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ENFERMAGEM NA
ATENÇÃO BÁSICA
Introdução
A atenção básica desempenha um papel fundamental na organização
do Sistema Único de Saúde (SUS), na medida em que se configura como
a porta de entrada da Rede de Atenção à Saúde (RAS), a qual organiza
todo o funcionamento do sistema. Dessa forma, o SUS precisa ser estru-
turalmente capaz de atender à demanda dos usuários que irão procurar
os seus serviços, de modo a oferecer condições seguras e dignas de
atendimento à população.
Em geral, na gestão do funcionamento da Unidade Básica de Saúde
(UBS) está o enfermeiro, que deve atuar gerenciando os processos admi-
nistrativos para prover o andamento das atividades da unidade de saúde.
Além disso, o enfermeiro, enquanto gestor da unidade de saúde, deverá
realizar a articulação contínua junto à Secretaria da Saúde e à Gestão
Municipal dos processos gerenciais da unidade.
Neste capítulo, você vai estudar a organização estrutural das UBSs e
conhecer os seus processos de gerenciamento, bem como compreender
a atuação do enfermeiro no gerenciamento das UBSs.
2 O papel do enfermeiro no gerenciamento de Unidades Básicas de Saúde
Para que esse objetivo possa ser alcançado, a ESF inicia seu processo de
trabalho mapeando o seu território de abrangência e cadastrando a população
que ficará adstrita aos seus cuidados. Além disso, é realizado o diagnóstico de
saúde e o perfil epidemiológico da comunidade, a partir do qual será realizado
o planejamento das ações e a definição das prioridades de trabalho da equipe
de saúde da família (BRASIL, 2006).
As experiências da ESF demonstraram que a coexistência das equipes
de atenção básica tradicional e das equipes de saúde da família exercendo
suas atividades em uma mesma estrutura física pode gerar conflitos entre as
equipes e confusão advinda da vinculação entre a comunidade adstrita e a
equipe de saúde da família.
Dessa forma, evidenciou-se, cada vez mais, a necessidade de estruturar
a ESF com UBSs que tenham condições ambientais de oferecer a assistên-
cia preconizada nos objetivos da estratégia. Nesse sentido, o MS publicou
orientações estruturais que devem servir de parâmetros para fundamentar a
construção, o remodelamento e a reforma das UBSs, de modo a atender às
necessidades e às finalidades da ESF.
É fundamental que a UBS que vai contar com equipe de saúde da família
esteja integrada à comunidade, que o acesso seja facilitado e que a sua identi-
ficação esteja em um local de fácil visualização. Considerando a prerrogativa
da interdisciplinaridade do trabalho da equipe de saúde, as unidades precisam
ter espaços físicos que possam ser compartilhados por diferentes profissionais
em atividades diversas.
O MS definiu que cada equipe de saúde da família deverá ficar responsável
por 4 mil pessoas. Além disso, ele estabeleceu que uma UBS poderá comportar
no máximo cinco equipes de saúde da família.
Serão apresentados, a seguir, alguns parâmetros estruturais recomendados
pelo MS no Manual de estrutura física das unidades básicas de saúde: saúde
da família, publicado em 2008, nos termos da Resolução da Diretoria sobre
a regulamentação técnica para planejamento, programação e avaliação de
projetos físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EASs).
Os parâmetros apresentados se referem a uma UBS com uma equipe de
saúde da família:
recepção/arquivo de prontuários;
sala de espera com capacidade para 15 pessoas;
sala de administração e gerência;
sala de reuniões e educação em saúde;
consultório com sanitário;
4 O papel do enfermeiro no gerenciamento de Unidades Básicas de Saúde
consultório;
sala de vacinas;
sala de curativo/procedimentos;
sala de nebulização;
farmácia (sala de armazenamento de medicamentos);
equipe odontológica;
escovário;
área de compressor;
sanitário para usuário;
sanitário para deficiente;
banheiro para funcionários;
copa/cozinha;
depósito de materiais de limpeza;
sala de expurgo, lavagem e descontaminação de materiais e instrumentos;
sala de esterilização;
sala de utilidades (apoio à esterilização);
abrigo de resíduos sólidos;
depósito de lixo;
sala para Agentes Comunitários de Saúde (ACSs).
Além da estrutura mencionada acima, as UBSs com ESFs devem ter carac-
terísticas estruturais que precisam ser observadas para o adequado desempenho
das atividades da equipe. Nesse sentido, essas unidades devem ter instalações
elétricas que forneçam a luminosidade necessária, a ventilação adequada e
ambientes e mobiliários que permitam a limpeza e a desinfecção.
O MS destaca alguns fatores que devem ser observados:
Territorialização na ESF
A territorialização é um processo de responsabilização da equipe da ESF que possibilita
conhecer os condicionantes e determinantes de saúde da população da região onde
a unidade de saúde está inserida.
A adscrição da comunidade à unidade de saúde não se configura apenas como
uma regionalização formal para fins de atendimento, mas, sim, como um método
necessário para a definição e a consolidação das relações de compromisso entre
equipe e usuários (SANTOS; RIGOTTO, 2010).
