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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Inquérito Policial
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INQUÉRITO POLICIAL

O tema “inquérito policial” é um dos mais importantes que constam na primeira fase da
OAB (há uma incidência enorme de questões a respeito desse tema). Por isso, serão estu-
dados conceituação, características, instauração, conclusão, diligências, prazos, arquiva-
mento e desarquivamento etc.

INQUÉRITO POLICIAL

No edital, destaca-se inquérito policial. Porém, existem diversas modalidades de inves-


tigar uma infração penal. Então, há um gênero, que é a investigação criminal (apurar uma
infração penal, elucidar um crime/uma contravenção penal), e uma de suas espécies é a
forma de investigação por meio do inquérito policial.
Portanto, não serão solicitadas as outras modalidades de investigação, mas a espécie do
inquérito policial.

• O IP (espécie) não é a única forma de investigação (gênero), pois há outras formas,


distintas do IP, presididas por outras autoridades, desde que previstas em lei.

Exemplos:
I – Inquérito parlamentar presidido por CPI (art. 58, § 3º, CF);
II – Inquérito policial militar é presidido por polícia judiciária militar (art. 8º, CPM);
III – Investigação diretamente realizada pelo MP (já foi analisado pelo STF e pelo STJ o
fato de que o Ministério Público pode realizar diretamente investigações criminais)

Portanto, outros órgãos e outras autoridades podem investigar uma infração penal, não
sendo uma atividade exclusiva da polícia judiciária.
No entanto, tratando-se da prova da OAB, o que será solicitada é a parte de inqué-
rito policial.
Ver-se-á diversos dispositivos importantes a partir do art. 4º do Código de Processo
Penal, dando início ao estudo do inquérito policial.
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CONCEITO DE INQUÉRITO POLICIAL

• Art. 4º, CPP: é a Polícia Judiciária (exercida pelas autoridades policiais no território de
suas respectivas circunscrições) responsável pela apuração das infrações penais e de
sua autoria.
• Procedimento administrativo: pois está no âmbito da Polícia Judiciária.
5m
– Apenas na fase do processo haverá um procedimento judicial, atuando o Poder
Judiciário.
– Polícia Judiciária:
I – Polícia Federal: delegado da Polícia Federal.
II – Polícia Civil dos estados: delegado da Polícia Civil dos estados.
– O delegado preside e conduz a investigação no inquérito policial.
– Autoritariedade: há uma autoridade pública, que é o delegado de polícia, seja da
Polícia Federal, seja da Polícia Civil, que conduz, preside, instaura e relata o inqué-
rito policial.
• Preparatório: preparatório para a fase da ação penal.
– Persecução penal:
I – Momento pré-processual: investigação.
II – Fase da ação penal.

Portanto, o inquérito policial é preparatório para a ação penal.


Há ação penal pública e ação penal privada. Diante disso, o inquérito policial é prepara-
tório para que o Ministério Público, na ação penal pública, ofereça denúncia, assim como é
preparatório para que a vítima de um crime de ação penal privada possa oferecer a queixa-
-crime. Logo, ele é preparatório para a fase de ação penal.

– Ação penal também é um tema muito solicitado na primeira fase da OAB.


– Outros temas muito solicitados na primeira fase da OAB: inquérito policial, ação
penal, prisão, procedimento, jurisdição e competência, recursos etc.
• Dispensável:
– A investigação é gênero e o inquérito policial é uma das espécies. Então, pode haver
outras formas de ter a ação penal, pois a infração penal foi investigada de outro
modo, diverso do inquérito policial.
– Ainda prevalece, na doutrina e jurisprudência majoritárias, a característica de o inqué-
rito policial ser dispensável, porque pode haver outra forma de investigação.

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• Conduzido pela polícia judiciária (caráter repressivo – Polícia Civil e Polícia Federal) –
MP: controle externo da atividade policial (art. 129, VII, CF)
– Polícia administrativa: classicamente, é concebida como uma polícia preventiva,
ostensiva (ex.: Polícia Militar fazendo rondas, ou seja, demonstrando que a segu-
rança pública está presente, o que inibe a prática de condutas delituosas).
Ao longo dos anos, aprofundado o tema, pode-se verificar outras características que
definem essas espécies de polícia. Porém, tratando-se de uma prova da OAB, pode-
-se utilizar conceitos clássicos e tradicionais.
– Polícia judiciária: deve-se ter em mente que ela é repressiva (Polícia Federal e Polí-
cia Civil dos estados), pois ela atua, geralmente, após a prática da infração penal
(ex.: ocorre o crime e, depois, ele é investigado, ou ocorre o crime e, depois, o dele-
gado de polícia produz o documento do auto de prisão em flagrante).

ATENÇÃO
No que diz respeito ao inquérito policial, a atuação é da polícia judiciária (repressiva, pos-
terior – Polícia Federal e Polícia Civil dos estados).
10m

• Formar a opinio delicti do Ministério Público ou para a propositura da ação pela vítima.
– Oferecimento da denúncia pelo Ministério Público (no que se refere à ação penal
pública) ou propositura da queixa-crime pela vítima (no que se refere à ação
penal privada).
• Colheita de provas urgentes.
– É muito comum, na prática, haver modos de investigação como: interceptação telefô-
nica, mandado de busca e apreensão, quebra de sigilo, perícias etc.
– São provas de natureza mais emergencial, que devem ser produzidas na fase pré-pro-
cessual e são utilizadas posteriormente – devem ser produzidas naquele momento,
caso contrário, perecem e não se torna possível colhê-las posteriormente.
• Polícia administrativa X Polícia Judiciária.
• Objetivo do inquérito policial: apurar o crime/a infração, descobrir se, de fato, existiu
(materialidade) e quem foi o autor da infração penal (indícios de autoria).
– Colher indícios de informação para, depois, serem confirmados na fase judicial, a
respeito da existência da infração penal e de quem a praticou.
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Persecução penal: é um todo, dividida em:


I – Fase de investigação: nesta aula, estudamos uma das espécies – o inquérito policial
II – Fase do processo/da ação penal
O estudo do processo penal tem uma lógica:
I – Estuda-se a elucidação do crime.
II – Com a elucidação e encaminhamento ao órgão acusatório, este oferece a denúncia
ou a queixa-crime.
III – Onde o órgão acusatório oferece a queixa/a denúncia? Qual é o juízo competente?
IV – Estuda-se jurisdição e competência.
V – Inicia-se o procedimento: como é a tramitação da ação penal? O que pode ocorrer
como incidente nessa ação penal? A prisão pode ocorrer durante toda a persecução penal?
VI – Com o julgamento, quando se dá a fase recursal no processo penal?
Compreender a lógica do processo penal é muito importante tanto para a primeira fase
quanto para a segunda fase (ex.: para descobrir a peça a ser feita, para responder às ques-
tões discursivas).

VALOR PROBATÓRIO RELATIVO

É um valor probatório relativo, pois o que é produzido na fase do inquérito policial deve
ser, de regra, confirmado na fase de ação penal.
Quando um juiz se apropria de um procedimento na fase judicial, em que se instrui o
processo após o recebimento da denúncia/queixa, ele deve se preocupar, na audiência, em
confirmar o que foi colhido na fase do inquérito.
15m
Ex.: se, na fase do inquérito, a vítima reconheceu o autor do fato e narrou, de forma deta-
lhada, como se deu o delito de roubo, na fase de ação penal (audiência), deve-se ouvir a
vítima e verificar se ela confirma tudo o que disse no inquérito, bem como se confirma, com
absoluta certeza, que reconhece o autor do fato (isso, em regra, deve ser feito com cada um
dos elementos de informação colhidos no inquérito, a fim de verificar se eles se transformam,
realmente, em prova judicializada, com contraditório, na fase judicial).
Há exceções, como se vê no art. 155 do Código de Processo Penal.

CPP
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhi-
dos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
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• Esse artigo está na parte de provas.


• De regra, é preciso confirmar em juízo o que foi colhido no inquérito, para que se
possa condenar.
• O art. 155 do CPP define que o juiz não pode utilizar algo que foi produzido exclu-
sivamente no inquérito e que não confirmado na audiência, no processo, na fase
judicializada (com a incidência dos princípios do contraditório e da ampla defesa), para
condenar alguém.
• Na ânsia e no desejo de condenar alguém, não se pode dizer: “a vítima reconheceu, a
vítima narrou como foi o fato, ela deu esse depoimento na delegacia, mas, em juízo,
não o confirmou”.

Ex.: se, em juízo, ao ser ouvida, a vítima diz que reconheceu na fase da delegacia, mas
que não tem certeza do seu reconhecimento, ele é invalidado, pois, pelo princípio da presun-
ção de inocência e in dubio pro reo, em situação de dúvida, é caso de absolvição. Então, se
a vítima diz que não tem certeza sobre o seu reconhecimento e não houver outros elementos
para confirmar a autoria, deve-se absolver.
Em suma, não se pode dizer, na sentença, que a vítima confirmou, sendo que o fez
apenas na fase do inquérito, sem que o tenha confirmado na fase judicial.
Não se pode condenar alguém com base em elementos exclusivamente colhidos na fase
do inquérito policial, pois é preciso ter elementos na fase de inquérito policial.
Porém, há exceções: provas produzidas de forma urgente na fase pré-processual do
inquérito e que, pela sua própria natureza, não podem ser repetidas na fase judicial (parte
final do art. 155).

Juiz de garantias

• Cautelares?
• Não repetíveis?
• Prova antecipada?
• ***Contraditório diferido.
• ****Contraditório direto/real.
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Provas cautelares Prova não repetível Provas antecipadas


São aquelas produzi-
das com a observân-
São aquelas em que É aquela que, uma vez cia do contraditório
há um risco de desa- produzida, não tem real, perante a auto-
parecimento do objeto como ser novamente ridade judicial, em
da prova em razão coletada ou produzida, momento processual
Conceito
do decurso do tempo, em virtude do desapa- distinto daquele legal-
em relação às quais recimento, da destrui- mente previsto, ou
o contraditório será ção ou do perecimento até mesmo antes do
diferido. da fonte probatória. início do processo, em
virtude de situação de
urgência e relevância.
Podem ser produ-
Podem ser produzidas
zidas no curso da Podem ser produzidas
na fase investigatória
Momento e (des) fase investigatória ou na fase investigató-
e em juízo, sendo que,
necessidade de auto- durante a fase judicial, ria e em juízo, sendo
em regra, não depen-
rização judicial sendo que, em regra, indispensável prévia
dem de autorização
dependem de autori- autorização judicial.
judicial.
zação judicial.
Diferido ou postergado Diferido ou postergado
Espécie de contradi-
ou adiado ou sobre a ou adiado sobre a Real ou para a prova.
tório
prova. prova.
Oitiva de testemunha
Interceptação telefô- Exame de corpo de
que está prestes a
Exemplo nica nos termos da Lei delito em vítima de
falecer, nos termos do
n. 9.296/1996 lesões corporais leves.
art. 225 do CPP.

• Provas cautelares

Ex.: investigação de uma associação para o tráfico. Com base nos requisitos da Lei n.
9.296/1996, o delegado representa por uma interceptação telefônica, o juiz ouve o Ministério
Público e defere a interceptação telefônica no momento da investigação.
Então, é uma prova produzida na fase da investigação, que depende de autoriza-
ção judicial.
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ATENÇÃO
O diálogo colhido na fase investigativa não poderá ser colhido novamente na fase judicial,
tornando-se inviável a confirmação dessa prova na fase judicial.

Ex.: assim, se, durante a investigação, faz-se uma interceptação telefônica, com pror-
rogações sucessivas, que os tribunais superiores permitem desde que haja uma motivação
idônea, e coleta-se diálogos detalhados sobre a estabilidade e a permanência da associação
para o tráfico, isso não poderá ser repetido na fase judicial.
20m

• Prova não repetível

Ex.: delegado pede a presença da perícia no local do crime (o que não depende de auto-
rização judicial – art. 6º do CPP trata das diligências que o delegado pode providenciar ao
saber da notícia de um crime, sendo uma delas justamente resguardar o local dos fatos e
chamar a perícia para a realização da perícia no local).
A perícia ocorre em uma fase investigatória que não há como repetir.
Ex.: autor dirigindo um veículo em alta velocidade, embriagado e, em decorrência disso,
há o atropelamento de uma vítima. A polícia é acionada, chega o delegado, os agentes e
a perícia, e realiza-se a perícia. Há como manter o local do crime até a fase judicial? Não.
Então, é realizado o exame no corpo de delito, é produzido o laudo de exame de corpo de
delito, os peritos atuam adequadamente, isso é juntado aos autos e o local do crime é des-
feito. Depois, as partes poderão impugnar o laudo, nomear assistente técnico e querer reali-
zar novas perguntas para os peritos, mas não será mais possível reproduzir a prova pericial,
pois ela é não repetível.
Há algumas provas produzidas na fase do inquérito policial que não necessariamente
serão reproduzidas na fase judicial devido à inviabilidade ocasionada pela sua espécie –
apesar de não serem confirmadas em juízo, podem fundamentar uma condenação (ex.: no
caso de condenação de uma associação para o tráfico, pode-se utilizar a interceptação tele-
fônica como fundamento para a condenação, mesmo que ela não tenha sido reproduzida em
juízo em razão da sua espécie).
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CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

• Inquisitivo: exceção com contraditório: IP para decretação de expulsão de estrangeiro;


– Não há a incidência do contraditório e da ampla defesa, os quais incidem na
fase judicial.
– Não incidem o contraditório e a ampla defesa, daí a importância de, na fase judicial,
os elementos de informação serem confirmados em contraditório e em ampla defesa.
– A única exceção apontada pela doutrina é o caso de inquérito para decretar a expul-
são de estrangeiro: neste caso, a lei exige que haja o contraditório já na fase do
inquérito policial. Essa é uma exceção que nunca foi solicitada pela prova da OAB.
• Inexistência de nulidades (regra);
– Classicamente, diz-se que inexistem nulidades na fase do inquérito policial.
– Se ocorre alguma ilegalidade na fase da investigação, o órgão acusatório, ao ofere-
cer a denúncia ou a queixa-crime (se for uma ação penal privada), deve ter o cui-
dado de não levar esse elemento para a fase judicial. Então, de regra, aquilo que
ocorre de forma irregular na fase do inquérito não contamina a possibilidade de
propor uma ação penal.

Logo, mesmo que ocorra alguma irregularidade ou ilegalidade na fase do inquérito, o


Ministério Público poderá propor a ação penal, porém, deverá ter o cuidado de como levar
ou de não levar esse elemento para a fase da ação, corroborando a justa causa da denún-
cia em outros elementos mínimos probatórios que não sejam este (ex.: tortura, prova ilícita
produzida na fase do inquérito – nesse caso, poderiam contaminar). Contudo, classicamente
se diz que inexistem nulidades na fase do inquérito policial, e que ele não vai contaminar e
macular a fase da ação penal, desde que o órgão acusatório não leve esses elementos para
a ação penal, mas a corrobore com outros elementos probatórios mínimos que justifiquem a
justa causa para o oferecimento da peça inicial acusatória .
25m

• Escrito (art. 9º, CPP);


– O inquérito policial é escrito, no sentido de que é documentado e registrado.
• Sigiloso (art. 20, CPP);
– Art. 20, CPP: a autoridade policial (o delegado de polícia) assegura, no inquérito, o
sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
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Um cidadão comum não pode chegar a uma delegacia e perguntar quem está sendo
investigado – isso não é possível, pois existe um sigilo, até mesmo para garantir a eficácia e
para conseguir descobrir quem foi o autor do crime.
Porém, quando se fala em sigilo, trata-se de um sigilo externo, pois não há sigilo para
quem atua no inquérito – o órgão do MP tomará conhecimento das informações para oferecer
a denúncia, assim como os advogados tomarão conhecimento para defender o investigado.
Portanto, internamente, os atores têm acesso ao inquérito policial.
Logo, o sigilo definido pelo art. 20 se configura, sobretudo, como um sigilo externo, para
a sociedade – garante-se o sigilo para assegurar a elucidação da infração penal.
No âmbito da advocacia, é importante estudar a atuação do advogado na fase do inqué-
rito policial.

ESTATUTO DA OAB

Art. 7º São direitos do advogado:


XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem pro-
curação, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento,
ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico
ou digital;
XXI – assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade
absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos
investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo,
inclusive, no curso da respectiva apuração:
a) apresentar razões e quesitos;

O advogado, de regra, ao chegar à delegacia, tem direito ao amplo acesso às investiga-


ções, inclusive, sem procuração.
Vislumbrando situações práticas mais delicadas, o Supremo Tribunal Federal (STF) fez
uma ponderação a respeito desse amplo acesso, daí a Súmula Vinculante n. 14 (ela é muito
importante e muito solicitada pela prova da OAB).

Súmula Vinculante n. 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

• De regra, o advogado tem amplo acesso.


• Porém, esse amplo acesso se dá naquilo que já consta como documentado.
30m
– Por isso, primeiro, pensa-se no já documentado em contraposição ao que está em
andamento/em curso.

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– Analisando uma questão da prova da OAB, deve-se pensar se o que o examinador


apresenta como situação hipotética é uma diligência que já acabou e já está docu-
mentada no inquérito policial ou se é uma diligência que ainda está em curso, em
andamento, que está sendo cumprida. Se se tratar de algo já documentado (ex.:
expedida a ordem de mandado de busca e apreensão e interceptação telefônica,
o delegado já cumpriu, já buscaram e apreenderam bens, fizeram um relatório e o
juntaram ao inquérito), a defesa tem acesso, porém, se o delegado pediu e o juiz
deferiu, por exemplo, a interceptação telefônica e o mandado de busca e apreensão,
mas estes ainda estão em andamento, ou seja, ainda não foram cumpridos, estando
em curso as diligências, a defesa não tem amplo acesso.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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INQUÉRITO POLICIAL II

RELEMBRANDO
Viu-se as seguintes características do inquérito policial:

• Inquisitivo.
• Escrito: documentado e registrado.
• Sigilo do inquérito policial.
• Acesso do advogado ao inquérito policial (Súmula Vinculante n.14).

CARACTERÍSTICAS

• Oficialidade: é um órgão oficial vinculado ao Estado (polícia judiciária) que conduz e


preside a investigação.
• Autoritariedade: seu responsável é uma autoridade pública, ou seja, o delegado de polí-
cia, seja da Polícia Federal, seja da Polícia Civil dos estados.
• Oficiosidade: a regra é a de que se inicia de ofício. Ou seja, a regra é a de que o dele-
gado, ao saber da notícia de um crime, inicia a investigação de ofício.
– No que se refere à instauração do inquérito policial (art. 5º), a espécie da ação penal
interfere no momento da investigação.
– Pode haver infração penal de ação penal privada e pode haver infração penal de
ação penal pública condicionada à representação. Nesses casos, o delegado não
pode iniciar de ofício, ou seja, não tem a oficiosidade para instauração, pois depende
da manifestação da vítima, isto é, depende do requerimento da vítima na ação penal
pública condicionada à representação e na ação penal privada.
Uma vez instaurado, ele tem a oficiosidade para conduzir o inquérito policial – o
delegado é quem decide quais diligências investigativas serão realizadas ao longo
do inquérito policial.
• Indisponibilidade (Art. 17, CPP: A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos
de inquérito).
– O delegado de polícia não pode mandar arquivar autos de inquérito.
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Inquérito Policial II
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 Ex.: delegado de polícia investigando um caso e entender que o fato é atípico, como
um furto insignificante. Nesse caso, o delegado de polícia pode arquivar o inquéri-
to policial, por entender a atipicidade? Classicamente, a doutrina majoritária dispõe
que não, ou seja, o delegado não pode mandar arquivar. Ele deve relatar o inquéri-
to, remeter ao Poder Judiciário, o qual encaminhará ao Ministério Público, o qual se
manifestará pelo arquivamento em razão de uma atipicidade e o juiz vai homologar o
arquivamento por atipicidade – ainda está em vigor esse sistema de controle judicial
da promoção de arquivamento, pois a nova redação do art. 28 ainda está com a efi-
cácia suspensa (nós não a adotamos nem chegamos a adotá-la na prática, pois ela
está pendente de julgamento da constitucionalidade pelo STF).
– Tratar-se-á sobre arquivamento em blocos posteriores (art. 28 do CPP, antiga reda-
ção, redação dada pelo Pacote Anticrime, que ainda está com eficácia suspensa,
motivos de arquivamento etc).
– É o Ministério Público e o juiz que participam desse ato complexo de arquivamento.
5m
• Dispensabilidade:
– O inquérito policial é dispensável até por ser apenas uma das espécies do gênero
investigação criminal, apesar de ser a mais comum na prática.

Art. 39.
§ 5º O órgão do MP dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elemen-
tos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de
quinze dias.

– Portanto, pode ser que nenhum órgão promova a investigação (nem a polícia, nem a
CPI etc.), mas a própria vítima ir ao Ministério Público e entregar todos os elementos
para que ele proceda à ação penal.

Ex.: indivíduo que sofre ameaças vai ao Ministério Público e mostra e entrega as mensa-
gens ao MP, assim como indica as testemunhas que estavam no grupo em que ocorreram as
ameaças. Assim, o MP pode entender que já possui elementos para oferecer a denúncia com
base nessas provas iniciais entregues. Nesse caso, não há inquérito policial, mas é possível
o oferecimento da denúncia.

– Então, o inquérito é dispensável, pois é possível haver uma ação penal sem que
antes tenha havido inquérito policial.
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• Contudo, se o IP for a base para a propositura da ação, este vai acompanhar a inicial
acusatória apresentada (art. 12, CPP).
– Hoje em dia, se o caso, inicialmente, teve embasamento em um inquérito policial, este
acompanha a ação penal. Logo, quando o processo, físico ou eletrônico, é aberto,
todas as peças do inquérito policial constam nele. Assim, na instrução, por exemplo,
tem-se acesso ao que a vítima falou no inquérito e ela é ouvida novamente, o que
permite a identificação de inconsistências nos depoimentos.
– Em suma, o inquérito policial acompanha a ação penal quando foi utilizado para o
esclarecimento da infração penal.

