tensões principais,
totais e efetivas.

Resolução

Para o cálculo da tensão vertical, multiplica-se o peso específico pela


profundidade que se quer estudar. Portanto:

Tensão Vertical Total = 19 x 8 = 152Kpa

Portanto:

Tensão Vertical efetiva=152 – (10 * (8-2)) = 92 Kpa


Sendo o Ko = 0,40 para areia densa, temos:
Tensão horizontal efetiva = 0,40 x 92 = 36,8 = 37 Kpa
Tensão Horizontal Total = 40+37 = 77Kpa

2.2 Resistência ao cisalhamento

Os solos possuem a propriedade de suportar cargas e conservar sua


estabilidade, característica diretamente relacionada à sua resistência
ao cisalhamento, pois toda massa se rompe quando essa resistência é
excedida. Alguns problemas de fundações como estabilidade de taludes,
empuxos de terra, barragens estão intimamente ligados à resistência ao
cisalhamento.

Segundo a equação de Coulomb: r= (c + σ ) tan ϕ , a resistência ao


cisalhamento de um solo é composta de duas componentes: coesão e
atrito. No atrito interno, está o atrito físico, entre as partículas, e o atrito
42 UNIUBE

fictício, proveniente do entrosamento de suas partículas. Quanto à


coesão, distingue-se a coesão aparente, resultante da pressão capilar da
água contida no solo, e a verdadeira, resultante das forças eletroquímicas
de atração das partículas.

Analisando somente as pressões efetivas que mobilizam a resistência


ao cisalhamento, pode-se descrever a equação de Coulomb como:
r =c + (σ − u ) tan ϕ , sendo u a pressão neutra na água, que depende
das condições de carregamento e da velocidade de aplicação.

Hvorsllev (1951) verificou que a coesão das argilas saturadas é em


função de seu teor de umidade h. Assim: r= f (h) + (σ − u ) tan ϕ .

Observa-se que os parâmetros c e φ não são constantes e cada caso


deve ser estudado separadamente.

2.2.1 Tipos de ensaio de cisalhamento

Para realizar os ensaios, deverão ser preparados vários corpos de prova


sob as mesmas condições. Para cada corpo de prova, obtém-se uma
curva tensão × deformação, que fornecerá pares de tensão (σ, ) que
definirão a curva de resistência.

2.2.1.1 Ensaio de cisalhamento direto

Dentro de uma caixa composta por duas partes deslocáveis entre si e


porosa para permitirem a drenagem, coloca-se uma amostra do solo e,
aplicando uma tensão normal σ, determina-se a tensão cisalhante, capaz
de provocar a ruptura da amostra. Repetindo-se o ensaio para outras
amostras, obtêm-se conjuntos de pares (σ, ) que, marcados em um
sistema cartesiano, representado na Figura 6, permitem determinar φ e c.
UNIUBE 43

Figura 6: Tensão de cisalhamento.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

2.2.1.2 Ensaio de compressão triaxial

Esse ensaio é realizado em aparelhos constituídos de câmara cilíndrica


de parede transparente. No seu interior, coloca-se a amostra envolvida
em membranas de borracha delgada. A base superior do cilindro é
atravessada por um pistão que aplica uma pressão na amostra. A câmara
normalmente é cheia de água submetendo uma pressão σ3 que também
atua na base da amostra.

A tensão causada pela carga axial, diferença entre tensões principais


σ1 e σ2, é comumente chamada de diferença de pressões principais.
Determinando os pares de tensões correspondentes às rupturas
das amostras ensaiadas, traçam-se os respectivos círculos de Mohr,
assimilando as curvas desses círculos à reta de Coulomb, obtêm-se os
valores de φ e c.

2.2.1.3 Ensaio de compressão simples

Este ensaio de compressão axial, com σ3 = 0, é especial. A amostra


cilíndrica é colocada entre dois pratos de uma prensa. Toma-se para
a altura h um valor igual a duas ou três vezes o diâmetro D. Aplica-se
a carga progressivamente, sendo a curva traçada por um dispositivo
44 UNIUBE

adaptado ao aparelho. O valor da coesão é igual à metade da resistência


à compressão. Assim, considerando a função à compressão R (σ = R)
e c = R/2.

2.2.2 Classificações dos ensaios de cisalhamento

Os ensaios podem ser:

a) lentos ou com drenagem: as tensões σ1 e σ3 são aplicadas


lentamente e deixa-se a válvula aberta para que a pressão neutra
seja desprezível. A água é expulsa pela placa porosa e o controle da
variação de pressão é feito através da bureta existente no aparelho;
b) rápidos ou sem drenagem: as tensões são aplicadas rapidamente e
com a válvula fechada de modo a impedir a saída da água intersticial
da amostra. Usa-se uma placa impermeável;
c) ensaios pré-adensados: a pressão σ3 é aplicada lentamente e a
pressão σ1 é aplicada rapidamente. Esse ensaio é uma variante dos
outros ensaios.

Esses ensaios expressam as tensões principais que podem ocorrer em


um aterro ou corte. Por isso, os valores de c e φ são diferentes para
cada tipo de ensaio, pois não são parâmetros de solo e, sim, coeficientes
empíricos, que variam de acordo com a pré-compressão, drenagem e
outros.

2.2.3 Resistência ao cisalhamento das areias

A fórmula: = r (σ − u ) t gϕ c representa o cisalhamento das areias,


pois dos fatores que influem no valor de φ, destacam-se a forma das
partículas e a granulometria. Para a maior parte das areias, encontra-se
entre 25º e 35º.
UNIUBE 45

Ao observar o ensaio de uma areia, nota-se que dependendo do seu grau


de compacidade, seu volume aumenta ou diminui antes da ruptura. As
areias fofas diminuem de volume e as densas aumentam. É importante
saber qual é o índice de vazios críticos que é o limite entre os dois
estados de compacidade.

Outro fenômeno a considerar é o escoamento fluido das areias que


ocorre durante o cisalhamento das areias fofas saturadas, provocando
o excesso de pressão neutra e, assim, o decréscimo da resistência ao
cisalhamento. Este fenômeno é denominado de liquefação das areias e
é responsável por parte dos maiores danos causados.

2.2.4 Resistência ao cisalhamento das argilas

O estudo do cisalhamento das argilas é complexo, pois os principais


fatores que influem na resistência ao cisalhamento dos solos coesivos
são: o estado de adensamento do solo, a sensibilidade da estrutura, as
condições de drenagem e a velocidade de aplicação das cargas.

Para as argilas saturadas, a análise dos resultados dos ensaios lentos


e rápidos pré-mostram que os gráficos são semelhantes, apresentando
trechos retilíneos que passam pela origem para pressões maiores que a
de pré-adensamento. Para os ensaios rápidos, em que não é permitida
a drenagem, o índice de vazios da amostra será sempre o mesmo, não
existindo pressões efetivas e, portanto, a resistência ao cisalhamento
será sempre a mesma. O gráfico será uma reta horizontal em que r = c.

Para as argilas não saturadas, que são solos compactados para


construção de terraplanagem, as curvas têm formas diferentes das
obtidas para as argilas saturadas, pois a pressão neutra é de vital
importância.
46 UNIUBE

2.2.5 Coeficientes A e B

Skempton (1954) propõe determinar a variação da pressão neutra em


uma amostra de argila quando variam as tensões principais σ1 e σ3;

∆u= B [ ∆σ 3 + A(∆σ 1 − ∆σ 3 ) ]

O coeficiente A depende do tipo de solo e o coeficiente B do grau


de saturação. Para solos saturados B = 1 e para solos parcialmente
saturados B<1. Os valores de A são de, aproximadamente, – 0,5 para
argilas pré-adensadas e +1,5 para argilas de alta sensibilidade. Sendo cj
o coeficiente de compressibilidade do fluido (água + ar), tem-se:
1 ∆V
Cj = .
nV ∆u
Vn
Tendo a porosidade n = , em que v é o volume total e Δv é a variação
V
do volume total. Tem-se assim:

Av
= C j .n.∆u
v
Como uma massa de solo não se comporta como um material elástico
e isótopo, tem-se que:
∆σ 1 + ∆σ 2 + ∆σ 3
( ∆σ 1 − ∆σ 2 ) + ( ∆σ 2 − ∆σ 3 ) + ( ∆σ 1 − ∆σ 3 )
2 2 2
=∆u +α
3

Em que a é um parâmetro determinado empiricamente.

2.2.6 Círculo de Mohr

Uma representação gráfica do estado de tensões de casos especiais do


Círculo de Mohr:
UNIUBE 47

a) Estado duplo de Tensões (Figura 7):

Figura 7: Círculo de Morh para Estado duplo de tensões.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

b) Estado de cisalhamento pura (Figura 8):

Figura 8: Círculo de Morh para Estado de cisalhamento pura.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
48 UNIUBE

c) Estado axial de tensões (Figura 9):

Figura 9: Círculo de Morh para Estado axial de tensões.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

d) Estado Hidrostático de tensões (o círculo de Mohr se reduz a um


ponto, conforme apresentado na Figura 10):

Figura 10: Círculo de Morh para Estado hidrostático de tensões.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 49

e) Estado semi-hidrostático das tensões (Figura 11):

Figura 11: Círculo de Morh para Estado semi-hidrostático de tensões.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

2.2.7 Aplicações dos ensaios de cisalhamento na prática

A escolha do tipo de ensaio depende do problema em estudo e deverá


reproduzir o máximo de parâmetros que o solo será sujeito. Os ensaios
para terrenos argilosos que irão suportar fundações, em que o processo
de dissipação das pressões neutras ocorre em geral num tempo maior,
devem ser o rápido, que são os mais adequados. Mas, deve-se observar
se não existem camadas de areia, pois, neste caso, o mais indicado é o
ensaio lento.

Em obras definitivas em que se têm problemas de empuxo de terras e


estabilidades de taludes, o melhor são os ensaios lentos. Em projetos
em que são elevados os valores de pressão neutra, os ensaios rápidos
são recomendados. Deve-se investigar a estabilidade da obra por meio
de ensaios pré-adensados sempre que houver um rápido rebaixamento
do nível d’água, que pode levar à ruptura da obra.

Para solos arenosos, em que existe alta permeabilidade e rápida


dissipação de pressão neutra, são usados ensaios lentos.
50 UNIUBE

2.3 Compressibilidade e adensamento

2.3.1 Compressibilidade

Compressibilidade é a diminuição de volume do material, quando


submetido a forças externas. O solo é diferente dos outros materiais
porque é natural, e possui uma estrutura interna que pode ser alterada
com o carregamento, com deslocamento e/ou ruptura de partículas. A
estrutura do solo é dividida em três: fase sólida (grãos), fase fluida (água)
e fase gasosa (ar), dando-lhe um comportamento próprio.

A compressibilidade depende do tipo do material, pois todo material


deforma-se pela ação de uma carga aplicada. A deformação do solo
é maior do que em outro material da construção civil. Sabe-se que as
deformações não se verificam instantaneamente com a aplicação da
carga (Figura 12), mas sim em função do tempo, tendo como exemplo as
argilas. As deformações não são prejudiciais ao solo propriamente dito,
mas podem comprometer as estruturas que estão sobre ele.

O intercâmbio entre as partículas de solos argilosos é feita através de


ligações elétricas e o contato feito através da camada de água absorvida
(camada dupla). Os solos granulares transmitem os esforços diretamente
entre as partículas. Por esta razão, a compressibilidade dos solos
argilosos é superior à dos solos arenosos, pois a camada dupla lubrifica
o contato e facilita o deslocamento relativo das partículas. É comum
referir-se aos solos argilosos como solos compressíveis.
UNIUBE 51

Figura 12: Curva tensão deformação.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Ao comprimir um solo arenoso, as partículas vão se adensando, diminuindo


a compressibilidade do solo. À medida que o nível de tensão aumenta,
elevam-se as tensões intergranulares, causando fratura ou esmagamento
das partículas. Com a quebra dos grãos, a compressibilidade aumenta
novamente.

A compressibilidade dos solos está intimamente relacionada à quantidade


de vazios em seu interior, pois as cargas não são capazes de causar
variações nas partículas sólidas. Portanto, a variação de volume está
ligada à variação de volume dos vazios. Com aplicações de cargas, há
a alteração das estruturas e, portanto, ocorre redução de volume, pois
quebram-se ligações interparticulares e há distorções. O resultado desse
processo é um menor índice de vazios e uma estrutura mais densa.

Explicando o mecanismo do processo de adensamento, vamos


considerar um solo de argila saturada limitada por camada de areia e
leito rochoso. Em um ponto P qualquer da camada de areia, admite-se
uma carga Po. Parte dessa pressão (u) vai ser transmitida à água que
enche os vazios do solo, e a outra parte às suas partículas sólidas (p).

Po= p + u
52 UNIUBE

A variação do volume dependerá da compressão ou até mesmo da


drenagem da fase fluida dos vazios, pois a variação ocorrerá devido à
expulsão da água intersticial que começará a escoar em direção vertical
no sentido da camada de argila, e como sua permeabilidade é baixa, o
escoamento se faz lentamente.

Essa equação apresentada na Figura 13 é uma das mais importantes na


mecânica dos solos.

Figura 13: Esquema de um solo saturado.

2.3.2 Compressibilidade dos solos

Terrenos permeáveis: os solos permeáveis, como areia e pedregulho


(Tabela 3), em que o processo de adensamento não se apresenta do
modo definido, as deformações se apresentam de maneira mais rápida.
Essas deformações ocorrem devido a um reajuste de posição de
partículas do solo, sendo muito maior que na argila e são irreversíveis
(Tabela 2).

Definição de modo de Elasticidade (E) e Coeficiente de Poisson (V):

σ εr
∑= εa
v= −
εa
UNIUBE 53

Tabela 2: Argilas saturadas em solicitação não drenada


Consistência E (MPa)
Muito Mole <2,5
Mole 2,5 a 5
Média 5 a 10
Rija 10 a 20
Muito Rija 20 a 40
Dura >40

Fonte: Pinto (2006, p. 172).

Tabela 3: Areias em Solicitação drenada (Tensão confinante de 100 KPa)


Compacidade
Tipo de Areia
Fofa Compacta

Grãos frágeis, angulares 15 35

Grãos duros, arredondados 55 100

Fonte: Pinto (2006, p.173).

Para outros valores de tensão confinante σc, pode-se aplicar a equação


empírica de Janbu:

Ε(σ c ) =
Ε a .Pa .(σ c | Pa ) 2
Em que:

Pa = Pressão atmosférica atm (100kpa);


Ea = Módulo de Pa;
n = geralmente, 0,5.

A teoria da elasticidade empregada no cálculo das tensões no interior do


solo devido a carregamentos externos da superfície do terreno também
pode ser empregada no cálculo dos recalques.
54 UNIUBE

Os recalques ocorrem na superfície de uma área carregada em que:

σo = tensão uniformemente distribuída na superfície;


B = largura ou diâmetro do carregamento;
E e v = parâmetro de deformidade;
I = coeficiente f (forma da superfície carregada e da aplicação das
pressões no elemento rígido ou flexível).

2.3.3 Valores para o coeficiente de forma (I)

O coeficiente de forma é a relação entre a área efetivamente confinada e


a área total da seção transversal. Na Tabela 4 são apresentados alguns
valores para diferentes materiais:

Tabela 4: Valores para coeficiente de forma (I) para diferentes materiais

Rígida Flexível
Tipo de placa
Centro Borda

Circular 0,79 1,00 0,64

Quadrada 0,86 1,11 0,56

L/B=2 1,17 1,52 0,75


Retangular
L/B=5 1,66 2,10 1,05

L/B=10 2,00 2,54 1,27

Fonte: Pinto (2006, p.176).

Problemas no uso da elasticidade:

Variação do E com o nível de tensão aplicado e com a tensão de


confinamento (profundidade). Sua aplicação é limitada ao meio uniforme.
UNIUBE 55

2.3.4 Teoria do adensamento

O princípio das tensões efetivas estabelece que as variações de volume


ocorram tão somente com a variação nas tensões efetivas. Aplicando uma
pressão de compressão sobre um solo, a variação de volume se dá por
redução de vazios, visto que os grãos são relativamente incompressíveis.

Havendo uma variação de volume, determinando um fluxo de dentro para


fora, verifica-se que esse fluxo será mais rápido quanto mais permeável
for o solo. Assim, a variação de volume se dá com o tempo e é governada
por interações entre tensão total, efetiva, pressão neutra, permeabilidade
e compressibilidade.

Nos solos granulares, a água flui rapidamente e nos solos argilosos,


a água encontra dificuldade ao percolar. A água, inicialmente, absorve
a pressão aplicada, gerando excesso de opressão, que é dissipado
lentamente com a drenagem. À medida que dissipa o excesso de pressão
neutra na água, a pressão aplicada é transmitida aos contatos dos grãos
representando acréscimo de tensão efetiva, que é responsável pela
variação volumétrica. Temos, então, o fenômeno do adensamento.

2.3.5 Tempo de consolidação

É o tempo gasto para que o solo entre em equilíbrio, avaliando as variações


envolvidas no processo de transferência de carga. Quanto maior a veloci-
dade de escape da água, mais rápido o adensamento ocorre, dependendo
do volume de água.

Se for considerado que o volume de água que é expulso é proporcional à


carga aplicada à espessura da camada H e à compressibilidade do solo
(m) e que a velocidade de escape depende da permeabilidade do solo (k)
e do gradiente hidráulico (≈Δσ/H), tem-se a seguinte equação:

 H 2 .m 
t = 
 k 
56 UNIUBE

PARADA OBRIGATÓRIA

O tempo de consolidação independe do carregamento aplicado e a sua


magnitude é proporcional à geometria e compressibilidade, e inversamente
proporcional à permeabilidade do solo. Solos com baixa permeabilidade e
alta compressibilidade (solos argilosos) podem levar dezenas de anos para
atingirem a condição de equilíbrio.

2.3.6 Hipóteses da teoria do adensamento de Terzaghi

Para Pinto (2006, p.194), de acordo com as hipóteses da teoria do


adensamento de Terzaghi, o desenvolvimento se baseia no seguinte:

• o solo é totalmente saturado;


• a compressão é unidimensional;
• o fluxo d’água é unidimensional;
• o solo é homogêneo;
• as partículas sólidas e a água são praticamente incompressíveis
perante a compressão do solo;
• o solo pode ser estudado como elementos infinitesimais, apesar de
ser constituído de partículas e vazios;
• o fluxo é governado pela lei de Darcy;
• as propriedades do solo não variam no processo de adensamento;
• os índices de vazios variam linearmente com o aumento da tensão
efetiva durante o processo de adensamento.

