Você está na página 1de 16

Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação a Distância

Liberdade da pessoa

Cristina Armando António Frasqueira, Código Nº 708212560

Curso: Português

Disciplina: Ética social

Ano de frequência: 3º

Quelimane, Maio, 2023


Folha de Feedback
Classificação
Pontuação Nota
Categorias Indicadores Padrões máxima do Subtotal
tutor
 Capa 0.5
 Índice 0.5
Estrutura Aspectos  Introdução 0.5
organizacionais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara 1.0
do problema)
 Descrição dos
Introdução
objectivos 1.0
 Metodologia
adequada ao 2.0
objecto do
trabalho
 Articulação e
domínio do
discurso
Conteúdo académico 2.0
(expressão
escrita cuidada,
coerência /
Análise e coesão textual)
discussão  Revisão
bibliográfica
nacional e
internacionais 2.0
relevantes na
área de estudo
 Exploração dos
dados 2.0
 Contributos
Conclusão teóricos práticos 2.0
 Paginação, tipo e
Aspectos tamanho de letra,
gerais Formatação paragrafo, 1.0
espaçamento
entre linhas
Normas APA  Rigor e
6ª edição em coerência das 4.0
Referências citações e citações/referênc
Bibliográficas bibliografia ias bibliográficas
Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Índice

1. Introdução....................................................................................................................... 1

1.1. Objectivos ....................................................................................................................... 1

1.1.1. Geral ............................................................................................................................ 1

1.1.2. Específicos ................................................................................................................... 1

1.2. Metodologia do Trabalho ................................................................................................ 1

2. Liberdade da pessoa ........................................................................................................ 2

2.1. Conceito de Liberdade ................................................................................................. 2

2.2. A importância da liberdade da pessoa ...................................................................... 3

2.3. A diferença entre liberdade e libertinagem ............................................................... 4

2.4. Liberdade da pessoa nos dias de hoje ....................................................................... 5

2.5. A relação que existe entre liberdade e a verdade....................................................... 7

2.5.1. Unidade e acção ................................................................................................ 7

2.5.2. A liberdade de pensar a verdade ........................................................................ 8

2.6. A dignidade da pessoa humana .............................................................................. 10

2.7. Conclusão .............................................................................................................. 11

Referencia Bibliográfica ...................................................................................................... 12


1. Introdução

A Ética é fundamental para a vida em harmonia (Aristóteles, 2007, séc. IV a.C.) na sociedade.
Se não há harmonia em um ambiente, não está havendo o exercício da ética. MacIntyre (2001)
aponta para o estado de Desordem Moral vivenciado, que é resultado de uma ética Emotivista,
que são as acções calcadas no prazer pessoal e que geram diversos conflitos na sociedade. A
escola é uma instância social e como as demais não está isenta dos problemas causados por
essa Desordem Moral que evidencia a falta de ética.

A dificuldade de entendimento sobre o que é liberdade pode contribuir para esses problemas
concernentes a falta de ética. Ao confundir o conceito de liberdade com libertinagem, a
pessoa tende a agir sem medir as consequências dos seus actos, acreditando que ser livre é
poder fazer o que se quer. Essa é uma ideia errada de liberdade que teve início com as
correntes filosóficas do Existencialismo de Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger e Husserl
(Giles, 1989), cujas doutrinas focam a condição de existência humana, dando abertura ao
chamado liberalismo, ou seja, eu faço o que eu quero, sem analisar as consequências.

1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
 Fazer uma análise conceitual da liberdade da pessoa.

1.1.2. Específicos
 Problematizar os diferentes conceitos da liberdade;
 Explicar a importância e limites da liberdade;
 Trazer a relação existente entre liberdade e a verdade.

1.2. Metodologia do Trabalho

Devidas as normas estabelecidas nesta universidade (UCM), em relação a organização dos


trabalhos científicos, o presente trabalho possui como estrutura: o índice completo, a
introdução, os objectivos, geral e específicos, o desenvolvimento, a conclusão e a respectiva
bibliografia, segundo como demonstra o fluxo de fontes patentes na referência bibliográfica.

