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CAPELANIA
SUMÁRIO
UNIDADE I
UNIDADE II
UNIDADE III
UNIDADE IV
CONCLUSÃO .....................................................................................................................................126
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................127
UNIDADE I
Objetivos de Aprendizagem
serviço cristão.
Plano de Estudo
“A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos e luz para o meu caminho”.
Salmo 119:105
“A Palavra era a fonte da vida e essa vida trouxe a luz para todas as pessoas”.
Evangelho de João 1: 4
A boa tradição cristã, de corte Protestante, ressalta a Bíblia como uma das fontes necessárias
para o desenvolvimento da Fé Cristã. Nesse sentido, a presente unidade busca evidenciar os
fundamentos para a prática do aconselhamento e da capelania cristã que assinalem, por um
lado, uma genuína tradição cristã e, por outro, dialogue com as necessidades de nosso tempo.
Por isso, nos voltamos para os fundamentos bíblicos e teológicos do próprio ministério
cristão em que se destacaram os seguintes temas: diaconia, ministério, poimênica e cuidado.
Nossa fundamentação teórica parte do latino Gattinoni (apud CASTRO, 1973) sobre “As
bases do ministério pastoral no Novo Testamento” e do americano Clinebell (2000) sobre “O
aconselhamento pastoral modelo centrado em libertação e crescimento no universo bíblico”
dentre outros. Em ambos os autores citados, bem como nos outros, temos o objetivo maior de
fundamentar biblicamente o aconselhamento e capelania cristã, como expressão mesma da
ação cristã, ou seja, do próprio Cristo hoje.
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Teologia na sua modalidade prática.
Nesse sentido, nota-se uma demanda significativa para dois ministérios em especial da igreja
hoje: aconselhamento e capelania cristã. Eles apontam para as necessidades individuais,
grupais, comunitárias, familiares, conjugais, sociais dentre outras. Essas necessidades
cobram respostas da igreja. Contudo, essas repostas precisam de fundamentação também
Teológica, para que esses ministérios, ações e vocações da igreja estejam em consonância
com a Palavra de Deus e, assim, sejam eficazes, do ponto de vista bíblico, teológico e prático.
O exercício do aconselhamento e da
capelania cristã está na mesma
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Inicialmente, Gattinoni (apud CASTRO, 1973) informa que o sentido etimológico do termo
“diákonos” indica uma tarefa de condutor de camelos no pó (poeira): diá = através kónos = pó,
portanto diácono é um servente, um servidor. Exemplo maior é o próprio Jesus quando lava os
pés dos discípulos (Jo. 13:1-17); o serviço é a definição própria da missão de Jesus, portanto
ele veio para servir, pois é um servo (Lc. 22:27 e Mc. 10:45).
Compreende Gattinoni (apud CASTRO, 1973) que o ministério pastoral não pode deixar de
evidenciar essa atitude serviçal. Tal atitude é imprescindível, conforme Mt. 20:25-28; 25:31-46;
10:24. Nesse perspectivo, tanto o aconselhamento quanto a capelania devem estar inseridos
nessa visão bíblica: servir.
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Gattinoni (apud CASTRO, 1973) apresenta outro significado para a palavra diaconia, a
palavra grega “doulos”, no sentido “escravo”, que serve. A ideia fundamental desse vocábulo
é ressaltar o espírito serviçal como sendo inerente ao ministério e a todo e qualquer cristão
(intra e extracomunidade). O próprio Jesus Cristo recebeu esse título como sendo “O servo
por excelência” (Fil. 2:5-11; Atos 3:13,26; 4:27). Esse título é também conferido aos autores
dos livros bíblicos: João 1:1, Atos 16:17, 2Cor. 4:5; 9:19; em II Ti. 2:24, o ministro como sendo
servo; todos os cristãos assim o são: servos (Atos 2:18 e 4:29). Esse significado é designado
universalmente e válido a todo o corpo de Cristo (I Cor. 7:22 e I Pedro 2:16).
Portanto, os cristãos são chamados a servir a Cristo e ao seu Reino (Ro. 7:6; Col. 3:24; I Ts.
1:9; 1:1; 2:20;7;3); nesse sentido, o serviço aos homens é entendido como servir ao Senhor
Jesus Cristo (Ro. 14:18; Gá. 5:13; Ef. 9:9); a ideia de servir dos seres humanos como parte do
serviço a Cristo (I Cor 16:15; II Cor. 6, 8:4; 9:1, 12; Atos 20:28, 34, 35; II Ti. 1:18; Fim. 13) ou
ainda, o servir às pessoas como sendo uma ação ao próprio Cristo (Mat. 25:31-46). Diaconia,
nesse sentido, por fim, evoca de forma categórica que todo e qualquer ministério da Igreja,
com destaque para o aconselhamento e capelania cristã, é um ato de serviço ao próximo no
mundo. Uma ação missionária que nasce do ministério de Jesus Cristo como identidade da
Igreja.
Por fim, outro sentido para “diaconia” é uma expressão, conforme Gattinoni (apud CASTRO,
1973), “Diaconia como um ministério da Igreja, a serviço da obra de Deus, no mundo”. Diaconia
como ministério de toda a Igreja e de toda a comunidade cristã, bem como de cada comunidade
em particular – Ef. 4:12; Ap. 2:19; I Co.12 e Ro. 12:1-8; ou seja, toda e qualquer comunidade
que se diz cristã tem uma identidade em comum: ser sinal de Deus por meio do serviço da
igreja às pessoas. Essa expressão coroa e assinala a riqueza dos sentidos para “diaconia” já
observados acima.
Compreende-se, sem dúvida, que os sentidos de “diaconia” abordados até o presente ressaltam
biblicamente o serviço como fundamento para o exercício do ministério cristão, ou os mais
diversos ministérios da igreja, com destaque para o aconselhamento e a capelania cristã.
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POIMÊNICA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ
Javé, portanto, é compreendido como o único e verdadeiro Pastor de Israel. Essa alegoria é
celebrada no AT, especificamente, no Sl 23.1: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Ao
lado Dele não há outro! Este Salmo revela a poimênica, pois ele refere-se ao centro vital do
ser humano, que é sua relação com Deus. Uma relação concretizada a partir da fé humana
em Deus, enquanto Criador e Pastor da vida. Então, a poimênica, nesse contexto, remete para
aquilo que permite e ajuda o ser humano a continuar a respirar, a manter a sua vida saudável,
afinal a morte para o semita é a falta da relação com Deus.
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Nesse sentido, Hoepfner (2008), comenta:
Assim a poimênica, no mundo semita, está muito próxima da luta constante do ser
humano para manter ou resgatar a sua relação com Deus por meio das diferentes
articulações da vida em comunidade, como o culto e o sacrifício a Deus. Entretanto,
compreende igualmente a busca por uma plena e justa integração social do indivíduo
que cai no abismo do isolamento, que negligencia a sua relação com Deus e,
conseqüentemente, não mais se considera parte integrante do povo de Deus. Ali
onde o ser humano petrifica o seu coração, onde vive exclusivamente a partir do seu
próprio ar, da sua exclusiva respiração, - isto é, vive ao redor do seu próprio ser -, a
nefesh sucumbe, já não encontrará fôlego de vida e, por fim, clamará: “Como suspira a
corça pelas correntes de água, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl 42.1). A
tradução de Lutero é mais enfática, pois translada “suspira” por “gritar” (schreit). Quer
dizer, em meio ao abandono de Deus, o ser humano grita, geme, se desespera, pois
enxerga com profundidade e dor o abismo em que sua aparente auto-suficiência o
levou. “No culto se articulavam o grito, a lamentação e a prece por ajuda da pessoa
que se encontrava fora da relação com Deus, que não conseguia mais enxergar o seu
rosto” (p.55).
Nessa perspectiva, a poimênica tem a ver com o clamor e o louvor da criatura perante o seu
Criador. O ser humano clama pelo hálito de vida que provém de Deus e o louva por este hálito
que o mantém, como afirma o último salmo: “Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia!”
(Sl 150.6).
Nota-se que a poimênica está no coração do Antigo Testamento, pois ressalta e afirma
categoricamente que tudo aquilo que torna plena a vida é concedida pelo Bom Pastor, Javé,
o Deus que cuida de suas ovelhas, conforme o Salmo 23: “O Senhor é o meu Pastor e nada
me faltará”.
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Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
Hoepfner (2008) observa que no Novo Testamento a poimênica tem nas ações e atitudes
libertadoras de Jesus Cristo a expressão perfeita do que significa pastorear. Ele sim é o
verdadeiro Pastor que dá a sua vida por suas ovelhas, ressalta o Novo Testamento de forma
vigorosa. Nesse sentido, tem-se nas ações e atitudes de Jesus Cristo a prática da poimênica
como um modelo de ação.
Hoepfner (2008), nesse sentido, faz a seguinte observação sobre esse termo “poimênica” à
luz do Novo Testamento:
A poimênica neotestamentária encontra no termo grego “paraclein”, “paraclesis”, o seu
conceito-chave que aponta para a oferta de salvação e de vida em abundância oferecida
por Cristo em sua vida e cruz. A “paraclesis” remete ao consolo da salvação que Cristo
oferece por meio de sua graça (2 Ts 2.16); entretanto, igualmente admoesta às pessoas
a transformarem suas vidas cotidianas, desafiando-as a realizar uma identificação com
Jesus Cristo também no decurso de um sofrimento (2 Co 1.5-7). Após a reflexão acima,
acerca do ministério de Cristo, viu-se que Ele guiou, vigiou, providenciou a vida e sentiu
profunda afetividade pelo povo do seu Pai. (p.65)
Por fim, Hoepfner (2008) define poimênica a partir de quatro funções pastorais a partir do
ministério de Jesus Cristo:
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• A poimênica consiste em constituir relacionamentos afetivos entre iguais. Nesse sentido
Jesus foi um grande mestre que ensinou, pois apesar de ser o filho de Deus sempre se re-
lacionou como sendo igual. Ele não agia com desdém, mas acolhia e ouvia pacientemente.
• Poimênica é guiar. Mas não no sentido de se colocar como maioral ou superior; Jesus se
colocou com um irmão, em conjunto pelos novos caminhos que podem surgir, novas trilhas
diante da adversidade, pois Ele é a própria esperança viva. Conforme Hoepfner (2008), Ele
é o novo caminho que possibilita a vida; Ele é o guia que leva a novas esperanças, a um
novo caminho.
• Não por último, poimênicaé a afirmação de uma vida cheia de dignidade. Ali, onde a vida
corre perigo com suas contradições sociais, por exemplo, essa vida se faz presente. É
impossível desassociar a ajuda psicológica e espiritual da ação social. Nesse sentido, a
poimênica em Cristo é anúncio de um evangelho integral. (p.p 65-66)
Portanto, podemos concluir por ora, que tanto a teoria quanto a prática da poimênica está
sustentada na tradição do Bom Pastor que dá a sua vida por suas ovelhas, como o Bom Pastor
do Antigo Testamento, Javé. Jesus Cristo, sem dúvida, testemunhou de maneira viva ao fazer
poimênica como porta voz do Evangelho de Deus. Hoepfner (2008) nesse particular afirma: “É
o Evangelho o esteio da poimênica cristã e Cristo o seu paradigma” (p.66)
b) O ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus, imago Dei, (Gn 1:17).
c) Jesus veio para conceder vida e vida, em abundância (Jo. 10:10), O ser humano tem
condições de desenvolver seus potenciais de sabedoria e de vida, segundo a parábola dos
talentos (Mt. 25:14-30) e as admoestações de Paulo a Timóteo, para “acender a chama do
dom de Deus que há em ti(...), pois o espírito que Deus deu é (...) para inspirar poder, amor
e autodisciplina” (2 Tm. 1:6).
É importante ressaltar, por fim, que a concepção bíblica nessa perspectiva deixa claro que os
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seres humanos, apesar de terem potencialidades, não são onipotentes. Somos seres finitos,
limitados e marcados pelas condições efêmeras da nossa humanidade.
Outra ideia bíblica que Clinebell (2000) observa é a compreensão hebraica das pessoas. Era
essencialmente não dualista, ou seja, a Bíblia assinala que a vida humana deve ser entendida
de forma integral, em unidade de dimensões, dentro de uma visão holística, em uma visão
comunitária:
a)É assim que a Bíblia reafirma o sentido de glorificar a Deus no corpo(1Cor. 6:19), e não
fora dele ou desconsiderando-o.
b) Que se deve amar a Deus com todas as dimensões humanas (Mc. 12:30).
c) Que se deve viver a vida alimentando os relacionamentos em paz, shalom, do Antigo Tes-
tamento, ou em comunhão, koinonia, na perspectiva do Novo Testamento.
d) O respeito à Criação (ecologia) como ato único da vida. “E viu Deus que tudo era bom”.
e) A libertação é tanto pessoal quanto social. Tanto o pecado quanto a salvação são comu-
nitários e sociais, assim como individuais, onde o Novo Testamento afirma “Conheceres a
liberdade e a verdade vos libertará” (Jo. 8:32).
Nota-se que o ser humano é compreendido pelas escrituras em uma dimensão holística e
integral para o crescimento, conforme Clinebell (2000).
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
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Essa visão deve demonstrar positivamente o fazer do aconselhamento e da capelania cristã,
pois ressalta tanto as condições existenciais da humanidade, suas potencialidade advindas
do Criador, quanto os propósitos cristãos para essa humanidade, ou seja, em Cristo, essa
humanidade tem vida, e vida em abundância!
Pode-se concluir, por enquanto, que o marco bíblico-teológico aponta tanto o termo “diaconia”
quanto “poimênica” como palavras-chave da ação cristã da própria Igreja no mundo, ou seja,
como expressão própria do mistério cristão. Podemos assinalar, portanto, que todo e qualquer
ministério da igreja, como o aconselhamento e a capelania, é ação da Missão de anúncio da
Boa Nova, do cuidado que Deus tem pelo ser humano e, por outro lado, evidencia também
as potencialidades do ser humano, criadas pelo próprio Deus, as quais revelam as suas
possibilidades para um desenvolvimento de forma integral em Cristo.
A seguir, vejamos o trabalho realizado por Hoepfner (2008) sobre a análise do termo “cuidar”,
em que o referido autor faz um estudo sobre o termo em seu sentido etimológico e bíblico; bem
como o trabalho de Oliveira (2004).
Para Hoepfner (2008), o termo cuidar provém do latim cura, que assinala uma relação de
amor e amizade, uma atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação
em relação a alguém ou a algo estimado. Portanto, o sentido aqui deve ressaltar, conforme
observa Hoepfner (2008), uma relação pessoal, existencial, e, por consequência, estabelecer
uma preocupação frente à vida de outra pessoa ou de algo, como o cuidado com os enfermos
ou com o meio ambiente.
