Você está na página 1de 10

É ca profissional

• Antes de entendermos o que é a É ca profissional dos operadores do Direito (


profissionais do Direito), precisamos entender o que é É ca.

• O que é É ca?

• Desde o século IV a.C, os adje vos ethike, logike e physike passam a qualificar cada um
as três partes nas quais é dividida a Filosofia concebida como ciência (epistheme):
Lógica, Física e É ca.

• A physike deu origem às ciências da natureza ( physis): a par r da natureza, observada


na regularidade do seu vir-a-ser (genesis), que se formularam as primeiras regras do
discurso cien fico: as regras da necessidade lógica ligando o antecedente e o
consequente, em homologia com a necessidade causal ligando a sucessão dos
fenômenos.

• A logike deu origem à Lógica e a Matemá ca (ciências das formas puras e aplicadas).

• O nascimento da ciência da natureza, contemporâneo ao aparecimento da matemá ca


e da lógica como ciências das formas, dá origem à formação de nomes e conceitos
gerais ou universais ( ciência é ciência do universal).

• E a ethike?

• Na língua filosófica grega, ethike procede do substan vo ethos, que receberá duas
grafias dis ntas, designando ma zes diferentes da mesma realidade:

• Ethos ( com eta inicial) designa o conjunto de costumes norma vos da vida de um
grupo social;

• Ethos ( com epsilon) refere-se à constância do comportamento do indivíduo cuja vida é


regida pelo ethos-costume.

• Assim, o ethos denota a morada, covil ou abrigo dos animais.

• O ethos também é tradicional, ou seja, trata-se de um legado que as gerações se


transmitem ao longo do tempo.
• E a codificação do costume em leis e ins tuições assinala um passo dis nto na
evolução do ethos.

• Então, uma vez visto que É ca significa costumes e hábitos tradicionalmente


construídos, como podemos entender que os costumes e hábitos se formam?

• Como a É ca de alguém se forma através dos costumes e dos hábitos?

• A existência do ethos se dá pelo modo como o agir humano acontece.

• O agir humano acontece assim:

• Bonum faciendum, malumque vitandum.

• Bonum faciendum, malumque vitandum quer dizer: o bem deve ser feito, o mal deve
ser evitado.

• Então, formamos os nossos hábitos e costumes de acordo com o bem que


vislumbramos para nós, para a nossa comunidade ou grupo. Formamos a nossa É ca
de acordo com o bem que vemos para nós.

• O agir humano que busca o bem e evita o mal para si e para o seu grupo é também
reflexivo: ele se volta do saber para o próprio sujeito, para estabelecer uma forma de
relação de responsabilidade para com o realização do ethos.

• Além disso, é um saber antes vivido do que pensado.

• Por outro lado, o saber é co é par cular, é dado por determinada cultura histórica ( e
portanto, não é universal como os outros saberes ou ciências).

• Além disso, mesmo o ethos sendo hábitos e ou costumes ele procede da práxis e da
indeterminação prévia da livre escolha ( proairesis).

• Porém, como vamos aprender a É ca dos profissionais do direito se já temos os nossos


hábitos e costumes?

• Como podemos aprender uma É ca de um advogado ou de um juiz, por exemplo, se já


temos uma É ca enquanto pessoas que somos, equanto pertencentes a determinados
grupos?

• Primeiramente, precisamos compreender um pouco mais sobre esse po de saber que


é o da É ca.

• Vimos que a primeira divisão dos saberes foi feita como: ethike, physike, logike.

• Isso quer dizer que existem três pos de saberes, e que cada um deles é diferente, que
cada um deles tem uma maneira diferente de acontecer, ou seja, aprendemos É ca de
um determinado jeito, ciências sicas de outro e lógicas de outro.

• Contudo, além daquela dis nção entre physike, logike e ethike, existe outra dis nção
de ciências que nos ajuda a compreender um pouco mais da é ca: a dis nção dentre
saberes teórico, poié co ( ou técnico) e prá co.