No que diz respeito a metodologia, para presente trabalho, define-se a tipologia de pesquisa
como um estudo bibliográfico, com procedimento da abordagem bibliográfica, pois procura
explicar um problema a partir de referências teóricas públicas em artigos, livros, dissertações
e teses (Cervo et all, 2007).

1
2. Liberdade da pessoa

Todo ser humano, em algum momento da vida, haverá de duvidar da existência da liberdade.
No entanto, ninguém pode duvidar de que à natureza humana é formada essencialmente pela
liberdade. Ou seja, a liberdade é condição fundamental da vida humana.

Montesquieu (2000), buscando precisamente trazer luz sobre o conceito de liberdade, em O


Espírito das Leis, no décimo primeiro livro, esclarece que ser livre é ter a possibilidade de
escolher “fazer o que quer e não ser obrigado a fazer o que não quer fazer”

Se não fosse a liberdade seríamos qualquer coisa, menos seres humanos. Nesse sentido, somos
o que somos pela liberdade. E o que vem a ser liberdade? Liberdade é a condição de autonomia
do sujeito. É poder dizer não quando todos dizem sim.

A liberdade é a matéria-prima da felicidade humana. Quem é livre tem mais chance de ser feliz
do quer quem não o é. Dessa forma, não pode haver felicidade na escravidão, no sofrimento,
na dor. Por isso, devemos lutar sempre pela liberdade, seja ela qual for.

Toda forma de radicalismo, seja religioso, científico ou político não colabora com a liberdade
humana. Ou seja, toda acção que visa diminuir a liberdade humana deve ser prontamente
repudiada. Quem ama a liberdade luta pela liberdade!

Naturalmente, liberdade não é libertinagem. Liberdade implica responsabilidade.


Responsabilidade com a própria vida, com a vida do outro e, consequentemente, com a vida
das futuras gerações. Não se brinca coma a liberdade, pois quem a perde tende a valorizar.

2.1. Conceito de Liberdade


Conceituar Liberdade não é uma das tarefas mais fácies. Para tal, faz-se necessário primeiro
entender alguns conceitos filosóficos, tendo em vista que a filosofia é a ciência que busca o
conhecimento da verdade. Os filósofos são aqueles que trabalham para alcançar esse
objectivo. Maritain (1956, p.109) afirma que a escola de Aristóteles e de Tomás de Aquino
ensina que "a verdade não é impossível nem fácil, mas difícil de ser atingida pelo homem".
Entretanto, apesar da dificuldade, a verdade é possível de ser alcançada, se houver um esforço
da pessoa.

O conceito de liberdade, na filosofia, designa de uma maneira negativa, a ausência de


submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser

2
humano. De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito
racional. A liberdade é um princípio constituinte para que o ser humano possa ser julgado
acerca de sua responsabilidade em seus aptos. A liberdade qualifica os aptos humanos.

A condição primordial da acção é a liberdade. Liberdade é essencialmente capacidade de


escolha. Onde não existe escolha, não há liberdade. O homem faz escolhas da manhã à noite e
se responsabiliza por elas assumindo seus riscos. Escolhe roupas, amigos, amores, filmes,
músicas, profissões... A escolha sempre supõe duas ou mais alternativas; com uma só opção
não existe escolha nem liberdade.

2.2.A importância da liberdade da pessoa

Todo ser humano, em algum momento da vida, haverá de duvidar da existência da liberdade.
No entanto, ninguém pode duvidar de que à natureza humana é formada essencialmente pela
liberdade. Ou seja, a liberdade é condição fundamental da vida humana.

Se não fosse a liberdade seríamos qualquer coisa, menos seres humanos. Nesse sentido, somos
o que somos pela liberdade. E o que vem a ser liberdade? Liberdade é a condição de autonomia
do sujeito. É poder dizer não quando todos dizem sim.