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Hoepfner (2008), baseado em Boff, faz a seguinte observação sobre o cuidado:
[...]é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de
atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de
responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro, pois uma atitude perfaz uma
fonte, pela qual descendem muitos atos. (p.14-15)
Nesse sentido ainda, Hoepfner (2008) exemplifica e comenta da seguinte maneira essa
questão:
Quando uma mãe afirma: “Estou cuidando do meu filho adoentado!”, subentendem-
se, nesta afirmação, múltiplos atos. Atos como: estar preocupado com seu filho; levá-
lo ao médico; dar a ele, não apenas remédios, mas, igualmente carinho; orar com e
por ele, enfim, estar próximo dele por meio de ações diversas que compreendem uma
atitude de cuidado. Nesse sentido, pode-se afirmar que uma atitude de cuidado abarca
o ser humano em sua totalidade de vida. No que tange ao relacionamento humano,
tanto a pessoa que toma uma atitude de cuidar de alguém, quanto o indivíduo para o
qual é dirigida tal atitude, há um contato não meramente físico, mas também afetivo-
emocional, concretizando uma relação de sujeito para sujeito e não de sujeito para
sujeito-objeto, ou seja, o cuidado possibilita a dignidade, pois abre mão do poder
dominador e afirma uma comunhão entre seres reais. “A relação não é de domínio
sobre, mas de com-vivência. Não é pura intervenção, mas interação” Por conseguinte,
pode-se reiterar que só recebemos zelo se cuidarmos de outras pessoas; portanto,
nessa dimensão, apenas nos tornamos pessoa no encontro com outra. Percebe-se,
então, que a categoria cuidado tem conotações que superam as noções comuns que
lhe são aplicadas. (p.15)
Nota-se que o sentido ora ressaltado assinala vigorosamente uma atitude de cuidado total,
não com o que é particular ou pontual, mas sim com o ser humano em sua integralidade, em
suas mais diversas áreas e dimensões: física, afetivo-emocional, social, ecológica, cultural e
espiritual.
Outra questão importantíssima ressaltada ainda por Hoepfner (2008) é a relação entre os
seres humanos que deve ser pautada não pelo domínio sobre, mas pela convivência. Pode-se
compreender nessa perspectiva que só recebemos cuidado se cuidarmos também de outras
pessoas; portanto, nessa dimensão ou relação, apenas nos tornamos pessoa efetivamente
quando estamos no encontro com outra, ou seja, nos relacionamos respeitosamente como
iguais.
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Diante do exposto, Hoepfner (2008) conclui as seguintes considerações:
Explicitando, o cuidado vê os contornos concretos dos problemas, da realidade,
enxerga e abraça o ser em sua integralidade vital e, portanto, não se resume a
apenas fidelidade, a princípios profissionais e a deveres morais impostos por uma
sociedade deveras injusta. Perceptivelmente esclarecedor é o vocábulo alemão Sorge,
comumente traduzido ao vernáculo pátrio como “cuidado”, “preocupação”, “aflição”. Se
por um lado, a Sorge remete para o cuidado de si, por alguém ou por algo (Fürsorge),
por outro, remete, igualmente, para uma situação existencial de aflição, ou seja, o de
estar preocupado consigo mesmo, por alguém ou com algo (sich sorgen um). O termo
inglês care, da mesma forma, traz consigo a idéia de um cuidar solícito, bem como o
de um cuidar ansioso e aflito junto a alguém ou a algo. Conclui-se que, uma atitude de
cuidado frente a pessoas, requer envolvimento, pois “o cuidado é aquela relação que se
preocupa e se responsabiliza pelo outro, que se envolve e se deixa envolver com a vida
e o destino do outro, que mostra solidariedade e compaixão”. Tal atitude é a condição
prévia para o eclodir da amorosidade humana, afinal, quem cuida, ama e, quem ama,
cuida (p.16)
Hoepfner (2008) faz ainda um estudo sobre expressões correlatas ao termo “cuidar” no Antigo
Testamento e Novo Testamento:
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É nessa ótica que Davi admoesta Joabe a cuidar de Absalão: “Guardai-me o jovem
Absalão” (2 Sm 18.12), ou quando Davi, nos Salmos 34.20; 86.2; 121.3-4 e 7, utiliza o
termo para falar do cuidado e da proteção divina.
No que tange ao Novo Testamento, o principal correlato de cuidar é o verbete grego
merimna. Assim como o termo alemão sorge e o inglês care, merimna pode remeter a
dois significados. Num sentido negativo, é traduzido por “preocupação” ou “ansiedade”
do ser humano. É nesse parâmetro que merimna é empregado no Sermão do Monte
(Mt 6.25-34). Jesus, nessa homilia, critica a demasiada preocupação do ser humano
em torno de questões materiais que o afastam de Deus. Paralelamente, a passagem
de Lc 21.34, adverte para as fúteis preocupações concernentes à vida diária. Já o
sentido positivo de merimna, remete ao “ter cuidado de” ou “preocupar-se com” alguém
ou algo. Em 2 Co 11.28, o apóstolo Paulo se vê como aquele que deve preocupar-se
com as igrejas. Já em 1 Co 12.25, a Igreja é vista como “corpo de Cristo”, no qual todos
os membros cuidem e cooperem uns a favor dos outros. Em 1 Pd 5.7, o ser humano é
chamado a lançar toda a sua ansiedade aos cuidados de Deus.
Outras tantas passagens bíblicas poderiam ser aqui arroladas. Perícopes, que
dependendo do testamento, utilizam os termos shãmar ou merimna, para expressarem
a ampla ideia do cuidado humano ou de Deus por sua criação. Entretanto, ressalta-se,
a partir dessa breve investigação acerca dos correlatos bíblicos do termo cuidar, que
em muitas passagens nas quais os termos shãmar e merimna são empregados, eles
compreendem, ao menos indiretamente, uma atitude que lida com a própria condição
de vida do ser humano. Atitude esta, profundamente arraigada na fé dos inspirados
escritores bíblicos em Deus. (p.p 17-18)
Ainda nessa direção, Oliveira (2004) afirma, a partir das elaborações teológicas de Leonardo
Boff sobre o cuidado com o ser humano no contexto maior que é o cuidado com a natureza, o
seguinte: “cuidar da alma implica cuidados sentimentos dos sonhos, dos desejos, das paixões
contraditórias, do imaginário, das visões e utopias que guardamos dentro do coração” (p.17).
Tal elaboração aponta o cuidar como um ato integral da existência humana.
Oliveira (2004), tomando afirmação de Brakemeier, destaca que o cuidado com o ser humano
está justamente na afirmação doutrinaria da Imago Dei, ou seja, que o ser humano é imagem
e semelhança de Deus. Portanto, há uma dignidade no ser humano que lhe é atribuída,
concedida sem merecimento que provém de Deus e que se manifesta em si mesmo.
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testemunhados por Jesus Cristo, em sua prática, revelam o próprio amor de Deus dispensado
ao ser humano. Enquanto os atos de poder coisificavam o ser humano, escravizando-o, Jesus
testemunhava o amor de Deus que transforma a dor e a escravidão em amor, saúde e vida,
vida em abundância.
Oliveira (2004) assinala que a desesperança e o pessimismo podem ser revestidos pela
ressurreição de Cristo, pois ela apresenta uma nova condição antropológica para a existência
humana; bem como pela cruz que não nega o sofrimento, mas assinala que todos estão
suscetíveis nesta condição humana, pois Jesus também recebeu cuidados quando de sua
morte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro aluno (a), esta nossa primeira unidade nos lançou no universo bíblico-teológico. Nela
visitamos e revisitamos textos clássicos e fundamentais da Fé Cristã que são imprescindíveis
não só para os nossos intentos, como para todo e qualquer objetivo que queira fundamentar
o testemunho cristão.
Em nosso caso, olhamos firmemente para o campo da Teologia Prática, ou mais especificamente,
para as áreas do Aconselhamento e da Capelania Cristã. Nesse sentido, quando estudamos a
palavra “diaconia”, vimos como este termo é rico e diverso, bem como aponta indelevelmente
para o ser próprio do Cristianismo: servir ao mundo. Destacou o nome e o sobrenome dessa
essência diaconal: Jesus Cristo, o servo por excelência. Assim, ficou límpido que o ministério
cristão, guarda-chuva maior que abarca o Aconselhamento e a Capelania Cristã, é um
instrumento de serviço no mundo, quer intra ou extraigreja.
Vimos ainda, juntos, o termo poimênica. Termo que deve ser entendido como ponto de
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partida e de chegada do aconselhamento cristão, e por que não dizer da Capelania Cristã
também? Claro que sim. Esse termo alimenta essas duas atividades que, do ponto de vista
bíblico-teológico, são instrumentos para possibilitar ajuda e crescimento a todo aquele que se
encontra necessitado. Contudo, esse termo guarda também as potencialidades inerentes ao
ser humano; isso não pode ser esquecido quando se faz Aconselhamento e Capelania nessa
perspectiva, pois o aconselhando não é um objeto, mas um sujeito em crescimento. Isso deve
ser compreendido como um mote da ética da ajuda cristã.
Neste link, você encontrará mais informações sobre o cuidado à luz da poimênica. Especifi camente, o
texto enfoca a questão do cuidado de pastores e pastoras.
<http://www3.est.edu.br/biblioteca/btd/Textos/Mestre/Oliveira_rmk_tm105.pdf>.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Como vimos nesta unidade, o termo “diákonos” é muito rico e diverso em sua significação.
Aponte em que sentido Jesus é entendido como exemplo maior enquanto “diákonos”.
2. O estudo do termo “diákonos”, na perspectiva bíblica que vimos, é essencial para direcionar
o Ministério Cristão, o qual também orienta o aconselhamento e a capelania cristã. Diante
disso, interprete a seguinte afirmação: “Diaconia como um ministério da Igreja, a serviço da
obra de Deus, no mundo”.
5. Nesta unidade foram vistos os termos “Diaconia”, “Ministério Cristão” e “Cuidado”. Vimos
que esses três termos são importantes para uma compreensão bíblico-teológica do fazer
aconselhamento e capelania cristã. Construa um texto argumentativo entre 5 e 10 linhas,
a partir desta unidade, que expresse a importância desses termos para a atividade de
aconselhamento e capelania cristã.
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UNIDADE II
OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA
CAPELANIA CRISTÃ
Objetivos de Aprendizagem
nia Cristã.
Plano de Estudo
• Capelania Hospitalar
INTRODUÇÃO
“Assim como o corpo precisa do médico, a vida espiritual da pessoa precisa do
capelão”.
Jung, G. In: Silva – Capelania Hospitalar e terapia da enfermidade: uma visão pastoral.
Diante disso, esta unidade desenvolve estudos nos campos da história e das teorias puras, bem
como das teorias sobre as práticas do Aconselhamento e da Capelania Cristã. É importante
ressaltar que focamos na área Hospitalar em Capelania e, ainda, que os conceitos, a natureza,
os objetivos, o intento, as dimensões, os procedimentos, as atitudes, os instrumentos e os
comportamentos em Aconselhamento e Capelania Cristã foram observados e abordados à luz
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de diferentes autores, uns bem conhecidos e outros menos pelo público especializado.
Acompanhar, ajudar e fortalecer na fé sempre foi uma atividade própria da Igreja de Cristo.
Flor (2010) observa três modelos básicos de aconselhamento cristão durante o período Antigo
e Medieval:
c) “poimênica como função terapêutica” (na visão de luta entre poderes, era comum a busca
de cura de males atribuídos aos espíritos imundos).
Outras referências históricas dessa atividade podem ser encontradas logo nos primeiros cem
anos da Igreja Cristã. A história registra textos cuidadosos como, por exemplo, a Carta a
uma Jovem Viúva, escrita por João Crisóstomo em 380; o “Livro de Cuidado Pastoral”, de
Gregório, o Grande, no final do século VI ou a carta “Catorze Consolos Para os Exaustos e
Sobrecarregados”, escrita por Martinho Lutero em 1520. Em cada um destes há a demonstração
de um tempo na Igreja Cristã em que o cuidado era parte integrante do ensino e da vivência
pastoral (FLOR, 2010).
Como é bom estar localizado ou contextualizado. Isso não é diferente quando estudamos o
tema da capelania. Saber nossas origens, e, principalmente, os fundamentos da nossa forma
de pensar, bem como os motivos que estão na base de uma determinada ação ou atitude é
sempre importante. Conforme Gentil, Guia e Sanna (2011):
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Historicamente o termo “capelania” foi criado na França, em 1700 porque, em tempos
de guerra, o rei costumava mandar para os acampamentos militares, uma relíquia
dentro de um oratório, que recebia o nome de “Capela”. Essa capela ficava sob a
responsabilidade do sacerdote, conselheiro dos militares. Em tempos de paz, a capela
voltava para o reino, ainda sob a responsabilidade do sacerdote, que continuava como
líder espiritual do rei, e assim ficou conhecido por capelão. Com o tempo, o serviço de
capelania se estendeu aos parlamentos, colégios, cemitérios e prisões (p.1).
Silva (2010), ao tratar sobre a conceituação de capelania, observa que o termo aponta para
o cargo, a dignidade e o ofício de capelão. Tal atividade é exercida por um religioso, católico
ou protestante, responsável em prestar assistência religiosa e/ou realizar culto ou missa nas
instituições que serve. É comum ter um local denominado capela em repartições públicas ou
privadas, escolas, hospitais, quartéis, presídios, universidades etc., onde o capelão atende às
pessoas e essas podem também exercitar a sua fé. Observa ainda Silva (2010) que é comum
haver instituições que só têm capelão católico ou protestante, mas há também instituições que
comportam as duas ramificações do cristianismo, bem como fora do país há outras religiões
que também têm exercido essa mesma função.
Silva (2010) destaca em seu texto a importância do papel do capelão enquanto facilitador. Ele
observa que Jung atribuía ao capelão o papel de sujeito facilitador do encontro do homem com
a sua dimensão espiritual; assim como o corpo precisa do médico, a vida espiritual da pessoa
precisa do capelão, compreendia Jung, conforme Silva (2010).
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
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A compreensão tradicional de aconselhamento cristão pode ser identificada nas palavras de
Cunha (2004) ao tratar sobre o tema citando Mack:
O aconselhamento para ser chamado cristão precisa possuir quatro características:
1. Ser realizado por um cristão; 2. Ser centrado em Cristo (Cristo não é um adendo
ao aconselhamento, mas é a alma e o coração do aconselhamento, a solução para os
problemas. Isto contrata com o caráter antropocêntrico das psicologias modernas); 3.
Ser alicerçado na Igreja (a Igreja é meio principal pelo qual Deus trás às pessoas ao
seu convívio e as conforma ao caráter de Cristo); 4. Ser centrado na Escritura Sagrada
(a Bíblia ajuda a compreender os problemas das pessoas e prover solução para os
mesmos)” (p.1).
1. Aconselhamento popular
É o que ocorre nos relacionamentos diários das pessoas que trocam problemas e conselhos
entre si.
