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Curso/Disciplina: Direito Civil (Obrigações)

Aula: Teoria do Adimplemento – 16


Professor (a): Rafael da Mota Mendonça
Monitor (a): Luis Renato Ribeiro Pereira de Almeida

Aula 16

TEORIA DO ADIMPLEMENTO: NOVAÇÃO

1. Requisitos da novação (continuação).

O terceiro requisito da novação é a simultaneidade: a nova obrigação surge no mesmo momento em


que a anterior (originária) é extinta.

Se a nova obrigação for anulável e vier a ser anulada, o efeito será o restabelecimento da obrigação
anterior. Ademais, se a nova obrigação for anulável, a anterior só será extinta quando o vício da nova
obrigação for sanado.

O mesmo se aplica nas hipóteses em que a nova obrigação apresenta uma condição, termo ou encargo
(elementos acidentais do negócio jurídico). Se há um negócio jurídico condicional, a obrigação anterior só será
extinta quando a condição for implementada na nova obrigação, ou seja, quando esta produzir todos os seus
regulares efeitos. No caso do termo, a anterior somente será extinta com o implemento do termo.

Nada impede que a nova obrigação seja uma obrigação natural. A obrigação natural produz efeitos e
cria direitos, somente não é uma obrigação exigível.

O quarto requisito é o animus novandi, isto é, a intenção de novar. A novação só ocorre, extinguindo a
obrigação anterior pela criação de uma nova, quando presente o animus de novar.

O art. 361 dispõe nesse sentido.

Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma
simplesmente a primeira.

O elemento definidor é o animus novandi, que pode ser expresso ou tácito. No animus novandi tácito
devem ser analisadas as circunstâncias do caso concreto.

Exemplo de animus novandi expresso: pessoa que celebra 5 contratos de mútuo com uma instituição
financeira, mas não consegue adimplir todos. Neste caso, é possível que as partes acordem em extinguir os 5
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contratos e celebrem um novo contrato. Portanto, fica expressamente demonstrado o animus de novar com
a extinção dos 5 contratos pela criação de um novo.

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Para que o animus novandi tácito fique configurado deve estar presente o critério da incompatibilidade.
Ou seja, a nova obrigação deve ser incompatível com a anterior. Sem animus novandi e sem a
incompatibilidade entre as obrigações, a nova obrigação apenas confirmará a anterior.

Há novação, portanto, quando a segunda obrigação é incompatível com a anterior, o que demonstra
que a criação da segunda teve a intenção de extinguir a primeira.

Por conta do critério da incompatibilidade, não se considera novação a simples prestação e uma nova
garantia real, a dilação de prazo, a modificação de uma taxa de juros, a repactuação do número de prestações
etc. A incompatibilidade não está tacitamente presente. Para que seja considerada novação deve-se
demonstrar a existência de um elemento novo, que qualifica a novação.

Deve-se observar sempre o elemento novo. E a partir desse elemento novo são trabalhadas as espécies
de novação, previstas no art. 360 do CC/02.

2. Espécies de novação.

A novação pode ser classificada em:

a) Novação objetiva ou real (art. 360, I):

Ocorre quando o devedor contrai uma nova dívida para extinguir a primeira (originária). A obrigação
não precisa ser da mesma natureza. A nova obrigação tem objeto distinto: o elemento novo é o próprio objeto.

Art. 360. Dá-se a novação: I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir
a anterior;

b) Novação subjetiva (art. 360, II e III):

A novação subjetiva nada mais é do que a extinção da obrigação originária pela criação de uma nova
em razão da alteração dos sujeitos, credor (novação subjetiva ativa) ou devedor (novação subjetiva passiva).
O elemento novo não está no objeto, mas nos sujeitos da relação jurídica.

Portanto, a novação subjetiva ativa é extinção da obrigação originária pela criação de uma nova em
razão da alteração do credor (inc. III); enquanto a novação subjetiva passiva é extinção da obrigação originária
pela criação de uma nova em razão de um novo devedor (inc. II).

Art. 360. Dá-se a novação:

II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor;

III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite
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com este.

Na novação subjetiva passiva, o novo devedor sucede o antigo, ficando este quite com o credor. Essa
novação independe do consentimento do devedor antigo. Logo, é possível que o credor da obrigação

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originária convencione diretamente com um terceiro que este irá tomar o lugar do devedor, extinguindo a
primeira e criando uma nova obrigação. Quem deve consentir é o credor, e não o devedor originário.

Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento
deste.

A solvência do novo devedor não é requisito de validade para a novação, desde que o credor assim
consinta, nos termos do art. 363.

Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o
primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição.

Na novação subjetiva ativa, o novo credor substitui o antigo, ficando o devedor quite com este. A
novação subjetiva ativa é chamada de expromissão. A mesma nomenclatura é também utilizada na cessão de
crédito (porém, na novação não há cessão de crédito).

É indispensável que o sujeito passivo se comprometa com a nova obrigação (pois na expromissão cria-
se uma nova obrigação pela alteração do credor). O devedor deve dar a sua anuência, manifestar a sua
vontade.

3. Efeitos da novação.

São efeitos da novação:

a) Extinção da obrigação primitiva;

b) Extinção dos acessórios e garantias da dívida primitiva.

As partes podem estipular esses efeitos de forma contrária. Contudo, essa estipulação deve ser
expressa. No caso das garantias que provenham de terceiros, para que sejam mantidas dependem da
participação desses terceiros no ato novatório.

Exemplo: credor e devedor têm um fiador. Sendo feita uma novação, o fiador deve participar.

Porém, em regra, a obrigação originária é extinta com todos os seus acessórios e suas garantias.

Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em
contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em
garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação.

Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal.
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4. Novação e obrigações solidárias.

A novação concluída entre o credor e um dos devedores exonera os demais, nos termos do que diz o
art. 365 do CC/02.

Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que
contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários
ficam por esse fato exonerados.

Portanto, na hipótese de devedores solidários, quando um deles faz uma novação com o credor, os
demais ficam exonerados.
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