Incomunicabilidade do investigado

• Esse dispositivo não foi recepcionado pela Constituição Federal, apesar de ele não
estar revogado expressamente no Código, ou seja, ele consta no Código, mas não foi
recepcionado.
• Não existe essa incomunicabilidade. A Constituição Federal prevê que nem mesmo em
situações emergenciais, como estado de sítio, é permitida a incomunicabilidade, por-
tanto, muito menos o será na normalidade.
• Então, não pode haver incomunicabilidade na delegacia, pelo contrário, deve haver
acesso ao advogado, acesso e comunicação à família etc.

Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente
será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretadas por des-
pacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério
Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no art. 89, inciso III, do Estatuto da Ordem
dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) (Redação dada pela Lei n. 5.010,
de 30/05/1966).

Instauração do Inquérito Policial:

Art. 5º, CPP

• A autoridade competente é a autoridade policial (delegado de polícia, seja federal, seja


civil dos estados).
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• A autoridade policial instaura o inquérito policial:


10m
– De ofício: quando se tratar de uma ação penal pública incondicionada.

Por isso, fala-se que o delegado, de regra, instaura inquérito de ofício, pois a regra, nos
nossos tipos penais, é o crime ser de ação penal pública incondicionada. Quando o tipo penal
foge a essa regra, ou o tipo penal, ou o capítulo, ou o título do código ou da legislação extra-
vagante, devem prever essa natureza diversa da ação penal.
Assim, como a regra é ação penal pública incondicionada, de regra, o delegado pode agir
de ofício, ou seja, pode instaurar o inquérito policial de ofício.
Ex.: se o delegado recebe a notícia de um crime de roubo (vinculado à ação penal pública
incondicionada), ele instaura, de ofício, para apurar o roubo.

– Por requisição do Ministério Público ou do juiz

Ex.: audiência, em um juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher, em que


se apura uma ameaça. Diante do que foi falado em audiência, percebe-se que, além da
ameaça, a vítima sofreu uma série de outros crimes, que ainda não estão no processo e não
foram apurados. Nesse caso, o Ministério Público pode requisitar para a delegacia a inves-
tigação desses crimes trazidos à tona em audiência. O mesmo pode ocorrer quanto ao juiz:
se ele estiver sentenciando, analisando hipóteses, e perceber que existem indícios de outra
infração penal que não a julgada, isso é comunicado à delegacia para que haja apuração.

– Por requerimento do ofendido ou seu representante legal (art. 5º, § 2º – do des-


pacho que indeferir o requerimento de abertura do inquérito caberá recurso para o
chefe de polícia);

Ex.: vítima ameaçada por meio de mensagens em um grupo do WhatsApp pode ir à dele-
gacia e requerer ao delegado a instauração de um inquérito policial para apurar as ameaças.
Portanto, a vítima, como terceiro, pode comunicar o delegado para que apure o comunicado.
Nessa hipótese, o delegado é obrigado a instaurar o inquérito? Não. Daí, em situação de
indeferimento do requerimento, a vítima poderá recorrer.
Portanto, uma das formas de instaurar o inquérito é que a própria vítima peça isso ao
delegado, o qual pode indeferir. Porém, ao indeferimento, cabe recurso, o qual se direciona
ao chefe de polícia.
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Inquérito Policial II
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– Pela prisão em flagrante

Ex.: indivíduo pratica um delito de roubo, a Polícia Militar prende-o em flagrante e o leva
à delegacia da Polícia Civil, que tem atribuição para lavratura do auto de prisão em flagrante.

– Delação por terceiro:

Art. 5º, § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em
que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e
esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.

Em casos de ação penal privada, os crimes estão no âmbito de privacidade, de intimidade.


Então, para o delegado ter conhecimento e começar uma investigação numa ação penal pri-
vada, é preciso haver o requerimento da vítima. Portanto, de regra, “qualquer pessoa” só
poderá comunicar a prática de ação penal pública – em outras palavras, um terceiro delata a
situação ao delegado.
Ex.: um indivíduo, em casa, ouve os vizinhos brigando e escuta agressões (crime de
lesão corporal, no âmbito da Maria da Penha, é incondicionado). Ele, como qualquer pessoa
do povo, no sentido de que não está envolvido na situação, mas soube do crime, pode e
deve acionar e comunicar a polícia, levando a notícia do crime ao delegado. Diante disso, o
delegado, vendo que existem elementos para a instauração, instaura o inquérito policial por
portaria, uma vez que o auto de prisão em flagrante só é produzido em situação flagrancial.
Ex.: comunicação do fato, por qualquer do povo, a uma autoridade policial. Se houver o
flagrante, é lavrado o auto de prisão em flagrante, o que instaura o inquérito policial. Caso
não haja situação de flagrância, mas um terceiro tenha comunicado o crime, o delegado deve
instaurar por portaria.

Instauração por Portaria X Instauração por auto de prisão em flagrante

• Art. 8º do CPP: no capítulo de inquérito policial, trata da situação flagrancial, remetendo


ao título IX do Código de Processo Penal, em que, a partir do art. 304 e seguintes,
consta a lavratura (lavrar = produzir, fazer) do auto de prisão em flagrante.
15m
– Quando uma pessoa é presa em flagrante e vai para a delegacia, o documento que
inicia a investigação, ou seja, que instaura o inquérito policial é o auto de prisão em
flagrante.
– Nos demais casos (de ofício, por requisição do Ministério Público ou do juiz ou por
requerimento do ofendido ou seu representante legal), o inquérito se inicia por por-
taria. Assim, o delegado produz essa peça inicial, isto é, a portaria, a qual instaura
a investigação.
– O que é muito solicitado: prisão em flagrante, preventiva, temporária, domiciliar etc.

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Inquérito Policial II
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ATENÇÃO
Casos de ação penal condicionada à representação ou ação penal privada (art. 5º) – inter-
ferência da espécie de ação penal na instauração do IP

Ex.: uma pessoa vítima de diversos crimes de ação penal privada, mas que decide não
oferecer a queixa-crime, pode, de fato, fazer isso, porque, em se tratando de ação penal
privada, no âmbito de intimidade e privacidade, incidem os princípios da conveniência e da
oportunidade da vítima. Logo, esta, na sua conveniência e discricionariedade, pode pensar
sobre a situação e decidir que não quer que haja uma investigação e um processo.
Portanto, se o delegado pudesse instaurar o inquérito policial em crime de ação penal
privada e tivesse que investigá-los, talvez, trabalharia à toa, pois, se a vítima não requereu é
porque, provavelmente, futuramente, não vai propor a queixa-crime.
Sobre isso, sabe-se que é muito raro o oferecimento de queixa-crime – há muitas ocor-
rências de crimes de ação penal privada (inicialmente, a vítima, às vezes, até tem interesse),
porém, é muito difícil que se tornem queixas-crime (são raros os casos de queixa-crime na
prática).
20m
Então, para que o delegado aja, se se tratar de um crime de ação penal privada, deve
haver o requerimento da vítima, em contrapartida, se se tratar de um crime de ação penal
pública condicionada à representação, deve haver a representação da vítima.

§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem
ela ser iniciado.
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a
requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

Com isso, nota-se a interferência da espécie da ação penal nesse momento.

 Obs.: a instauração de inquérito policial não interrompe a prescrição.


– Prescrição: é um tema muito solicitado na primeira e na segunda fase da OAB.

Causas interruptivas da prescrição:

CP
Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:
I – pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
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Inquérito Policial II
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• O primeiro momento de interrupção da prescrição é o recebimento da denúncia ou da


queixa. Portanto, qualquer momento anterior, de instauração ou conclusão do inqué-
rito, em nada interrompe a prescrição penal.

II – pela pronúncia;
III – pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV – pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
V – pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI – pela reincidência.

Notitia Criminis

A doutrina, a partir do art. 5º, classifica as formas pelas quais a notícia do crime chega
ao delegado:

• Cognição direta/imediata/espontânea;

Quando a notícia do crime chega de forma direta, fala-se em cognição direta.


Ex.: Cognição direta/imediata/espontânea: o delegado, nas atividades rotineiras, recebe
uma notícia do crime, de ação penal pública incondicionada, e, de ofício, instaura o inquérito
policial (o delegado, espontaneamente, nas atividades rotineiras, sabe da notícia do crime de
forma direta, sem intermediário).

• Cognição Indireta/mediata:
– Envolve um terceiro.
– Exs.: MP requisitou; juiz requisitou; vítima requereu; um terceiro qualquer do povo
delatou ao delegado (cognição indireta).
• Cognição coercitiva;
– Prisão em flagrante (situação flagrancial).
– Quando a pessoa é presa em flagrante e é conduzida à delegacia, a notícia do crime
chega ao delegado de modo coercitivo, sobretudo, para aquele que é conduzido.
25m
• Cognição inqualificada (denúncia anônima – delação apócrifa – delatio criminis anô-
nima – notitia criminis inqualificada).
– É preciso lembrar da clássica jurisprudência do STF e do STJ com relação às notí-
cias/denúncias anônimas.
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Inquérito Policial II
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DENÚNCIA ANÔNIMA

As notícias anônimas (“denúncias anônimas”) não autorizam, por si sós, a propositura de


ação penal ou mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos
de investigação, como interceptação telefônica ou busca e apreensão. Entretanto, elas podem
constituir fonte de informação e de provas que não podem ser simplesmente descartadas pelos
órgãos do Poder Judiciário. Procedimento a ser adotado pela autoridade policial em caso de
“denúncia anônima”: 1) Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade
da “denúncia”; 2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui aparência mínima
de procedência, instaura-se inquérito policial; 3) Instaurado o inquérito, a autoridade policial
deverá buscar outros meios de prova que não a interceptação telefônica (esta é a ultima
ratio). Se houver indícios concretos contra os investigados, mas a interceptação se revelar
imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao magis-
trado. STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/03/2016 (Info 819).
Ex.: uma determinada delegacia tem um disque denúncia, ou seja, um número para o
qual qualquer pessoa pode ligar sem precisar se identificar, daí anônima e apócrifa, a fim de
comunicar a existência/prática de uma infração penal. O delegado, tomando conhecimento,
por exemplo, de um homicídio ocorrido na rua x, contra a vítima Maria, sendo o autor o João,
apenas com base nisso pode instaurar o inquérito policial? Não, pois é apócrifo, é anônimo.
Logo, o delegado deve realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade da
denúncia anônima (ex.: indo até o local, procurando a suposta vítima, o suposto autor e tes-
temunhas, portanto, realizando diligências investigatórias de diversas modalidades).
Então, quando existe um mecanismo de oferecimento de denúncia anônima, por qual-
quer modo, à delegacia, o delegado, a partir apenas da denúncia anônima, não pode instau-
rar o inquérito policial, pois ele precisará realizar investigações preliminares para confirmar
a credibilidade da denúncia. Assim, após confirmar a denúncia anônima, havendo aparência
mínima, ele instaura o inquérito policial.
Essa mesma jurisprudência a respeito de denúncia anônima também se repete em outros
institutos:

• Não é possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em


“denúncia anônima”. STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado
em 29/03/2016 (Info 819).
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• Não é possível decretar interceptação telefônica com base unicamente em “denún-


cia anônima”. STJ. 6ª Turma. HC 204.778/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
04/10/2012.
• É ilícita a prova obtida por meio de revista íntima realizada com base unicamente em
denúncia anônima.

Caso concreto: a diretora da unidade prisional recebeu uma ligação anônima dizendo que
Rafaela, que iria visitar seu marido João, tentaria entrar no presídio com droga. Diante disso,
a diretora ordenou que a agente penitenciária fizesse uma revista minuciosa em Rafaela.
Na revista íntima efetuada, a agente penitenciária encontrou droga escondida na vagina da
visitante. Rafaela confessou que estava levando a droga para seu marido. A prova colhida
é ilícita.
STJ. 6ª Turma. REsp. 1.695.349-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
08/10/2019 (Info 659).
Em suma, a denúncia anônima, por si só, não permite nada, pois sempre é preciso con-
firmar a sua credibilidade, ou seja, sempre é necessária a providência da investigação preli-
minar, para instaurar inquérito, para determinar uma busca e apreensão, para decretar uma
interceptação telefônica, para realizar uma revista íntima.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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Inquerito Policial III
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INQUERITO POLICIAL III

REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS

O art. 7º do Código de Processo Penal dispõe da reprodução simulada dos fatos ou


reconstituição do crime.

Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a
autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie
a moralidade ou a ordem pública.

Desse modo, tenta-se reproduzir o crime ou ir ao local do crime, a fim de obter detalhes
que, não estando no local do crime, não podem ser verificados. Em casos mais midiáticos,
é comum que a mídia mostra a polícia no local do crime, tentando realizar a reconstitui-
ção do crime.
O delegado tem essa possibilidade investigatória. Ele pode levar um boneco como vítima
para tentar simular o crime.
Já no âmbito da defesa, é normal surgirem dúvidas quanto à participação do investigado
na simulação dos fatos. Sabe-se que o poder-dever do Estado volta suas forças contra o
investigado. Na grande maioria dos casos em que há um inquérito policial, de um lado, há
uma força estatal e, de outro, há um indivíduo sozinho. Por isso, o princípio da ampla defesa
exige que o indivíduo esteja acompanhado de defesa técnica. Por conta da força do Estado,
não é razoável exigir que o próprio investigado produza provas contra si. Diante disso, firmou-
-se na jurisprudência que o investigado não é obrigado a ter comportamentos ativos, como
soprar um bafômetro, fornecer material ou participar ativamente da reprodução simulada dos
fatos. Isso não ocorre em caso de comportamentos passivos: a jurisprudência entende que
o investigado pode ser colocado na delegacia para reconhecimento, por exemplo, em que a
vítima analisará candidatos, a fim de definir quem foi o autor do fato. Isso é possível porque
o investigado não faz movimento algum; ele permanece parado em um local.
5m

CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

O art. 10 do CPP dispõe da conclusão do inquérito policial, em que entende-se “dele-


gado” por “autoridade”:
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Inquerito Policial III
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Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em fla-
grante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que
se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança
ou sem ela.
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencio-
nando o lugar onde possam ser encontradas.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer
ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado
pelo juiz.

Um inquérito inicia-se por portaria – seja de ofício, por requisição do Ministério Público,
por requisição do juiz, por requerimento do ofendido ou por delação por terceiro – ou pelo
auto de prisão em flagrante. Por sua vez, um inquérito é concluído quando o relatório do dele-
gado é apresentado. No relatório, deve constar todas as ações realizadas na investigação.
No relatório, é possível indicar diligências que o delegado não tenha conseguido realizar ao
longo da realização.
Ao concluir o relatório, o delegado envia o relatório para o Poder Judiciário, que, por sua
vez, envia o relatório para o titular da ação penal no Ministério Público – observa-se, portanto,
uma relação burocrática.
O Ministério Público, de posse do relatório, pode pedir novas diligências, caso não esteja
certo quanto ao oferecimento da denúncia:

Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial,
senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.

Além disso, o Ministério Público pode oferecer a denúncia ou entender que não há ele-
mentos para oferecimento da denúncia. Alguns elementos para não oferecimento são: falta
de justa-causa, atipicidade e excludente de licitude. Se entender que não há elementos para
oferecimento da denúncia, o Ministério Público promoverá o arquivamento. O arquivamento
submete-se a controle judicial – ainda é o caso de controle judicial porque a nova redação do
art. 28 continua suspensa pelo STF –, e o juiz decidirá por homologar o arquivamento ou por
discordar do arquivamento. Na segunda hipótese, o caso é encaminhado para controle do
órgão revisional do Ministério Público.
10m
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Inquerito Policial III
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O art. 19 dispõe do caso de ação penal privada, em que se fala de oferecimento de quei-
xa-crime pelo ofendido, que deve ser obrigatoriamente oferecida por alguém com capacidade
postulatória, e não mais de oferecimento de denúncia pelo Ministério Público:

Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao ju-
ízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão
entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado.

Em exemplo prático, considera-se um crime de ação penal privada, com inquérito já ins-
taurado e de posse da vara. Esse inquérito permanece na vara, no aguardo da manifestação
da vítima. A vítima pode pedir cópia (traslado) do inquérito para que seu advogado analise os
autos, por exemplo.
Nessa situação, corre prazo decadencial para oferecimento da queixa-crime na vara, que
é de seis meses a contar da data do conhecimento do autor do fato. Passado o prazo, sem
que tenha havido manifestação e oferta da queixa-crime, o juiz decretará extinta a punibili-
dade, pela ocorrência da decadência, e arquivará os autos de inquérito policial.

PRAZO PARA TÉRMINO DO INQUÉRITO POLICIAL

Entre a instauração e a conclusão do inquérito, há um prazo estabelecido. Desse modo,


uma investigação não pode durar ad eternum, o que ensejaria constrangimentos em excesso.
Em regra, este prazo é disposto no art. 10 do CPP:

Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em fla-
grante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que
se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança
ou sem ela.

A regra, portanto, é o prazo de 10 dias para conclusão da investigação de um investigado


preso ou de 30 dias para conclusão da investigação de um investigado solto. É possível pror-
rogações do prazo quanto o investigado é solto. Essa prorrogação não é possível quando o
investigado é preso. Mais especificamente, caso deseje-se prorrogar a investigação com o
investigado preso, o investigado deve ser solto para a efetivação da prorrogação. A prorroga-
ção será sempre de 30 dias.
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Inquerito Policial III
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O art. 51 da Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas) também trata de prazo de duração de


inquérito:

Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso,
e de 90 (noventa) dias, quando solto.
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o
Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.

De modo diferente à regra geral do CPP, a Lei de Drogas permite prorrogação da investiga-
ção em 30 dias quando o investigado está preso, sendo que o investigado permanece preso.
O art. 20 do Código de Processo Penal Militar determina prazo de 20 dias quando o
investigado está preso e de 40 dias quando está solto, sendo este prorrogável por 20 dias.
15m
O art. 66 da Lei n. 5.010/1966, que se refere ao delegado da Polícia Federal, determina
prazo de 15 quando o investigado está preso, podendo ser prorrogado por 15 dias, e de 30
dias quando o investigado está solto – este consiste no mesmo prazo da Polícia Civil, uma
vez que a Lei n. 5.010/1966 não prevê prazo quando o investigado está solto.
Por fim, para crimes contra economia popular e saúde pública, o prazo de investigação
é único: de 10 dias, estando o investigado preso ou solto (art. 10, § 1º, da Lei n. 1.521/1951.
No caso da regra geral do CPP, deve-se atentar ao seguinte: há a possibilidade de prorro-
gação do prazo da investigação estando o investigado preso, incluída pela Lei n. 13.964/2019
no CPP. Observa-se:

Art. 3º-B, § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação
da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inqué-
rito por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão
será imediatamente relaxada. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

Desse modo, o artigo prevê que seria possível prorrogar por mais 15 dias o prazo da
investigação quando o investigado está preso, permanecendo o investigado em cárcere. No
entanto, essa previsão está com eficácia suspensa, uma vez que o art. 3º-B integra o capí-
tulo de juiz das garantias, capítulo que está atualmente com eficácia suspensa. Portanto, na
prática, não se aplica essa prorrogação.

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Inquerito Policial IV
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INQUERITO POLICIAL IV

Estamos aqui para mais um bloco de inquérito policial para a nossa preparação total de
processo penal para a primeira fase da OAB. Começamos a falar sobre o inquérito policial.
Nos três blocos anteriores, vimos questões interessantes para a prova da primeira fase da
OAB. Já vimos a conceituação, a finalidade, o valor probatório e a forma de instauração e
a forma conclusão do inquérito policial, bem como seu prazo, desde o início até a conclu-
são. Hoje, daremos sequência a esse estudo da matéria de inquérito policial e veremos as
diligências investigatórias que podem ser feitas. Vale lembrar que quem preside e conduz o
inquérito policial é o delegado de polícia da polícia federal e da polícia federal dos estados
(polícia judiciária). Também conversaremos sobre as partes de arquivamento, desarquiva-
mento, indiciamento e outras classificações de arquivamento e outras súmulas não vistas
ainda durante as aulas.

Diligências Investigatórias – Art. 6º, CPP

O art. 6º do CPP apresenta um rol exemplificativo e não obrigatório, não exclusivo, da


autoridade policial.
Observe:
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade poli-
cial deverá:
I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação
das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais;
III – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas cir-
cunstâncias;
IV – ouvir o ofendido;
V – ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do
Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que
Ihe tenham ouvido a leitura;
VI – proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
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VII – determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer
outras perícias;
VIII – ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e
fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX – averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e
social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e
durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu tem-
peramento e caráter.
X – colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos,
indicado pela pessoa presa.
Além dessas iniciativas/diligências pela autoridade policial, o ofendido e o indiciados
poderão requerer diligências.
É claro que esse rol é exemplificativo. Existem outras diligências que o delegado poderá
proceder: representar pela prisão preventiva e pela prisão temporária, cumprir mandado de
prisão e mandado de busca e apreensão e fazer interceptação telefônica depois de determi-
nada judicialmente.
Ademais, é importante salientar que esses incisos devem se adequar à prática para que
o delegado possa proceder às diligências.
Deve-se, ainda, aliar o art. 6º com a leitura do art. 14:
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer
diligencia, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
5m
Muitas vezes, na prática, é questionado se, ao longo de uma investigação, se a própria
vítima, seja ela ou por meio de seu advogado, pode requerer ao delegado a realização de
alguma diligência. Acontece que o indiciado/investigado também pode pedir diligências. Essa
é a primeira indagação feita em prova.
A segunda indagação feita em prova é se o delgado de polícia é obrigado a realizar essa
diligência. Mas, não, pois o delegado é quem sabe qual a linha está seguindo para o escla-
recimento dos fatos.