2. Aconselhamento comunitário
34
3. Aconselhamento pastoral
É uma prática exercida por um pastor junto a sua comunidade. Precisa de preparo e
muita competência para tratar os mais diversos temas, como: problemas matrimoniais,
relacionamentos entre pais e filhos, disputas entre irmãos na fé, dificuldades econômicas,
dificuldades sobre a fé, falta de sentido na vida, homossexualidade, alcoolismo, vício de
drogas, prostituição e problemas emocionais mais profundos.
4. Aconselhamento profissional
Esse tipo de aconselhamento é exercido por conselheiros, psicólogos e psiquiatras. Esses são
profissionais que o pastor pode e deve trabalhar junto, pois há problemas mais profundas na
comunidade e por isso necessitam de um cuidado maior.
3. Descobrir as causas.
4. Tomar decisões.
35
Mannóia (1985) também corrobora ao apresentar os seguintes objetivos:
d) Oferecer ao indivíduo uma situação na qual tome iniciativa e aceite se responsabilizar por
ela.
c) Promover encorajamento e orientação para aqueles que perderam alguém querido ou que
estejam sofrendo uma decepção.
36
e) Apoio – o aconselhando em situações de crise pode necessitar de apoio para enfrentá-las.
• A bíblia.
• A oração.
• A visitação.
37
• A meditação.
• A exortação.
• O perdão.
• A comunhão, dentre outros.
Se assim podemos nos referir, esses instrumentos têm o objetivo de potencializar esse
crescimento espiritual integral à luz da ação do Espírito Santo.
Nessa perspectiva, Clinebell (2000) observa, ainda, seis dimensões da integralidade da vida
de uma pessoa:
Castro (1974) faz a seguinte pergunta: qual será a meta da atividade pastoral? Ele mesmo
responde assim “logicamente como todo conselheiro, procura ajudar a recuperar a saúde
plena da personalidade do aconselhando” (p.182). Nessa direção, Castro (1974) destaca as
seguintes questões do aconselhamento:
c) Ser responsável tanto no desenvolvimento de suas ações como nos resultados das mes-
mas.
38
É fundamental ressaltar que Castro (1974) assevera que tais questões do aconselhamento,
que se apresentam como objetivos que devem ser tomados dentro da seguinte perspectiva:
“vão acompanhados normalmente por uma militância serviçal, uma atitude vicária em relação
com o mundo, com o exemplo de Zaquel” (p. 183), ou seja, servir ao Senhor Jesus Cristo.
Por isso, para Schipani (2004) aconselhamento pastoral deve ser entendido teologicamente
como:
a) Adoção da sabedoria à luz de Deus como a metáfora fundamental que reconstrói a estrutura
teórica e os fundamentos teológicos do aconselhamento pastoral em solo firme.
b) Integração das perspectivas psicológicas e teológicas à luz da sabedoria de Deus como o
princípio digno para orientar, compreender e realizar um tipo de aconselhamento pastoral
ao mesmo tempo plenamente aconselhador e plenamente pastoral.
c) A luz de Deus que define a natureza e a orientação de forma do ministério cristão, de modo
que prontamente reconhecemos as dimensões éticas e o contexto moral do aconselha-
mento.
Schipani (2011) observa ainda que em aconselhamento pastoral é imprescindível que se tenha
claro que cada situação requer formulação de objetivos específicos, bem como, em cada
situação, que se apliquem estratégias próprias. Contudo, há também de se reconhecer que há
muitas ocorrências em comum que apontam para um propósito geral ou fundamental, o qual,
39
nesse caso, é a sabedoria à luz de Deus. Portanto, o propósito mais amplo de crescer em
sabedoria inclui três aspectos inseparáveis para se buscar alívio e resolução, advoga Schipani
(2011):
1. Crescimento na visão
2. Crescimento em virtude
3. Crescimento em vocação
Portanto, Schipani (2011) entende que o propósito geral do aconselhamento pastoral é ajudar
o aconselhando a descobrir como viver uma vida mais íntegra, moral e plena.
40
necessidade de um melhor preparo por parte de pastores e pastoras, bem como liderança
religiosa como um todo, incluindo entendimento técnico e busca por resultados efetivos.
Deve-se reconhecer que o aconselhamento pastoral não é uma atividade nova, por mais que
tenha ganhado visibilidade atualmente, como nos cursos de formação teológica e na própria
comunidade cristã, ele é muito antigo.
41
OS FUNDAMENTOS DA CAPELANIA CRISTÃ
• Educacional.
• Carcerária.
• Hospitalar.
• Militar.
• Empresarial.
Essas modalidades já estão em todo Brasil, devidamente reconhecidas por lei com uma longa
folha de serviços prestados à sociedade, como é o caso da capelania militar.
O capelão, seja qual for o contexto em que os tiver inserido, tem a missão de ajudar a pessoa
em seu crescimento utilizando os instrumentos próprios da ajuda cristã ou pastoral, os quais
já foram citados acima a bíblia, a oração, a visitação, a meditação, a exortação, o perdão, a
comunhão, dentre outros.
42
Nesse sentido, cabe ao capelão desenvolver procedimentos contextualizados à sua área de
ação, ou seja, escola, universidade, quartel, presídio, hospital buscando sempre uma atuação
em equipe, mas que ressalte as contribuições específicas e próprias do trabalho espiritual;
sempre ciente de que a pessoa é um ser de várias dimensões, e por isso ele deve exercer seu
trabalho à luz da interdisciplinaridade.
Capelania Hospitalar
b) De outro, a convivência com diversos profissionais da área da saúde e áreas afins que,
independente de suas possíveis crenças, têm uma formação profissional específica que pauta
a sua atuação, como é o caso da enfermagem, da medicina, da fisioterapia, da psicologia, da
assistência social, da administração dentre outras.
A capelania hospitalar é uma atividade que remonta a datas longínquas da nossa história, por
volta dos cem primeiros anos da Era Cristã, conforme Silva (2010). Hoje ela já é respeitada
e presente positivamente nos hospitais. Quem faz uma exposição muito interessante sobre a
capelania hospitalar em nossos dias é Silva (2010). A seguir, transcrevemos algumas de suas
principais ideias sobre essa questão. Vejamos:
Silva (2010) localiza a capelania hospitalar no contexto da teologia pastoral, mais especificamente
na tradição da Teologia Prática, que tem sua origem nos estudos de Schleiermacher (1768-
1834). Este Teólogo foi responsável por chamar a atenção dos estudos teológicos para a
43
prática pastoral como uma área autônoma, pois compreendia que a riqueza da teologia está
justamente em sua ação ou aplicabilidade. Nesse sentido, o teólogo brasileiro Zabatieiro
(2005) observa que toda teologia é prática, no sentido de finalidade mais premente.
Silva (2010) faz o seguinte comentário sobre a localização da capelania hospitalar no contexto
da Teologia Prática:
A capelania hospitalar se insere na chamada ‘’teologia prática’’ como o serviço cristão
da Igreja ao mundo dos doentes, nas casas, nos hospitais. Com o objetivo de ajudá-
los a partir da fé, da esperança e da caridade, em sua luta pela recuperação de sua
saúde ou pela cura integral da aceitação e da humanização dos últimos momentos da
existência mediante o diálogo...
O serviço de capelania hospitalar consiste num ministério de apoio, fortalecimento,
aconselhamento e consolação, desenvolvidos junto aos enfermos e seus familiares,
funcionários e médicos do hospital... É um serviço de dimensão holística, que considera
o enfermo uma unidade pluridimensional. Consiste em levar conforto em horas de
angústia, incerteza, aflição, desespero e compartilhar o amor de Deus por meio de
atitudes concretas: presença; gestos; palavras; orações; textos bíblicos; música e
silêncio. A capelania hospitalar é uma organização religiosa interdenominacional com a
finalidade principal de prestar assistência espiritual em instituições hospitalares...
A capelania colabora na formação integral do ser humano, oferecendo oportunidade de
conhecimento, reflexão, desenvolvimento e aplicação dos valores e princípios éticos,
na revelação de Deus para o exercício da cidadania. A capelania realiza também a
assistência espiritual, social e emocional às famílias de enfermos, equipes de saúde
dos hospitais e estudantes de medicina.
De acordo com Bautista, a capelania hospitalar tem como característica ser um serviço
sanativo, porque pretende a apropriação da realidade pessoal até o último instante
de vida. Esse serviço (diaconia) exige, em primeiro lugar, a colaboração dos cristãos
próximos ao mundo do enfermo, especialmente os agentes mais idôneos, desde os
pastores, diáconos e os leigos que vivem e conhecem o contexto hospitalar e podem
ajudar nas atividades no hospital. Esse trabalho é baseado no conceito de “atendimento
integral” em que o paciente tem uma aceitação melhor da hospitalização e tem mais
chances de um rápido reestabelecimento por ter também contemplados os aspectos
espirituais e emocionais. (p.p 26-27)
Teologicamente, Silva (2010) lembra que como toda ação pastoral, a capelania hospitalar está
fundamentada na própria prática de Jesus, pois Ele atendeu e cuidou dos enfermos e doentes
de sua época, em um contexto bem peculiar de pobreza e de contradições socioeconômicas.
44
O próprio testemunho bíblico do Novo Testamento assinala que Ele atendia os que sofriam,
curando-os e anunciando o Reino de Deus, de vida e paz.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossos estudos nos revelaram que tanto o Aconselhamento quanto a Capelania Cristã remonta
de uma datação longínqua, contudo, ambas foram mais recentemente tomando a forma que
temos nos estudos clássicos modernos. Ambas seguem a mais pura tradição cristã de ajuda
aos necessitados e aos que sofrem.
Vimos conceitos, objetivos e finalidades, bem como teorias sobre Aconselhamento Cristão.
Vimos também que algumas teorias ora enfatizaram os fundamentos, ora enfatizaram as
finalidades. Observamos ainda a riqueza de argumentos puramente teóricos e teorias sobre a
prática, bem como argumentações ricas teologicamente.
Sobre a Capelania Cristã foi dado um tom apenas introdutório e panorâmico. Focou-se mais
especificamente na capelania hospitalar. É importante ressaltar que essa área será mais
bem desenvolvida quando forem tratados o perfil e o papel do capelão, na Unidade IV desta
45
disciplina.
Por fim, esta unidade teve como objetivo tornar mais evidente ao leitor os fundamentos teóricos
e práticos do Aconselhamento e da Capelania Cristã, e assim possibilitar informações básicas,
fundamentais e técnicas sem as quais essas áreas ficam apenas no campo do voluntarismo
desprovido de toda sorte de competências.
Este link remete você ao site do Conselho Federal de Capelania Hospitalar. Nele há diversas informa-
ções sobre esse tema, bem como cursos e orientações básicas.
<http://www.capelaniafederal.org/>.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
3. Esta unidade foi rica em demonstrar objetivos e propósitos sobre aconselhamento cristão.
Desenvolva um texto de 5 a 10 linhas, que tenha como competência ressaltar os objetivos
essenciais do aconselhamento cristão a partir das concepções de Collins e de Clinebell.
5. Capelania cristã é uma atividade que hoje goza de respeito e consideração. Sua atividade
já é reconhecida pelo governo em nosso país, prova disso é a capelania militar. A partir da
Leitura Complementar “Capelania Hospitalar –Levando o amor de Cristo aos enfermos e
necessitados” e dos estudos realizados sobre capelania hospitalar, discuta qual a importân-
cia dessa atividade para o atendimento de enfermos no contexto hospitalar.
46
Capelania Hospitalar
Levando o amor de Cristo aos enfermos e necessitados
Atuar nos hospitais levando o amor de Deus, Seu consolo e alívio num momento de dor. Esta é a
principal missão da Capelania Hospitalar, que, através de gestos de solidariedade e compaixão, tem
levado a Palavra de Deus não só aos pacientes, mas também aos seus familiares, sem esquecer
Ainda dos profissionais de saúde, tantas vezes vivendo situações de estresse ou mesmo passando
por momentos difíceis. Os capelães respeitam a religião de cada paciente sem impor nada, apenas
levando a Palavra àqueles que desejarem.
47
REAÇÕES DOS FAMILIARES DO ENFERMO:
A família acaba sendo afetada e as reações negativas podem ser a de estresse psíquico, ocorrendo
desgaste físico e até depressão. A família se organiza nas suas funções, ocorrendo sobrecarga para
alguns membros familiares e até a omissão de cuidados. A vida sócio-econômica também pode mu-
dar radicalmente devido as perdas. Os familiares prejudicam o tratamento se forem excessivamente
desconfiados em relação à equipe do hospital, com muitos questionamentos ou
palpites. Alguns fa-
miliares se sentem culpados ou transferem a culpa ao paciente. Também podem se sentir vítimas do
destino, castigo de Deus ou retaliação do inimigo. O enfermo muitas vezes precisa se esforçar para
acalmar a família. Conforme a enfermidade, alguns familiares entram em crise de desespero, tirando
a tranqüilidade do paciente.
48
RETORNE POSTERIORMENTE.
- Se a enfermeira estiver atendendo o paciente ou o médico estiver presente no quarto, RETORNAR
POSTERIORMENTE.
- Se o paciente está com algum mal-estar (vômito, dor, confuso), abreviar a visita.
- Às vezes o paciente faz as seguintes solicitações: para ajeitá-lo no leito, pede água ou algum alimen-
to, solicita medicação. TODAS essas solicitações devem ser atendidas pelo serviço de enfermagem.
Por isso, responda ao paciente que ele deve fazer esse pedido a enfermeira, ou em alguns casos
(queda do paciente, escapou o soro) avisar o ocorrido no posto de enfermagem.
- Em alguns casos quando o paciente apresenta um quadro de contaminação, é colocado um cartaz
de alerta e de instruções na porta do quarto. Na dúvida, perguntar no posto de enfermagem e que
deve fazer para entrar no quarto (utilizar máscara, luva, etc).
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
O objetivo da visita NÃO É doutrinação, mas atender à necessidade do paciente; a visita deve ter um
propósito: conforto, consolo para quem sofre. Muitas vezes, a tentação de “pregar” e apresentar o seu
discurso faz com que muitos se esqueçam de que estão num hospital, desvirtuando, assim, todo o
propósito da visita;
- Quando tiver dúvidas sobre a situação do paciente, procure a enfermeira.
- Ter discernimento para dosar o tempo da visita;
- Não demonstre “pena” do paciente;
- Mostre seu interesse pelo paciente, mas sem exageros;
-Preste atenção naquilo que o paciente está falando, verificando quais são suas preocupações;
- Não conduza a sua conversa de tal maneira que exija do paciente grande concentração e esforço
mental para acompanhar (ele pode estar sob o efeito de medicamentos);
- Ao paciente que acha que não será curado, encoraje. Mas, faça-o com prudência, sem promessas
infundadas;
- Não fale sobre assuntos pavorosos;
- Nunca pratique atos exclusivos de auxiliar de enfermagem, tais como: dar água ou qualquer alimen-
to, ou locomover o paciente, mesmo que seja a pedido dele;
- Nunca discuta sobre a medicação com os pacientes;
- Mantenha os segredos profissionais (num leito de hospital o paciente fala muita coisa de si mesmo
e de sua vida pessoal);
- Nunca comente nos corredores do hospital, ou fora deles, o tipo de conversa ou encaminhamento de
sua entrevista mantida com o paciente;
- A ética deve ser rigorosamente observada. Tome muito cuidado!