• Assim, a É ca é um po de conhecimento prá co diferente dos conhecimentos


teórico e poié co.

• Sendo assim, uma ciência que provém da observação dos fenômenos naturais e sua
sequência causal e necessária (observação de regularidades causais e tradução lógica
em discursos que mostrem essa regularidade) é incompa vel com uma ciência do
ethos.

• Contudo, ainda assim a construção de uma ciência É ca é importante. E nesse sen do,
a É ca visa: a operação ( ou práxis) humana e sua ordenação a um fim.

• O finalismo da práxis é voltado para a perfeição do sujeito operante, o finalismo da

techne para a perfeição da obra a ser produzida.


• Na práxis ( ou na É ca), a perfeição ou a realização do melhor, que é o fim do agente, é,
em primeiro lugar, a perfeição do próprio agente: sua ação tem seu fim em si mesma.
Por sua vez, na téchne (no saber poié co ou técnico), a perfeição que o ato de produzir
tem em vista é a perfeição da obra a ser produzida: o ato de produzir é um movimento
que se completa na exterioridade do produto.

• Essa ní da dis nção entre a práxis e a techne ou poiesis ( fabricação) permi u por sua
vez a Aristóteles sistema zar defini vamente a divisão dos saberes em teórico, prá co
e poié co.

• Sendo assim, a É ca tem um aspecto estrutural: a estrutura da práxis ( ou do agir) em


sua especificidade de agir de acordo com o ethos). E um aspecto norma vo ( a práxis
se ordena a um sistema de fins e se submete a um sistema de normas).

• Os primeiros passos em direção à ciência do ethos serão dados no campo da reflexão


sobre a lei. A Díke ou Jus ça é a fonte da legi midade da lei (nómos) e, a par r dela, o
justo ( dikáion) pode ser igualmente definido como predicado da ação do verdadeiro
cidadão. Seus opostos são manifestações de uma mesma desmesura fundamental (
hybris), que é ambição do poder ( pleonexía), do ter ( philargyría) e do aparecer (
hiperephanía).

• A hybris traça, desta sorte, o perfil do homem injusto ( anér ádikos), que se mostra
como o homem insensato ou des tuído de razão. A ele se contrapõe o homem justo (
anér dikaios), que se situa sob a égide da “medida” (métron). Neste sen do, Sócrates
definiu a virtude como “arte de medir”.

• Platão edifica a ciência do ethos como ciência da jus ça e do bem e,


consequentemente, como ciência da ação justa e boa que é a ação segundo a virtude
(arete): operando a perfeita interiorização da lei na alma e tornando supérflua a lei
escrita (paidéia).

• A virtude torna o homem eudaímôn, ou seja, excelente em humanidade e auto-


realizando-se nessa excelência.

• Sendo assim, a É ca profissional dos operadores do direito está preocupada em


construir padrões de condutas justos para os juízes, advogados, promotores e todos os
demais operadores do direito.

• Um juiz é co é um juiz justo, um advogado é co é um advogado justo, um promotor,


um delegado, etc.

• E a É ca Profissional dos operadores do direito vai depender da é ca individual e social


( familiar) de cada um.
• Isso significa que vou trazer a minha é ca que aprendi no meu convívio familiar e social
para a é ca da minha profissão, e em muitos casos vai haver um choque, uma
contradição entre os padrões é cos.

• Mas como posso saber se um juiz é justo ou injusto, é co ou an é co?

• Como saber se um advogado é justo ou injusto, é co ou an é co?

• Pelo reconhecimento podemos saber se algum operador do direito foi é co ou não…

• Mas o que é reconhecimento?

• O reconhecimento é uma dimensão essencialmente é ca do ato da Razão prá ca, dado


que o outro, como outro Eu, só pode ser reconhecido como tal no horizonte do Bem ao
qual nossa Razão prá ca é necessariamente ordenada.

