Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Toxicologia Geral
Processos Farmacodinâmicos de Fármacos como Agentes
Antimicrobianos e Anabolizantes
Revisão Técnica:
Prof.ª Dr.ª Meire Silva
Revisão Textual:
Maria Cecília Andreo
Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer os principais agentes antimicrobianos: antissépticos, desinfetantes, quimioterá-
picos anti-infecciosos, antibióticos β-lactâmicos, antibióticos que interferem na síntese da
parede celular, ácidos nucleicos e proteínas e agentes antifungos e antivirais (antimicro-
bianos na mastite);
• Conhecer a ação dos anabolizantes.
UNIDADE Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes
Antimicrobianos
Inespecíficos Específicos
*Este termo é utilizado apenas para fármacos que atuam sobre neoplasias.
8
Classificação dos Antimicrobianos
Como discutido previamente, os antimicrobianos são divididos em específicos e ines-
pecíficos. Agora falaremos um pouco sobre cada um deles, exemplificando seus princi-
pais fármacos e tipos de atuação (Figura 3).
Antissépticos
Antisséptico é um termo utilizado para substâncias que apresentam a capacidade de
degradar ou inibir a proliferação de microrganismos presentes na superfície da pele e das
mucosas. São substâncias usadas para desinfectar ferimentos, pois evitam ou reduzem o
risco de infecção pela ação de bactérias ou germes. Os antissépticos são representados
por substâncias como aldeído, álcool, ácido, fenol, entre outras (Figura 4).
9
9
UNIDADE Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes
Desinfetantes
Os desinfetantes são similares, em ação, aos antissépticos. No entanto, essas subs-
tâncias são aplicadas em superfícies não vivas para destruir os microrganismos sobre
objetos. A ação desinfetante não mata, necessariamente, todos os microrganismos, mas
é eficaz na esterilização de superfícies (processo químico ou físico que mata todos os
tipos de vida). Assim como os antissépticos, os desinfetantes são representados por
substâncias como aldeído, álcool, ácido, fenol, entre outras (Figura 5).
Quimioterápicos
O termo quimioterapia foi originalmente usado para descrever o uso de fármacos
“seletivamente tóxicos” para patógenos (incluindo bactérias, vírus, protozoários, fungos
e helmintos), tendo efeitos mínimos no hospedeiro. Atualmente, refere-se ao uso de
fármacos aplicados em tratamentos de tumores. Existe, porém, a quimioterapia antimi-
crobiana, que consiste na ação farmacológica de matar ou inibir o microrganismo sem
afetar o hospedeiro. Essa toxicidade é fundamentada nas diferenças entre a estrutura e
a composição química das células procarióticas e eucarióticas.
Antibióticos
Os antibióticos atuam sobre as bactérias e podem ser classificados em dois grandes
grupos: bactericidas (responsáveis por matar as bactérias) e bacteriostáticos (impedem
a reprodução bacteriana). Para isso, oferecem como mecanismos de ação a inibição da
síntese proteica, alteração da parede celular bacteriana, alterações nas proteínas da mem-
brana plasmática, inibindo a síntese de RNA ou bloqueando a replicação ou o reparo do
DNA (Figura no link a seguir).
10
Como há diversidade considerável quando se trata de bactérias, a abrangência dos
antibióticos também é bem elevada. Há antibióticos naturais e semissintéticos, como
os β-lactâmicos, tetraciclinas, peptídicos cíclicos, aminoglicosídeos, estreptograminas,
macrolídeos, entre outros. Os antibióticos produzidos de maneira sintética podem ser
classificados em sulfonamidas, fluoroquinolonas e oxazolidinonas.