A liberdade é a matéria-prima da felicidade humana. Quem é livre tem mais chance de ser feliz
do quer quem não o é. Dessa forma, não pode haver felicidade na escravidão, no sofrimento,
na dor. Por isso, devemos lutar sempre pela liberdade, seja ela qual for.

Toda forma de radicalismo, seja religioso, científico ou político não colabora com a liberdade
humana. Ou seja, toda acção que visa diminuir a liberdade humana deve ser prontamente
repudiada. Quem ama a liberdade luta pela liberdade!

Naturalmente, liberdade não é libertinagem. Liberdade implica responsabilidade.


Responsabilidade com a própria vida, com a vida do outro e, consequentemente, com a vida
das futuras gerações. Não se brinca coma a liberdade, pois quem a perde tende a valorizar.

A liberdade é o bem maior da existência humana. Quem é educado na liberdade tem mais
chance de ser um defensor da liberdade do quer quem não o foi. Somente quem é livre sabe
valorizar a liberdade. Geralmente quem não ama a liberdade comente injustiça.

3
Portanto, a criação de um mundo mais justo e igualitário para todos passa necessariamente pela
compressão do conceito de liberdade. Liberdade de expressão, liberdade de culto, enfim,
liberdade para o ser humano ser o que ele quiser ser.

Alguém pode pensar que isso é religião, mas não, é filosofia pura: onde existe liberdade existe
o amor. A liberdade une as pessoas, constrói novos sonhos, aponta novos caminhos. Somente
livre o ser humano vive paz e pode desejar a paz ao outro!

Todo opressor não suporta ouvir a palavra liberdade. Geralmente ele pensa que a opressão é
culpa do outro. O opressor nunca se coloca no lugar do outro. A opressão nasce quando a
liberdade é retirada. Por isso, toda forma de opressão deve ser denunciada.

2.3.A diferença entre liberdade e libertinagem


Muito embora essas palavras pareçam ser sinónimas uma da outra, o conceito delas se
distingue totalmente. O significado da liberdade não é o mesmo da libertinagem e mesmo que
esses conceitos sejam relacionados, não possuem os mesmos sentidos.

Para pensadores, como o holandês Baruch Espinoza (1632 – 1677) a liberdade é uma forma
pela qual o ser livre pode agir de acordo com a sua natureza, tanto que ele dizia que “a
liberdade não exclui a necessidade da ação, pelo contrário, coloca-a”.

Segundo o filósofo francês Jean Paul Sartre (1905 – 1980), a liberdade ou o ser livre não se
atém ao fato de fazer aquilo que ser quer, mas querer aquilo que se pode, ou seja, o indivíduo
é dotado de vontade para realizar o que pretende sem depender de outros factores.

Muitas pessoas confundem a liberdade com libertinagem, pois a consideração de ambos está
directamente conectada ao processo de tomada decisão dos indivíduos. No entanto, revelam
atitudes distintas, pois uma é completamente oposta a outra, vejamos:

A conceituação da liberdade consiste “no direito de se movimentar livremente, de se


comportar segundo a sua própria vontade, partindo do princípio que esse comportamento não
influencia negativamente outra pessoa.” Segundo a filosofia, a liberdade é a independência e
autonomia do ser humano. A liberdade só é considerada como verdadeira e plena quando esta,
respeita os limites e os direitos do seu próximo. Neste sentido, até mesmo liberdade precisa
submeter-se a alguns preceitos, regras e limites.

Em contra partida, a libertinagem “é fruto de um uso errado da liberdade, porque demonstra


irresponsabilidade, que pode prejudicar não só a própria pessoa, mas outras pessoas também.”
4
Aqui não existe respeito ao próximo ou qualquer relevância aos preceitos e limites. A
libertinagem parte do princípio de que “eu faço o que eu quero; ninguém pode me impedir;
ninguém tem nada com isso.” Em muitos casos a libertinagem é traduzida como a ausência de
regras. Quem age desta maneira, não tem empatia pelo próximo e só pensa em si próprio. Um
libertino é egocêntrico, desobediente, rebelde e está escravizado por seus pensamentos e
desejos.