- Não cochiche!Pacientes apresentam alto nível de desconfiança;
49
- Aproveite a oportunidade como se fosse a única. Na medida do possível, o ministério junto ao enfer-
mo, dentro de um hospital deve ser completo, numa “dose única”;
- Evite a intimidade excessiva, não invadindo a privacidade alheia (tanto do paciente quanto do seu
acompanhante);
- Respeite a liberdade do paciente quando ele não quiser (ou não estiver preparado para) falar sobre
seus problemas;
- Nunca tente ministrar o enfermo quando ele está sendo atendido pelo médico ou pela enfermeira, ou
quando estiver em horários de refeições, ou quando a situação impossibilite (familiares, telefonando
ou algo importante que ele está assistindo na TV);
- Não faça promessas de qualquer espécie (cura, conseguir medicação, maior atenção dos profissio-
nais de saúde, transferências, conseguir entrevista com o diretor). O próprio hospital tem meios de
solucionar essas solicitações;
- Em caso de possessão demoníaca, elas precisam ser discernidas;
- Preste atenção nos cartazes afixados na porta do quarto, pois eles orientam por qual motivo você
não pode entrar naquele momento ou quais os cuidados você deve tomar ao entrar no quarto. Talvez
seja proibida a entrada por causa de curativo, troca de bolsa em pacientes renais, proibição de visita
por ordem médica. O paciente pode estar isolado por causa de problemas de contágio e o cartaz
estará orientando se for necessário utilizar máscara, jaleco, luvas ou evitar tocar no paciente. Também
pode estar tomando banho;
- Evitar apertar a mão do paciente, a não ser que a iniciativa seja dele;
- Nunca sentar-se na cama do paciente, evitando assim contaminar o doente ou ser contaminado por
Ele. Quando o paciente está em cirurgia, os lençóis ficam enrolados, não devendo NINGUÉM sentar
ali;
- Procurar estar numa posição em que o paciente veja você;
- Cuidado se a sua voz for estridente;
- Se for insultado, reaja com espírito cristão;
- Em suas conversas, orações, leituras de textos, fale em tom normal. Evite a forma discursiva e com
voz estridente, a não ser que seja em ambiente amplo.
- Observar se o paciente está com mal-estar (náuseas ou dor), procurando abreviar ao máximo a
visita.
50
APLICAÇÃO BÍBLICA:
Sabemos que a enfermidade é proveniente da raça humana em pecado. Em muitas situações a enfer-
midade surge por culpa direta do próprio indivíduo que não cuida do seu corpo como deveria, ou por
causa da violência urbana. Mesmo que o indivíduo seja culpado de sua situação, devemos levar-lhe
uma mensagem que Jesus deseja lhe dar saúde total, tanto no corpo como na alma, pois Ele disse:
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância“ (João 10:10).
A mensagem que se dve trazer ao enfermo é a mensagem bíblica de esperança e consolo. Essa men-
sagem é verbal através da leitura bíblica, oração e aconselhamento. Também, através de expressão
corporal, tais como expressão de carinho, sorriso e demonstração de empatia.
Encontraremos na Bíblia textos relacionados às mais diversas necessidades do ser humano. São
esses textos que devem ser apresentados aos pacientes na esperança de despertamento de fé nas
promessas de vida.
51
- Solidão – Salmos 16:1
- Presença divina – Deuteronômio 31:8
Fonte: <http://www.imwacao1.com.br/hospitalar.html>. Acesso em: 26 dez. de 2011.
52
UNIDADE III
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
53
INTRODUÇÃO
Caro aluno, esta unidade tem como objetivo abordar, os procedimentos adequados do
conselheiro, bem como refletir sobre a natureza do Aconselhamento Cristão de forma
introdutória.
Esta unidade também tem a missão de desenvolver as técnicas de intervenção como forma
de lembrar a todos os nossos leitores que a arte de aconselhar hoje necessita muito mais do
que boa vontade, como temos frisado; hoje se faz necessário conhecimento, ou como diz um
amigo, meu pastor e doutor em Psicologia, é necessário ter tecnologia para aconselhar. Pois
quem está do outro lado são pessoas que vivem em estado de sofrimento ou que precisam de
orientações e não podem continuar sofrendo mais do que estão. Portanto, cabe àqueles que
se sentem chamados cuidar de sua formação, preparando-se de forma adequada para essa
atividade. Esta unidade quer singelamente contribuir nesse processo.
É importante observar que há muitos escritos sobre o assunto, especificamente com teorias
e métodos devidamente elaborados. Há também diversos textos sobre o aconselhamento
cristão e o aconselhamento psicológico, que observam seus vínculos, contribuições, limites e
críticas, como: Mannóia (1985), Casera (1985), Collins (1995), Barrientos (1991), Szentmartoni
(1999), Clinebell (2000), Schipani (2004), Sathler-Rosa (2004) e Pereira (2007).
57
necessariamente pelo estabelecimento de vínculos entre o conselheiro e o aconselhando, sem
os quais é impossível um bom desenvolvimento do aconselhamento. Mannóia (1985) coloca
como premissa do aconselhamento cristão as relações pessoais e a centralidade da pessoa
no aconselhamento.
Da mesma forma, Szentmartoni (1999) também o faz, contudo ressalta ainda as marcas da
natureza do aconselhamento cristão, de onde se pode inferir:
c) É uma atividade religiosa (conselheiro e aconselhando) onde deve ser observada a pessoa
e seu relacionamento com Deus.
Barrientos (1991) lista os seguintes aspectos que o conselheiro deve dar atenção durante a
entrevista de aconselhamento:
• Fazer com que a pessoa se sinta ao nível do conselheiro. Para isto é melhorusar duas
cadeiras ou poltronas, ou uma de frente para a outra em uma mesa.
• Escutar com muita atenção.Há pessoas que se sentem aliviadas de sua carga pelo sim-
ples fato de que alguém as escuta com interesse e amor.
58
•Ir captando, entre os detalhes do relato, os possíveis assuntos ventrais relacionados.
59
pausas, choro, contradições entre expressões verbais e não verbais etc.
Por fim, Szentmartoni (1999) observa que o conselheiro tem de ter os devidos cuidados em
sua atividade. Deve evitar colocações ou expressões que não contribuem para o objetivo
principal do aconselhamento, que segundo Mannóia (1985), “é o de facilitar o crescimento da
personalidade ao máximo nível de maturidade” (p.103). São observações que o conselheiro
passa ao aconselhando como sendo as suas conclusões, de forma moralista e sem observar
as manifestações do seu aconselhando. Segundo Szentmartoni (1999), isso denota falta de
confiança nos recursos do outro por parte do conselheiro e impede que o objetivo maior do
aconselhamento seja atingido.
Outro exemplo de procedimento vem de Collins (1995) em seu texto clássico, o livro:
“O aconselhamento Cristão”. Nessa obra, o referido autor apresenta as técnicas de
aconselhamento, que considera como sendo as mais básicas em uma situação de ajuda; antes
de apresentá-las , porém, ele faz a seguinte ressalva: essa relação de aconselhamento não é
necessariamente de ajuda, mas de uma relação de ajuda que deve ser desenvolvida em um
formato profissional. Vejamos as técnicas:
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Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
• Contatos visual.
• Gestos naturais.
envolve:
• Percepção suficiente.
• Sentar-se imóvel.
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• Limitar o número de execuções mentais às próprias fantasias.
• O conselheiro é um educador.
• O aconselhando é aprendiz.
Diante dessas propostas com suas respectivas técnicas, é importante que o conselheiro
62
desenvolva a capacidade de conversar com vista à criação de vínculo com o aconselhando. A
seguir, veremos algumas ideias de Clinebell sobre essa matéria.
5. Tendo como base esse primeiro diagnóstico, sugerir uma aproximação para dar ajuda.
Para facilitar a expressão dos sentimentos do aconselhando, Clinebell (1976) faz as seguintes
considerações:
1. Evitar muitas perguntas, mas fazer o mínimo requerido para obter apenas os dados essen-
ciais.
2. Fazer perguntas sobre seus sentimentos, por exemplo: como se sente quando é ignorado?
6. Evitar tanto a interpretação prematura de como funciona a pessoa ou suas formas determi-
nadas de sentir, como dar conselhos prematuros.
63
PROMOVENDO O DIÁLOGO COM O ACONSELHANDO
1. Evolutiva – uma resposta que indica que o conselheiro tem capacidade de fazer um juízo
de relativa bondade, apropriação, efetividade e correção. Tem condição de compreender
em certa forma o que o aconselhando pode e deve fazer; se há consequências grandes ou
profundas.
2. Interpretativa – uma resposta que indica o intento do conselheiro por ensinar, por apresen-
Tar ou mostrar um significado ao aconselhando. Tem compreendido de certa forma o que o
aconselhando pode ou deve pensar.
3. De apoio – uma resposta que indica que o conselheiro intenta assegurar, reduzir a inten-
sidade emotiva do aconselhando (acalmá-lo). Possibilita, de certa forma, ao aconselhando
sentir-se fora dessa situação de desequilíbrio.
4. Indagatória – uma resposta que indica que o conselheiro intenta obter mais informações,
insistir na conversação, sobre uma linha determinada. Isso o faz chegar à conclusão de
certa forma que o aconselhando deve ou pode se desenvolver,
beneficiando mais acerca
de um ponto determinado.
Diante disso, temos a firme convicção da importância que é saber ouvir e responder no
aconselhamento, pois fazê-los de forma adequada é uma virtude indelével não só do
conselheiro, mas também do capelão. Tamanha é a importância dessas duas habilidades que
existe muita literatura especializada em psicologia, aconselhamento e capelania que versa
64
sobre esses assuntos.
65
responsável, e não como objeto de sua “sabedoria”, uma vez que o próprio Deus em Cristo
também acolhe a todos os seres humanos. Dessa maneira, o conselheiro cristão deve, como
servo de Deus, também proceder. Contudo, Faber e Shoot (1976) ressaltam que esta aceitação
não é o único elemento dessa relação.
Outra ideia que Faber e Shoot (1976) desenvolvem é a da reflexão dos sentimentos
significativos. Para Rogers, cabe ao conselheiro proporcionar uma relação positiva. Para
isso, ele compreende que a reflexão é fundamental. Tal dinâmica é possível numa relação
não diretiva em que aconselhando, numa relação de aceitação, desenvolve uma reflexão de
significado de seus sentimentos, que tão somente nesse contexto, ou melhor, justamente,
nesse contexto de aceitação faz toda a diferença. Nessa perspectiva assim entende Rogers:
na experiência terapêutica, um vê as suas próprias atitudes, confusões, ambivalência,
sentimentos e percepções expressadas exatamente pelo outro; porém livre das
próprias complicações emocionais, e, assim se vê a si mesmo objetivamente o que abre
caminho para aceitação do seu eu, de todos aqueles elementos que agora se percebem
claramente. Assim se avança no caminho da organização e do funcionamento mais
integrado do eu (pp.120-121)
Nesse sentido, ouvir e responder em uma relação de aconselhamento cristão deve passar
por uma relação de aceitação, de uma significativa reflexão dos sentimentos e empatia. Tal
ambiente, na compreensão de Rogers, proporciona as condições terapêuticas para que a
pessoa veja suas reais condições e necessidades e possibilita ainda ao aconselhando seu
66
desenvolvimento e crescimento saudável.
Brister (1980), ao tratar sobre a natureza do aconselhamento pastoral em sua obra “El cuidado
pastoral en la Igreja”, observa que há basicamente dois métodos: um diretivo e outro não
diretivo. A seguir, transcrevo o diálogo entre os conselheiros e seus respectivos aconselhandos
como ilustração dos dois métodos. Vejamos o primeiro diretivo e o segundo não diretivo:
1. Aconselhamento diretivo
Sra. P: Olá, pastor. Desde muito tempo as coisas não vão muito bem em minha casa... (coloca-
se muito sentida).
Pastor: Veja bem, estou seguro de que as circunstâncias não são tão mal como parecem ser,
e estou seguro de que podemos ve-las melhor para ajudá-la à luz da Palavra de Deus.
Pastor: Penso que você veio se socorrer em seu pastor, não é isso? Falemos agora sobre o
seu problema abertamente e inicie desde o começo,Me diga tudo. OK?
Sr. B: É como quando tive o acidente com o caminhão. Tudo de ruim me aconteceu, mas agora
eu me sinto limpo. Quando sofremos nos eximimos de tudo que temos dentro de nós. Quando
perguntaram se a minha perna estava quebrada, eu falei: “quebrada, quebrada, quebrada”, e
assim foi. Disse-lhes que o meu sofrimento tinha me feito sentir mais perto do céu.
Sr. B: Na verdade, tenho uma vida muito dura. Eu não sei por que minha esposa age assim
67
desta forma; logo agora que tenho tanta necessidade... estou só... ninguém se preocupa com
a minha situação ... com algo que eu quero, mas só pensam em si mesmos. Ela acha que eu
sou louco.
Sr. B: Porque estive em um hospital psiquiátrico ... isso foi antes de casarmos...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta unidade, caro aluno, foi estruturada para fundamentar o ato do Aconselhamento
Cristão propriamente dito. Aqui foram tratadas propostas, técnicas e procedimentos em
Aconselhamento Cristão.
Foi destacada a conversação como uma das técnicas imprescindíveis para o exercício do
Aconselhamento Cristão. Saber entrevistar, ouvir e responder o aconselhando é essencial
68
para o sucesso dessa atividade. Foram trabalhadas as ideias de Barrientos (1991) e de
Clinebell (2000) sobre entrevistas iniciais. Sobre o saber ouvir e responder ficou por conta
de clássicos do aconselhamento cristão, Faber e Shoot (1976) e Clinebell (1985). Este deu
destaque para as repostas evolutivas, interpretativas, de apoio, indagatórias e compreensivas;
enquanto aqueles à luz de Carl Rogers, destacaram: a aceitação, a reflexão dos sentimentos
significativos e a empatia. Todos foram categóricos em afirmar que ouvir e responder não são
atos simplesmente mecânicos, mas envolvem toda uma relação afetiva, comportamental e
espiritual.
70
satisfatoriamente os seus problemas, o conselheiro cristão precisa estar constantemente aos pés do
Senhor para buscar sabedoria, ciente de que Ele a dá, liberalmente, a todos quanto a buscam com
sinceridade, para realizar os Seus propósitos.
Uma característica que não pode faltar na vida do conselheiro cristão é a humildade, a consciência
das suas próprias limitações. O princípio fundamental da sabedoria é ter o temor do Senhor, mas exis-
te um outro muito importante que é ter um bom conhecimento de si mesmo, das próprias fraquezas e
vulnerabilidades pessoais e das áreas de conhecimento que não se domina.