11
11
UNIDADE Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes
Pelo fato se ser uma substância utilizada já há bastante tempo, muitas bactérias
adquiriram resistência aos mecanismos de ação da penicilina. Desse modo, existem
classificações para cada tipo de penicilina:
» Penicilinas clássicas: como Benzilpenicilina ou Penicilina G, Penicilina V. Têm maior
atividade contra gram-positivos, cocos gram-negativos e anaeróbios não produtores
de β-lactamases (são degradadas por essas enzimas) e têm um espectro estreito;
» Penicilinas antiestafilocócicas: como Cloxacilina, Dicloxacilina, Nafcilina,
Oxacilina. São resistentes a β-lactamases estafilocócicas e mais eficientes contra
gram-negativos, apesar de serem pouco eficientes contra enterococos e cocos
gram-negativos. São fármacos de espectro moderado a amplo;
» Penicilinas de espectro estendido (Ampicilina e Penicilinas Antipseudomonas):
como as Aminopenicilinas, (Ampicilina e Amoxicilina, têm espectros de ação equiva-
lentes, sendo que a Amoxicilina é mais bem absorvida por via oral), Carboxipenicilinas
(Carbenicilina, Carbenicilina Idanil Sódio e Ticarcilina) e Ureidopenicilinas (Piperaci-
lina, Mezlocilina e Azlocilina). Ampicilina, Amoxicilina, Ticarcilina e Piperacilina
podem ser associadas a inibidores da β-lactamase. Mantêm o espectro das outras
penicilinas e apresentam atividade aumentada contra gram-negativos. Esses fár-
macos têm maior atividade que as outras penicilinas de espectro menor contra
bactérias gram-negativas, em razão de sua maior capacidade de penetrar a mem-
brana externa desse grupo de microrganismos. Entretanto, eles não são resistentes
às β-lactamases e são inativados por elas.
• Cefalosporinas: são muito parecidas com penicilinas, mas apresentam maior esta-
bilidade contra β-lactamases bacterianas, apesar de ainda sofrerem degradação por
algumas delas, especialmente as β-lactâmicas de espectro estendido, produzidas por
Escherichia coli e Kebsiella. O mecanismo de ação desses fármacos é idêntico ao
das penicilinas e os efeitos adversos também são similares, como hipersensibilidade.
As cefalosporinas têm núcleo diferente do das penicilinas, o que faz com que alguns
indivíduos sensibilizados não manifestem reação contra esses medicamentos.
Assim como as penicilinas, as cefalosporinas são de uso frequente, isso faz com
que muitas vezes tenham que ser modificadas estruturalmente. Dessa forma, são
classificas em:
» 1ª Geração: Cefazolina, Cefadroxil, Cefalexina, Cefalotina, Cefapirina e Cefradina.
Ativas contra cocos gram-positivos;
» 2ª Geração: Cefaclor, Cefamandol, Cefonicida, Cefuroxime, Cefprozil, Loracarbef
e Ceforanida e as cefamicinas Cefoxitina, Cefmetazol e Cefotetan (contra anaeró-
bios). Heterogêneas, geralmente ativas contra cocos gram-positivos, com cobertura
ampliada para organismos gram-negativos;
» 3ª Geração: Cefoperazona, Cefotaxime, Ceftazidime, Ceftizoxime, Ceftriaxona,
Cefixime, Cefpodoxime Proxetil, Cefdinir, Cefditoren Pivoxil, Ceftibuteno e Moxa-
lactam. Aumento da cobertura contra gram-negativos (em relação a fármacos de
segunda geração) e alguns são capazes de cruzar a barreira hematoencefálica;
» 4ª Geração: Cefepime, Cefozopran, Cefpirome, Cefquinome. Mais resistentes à
hidrólise por lactamases cromossômicas. Espectro um pouco maior do que os de
terceira geração em relação a gram-negativos;
12
» 5ª geração: o grupo das cefalosporinas de 5ª geração foi recentemente criado e
não é aceito em sua totalidade.
» Monobactâmicos: Aztreonam, único nos Estados Unidos da América. MA:
Idêntico à Penicilinas e Cefalosporinas, apesar de ser resistente à maioria
das β-lactamases;
» Carbapenêmicos: Imipenem-cilastatina, Meropenem, Doripenem, Ertapenem.
Com mecanismo de ação semelhante ao das Penicilinas e Cefalosporinas, ape-
sar de ser resistente à maioria das �-lactamases. Como efeito colateral, pode
proporcionar convulsões e desconforto gastrointestinal.
