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AULA 11

LINGUAGEM JURÍDICA:
Hermenêutica

Professor: Vicente Mota de Souza Lima


ORIGEM E SURGIMENTO

“Hermenêutica é uma palavra cuja origem está na


mitologia grega, envolvendo o deus Hermes, em latim
Mercúrio” (ROHDEN, 1999, p. 112). No Panteão grego ele
era associado à linguagem ou fala, pois como deus, poderia
nomear as coisas e as pessoas. Também era o intérprete da
vontade dos deuses aos seres humanos.
A hermenêutica, como um conjunto do saber humano
ocidental, nasceuno século XVII, da necessidade de superar
a distância cultural e/ou cronológica que prejudicava a
compreensão dos textos antigos, pretendendo determinar o
seu significado e demonstrar sua pertinência na atualidade.
Ela foi nomeada arte da interpretação. E foi dividida em três
disciplinas:
● Hermenêutica sacra (teologia).
● Hermenêutica profana (filosofia e filologia).
● Hermenêutica juris (direito).
Isto não quer dizer que anteriormente a esse período não
houvesse uma preocupação com a interpretação de textos.
Platão, o primeiro a usar o vocábulo hermenêutica, já sentia a
inevitabilidade de interpretar o que pessoas antes dele
escreveram, sobretudo os mitos, e chamou o seu modo de
fazer isso como alegorese.
Também judeus e, depois, cristãos, sentiram a necessidade
de entender o que estava escrito nas Escrituras judaicas ou no
Antigo Testamento.
“A consciência histórica racionalista iluminista reposicionou a
questão hermenêutica, de simples leitura dos textos para o
sentido que o ser humano dá a si mesmo e ao mundo que lhe
é totalmente estranho” (LACOSTE, 2004, p. 816).
A história da hermenêutica, doravante, envolve cinco
personagens:
1- F. D. Schleiermacher, filósofo romântico do século XVII e tradutor de
textos da antiga civilização grega, foi o primeiro a desenvolver um projeto
hermenêutico geral baseado em duas tarefas: o estudo da cultura e da
língua do autor e a adivinhação simpática do seu pensamento.
2- Wilhelm Dilthey, filósofo historicista do século XVIII, fundou a distinção
entre as ciências do espírito (humanas): que compreendem; e as ciências
objetivas (naturais): que esclarecem; a hermenêutica cabia às primeiras.
3- Martin Heidegger, filósofo existencialista do século XIX, reviu o projeto
hermenêutico elaborado até então e o reorganizou teoricamente, de modo
a colocar a compreensão à frente da interpretação, isto é, da compreensão
de si enquanto existente no mundo é que se fará a interpretação de algo.
Coube a ele, também, a introdução da estrutura circular da compreensão:
círculo hermenêutico.
4 -H. G. Gadamer, filósofo fenomenológico da primeira metade do século
XX, enfatizou a compreensão como uma pré-interpretação em diálogo com
outras pré-interpretações existentes na história, de modo que cabe à
Hermenêutica colocar em relação os horizontes a cada tempo e promover a
fusão de horizontes, num diálogo do qual nasce, não a única, última e
melhor interpretação, mas outra interpretação.
5 -Paul Ricoeur, filósofo fenomenológico da segunda metade do século XX,
que terminou por eliminar a diferença entre esclarecer ou explicar (ciências
da natureza) e compreender (ciências da humanidade), para fazer da
explicação o pressuposto da compreensão, pois não há mais
distanciamento objetivante entre o intérprete e o texto, cabendo à
hermenêutica abrir o mundo do texto ao leitor para que habite nele.
CONCEITOS E DEFINIÇÕES AMPLAS