O conselheiro cristão tem de ter muito claro na sua mente que o seu ministério está focado em condu-
zir as pessoas a uma vida harmoniosa com Cristo e o próximo, em meio às dificuldades a lida diária
e que, portanto, tem de discernir muito bem as suas limitações, de forma a não adentrar em áreas
onde não está apto a oferecer ajuda. Isso se dá tanto em relação às áreas onde o próprio conselheiro
enfrenta dificuldades na suavida pessoal como em relação àquelas que demandam um conhecimento
especializado, muitas vezes da medicina, ou uma experiência substancial que não se possui.
Outra característica relevante, que precisa integrar a personalidade do conselheiro cristão é a obje-
tividade. Em nenhuma hipótese o conselheiro deve compartilhar os seus próprios problemas ou fra-
quezas pessoais com o aconselhando, vez que o conselheiro está ali para ajudar e não para resolver
os seus próprios problemas, além do enorme potencial que tal atitude teria para induzir insegurança
naquele que precisa ser ajudado, trazendo danos irreparáveis ao processo de aconselhamento.
Da mesma forma, é inegável que o excesso de envolvimento emocional pode fazer com que o con-
selheiro perca a dose d objetividade necessária, reduzindo a eficiência do aconselhamento, o que
sugere que o conselheiro deve evitar aconselhar pessoas com as quais já tenha, previamente, fortes
laços afetivos pessoais estabelecidos ou permitir, descuidadamente, que eles sejam desenvolvidos
durante o processo de aconselhamento, principalmente quando o aconselhando está muito perturba-
do, confuso ou enfrenta um problema semelhante àquele que o próprio conselheiro está passando.
O conselheiro cristão, como o próprio nome sugere, deve ter muito bem internalizado que o seu manu-
al essencial de trabalho é a Bíblia. Cristo é a verdade, o caminho e a vida, e é o Verbo, que é a Palavra
e, portanto, o centro de todo o aconselhamento cristão.
Assim, é que o conselheiro cristão pode até utilizar técnicas variadas de extração de informações
e de condução do processo de aconselhamento, mas os valores referenciais para o aconselhando,
que nortearão todas as possíveis orientações a serem transmitidas, devem se fundamentar única e
exclusivamente nos princípios bíblicos que tratam do assunto, examinados à luz da sua aplicação à
nossa realidade contextual.
Não é o que o conselheiro cristão pensa ou acha, na sua razão natural, por mais inteligente e es-
Tudioso que seja, que ajudará o aconselhando a resolver os seus conflitos interpessoais e os seus
sentimentos de culpa ou peso pelo pecado ou a desenvolver um relacionamento saudável com Deus
e com o os seus semelhantes, mas, unicamente, o que a Bíblia revela, iluminada pelo entendimento
dado pelo Espírito Santo.
Ao discorrer sobre os princípios bíblicos aplicáveis à situação de aconselhamento, o conselheiro cris-
tão deve evitar ao máximo toda e qualquer discussão ou polêmica doutrinária, com relação àqueles
pontos nos quais as diversas denominações evangélicas possuem discordâncias de interpretação,
pois isso pode levar o aconselhando a uma atitude defensiva e de resistência frente ao conselheiro,
caso ele tenha uma concepção diferente, inviabilizando por completo os resultados almejados com o
71
aconselhamento.
Cabe ressalvar, entretanto, que se o conselheiro cristão constatar que existe uma “notória” deturpação
de um conceito bíblico por parte do aconselhando, ele não deverá se furtar a procurar esclarecê-lo,
mas deverá proceder com toda a prudência, sabedoria e gentileza possíveis, de forma a não transpa-
recer nenhum pretenso estigma de superioridade ou de vaidade pessoal, nefasta ao estabelecimento
de uma empatia com o aconselhando.
Outro fator da maior importância é que o conselheiro cristão tem de ser ético e respeitar cada indiví-
duo que recorre à sua ajuda. Ele precisa reconhecer o valor do aconselhando como pessoa criada à
imagem e semelhança de Deus e preciosa aos Seus olhos, não importando o quanto ele possa estar
desfi gurado pelo pecado.
A ética indica que o conselheiro cristão tem o dever de tentar ajudar o aconselhando sem manipular
Nem se intrometer em sua vida e de guardar sigilo de todas as informações reveladas em confiança,
dentro ou fora do gabinete pastoral. Além disso, manda a ética que um conselheiro cristão jamais se
preste a fornecer qualquer orientação que ultrapasse os limites da sua habilitação.
Em todas as decisões que envolvem a ética, o conselheiro cristão deve procurar, antes de mais nada,
honrar a Deus, agir de conformidade com os princípios bíblicos e respeitar o bem-estar do aconse-
lhando e das demais pessoas que possam estar envolvidas na situação de aconselhamento, sempre
colocando a vida como bem supremo a ser preservado.
Enfim, já há muitos anos, diversos autores de livros didáticos sobre o tema, vêm relatando que as
técnicas de aconselhamento são mais eficazes quando o indivíduo que as maneja apresenta as virtu-
Des do Espírito, ou seja, quando ele: transmite confiança e honestidade; é afetuoso, sensível, manso,
paciente e compreensivo; demonstra saber ouvir e possuir um interesse sincero no problema do inter-
locutor; e tem disposição para confrontar as pessoas, mantendo uma atitude de amor.
Assim sendo, o aconselhamento cristão só se torna factível e real quando existe um compromisso
sincero com Cristo e o Espírito Santo está no comando e é o verdadeiro conselheiro, por trás do ser
humano instrumentalizado para esse serviço. Só o Espírito Santo é capaz: de sondar o íntimo dos co-
rações; revelar as verdadeiras causas dos problemas; e apontar a melhor orientação para cada caso.
Fonte: <http://www.icjb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=131:o-perfi l-do-conse-
lheiro-no-aconselhamento-cristao&catid=46:estudos&Itemid=93>. Acesso em: 02 dez. 2011.
72
Este link remete você a uma dissertação que trabalha a questão do aconselhamento pelo telefone,
no contexto urbano, além de fazer um trabalho de conceituação sobre o tema do aconselhamento.
<http://pt.scribd.com/doc/50448684/17/Aconselhamento-Pastoral>.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Atualmente, estamos chegando à compreensão que o conselheiro cristão não pode ter ape-
nas boa vontade, apesar de ser muito importante essa motivação. Ele tem que dispor de
competências para exercer essa função que hoje está se constituindo imprescindível para
a Igreja da atualidade. Liste dois procedimentos adequados do conselheiro em Aconselha-
mento que você julga necessário para o desempenho dessa atividade. Sua resposta tem
que conter argumentos que acompanhe suas escolhas.
2. Nessa mesma direção, no que concernem as propostas e técnicas que vimos nesta unida-
de, relacione e discuta as propostas e técnicas de aconselhamento de Szentmartoni (1999)
e Collins (1995) apontando sua importância para o aconselhamento cristão.
3. Nesta unidade, vimos que Szentmartoni (1999) lista aspectos distintivos da natureza do
aconselhamento cristão. Dentre eles está este: “Limites da atuação e da atividade do acon-
selhamento cristão e suas interfaces com outras atividades de aconselhamento”. Diante
disso, elabore um texto, 4 a 8 linhas, que ressalta a relação interdisciplinar entre os co-
nhecimentos da Teologia e Psicologia, no que toca ao tema principal do aconselhamento
cristão.
73
UNIDADE IV
Objetivos de Aprendizagem
Plano de Estudo
“São muitas as pessoas à procura de um ouvido que ouça. Elas não o encontram entre os
cristãos, porque eles falam quando deveriam ouvir. Quem não mais ouve a seu irmão (ou
irmã), em breve também não mais ouvirá a Deus [...] quem não consegue ouvir demorada e
pacientemente, estará apenas conversando à toa e nunca estará realmente falando com os
outros, embora não esteja consciente disso”.
Para Clinebell (2000), o ato de aconselhar inicia-se na própria pessoa do conselheiro. Isso
também pode ser aplicado para o âmbito da capelania. Esta unidade que se inicia tem como
grande objetivo abordar o perfil e papel ou atributo do conselheiro e do capelão cristão.
Contudo, vamos destacar inicialmente algumas atitudes inadequadas dos conselheiros quanto
aos seus procedimentos em aconselhamentos.
Também será tratado o papel do conselheiro e do capelão, com destaque para as competências
esperadas de ambos. Serão ressaltadas mais uma vez as práticas, principalmente a relação
do conselheiro e do capelão com os seus respectivos sujeitos.
Quando lançamos nosso olhar para a realidade humana e suas carências, ficamos cientes da
enorme necessidade do papel do conselheiro cristão no contexto da Igreja tanto no sentido
intraeclesial quanto extraeclesial. Hoje, mais do que nunca, a figura do conselheiro cristão é
necessária e urgente. Contudo, nota-se que ainda há a produção de literatura destinada ao
grande público que continua a construir um perfil e um papel de conselheiro cristão que não
atende às reais necessidades do nosso momento, como afirma Coelho Filho (2011):
Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o ministério do
aconselhamento para ser bem-sucedido nestas atividades. Ser vocacionado não é uma
garantia de que as coisas darão certo. Prova disso é o grande número de ministérios
que dá errado e de igrejas com problemas muitas vezes causados por pastores. E, da
77
mesma forma, de conselheiros que não conseguem ajudar as pessoas. Há algo mais
além da chamada e da boa vontade em fazer a obra (p.1).
78
Distanciar-se em vez de ter empatia,quando o conselheiro
• por algum conteúdo da relação
com o aconselhando procede se distanciando quando deveria estar presente na relação
como facilitador.
Nesse sentido, passo a transcrever um artigo de autoria de Coelho Filho (2011), que aborda
o perfil e os atributos do conselheiro bíblico. Um trabalho expressivo, com um toque todo
especial de sabedoria e com um bom suporte de fundamentação, informação e reflexãosobre
o conselheiro cristão. Ainda é necessário registrar que tal transcrição sofreu, em alguns
momentos, supressão ou acréscimo, contudo que fique também registrado que toda e qualquer
interpretação do texto apresentado abaixo, resguardado o seu sentido original, é de inteira
responsabilidade nossa.
Coelho Filho (2011) inicia seu artigo abordando o perfil do conselheiro cristão, como segue:
79
O primeiro deles é empatia. A palavra vem da mesma raiz de “simpatia” e de “antipatia”. Simpatia é
sentir na mesma direção, sentir com. Antipatia é sentir contra. Sobre empatia, o
prefi xo grego en nos
esclarece: é “sentir dentro”, “sentir como se fosse a pessoa”. A simpatia pode ser entendida como uma
ternura, mas a empatia é uma profunda compaixão que nos faz colocar-nos no lugar daquela pessoa.
O fundador do cristianismo foi a maior manifestação de empatia que o mundo já viu: “O Verbo se fez
carne” (Jo 1.14). Deus foi empático conosco, na pessoa de Jesus. Empatia tem a ver com compai-
xão. O Salvador era profundamente empático, porque era profundamente compassivo: “Vendo ele as
multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não
têm pastor” (Mt 9.36). E este é um conselho bíblico para todos os cristãos: “Alegrai-vos com os que
se alegram; chorai com os que choram” (Rm 12.15). Somos exortados a experimentar e partilhar os
sentimentos dos irmãos. O autor de Hebreus aconselhou a comunidade cristã nos seguintes termos:
“Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós
mesmos também no corpo” (Hb 13.3). O conselheiro cristão deve ter este sentimento bem aguçado.
Ele não é juiz nem um crítico, mas um ajudador. E um ajudador com compaixão.
Não somos profi ssionais que atendem a pessoa, ouvem-na sem experimentar emoção alguma (algu-
mas vezes bocejando de indiferença), e depois apenas perguntam: “Sim, o que você pensa em fazer
sobre isso?”. Somos pessoas que amam a Deus, que amam o povo de Deus e que servem a Deus
servindo a seu povo. E mostramos nosso amor a Deus no amor ao seu povo. Empatia é mais uma
postura que adotamos que um sentimento que experimentamos. É sentir com a pessoa. A frieza ou a
indiferença é mortal no trabalho do conselheiro. Como bem frisou Collins: “É possível ajudar as pes-
soas mesmo sem compreendê-las inteiramente, mas o conselheiro que consegue transmitir empatia
(principalmente no início do processo terapêutico) tem maiores chances de sucesso”. Ouvi um pastor
psicólogo criticar um pastor que chorou no sepultamento de uma de suas ovelhas, dizendo que ele
era um amador e que não sabia controlar as emoções. O pastor que chorou não se descontrolou,
não surtou nem se mostrou histérico. E merece elogios exatamente porque não
foi um profi ssional de
religião, mas um amador. Benditos sejam os amadores assim!
O segundo é respeito. Por vezes a pessoa chega e abre o seu coração, contando-nos um pecado
que julgamos ser escabroso (e às vezes é mesmo). Então ficamos chocados com a revelação e mos-
tramos à pessoa que não esperávamos aquilo da parte dela. Ou ela nos ataca ou ataca alguém da
igreja. O conselheiro, muitas vezes, é machucado pelo aconselhando. Qual deve ser a reação numa
80
circunstância dessas? Kaller, em uma obra sobre aconselhamento
cristão, usa esta figura: uma pes-
soa não crente se aconselha com o pastor, e lhe diz: “Os membros de sua igreja fazem pior do que as
pessoas que não são crentes”. Ele alista quatro possíveis respostas do conselheiro, e entre elas duas
bem curiosas. O conselheiro poderá dizer: “Você não sabe nada; pior que você não há nenhum” ou
“Os crentes têm suas falhas, mas as falhas dos não crentes são piores”. Diz Kaller: “Esta reação não
facilitará a continuação da conversa, mas é o início de uma discussão”. Ele mostra duas respostas
que seriam mais viáveis: “Você acha que muitos crentes não vivem de acordo com suas crenças?” ou
“Você acha os não crentes melhores que os crentes?”.
Na primeira resposta viável, o conselheiro circunscreveu a questão a uma opinião pessoal do acon-
selhando, e não a deixou como um absoluto. Na segunda, deixou a porta aberta para o aconselhando
continuar a expor sua mágoa. Em nenhum dos dois casos ele deixou a questão descambar para o
bate-boca.
de gabinete. Não citam o nome da pessoa, mas deixam pistas claras de quem sejam. Isto é muito ruim.
Abrir o coração com alguém é tarefa difícil. Muitas vezes é um desnudar da alma, e é doloroso para a
pessoa. Já ouvi muitos casos tristes e dolorosos em gabinete, desde violência sexual que uma criança
sofreu por parte de pai até o uso de drogas por líderes da igreja. Por vezes, o peso era esmagador
e eu me sentia deprimido, querendo um buraco para
me enfiar. Mas sabia que não podia partilhar
81
com ninguém. Um conselheiro deve ser sigiloso. Por isso que deve ser uma pessoa que cuide de sua
vida espiritual e se fortaleça, sempre, com o Grande Conselheiro, Deus. É a vinha dele que ele deve
guardar.