Essa última hipótese prevê a associação do aumento da tensão efetiva e


a correspondente dissipação da pressão neutra, com o desenvolvimento
dos recalques, considerando-se o grau de adensamento.

O grau de adensamento é a relação entre a deformação ocorrida num


elemento numa certa posição, caracterizada pela profundidade z, num tempo
(ε) e a deformação deste elemento quando todo o processo de adensamento
tiver ocorrido (εf).
UNIUBE 57

ε
Ele é dado pela equação: U z =
εf
e1 − e2
A deformação final é dada pela equação: ε =
1 + e2
Num instante t qualquer: ε = e1 − e
1 + e1
Portanto, o grau de adensamento é a relação entre a variação do índice
de vazios até o instante t e a variação total do índice de vazios devido
ao carregamento.
e1 − e
1 + e1 e1 − e
=U =
e1 − e2 e1 + e2
1 + e1
Pinto (2006) ilustra na Figura 14, a seguir, a representação da variação
linear do índice de vazios com a pressão efetiva. Esta representa um
solo que está submetido à tensão efetiva com um índice de vazios e1.
Ao aplicar um acréscimo de pressão total, surge uma pressão neutra de
igual valor, ui e não há variação de índice de vazios.

Ainda de acordo com Pinto (2006, p.196), progressivamente, a pressão


neutra vai dissipando até que todo o acréscimo de pressão aplicada seja
suportado pelo solo. Dessa maneira, o índice de vazios se reduz a e2,
conforme apresentamos na Figura 14.

Figura 14: Variação linear do índice de


vazios com a pressão efetiva.
Fonte: Adaptado de Pinto (2006, p. 196).
58 UNIUBE

Assim:
e1 − e AB BC σ − σ 1
U
= = = =
e1 + e2 AD DE σ 2 − σ 1

Também se pode dizer que o grau de adensamento é equivalente ao grau


de acréscimo de tensão efetiva.

σ 2 − σ1 =
m1

Resumindo, tem-se que o grau de adensamento da seguinte maneira,


sendo as duas primeiras da definição e as duas últimas resultantes da
hipótese de Terzaghi.
e1 − e σ − σ 1 u1 − u
=U = =
e1 + e2 σ 2 − σ 1 u1

Admite-se também que U pode ser calculado por fórmulas aproximadas,


dependendo do fator T:

n
Quando U < 60% → T = .U 2 (equação de uma parábola);
4

E quando U > 60% → T =


−0,9332 log10 (1 − U ) − 0, 0851

T3
Outra fórmula aproximada é dada por Brinch Hansen (1970): U = i 3
T + 0,5
sendo válida para todos os valores de t.

As curvas de igual fator tempo (T), denominadas isócranas, representam


o quanto o solo já adensou efetivamente. Assim, para um mesmo tempo
(ou adimensional T), o grau de adensamento é mais próximo às camadas
drenantes do que no meio da camada compressível. Por exemplo, para
T = 0,20, no meio da camada, terão ocorrido 23 % do recalque, enquanto
UNIUBE 59

que em ¼ da espessura total terá ocorrido 44%. O conhecimento da


distribuição de Uz (Tabela 4) tem interesse no projeto de aterros sobre
solos moles.

Existem ainda na natureza camadas de argila, em que a água só pode


ser drenada na superfície superior, sendo que a outra camada está em
contato com um solo impermeável de rocha. Desse modo, podemos
definir H como sendo a espessura da camada por face de drenagem, a
qual coincide com a espessura real da camada. Para o caso de camada
semiaberta, sujeita a um diagrama de pressão retangular, a curva é
representada pela função U = f(t).

Podemos adotar Hd como a máxima distância que uma partícula de água


terá que percorrer até sair da camada compressível tendo, neste caso,
Hd = H/2.

Vejamos, na Figura 15, os tipos de camadas:

Figura 15: Comportamento de Hd em função do tipo de camada.

Pressão na superfície permeável


η=
Pressão na superfície impermeável

Tabela 5: Valores de U
Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3
50% 0,20 0,29 0,09
90% 0,85 0,93 0,72
Fonte: Pinto (2006, p.106).
60 UNIUBE

Para os tipos 4 e 5, os valores de U (Quadro 5) são obtidos nas seguintes


fórmulas:
 1− n 
U4 =
U1 −   . (U1 − U 2 )
 1+ n 

O coeficiente de adensamento (Cv) reflete as características do solo


(permeabilidade, porosidade e compressibilidade. A adoção deste
coeficiente constitui a hipótese oito que fala que as propriedades do solo
não variam no processo de adensamento, por isso:
k (1 + e)
Cv =
α v . y0

Em que av é o coeficiente de compressibilidade. Temos, também:

Cv , t
T=
H d2

O fator tempo em função da porcentagem de recalque para adensamento


pela Teoria de Terzaghi, é apresentado na Tabela 6, a seguir:

Tabela 6: Fator tempo em função da porcentagem de recalque para adensamento


U% T U% T U% T U% T U% T

1 0,00011 21 0,035 41 0,132 61 0,297 81 0,588

2 0,0003 22 0,038 42 0,139 62 0,307 82 0,610

3 0,0007 23 0,042 43 0,145 63 0,318 83 0,633

4 0,0013 24 0,045 44 0,152 64 0,329 84 0,658

5 0,0020 25 0,049 45 0,159 65 0,340 85 0,684

6 0,0028 26 0,053 46 0,166 66 0,352 86 0,712

7 0,0038 27 0,057 47 0,173 67 0,364 87 0,742

8 0,0050 28 0,062 48 0,181 68 0,377 88 0,774

9 0,0064 29 0,066 49 0,189 69 0,390 89 0,809

10 0,0079 30 0,071 50 0,196 70 0,403 90 0,848


UNIUBE 61
Continuação da tabela 6
11 0,0095 31 0,075 51 0,204 71 0,417 91 0,891

12 0,0113 32 0,080 52 0,212 72 0,431 92 0,939

13 0,0133 33 0,086 53 0,221 73 0,446 93 0,993

14 0,0154 34 0,091 54 0,229 74 0,461 94 1,055

15 0,0177 35 0,096 55 0,238 75 0,477 95 1,129

16 0,0201 36 0,102 56 0,246 76 0,493 96 1,219

17 0,0227 37 0,108 57 0,255 77 0,511 97 1,336

18 0,0254 38 0,113 58 0,264 78 0,529 98 1,500

19 0,0284 39 0,119 59 0,273 79 0,547 99 1,781

20 0,0314 40 0,126 60 0,283 80 0,567 100

Fonte: Pinto (2006, p. 203).

Vamos a mais um exemplo:

EXEMPLIFICANDO!

Um aterro foi construído sobre uma argila mole saturada, prevendo-se um


recalque de 50 cm. Após 10 dias de construção já existia um recalque de 15 cm.
Calcule qual seria o recalque em 3 meses.

Resolução:

Sabendo-se que o solo é tipo 1:

15
U= ∴U = 0,3
50
Para U=0,3, de acordo com a tabela, temos T = 0,0707.
3 meses = 90 dias - 90 dias é 9 vezes maior que 10 dias. Daí, tem que:

=T 9 x 0, 0707
= ∴T 0, 6363

De acordo com a tabela, novamente para t = 0,6363, tem-se que U≈0,83

Portanto, 0,83 x 50 = 41,5 cm de recalque.


62 UNIUBE

2.4 Estabilidade de taludes

Entende-se por talude uma superfície inclinada que delimita um maciço


terroso ou rochoso. O estudo de taludes, suas instabilidades e formas de
contenção torna-se necessário devido à grande quantidade de acidentes
envolvendo escorregamentos.

Com o aumento da urbanização e do desenvolvimento, com o desflores-


tamento contínuo e o aumento da taxa de precipitação, há uma grande
necessidade de estabilizar essas áreas, pois escorregamentos geram
custos.

Os escorregamentos podem ser:

a) desprendimento (topple): quando ocorre uma rotação de solo ou


rocha abaixo do centro de gravidade da massa deslizante. Esse
movimento pode levar à queda ou escorregamento propriamente
dito, dependendo da geometria do terreno;
b) desprendimentos ou quedas (falls): deslocamento de solo ou rocha
de um talude íngrime;
c) escorregamento (slide): descida de solo ou rocha, tendo uma
superfície de ruptura bem definida;
d) espalhamento (spread): movimentos rápidos de massa de argila,
que estiveram estáveis por um tempo e se deslocaram por uma
distância considerável;
e) corrida de lama (mood flow): movimentos muito rápidos de solo
argiloso como um fluido viscoso. Pode ocorrer também com areia
seca e chamar movimento de fluxo.
UNIUBE 63

2.4.1 Identificação do local

A identificação de áreas vulneráveis à movimentação é muito importante.


Essas identificações podem ser feitas por meio de:

• fotografias aéreas e imagens de satélite;


• mapas geotécnicos;
• mapas topográficos;
• evidências de movimento.

PESQUISANDO

Faça uma pesquisa sobre os principais métodos de cartografia geotécnica.


Ao elaborar uma carta geotécnica, deve-se fazer um levantamento das
características geofísicas da área em que se estuda, considerando as
inter-relações entre os diversos parâmetros adotados. Dessa forma, é
possível detectar áreas de risco; portanto, torna-se uma ferramenta de
planejamento.

Quando for necessária uma investigação de campo para solucionar


algum problema que exija planejamento prévio, deve-se executar:

• levantamento topográfico;
• estudo das estruturas geológicas;
• exploração de subsolo com sondagens a trado, sondagens SPT,
sondagens rotativas e outros ensaios como CPT, palheta etc.;
• fatores ambientais como clima, ecossistema e fatores humanos.

Quando houver água no terreno, deve-se fazer também medições de nível


de água, permeabilidade do solo/rocha. Se houver necessidade, pode-se
efetuar instrumentação de campo com inclinômetros e piezômetros.
64 UNIUBE

2.4.2 Fatores que levam à ruptura

Qualquer fator que aumente os esforços atuantes ou a diminuição da


resistência do talude pode levá-lo à ruptura. O material que compõe o
talude tem a tendência natural de escorregar sob a influência da força
da gravidade (Figura 16). Existem outras causas de aumento de tensão
ou diminuição.

Figura 16: Tensões no talude.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Alguns fatores que podem aumentar ou diminuir a tensão são as causas


externas e internas.

Causas externas:

• aumento de carga no talude;


• alteração na geometria do talude (altura e/ou inclinação);
• atividades sísmicas e outras.

Causas internas:

• aumento da pressão neutra (poropressão) e diminuição da pressão


efetiva;
• aumento do peso específico do material;
• rebaixamento rápido do nível d’água;
• saturação das areias faz desaparecer a coesão fictícia;
• diminuição da resistência do solo.
UNIUBE 65

Ao analisar os fatores que podem gerar escorregamentos e qual a


probabilidade de acontecer, pode-se mapear os riscos de deslizamentos
e reduzi-los através de algumas operações básicas. São elas:

• restrição à área de risco;


• adoção de normas e códigos para movimentos de terra e constru-
ções;
• contenção e correção de geometria dos taludes;
• monitoramento da água superficial e subterrânea para alerta emi-
nentes.

2.4.3 Estabilidade de taludes

Ao se fazer uma análise de estabilidade de taludes, deve-se:

a) examinar a estabilidade de taludes em outras diferentes obras


geométricas para executar projetos de menor custo e mais seguros;
b) fazer uma análise de sensibilidade para averiguar a possibilidade
de escorregamentos em taludes naturais ou construídos, analisan-
do a influência de modificações propostas;
c) averiguar escorregamentos já ocorridos, para obter parâmetros de
entendimento de mecanismos de ruptura e da influência do meio
ambiente;
d) executar projetos de estabilização de taludes rompidos, para
descobrir alternativas de medidas de prevenção;
e) estudar o efeito de carregamentos externos naturais ou realizados
pelo homem; tais como execução de obras, explosões, alteração
de temperatura etc.;
f) estudar o desenvolvimento dos taludes naturais e observar as
diferenças regionais.
66 UNIUBE

Vejamos alguns objetivos de análise, no caso de:

• encostas naturais: avaliar a necessidade de medidas de estabili-


zação, observando o solo residual, as juntas de alívio vertical e o
tipo de rocha;
• cortes e escavações: estudar a estabilidade e a necessidade de
proteção (Figura 17);

Figura 17: Diferença entre corte e escavação.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

• barragens: fazer estudos prévios para escolher a configuração


mais econômica, nos diversos momentos da obra, observando a
necessidade de medidas de estabilização;
• aterros: neste caso, também é muito importante o estudo prévio de
todos os fatores já citados e o devido monitoramento a longo prazo;
• análise de taludes rompidos: avaliar e reavaliar parâmetros de
projeto naturais ou construídos;
• rejeitos: a produção de elementos químicos, exploração de minas
etc., implicam na necessidade de estocar ou desmanchar volumes
de detritos ou rejeitos em pouco espaço de tempo, e muitas vezes,
em áreas de solo de baixa resistência.

O aumento da tensão cisalhante pode ser causado pela remoção de


suporte lateral através de erosão, deslocamentos anteriores de massas
rochosas ou de solo e a ação do homem. A sobrecarga pode ter causas
naturais, tais como neve, chuva, vegetação, forças de percolação ou
a ação do homem como edifícios, aterros, lixo etc. Algumas tensões
transitórias são causadas por vibrações, trovões ou escorregamentos
adjacentes. As pressões laterais podem ser congelamento em
descontinuidade, mobilização de resistência residual, inchamento de
minerais argílicos.
UNIUBE 67

A diminuição da resistência ao cisalhamento pode ser causada por


variações das tensões efetivas, eliminação da cobertura vegetal,
submersão de solos não saturados, ações de raízes e animais, colapso
em solos colapsíveis.

2.4.4 Considerações de projeto

Cada projeto de talude é único, pois cada problema é único. Para


se projetar um talude estável, deve-se levar em consideração os
dados investigativos de campo, os ensaios de laboratório, análise de
estabilidade efetuada, a forma de execução e a sua manutenção. O
engenheiro deve ter bom senso, pois, às vezes, uma simples modificação
na geometria do talude, pode torná-lo diferente do esperado.

Vejamos alguns procedimentos:

• tratamento superficial: é a medida preventiva de evitar que o


material do maciço seja perdido por meio de erosão, ou evitar que
água em demasia infiltre no terreno. Para executar esse processo,
deve-se cobrir com vegetação rasteira, telas (geossintéticas),
argamassa ou concreto jateado;
• solo reforçado: introduzir elementos resistentes na massa do solo
para aumentar a resistência. O método é chamado de “Down-Top”
(de baixo para cima). Executa-se intercalando em cada camada
compactada uma camada de material resistente. À medida que o
aterro vai sendo alteado, o talude reforçado toma forma. A face do
talude reforçado recebe revestimento para evitar erosão.

Materiais que podem ser usados como material resistente:

• terra armada: são tiras presas ao bloco de concreto que protegem


a face para não haver deslocamento excessivo das mesmas;
• geossintéticos: são Geogrelhas, Geonets (geo-redes), Geotêxteis,
Geocompostos utilizados com a finalidade de separar material,
reforçar aterros, filtrar, drenar e fazer barreiras impermeáveis;
68 UNIUBE

• materiais alternativos: qualquer material que apresente resistência


maior que o solo e possa ser usado como elemento de reforço. Ex.:
pneus, bambus;
• solos grampeados ou pregados: são barras metálicas, revestidas
ou não, introduzidas em maciços naturais ou em aterros. Para a sua
execução se faz uma perfuração no maciço, introduz a barra no
furo e preenche o mesmo com nata de cimento. A cabeça do prego
pode ser protegida, bem como a face do talude, com argamassa
ou concreto jateado. Os grampos não são protendidos, pois só são
utilizados se o maciço sofrer deslocamentos;
• muro de arrimo: são paredes que servem para conter massa de
terra. São de diversos tipos e funcionam de diversas maneiras;
• cortina atirantada: é uma parede de concreto armado, em que o
maciço é perfurado e são introduzidas nos furos, barras metálicas
(tirantes). Após esse procedimento, é introduzida nata de cimento
nas perfurações a alta pressão, penetrando nos vazios, formando
um bulbo e ancorando as barras metálicas. Com a cura da nata
do cimento, os tirantes são propendidos e presos na parede de
concreto o que faz com que esta estrutura seja empurrada contra
o maciço;
• drenagem: deve ser realizada uma drenagem adequada ao terreno,
para que não haja percolação de água;
• gabião: elementos metálicos confeccionados com tela de malha
hexagonal de dupla torção, preenchidos com pedras. São vantajosas
do ponto de vista econômico e técnico, pois possuem um conjunto
de características funcionais que inexistem em outras estruturas;
• muro de gabião: as unidades são firmemente unidas entre si por
costura de arame, de modo a formar uma estrutura monolítica. Ela
possui elevada resistência mecânica, elevada resistência à corrosão,
boa flexibilidade, não desfia facilmente e acompanha pequenas
movimentações, pois é permeável.

PESQUISANDO

Faça uma pesquisa sobre em quais circunstâncias devem ser aplicados os


procedimentos citados anteriormente. A importância de se conhecer cada um
e a sua utilidade é de vital relevância para o uso de um bom procedimento.
UNIUBE 69

Para realizar um bom projeto, deve-se fazer um bom reconhecimento


geotécnico coletando amostras inalteradas para ensaios em laboratório.
Não se pode esquecer que havendo escavações onde é necessário
drenar a água, é essencial o ensaio de permeabilidade.

Os fatores geométricos como altura e inclinação, os fatores condicionantes


que são intrínsecos aos materiais e os desencadeantes que atuam sobre o
maciço devem ser analisados com bastante critério.

Para se evitar deslizamentos de encostas, e possíveis recalques em


obras, deve-se:

• diminuir a inclinação do talude;


• revestir o talude;
• gabiões;
• muros de solo reforçado;
• geomantas;
• cortinas atirantadas e drenagem.

A determinação do tipo de contenção está relacionada ao porte da obra,


altura da estrutura, espaço disponível para sua implantação, tipo de solo
a conter, presença do lençol freático, disponibilidade de materiais e de
mão de obra qualificada, tempo de execução, clima local e custo final
da estrutura.

PESQUISANDO NA WEB

Faça uma pesquisa na internet verificando em quais obras de engenharia são


usados os taludes. A partir da pesquisa, você pode verificar que, em qualquer
situação de contenção, é importante saber qual procedimento tomar.