O sentido comum dado à palavra hermenêutica é interpretação,


e esta tem a ver com a compreensão de textos, para cuja função
se usa a palavra exegese. Temos, assim, um relacionamento
sinonímico que aproxima exegese de interpretação e de
hermenêutica.
Conforme os antigos gregos, o primeiro povo que nos deixou
um registro idade hermenêutica, os três termos eram
desenvolvimentos da disciplina chamada heurística: o estudo e
desenvolvimento dos métodos ou princípios que ajudam a
descobrir o sentido e significado de um texto.
Portanto, hermenêutica se relaciona com a ideia da
descoberta, mais especificamente, com o esforço por entender
algo que alguém diz ou escreve. De modo clássico, é a ciência
que formula linhas gerais, leis e métodos para interpretar o
significado dado por um autor original.
Contemporaneamente, também trata de interpretar o
significado do texto para uma audiência que o lê. Ainda nele, um
mundo secularizado, para alguns, e pós-metafísico, para outros,
no qual a referência transcendental da Verdade já não mais
existe, o ser humano toma consciência dos seus limites e finitude,
restando-lhe entender o sentido do seu falar e fazer no mundo.
Exegese, amplamente definida, trata-se da atividade normal de
alguém em compreender o que ouve ou lê no seu dia a dia. Quando
se trata de textos escritos, descreve a tarefa de extrair o significado
desse texto, mas também inclui explicar, interpretar, contar, relatar,
descrever o seu significado. Classicamente, diz respeito à articulação
ou descoberta do significado do texto baseado no entendimento da
intenção e objetivos de um autor original.
Interpretação é frequentemente usada, intercambiavelmente, com
as palavras: hermenêutica e exegese. Para alguns, os três termos são
mesmo sinônimos, sem nenhum conteúdo específico. Existem, porém,
algumas distinções que podem definir melhor o que se faz quando se
pratica a exegese.
Do geral para o específico, o termo interpretação é o mais amplo,
pois abrange qualquer comunicação que seja objeto de interpretação:
oral, gestual, simbólica e escrita. No caso da hermenêutica e da
exegese, seu objeto se restringe ao texto
escrito. Elas seriam subcategorias da interpretação.
Modernamente, exegese é a descoberta do significado de um texto
direcionada para o estudo do sentido que o autor quis dar ao mesmo. O
texto é aquilo que o autor quis dizer quando o escreveu, envolvendo, desse
modo, a maneira como o escritor original intencionou que ele fosse
entendido por sua audiência.
Veja as seguintes definições:
Descoberta do que o texto significa em si mesmo, isto é, a intenção
original do escritor, e o significado da passagem como ele gostaria que
entendessem os leitores aos quais foi primeiro intencionado. (Ralph P.
Martin)
O termo exegese é usado em um sentido conscientemente limitado
para referir a investigação histórica de um significado do texto bíblico. Ela
responde à questão: o que o autor bíblico quis dizer? Isto tem a ver tanto
com o que ele disse (conteúdo em si) e com o porquê ele disse (contexto
literário). Além disso, a exegese está primariamente interessada com a
intencionalidade: o que o autor intencionava que seus leitores originais
entendessem. (Gordon Fee)
Esta compreensão de exegese é chamada histórico-gramatical
ou exegese histórica ou exegese própria. Ela está interessada no
pano de fundo histórico, na intenção do autor original e no
entendimento destas intenções pela primeira audiência. A filosofia
hermenêutica para esta abordagem histórico-gramatical foi
elaborada inicialmente pelo teólogo alemão Karl Keil, em 1788.
Para ele, interpretar um autor significava apenas ensinar o que
ele intencionou dizer em sua obra. Não interessava se o que ele
afirmava era falso ou verdadeiro, em termos filosóficos, históricos ou
teológicos. Como um historiador descreve um fato do passado,
assim um exegeta deveria descrever as palavras de um autor em
busca do que ele quis dizer. E este significado tinha apenas um
sentido decorrente do uso das palavras e sentenças pelo autor, num
entendimento o mais literal possível.
Uma mudança recente ocorreu quando se concedeu um
papel ativo ao exegeta ou ao intérprete do texto, como aquele
que o julga ou critica, desde o seu ponto de vista, notadamente
as informações e formações históricas que consegue amealhar
a seu respeito. Denominada exegese histórico-crítica, ela é
dividida em três subdisciplinas:
1 um conjunto de métodos que busca descrever a forma
linguística do texto e suas estruturas subjacentes;
2 um conjunto de métodos que busca pelas circunstâncias que
cercam a origem do texto e procura identificar seus destinatários
originais;
3 um conjunto de métodos que investiga a recepção do texto ao
longo de sua história até o presente.
De acordo com W. G. Kümmel (1982):
1 o exegeta deve procurar aprender com o texto o que ele diz
sobre as circunstâncias históricas no tempo de sua composição,
seu autor, os leitores aos quais foi endereçado, o meio
intelectual que o originou e a história externa e interna do
Cristianismo primitivo;
2 o exegeta deve procurar descobrir o significado objetivo do
texto, isto é, aprender dele o que ele diz sobre o assunto que é
discutido, e o que quer dizer para o intérprete pessoalmente.
Mais recentemente, ainda têm surgido novos modos de
fazer a exegese de textos como reação aos conhecidos até
então. Antes de simplesmente corrigir aqueles baseados na
história e na crítica, eles rejeitam várias de suas
pressuposições baseadas historicamente, e escolhem
enfatizar outros critérios exegéticos. Estes métodos
exegéticos não podem ser agrupados aleatoriamente, pois
eles se originam em diferentes modelos como reação à
exegese tradicional e, em outros, de outras disciplinas.
Bem ao gosto do nosso tempo, existem formas alternativas ou
substitutivas e interdisciplinares de exegese, também chamadas análises
de textos, que incluem:
- a análise do discurso, uma forma de exegese que depende muito das
ideias da Linguística moderna;
- a análise retórica e narratológica, com suas raízes baseadas
historicamente, mas muito de sua prática atual se apoia em concepções
da literatura moderna;
- a análise literária, que permanece um campo amplo e diverso;
- as análises ideológicas, que incluem a crítica da libertação e de gênero;
- a análise sociocientífica, que retira sua sugestão diretamente do trabalho
recente das ciências sociais; e
- a análise canônica, que reflete diretamente interesses do cânon, não
apenas em suas dimensões históricas, mas como um produto de certo
tempo.
PROBLEMAS HERMENÊUTICOS FUNDAMENTAIS

