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Farmacologia e

Toxicologia Geral
Processos Farmacodinâmicos de Fármacos como Agentes
Antimicrobianos e Anabolizantes

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Mariana Cavalcante e Almeida Sá

Revisão Técnica:
Prof.ª Dr.ª Meire Silva

Revisão Textual:
Maria Cecília Andreo
Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes

• Conceitos Gerais Sobre Antimicrobianos;


• Classificação dos Antimicrobianos;
• Anabolizantes.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer os principais agentes antimicrobianos: antissépticos, desinfetantes, quimioterá-
picos anti-infecciosos, antibióticos β-lactâmicos, antibióticos que interferem na síntese da
parede celular, ácidos nucleicos e proteínas e agentes antifungos e antivirais (antimicro-
bianos na mastite);
• Conhecer a ação dos anabolizantes.
UNIDADE Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes

Conceitos Gerais Sobre


Antimicrobianos
A primeira coisa que precisamos esclarecer é: O que são os antimicrobianos? Bem, os
antimicrobianos, ou anti-infecciosos, são substâncias químicas usadas para combater os
diversos tipos de microrganismos.

Figura 1 – Manuseio de meio de cultura


Fonte: Getty Images

Outro ponto importante é saber quais são os tipos de antimicrobianos e como


eles atuam. Como pode ser visto na Figura 2, os antimicrobianos são classificados
em dois tipos, dependendo do mecanismo de ação do fármaco. O primeiro tipo de
antimicrobianos são os inespecíficos. Eles atuam em praticamente todos os tipos de
microrganismos, quer sejam patogênicos, quer não (por exemplo, os antissépticos e
os desinfetantes). O segundo tipo de antimicrobianos são os específicos, que atuam
em microrganismos responsáveis por doenças infecciosas que acometem os humanos
e os animais (como exemplo temos os quimioterápicos e os antibióticos).

Antimicrobianos

Inespecíficos Específicos

Antissépticos Desinfetantes Quimioterápicos* Antibióticos


(empregados sobre a (empregados em (produzidos por (produzidos por
pele e as mucosas) superfícies e objetos) síntese laboratorial) seres vivos)

*Este termo é utilizado apenas para fármacos que atuam sobre neoplasias.

Figura 2 – Classificação dos tipos de antimicrobianos


Fonte: Adaptada de SPINOSA, et al., 2017

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Classificação dos Antimicrobianos
Como discutido previamente, os antimicrobianos são divididos em específicos e ines-
pecíficos. Agora falaremos um pouco sobre cada um deles, exemplificando seus princi-
pais fármacos e tipos de atuação (Figura 3).

Figura 3 – Diferentes tipos de medicamentos


Fonte: Getty Images

Antissépticos
Antisséptico é um termo utilizado para substâncias que apresentam a capacidade de
degradar ou inibir a proliferação de microrganismos presentes na superfície da pele e das
mucosas. São substâncias usadas para desinfectar ferimentos, pois evitam ou reduzem o
risco de infecção pela ação de bactérias ou germes. Os antissépticos são representados
por substâncias como aldeído, álcool, ácido, fenol, entre outras (Figura 4).

Figura 4 – Tipos de antissépticos


Fonte: Getty Images

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Desinfetantes
Os desinfetantes são similares, em ação, aos antissépticos. No entanto, essas subs-
tâncias são aplicadas em superfícies não vivas para destruir os microrganismos sobre
objetos. A ação desinfetante não mata, necessariamente, todos os microrganismos, mas
é eficaz na esterilização de superfícies (processo químico ou físico que mata todos os
tipos de vida). Assim como os antissépticos, os desinfetantes são representados por
substâncias como aldeído, álcool, ácido, fenol, entre outras (Figura 5).

Figura 5 – Aplicação de desinfetante


Fonte: Getty Images

Quimioterápicos
O termo quimioterapia foi originalmente usado para descrever o uso de fármacos
“seletivamente tóxicos” para patógenos (incluindo bactérias, vírus, protozoários, fungos
e helmintos), tendo efeitos mínimos no hospedeiro. Atualmente, refere-se ao uso de
fármacos aplicados em tratamentos de tumores. Existe, porém, a quimioterapia antimi-
crobiana, que consiste na ação farmacológica de matar ou inibir o microrganismo sem
afetar o hospedeiro. Essa toxicidade é fundamentada nas diferenças entre a estrutura e
a composição química das células procarióticas e eucarióticas.