• O reconhecimento só se torna efe vo por meio de um laborioso e muitas vezes penoso


trabalho de educação é ca, admi ndo assim diversos níveis de realização
compreendidos entre um nível inferior, que é a tendência de redução do outro a objeto
na mul forme relação senhor-escravo, e um nível superior representado pela
gratuidade do amor ao próximo.

• E o diálogo é a principal razão desta educação é ca: o diálogo é fundamentalmente um


evento de natureza é ca e é por ele que a estrutura intersubje va do agir é co se
realiza.

• Então, um juiz que reconhece a humanidade ou subje vidade das pessoas é um juiz
é co; do mesmo modo, o advogado, o delegado de polícia, o promotor, etc.

• Veremos isso agora de modo mais específico.

• É como especialização de conhecimentos aplicados que a é ca profissional se vincula


às idéias de u lidade, presta vidade, lucra vidade, categoria laboral, engajamento em
modos de produção ou prestação de serviços, exercício de a vidades regularmente
desenvolvidas com finalidades sociais, etc.

• Sendo assim, vemos que a é ca profissional por envolver a vidades de produção, de


u lidade e lucro, também tem uma interface com aspectos teóricos e técnicos.

• Nesse sen do, alguns trechos da declaração da ADCE – Associação dos Dirigentes
Cristãos de Empresas do Brasil:

• 1º Aceitamos a existência e o valor transcendente de uma É ca social e empresarial, a


cujos impera vos submetemos nossas mo vações, interesses, a vidades e a
racionalidade de nossas decisões;

• (...)

• 4º Consideramos o lucro como o indicador de uma empresa técnica, econômica e


financeiramente sadia e como a justa remuneração do esforço. Repudiamos, pois, a
idéia do lucro como única razão da a vidade empresarial.

• Entretanto, a é ca profissional, na verdade, quando regulamentada, deixa de ter seu


conteúdo de espontaneidade, que é o que caracteriza a é ca.

• Contudo, é importante a existência dessas normas é cas, uma vez que garantem

publicidade, oficialidade e igualdade.

• E as profissões jurídicas, por envolverem questões de alto grau de interesse cole vo,
são profissões de exercício vinculado a deveres, obrigações e comportamentos sociais
regrados.

É ca do advogado

• Não é na conduta dos advogados desonestos que se iden ficará a caracterís ca da


profissão do advogado mas sim no ideal do advogado perfeito.

• A massificação da advocacia trouxe inegável prejuízo para a é ca da advocacia.

• O ar go 2º do Código de É ca da advocacia dispõe: “O advogado é indispensável à


administração da jus ça, é defensor do estado democrá co de direito, da cidadania, da
moralidade pública, da jus ça e da paz social, subordinando a a vidade do seu
Ministério Privado à elevada função pública que exerce.”

• A lei é a ferramenta de trabalho do advogado, e o segundo instrumento com que


trabalha o advogado é a confiança e a sobrevivência dos interesses do cliente.

• “O advogado tem, realmente, muito de sacerdote, quando ouve a confissão do


criminoso, os fatos da in midade do lar, os meandros do negócio, as desavenças e os
ódios.”

• Em todos os ramos da convivência humana surgem relações sociais e, com estas,


relações jurídicas, oferecendo campo para atuação do advogado.

• Faz-se o advogado conselheiro e confidente adequado para inspirar nos que dele
precisam as virtudes sociais e morais e para afastar do caminho da injuridicidade o
cliente que, mal intencionado, entra em seu escritório.

• A advocacia, como profissão diferenciada, somente aparece nas duas cidades que
foram berço da civilização ocidental: Atenas e Roma.

• Em Roma, dis nguiam-se duas categorias de advogado: o patronus ou causidicus que


deba a as causas e defendia em juízo os direitos de seus patrocinados, e o advocatus,
a quem compe a assessorar e instruir a parte ou o seu patrono sobre questão de
direito.

• A evolução econômica da sociedade brasileira, a massificação da advocacia, ensejada


pela mul plicação de Faculdades de Direito, ocorrida a par r dos anos 70 (...) fez surgir
no Brasil a proletarização da advocacia. De lá para cá, a advocacia liberal tornou-se

privilégio de escassa minoria, o advogado preso à relação de emprego com poderosas


sociedades de advogados, auditorias empresariais e mesmo com empresas – passou a
cons tuir o perfil do advogado.