No capítulo 4, vamos estudar mais sobre estabilidade de talubes.


70 UNIUBE

2.5 Compactação

É um processo manual ou mecânico que consiste em aplicar energia


ao solo a fim de reduzir volume de seus vazios e, assim, aumentar
resistência. É o processo de redução da porosidade e aumento mecânico
da densidade do solo. Neste processo, a água e o ar do solo são expulsos
do sistema por máquinas e/ou equipamentos.

A compactação de um solo, muitas vezes, pode ser compreendida


como a redução da porosidade de um solo por meio de equipamentos
mecânicos, embora, usualmente, possam ser utilizados métodos
manuais, como soquetes.

Há algumas razões para se compactar um solo:

1 – aumentar a capacidade de resistência à carga;


2 – evitar recalque do solo;
3 – dar estabilidade ao solo;
4 – reduzir a infiltração de água, dilatação e contração do solo;
5 – reduzir a sedimentação do solo.

IMPORTANTE!

Não confunda compactação com adensamento!

Compactação trata da redução do número de vazios do solo por meio da


diminuição do volume de ar dos vazios.

Adensamento trata da redução do número de vazios pela diminuição do


volume de água dos vazios.

Sabe-se que o aumento do peso específico de um solo produzido pela


compactação depende da energia despendida e do teor de umidade do
solo. Observa- se também que há expulsão de ar na compactação e de
água no adensamento. A água atua como um lubrificante, possibilitando
UNIUBE 71

uma melhor movimentação das partículas e posterior acomodação. Ao


se atingir a umidade ótima, a energia é absorvida pela água livre que
não se comprime e, a partir desse ponto, a eficiência da compactação
fica comprometida.

Os esforços para compactar o solo são:


• vibração;
• impacto;
• amassamento;
• pressão.

Cada tipo de solo se comporta de maneira diferente de acordo com a


densidade máxima e teor de umidade ótima.

2.5.1 Equipamentos para compactação


De uma maneira geral, pode-se destacar 5 equipamentos para compactação
do solo:

2.5.1.1 Soquetes
Os soquetes são equipamentos, mecânicos ou manuais, que podem
pesar, no mínimo, 15 kg. Por possuírem um porte menor que as demais
máquinas compactadoras, eles são usados em obras pequenas e de
difícil acesso. Para haver uma excelente compactação, as camadas
devem ter, no máximo, 15 cm.

São características do soquete:


• pequenos: 2,5 Kgf de peso e 30,5 cm de altura de queda;
• grandes: 4,5 kgf de peso e 45,7 cm de altura de queda.

2.5.1.2 Rolo pé-de-carneiro

O rolo pé-de-carneiro, como mostra a Figura 18, possui um cilindro


metálico com saliências troncocônicas. Essas saliências têm alturas que
estão entre 18 a 25 cm.
72 UNIUBE

Figura 18: Rolo pé-de-carneiro.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

É importante relembrar que, para a compactação ótima, a camada a


ser compactada deve ter, no máximo, 15 cm e o rolo deve passar de
4 a 8 vezes, dependendo do tipo de solo. Esse tipo de compactação é
usado em solos argilosos. Ressaltamos que cada tipo de rolo imprime
uma pressão ao solo, pois essa pressão varia com o peso do rolo. Em
algumas situações, como, por exemplo, na compactação de estradas,
pode-se usar mais de um rolo em série ou em bateria.

2.5.1.3 Rolo liso

Os rolos lisos são cilindros de aço que não possuem protuberância. Esses
rolos podem ou não ser preenchidos por areia, cascalho ou pedregulho,
de acordo com a necessidade de cada obra. Esses preenchimentos são
colocados dentro do cilindro para que este ganhe mais peso e exerça
maior pressão sobre o solo (Figura 19):

Figura 19: Rolo liso.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 73

Normalmente são utilizados nas construções de estradas. Relembramos,


também, que as camadas não devem ter mais de 15 cm. Apesar disso,
quando for utilizado mais de um rolo, pode-se dobrar a espessura da
camada que está sendo compactada. O rolo liso é mais utilizado em
solos arenosos.

São características do rolo liso:

• pequeno: 10,00 cm de diâmetro, 11,43 cm de altura e 1.000 cm³ de


volume;
• grande: 15,25 cm de diâmetro, 12,73 cm de altura e 2.085 cm³ de
volume.

2.5.1.4 Rolo pneumático

Os rolos pneumáticos são compostos por um cilindro metálico e um


conjunto de pneus cuja pressão interna deve ser alterada para modificar
a energia aplicada (Figura 20).

Figura 20: Rolo pneumático.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Por possuírem uma pressão mais alta, eles podem compactar camadas
de até 25 cm. Os rolos pneumáticos de dimensão pequena são usados
na compactação de argilas arenosas, siltes arenosos. Para areias com
74 UNIUBE

cascalho, a espessura das camadas pode variar de 10 a 20 cm. Em


relação aos rolos pneumáticos de pneus grandes, dependendo do tipo
de solo, as camadas podem variar de 30 a 60 cm.

2.5.1.5 Placas ou rolos vibratórios

Os equipamentos mencionados podem possuir placas ou rolos vibratórios


que asseguram a compactação de solos de granulares.

A excelente compactação é produzida no solo pelos diferentes equipa-


mentos, sendo influenciada pelo número de vezes sucessivas que estes
passam pelo aterro. A relação entre pesos específicos obtidos em campo
e o número de passadas, a princípio, cresce rapidamente. Após certo
número de passadas, o efeito de uma passada posterior diminui e já não
mais compensam outras passadas do equipamento.

2.5.2 Compactação de campo

O solo a ser compactado deve possuir uma umidade ótima a fim de


atingir alta eficiência na compactação. A escolha do rolo depende da
natureza do terreno. A quantidade de água a ser adicionada ao solo
é calculada em função da descarga da barra de distribuição e da
velocidade do carro pipa. A quantidade de camadas de solo e o número
de passadas do equipamento de compactação são determinados em
um trecho experimental previamente escolhido. O número de passadas
deve ser controlado, pois, após aproximadamente 10 passadas, é inútil
prosseguir.

Os soquetes manuais empregam-se em trabalhos secundários (valas,


reaterros), enquanto que pilões a explosão (sapo) ou a ar comprimido
têm grande aplicação a quase todos os tipos de terreno.
UNIUBE 75

Os seguintes aspectos devem ser atendidos para o bom controle da


compactação no campo: tipo de solo, espessura da camada, número
de passadas, equipamento compactador, umidade do solo, grau de
compactação alcançado. Durante a compactação, deve-se manter a
umidade do solo próxima da umidade ótima.

Nos processos práticos de compactação, as seguintes etapas são


seguidas: coleta-se amostras do solo da área de empréstimo para
realizar o ensaio de compactação, obtendo-se, assim, a umidade ótima
e o peso específico seco máximo. Conforme a área de empréstimo for
sendo compactada, deve-se verificar na camada já compactada o valor
da umidade empregado e verificar o quão próximo, ou distante, está
da umidade ótima. Recomenda-se que a umidade do solo compactado
esteja, no máximo, 2%, para mais ou para menos, da umidade ótima
calculada.

Ainda, deve-se avaliar o grau de compactação calculado pela razão


entre o peso específico seco do solo compactado e o peso específico
seco máximo, dado pelo ensaio de compactação. Admite um grau de
compactação superior a 95%.

EXEMPLIFICANDO!

Pretendendo-se instalar um aterro, uma amostra de solo representativa da


região foi coletada e submetida ao ensaio de compactação. Na tabela, a
seguir estão apresentados os dados pertinentes ao ensaio. Considere que o
cilindro extrator da amostra tenha 1000 cm³ e a massa específica dos grãos
do solo como sendo 2,65 g/cm³.

Ensaio 1 2 3 4 5
Massa do corpo
2,116 2,185 2,242 2,264 2,242
de prova [Kg]
Umidade do solo
22,07 23,70 25,90 27,97 30,09
compactado
76 UNIUBE

A partir destes dados, determine: (a) a curva de compactação deste solo; (b)
a massa específica seca máxima; e (c) a umidade ótima de compactação.

Antes de responder a cada item em específico, alguns cálculos se


fazem necessários para transformar os dados que temos nos dados que
precisamos.

Vamos encontrar a massa seca de cada amostra, utilizando a seguinte


relação:
Mw
w
= e M Mw + Ms
=
Ms

• isolando M na segunda equação:

Mw = w.Ms
• resolvendo a igualdade:

M w.Ms + Ms
=
M Ms (1 + w)
=
M
Ms =
1+ w

Em que: w é a umidade da amostra, Mw é a massa de água e Ms é a massa


seca do solo, ou massa das partículas sólidas.

Desta forma, temos:

Ensaio 1 2 3 4 5
Massa do solo
1,734 1,767 1,781 1,769 1,724
seco [Kg]
UNIUBE 77

Como o volume de solo coletado foi de 1000 cm³, volume dado pelo cilindro
utilizado na coleta da amostra, podemos escrever a massa específica do
solo seco em g/cm³ como sendo:

Ms.1000
ps =
Vc
Em que: é a massa específica seca, Ms a massa do solo seco em Kg e Vc
o volume do cilindro em cm³.
Logo:

Ensaio 1 2 3 4 5
Massa específica do
1,734 1,767 1,781 1,769 1,724
solo seco [g/cm³]

(a) Fazendo o gráfico da massa específica do solo seco pela umidade,


tem-se a curva de compactação deste solo, representada pela Figura 21:

Figura 21: Curva de compactação do solo.

(b) Analisando a Curva de Compactação do Solo, Figura 21, tem-se que a


massa específica seca máxima é da ordem de 1,782 g/cm³.

(c) Ainda por meio do gráfico, a umidade ótima de compactação é de


26,10%.
78 UNIUBE

2.5.3 Controle de compactação

A umidade e o peso específico do solo são fatores importantes que devem


ser determinados sistematicamente para verificar se a compactação está
sendo feita devidamente, pois a umidade deve ficar próxima da ótima. Um
rigoroso controle na compactação é importante, pois a permeabilidade,
compressibilidade e a resistência podem variar de acordo com o grau
de umidade e o grau de compactação.

Grau de compactação: é o quociente entre o peso específico aparente


obtido no campo e o peso específico máximo obtido no laboratório.

ys campo
G.C = x100
γ scmáx laboratório

E o desvio de umidade é assim representado:

∆W
= Wcampo − Wótima

A forma mais imediata de controle de compactação, que deve ser


obrigatória em toda obra de terra, baseia-se em algumas observações
de campo, tais como:

• manutenção da umidade de solo próxima à ótima por meio manual;


• lançamento das camadas com alturas regulares;
• homogeneização de camadas a serem compactadas;
• escarificação da camada compactada para haver maior entrosamento
com a camada superior.

DICAS

Se a compactação desejada não for atingida, o material deverá ser revolvido


e novamente compactado.
UNIUBE 79

Para isso, deve-se adotar a razão de compactação, que é definida por:


γ s − γ s min
CR% = x 100
γ smáx − γ s min

Em que:

γs = peso específico alcançado no campo;


γs min = peso específico mínimo (estado solto);
γs máx= peso específico máximo obtido por um ensaio de compactação.

O teor de umidade é determinado in situ, utilizando-se frigideira e solo e


álcool. Pesa-se o solo inicialmente (úmido) e seco. A relação entre eles
é a umidade.

RELEMBRANDO

Para estudar os ensaios de compactação é interessante rever os índices


físicos.

2.5.4 Ensaios

O ensaio de compactação prevê a aplicação de um determinado número


de golpes de um soquete sobre o solo, de modo que a massa específica
do solo após a aplicação dos golpes é função da umidade deste solo. É
importante ressaltar que a quantidade de partículas sólidas e o volume
de água não se alteram durante o experimento; o que acontece é um
rearranjo das partículas para que elas ocupem um volume menor do que
anteriormente, quando não compactadas. O ensaio de compactação
identifica uma determinada umidade ótima na qual o solo apresenta
massa específica seca máxima.
80 UNIUBE

2.5.4.1 Ensaio de Proctor

O ensaio mais aplicado para determinação da curva de compactação


do solo é o ensaio de Proctor, conforme ABNT NBR 7182 (1986).
Após coletada a amostra de solo, deve ser seca ao ar e destorroada.
O próximo passo é acrescentar água até que o solo esteja 5% abaixo
de sua umidade ótima. Uma porção deste solo deve ser colocada num
cilindro padronizado, cujo volume é de 1.000 cm³, e ser submetida a 26
golpes de um soquete, também padronizado, com 2,5 Kg, caindo de uma
altura de 30,5 cm.

Determina-se a massa específica do corpo de prova obtido e sua


umidade; com estes valores, calcula-se a densidade seca. A amostra
deve ser novamente destorroada, acrescenta-se água, cerca de 2%,
repete-se o procedimento. A operação deve ser repetida até que se
perceba que a densidade, depois de ter subido, já tenha caído em duas
ou três operações sucessivas. Em geral, é necessário executar de 5 a 6
vezes o experimento.

Com os dados em mãos, representa-se a densidade seca em função


da umidade. Ajusta-se uma parábola aos pontos. Como já dito, no
ponto de inflexão da parábola tem-se a densidade seca máxima à qual
corresponde a umidade ótima de compactação.

Como este, existem outros ensaios de compactação que se diferem


quanto ao número de golpes, o peso do soquete, dentre outras coisas.
A Tabela 7, a seguir, estão apresentados os principais ensaios e suas
propriedades.
UNIUBE 81

Tabela 7: Características dos ensaios de compactação


Dimensões do Cilindro Altura
Peso do Número
de
Ensaio Diâmetro Altura Volume Soquete de
Queda
[cm] [cm] [cm³] [Kg] Golpes
[cm]

Proctor
10,0 12,73 1000 2,5 26 30,5
Normal

Modificado 15,24 11,43 2085 4,536 55 45,7

Intermediário 15,24 11,43 2085 4,536 26 45,7

Fonte: Diego Mendonça Arantes.

Os ensaios de laboratório devem ser feitos com muita precisão e


consciência.

O ensaio para determinar a umidade ótima e o peso específico é o ensaio


de Proctor.

CURIOSIDADE

Foi proposto, em 1933, pelo engenheiro Ralph Proctor, que lhe deu este
nome!

O ensaio consiste em compactar uma porção de solo em um cilindro


de volume conhecido, repetindo para diferentes teores de umidade,
determinando-se para cada um deles, o peso específico aparente.

O ensaio é realizado conforme as especificações da obra, pois pode usar


três níveis de energia diferentes: normal, intermediária e modificada.

p.L.n.N
É definida pela equação: E =
V
82 UNIUBE

Em que:

E = energia aplicada no solo por unidade de volume;


P = peso do soquete;
L = altura de queda do soquete;
n = número de camadas;
N = número de golpes aplicados por camadas;
V = volume do solo compactado.

Por meio deste ensaio, é possível obter a densidade máxima do maciço


e melhor condição para a obra.

Na Figura 22, a seguir, apresentamos uma demonstração da curva de


compactação que se obtém com o ensaio.

Figura 22: Curva de compactação obtida em ensaio.


Fonte: Wikipédia, 2010.
UNIUBE 83

Para o traçado da curva, é conveniente a determinação de cinco pontos,


sendo que dois deles devem se encontrar na zona seca, dois na zona
úmida e um próximo à umidade ótima. A massa específica seca é
determinada pela fórmula γ d = γ e os teores de umidade são obtidos
1+ w
pelas cápsulas.

2.5.4.2 Curvas de resistência

É comum traçar, também, em função da umidade, a curva de variação


da resistência que apresenta o material compactado. A medida
dessa resistência é feita pela agulha de Proctor que, por meio de um
dinamômetro, é capaz de medir o esforço necessário para gravar no solo
ou no corpo de prova a agulha.

2.5.4.3 Ensaio Califórnia

É um ensaio de grande valor nas técnicas rodoviárias. O ensaio é feito


da seguinte maneira:

• determinação da umidade ótima e do peso específico máximo;


• determinação das propriedades expansivas do material;
• determinação do índice de suporte Califórnia.

Os ensaios são realizados com amostras de solo compactado em


condições padronizadas, dentro de um molde cilíndrico com, aproxima-
damente, 15 cm de diâmetro e 17,5 de altura provida de um colarinho
de 5cm de altura. Usa-se como fundo falso um disco espaçador. Com o
material que passa na peneira ¾”, realiza-se o ensaio de compactação,
determinando a umidade ótima e o peso específico máximo do solo.
84 UNIUBE

A determinação da expansão do material devido à absorção de água


se faz moldando-se um corpo de prova com umidade ótima e coloca-
-se um papel de filtro sobre ele e, acima do filtro, coloca-se um disco
perfurado, munido de uma haste ajustável com uma sobrecarga de, no
mínimo, 4,5 kg. Em seguida, faz-se a imersão do cilindro com a amostra
compactada dentro de um depósito e deixa por quatro dias. As expansões
progressivas e totais são referidas em porcentagem da altura inicial do
corpo de prova.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Considera-se que:

• subleitos bons tenham expansões menores de 3%;


• sub-bases tenham expansões menores de 2%;
• bases menores de 1%.

Há três grupos básicos de solo:

1. os coesivos com partículas menores, representados pelas frações


de silte e argila;
2. os granulares com partículas maiores, representados pelas areias e
cascalhos, são solos bem drenados;
3. os orgânicos que não são adequados para compactação.

PARADA PARA REFLEXÃO

Quais os tipos de equipamentos de compactação e qual o mais indicado


para compactar solos argilosos?

Quais os fatores que influem na compactação dos solos? Explique como se


dá essa influência.
UNIUBE 85

2.6 Rebaixamento de lençol freático

No Brasil, concentram-se 12% da água doce disponível no mundo.


Elas se encontram em rios, lagos, geleiras ou em regiões subterrâneas
(aquíferos). O Brasil possui a maior disponibilidade hídrica do planeta,
sua maior parte está na região norte. Apesar da pequena quantidade de
água que lidam os profissionais da construção civil, é importante estudar
o seu comportamento.

No ciclo hidrológico, as águas superficiais alteram o relevo, gerando


energia e abastecimento. Os aquíferos também são utilizados para
abastecimento e geram alterações. Os aquíferos encontram-se em
profundidades variadas, e grande parte de água precipitada nos
continentes penetra por gravidade no solo até atingir as zonas saturadas,
que são os lençóis aquíferos.