Antibióticos
Os antibióticos atuam sobre as bactérias e podem ser classificados em dois grandes
grupos: bactericidas (responsáveis por matar as bactérias) e bacteriostáticos (impedem
a reprodução bacteriana). Para isso, oferecem como mecanismos de ação a inibição da
síntese proteica, alteração da parede celular bacteriana, alterações nas proteínas da mem-
brana plasmática, inibindo a síntese de RNA ou bloqueando a replicação ou o reparo do
DNA (Figura no link a seguir).

Tipos de antibióticos. Disponível em: https://bit.ly/32cNZOc

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Como há diversidade considerável quando se trata de bactérias, a abrangência dos
antibióticos também é bem elevada. Há antibióticos naturais e semissintéticos, como
os β-lactâmicos, tetraciclinas, peptídicos cíclicos, aminoglicosídeos, estreptograminas,
macrolídeos, entre outros. Os antibióticos produzidos de maneira sintética podem ser
classificados em sulfonamidas, fluoroquinolonas e oxazolidinonas.

Dentro desse quadro, discutiremos os principais tipos de antibióticos baseados em


seu mecanismo de ação:

Medicamentos que atuam na parede e na membrana celular:


• β-lactâmicos: esse grupo de fármacos corresponde à grande parte do grupo de
antimicrobianos variados, ou seja, as classes de antibióticos cuja fórmula molecular
contém um anel β-lactâmico (Penicilinas, Cefalosporinas, Monobactâmicos e Carba-
penêmicos) e outros fármacos que inibem a enzima bacterianas β-lactamase e ami-
dase (por exemplo, Ácido Clavulânico, Sulbactam e Tazobactam). Essas enzimas
são capazes de inativar, por degradação, algumas Penicilinas e Cefalosporinas e, por
isso, o uso desses medicamentos inibidores é capaz de intensificar a ação ou mesmo
ampliar o espectro desses antibióticos;
• Penicilinas (PCN ou pen): trata-se de uma substância derivada do fungo do gênero
Penicillum. Como exemplo, temos: Benzilpenicilina ou Penicilina G, Penicilina V,
Nafcilina, Oxacilina, Cloxacilina, Dicloxacilina, Amoxicilina, Amoxicilina/Clavula-
nato, Piperacilina e Ticarcilina.
Seu mecanismo de ação se dá (1) pela inibição da síntese da parede celular bacteria-
na a partir da interação covalente com a enzima PBP (Penicillin Binding Protein),
na membrana citoplasmática desses organismos, logo abaixo da parede celular (elas
penetram na célula por meio de porinas presentes nessa estrutura). Essa enzima,
quando ativada, remove a alanina terminal do ácido N-acetilmurâmico (componente
dos polissacarídeos que, juntamente com polipeptídeos e peptídeoglicanas, formam
o polímero cruzado complexo que origina a parede celular bacteriana) no processo de
formação de ligações cruzadas com o peptídeo vizinho. Como essas ligações cruzadas
são justamente as que garantem a rigidez estrutural da parede celular, o organismo
se torna vulnerável. Esse processo corresponde à inibição de reações de transpepti-
dação (na fase de ligação cruzada, com já foi dito), uma das últimas etapas na síntese
da parede. Assim como os outros β-lactâmicos, geralmente são bactericidas, de time-
-dependent killing (quanto maior for o tempo de ação, mais bactérias serão mortas)
através da plasmólise provocada em bactérias replicantes (não atua sobre bactérias
que já possuem parede celular, somente em crescimento e produção de parede celu-
lar). A presença de β-lactamases no espaço periplasmático é um importante meca-
nismo de evasão microbiana em algumas bactérias; (2) outro possível mecanismo de
ação envolvido na alteração da morfogênese da parede celular é a ativação indireta de
autolisinas pelas penicilinas (por meio de uma desestabilização do complexo endógeno
inibidor dessa autólise, o ácido lipoteicóico). Esses fármacos podem apresentar efeitos
colaterais. Apesar de serem pouco tóxicos, podem desencadear reações de hipersensi-
bilidade, sendo que todos eles têm sensibilidade e reatividade cruzada. Devido ao risco
de anafilaxia nesse grupo, as penicilinas devem ser preferencialmente substituídas
por outra classe compatível ou usadas com muita cautela, acompanhada de desensi-
bilização e aumento progressivo de dosagem, se não for possível a substituição.