O quarto é sobriedade. O Novo Testamento faz várias referências à sobriedade. Nós é que pouco
mencionamos esta virtude cristã. Há líderes que amam holofotes ou são pouco discretos. Têm grande
necessidade de atenção. Jesus exortou a discrição na vida espiritual, quando deixou recomendações
sobre a oração e o jejum. Sobriedade tem a ver com discrição. Não se faz alarde de que estamos
ajudando alguém. O trabalho do conselheiro é um trabalho de bastidores, que se faz nos bastidores,
e não em público. Como o aconselhamento envolve questões emocionais, e por vezes delicadas, o
conselheiro deve lembrar que a imagem do aconselhando deve ser poupada. Repreensão pública ou
conselhos dados em voz alta prejudicam muito. Ninguém precisa ouvir a conversa. Por isso, quando
atender, fale baixo. Uma das tarefas do conselheiro é ajudar a pessoa a ser madura e tomar decisões
por si, orientada pelo Espírito Santo. Outra tarefa é levantar a pessoa. Neste sentido, expô-la em
público, como alguém tutelado, é prejudicial. Somos conselheiros e não pais de criancinhas travessas
que devem ser chamadas à atenção.
Há conselheiros que gostam de publicidade para que os demais vejam como ele é importante ou como
está sendo usado por Deus. Remo Machado, psicólogocristão, faz esta
afirmação, em uma de suas
obras: “Caso Deus seja o centro de nossa vida, ele tem um plano para nossa existência, e se ele nos
delegou a posição de psicoterapeutas, devemos usá-la para enaltecimento do nome de Deus, e não
para o nosso engrandecimento pessoal”. Sobriedade é esta característica assumida de que somos
apenas instrumentos, a glória é de Deus, fazemos o que temos que fazer e saímos de cena, sem es-
perar aplausos ou reconhecimento. O conselheiro não faz alarde do seu trabalho. A vaidade sempre
é notada, sempre desgasta o vaidoso e geralmente cobra um preço muito elevado. E as pessoas que
aconselhamos não devem ser vistas como troféus a exibir.
O quinto é desprendimento. Isso significa que o conselheiro não
deve levar vantagem na tarefa de
aconselhar. Por vezes, o conselheiro é profissional, um
psicólogoou outro tipo de terapeuta. Neste
caso, ele cobrará consultas. O levar vantagem, neste contexto, significa que
o conselheiro não usa
as informações que recebe, nem antes nem depois do processo de aconselhamento. Suponhamos
que o conselheiro seja o pastor ou o líder de um trabalho. Um irmão o procura e lhe revela um pro-
blema e pede ajuda. Não será justo o conselheiro divulgar publicamente uma possível incapacidade
da pessoa para o exercício de uma função para a qual ela vier a ser indicada. Evidentemente que se
for um caso grave, como uma pessoa que tenha tendências
pedófilas sendo indicada para cuidar de
82
crianças, o conselheiro precisará agir. Mas isso exige cautela. A questão principal é de ordem pessoal:
não levar vantagem. Não impugnar a pessoa para um cargo ou função porque tem outro nome que é
seu preferido ou porque o ambiciona etc. Deve se lembrar também que Cristo pode transformar uma
vida e que um pecado que uma pessoa cometeu no passado não será, necessariamente, cometido
outra vez pela pessoa.
Quem também apresenta um perfil de conselheiro cristão é Clinebell (2000) quando trabalha
a questão das habilidades de poimênica e aconselhamento para o pastor, em especial. Para
este autor, a chave para ser bem-sucedido no aconselhamento está na própria pessoa do
conselheiro. Diante disso, Clinebell (2000) lista seis características, qualidades ou habilidades
que tipificam um perfil de conselheiro cristão.
Clinebell (2000) começa sua lista trazendo as ideias rogerianas, as quais são: congruência,
calor humano não possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) e compreensão empática, e,
83
depois, apresenta mais três de sua autoria.
sentimentos, mais cedo ou mais tarde perde a noção de muitos deles, produzindo pontos
cegos emocionais, principalmente nas áreas de hostilidade, agressividade, sexualidade e
carinho.
2. Calor humanonão possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) – é o equivalente
humano à Graça de Deus em Cristo. Graça é o amor que não se precisa granjear, porque
já está existente em um relacionamento. Segundo Clinebell (2000), “consideração positiva
incondicional é uma mescla de calor humano, gostar da pessoa, preocupa-se com ela,
interessar-se por ela, aceitá-la e respeitá-la” (p.406).
3. Compreensão empática – significa entrar no
mundo interior de significados e sentimentos profun-
Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
4. Uma robusta noção da própria identidade como pessoa - é quando o conselheiro de-
senvolve firmemente sua identidade e valor próprio, de sua
personalidade e vida. É centra-
do. Certamente, observa Clinebell (2000, p.406), quando há essa condição, o conselheiro
é capaz de responder com sensibilidade necessária às necessidades dos outros na medida
em que possui esta consciência centrada de seu próprio valor e personalidade.
84
5. Sarador ferido - esta é uma expressão usada pro Clinebell (2000) que evoca a atitude
terapêutica descrita por Henri Nouwen. Essa atitude provém de uma consciência vivida
de familiaridade com a doença, o pecado, a solidão, a alienação e o desespero da pessoa
com distúrbio e, fundamentalmente, quando o conselheiro se coloca também nesse plano e
reconhece a ação superior de Deus na vida daquela pessoa, pois ele mesmo (conselheiro)
também é suscetível e frágil, necessitado. Por isso Clinebell(2000) afirma: “pela graça de
Deus”, como afirmação de fé necessária para o exercício do aconselhamento cristão.
Vejamos agora algumas atitudes necessárias ao conselheiro cristão, que são apresentadas
por Coelho Filho (2011):
85
Segundo: ele deve evitar dar ordens
Fonte: PHOTOS.COM
86
contrapartida, o conselheiro poderá ver nesta situação como a pessoa está sofrendo.
Mas sua orientação poderá ser apenas um reflexo do que ele faria. E as pessoas
reagem de maneira diferente. O conselheiro poderá mostrar um caminho que ele tem
condições de percorrer, mas talvez a outra pessoa não tenha. Ele precisará refletir
bastante, orar e ter humildade para, se for o caso, dizer à pessoa que naquele momento
não poderá ajudá-la. Se tiver certeza de que estará mais capacitada exatamente por
estar vencendo o problema, deve ajudar. Mas se estiver sendo abatida pelo problema,
terá pouco o que dizer. E deverá ter a humildade de reconhecer isto.
87
sua orientação. Sua missão não é produzir resultados, mas fazer o melhor que puder,
na dependência do Espírito Santo. O resto compete a Deus, que fará a obra no tempo
dele. Que sempre é o certo (pp. 5-9).
Silva (2010) observa que o capelão hospitalar deverá ter as seguintes características:
Vocacionado
O capelão hospitalar, para exercer sua práxis no hospital, deve ter convicção de sua
chamada, de sua vocação para esse ofício, o que exige fé de que foi chamado por
Cristo para este trabalho junto aos enfermos. Ele deve sentir-se chamado por Deus a
partir da realidade do sofrimento para produzir saúde e vida.
Sendo assim, torna-se continuador da ação misericordiosa e libertadora do Cristo para
com os doentes, a exemplo do Bom Samaritano (Lc 10,29-37). Sua ação vai muito
além da simples caridade ou filantropia, transformando situações de indiferença em
solidariedade, contextos de morte em vida, realidades manipuladoras em defesa
88
da dignidade humana ferida. Portanto, transforma-se em agente de mudança e
transformação.
Agente de transformação
Inconformado com a realidade social em que está inserido, ele alimenta uma indignação
ética diante do descaso no tocante à vida humana. O capelão é um profeta. Denuncia o
que contradiz a verdade do evangelho de Jesus Cristo e anuncia uma nova perspectiva
sobre a realidade opressora. Apresenta-se como um ser ativo de presença crítica e
questionante diante da realidade do hospital que não vá ao encontro das necessidades
do enfermo.
Consequentemente é um militante de políticas de humanização que busca colocar
o enfermo como razão de ser e existir do hospital. Para que o capelão consiga
desempenhar bem o seu papel, faz-se necessária uma formação específica e uma
reciclagem (formação) continuada.
Profissional
Segundo Cavalcanti, o hospital funciona sem a presença de um capelão, mas não sem
a presença de médicos e enfermeiros. Portanto, o capelão deverá conduzir-se frente a
esses servidores da saúde com todo respeito e cortesia. Haverá sempre a prioridade
médica ao atendimento do paciente: são raros os casos ao contrário.
Os médicos e enfermeiros estarão trabalhando em suas respectivas áreas, sejam
doenças físicas ou psíquicas, enquanto o capelão direciona a atuação aos cuidados
espirituais. O capelão não deve dar conselhos médicos, receitar remédios, divulgar
diagnósticos ou outro assunto concernente à área médica.
O capelão apresenta-se normalmente à Chefia de Enfermagem quando em visitas
a pacientes nas enfermarias. Devendo participar de treinamento junto aos demais
profissionais para receber informações sobre como proceder em relação a veículos
transmissores de infecção, priorizando o tratamento do paciente e protegendo-o de
possíveis contaminações. Deverá, também, ser informado sobre diagnóstico de
pacientes com doenças infecto-contagiosas. O capelão hospitalar pode, também,
como forma de reconhecimento e congraçamento, promover comemorações no Dia do
Médico e do Enfermeiro.
Educador e evangelizador
Para o bom desempenho do seu trabalho no hospital, o capelão deve desenvolver a
competência de despertar novas lideranças para atuarem neste ministério que está no
“coração de Deus’’, na dimensão humana e ética. O capelão comunica e educa para
uma visão holística em que a pessoa humana é respeitada integralmente nas suas
89
dimensões sociais, físicas, psíquicas e espirituais.
No Hospital Evangélico de Vila Velha, no Estado do Espírito Santo, uma das atribuições
do capelão é ministrar cursos aos agentes voluntários da Pastoral da Saúde de confissão
católica, os quais recebem todo o preparo prático e teórico para atuarem no Hospital.
Atualmente, a capelania deste Hospital conta com cerca de 120 voluntários de várias
denominações religiosas, os quais recebem treinamento para atuarem lá.
Diante disso, pode-se constatar a necessidade de uma formação sólida e específica do
capelão. Por isso, verifica-se a necessidade de o capelão desenvolver a competência
de liderança para desenvolver esse aspecto de sua função no hospital.
Espiritualidade salvífica
De acordo com a capelã e pastora do Hospital Evangélico de Vila Velha Maria Luiza
Ruckert, o serviço de capelania representa um espaço privilegiado para traduzir a
Boa-Nova para a linguagem dos relacionamentos, uma linguagem que nos permite
comunicar uma mensagem de cura, salvação e esperança às pessoas que se debatem
em dor e desespero, incertezas e vazio (característica muito presente na nossa época ).
Portanto, o capelão valoriza a vida humana cultivando uma espiritualidade salvífica,
sendo agente gerador de vida e esperança em meio a dor, sofrimento e morte. Por
isso, deve ser um homem de oração constante e de comunhão profunda com Deus.
Um crente que ora com e pelo doente, um ser que vivencia uma vida orante a partir do
sofrimento humano numa perspectiva de salvação e cura. A partir dessa espiritualidade,
o capelão se torna um pedagogo da fé.
Líder
O capelão deverá saber delegar responsabilidades confiando nas capacidades das
pessoas, com isso evitando centralizações. Ele estimula iniciativas voluntárias que se
apresentam de forma gratuita e solidária movidas pelo amor ao próximo, como, por
exemplo, o voluntariado.
Fonte: PHOTOS.COM
90
inovando, buscando novos métodos e iniciativas para alcançar as pessoas na sua
totalidade. Nesse sentido, a criatividade o leva a sair da rotina e buscar sempre o novo.
Sendo líder, é um conhecedor da realidade pluralista que o cerca e com a qual dialoga.
Ecumênico
A função ocupada pelo capelão exige um bom relacionamento com outros religiosos que
atuam no hospital. Haverá certas ocasiões em que os capelães (católico, evangélico,
rabino etc.) serão convidados pela Administração para participar de solenidades ou
comemorações ecumênicas: cada convite deverá ser estudado para que não haja
dúvida quanto à presença e à mensagem proferida pela capelania.
O capelão, nessa realidade, zela pelo atendimento das necessidades psicoespirituais
dos enfermos segundo a sua tradição religiosa, o que não o impede de manter-se
aberto ao diálogo com outras tradições religiosas.
Nesse sentido, deve ser capaz de realizar um diálogo inter-religioso, cooperando no
objetivo comum de servir ao doente, preservando a própria identidade de fé, nesse
contexto pluralista, onde se encontram diferentes opções religiosas (pp. 32-35).
Conforme Silva (2010), o capelão deve ser uma pessoa de bom relacionamento com todos
no hospital. Sua amizade deve se estender, dos cargos mais simples até os mais elevados.
Sempre deve estar pronto para ajudar, aconselhar e prestar seus serviços. Isso requer
humildade, empatia, sinceridade e também versatilidade. Sua imagem ou papel social é
sempre de alguém espiritual, amoroso e testemunha de Cristo, por isso sua responsabilidade
estende-se a todas as pessoas com as quais convive.
Ainda sobre o perfil do capelão, Saad e Nasri (2008) observam a importância da espiritualidade
no contexto hospitalar, bem como ressaltam a relevância da assistência espiritual ao paciente
internado. Nesse particular, os referidos autores são taxativos em afirmar que não é qualquer
um que pode oferecer esse serviço. Tem que ter conhecimento e habilidade. Nesse sentido,
Saad e Nasri (2008) ressaltam que os capelães têm que desenvolver as seguintes habilidades
religiosas:
91
• Entendimentodo impacto da doença no indivíduo e seus cuidadores.
Partindo desses pressupostos acima, destacamos a partir de Silva (2010, p.36) algumas das
principais atribuições que o capelão possui, as quais o autor faz referência em sua dissertação.
Vejamos:
Hospital.
• Participa de treinamento – principalmente sobre contaminaçãoe recebe orientações sobre
e datas especiais.
92
Fonte: PHOTOS..COM Silva (2010) compreende, por fim, que o
capelão deve ser um profissional que
possui um bom relacionamento com a
Administração do Hospital, não só pelo
aspecto formal de sua função. Por isso,
requer-se de todo aquele que exerce
capelania hospitalar ética e uma postura
irrepreensível.
Conforme Saad e Nasri (2008), são essas as atividades típicas do capelão, no contexto
hospitalar:
• Intervenção em crise.
93
• Avaliação espiritualista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sobre o perfil, a partir de Coelho Filho (2011) e Clinebell (2000), destacaram-se do primeiro
autor: empatia, respeito, sigilo, sobriedade, desprendimento e capacidade enquanto do
segundo autor: congruência, calor humano não possessivo, compreensão empática, uma
robusta noção da própria identidade como pessoa sarador ferido e vivacidade pessoal.