Quando é realizada alguma escavação e atinge esses lençóis, torna-se


necessário executar algum serviço a seco, é preciso que retire toda a
água para executar essa obra. Os solos possuem uma propriedade que
indica a maior ou menor facilidade que os mesmos oferecem à passagem
da água.

Essa propriedade é a permeabilidade, medida pelo coeficiente K, cujo


conhecimento é importante para os problemas de movimentação de água
no solo e, em particular, no rebaixamento dos aquíferos.

SAIBA MAIS

Quanto menor for o K, menor fluxo de água escoa pelos vazios do solo e,
assim, o solo é considerado impermeável.
86 UNIUBE

2.6.1 Sistema de rebaixamento de aquíferos

Para qualquer sistema de rebaixamento de lençol freático empregado,


o mesmo impõe uma diminuição das pressões neutras do solo e, com
isso, há um aumento nas pressões efetivas que podem causar sérios
recalques indesejáveis às estruturas situadas no raio de influência do
rebaixamento, principalmente se estiverem sobre camadas compressíveis
como argilas moles ou areia fofa.

Por isso, um projeto de rebaixamento propõe um estudo de recalques


dessas estruturas. Aquelas consideradas mais sensíveis devem ser
controladas por instrumentação (medidas de recalques e abertura de
fissuras) para a tomada de atitudes, evitando prejuízos.

O rebaixamento do lençol freático facilita a construção sob o lençol na


medida em que:

• melhora as condições de reaterro e escavações, pois quando estão


submersas, o custo é elevado e a obra é mais lenta;
• suprime a necessidade de utilização de ar comprimido na escavação
de túneis;
• diminui a carga lateral em estruturas de escoramento;
• intercepta a percolação da água que surge nos taludes ou no fundo
de escavações;
• eleva a estabilidade dos taludes, evitando o carreamento do solo dos
taludes e do fundo da escavação;
• permite manter inalteradas as condições de suporte do terreno
localizado nas imediações ao apoio da estrutura a ser construída.
UNIUBE 87

2.6.2 Métodos para rebaixamento de lençol freático

2.6.2.1 Bombeamento direto ou esgotamento de vala

É um sistema de rebaixamento simplificado, que consiste na coleta


de água por meio de valetas, conectadas a um ou mais poços,
estrategicamente posicionados, onde a água é acumulada e, à medida
que atinge um determinado volume, retirada da área trabalhada.

As bombas empregadas neste sistema de rebaixamento são de diversos


tipos e potências, sendo sua escolha normalmente feita de maneira
empírica. Os principais inconvenientes relacionados a este sistema são:

a) no caso de escavações embasadas por cortinas estanques contínuas,


a força de percolação da água pode causar perda substancial de
suporte quando o gradiente hidráulico for elevado, prejudicando os
trabalhos e até inviabilizando execução de fundações rasas. Caso
haja uma camada pouco permeável, pode ocorrer a súbita ruptura
do fundo da escavação, se não forem adotados drenos de alívio;

b) sempre que se usar este sistema de rebaixamento é importante


verificar se não ocorre carreamento de partículas do solo, observando-
-se regularmente a água na saída das bombas, para verificar se a
mesma está saindo limpa.

O escorregamento das partículas de solo, que é chamado de carreamento,


pode provocar recalques muito acentuados em estruturas próximas à área
de escavação. Tomando-se consciência que existe o escorregamento de
partículas do solo, deve-se melhorar a drenagem e a captação de água,
dispondo-se filtros, onde ocorrerem esses carreamentos.
88 UNIUBE

Onde a camada do solo apresenta uma pequena espessura em relação


à profundidade da escavação é o melhor lugar para que se realize o
bombeamento repousando sobre um extrato impermeável.

2.6.2.2 Sistema de rebaixamento com ponteiras filtrantes (well-


points)

É um método que se realiza com a instalação de ponteiras filtrantes,


ligadas a uma rede coletora por meio de condutos que possuem
registro, ao longo da área a ser rebaixada. Este método permite que
o lençol freático seja rebaixado em grandes áreas de escavações com
profundidade média de até 5 metros. Se for aplicada a implantação de
múltiplos estágios, pode ser aplicado em escavações mais profundas.

Os receptores são ligados a um equipamento composto


Escorva de bomba de vácuo, separador ar-água, bomba
Dispositivo centrífuga, que retira água do solo, fazendo com que
com que se
dá início à a pressão atmosférica recalque a água e promova
explosão de a escorva da bomba centrífuga e o consequente
uma carga
principal. bombeamento. Esse tipo de equipamento utiliza 40 a
60 metros de coletor e contém entre 30 a 40 ponteiras.

2.6.2.3 Ponteiras

As ponteiras são constituídas por um tubo de ferro galvanizado ou PVC,


com diâmetro de 1 1/4 ou 1 ½, terminado por uma peça com cerca de
1m de comprimento (a ponteira propriamente dita), perfurada e envolvida
por tela de nylon com malha de 6mm.

Também é possível executar a ponteira sem tela, fazendo-se ranhuras


de pequena espessura no tubo, porém este procedimento só é usado em
rebaixamentos de pequena profundidade e em solos predominantemente
arenosos (sem siltes ou argilas).
UNIUBE 89

As ponteiras são instaladas em perfurações prévias executadas com tubo


de aço galvanizado e circulação de água, analogamente ao processo de
perfuração com lavagem nas sondagens à percussão.

Quando o solo onde se instala a ponteira é de granulometria muito


fina, imediatamente após a instalação deve-se envolver a ponteira com
pedrisco e selar o topo com argila compactada.

Cada ponteira é ligada ao tubo coletor por um mangote flexível e um


registro, que serve para regular a vazão de água que passa pela mesma,
de modo a manter o trecho filtrante da ponteira sempre submerso, para
que não haja entrada de ar.

Quando se constata entrada de ar, regula-se o registro para uma menor


vazão, ou até se fecham alguns registros da rede.

Os registros, quando fechados, permitem a troca das ponteiras a eles


ligadas que estejam apresentando defeito. Por essa razão, é uma
boa prática de engenharia, e não se deve eliminar este equipamento
do sistema de rebaixamento, embora em rebaixamentos de pouca
responsabilidade, esta prática nem sempre é seguida.

2.6.2.4 Câmara a vácuo

É um recipiente feito por um prisma quadrangular ou também pode ser


feito por um cilindro ligado a uma bomba de vácuo que contém uma
mangueira coletora por onde se extrai a água do solo por meio de sucção
através das ponteiras. A câmara possui uma válvula de alívio que, ao
ser pressionada, permite a entrada de ar e diminui a entrada de água,
abaixando o nível da água dentro da câmara.
90 UNIUBE

2.6.2.5 Bomba a vácuo

São acopladas à câmara ou a uma tubulação com boa vedação. O ar


é retirado pela bomba fazendo sucção da água do solo por meio de
ponteiras.

2.6.2.6 Execução

São colocadas ponteiras, em poços com diâmetro de 10 a 15 centímetros,


conectadas a tubos que vão acima da superfície. Quando a ponteira
chega ao fundo do poço é realizada a vedação com argila. O tubo coletor
está ligado a um sistema de bombas que aspira a água do solo através
das ponteiras. Desse sistema sai uma mangueira de descarga que
conduz a água para um local mais apropriado. Esse sistema não pode
ser muito grande e deve haver um pequeno aclive no sentido das bombas,
evitando as bolsas de ar. Sua principal vantagem é o baixo custo.

2.6.2.7 Poços profundos

Podem ser com injetores ou com bombas de recalque submersas.


Se forem com o uso de injetores, os poços são executados com um
diâmetro entre 200 a 400 mm e com uma profundidade de até 40 metros.
A distância entre um e outro tem que ser de 4 a 8 metros. Para melhor
desempenho do sistema, deve-se usar um tubo filtrante.

Esse sistema trabalha como um circuito fechado onde a água é injetada


por uma bomba centrífuga através de uma tubulação horizontal que
possui saídas onde se conectam os tubos de injeções que conduzem a
água sob alta pressão. O nível do reservatório é mantido constante e o
excesso é conduzido para fora da obra.
UNIUBE 91

2.6.2.8 Bombas de recalques submersas

Servem para qualquer tipo de rocha ou solo, porém são posicionadas


individualmente em função das condições do solo. Sua perfuração e
instalação são iguais ao processo para uso de injetores. As bombas são
ligadas automaticamente por eletrodos ao entrar em contato com a água.

Essas bombas conseguem realizar o rebaixamento do lençol freático em


grandes áreas, chegando a atingir centenas de metros.

2.6.2.9 Drenagem por eletrosmose

É utilizada uma corrente elétrica contínua, que aumenta a eficiência do


sistema em se tratando de alguns solos siltosos ou argilas que possuem
granulometria fina, criando uma natureza elétrica que acelera o movimento
da água nos vazios do solo. Como este sistema utiliza muita corrente
elétrica, é mais utilizado para um processo de estabilização do solo.

2.6.2.10 Drenos

Existem vários drenos MS. Os mais usados para rebaixamento de lençol


freático são os drenos de alívio e os drenos horizontais profundos. Eles
podem ser indicados para drenar aquíferos em túneis.

2.6.2.11 Galeria de drenagem

São utilizadas quando outros sistemas não são viáveis, sendo que se usa
dreno de alívio para as rochas e drenos horizontais profundos para solos.
92 UNIUBE

2.6.3 Rebaixamento do lençol freático temporário ou permanente

A necessidade de rebaixamento de lençóis freáticos é temporária. O


rebaixamento é ativado muito antes do início da obra e desativado bem
depois do término da obra.

Em casos extremos, pode ocorrer que o lençol tenha que ser rebaixado
permanentemente, utilizando os mesmos sistemas, apenas aumentando
a durabilidade dos mesmos.

A escolha do sistema para rebaixamento do lençol freático depende:

Sondagens SPT
• do nível estático do lençol freático;
Standard
• cota do horizonte impermeável; Penetration Test
• cota do fundo de escavação;
• croqui de localização da área com detalhes de rios, vales, lagos,
mar etc.;
• sondagens SPT e descrição litológica.

REGISTRANDO

O rebaixamento do lençol pode trazer problemas ambientais, pois o sistema


retira a água dos lençóis e, em alguns casos, essa água que poderia ser
usada, não é aproveitada.

Resumo

Neste capítulo estudamos os seguintes conteúdos:

• Propagação, distribuição e os tipos de tensões


Conhecemos como ocorre a distribuição das tensões no solo, os tipos
de tensões e como calculá-las.
UNIUBE 93

• Resistência ao cisalhamento
Trabalhamos aspectos relacionados à resistência ao cisalhamento dos
solos e os principais ensaios utilizados para sua determinação, bem
como suas aplicações práticas.

• Compressibilidade e adensamento do solo


Entendemos o que é compressibilidade e adensamento do solo, os
fatores pelos quais são determinados e suas aplicações.

• Compactação
Aprendemos o que é compactação, sua aplicação e os principais
equipamentos utilizados para este fim.

• Estabilidade de taludes
Compreendemos o que é um talude, os aspectos que determinam sua
estabilidade e como identificar possíveis áreas de instabilidades.

• Rebaixamento de lençol freático


Verificamos quais são os tipos e em que circunstâncias deve-se utilizar
o rebaixamento do lençol freático e as principais técnicas utilizadas para
esta finalidade.

Atividades

Atividade 1

Depois de executado em aterro de areia, para a implantação de uma


indústria, foram determinados:

1 – o teor de umidade;
2 – o peso específico do aterro;
3 – o peso específico dos grãos;
4 – o índice de vazios máximo e mínimo.
94 UNIUBE

O grau de compactação específico no projeto é de 0,5 (– 2%; ±). Verificar


se o aterro está dentro da especificação:

Dados: γ nat = 1,5 g / cm


3

W = 9%
γ G = 2,85 g / cm3
emáx = 0,878

Atividade 2

Calcular as tensões totais, neutras e efetivas ao longo da profundidade.

NT 0
γ = 17 KN / m3
NA
–4
γ = 20 KN / m3

–6
γ = 22 KN / m3
– 10

Atividade 3

Fazendo-se um carregamento na superfície do terreno do exercício da


página 10, que provocou os seguintes acréscimos de tensão num ponto
à profundidade de 8 m:

Plano horizontal: Δσ = 81KPa; Δτ = 25KPa;


No plano vertical Δσ = 43KPa; Δτ = – 25 KPa e pressão neutra Δµ = 30
KPa.
UNIUBE 95

Determine o estado de tensões efetivas devido ao peso próprio e ao


carregamento feito, imediatamente após o carregamento e depois que
a pressão diminuiu.

Atividade 4

Escreva por que é importante calcular os recalques esperados


antecipadamente e continuar medindo durante a execução da obra.

Atividade 5

Sendo um corpo de prova adensado sob 400KPa e se logo após a


pressão confinada finada, for reduzida para 50KPa. Se continuar havendo
drenagem, haverá um aumento de volume? Pode-se estimar que ele
terá uma pressão neutra negativa? E como será a pressão desviada na
ruptura? Maior ou menor do que a do ensaio?

Referências

BAUD, G. Manual de construção. Tradução de Torrieri Guimarães.


São Paulo: Hermes livraria Editora Ltda, [19--]. 442 p.

Brinch-Hansen, J. (1970). A revised and extended formula for bearing capacity.


Danish Geotechnical Institute. Copenhagen, Denmark. Bulletin, 28: 5-11.

CAPUTO, H.P. Mecânica dos solos e suas aplicações. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e científicos Editora S.A. 242 p.

COELHO, S.Tecnologia das fundações. São Paulo: Edições EPGE, [19--]. 826p.

HACHICH, W.; FALCONI, F. F; SAES, J.L.; ROTA, R.G.; CARVALHO, S.S.;


NIYAMA, S. Fundações teoria e prática. São Paulo: Saraiva. 1996. 751p.
96 UNIUBE

HVORSLLEV, M. J. Time Lang and Soil Permeability in Ground Water


Observations: Vicksburg, Miss US Army Corps of Enginneers Waterwaus
Experiment Satation, Bullentin. 1951. p 36-50.

LEPSCH,I.F. Formação e conservação dos solos. São Paulo: Oficina de


Textos. 2002.

PINTO, C.S. Curso básico de mecânica dos solos. 3. ed. São Paulo: Oficina de
Textos. 2006. 355p.

SKEMPTON, A. W. The Pore Pressure Coefficients A and B, Geotechnique.


vol. IV, 1954, p. 143-147.

TERZAGHI, K. Theoretical Soil Mechanics. New York: John Wiley & Sons,
Inc. 1943.

WIKIPÉDIA. Ensaio de Compactação Proctor. 2010. Disponível em: <http://


pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Curva_de_compacta%C3%A7%C3%A3o.JPG>. Acesso
em: ago. 2010.
Capítulo
Aspectos práticos da
mecânica dos solos:
3
muros de arrimo e
barragens de terra
Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares
Diego Mendonça Arantes

Introdução
a mecânica dos solos estuda as características físicas, as suas
propriedades mecânicas (equilíbrio e deformação) do solo quando
submetido a acréscimos ou alívio de tensões. É uma disciplina
que procura prever o comportamento do maciço terroso quando
submetido a solicitações, por exemplo, obras de engenharia,
uma vez que, de uma forma ou outra, essas obras, muitas vezes,
fazem uso do próprio solo como elemento de construção (aterros
e barragens).

Segundo Nogueira (1988), o solo, sob o ponto de vista da


engenharia geotécnica, poderá ser utilizado tanto em suas
condições naturais quanto como material de construção. Em
sua condição natural, será usado como elemento de suporte
de uma estrutura, ou como a própria estrutura e como material
de construção, poderá ser usado, principalmente, na construção de
aterros para finalidades as mais diversas (bases de pavimentação),
sendo, nestes casos, possível dar ao solo as características
necessárias e desejadas em cada projeto.

O maciço terroso ao sofrer solicitações se deforma, modificando


sua forma e seu volume inicial. Tais deformações irão depender
das propriedades do solo, conteúdo já visto em Fundamentos
98 UNIUBE

de mecânica dos solos e algumas aplicações I. A determinação


das tensões no solo, sejam elas provenientes do peso próprio
ou de um carregamento externo, são de suma importância no
entendimento do comportamento de praticamente todas as obras
de Engenharia geotécnica.

Portanto, o cálculo da estabilidade e o comportamento funcional


da obra serão determinados, em grande parte, pelo desempenho
dos materiais usados nos maciços terrosos.

Nesse capítulo, abordaremos assuntos importantes referentes às


aplicações da mecânica nas obras de engenharia.

Bons estudos!

Objetivos
Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• compreender o comportamento dos solos quando submetidos


a solicitações provocadas por obras que envolvam o contato
direto ou indireto com os maciços terrosos;
• calcular e prever os sentidos e as direções das reações do
solo quando expostos a tensôes;
• utilizar o solo como base para alguns elementos de constru-
ção, como aterros, barragens e muros de arrimos.

Esquema
3.1 Pressões de terra
3.2 Empuxo de terra
3.3 Muros de arrimo
3.4 Introdução a barragens de terra e enrocamento
UNIUBE 99

3.1 Pressões de terra

No estudo de engenharia dos solos, é comum o cálculo das pressões


que atuam sobre uma determinada porção do solo, ou seja, o modo
como a distribuição das pressões podem afetar de maneira significativa
estruturas, como, por exemplo, barragens, contenções, fundações
etc. Muitos dos problemas que ocorrem nessas estruturas (recalques,
empuxos de terra, carga aplicada superior à capacidade) são decorrentes
da distribuição de pressões na massa do solo.

As pressões que existem na terra são oriundas do peso próprio do solo


(pressões virgens) e das cargas devido ao uso das estruturas (pressões
individuais) como, por exemplo, aterros e pavimentações. No caso das
pressões individuais, temos que analisar as pressões de contato e as que
são provocadas no interior do maciço de terra.

P
Os cálculos das tensões ( s = ) baseiam-se em modelos teóricos, uma
A
vez que os maciços terrosos são materiais naturais que possuem um
comportamento muito complexo devido a suas diferentes propriedades
e comportamento específico (geometria, heterogeneidade, anisotropia
etc.). Apesar dos modelos para cálculo serem teóricos, eles permitem
estabelecer importantes conclusões para o projetista de fundações e
obras de terra.

Em um elemento de solo, a profundidade z, conforme ilustrado na Figura


1, a seguir, atua na pressão vertical PV ,Z e horizontal PH ,Z .

Figura 1: Pressões no maciço terroso.


Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.
100 UNIUBE

Sendo:
PV ,Z = g . z

PH ,Z = K o . g. z

Em que:
g – peso específico do terreno;
ko – coeficiente de empuxo no repouso;
z – profundidade do solo.

Nos problemas que envolvem o cálculo de fundações, em geral, a


pressão vertical é a que mais interessa. Já, nos problemas de empuxos
de terras, o mais importante é a determinação da pressão horizontal.

3.1.1 Pressões devido ao peso próprio do solo

Nos solos, ocorrem pressões devidas ao peso próprio e às cargas aplica-


das. Na análise do comportamento dos solos, as pressões oriundas do
peso próprio têm valores consideráveis, e não podem ser desconside-
radas.

• Solo homogêneo

Nos solos em que o peso específico (g) é constante, ou seja, homogê-


neo, no decorrer da profundidade, podemos determinar a pressão no
ponto “A”, conforme apresentado na Figura 2, a seguir:

sz = g .z
Figura 2: Pressão devido à profundidade.
Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.
UNIUBE 101

• Solo heterogêneo

No caso de um terreno com superfície horizontal, constituído por


n camadas com diferentes pesos específicos gi , ou seja, um solo
heterogêneo (Figura 3), e espessuras hi ; a pressão vertical total sz
devida ao peso próprio pode ser determinada através do somatório dos
efeitos das diversas camadas.

Figura 3: Distribuição de tensões.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

i =n
s = å gh
Z i =1 i i

O peso de água contido nos vazios, ou poros do solo, também dá origem


a uma pressão que depende apenas de sua profundidade em relação ao
nível freático. Esta pressão é denominada de poro pressão ou pressão
neutra, e é representada pela letra m .

Quando o solo está saturado, abaixo do nível d’água, a pressão é obtida


pela seguinte equação:

m = ga z
102 UNIUBE

Em que ga é o peso específico da água e z é altura da coluna de água,


conforme ilustrado na Figura 4.

Figura 4: Distribuição de tensões e nível de água.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

A pressão no ponto B será dada como:

s = ( g1 . h1 ) + ( g . h2 ) + m
sat
¯
s = ( g1 . h1 ) + ( g . h2 ) + ( g . h2 )
sat

Sabe-se que nos solos existem dois tipos de pressões, uma absorvida
apenas pela água, denominada de pressão neutra ( m ) e a outra
absorvida pelos grãos, denominada pressão efetiva ( s ). À soma da
s
pressão neutra com a pressão efetiva resulta na pressão total do solo z .

i =n
Pressão total: sZ = å gi hi = ga . ha + gsat . z
i =1

Pressão neutra: m = ga z = ( ha + z ). ga

Pressão efetiva: s = s - m
UNIUBE 103

Todos os efeitos mensuráveis resultantes de variações de pressões nos solos,


como compressão, distorção e resistência ao cisalhamento, são devidas a
VARIAÇÕES DE PRESSÕES EFETIVAS.

EXEMPLIFICANDO!

Determinar e traçar o diagrama das pressões totais, efetivas e neutras do


esquema do solo, apresentado na Figura 5, a seguir.

Figura 5: Esquema do maciço terroso.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Resolução:
Camada 0,00 a – 4,00:
s = g . z = (1,6).(4,00) = 6, 40 tf / m ²
m = (0,00).(4,00) = 0,00 tf / m ²
s = s - m = 6, 4 - 0,00 = 6, 40 tf / m ²

Obs.: a pressão neutra nesta camada é nula, pois não temos a presença
de água na mesma.

s = g . z = (1,6).(4,00) + (3,00).(1,90) = 12,10 tf / m ²


m = (0,00).(4,00) + (1,00).(3,00) = 3,00 tf / m ²
s = s - m = 12,10 - 3,00 = 9,10 tf / m ²

Camada - 4,00 a – 7,00:


104 UNIUBE

Obs.: o valor adotado para ga =1,00 tf / m ³

• Camada -7,00 a – 11,00:

s = g . z = (1,6).(4,00) + (3,00).(1,90) + (4,00).(1,70) = 18,90 tf / m ²


m = (0,00).(4,00) + (1,00).(3,00) + (1,00).(4,00) = 7,00 tf / m ²
s = s - m = 18,90 - 7,00 = 11,90 tf / m ²

• Gráfico (Figura 6):

Figura 6: Gráfico da distribuição de tensões.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

3.1.2 Pressões devido a cargas aplicadas

As pressões surgidas devido ao efeito de cargas aplicadas na superfície


do maciço do solo são determinadas considerando que a porção
do solo seja “um maciço semifinito, elástico, homogêneo e isótropo”,
características que não são encontradas em um solo.

As cargas transmitidas pelas estruturas se propagam para o interior do


solo e se distribuem nas diferentes profundidades.

As pressões produzidas por carregamentos externos, cargas aplicadas,


serão tratadas no assunto tensões do solo.
UNIUBE 105

3.2 Empuxo de terra

O empuxo de terra é definido como sendo a ação horizontal produzida por


um maciço terroso sobre as obras que estejam em contato com o solo.

Os empuxos de terra podem ser classificados de três maneiras bem


distintas. Há o empuxo ativo, o passivo e o em repouso; entretanto, para
o estudo de estruturas de contenção, os empuxos predominantes são o
ativo e o passivo.

IMPORTANTE!

Para se projetar e construir obras que envolvam o contato com o solo (muro
de arrimos, cortinas de estacas-prancha, construção de subsolos, encontro
de pontes etc.) é fundamental que seja feita uma análise minuciosa dos
valores de empuxo de terra.

O valor do empuxo de terra, assim como a distribuição das pressões ao


longo do maciço terroso, depende da interação solo-elemento estrutural
durante todas as fases da obra. O empuxo que atua sobre o elemento
estrutural provoca deslocamentos horizontais, que irão alterar o valor e
a distribuição do empuxo, ao longo das fases construtivas da obra.

Segundo Caputo (1985), as teorias clássicas usadas para o cálculo do


empuxo de terra são a de Coulomb e Rankine. Neste capítulo, iremos
considerar apenas a teoria de Rankine.

3.2.1 Coeficientes de empuxo

Considere uma massa semi-infinita de solo e calcule a pressão vertical


sv em determinada profundidade z, conforme ilustrado na Figura 7:
106 UNIUBE

sv = g .z

Figura 7: Maciço de terra sujeito a pressões.


Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.

Em que:

g – Peso Específico;
z – Profundidade

Agora, elimine uma parte do maciço semi-infinito, substituindo por um


plano imóvel, indeformável e sem atrito, a fim de que o estado de tensões
da outra parte do maciço não sofra variações (Figura 8).

Figura 8: Distribuição de pressão.


Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.
UNIUBE 107

Nas condições adotadas anteriormente, a pressão sobre o plano


horizontal irá crescer linearmente de acordo com a profundidade z.

Essas pressões denominam-se pressões de repouso, e Ko coeficiente


de empuxo no repouso.

O empuxo no repouso é definido pelas tensões horizontais, calculadas


para condição de repouso. Neste caso, para a condição de semiespaço
infinito horizontal, o empuxo é produto do coeficiente de empuxo lateral
no repouso (ko) e da tensão efetiva vertical, acrescido da parcela da
poropressão.

sH = ko . sv = ko . g . z

Os valores do coeficiente de empuxo são obtidos experimentalmente,


conforme apresentado na Tabela 1, a seguir:

Tabela 1: Coeficientes de empuxo no repouso


Solo Ko
Argila 0,70 a 0,75
Areia solta 0,45 a 0,50
Areia compacta 0,40 a 0,45

Fonte: Caputo (1985, p.104).

3.2.2 Estado de equilíbrio ou estado plástico

Considere uma parede AB, conforme ilustrado a seguir, sujeita a um


pequeno deslocamento, Δ, de sua posição original. Como consequência
desse deslocamento, o maciço terroso irá se deformar, originando as
tensões de cisalhamento e ocasionando a diminuição do empuxo sobre
a parede AB, situação a.
108 UNIUBE

Caso ocorra o contrário, ou seja, a parede AB se desloca, Δ, ao encontro


do maciço terroso, serão produzidas tensões de cisalhamento no solo,
as quais ocasionarão o aumento do empuxo na parede AB, situação b,
Figura 9.

Figura 9: Estado de equilíbrio.


Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.

Os estados limites de equilíbrio ou estados plásticos são também


chamados de estados de Rankine.

3.2.3 Empuxo ativo x Empuxo passivo

Em estruturas de fundações, é comum a interação das estruturas com


o solo, implicando a transmissão predominante de forças verticais.
Entretanto, é comum a interação através de forças horizontais, empuxos
de terra, Figura 10.

Figura 10: Variação de k.


Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.
UNIUBE 109

Temos duas situações:

1. quando a estrutura tem função de suportar um maciço terroso –


forças de natureza ativa. O solo empurra a estrutura, que reage,
tendendo a afastar-se do maciço. Ex.: muro de gravidade;
2. diminuindo o esforço horizontal, mantendo o vertical constante →
expansão horizontal: Ka – coeficiente de empuxo ativo;
3. quando a estrutura é empurrada contra o solo – força de natureza
passiva. Ex.: pontes em arcos;
4. aumentando o esforço horizontal, mantendo constante o vertical →
compressão horizontal: Kp – coeficiente de empuxo passivo.

Há, também, casos que podem englobar simultaneamente as duas


situações referidas, desenvolvendo pressões ativas e passivas (Tabela 2).

Tabela 2: Distribuição da tensão de cisalhamento.

j graus Ka Kp

0 1,00 1,00
10 0,70 1,42
20 0,49 2,04
25 0,41 2,47
30 0,33 3,00
35 0,27 3,69
40 0,22 4,40
45 0,17 5,83
50 0,13 7,55
60 0,07 13,90

Fonte: Caputo (1985, p.108).

Observando a tabela e o gráfico, temos:

Ka < Ko < Kp
1
kp @
ka
110 UNIUBE

SINTETIZANDO...

Empuxo Ativo: é a pressão limite entre o solo e o muro produzido, quando


existe uma tendência de movimentação no sentido de “expandir” o solo
horizontalmente.
Empuxo Passivo: é a pressão limite entre o solo e o muro produzido,
quando existe uma tendência de movimentação no sentido de “comprimir”
o solo horizontalmente.

3.2.4 Teoria de Rankine

Esta teoria baseia-se na equação de ruptura do ciclo de Mohr, Figura 11,


e é caracterizada por cinco suposições:

• as substâncias que compõem o maciço terroso possuem as mesmas


propriedades físicas, ou seja, o solo é isotrópico;
• o maciço é composto por solos da mesma natureza: homogêneo;
• a superfície do solo é plana;
• a ruptura ocorre ao mesmo tempo em todos os pontos do maciço
considerado e sob o estado plano de deformação;
• superfície lisa – os empuxos de terras atuam paralelamente à
superfície do terreno.

Com Rankine, o deslocamento de uma parede irá desenvolver estados


limites, plásticos. No momento da ruptura, surgem infinitos planos de ruptura
e ocorre a plastificação de todo o maciço terroso, conforme Figura 12.

Figura 11: Círculos de Mohr representativos dos estados limites e de repouso.


Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.
UNIUBE 111

Figura 12: Estados plásticos ao longo da parede.


Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.

• Equações de Rankine para solos coesivos:

sV = sH . Nj + 2. c . Nj

sV
sH = - 2.c. Nj
Nj

Nj = tg ² ( 45 + j / 2)

s1 = sv e s3 = s
H

Em que:

j – ângulo de atrito interno;


C – coesão do material;

Com base nas equações anteriores, pode – se deduzir:

2. c
z=
g. K a

4.c
h = hcr =
g
112 UNIUBE

hcr
– altura crítica – local no qual o empuxo ativo sobre uma parede se
anula.
g . h²
Ea = - 2c.h
2

• Equações de Rankine para solos não coesivos:

sH = s3 = K a . g . h

sV = s1 = g . h

sH s3 1 æ jö
ka = = = ka = = tg ² çç45 - ÷÷÷
sV s1 Nj çè 2ø

sV s1 1 æ jö
kp = = = kp = = tg ² çç45 + ÷÷÷
sH s3 Nj çè 2ø

Caso a superfície do maciço terroso possua uma inclinação b , os valores


dos empuxos serão dados através das deduções analíticas de Rankine:

empuxo ativo:

1 cos b - cos ² b - cos ²j


Ea = . g . h ².cos b .
2 cos b + cos ² b - cos ²j

empuxo passivo:

1 cos b + cos ² b - cos ²j


E p = . g . h ².cos b .
2 cos b - cos ² b - cos ²j
UNIUBE 113

EXEMPLIFICANDO!

Calcular, pelo método de Rankine, o valor do empuxo ativo e passivo sobre


o muro, apresentado na Figura 13, a seguir.

Figura 13: Muro de arrimo.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Resolução:

– Valor do empuxo ativo:


• altura equivalente de terra
q 2,5 tf / m ²
ho = = = 1,667 m
g 1,5 tf / m ³

• pressão no topo do muro

po = ka . g . h

Pela tabela: ϕ = 30º → ka = 0, 33

po = 0,33.1,5.1,667 = 0,83 tf / m ²
114 UNIUBE

• pressão na base do muro


po = ka . g .(h + 7)

po = 0,33.1,50.(1,667 + 7) = 4,29 tf / m ²

• valor do empuxo ativo

• O valor do empuxo pode ser calculado através da área do trapézio


formado pela porção de terra.

( po + p ) (0,83 + 4, 29)
=Ea = .h = .7 17,92 tf / m
2 2

– Valor do empuxo passivo:

• altura equivalente de terra

q 4 tf / m ²
ho = = = 2,222 m
g 1,8 tf / m ³

• pressão no ponto A
po = k p . g . h

Pela tabela: ϕ = 45º → k p = 5,83


po = 5,83.1,8.2,222 = 23,32 tf / m ²

• pressão na base do muro


po = k p . g .(h + 4,5)

po = 5,83.1,80.(2,222 + 4,5) = 70,54 tf / m ²

• valor do empuxo passivo


( po + p ) (23,32 + 70,54)
=Ep = .h = .4,5 211,19 tf / m
2 2
UNIUBE 115

3.3 Muros de arrimo

3.3.1 Definição

Muros de arrimo são estruturas destinadas a conter massas de solo


cujos paramentos se aproximam da posição vertical, apoiadas em uma
fundação rasa ou profunda. São usados para prevenir que o material
retido (solo) assuma sua inclinação natural.

Os muros de arrimos podem ser construídos em alvenaria, em concreto


ou de obras especiais (blocos pré-fabricados, geotêxteis, gabiões). A
seguir, na Figura 14, estão ilustrados os componentes de um muro e
suas terminologias.

Figura 14: Terminologias utilizadas em muros de arrimo.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

3.3.2 Tipos

Os muros de gravidade são obras de contenção que têm a finalidade


de restabelecer o equilíbrio da encosta, através de seu peso próprio,
suportando os empuxos do maciço. São estruturas que se opõem às
forças que tendem a “empurrar” o talude por meio do próprio peso da
estrutura. São indicados para conter taludes inferiores a 5 m. Podem ser
construídos em pedras, concreto, gabiões ou até mesmo pneus.
116 UNIUBE

Os muros construídos em alvenaria de pedra


Gabiões
foram os mais comuns por muito tempo,
Segundo Bueno (2011),
gabiões são estruturas entretanto, devido ao alto custo da alvenaria,
que permitem soluções não estão mais sendo utilizados. Não é
adequadas e viáveis
às necessidades da recomendada a construção de muros com
Engenharia Civil,
sendo estruturas de mais de 2 m, quando construídos somente
grande durabilidade e com pedras e, neste caso, deve priorizar para
resistência, além de
serem mais econômicas o uso de pedras de mesma dimensão.
que as rígidas ou
semirrígidas por
possuírem algumas
vantagens, como a não
Para muros com mais de 3 m, deve-se
necessidade de mão fazer o preenchimento dos vazios entre as
de obra especializada,
e pelo fato de se pedras com concreto. Nesta concepção, não
apresentarem como
uma solução de fácil é requisito que as pedras tenham tamanhos
execução. São formados semelhantes. A Figura 15, a seguir, ilustra a
basicamente por um
arranjo de pedras estrutura de um muro de gravidade utilizando-
organizadas, seixos ou
pedras britadas, dentro -se somente pedras (a) e um utilizando pedras
de uma malha de arame preenchidas com concreto (b). Observe que
galvanizado, formando,
assim, uma estrutura esta última situação exige a implantação de
volumétrica, flexível,
permeável e armada. drenos, pois a colocação de concreto torna a
estrutura impermeável.

Figura 15: Modelo de muro de alvenaria.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 117

Muros de concreto são utilizados quando


Geossintético
necessitam atingir alturas superiores a 3
Segundo a NBR
m, mas não recomendados para alturas 12553 (2003), o termo
geossintético é usado
superiores a 4 m. Baseiam-se no preenchi- para a denominação
mento de formas com concreto, necessi- genérica de um produto
polimérico (sintético ou
tando, logo, de estruturas de drenagem de natural), industrializado,
cujas propriedades
águas. Esta estrutura de drenagem, muitas contribuem para
a melhoria de
vezes realizadas por furos no bloco de obras geotécnicas,
desempenhando uma
concreto, provoca manchas na face exposta ou mais das seguintes
do concreto. Pode-se realizar a drenagem funções: reforço,
filtração, drenagem,
na parte posterior do muro através de proteção, separação,
impermeabilização
geossintéticos. As figuras 16 e 17 ilustram e controle de erosão
superficial.
esta situação.

Figura 16: Modelo de muro de concreto – perfil. Figura 17: Modelo de muro de concreto – visão frontal.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Um gabião trata-se de uma caixa de forma prismática retangular, feita


com rede de malha hexagonal, feita por sua vez em arame galvanizado
reforçado, estruturas denominadas gaiolas. Estes gabiões enchem-se
com qualquer tipo de pedra não friável (p. ex. pedra de pedreira / ou
seixo) ou outro material adequado que esteja disponível. As gaiolas têm
usualmente 2 m de comprimento, 2 m de largura e 1 m de altura. É
interessante, mas não recomendado, que a rede metálica tenha arames
de aço com dupla torção para absorver deformações mais significativas.
118 UNIUBE

Muros de gabiões são altamente flexíveis de modo que a estrutura como


um todo é capaz de se acomodar no terreno, garantindo a estabilidade.
Observe que há uma leve tendência de inclinação sobre o talude. A
Figura 18 ilustra a instalação de um muro de gabião.