Atribuições/Representações da Autoridade Policial ainda na Fase do Inquérito Policial

Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: (CUIDADO COM OS VERBOS)


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I – fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julga-


mento dos processos;
II – realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III – cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
IV – representar acerca da prisão preventiva.
Vale destacar que, pela reserva de jurisdição, quem decreta as prisões preventiva e tem-
porária é o juiz (a autoridade judiciária). Mas, o delegado de polícia é um dos legitimados; ele
representa pelas prisões temporária e preventiva.
É preciso lembrar que o Código utiliza dois verbos nos legitimados: requerer e represen-
tar. Sempre que falar em requerimento, refere-se a quem é parte (Ministério Público, assis-
tente de acusação e querelante, na ação penal privada). No entanto, o delegado de polícia
não é parte, mas é legitimado. Então, o Código utiliza o verbo representar.

Medidas Cautelares Pessoais (Prisão Preventiva e Medidas Cautelares Diversas


[Arts. 319 e 320, CPP])

Art. 282. [...] § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das
partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial
ou mediante requerimento do Ministério Público. (Redação dada pela Lei n. 13.964/2019)
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a
prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante
ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei n.
13.964/2019)
10m

Prisão Temporária (Lei n. 7.960/1989)

Art. 2º A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autori-
dade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, pror-
rogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.
§ 1º Na hipótese de representação da autoridade policial, o Juiz, antes de decidir, ouvirá
o Ministério Público.
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Arbitramento de Fiança

A depender da infração penal, pode ser que o delegado fixe e arbitre um valor de fiança,
o qual, sendo pago, faz com que a pessoa seja liberada na delegacia de polícia. Contudo, a
atribuição do delegado tem uma limitação, a depender da quantidade máxima em abstrato
da pena do delito.
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração
cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. (Redação dada
pela Lei n. 12.403/2011)
Ex.: receptação, furto simples, embriaguez ao volante.
Destaca-se que o juiz não possui limitação de pena máxima em abstrato para fixar fiança.
A única limitação para o juiz são os crimes inafiançáveis.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48
(quarenta e oito) horas. (Redação dada pela Lei n. 12.403/2011)

Exceção: Lei Maria da Penha

Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previs-
tas nesta Lei: (Incluído pela Lei n. 13.641/2018)
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei n. 13.641/2018)
[...]
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder
fiança. (Incluído pela Lei n. 13.641/2018)
Ocorre que já houve uma intervenção judicial anteriormente. Perceba que já houve o
requerimento de medida protetiva analisado pelo Poder Judiciário.
15m

Restituição de Coisas Apreendidas

Art. 120. A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela autoridade policial ou
juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito do reclamante.
Existem hipóteses na prática em que não há dúvida de que o bem é de determinada
pessoa. Ocorre que esse bem não interessa mais ao processo e não precisa ficar mais preso
ao processo até este terminar.
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Inquerito Policial IV
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Exame de Insanidade Mental

O art. 6º, VII, afirma que a autoridade policial deverá determinar, se for caso, que se pro-
ceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias.
Mas, tenha atenção com o exame de insanidade mental, que busca verificar a integridade
mental do investigado ou acusado.
20m
Vale ressaltar que essa modalidade de perícia não pode ser determinada pelo delegado.
Então, temos a regra no art. 6º, VIII, e a exceção no art. 149.
Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará,
de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente,
descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.
§ 1º O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação
da autoridade policial ao juiz competente.
Então, observe que delegado não determina o exame, mas é um dos legitimados para
representar pela sua realização.

Suspeição

Quando vimos os princípios constitucionais, falamos sobre o juiz natural e sobre o juiz
imparcial. Nesse tema, tratamos da suspeição e do impedimento do magistrado (arts. 252 e
254). Mas, aqui, não estamos falando do juiz e do Ministério Público, mas sim do delegado.
Então, será que essas hipóteses se estendem ao delegado de polícia?
Cabe salientar que existem várias exceções no rol do art. 95 do Código de Processo
Penal, as quais são opostas, no processo penal, no momento do oferecimento da resposta
à acusação.
Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito,
mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.
Aquele meio procedimental de oferecimento de exceção existe no processo. Quando
estamos numa fase pré-processual, esse meio procedimental não existe.
25m
Então, não tem como o advogado querer opor exceção de suspeição afirmando que ele
é inimigo do cliente. No entanto, o delegado deve se declarar suspeito e precisa se retirar da
investigação.
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Inquerito Policial IV
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Já tínhamos visto a instauração do inquérito no art. 5º e a sua conclusão, por meio do rela-
tório, nos arts. 10, para a ação penal pública, e 19, para a ação penal privada. Vimos, também,
no art. 10 e em outros dispositivos, o prazo do inquérito, desde o início até a sua conclusão.
Agora, vimos, neste bloco, aquelas atribuições que o delegado tem ao longo do inquérito.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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Inquerito Policial V
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INQUERITO POLICIAL V

Estamos aqui para a parte cinco do inquérito policial. Vamos passar para o tema de
arquivamento e desarquivamento do inquérito policial. Trata-se de um tema muito cobrado
na prova da OAB. Então, é preciso estudar bastante, pois é muito provável que isso venha
a cair nos próximos exames, mesmo que ainda estejamos com a suspensão da eficácia do
novo dispositivo do art. 28.
Vimos, dentre as características do inquérito policial (art. 17), que o delegado de polícia
não pode mandar arquivar o inquérito policial, ainda que não consiga chegar à autoria. Nesse
caso, ele lavrará e remeterá o inquérito para o juízo competente. Com isso, o juiz mandará
para o Ministério Público, o qual, se for o caso, pedirá o arquivamento. Essa é a posição clás-
sica e tradicional que você deve levar para a sua prova.

ARQUIVAMENTO E DESARQUIVAMENTO

O arquivamento continua sendo um ato complexo: o Ministério Público promove o arqui-


vamento e o juiz a homologa.

Discordância do Juiz sobre o Arquivamento (Antigo Art. 28, CPP)

No entanto, pode ser que o juiz discorde da promoção de arquivamento. Então, fala-se
que existe um controle judicial na promoção de arquivamento. Foi isso o que o Pacote Anti-
crime tentou retirar.
Depois da Lei n. 13.964/2019:
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos infor-
mativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investi-
gado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial
para fins de homologação, na forma da lei. (Redação dada pela Lei n. 13.964/2019)
5m
Com o reforço do sistema acusatório, no caso do art. 28 do Código de Processo Penal, o
Pacote Anticrime retirou o controle judicial. No entanto, qual é o problema? O art. 28ºA está
com a eficácia suspensa.
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Conclusão (ADIs 6.298, 6.299, 6.300, 6305 — Min. Luiz Fux)

Ex positis, na condição de relator das x, com as vênias de praxe e pelos motivos expos-
tos: (...) (b) Concedo a medida cautelar requerida nos autos da ADI 6305, e suspendo sine
die a eficácia, ad referendum do Plenário, (b1) da alteração do procedimento de arquiva-
mento do inquérito policial (28, caput, Código de Processo Penal);
Então, essa sistemática do MP ir para a revisão pelo próprio MP não está sendo adotada
na prática. A suspensão da eficácia se deu antes mesmo da vigência do Pacote Anticrime.
Assim, continuamos aplicando a antiga redação:
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de
considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de infor-
mação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério
Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o
juiz obrigado a atender.
Então, infelizmente, ainda há ativismo judicial característico de uma estrutura inquisitória.
É por isso que o sistema acusatório tentou extirpar esse controle realizado pelo juiz.
Percebe-se que, nisso, o juiz se contamina, pois, manifesta sua intenção de ver aquele
suposto autor do fato processado.
Observe como se dá essa análise:

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Antes da Lei n. 13.964/2019:

• MP requeria o arquivamento ao juiz, que homologava ou não;


• Arquivamento realizado na justiça.

Depois da Lei n. 13.964/2019:

• MP ordena o arquivamento e remete aos autos à instância de revisão ministerial para


fins de homologação;
• Arquivamento realizado no âmbito do MP.

Motivos do Arquivamento (Arts. 395 [Casos de Rejeição da Denúncia ou Queixa] e


397 [Hipóteses de Absolvição Sumária], CPP)

Agora, falaremos, de uma forma específica, quais são os motivos que podem levar o
inquérito a ser arquivado.
A depender desse motivo, o inquérito pode ser desarquivado ou não. Todavia, não há um
artigo, no Código de Processo Penal, que afirma que o inquérito policial será arquivado por
tais motivos [...]

• Insuficiência de provas;
• Ausência de pressuposto processual;
• Ausência de condições da ação.
• Falta de justa causa (elementos probatórios mínimos) para a ação penal;
• Atipicidade formal ou material;
• Existência manifesta de excludente de punibilidade;
• Existência manifesta de causas de excludente de culpabilidade;
• Existência manifesta de causa excludente de ilicitude.
15m

Todos esses fundamentos podem acarretar o arquivamento do inquérito policial. Todavia,


alguns motivos serão fracos, outros fortes e outro apresenta divergência entre ser forte ou fraco.
Quando diz que um motivo é fraco, é porque o arquivamento faz apena coisa julgada formal.
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Motivos Fracos:

• Insuficiência de provas;
• Ausência de pressuposto processual;
• Ausência de condições da ação.
• Falta de justa causa (elementos probatórios mínimos) para a ação penal.

Surgindo uma nova prova, aplica-se o art. 18 do CPP e a súmula n. 524 do STF.
Conforme o CPP:
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por
falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se
de outras provas tiver notícia.
De acordo com a súmula n. 524, STF:
Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de jus-
tiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.
Diante desses motivos de arquivamento, mas tendo surgido uma nova prova que mudou
a situação, o inquérito pode ser desarquivado, porque fez apenas coisa julgada formal.
Motivos Fortes:

• Atipicidade formal ou material;


• Existência manifesta de excludente de punibilidade (salvo a certidão de óbito falsa);
• Existência manifesta de causas de excludente de culpabilidade.

Aqui, faz-se coisa julgada material. Ou seja, mesmo surgindo uma nova prova, não poderá
ser desarquivado nem ter ação penal. Assim, o art. 18 do CPP e a súmula n. 524 do STF não
são aplicados. Assim, o caso não pode ser rediscutido.
20m
Houve apenas um caso excepcional no STF de certidão de óbito falsa. Sabe-se que a
morte é uma causa de extinção de punibilidade (ninguém é julgado depois de morrer). De
regra, quando ocorre uma declaração de extinção de punibilidade, o processo não pode
voltar a correr. No entanto, no caso específico da certidão de óbito falsa, o STF entendeu que
o processo deveria continuar.
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Divergência na Jurisprudência:

• Existência manifesta de causa excludente de ilicitude.

Posição do STJ:

Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial com base na existência de causa exclu-
dente da ilicitude faz coisa julgada material e impede a rediscussão do caso penal. O men-
cionado art. 18 do CPP e a Súmula 524 do STF realmente permitem o desarquivamento do
inquérito caso surjam provas novas. No entanto, essa possibilidade só existe na hipótese em
que o arquivamento ocorreu por outras circunstâncias, quando gera apenas a coisa julgada
formal. (Info 554)

Posição do STF:

Para o STF, o arquivamento de inquérito policial em razão do reconhecimento de excludente


de ilicitude não faz coisa julgada material. Logo, surgindo novas provas seria possível reabrir o
inquérito policial, com base no art. 18 do CPP e na Súmula 524 do STF. (Info 796) (Info 858).

O PULO DO GATO
Salienta-se que essa divergência nunca caiu na prova da OAB.
O que mais cai na prova da OAB:
• Atipicidade;
• Falta de justa causa para a ação penal.
25m
Arquivamento Implícito/Tácito (Objetivo e/ou Subjetivo)

O arquivamento implícito subjetivo refere-se à pessoa. Já o arquivamento implícito obje-


tivo diz respeito a deixar o fato delituoso de fora. Mas, é possível o instituto do arquivamento
implícito no nosso ordenamento ou é necessária uma expressão manifestação sobre o arqui-
vamento? É necessária.
O MP não está obrigado a denunciar todos os envolvidos no fato tido por delituoso,
NÃO se podendo falar em arquivamento implícito em relação a quem não foi denunciado.
Isso porque o parquet é livre para formar sua convicção, incluindo na denúncia as pessoas
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eu ele entenda terem praticado o crime, mediante a constatação de indícios de autoria e


materialidade.

Arquivamento Indireto

Não tendo o órgão do Ministério Público atribuições para atuar no feito, deverá requerer a
remessa dos autos ao juízo competente, onde atuará o Promotor com atribuições para o caso.
30m
Exemplo: promotor atua perante o Tribunal do Júri e entende que o crime é de latrocínio
(competência da vara criminal comum — súmula n. 603 do STF), motivo pelo qual requer o
envio dos autos à Vara Criminal Comum.
Se o juízo discordar → art. 28, CPP.

Arquivamento Provisório

Ausência de condição de procedibilidade (art. 38, CPP). Vamos estudar isso nas aulas
de ação penal.
No caso da ação penal pública condicionada à representação, há uma condição especí-
fica de procedibilidade, que é a própria representação (com prazo de 6 meses, a contar do
conhecimento da autoria).
O arquivamento poderá perdurar até que a vítima represente ou volte a representar. Se
ela não o fizer no prazo do art. 38, passado o prazo, torna-se um arquivamento definitivo pela
ausência de condição de procedibilidade.

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preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.
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Inquerito Policial VI
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INQUERITO POLICIAL VI

Neste bloco, na parte 6 do inquérito policial, vamos apenas finalizar com um pouco de
conteúdo que faltou tratarmos nos blocos anteriores. Vamos conversar um pouco sobre indi-
ciamento, sobre o art. 14A e sobre algumas súmulas que não foram possíveis de serem cita-
das em blocos anteriores.

INDICIAMENTO

Indiciar significa voltar a investigação para determinada pessoa. Ocorre quando o dele-
gado já tem elementos suficientes para afirmar que parece que realmente foi determinada
pessoa. Ao indiciar, o delegado faz uma fundamentação afirmando que, tecnicamente, há
condições de dizer que a investigação será apontada para Fulano.
Conforme a Lei n. 12.830/2013:
Art. 2º [...] § 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato funda-
mentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materiali-
dade e suas circunstâncias.
O delegado faz um despacho fundamentado, fala a respeito da existência e da autoria e
fala sobre o que aconteceu. Com isso, a investigação se volta apenas contra uma pessoa.
O ato de indiciar é de quem está conduzindo e presidindo a investigação. Nesse sentido,
a jurisprudência reforça que se trata de um ato privativo do delegado. Assim, não é a juíza ou
o Ministério Público que pode determinar o indiciamento.
Val salientar que há um prazo para o indiciamento, que é até o processo. Quando já foi
oferecida e recebida a denúncia, já estamos no âmbito do Poder Judiciário. Então, fala-se em
indiciamento no início da investigação, durante a investigação ou no relato da investigação.
Se já estiver nas mãos do Ministério Público, o delegado não indicia mais.
Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada. Existem
duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser indiciadas: a) magistrados
(art. 33, parágrafo único, da LC 35/79); b) membros do MP (art. 18, parágrafo único da LC
n. 75/1973 e art. 40, parágrafo único, da Lei n. 8.625/1993. Excetuadas as hipóteses legais,
é plenamente possível o indiciamento de autoridades com foro por prerrogativa de função.
No entanto, para isso, é indispensável que autoridade policial obtenha uma autorização do
Tribunal competente para julgar esta autoridade.
5m
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Salienta-se que não é o ministro relator que faz o indiciamento. Este ato, como já citado
acima, é privativo da autoridade policial. O Ministro relator apenas autoriza.

Inquérito Policial X Termo Circunstanciado

Fala-se em inquérito policial no CPP e fala-se em termo circunstanciado na Lei n.


9.099/1995. Nos termos do art. 69 da Lei n. 9.0999/1995, o termo circunstanciado substitui o
inquérito policial nas infrações de menor potencial ofensivo (contravenções penais e crimes
cuja pena máxima não seja superior a 2 anos). Nesses casos (com exceção da Lei Maria da
Penha, que faz uso do inquérito policial), o regramento da Lei n. 9.099 será aplicado (termo
circunstanciado de ocorrência).

Art. 14-A

Nunca caiu na OAB e é bem letra de lei.


Depois da Lei n. 13.964/2019:
Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144
da Constituição Federal (polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária fede-
ral; polícias civis; polícias militares e corpos de bombeiros militares; polícias penais federal,
estaduais e distrital) figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais
militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos rela-
cionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou
tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei n. 2.848/1940 (Código
Penal), o indiciado poderá constituir defensor.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da
instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48
horas a contar do recebimento da citação.
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defen-
sor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição
a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no
prazo de 48 horas, indique defensor para a representação do investigado.
[...]
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Inquerito Policial VI
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§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vincula-


dos às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investi-
gados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem

SÚMULA IMPORTANTES

Súmula n. 397 do STF

O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime


cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em fla-
grante do acusado e a realização do inquérito.
Dentro do Congresso Nacional, também há o poder de polícia (setor específico da Polícia
Legislativa, que faz inquérito policial e lavra auto de prisão em flagrante).
10m

Súmula n. 234 do STJ

A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acar-


reta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

Súmula n. 444 do STJ

É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a


pena-base.
Aqui, caminha-se no sentido da presunção de inocência. Se há um inquérito ainda em
curso, ou seja, em aberto ou andamento, e, se ainda há uma ação penal em aberto, em curso
ou em andamento, isso não pode ser utilizado em desfavor dele, que ainda não foi conde-
nado. Então, na primeira fase da dosimetria da pena (quando há fixação da pena base), nada
que ainda esteja em curso pode ser utilizado para aumentar a pena.

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Ação Penal
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AÇÃO PENAL

O PULO DO GATO
Dentro da persecução penal, há a investigação e a parte do processo. o edital cobra ape-
nas o inquérito policial, não cai outras modalidades de investigação criminal.

Ação Penal Pública

• Titularidade: MP (art. 129, CF) – Ministério Público oferece a denúncia para dar início
ao processo. o juiz vai analisar se vai receber ou não essa denúncia. Fase de investi-
gação policial – o MP tem algumas opções como pedir diligências, oferecer denúncia
ou promover o arquivamento. Se ele oferece a denúncia, ele vai oferecer no juízo com-
petente. O juiz vai receber a denúncia. Pode ser que ele receba e dê início ao processo
ou rejeite, sem início ao processo.
• Peça: denúncia
• Espécies:
– Ação penal pública incondicionada (regra do nosso sistema): quando se abre um tipo
penal que não dispõe sobre a espécie da ação penal, vai-se para a regra. O Ministé-
rio Público não precisa de nenhuma condição específica para oferecer a peça, que
é a denúncia. Se a ação penal for de outra espécie, o legislador terá que dizer qual
é. Ex.: nos crimes patrimoniais nada é dito a respeito da ação penal, porque ela é
pública incondicionada. No estelionato, por outro lado, a regra é a ação penal pública
condicionada à representação da vítima, assim como o crime de ameaça.
5m
– Ação penal pública condicionada: representação da vítima ou requisição do Ministro
da Justiça. A representação e a requisição são chamadas de condição específica de
procedibilidade. Para o Ministério Público proceder a denúncia, ou seja, oferecer a
denúncia, ele precisa, além das condições gerais da ação, de condições específicas
de procedibilidade.
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Ação Penal
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Ação Penal De Iniciativa Privada

• Exemplos: crimes contra a honra. Ex.: injúria – o autor do fato xingou a vítima de
vagabunda, vaca, puta. Isso caracteriza uma ofensa moral, uma injúria que, de regra
é de iniciativa privada. A vítima deve oferecer uma peça, que é a queixa-crime. Não
há ação do Ministério Público. A vítima precisa ter capacidade postulatória. Uma juíza,
por exemplo, não tem capacidade postulatória para oferecer uma queixa-crime. Ela
precisa contratar um advogado para que ele ofereça uma queixa-crime, a partir de
uma procuração com poderes especiais para ele, que oferece a queixa-crime. Se for
alguém hipossuficiente, terá ajuda da Defensoria Pública ou de núcleo de prática jurí-
dica. Essas instituições vão oferecer a queixa-crime.
10m
• Ofendido ou seu representante legal (capacidade postulatória): é preciso ter um advo-
gado ou a Defensoria.
• Poder-dever de punir continua do Estado (jurisdição necessária)
• Peça: queixa-crime – oferecida ao juízo competente, o juiz decide se vai receber essa
queixa ou se vai rejeitar. A dinâmica é um pouco diferente da ação penal pública.
• Modalidades
– Ação penal privada exclusiva/propriamente dita (é a regra)
– Ação penal privada personalíssima (um exemplo a penas)
– Ação penal privada subsidiária da pública (ação penal acidentalmente privada ou
ação penal supletiva): há inércia do Ministério Público e o ofendido precisa agir ofe-
recendo a denúncia.

O PULO DO GATO
O que mais cai na prova da OAB

• Representação na ação penal pública condicionada à representação – prazo, retrata-


ção nos crimes comuns, Lei Maria da Penha.
• Princípio da indivisibilidade: apenas se aplica na ação penal privada. É trazido a partir
de situações hipotéticas com vários autores do fato e ser um crime de queixa-crime.
Há vários princípios aplicáveis as ações penais, mas o da indivisibilidade cai bastante.
15m
• Decadência: aplica-se na representação e na queixa-crime
• Renúncia
• Perdão
• Perempção

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Ação Penal
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AÇÃO PENAL

Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério
Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de
representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

Obs.: regra – ação penal pública incondicionada. Exceção – ação penal pública condicio-
nada, a lei deve dispor.