A leitura e o entendimento de um texto diferem em grau e


complexidade, dependendo se é uma carta pessoal, um jornal
diário, um romance, uma obra clássica, um código jurídico ou a
Bíblia. Isto acontece devido a três problemas principais, que
veremos a seguir:
1- O PROBLEMA DA HISTÓRIA
O significado de um texto inclui tanto o que ele significou no passado
quanto o que ele significa no presente. A distinção na Linguística
contemporânea coloca isso em termos de sincronia e diacronia. Quanto à
primeira, o objetivo é descrever um texto com base em sua coerência,
estrutura e função na sua forma final. Quanto à segunda, o objetivo é
explicar os eventos e processos históricos que trouxeram o texto à
existência.
A descoberta do significado do texto que busca responder ao que o texto
significa no presente normalmente se baseia em uma abordagem sincrônica
ao texto: o que ele é. A busca que se interessa pelo que o texto significou no
passado se apoia pesadamente sobre uma abordagem diacrônica do texto:
como ele veio a ser o que é.
Por que é difícil ligar essas duas condições de existência do texto?
Primeiro, porque um texto antigo não foi escrito originalmente para nós,
leitores modernos. Mas para audiências antigas. De certo modo, somos
observadores intrusos de outra realidade que não vivenciamos.
Segundo, porque os textos antigos, inclusive os manuscritos bíblicos, foram compostos em
outra língua, no caso da Bíblia, em hebraico, aramaico e grego, em sua maioria, portanto, bem
diferentes da língua portuguesa. Quem usa uma tradução desses manuscritos depende, de
certa forma, de interpretação do(s) tradutor(es). Mesmo que conheça a língua, falta-lhe o
acesso ao modo como elas eram faladas e usadas no tempo de registro do texto.
Terceiro, porque há uma grande distância histórica e cultural entre os autores e a audiência de
um texto antigo e os seus leitores atuais. Por um lado isso é bom, pois permite que o texto fale
por si mesmo; por outro lado, ele pode deixar de ser relevante para nós, pois fala para o
passado. Quando confrontados com muitas questões atuais, eles parecem nada ter a dizer.
Forçar um sentido atual ao texto pode gerar muita ambiguidade e distorções em relação ao
autor e à audiência original. Muitos exegetas, hoje, acreditam ser impossível a interpretação
objetiva, pois seu significado se perdeu para sempre, e desnecessária, pois seu significado
não faz o menor sentido hoje.
Quarto, porque a inexistência dos documentos autógrafos, isto é, o texto originalmente escrito
pelo autor, e a existência de milhares de cópias manuscritas, principalmente no caso do texto
bíblico, e de inúmeras versões e edições ao longo do tempo, somam mais problemas à
questão de qual texto é o mais adequado.
2 O PROBLEMA DAS PRESSUPOSIÇÕES