Com relação às atitudes do conselheiro, fundamentadas em Coelho Filho (2011), são: não ser
preconceituoso, não ser controlador, ser objetivo, não se envolver emocionalmente e saber
filtrar o que ouve.
Sobre Capelania Cristã foram trabalhados os estudos de Silva (2010) e Saad e Nasri (2008),
que desenvolveram seus estudos abordando o perfil e papel do capelão.
Com relação às tarefas ou atitudes que o capelão desenvolve, foram destacadas as seguintes:
coordenar o serviço de capelania; capacitar pessoal sobre as questões religiosas e espirituais;
organizar as atividades; orientar os religiosos e pastores que visitam o hospital; assegurar o
cumprimento dos regulamentos sobre a visitação religiosa; aprovar e escrever artigos sobre
temas afins e atuar como membro da equipe médica.
Este link remete a uma associação de capelania hospitalar. Nele você tem informações, orientações,
mensagens, literatura e cursos.
<http://www.capelania.com/2008/index.php>.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1. Como temos ressaltado, é fundamental que tanto o conselheiro quanto o capelão desen-
volvam comportamentos adequados. Nesta unidade, foi concedido espaço para também
listarmos atitudes inadequadas do conselheiro cristão. Diante disso, relacione duas ati-
tudes inadequadas listadas e desenvolva um texto, entre 5 e 10 linhas, que ressalte as
implicações negativas desse comportamento.
3. Vimos dois perfis de conselheiro cristão. Um apresentado por Coelho Filho (2011) e outro
por Clinebell(2000). Faça uma relação entre esses doisperfis destacando pontos seme-
lhantes e diferenças. Seja objetivo em sua resposta, citando e argumentando com referên-
cia aos próprios textos estudados.
4. Assim como o conselheiro tem um papel esperado que aqui foi destacado, assim também
Tem o capelão hospitalar. Que relação é possível fazer entre o perfil do capelão hospitalar e
do conselheiro? Apresente pelo menos duas atitudes que podem ser relacionadas.
95
5. A capelania é uma atividade essencialmente de cuidado. Isso não é em absoluto estranho
no contexto hospitalar. Ser capelão hospitalar é cuidar. Relacione o papel apresentado por
Silva (2010) e as habilidades apresentadas por Saad e Nasri (2008), que argumentam no
sentido positivo de que a capelania é cuidar. Faça essa relação produzindo um texto entre
4 e 8 linhas.
A Prática
Como capelão por mais de 20 anos do Hospital Presbiteriano Dr. Gordon, procurei desenvolver um
ministério prático de visitação. Este projeto de Voluntários para a Capelania do Hospital que segue
representa o aprendizado da teoria que foi confi rmada e ampliada
na prática. Cada experiência de
Capelania Hospitalar ou cada visita aos enfermos são experiências distintas. Porém, os princípios, os
valores, as regras, e as normas são semelhantes e válidos para todos os casos.
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1. Como criar seu espaço de trabalho:
* Entender seu propósito
* Ganhar seu direito
* Trabalhar com equipe médica
2. Deve:
* Identificar-se apropriadamente.
* Reconhecer que o doente pode apresentar muita dor, ansiedade, culpa, frustrações, desespero, ou
outros problemas emocionais e religiosos. Seja preparado para enfrentar estas circunstâncias.
* Usar os recursos da vida Cristã que são: oração, Bíblia; palavras de apoio, esperança, e encoraja-
mento; e a comunhão da igreja. Se orar, seja breve e objetivo. É melhor sugerir que a oração seja feita.
Uma oração deve depender da liderança do Espírito Santo, levando em consideração as circunstân-
cias do momento, as condições do paciente, o nível espiritual do paciente, as pessoas presentes, e
as necessidades citadas.
* Deixar material devocional para leitura: folheto, Evangelho de João, Novo Testamento, etc.
* Visitar obedecendo às normas do Hospital ou pedir de antemão, se uma visita no lar é possível e o
horário conveniente.
* Dar liberdade para o paciente falar. Ele tem suas necessidades que devem tornar-se as prioridades
para sua visita.
* Demonstrar amor, carinho, segurança, confiança, conforto, esperança,
bondade, e interesse na pes-
soa. Você vai em nome de Jesus.
* Ficar numa posição onde o paciente possa lhe olhar bem. Isto vai facilitar o diálogo.
* Dar prioridade ao tratamento médico e também respeitar o horário das refeições.
* Saber que os efeitos da dor ou dos remédios podem alterar o comportamento ou a receptividade do
paciente a qualquer momento.
* Tomar as precauções para evitar contato com uma doença contagiosa, sem ofender ou distanciar-se
do paciente.
* Aproveitar a capela do hospital para fazer um culto. Se fizer
um culto numa enfermaria pode atrapa-
lhar o atendimento médico de outros pacientesou incomodá-los. Deve ficar sensível aos
sentimentos
e direitos dos outros.
* Avaliar cada visita para melhorar sua atuação.
3. Não deve:
* Visitar se você estiver doente.
* Falar de suas doenças ou suas experiências hospitalares. Você não é o paciente.
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* Criticar ou questionar o hospital, tratamento médico e o diagnóstico.
* Sentar-se no leito do paciente ou buscar apoio de alguma forma no leito.
* Entrar numa enfermaria sem bater na porta.
* Prometer que Deus vai curar alguém. Às vezes Deus usa a
continuação da doença para outros fins.
Podemos falar por Deus, mas nós não somos o Deus Verdadeiro.
* Falar num tom alto ou cochichar. Fale num tom normal para não chamar atenção para si mesmo.
* Espalhar detalhes ou informação íntima ou o paciente. Pode orientá-los, mas deixe-os tomarem as
decisões cabíveis e sobre o paciente ao sair da visita.
* Tomar decisões para a família ou o paciente. Pode orientá-los, mas deixe-os tomarem as decisões
cabíveis e sob a orientação médica.
* Forçar o paciente falar ou se sentir alegre, e nem desanime o paciente. Seja natural no falar e agir.
Deixe o paciente a vontade.
Numa visita hospitalar ou numa visitação em casa para atender um doente, sempre observamos
vários níveis de comportamento. Cada visita precisa ser norteada pelas circunstâncias, os nossos
objetivos ou alvos, e as necessidades da pessoa doente.
As perguntas servem como boa base para cultivar um relacionamento pessoal. As perguntas foram
elaboradas pelo Dr. Roger Johnson num curso de Clinical Pastoral Education em Phoenix, Arizona,
EUA . Dr. Johnson lembra-nos que há perguntas que devemos evitar. Perguntas que comecem com
“por que” e perguntas que pedem uma resposta “sim”ou “não” podem limitar ou inibir nossa conversa
pastoral. Segue uma lista de perguntas próprias. A lista não é exaustiva e as pessoas podem criar
outras perguntas. A lista serve como ponto de partida para uma conversa pastoral.
* O que aconteceu para você encontrar-se no hospital?
* O que está esperando, uma vez que está aqui?
* Como está sentindo-se com o tratamento?
* Como está evoluindo o tratamento?
* O que está impedindo seu progresso?
* Quanto tempo levará para sentir-se melhor?
* Quais são as coisas que precipitaram sua enfermidade?
* Ao sair do hospital ou se recuperar, quais são seus planos?
* Como sua família está reagindo com sua doença?
* O que você está falando com seus familiares?
* O que seus familiares estão falando para você?
* O que você espera fazer nas próximas férias (outro evento ou data importante)?
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Os enfermos passam por momentos críticos. Devemosfi car abertos e
preparados para ajudar com
visitas e conversas pastorais. Os membros de nossas igrejas podem atuar nessa área. Uma visita
pastoral ou conversa pastoral serve para dois aspectos de nossa vida.
Primeiro, uma visita demonstra nossa identifi cação humana com o
paciente. Como ser humano nós
podemos levar uma palavra de compreensão, compaixão, amor, solidariedade e carinho. Segundo, na
função de uma visita ou conversa pastoral representamos o povo de Deus (Igreja) e o próprio Deus na
vida do paciente. Assim, levamos uma palavra de perdão, esperança,
confi ança, fé e a oportunidade
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UNIDADE V
Objetivos de Aprendizagem
de crise.
Plano de Estudo
• Aconselhamento de apoio
2 Coríntios 1:4
Certa vez ouvi de um dos meus alunos, em uma aula de aconselhamento pastoral, a seguinte
afirmação: “o nosso problema, no aconselhamento, não é falta de conhecimento bíblico, mas
falta de conhecer a pessoa do aconselhando, seu comportamento”. Essa afirmação remete
sem dúvida aos conhecimentos de métodos e técnicas sobre o ato de aconselhar.
Tenho notado que o grande interesse das pessoas é como proceder quando alguém precisa
de apoio, ou quando está em crise; diante de uma separação; perda pessoal; crise matrimonial
ou como aconselhar toda uma família.
Hoje, temos um número considerável de literatura cristã que tem dado conta dessa demanda,
lembro aqui alguns clássicos, como “Aconselhamento Cristão” e “Ajudando uns aos outros
pelo Aconselhamento” de Collins; “Aconselhamento Pastoral: modelo centrado em libertação e
crescimento” de Clinebell e um dos textos mais recentes nessa área, do conhecido argentino
psicólogo e pastoralista Schipani, “O caminho de sabedoria no Aconselhamento Pastoral”.
Diante disso, nesta unidade estaremos apresentando alguns dos temas em aconselhamento,
bem como métodos e técnicas, que podem ser utilizados para o enfrentamento dessas
situações. Aqui fizemos uma opção em trabalhar com as ideias e casos apresentados pelo
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conselheiro Clinebell em seu livro “Aconselhamento Pastoral”. Fizemos uma seleção de alguns
temas e procedimentos sugeridos pelo referido autor, são eles:
a) Aconselhamento de apoio.
Esperamos que este texto não seja encarado como um receituário, mas como um guia
introdutório teórico-prático para o enfrentamento dos temas abordados aqui.
Ao final de cada tema estudado, tem-se uma sessão denominada “Atividade de exercício
prático de aconselhamento sobre o tema abordado”. O objetivo é bem simples, caro aluno,
possibilitar uma reflexão ou prática para implementar os conhecimentos estudados. Essas
atividades foram todas elaboradas a partir do livro “Aconselhamento Pastoral” de Clinebell
(2000).
ACONSELHAMENTO DE APOIO
Apoio. Essa é uma palavra muito comum no meio cristão. Afinal as pessoas procuram as
igrejas muitas vezes para enfrentar situações que as desestabilizam, pois se encontram
atribuladas quer no âmbito pessoal, conjugal ou grupal. Diante disso, é fundamental que o
conselheiro cristão desenvolva métodos e técnicas que possibilitem:
a) Estabilidade.
b) Alicerce.
c) Alimento.
d) Orientação.
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No aconselhamento de apoio, o conselheiro faz uso de:
1. Orientação.
2. Informação.
3. Tranquilização.
4. Inspiração.
5. Planejamento.
A seguir, vejamos sete procedimentos sugeridos por Clinebell (2000) para o aconselhamento
de apoio:
1) Satisfazer necessidades de dependências – deve ser uma atitude que comunique solici-
tude a uma pessoa atribulada. Há muitas formas de satisfação de dependência:
a) confortar;
b) sustentar;
d) inspirar;
e) orientar;
f) proteger;
g) instruir;
h) colocar limites seguros para evitar comportamento prejudicial à própria pessoa ou a outras.
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podem imprimir objetividade para ver seu problema a partir de uma perspectiva um tanto
mais ampla e explorar alternativas viáveis. Podem tomar decisões mais sábias a respeito
do que podem e devem fazer.
6) Encorajar ação apropriada – quando as pessoas estão aturdidas ou paralisadas por sen-
timentos de ansiedade, derrota, fracasso a autoestima prejudicada por uma perda trágica,
é útil que o conselheiro prescreva alguma atividade que as mantenha em funcionamento
e em contato com outras pessoas; um tipo de “tarefa para casa”. Por exemplo: leituras
relevantes para o problema que a pessoa enfrenta.
7) Usar subsídios religiosos – oração, Bíblia, literatura devocional, a Ceia do Senhor etc,
constituem valiosos recursos de apoio, que são características singulares do aconselha-
mento pastoral.
Por fim, Clinebell (2000) alerta para os perigos do aconselhamento de apoio. Ele faz uma
comparação oportuna quando usa o exemplo do aparelho ortopédico. Ele tem a funçãode
dar um suporte temporário, contudo, existe o perigo desse aparelho se tornar uma muleta (no
sentido negativo), bloqueando o crescimento por meio de uma dependência persistente. É o
que acontece, por exemplo, quando o conselheiro faz alguma coisa que cabe ao aconselhando
fazer. Por isso é fundamental que o conselheiro esteja atento à pessoa e ao contexto em que
está inserida.
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Atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio
Orientações:
1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta como cenas que
aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por exemplo.
2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas ou com mais outras pessoas,
fazerem uma dramatização ou teatralização. Os personagens são apenas dois. Você
necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício. Lembre-se de
estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de apoio.
3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de exercício prático de
aconselhamento de apoio.
Papel do aconselhando
Você é a Sra. V., uma viúva de 81 anos, acamada em consequencias de uma queda que
resultou na fratura de um punho e da clavícula. Você mora com seu filho e a esposa dele.
Sua fé foi seriamente posta a prova por seu acidente. Você não pode compreender por que
Deus parece tão distante. Muitas de suas amigas já morreram e você se sente extremamente
solitária. Você sabe que pode não lhe restar muito tempo de vida (deite-se para assumir esse
papel).
Papel do pastor
Você é o pastor da sra. V. e ela é o membro mais velho de sua congregação. Você tem um
sólido relacionamento pastoral com ela. Enquanto ela fala durante a visita, você percebe a
oportunidade de fazer aconselhamento de apoio como parte de seu ministério poimênico para
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com ela. Enquanto você fala, fique atento aos sentimentos dela e faça com que ela saiba que
você está consciente, refletindo o que você acha que ela está dizendo e sentido. Experimente
os métodos de apoio descritos neste capítulo na medida em que sejam pertinentes. Seja
sensível à possível presença de tensão entre os membros da família.
Papel do observador-monitor
Sua função é ajudar a sra. V. e o pastor, aumentar sua consciência do que está ocorrendo
entre eles e sua consciência do tom de sentimentos da relação de aconselhamento. Sinta-se à
vontade para interromper o aconselhamento ocasionalmente a fim de dar sugestões de como
ele poderia tornar-se mais proveitoso. Seja franco. Como observador você perceberá coisas
importantes que eles talvez não vejam.
A perda pessoal é uma crise humana universal. O pesar está presente: em todas as mudanças,
perdas e transições importantes na vida, não só por ocasião da morte de uma pessoa amada.
Diante das perdas que são as mais diversas, Clinebell (2000) propõe um esquema de cinco
tarefas nesse processo e o tipo de ajuda que facilita a realização de cada tarefa:
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Tarefa de elaboração do pensar Ajuda necessária
1. Experimentar o choque, o entorpecimento, a negação eMinistério de solicitude e presença; ajuda prática
a gradativa aceitação da realidade de perda. e conforto espiritual.