• No Brasil, tenta vas muitas se fizeram, desde o Império, a fim de se ins tuir um órgão
de classe que congregasse todos os advogados do Brasil. No ar go 1º do Regulamento
de 20.02.1933, dispunha-se que: “A Ordem dos Advogados do Brasil é órgão de
seleção, defesa e disciplina da classe dos advogados em toda a República.”
• Portanto, a OAB é órgão sele vo (seleciona os profissionais) com competências
legiferante ( o Conselho Federal da OAB pode editar e alterar o Código de É ca e
Disciplina, competência tributária (obter receitas oriundas de contribuições
obrigatórias) e disciplinar ( pode aplicar penas disciplinares e penas aos infratores da
Lei ou do Código de É ca).

• A estrutura da OAB consta de um órgão com atribuições em nível nacional ( o Conselho


Federal) e de órgãos em nível estadual ( os Conselhos Seccionais), consta ainda de
órgãos de Subseções, abrangendo municípios ou parte de município e com as Caixas de
Assistência dos Advogados, criadas pelos Conselhos Seccionais em que houver mais de
mil e quinhentos inscritos.

• Pela inscrição nos quadros da Ordem fica o bacharel em Direito habilitado a exercer a
advocacia em qualquer parte do território nacional; a inscrição principal é feita no
Conselho Seccional, em cujo território pretende estabelecer o seu domicílio
profissional e com ela é possível o exercício temporário da profissão em qualquer parte
do território nacional (intervenção judicial que não exceda de cinco causas por ano).

• No caso de mudança efe va de domicílio profissional para outra unidade federa va,
deve o advogado requerer a transferência de sua inscrição para o Conselho Seccional
correspondente.

• O Estatuto dos Advogados preceitua como requisito de inscrição prestar compromisso


perante o Conselho, nos seguintes termos:

• “Prometo exercer a advocacia com dignidade e independência; observar a é ca, os


deveres e prerroga vas profissionais; defender a Ordem jurídica do Estado
Democrá co, os direitos humanos, a jus ça social, a boa aplicação das leis, a rápida
administração da jus ça e o aperfeiçoamento da cultura e das ins tuições jurídicas.”

É ca Profissional – Estatuto da Advocacia – Lei 8.906 de 94

• A Lei 8.906 de 94 ( Estatuto da Advocacia) estabeleceu que a a vidade de advocacia


priva va consiste em:
• postulação a órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais;

• a vidades de consultoria, assessoria e direção jurídicas ( art. 1º).

• (a impetração de habeas corpus não é priva va da advocacia).

• Nos termos do art. 2º do Estatuto e ar go 133 da Cons tuição, o advogado é


indispensável à administração da jus ça, ou seja, toda prestação jurisdicional deve
conter a par cipação do advogado, em nome do devido processo legal, do
contraditório e da ampla defesa.

• Para ser advogado é preciso estar inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. O
bacharel em direito não pode prestar consultoria jurídica, sob pena de cometer crime
de exercício ilegal da profissão ( ar go 4º do regulamento geral).

• Também se cons tui a vidade priva sta da advocacia a elaboração de atos e contratos

cons tu vos de pessoas jurídicas ( art. 2º do regulamento geral);

• Segundo determina o parágrafo 3º do art. 1º do Estatuto: é vedada a divulgação de


advocacia em conjunto com outra a vidade.

• Por outro lado, a advocacia pode revelar-se em duas vertentes: advocacia singular (
advogado autônomo ou empregado) ou por sociedade de advogados).

• O parágrafo 3º do art. 1º do Estatuto estabelece que no exercício da profissão, o


advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei, ou seja, o
advogado goza de proteção jurídica, não cometendo desacato ou injúria, quando
es ver exercendo a defesa de umas das partes.

Você também pode gostar