Figura 18: Modelo de muro de gabião.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Muros do tipo fogueira, ou crib wall, são moldados no próprio local, em


forma de “fogueiras” interligadas cujo interior deve ser preenchido com
pedras de pequenas granulometria, por exemplo, britas.

Muros de solo-cimento são estruturas formadas por camadas de sacos


e ráfia, por exemplo, preenchidos com uma mistura de solo-cimento (as
proporções recomendadas são 10:1 e 15:1 em volume). O solo deve estar
livre de pedregulhos, para que o cimento seja adicionado juntamente com
água. Depois de misturado, o solo cimento deve ser colocado nos sacos
(não se deve encher os sacos, no máximo, 70% do volume).

Já, no local da construção, os sacos serão dispostos horizontalmente e


desencontrados uns dos outros em camadas diferentes, promovendo-se,
UNIUBE 119

assim, a “amarração” dos mesmos. Apresenta-se vantajoso, dentre os


demais, devido ao baixo custo, tanto com mão de obra, quanto com
equipamentos, além da facilidade de construção, inclusive em formas
curvas. A Figura 19, a seguir, apresenta uma obra onde houve a utilização
de sacos de solo-cimento como estrutura de contenção de taludes.

Figura 19: Estrutura de contenção utilizando muros com


sacos de solo cimento.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Muros de pneus, como pelo próprio nome, são estruturas construídas por
meio da disposição horizontal de pneus amarrados preferencialmente
com arame e preenchido com material (solo). São também conhecidos
como muros de solo pneus.

IMPORTANTE!

Não se recomenda a construção destes muros em estruturas com mais de


5 m de altura.

Devido à alta deformabilidade da estrutura, recomenda-se seu uso em


obras de cunho ambiental, ou seja, para contenção de encostas contra
a erosão, estabilidade de taludes e encostas, contenção de voçorocas,
120 UNIUBE

dentre outras, devendo-se evitar seu uso em taludes de suporte a obras


civis, como rodovias e ferrovias. A face externa, ou exposta do muro
de solo pneus, deve ser revestida para evitar a erosão do material de
preenchimento dos pneus, bem como evitar a possibilidade de incêndios.

Com a invenção do concreto armado, várias novas modalidades


de muros de arrimo surgiram com o intuito de se reduzir o volume de
concreto e melhorando a ocupação das áreas a montante e a jusante
da estrutura. Os muros de flexão são constituídos por uma laje de fundo
e outra vertical, de paramento, tendo ou não vigas de enrijecimento.
Para a execução destes com maiores alturas, deve-se fazer o uso de
contrafortes. Neste sistema, é imprescindível a execução de um sistema
de drenagem adequado.

Uma série de outras estruturas ditas especiais podem ainda ser utilizadas
para estabilização de encostas. Podemos citar:

• cortinas cravadas: estrutura de contenção constituída por estacas


ou perfis cravados no terreno, as alturas atingem alguns poucos
metros e são deformáveis;

• tirantes: têm como objetivo ancorar massas de solo ou rochas por meio
do incremento de força gerado pela protensão destes elementos;

• chumbadores: são barras fixadas com calda de cimento com o


objetivo de conter blocos isolados, fixar muros de concreto armado
(bem como outras obras de concreto armado) sem o uso de
protensão;

• cortinas atirantadas: consideradas como de maior eficácia,


versatilidade e segurança dentre as obras de contenção, constituídas
basicamente pelo atirantamento no substrato resistente do maciço
de elementos verticais de concreto armado.
UNIUBE 121

3.3.3 Influência da água

A influência da água é bastante significativa no quesito estabilidade


da estrutura, uma vez que o acúmulo de água, devido à deficiência de
drenagem, pode chegar a duplicar o valor do empuxo que atua sobre a
estrutura.

A maioria dos problemas relacionados à estabilidade dos muros de arrimo


diz respeito à eficiência do sistema de drenagem adotado, pois nem
sempre os muros são capazes de suportar a pressão exercida pela água,
tanto de escoamento superficial, quanto de infiltração, levando toda a
estrutura ao colapso.

Para que não haja problema devido à influência da água sobre o muro
de arrimo, o sistema de drenagem deve ser eficiente e bem projetado.
Estes podem ser superficiais, para direcionamento das águas pluviais,
ou internos, quando das águas de infiltração.

Quando os sistemas de drenagem são superficiais, o dimensionamento


do sistema de direcionamento das águas pluviais não deve considerar
apenas a área de superfície do empreendimento, mas, sim, a área de
toda a bacia de contribuição que estará contribuindo, direcionando águas
para o sistema de drenagem ora projetado. Os sistemas de drenagem
superficiais podem fazer uso de canaletas em concreto, dissipadores de
energia, caixas coletoras, dentre outras.

Os sistemas de drenagem devem ter, conciliados aos seus projetos,


sistemas de proteção da superfície do talude para reduzir a infiltração
e a erosão decorrentes da chuva. Estes sistemas podem promover a
impermeabilização da superfície do talude ou a proteção por meio da
vegetação.
122 UNIUBE

Os sistemas de drenagem ditos subsuperficiais são: drenos, trincheiras


drenantes, filtros granulares e geodrenos. Têm como objetivo coletar
os fluxos de água do interior do muro e direcioná-los à parte externa do
mesmo. Sistemas internos de drenagem provocam o rebaixamento do
nível piezométrico; com isto, o gradiente hidráulico diminui e o fluxo de
água no sistema passa para um regime permanente. Entretanto, em solo
cujo gradiente hidráulico já é baixo, o rebaixamento do nível piezométrico
pode provocar inexistência de volume de água no sistema drenante, mas
nem por isso pode-se concluir que o dreno esteja deteriorado ou mesmo
havido colmatação. Para evitar isto, deve-se instalar piezômetros para
acompanhamento do nível.

3.3.4 Estabilidades de muros de arrimo

Na verificação de um muro de arrimo, sejam quais forem as suas


dimensões, devem ser investigadas as seguintes condições de estabili-
dade: tombamento, deslizamento, capacidade de carga da fundação e
ruptura global.

3.3.4.1 Segurança contra o tombamento

Conforme Silva e Santos (2005), o tombamento da estrutura do muro de


arrimo poderá ocorrer quando o bloco reforçado tender a rotacionar em
relação a um ponto de giro (A) posicionado na parte frontal inferior da
estrutura, ou seja, o momento do empuxo ativo em relação ao ponto “A”
situado no pé do muro supera o valor do momento do peso próprio da
estrutura (w) somado ao momento do empuxo passivo.

Para que o muro não tombe, o momento do peso do muro (momento


resistente) deve ser maior que o momento do empuxo total (momen-
to solicitante), ambos tomados em relação à extremidade externa da
base, ou seja, ponto A da base, conforme ilustrado na Figura 20.
UNIUBE 123

Figura 20: Diagrama de forças no muro de arrimo.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

=C .S RES ≥ 1, 5
SOLIC

Em que:

C.S = coeficiente de segurança;

M SOLIC = soma dos momentos das forças que tendem a tombar o muro;

M RES = soma dos momentos das forças que tendem a resistir

W .x1 + Eav . x2
=C.S ≥ 1, 5
1
E . .h
ah 3

3.3.4.2 Segurança contra deslizamento

A estrutura tende a deslizar em relação à fundação sobre a qual está


apoiada, no sentido do carregamento, devido à aplicação do empuxo
ativo. Nesse caso, deverá haver uma força resistente atuante na base da
estrutura com a função de opor-se a tal movimento, mais a componente
do empuxo passivo, caso a estrutura esteja engastada, a fim de contrapor
o deslizamento.
124 UNIUBE

A verificação de segurança contra o deslizamento no equilíbrio das


componentes horizontais das forças atuantes, com a aplicação de um
fator de segurança adequado:

C.S DESLIZ=
∑F
RES
≥ 1,5 → C.S DESLIZ=
EP + S
≥1,5
∑F
SOLIC EA

Em que:

∑F RES
= somatório das forças que resistem ao deslizamento;
∑F SOLIC
= somatório das forças solicitantes;
E A = empuxo ativo;
EP = empuxo passivo;

S = esforço de cisalhamento na base do muro.

3.3.4.3 Segurança quanto à capacidade de carga do terreno de


fundação

Esta verificação é necessária para analisar as pressões que são


aplicadas na fundação pela estrutura de arrimo. As pressões que atuam
no maciço não devem ultrapassar o valor da capacidade de carga do solo
de fundação, a fim de evitar o colapso.

Essa capacidade de carga, na realidade, é uma verificação de segurança


da estrutura contra o rompimento e a deformação excessiva do maciço
terroso sobre a fundação. Para tanto, considera-se a estrutura do muro
como rígida e a distribuição de tensões linear ao longo da base.

Esta condição é satisfeita quando a maior das pressões é menor do que


a pressão admissível do terreno.
qu
C.S
= ≥3
q máx
UNIUBE 125

Em que:
C .S – Coeficiente de Segurança;
qu – capacidade de carga (ruptura) do solo de fundação;

qMáx
=
∑W .  1 + 6. e  e=
b  M RES − M SOLIC 
−
  
b  b  2  W 
Em que:

∑W – somatório das forças verticais;


e – excentricidade;
b – largura da base do muro.

3.3.4.4 Segurança contra ruptura total (muro – solo)

A última verificação refere-se à segurança do conjunto muro-solo. É


analisada a possibilidade de ruptura total por cisalhamento do terreno
(camada mais profunda do conjunto muro-solo) segundo uma superfície
de escorregamento ABC, conforme ilustrado a seguir, Figura 21:

Figura 21: Ruptura total.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
126 UNIUBE

A verificação de um sistema de contenção quanto a sua segurança em


relação à estabilidade geral consiste na verificação de um mecanismo
de ruptura total do maciço.

=C.S
∑M resis
≥ 1,3 obras provisórias e 1,5 obras permanentes
∑M instab

EXEMPLIFICANDO!

Verificar a estabilidade do muro de arrimo de contenção de concreto,


representado na Figura 22, quanto ao tombamento, ao deslizamento e a
capacidade de carga do terreno de fundação. Sabe-se que o peso específico
do concreto é λ = 23,5 kN/m³.

Dados:

Solo 1:

γ 1 =10 KN / m³
ϕ = 30º
C1 = 0

Solo 2:

γ 2 =10 KN / m³
ϕ = 25º
C2 = 8 KN / m²
UNIUBE 127

Figura 22: Muro de arrimo.


Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.

Resolução:

1º Verificação quanto ao tombamento:

• Cálculo do empuxo:

1
=EA . γ . H ². K a − 2. c . H . K a
2

 ϕ
=K a tg ².  45 − 
 2
 30 
K=a tg ².  45 − =  0,333
 2 

1
E A =.10.(4,5 + 1, 00)².0,333 − 2.0.5,5. 0,33
2
E A = 50,37 KN / m
128 UNIUBE

• Cálculo do Momento Resistente:


Tabela 3: Dados obtidos do problema
Peso (w)– (KN) Momento
Seção Área – m² Braço de Alavanca – m
A . γ concreto – KN.m

1 1 2  19,39
.0,5.4,5 =1,13 1,13.23,5 = 26,56  .0,5  + 0, 4 =
0, 73
2 3 

2 1, 2.4,5 = 5, 40 5, 40.23,5 =126,90 1, 2 190,35


+ 0, 4 + 0,5 =
1,5
2

3 1 1,13.23,5 = 26,56 1  60,29


.0,5.4,5 =1,13  .0,5  + 2,10 =
2, 27
2  3 

4 3 105,75
3, 00.1, 00 = 3, 00 3, 00.23,5 = 70,50 =1,50
2

Solo 1 -
1 2  24,30
triângulo .0,5.4,5 =1,13 1,13.10, 00 =10, 00  .0,5  + 2,10 =
2, 43
2 3 

Solo 1 -
0, 4 50,40
Retângulo 0, 4.4,50 =1,80 1,80.10, 00 = 18, 00 + 2, 60 =
2,80
2

∑ – 278,52 - 450,48

• Cálculo do Momento solicitante:

H
∑M =E A .
3
5,5
∑ M 50,37.
= = 92,35 KN .m
3
UNIUBE 129

• Coeficiente de Segurança:

M RES 450, 48
C.S
= = = 4,88 ≥ 1, 5 → ok
M SOLIC 92,35

• Considerando o empuxo passivo:

 ϕ
=K P tg ².  45 + 
 2
 25 
K=P tg ².  45 + =  2, 46
 2 

1
EP = . γ . H ². K P
2

1
EP = .10.1,5².2, 46
2
EP = 27, 68 KN / m

• Momento do empuxo passivo:

H
∑M =E P .
3
1,5
∑ M 27,
= = 68.
3
13,84 KN .m

• Coeficiente de Segurança:

M RES 450, 48 + 13,84


C.S
= = = 5, 03 ≥ 1, 5 → ok
M SOLIC 92,35
130 UNIUBE

2º Verificação quanto ao deslizamento da base:

C.S DESLIZ=
∑F RES
≥ 1,5 → C.S DESLIZ=
EP + S
≥1,5
∑F SOLIC EA

EP + S E + ( w. tgϕ 2 + b.c2 ) 20,86 + (278,52. tg 25 + 3.8)


C.S DESLIZ = ≥1,5 = P = = 3, 47 ≥1,5 ok
EA EA 50,37

3º Verificação quanto à capacidade de carga do terreno de fundação:

 5,5 
 450, 48 − 50,37. 
b  M − M SOLIC  3 3
e = −  RES  → e= −  = 0, 21 m
2  W  2  278,52 
 

qMáx
∑W .  1 + 6.=
e 278,52  6.0, 21 
=   . 1 + =  131,83 KN / m²
b  b  3  3 

qu
C.S = ≥ 3 → qu = 3. qmáx = 3. 131,83= 395,50 KN / m²
qmáx

PESQUISANDO NA WEB

Para conhecimento e aprofundamento de seus estudos, sugerimos que faça


uma pesquisa na internet sobre os principais tipos de muros de arrimo, sua
função, bem como sua utilização.

3.4 Introdução à barragem de terra e enrocamento

Definição: barragens de aterro é um tipo de barragem de terra e/ou rocha


que funciona de modo a reter a água.

Os principais tipos de barragens não rígidas são as de terra e de


enrocamento.
UNIUBE 131

Dentre as principais finalidades de uma barragem, podemos destacar


as seguintes:

• obtenção de energia elétrica;


• irrigação de terrenos agrícolas;
• abastecimento público;
• controle de cheias e regularização de vazões;
• criação de peixes;
• bebedouros para animais.

As barragens com este tipo de finalidade são nomeadas de barragens


de acumulação.

Há também as barragens que são destinadas aos desvios dos cursos de


água, sendo, portanto, denominadas de barragens de derivação.

3.4.1 Barragem de terra

Barragens de terra são aquelas formadas por solos de jazidas ou


oriundas de escavações obrigatórias, que são compactadas através
de equipamentos mecânicos (rolos), com a finalidade de se reduzir a
porosidade do solo e obter determinada espessura da camada.

As barragens de terra são divididas em:

• barragem de terra simples com corpo homogêneo – constituída por


um único material impermeável, Figura 23.

Figura 23: Barragem homogênea.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
132 UNIUBE

• barragem de terra simples com corpo heterogêneo – constituída por


um material impermeável e outro permeável, conforme ilustrado na
Figura 24.

Figura 24: Barragem heterogênea.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

• barragem de terra heterogênea zoneada – constituída por um solo


impermeável entre zonas de solos permeáveis, Figura 25.

Figura 25: Barragem zoneada.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Neste tipo de barragem de terra, os materiais permeáveis (areia e


pedregulho) localizam-se na parte externa funcionando como drenos.

• barragem mista – constituída por vários tipos de materiais (argila,


areia, blocos de pedras e britas), sendo seu núcleo constituído por
um material impermeável.

3.4.2 Barragem de enrocamento

Uma barragem de enrocamento é formada por um maciço de blocos


de rocha compactados em camadas, cuja vedação é obtida através de
uma membrana impermeável. Esta pode ser colocada a montante ou
UNIUBE 133

no centro da barragem, verticalmente ou inclinada, podendo ser de solo


impermeável, concreto armado, concreto asfáltico, aço etc. A Figura 26
ilustra uma barragem de enrocamento.

Figura 26: Barragem de enrocamento.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

3.4.3 Requisitos para dimensionamento das barragens

A construção de barragens contribui para o abastecimento da população


e para a preservação e recuperação de recursos hídricos, desde que
sejam tomados os devidos cuidados no dimensionamento e execução.
Porém, a construção de uma barragem gera impactos ambientais
significativos e, sendo assim, estudos e pesquisas que amenizem estes
impactos de forma a torná-los menos impactantes devem ser realizados.

Os pré-requisitos para dimensionamento de uma barragem são os


seguintes:

• projetar a barragem a mais econômica possível;


• projetar a barragem segura e funcional;
• princípio do controle de fluxo - vedação e drenagem;
• princípio da estabilidade;
• princípio da compatibilidade das deformações;
• escolha do local;
• evitar a construção da barragem sobre nascentes, pois a pressão
da água pode comprometer a estabilidade do aterro;
• possuir solo estável;
134 UNIUBE

• não apresentar afloramentos rochosos;


• ser um estreitamento ou uma garganta do curso d’água;
• possuir pequena declividade a montante;
• ter a montante mais espraiada possível;
• não possuir estratificações salinas no leito da represa;
• possibilitar o uso de água por gravidade;
• estar próximo do ponto de extração da terra usada no aterro;
• volume de água a armazenar e altura da barragem.

Resumo

Chegamos ao final deste capítulo referente aos conceitos de mecânica


dos solos e pressões. Apesar de introdutório, pode-se notar que muitos
conhecimentos são exigidos para a completa compreensão do conteúdo.
Observe, então, que este é um capítulo multidisciplinar. Se algum
conteúdo não foi bem assimilado, retome a leitura fazendo anotações
dos principais pontos-chave.

Esperamos que você, no que diz respeito à mecânica dos solos, tenha
compreendido o solo como material de engenharia, e saiba como
determinar a interação solo-estrutura. Uma vez que todas as obras de
engenharia civil apoiam-se sobre uma fundação, transmitindo ao solo
todos os esforços oriundos do peso próprio da estrutura e demais ações.
UNIUBE 135

Atividades

Atividade 1

Determine as pressões neutras, efetivas e totais da figura ilustrada a


seguir.