Será promovida é uma imposição. O Ministério Público vai promover a denúncia. Ele
não tem discricionariedade. Ele não pode estar diante de um caso de roubo, furto, receber o
inquérito policial e escolher se vai oferecer a denúncia ou não. Se há elementos suficientes
para o oferecimento da denúncia, justa causa, elementos probatórios, ele tem que oferecer.
O Ministério Público não pode escolher quem irá processar.
Ele pode ter discricionariedade regrada ou mitigada, porque se fala na forma da lei. A lei
pode autorizar que o Ministério Público não ofereça a denúncia e sim ofereça um benefício.
Os institutos de justiça criminal negocial pré-processuais mitigam o princípio da obrigatorie-
dade, porque o Ministério Público não vai oferecer a denúncia, mas o benefício. No entanto,
não há discricionariedade do Ministério Público, é uma discricionariedade que está na Lei.
20m
§ 1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o
direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
§ 2º Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da
União, Estado e Município, a ação penal será pública.

PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS

• AÇÃO PENAL PÚBLICA:


– OBRIGATORIEDADE (art. 24, CPP)

* Composição civil dos danos/Transação penal (art. 76, Lei 9099)/acordo de não perse-
cução penal (art. 28, CPP) – nesses casos, não haverá processo.
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Ação Penal
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– INDISPONIBILIDADE (arts. 42 e 576, ambos CPP): depois que oferece a denúncia,


o Ministério Público não pode desistir. Depois que ele interpõe o recurso, o Minis-
tério Público não pode desistir, voltar atrás. Ele não é obrigado a oferecer a denún-
cia, porque pode promover o arquivamento, por exemplo. Mas, se ele já ofereceu a
denúncia e o processo está tramitando, ele não pode querer voltar atrás e desistir
do processo. Acontece o mesmo quando o juiz profere uma sentença. O Ministério
Público não é obrigado a recorrer, ele pode ficar satisfeito com a sentença. Se ele
decidir recorrer, não pode desistir da apelação,

*suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9099): é um benefício que não ocorre
antes do oferecimento da denúncia, mas durante o processo. Se estiver na lei que o réu faz
jus ao benefício, o Ministério Público poderá oferecer.

• AÇÃO PENAL PRIVADA:


– OPORTUNIDADE
Ex.: uma pessoa foi vítima de ofensas morais. A vítima tem a oportunidade e conve-
niência de querer ou não levar isso para frente. Pode querer não fazer nada e abre
mão. Para o delegado apurar a injúria, precisa do requerimento da vítima. Se ela não
quiser, o delegado não vai investigar o caso.
25m
– DISPONIBILIDADE
Ex.: uma pessoa foi vítima de ofensas morais. Ela requereu que o delegado fizesse
a investigação e ele a instaurou, apurou as ofensas e descobriu quem ofendeu. A
vítima contratou um advogado que ofereceu queixa-crime. A pessoa pode abrir mão.
– INDIVISIBILIDADE (art. 48 do CPP): mais importante dos princípios.
Ex.: uma pessoa sofreu ofensas de 2 pessoas. O delegado concluiu que quem ofen-
deu foi João e José. Não se pode escolher quem processar. Por isso, a palavra indi-
visibilidade. Ou se processa todo mundo ou não se processa ninguém.

O PULO DO GATO
Ação penal é um dos temas que mais caem na OAB. Cuidar: inquérito policial, ação penal,
prisão, recursos criminais, jurisdição e competência.
30m

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.
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ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ação Penal II
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AÇÃO PENAL II

O PULO DO GATO
O que mais cai na prova da OAB

• Representação na ação penal pública condicionada à representação – prazo, retrata-


ção nos crimes comuns, Lei Maria da Penha.
• Princípio da indivisibilidade: apenas se aplica na ação penal privada. É trazido a partir
de situações hipotéticas com vários autores do fato e ser um crime de queixa-crime.
Há vários princípios aplicáveis as ações penais, mas o da indivisibilidade cai bastante.
• Decadência: aplica-se na representação e na queixa-crime
• Renúncia
• Perdão
• Perempção

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO

Representar significa manifestar a vontade. Se manifesta a vontade de que a pessoa


seja investigada, se manifesta a vontade de que a pessoa seja processada. Se manifesta
a vontade de que a pessoa tenha uma persecução penal contra ela, que seja investigada,
processada, julgada e condenada. Existe um prazo para exercício da manifestação. Essa
representação deve ser dada dentro do prazo legal.
Prazo para representação? Artigo 38, CPP e artigo, 10 CP
CPP:
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá
no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses,
contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia
em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

Obs.: não é do dia do fato, mas do dia que a vítima sabe quem é o autor do fato. Pode ser
que o fato e saber quem é o autor aconteça na mesma data, mas pode ser que não.
ANOTAÇÕES

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Ação Penal II
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Ex.: alguém manda mensagem dizendo que vai matar a vítima. As mensagens eram
apócrifas e a vítima não sabe quem é o autor do fato. Ela pode comunicar na delegacia, que
investiga e descobrir que foi João quem mandou as mensagens um mês depois do fato. Os
seis meses vão ser contados a partir do conhecimento da autoria do fato. Isso faz uma dife-
rença prática.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação,
dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.
Como se dá a contagem do prazo?
5m
Há os prazos materiais e os prazos processuais penais. Apesar de o art. 38 estar dentro
do Código de Processo Penal, o prazo de representação conduz ao instituo da decadên-
cia. Se não oferecer a representação dentro do prazo legal, isso leva a decadência, que é
uma hipótese de extinção de punibilidade. As hipóteses de extinção de punibilidade estão
no direito penal. A decadência é instituto de direito material, de direito penal. Está no rol de
extinção de punibilidade do art. 107, do Código Penal. A decadência é causa de extinção de
punibilidade, previsto no Código Penal.
CP:
Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e
os anos pelo calendário comum.

Obs.: no Direito Penal, inclui-se o dia do início e exclui-se o do final. No Direito Processu-
al, exclui-se o dia do início e inclui-se o do final. Quando se conta prazo de recurso,
exclui-se o dia do início. No prazo decadencial, inclui-se o dia do início. O dia que se
sabe o autor do fato é incluído na contagem dos 6 meses e o último dia é excluído. A
decadência também incide na queixa-crime.

Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador
com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Minis-
tério Público, ou à autoridade policial.

Obs.: a própria vítima pode ter representado, passado procuração com poderes especiais
para alguém manifestar a sua representação, pode ser que a vítima seja menor de
idade e tenha um representante legal para representar, pode ser que a vítima seja
incapaz e tenha um representante legal para o exercício da representação. Essa ma-
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Ação Penal II
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nifestação de vontade não tem formalidades. Ou seja, ela pode ser escrita, oral, pode
ser para o juiz, para o Ministério Público, na delegacia. A manifestação de vontade
apenas tem que ser manifestada, dentro do prazo legal.
10m

§ 1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenti-


cada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante
o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver
sido dirigida.
§ 2º A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato
e da autoria.
§ 3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá a
inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for.
§ 4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será reme-
tida à autoridade policial para que esta proceda a inquérito.
§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem
oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a
denúncia no prazo de quinze dias.
Retratação da representação?
Inicialmente, a vítima foi na delegacia e falou que quer representar e manifestar sua von-
tade que o autor do fato seja processado. Porém, a vítima pensou melhor, foi para a casa,
conversou com a família e decidiu deixar para lá, querendo se retratar da representação. Em
regra, não se pode fazer isso, mas a legislação permite.
CPP:
Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.
Ex.: João ameaçou José. Art. 147, CP. José é vítima e tinha manifestado a representa-
ção. Porém, o Ministério Público ainda não tinha oferecido a denúncia. A representação é
uma condição de procedibilidade para a denúncia. Até a data que o Ministério Público ofere-
ceu a denúncia, José pode se retratar. Depois, não há como voltar atrás.
Lei Maria da Penha:
Ex.: João ameaçou Maria, que sua esposa. Há uma questão de incidência da lei Maria da
Penha. Ele praticou o crime 147, CP. Porém, como foi contra a sua esposa e vai incidir o art.
5º, da incidência da Lei Maria da Penha, há o regramento específico dessa lei.
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Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que
trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o
Ministério Público.

Obs.: o art. 25 não oferecia nenhuma formalidade, podendo ir uma manifestação, petição,
podendo se retratar até o oferecimento da denúncia. Na Maria da Penha existe uma
formalidade, um modo específico para a retratação. Diante da manifestação da víti-
ma de voltar atrás, o juiz marca uma audiência, que se chama de audiência do art.
16 da Lei Maria da Penha, uma audiência de justificação. Nessa audiência, ouve-se
a vítima para saber se não está sendo pressionada pelo ofensor, pela família e real-
mente quer se retratar.
15m

Existe diferença entre recebimento e oferecimento. O oferecimento é uma atividade do


Ministério Público. É ele que vai oferecer a denúncia. O recebimento é uma atividade do
Poder Judiciário, do juiz que decide se recebe ou rejeita a denúncia.
Inquérito policial chegou ao Ministério Público, que ofereceu a denúncia no juízo compe-
tente. O juiz vai decidir se recebe ou rejeita. São momentos distintos. O Ministério Público
faz a atividade de oferecimento e o juiz de recebimento. Isso pode levar algum tempo. Em
varas em que o juiz está em dia, ele consegue analisar o recebimento ou não em 1 semana,
poucos dias. Porém, há varas que estão cheia de coisas, isso depende muito da estrutura da
comarca, demorando 1 mês, 2 meses, 3 meses para conseguir analisar a denúncia.
Observações a respeito do direito de representação:

• Em havendo morte da vítima ou de declaração judicial de ausência, este direito de


representação é transferido ao CADI – cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (*
estendido para companheiro – STJ).

Ex.: a pessoa morreu antes de externar a sua vontade. Os herdeiros poderão manifestar
essa representação para o Ministério Público oferecer a denúncia e o ofensor seja processado.

• Se a vítima for menor de 18 anos ou se for incapaz para ela o prazo não conta, pois
somente contará para o representante legal. Diante disso, quando a vítima alcançar a
maioridade ou tornar-se capaz, a partir desse momento, terá início o prazo de 6 meses
para representar.
20m

Ex.: vítima de 17 anos. A mãe não quis oferecer a representação. Quando a vítima com-
pletar 18 anos, começa a correr os 6 meses para representar.

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Ação Penal II
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• A representação não vincula o membro do MP: se o Ministério Público quer oferecer a


denúncia, ele precisa da representação, porque é uma condição específica de proce-
dibilidade. No entanto, o contrário não é verdade. O Ministério Público não vai neces-
sariamente oferecer a denúncia porque a vítima representou, uma vez que existem
outros requisitos para que a denúncia seja oferecida. Pode ser que o Ministério Público
entenda que não há justa causa, elementos probatórios mínimos para que ofereça a
denúncia, mesmo que tenha a representação.

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DO MINISTRO A


JUSTIÇA

• Natureza política: há uma análise política do caso para saber se a nação tem interesse
em seguir com o caso;
• Ministro da Justiça dirige ao chefe do MP;
25m
• Não se sujeita a prazo decadencial: o art. 38, do CPP, dispõe sobre a representa-
ção – prazo de 6 meses a contar do conhecimento da autoria. Para requisitar não
existe prazo;
• MP - não está obrigado a oferecer denúncia;
• MJ pode se retratar da requisição oferecida (posição majoritária). O Ministro da Jus-
tiça pode entender que não há mais o interesse político em se retratar, retirando a
requisição.
• O crime estará sujeito à prescrição, mas não existe o prazo exíguo de 6 meses a contar
do conhecimento da autoria, como o art. 38, do CPP, que dispõe sobre a representação.

HIPÓTESES

Crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro no exterior – Extraterritorialidade


Hipercondicionada (art. 7º, §3º, “b”, CP):
§ 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro
fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Crime de injúria praticado contra o Presidente da República (art. 141, I, c/c art. 145, pará-
grafo único, CP). A regra do crime de injúria é ser de natureza privada, mas se tem exceções.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ação Penal II
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Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos
crimes é cometido:
I – contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do
inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso
do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código.
Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos
casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e
a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.

Obs.: é parecido com a delação por terceiro no inquérito policial. Se for um crime de ação
penal pública, qualquer pessoa do povo pode comunicar o fato ao delegado. Assim
como, se for de ação penal pública, como o Ministério Público é o titular e esse crime
não está na conveniência e oportunidade da vítima, qualquer pessoa pode chegar
ao Ministério Público e comunicar a ocorrência, entregando documentos e tentando
demonstrar o fato. Isso somente se dá na ação penal pública, porque na ação penal
privada vai depender da vontade da vítima. Se for ação penal pública condicionada,
o Ministério Público vai ter que esperar a atuação da vítima ou do Ministro da Justiça
para então oferecer a denúncia.

Art. 28 do CPP – foi tratado nas aulas de inquérito policial – arquivamento e desarquiva-
mento do inquérito policial.
Art. 28-A do CPP – acordo de não persecução penal – haverá aula específica. Foi inclu-
ído pela Lei 13964/2019, com vigência em janeiro de 2020.

O PULO DO GATO
ANPP é um instituto muito importante e já caiu em primeira e segunda fase da OAB.
30m

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ação Penal III
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AÇÃO PENAL III

AÇÃO PENAL PRIVADA

Propriamente Dita/Exclusivamente Privada (regra)

• É a regra nas ações penais privadas: se a vítima não for advogada, ela tem que contra-
tar, porque tem que ter a capacidade postulatória para o oferecimento da queixa-crime;
• Ofendido ou representante legal;
• Possibilidade de sucessão processual (art. 31, CPP):

Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial,
o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descen-
dente ou irmão.

Obs.: soma-se a figura do companheiro nos termos da jurisprudência do STJ.

Ex.: a vítima de uma ameaça faleceu antes de manifestar a sua vontade. Os herdeiros do
art. 31 podem manifestar a vontade e o MP oferecer a denúncia.
Ex.2: a vítima faleceu antes de oferecer a queixa-crime. Os herdeiros do art. 31 podem
contratar um advogado e oferecer a queixa-crime.
Ex.3: a vítima ofereceu a queixa-crime e faleceu no curso da ação penal ou ficou ausente.
Os parentes podem dar continuidade à ação penal.
Há um prazo para os cônjuge, ascendente, descendente ou irmão darem continuidade a
ação penal, sob pena de acontecer a perempção.
Personalíssima

• Somente proposta pela vítima;


• E se ela falecer? Extinção de punibilidade do autor do fato; não haverá sucessão
processual
• Artigo 236, CPP:

Induzimento a Erro Essencial e Ocultação de Impedimento


Art. 236. Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultan-
do-lhe impedimento que não seja casamento anterior:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.

Obs.: não haverá sucessão processual. Não aplicará o art. 31 do CPP.

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Ação Penal III
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Parágrafo único. A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode
ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou
impedimento, anule o casamento.
Subsidiária Da Pública/Acidentalmente Privada

• Prazo decadencial contado do esgotamento do prazo para o MP agir


• Art. 29, CPP - No caso de inércia ocorrerá a retomada pelo MP – ação penal direta

Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada
no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor
recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte
principal.
5m
Furto qualificado previsto no art. 155, §4º, CP. É ação penal pública incondicionada, exer-
cida pelo Ministério Público, com o oferecimento de uma denúncia.
O delegado finalizou o inquérito policial e isso chegou no titular que é o Ministério Público
para analisar. O Ministério Público poderia pedir diligências imprescindíveis, oferecer a
denúncia ou promover o arquivamento. No entanto, ele não fez nada disso e ficou inerte. A
vítima pode contratar um advogado ou ir na Defensoria para oferecer uma queixa-crime no
lugar da denúncia.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ação Penal III
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O PULO DO GATO
A OAB já cobrou esse tema. Ela deixa muito claro no enunciado a questão da inércia,
omissão. Ou a banca descreve a conduta do Ministério Público ou diz expressamente que
o órgão foi inerte, omisso.
Já teve caso em que ela mostra o arquivamento e, por insatisfação, a vítima oferece quei-
xa-crime. Isso não pode acontecer, porque o Ministério Público atua ao promover o arqui-
vamento. Logo, não foi inerte.

Ex.: a vítima ficou indignada porque o Ministério Público não fez nada. Ela contratou um
advogado e ofereceu queixa-crime. Meses depois, ela desiste do processo, sendo negli-
gente. O Ministério Público retoma porque originariamente é de atuação dele. O processo
não é arquivado, o MP assume a atividade que deveria ter assumido desde o início.
10m
Na ação penal privada, há os princípios da oportunidade/conveniência, disponibilidade e
indivisibilidade.
Princípio da Indivisibilidade:
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e
o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
Ex.: crime contra a honra. Injúria, xingamentos. Vítima Maria. Autores João e José. Maria
vai oferecer uma queixa-crime dentro do prazo de 6 meses a contar do conhecimento da
autoria (art. 38, CPP). A queixa é oferecida no juízo competente. O juiz vai decidir se recebe
ou rejeita. Maria não pode escolher contra quem processar: ou oferece queixa contra os dois
(João e José) ou contra nenhum e tudo é arquivado.
Maria apenas ofereceu contra João. Isso significa que ela renunciou quanto ao José.
Essa renúncia vai se estender para João. Logo, a consequência prática é como se ela não
tivesse oferecido contra ninguém.
15m
Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o
cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art.
31, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da
instância ou a abandone.
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Ação Penal III
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Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá
no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses,
contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia
em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação,
dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo cons-
tar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo
quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente reque-
ridas no juízo criminal.

Obs.: é preciso passar uma procuração com poderes especiais para o advogado. Não se
pode passar procuração com poderes gerais para atuar.

Querelante: quem oferece a queixa. É a vítima do crime que contrata o advogado.


Querelado: é o polo passivo. É o suposto autor do fato.
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada
pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo.

Obs.: o Ministério Público não é titular, mas atua como fiscal.

Ex.: investigação – art. 19 – oferecimento da queixa pelo querelante no prazo decaden-


cial de 6 meses do art. 38. O querelante ofereceu a queixa-crime no juízo competente. Antes
de o juiz decidir, ele manda para o Ministério Público, que devolve para o juiz, que decide se
recebe ou rejeita. O MP vê se o princípio da indivisibilidade está sendo cumprido. O MP não
é titular da ação, mas se manifesta antes do juiz, porque é fiscal no processo.
20m
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, con-
tado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de
15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inqué-
rito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério
Público receber novamente os autos.
§ 1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o ofereci-
mento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a
representação
§ 2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão
do Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, enten-
der-se-á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo.
Denúncia (MP) – ação penal pública

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Ação Penal III
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O prazo é metade do prazo do art. 10, CPP, que traz o prazo para a conclusão do inqué-
rito policial, com 10 dias para preso e 30 dias para solto.

Ação penal privada – queixa-crime


Regra: art. 38.

Prazo para oferecimento da


Prazos especiais para ofe-
queixa-crime – CPP
recimento da queixa-crime
Regra

6 meses, a partir do trân-


sito em julgamento da
Prazo decadencial de sentença que, por erro
6 meses contados da ou impedimento, anule o
descoberta da autoria casamento (Art. 236, CP)

30 dias, a contar da homo-


logação do laudo pericial
(Art. 529, CPP – Crime
contra a propriedade ima-
terial que deixar vestígios

Data do fato é diferente da descoberta da autoria.


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Ação Penal III
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Exceção: subsidiária da pública – 6 meses contados da inércia do Ministério Público.


Ex.: o MP tinha 15 dias para oferecer denúncia. Passou os 15 dias e ele não fez nada.
Esgotados os 15 dias, começa a contar 6 meses para a vítima oferecer a queixa-crime.
25m

O PULO DO GATO
Os prazos especiais nunca caíram na OAB.

Requisitos da Peça Inicial acusatória


A denúncia e a queixa-crime possuem requisitos em sua peça:
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identifi-
cá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

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Ação Penal IV
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AÇÃO PENAL IV

Ao estudar a denúncia, falou-se da titularidade do Ministério Público e da ação penal


pública; sendo assim, quem irá produzir a peça denúncia será o MP.
Já na queixa-crime o advogado pode ter dois tipos de atuação em prol da vítima, sempre
com uma procuração com poderes especiais (art. 44):

• No polo ativo como querelante na ação penal privada contra o querelado (acusado);
ex.: injúria dentro dos crimes contra a honra; e
• Na ação penal privada subsidiária da pública, em caso de inércia ou omissão do MP,
quando o advogado irá atuar no prazo decadencial de 6 (seis) meses contados a partir
do esgotamento do prazo do MP oferecendo uma queixa-crime subsidiária.

Tratando-se de denúncia na ação penal pública ou de queixa-crime na ação penal pri-


vada propriamente dita, personalíssima, ou na subsidiária da pública, existem requisitos em
comum da peça inicial acusatória, dispostos no art. 41 do Código Processo Penal (CPP):

CPP. Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

O rol de testemunhas é facultativo. Um dos meios de prova no processo penal é a prova


5m
testemunhal, mas existem ainda a perícia, a confissão, o interrogatório, a busca e apreensão
etc. Fora do CPP existem ainda várias outras formas de provar uma infração penal. Pode
ser que aquela peça inicial acusatória esteja embasada em outros elementos que não seja a
prova testemunhal, como o depoimento da vítima e a juntada de documentos, por ex., sem
nenhuma testemunha arrolada na denúncia ou na queixa-crime.
Pelo princípio da congruência, o réu se defende dos fatos, de modo que a sentença
ao fim do processo tem que julgar de acordo com a descrição fática na denúncia ou na quei-
xa-crime da qual o réu se defendeu ao longo de toda a instrução do processo. Por isso, os
fatos precisam ser muito bem narrados e com todos os detalhes (mas de forma sucinta,
não prolixa).
Devido a essa importância da narração fática, dois importantes institutos devem ser leva-
dos em consideração:
ANOTAÇÕES

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ação Penal IV
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• Emendatio libelli (art. 383, CPP) – Os fatos não se alteram e se confirmam ao longo da
instrução exatamente como estão narrados. Ao sentenciar, contudo, o juiz entendeu
10m
que, apesar de o fato ser aquele, não se trata daquele tipo penal.