2. Experimentar, expressar e digerir sentimentos Ministério de apoio e escuta responsiva para
dolorosos, por exemplo, culpa, remorso, apatia, raiva, estimular catarse plena.
ressentimento, anseio, desespero, ansiedade, vazio,
depressão, solidão, pânico, desorientação, perda da
identidade clara, sintomas físicos etc.
3. Aceitação gradativa da perda e remontagem da vida da Ministério de apoio e escuta responsiva para
pessoa sem aquilo que se perdeu, tomando decisões e estimular catarse plena.
enfrentando a nova realidade desaprendendo antigas
maneiras de satisfazer as próprias necessidades e
aprendendo novos modos. Dizer adeus e reinvestir a
energia vital em outros relacionamentos.
4. Situar a perda da pessoa em um contexto mais amplo Ministério de facilitação do crescimento
de sentido e fé; aprender com a perda. espiritual.
5. Dirigir-se a outros que estão experimentando perdas Ministério de capacitação para entrar em contato
semelhantes, para ajuda recíproca. com outros.
É importantíssimo ressaltar que há perdas que podem ser difíceis de serem enfrentadas. A
ambivalência é esperada, mas quando a pessoa continua, por exemplo, a superidealizar o
falecido, está usando das defesas da negação e repressão. É necessário que a pessoa saiba
entender os sentimentos reprimidos. Clinebell (2000) destaca alguns perigos:
b) Ausência de luto.
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e) Problemas psicossomáticos graves.
f) Desorientação.
g) Alterações na personalidade.
h) Sentimentos de culpa.
i) Indignação.
Por fim, é importantíssimo ressaltar que o pesar em si não é doença. Trata-se de um processo
normal de cura; somente quando o pesar passa a ser um processo patológico é que requer
aconselhamento ou psicoterapia especializada.
Orientações:
1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta como cenas que
aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por exemplo.
2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais outras pessoas,
fazerem uma dramatização ou teatralização. Os personagens são apenas dois. Você
necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício. Lembre-se de
estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de apoio.
110
3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de exercício prático de
aconselhamento de apoio.
Papel do aconselhando
Se você teve uma perda dolorosa em sua vida dirija-se ao pastor, pedindo que o ajude. Ou
procure mergulhar nos sentimentos de alguém que você conhece bem e que está em pleno
processo de digerir uma perda grave. Desempenhe o papel daquela pessoa buscando a ajuda
do pastor.
Ou você é Jane Carone, uma mulher de uns 45 anos, cujo marido Ricardo faleceu
inesperadamente a 2 meses, de ataque cardíaco. Você sente profundamente a perda e acha
quase impossível enfrentar contatos sociais, principalmente na igreja, onde vocês participavam
ativamente como casal. Você se sente muito deprimida e gostaria de se esconder das pessoas.
Papel do pastor
Utilize o que você aprendeu nesta unidade sobre a facilitação do trabalho de pesar, fazendo
aconselhamento com um desses membros. Lembre-se da necessidade que a pessoa tem de
ajuda por meio de tarefas específicas de trabalhar o pesar.
Papel do observador-monitor
Interrompa a sessão periodicamente para fornecer ao pastor feedback sobre sua eficiência
no processo de elaboração do pesar, principalmente no que tange à vazão de sentimentos
inacabados.
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ACONSELHAMENTO EM CASOS DE CRISE MATRIMONIAL
Principalmente no contexto religioso, o casamento é tido como uma benção para a vida
amorosa e sexual do homem e da mulher. Contudo, o relacionamento no contexto conjugal
não é tão simples assim, uma vez que quando homem e mulher se unem produzem uma
identidade conjugal própria.
Segundo Clinebell (2000), o homem e a mulher se atraem porque cada um espera que o
relacionamento satisfaça várias necessidades suas. Cada qual traz por dentro do casamento
uma constelação singular de necessidades da personalidade. Essas necessidades precisam
receber o mínimo de satisfações, para que a pessoa seja capaz de satisfazer as necessidades
do parceiro e dos filhos.
Collins (1995) observa que a origem dos problemas, do ponto de vista bíblico, é justamente
quando o casal se afasta dos princípios bíblicos, os quais são transformados consequentemente
em problemas conjugais. Vejamos alguns deles:
a) Comunicação defeituosa – esta é uma das principais causas de discórdia conjugal. É quando
um não consegue ouvir ou responder ao outro. E isso se dá pelas mensagens verbais e não
verbais, em nosso dia a dia. Por exemplo, quando um marido que dizer “eu te amo”, para ele
fazer isso é comprar um presente; mas sua esposa não o entende, pois quer ouvir literalmente
as palavras de sua boca.
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desenvolvidas, pois temos duas ou três décadas de vida e já estamos bem “treinados” em
um modo de vida, ou seja, em viver “solteiros”. Quando nos casamos, temos que interagir
e buscar conviver com o outro, e aqui são fundamentais o entendimento e os processos de
síntese para a construção madura de uma conjugalidade. Quando isso não ocorre e há má
vontade porparte de um dos cônjuges certamente os problemas conjugais vão aparecer. Esses
problemas muitas vezes se configuram nessas áreas: sexo, papéis no relacionamento, religião,
valores, necessidades e dinheiro.
• As exigências profissionais.
113
3. Se conscientizar dos pontos fortes e dos recursos não utilizados em si próprio e em seu
relacionamento, os quais pode usar para efetuar mudanças construtivas em si próprio e em
seu matrimônio.
5. Negociar e então executar planos viáveis e justos de mudanças, nos quais cada pessoa
assume a responsabilidade de mudar a sua parte na interação entre os dois.
Assim como é necessário que o conselheiro disponibilize técnicas e habilidades para conversar
com o aconselhando, também é fundamental que o conselheiro de casal desenvolva também
114
uma metodologia na primeira sessão para garantir o sucesso no processo de aconselhamento
conjugal. Vejamos os seguintes procedimentos do conselheiro:
1. Comunicar calor humano, demonstrar solicitude e disposição para ajudar, bem como
certificar o casal da validade de sua iniciativa de vir buscar ajuda.
6. Após expressar a dor e o sofrimento, descobrir o que cada pessoa ainda aprecia no
casamento e no outro; e quais os pontos fortes e os recursos potenciais que eles têm para
fortalecer seu matrimônio pelo aconselhamento.
7. Fazer uma escolha provisória (com base nos pontos 2 e 4) entre tentar aconselhamento de
curto prazo para crise matrimonial ou encaminhar o casal ao terapeuta conjugal.
8. Caso houver sinais de que o aconselhamento de curto prazo provavelmente será útil,
pedir ao casal que venha a três ou quatro sessões adicionais para poder decidir sobre o
encaminhamento.
9. Ajudar o casal a decidir e comprometer-se com certas tarefas a serem efetuadas em casa
entre as sessões; alguma pequena ação construtiva que empreenderão no sentido de contribuir
para que o quanto antes seu relacionamento se torne mais satisfatório reciprocamente.
10. Verificar e aceitar, perto do final da sessão, quais sentimentos negativos que possam ter.
115
11. Somente use da oração ou de outros recursos religiosos quando for claramente apropriado
para o casal em questão.
12. Após a sessão, reflita sobre o que ficou sabendo e faça planos para tentar ajudar o casal;
entre em contato com um colega aconselhador, caso a situação seja complicada ou confusa.
O trabalho com casais vai bem além da boa vontade ou de boa intenção. É necessário ter uma
metodologia que contribua para a identificação precisa do que de fato tem gerado conflitos
e problemas ao casal. A falta de comunicação é um dos primeiro sintomas: deixa de haver
ou apresenta muitos ruídos, como se diz na linguística moderna. Vejamos, a seguir, duas
propostas de intervenção em aconselhamento conjugal, uma elaborada por Clinebell (2000) e
outra por Collins (1995).
Primeiro passo:
Após ambos ouvirem um ao outro, devem anotar tudo o que ouviram em um caderno
denominado de crescimento.
Segundo passo:
116
Identifiquem a frente de crescimento da sua relação completando um de vocês a sentença:
“De você eu preciso...” tantas vezes quantas quiser. Declarem suas necessidades/desejos
correspondidos ou parcialmente correspondidos em termos de comportamento da parte de
outro.
Depois de um completar a lista, o outro deve repetir o que ouviu, para garantir que as
necessidades foram bem entendidas.
Depois que ambos declararam suas necessidades e verificaram o que um entendeu do que
o outro disse, tirem um tempo para anotar as necessidades de cada um em seu caderno do
crescimento.
Terceiro passo:
Quarto passo:
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Convém repetir o primeiro passo com regularidade ao colaborarem no sentido de fazer com
que seu relacionamento faça mais jus as suas necessidades.
Por fim, é importante ressaltar que esse método pode ser aplicado não somente com casais,
mas famílias, amigos, colegas e relacionamentos de equipe de trabalho, por exemplo. O
objetivo é aumentar a satisfação mútua de necessidades e assim reduzir frustração e conflitos,
como afirma Clinebell (2000).
Estágio I – Início
Conselheiro:
• Mostrar confiança.
Aconselhando:
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Estágio II - Manifestação de problemas básicos
Conselheiro:
Aconselhando:
• Avaliar soluções.
• Expressar frustrações e temores.
Estágio IV - Final.
Conselheiro:
Aconselhando:
• Reavaliar o progresso.
Orientações:
1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta, como cenas que
aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por exemplo.
2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais outras pessoas,
fazerem uma dramatização ou teatralização. Os personagens são apenas dois. Você
necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício. Lembre-se de
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estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de apoio.
3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de exercício prático de
aconselhamento de apoio.
Requer duas pessoas. Como casal, vocês estão experimentando doloroso conflito e frustração
em seu relacionamento. Use um relacionamento com o qual um de vocês dois está bem
familiarizado para definir a dinâmica dos papéis. Procurem a ajuda de seu pastor.
Papel do pastor
Utilize o que você aprendeu ao ler e refletir sobre esta unidade, Para fazer aconselhamento
com este casal. Experimente a adaptação do MRI descrito para aconselhamento neste caso.
Papel do observador-monitor
Procure dar ao pastor feedback sobre o quanto ele se concentra na interação do casal como
diretriz primordial do aconselhamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta unidade, caro aluno, foi desenvolvida com o objetivo de expor uma teoria da prática em
aconselhamento cristão que pudesse atender tanto o conselheiro quanto o capelão.
121
matrimonial, uma com Collins (1995) e a outra com Clinebell (2000). A primeira ressaltou os
seguintes estágios: início, manifestação de problemas básicos, desenvolvimento e aplicação
de soluções e tentativas e final. A segunda é um método denominado relacionamento ou
matrimônio intencional, o qual tem como objetivo provocar o aumento da satisfação mútua de
necessidades e assim reduzir frustrações e conflitos por meio de quatro passos: 1) ouvir e
receber esses atributos; 2) neste passo destacam-se as necessidades/desejos correspondidos
ou parcialmente correspondidos em termos de comportamento do casal; 3) o objetivo neste
passo é aumentar intencionalmente a satisfação mútua do relacionamento e fomentar assim
o amor, pela escolha de uma das necessidades de cada um (ou uma necessidade conjugal), e
isso é feito com a elaboração de um plano concreto e viável, com uma programação cronológica
que corresponda a essas necessidades do casal e 4) após a execução do plano de mudança,
deve-se executar outros planos para atender outra necessidades e assim sucessivamente.
Este link remete você, caro aluno, ao livro digitalizado de Aconselhamento Pastoral de Clinebell. Esta
obra é um clássico da literatura em aconselhamento pastoral.
<http://books.google.com.br/books/about/Aconselhamento_pastoral.html?hl=pt-
-BR&id=vYIK7NvMMbEC>.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
3. O luto é um processo próprio de todo aquele que vive uma relação. A morte de um ente que-
rido é um dos exemplos mais apropriados de luto. Não vivenciá-lo pode ser uma das formas
de negação da pessoa que sofre além do que pode suportar. Por isso, cabe ao conselheiro
desempenhar seu papel como suporte nessa situação. Posto isso, os comportamentos de
perda em um aconselhando devem ser entendidos como uma doença? Sim ou não? Expli-
que e justifi que a sua resposta.
4. É importante ressaltar que quando uma pessoa procura ajuda ela pode não reunir condições
para se expressar adequadamente. E, ainda, se procura ajuda é porque não consegue
identifi car as suas necessidades e tratá-las. Por
isso, cabe ao conselheiro desenvolver
técnicas que deem conta de ajudar o aconselhando a falar. Elabore um texto, entre 5 e 10
linhas, que explique como ajudar um aconselhando se expressar da melhor forma.
O físico matemático e filósofo francês Blaise Pascal, disse que: “Existe no coração do homem um
vazio do tamanho de Deus, o qual, somente Jesus Cristo pode preencher”.
Segundo o estudo da psiquiatra brasileira, Nise da Silveira, religião é compreendida no sentido de
“religar o consciente com certos poderosos fatores do inconsciente” onde o ponto de conexão é esti-
mulado pela força da experiência com o “numinoso”, conceito que ela toma da filosofia de Otto.
Esta autora compreende que Jung valida a realidade dos deuses desde que estes “sejam ou tenham
sido atuantes no psiquismo do homem...”, pois, “...há verdades psíquicas que, do ponto de vista físico,
não podem ser explicadas ou demonstradas, nem tão pouco recusadas.”
Rollo May (2002, p.172)afirma que “o abuso da religião é o que Freud ataca” sugerindo com essa
colocação que Freud não descarta o fenômeno religioso e sim o abuso dele.
Então, vou partir da compreensão dos autores citados, bem como do autor de referência que o “re-
-ligar” com o transcendente (religião) é algo existente e necessário ao homem. Assim, entendendo
religião como um fenômeno complexo, mas inegavelmente a dificuldade que parece surgir, segundo
a exposição de May, é quando:
123
Certas pessoas fazem uso da religião como meio para se apoiarem num estado
intermediário de desenvolvimento, construindo para si um ninho de falsa segurança e
proteção em que possam ver a vida como proteção doce e cor-de-rosa que cuida de
todos os verdadeiros crentes...
125
REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri: Sociedade
do Brasil, 2000.
CASTRO, E. Pastores del Pueblo de Dios en America Latina. Buenos Aires: La aurora,
1974.
_________. Ajudando Uns aos Outros pelo Aconselhamento. São Paulo: Vida Nova,
1993.
127
HOEPFNER, D. Fundamentos Bíblico-Teológicos da Capelania Hospitalar: Uma
contribuição para o cuidado integral da pessoa. 2008. Dissertação (Mestrado em Teologia) –
Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 2008.
SCHIPANI, D. S. El Consejo Pastoral Como Practica de Sabiduria. Revista Pistis & Práxis:
Teologia e Pastoral: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, v. 3, n. 2, jul./dez.
2011.
128
SZENTMÁRTONI, M. Introdução à Teologia Pastoral. São Paulo: Loyola, 1999.
129