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Pelo fato se ser uma substância utilizada já há bastante tempo, muitas bactérias
adquiriram resistência aos mecanismos de ação da penicilina. Desse modo, existem
classificações para cada tipo de penicilina:
» Penicilinas clássicas: como Benzilpenicilina ou Penicilina G, Penicilina V. Têm maior
atividade contra gram-positivos, cocos gram-negativos e anaeróbios não produtores
de β-lactamases (são degradadas por essas enzimas) e têm um espectro estreito;
» Penicilinas antiestafilocócicas: como Cloxacilina, Dicloxacilina, Nafcilina,
Oxacilina. São resistentes a β-lactamases estafilocócicas e mais eficientes contra
gram-negativos, apesar de serem pouco eficientes contra enterococos e cocos
gram-negativos. São fármacos de espectro moderado a amplo;
» Penicilinas de espectro estendido (Ampicilina e Penicilinas Antipseudomonas):
como as Aminopenicilinas, (Ampicilina e Amoxicilina, têm espectros de ação equiva-
lentes, sendo que a Amoxicilina é mais bem absorvida por via oral), Carboxipenicilinas
(Carbenicilina, Carbenicilina Idanil Sódio e Ticarcilina) e Ureidopenicilinas (Piperaci-
lina, Mezlocilina e Azlocilina). Ampicilina, Amoxicilina, Ticarcilina e Piperacilina
podem ser associadas a inibidores da β-lactamase. Mantêm o espectro das outras
penicilinas e apresentam atividade aumentada contra gram-negativos. Esses fár-
macos têm maior atividade que as outras penicilinas de espectro menor contra
bactérias gram-negativas, em razão de sua maior capacidade de penetrar a mem-
brana externa desse grupo de microrganismos. Entretanto, eles não são resistentes
às β-lactamases e são inativados por elas.
• Cefalosporinas: são muito parecidas com penicilinas, mas apresentam maior esta-
bilidade contra β-lactamases bacterianas, apesar de ainda sofrerem degradação por
algumas delas, especialmente as β-lactâmicas de espectro estendido, produzidas por
Escherichia coli e Kebsiella. O mecanismo de ação desses fármacos é idêntico ao
das penicilinas e os efeitos adversos também são similares, como hipersensibilidade.
As cefalosporinas têm núcleo diferente do das penicilinas, o que faz com que alguns
indivíduos sensibilizados não manifestem reação contra esses medicamentos.
Assim como as penicilinas, as cefalosporinas são de uso frequente, isso faz com
que muitas vezes tenham que ser modificadas estruturalmente. Dessa forma, são
classificas em:
» 1ª Geração: Cefazolina, Cefadroxil, Cefalexina, Cefalotina, Cefapirina e Cefradina.
Ativas contra cocos gram-positivos;
» 2ª Geração: Cefaclor, Cefamandol, Cefonicida, Cefuroxime, Cefprozil, Loracarbef
e Ceforanida e as cefamicinas Cefoxitina, Cefmetazol e Cefotetan (contra anaeró-
bios). Heterogêneas, geralmente ativas contra cocos gram-positivos, com cobertura
ampliada para organismos gram-negativos;
» 3ª Geração: Cefoperazona, Cefotaxime, Ceftazidime, Ceftizoxime, Ceftriaxona,
Cefixime, Cefpodoxime Proxetil, Cefdinir, Cefditoren Pivoxil, Ceftibuteno e Moxa-
lactam. Aumento da cobertura contra gram-negativos (em relação a fármacos de
segunda geração) e alguns são capazes de cruzar a barreira hematoencefálica;
» 4ª Geração: Cefepime, Cefozopran, Cefpirome, Cefquinome. Mais resistentes à
hidrólise por lactamases cromossômicas. Espectro um pouco maior do que os de
terceira geração em relação a gram-negativos;