Ex.: Suponha que o MP narrou um fato X, mas capitulou como estelionato. No momento
da instrução, o fato X foi confirmado, mas o juiz o entendeu como se tratando não de um este-
lionato, e sim de um furto mediante fraude, alterando essa capitulação ao sentenciar.

CPP. Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá
atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais
grave. (Redação dada pela Lei n. 11.719, de 2008).

• Mutatio libelli (art. 384, CPP) – Ao longo da instrução, o fato narrado muda.

Ex.: Imagine que foi narrado um furto, mas ao longo da instrução, se verificou que tal
fato foi praticado com violência ou com grave ameaça, saindo, portanto, do furto e se confi-
gurando como roubo. Nesse caso, a narrativa fática mudou, de modo que não dá para o juiz
julgar, visto que essa violência ou grave ameaça não estão inclusas na peça inicial acusató-
ria, com base na qual o juiz deve julgar para proferir a sentença. Assim, faz-se um aditamento
da denúncia (mutatio libelli): o MP ou o querelante da ação penal privada vai “corrigir” a peça
inicial acusatória incluindo a narração fática da violência ou grave ameaça, para que o juiz
possa enfim julgá-la.

CPP. Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do
fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração
penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no pra-
zo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação
pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. (Redação dada pela Lei n.
11.719, de 2008).

O povo passivo precisa ser identificado, individualizado, pessoalizar, dizer quem irá res-
ponder, quem poderá ser condenado, quem poderá cumprir pena posteriormente, pois não
pode haver denúncia ou queixa-crime genérica.
Geralmente na denúncia ou na queixa já constam todos os dados qualificativos: nome
completo, data e local de nascimento, estado civil, filiação, endereço, profissão, dentre outros.
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Ação Penal IV
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Porém, de acordo com o caput do art. 41, pode acontecer de não se ter a qualificação
completa do acusado, mas haver esclarecimentos que possibilitem identificá-lo.
Ex.: Imagine que o acusado é Pedro da Silva Alves, conhecido como Pedrinho, data de
nascimento desconhecida, filiação desconhecida, que mora em tal endereço, trabalha em
tal atividade e possui tais características físicas. Como nesse caso, pode ser que não haja a
qualificação completa, mas foi possível, com os dados apresentados, individualizar a denún-
cia ou queixa.
Por fim, a classificação do crime se refere à imputação; ao oferecer a queixa-crime,
deve-se informar o crime de que se trata, dizer qual tipo penal está sendo imputado àquele
querelado.
15m
Os seguintes institutos são frequentemente cobrados na prova da OAB: decadência,
renúncia, perdão e perempção.

a) Decadência:

Aplica-se na ação penal pública condicionada à representação e na ação penal privada.


O art. 38 do CPP estabelece o prazo de 6 (seis) meses a contar da descoberta da suposta
autoria do fato. Passado esse prazo, caso não seja oferecida a representação, significa que
o crime decaiu. O juiz então irá fazer uma sentença extinguindo a punibilidade do autor do
fato pelo reconhecimento do instituto da decadência.
A mesma coisa se dá na ação penal privada quanto ao prazo da queixa-crime, que, de
regra, é de seis meses a contar da descoberta da autoria; na ação penal privada subsidiária
da pública, são seis meses contados a partir do esgotamento do prazo do MP, enquanto na
ação personalíssima e no crime que deixa vestígios contra a propriedade material os prazos
são outros, específicos.
Caso esses prazos acabem e não seja oferecida a queixa-crime, ocorre a decadência e
o juiz também fará uma sentença extinguindo a punibilidade do autor, arquivando o procedi-
mento; caso haja outros crimes, o processo continua com relação a eles.

b) Renúncia:

Se aplica na ação penal privada e também é uma causa de extinção de punibilidade,


20m
natureza jurídica expressamente prevista no CP:
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CP. Art. 107. Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11/07/1984)

Renunciar significa abrir mão, a pessoa não irá oferecer a queixa e já deixa isso claro.
Enquanto na decadência, a pessoa só deixa o prazo passar, na renúncia ela se manifesta no
sentido de que não irá oferecer queixa-crime. Isso pode ser feito de forma expressa, peticio-
nando, ou de forma tácita, através de atitudes, de acordo com o CP:

CP. Art. 104. (...)


Parágrafo único. Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a
vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano
causado pelo crime. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11/07/1984)

Ex.: Imagine que aconteceu um crime de injúria, mas uma semana depois, o ofensor
estava na casa da vítima convivendo normalmente com ela. Assim, as atitudes da vítima
deixam claro que ela não oferecerá queixa-crime, pois está tudo bem entre ambos.
Assim, o instituto da renúncia é pré-processual, ou seja, antes do oferecimento da quei-
xa-crime. Dos três princípios da ação penal privada – princípios da oportunidade e conveni-
ência, da disponibilidade e da indivisibilidade –, o que tem relação com esse momento pré-
-processual é o princípio da oportunidade.
Além disso, de acordo com o art. 49 do CPP, a renúncia é unilateral, o que significa que
não precisa de aceitação, de concordância do autor do fato. De acordo com o Princípio da
indivisibilidade, a renúncia se estende a todos os querelados.

CPP. Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime,
a todos se estenderá.

Ex.: Maria foi vítima de uma injúria, que, como crime contra a honra, é de ação penal
privada. Os autores desse fato foram João e José, e Maria, em regra, deve oferecer a quei-
xa-crime contra ambos – ou contra nenhum, de acordo com o princípio da indivisibilidade
(art. 48, CPP). Entretanto, suponha que Maria decidiu processar apenas José, oferecendo a
25m
queixa-crime contra ele, mas não contra João; isso significa que ela renunciou quanto a João.
Mas como ela não poderia fazer isso, de acordo com o art. 48, essa renúncia irá se estender
a José e o procedimento contra ambos irá acabar, pois o juiz irá extinguir a punibilidade de
ambos pelo reconhecimento da renúncia.
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Ação Penal IV
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CPP. Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o
Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.

Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representan-
te legal ou procurador com poderes especiais.
Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito)
anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.

Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os meios de prova.
c) Perdão – Se aplica na ação penal privada e será estudado em mais detalhes na aula seguinte.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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Ação Penal V
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AÇÃO PENAL V

Após abordar os institutos da decadência e da renúncia, essa aula tratará do instituto


do perdão.

c) Perdão:

O perdão é mais uma causa de extinção de punibilidade, assim como a decadência e a


renúncia, e também significa abrir mão, desistir daquela ação penal.
A renúncia, como visto, é pré-processual, antes de ser oferecida a queixa-crime; já o
perdão se dá dentro da ação penal, tendo o querelante (vítima) já oferecido a queixa-crime
em face do querelado (suposto autor do fato).
Encontra-se aí o princípio da disponibilidade, ou seja, a pessoa se dispor, abrir mão do
processo, o que pode acontecer somente após o início da ação penal até o trânsito em jul-
gado, nos termos do Código Penal:

CP. Art. 106. (...)


§ 2º Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória. (Redação
dada pela Lei n. 7.209, de 11/07/1984)

Assim, é possível até já haver uma sentença condenando o autor do fato, mas que
ainda se encontra em fase recursal, e o querelante pode perdoar o querelado até o trânsito
em julgado.
O perdão também pode ser expresso ou tácito, através de atitudes que o querelante
tomou ao longo do processo.

Art. 106. O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: (Redação dada pela Lei n. 7.209,
de 11/07/1984)
I – se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; (Redação dada pela Lei n. 7.209,
de 11/07/1984)
II – se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros; (Redação dada pela Lei
n. 7.209, de 11/07/1984)
III – se o querelado o recusa, não produz efeito. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11/07/1984)
§ 1º Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na
ação. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11/07/1984)
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Ação Penal V
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Pode acontecer em momento processual, em uma petição, ou extraprocessual, devendo


se provar dentro do processo que ele ocorreu (art. 106, CP, e art. 56, CPP).

CPP. Art. 56. Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o disposto no art. 50.

Além disso, o perdão é bilateral; ou seja, diferentemente da renúncia, precisa de aceita-


ção para produzir efeitos (art. 106, CP, e arts. 51 e 58, CPP).

CPP. Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza,
todavia, efeito em relação ao que o recusar.

Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado
5m a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu
silêncio importará aceitação.
Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade.

No exemplo dando anteriormente, Maria foi vítima de injúria por João e José e ofereceu a
queixa-crime contra ambos, visto que deveria processar os dois ou nenhum, de acordo com o
princípio da indivisibilidade previsto no art. 48 do CPP. Em momento posterior, contudo, Maria
decidiu perdoar os acusados, que serão intimados para aceitar ou recusar o perdão.
Existem aí três possibilidades:

• Os acusados podem aceitar expressamente o perdão, caso em que ocorrerá extinção


de punibilidade pelo perdão;
• Os acusados podem ficar em silêncio, o que significa aceitação e consequente extin-
ção de punibilidade pelo perdão; ou
• Eles podem recusar o perdão, caso em que o processo irá continuar; caso apenas um
dos dois recuse, apenas o processo contra ele irá prosseguir.

Obs.: O acusado pode recusar o perdão por ter vontade de demonstrar sua inocência, por
ex., sendo absolvido na sentença, visto que a extinção da punibilidade, embora ar-
quive o processo, não terá julgado o mérito.
10m

Há aqui também o princípio da indivisibilidade, pois Maria não pode escolher quem per-
doar; se ela assim decidir, o perdão irá se estender a todos os autores do fato. Como visto,
por ser bilateral, o perdão só vai produzir efeitos a quem aceitou ou ficou em silêncio; porém,
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no momento de ser oferecido, se Maria decidir perdoar apenas João, por ex., tanto ele quanto
José serão intimados para se manifestarem quanto a aceitar ou não esse perdão.
O quadro abaixo resume comparativamente as principais características da renúncia e
do perdão:

Renúncia Perdão
Decorre do princípio da oportunidade/conve-
Decorre do princípio da disponibilidade
niência
É ato unilateral (não depende de aceitação do É ato bilateral (depende de aceitação do que-
querelado) relado)
Concedido após o início do processo até o trân-
Concedida antes do início do processo
sito em julgado
Por força do princípio da indivisibilidade, o
Por força do princípio da indivisibilidade,
perdão em relação a um querelado se estende
a renúncia em relação a um querelado se
aos demais. Somente produz efeitos se houver
estende aos demais.
aceitação (expressa ou pelo silêncio).

d) Perempção:

Perempção significa negligência, desídia; ou seja, a pessoa não deu andamento ao pro-
15m
cesso, foi negligente com aquela queixa-crime e a abandonou.
A perempção já acontece dentro da fase processual da ação penal

Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a
ação penal:
I – quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30
dias seguidos;
II – quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo,
para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem
couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;

Obs.: Na queixa-crime, como regra existe a sucessão processual. Caso o querelante te-
nha oferecido a queixa-crime e venha a falecer durante o processo, seus parentes
– nessa ordem, cônjuge (ou companheiro, de acordo com entendimento do STJ), as-
cendente, descendente ou irmão, que podem ser lembrados pelo mnemônico CADI
formado com suas iniciais – poderão dar continuidade a esse processo, mas eles
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têm um prazo para isso, que é de 60 (sessenta) dias. Caso nenhum desses parentes
apareça, será entendido que eles não têm interesse e o juiz irá arquivar o processo
pela perempção.

III – quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo
a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

No caso de a queixa-crime já ter tramitado todo o procedimento e, nas alegações finais


das partes, o querelante não pedir a condenação do querelado pelos crimes narrados e a ele
imputados, o juiz não irá analisar e irá extinguir pela perempção.
20m
Ex.: Maria ofereceu a queixa-crime contra João e José por injúria e calúnia, mas na fase
de alegações finais, seu advogado pediu a condenação de ambos na injúria, esquecendo de
citar a calúnia. Ao receber o processo, o juiz verá que foram narrados dois crimes, mas que
contra a calúnia não houve requerimento de pedido de condenação para que ele pudesse
analisar. Nesse caso, ele irá reconhecer a perempção na forma do art. 60, inciso III, do CPP,
sem nem analisar o mérito da calúnia, visto que houve negligência; e quanto à injúria, como
foi formulado o pedido de condenação nas alegações finais, seu mérito será analisado.

IV – quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

Existem ainda três pontos importantes para a prova:

Súmula 542 – STJ. A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência domés-
tica contra a mulher é pública incondicionada.

Essa é a situação em que o art. 41 da Lei maria da penha (Lei x) veda a aplicação da Lei
n. 9.099/95, cujo art. 88 dispõe sobre a representação na lesão corporal leve ou culposa. Isso
significa que qualquer lesão corporal que envolva a incidência da Lei maria da Penha (art. 5º)
será incondicionada, qualquer que seja a extensão dessa lesão. Esse entendimento só se
25m
aplica a lesão corporal; os crimes de ameaça e de stalking (perseguição), por ex., continuam
sendo de ação pública condicionada à representação.

Súmula 714 do STF. É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério


Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções.
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Ex.: Um servidor público trabalhando, em razão da sua função, foi agredido moralmente,
em um caso de crime contra sua honra (injúria, calúnia ou difamação). O Código Penal traz
apenas uma opção para esse caso, que é a ação penal privada (queixa-crime). Entretanto,
o STF estendeu a possibilidade, trazendo uma legitimidade concorrente, de modo que esse
servidor pode escolher entre oferecer a queixa-crime como uma ação penal privada e ofere-
cer a representação ao MP, que por sua vez irá ofertar a denúncia, se for o caso.
O Pacote Anticrime promoveu alterações no capítulo de crimes patrimoniais, envolvendo
também o estelionato, e a partir da sua vigência, em 23/01/2020, a regra é de que o crime de
30m
estelionato seja mediante representação. Caso uma questão de prova traga situações espe-
cíficas, que envolvam as vítimas dispostas nos incisos I a IV do dispositivo abaixo, a ação
penal continuará sendo incondicionada, como era antes.

CP. Art. 171. (...)


§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)
I – a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
II – criança ou adolescente; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
III – pessoa com deficiência mental; ou (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

Obs.: Idosos são aqueles acima de 60 (sessenta) anos de idade. Deve-se atentar para
o fato de que a idade citada no inciso IV do art. 171, § 5º, do CPP, é de 70 (se-
tenta) anos.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.
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ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
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Jurisdição e Competência
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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

O Poder Judiciário exerce a jurisdição, a qual está fixada na constituição e em leis. A


jurisdição é una, isto é, ela é um todo. Como o juiz não consegue exercer a jurisdição toda,
ou seja, é incapaz de julgar casos eleitorais, militares, federais entre outras, há necessi-
dade de competências. Nesse sentido, a jurisdição, que é una, é delimitada por diversas
competências.
Jurisdição: o poder atribuído, constitucionalmente, ao Estado para aplicar a lei ao caso
concreto, compondo litígios e resolvendo conflitos, substituindo a vontade das partes, reco-
nhecendo, satisfazendo ou assegurando o direito material de um dos polos da relação jurí-
dica processual instaurada. Coube ao Poder Judiciário a missão constitucional de certificar o
direito, dirimindo as demandas que lhe são apresentadas.
5m

ATENÇÃO
A lide penal não pode ser resolvida em autotutela, isto é, pelas próprias partes. O Estado
tem o dever de resolver a lide penal. Mediante provocação, o Poder Judiciário resolve a
lide penal apresentada por denúncia do Ministério Público em caso de ação penal pública
e, na ação penal privada, o ofendido oferece a queixa-crime. Dessa maneira, essas partes
pedem ao Poder Judiciário a resolução desses conflitos.

Ainda sobre a jurisdição:


“O poder atribuído exclusivamente ao Judiciário (em razão da independência e da impar-
cialidade dos seus membros) para decidir um determinado litígio segundo as regras legais
existentes”.
Quando ocorre um crime, sabe-se previamente qual órgão que vai julgá-lo. Não é permi-
tido órgão de exceção, estabelecido após a prática do crime.

Características da Jurisdição

a) Órgão adequado: a jurisdição é exercida por um juiz (em sentido amplo, abarcando o
juiz, o desembargador e o ministro), órgão que é do Poder Judiciário (art. 92 da CF).
b) Contraditório: o juiz somente conseguirá dizer o direito, isto é, dizer quem tem razão,
se ouvir todas as partes em igualdade de condições.
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Jurisdição e Competência
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c) Procedimento: exige-se a observância ao modelo legal de procedimento penal previsto


na lei, em todas as etapas do processo, de modo a melhor aplicar o direito ao caso concreto.
d) Substitutividade: ao exercer a jurisdição, o juiz se coloca entre as partes, de modo a
substituir as suas vontades, dando a decisão final ao caso penal para dizer quem tem razão.
10m
e) Definitividade: Como o objetivo da jurisdição é a pacificação social e a extinção do
conflito, faz-se necessário que a decisão judicial proferida tenha definitividade, ou seja, que
ela gere segurança jurídica, o que é alcançado pela coisa julgada.

Elementos da Jurisdição

a) Notio ou cognitio: é o poder do juiz de conhecer dos casos penais, de verificar seus
requisitos e adotar as providências necessárias à sua tramitação.
b) Vocatio: é a função de chamar ao processo todos os interessados, fazendo-os com-
parecer ao processo.
c) Coertio ou coercitio: decorrente da vocatio, é o poder do juiz de adotar as medidas
coercitivas necessárias, desde o chamamento de uma testemunha até a determinação da
prisão do réu.
d) Judicium: é a função característica da jurisdição, qual seja, a de dizer o direito aplicá-
vel ao caso e concluir o litígio.
e) Executio: é o poder de tornar obrigatória a decisão proferida.
Princípios da Jurisdição
15m
a) Juiz natural: significa, sinteticamente, que não haverá juiz ou tribunal de exceção (art.
5º, XXXVII, CF) e que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente (art. 5º, LIII, CF).
b) Investidura: só exerce a jurisdição, ou seja, só pode dizer o direito a ser aplicado ao
caso concreto, quem for magistrado, isto é, quem esteve investido no cargo, respeitadas as
regras constitucionais de acesso ao cargo (CF, art. 93, I).
c) Inércia: não pode o juiz proceder de ofício ao início de uma ação judicial, sob pena de
não estar agindo com a necessária imparcialidade.

Obs.: O juiz deve ser provocado através da denúncia-queixa, para analisar se vai aceit-ala
ou rejeitá-la.
20m
ANOTAÇÕES

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Jurisdição e Competência
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d) Indeclinabilidade: o juiz não pode subtrair-se do exercício da jurisdição, ou seja, não


pode declinar (se afastar) da jurisdição provocada (art. 5º, XXXV).
e) Indelegabilidade: como consequência do princípio do juiz natural, impede-se que o
juiz delegue (empreste) a jurisdição a outro órgão.
f) Improrrogabilidade: a prorrogação da competência somente será permitida quando
houver previsão na lei, como nos casos de conexão e continência.

Obs.: as competências relativas devem ser arguidas no momento oportuno, sob pena de
preclusão. Caso a parte não alegue que aquele juízo é incompetente, há prorroga-
ção. Isso ocorre com a competência territorial, que é relativa. No entanto, como regra
geral, as jurisdições são improrrogáveis.

g) Inevitabilidade: também chamado de “irrecusabilidade”, guarda relação com o prin-


cípio da indeclinabilidade e significa que o exercício da jurisdição não está sujeito à vontade
das partes. Além disso, as partes não podem, ao seu bel prazer, recusar ou escolher um
determinado juiz, somente cabendo a recusa nos casos previstos em lei, como suspeição,
impedimento e incompetência.

Obs.: há meios procedimentais para as partes recusarem ou escolherem determinado juiz,


levando em consideração sua competência e a necessária imparcialidade.
25m

h) Unidade: a jurisdição, exercida e manifestada por meio do Poder Judiciário, é única,


diferenciando-se apenas no que diz respeito à sua aplicação e grau de especialização (civil,
penal, estadual, federal, militar etc.)
i) Correlação: determina que é vedado o julgamento extra, citra ou ultra petita, assegu-
rando-se a perfeita correspondência entre o que foi pedido (objeto da ação) e o que foi con-
cedido por meio da decisão judicial proferida.

Obs.: princípio da congruência ou correlação diz respeito à correspondência entre o que


está nos fatos da denúncia-queixa e aquilo que vai ser julgado na sentença (emen-
datio libelli e mutatio libelli).

j) Duplo grau de jurisdição: afirma, basicamente, a possibilidade de a decisão judicial


proferida ser revista por um órgão diferente e superior.
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Obs.: esse é um princípio implícito na Constituição Federal. Como o órgão pode cometer
erros, há previsão de revisão da decisão judicial por outro órgão.

l) Substitutividade: as partes não podem fazer justiça com as próprias mãos (CP, art.
345). Desta forma, a provocação da jurisdição pelos interessados faz com que o juiz, ao apli-
car o Direito, substitua a vontade das partes.
m) Definitividade: trata-se da principal característica das decisões judiciais; significa que
a manifestação do Poder Judiciário, após esgotados os recursos possíveis, torna-se defini-
tiva, ou seja, discutível, salvo raros casos previstos no ordenamento, como a revisão criminal.