A territorialização pode ser realizada a partir de diferentes divisões:
território distrito — apropriada para municípios de grande porte, essa territoria-
lização é realizada de acordo com a lógica político-administrativa, possibilitando a
proximidade entre a população e a administração pública. Ela tem como objetivo
delimitar um território administrativo assistencial que contemple um conjunto de
pontos assistenciais e uma população adstrita.
território área — trata-se de um território processo, sob responsabilidade de
uma UBS, com ações que priorizam a vigilância em saúde. Tem como objetivo o
planejamento de ações, organizando os serviços e viabilizando os recursos neces-
sários para o atendimento das demandas de saúde da comunidade residente no
território, visando a melhorar os indicadores de saúde.
território microárea — configura-se em uma subdivisão do território/área sob a
responsabilidade da equipe de saúde. Corresponde, ainda, à área de trabalho dos
ACSs. Essa territorialização tem como objetivo delimitar os espaços onde estão
concentrados os grupos populacionais, de modo a identificar as demandas de
saúde das famílias que ali residem e promover o planejamento, a implementação e
o acompanhamento de ações e intervenções que busquem melhorar as condições
de saúde dessa população (SANTOS; RIGOTTO, 2010).
A territorialização é fundamental para o adequado processo de trabalho das equipes
da ESF, na medida em que permite a aproximação e a formação de vínculo entre as
equipes e a comunidade. Além disso, permite a realização do perfil epidemiológico da
população adstrita, oportunizando condições de realizar o planejamento de ações e
intervenções adequadas à cultura e aos costumes locais e que atendam às necessidades
da comunidade.
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Planejamento
Em uma abordagem estratégica, o planejamento de saúde se dá por um pro-
cesso democrático e contínuo que abrange dimensões técnicas e políticas. O
planejamento deve documentar e anunciar as políticas de saúde definidas pelos
diferentes agentes sociais que estão envolvidos nesse processo.
Nesse sentido, o plano local é a principal ferramenta orientadora da gestão
dos serviços, auxiliando na supervisão e na avaliação do trabalho da equipe.
O planejamento deve contemplar diferentes aspectos da atenção:
territorialização;
cobertura populacional;
perfil demográfico e epidemiológico da população adstrita;
indicadores da qualidade e da integralidade da atenção em saúde
oferecida;
acessibilidade aos serviços;
humanização da assistência.
Organização e coordenação
A organização de uma unidade de saúde contempla um conjunto de servi-
ços e ações que são desenvolvidas para possibilitar a estruturação física e
o aprimoramento dos colaboradores, por meio da aplicação oportuna dos
recursos essenciais para o oferecimento de serviços de assistência à saúde
com qualidade à população.
A estrutura organizacional da unidade de saúde como um processo de
divisão e ordenação dos serviços precisa, fundamentalmente, da utilização
de instrumentos de coordenação, comunicação, padronização dos procedi-
mentos operacionais, acompanhamento, supervisão e avaliação do trabalho.
Para otimizar esses processos, faz-se necessária a utilização de um sistema
informatizado que oportunize o acesso e a geração de dados fidedignos ca-
pazes de fundamentar o processo decisório e a elaboração de propostas de
ações e intervenções.
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Gestão de pessoas
Nas UBSs, a gestão de pessoas contempla a realização do dimensionamento de
pessoal, a elaboração das escalas de trabalho da enfermagem, o acompanha-
mento, a supervisão e a avaliação de desempenho da equipe e a programação
e a realização de atividades de educação continuada (SANTOS; MIRANDA,
2007).
Supervisão
A supervisão se configura como uma atividade gerencial que compreende a
orientação constante dos colaboradores, com vistas ao seu aprimoramento
e, consequentemente, à melhora do seu desempenho na execução de suas
atribuições. Nesse sentido, a supervisão deve ser realizada a partir da aná-
lise dos processos de trabalho da equipe da UBS, identificando fraquezas e
demandas para que seja possível buscar alternativas de reorganização dos
processos, de modo a solucionar os problemas encontrados e aprimorar os
serviços oferecidos à comunidade.
Na execução de suas atividades de supervisão, o gestor poderá utilizar
técnicas ou instrumentos que o auxiliem, como por exemplo:
observação direta;
entrevistas com usuários e equipe de saúde;
avaliação qualitativa e quantitativa dos serviços;
pesquisas de satisfação;
reuniões de equipe;
revisão de documentos técnicos e indicadores de saúde;
mapas de produtividade e relatórios estatísticos;
fichas de avaliação e acompanhamento e outros.
Avaliação
O acompanhamento e a supervisão dos serviços irão fundamentar a avaliação
geral do desempenho da unidade e a avaliação individual de cada colaborador
na execução de suas atribuições. O gestor poderá utilizar instrumentos e
mecanismos de avaliação que lhe forneçam subsídios para a elaboração de
um relatório de desempenho, tais como:
O papel do enfermeiro no gerenciamento de Unidades Básicas de Saúde 11
Articulação
O gestor de uma UBS precisa realizar constantemente a articulação entre os
diferentes agentes sociais que estão envolvidos no processo administrativo
da instituição, ou seja, ele será o elo entre a comunidade, os trabalhadores de
saúde, os dirigentes da Secretaria Municipal de Saúde e a gestão municipal,
interagindo ativamente para viabilizar condições que sejam favoráveis para a
execução plena das atividades da UBS com eficiência e eficácia.
12 O papel do enfermeiro no gerenciamento de Unidades Básicas de Saúde
Medidas de morbidade
As medidas de morbidade são amplamente utilizadas no planejamento das ações
de saúde de uma UBS. Elas são parte importante dos indicadores epidemiológicos que
serão utilizados para que o gestor possa traçar o perfil epidemiológico da população
O papel do enfermeiro no gerenciamento de Unidades Básicas de Saúde 13
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