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» 5ª geração: o grupo das cefalosporinas de 5ª geração foi recentemente criado e
não é aceito em sua totalidade.
» Monobactâmicos: Aztreonam, único nos Estados Unidos da América. MA:
Idêntico à Penicilinas e Cefalosporinas, apesar de ser resistente à maioria
das β-lactamases;
» Carbapenêmicos: Imipenem-cilastatina, Meropenem, Doripenem, Ertapenem.
Com mecanismo de ação semelhante ao das Penicilinas e Cefalosporinas, ape-
sar de ser resistente à maioria das �-lactamases. Como efeito colateral, pode
proporcionar convulsões e desconforto gastrointestinal.
• Inibidores da β-Lactamase: como representantes de fármacos desse grupo, temos
Ácido Clavulânico, Sulbactam, Tazobactam. MA: Inibem as β-lactamases e impe-
dem a inativação de algumas penicilinas (aquelas degradadas por β-lactamases) e
outros β-lactâmicos (entretanto, seus usos clínicos mais importantes são em combi-
nação com penicilinas). Não têm ação abundantemente significativa;
• Antibióticos glicopeptídeos: como representantes de fármacos desse grupo, temos
Vancomicina, Teicoplanina, Dalbavancina, Telavancina, sendo os dois últimos apenas
investigacionais. O mecanismo de ação desses fármacos é inibir a síntese da parede
celular bacteriana ao se ligar à porção terminal do peptídeoglicano, região formadora
da parede celular que impede sua elongação; geralmente são bactericidas. Como
efeitos colaterais, temos a Red-man syndrome (fruto da liberação exacerbada de his-
tamina), ototoxicidade e, raramente, nefrotoxicidade;
• Antibióticos lipopeptídeos: como representantes de fármacos desse grupo, temos
a Daptomicina. O mecanismo de ação desses fármacos se dá pela sua ligação com a
membrana celular, causando despolarização e morte celular rápida, assim, são consi-
derados bactericidas. Os efeitos colaterais que esses fármacos podem apresentar são
miopatia (monitorização de CK (creatinina cinase) é recomendada). Outros agentes
ativos de membrana ou parede celular: Fosfomicina (inibe estágio inicial da síntese
da parede celular – bloqueia enolpiruvato transferase citoplasmática, que atua na
primeira etapa da parede celular), Bacitracina (inibe a síntese da parede celular ao
interferir na transferência das subunidades peptideoglicanas do citoplasma para a
parede celular) e Cicloserina (bloqueia a incorporação de D-ala no pentapeptídeo
peptídeoglicano ao inibir alanina racemase, que converte L-ala em D-ala). Como
foi dito, eles atuam sobre etapas variadas da síntese da parede celular (diferentes da
traspeptidação). São medicamentos atuais, como a Daptomicina.
Medicamentos que inibem a síntese de proteínas bacterianas:
• Tetraciclinas: são fármacos de largo espectro ou Broad-Spectrum (Tetraciclina,
Doxiciclina, Minociclina, Demeclociclina, Tigeciclina). O mecanismo de ação desses
fármacos se dá por sua entrada das células dos microrganismos e sua ligação de for-
ma reversível à subunidade 30S do ribossomo bacteriano, bloqueando a ligação do
aminoacil t-RNA a essa organela, impedindo, dessa forma, a incorporação de ami-
noácidos na fita proteica e a síntese de polipeptídios bacterianos. Geralmente são
bacteriostáticos, contra as bactérias susceptíveis. Podem apresentar como efeitos
colaterais desconforto gastrintestinal, fototoxicidade/sensibilidade, hepatotoxicidade
(em grávidas, sendo contraindicado para esse grupo) e deposição em ossos e dentes
(sendo evitado em crianças, por poder levar a diminuição do crescimento ósseo);

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• Macrolídeos: quimicamente, são compostos com anéis lactônicos macrocíclicos (anel