Espécies de Jurisdição

Classificam-se de acordo com:


a) graduação: podendo ser inferior, como o juiz singular de primeiro grau, ou supe-
rior, abarcando as instâncias superiores, destinatárias dos recursos interpostos (conforme o
duplo grau de jurisdição).
30m

Obs.: os desembargadores fazem as análises dos recursos contra decisões proferidas por
juízes de primeiro grau.

b) matéria: diz respeito ao tema que pode ser julgado, podendo haver jurisdição civil
(matérias civis), penal (infrações penais), trabalhista (causas trabalhistas) etc.

Obs.: a justiça especializada trabalhista não exerce jurisdição penal, porém faz parte do
Poder Judiciário e da jurisdição.

c) órgão jurisdicional: guarda relação com a matéria a ser julgada, podendo ser esta-
dual (Justiça Comum), cuja jurisdição é exercida por juízes estaduais, ou federal (Justiça
Federal), exercida por juízes federais.
d) função: quando exercida por órgãos judiciais, chama-se de justiça comum/ordinária;
e quando exercida excepcionalmente por órgão não judicial, como o Senado Federal quando
julga o impeachment, é chamada de justiça extraordinária/especial.
e) competência: divide-se em:
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Jurisdição e Competência
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• competência plena, quando um único juiz tem competência sobre todas as causas,
como nas varas únicas;
• competência limitada, quando há divisão de varas, como vara cível e vara criminal;
• jurisdição exclusiva, quando o órgão jurisdicional julga um só tipo de crime, como o
tribunal do júri, que só julga crime doloso contra a vida; e
• jurisdição cumulativa, quando não há essa delimitação.

f) objeto: a jurisdição será contenciosa se houver um litígio e voluntária (ou graciosa) se


de caráter apenas homologatório.

Obs.: dentro do processo penal, não há voluntariedade, mas sim uma necessidade de que
o Poder Judiciário substitua a vontade das partes.

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preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
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Jurisdição e Competência II
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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA II

Competência

Delimitação da jurisdição, ou seja, o espaço dentro do qual pode determinada autoridade


judiciária aplicar o direito aos litígios que lhe forem apresentados, compondo-os.
Assim, considerando que se mostra humanamente impossível que o um juiz sozinho
decida todos os litígios ocorridos, embora a jurisdição seja una e indivisível, seu exercício
deve ser partilhado entre diversos órgãos jurisdicionais, funcionando a competência, nesse
sentido, como o limite da jurisdição, isto é, o âmbito legislativamente delimitado, dentro do
qual o órgão exerce o Poder Jurisdicional.
A doutrina pátria, tradicionalmente, tem dividido a competência em quatro espécies, a saber:
I – RATIONE MATERIAE: nos termos do art. 69, inciso III, do CPP, é aquela fixada em
razão da natureza da infração penal praticada, como ocorre, por exemplo, no caso da com-
petência do Tribunal do Júri para processar e julgar os crimes dolosos contra a vida;
II – RATIONE FUNCIONAE OU PERSONAE (FORO POR PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO): nos termos do art. 69, inciso VII, do CPP, determinadas pessoas. em razão das
funções por elas desempenhadas, serão processadas e julgadas originariamente por tribu-
nais, como ocorre, por exemplo, com o Presidente da República, que será processado e jul-
gado, no caso de infração penal comum, pelo Supremo Tribunal Federal, nos termos do art.
102, inciso I, alínea “b”, CF/88.
Via de regra, o foro está estabelecido na Constituição Federal, mas é possível que as
constituições estaduais também tragam tal previsão, desde que haja simetria com a CF.
Em 2018, o STF entendeu que a aplicação da prerrogativa de função tem que ser durante
o mandato ou a função, e deve haver relação com a função pública. Ex.: caso um juiz prati-
que um crime durante o exercício da função e que tenha relação com ela (ex.: vender uma
sentença) caberá aos desembargadores do TJDFT julgá-lo. No entanto, caso um juiz prati-
que um crime que não guarde nenhuma relação com sua função (ex.: lesão corporal), o foro
por prerrogativa de função não será aplicado.
5m
III – RATIONE LOCI: nos termos do art. 69, inciso I e II, do CPP, a competência “ratione
loci” é determinada em razão de critérios territoriais, isto é, objetiva identificar o juízo terri-
torialmente competente (foro competente). Tem por parâmetros o local da consumação do
delito (regra geral), além do domicílio ou residência do réu.
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Jurisdição e Competência II
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COMPETÊNCIA ABSOLUTA

• Competência em razão da matéria (“ratione materiae”);


• Competência por prerrogativa de função (“ratione personae” ou “funcionae”); e
• Competência funcional.

COMPETÊNCIA RELATIVA

• Competência “ratione loci” (em razão do local), seja pelo lugar da infração, seja pelo
domicílio ou residência do réu;

Formas secundárias de competência relativa:

• Competência por prevenção (Súmula n. 706 do STF);


• Competência por distribuição; e
• Competência por conexão ou continência.

A prevenção ocorre quando os outros critérios de competência não resolvem. Juiz pre-
vento é o que primeiro atuou.
A distribuição ocorre para que, existindo um fórum com várias varas de mesma compe-
tência e não havendo resolução sobre qual delas julgará um caso, haja a distribuição equipa-
rada de inquéritos entre elas.
10m
Quando os critérios primários não são suficientes para resolver a situação, aplicam-se os
critérios secundários.
COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA
Há a predominância do interesse público. Há a predominância do interesse privado.
Origina-se de normas constitucionais. Origina-se de normas infraconstitucionais.
Exemplos: competência “ratione loci” (em razão
Exemplos: competência em razão da matéria do local), seja pelo lugar da infração, seja pelo
(“ratione materiae”); competência por prerroga- domicílio ou residência do réu; competência por
tiva de função (“ratione personae” ou “fundo- prevenção (Súmula 706 do STF); competência
nae”); e competência funcional. por distribuição; e competência por conexão ou
continência.
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Jurisdição e Competência II
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Deve ser arguida pela parte no momento opor-


Poderá ser alegada e/ou reconhecida pelo juiz a
tuno, sob pena de reclusão. Isto é: caso não seja
qualquer momento, inclusive após o trânsito em
alegada pela parte no momento processual ade-
julgado de eventual sentença penal condenató-
quado para tanto, haverá a prorrogação da com-
ria ou absolutória imprópria, não havendo, nesse
petência, razão pela qual o juizo relativamente
sentido, a possibilidade de sua prorrogação.
incompetente tornar-se-á competente.
Pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, não se
Pode ser reconhecida de ofício pelo juiz.
aplicando a Súmula 33 do STJ.
Apesar de alguma divergência doutrinária,
Apesar de alguma divergência doutrinária,
entende-se que pode ser arguida por meio de
entende-se que pode ser arguida por meio de
exceção de incompetência.
exceção de incompetência.

 Obs.: a competência em razão de lugar está disposta a partir do art. 70 do Código de Pro-
cesso Penal.

Código de Processo Penal, em seu art. 69, diz que a competência será determinada de
acordo com sete critérios, a saber:
I – o lugar da infração;
II – o domicilio ou residência do réu;
III – a natureza da infração;
IV – a distribuição;
V – a conexão ou continência;
VI – a prevenção;
VII – a prerrogativa de função.
15m

Obs.: os critérios dispostos no art. 69 não estão organizados hierarquicamente, portanto,


a ordem apresentada não faz diferença. Os critérios principais são: a natureza da
infração, a prerrogativa da função e o lugar da infração, ao passo que os secundários
são: o domicílio ou residência do réu, a distribuição, a conexão ou continência e a
prevenção.
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Jurisdição e Competência II
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FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA CRIMINAL

1) COMPETÊNCIA DE JUSTIÇA: O primeiro questionamento a ser feito diz respeito à


Justiça competente para julgar tal fato delituoso, isto é, indaga-se qual é o ramo da Justiça
que deve processar e julgar aquela infração penal. Doutrinariamente, as Justiças são subdi-
vididas em Justiças Especiais e Comuns.
Nas primeiras, isto é, nas chamadas Justiças Especiais, encontram-se:
a) Justiça Militar (da União e dos Estados/DF);
b) Justiça Eleitoral; e
c) Justiça do Trabalho.

Obs.: a justiça trabalhista não julga casos criminais.

Nas segundas, isto é, nas chamadas Justiças Comuns, encontram-se:


a) Justiça Federal (art. 109 da CF); e
b) Justiça Estadual e do Distrito Federal e dos Territórios.

Obs.: a justiça estadual é a última opção, por isso também é chamada de residual.

2) COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA: O segundo questionamento diz respeito ao foro por


prerrogativa de função. Nesse sentido, indaga-se se aquela infração penal cometida deve
ser, de forma originária, isto é, sem passar pela primeira instância, processada e julgada por
algum Tribunal pátrio;
20m
3) COMPETÊNCIA DE FORO OU TERRITORIAL: O terceiro questionamento diz res-
peito ao foro territorialmente competente para processar e julgar a infração penal cometida.
Se estivermos na Justiça Estadual, indaga-se, portanto, qual a comarca competente para o
processo e julgamento daquele fato. Na Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, o ques-
tionamento diz respeito à circunscrição judiciária competente. Na Justiça Federal, a pergunta
tem relação com a seção e subseção judiciárias competentes. Na Justiça Militar da União,
descobre-se qual é a circunscrição judiciária militar competente. Na Justiça Eleitoral, desven-
da-se qual é a zona eleitoral competente;

Obs.: é importante que o candidato conheça a nomenclatura correta que cada justiça usa
para se referir à delimitação de seu território: comarca, circunscrição, seção, subse-
ção, entre outras.
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Jurisdição e Competência II
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4) COMPETÊNCIA DE JUÍZO ESPECIALIZADO: O quarto questionamento diz respeito à


existência de eventual juízo especializado dentro do foro territorialmente competente, como
ocorre, por exemplo, no caso de órgãos jurisdicionais especializados em delitos de trânsito,
em infrações penais relacionadas às drogas, organizações criminosas, crimes contra o sis-
tema financeiro, lavagem de ativos, etc. Caso não exista juízo especializado, o fato deve ser
processado pelos juízos criminais comuns. Existindo mais de um juízo comum, a competên-
cia, via de regra, será determinada pela distribuição;
25m
5) COMPETÊNCIA INTERNA OU DE JUIZ: a competência será determinada pela
distribuição.

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Jurisdição e Competência III
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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA III

COMPETÊNCIA

A doutrina pátria, tradicionalmente, tem dividido a competência em quatro espé-


cies, a saber:
I – RATIONE MATERIAE: nos termos do art. 69, inciso III, do CPP, é aquela fixada em
razão da natureza da infração penal praticada, como ocorre, por exemplo, no caso da com-
petência do Tribunal do Júri para processar e julgar os crimes dolosos contra a vida;
II – RATIONE FUNCIONAE OU PERSONAE (FORO POR PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO): nos termos do art. 69, inciso VII, do CPP, determinadas pessoas, em razão das
funções por elas desempenhadas, serão processadas e julgadas originalmente por tribunais,
como ocorre, por exemplo, com o Presidente da República, que será processado e julgado,
no caso de infração penal comum, pelo Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 102,
inciso I, alínea “b”, CF/88.

Obs.: I e II são competência absolutas.

III – RATIONE LOCI: nos termos do art. 69, inciso I e II, do CPP, a competência “ratione
loci” é determinada em razão de critérios territoriais, isto é, objetiva identificar o juízo terri-
torialmente competente (foro competente). Tem por parâmetros o local da consumação do
delito (regra geral), além do domicílio ou residência do réu.

Obs.: A III é uma competência relativa.

Falando sobre a razão da matéria, é sabido que há a Justiça Especial e a Justiça Comum.
Dentro da Justiça Especializada há a eleitoral, a militar e a trabalhista, mas a trabalhista
não possui competência criminal. Dentro da Justiça Comum há a federal e a estadual.

Obs.: A militar não será estudada porque nunca apareceu em prova da OAB. Será privile-
giado o estudo da diferença entre federal e estadual, porque é o que mais aparece
em prova da OAB.
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Jurisdição e Competência III
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COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA

Competência da Justiça Eleitoral

Crimes eleitorais (Lei das Eleições n. 9.504/1997 e Código Eleitoral – lei n. 4.737/1965).
Julgar os crimes eleitorais e os crimes conexos aos crimes eleitorais, mesmo que os
crimes conexos sejam mais graves que os crimes eleitorais.

Obs.: Mesmo que o crime conexo seja mais grave, ele vai para a Justiça Eleitoral.
- Observação 1: Informativo 895 do STF: Competência justiça eleitoral crime
de “caixa 2”. Competência para julgar caixa 2 conexo com corrupção passiva e
lavagem de dinheiro. A doação eleitoral por meio de “caixa 2” é uma conduta que
configura crime eleitoral de falsidade ideológica (art. 350 do Código Eleitoral).
A competência para processar e julgar este delito é da Justiça Eleitoral. A exis-
tência de crimes conexos de competência da Justiça Comum, como corrupção
passiva e lavagem de capitais, não afasta a competência da Justiça Eleitoral, por
força do art. 35, II, do CE e do art. 78, IV, do CPP. STF. 2ª Turma. PET 7.319/DF,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/3/2018.
5m

Obs.: Tem-se, então, um crime eleitoral, que é o crime de Caixa 2, e crimes comuns como
a corrupção passiva, e lavagem de dinheiro. É um crime eleitoral conexo com outros
crimes. Tudo será julgado na Justiça Eleitoral.
- Observação 2: No caso de crime eleitoral conexo com crime doloso contra a
vida, haverá a separação dos processos, já que tanto a Justiça Eleitoral quanto o
Tribunal do Júri possuem precisão na CF e ambos possuem força atrativa. Assim,
o crime eleitoral será julgado pela Justiça Eleitoral e o crime doloso contra a vida
será julgado pelo Tribunal do Júri.

Obs.: O crime eleitoral está na Constituição Federal e o crime doloso também. Em razão
disso, não é possível fazer com que um atraia o outro, porque os dois possuem força
atrativa suficiente. Tem-se, nesse caso, a separação obrigatória dos processos.
- Observação 3: caso tenha um crime eleitoral conexo com crime de competência
da Justiça Federal, ambos serão julgados pela Justiça Eleitoral, diante da previ-
são do art. 109, IV, da CF:
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Obs.: É o mesmo que acontece na observação 1. Para saber se é da justiça comum fede-
ral, deve-se encaixar a situação em uma das previsões do art. 109.

Art. 109, IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as con-
travenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Obs.: Quando há Justiça Eleitoral, a Justiça Federal não irá julgar. Portanto, se há um cri-
me eleitoral conexo com crime da Justiça Federal, tudo é julgado na Justiça Eleitoral.

Informativo 555 do STJ


Direito Penal e Processual Penal. Competência para processar e julgar crime caracterizado pela
destruição de título de eleitor. Compete à Justiça Federal - e não à Justiça Eleitoral - proces-
sar e julgar o crime caracterizado pela destruição de título eleitoral de terceiro, quando não
houver qualquer vinculação com pleitos eleitorais e o intuito for, tão somente, impedir a
identificação pessoal. A simples existência, no Código Eleitoral, de descrição formal de conduta
típica não se traduz, incontinenti, em crime eleitoral, sendo necessário, também, que se configure
o conteúdo material do crime. Sob o aspecto material, deve a conduta atentar contra a liberdade de
exercício dos direitos políticos, vulnerando a regularidade do processo eleitoral e a legitimidade da
vontade popular. Ou seja, a par da existência do tipo penal eleitoral específico, faz-se necessária,
para sua configuração, a existência de violação do bem jurídico que a norma visa tutelar, intrinse-
camente ligado aos valores referentes à liberdade do exercício do voto, à regularidade do processo
eleitoral e à preservação do modelo democrático. Dessa forma, a despeito da existência da descri-
ção típica formal no Código Eleitoral (art. 339: “Destruir, suprimir ou ocultar urna contendo votos,
ou documentos relativos à eleição”), não há como minimizar o conteúdo dos crimes eleitorais sob
o aspecto material. CC 127.101-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/2/2015, DJe
20/2/2015.

Obs.: A intenção de destruir o título eleitoral era impedir que a pessoa se identificasse. A in-
tenção não era impedir a pessoa de votar. Em razão disso, o STJ decidiu que o caso
da súmula acima deveria ser julgado pela Justiça Federal e não pela Justiça Eleitoral.
10m
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Jurisdição e Competência III
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Competência da Justiça Comum

Para se enquadrar na Justiça Comum Federal é preciso encaixar a situação no art.


109, da CF.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas
na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domici-
liada ou residente no País;
III – as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou inte-
resse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contraven-
ções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
V – A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela
Emenda Constitucional n. 45, de 2004)
VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o siste-
ma financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII – os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento
provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII – os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados
os casos de competência dos tribunais federais;
IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justi-
ça Militar;
X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória,
após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacio-
nalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
XI – a disputa sobre direitos indígenas.

Análise do art. 109, da CF:

• Crimes políticos (art. 109, IV, CF/1988): São crimes contra a segurança nacional e a
ordem política e social.

Obs.: Na prova deve estar expresso que se está diante de um crime político.
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Jurisdição e Competência III
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• Crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, suas


entidades autárquicas e empresas públicas (art. 109, IV, CF/1988).

Obs.: Uma das ressalvas do inciso IV é a ressalva da competência da Justiça Militar e


Eleitoral.

Observação 1: Exclui-se da competência da Justiça Federal o processamento e julga-


mento das contravenções penais;

Obs.: A contravenção penal será, sempre, de competência do Juizado Especial Criminal


Estadual, aplicando-se, então, a Lei n. 9.099, em que dispõe que essa lei é compe-
tente para as infrações de menor potencial ofensivo, envolvendo, portanto, as con-
travenções penais e os crimes cuja pena máxima não seja superior a dois anos.

Observação 2: Exclui-se da competência da Justiça Federal o processamento e julga-


mento das infrações penais de alçada da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Observação 3: Está excluída, ainda, a apreciação dos crimes em detrimento de socieda-
des de economia mista (súmula 42 do STJ);

Obs.: É em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, autarquias e empresas


públicas. Quando diz respeito a sociedades de economia mista, não é a Justiça Co-
mum Federal, mas a Justiça Comum Estadual.

“Firmou-se o entendimento nesta Corte Superior de Justiça que, nos casos de delitos praticados
em detrimento da Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos-EBCT, a competência será esta-
dual quando o crime for perpetrado contra agência franqueada e houver ocasionado efetivo
prejuízo unicamente a bens jurídicos privados. Por outro lado, incidirá o art. 109, IV, da
Constituição Federal, nos casos em que a ofensa for direta à EBCT, ou seja, ao serviço-fim
dos correios, os serviços postais, atraindo, pois, a competência federal.” (CC 155. 448/MG,
j. 22/02/2018).
15m

Obs.: Supondo que o crime foi praticado dentro da agência do Correios, mas foi contra um
particular que estava dentro dela, não irá atrair a competência da Justiça Federal,
porque foi em detrimento de um patrimônio privado. No entanto, se a finalidade do
crime foi atingir o próprio serviço dos Correios, então a Justiça Federal atrai o julga-
mento desse caso.
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Obs.: O mais importante são as súmulas, porque muitas vezes, quando a FGV cobrou o
tema de competências, ela cobra algo mais concreto, devido a isso, ela cobra mais
algo que já esteja sumulado e que não haja possibilidade de recurso.

Súmula 122 do STJ: pouco importa saber qual é o crime mais grave ou qual a quantidade de
crimes estaduais, se houver crime(s) federal(is) envolvido, haverá a atração da competência ao
Juízo Federal.

Quando se tem uma Justiça Especializada, como a Justiça Eleitoral, ela atrai as demais.
Quando se têm crimes conexos, em que se tem crimes que seriam da competência da Jus-
tiça Federal, com crimes que seriam da competência da Justiça Estadual, então haverá a
atração para a Justiça Federal.

Súmula 147 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função”.

O crime praticado por funcionário público federal no exercício da função ou em razão dela
atrai a competência da Justiça Federal. Todavia, é necessária a existência de dano a bens,
serviços ou interesses da União, do contrário, a competência será estadual.
Exemplo: Supondo que um crime foi praticado contra um funcionário público federal, do
TRF. Como foi em detrimento de um serviço da União, que era o que o funcionário público
estava prestando, então compete à Justiça Federal julgar o caso.

Súmula 165 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho
cometido no processo trabalhista.”
20m

Muito embora a súmula seja expressa em relação ao crime de falso testemunho, o mesmo
entendimento pode ser utilizado para qualquer crime que ocorra no bojo de um processo
trabalhista.

Crime praticado por prefeito municipal envolvendo verbas oriundas da União:

Súmula 208: “Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba
sujeita a prestação de contas perante órgão federal”.

Súmula 209: “Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transfe-
rida e incorporada ao patrimônio municipal”.
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Jurisdição e Competência III
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Tudo incumbe à interpretação do art. 109, IV. Se atinge bem, interesse ou serviço da
União, autarquia ou empresa pública, será julgado na Justiça Federal.
Na súmula 209 a verba é patrimônio do município, portanto não é bem, interesse ou
serviço da União, autarquia ou empresa pública, portanto, nesse caso, irá competir à Jus-
tiça Estadual.

• Crimes previstos em tratados e convenções internacionais, quando iniciada a


execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente (art. 109, V, CF/1988): Para que estes crimes sejam processados e
julgados pela Justiça Federal é imprescindível que transcendam a fronteira de dois ou
mais Estados Nacionais, ou seja, é necessário seu caráter internacional.