2.4.Liberdade da pessoa nos dias de hoje

Ora, se somos homens livres dentro de uma democracia, não parece que existam problemas.
Mas o que se vê hoje em dia é uma liberdade que sempre está condicionada a leis, leis nem
sempre actualizadas, pior, leis às vezes baseadas em um moralismo do século passado, e que
escondem vários “problemas” da sociedade. Uma sociedade democrática deveria garantir a
liberdade de associação e de expressão, e não poderiam existir distinções ou privilégios de
classe hereditários ou arbitrários.

O vocábulo liberdade, segundo alguns autores, possui três significados fundamentais,


correspondentes a três concepções filosóficas que se sobrepuseram ao longo da história, e que
podem ser caracterizados da seguinte maneira:

1. Liberdade como autodeterminação, ou auto – causalidade, segundo o qual a liberdade é a


ausência de condições e de limites;
2. Liberdade como necessidade, o qual se baseia no mesmo conceito anterior, a
autodeterminação; porém, atribuindo-o a totalidade a que o homem pertence (seja ao
mundo, a substância, ao estado);
3. Liberdade como possibilidade ou escolha, segundo o qual a liberdade é limitada e
condicionada; isto é, finita.

Assim, as disputas metafísicas, morais, políticas, económicas, etc., em torno da liberdade, são
dominadas pelos três conceitos em questão; aos quais, portanto, podem ser remetidas as
formas específicas de liberdade sobre as quais essas disputas versam.

Segundo a primeira concepção de liberdade (absoluta, incondicional, sem limitações ou


graus), é livre aquele que é causa de si mesmo. Sua primeira expressão encontra-se em
Aristóteles, que afirmava que tanto o vício quanto a virtude dependem de nós e que nas coisas
em que podemos dizer sim, também podemos dizer não. Assim, o homem seria o princípio e o

5
pai de seus actos, bem como de seus filhos, no dizer de Aristóteles. A Igreja Católica,
posteriormente, esposou a filosofia aristotélica, principalmente para justificar o livre arbítrio e
a noção de pecado.

Na actualidade, abstraindo-se do conceito metafísico de Platão, destaca-se o fato de que a


liberdade humana é situada como enquadrada no mundo real; isto é, uma liberdade
condicionada, uma liberdade relativa.

Hoje, assim como nos tempos em que à noção de liberdade no mundo moderno foi formulada,
esta é uma questão de medida, de condições e de limites. Isso em qualquer campo, desde o
metafísico e psicológico, até o económico, jurídico, político e social.

As relações entre as nações, na era da globalização, impedem, muitas vezes, a mobilidade de


factores de produção, como trabalho (veja-se, por exemplo, o caso da proibição à entrada de
trabalhadores mexicanos nos EUA e de sul-americanos, africanos e asiáticos na Europa) e
capital (na actualidade, sujeito a regras para transitarem entre os vários países); estabelecem
quotas de produção e de exportação entre os países, barreiras alfandegárias, tarifas de
importação, além de restrições à imigração e à emigração.

Com isto, a liberdade de escolha por parte dos indivíduos, para decidir sobre suas próprias
vidas, seus destinos e seus futuros, é reduzida; sem falar em outras imposições de ordem
religiosa, legal, social e política, existentes em muitos países do mundo, que fazem com que
milhões de seres humanos sejam impedidos de exercitar as chamadas Instituições Estratégicas
da Liberdade, como a liberdade de pensamento, de consciência, de imprensa, de reunião, de ir
e vir, etc. Assim, milhões de seres humanos têm impedidas suas possibilidades de escolhas
nos campos científico, religioso, político, social e económico.

Assim, a tão falada liberdade plena de fazer e de agir, como a que já existiu no passado
primitivo é, hoje em dia, relativa. Como um canário na gaiola, a maioria dos seres humanos é
livre para decidir apenas sobre pequenas coisas em suas vidas particulares, mas não sobre
coisas realmente importantes para si mesmo e para os destinos de seu país e do mundo.