macrolídeo) ligados a açúcares desoxidados. Eritromicina, Clariritromicina, Azitromi-
cina, Telitromicina (cetolídeo, derivado de Macrolídeos) – Eritromicina é o protótipo
isolado do Streptomyces erythreus e Claritromicina e Azitromicina são seus derivados
semissintéticos. O mecanismo de ação desses fármacos se dá por sua ligação com a
subunidade 50S do ribossomo bacteriano, inibindo a translocação do peptidil-tRNA
do sítio aceptor para o sítio doador e formação de complexos de iniciação na síntese
proteica (menos característico). Geralmente, é bacteriostático, mas, de acordo com
a dose e o pH (mais alcalino), pode ser bactericida. Esses fármacos podem apre-
sentar como efeitos colaterais distúrbios gastrointestinais (anorexia, vômitos, náuseas
e diarreia, eventualmente), ototoxicidade (geralmente reversível e a doses elevadas),
hepatotoxicidade (colestase hepática aguda, com febre, icterícia e função hepática
diminuída, fruto de hipersensibilidade) e reações alérgicas como febre e eosinofilia;
• Lincosamidas: como fármaco representante, temos a Clindamicina. O mecanismo
de ação desse fármaco é similar ao dos macrolídeos, com ligação na mesma subu-
nidade 50S ribossomal. Como efeitos colaterais, podem apresentar desconfortos
gastrointestinais, como diarreia e náuseas, podendo ocorrer enterocolite. Raramente
deteriora a função hepática ou produz neutropenia;
• Cloramfenicol: é um bacteriostático de Amplo-Espectro ou Broad-Spectrum.
O mecanismo de ação desse fármaco se dá pela ligação, de forma reversível,
com a subunidade 50S do ribossomo bacteriano e inibe a atividade da peptidil-
transferase na síntese proteica, impedindo, dessa forma, a formação da ligação
peptídica entre os aminoácidos. Essa substância pode apresentar como efeitos
colaterais distúrbios gastrointestinais, distúrbios na medula óssea (anemias), Gray
Baby Syndrome (Síndrome do Bebê Cinzento) em neonatos ou Gray Syndrome
(Síndrome Cinzenta) em pacientes não neonatos, especialmente hepatopatas.
• Estreptograminas: como fármaco representante desde grupo, temos a Quinupristina-
-Dalfopristina. O mecanismo de ação desse fármaco se dá pela rápida atividade bacte-
ricida contra a maioria das bactérias susceptíveis. Liga-se à subunidade 50S e, como
as tetraciclinas, inibe a incorporação de aminoácidos, mas de forma mais letal. Como
efeitos colaterais podemos citas mialgias relacionadas à infusão severa e artralgias;
• Oxazolidinonas: como fármaco representante desse grupo, temos o Linezolid.
O mecanismo de ação desse fármaco se dá pela inibição da síntese proteica
bacteriana ao se ligar ao rRNA S23 da subunidade 50S, impedindo a formação
com complexo de iniciação. É bacteriostático contra as bactérias susceptíveis.
Apresentam como efeitos colaterais a supressão da medula óssea de duração
dependente, neuropatia, neurite óptica e síndrome da serotonina quando admi-
nistrado com medicamentos serotonérgicos;
• Aminoglicosídeos e Espectinomicinas: como fármacos representantes desse gru-
po, temos Gentamicina, Tobramicina, Amicacina, Estreptomicina, Neomicina e Es-
pectinomicina. O mecanismo de ação desses fármacos se dá pela inibição da síntese
bacteriana, ao se ligar com a subunidade 30S do ribossomo bacteriano, interferindo
com a síntese do códon e formação do complexo de iniciação, provocando leitura
incorreta do mRNA e quebra de polissomos em monossomos não funcionais. É bac-
tericida contra bactérias susceptíveis. Apresentam como efeitos colaterais Nefrotoxi-
cidade, ototoxicidade (reversíveis) e bloqueio neuromuscular.