Hoje, se reconhece que a descoberta de um significado para um


texto é modelada pelas tradições que o exegeta possui e pelas quais
aprendeu a ler o texto, inclusive o jurídico ou o bíblico, e pelo lugar,
papel e peso que a discussão destas tradições representa à
exegese. Isso tem a ver sobre como cada exegeta entende para si
mesmo o status do texto:
- orientação principal para a vida;
- legitimação de uma forma de vida dele mesmo, de um grupo, de
uma família,
de uma comunidade, de uma igreja;
- como parte das condições de mundo no qual se vive.
Estas situações colocam a questão das pressuposições do exegeta.
A exegese histórica, em geral, como é o pressuposto de toda ciência moderna de
caráter positivista, afirma que pratica uma exegese objetiva, na qual o exegeta se coloca no
contexto, ambiente e mundo dos autores e leitores antigos, vendo as coisas de sua
perspectiva original e suprimindo qualquer opinião moderna que afete sua interpretação.
Rudolf Bultmann questionou essa espécie de objetividade e neutralidade histórica
quando escreveu seu ensaio: “É possível a interpretação sem pressuposições?” Para ele, a
pressuposição é necessária e possível se isso significa não pressupor o resultado final da
exegese. Por outro lado, ele afirma que:
Nenhuma exegese é sem pressuposições, na medida em que o exegeta não é uma
tábula rasa, mas, ao contrário, aborda o texto com questões específicas ou de um modo
específico de levantar questões, e assim tem uma certa ideia do assunto com o qual o texto
está lidando.
Se existem pressuposições, o exegeta não pode ler o texto de modo neutro e objetivo,
pois ele está determinado por sua própria individualidade, inclinações especiais, hábitos,
virtudes e fraquezas. Ao ler o texto, ele deve formular um entendimento inicial, uma ideia
inicial, um ponto de referência do que o texto está dizendo. Isto será verificado pelo próprio
texto.
Conforme Conzelmann e Lindemann:
O exegeta deve perguntar pelas pressuposições que traz
ao texto. Qual sua tradição ou background? Que perguntas
ele espera que o texto responda? Por que ele se dedica a
esse texto?... Não há exegese sem pressuposições. Cada
interpretação é pelo menos influenciada pelo próprio ambiente
histórico do exegeta.
3 O PROBLEMA DA TEOLOGIA
No caso específico da exegese de textos bíblicos, talvez a questão mais controversa é
sobre o lugar da Teologia, notadamente acerca do caráter descritivo (não confessional) ou
prescritivo (confessional) da exegese.
Para este segundo tipo, prescritivo, o texto bíblico é um texto sagrado, que implica em:
ele registra as palavras de Deus; é a melhor apresentação da realidade; sua autoridade
ultrapassa a de qualquer outro texto literário; ele tem um papel central em guiar a fé e a
prática de indivíduos e comunidades. Para os exegetas que trabalham com esses
pressupostos, a interpretação só pode ser feita desde dentro e para uma comunidade de fé, e
ao resultado da exegese o indivíduo e a comunidade devem se submeter. O problema aqui é
que os pressupostos doutrinários, de antemão, já determinem os resultados da exegese.
Para o primeiro tipo de exegese, descritiva, o que importa é o lugar e papel histórico do
texto bíblico na época de sua composição e na forma como se encontra escrito. Isso implica
em: valorizar o significado passado do texto; tratar o texto bíblico como uma literatura antiga;
em formas históricas mais radicais, reduzir referências sobrenaturais a uma determinada
época histórica.
Contudo, o texto bíblico não é apenas um registro das
comunidades antigas, no sentido histórico, mas um registro
moderno para comunidades atuais, no sentido teológico. A
questão mais profunda da exegese do texto bíblico diz
respeito ao papel do exegeta como proclamador do que o
texto significou no passado, e do teólogo como proclamador
do que o texto significa no presente.
FRIEDRICH D. E. SCHLEIERMACHER- O PAI DA HEMERNÊUTICA MODERNA