6
2.5.A relação que existe entre liberdade e a verdade

2.5.1. Unidade e acção

Leibniz define a verdade, em um opúsculo escrito por volta de 1686, nos seguintes termos:
Verdadeira é a proposição cujo predicado está contido no sujeito ou, de maneira mais geral,
cujo consequente está contido no antecedente, e por isso é necessário que exista uma certa
conexão entre as noções dos termos ou que haja na coisa mesma um fundamento a partir do
qual se possa dar a razão da proposição ou se possa estabelecer uma demonstração a priori. E
se exige que em toda proposição verdadeira afirmativa universal ou singular, necessária ou
contingente, a noção do predicado esteja compreendida na noção do sujeito, expressa ou
virtualmente, expressamente na proposição idêntica, virtualmente em qualquer outra
(LEIBNIZ 1903∕1961, p.401-402).

Essa definição é exemplar da concepção analítica da verdade em Leibniz e, eventualmente


com alguma mudança nas palavras, comparece em vários de seus textos. O que define a
verdade é a inclusão do predicado ou consequente no sujeito ou antecedente; inclusão que
pode ser expressa e explícita, no caso das verdades idênticas, ou virtual, nas verdades não
idênticas; inclusão que pode ser demonstrada facilmente por meio da análise lógica em uma
proposição necessária (seja pela análise exclusiva do sujeito, seja pela análise e comparação
dos dois termos, o sujeito e o predicado), ou que exigiria uma análise infinita no caso das
verdades contingentes que envolvem a liberdade divina e a conexão de cada elemento do
universo criado com todos os demais do conjunto.

Leibniz se mantenha fiel à definição cartesiana de substância – “uma coisa que existe de tal
maneira que só tem necessidade de si própria para existir” (DESCARTES, 1997, I, 51, p.45) –
sem correr o risco de fazer de Deus a única causa efectiva no mundo, a única substância,
como sustenta Espinosa. Quando a substância que age é uma substância racional sua acção é
sempre pensada como acção livre – ainda que sejamos “meramente empíricos em três quartos
de nossas acções” (LEIBNIZ, 2004b, §28 p.136) e actuemos segundo apenas o princípio da
memória, sem pensar na causa das coisas, exactamente como os animais. A acção de uma
criatura racional é sempre dita livre, porque a razão nos abre a um mundo novo, o
conhecimento das verdades necessárias e eternas, que partilhamos com Deus e pelo
conhecimento das verdades necessárias e por suas abstracções, elevamo-nos aos actos

7
reflexivos, (...); e é assim que, ao pensar em nós, pensamos no ser, na substância, no simples
ou no composto, no imaterial e no próprio Deus (...) (LEIBNIZ, 2004b, §30, p.136).

Isso significa que, por um lado, o homem é por sua própria natureza de ser racional um ser
moral: a consciência de si e o reconhecimento de suas acções como suas transformam suas
escolhas, que são acções espontâneas, em acções morais; mas, por outro lado, como é o
conhecimento das verdades eternas e necessárias que nos eleva aos actos reflexivos, o
conhecimento da verdade revela-se como uma tarefa ética. Se a razão leva os homens a
ingressarem naturalmente em uma espécie de sociedade com Deus, um reino moral da graça
no seio do mundo natural, cabe a esses homens se fazerem verdadeiros colaboradores de
Deus. A alma humana, que é arquitectónica nas acções voluntárias e imita Deus, alma que é
capaz de conhecer o sistema do universo e seu criador, deve pôr seu conhecimento a serviço
de Deus e criar em seu pequeno mundo o que observa no grande.

Vê-se assim que, para Leibniz, liberdade e verdade formam um par inseparável: só é
verdadeiramente livre aquele que age de acordo com o conhecimento da verdade.