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Medicamentos que inibem a síntese de ácido fólico e de ácido nucleico:
• Sulfonamidas: como fármaco representante desse grupo, temos Sulfacitina, Sulfisoxa-
zol, Sulfametizol, Sulfadiazina, Sulfametoxazol (SMX/SMZ), Sulfadoxina e Sulfapiridina.
Como atuam sobre um grupo de bactérias susceptíveis, são incapazes de captar ácido
fólico (importante na síntese de purinas e DNA) do meio externo e necessitam produzi-lo
a partir do PABA (Ácido Para-aminobenzóico) e da Pteridina, por meio da ação de dihi-
dropteroato sintetase sobre essas substâncias, produzindo ácido hidrofólico. As sulfas
são estruturalmente similares ao PABA e inibem a DHPS (digidropteroato sintase) por
meio de antagonismo competitivo. A diminuição na produção de ácido fólico diminui a
síntese de DNA, o que leva à inibição do crescimento bacteriano (ação bacteriostática
antimetabólica). Febre, rash cutâneo, dermatite esfoliativa, fotossensibilidade, urticária,
distúrbios GI e urinários são os efeitos colaterais mais comuns. Um dos efeitos mais te-
midos, apesar de raro, é a síndrome de Stevens-Johnson. Podem ocorrer ainda outros
efeitos importantes e característicos de antifolatos, como distúrbios hematopoiéticos
(anemias, granulocitopenia, trombocitopenia, reações leucemóides), artrite, conjuntivite
e distúrbios do trato urinário. São contraindicados para pacientes com rickettisia, uma
vez que as sulfas podem estimular o crescimento delas. Pacientes com alergia também
devem evitar esse tipo de medicamento;
• Pirimidinas: como fármaco representante desse grupo, temos Trimetoprim (TMP)
e Pirimetamina. MA: esse medicamento inibe seletivamente a Dihidrofolato Redu-
tase bacteriana, que converte ácido dihidrofólico em ácido tetrahidrofólico, que deve
ser convertido, por outra enzima, em purinas, e originar DNA. É bacteriostático
antimetabólico. Atuam num âmbito similar ao das sulfas, podendo, dessa maneira,
atuar de forma sinérgica com elas, tornando-se bactericida. Apresentam os efeitos
colaterais efeitos esperados de um antifolato (já citados para sulfas), especialmente
distúrbios hematopoiéticos (anemia, trombocitopenia etc.) e enterocolites;

Importante!
Trimetoprim-Sulfametoxazol (TMP-SMZ/SMX) – Trata-se de um dos mais importantes
agentes de uso combinado sinérgico antifolato, que aproveita a ação das sulfas e das
pirimidinas na inibição da síntese de ácido fólico e bloqueio da produção de DNA, como
já foi descrito anteriormente, em bactérias susceptíveis. Adquire capacidade bactericida,
em vez da bacteriostática característica dos outros antifolatos, em razão do sinergismo.
Seu uso é importante no tratamento de ITUs, infecções por Shigella. Seus efeitos colate-
rais são os mesmos dos antifolatos, podendo ocorrer hipercalemia e distúrbios dos SNC,
sendo que pacientes com algumas patologias (AIDS, pneumonia pneumocística) espe-
cíficas apresentam os efeitos com maior frequência, especialmente febre, leucopenia,
diarreia, elevações de aminotransferases, hipercalemia e hiponatremia.

• Fluoroquinolonas (Quinolonas): como fármaco representante desse grupo, temos


Ciprofloxacina, Ofloxacina, Levofloxacina, Moxifloxacina, Gemifloxacina (as oxa-
cinas). As quinolonas são análogos sintéticos fluorinados do ácido nalidíxico, são
bactericidas e inibem replicação do DNA por meio da ligação e do bloqueio das to-
poisomerases II (DNA girase, que promove o relaxamento das fitas de DNA duran-
te a transcrição e a replicação do material genético) e IV (responsável pela sepa-
ração do DNA replicado durante a divisão celular). São fármacos ainda fortes, mas

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UNIDADE Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes

a resistência bacteriana a eles vem aumentando recentemente. São usados princi-


palmente no tratamento de ITU, DST/ Doenças Inflamatórias Pélvicas, infecções de
pele, osso e cartilagem, diarreia por Shigella, Salmonella, E. coli, Clampylobacter
e infecção por Pneumococcos resitentes (Quinolonas Respiratórias). São muito bem
tolerados quando comparados a outros antibióticos. Os principais efeitos adversos
são: distúrbios gastrointestinais (náusea, vômitos e diarreia), neurotoxicidade (insô-
nia, tonturas, cefaleia), fototoxicidade (lomefloxacina e pefloxacina), anormalidade
nos testes de perfil hepático.

Anabolizantes
Trata-se de uma classe de hormônios esteroides naturais e/ou sintéticos cuja função prin-
cipal é aumentar a retenção de nutrientes provindos da dieta. Promovem, assim, o cresci-
mento celular e a sua divisão, resultando no desenvolvimento de diversos tipos de tecidos,
especialmente o muscular e o ósseo. Geralmente são substâncias derivadas da testosterona
(hormônio sexual masculino), de administração principalmente por via oral ou injetável (in-
tramuscular). São uma classe de fármacos que vem sendo utilizada indiscriminadamente
(tratamento farmacológico em queimados até o uso para aumento ilícito de massa muscu-
lar em atletas de alto desempenho). Os diferentes esteroides androgênicos anabólicos têm
combinações variadas de propriedades androgênicas e anabólicas (processo metabólico que
constrói moléculas maiores a partir de outras menores). Após sua descoberta, em 1930, os
anabolizantes vêm sendo aprimorados, já que a testosterona (primeiro anabolizante descri-
to) tem baixíssimo tempo de meia-vida (aumenta a degradação metabólica hepática).