Figura: Esquema do maciço terroso.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Atividade 2

Escreva os tipos de empuxo de terra existentes e identifique quais os


mais importantes para efeito de cálculo de contenções.
136 UNIUBE

Atividade 3

Calcular, pelo método de Rankine, o valor do empuxo ativo sobre o muro.

Figura: Esquema do muro de arrimo.


Fonte: Larissa Soriani Zanini Ribeiro Soares.

Atividade 4

Diferencie empuxo ativo de passivo.

Atividade 5

Escreva o que são, e quais são os principais tipos de muros de arrimo.


UNIUBE 137

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12553: Geossintético:


Terminologia. Rio de Janeiro, 2003.

BUENO, Fagner S. et al. Aplicação do Estudo de Flexão Normal Composta a


Muros de Contenção Construídos com Gabiões. UCG. Disponível em: <http://
www2.ucg.br/nupenge/pdf/Fernanda_Posch_Rios.pdf>. Acesso em: 19 set. 2011.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: exercícios e problemas


resolvidos. vol. 3. Rio de Janeiro: LTC, 1975.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 5. ed. Rio de Janeiro:


LTC, 1985.

NOGUEIRA, J. B. Mecânica dos solos. EESC/USP, 1988.

SILVA, Jaime Duran; SANTOS, Petrucio Junior. Estruturas de Solo Reforçado


com o Sistema Terramesh. 2005. Disponível em: <http://www.maccaferri.com.br/
download/enc_ter.pdf >. Acesso em 19 set. 2011.

WICANDER, R.; MONROE, J. S. Fundamentos de Geologia. São Paulo: Cengage


Learning, 2009.
Capítulo
Movimento da água
nos solos
4

Tiago Zanquêta de Souza


Diego Mendonça Arantes

Introdução
Neste capítulo, vamos abordar conteúdos de extrema importância
para que você entenda como são aplicados os cálculos que
permitem promover a estabilidade dos taludes, além de entender
e perceber a água como um fator preponderante para essa
estabilidade. Você, ao longo de mais essa leitura, perceberá a
complementaridade que aqui é trazida, aos conteúdos por você
já estudados sobre a temática mecânica dos solos.

Pretendemos aqui explicar a você que a água é necessária para


cada ser vivo e influencia de maneira direta ou indireta os princi-
pais fenômenos e mecanismos que ocorrem nos solos. O intempe-
rismo, os processos de formação, atividade biológica, crescimen-
to de plantas, assim como, poluição do lençol freático, recebem
impacto direto do regime hídrico dos solos.

Como você já sabe, a água chega no solo por meio da chuva,


infiltra, preenche a capacidade de armazenamento no solo, é
conduzida pelo solo para camadas mais profundas e alimenta
o lençol freático e aquíferos. A fração que não penetra no solo,
escoa alimentando diretamente os lagos, rios e oceano. A fração
armazenada é em parte disponível para as plantas, sendo
absorvida e transpirada ao mesmo tempo e evapora diretamente
do solo para a atmosfera.
140 UNIUBE

As relações solo-água apresentadas neste capítulo, estão


associadas aos principais processos que regem o ciclo da água
para as engenharias.

Conhecer os tipos de taludes existentes, quais as técnicas e


cálculos utilizados para prever e assegurar sua estabilidade,
além de perceber qual a influência da água nos solos, é o que
esperamos que você possa compreender até o final do estudo
deste capítulo.

Bons estudos!

Objetivos
Ao final do estudo deste capítulo, esperamos que você esteja
apto(a) a:

• identificar os vários tipos de taludes;


• aplicar os cálculos relativos à estabilidade de taludes em
obras ligadas à engenharia ambiental;
• propor medidas para correção de instabilidade de taludes,
provocadas pelo movimento da água no solo;

Esquema
4.1 Erosão
4.2 Fatores que influenciam nos processos erosivos
4.3 Consequências dos processos erosivos
4.4 Práticas conservacionistas contra a erosão em áreas de cultivo
4.5 Estabilidade de taludes
4.6 Influência da água
UNIUBE 141

4.1 Erosão

A erosão é um processo natural de transporte e deposição de materiais


das rochas e dos solos. Ocorre principalmente devido à ação da água,
do vento, do gelo e também de microrganismos. Entretanto, a ação
humana contribui mais aceleradamente nos processos erosivos tendo
como consequência a perda de solos, a poluição da água, assoreamento
de corpos d’água, dentre outros fatores.

Os processos se desencadeiam devido às alterações sobre o meio,


provocadas pelo uso e ocupação do solo, adequada ou inadequada-
mente, desmatamento, expansão da agricultura e pecuária e execução
de obras civis.

Como resultado destes processos, a sociedade vem pagando caro


devido aos danos ambientais, por vezes, irreversíveis, pois os processos
erosivos têm causado perda de áreas férteis diminuindo a produtividade
agrícola, redução da produção de energia elétrica devido à perda de
volume útil causada pelo assoreamento dos reservatórios, redução do
volume de água disponível para abastecimento urbano e encarecimento
do processo de tratamento destas águas.

EXEMPLIFICANDO!

O desmatamento, causando perda do equilíbrio que


Voçorocas
havia entre o solo e a vegetação, expõe a camada
Processo
superficial do solo (rica em nutrientes, banco de erosivo que
sementes, dentre imensas outras características se forma
principalmente
biológicas) à erosão, deixando a parte inferior do solo pela ação
da água, em
(o subsolo), exposto. Este, muito menos resistente, rochas do tipo
sedimentar
sujeito à erosão, pode resultar na formação de voçoro- (arenosa).
cas, que quando não controladas ou estáveis, é capaz
de ameaçar obras urbanas, além de causar outras grandes perdas.
142 UNIUBE

Desta forma, é imprescindível a identificação de áreas mais ou menos


suscetíveis a este tipo de erosão. Para isto, podemos recorrer aos planos
de conservação de área, zoneamento ambiental através do plano diretor
para regulamentação das ações tomadas referentes a uso e ocupação
do solo.

As erosões são classificadas conforme o processo erosivo. Sendo assim,


vamos entender um pouco mais sobre cada um destes processos.

4.1.1 Erosão hídrica

A erosão hídrica é causada pela água e é considerada como o maior dos


processos erosivos, podendo ocorrer das seguintes formas:

– Erosão pluvial

Erosão provocada pela água das chuvas, podendo ocorrer tanto em


superfície, quanto em subsuperfície, através da infiltração.

A ação mecânica das gotas da chuva que ocorre por causa da força com
que as gotas da chuva caem sobre o solo, provocando o deslocamento
das partículas do solo e consequentemente seu carreamento junto
ao fluxo de escoamento. O escoamento superficial somente acontece
quando a quantidade de chuva que cai em determinado local for maior
que a capacidade de infiltração daquele solo, podendo formar enxurradas.

As enxurradas vão carregando pouco a pouco a camada superficial


do solo junto ao escoamento da água. A água que infiltra no solo
pode arrastar sais minerais, tornando o solo mais pobre, pois dificulta
a captação destes pelas raízes das plantas. Estes dois processos de
erosão derivados do escoamento superficial e da infiltração das águas
pluviais podem provocar a formação das voçorocas, principalmente em
terrenos arenosos sem cobertura vegetal.
UNIUBE 143

A erosão pluvial configura-se como principal fator de perda de produti-


vidade em solos agrícolas. Contudo, vários outros fatores devem ser
avaliados conjuntamente: o potencial erosivo da chuva, a suscetibilidade
à erosão do solo, o comprimento da encosta, o ângulo de inclinação
desta encosta, as práticas de conservacionistas aplicadas e as culturas.

Pode ocorrer de forma laminar, quando a água corre de maneira uniforme


sobre a superfície, sem formar canais preferenciais de escoamento, ou
ainda pode ocorrer em sulcos, quando a água se concentra em sulcos
no terreno, transportando grande quantidade de partículas, podendo
formar ravinas.

– Erosão fluvial

Erosão provocada pela ação das águas dos rios, fortemente influenciada
pelas altas correntezas capazes de provocar grandes alterações nas
margens.

O simples fato de se ter materiais em suspensão no fluxo do rio é capaz


de provocar o desgaste das rochas onde o rio está em contato, moldando
seu curso. O material retirado das margens é carregado e depositado.

Este material pode ser transportado da seguinte maneira:

• em solução, dissolvido na própria água;


• em suspensão, quando as partículas do solo são transportadas pelo
fluxo;
• em matações ou saltações, quando partículas maiores são roladas
ou “saltam” no leito do rio.
144 UNIUBE

Durante o tempo, devido à erosão fluvial, o


Meandro
rio tem seu curso moldado pela formação dos
Curva acentuada de
um rio que corre em
meandros. Pode-se dizer que mais antigos
sua planície aluvial serão os rios quanto mais meandros ele tiver.
que muda de forma
e posição com as Contudo, esta afirmação depende de vários
variações de maior ou
menor energia e carga fatores, por exemplo, o tipo de rocha.
fluviais durante as
várias estações do ano.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Procure exemplos brasileiros da expressão da erosão fluvial quando da


formação de meandros, por exemplo, sobre a formação do Rio Amazonas
e o Rio São Francisco.

– Erosão marinha

Erosão provocada pelas águas do mar que vão desgastando materiais


através da ação mecânica e das reações químicas.

Por este motivo, considera-se costas marinhas como sendo:

• de abrasão, quando alta e escarpada;


• de praia, ou acumulação, geralmente baixa e arenosa.

A água do mar, por meio de processos químicos, decompõe materiais


rochosos, e a ação mecânica das águas, manifestada pelas ondas,
provoca fraturas nas rochas.
UNIUBE 145

4.1.2 Erosão eólica

Erosão provocada pela ação dos ventos, que carregam as partículas da


superfície do solo, e, em seu trajeto, estas partículas agem como lixas,
provocando o desgaste de rochas e alterando suas formas.

Quando a direção do persiste para um mesmo local, as partículas


acabam se depositando numa mesma região, é assim que se formam
as dunas, que são grandes depósitos de areia encontrados em praias
e também em desertos. Este tipo de erosão ocorre principalmente em
locais planos, de baixa precipitação, pouca vegetação e ventos fortes.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

A invasão das areias das dunas das praias do nordeste tem sido motivo de
preocupação para a administração pública local. Os sites indicados a seguir,
apresentam as medidas adotadas para controle da invasão no Ceará e Rio
Grande do Norte. Leia-os e faça uma avaliação das propostas.
• <www.fortaleza.ce.gov.br/semam/index.php?option=com_content&tas
k=view&id=44&Itemid=58>.
• <noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI55655-EI714,00.html>.

4.1.3 Erosão glacial

É a erosão causada pela ação do gelo, podendo ocorrer da seguinte


forma: as águas pluviais percolam pelas fendas das rochas e num evento
de frio intenso, quando estas águas se congelam, ocupando mais espaço,
provocando a quebra da rocha. Os blocos de gelo que se desprendem
das geleiras, vão deslizando pelas montanhas, atritando-se contra elas
e desgastando-as.
146 UNIUBE

4.1.4 Erosão biológica

Caracteriza-se por ser um processo erosivo decorrente da ação de


organismos, como por exemplo, através do crescimento de vegetais em
fendas de rochas, provocando a quebra das mesmas.

4.1.5 Erosão química

Este tipo de erosão abrange todos os processos químicos que ocorrem


em todas as forças anteriores de erosão. São condicionados ao calor, ao
frio, à quantidade de água disponível e os compostos biológicos.

4.2 Fatores que influenciam nos processos erosivos

Vejamos os 6 principais fatores que influenciam nos processos erosivos:

• chuva: sendo a ação da água o principal agente erosivo, a


chuva configura-se como o fator climático de maior importância.
A intensidade e duração da chuva vão determinar o volume e a
velocidade da enxurrada;
• infiltração: pode-se resumir que quanto maior a infiltração, menor
será a quantidade de água disponível para escoar superficialmente,
logo, menor será a intensidade da enxurrada. Entretanto, quanto
maior a infiltração, maior será o arraste de minerais, empobrecendo
o solo;
• topografia: a declividade e o comprimento da encosta têm
peso importante na intensidade da erosão, pois a quantidade de
material em suspensão arrastado depende da velocidade do fluxo
de escoamento superficial e, esta velocidade, relaciona-se com o
comprimento da encosta e sua inclinação;
• cobertura vegetal: é a proteção natural do solo contra a erosão,
pois oferece proteção diretamente contra os impactos das gotas
no solo, promove a dissipação da energia do fluxo de água. Com
a decomposição das raízes, os canalículos aumentam a infiltração
e a matéria orgânica no solo aumenta sua capacidade de retenção
de água;
UNIUBE 147

• tipo de solo: as propriedades do solo, dentre elas sua estrutura,


textura e permeabilidade, exercem significativas influências na
erosão, conferindo maior ou menor resistência à ação das águas;
• intervenções humanas: são várias as ações humanas que acele-
ram o processo erosivo, dentre elas: o desmatamento; a construção
de favelas em encostas; a impermeabilização do solo, impedindo a
infiltração e aumentando o escoamento superficial.

4.3 Consequências dos processos erosivos

• Assoreamento de rios e lagos, ou seja, perda de volume devido ao


aporte de sedimentos. Num evento de chuva intensa, estes rios ou
lagos não conseguem absorver o volume e acabam provocando
grandes enchentes.
• O escoamento superficial arrasta consigo adubos e pesticidas,
concentrando-os nos rios e lagos.
• Aumento da turbidez das águas, diminuindo a absorção de luz pelas
plantas, para realização de fotossíntese.
• Perda de fauna e flora de fundo de leito por soterramento.

CURIOSIDADE

Um convênio entre o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica)


da Secretária de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo e o IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas) da Secretaria de Ciência, Tecnologia
e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, firmado em 1985,
promoveu o levantamento da ocorrência de erosões em todo o Estado.
Os resultados foram sintetizados no Mapa de Erosão do Estado de São
Paulo. Foram registrados neste levantamento cerca de 750 erosões de
grande porte em áreas urbanas e 7000 em todo o território estadual. 183
municípios foram considerados de alta criticidade, destacando as cidades
de Bauru, Franca, Presidente Prudente, Marília, São José do Rio Preto; 352
de média criticidade e 110 de baixa criticidade. A maior parte dos municípios
considerados de alta criticidade (cerca de 28%) estão concentrados no
148 UNIUBE

Oeste Paulista, enquanto que, a maioria dos municípios do Estado (55%


do total) foi considerada de média criticidade. Apenas 17% dos municípios
paulistas (cerca de 110) foram considerados de baixa criticidade.

4.4 Práticas conservacionistas contra a erosão em áreas de


cultivo

• Execução de curvas de nível: num terreno com declive acentuado,


ou simplesmente em declive, devem-se fazer curvas de nível; até
mesmo o plantio de culturas deve ser realizado nesta mesma linha,
num mesmo nível, para diminuir a força da enxurrada e evitar a
erosão do solo. A Figura 1, a seguir, ilustra esta situação.

Figura 1: Plantio em curvas de nível.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

• Execução de terraços: quando a encosta for muito inclinada, o


cultivo, se realizado em terraços, semelhante a degraus, diminuirá
a velocidade da água de escoamento superficial, reduzindo a
velocidade e evitando a erosão, conforme Figura 2.

Figura 2: Plantio em degraus.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 149

• Execução de barreiras de retenção: é entendido como o plantio


em consórcio entre espécies vegetais diferentes numa mesma área.
Um bom exemplo é o plantio de algodão em faixas intercaladas de
cana-de-açúcar, pois as raízes de cada uma destas culturas se fixam
em profundidades diferentes, logo, funcionam como barreiras para
enxurrada.
• Evitar desmatamentos e queimadas: neste critério, em se tratando
de evitar o desmatamento e as queimadas, apenas a conscientiza-
ção será capaz de reverter este cenário.

CURIOSIDADE

O Império Inca foi uma cultura andina pré-colombiana que existiu na


América do Sul desde 1200 a 1500 (estas datas são divergentes conforme
bibliografia consultada). A capital do Império foi a cidade de Cusco. No ápice
da civilização, por volta do ano 1400, a agricultura espalhou-se por todo
o território com o cultivo de grãos. O território Inca era muito acidentado,
principalmente na região andina, mas como o plantio era realizado em
terraços (degraus), utilizando a técnica de plantio em curvas de nível,
garantiu-se o sucesso revelado por pesquisas, que indicam que os Incas
chegaram a cultivar cerca de 700 espécies vegetais. Foram também os
primeiros a usar o sistema de irrigação.

4.5 Estabilidade de taludes

As superfícies de terrenos inclinados, ou seja, não horizontais, são


conhecidas como taludes e podem ser tanto naturais, (e, neste caso,
também são denominados encostas), quanto artificiais, quando
decorrente de atividades humanas, principalmente obras civis.

Devido à inclinação existente nos taludes, estes ficam sujeito à ação


de forças gravitacionais e com a infiltração de água, as forças de
percolação tendem a mover o talude para baixo. Quando a estrutura do
150 UNIUBE

solo que oferece resistência não é suficiente para conter a ação destas
instabilidades, o terreno passa a se mover, ocorrendo a ruptura do talude.
Os movimentos de terra são classificados quanto sua velocidade: rastejo,
escorregamento e desmoronamento.

O rastejo é caracterizado por movimentos lentos e contínuos ocorrendo


nas camadas superficiais do terreno. Não se caracteriza como uma
ruptura propriamente dita, pois os movimentos são da ordem de
milímetros por ano, contudo, podem provocar curvamento de árvores,
deslocamento de cercas. A velocidade do rastejo está condicionada a
fatores como a geometria do talude e umidade do solo.

Os desmoronamentos são movimentos rápidos resultante da ação da


gravidade sobre a massa de solo que cai ao pé da encosta destacando-
se do restante do maciço. Os escorregamentos podem ser lentos ou
rápidos, procedentes do deslocamento de uma parte do maciço em uma
superfície bem definida.

A ação da água é muito importante e tem sido causa de muitos escorre-


gamentos, pois ao infiltrar em um maciço, a água potencializa a ocorrên-
cia de deslizamentos através de propagação de força de percolação,
aumento do peso específico do solo e perda de resistência do solo.

A ação humana também interfere na estabilidade de taludes, alterando


sua geometria por meio de cortes, escavações e aterros. Caso as
encostas não consigam manter suas conformações estáveis após
intervenções humanas, será necessária a execução de obras para
garantir a estabilidade e a segurança contra o tombamento. Isto pode
variar desde um simples retaludamento para adequar a conformação
para uma situação estável, até obras de contenção com muros de arrimo
e sistema de drenagem.
UNIUBE 151

4.5.1 Escorregamentos em taludes urbanos

Os escorregamentos e movimentos de massa têm causado acidentes em


várias cidades brasileiras, geralmente com dezenas de vítimas fatais. São
muitos os exemplos destes acidentes no Brasil; assim, iremos abordar
alguns mais recentes (Quadro 1).