2.5.2. A liberdade de pensar a verdade


A expressão, a relação regrada e constante entre o que se pode dizer do exprimido e o que se
pode dizer da expressão, é comum a todas as formas, “é um género do qual a percepção
natural, o sentimento animal e o conhecimento intelectual são as espécies.” (LEIBNIZ, 1966,
carta 9/10/1687, p.181). Na percepção natural e no sentimento animal, o que é material e está
disperso em vários seres é representado ou exprimido em um único ser indivisível. Trata-se da
percepção. No conhecimento intelectual, essa representação ou expressão pode ser
acompanhada de consciência, “e é então que é chamada de pensamento” (LEIBNIZ, 1966,
carta 9/10/1687, p.181). Os seres racionais são capazes de percepção e é precisamente isso
que os diferencia dos demais.

Mas sabemos também que experimentamos em nós mesmos um estado no qual não nos
lembramos de nada, nem temos nenhuma percepção distinta, como quando sofremos um
desmaio ou somos vencidos por um profundo sono sem sonhos. Neste estado, a alma não
difere sensivelmente de uma simples Mônada (LEIBNIZ, 2004b, §20, p.134).

Neste estado de atordoamento temos apenas uma percepção natural. Mas quando voltamos do
aturdimento, apercebemo-nos de nossas percepções, esse estado em que não se pode
distinguir nada não é duradouro, a alma subtrai-se dele, “ela é algo mais” (Idem. ibidem).
8
Além disso, Os homens agem como os animais quando as consecuções de suas percepções só
se efectuam pelo princípio da memória (...); e somos meramente empíricos em três quartos de
nossas acções. Por exemplo, quando se espera que amanhã raie o dia, procede-se como um
empirista, porque sempre foi assim até hoje. Só o astrónomo julga, nesse caso, segundo a
razão. (LEIBNIZ, 2004b, §28, p.136).

Na maior parte de nossa existência, em três quartos de nossas acções, diz Leibniz, temos
apenas sentimentos animais.

Se a percepção natural, o sentimento animal e o conhecimento intelectual são espécies dentro


de um mesmo género, é porque são graus do mesmo, graus de distinção perceptiva: do
aturdimento do completamente obscuro à consciência reflexiva de si mesmo que leva ao
conhecimento de verdades eternas. Essas espécies de expressão estão presentes nas diferentes
espécies de seres da natureza, mas estão também todas reunidas em um único ser, aquele entre
as criaturas que alcança o grau mais elevado de expressão, o homem, e é por isso que essas
expressões podem ser ditas todos graus do mesmo – o homem é a prova dessa afirmação.

Podemos dizer que há três níveis expressivos nas substâncias inteligentes: primeiro a
expressão “passiva” da totalidade do universo em cada alma; depois a expressão activa no
esforço da alma de se desenvolver, no ser e no conhecer, esforço que leva ao conhecimento
das ideias inatas; e, por fim, a expressão do universo e de Deus no saber positivo produzido
pelos homens.

Os três níveis estão intimamente ligados: entre o primeiro e o segundo nível há identidade na
medida em que a totalidade confusa passivamente exprimida é o objecto sobre o qual a acção
expressiva de conhecer se exerce. Mas no segundo nível vemos a relação directa entre a
liberdade e a verdade, do ponto de vista do conhecimento: o conhecimento pode ser dito em
certa medida uma acção voluntária. O terceiro nível, por sua vez, envolve a relação entre
liberdade e verdade do ponto de vista da acção moral propriamente dita, na medida em que o
saber positivo produzido pelo homem permite que este reproduza em seu pequeno mundo o
que descobre no grande.

9
2.6. A dignidade da pessoa humana

A dignidade da pessoa humana é uma qualidade intrínseca, inseparável de todo e qualquer ser
humano, é característica que o define como tal. Concepção de que em razão, tão somente, de
sua condição humana e independentemente de qualquer outra particularidade, o ser humano é
titular de direitos que devem ser respeitados pelo Estado e por seus semelhantes. É, pois, um
predicado tido como inerente a todos os seres humanos e configura-se como um valor próprio
que o identifica.