• Inibidores da β-Lactamase: como representantes de fármacos desse grupo, temos
Ácido Clavulânico, Sulbactam, Tazobactam. MA: Inibem as β-lactamases e impe-
dem a inativação de algumas penicilinas (aquelas degradadas por β-lactamases) e
outros β-lactâmicos (entretanto, seus usos clínicos mais importantes são em combi-
nação com penicilinas). Não têm ação abundantemente significativa;
• Antibióticos glicopeptídeos: como representantes de fármacos desse grupo, temos
Vancomicina, Teicoplanina, Dalbavancina, Telavancina, sendo os dois últimos apenas
investigacionais. O mecanismo de ação desses fármacos é inibir a síntese da parede
celular bacteriana ao se ligar à porção terminal do peptídeoglicano, região formadora
da parede celular que impede sua elongação; geralmente são bactericidas. Como
efeitos colaterais, temos a Red-man syndrome (fruto da liberação exacerbada de his-
tamina), ototoxicidade e, raramente, nefrotoxicidade;
• Antibióticos lipopeptídeos: como representantes de fármacos desse grupo, temos
a Daptomicina. O mecanismo de ação desses fármacos se dá pela sua ligação com a
membrana celular, causando despolarização e morte celular rápida, assim, são consi-
derados bactericidas. Os efeitos colaterais que esses fármacos podem apresentar são
miopatia (monitorização de CK (creatinina cinase) é recomendada). Outros agentes
ativos de membrana ou parede celular: Fosfomicina (inibe estágio inicial da síntese
da parede celular – bloqueia enolpiruvato transferase citoplasmática, que atua na
primeira etapa da parede celular), Bacitracina (inibe a síntese da parede celular ao
interferir na transferência das subunidades peptideoglicanas do citoplasma para a
parede celular) e Cicloserina (bloqueia a incorporação de D-ala no pentapeptídeo
peptídeoglicano ao inibir alanina racemase, que converte L-ala em D-ala). Como
foi dito, eles atuam sobre etapas variadas da síntese da parede celular (diferentes da
traspeptidação). São medicamentos atuais, como a Daptomicina.
Medicamentos que inibem a síntese de proteínas bacterianas:
• Tetraciclinas: são fármacos de largo espectro ou Broad-Spectrum (Tetraciclina,
Doxiciclina, Minociclina, Demeclociclina, Tigeciclina). O mecanismo de ação desses
fármacos se dá por sua entrada das células dos microrganismos e sua ligação de for-
ma reversível à subunidade 30S do ribossomo bacteriano, bloqueando a ligação do
aminoacil t-RNA a essa organela, impedindo, dessa forma, a incorporação de ami-
noácidos na fita proteica e a síntese de polipeptídios bacterianos. Geralmente são
bacteriostáticos, contra as bactérias susceptíveis. Podem apresentar como efeitos
colaterais desconforto gastrintestinal, fototoxicidade/sensibilidade, hepatotoxicidade
(em grávidas, sendo contraindicado para esse grupo) e deposição em ossos e dentes
(sendo evitado em crianças, por poder levar a diminuição do crescimento ósseo);
13
13
UNIDADE Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes
14
Medicamentos que inibem a síntese de ácido fólico e de ácido nucleico:
• Sulfonamidas: como fármaco representante desse grupo, temos Sulfacitina, Sulfisoxa-
zol, Sulfametizol, Sulfadiazina, Sulfametoxazol (SMX/SMZ), Sulfadoxina e Sulfapiridina.
Como atuam sobre um grupo de bactérias susceptíveis, são incapazes de captar ácido
fólico (importante na síntese de purinas e DNA) do meio externo e necessitam produzi-lo
a partir do PABA (Ácido Para-aminobenzóico) e da Pteridina, por meio da ação de dihi-
dropteroato sintetase sobre essas substâncias, produzindo ácido hidrofólico. As sulfas
são estruturalmente similares ao PABA e inibem a DHPS (digidropteroato sintase) por
meio de antagonismo competitivo. A diminuição na produção de ácido fólico diminui a
síntese de DNA, o que leva à inibição do crescimento bacteriano (ação bacteriostática
antimetabólica). Febre, rash cutâneo, dermatite esfoliativa, fotossensibilidade, urticária,
distúrbios GI e urinários são os efeitos colaterais mais comuns. Um dos efeitos mais te-
midos, apesar de raro, é a síndrome de Stevens-Johnson. Podem ocorrer ainda outros
efeitos importantes e característicos de antifolatos, como distúrbios hematopoiéticos
(anemias, granulocitopenia, trombocitopenia, reações leucemóides), artrite, conjuntivite
e distúrbios do trato urinário. São contraindicados para pacientes com rickettisia, uma
vez que as sulfas podem estimular o crescimento delas. Pacientes com alergia também
devem evitar esse tipo de medicamento;
• Pirimidinas: como fármaco representante desse grupo, temos Trimetoprim (TMP)
e Pirimetamina. MA: esse medicamento inibe seletivamente a Dihidrofolato Redu-
tase bacteriana, que converte ácido dihidrofólico em ácido tetrahidrofólico, que deve
ser convertido, por outra enzima, em purinas, e originar DNA. É bacteriostático
antimetabólico. Atuam num âmbito similar ao das sulfas, podendo, dessa maneira,
atuar de forma sinérgica com elas, tornando-se bactericida. Apresentam os efeitos
colaterais efeitos esperados de um antifolato (já citados para sulfas), especialmente
distúrbios hematopoiéticos (anemia, trombocitopenia etc.) e enterocolites;
Importante!