Figura 6 – Testosterona sintética


Fonte: Getty Images

Os esteroides anabólicos podem produzir inúmeros efeitos fisiológicos, incluindo efei-


tos de virilização, maior síntese proteica, massa muscular, força, apetite e crescimento
ósseo. Os esteroides anabolizantes também têm sido associados a diversos efeitos co-
laterais quando administrados em doses excessivas, esses efeitos incluem elevação do
colesterol (aumenta os níveis de LDL e diminui os de HDL), acne, pressão sanguínea
elevada, hepatotoxicidade e alterações na morfologia do ventrículo esquerdo do coração.
Suas principais ações terapêuticas são em casos de nanismo hipofisário, AIDS, cân-
cer, endometriose, puberdade retardada, partes do corpo que sofreram queimadura,
partes do corpo que passaram por cirurgias extensas, entre outras.

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Vias de Administração
A vias de administração dos fármacos são: (1) a via oral (VO), que, apesar de ser
talvez a mais conveniente, sofre pelo fato de que os esteroides orais necessitam ser
quimicamente modificados, e seu metabolismo na forma ativa pode forçar o fígado.
Aumentado a potência e a taxa de excreção (por isso, foram a primeira escolha con-
tra métodos antidoping). Como efeitos adversos, aumentam a toxicidade e, portanto,
aumentam os efeitos sistêmicos; (2) e a injetável, com injeções que são tipicamente
administradas intramuscularmente, para evitar variações bruscas no nível sanguíneo.
Diminuem a potência, diminuem a taxa de excreção (facilmente detectável em métodos
antidoping), diminuem a toxicidade e, portanto, diminuem os efeitos colaterais.
Ainda não está elucidado como se dão os efeitos fisiológicos dos andrógenos como
testosterona e a di-hidrotestosterona. Sabe-se que suas ações são vastas, desde o desen-
volvimento fetal para manutenção de músculos e massa óssea até a vida adulta, incluindo
o estímulo de estirões de crescimento na puberdade, indução de crescimento de cabelo,
produção de óleo pelas glândulas sebáceas e sexualidade.
Os andrógenos estimulam a miogênese, que é a formação de tecido muscular. Também
são conhecidos por causar hipertrofia dos dois tipos (I e II) de fibras musculares. É ampla-
mente entendido que doses suprafisiológicas de testosterona em homens normais aumen-
tam a densidade do nitrogênio e a massa magra (muscular) ao mesmo tempo que diminui
a gordura, particularmente a abdominal.

Farmacocinética dos Anabolizantes


Os mecanismos de ação diferem dependendo do esteroide anabólico específico.
Diferentes tipos de esteroides anabólicos se ligam ao receptor de andrógeno em diferentes
graus, dependendo de sua fórmula química. Esteroides anabólicos como a metandrosteno-
lona não reagem fortemente com o receptor de andrógeno, usando a síntese proteica ou
glicogenólise para sua ação, enquanto esteroides como a oxandrolona reagem fortemente
com o receptor de andrógeno (quanto maior for a ligação, maior será o efeito).

Figura 7 – Metandrostenolona
Fonte: Divulgação

Vendida sob o nome comercial Dianabol e alguns outros, é um esteroide


anabolizante e androgênico (EAA) sintético e oralmente ativo. É um derivado
17alfa-alquelado da testosterona que já foi usada na medicina, mas não é
mais utilizada.

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UNIDADE Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Farmacologia Ilustrada

Vídeos
Medicamentos antimicrobianos
https://youtu.be/7Mf2JkpAWk0

Leitura
Antibacterianos: principais classes, mecanismos de ação e resistência
https://bit.ly/3ggVUlI
Top 5 – Principais casos de doping no esporte
https://bit.ly/3e0kwMZ

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Referências
RANG, H. P. Farmacologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

SPINOSA, H. S.; BERNARDI, M. M.; GORNIAK, S. L. Farmacologia aplicada à me-


dicina veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

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