Pode-se trazer à baila a visão antropológica de Leonardo Boff, quando do ultraje da


dignidade:

Nada mais violento que impedir o ser humano de se relacionar com a natureza, com seus
semelhantes, com os mais próximos e queridos, consigo mesmo e com Deus. Significa reduzi-
lo a um objecto inanimado e morto. Pela participação, ele se torna responsável pelo outro e
com – cria continuamente o mundo, como um jogo de relações, como permanente dialogação.

Carmem Lúcia Antunes Rocha, ao comentar o Art. 1º da Declaração dos Direitos Humanos, o
festejado dispositivo que decreta a igualdade de todos os seres humanos em dignidade e
direitos, faz as seguintes considerações:

Gente é tudo igual. Tudo igual. Mesmo tendo cada um a sua diferença. Gente não muda.
Muda o invólucro. O miolo, igual. Gente quer ser feliz, tem medos, esperanças e esperas. Que
cada qual vive a seu modo. Lida com as agonias de um jeito único, só seu. Mas o sofrimento é
sofrido igual. A alegria, sente-se igual.

A ausência de dignidade possibilita a identificação do ser humano como instrumento, coisa –


pois viola uma característica própria e delineadora da própria natureza humana. Todo acto que
promova o aviltamento da dignidade atinge o cerne da condição humana, promove a
desqualificação do ser humano e fere também o princípio da igualdade, posto que é
inconcebível a existência de maior dignidade em uns do que em outros.

10
2.7.Conclusão

O avanço da sociedade traz consigo a permanente necessidade de novas reflexões, seja de


temas até então desconhecidos, surgindo na medida em que se eleva a complexidade das
relações humanas, seja de temas já preexistentes, mas que, por uma razão ou outra, carecem
de ser revistos pela colectividade.

A teoria do jusnaturalismo fundamenta-se no indivíduo, na sua liberdade de agir para depois


conformar esse comportamento mediante à norma. O Direito Natural de cunho aristotélico –
tomista fundamenta-se na norma para depois colocar o problema do agir humano. Aliás,
Aristóteles coloca o conceito de liberdade com clareza, mostrando na sua Éthica a Nicômaco
(Cf. ARISTÓTELES, 1999, p. 55) que o mérito ou demérito podem ser atribuídos só a certos
aptos, que se é livre de executar ou não.

11
Referencia Bibliográfica

Aristóteles. (2007). Ética a Nicômaco. (E. Bini, Trad.). Bauru, São Paulo: Edipro.

Baruch Spinoza. (1632 - 1677). Em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-


2023.

Cervo, A., Bervin, P. &Silva, R. (2007). Metodologia Científica (6ª ed.) São Paulo, Brasil:
Person Prentice Hall.

DESCARTES, R. 1997. Princípios da filosofia. Lisboa: Edições 70.

Giles, T. R. (1989). História do Existencialismo e da Fenomenologia. São Paulo: EPU.


(Original publicado em 1975).

LEIBNIZ, G. (1903∕1961). “Sobre a natureza da verdade”, in Couturat – Opuscules et


fragments inédits de Leibniz. Paris∕Hildesheim.

LEIBNIZ, G. (1966). Discours de métaphysique et correspondance avec Arnauld. Paris: Vrin.

LEIBNIZ, G. (2004b). Os princípios da filosofia ou a Monadologia, São Paulo, Martins


Fontes.

MacIntyre, A. (2001). Depois da Virtude: um estudo em teoria moral. (J. Simões, Trad.).
Bauru, SP: Edusc. (Original publicado em 1981).

Maritain, J. (1956). Introdução Geral à Filosofia. (I. Neves e H. O. Penteado, Trad.). Rio de
Janeiro: Editora AGIR.

MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. (2000) O espírito das leis. Tradução de
Cristina Muracho, 3. ed., São Paulo: Martins Fontes.

OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro. Fé e Política: fundamentos. São Paulo: Idéias e Letras, 2005.

12

Você também pode gostar