Para Schleiermacher, considerado o pai da Hermenêutica


moderna, esta era “a arte da compreensão correta do discurso
de um outro” (SCHLEIERMACHER, 1999, p. 15). Ele foi
influenciado tanto pelo processo hermenêutico renascentista,
de caráter filológico, quanto pela tradição exegética
protestante, de caráter histórico. Em ambos persiste o ideal
exegético de reconstituir o sentido original do texto acrescido
das exigências de considerar as condições gerais nas quais
ocorrem a interpretação e a justificativa do processo mesmo de
interpretação. A novidade de Schleiermacher foi fundamentar o
processo hermenêutico em um conceito geral de
compreensão.
Para que a compreensão ocorra é preciso observar:
1 A inseparabilidade entre sujeito e objeto.
2 O condicionamento de todo discurso humano a um
horizonte linguístico específico que determina o
resultado da compreensão.
3 A circularidade entre o todo e o particular que gera a
dedução como método científico.
4 A referência a um ponto de vista, ou pré-compreensão
que prioriza a pergunta sobre a resposta.
Segundo o processo hermenêutico de Schleiermacher (1999, p. 16), a
compreensão é “uma reconstrução histórica e divinatória dos fatores
objetivos e subjetivos de um discurso falado ou escrito”.
Trata-se de um esforço consciente e metódico de justificar
racionalmente o processo de interpretação. Devido ao distanciamento do
intérprete em relação ao autor, duas operações acontecem: a pré-
compreensão do intérprete e a diferença entre intérprete e autor.
A compreensão implica dominar a pré-compreensão e superar a
diferença. Esta superação é feita por meio da recuperação objetiva
(sintático semântica) da linguagem empregada por uma comunidade
falante da qual o autor faz parte e, especificamente, como o autor usa essa
linguagem - recuperação subjetiva ou psicológica.
Contudo, toda compreensão é provisória e o
distanciamento/estranhamento nunca se esgota, pois envolve
circularidades que se sobrepõem infinitamente. Há duas
maneiras de eliminar, gradativamente, a distância: o método
divinatório/adivinhatório (o que o intérprete entende que o autor
quis dizer ou pensou em uma passagem) e o comparativo (a
pré-compreensão do intérprete).
Para Schleiermacher (1999), portanto, compreender uma obra antiga
era chegar até a mente ou ao gênio criativo do seu autor. Para isto, era
necessário conhecer os estímulos que o ambiente ou contexto deste autor
lhe ofereceu para que ele produzisse a sua obra. Se o trabalho fosse bem
feito, seria possível ao intérprete compreender o que o autor quis dizer,
melhor do que este mesmo o teria feito.
Na medida em que o intérprete se identificava com o contexto do autor,
tudo iria muito bem. Mas, no momento em que ele estranhasse alguma
coisa naquele ambiente, ocorria a necessidade da interpretação. Essa
estranheza era o resultado da distância entre o contexto do intérprete e o
contexto do autor. Nessas circunstâncias, o significado não se tratava
mais de reproduzir o pensamento do autor, mas de chegar a
possibilidades do seu pensamento que nem mesmo o autor teria sido
capaz de imaginar, sob o estímulo do contexto do próprio intérprete.
Nesse tópico você viu que:
● A Hermenêutica parte da constatação de que é preciso superar a
distância cultural e/ou cronológica que prejudica a compreensão dos
textos antigos, pretendendo determinar o seu significado e demonstrar sua
pertinência na atualidade.
● Os termos interpretação, hermenêutica e exegese se relacionam do
geral para o específico, sendo interpretação o mais amplo, pois abrange
qualquer comunicação que seja objeto de interpretação, e hermenêutica e
exegese possuem seu objeto restrito ao texto escrito.
● A dificuldade de interpretação de textos escritos acontece devido a três
problemas principais: a distância histórica, as pressuposições e, no caso
da exegese bíblica, a teologia.
● Schleiermacher é considerado o pai da Hermenêutica moderna, pois ele
apontou o seu objeto para todo aspecto da realidade humana, e o seu
método para a compreensão do pensamento do autor a partir de uma
relação simpática com ele.
A leitura foi ampla e, em alguns momentos, você pode ter percebido escapar alguma coisa. É
muito importante que você guarde o que foi estudado neste tópico, pois será indispensável em
uma retomada posterior do seu conteúdo.
1 O início da Hermenêutica como ciência da interpretação nasceu no século
XVII, com a finalidade de:
( ) fazer a exegese de textos escritos em línguas antigas.
( ) interpretar o significado simbólico de antigos documentos religiosos.
( ) superar a dificuldade de compreensão de antigos textos, evidenciando a
sua importância para a atualidade.
( ) completar o sentido de textos obscuros.
2 Dentre os principais problemas que justificam a necessidade da Hermenêutica,
pode-se citar:
( ) as pressuposições, a história e a teologia, no caso específico do texto bíblico.
( ) a teologia, as pressuposições e a história, no caso próprio do texto bíblico.
( ) as pressuposições e a história.
3 O pai da Hermenêutica moderna é F. D. Schleiermacher. Sua importante
contribuição foi:
( ) fundamentar o processo hermenêutico em um conceito geral de
compreensão.
( ) afirmar o vínculo inseparável entre o autor e o texto que é interpretado.
( ) introduzir o sistema quádruplo no ato de compreensão.
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