Exemplo do crime de tráfico de drogas (art. 70, da Lei de Drogas). Esse crime, e os
demais crimes da Lei de Drogas, será da competência da Justiça Estadual quando for um
tráfico de drogas local ou interestadual.
Ele será de competência da Justiça Federal quando houver a transnacionalidade. Mesmo
que a droga não tenha transcendido a fronteira, sendo a intenção de enviar a droga para fora
do Brasil já caracteriza a transnacionalidade, para fins de competência da Justiça Federal.
25m

Súmula n. 528 do STJ: “Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do
exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional”.

Portanto, quanto o tráfico internacional é competência do juiz federal do local em que a


droga foi apreendida.

Informativo 805 do STF: Pedofilia e competência. Compete à Justiça Federal processar e julgar
os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou
adolescente (ECA, artigos 241, 241-A e 241-B), quando praticados por meio da rede mundial
de computadores. (RE 628624/ MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson
Fachin, 28 e 29.10.2015. (RE-628624).
Compete à Justiça Estadual nos casos em que o crime é praticado por meio de troca de informa-
ções privadas, como nas conversas via whatsapp ou por meio de chat na rede social facebook.
(CC 150.564-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, por unanimidade, julgado em 26/4/2017,
DJe 2/5/2017).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Jurisdição e Competência III
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Se a troca do material pornográfico foi privado, por mensagens privadas, então não possui
caráter internacional, portanto, compete à Justiça Estadual.
Para ter caráter internacional deve alcançar pessoas de fora do Brasil.
30m

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Jurisdição e Competência IV
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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA IV

• Causas relativas a graves violações a direitos humanos (art. 109, V-A, CF/1988):

Para garantir esta competência material da Justiça Federal, a CF previu em seu art. 109,
§ 5º um incidente processual de deslocamento de competência, suscitado pelo Procurador
Geral da República perante o STJ, em qualquer fase da persecução penal. Assim, ainda que
o processo tenha se iniciado na Justiça Estadual, pode o PGR pugnar pelo deslocamento
da competência para a Justiça Federal. Trata-se da federalização dos crimes contra os direi-
tos humanos.
Portanto, é possível ter um caso na Justiça Comum Estadual, mas por ser um caso de
grande repercussão que envolve violação de direitos humanos, entende-se que a Justiça
Estadual não terá estrutura suficiente para tramitar aquele processo. Com isso, ocorre o inci-
dente de deslocamento de competência.

Segundo o STJ, para que seja aplicado o referido artigo, é imprescindível:


- que haja um crime que atente violentamente contra um direito humano previsto
em tratado ou convenção de que o Brasil seja parte;
- que seja demonstrada a inefetividade ou impotência do Juízo estadual em pro-
cessar e julgar o feito.

Exemplos:
https://www.conjur.com.br/2020-mar-15/federalizacao-exige-prova-incapacidade autori-
dades-locais
No artigo, presente no link acima, o autor apresenta exemplos de deslocamento de com-
petência que já ocorreram no Brasil.

• Crimes contra a organização do trabalho (art.109,VI,CF/1988): Serão julgados


pela Justiça Federal se houver ofensa à coletividade de trabalhadores. Se, todavia, o
empregador viola direito individual, impõe-se a competência da Justiça Estadual.

Se for um empregador individual, então não vai à Justiça Federal.


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Jurisdição e Competência IV
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• Crimes contra o sistema financeiro ou contra a ordem econômico-financeira,


nos casos determinados por lei (art. 109, VI, CF/1988): é imprescindível que a lei
ordinária disciplinadora da infração penal preveja a competência do Juízo Federal. No
caso dos crimes contra o sistema financeiro nacional, a matéria foi disciplinada pela
Lei n. 7.492/1986, art. 26. No que se refere aos crimes contra a ordem econômico-fi-
nanceira, todavia, à míngua de regulamentação expressa da matéria, entende-se pela
competência da Justiça Federal, apenas, quando os crimes forem praticados em detri-
mento de bens serviços ou interesses da União.
• Compete à Justiça Federal julgar o habeas corpus e mandado de segurança em maté-
ria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade
cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição (art. 109, VII, CF/1988).

Se a autoridade coatora era alguém da seara da União, um órgão da União, um órgão de


uma autarquia, de uma empresa pública, a autoridade coatora está vinculada a esses órgãos
mencionados no inciso IV, então, o HC e o mandado de segurança serão julgados pela Jus-
tiça Federal.
5m

• Crimes cometidos a bordo de aeronaves ou de navios, ressalvada a competência da


Justiça Militar (art. 109, IX, CF/1988).
• Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro (art.109, X, CF/1988).
• Disputas sobre direitos indígenas (art. 109, XI, CF/1988): As demandas criminais
que versem sobre direitos indígenas só serão apreciadas pela Justiça Federal em
havendo afetação da coletividade indígena.

Súmula n. 140 do STJ: “Compete à justiça comum estadual processar e julgar crime em que o
indígena figure como autor ou vítima”.

Se o caso atinge o direito individual do indígena, sem atingir a coletividade, então o caso
fica na Justiça Comum Estadual. Se afetar uma comunidade, uma coletividade, então vai
para a Justiça Federal.
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Observações:

Súmula Vinculante n. 36: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado
pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Ca-
derneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que
expedidas pela Marinha do Brasil.

Como é um documento expedido pela Marinha do Brasil, entende, o STF, que a compe-
tência é da Justiça Federal. A Marinha, o Exército e a Aeronáutica são Forças Armadas vin-
culadas à União.

Súmula 151 do STJ: “A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou
descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.”

O juiz competente será o juiz da Justiça Federal que atua naquela circunscrição em que
os bens foram apreendidos.
A Lei n. 13.260/2016, regulamentando o inciso XLIII do art. 5º da CF, disciplinando o
terrorismo, prevê em seu art. 11 que os crimes nela disciplinados “são praticados contra o
interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito
policial, e à Justiça Federal o seu processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do
art. 109 da Constituição Federal”.

Obs.: Se no enunciado da questão aparecer as palavras contrabando, descaminho e terro-


rismo, deve-se associá-las à Justiça Federal.

Competência da Justiça Comum estadual

Se não é o caso da Justiça Especializada, então é da Justiça Comum. Se a situação não


se encaixa em nenhuma previsão do art. 109 é porque ficará na última possibilidade, que é o
residual, a Justiça Comum Estadual.
10m

Três súmulas com alta incidência em prova:

Súmula 522 do STF: “Salvo ocorrência de tráfico com o exterior, quando, então, a com-
petência será da Justiça Federal, compete a justiça dos Estados o processo e o julgamento
dos crimes relativos a entorpecentes”.
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Exemplo do crime de tráfico de drogas. Se o tráfico de drogas for local ou interestadual,


então, é da Justiça Comum Estadual. Se o tráfico de drogas envolve o exterior, então, é da
Justiça Federal.

Súmula 104 do STJ: “Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsifi-
cação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino”.

Se não está no art. 109, IV, fica na Justiça Comum Estadual.

Súmula 38 do STJ: “Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da CF/1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União
ou de suas entidades”.

No art. 109, IV, dispõe o seguinte: “(...) salvo contravenções penais”. Se agrega, então,
com a súmula 38, porque independentemente de qual seja a contravenção penal, vai para o
Juizado Especial Criminal Estadual, aplicando-se a Lei n. 9.099.
Há exceções como uma contravenção penal vinculada à Lei Maria da Penha, que, nesse
caso, fica na Vara de Violência Doméstica Contra a Mulher.

COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA PESSOA

Foro por Prerrogativa de Função:


15m

Em razão das funções públicas exercidas por determinados agentes, o ordenamento lhes
confere a prerrogativa de serem julgados, originariamente, por um Tribunal, o que é deno-
minado de foro por prerrogativa de função ou competência “ratione personae” ou “ratione
funcionae”. É dizer: o processo criminal já “nasce” perante um Tribunal, não se sujeitando ao
crivo de um órgão judiciário de 1ª instância.

Obs.: Isso é chamado de competência originária no Tribunal.


Obs.: Se um autônomo, por exemplo, assalta uma pessoa, esse caso, então, é da Justiça
Comum Estadual e começa no 1º grau. Quando a pessoa que comete o crime tem
o foro por prerrogativa de função, o processo não começa no 1º grau, ele já começa
no Tribunal.
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O foro por prerrogativa de função somente deve ser instituído em razão do cargo exer-
cido e não da pessoa que o exerce.
O foro por prerrogativa de função também é chamado de foro privilegiado. Tecnicamente,
não é adequado falar em foro privilegiado, pois se transmite a ideia de um privilégio pessoal,
o que é incompatível com o regime republicano.

Obs.: Portanto, a nomenclatura “foro por prerrogativa de função” é mais adequada que
“foro privilegiado”.

Teve-se, em 2018, o julgado importante, em matéria de foro por prerrogativa de função,


porque foi feita uma interpretação restritiva da utilização deste foro.

Regra da contemporaneidade:

A infração penal somente será julgada pelo Tribunal respectivo se for praticada durante o
exercício do cargo (após a diplomação ou investidura no cargo, conforme 0 caso) (STF.
Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018).
20m
Se a infração penal for cometida antes do início do exercício do cargo, não há falar em
foro por prerrogativa de função. É dizer: ainda que a diplomação/investidura se dê durante
o processo criminal ainda não findado, este não será deslocado ao foro por prerrogativa de
função, porquanto o fato não foi praticado durante o exercício do cargo.

Obs.: Para ter o processo no foro, a infração foi praticada de forma contemporânea, ou
seja, durante o exercício da função.

A jurisprudência dos Tribunais Superiores passou a exigir que, para ser julgada pelo Tri-
bunal respectivo, a infração penal cometida deve guardar relação com as funções ine-
rentes ao cargo dotado de foro por prerrogativa de função. (STF. Plenário. AP 937 QO/
RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018).
Nesse contexto, se um Deputado Federal, após a sua diplomação, cometer uma lesão
corporal leve em desfavor de sua companheira, fato este totalmente estranho ao exercício
de seu mandato, será julgado pela Justiça Comum Estadual, já que a infração penal por ele
cometida não guarda relação com o exercício funcional.
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Obs.: Em regra, ele possui foro no STF, mas o crime praticado não guarda relação com a
função dele, portanto, o crime praticado será julgado no 1º grau.

Obs.: No quadro está mencionado “deputado” porque é o exemplo do deputado federal


visto acima.

A fim de evitar que o titular do cargo, buscando, por exemplo, uma eventual prescrição,
voluntariamente se afastasse do cargo para que o processo fosse remetido à 1º instância
às vésperas de ser julgado pelo Tribunal, o STF assentou que “após o final da instrução
processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alega-
ções finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada
em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo” (STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 03/05/2018).

Obs.: Geralmente, as autoridades com foro faziam o seguinte: quando chegava o tempo de
julgar, eles renunciavam o cargo, e, com isso, o STF mandava o processo para o juiz
de 1ª instância. Era uma tentativa de estender, ainda mais, o processo.
25m

Para tentar evitar isso, o STF fixou, nesse entendimento, que a partir de determinado
momento processual não há como mudar a competência. A publicação do despacho de inti-
mação fixa a perpetuação da competência do STF.
Não há foro por prerrogativa de função para ex-autoridades públicas, ou seja, não
há foro por prerrogativa de função para quem não mais exerce a função pública, mesmo
que tenha praticado a conduta quando ainda estava no exercício da função pública. No
entanto, conforme o entendimento do STF, se ficar demonstrado que o agente renun-

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ciou ao cargo para evitar que seja processado, não haverá modificação da competên-
cia com esta renúncia, a fim de evitar que o agente se locuplete da própria torpeza.
Nesse sentido, o STF, no julgamento da AP 937/RJ, definiu o momento a partir do qual
a renúncia à função pública não surtiria efeitos para fins de modificação de competência.
Assim, consoante o entendimento do STF, se termina o mandato do agente, por renúncia ou
qualquer outra razão, antes de se encerrar a instrução, haverá a modificação da competência.

Exceção analisada pelo STJ:

Interpretando tal dispositivo constitucional, assentou o STJ que, ainda que a infração
penal não guarde relação com o exercício do cargo de Desembargador, compete-lhe julgar
tal fato, porquanto o instituto do foro por prerrogativa de função não visa somente o regular
desempenho do cargo, mas, também, tem por objetivo mitigar a influência do réu sobre o
julgador, mantendo-se a credibilidade da justiça criminal (QO na APn 878/DF, Rel. Ministro
BENEDITO GONÇALVES, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/11/2018, DJe 19/12/2018).
Nesse sentido, caso um Desembargador cometa o crime de embriaguez ao volante, fato
este que em nada se relacionada com o cargo, competirá ao STJ processar e julgá-lo, por-
quanto não se mostra crível, na visão do próprio STJ, que um juiz de 1ª instância julgue um
Desembargador, porquanto não reuniria as condições necessárias ao desempenho de suas
atividades judicantes de forma imparcial.

Obs.: Na CF há os casos de foro, mas, também, existem as Constituições Estaduais. As


Constituições Estaduais podem oferecer foro para determinadas autoridades estadu-
ais, desde que haja o elemento simetria. A autoridade deve estar mencionada na CF,
e essa mesma autoridade também deve existir na esfera do estado.

Se não houver a simetria, então a Constituição Estadual não pode prever foro por prer-
rogativa de função.

Impossibilidade de concessão de foro por prerrogativa de função

Com o viés de restringir o instituto do foro por prerrogativa de função, assentou o STF que
“é inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerroga-
tiva de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da
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ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia” (STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min.
Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019; grifos nossos).
Necessidade de simetria.

Obs.: Não é possível porque na CF não há defensor público da União com o foro, para
que se possa ter nos defensores públicos estaduais, assim acontece, também, para
o delegado de Polícia Federal, portanto, não há simetria. Nenhuma das autoridades
acima está mencionada na CF.
30m

Súmula Vinculante 45 do STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre


o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual.

Exemplo:
Se o foro por prerrogativa de função estiver previsto exclusivamente na Constituição
Estadual, como ocorre, por exemplo, com os Secretários de Estado, caso estes cometam
crimes dolosos contra a vida, deverão ser julgados pelo Tribunal do Júri e não pelo Tribunal
indicado pela Constituição Estadual. E dizer: estando a regra do Tribunal do Júri inserta na
Constituição Federal (art. 5º, inciso XXXVIII, alínea “d”), esta não pode ser afastada por uma
norma prevista apenas na Constituição Estadual.
Se há uma autoridade praticando crime doloso contra a vida, só que essa autoridade
possui foro por prerrogativa de função na CF, prevalece o foro. Se no caso dessa autoridade
possuir foro por prerrogativa de função na Constituição Estadual, sendo que a figura do Tri-
bunal do Júri está prevista na Constituição Federal, a competência que prevalece é do Tribu-
nal do Júri.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Lorena Alves.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA V

RELEMBRANDO
As regras de fixação do foro privilegiado por prerrogativa de função, constam no art. 102 e
105 da CF/88, que tratam a respeito das competências do STF, STJ, TRF ou TRE, TJ, TJ,
TRF ou TRE.

Obs.: Por simetria, ao Ministro de Estado, o Secretário de Estado possui foro privilegiado
naquele determinado estado, basta estar previsto na Constituição Estadual.
Obs.: Os juízes de direito que residam em Brasília serão julgados pelos desembargado-
res do TJDFT.
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Obs.: Com relação aos prefeitos, vide súmulas 208 (verba pública da União, julgamento
pelo TRF) e 209 (verba pública incorporada ao município, julgamento pelo TJ), pois é
necessário verificar se o crime cometido é de competência da Justiça Federal ou Es-
tadual. Sendo julgado por um crime na Justiça Federal será no TRF. Se for um crime,
por exemplo, de desvio de verba municipal (súmula 209), o mesmo será julgado no
Tribunal de Justiça de 2º Grau. Se o crime que o prefeito praticou for eleitoral, será
julgado pelo TRE.

ATENÇÃO
Quando o prefeito, no entanto, cometer crime em detrimento de bem ou interesse da União,
a competência para seu julgamento é do Tribunal Regional Federal, nos termos da Súmula
702 do STF.
Deve-se observar que os vereadores não possuem foro por prerrogativa de função, deven-
do ser julgados perante o Juiz de 1º Instância. Quanto aos deputados estaduais, embora
a Constituição Federal não lhes garanta a prerrogativa, as Constituições Estaduais podem
fazê-lo. É o que ocorre no Estado de São Paulo, em que os deputados devem ser julgados
perante o Tribunal de Justiça.
5m

COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR DA INFRAÇÃO – TERRITORIAL

Esta é a única modalidade de competência cuja inobservância dará ensejo a uma nuli-
dade de caráter relativo. É importante salientar que, se a incompetência relativa não for
suscitada oportunamente, ocorre a perpetuatio jurisdictionis. Perpetuatio jurisdictionis, lite-
ralmente, significa perpetuação da jurisdição. No entanto, traduzindo de uma forma mais
adequada, falaremos em prorrogação de competência. Isto significa que o juízo que não era
originalmente competente passa a ser o juízo competente, se a incompetência territorial não
for suscitada oportunamente, que no caso, é o momento da resposta à acusação.

Obs.: A competência territorial, em regra, é fixada pelo lugar em que se consumou a infra-
ção ou o último ato de tentativa dessa infração. Por exemplo: um roubo foi praticado
e consumado no centro de Brasília, pela competência territorial, circunscrição judici-
ária de Brasília vinculada ao TJDFT, vai ser uma das varas criminais de Brasília. Mas
suponha-se que, por um erro de distribuição, o processo foi para Sobradinho e não
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para Brasília, e que não foi alegado o erro em exceção de incompetência. Contudo,
na instrução o erro foi descoberto, neste caso já precluiu, ou seja, se a competência
territorial não for alegada a mesma se perpetua.
Obs.: A palavra oportunamente, nos termos do art. 396 A, quando se está no viés defensivo,
prevê que as exceções devem ser alegadas no momento da resposta à acusação. E
no art. 95 têm-se os rol das exceções, dentre elas, a exceção de incompetência.

Esta incompetência territorial é suscitada por exceção de incompetência, em uma peça


apartada, no prazo da resposta à acusação. Passado este prazo, caso a incompetência não
seja suscitada, o juízo que era, originalmente, territorialmente incompetente, passa a ser o
juízo territorialmente competente. Destarte, o entendimento majoritário no processo penal é
no sentido de que o juiz poderá conhecer de ofício a incompetência territorial, diferentemente
do que ocorre no âmbito do processo civil. No entanto, ISTO É AINDA UM TEMA POLÊMICO.

Teorias:

Obs.: Tais teorias são do âmbito do CPP, pois são competências para processar e julgar,
competência territorial em razão do lugar da infração.
10m

a. Teoria da atividade: é competente o local da ação ou omissão criminosa, pouco impor-


tando o local do resultado. Está prevista no art. 63, da Lei n. 9099/95.

Obs.: Juizado Especial Criminal que são infrações de menor potencial ofensivo.

b. Teoria do resultado: é territorialmente competente o local do resultado do crime,


pouco importando o local onde ocorreu a ação ou omissão. Está prevista no art. 70, do
Código de Processo Penal.

Obs.: Em regra é a teoria adotada, conforme art. 70.

c. Teoria da ubiquidade: é competente tanto o local da ação ou omissão como o local


do resultado. Está prevista no art. 6º do Código Penal.
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Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou,
no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
§ 1º Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência
será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
§ 2º Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente
o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
resultado.
§ 3º Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição
por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a compe-
tência firmar-se-á pela prevenção.

A regra da teoria do resultado adotada no art. 70 comporta exceções.


A Lei n. 9.099/95, em seu artigo 63, adotou a teoria da atividade, ao estabelecer como
competente o local da prática da infração. A mesma teoria foi adotada pelo Código de Pro-
cesso Penal Militar no art. 88.
No caso de crimes contra a vida, a jurisprudência tem adotado a chamada teoria do
esboço do resultado. Assim, no caso dos crimes plurilocais, a competência não será deter-
minada pelo local da consumação delitiva, mas, sim, pelo lugar em que a conduta foi perpe-
trada, isto é, onde se deu a ação ou omissão. O processo e julgamento do fato perante o foro
do local da conduta melhor atende à busca da verdade real, porquanto otimiza a produção
de provas.

Obs.: Por exemplo: João, que reside na cidade A, desferiu vários golpes de facadas em
José. O crime foi cometido no meio da rua, houveram várias testemunhas, filmagens
do local e a família dos dois reside ali. Contudo, pela precariedade no atendimento
hospitalar da cidade A, José foi removido para a cidade B e veio a falecer na mesma.
Adotando o art. 70, ou seja, a teoria do resultado como regra, o juízo competente
para julgamento é o da cidade B, pois foi onde consumou-se o homicídio. Contudo
a cidade B é muito distante da cidade A, e na cidade A consegue-se um melhor co-
lhimento de provas (por causa da filmagem e das testemunhas), neste caso, por ser
um crime plurilocal, a jurisprudência e a doutrina permitem que seja adotada a teoria
da atividade (lugar onde ocorreu a infração).
15m
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Crimes à distância são aqueles que têm a sua execução iniciada em um determinado
país e a sua consumação em outro, sendo a eles aplicáveis as normativas trazidas pelos
§§1º e 2º, do art. 70, do CPP.
De acordo com o art. 70, §1º, do CPP, se, iniciada a execução no território nacional, a
infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver
sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. Conforme art. 70, §2º, do CPP, quando
o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do
lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
De acordo com o art. 70, §3º, do CPP, quando incerto o limite territorial entre duas ou
mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada
nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Obs.: A prevenção é um critério secundário, pois não foi possível resolver a competência
territorial pela regra clássica da teoria do resultado, porque neste caso, não se tem
conhecimento de onde foi o resultado (incerto o limite territorial). Por exemplo: crime
que foi praticado no meio de uma fazenda que faz divisa com duas cidades, não se
sabendo ao certo em qual cidade foi.

Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou


mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Por exemplo: crime de sequestro. O autor levou a vítima para vários cativeiros em cidades
distintas e acabou preso na cidade B. Contudo, o juiz da cidade B já havia atuado naquele
caso, deferindo uma medida com reserva de jurisdição que foi pedida pelo delegado. Por
este motivo, o primeiro juiz que atuar, novamente pela prevenção, vai julgar todas as infra-
ções continuadas ou julgar todas as infrações permanentes.
20m

Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou
residência do réu.

Por exemplo: tem-se o conhecimento de um homicídio, mas não se sabe ao certo onde
este homicídio foi praticado. A polícia conseguiu elucidar a questão por meio de provas que
foram obtidas, descobriu quem foi o autor, achou o corpo da vítima, mas não se sabe onde
tal crime foi praticado e consumado. Por este motivo a competência é pelo domicílio do réu.
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§ 1º Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção.


§ 2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que
primeiro tomar conhecimento do fato.

Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou
da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

Por exemplo: crimes contra a honra. O crime foi praticado e consumado em Brasília
(lugar da infração), contudo o réu mora em Goiânia e a vítima em Anápolis. Nos casos de
exclusiva ação privada, o querelante (vítima que vai oferecer a queixa crime) poderá preferir
o foro de domicílio ou residência do réu (querelado), ainda que conhecido o lugar da infração.
Nos termos do art. 71 do CPP, tratando-se de infração continuada ou permanente, pra-
ticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
De acordo com o art. 72, caput, do CPP, não sendo conhecido o lugar da infração, a com-
petência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu, o que é chamado pela doutrina de
foro supletivo ou subsidiário.
Todavia, se o réu possuir mais de um domicílio ou residência, a competência é deter-
minada pela prevenção, isto é, nos termos do art. 83 do CPP, será competente o juízo que
tiver se antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este rela-
tiva, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa.
Dispõe o art. 73 do CPP que, nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá
preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da
infração, o que é denominado pela doutrina de foro por eleição no processo penal.
25m

Obs.: No art. 72 tem-se o foro supletivo e no art. 73 foro por eleição.


Obs.: O art. 73 é exclusivo para ação penal privada, não serve para ação penal pública. A
ação penal privada divide-se em três: ação penal privada propriamente dita/exclusi-
va, personalíssima e a subsidiária da pública. O art. 73 se aplica apenas na exclusiva
e não na subsidiária da pública.

O primeiro cuidado atinente ao art. 73 do CPP diz respeito à sua inaplicabilidade em


relação à ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública. Outro detalhe impor-
tante está atrelado ao fato de que o foro de eleição se aplica independentemente de ser
conhecido o lugar da infração. É dizer: ainda que seja conhecido o lugar da infração, o que-
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relante poderá optar pelo foro de domicílio ou residência do réu. Por fim, convém relembrar
que o querelante (vítima) somente poderá optar pelo foro de domicílio ou residência do réu e
não pelo foro de seu próprio domicílio ou residência.

Lugar da Infração

Art. 70.
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente pro-
visão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de
valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de
vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção. (Incluído pela Lei n. 14.155, de 2021)

Obs.: O artigo acima, supra mencionado, refere-se ao estelionato.

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Jurisdição e Competência VI
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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA VI

LUGAR DA INFRAÇÃO

O art. 70, parágrafo 4º, se aplica a algumas hipóteses do crime de estelionato – inclu-
sive, não se aplica a competência da teoria do resultado, mas a regra do domicílio da vítima.
Veja abaixo:

Art. 70.
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente pro-
visão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de
valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de
vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção. (Incluído pela Lei n. 14.155, de 2021)

Na prova, pode vir uma situação hipotética de crime de estelionato, informando o autor do
crime, a vítima, citará expressamente a localidade onde o crime foi praticado, onde a vítima
morava e diversos outros detalhes e, além de tudo isso, vier especificado que o crime se deu
mediante depósito ou transferência bancária realizada pela vítima, basta procurar a alterna-
tiva que se refira ao domicílio da vítima.

Comentário do § 4º:

O estelionato, previsto no art. 171, do CP, é um crime por meio do qual o agente, utili-
zando um meio fraudulento, engana a vítima, fazendo com que ela entregue espontanea-
mente uma vantagem, causando prejuízo à vítima.
Em algumas vezes, pode acontecer de a vantagem ilícita ocorrer em um local e o prejuízo
em outro. Tais situações poderão gerar algumas dúvidas relacionadas com a competência
territorial para processar e julgar esse crime.
A alteração é muito bem-vinda, porque anteriormente havia uma imensa insegurança
jurídica diante da existência de regras distintas para situações muito parecidas, além da uma
intensa oscilação jurisprudencial.
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Vejamos algumas situações de estelionato:

1) Estelionato praticado por meio de cheque falso (art. 171, caput, do CP; não está
abarcada pelo art. 70)

João, domiciliado no Rio de Janeiro (RJ), achou um cheque em branco. Ele foi, então, até
Juiz de Fora (MG) e lá comprou inúmeras roupas de marca em uma loja da cidade. As mer-
cadorias foram pagas com o cheque que ele encontrou, tendo João falsificado a assinatura.
5m
Do juízo da comarca de Juiz de Fora (MG), local da obtenção da vantagem indevida.
Súmula n. 48 do STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita proces-
sar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
Não se aplica o § 4º do art. 70 do CPP. Se você ler o § 4º verá que ele não trata da hipó-
tese de estelionato praticado por meio de cheque falso. Logo, esse dispositivo não incide no
presente caso.
A regra a ser aplicada, portanto, é a do caput do art. 70:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou,
no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

2) Estelionato praticado por meio de cheque sem fundo (art. 171, § 2º, VI, do CP)

João, domiciliado em Brasília, foi passar o fim de semana em Goiânia e comprou diversos
produtos em uma loja emitindo um cheque sabendo que em sua conta bancária não havia
saldo suficiente para pagamento. Ele achava que não seria responsabilizado.
A competência para julgamento será do LOCAL DO DOMICÍLIO DA VÍTIMA, ou seja, do
juízo de GOIÂNIA!
Com a entrada do art. 70, parágrafo 4º, as Súmulas n. 244 do STJ e 521 do STF estão
SUPERADAS:
Súmula n. 244 do STJ: Compete ao foro do local da RECUSA processar e julgar o crime
de estelionato mediante cheque sem provisão de FUNDOS.
Súmula n. 521 do STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de FUNDOS, é o
do local onde se deu a RECUSA do pagamento pelo sacado.
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 Obs.: essas súmulas não foram formalmente canceladas e podem ser encontradas no site
do STF, mas não são mais usadas, pois foram superadas.

3) Estelionato mediante depósito ou transferência de valores

Carlos, morador de Goiânia (GO), viu um anúncio na internet que oferecia empréstimo
“rápido e fácil”. Ele entrou em contato com a pessoa, que se identificou como Henrique.
Carlos combinou de receber um empréstimo de R$ 70 mil, no entanto, para isso, ele precisa-
ria depositar uma parcela de R$ 1 mil a título de “custas” para a conta bancária de Henrique,
vinculada a uma agência bancária localizada em São Paulo (SP). Carlos efetuou o depó-
sito e, então, percebeu que se tratava de uma fraude porque nunca recebeu o dinheiro do
suposto empréstimo.
A competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, em nosso exemplo,
do juízo de Goiânia (GO). É o que prevê o novo § 4º do art. 70:

Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando praticados median-
te depósito (...) ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do
domicílio da vítima (...)

E se houver mais de uma vítima, com domicílios em locais diferentes?

É muito comum nesse tipo de crime que o estelionatário, de sua residência, dispare mensa-
gens de e-mail ou Whatsapp para centenas ou milhares de pessoas em diversas cidades do país.
10m
Como há uma pluralidade de vítimas e de domicílios, o final do parágrafo 4º traz nova-
mente o critério da prevenção. Portanto, veja a situação abaixo:
Utilizando novamente o terceiro exemplo acima mencionado. Suponhamos que Henri-
que aplicou o mesmo “golpe” do empréstimo não apenas em Carlos, mas também em Luísa
(domiciliada em Curitiba/PR), em Ricardo (Rio Branco/AC), em Vitor (Fortaleza/CE) e em
outras inúmeras vítimas.

Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem
suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante
transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso
de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção, ou seja, o juiz que primeiro
atuar. Aquele juiz que primeiro toma ciência do estelionato e age, atrai para si todos os casos – a
menos que um dos casos já tenha sido julgado anteriormente.
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Esse novo § 4º do art. 70 do CPP aplica-se aos processos penais que estavam em
curso quando entrou em vigor a Lei n. 14.155/2021? O juízo que estava processando o
crime deverá remeter o feito para o juízo do domicílio da vítima?

NÃO. Vigora aqui o princípio da “perpetuatio jurisdictionis” (perpetuação da jurisdição),


previsto no art. 43 do CPC/2015 e que pode ser aplicado ao processo penal por força do art.
3º do CPP.
Segundo esse princípio, uma vez iniciado o processo penal perante determinado juízo,
nele deve prosseguir até seu julgamento. Assim, depois que o processo se iniciou perante
um juízo, as modificações que ocorrerem serão consideradas, em regra, irrelevantes para
fins de competência.
15m
Pode ser que os critérios principais não resolvam a competência, não sejam suficientes
para definir qual é o juízo competente, partindo para outros critérios, inclusive a modificação
de competência, que vai ser a conexão e continência, outro tema recorrente em provas.
Passemos, então, para o art. 75 do CPC, critério da distribuição:

Distribuição:

Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judi-
ciária, houver mais de um juiz igualmente competente.
Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decreta-
ção de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da
ação penal.

Digamos que, ao analisar um crime com os três critérios (competência em razão da maté-
ria, competência em razão da pessoa e competência territorial), ainda não foi suficiente para
fixar competência, pois na circunscrição judiciária existem 8 varas criminais, por exemplo, e
é preciso definir uma delas. Essa definição é feita através da distribuição, indo pelo sistema
para que se mantenha um equilíbrio do número de processos dessas varas.
Passemos, então, para critérios de modificação de competência:

Conexão e Continência:

Quanto à conexão:
• previsto no art. 76 do CPP;
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• exige pluralidade de crimes praticados, que serão, então, julgados pelo mesmo órgão
jurisdicional;
• são infrações ligadas entre si;

Existem diversos crimes, que podem estar até mesmo em localidades diferentes, mas
ainda conexas por uma das hipóteses do art. 76, sendo então reunidos para julgamento no
mesmo órgão jurisdicional por diversos motivos, como economia e celeridade do processo,
por exemplo.
20m
Podemos ver melhor no art. 76:

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:


I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por
várias pessoas, umas contra as outras;
II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
III – quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na
prova de outra infração.

• a conexão pode ser de três espécies:


– intersubjetiva (art. 76, I, do CPP);

I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo


tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora
diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;
Conexão intersubjetiva, justamente por envolver mais de uma pessoa. Embora o foco
da conexão seja a pluralidade de infrações e não a pluralidade de agentes, nesta situação
temos, além da pluralidade de infrações, a pluralidade de agentes.
A conexão intersubjetiva poderá ser:
• por simultaneidade (ocasional): várias pessoas praticam várias infrações nas
mesmas condições de tempo e lugar, sem concurso de agentes;

Exemplo: diversos moradores de uma região furtam produtos da carga de um caminhão


que tombou na rodovia próximo da cidade, sem concurso prévio de agentes.
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• por concurso (concursal): várias pessoas praticam várias infrações em concurso de


agentes (há forte liame), embora em condições de tempo e lugar distintas, servindo
uma infração como suporte à outra;

Exemplo: três agentes roubam explosivos de uma indústria química e outros dois agentes
roubam veículos na cidade e todos eles, depois, com os explosivos e carros roubados, explo-
dem caixas eletrônicos de agências bancárias e fogem na sequência.
25m

• por reciprocidade: várias pessoas, umas contra as outras, praticam várias infrações.

Exemplo: briga, com lesões corporais, entre duas torcidas organizadas de futebol, tudo
de forma recíproca.

• objetiva (art. 76, II, do CPP);

II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as
outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

Conexão objetiva.

Um crime objetivando uma finalidade específica relacionada a algum outro crime.

A conexão objetiva poderá ser:


• Teleológica (lógica ou finalista): um crime é praticado para assegurar a execução de
outro, havendo vínculo na motivação do primeiro crime em relação ao segundo, isto é,
por causa do segundo crime é que se comete o primeiro.

Exemplo: matar o segurança para sequestrar o empresário (chamado de homicídio cone-


xivo). Um crime é cometido para se chegar a um segundo crime.

• Consequencial: um crime é praticado para garantir a ocultação, impunidade ou van-


tagem de outro, havendo vínculo na motivação do segundo crime em relação ao pri-
meiro, isto é, por causa do primeiro crime é que se comete o segundo.
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Exemplo: matar testemunha para garantir a impunidade do crime que ela testemunharia
em juízo.
30m

• instrumental (art. 76, III, do CPP).

III – quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias ele-


mentares influir na prova de outra infração.
Conexão probatória/instrumental/processual: ocorre quando a prova de uma infração
ou de circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Lorena Alves Ocampos.
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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA VI

Na continência, haverá unidade de fato, ou seja, vários agentes praticam uma infração
ou várias infrações são cometidas por um agente.
Exemplo: é caso de continência quando João e José se unem e praticam um furto.

Consoante o art. 77 do CPP:

A competência será determinada pela continência quando:

I – duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;


II – no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º, 53, segunda parte, e
54 do Código Penal.

Inciso I: por cumulação subjetiva (art. 77, I, do CPP), quando há vários agentes que pra-
ticaram o mesmo crime. Há unidade de fato (um crime) e pluralidade de agentes.
Exemplo: três pessoas cometem um furto.
Inciso II: por cumulação objetiva (art. 77, II, do CPP), quando haverá a reunião, num só
processo, de vários resultados, advindos do concurso formal de crimes (art. 70 do CP – o
agente, mediante uma conduta, pratica dois ou mais crimes), da aberratio ictus (art. 73 do
CP) e do aberratio criminis (art. 74 do CP).
Nessas três possibilidades, haverá mais de um resultado lesivo, mas advindo de uma
só conduta.
Exemplo: João atira para matar José e atinge este e, também, Manoel, que estava ao lado
– há uma conduta e dois resultados. Ambas as mortes serão julgadas no mesmo processo.

Consequências da Conexão e da Continência

Súmula n. 704 do STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro
por prerrogativa de função de um dos denunciados.
Vamos supor que, numa determinada hipótese, tenha dois agentes que praticaram o
mesmo crime, porém um deles tem o foro de prerrogativa de função e essa infração foi prati-
cada durante o exercício de sua função. Como o caso dele está conexo com o outro agente,
os dois serão julgados pelo foro de prerrogativa.
5m
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O foro por prerrogativa de função pode se estender aos corréus sem que isto implique em
violação de princípios, ou seja, nada impede que os corréus que não possuam foro por prer-
rogativa de função sejam julgados no âmbito do foro por prerrogativa de função dos corréus
que fazem jus a este foro.
Esta atração é possível, mas não é obrigatória, ficando a critério do tribunal no caso
concreto, tendo em vista que se trata de uma das hipóteses de separação facultativa dos
processos.
Mas qual juiz ficará responsável pelo caso conexo ou em continência? Vejamos o que diz
o art. 78 do CPP:

CPP, art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as
seguintes regras:
I – no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá
a competência do júri;

Por exemplo: um homicídio doloso com ocultação de cadáver. Existe uma conexão entre
esses dois crimes, uma vez que a ocultação de cadáver veio em uma conexão consecutiva
sequencial para tentar garantir a impunidade do homicídio.
Levando a termo, há o homicídio doloso de competência do Tribunal do Júri, mas também
a ocultação de cadáver, que não é crime doloso contra a vida e ficaria na Vara Criminal. No
entanto, como existe uma conexão objetiva consequencial, serão ambos julgados pelo Tribu-
nal do Júri – que sempre terá preferência, com exceção de crime eleitoral.

(No caso de conexão entre crime eleitoral e crime doloso contra a vida, haverá a separação dos
processos)
Il – no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas
penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;

Se os foros forem equivalentes, como duas Varas Criminais, por exemplo, o primeiro cri-
tério utilizado é o local onde está a infração mais grava. Caso a gravidade dos crimes envol-
vidos seja igual, entra o segundo critério: a quantidade de infrações. O último critério, por fim,
é a prevenção.
10m
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III – no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;


IV – no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.
(justiça eleitoral e justiça comum federal: vai tudo para a justiça eleitoral)

Separação obrigatória de processos:

CPP, art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:
I – no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
II – no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.

Por exemplo: João, de 17 anos, praticou crime com José, de 20 anos. Eles não serão jul-
gados na mesma Vara Criminal (João será julgado pela Vara de Infância e Juventude).

§ 1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum corréu, sobrevier
o caso previsto no art. 152.
15m § 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu foragido que não
possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

Caso seja deflagrado um incidente de insanidade mental, cessará, em qualquer situa-


ção, a unidade do processo.
No caso de réu citado por edital que não apresenta resposta, o juiz determinará a sus-
pensão do processo e consequentemente a suspensão do curso do prazo prescricional
assim, haverá a separação dos processos, ou seja, em relação aos demais o processo irá
seguir e em relação ao citado por edital haverá a suspensão.
Estuda-se o incidente de insanidade mental, e quando é feito o laudo pela perícia para
falar da integridade mental daquele réu, será determinado se, à época da infração, ele era
inimputável, semi-imputável, se sabia ou não o que estava fazendo, se a doença sobreveio à
prática da infração. A depender desse resultado, o processo pode ter consequências, inclu-
sive casos em que o processo fica parado. Por isso, não há como unir processos em que um
réu é inimputável e o outro, não.

Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da
sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclas-
sifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em
relação aos demais processos.
Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o
juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que
exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente.
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 Obs.: é preciso tomar cuidado para determinar qual é a fase do júri, se é a primeira fase ou
se está na segunda, a fase de plenário, pois haverá variações, conforme o exemplo
mais abaixo (“quanto ao procedimento do júri”).

Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a au-
toridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes,
salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará,
ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.

Quanto ao procedimento do júri (Bifásico):


a) Ao final da primeira fase (judicium accusationis), caso sobrevenha desclassificação do
crime doloso contra a vida, absolvição sumária ou impronúncia, os delitos conexos ou conti-
nentes devem ser remetidos ao juízo competente, de acordo com a definição da respectiva
lei de organização judiciária estadual.
20m
Exemplo da primeira fase: há um procedimento dizendo que João praticou m homicídio
doloso contra a vítima A e uma lesão corporal grave contra a vítima B. Ambos os casos vão
para o Tribunal do Júri, pois são crimes conexos e um deles é homicídio doloso. Ao final da
primeira fase, não se manteve a imputação do homicídio doloso, pois o juiz desclassificou
para lesão corporal grave, assim como o outro crime. Dessa forma, não tem como manter no
Tribunal do Júri.
b) Na segunda fase (judicium causae), caso os jurados, na votação dos quesitos, absol-
vam o réu pelo delito doloso contra a vida, continuam competentes para apreciar os deli-
tos conexos. Se houver desclassificação do crime doloso contra a vida para outro que não
possua esse status, o delito desclassificado, e os conexos, passam para alçada do juiz pre-
sidente do júri.
Exemplo da segunda fase: se o processo chegou à segunda fase, não tem mais como
ser remetido à outra Vara. Digamos que, no processo anterior, o homicídio doloso se man-
teve e chegou, portanto, a esta fase do Tribunal do Júri, e o juiz presidente vai julgar o caso
e proferir sentença.
Súmula n. 235 do STJ: a conexão não determina a reunião de processos, se um deles
já foi julgado.
Tendo havido julgamento de um ou alguns dos processos conexos, antes da avocatória,
a reunião só ocorrerá na fase da execução penal, para efeito de soma ou unificação das
penas, notadamente pela aplicação das regras de concurso material, formal ou da continui-
dade delitiva.
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Compete ao juiz da execução a respectiva unificação (art. 66, III, a, da Lei de Execu-
ção Penal).

Prevenção:

Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes
igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na
prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento
da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c).
25m

Prevenção vem de prevenire, que significa antecipar-se, chegar primeiro.


Juiz prevento é aquele que primeiro pratica um ato do processo, ou que ainda na fase
investigativa adota medidas referentes ao futuro processo, notadamente as cautelares de
natureza pessoal ou real, como prisão preventiva, temporária, busca e apreensão, intercep-
tação telefônica, dentre outras.
Existindo dois ou mais juízes igualmente competentes, isto é, com idêntica competência
material e territorial, ou juízes com jurisdição cumulativa, é dizer, com mesma competên-
cia material e competência territorial distinta, será prevento aquele que primeiro atuar,
tomando medidas inerentes ao processo já iniciado ou por se iniciar.

A competência pela prevenção ainda é firmada nas seguintes hipóteses:

a) Crime continuado ou permanente que se estendam por duas ou mais comarcas (art.
71 do CPP);
b) Delito consumado na divisa entre duas ou mais comarcas, ou na incerteza dos limites
entre elas (art. 70, § 3º, do CPP);
c) Quando desconhecido o local da consumação do delito, e o agente encontra-se numa
destas situações (art. 72, §§ 1º e 2º, do CPP): c.1) tem mais de um domicílio ou residência;
c.2) não possui residência certa; c.3) é desconhecido o seu paradeiro.
d) Nas hipóteses de delitos conexos ou continentes, de mesma gravidade e em igual
quantidade, consumados em comarcas distintas. Ex.: furto simples consumado em Salvador,
conexo com receptação consumada em Caxias do Sul. A competência para apreciar ambos
os delitos será fixada pela prevenção.
e) Competência do delito de estelionato do art. 70, § 4º, quando há pluralidade de vítimas.

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