Quadro 1: Deslizamentos recentes ocorridos no Brasil.


Como poderia
Cidade O que Onde Quando
ter sido evitado

Planejamento
municipal frente
à observação por
meio de estudos
geotécnicos das
Deslizamento áreas de riscos.
Niterói/RJ Morro do
de um antigo Abril de No lixão, os
Bumba,
lixão, hoje 2010 resíduos não são
Niterói/ RJ
urbanizado compactados, logo
é uma estrutura
instável para
qualquer tipo de
construção inclusive
moradias.

Deslizamento Planejamento
Enseada do
de uma municipal frente
Bananal, Ilha
Angra dos encosta Janeiro à observação por
Grande, Baía
Reis/RJ atingindo uma de 2010 meio de estudos
de Angra dos
pousada e geotécnicos das
Reis/RJ
sete casas áreas de riscos

Monitoramento
Rodovia geotécnico das
Deslizamento
Bertioga/ Mogi-Bertioga, Dezembro condições da
da encosta
SP no Km 89, em de 2009 encosta e realização
da rodovia
Bertioga/SP de obras de
readequação
Fonte: Diego Mendonça Arantes.
152 UNIUBE

No que tange às análises de estabilidade dos taludes, é preciso ponderar


que estas têm como objetivos em:

• encostas naturais: verificar, nesse caso, se é preciso a construção


de barreiras de contenção ou de e criação de medidas de estabili-
zação (Figura 3);

Figura 3: Taludes de encostas naturais.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

• escavações ou cortes: verificar a estabilidade, observando a


necessidade da criação de medidas de estabilidade (Figura 4);

Figura 4: Cortes ou escavações para estabilidade dos taludes.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 153

• barragens: selecionar a forma da barragem de modo que seja


economicamente viável, o que implica em estudos de diversas
etapas da obra: finalização de construção, operação, se haverá ou
não rebaixamento de reservatório;
• aterramentos: analisar a seção de forma a selecionar a forma
economicamente viável. Neste caso, são necessários estudos
considerando diversos momentos da obra: finalização de construção
e a longo prazo (Figura 5);

Figura 5: Estabilização de taludes em aterros.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

• rejeitos urbanos, de áreas mineradas e de indústrias em geral:


a exploração de minas e a produção de elementos químicos exigem
o armazenamento ou descarte volumes consideráveis de detritos ou
rejeitos, muitas vezes em curto intervalo de tempo e em áreas em
que o solo é de baixa resistência (Figura 6);

Figura 6: Técnicas de alteamento.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
154 UNIUBE

• retroanalisar taludes rompidos, sejam eles naturais ou construí-


dos, reavaliando-se, para isso, os parâmetros de projeto.

Como aponta Chorley et al. (1984), são nove tipos de taludes (Figura 7)
existentes, que apresentam dois diferentes tipos de perfis de encostas
(Figura 8), em casos separados:

Figura 7: Tipos e formas geométricas de encostas. Taludes LL (linear linear); LV (linear convexo);
LC (linear côncavo); VL (convexo linear); VV (convexo convexo); VC (convexo côncavo); CL
(côncavo linear); CV (côncavo convexo) e CC (côncavo côncavo).
Fonte: Adaptado de Chorley (1984).

Figura 8: Dois diferentes perfis de encosta.


Fonte: Adaptado de Chorley (1984).
UNIUBE 155

As formas de instabilidade de maciços terrosos ou rochosos podem não


se apresentar bem caracterizadas ou definidas, podendo, por isso, se
dividir quanto aos seguintes tipos de movimento, (conforme você já viu
anteriormente) com complementações:

• desprendimento de terra ou rocha: é um pedaço de um rochedo


terroso ou de fragmentos de rocha que se separa do resto do
maciço, caindo livre e rapidamente, acumulando-se onde paralisa.
É um acontecimento localizado. É evitável pelos processos comuns
de precaução e, quando indispensável, utilizando-se os recursos
estabilizadores (Figura 9);

Figura 9: Desprendimento de terra ou rocha.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

• escorregamento: é o destroncamento rápido de uma massa de solo


ou de rocha que, rompendo-se do maciço, escorrega para baixo e
para o lado, ao longo de um plano deslizante. Caso o movimento
seja seguido de rotação (solo coesivo homogêneo) ou translação
(solo estratificado), os movimentos receberão as terminologias:
escorregamento rotacional e escorregamento translacional (figura
10 e 11);
156 UNIUBE

Figura 10: Escorregamento de talude ou encosta: movimentos circulares ou


rotacionais.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Figura 11: Escorregamento de talude ou encosta: movimentos planares ou translacionais.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Se o plano de ruptura passar por um local afastado do pé (base) do


talude, será escorregamento profundo ou ruptura de base ou ruptura
sueca. Se o plano de deslizamento passar acima ou pelo pé do talude,
será um escorregamento superficial ou ruptura de talude.
UNIUBE 157

• rastejo “creep”: é o deslocamento lento e continuado de estratos


superficiais sobre estratos mais profundos, com ou sem limite
determinado entre a massa de terreno que se desloca e a que
continua estacionária. A velocidade de rastejo é, comumente,
muito pequena. Esse movimento é naturalmente identificado
devido à curvatura que apresentam os troncos de árvores, ao
leve tombamento ou até mesmo inclinação de postes, sulcos e
rachaduras nos solos (Figura 12).

Figura 12: Escorregamento de talude: movimentos de rastejamento.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Constituem-se motivos de um escorregamento: acréscimo de peso do


talude, abrangendo as cargas aplicadas e redução da resistência ao
cisalhamento do maciço. Os motivos classificam-se em: externos e
internos. Motivo muito corriqueiro de escorregamento é a escavação
próxima ao pé do talude, para implantação de um empreendimento.

• Motivos internos: potencial de absorção de água pelos grãos –


porosidade – tipo de rocha.
• Motivos externos: acontecimento de precipitações, acarretando
demasia de umidade, diminuindo a resistência ao cisalhamento.
• Motivos imediatos: que pode ser, por exemplo, uma forte tempatade.
158 UNIUBE

Os taludes são jugulados a três campos de força: peso, escoamento


da água e resistência ao cisalhamento. Os métodos de estudos
consistem em calcular as tensões em todos os pontos do meio e compará-
las com as tensões resistentes, para verificação de zonas de ruptura
e de equilíbrio – método de análise das tensões; e também em isolar
massas arbitrárias e estudar as condições de equilíbrio, pesquisando a
de equilíbrio mais desfavorável – métodos de equilíbrio – limite.

Vários são os métodos utilizados para a estabilização de taludes. Alguns


dos mais usados são:

• diminuição da inclinação do talude (método simples, que consiste


na suavização de seu ângulo de inclinação ou, então, através da
execução de um ou mais patamares, como mostra a Figura 13);
• drenagem superficial e profunda;
• revestimento do talude;
• emprego de materiais estabilizantes;
• muros de arrimo e ancoragens;
• emprego de materiais estabilizantes;
• utilização de bermas;
• prévia consolidação da fundação.

Figura 13: Suavização de angulação de talude: no primeiro caso, à esquerda, observa-se a


retirada de boa porção de terra com a finalidade de diminuir a inclinação do talude. À direita,
observa-se que a retirada de terra, da encosta, se deu por meio de bermas (degraus).
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

As águas superficiais ou de infiltrações influem na estabilidade dos


taludes. Daí a importância dos diferentes tipos de drenagem, tanto
superficial, através de canaletas, como profundas, por meio de furos
horizontais.
UNIUBE 159

4.6 Influência da água

A maioria dos problemas relacionados à estabilidade dos taludes diz


respeito à eficiência do sistema de drenagem adotado, pois nem sempre
os muros são capazes de suportar a pressão exercida pela água, tanto
de escoamento superficial, quanto de infiltração, levando toda a estrutura
ao colapso.

Para que não haja problema devido à influência da água sobre o talude,
o sistema de drenagem deve ser eficiente e bem projetado. Estes podem
ser superficiais, para direcionamento das águas pluviais, ou internos,
quando das águas de infiltração.

Quando os sistemas de drenagem são superficiais, o dimensionamento


do sistema de direcionamento das águas pluviais não deve considerar
apenas a área de superfície do empreendimento, mas sim a área de toda
a bacia de contribuição que estará contribuindo, direcionando águas ao
sistema de drenagem ora projetado. Os sistemas de drenagem superficial
podem fazer uso de canaletas em concreto, dissipadores de energia,
caixas coletoras, dentre outras.

Os sistemas de drenagem devem ter, conciliados aos seus projetos,


sistemas de proteção da superfície do talude para reduzir a infiltração
e a erosão decorrentes da chuva. Estes sistemas podem promover a
impermeabilização da superfície do talude ou a proteção por meio da
vegetação.

Os sistemas de drenagem ditos subsuperficiais são: drenos, trincheiras


drenantes, filtros granulares e geodrenos. Têm como objetivo coletar
os fluxos de água do interior do muro e direcioná-los à parte externa
do mesmo. Sistemas internos de drenagem provocam o rebaixamen-
to do nível piezométrico, com isto o gradiente hidráulico diminui e o
fluxo de água no sistema passa para um regime permanente.
Entretanto, em solo cujo gradiente hidráulico já é baixo, o rebaixamento
160 UNIUBE

do nível piezométrico pode provocar inexistência de volume de água no


sistema drenante, mas nem por isso pode-se concluir que o dreno esteja
deteriorado ou mesmo havido colmatação. Para evitar isto, deve-se
instalar piezômetros para acompanhamento do nível.

A água é um dos fatores mais importantes em estudos de estabilidade,


pois pode apresentar pressão positiva ou negativa e estar em movimento
ou não em condição de fluxo. A mudança nas poropressões, alteram
a tensão efetiva e, consequentemente, a resistência do solo, o que
promove a variação do peso da massa em função de mudanças no
peso especifico. O desenvolvimento de fluxo gera erosões internas e/ou
externas e atua como agente no processo intempérico, o que promove
modificações nos componentes mineralógicos da rocha.

São muitas as fontes originárias de um fluxo aquático, dentre eles, a


chuva e a neve, que são resultado do ciclo hidrológico, esquematicamente
representado na Figura 14, a seguir.

HORIZONTE MENOS PERMEÁVEL

Figura 14: Ciclo hidrológico.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Parte do volume de água que cai sobre a costa, repõe a carga de rios,
lagos e mares, e parte é interceptada pela vegetação. Do volume de água
que a vegetação retém, parte volta à atmosfera por evapotranspiração
UNIUBE 161

e o restante ou é absorvido pela própria vegetação ou é absorvido pelo


terreno. Do volume de água que cai na superfície do solo, parte infiltra
e parte escoa ou fica retido em depressões superficiais. A umidade do
solo é modificada devido a esse movimento da água, podendo alterar a
posição da superfície freática; dependendo da estratigrafia, chega a gerar
um fluxo subsuperficial.

Pode-se subdividir o perfil do solo com água em 3 zonas, conforme


ilustrado na Figura 15:

• região não saturada – de contato com a água;


• zona capilar – capilar parcial e totalmente saturado;
• região saturada – lençol freático.

Na região saturada, a poropressão é positiva. Nas demais, apresenta


valores negativos, sendo denominada sucção.

Figura 15: Sistema de água no solo.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
162 UNIUBE

4.6.1 Região não saturada

Em solos não saturados, a água não preenche totalmente os vazios.


Por isso, as tensões no fluido são negativas (Figura 16), denominadas
sucção. Nestas condições, o solo apresenta uma coesão aparente, que
é determinada pela variação e presença de umidade no solo.

Figura 16: Tensões na água.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Acima do lençol freático, em que há contato com o ar do solo e do


ambiente, não há saturação. Nesta região, a umidade pode ser derivada
de processos de infiltração da água de chuva ou por capilaridade
(movimento da água para cima), através dos vazios (Figura 17).

Figura 17: Distribuição de poropressão.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.
UNIUBE 163

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre o fenômeno da capilaridade, acesse o site: <http://


www.eng.uerj.br/~denise/pdf/fluxo.pdf>.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Capilaridade nos solos

A distribuição de poropressão é determinada pelo ambiente, com a presença


ou ausência de água. Logo, na presença de água, a sucção surge com
o tempo e aumentará durante as secas, ou estiagens, pois a taxa de
evaporação aumenta; e reduz nas épocas chuvosas, devido aos processos
de infiltração (Figura 18).

Figura 18: O tempo como fator determinante da variação das distribuições


de poropressão.
Fonte: Acervo EAD-Uniube.

IMPORTANTE!

Sobre a sucção, acesse o site: <http://www.eng.uerj.br/~denise/pdf/


resistenciacisalhamento_nsat.pdf>.
164 UNIUBE

4.6.2 Regime de fluxo

A água, na natureza, está em permanente movimento, uma vez que


é decorrente de fluxos regionais que se desenvolvem devido às
características geológicas, topográficas e hidráulicas (Figura 19). O fluxo
tem velocidade lenta e laminar.

Figura 19: Os dois principais regimes de fluxo.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

Os poros permitem a passagem do ar ou da água. Quando permitem


a passagem da água, são chamados e conhecidos como aquíferos.
Isso não quer dizer que todos solos apresentam essa propriedade. O
que determina isso é o contraste de permeabilidades com os materiais
circundantes; ou seja, a exemplo, uma camada de solo siltoso pode se
tornar um aquífero somente se estiver contida entre camadas argilosas.

Os aquíferos podem estar confinados entre 2 camadas impermeáveis.


Se assim não estiver, não estará confinado. Geralmente, os aquíferos
confinados são saturados. Aquíferos não confinados não estão essencial-
mente saturados, mas podem apresentar nível d’água considerável.
UNIUBE 165

Camadas consideradas como não sendo aquíferos representam barreiras


para a movimentação da água. Assim, é provável encontrar situações em
que um perfil apresenta mais de um nível d’água, denominado, por isso,
como nível d’água suspenso (Figura 20).

Figura 20: Nível d’água em suspensão.


Fonte: Acervo EAD-Uniube.

SAIBA MAIS

Para que você possa ter acesso ao fundamentos teóricos que explicam a
estabilidade de taludes, acesse o site: <http://www.fag.edu.br/professores/
deboraf/Funda%E7%F5es/2%20Bimestre/TALUDES.pdf>.

Não deixe de acessá-lo para sua leitura e análise. Em caso de dificuldades,


entre em contato com seu professor tutor e também tire suas dúvidas nos
encontros presenciais. Esse conteúdo é de fundamental importância para
sua formação.

Esperamos ter colaborado, até aqui, com sua aprendizagem, que é de


suma importância para sua vida como profissional das engenharias.
166 UNIUBE

Resumo

O exame da estabilidade de taludes pode ser feito por meio de métodos


determinísticos ou probabilísticos. Uma análise de estabilidade é
desempenhada, comumente, para determinação das condições de
projeto que satisfaçam e condicionam a segurança mínima necessária.
Ainda assim, mesmo sob condições adequadas de projeto, não são
incomuns os casos de rupturas de taludes.

É aconselhável, que em casos como este, se proceda a análise da


estabilidade do talude destroncado com a finalidade de se identificar
os parâmetros dos materiais, as condições de carregamento e as
características geométricas que geraram a ruptura.

O cálculo do fator de segurança contra a ruptura de taludes, nas


análises determinísticas convencionais, abarca informações e caracteres
numéricos que podem sofrer significativa variabilidade, devido à própria
heterogeneidade dos solos, característica essa que é extremamente
natural. A análise de probabilidades é realizada com a finalidade de
quantificar as dúvidas desprezadas nos métodos determinísticos,
possibilitando a obtenção do índice de confiabilidade.

No que diz respeito à percolação da água no solo, você viu que nele
existem milhões de canais verticais ou tubos. Estes são chamados “tubos
capilares”. Sempre que há um aguaceiro, o excesso de água escorre
para baixo da terra pelos tubos capilares. Quando o tempo está seco, os
mesmos tubos conduzem a água para a superfície. As árvores alargam
suas raízes nesses tubos capilares – que também contêm alinhamentos
de fungos que são higroscópicos (atraem água) – e com suas raízes
laterais elas absorvem a água capilar quando está seco e quente.
É assim que uma árvore suporta o calor. Em rochas, miúdas fendas
invisíveis obram como tubos capilares. Em resumo, esse é um dos mais
expressivos estudos com relação ao movimento da água nos solos.
UNIUBE 167

Atividades

Atividade 1

Alguns fatores interferem nos processos erosivos dos solos. Quais são
estes fatores? Explique cada um deles.

Atividade 2

Quais são os tipos de movimentos de terra, típicos de áreas de


instabilidade de taludes? Como podem ser caracterizados esses
movimentos?

Atividade 3

Os diferentes métodos de fatias propostos na literatura (Bishop


Simplificado, 1955; Janbu Simplificado, 1968; Morgenstern & Price,
1965; Sarma 1973, 1979; entre outros) se diferenciam conforme as
simplificações adotadas no processo de cálculo, geralmente em relação
às forças entre fatias e no modo de se determinar a força normal N na
base da fatia.
Tendo em vista o pequeno texto anterior, responda qual a diferença entre
o método Bishop Simplicado e o método Janbu Simplificado.

Atividade 4

Na natureza, a água pode apresentar pressão positiva ou negativa e


estar em movimento ou não sob condição de fluxo. Escreva quais são
as influências da água na estabilidade de encostas (taludes).

Atividade 5

Qual a importância dos fenômenos capilares para a engenharia?


168 UNIUBE

Referências

BOSCOV, M. E. G. Geotecnia Ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

CAMPOS, E. P. Influência da sucção na estabilidade de taludes naturais em solos


residuais. 3º Simpósio Regional de Mecânica dos Solos e Engenharia de
Fundações. v. 1: 31 – 49, 1985.

CHORLEY, R. J., SCHUMM, S.A.; SUGDEN, D.E. Geomorphology. London:


Methuen, 1984.

Estabilidade de taludes. Disponível em: <http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/


tesesabertas/0310980_05_cap_04.pdf>. Acesso em: 19 set. 2011.

VARGAS, M. Introdução à Mecânica dos Solos. 1. ed. São Paulo: McGraw Hill do
Brasil, 1974.
Anotações
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
Anotações
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________

Você também pode gostar