Trimetoprim-Sulfametoxazol (TMP-SMZ/SMX) – Trata-se de um dos mais importantes
agentes de uso combinado sinérgico antifolato, que aproveita a ação das sulfas e das
pirimidinas na inibição da síntese de ácido fólico e bloqueio da produção de DNA, como
já foi descrito anteriormente, em bactérias susceptíveis. Adquire capacidade bactericida,
em vez da bacteriostática característica dos outros antifolatos, em razão do sinergismo.
Seu uso é importante no tratamento de ITUs, infecções por Shigella. Seus efeitos colate-
rais são os mesmos dos antifolatos, podendo ocorrer hipercalemia e distúrbios dos SNC,
sendo que pacientes com algumas patologias (AIDS, pneumonia pneumocística) espe-
cíficas apresentam os efeitos com maior frequência, especialmente febre, leucopenia,
diarreia, elevações de aminotransferases, hipercalemia e hiponatremia.
15
15
UNIDADE Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes
Anabolizantes
Trata-se de uma classe de hormônios esteroides naturais e/ou sintéticos cuja função prin-
cipal é aumentar a retenção de nutrientes provindos da dieta. Promovem, assim, o cresci-
mento celular e a sua divisão, resultando no desenvolvimento de diversos tipos de tecidos,
especialmente o muscular e o ósseo. Geralmente são substâncias derivadas da testosterona
(hormônio sexual masculino), de administração principalmente por via oral ou injetável (in-
tramuscular). São uma classe de fármacos que vem sendo utilizada indiscriminadamente
(tratamento farmacológico em queimados até o uso para aumento ilícito de massa muscu-
lar em atletas de alto desempenho). Os diferentes esteroides androgênicos anabólicos têm
combinações variadas de propriedades androgênicas e anabólicas (processo metabólico que
constrói moléculas maiores a partir de outras menores). Após sua descoberta, em 1930, os
anabolizantes vêm sendo aprimorados, já que a testosterona (primeiro anabolizante descri-
to) tem baixíssimo tempo de meia-vida (aumenta a degradação metabólica hepática).
16
Vias de Administração
A vias de administração dos fármacos são: (1) a via oral (VO), que, apesar de ser
talvez a mais conveniente, sofre pelo fato de que os esteroides orais necessitam ser
quimicamente modificados, e seu metabolismo na forma ativa pode forçar o fígado.
Aumentado a potência e a taxa de excreção (por isso, foram a primeira escolha con-
tra métodos antidoping). Como efeitos adversos, aumentam a toxicidade e, portanto,
aumentam os efeitos sistêmicos; (2) e a injetável, com injeções que são tipicamente
administradas intramuscularmente, para evitar variações bruscas no nível sanguíneo.
Diminuem a potência, diminuem a taxa de excreção (facilmente detectável em métodos
antidoping), diminuem a toxicidade e, portanto, diminuem os efeitos colaterais.
Ainda não está elucidado como se dão os efeitos fisiológicos dos andrógenos como
testosterona e a di-hidrotestosterona. Sabe-se que suas ações são vastas, desde o desen-
volvimento fetal para manutenção de músculos e massa óssea até a vida adulta, incluindo
o estímulo de estirões de crescimento na puberdade, indução de crescimento de cabelo,
produção de óleo pelas glândulas sebáceas e sexualidade.
Os andrógenos estimulam a miogênese, que é a formação de tecido muscular. Também
são conhecidos por causar hipertrofia dos dois tipos (I e II) de fibras musculares. É ampla-
mente entendido que doses suprafisiológicas de testosterona em homens normais aumen-
tam a densidade do nitrogênio e a massa magra (muscular) ao mesmo tempo que diminui
a gordura, particularmente a abdominal.
Figura 7 – Metandrostenolona
Fonte: Divulgação
17
17
UNIDADE Processos Farmacodinâmicos de Fármacos
como Agentes Antimicrobianos e Anabolizantes
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Farmacologia Ilustrada
Vídeos
Medicamentos antimicrobianos
https://youtu.be/7Mf2JkpAWk0
Leitura
Antibacterianos: principais classes, mecanismos de ação e resistência
https://bit.ly/3ggVUlI
Top 5 – Principais casos de doping no esporte
https://bit.ly/3e0kwMZ
18
Referências
RANG, H. P. Farmacologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
19
19